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Um Filho para o CEO - Gravidez Inesperada - Renata

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manuelavmbasso
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Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Copyright ©Renata Gonzaga

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou intangíveis – sem o
consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°.


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Ficha Técnica

Autora: Renata Gonzaga


Revisão e diagramação: HL Revisões @autorahelenalia

Capa e Assessoria: Fênix Assessoria Literária @grupofenix.assessoria


Esta obra não segue a norma padrão da língua portuguesa.
Sinopse

Isabelly Blanc é filha do dono de uma empresa de carros, mas como


seu relacionamento com seu pai nunca foi dos melhores quando nos
referimos a negócios, ela tomou a iniciativa de trabalhar na empresa de
Henry Benet, um dos solteiros mais lindos e cobiçados de Londres. Há quase
três anos ele tem uma paixão pela senhorita Blanc, mas a mesma era
comprometida, lhe deixando em uma situação de completo respeito por seu
relacionamento.
Um homem de poucas palavras, mas nenhum pouco arrogante como
muitos CEOs. Porém as coisas são diferentes do que esperamos, e Isabelly
finalmente fica solteira, lhe dando passagem para uma abordagem. Mas algo
está errado com a mesma quando ela passa mal em sua sala.
INDICE
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Onde me Encontrar
Capítulo 1

Às vezes me pergunto porque passei dois anos da minha vida com o


Richard. Nós não éramos o casal perfeito com o qual nossos pais tanto
sonhavam, e achei um alívio quando ele me disse que iria embora e que não
tinha mais como nós ficarmos juntos. Na verdade, eu queria ter soltado
fogos, mas seria muito exagero. Então agora cá estou eu, me arrumando para
ir para uma boate; lá será minha volta para o mundo dos solteiros. Solto
meus cabelos pretos que vão até a cintura e, por último, passo o batom.
Estou pronta para pegar algum gato na festa. Chamo o Uber e passo as
coordenadas da boate, minha amiga Alice já está me esperando lá.
— Gata, tu arrasaste na produção, hein ?! — Pergunta, já cheirando
a álcool.

Entramos e vamos direto para o bar. Hoje está bem lotado, as


pessoas cantam e dançam bem agitadas. Peço uma Blood Mary, só para
começar. Ele adivinhou em me largar bem no sábado e não sabe ele o bem
que me fez. Amanhã é domingo, e estarei em casa só descansando e me
curando da ressaca. Começo a cantar a letra da música, até sentir uma pessoa
me olhando. Olho para o mesmo, e que gato! Eita que hoje a noite promete.

Ele se aproxima devagar, e eu beberico mais um pouco da minha


bebida.
— Nunca vi você aqui. — Diz bem próximo a mim. Sinto o cheiro
de menta exalar de sua boca e então imagino que ele não esteja bêbado ou
pode ter acabado de chegar.

— Primeira vez que venho aqui. — Digo sem olhar para ele.
— Você está só, mais a sua amiga louca ali? — Pergunta. Então
olho para ele e suponho que já estivesse aqui quando cheguei

— Sim, estou só mais ela. Se quer perguntar se estou com namorado


ou não, pergunte logo e deixe de rodeios. — Sou direta, e ele abre os olhos
em surpresa. — Não sou uma mulher de enrolar. — Digo, e ele sorri ainda
mais, dando uma gargalhada. Olho para onde minha amiga estava, e a
mesma se aproxima.
— E aí, Henrique! — Ela fala com o mesmo, que sorri e
cumprimenta ela com um sorriso de lado, levantando o copo de água que o
garçom acabara de colocar para ele.

— Jonas! — Ele chama o rapaz, que logo está ao seu lado. — As


bebidas das meninas hoje são por minha conta. — Ele diz, e o rapaz assente
com a cabeça. Ele olha para mim, dá uma piscada de olho e se vai. Olho ele
caminhar e acho muito familiar, mas agora não me recordo de quem possa
ser.

— Amiga, você tem que pegar ele! O cara estava te dando o maior
mole, e você nem deu moral. — Alice diz olhando para o rapaz, que agora
está de costas.

— Você é louca! Eu nem conheço o cara, e você já quer que eu dê


para ele. — Digo, e ela gargalha.
— Gata, ele é dono disso daqui. O cara é rico até a goela. Você está
com medo de quê? — Pergunta e sorri, olhando para o rapaz também.

— E aí, meninas, o que pretendem fazer? — Ele pergunta, se


aproximando de novo, mas dessa vez ele está acompanhado. Um cara, de
mais ou menos de vinte e nove a trinta e dois anos, alto, forte e bonito para
cacete.
— Quem sabe podemos terminar a festinha em outro lugar? —
Minha amiga louca sugere, e minha vontade é socar a cara dela.

— Vamos lá. — O rapaz desconhecido diz, piscando um olho para


ela. Bom, é agora ou nunca, né? Vou dar essa coitada, que está gritando para
ver uma madeira entrar nela há dias. Não que o Richard não tivesse, mas
digamos que não era o tamanho ideal para suprir minhas necessidades. Eu
sei que tamanho não é documento, mas, para falar a verdade, ele também
nunca soube fazer o melhor sexo.
Saímos da boate os quatro. Eles conversavam animados, e eu já
estava entrando no clima. Não vou dar uma de virgem indefesa. Eu sei o que
faço, e a cada olhada que ele me dá, a minha calcinha fica ainda mais
molhada. Chegamos em um prédio, e ele entrou na garagem. Com certeza é
o abatedouro, onde ele pega as mulheres na rua e traz para cá, e agora eu sou
uma delas.

Descemos do carro e então fomos para o elevador, e é claro que o


clima estava começando a esquentar. Quando chegamos na cobertura ele nos
dá passagem, e entramos. Ele some das nossas vistas e depois volta com uma
garrafa de vinho. A Alice, como não perde tempo, já pega o rapaz pela
camisa e sai arrastando ele para dentro. Eu e Henrique ficamos conversando
assuntos aleatórios. Depois de tomar uma taça do vinho, ele pega a minha
taça, que já estava vazia, e deposita na mesinha de centro. Seus olhos estão
direcionados para meu seios, e então ele passa a língua nos lábios. Sorrio
com esse ato, e então ele me beija, seus lábios tendo o gosto do vinho. Vou
para seu colo, pondo uma perna em cada lado do seu corpo, e começo a
rebolar, ainda por cima da roupa. Ele levanta comigo em seu colo e começa
a caminhar, com certeza está indo para o quarto.

Tomo um banho quente e vou ao encontro das minhas roupas. O


Henrique continua dormindo; pego minhas roupas e as visto, saio descalça
para não acordar ele, vou até a sala e encontro minha bolsa, saio e vou até o
elevador. O sexo foi maravilhoso, não posso negar, mas não quero nenhum
vínculo com ele. Já chega de tanto tempo desperdiçado com o Richard.
Passei o domingo em casa. Moro em uma cobertura também, lógico
que não tão cara e perfeita como a do Henrique, mas eu amo a minha casa.
Comprei com meu suor. Ganho bem mais do que muitos que trabalham
naquela empresa. Além de contadora do senhor Benet, sou sua assistente
pessoal. O engraçado de ser sua assistente pessoal é que não sou nada íntima
dele. Não conheço sua família, mesmo todos morando aqui em Londres.
Capítulo 2

Já se passou um mês que fiquei com o Henrique e não fui mais na


boate dele. Não vou me apegar a mais ninguém, já basta o tempo que passei
com o Richard. Visto minha saia e minha blusa social.

Hoje temos um almoço com os sócios da empresa, então tenho que


estar apresentável. Depois de arrumada, vou para a garagem e pego o carro,
a roupa está mais apertada do que imaginei, não tinha nem prestado atenção
que estou engordando. Tenho que voltar para minha dieta. Depois de uns
minutos chego na empresa, falo com as meninas na recepção e com alguns
colegas de trabalho, até mesmo com os zeladores, porque eles também são
colegas de trabalho. Se não fosse eles não seriamos nada, porque são eles
quem deixam tudo brilhando e cheiroso para nós.

