Antropologia Da Educação
Antropologia Da Educação
Antropologia da educação
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Pró-Reitoria de Graduação
Faculdade de Educação
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Belo Horizonte
CURSO DE PEDAGOGIA UAB UFMG
FAE/UFMG
2009
ORGANIZADORAS Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben
Tânia Margarida Lima Costa
Ficha Catalográfica
CDD: 306.43
CDU: 37.015:57
AUTOR
Bernardo Jefferson de Oliveira
Possui graduação em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(1983), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1989),
doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000) com estágio
de pesquisa na Harvard University (1997 e 1998) e pós-doutorado em História da
Ciência no Massachusetts Institute of Technology (2004-2005). Atualmente é professor
adjunto e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em educação gestão 2008-2010
da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Educação,
Filosofia e História da Ciência.
EMENTA
A formação cultural: noção de cultura como processo de humanização. O dinamismo do
processo cultural. Sistema simbólico e linguagem. A transmissão e a transformação
cultural: diferenças, estranhamento e conflitos culturais.
INTRODUÇÃO .................................................................................. 9
4. CONCLUSÃO ................................................................................ 32
5 . R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C AS ........................................... 33
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Bernardo Jefferson de Oliveira
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1. CULTURA COMO FUNDAMENTO DOS SERES HUMANOS
Fala-se muito de cultura. Mas o que é isto? Empregamos essa palavra em vários sentidos.
Falamos em feira cultural, em TV Cultura, em agricultura, cultura popular e
desenvolvimento cultural. Dependendo do contexto, o termo cultura adquire um
significado específico. Mas será que não há um núcleo comum a todos esses sentidos?
A palavra cultura vem do termo latim colere, e mantém os seguintes significados: cultivar,
cuidar, tratar, criar, honrar e preservar. Quando se fala em cultura o mais comum é
pensarmos no artesanato, na culinária e festas típicas de nossa região, deixando de lado
várias outras coisas que fazem parte de nosso dia a dia. Neste caso o cultural é entendido
mais como o pitoresco do que como o corriqueiro. Por outro lado, muitas vezes falamos
de cultura como conhecimento sofisticado e refinado. “Que pessoa culta!”, dizemos sobre
alguém que fala diversas línguas e conhece muito sobre outros povos ou outras épocas.
Na realidade, chegam a ser conflitantes os sentidos atribuídos à palavra cultura. Observe
a palavra inculto, que se refere àquele “que não tem cultura”. Seu uso supõe que a cultura
é a posse de um determinado saber (erudito e oficial). Entretanto, quando se fala em
cultura popular, o que vem à mente são outras formas de saber.
No conjunto das ciências humanas há também diferentes conceitos de cultura, alguns
enfatizando a produção material, outros a língua, a história ou os costumes. Mesmo no
âmbito da Antropologia há definições distintas. Assim, para Claude Lévi-Strauss, a cultura
introduz a ordem e os princípios de classificação que são necessários ao pensamento
humano; a cultura é um conjunto de regras, geralmente inconscientes, entre as quais a
principal é a proibição do incesto. Já para Ruth Benedict, a cultura é aquilo que liga os
homens, como as idéias e padrões que têm em comum, e organiza seu comportamento. E,
de acordo com Clifford Geertz, a cultura é um sistema simbólico entrelaçado de
significados, definições e sentidos utilizados pelos nativos e que precisam ser
interpretados pelo antropólogo.
A noção de cultura que vamos estudar aqui se refere ao conjunto dos modos de vida
criados e transmitidos de uma geração para outra, entre os membros de determinada
sociedade. Algo que abrange conhecimento, crenças, técnicas, artes, moral, leis,
costumes e quaisquer outras capacidades adquiridas socialmente pelos seres humanos.
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Mas então o que fica fora disto? Quais de nossos comportamentos não são culturais? As
reações biológicas que geram e mantêm o metabolismo de nosso corpo não dependem
de onde ou quando nascemos. Mas tantas de nossas reações corporais são influenciadas
ou ditadas pela cultura! Pense no andar, por exemplo. Será que um bebê que sobrevive
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numa floresta sem contato com um grupo humano saberia ou aprenderia a andar, a falar e
a raciocinar?
Não foi o que aconteceu com duas meninas encontradas na Índia. Quando elas foram
encontradas, em 1920, uma tinha por volta de dois anos e a outra de oito anos. Tendo
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crescido entre os lobos, faziam tudo como eles. Caminhavam e corriam usando os pés e as
mãos. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Como os animais, bebiam água
lambendo. Eram quietas durante o dia e ativas e ruidosas durante a noite. Não choravam
ou riam, mas uivavam. Aprenderam tudo com eles. Tinham as capacidades físicas de
andar eretas sobre dois pés e de se expressar como nós, mas essa composição física não
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determina que se ande e que se fale do jeito que estamos acostumados .
Precisamos de uma aprendizagem. Sem perceber, vamos aprendendo aspectos da cultura
na qual fomos criados. É claro que os mais velhos podem ajudar a acelerar esse processo.
Mas as crianças podem também aprender por elas mesmas, olhando e tentando copiar os
outros. Experimentando e aprimorando as experiências, até saber fazer igual aos outros.
Na verdade, aprendemos sem perceber e esquecemos que aprendemos certas coisas.
Assim, quando prestamos atenção, parece-nos algo natural do ser humano. Todas
aquelas aprendizagens podem ter sido custosas. Mas, anos depois, parecem ser
comportamentos instintivos, reações naturais de nossos corpos ao ambiente externo.
Inúmeros exemplos podem ser dados nesse sentido. Assim consideramos nossas reações
a determinados odores, que qualificamos como cheiro ruim, uma reação meramente
corporal e não uma questão de gosto ou cultural. São sentidos como desagradáveis ou até
intoleráveis. Mas não eram, até aprendermos essas regras. Mesmo o cheiro considerado
ruim varia de cultura para cultura. Para reconhecer isso, basta acompanhar um adulto
tentando ensinar crianças a usar o vaso sanitário, a disciplinar suas necessidades. Ou
então lembrar das caras feias e do alarde que se faz quando uma criança vai engatinhando
até a privada querendo ver e mexer lá. Correndo, dizemos: - “Eca! É sujo! Não pode!” Não
basta repetir algumas vezes. É um processo que leva meses e meses. Mas, um bom tempo
depois, essa lição acaba sendo incorporada de tal forma que passa a fazer parte das
nossas reações, parecendo até mesmo naturais, como se tivessem nascido conosco.
Nessas situações agimos automaticamente. Nem pensamos o que fazer. Nosso corpo
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aprendeu a lição e incorporou de tal forma que parece instintivo. Mas não é .
A propósito, instinto é o comportamento determinado biologicamente e comum a toda
espécie. Pensemos, por exemplo, num inseto, numa aranha. Ela sabe o que comer, como
fazer sua teia e que preparativos necessita para a procriação, sem que tenha tido
aprendizagem a este respeito. Ela faz do mesmo jeito em qualquer lugar onde ela vive.
Aqui ou na China, hoje como há quinhentos anos. Ela pode sofrer mutações genéticas, e,
então, desempenhar novas características. Mas enquanto isso não ocorrer, enquanto sua
constituição biológica não mudar, o comportamento de todas as gerações será o mesmo.
Não se renova nem se perde. São comportamentos rígidos, mas que nos parecem
perfeitos devido à extrema habilidade com que são executados.
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Há outros casos semelhantes ao dessas duas meninas que são igualmente instigantes e reveladores. O do menino de
Avignon e o de Kaspar Hauser são retratados em filmes que merecem ser vistos e discutidos O menino selvagem (direção
de François Trufaut) , “O enigma de Kaspar Hauser”(direção de Wladimir Herzog).
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O cuidado maternal é um dos comportamentos que, em analogia com os animais, geralmente se considera como
instintivo e não como um valor cultural. O livro de Elisabeth Badinter -Um amor conquistado: o mito do amor materno -
mostra como essa noção que serviu de parâmetro em diversas teorias educacionais, foi sendo formada ao longo da história
de nossa cultura..
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Certo é que as reações dos animais ao ambiente estão muito bem programadas em seu
corpo. Por isso se diz que os animais são o seu corpo, que estão determinados por ele3.
Isso não quer dizer que nenhum tipo de animal possa aprender nada além do que está
biologicamente programado. Quem já ensinou boas maneiras a um cão sabe o quanto ele
é capaz de aprender. Mas os animais não precisam de aprendizagens para sobreviver. O
conhecimento de que têm necessidade já nasce com eles. Pode, às vezes, não estar
pronto quando nascem, aparecendo somente a certa altura do amadurecimento de seu
corpo. Por exemplo, patinhos não sabem nadar senão após algumas semanas de vida. A
pata-mãe sabe quando estão prontos, e, então, os leva e os ajuda de início. Ensina-os? Ela
e mesmo os filhotes mais atirados ajudam os que estão inseguros. Pois, só de ver os outros
nadando, as coisas parecem ficar mais fáceis. Mas, mesmo quando o pato nasce e cresce
isolado, chocado por uma galinha e longe de qualquer exemplar inspirador, ele saberá
nadar tranqüilamente quando for maior. Sozinho! Sem lições, sem mestres, sem apoio
familiar. Isso está programado no corpo dele, assim como no nosso corpo células se
comportam como estão programadas biologicamente.
