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Carta à Avó: Reflexões e Memórias

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SI MAN Lee
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Aula 09.03.

2024

Compreensão da Leitura
DAPLE

Parte I – escolha múltipla


Leia o texto.

Carta para Josefa, minha avó


Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito.
Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de
restolho e lenha, albufeiras de água.
5 Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas
e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de
aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua
lareira (tal como a trave que sustenta o peso de uma casa, a avó é alguém que sustenta a sua casa (que
trabalha, que cozinha) e é também alguém que dá “calor” (afeto), tal como lume da casa, o fogo da casa
10 que sai da lareira e aquece a casa) — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.
Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia,
nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e
vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo
dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações
15 que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não
condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra
içada na torre da igreja. (Contaste-mo tu, ou terei sonhado que o contavas?)
Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu
riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua
20 carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas
ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério
inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco
minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela
tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos — e continuo a não entender.
25 Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Quem to
roubou? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das
minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará
sem ti — e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos, realmente? Eu não te
terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que

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30 me não acusas — e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para
a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos
e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua
adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!»
É isto que eu não entendo — mas a culpa não é tua.
35 https://www.josesaramago.org/carta-josefa-minha-avo-1978/

Vocabulário
1. Procure no texto palavras e/ou expressões com um sentido equivalente às que se
apresentam a seguir:
1. magoado (dolorida) magoado
> mágoa (dor); dolorido,
dorido > dor
2. desfigurado (deformadas)
3. adquirir (herdaste > herdar)
4. básico (elementar)
5. memória (lembrança)
6. rude (bárbaro)
7. ajustar(-se) a (condizer com)
que não se ajusta ao teu…
8. peso (carregos) – algo que é
pesado; A minha vida é um
peso (algo duro, pesado)
9. denunciar (acusas)
10. entusiasmo
(fogo)

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2. Depois de ler o texto, resolva as questões 1 a 4. Escolha a melhor opção (A, B, C ou D)
para cada questão:

1. Segundo o texto,
A. o neto duvida de todas as histórias contadas pela avó.
B. o neto gosta da avó, apesar das imperfeições dela.
C. a avó tem vontade de falecer.
D. a avó está cansada da vida.
2. A avó
A. teve uma vida cheia de dificuldades.
B. já sabe o que é o mundo.
C. tem vontade de conhecer o mundo.
D. não quer compreender o que diz o neto.
3. O neto
A. tem a certeza de ter ensinado a avó a compreender o mundo.
B. não compreende por que razão a avó tem uma casa de barro.
C. compreende a atitude da avó perante o mundo.
D. gostava de descrever a realidade à avó, mas não se sente capaz de o fazer.
4. Neste texto, o autor
A. reflete sobre os conflitos entre as gerações mais velhas e mais novas.
B. reflete sobre os sentimentos de quem viveu sempre uma vida humilde e
austera (difícil).
C. identifica a dificuldade que todos os netos têm em compreender os mais
velhos.
D. homenageia a sua avó, já depois de ter partido.

3. Leia o texto seguinte.

Catástrofes evitáveis: sistemas complexos em rutura

40 O que aconteceria se a internet deixasse de funcionar durante alguns dias? Com aeroportos
encerrados, sem correio eletrónico, transações e gestão de stocks online, a nossa civilização sofreria
um impacto tão profundo que poderia levar anos a recuperar. O cenário apocalíptico parece ficção
científica, mas o cientista norte‐americano John Casti está convencido de que poderá ser uma
realidade num futuro próximo.
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Na verdade, para este investigador, o surpreendente é como uma falha destas ainda não sucedeu.
John Casti exemplifica o tipo de ameaças a que está a sujeita a rede com um episódio envolvendo
Fan Kaminski, um jovem consultor de segurança informática norte‐ americano que, em 2008,
descobriu como manipular não apenas um site, mas toda a internet.
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Sempre que alguém introduz um endereço num navegador, as palavras são traduzidas para a
linguagem numérica dos endereços IP. Kaminski descobriu como enganar este sistema, o chamado
Domain Name System (DNS), que passou a encará‐lo como fonte autorizada de informações sobre
qualquer domínio de toda a internet.
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Felizmente, o consultor informático não divulgou a sua descoberta nem a utilizou para esvaziar
contas bancárias ou aceder a informações ultrassecretas. Em vez disso, contactou uma série de
peritos de segurança da internet que organizaram uma sessão de emergência, de onde saiu uma
solução temporária para tapar o buraco. No entanto, o próprio consultor diria, pouco tempo depois:
60 “Não há maneira de salvar a internet. A única coisa que se pode fazer é adiar o inevitável por mais
algum tempo.”

Revista SUPERinteressante

Escolha uma das opções (A, B, C ou D) para completar as frases, assinalando‐a com uma cruz
65 (X).

1.1. O cenário de catástrofe descrito no texto…


A. teve um impacto muito profundo na nossa civilização.
B. poderia demorar anos a ser ultrapassado, caso se tornasse realidade.
70 C. levou ao encerramento de aeroportos e à interrupção da comunicação por correio
eletrónico.
D. é uma invenção ficcional de uma falha de alguns dias na internet.

1.2. Na opinião de John Casti, o sistema de segurança na internet…


75 A. foi reforçado pelo episódio de 2008.
B. foi manipulado por um jovem consultor para aceder a contas bancárias.
C. apresenta‐se hoje seriamente ameaçado. (segundo o texto, o sistema de segurança da
internet não está hoje / no presente seriamente ameaçado / muito ameaçado; o
que se diz é que é inevitável a ameaça à internet e o que se pode fazer é apenas
80 adiar essa situação)
D. permite que qualquer pessoa se torne fonte autorizada para produção de novas
informações.

1.3. O consultor informático Fan Kaminski…


85 A. optou por manter em segredo a fórmula que encontrou para se infiltrar no sistema
DNS.
B. organizou uma sessão de emergência com especialistas em segurança na internet.
C. propôs ao grupo de peritos uma solução provisória para o problema.
D. acredita que a resolução para o problema da internet será encontrada dentro de algum
90 tempo.

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