Subo para o último andar e vou até a sala da minha amiga, que está
com cara de poucos amigos; pelo visto bebeu demais ontem à noite.
Converso um pouco com ela e depois vou para a sala do Henry. Bato na
porta, e ele logo me manda entrar. Conversamos algumas amenidades, de
como foi o final de semana um do outro, e então digo seus compromissos.
Eu sou a contadora, mas como sempre passo aqui pela manhã, já falo seus
compromissos. Sua secretária está gestante, então ajudo ela. Já estava prestes
a sair quando ele chama meu nome, olho para ele esperando ele falar.

— Você está linda. — Diz, e eu sorrio sem graça. Falo um


“obrigada” e saio do seu escritório.
Até a hora do almoço, organizei umas papeladas de um contrato
com a empresa do senhor Caleb Cooper. Eles são conhecidos há muito
tempo pelo que sei, e agora os dois estão fechando um negócio que irá trazer
mais dinheiro e mais sócios ainda. Não sei bem do que se trata porque não
pergunto muito sobre isso, meu assunto com ele é outro.

Estava distraída arrumando algumas planilhas dos últimos gastos, e


precisei de uma escada porquê estavam muito altas as pastas. Estava pondo a
última no lugar quando me viro para ver de quem é o som de passos. Me
desequilibro e, antes que eu me estabaque no chão, sou pega nos braços pelo
Henry. Nossos olhos se encontram, e fico fitando seus lábios por um bom
tempo.
— Está tudo bem, senhorita Blanc?

Saio dos meus pensamentos impróprios e arrumo minha roupa.


— Está sim, senhor Benet. Obrigada. — Digo, e ele sorri.

— Da próxima vez pode me pedir ajuda, ou até mesmo para a Ruby,


que está logo ali, na outra sala. Só não quero que você se machuque. — Faço
que sim com a cabeça, e ele volta à sua postura normal. — Vamos para o
almoço? — Ele pergunta arrumando o paletó.
Como já disse, Ruby está grávida e já está no sétimo mês, então eu
vou com ele a alguns compromissos, mesmo não fazendo parte do meu
trabalho. Pego minha bolsa, e saímos para o elevador. Não conversamos
mais nada depois disso. Fomos em seu carro com o motorista, ele apenas
pediu para falar sobre o que discutiríamos nesse almoço. Eu estava distraída
olhando a estrada quando ele fala.

— O que houve que você está pensativa? — Pergunta, e olho para


ele.
— Não estou pensativa. — Digo.

— Tem mais ou menos três anos que você trabalha comigo. Eu lhe
conheço melhor do que o que imagina, senhorita Blanc. — Sorrio com seu
comentário.
— Não conhece não. — Digo, e ele me analisa. Porra! Eu já tinha
visto o quanto ele é lindo, mas ele me olhando assim, com essa barba por
fazer, esse perfume que impregna por onde ele passa, e seu olhar me deixou
totalmente molhada. Que droga. Ele é meu chefe.

— Janta comigo essa noite? — Convida, e olho para ele intrigada.


— Ainda nem almoçamos e já quer jantar? Não posso hoje. —
Digo, e ele olha para a frente. Até que seria bem legal, mas não jantar e sim
a sobremesa... Se controla, Isa.

— Sabe que quando eu quero alguma coisa eu não desisto, não é


mesmo? — Ele não me olha mais até chegarmos no restaurante.
Quando desço do carro ele estende seu braço para que eu segure.
Fiquei sem jeito de não fazer o ato, então adentramos o local de braços
dados. Droga. Como sei que ele é um milionário lindo e disputado pelas
mulheres, fiquei sem jeito de entrar assim com ele. Não que eu seja pobre ou
coisa assim, o problema é a mídia me ver assim com ele e começar a
publicar coisas que não existem. O almoço seguiu bem, conseguimos fechar
mais um contrato com a empresa de seu amigo Caleb, e ele me falou sobre
sua esposa e suas filhas. Fico feliz por não ser um daqueles idiotas que não
pode ver um rabo de saia que já está se jogando em cima da mulher. Já
estávamos quase encerrando a reunião quando meu estômago embrulhou,
tentei controlar a ânsia de vômito, mas cada vez estava mais forte.

— Está tudo bem, senhorita Blanc? — Caleb pergunta, me vendo


remexer na cadeira.
— Se me dão licença, vou ao toalete.

Saio o mais rápido possível, chego ao banheiro feminino e adentro,


procurando a cabine desocupada. Entro na primeira que acho aberta e ponho
todo o almoço para fora. Nunca senti isso. Do tempo que como comidas
gordas e até mesmo requentadas, eu nunca passei mal assim. Depois de pôr
tudo para fora, vou até a pia e lavo meu rosto, pego minha bolsa e retiro
escova e pasta de dente. Escovo para tirar o péssimo gosto da boca, saio do
banheiro e volto para a mesa. O Caleb já não está mais aqui, me aproximo, e
rapidamente Henry se levanta e vem até a mim.
— Você está bem? Fiquei preocupado. — Diz me avaliando.

— Estou sim, foi só um mal estar. — Digo, e ele pega seu paletó.
Fomos embora em silêncio, ele não fez mais perguntas, e eu agradeci por
isso.
Chegamos à empresa, e ele desce do carro e abre a porta para mim.
Saio do carro também, e seguimos para o elevador. No restante do dia ele
não me dirigiu a palavra, e eu não sabia o que estava acontecendo. Será que
é excesso de bipolaridade? Do tempo que trabalho com ele, nunca o vi fazer
isso. Meu expediente acabou, então juntei minhas coisas e segui para o
elevador. Antes que o mesmo se fechasse, ele entrou. Seu cheiro amadeirado
tomou conta do lugar, e eu estava me sentindo diferente ao seu lado. Estava
me sentindo acuada. Ele passou o restante do dia sem me dirigir a palavra,
então como eu iria reagir a isso?

— Janta comigo? — Ele pergunta mais uma vez. De uns tempos


para cá ele tem me chamado para sair, mas como ele é meu chefe, eu nunca
aceitei. Ainda mais por ele sempre sair com mulheres aleatórias. — Apenas
para conversarmos. Percebi que hoje ficou um clima muito tenso entre nós.
— Tudo bem que eu seria apenas mais uma na cama dele. Ah, mas por mim
está tudo bem, desde que não atrapalhe em nossa relação profissional, então
ao invés de sair eu o convidei para minha casa, um lugar tranquilo e do meu
controle.
— Tudo bem. Vá para a minha casa às oito horas, vou fazer nosso
jantar. — As portas do elevador se abrem, e cada um vai para seu carro.
Capítulo 3

Quando já estou em meu carro, me lembro da conversa que tive com


Caleb no almoço. Ele falou uma coisa que achei bem interessante.

— Só descobri que Kate estava grávida da Pérola por ela ter


passado mal na faculdade. Ela correu para o banheiro, e então fomos eu e
Lorena atrás. — Fala ele sorrindo, se lembrando do momento.

Assim que soube que seria pai, ele mudou completamente.


Começou a trabalhar e hoje toma conta de fechar negócios. Hoje a Pérola
está com dois anos, e aquelas palavras dele me chamaram muita atenção,
porque soube que Isabelly não está mais namorando. Qual a possibilidade
dela estar grávida? Passei o dia pensando sobre isso, e quando a vi sair para
ir embora achei a oportunidade de perguntar. Sei que não tenho nada a ver
com sua vida, mas preciso saber se tenho alguma chance com ela ou não.
Entro no elevador, e ela não me olha como das outras vezes. Percebo a
tensão entre nós dois.
— Janta comigo? — Pergunto mais uma vez, e ela então me olha.
— Apenas para conversarmos. Percebi que hoje ficou um clima muito tenso
entre nós.