Nosso organismo também funciona assim. O coração bombeia o sangue da mesma
maneira em todos indivíduos da espécie humana. Nossos hormônios e nossa pressão
sangüínea são regulados sem nosso consentimento, independentemente de nosso
conhecimento, do local e da época onde nascemos e crescemos. Mas essas
determinações corporais não garantem nossa sobrevivência. Somos os únicos animais
que não sabem reconhecer, instintivamente, o que é um alimento, ou o que é um
predador. Nem do fogo fugimos se não aprendermos sobre o perigo que pode representar
para nós.
É verdade que nascemos sabendo sugar. Mais do que isso, nascemos sabendo como não
afogar. Até uns três meses de idade temos reações corporais que nos impedem de um
rápido afogamento. O fato é que, comparado aos dos outros animais, nossos instintos são
muito fracos. Temos que aprender para sobreviver. Nem que seja aprender os hábitos de
lobo. Mas sem a educação, sem a aprendizagem de alguma cultura, não vivemos. Por isso
se diz que o homem é um ser de cultura. A cultura é o que resulta da interferência do
homem no mundo: um processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai
sendo capaz de realizar. Nesse processo, algumas dessas experiências são preservadas,
outras transformadas ou eliminadas.
Em suma, enquanto o animal permanece sempre o mesmo na sua essência, repetindo os
mesmos gestos comuns à sua espécie, o homem muda as maneiras pelas quais vive,
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estabelecendo relações também mutáveis, que por sua vez alteram a maneira de
perceber, de pensar e de sentir o mundo.
Diante do exposto, podemos afirmar que as culturas são modos peculiares que os
humanos inventaram de se relacionar com mundo, de organizar suas vidas. São muitas as
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culturas neste mundo. Só no Brasil de hoje existem 137 culturas indígenas, muito
diferentes umas das outras. Além disso, podemos reconhecer muitas subculturas dentro
de uma determinada cultura. Nas grandes cidades, por exemplo, se fala em tribos urbanas
e em submundos.
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Rubem Alves aborda lindamente essa questão em diversos escritos, como em seu livro O Enigma da religião.
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2. LINGUAGEM E SISTEMA SIMBÓLICO
Quando se diz que nossa vida cotidiana está repleta de símbolos é comum lembrarmo-nos
dos sinais de trânsito, emblemas de times de futebol, das bandeiras dos países, de
alianças ou de alguns rituais, ou de símbolos religiosos como o sinal da cruz.
Menos comum, no entanto, é encararmos como sendo simbólicos os nossos costumes de
falar em alguns momentos e silenciar noutros, de brincar com algumas coisas e de levar a
sério outras, de respeitar ou de transgredir certas normas. Embora muitas vezes
interpretemos os comportamentos de nossos alunos e colegas, raramente os analisamos
como formas simbólicas. Pois bem, para a Antropologia todo comportamento humano é
simbólico. E mais: a criação e o uso de símbolos é o fundamento das culturas.
Mas, afinal de contas, o que é um símbolo? Esse termo vem do grego symbolon que
significa lançar com, pôr junto, fazer coincidir. De acordo com a semiologia, que é a ciência
que estuda os sinais (ou signos), os símbolos são um tipo de signo. Signos ou sinais são
coisas (imagens, objetos, sons, etc.) que representam outras coisas (pessoa, valores,
objetos, atos, etc.). Sabemos que a fumaça é sinal de fogo, que nuvens escuras e ventanias
são sinais de chuva, que sinal vermelho indica que devo parar. As letras representam sons
e com alguns desses sons representamos pessoas, coisas, atos, e sentimentos.
O signo é um meio para que percebamos aquilo que se faz ali representar. Representar
significa tornar presente o que não está aqui, seja por que já passou ou por que ainda nem
mesmo chegou a existir. Signo é alguma coisa que se apresenta no lugar de outra e
presentifica algo que está ausente.
Enquanto certos tipos de signos são mais diretos e evidentes, os símbolos são versáteis.
Eles são criados e adotados por uma cultura, mas podem ter um significado
completamente diferente em outra cultura. Um mesmo símbolo pode representar várias
coisas. Um choro, por exemplo, pode ser expressão de uma mágoa, de uma dor ou mesmo
de uma grande alegria. Por isso, símbolos demandam uma interpretação do contexto, das
intenções e dos possíveis significados.
Os animais têm sua linguagem, mas ela não é composta de símbolos. Trata-se de uma
linguagem instintiva, que usa tipos de signos mais diretos e menos ambíguos. No mundo
humano, dada a ausência de determinações instintivas, é através dos símbolos
aprendidos que se percebe o sentido das coisas, como por exemplo, o que é comestível e
o que deve ser temido. Sem a construção e a ordenação cultural dos significados,
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estaríamos perdidos.
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Por isso se diz que a humanidade não vive num universo puramente físico, mas num
universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte, a técnica, a ciência e a religião são partes
desse universo. “São os vários fios que tecem a rede simbólica, a teia emaranhada da
experiência humana” (CASSIRER, 1972, 50).
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Voltando a questão da cultura, é comum pensar o homem como animal que resolve
primeiro suas necessidades biológicas e depois desenvolve a cultura. Tanto no que se
refere aos dias atuais quanto ao longo da história da humanidade, julga-se que o bicho-
homem só desempenha rituais, atividades religiosas, míticas e artísticas após ter
resolvido, com o trabalho, o problema de sua sobrevivência. Opondo a essa idéia,
ressaltamos que na espécie humana não dá para separar as necessidades ditas básicas
(como a luta por alimentos, pela reprodução da espécie, por abrigos) das necessidades
criadas pela cultura.
Os dados arqueológicos (estudo da história da humanidade) mais antigos que temos
notícia referem-se a atividades que parecem não estar ligadas a necessidades básicas,
como os ritos fúnebres, que são expressões simbólicas. São sinais de que enterros e
cerimônias realizadas tinham um significado especial para aquele grupo social. Essas
atividades não resolvem o problema da alimentação. Ao cuidar dos mortos, aqueles
indivíduos deixavam de se ocupar de sua sobrevivência biológica. Pois bem, este e outros
fatos semelhantes levaram os estudiosos a perceber que os homens têm, por assim dizer,
fome de símbolos, ou melhor, necessidade de que as coisas a sua volta tenham
significado. Os homens não sobrevivem se não construírem ou encontrarem um sentido
para a vida.
As necessidades humanas nunca foram nem são apenas de ordem biológica. Nossas
necessidades básicas são compostas também pela imaginação e pelas determinações
simbólicas que ganham forma em cada cultura. A cultura não é, portanto, uma espécie de
ornamento extrínseco que vem se sobrepor à existência e acrescentar-lhe alguns
atrativos suplementares. O que se chama de mundo humano inicia-se justamente quando
a dimensão simbólica passa a fazer parte de vida.
O mundo precisa fazer sentido para que nos empenhemos em viver, e a cultura consiste
na composição desses sentidos. Quando o mundo deixa realmente de fazer sentido para
uma pessoa, ela deixa de querer lutar por sua vida. Dependendo do quadro cultural em
que se vive e da maneira como se interpretam certos acontecimentos, a morte também
pode fazer sentido e ser almejada, tanto pelo suicida quanto pelo guerreiro.
Durante muito tempo, acreditou-se que os canibais comiam os seres humanos por
animalidade ou falta de alimentos. Foi difícil entender que eles comiam por razões
simbólicas, isto é, não comiam qualquer carne. Não comiam a carne de gente ruim, que
eles considerassem ser covarde, mas sim, a de guerreiros valentes. Era, pois uma forma de
realimentar sua bravura e de recuperar a força dos antepassados comidos por guerreiros
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de grupos inimigos4.
Fala-se em sistemas simbólicos quando os símbolos não estão somente amontoados, mas
interligados. Ou seja, há uma relação de intimidade e de correspondência entre eles.
Observe, por exemplo, a correspondência entre os números. O seis equivale a duas vezes
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o três. Por sua vez, os números 6, 2 e 3 referem-se à quantidade de unidades: 3 = três vezes
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A poesia I Juca Pirama de Gonçalves Dias descreve lindamente uma situação dessas. Mas há também alguns filmes
nacionais que narram rituais antropofágicos que nos ajudam a compreender sua dimensão simbólica: Como era gostoso o
meu francês; Hans Staden; e Caramurú.
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a unidade. Também as notas musicais estão sempre em relação umas com as outras. A
identificação de um ré ou de um mi depende da adoção de uma escala musical e uma nota
de referência.
Essas duas linguagens - a matemática e a da notação musical – são exemplos de sistemas
simbólicos, mas é a língua que é o sistema fundamental para compreensão da cultura. Ela
é indispensável à vida das sociedades e confunde-se com o nascimento das culturas.
Estima-se que a língua falada surgiu por volta de 80 mil anos atrás enquanto que os
códigos escritos mais antigos que se tem notícia são de cerca de 5 mil anos antes de Cristo.
Também a imagem de uma teia ou de uma rede pode nos ajudar a pensar a característica
inter-relacional do sistema. Nelas os fios estão todos de alguma forma interligados, e a
sustentação deles se dá pela ligação de um com os outros, logo se bulirmos com um,
interferimos nos outros.
Sem ser totalmente coerentes, sistemas de significações estabelecem códigos, que são
conjuntos de regras convencionadas socialmente, como as que encontramos e
praticamos na escola. Assim como os significados, os códigos podem mudar – já vimos
que uma pessoa pode criar um novo sentido -, mas para que funcionem como linguagem e
sirvam como forma de ordenação, eles têm que ser padronizados. Os valores e os
significados têm validade consensual, isto é, os membros de uma cultura aprendem a
segui-los e concordam em compartilhá-los.
