Pintura Egípcia
Os desenhos e pinturas antigas do Egito nos mostram como era a vida
lá há milhares de anos. Quando olhamos para eles pela primeira vez,
podem parecer estranhos e confusos. Isso acontece porque os
pintores egípcios tinham uma maneira diferente de representar as
coisas comparado conosco. Para eles, não importava tanto se algo era
bonito, mas sim se estava completo.
Eles desenhavam de uma forma que tudo ficasse claro e fácil de
entender, se poderia permanecer pela eternidade. Portanto, não se
preocupavam em pintar o que viam na natureza, mas sim em registrar
através da pintura seus simbolismos de forma rígida, obedecendo
rigorosamente às regras. “O método do artista assemelhavam-se mais
ao de um cartógrafo do que ao do pintor”(Gombrich) – cartógrafo é o
profissional que desenha mapas. Por exemplo, se desenhassem um
jardim com um lago, desenhariam o lago visto de cima e as árvores de
lado. Isso pode parecer estranho para nós, que normalmente
O jardim de Nebamun, c. 1400 a.C.
desenhamos as coisas do jeito que as vemos Mural de um túmulo em Tebas, 64x74,2 cm
British Museum, Londres
A lei da Frontalidade
Eles também desenhavam pessoas de uma maneira diferente.
Conhecida como lei da Frontalidade, na representação de figuras
humanas os egípcios pintavam a cabeça de lado (1), porque era
mais fácil de ver assim. Mas os olhos eram desenhados de frente
(2), mesmo que o resto da cabeça estivesse de lado. O tronco e
os ombros são representados de frente (2), pois dessa forma
vemos os braços ligados ao corpo. Mas os braços e pernas (1) em
movimento se veem com muito mais facilidade se
representados de lado, essa é a razão pela qual os egípcios
representavam as figuras humanas dessa forma e para nós
parecem estranhamente distorcidos.
Eles achavam difícil representar um pé
visto de um plano exterior, por esse
motivo as figuras parecem ter 2 pés
esquerdos (1). Isso fazia com que as Retrato de Hesire, numa porta
de madeira em seu túmulo, c.
2778-2723 a.C.
pessoas parecessem planas e estranhas Madeira, altura 115 cm, Museu
Egípcio do Cairo
para nós.
Os egípcios seguiam regras
muito específicas ao desenhar, o
que fazia com que suas pinturas
fossem diferentes das nossas.
Quando entendemos essas
regras e convenções, podemos
entender melhor o que as
pinturas egípcias estão nos
mostrando sobre suas vidas.
Por exemplo, uma pintura em um túmulo mostra um homem caçando com sua família e pescadores
pegando peixes. As inscrições nos dizem quem ele era e quais eram seus títulos e honrarias.
Detalhe
Mural do túmulo de khnumhotep, c. 1900 a.C.
Quando nos acostumamos a olhar essas pinturas egípcias, não nos
incomodamos com suas diferenças da realidade, assim como não
nos incomodamos com fotos em preto e branco. Começamos a ver
as vantagens do método egípcio. Nada parece desarranjado ou
fora de lugar nessas pinturas. Vale a pena fazer uma releitura um
desses desenhos egípcios. As nossas tentativas parecem
desajeitadas porque o sentido de ordem dos egípcios era forte. O
artista egípcio começava desenhando linhas retas na parede e
posicionava as figuras cuidadosamente ao longo dessas linhas.
Apesar disso, eles também observavam a natureza com precisão.
Cada pássaro ou peixe era desenhado de forma que os zoólogos
ainda hoje podem identificar a espécie. O estilo egípcio tinha
regras rígidas que todo artista precisava seguir desde jovem. Isso
Pássaros num arbusto de acácia
resultava em uma sensação de equilíbrio, estabilidade e harmonia
em todas as obras.
A arte egípcia mudou pouco ao longo dos anos, porque os artistas seguiam as tradições antigas. A única
mudança significativa ocorreu durante o reinado de Amenófis IV, que quebrou com muitas tradições. Ele
adorava apenas um deus, Aton, e mudou a arte egípcia para refletir isso. Seu sucessor, Tutancâmon,
continuou essa tendência em alguns de seus artefatos, que mostravam cenas domésticas mais descontraídas.
Essa mudança pode ter sido influenciada por obras estrangeiras menos rígidas do que as egípcias.
O deus com rosto de chacal Anúbis
supervisionando a pesagem do coração
de um morto, enquanto à direita o deus
mensageiro Toth, com cabeça de íbis ,
anota o resultado c. 1285 a.C.
Fragmento do “Livro dos Mortos”
Visita virtual ao museu do
Cairo
https://virtualtour.museoe
gizio.it/
Releitura:
Lei da Frontalidade