— Tudo bem. Vá para a minha casa às oito horas. Vou fazer nosso
jantar. — As portas do elevador se abrem, e ela vai para seu carro. Fico
olhando ela caminhar e me sinto ainda mais atraído por essa mulher.

Chego em casa e tomo um banho. Penso se devo ou não fazer essa


pergunta idiota para ela, pois eu conheço seu temperamento e sei que ela
ficará puta de raiva comigo, então acho que não é o caminho apropriado para
mim tomar agora. Saio do banho e vou à procura de uma roupa casual. Pego
uma calça preta e uma camisa de gola polo, passo meu perfume e então me
olho no espelho. Eu e meu irmão somos bem parecidos, mas, ao contrário de
mim, ele seguiu o caminho da mulherada e sem compromisso com a vida.
Sou mais novo do que ele um ano, mas às vezes acho que eu sou o mais
velho — e mais responsável também. Temos uma irmã também, mas ela não
mora aqui. Madrid sempre foi seu sonho, então quando completou a
maioridade ela foi embora.

Por último coloco meu sapato e estou pronto. Quando completei


meus vinte e dois anos decidi que estava na hora de me mudar da casa dos
meus pais, então comprei uma casa bem ampla e com uma ótima visão do
mar. Na frente da minha casa tem um gramado bem verde e, no fundo, um
jardim de tirar o fôlego.
Ainda não achei a pessoa para me fazer feliz. De algumas
namoradas que já tive, com nenhuma senti que era a hora de algo mais sério.
Agora já estou com meus 35 anos e já me sinto na idade de achar alguém
para dividir a cama todos os dias. Pego um vinho em minha adega, e então
vou para o carro. Chego em seu prédio e estaciono o carro, vou até o porteiro
e converso com ele, o mesmo diz que minha entrada está liberada. Ela mora
na cobertura, então sigo para o elevador. Sei muitas coisas sobre ela,
conheço sua família e sei os motivos dela não trabalhar com o pai. Já
conversei com o senhor Blanc algumas vezes em eventos. Ele é um homem
bastante conservador, principalmente quando se trata de sua família. Toco a
campainha e logo a porta é aberta.

— Boa noite. Eu trouxe um vinho. — Digo, e ela exibe um sorriso,


me dando passagem para adentrar sua casa, em seguida pega o vinho e me
olha.

— Boa noite, Henry. Que belo gosto, não é todo mundo que aprecia
um Malbec. — Ela fala se dirigindo à cozinha, presumo eu.

Sigo ela. A mesma tira uma massa do forno, o cheiro está


maravilhoso.
— Pode se acomodar, vou só arrumar a mesa para nós. — Diz e
passa por mim novamente. Vou até a sala de estar e me sento, olho meu
celular e tem uma mensagem da minha mãe. Deixo para responder depois
que eu sair daqui.

Olho sua casa por um tempo. A decoração é bem a sua cara, alguns
quadros na casa e uma das pinturas me chama atenção. Me aproximo e vejo
um quadro do Pierre Auguste Renoir. A pintura é linda.
— Sempre gostei de obras de arte. Fui a um leilão e acabei
arrematando esse quadro. Foram só alguns milhões da conta do meu pai,
para falar a verdade até hoje eu pago esse quadro para ele. — Ela fala e sorri.
— Vamos jantar?

Seguimos para a sala de jantar. Ela senta e me mostra a cadeira à sua


frente para que eu me sente também. Isabelly serve primeiramente eu, depois
põe um pouco da comida em seu prato. Como ela é linda! Eu poderia ficar
aqui apenas observando.

— Se for me olhar a noite toda, sua comida vai esfriar, senhor


Benet. — Ela diz e sorri.
— Desculpe, senhorita Blanc, mas ainda não me acostumei com sua
beleza. — Digo, e dessa vez ela que fica sem jeito. A comida estava uma
delícia; abro o vinho e deposito um pouco em cada taça. Ela beberica o
vinho e saboreia, fico olhando ela passar a língua nos lábios, e que tentação!
Imagino seus lábios nos meus, meu pau lateja dentro da calça e me forço a
me controlar. Depois de terminarmos nossa refeição ela levou os pratos para
cozinha, e eu vou logo atrás. — Posso lhe ajudar? — Pergunto e ela sorri.

— Não imagino o senhor Benet lavando louça. — Diz, me fazendo


sorrir.
— Eu faço coisas que você nem imagina. — Penso um pouco na
frase, que saiu meio distorcida.

— Posso dizer que senti um duplo sentido aí. — Ela fala me


olhando.
— Não queria que tivesse saído assim, mas fica a seu critério a
imaginação. — Falo pegando os pratos e lavando-os, enquanto ela apenas
me observa. Minha vontade mesmo era pegar ela pela cintura, beijar seus
lábios carnudos e foder ela aqui mesmo nesse balcão, mas, ao pensar dessa
forma, eu mesmo me recrimino. Droga. Eu sou homem e não consigo
controlar meus desejos sexuais.

Depois da louça estar limpa e seca, fomos para a sala. Ela colocou
uma música para tocar baixinho, e então começamos a conversar.
— Vou pegar o vinho para nós. — Ela vai para a cozinha e logo
depois volta com duas taças e o vinho. Isa serve as duas taças e me entrega
uma

Falamos de coisas aleatórias. Isabelly tem assuntos interessantes


para conversar, por isso que ela me atrai. Falamos de viagens que
gostaríamos de fazer futuramente, alguns planos para mais à frente. Ela me
disse que sonhava em fazer algo relacionado a moda e viajar alguns países
diferentes todos os meses, mas se viu obrigada a fazer contabilidade e gestão
de empresas. Devido ao fato do pai ter várias empresas voltadas para carros,
ela não quis lhe contrariar.
Capítulo 4

A conversa entre eu e Henry flui naturalmente. Ele ri das coisas que


eu falo, até mesmo quando não fazem muito sentido para mim. Sei que ele
conhece minha família por ser do ramo de negócios também, mas ele em
nenhum momento tocou no assunto, e eu também não me interesso muito
por sua família.

— Eu quero falar uma coisa para você. — Ele diz, e meu corpo fica
tenso.

Não quero ser demitida agora. Tenho que completar pelo menos
cinco anos de trabalho para mostrar para meu pai que eu posso conquistar
minhas coisas. Ele respira fundo duas vezes, e eu fico pensando o que fiz de
errado.
— Faz muito tempo que quero falar isso para você, mas eu nunca
achei uma oportunidade boa o suficiente para fazer isso. — Meu corpo fica
tenso. Ele respira fundo mais duas vezes e então segura minha mão, que
estava pousada no sofá. — Sabe, quando entrou no meu escritório pela
primeira vez, três anos atrás... eu fiquei admirado por você. Queria poder
falar o quanto te achava e acho linda, mas achei um pouco desproporcional.
Você tinha acabado de chegar e poderia achar que eu estava te assediando,
mas não era isso, Isabelly. Eu acho você linda, inteligente, carismática e cada
dia que passa meu sentimento por você só aumenta. Eu te digo com todo
meu coração que estou apaixonado por você. — Ele fala, e eu me levanto.
Não esperava que ele sentisse isso por mim. Vou até a grande janela de vidro
e fico olhando os carros passarem na rua, tentando formular alguma coisa
para falar.

— Puta que pariu... Eu não sei o que dizer, Henry. — Falo e sinto
sua presença perto de mim

— Não precisa dizer nada, apenas me dar uma chance para te


mostrar que eu posso ser quem você quer. — Ele se aproxima mais, já sinto
minhas pernas bambas. — Só nunca falei nada porque sabia que era
comprometida, e só estou fazendo agora porque sei que estás sozinha no
momento.