Através dos sistemas de significação, ligamos uma série de fatos aparentemente
desconexos, dando um sentido à realidade em que vivemos. Portanto, sem a construção e
a ordenação cultural dos significados estaríamos perdidos. Eles são nossos mapas, nossos
óculos. Ensinam-nos o que olhar, como ver e diferenciar as coisas, bem como o nome e a
importância delas. Tudo isso é feito com a rede de símbolos que nos envolve. Dizer que o
ambiente humano é simbólico é dizer que não nos defrontamos com os objetos, com a
natureza ou com as pessoas senão por intermédio da rede simbólica que é a cultura. Ela é
nosso meio ambiente. Sem ela somos como um peixe fora d`água.
Imagine como iríamos nos comunicar se não existisse esses sistemas simbólicos e seus
códigos padronizados. Mas repare bem; Não se trata apenas de comunicação e formas de
expressão. Mesmo para perceber e raciocinar, precisamos de sistemas simbólicos. Afinal,
as sensações que nos chegam através de nossos órgãos sensoriais são filtradas,
selecionadas, reconstruídas, classificadas e organizadas pelo sistema de significação de
que nos valemos. Sem um mecanismo de decifração, de representação e de registro
dificilmente conseguiríamos perceber e reter em nossas mentes o que vemos, ouvimos,
cheiramos, provamos e tocamos. Por isso os códigos implícitos na língua falada são tão
importantes.
Você quer ver um exemplo de sua influência na percepção auditiva? Pelo fato da língua
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Com respeito à visão, podemos citar os diferentes tons de branco e as diferentes formas
de neve percebidos pelos os povos vivem, como os esquimós, em ambientes gelados.A
percepção deles é bem mais apurada do que a nossa. Ao aprenderem a língua deles, suas
crianças aprendem termos específicos que os ajudam a distinguir e raciocinar sobre
especificidades que nem percebemos.
Agora repare na dificuldade que temos de pensar e de falar com precisão sobre cheiros e
sabores, isto é sobre sensações que nosso sistema lingüístico detalha pouco. As
experiências visuais e sonoras são tão centrais na nossa cultura que temos uma
dificuldade enorme de entender como os cegos percebem o mundo de uma outra forma,
por exemplo, usando, em sua escrita, um sistema simbólico tátil: o código Braile. Esse
código é representado com pontinhos em alto relevo, que nossos dedos não entendem,
mas os dedos daqueles que têm dificuldade de visão entendem e fazem a leitura por meio
deles. Os pontinhos representam letras que, por sua vez, representam sons.
Sem sistemas simbólicos como esses uma pessoa não terá como representar e
reinterpretar o passado (e todas suas experiências acumuladas) nem especular sobre o
futuro (e todas suas possibilidades), ficando bastante reduzidas suas possibilidades de
desenvolvimento mental. Embora a capacidade de imaginar e de simbolizar se mantenha,
aquele tipo de inteligência denominada raciocínio não se desenvolverá sem o domínio de
ferramentas mentais como os conceitos abstratos.
Fazer hipóteses, pensar sobre possíveis implicações ou futuras implicações é algo que
depende da abstração e de um sistema simbólico. Como planejar algo, senão trazendo à
mente conceitos, esquemas mentais, imagens de possíveis situações futuras? Como
pensar em equações tão abstratas como a equação (2 - 4) x 3= -6 sem um sistema de
simbolização?
Com efeito, o uso de sistemas simbólicos, como exercício da escrita e de operações
matemáticas, desenvolve a capacidade mental de efetuar operações. Uma pessoa que
conhece formas de representação sonora, como a notação musical, desenvolve sua
audição, pois os símbolos ajudam–na a perceber, representar e pensar as diferenças e as
relações entre as notas e seus arranjos. A linguagem é um sistema simbólico que se
estende sobre a vida social, classificando, codificando, transformando o sensível em
inteligível.
A língua, um dos aspectos constitutivos da linguagem, possui um número limitado de sons
funcionais; longe de utilizar todos os sons possíveis, ela agrupa os que efetivamente
utiliza em unidades distintas umas das outras. Ela é parte essencial do patrimônio cultural
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A língua pode ser considerada como um produto inconsciente do espírito humano.
Somente através de seu estudo podemos entender como os homens pensam o que vivem
e o que sentem; como eles expressam o universo e o social e como eles interpretam seus
próprios saberes e fazeres. Suspeitando da existência de um vínculo profundo entre a
estrutura da língua e a estrutura da sociedade, alguns antropólogos modernos tentaram
estabelecer correlações entre as línguas e as outras manifestações culturais, como as
regras de casamento e os costumes da vida econômica.
A sociedade intervém, desde o início, no mais íntimo de nossos julgamentos de valor, em
nossas convicções aparentemente mais pessoais. A partir de contrastes e semelhanças
simbólicas, os sistemas de classificação cultural produzem e ordenam sentidos e
estabelecem valores. A língua, por exemplo, se estrutura, entre outras coisas, por pares
de oposição e por campos semânticos, que estão impregnados de valores sociais e traços
ideológicos, como, por exemplo, grande x pequeno, reto x torto, claro x escuro, alto x
baixo, sagrado x profano. Podemos observar que os primeiros termos carregam uma
positividade, ou seja, são bem vistos, e que os que lhe estão em oposição são comumente
usados de forma pejorativa.
Até aqui estivemos tratando da linguagem como um sistema de representação comum a
todos da mesma cultura, mas devemos nos lembrar que, assim como dentro de um grupo
cultural há subgrupos, dentro de um sistema lingüístico há, muitas vezes, sistemas
internos. Em função das diferentes idades, condições socioeconômicas, etnias, regiões e
religiões há, dentro da mesma sociedade, diferentes tipos de cultura e subgrupos com
universos simbólicos distintos e nem sempre convergentes.
Isso traz sérias complicações para os professores, pois a escola, ainda que sem ter
consciência, acaba impondo ideologias e padrões dominantes, chegando a ponto de
cometer violências simbólicas, isto é, atentados contra as culturas específicas.
Não é raro ver professores que, sem conhecer ou compreender a linguagem e o universo
simbólico das crianças, se esforçam a todo custo para transformá-las. Ou então que, ao
considerar a pessoa letrada escolarizada alguém “de nível mais elevado”, torna-se incapaz
de compreender as riquezas das formas de pensamento e de expressão de daquelas
pessoas que apreenderam e desenvolveram outras habilidades e saberes que não são
priorizados nas escolas.
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3. TRANSMISSÃO E TRANSFORMAÇÃO CULTURAL
Ao se relacionar com o meio ambiente, a humanidade criou as culturas. Por outro lado, as
culturas criam os humanos, pois os indivíduos agem de acordo com os padrões do
ambiente cultural em que se formam. Todos nós somos, ao mesmo tempo, produtores e
produtos de cultura. Os seres humanos criam a cultura na relação uns com os outros; não
só com as pessoas com quem têm contato direto, mas também com aquelas que nem
chegam a conhecer.
O mundo cultural é um sistema de significados e costumes estabelecidos pelos indivíduos
de uma sociedade. Ao nascer, a criança encontra um mundo de valores já definidos, no
qual ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar,
andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo, enfim, se
acha previamente codificado. Até com referência à emoção, que pareceria uma
manifestação espontânea, o homem fica à mercê de regras que dirigem de certa forma a
sua expressão. Mas como aprendemos tudo isso se a maior parte dos padrões e regras
não são nem explicitados?
Ora, a cultura é, de certa forma, uma ordenação invisível, pois muitos aspectos que
direcionam nossos comportamentos não são evidentes. Suas regras não precisam ser
escritas, como são as leis oficiais. Nem mesmo precisam ser conscientes ou racionais. As
normas da cultura ficam implícitas nos símbolos manifestados. Aliás, alguns estudiosos
dizem que quando as normas precisam ser escritas em forma de leis (ou como lista de
combinados como fazemos quando lecionamos para crianças pequenas) é porque os
mecanismos mais profundos da formação cultural não estão funcionando bem. Pois, se
estivessem, as normas da nossa cultura estariam inscritas em nossos corpos, isto é,
introjetadas de maneira que as sentiríamos como natural ou instintivo, como
necessidades que precisamos realizar.
Na verdade, devemos considerar essas normas como algo que simplesmente não há
como não seguir. Trata-se de padrões e valores que devem ser preservados e transmitidos
por todas as instituições sociais, como a família, a igreja, a escola e quaisquer outras
formas de organização. Não apenas nessas instituições, mas também pelos nossos
hábitos, trabalhos, brincadeiras e conversas.
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Uma das maneiras mais antigas de ensinar as coisas importantes em cada cultura são os
mitos. Eles explicam as coisas importantes, geralmente contando como elas surgiram e o
que sucedeu. Como tudo começou? Por que morremos e para onde vamos? Qual o
sentido das coisas que fazemos? Por que temos que trabalhar? Como a linguagem surgiu?