Sinto seu corpo perto do meu e meu corpo se arrepia. Viro


lentamente. Seus olhos estão vidrados em mim, sua boca está entreaberta.
Droga! Eu jurei para mim mesma que não me envolveria com ninguém, mas
como resistir a esse homem? Confesso que assim que comecei a trabalhar
com ele eu sentia coisas inexplicáveis, mas com o tempo foi acabando —
assim eu pensava. Mas em ver ele assim, na minha frente, com esse corpo
maravilhoso e musculoso, esses lábios carnudos — e que porra de homem
gostoso. Olho para ele mais uma vez, só para ter a certeza que é isso mesmo
que vou fazer. Me aproximo dele e tomo seus lábios em um beijo. E que
beijo, viu?! Ele me encosta no vidro gélido, e suas mãos passeiam por meu
corpo. Nesse ponto eu já estou excitada, ele segura minha cintura e me
aperta ainda mais em seu corpo, já posso sentir sua ereção contra a minha
barriga. Droga de homem gostoso. Seu beijo tem o gosto do vinho que há
pouco estávamos saboreando, o gosto do malbec junto com seu hálito de
menta. Que droga, vou ter que terminar isso ou eu vou ter que ir para um
consolo, e acho que não seria a mesma coisa.

O beijo está cada vez mais excitante, cada segundo eu quero sentir
ele ainda mais. Paro o beijo devagar, mesmo sem querer isso.
— Me descu... — Ponho meu dedo indicador em seus lábios, antes
que ele peça desculpa pelo que nós estávamos fazendo.

— Eu não sei como vai ser amanhã, isso pouco me importa agora.
Mas já que estamos aqui, e você já me atiçou, vamos terminar isso lá dentro?
— Pergunto, e ele sorri de lado, mas não é aquele sorriso safado que a
maioria dá, e sim um sorriso de felicidade, talvez por eu aceitar ou estar
pensando em aceitar o que ele propôs. Eu sei que tive muito tempo jogado
fora com o Richard, mas vamos dizer que aquilo pode ter sido um
aprendizado. Nada é desperdício quando você aprende algumas coisas no
meio de tempo. Segui para meu quarto com ele colado a mim, sua respiração
em meu pescoço me fazendo arrepiar. Abro a porta do quarto, e adentramos
o cômodo. Ele me puxa pelo braço, me fazendo ficar colada ao seu corpo.
Seu cheiro mais uma vez toma conta do meu olfato. Viro, ficando de frente
para ele, seus lábios vem de encontro aos meus e começamos a nos beijar
novamente.
Ele segura em minhas coxas para subir e então impulsiono meu
corpo. Henry segura minhas coxas e me levanta, fico com as pernas em volta
do seu corpo. Henry caminha lentamente até a minha cama, seu corpo se
inclina até eu sentir meu corpo tocar no lençol, e nosso beijo se intensifica
ainda mais, suas mãos percorrem todo o meu corpo. Anseio pelo seu toque, a
sensação de prazer toma conta de mim, ele deixa meus lábios e me olha, suas
mãos vão para o botão do meu short, e ele desce o zíper. Em poucos
segundos a peça já está fora do meu corpo.

— Delícia. — Ele fala me olhando nos olhos, a esse ponto já estou


mais do que excitada.
Ele se afasta um pouco e tira a camisa, fico olhando seus gominhos.
Um deus grego bem na minha frente.

Tiro minha blusa e meu sutiã, jogo no chão, e ele passa a ponta da
língua nos lábios. Me levanto e empurro ele na cama, fico de joelhos no chão
e então tiro sua calça, depois sua box.
Seu membro já está ereto, passo a língua na glande, ele xinga alguns
palavrões, e então continuo. Suas mãos vem para meus cabelos formando
um rabo de cavalo; continuo fazendo um boquete nele, que xinga palavrões
insanos.
Capítulo 5

Ela sem dúvidas é a mulher mais corajosa e perfeita de todas. Sua


pele macia, seu olhar que me domina a cada investida que dou nela, seus
gemidos são músicas para meu ouvido. Estoco mais uma vez, e ela chega ao
ápice. Não demora muito e sinto meu orgasmo se aproximar também, dou
mais duas investidas fundas e gozo. Ela estava de quatro, saio de dentro dela
e tiro o preservativo, dou um nó, enrolo num pedaço de papel e jogo no lixo.
Isabelly está deitada de bruços, me aproximo dela e deito ao seu lado. Ela
está calada olhando para um ponto fixo.

— Aceita tomar um banho comigo, ou essa é a hora que você


manda eu ir embora e esquecer isso? — Pergunto, e ela se vira para mim.
Seu sorriso me chama a atenção.
— Eu aceito tomar banho com você. — Ela levanta e caminha
devagar até o banheiro, sigo-a, e a mesma já está embaixo do chuveiro. Olho
ela passar o sabonete líquido em seu corpo, e meu pau já dá sinal de vida
novamente. — Vai ficar só me olhando? — Pergunta me tirando do transe.

— Pelo visto meu amigo aqui não quer ficar só te observando. –


Falo, e ela sorri de lado.

Me aproximo dela enquanto a mesma está de costas para mim, colo


meu corpo ao dela, e sua cabeça automaticamente deita em meu peito, viro
ela devagar para ficar de frente para mim.

Tomo seus lábios em um beijo, ela deixa meus lábios e começa a


beijar meu pescoço. Fico arrepiado, e ela sorri entre os beijos. Suas mãos
passeiam por minhas costas, encosto seu corpo no azulejo e tomo seus lábios
novamente, minha mão direita vai para seu clitóris, e a esquerda para um de
seus seios. Ela geme, me deixando ainda mais excitado, enquanto faço
movimentos circulares em seu clitóris.
— Henry... Por favor… — Sua voz sai falha. Sei o que ela quer e,
mesmo que esteja gostando de dar prazer para ela apenas com as mãos, eu
quero senti-la mais uma vez.

Suspendo seu corpo, ela enlaça suas pernas em mim. Tomo seus
lábios novamente e então entro nela mais uma vez.
— Ahh... Mais forte! — Faço o que ela pede e entro cada vez mais
forte. Senti meu orgasmo se aproximar e sabia que ela já estava perto de
gozar também. Saí de dentro dela e virei-a de costas para mim, entrando
mais uma vez em sua intimidade. Isa gemeu mais alto, dei mais duas
estocadas, e chegamos ao ápice.
Isabelly despeja um pouco do sabonete líquido em sua mão e depois
passa em meu corpo, tomamos banho entre beijos e carícias. Terminamos e
então seguimos para o quarto. Peguei minhas roupas e comecei a me vestir,
ela me olhava atenta a cada movimento.

— Você vai embora? — Pergunta, e então olho para ela


— Você quer que eu vá? — Perguntei, e ela deitou na cama apenas
de toalha e bateu no colchão ao seu lado. Sorri e deixei a camisa e a calça
numa poltrona. Me deitei ao seu lado apenas usando minha box e puxei ela
para deitar em meu peito.