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Todos os povos têm histórias sagradas que falam de entes e forças sobrenaturais. Histórias
que, há centenas de gerações, oferecem respostas a essas perguntas. Cada povo tem a
sua história, que explica e cultiva seus deuses e seus costumes. A cultura brasileira herdou
e absorveu parte da narrativa mítica do povo hebreu. A parte da Bíblia chamada Antigo
Testamento é a transcrição de mitos judaicos que os povos cristãos adotaram. Os hindus
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têm o Marabahata5. A história da guerra de Tróia é narrada em A ilíada e A odisséia. Elas
contam o difícil retorno ao lar de um dos mais astutos guerreiros gregos e são as
principais narrativas míticas do povo grego. Cada etnia africana e cada povo indígena da
nossa terra tinha seus mitos. Destes, infelizmente, poucos são conhecidos. Por uma série
de razões próprias da formação histórica do Brasil e também da indústria cultural, fomos
muito mais influenciados por mitos da cultura européia e de povos que viviam na
Palestina do que pelos de nossos antepassados que por aqui viviam.
Os mitos explicam e ensinam as coisas que todos os membros de determinado povo
devem saber, os cuidados que todos devem tomar, os valores que todos devem cultivar.
Sua narração é geralmente poética e alegórica. Segue uma lógica diferente do discurso
racional e conceitual, como o das ciências. Por causa disso, os mitos foram mal vistos.
Embora se reconhecesse que foram os primeiros passos na explicação do mundo, achava-
se que eram infantis, primitivos.
No entanto, hoje em dia, o mito é reconhecido como algo primordial e complexo. Ao
contar as histórias de como tudo começou ou de como as coisas se tornaram o que elas
são, ele explica os significados das coisas importantes do mundo, possibilitando nossa
compreensão. Os mitos, sejam eles antigos ou contemporâneos (como os que envolvem
os heróis de hoje em dia), situam o homem em seu lugar no universo graças a um sistema
de referências no interior de um todo, cuja organização (cosmos) é afirmada e não apenas
constatada. Eles definem o domínio e os objetos sagrados justificando, assim, proibições
e preceitos.
A Antropologia leva os mitos a sério. Considera-os primordiais na formação de todo
homem. O reconhecimento de sua complexidade é indispensável para que
compreendamos os outros povos e nós mesmos. Pois mesmo no mundo atual, mantemos
mitos e ritos mágicos. Como os mitos eram narrados e não escritos, a rima e o uso de
imagens marcantes tornaram-se essenciais para que eles fossem mais facilmente
entendidos e relembrados.
Outra importante forma de transmitir e manter a cultura são os ritos. Ritos são formas de
vivenciar alguns momentos e significados dos mitos. São cerimônias nas quais se encena
parte dessas histórias, mas também formas de celebrar valores e instituições sacralizados
por uma cultura.
Também os ritos, que, como havíamos visto, são formas de vivenciar, simbolicamente, os
momentos importantes da vida social e de expressar nossas apreensões e desejos,
ajudam-nos a nos situar no mundo e a organizar nossas vidas. Eles marcam nosso tempo
(com comemorações, por exemplo); delineiam nossa ocupação dos espaços (o que se
deve ou não se deve fazer em determinados lugares); estabelecem posturas e papéis
(como as hierarquias e os devidos respeitos) e as formas de regrar nossas vidas (com
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que aquela é uma ocasião especial, sagrada.
Sagrado é o que é valorizado de maneira especial por determinada cultura. Algo que é
considerado extraordinário, sobrenatural, às vezes divino. Destaca-se da paisagem
comum e das coisas banais (profanas) e é reverenciado. A separação entre o sagrado e o
profano é uma das formas básicas de organização de toda cultura. Ela estrutura
comportamentos ao distinguir os mortais dos deuses imortais, as atividades corriqueiras
daquelas fundamentais. Distingue objetos comuns daqueles extraordinários, carregados
de significados, que condensam sentimentos especiais. Delimita dias e lugares especiais.
Repare, no entanto, como algo extraordinário ou sagrado pode ter também um sentido
negativo. Uma figura terrível e ameaçadora, como, por exemplo, o diabo ou o bicho-
papão, são símbolos de perigos e ameaças especiais. Um dia vivenciado como sagrado
numa determinada cultura pode ser tanto uma data festiva, quanto um dia de pêsames,
no qual se relembram dores e sofrimentos. A data é sagrada porque não é uma data
qualquer. E, porque é importante deverá ser sempre lembrada e ensinada às novas
gerações.
Para alguns povos a terra e os fenômenos naturais têm um significado que não têm para
nós. Numa famosa carta escrita por um índio norte americano ao presidente de seu país,
que queria desapropriar suas terras, lemos o seguinte:
Não vai ser fácil não. Porque esta terra é para nós sagrada. Esta água brilhante
que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos
ancestrais. Se te vendemos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás
de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo na água límpida dos
lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar da
água é a voz do pai de meu pai. Os rios são irmãos, eles apagam nossa sede. Os
rios transportam nossas cargas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos
nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos
nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um
irmão6.
Se a terra era sagrada mesmo e se sabia que o outro não respeitaria isso, alguém tinha de
lutar por ela. O índio terá aprendido isso por meio das histórias e ritos de seu povo.
Chamamos de rituais de iniciação aqueles que marcam a passagem para uma outra
situação no seio do grupo, como os que se realizam para que uma mulher seja
considerada adulta, habilitada ou devidamente casada. Implicam quase sempre em
provações para verificar se o indivíduo está mesmo preparado para o novo papel. Numa
das culturas indígenas brasileiras, os meninos, para serem considerados homens de
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
verdade, têm que experimentar o desafio de enfiar a mão numa cesta com milhares de
formigas e agüentar as picadas. Ao manifestar a coragem, estarão prontos para enfrentar
muitos outros desafios pois não esquecerão do que já foram capazes.
Esse exemplo pode parecer exótico, mas há, em nossas vidas, alguns rituais que têm
Curso de Pedagogia UAB UFMG
sentido equivalente. Como exemplo podemos citar as situações que reforçam a distinção
de papéis, momentos que relembram histórias e tradições. O vestibular, por exemplo,
6
A Carta do Cacique Seattle ao Presidente Norte-americano, de 1854, pode ser acessada em
http://forum.cifraclub.terra.com.br/forum/11/178091/
20
ainda mais quando seguido das tarefas e provações que os universitários veteranos
submetem os calouros, é um ritual de passagem. O nosso cotidiano é organizado numa
seqüência de hábitos que também podem ser considerados como ritual. Exemplos desse
tipo de ritual cotidiano encontramos nos usos diferenciados que fazemos do tempo, das
roupas e das palavras, dependendo dos lugares aonde vamos e com quem estaremos lá.
Como os mitos, os ritos são importantes mecanismos na transmissão da cultura e na
institucionalização de hábitos e valores. Através dos mitos e ritos os indivíduos aprendem
e manifestam a intenção de cumprir aquilo que o grupo espera de cada um.
Existem muitas outras formas de se instituir e garantir a manutenção dos costumes. A
escola é uma delas. As instituições são criadas para ensinar os indivíduos a cultivar os
valores, conhecimentos e atitudes considerados importantes naquela cultura. Cabe a elas
prepará-los para exercer as funções e comportamentos esperados pela sociedade.
Mas, os indivíduos não podem subvertê-los? Os povos não podem criar e cultivar novos
comportamentos e valores? Afinal de contas, as culturas não se transformam?
No processo de transmissão cultural, há uma permanente tensão entre a manutenção de
antigas tradições e a produção de novas. A tradição nos ajuda saber o que fazer, o que
comer, como vestir, com quem casar, por onde ir. Mas, às vezes, aparecem situações
diante das quais não temos como manter essas tradições. Muitas vezes enfrentamos
situações em que elas nos parecem pesadas demais. Situações em que as tradições nos
atrapalham e nos sufocam, dificultando nossa vida. Então, tratamos de alterá-las.
Inventamos novas regras, adotamos novos significados e criamos novos símbolos. Muitas
vezes sem nos darmos conta disso. Procurando reproduzir práticas supostamente
cristalizadas no tempo e no espaço, acabamos produzindo versões modificadas.
Nem sempre percebemos as transformações culturais pois algumas levam mais tempo
que nossas vidas. Mas, se refletirmos sobre o processo de transmissão cultural, veremos
que ele se constitui de desobediência a algumas normas e reforma de outras; violação de
alguns costumes e reafirmação de outros; transgressão de algumas proibições e produção
de outras expectativas, buscando fazê-las com que se tornem uma tradição a ser
respeitada.
Aliás, transgredir não é abandonar a tradição. Quando fazemos algo que sabemos que vai
contra os costumes e nos envergonhamos e nos arrependemos, é um sinal de que, mesmo
não tendo seguido o esperado, não estamos necessariamente desconsiderando as
normas e prescrições estabelecidas. Às vezes, essa é uma maneira de reafirmá-las.
Mesmo coisas sem maiores conseqüências, muitas vezes passamos a valoriza-las depois
de tê-las desconsiderado e desrespeitado freqüentemente. Por exemplo, o zelo de nossos
pais por alguns hábitos – almoçar juntos aos domingos, visitar as tias e amigos deles – que
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
achávamos uma chatice e sempre encontrávamos uma forma de escapar. Mas depois,
Bernardo Jefferson de Oliveira
quando nos tornamos pais, percebemos as coisas como eles nos falavam e retomamos
então aqueles costumes. Estamos, assim, reafirmando a tradição.
Por outro lado, a inovação é a busca de outras soluções (técnicas, atitudes,
comportamentos) que os antigos não tinham. É a manipulação adequada e criativa do
21
patrimônio cultural - conhecimento e experiências adquiridas pelas numerosas gerações
antecessoras - herdado de cada cultura. Muitas inovações acabam entrando em conflito
com os hábitos e instituições cristalizadas. Mas, à medida que vamos nos acostumando
com novas técnicas, palavras e hábitos, elas vão sendo incorporadas em nossa cultura e
fazendo parte dos nossos costumes. As instituições desse grupo cuidarão para que não
sejam esquecidas. Muitas vezes, cuidarão também para que não sejam alteradas,
modificadas ou substituídas por novas inovações.