Ela estava calada. Eu queria saber o que se passava com Isabelly,


mas não tinha coragem de perguntar. A pergunta que rondou minha cabeça o
dia todo estava aqui, mas eu não quero saber mais sobre isso. Eu gosto dela,
e seja o que for, nós dois iremos resolver, se ela estiver disposta a me querer
em sua vida. É engraçado como alguém cativa a gente assim. Tem três anos
que convivemos e sempre senti algo por ela, mas nunca tive a coragem de
falar, sempre ficava com o pé atrás, dela querer ir embora da empresa.
Sempre fui dependente dela e só agora eu vejo isso, que mesmo sem ela ter
tentado me seduzir, eu mesmo me seduzi por ela. Eu mesmo me apeguei por
vê-la todos os dias na empresa, amiga de todos lá dentro. Eu vejo como ela
trata todos ao seu redor, com carinho e simpatia. Isabelly me cativa cada dia
mais, e acho que ela nem imagina isso. São três anos que carrego algo dentro
de mim, se eu falar para ela que sou apaixonado por ela pode até parecer
precipitado, mas para mim não, são três anos sentindo isso sem falar nada. E
se eu tivesse dito antes? Se eu tivesse me declarado para ela assim que
percebi que sentia algo a mais, será que ela teria me aceitado ou será que
teria me rejeitado? Essas são perguntas para as quais acho que nunca terei
uma resposta.
Faço cafuné nela até perceber que a mesma já está dormindo. Eu
quero ela para a minha vida, quero poder admirá-la dormir. Quero poder vê-
la acordando todos os dias, saber como ela é na TPM e o que eu tenho que
fazer para ela se sentir bem, quais os lugares que Isabelly mais gosta e se
gosta de festas ou de ficar em casa assistindo algum filme aleatório. O sono
já estava me rondando, então me aconcheguei a ela, que dormia
serenamente. Passei o dedo em seu rosto e pude ver um pequeno sorriso se
formar em seus lábios, dei um beijo em sua testa e lhe cobri.

Como todos os dias, acordei cedo. Isa ainda dormia quando levantei
e fui até o banheiro, fiz minha higiene pessoal e olhei mais uma vez para ela,
ainda dormindo tranquilamente. Saí do quarto e fui até sua cozinha, preparei
um café e fiz alguns sanduíches. Não sei se ela gosta mais de café ou suco,
então preparei um suco de laranja também. Coloquei algumas frutas em uma
tigela, pus tudo em uma bandeja e subi novamente para seu quarto. Abri a
porta e andei até a cama, pus a bandeja no criado mudo e fui até a cama.
Tirei o lençol que cobria seu corpo e comecei a distribuir beijos em seu
corpo. Ela se remexeu na cama, me dando a visão de sua intimidade, afastei
um pouco suas pernas e me encaixei no meio delas, afastei os lábios de sua
virilha e introduzi minha língua em seu clitóris. Seu gemido saiu baixo e
rouco, continuei chupando seu clitóris, peguei uma de suas pernas e coloquei
em meu ombro, me dando ainda mais acesso a sua virilha. Coloquei um
dedo em sua entrada, que já estava ficando molhadinha, vi ela apertar a
coberta e soltar mais um gemido. Comecei a fazer movimentos de vai e vem
com o dedo e chupar seu clitóris, seu corpo já dava espasmos de um
orgasmo próximo, introduzi mais um dedo e então ela gozou. Tirei os dados
de dentro dela e então introduzi minha língua em sua entrada, ela deu uma
leve puxada em meu cabelo enquanto engulo todo seu líquido.

— Bom dia. — Falo depositando um beijo em sua testa


Ela abre os olhos e sorri, fico admirando-a por alguns segundos

— Bom dia. — Diz se espreguiçando na cama. Em um movimento


rápido ela me senta na cama e senta em meu colo. — Minha vez. — Suas
mãos vão para a minha cueca.
Ela abaixa o suficiente para meu pau sair de dentro do tecido. Isa
encaixa meu pau em sua entrada e senta devagar nele. Porra de mulher
gostosa! Quando ela já está com meu pau enterrado todo dentro dela, a
mesma começa a subir e descer. Tomo um de seus seios na boca, ela geme
enquanto cavalga em meu pau, seus gemidos aumentam a cada investida
funda que ela dá, ajudo-a a ir mais rápido. Deito ela na cama e fico por cima,
seguro suas pernas para cima e estoco mais rápido. Ela geme e arranha meu
braço, saio de dentro dela e viro-a de costas, me deito por cima de seu corpo
e penetro mais uma vez, dou um tapa estalado em sua bunda, e ela geme.
Quando estou chegando ao ápice, chego perto de seu ouvido.

— Goza para mim. — Dou mais duas investidas fundas, e ela goza.
Não demora muito e gozo também.
Saio de dentro dela e me deito ao seu lado. Ela continua deitada
controlando a respiração.

Isabelly
Depois de acordar com esse maravilhoso oral e um sexo matinal, fiz
minha higiene pessoal. Tomamos banho juntos, mas sem sexo agora. Ele
saiu primeiro do banheiro, quando voltei para o quarto ele já estava usando
sua calça e sapatos, o mesmo estava sentado na cama, ao lado de uma
bandeja que eu não tinha visto antes

— Você preparou tudo isso quando? — Pergunto, e ele sorri.


— Já estava aqui antes de você acordar. Venha se alimentar para
passar o dia ao lado daquele seu chefe chato. — Ele diz, e eu sorrio, indo até
onde ele está e lhe dando um beijo

Tomamos café em silêncio. Eu sinto algo por ele, mas nesses dias
está tudo tão confuso. Só não quero magoar ele e sair magoada também.
Depois de terminarmos ele me deu um beijo e foi embora. Daqui a meia hora
já tenho que estar na empresa, então me arrumo e desço para a garagem.
Pego o carro e sigo para a empresa, que não fica muito longe da minha casa.
Às vezes venho caminhando, quando está com tempo claro, porém hoje não
estou com muito tempo disponível.
Chego na empresa e estaciono o carro. Sigo para o elevador e, para
a minha surpresa, o Henry também está nele.

— Senhor Benet. — Tento soar o mais natural possível, mas não


tem como ver ele e não lembrar da nossa noite e manhã também que,
digamos, foi bem intensa.
— Bom dia, senhorita Blanc. — O silêncio se faz presente até ele
falar. — Lembrando de algo interessante? — Pergunta, me fazendo corar.

— Claro, muitos compromissos essa manhã. E pelo que vi na sua


agenda, o senhor terá uma tarde bem agitada de reuniões, vídeo conferências
e um jantar na casa de seus pais. — Digo, e ele sorri de lado.
— Já estava a par de todos esses compromissos, mas quero saber da
sua agenda. Como ela está? — Ele fala passando a mão em meus cabelos.
Sinto meus pelos se arrepiarem. As portas do elevador se abrem e então ele
sai, indo em direção a sua sala. Antes que ele entre, se vira para mim, que
estou logo atrás, e diz. — Quero a senhorita em minha sala em dez minutos.
Bom dia, meninas. — Ele fala olhando para as duas recepcionistas.
— Bom dia, Ruby, bom dia, Kátia. — Cumprimento as meninas,
que me devolvem o cumprimento. Entro na minha sala e pego o tablet. Tiro
meu blazer e ponho minha bolsa no sofá, saio da sala e converso um pouco
com as meninas.

— Acho melhor você ir, já se passaram seus dez minutos. — Ruby


diz, se referindo à ordem do Henry.
— Ele deve estar de TPM. — Digo, e elas gargalham. Bato na porta
e entro em sua sala. Ele está sentado mexendo no computador, seus olhos
são direcionados a mim.

— Namora comigo? — Ele pergunta me pegando de surpresa.

— Como? — Pergunto para saber se ouvi direito.

— Perguntei se aceita namorar comigo. — Ele levanta e vem até


onde estou. Fico atônita e não sei o que dizer, pois acho muito cedo e muito
precipitado.

— Nossa, Henry... Acho um pouco precipitado, nós passamos uma


noite juntos e, além do mais, você continua sendo meu chefe. — Falo, e ele
segura minha mão.

— Eu não acho. Para te falar a verdade, acho que já passou do


tempo. Tem três anos que espero para falar isso. — Fico surpresa com o que
ouço.
— Digamos que eu fiquei um ano esperando isso. — Falo, e ele me
beija.

— Então não vamos mais esperar por isso. Não vai ser precipitado,
só diga que sim e pronto. — Beijo seus lábios. Quando o ar nos falta
finalizamos o beijo com alguns selinhos. — Isso é um sim? — Pergunta, e
confirmo com a cabeça.

Ele toma meus lábios mais uma vez, e dessa vez eu tenho que parar,
caso contrário vamos transar aqui em sua sala.

— Ok, vamos aos seus compromissos. Agora pela manhã tem uma
reunião com o dono da... Êxito. — Ao ver o nome do meu pai. Droga. Ele
vem aqui! E se o Henry já quiser falar para ele sobre nós? Eu mal terminei
com o Richard, e já engatar em outro namoro assim seria o cúmulo para meu
pai, com sua política de querer me privar de tudo e, principalmente, de evitar
manchar o nome Blanc.

— Isabelly? — Henry me chama, e então olho para ele.

— Desculpa, é... Sua próxima reunião será com o senhor Lorenzo


Blanc. — Falo, e ele sorri. Fico olhando ele e tentando identificar o que falei
para ser tão engraçado

— Desculpe, mas sua reação ao falar de seu pai foi bem engraçada.
— Ele vem até mim e beija meus lábios.

— Eu sabia da sua agenda para a tarde, mas não sabia que teria uma
reunião com meu pai. Sobre o que exatamente vocês vão discutir? —
Pergunto, e ele vai para detrás de sua mesa novamente.

— Seu pai é dono de uma rede de automóveis, então pensei em virar


seu sócio. Ele está precisando de mais investidores, e achei uma boa
oportunidade. Você melhor do que ninguém sabe que eu gosto de inovar em
meus negócios. — Ele diz e se senta.
— Ok, não tenho nada a ver com seus investimentos e muito menos
com seus negócios. Só não quero que meu pai fique sabendo agora sobre nós
dois. Tem pouco mais de um mês que terminei um namoro de dois anos,
então ele ficaria me enchendo o saco. — Digo, e ele apenas confirma com a
cabeça.

— Apenas quando estiver pronta, só não quero ficar às escondidas


com você, mas se precisar de tempo eu entendo. — Ele fala. Vou até onde
Henry está e lhe dou um beijo. Ele retribui, e então volto para a minha sala.
Sua reunião hoje será apenas com meu pai na parte da manhã, na parte da
tarde que terá mais duas reuniões, uma sendo por vídeoconferência.
Capítulo 6

Eu sabia que a Isa não queria precipitar as coisas entre nós, mas ela
não tem noção do quanto eu espero por isso. Terminei de organizar algumas
pastas no computador, e então minha secretária avisou que o senhor Blanc
tinha chegado. Saí da minha sala e fui para a sala de reunião e esperei alguns
minutos até ele entrar na sala acompanhado de sua esposa.

— Que prazer receber o senhor e a senhora aqui. — Digo indo até o


casal.

— Fiquei curioso com a proposta que o senhor me fez, senhor


Benet. — Ele fala olhando para todo o ambiente.

— Vou deixar os senhores cuidando de negócios e vou ver minha


filha, se me dão licença. — Ela sai da sala, deixando apenas eu e seu esposo.
Mostro uma cadeira para ele, que logo senta. Me sento de frente para ele e
começo a falar o que tinha imaginado para uma sociedade entre minha
empresa e a dele. O mesmo demonstra interesse na minha proposta, a qual
acho que trará benefícios tanto para minha empresa quanto para a dele. Por
muito tempo ouvi meu pai falar de sua empresa de automóveis, mas ele
nunca teve a iniciativa de fazer uma sociedade. Porém, como eu tomei conta
da empresa há alguns anos, sempre tive essa ideia, e agora que já estamos
com uma porcentagem de 70% a mais de lucros depois que eu assumi a
presidência, então chegou a hora de fazermos uma sociedade.

— Estou querendo investir no ramo de automóveis e gostaria que o


senhor, como um pioneiro no assunto, entrasse na sociedade comigo. — Ele
fica calado, talvez analisando a proposta. Eu sou dono de uma rede de
hotelaria, e meu pai trabalhou muito duro para ter o que temos hoje, mas ele
nunca tentou expandir para novos horizontes, para novos rumos.
— É uma proposta bem inusitada vinda de um dono de hotéis...

— Nossa rede de hotéis já chegou em lugares bem inusitados,


senhor Blanc. Estou aqui justamente para isso, para fazer meu negócio
crescer, e como sei que o senhor entende muito bem do assunto, pois já tem
duas filiais fora do país, achei que seria uma ótima ideia ter o senhor como
sócio. — Digo convicto. Se ele entende de negócio e de números, eu entendo
ainda mais. Passei sete anos estudando administração, fora outras coisas,
para isso, para quando eu chegasse aqui na presidência eu ter certeza de por
onde deveria ir.
— Posso lhe dizer, rapaz, que seu pai fez o certo em colocar você
como CEO dessa empresa. Você vai longe assim. — Ele fala, se levantando
e vindo em minha direção. Me prontifico a levantar também. — Eu aceito
ser seu sócio. Vou analisar sua proposta, e vamos dar início ao nosso novo
negócio. Faremos mais uma reunião e decidiremos o local e as outras coisas.
— Estendemos a mão para um cumprimento. Não esperava que ele fosse
aceitar assim, pensei que seria bem mais difícil. Talvez se ele soubesse da
noite que passei com sua filha, não me trataria assim, mesmo minhas
intenções sendo as melhores.

— Garanto que o senhor não se arrependerá. — Digo, arrumando


meu paletó para acompanhar ele até a porta. — Foi um prazer fechar esse
negócio com o senhor. — Digo abrindo a porta. Assim que a porta está
aberta, vejo Isa e sua mãe bem próximas à minha sala.
— O prazer foi todo meu, rapaz. Agora deixe-me falar com minha
primogênita. — Ele vai ao encontro da filha, que olha para mim
disfarçadamente. Esses olhos me encantam.

Deixo eles conversando e volto para a minha sala. O restante do dia


foi calmo, tive mais duas reuniões por videoconferência, nada conturbado.
Hoje o dia está indo bem, espero que continue assim.
Até pensei que chegaria a ver a Isa antes de sair, mas ela me avisou
que estava de saída e logo foi embora. Queria entender o que se passa na
cabeça dela, mas pelo visto não vai ser nada fácil isso acontecer.

No final da tarde eu já estava estressado. Até pensei que chegaria o


dia calmo, mas com alguns erros que estão dando nos meus cálculos… Isso
não pode estar acontecendo. Já refiz as contas do meu saldo e está faltando
dinheiro, mas ninguém tem acesso a minha conta. Como isso é possível?
Amanhã vou avaliar isso e tentar resolver no banco. Agora já está na hora de
ir embora e tentar esfriar a cabeça.
Chego em casa e jogo minhas chaves na mesa, em seguida acendo a
luz da sala e subo para o quarto. Estou cansado e pensando por que a
Isabelly não deixa de ser tão cabeça dura e aceita o inevitável? Seria tão
mais fácil ela assumir que gosta de mim, e nós podermos assumir uma
relação mais séria. Depois dizem que os homens que não querem nada sério.
Entro na ducha e deixo a água morna escorrer por meu corpo.
Apesar de estar com os pensamentos a mil, não quero água fria. Quero poder
ficar aqui e pensar em tudo que está acontecendo atualmente. Sem dúvida eu
estou confuso, meus sentimentos por ela sempre foram os mais sinceros, até
falei isso para ela. Passamos uma noite tão incrível juntos e hoje ela me trata
como se nada tivesse acontecido.

Depois de ficar um bom tempo embaixo da água, resolvi que estava


na hora de sair. Peguei a toalha e enrolei em minha cintura. Estava sentindo
que esqueci de algo, mas posso deixar para resolver amanhã. Vesti apenas
uma cueca box e me joguei na cama. Apesar de não ter jantado, não estava
com fome, e acabei pegando no sono logo em seguida.
Capítulo 7

O dia já começou uma maravilha para mim. Além de ter


experimentado uma dúzia de roupas e nenhuma ter ficado boa, ainda estou
com uma dor de estômago terrível. Talvez por ter comido um hambúrguer na
janta, já acordei com ânsia de vômito. Hoje, por mais que eu queira muito,
não vou conseguir trabalhar. Nada para no meu estômago.