Um outro ponto de destaque no processo cultural é que, embora dinâmico, ele é também
duradouro. A cultura perdura no tempo. Ela sobrevive ao desaparecimento de indivíduos,
gerações e grupos. Mas parte dela se modifica com os indivíduos, com as relações entre
grupos de indivíduos e com as transformações das normas, hábitos e entendimentos que
ocorrem com a sucessão de gerações. Como é que ela vai se adaptando e sobrevive de
uma maneira transformada? Pense, por exemplo, num tipo de comida que emigrantes
levam quando vão morar noutro país. Mineiros que vão para o exterior e querem fazer
pão de queijo para comer e apresentar aos novos amigos. Às vezes alguém manda um
pacote de polvilho ou conseguem encontrá-lo numa mercearia local, mas na hora do
queijo tem que se virar com algo parecido ao queijo canastra. Eles vão acabar
apresentando aos seus amigos nativos do país estrangeiro, como algo típico de sua terra
natal - um pão de queijo mineiro adaptado. Eles próprios acabam se habituando com uma
nova forma de prepará-lo e, talvez, quando voltarem a viver no Brasil, procurarão fazer da
forma como se habituaram lá.
Essa dinâmica de mistura e recriação é mais visível ainda na língua do dia a dia. Gírias ou
palavras estrangeiras são apropriadas, transformadas e difundidas com novos
significados. Palavras norte-americanas vão sendo cada vez mais incorporadas em nossa
linguagem. O uso delas parece conferir status (olha aí uma palavra estrangeira!) aos
usuários. Assim falamos em shopping center ao invés de centro comercial. O curioso é que
muitas palavras adquirem um sentido inteiramente novo. Por exemplo, os termos
playboy e outdoor não possuem em inglês o significado que lhes damos no Brasil.
A dinâmica da mistura e da recriação cultural pode ser vista como um ensopado no qual se
colocam diversos ingredientes e que na hora de servir cada legume absorveu um pouco o
gosto do outro. Sem tirar a caldeira do fogo, vai se acrescentando mais água e novamente
ingredientes, só que noutra proporção e com novos temperos. A mistura já foi muito mais
lenta em outras épocas. Os condimentos da sopa quase não variavam. Alguns povos que
vivem em terras afastadas dos grandes contingentes humanos, ou que por diversas razões
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
orientais e boas pitadas das de árabes e de judeus. Repare que essas são denominações
geográficas, cada uma englobando uma diversidade de povos com línguas, deuses e
costumes específicos. Implícita nesta caracterização de etnias por regiões estava a idéia
de que as características dos ambientes naturais foram determinantes na configuração
das respectivas culturas. Por exemplo, afirma-se, às vezes, que o frio fez que os povos da
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Europa fossem compenetrados e trabalhadores enquanto aqueles que viviam entre os
trópicos eram mais preguiçosos, pois as condições ambientais tinham lhes facilitado a
vida deixando-os, no entanto, menos preparados para tempos difíceis.
Mais comum do que vincular diferenças culturais com condições geográficas foi pensá-las
como resultados de determinantes biológicos. Assim, constituição corporal, como altura,
gênero, tamanho do crânio, bem como aspectos físicos, como a cor da pele, eram
considerados como explicação de diferenças culturais. Aliás, ouvíamos com certa
freqüência que ciganos são nômades por instinto, judeus têm tino comercial, japoneses
são naturalmente trabalhadores e portugueses burros. Crenças em diferenças raciais
fundamentam os racismos que embasaram (e ainda o fazem) muitas barbáries ao longo
da história.
Para evitar a conotação biológica que o uso da noção de raça trazia e os equívocos
perversos a que se prestava, fala-se hoje em diferenças étnicas. A noção de etnia ressalta
que as diferenças entre os povos não são biológicas, mas de história, de valores cultivados
por um grupo, ou seja, sua cultura.
Estudos acerca das diferenças raciais davam um ar científico às pretensões de
estabelecer superioridade de um povo sobre outro, de justificar discriminações e
programas eugenistas. Tais programas pretendiam usar o conhecimento dos
determinantes raciais para purificação e melhoria das sociedades. Eugenia quer dizer boa
geração, melhoramento das sementes, da prole ou da espécie. A eugenia pode ser
assemelhada ao cuidado com o cultivo de boas safras, que vimos fazer parte da idéia de
cultura.
A questão da eugenia tem sido muito discutida em virtude das novas possibilidades
abertas pelo desenvolvimento da engenharia genética. A polêmica é enorme, mas não é
nova. Projetos e algumas práticas eugenistas já vêm de longa data. Quase sempre
pensadas e implementadas a partir da idéia da superioridade de uma raça, ou de uma
casta sobre outra. Foi assim na época do nazismo, na metade do século vinte. Os alemães
julgaram que a sua raça ariana era superior às demais e, portanto, destinada a dominar o
mundo. Procuraram, então, purificar a Europa, evitando o contato com judeus e ciganos,
que eles viam como raças inferiores, e depois exterminando-os. As feridas ainda não
cicatrizadas desse massacre terrível assustam ainda mais quando descobrimos que não
foi o único genocídio.
Extermínios em massa de povos considerados inferiores ocorreram também aqui no
Brasil. Menos documentado, e mais distante da cultura oficial, o terror dos povos
indígenas e dos africanos escravizados não foi menor. Se não foram deliberados como na
época do nazifacismo, ou como recentemente na Croácia, ocorreram com base em
raciocínios parecidos: Eles não são gente ; São uns selvagens que não sentem como nós;
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Bernardo Jefferson de Oliveira
Não são gente que preste ou que mereçam nossa solidariedade. Seja como for, a
Antropologia vem há muito insistindo que diferenças genéticas não determinam as
diferenças culturais. E, nos últimos anos, com o mapeamento genético, descobriu-se que
apenas uma parte insignificante de nossos genes responde pelas diferenças corporais.
Isso significa que nossas diferenças genéticas são irrisórias.
23
É certo que o uso da noção de etnia, no lugar da noção de raça, não resolve o problema
de incompreensão, dos preconceitos e dos conflitos entre os povos. Mas temos a
esperança de que, ao se reconhecer que as diferenças são apenas culturais, os conflitos
sejam resolvidos nesse terreno cultural.
Mudanças de hábitos, de valores e reformas educacionais foram propostas como
melhoria da sociedade. Projetos modernos de sanear as cidades e de racionalizar os
costumes previam um desenvolvimento cultural. Medidas de saúde pública (como a
vacinação obrigatória), novas formas de organização social (como o isolamento
daquelas pessoas tidas por loucas) e a laicização da escola pública (transferindo a
formação religiosa para a esfera familiar) tinham esse sentido.
Várias dessas transformações foram, e algumas ainda são, muito polêmicas. Quase
sempre atropelam os modos de vida e valores diferentes daqueles que estão
implementando as reformas. Quando uma nova mentalidade é instituída e incorporada
na sociedade, ela parece ser a coisa mais natural, como se resultasse de um
desenvolvimento histórico harmônico. Mas raramente é assim. A transformação de
costumes arraigados encontra sempre resistências. A propósito, você sabia que houve
aqui no Brasil muito protesto e revolta no início do século XX contra as campanhas de
vacinação pública e adoção do sistema métrico decimal?
É fundamental que educadores reflitam sobre o processo de transmissão e
transformação da cultura. O que está em jogo na manutenção e transformação das
tradições e nas ressignificações? Como é que se transmitem, muitas vezes sem se
perceber, conhecimentos e valores? Como se aprende a cultivá-los? Tais
questionamentos favorecem uma melhor compreensão das práticas pedagógicas.
jeito. Estamos tão habituados com nossa cultura que achamos que nossos costumes são
naturais, que eles valem em toda parte. Isso dificulta a compreensão do outro e de nós
mesmos. O conhecimento de outras culturas e a relativização da nossa são muito
importantes para a compreensão de nosso modo de vida e para a educação. Isso faz com
que se dê mais atenção à multiplicidade cultural e aos conflitos que ela envolve.
24
No entanto, apesar de tantas diferenças, quase sempre reconhecemos características
comuns. Pense, por exemplo, no cultivo das novas gerações. Ainda que das formas mais
variadas, as crianças são preparadas pelos mais velhos para a vida no grupo. Por maiores
que sejam as diferenças, sempre há regras que estruturam e organizam a vida social, com
a distribuição de papéis e de atividades. Todas as culturas procuram, por exemplo, dar um
sentido especial para morte de seus membros.
Uma das mais antigas e difundidas teorias sobre a natureza humana é aquela que concebe
o homem como um animal dotado de razão: o animal racional. Isso significa que o resto do
reino animal não pensa, ou pelo menos não pensa como nós. Essa teoria considera ainda
que a capacidade de raciocínio é natural no homem.
A definição do homem como animal racional surgiu na Grécia, uns quatrocentos anos
antes de Cristo e, desde então, foi incorporada pela chamada cultura ocidental. Por razão,
considera-se não só a capacidade de resolver problemas e inventar soluções práticas –
pois isso chimpanzés e golfinhos também fazem – mas fundamentalmente a capacidade
de teorizar e de refletir. O raciocínio é, a grosso modo, uma atividade mental que
transcende a percepção sensorial. Uma atividade que abstrai as situações concretas e
articula, de maneira lógica, as representações mentais que cria. Na nossa tradição
ocidental, essa atividade racional foi vista como fundamental, a ponto de ser divinizada.