Tentei falar com o Henry durante a noite, mas ele não me atendeu.
Ontem tive uma emergência e não pude ir em sua sala para me despedir.
Minha irmã, como a louca da família, estava aprendendo andar de moto e
caiu, acabou quebrando o braço e fraturando duas costelas. Mal tive tempo
de arrumar minhas coisas e saí correndo para o hospital. Ele deve está
pensando várias coisas no momento.

Depois de horas deitada já me sentia melhor. Preparei um suco


natural de laranja e até que ficou bem agradável no estômago. Peguei um
vestido e até que não ficou tão mal, isso é efeito dos dias sem fazer nenhum
exercício. Consegui chegar na empresa antes de meio dia, então daria tempo
de arrumar algumas coisas.

— Boa tarde, Ruby. Sabe me dizer se o senhor Benet se encontra?


— Pergunto, e ela faz que sim com a cabeça
Deixo minha bolsa na sala e vou a passos largos na sala dele, mas
antes que eu entre, ouço ele conversando com alguém, ou melhor: com seu
pai.

— Isso é inadmissível, Henry. Sua mãe ficou decepcionada com


você. — O senhor Benet fala com a voz alterada
— Tudo isso por causa de um jantar? Eu estava cansado e peguei no
sono. — Ele fala, parecendo cansado do assunto.

— Eu tinha medo disso acontecer. Você se afundar no trabalho,


como eu fiz, e esquecer a família. Seu irmão também ficou triste porque
você não estava presente, ele até levou uma moça para nos apresentar. —
Seu pai fala, agora mais calmo.
— Ah, pai! O Rick leva uma namorada em casa todos os dias, e
acho bom não ver ele esses dias. Hoje descobri que minha conta foi clonada,
e sabe de onde vem os saques? Daquele negócio falido dele. — Saio dali,
antes que percebam que estou escutando as conversas que não dizem
respeito a mim.

Fiquei por algum tempo arrumando alguns papéis que estavam fora
do lugar. Pelo vidro pude ver quando seu pai saiu com uma cara nada boa.
Pensei se seria uma boa ideia ir ver o Henry. Com certeza a conversa não
saiu muito bem, e, pelo visto, não sou só eu que tem um pai turrão.

Fiquei mais alguns minutos terminando o queria tinha começado,


até que resolvi ir ver como estava a fera e explicar os motivos da minha
saída de ontem.

Andei a passos curtos até sua sala. Ruby estava digitando alguma
coisa no computador, acenei para ela e então bati na porta. Logo pude ouvir
um “entre”; sua voz estava grossa, e se fosse em outro momento eu acharia
excitante.
— Boa tarde. — Digo para tentar quebrar o gelo.

— Boa tarde. — Ele responde sem nem olhar para mim. Droga.

— Eu queria conversar sobre ontem... — Ele levanta a mão, num


sinal para mim parar.

— Não precisa dar explicações, está tudo bem. — Por mais que ele
esteja falando tranquilamente, eu sei que não está bem, e por mais que eu
realmente não queira me apegar a alguém, parece que eu já estou apegada a
ele.
— Será que… — Minha visão começou a ficar embaçada. —
Posso... — Ouço a voz dele ao longe e sinto meu corpo desmoronar.

Henry

Meu dia hoje não começou dos melhores. Passei no banco antes de
vir para a empresa e descobri que meu irmão estava me roubando. Sim, o
próprio. Ele estava desviando dinheiro da minha conta para a boate falida
que ele inaugurou há alguns meses. Ele nunca pensou em trabalhar, apenas
em namorar e se divertir, enquanto eu sempre me esforcei para chegar onde
estou, e agora descubro que ele está desviando meu dinheiro.
Além de tudo, meu pai veio brigar comigo por não ter ido para o tal
jantar, que eu nem me lembrava mais que seria ontem. A conversa não foi
nada boa, e ele saiu daqui mais zangado do que já estava. Ouço alguém bater
na porta e mando entrar. Pelo perfume que se espalhou dentro da minha sala
eu já sabia de quem se tratava, mas não queria demonstrar para ela o quanto
estou decepcionado pela forma que ela saiu ontem. Depois de tudo que nós
passamos duas noites atrás, eu esperava mais.

— Boa tarde. — Ela fala com a voz calma de sempre.


— Boa tarde. — Respondo sem sequer olhar para ela.

— Eu queria conversar sobre ontem… — Levanto a mão para que


ela pare.
— Não precisa dar explicações. Está tudo bem. — Digo, sem querer
ser grosso.

— Será que… — Olho para ela, que está mais pálida que o normal.
Me levanto e começo a caminhar para onde Isabelly está. — Posso… —
Antes que eu esteja perto o suficiente, ela desmaia. Corro até onde ela está e
a pego nos braços, levando-a até o sofá da minha sala.
Pego o celular rapidamente e ligo para a minha mãe. Ela é médica,
então vai saber melhor do que eu o que fazer. Tento acordar ela, mas é em
vão. Sua pele está pálida; de todos esses anos que ela trabalha comigo, eu
nunca a vi de tal forma. Estou preocupado e vou conversar com Isabelly
assim que ela estiver melhor.

Em pouco tempo minha mãe chegou. O hospital onde ela trabalha


não fica muito longe daqui, o que facilitou sua chegada.
— O que houve, filho? — Ela pergunta entrando em minha sala.

— Eu não sei explicar. Ela estava falando e, do nada, desmaiou. —


Explico, e ela pega o esfigmomanômetro
— A pressão dela está baixa, deve ter sido apenas isso. Saberemos
melhor depois de um hemograma completo. — Minha mãe pega um
frasquinho de álcool em sua bolsa e molha um pedaço de algodão. Ela passa
algumas vezes perto do nariz da Isabelly, que vai acordando aos poucos.

— O que houve? — Ela pergunta, ainda com dificuldade.


— Agora está tudo bem, minha querida. Sua pressão baixou e você
acabou desmaiando, mas está tudo bem. Só que indico você fazer uns
exames para vermos melhor isso. — Minha mãe fala segurando em sua mão.
— Agora tenho que ir. — Ela levanta, e vou até a porta acompanhando-a.

— Me desculpe por ontem, mãe. Não fiz de propósito. — Tento


justificar.
— Tudo bem. Acho que seu pai foi o que ficou mais chateado, sabe
como ele é. — Afirmo com a cabeça, e ela se vai depois de me dar um beijo
na testa.

Ela se vai, e eu fecho a porta. Olho para a Isa, que está com os olhos
fechados e com as mãos na cabeça.
Me aproximo devagar, enquanto ela parece não notar, pego uma
cadeira e me sento perto dela.

— Está sentindo alguma dor? — Pergunto, e ela me olha. Seu olhar


está distante, talvez ainda esteja tonta.
— Estou bem, vou voltar para minha sala. — Ela tenta se levantar,
mas seguro ela.

— De forma alguma. Eu vou levar você para casa, e você passará o


restante da tarde descansando. — Isabelly me olha e tenta contestar, mas a
interrompo.
Aviso para a Ruby que vou sair e digo que ela pode desmarcar todos
os meus compromissos. Ajudo Isa a sair da minha sala, e seguimos para a
sua sala. Ela pega a bolsa, ainda contestando, mas ela sabe que quando falo
uma coisa não volto atrás. Seguimos para o elevador privado e em pouco
tempo chegamos no meu carro. Conversei com meu segurança para levar o
carro dela para sua casa. Ela não conversou muito, e eu também não queria
fazer muitas perguntas, então seguimos o caminho em completo silêncio.
Capítulo 8

O silêncio no carro estava insuportável. Assim que descemos do carro


ele veio me ajudar. Subimos para meu apartamento, e já tirei meu salto logo
em seguida.