Concebida como um valor universal da espécie humana, ela se tornou um ponto de honra
e serviu para maltratar as culturas (irracionais ou primitivas) e as pessoas (loucas) que
não a manifestavam.
Mas, se a capacidade racional era uma característica comum a todos os homens, como
explicar por que tantos povos adotavam comportamentos absurdos ao invés dos modos
de vida do europeu civilizado? A resposta encontrada foi que se tratava de um processo
histórico de desenvolvimento da civilização. A diversidade foi então explicada como
desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. Mas foi encontrada e
explicada na perspectiva da cultura européia e acabou se espalhando por quase todo o
planeta. Assim a maioria dos outros povos acabou absorvendo costumes, mitos, padrões
lógicos e ideais europeus.
Hoje em dia, fala-se de uma certa crise em torno de alguns desses valores. Mesmo assim,
diversos aspectos daquele patrimônio cultural são cultivados em toda parte. Como abrir
mão, por exemplo, da democracia e da ciência? No entanto, mesmo nos reconhecendo
como herdeiros dessa tradição, dá para perceber como tal visão de mundo era
eurocêntrica, ou seja, o modelo de humanidade concebido como sendo universal era o
homem branco europeu.
Sabemos que os valores e a visão de mundo dos grupos mais poderosos tendem a se
sobrepor sobre os demais. Denominamos de processo de aculturação a perda de
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Bernardo Jefferson de Oliveira
determinadas culturas, seu sombreamento por outras. Mas é curioso ver que, mesmo
quando há mecanismos para silenciar culturas nativas, como nas experiências de
colonização, muitos aspectos da vida dos povos colonizados e reprimidos são cultivados
clandestinamente ou encontram formas de sobreviver. É o que ocorre no sincretismo, por
exemplo, no qual se fundem elementos culturais diferentes. Assim, por exemplo, os
escravos, proibidos de cultuar suas divindades e de exercer sua religião, estabeleciam
25
correspondências com os santos admitidos pelo catolicismo. Adotavam as novas imagens
e seus nomes e continuavam lidando com as entidades e liturgia de suas religiões de
origem, como o candomblé.
O etnocentrismo - a perspectiva em que se coloca determinada etnia no centro - é algo
bem mais amplo do que uma mera ilusão equivocada de nossos ancestrais. O
etnocentrismo é comum a todas as culturas. Somos todos etnocêntricos! Se você prestar
atenção, verá que em qualquer narrativa mítica antiga – seja a Bíblia, o Marabahata ou
mitos de origens dos povos indígenas do Brasil - o povo que conta a história é o herdeiro
dos deuses. Cada povo acha que é o principal, que sua língua e seus costumes são os
normais. Em torno de seu eixo estariam as outras, que deveriam reconhecer isso. Seria
então o etnocentrismo uma característica da natureza humana? Consideramos que não,
porque ela pode ser abandonada como forma de ilusão, quando analisada criticamente.
Mas ainda que possa ser visto como algo ingênuo, isso está profundamente enraizado na
maioria dos homens de todas as culturas. O etnocentrismo é um grande dificultador na
compreensão das outras culturas e da nossa própria, pois achamos que são universais
(isto é, natural do ser humano) os costumes e valores que foram inventados e cultivados
por nosso povo ou por nosso grupo social.
Há uma clara semelhança entre essas percepções e a impressão das crianças pequenas de
que o mundo começou quando elas nasceram. Por isto se diz brincando: “Todo menino é
um rei. Eu também já fui rei. Mas despertei”. A coisa mais comum é achar que sua casa é o
centro do mundo.
O despertar é algo frustrante, pois revela algumas de nossas ilusões. A descoberta de que
com os outros sujeitos e outros povos se passam coisas semelhantes as que acontecem
conosco nos leva a um certo descentramento. A impressão de que estávamos no centro
do mundo vai por água abaixo. Passamos a ter consciência de que o que víamos como
óbvio ou natural não é mais que um ponto de vista. O que equivale a uma relativização dos
conhecimentos, dos hábitos e dos valores que cultivávamos. É um processo enriquecedor,
mas que não é nada fácil.
Na inter-relação com os outros, somos levados a nos perceber de uma outra forma, isto é,
a encarar a maneira como os outros nos vêem. Relutamos, é claro, a enxergar que as
certezas e os padrões que utilizamos são relativos à nossa cultura apenas.
Veja como o chefe da tribo Tiavéia, das ilhas polinésias, nos descreve:
O Papalagui (que é como ele nos chama) pensa de modo estranho e muito
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
confuso. Está sempre pensando de que maneira uma coisa pode lhe ser útil, de
que forma lhe dá algum direito. Não pensa quase nunca em todos os homens,
mas num só, que é ele mesmo. Ele diz: 'a palmeira é minha', só porque ela está
na frente da sua cabana. É como se ele próprio tivesse mandado a palmeira
crescer. (…) 'Lau' em nossa língua quer dizer 'meu' e também 'teu'. É quase a
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mesma coisa. Mas na língua do Papalagui quase não existem palavras que
signifiquem coisas mais diversas do que 'meu' e 'teu'. 'Meu' é apenas, e nada
mais, o que me pertence; 'teu' é só, e nada mais, o que te pertence. É por isto
que o Papalagui diz de tudo quanto existe por perto da sua cabana: 'É meu'. (…)
'Não pegues no que é meu!' Mas se pegares, te chamarão gatuno, o que é uma
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vergonha muito grande, e só porque ousaste tocar num 'meu' do teu próximo.”
(SCHEURMANN, s/d, 55)
Não é difícil nos reconhecermos nessa descrição. Só mesmo tendo uma visão de fora para
nos darmos conta de que o que nos parece tão natural, como nosso direito à propriedade
de uma árvore que está em nosso quintal, está relacionado com os costumes e com uma
linguagem que outros povos não cultivam.
Por outro lado, podemos observar que é sempre a partir de sua própria cultura que um
indivíduo ou um povo percebe o outro. Essa é uma das questões que a antropologia
procura estar sempre atenta para que suas interpretações sejam o menos etnocêntrica
possível. Por isso, ao descrevermos uma pessoa, acabamos revelando sempre nos
próprios.
No filme Passageiro profissão repórter há um diálogo exemplar a esse respeito. Um
europeu está viajando pelo norte da África e encontra-se com um líder de um movimento
rebelde para entrevistá-lo. Ele queria entender e divulgar os motivos que levavam aquele
povo a se rebelar não só contra o governo colonialista, mas também contra a cultura
européia. Faz, então, uma série de perguntas e filma o africano, que reage mansamente,
virando a câmara para o entrevistador e dizendo assim: -“as perguntas que você me faz
falam mais sobre você, do que as respostas que eu daria falariam sobre mim”.
A circularidade dessa interpretação mostra como nosso horizonte de compreensão é
condicionado por nossos pressupostos. O nome já diz bem: suposições prévias.
Certamente, um ponto de vista difícil de ser suplantado, pois, por sua vez, o exame desses
pressupostos pressupõe outros. E por aí se segue, andando em círculos. A dificuldade
para entender alguém que não compartilha da mesma cultura está intimamente
relacionada com uma limitação básica do conhecer. Sempre que tentamos compreender
o desconhecido, o fazemos a partir do que conhecemos. O novo é compreendido somente
a partir de analogias, traduções e paralelos com os modelos e experiências de que
dispomos. Por isso, dizemos que as coisas não fazem o menor sentido quando não há
paralelos ou traduções possíveis. Às vezes, simplesmente não entendemos a visão de
mundo do outro.
O grande desafio da antropologia persiste em tentar compreender o outro para alcançar
uma melhor compreensão do que é o ser humano e o que significa nosso modo de vida. “É
somente pela compreensão das outras culturas e das outras sociedades que se pode
chegar a ver a sua própria numa perspectiva justa – compreendendo-a então em relação à
totalidade das experiências humanas” (EVANS-PRITCHARD, 1978, 54).
Mas o que seria uma perspectiva justa? Quando se alcança a imparcialidade e o
distanciamento crítico que ela demanda? Não há, no descentramento buscado, o perigo
de tornar-se estrangeiro em sua própria pátria? A inclinação cosmopolita não significa a
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
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perda de nossas raízes? O poeta português Fernando Pessoa tratou dessa inquietação
numa famosa poesia em que mostrava como que, para cada um de nós, determinadas
coisas podem ter mais importância do que coisas que são apreciadas por todo mundo.
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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. (...)
O Tejo desce de Espanha. E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai. E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia...
(PESSOA, 2001,215)
Ser cidadão do mundo não implica abandono das raízes profundas e ou da identificação
cultural. Pois as questões locais nunca estiveram desligadas das questões de todo o
mundo. O rio de nossa aldeia é nosso caminho de ligação com o grande mar. E o olhar
antropológico é uma das formas de conhecer melhor essa ligação, levando-nos a nos
aventurar no grande mar e nas fontes dos rios que o alimentam.
Voltar-se para a realidade com um olhar antropológico ou etnográfico é observar os
diversos símbolos da cultura. É analisar os ritos, cerimônias e hábitos que expressam a
visão de mundo de determinado grupo. Tentar entender como se organizam os grupos, o
que cultuam. Procurar interpretar detalhes e não simplesmente dar ouvidos às
explicações gerais fornecidas, pois os enunciados, muitas vezes, encobrem intenções e
significados ocultos. Percebemos isso facilmente no choro de uma criança que reclama de
dor ou machucado, mas que muitas vezes está apenas querendo chamar a nossa atenção.
Ao invés de dizer: -“Poxa! Olhe para mim um pouquinho”!, ou pedir formalmente para
que compartilhemos de seu momento difícil, ela simplesmente chora. Adultos também
fazem a mesma coisa. Mas à medida que vamos crescendo, vamos aprendendo também
(repare que este ensino é sutil) formas de dissimular nossas intenções. Às vezes
dissimulamos tão bem que enganamos até nós mesmos.
Todos os atos humanos significam algo. Costumam a ter mais do que um único significado
e por isso precisam ser interpretados. Contudo, é difícil decifrar um ato sem levar em
conta vários outros aspectos do contexto. Um bom professor precisa não apenas dos
conhecimentos fornecidos pela antropologia como ciência, mas também das estratégias
interpretativas do antropólogo. Uma delas é o distanciamento crítico: procurar ver a
cultura, mesmo a nossa, com o olhar de um estrangeiro (melhor ainda: o de um
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
extraterrestre!). Em outros termos: tentar ver como exótico aquilo que nos é familiar. A
outra estratégia é a sua inclinação compreensiva, no sentido de compartilhar do ponto de
vista do outro; experimentar seus valores para ver como as coisas ficam na sua
perspectiva; tentar compreender uma determinada cultura de dentro, como se dela fosse
Curso de Pedagogia UAB UFMG
nativo, ou seja,tornar familiar o que parecia exótico. Por fim, essas estratégias
interpretativas parte do pressuposto de que os fatos não são evidentes nem têm um
sentido único, mas sim um fluxo de significações. Assim, além do aspecto infindável que
esse tipo de análise impõe, o professor deve ter também a consciência de que essas
estratégias não lhe fornecerão jamais certezas.
28
3.2. ESTRANHAMENTO E IDENTIFICAÇÃO CULTURAL
A percepção da individualidade (de uma pessoa ou um grupo) nasce com o
reconhecimento que o outro é diferente (de mim ou nosso grupo). Geralmente, é quando
algo estranho nos chama atenção no comportamento do outro que tomamos consciência
de que nós não somos iguais, que somos diferentes. Só então reparamos como sendo
nossos os hábitos, valores e tradições que seguimos.
A diferenciação já é uma forma de identificação. Sem o outro não sou eu, não me
reconheço. Conheço-me conhecendo o outro e só compreendo o outro quando me
compreendo. Isso vale tanto para os indivíduos como para os grupos sociais.
Nossos símbolos expressam essas diferenças. Eles são uma forma de nos reconhecermos
e de nos diferenciarmos daqueles que não compartilham de nossos valores e costumes.
Os símbolos - sejam utensílios ou apetrechos (como alianças), jeitos de falar ou sinais
corporais - estampam nossa pertença e adesão a uma determinada tradição. Muitas
vezes, eles não fazem qualquer sentido para os outros. Mas, para nós significam a
manutenção de nossa cultura.
Como expressão visível de crenças, padrões morais ou estéticos, os sinais simbólicos
servem como identificador do grupo, tanto interna quanto externamente. Assim, por
exemplo, a circuncisão (corte do prepúcio) é a forma com que os judeus sinalizam um
vínculo sagrado e a manutenção dele por seus descendentes. Mas, durante a Segunda
Guerra Mundial, era um dos aspectos que os nazistas usavam para discriminá-los. Embora
não tenha a dimensão sagrada da circuncisão ou das marcas que alguns povos indígenas
talhavam em suas peles, o piercing é como muitos jovens de hoje procuram expressar sua
identificação com um grupo de atitudes.
Ao interpretar nossos comportamentos culturais, alguns antropólogos afirmam que
várias de nossas atitudes manifestam a busca de identificação e diferenciação. Ou seja,
nossa profissão, nossa posição política e nosso padrão estético são expressões de que nos
valemos para nos identificar com um grupo de pessoas e de valores e diferenciar de
outros. Quem segue determinada moda de vestir, por exemplo, o faz aparentemente
porque gosta. Mas por detrás desse gosto, há a vontade de ficar parecido com
determinadas pessoas e não ser confundidos com outras.
Mas, nem os padrões nem os significados e nem os grupos que os adotam são imóveis.
Pelo contrário, a transformação é contínua e suas múltiplas significações são
intercambiáveis. Por isso é muito difícil defini-los ou nomeá-los. Toda cultura é uma
mistura. Mesmo dentro de uma etnia, diferentes experiências de várias gerações se
misturam. Além do mais, as etnias se mesclam. A mistura de etnias é mais visível em
alguns lugares (como nas Américas) e em épocas como a nossa, em que os meios de
transporte e de circulação de informações aceleram os intercâmbios. Como diz o poeta e
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Bernardo Jefferson de Oliveira
músico Arnaldo Antunes, somos inclassificáveis. “Que preto, que branco, que índio o quê?
Aqui somos mestiços mulatos cafuzos pardos mamelucos sarará crilouros guaranisseis
judárabes orientupis iberibárbaros ciganagôs tupinamboclos7”. Pois, como referir a um
filho de um judeu com uma árabe e à mistura de sangues de um chinês com uma
7
A música do CD Silêncio se chama Inclassificáveis.
29
tupinambá, senão misturando também os nomes daquelas correntes sangüíneas?
Assim como as línguas misturam termos de diferentes origens, quase todos os aspectos
das culturas contemporâneas seguem conjugando tradições diferentes, sobrepondo
perspectivas e gerando novos valores. As diferenciações entre as etnias, entretanto, não
apenas têm o sentido de rotular ou estigmatizar. Elas têm servido também na
sedimentação de identidades e reconstrução de caminhos. A revalorização de aspectos
culturais que vinham sendo menosprezados pela cultura oficial se torna, às vezes,
importante na luta pela diminuição das desigualdades políticas e econômicas. Foi assim
em lutas contra os colonizadores em diversas partes do mundo. O reconhecimento de
direitos das chamadas minorias (que às vezes são majoritárias), como as mulheres, os
negros, os homossexuais, dependeu de movimentos sociais e manifestações culturais
que realçavam a importância de valores esquecidos. Esses movimentos resgataram sua
dignidade com histórias que não haviam sido contadas e a beleza de traços culturais
nunca antes bem retratados.
O simples reconhecimento desses direitos quase nunca é suficiente para a mudança dos
hábitos. Preconceitos arraigados podem levar algumas gerações, até serem de fato
abandonados. Diante disso, muitos países têm buscado implementar leis que efetivem a
reversão desse quadro. São as chamadas políticas ou ações afirmativas, que buscam
garantir uma proporção mínima das vagas de um concurso para etnias que
historicamente foram marginalizadas.
A dinâmica cultural contemporânea é extremamente complexa e, às vezes, contraditória.
Em meio à tendência geral da globalização, surgem diversos movimentos de reafirmação
de etnias minoritárias, que insistem na identificação das fronteiras de suas respectivas
identidades culturais. Há tentativas que buscam resgatar tradições antigas praticamente
perdidas, como o movimento separatista dos bascos na Espanha, e outros que
manifestam violenta rejeição à cultura dominante, como algumas seitas religiosas que
lutam no Irã contra a influência ocidental. A defesa enfática da cultura nacional e a
resistência radical à moda e aos produtos estrangeiros são vistas como um tipo de
xenofobia, isto é, uma aversão ao que é estrangeiro.
Quando se fala em cultura dominante é preciso ter em mente que dentro de nossas
sociedades há desigualdades sociais: grupos e classes com condições econômicas
desiguais e interesses muitas vezes conflitantes. As diferenças culturais sobrepõem-se e
confundem-se com as desigualdades sociais. Os padrões culturais das classes com maior
poder político e econômico são sempre os mais propagados e há várias formas de coerção
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
para que seus valores e costumes sejam adotados por toda a sociedade. Assim,
manifestações culturais das classes pobres são muitas vezes malvistas e até mesmo
condenadas pelas elites. O samba, por exemplo, já foi considerado caso de polícia e tocar
violão era algo que, até o início do século XX, desonrava os membros da elite dominante.
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É fácil perceber como os novos meios de comunicação trazem, juntamente com a maior
circulação do conhecimento, uma padronização da informação. Nesse processo as
diferentes perspectivas vão se perdendo, vai tudo ficando mais ou menos com a mesma
cara. Por outro lado, há muitas pessoas que garantem que a ampliação do acesso ao
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conhecimento, propiciada pelas novas tecnologias, e a circulação de informações,
advindas das mais distantes culturas, são fatores altamente promissores.
Hoje em dia fala-se muito de pluralismo cultural ou multiculturalismo como afirmação da
diferença cultural e como uma deliberada recusa à hierarquização etnocêntrica das
culturas. Considera-se, então, que cada grupo cultural tem direito a conservar e a
desenvolver a sua cultura e a educar-se com base nos próprios valores e conhecimentos
culturais em igualdade de condições.
Todavia, a perspectiva multiculturalista não significa necessariamente interação. Ela pode
ser simplesmente a convivência pacífica e respeitosa com o diferente, mas sem disposição
de interação. Ou seja, o ajuntamento de culturas múltiplas no interior duma sociedade,
sem comunicação entre elas, permanecendo cada uma apartada da outra.
A nosso ver, o pluri ou multiculturalismo é um grande passo, pois já implica
reconhecimento e respeito da diferença. Mas, conforme observam alguns autores, essa
posição é insuficiente, pois não garante o intercâmbio entre as culturas e referenda a
manutenção de isolamentos indesejáveis, como os guetos ou alguns novos condomínios
nas grandes metrópoles.
O que diferencia então o interculturalismo do multiculturalismo? O prefixo inter coloca a
tônica nas trocas entre as culturas, nos cruzamentos, nas conexões, articulações,
comunicações, diálogos, onde cada uma pode se beneficiar da outra. Enquanto o termo
multicultural é puramente descritivo, isto é, descreve a realidade das sociedades nas
quais coexistem diferentes culturas, o termo intercultural é normativo, pois se refere a um
processo de intercâmbio e interação comunicativa que seria desejável nas sociedades
multiculturais.
Quanto ao nível social, a interculturalidade orienta processos que têm por base o
reconhecimento do direito à diversidade e à luta contra todas as formas de discriminação
e desigualdade social e tentam promover relações interativas e igualitárias entre pessoas
e grupos que pertencem a universos culturais diferentes. Nesse sentido, trata-se de um
processo permanente, sempre inacabado, marcado pela intenção de promover uma
relação de diálogo e democrática entre as culturas e os grupos fechados e não de
estabelecer, unicamente, uma coexistência pacífica num mesmo território.
Já o interculturalismo parte de um conceito de cultura mais dinâmico, que permite o
intercâmbio e o diálogo entre os grupos culturais e seu mútuo enriquecimento. Não
considera nenhuma cultura como superior a outra e com direito a dominá-la, mas
tampouco compartilha com os relativistas a consideração de que todas as culturas têm
igual valor. Sugere uma contínua reflexão crítica sobre os elementos culturais, começando
pelos de sua própria cultura, para ir desterrando todos aqueles valores que entram em
conflito sério com valores humanos universais que devem ser compartilhados por todas
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
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4. CONCLUSÃO
Em geral, o que nos chama atenção nas culturas são as diferenças, o exótico, o incomum.
Mas, como vimos, a cultura é muito mais que isso. Todas nossas idéias, nossa língua, as
nossas crenças, nossos conhecimentos, técnicas, artes, leis, hábitos e instituições são
parte de nossa cultura. Elas compõem a teia de significação que nem percebemos porque
através dela é que aprendemos a ver e diferenciar as coisas e seus significados. Por isso,
dizemos que o ambiente humano é simbólico, pois não nos defrontamos com os objetos,
com a natureza ou com as pessoas senão por intermédio da rede simbólica, que é a
cultura.
Neste texto, falamos muito da cultura num sentido amplo, de transmissão e produção
material e mental. Mas vimos também que dentro da mesma cultura podem existir várias
culturas com hábitos e costumes próprios. As sociedades, principalmente as
contemporâneas, não são um todo homogêneo. Elas são complexas, compostas por
grupos com diferentes origens, histórias, ambientes e padrões. Esses grupos podem ser
interpretados como pequenos mundos, já que algumas vezes possuem uma unidade
própria de valores e padrões de comportamento. Tanto é assim que, nas grandes cidades,
fala-se em tribos urbanas e submundos.
Atentar para as diferenças culturais e buscar entender seus processos de formação é uma
boa forma de compreendermos nossa vida e nossa sociedade. Se isso pode ser valioso e
recomendável para todas as pessoas, para os educadores, a nosso ver, isso é
fundamental. Portanto, compreender a dinâmica de transmissão e transformação
cultural é um dos grandes desafios que todos professores têm de enfrentar.
Conhecimentos Pedagógicos - Antropologia da Educação
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GEERTZ, Clifford A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
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Orientação de Estudo
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ATIVIDADE 1
Com base no texto, caracterize Antropologia explicitando seu objeto de estudo e a sua
importância para compreensão do ser humano e para a educação.
ATIVIDADE 2
O que é cultura? Veja algumas definições de cultura. Assinale aquelas que não
correspondem ao texto.
A) A cultura é um processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo
capaz de realizar.
B) A cultura é o conjunto de regras e padrões de comportamento de que temos
consciência.
C) A cultura é aquilo que liga os homens, são as idéias e padrões que eles têm em comum.
D) A cultura de um povo é basicamente o conjunto de suas manifestaçõea folclóricas,
festas típicas e comidas pitorescas.
E) A cultura é um sistema simbólico, são sistemas entrelaçados de significados, definições
e sentidos usados por um grupo social.
ATIVIDADE 3
Processos de identificação e diferenciação são elementos centrais na formação cultural e
em sua dimensão simbólica. Analise as observações a seguir e escreva à frente de cada
uma delas V se for verdadeira e F se for falsa.
(...) Nós nos diferenciamos de uns indivíduos ou grupos quando identificamos nossas
características inatas.
(...) A adesão a determinados padrões culturais expressa a identificação com um grupo
social e a diferenciação ante outros grupos.
(...) Uma identidade só pode ser demarcada e definida fora do sistema de relações da qual
ela faz parte.
(...) Nossos ritos e símbolos são uma forma de nos reconhecermos e de nos
diferenciarmos daqueles que não compartilham de nossos valores e costumes.
(...) Nós nos identificamos com um grupo social e nos distanciamos de outros quando
temos consciência das razões que os diferenciam.
ATIVIDADE 4
Assinale na lista abaixo as sensações ou atividades que são naturais (N) no ser humano e
portanto não variam de cultura para outra e as que são culturais. ( C )
(...) Reações impulsivas, como gritar quando tomamos um susto.
(...) O batimento cardíaco.
(...) Nosso gosto ou aversão por determinado alimento
(...) O medo da morte.
(...) Necessidade fisiológica de nutrição e excreção.
(...) O prazer sexual.
(...) Sensibilidade a estímulos nervosos, como uma alfinetada.
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ATIVIDADE 5
Sobre os sistemas de significação, é incorreto dizer que:
A) A partir de contrastes e semelhanças simbólicas, os sistemas de classificação cultural
produzem e ordenam sentidos e estabelecem valores.
B) Através dos sistemas de significação, ligamos uma série de fatos aparentemente
desconexos, dando um sentido à realidade em que vivemos.
C) A língua é um sistema de significação que nos ensina o que olhar, como ver e diferenciar
as coisas, assim como o nome e a importância delas.
D) Sem um sistema de significação uma pessoas pode perceber e pensar sobre o mundo
mas não terá como represeentar e transmitir essa experiência.
E) Há diferentes universos simbólicos dentro da mesma sociedade.
F) A linguagem é um sistema simbólico que perpassa a vida social, classificando e
codificando o inteligível e transformando-o em sensível.
ATIVIDADE 6
A Antropologia da Educação sugere algumas estratégias para que consigamos superar
nossos preconceitos. Assinale as alternativas abaixo que retratam algumas dessas
estratégias.
A) Colocar nossos alunos em contato com os mais diversos tipos, que vivem em culturas
diferentes e praticam as mais diferentes atividades.
B) Evitar grupos heterogêneos de professores cm formação e experiências profissionais
muito diversas.
C) Ampliar a perspectiva de nossos alunos e o nosso próprio o “olhar”, por meio de
experiências culturais cada vez mais globais.
D) Reconhecer que as novas teorias são mais corretas e procurar isolar os professores que
tem uma perspectiva tradicional, etnocêntrica e retrógrada.
ATIVIDADE 7
Escreva a letra T nas situações em que participamos das transformações culturais e a letra
M nas situações em que participamos da manutenção da cultura.
(...) Quando adaptamos para as condições locais um costume de outra região.
(...) Quando respeitamos as atividades constituídas.
(...) Quando usamos as palavras de maneira como as aprendemos desde crianças.
(...) Quando inventamos um novo uso para um objeto antigo.
(...) Quando nos indignamos contra as imoralidades.
ATIVIDADE 8
De acordo com o texto, coloque V na s afirmativas verdadeiras e F nas falsas.
(...) O mundo cultural é continuamente transformado pelos seres humanos.
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RESPOSTAS
ATIVIDADE 1
A Antropologia é o estudo do homem. Ela procura compreendê-lo na sua relação com a
cultura. É importante para compreensão do ser humano e de sua formação cultural. É
fundamental para a educação pois engloba o ensino, a aprendizagem de hábitos, valores,
atitudes e conhecimentos, no decorrer da vida.
ATIVIDADE 2
Letras B e D
ATIVIDADE 3
A sequência de letras é : F, V, F, V, F.
ATIVIDADE 4
A seqüência de letras é: C, N, C, C, N, C, N.
ATIVIDADE 5
Letras: D e F.
ATIVIDADE 6
Letras B e D.
ATIVIDADE 7
A seqüência de letras é: T, M, M, T, M.
ATIVIDADE 8
A seqüência de letras é: V, F, V, F, F, F.
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ESTUDO COMPLEMENTAR
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STORT, ELIANA. Cultura, imaginação e conhecimento. Campinas: Unicamp.1993.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. São Paulo: Editora Brasiliense,
1985.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura - um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1986.
RODRIGUES, José Carlos. O tabu do corpo. Rio de Janeiro: Achimé, 1983.
MATTA, R. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Petrópolis: Vozes, 1981.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo : Brasiliense, 1988.
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
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ISBN978-85-99372-88-3
ISBN 859937288-2
9 788599 372883