— Você comeu alguma coisa hoje? Pelo visto sua cozinha está
intocada. — Ele fala abrindo a geladeira. Se não estivesse com tanta dor de
cabeça eu acharia engraçado.

— Não, eu não estava muito bem. — Falo e ouço seus passos vindo
da cozinha.
— Você acha que o ser humano vive de quê? Apenas de brisa? —
Pergunta, me fazendo sorrir.

Era evidente sua preocupação comigo. Sento no sofá e bato no lugar


vazio para que ele faça o mesmo. Henry parece pensar por alguns segundos,
até que vem até mim e senta onde indiquei.
— Quero pedir desculpas por ontem. Minha irmã mais nova caiu de
moto e quebrou o braço, e quando minha mãe me ligou eu saí o mais rápido
possível. — Paro de falar para ver sua reação. Ele continua a me olhar, então
resolvo continuar. — Fiquei até tarde da noite com ela no hospital porquê foi
preciso fazer cirurgia. Ela fraturou duas costelas, mas o médico disse que
não tem perigo pois não chegou a quebrar. Eu tentei falar com você, mas o
celular só dava desligado. Quando estava voltando eu passei em uma
lanchonete e comi um hambúrguer, o que não me fez muito bem, por isso
que eu não comi hoje. — Termino de falar, e ele está me olhando como se
estivesse arrependido de não ter me deixado explicar mais cedo.

— Por que não me avisou sobre sua irmã? — Pergunta segurando


minha mão.

— Eu sabia que você estava ocupado, então não quis incomodar. —


Digo, e ele passa a mão nos cabelos.

— Me desculpe por mais cedo. Não quis ser grosseiro com você, só
que tive uma discussão com meu pai antes de você chegar. — Me lembro de
alguns trechos da conversa.
— Eu vi que vocês estavam discutindo. Ia na sua sala, mas voltei
assim que ouvi as vozes de vocês. — Falo, me sentindo envergonhada por
ter ouvido algo que não diz respeito a mim.

Ele fica calado por um tempo. Então, para quebrar o clima


desagradável que ficou, tiro a almofada que estava em minhas pernas. O
vestido não vai atrapalhar o que estou prestes a fazer. Subo em seu colo e
coloco minhas pernas em cada lado do seu corpo.
— Você não está em condições...
Ele começa a falar, mas o interrompo com um beijo. Não quero
saber se estava desmaiada há uma hora em sua sala, a vontade que estou de
ter ele está maior que qualquer coisa.

Começo a desabotoar sua camisa social, suas mãos passeiam por


meu corpo, o calor que exala de nossos corpos demonstra o quanto queremos
um ao outro.
Em um movimento rápido, ele me deita no sofá, ficando por cima
de mim. Mordo o lábio inferior enquanto ele me olha de cima abaixo. Henry
vem me beijar novamente e começa a descer meu vestido. Termino de
desabotoar sua camisa e jogo ela no chão, olhando algumas vezes para seu
abdômen definido. Ele tira a calça, junto da box e os sapatos. Termino de
tirar meu vestido, junto da calcinha e do sutiã, e ele rapidamente toma meus
seios em suas mãos. Um vai para sua boca enquanto ele brinca com o bico
do outro. Meus seios estão extremamente sensíveis, e, mesmo sentindo eles
um pouco doloridos, está prazeroso. Não quero que ele pare.

Sua mão que antes estava em meu seio vai para minha intimidade.
Ele começa a brincar com meu clitóris, e os gemidos começam a escapar da
minha garganta.
— Por favor, Henry... por favor. — Peço entre gemidos, mas ele
continua a me estimular.

Meu corpo começa a dar sinais de um orgasmo próximo, ele percebe


e aumenta a velocidade do movimento em meu clitóris. Sua boca, que antes
estava em meu seio direito, passou para o esquerdo, e então ele pôs um de
seus dedos em minha intimidade. Não consegui segurar e gozei chamando
seu nome.
Minha respiração irregular mostra o quão cansada ele me deixou,
apenas com suas mãos e boca. Respiro um pouco e então tomo a iniciativa.
Seu pau já está mais que excitado, sento ele no sofá e então vou para cima
dele. Começo com movimentos lentos e precisos, ainda estou cansada, mas
nada me dá mais prazer do que ter ele dentro de mim. Foi apenas uma noite,
uma longa noite, mas isso já foi o suficiente para eu querer mais e mais. Esse
negócio de não se apegar já ficou esquecido. Eu quero ele, não sei em qual
sentido, mas eu quero.

Depois de duas rodadas de sexo, tomamos banho juntos. Deito na


cama enquanto ele vai até à sala, à procura de suas roupas. Em pouco tempo
ele volta e se deita ao meu lado, sua respiração em meu pescoço me faz ficar
arrepiada. Sua mão passeia por meu corpo e, no final, ele começa a fazer
cafuné no meu cabelo. Eu ainda estava fraca por não ter me alimentado e
também pelo sexo, mas não estava com fome. Meus olhos foram pesando, e
finalmente o sono me venceu.
Capítulo 9

Quando entrei no quarto ela já estava dormindo, então resolvi deixá-


la dormir um pouco para que pudesse descansar. Meu celular tocou no bolso
da minha calça, então fui atrás dele. Quando finalmente consegui pegar o
aparelho, o mesmo já tinha parado de tocar. O nome que apareceu na tela me
fez respirar profundamente. Eu não estava com paciência para essa conversa
agora, então apenas joguei o celular no sofá. Vesti a calça e fui até a sacada
do apartamento. O vento bateu forte em meu rosto, os dias estavam frios,
uma das épocas do ano que mais gosto.
Fiquei um bom tempo observando o movimento da rua, e meu
celular mais uma vez começou a tocar. Será que ele não desiste? Já estava
ficando mais estressado, ele não tem o direito de me roubar e ainda ficar me
enchendo o saco. Várias vezes chamei ele para vir trabalhar comigo, mas
não, ele preferiu a vida fácil e as noites de mulherada e bebida. Eu queria
conversar com ele pessoalmente, mas pelo visto ele não vai parar de me
incomodar.

Volto para a sala e pego o celular. Atendo antes que a ligação caia
novamente.
— Pode falar. — Digo seco, tentando não me exaltar.

— Você falou para nosso pai que estou te roubando? — Pergunta


ele, parecendo estar exaltado.
— E não está? — Pergunto com sarcasmo.

— Como você pode pensar isso de mim, irmão? — Pergunta com


sarcasmo. Minha vontade mesmo é de ir onde esse desgraçado está e quebrar
a cara dele, mas infelizmente não tem como eu fazer isso.
— Olha, seu embuste, você está proibido de mexer em qualquer
coisa relacionada ao meu nome, e isso significa que a pensão que ia para a
sua conta também está bloqueada. Espero que lembre disso todas as vezes
que for usar do dinheiro que você roubou da minha conta. — Falo, e ele se
cala por um tempo

— Você não pode fazer isso comigo. Eu tenho direito de usar esse
dinheiro! — Diz exasperado.
— Deveria ter pensado nisso antes de mexer em alguma coisa
minha. Pena que você não tem cabeça para pensar nessas coisas, né? —
Desligo o celular antes que ele fale mais alguma coisa.

Respiro fundo para tentar acalmar os nervos. Ele sempre foi


mimado, meu pai nunca puxou suas rédeas, sempre deixou ele fazer tudo que
quis da vida. Já comigo foi diferente, tive que cuidar da empresa quando ele
decidiu que se aposentaria, e então tomei as rédeas de tudo. Quanto aos seus
negócios inacabados, eu me virei e mantive a empresa erguida. Todos falam
do meu pai, mas por fim quem controlou tudo fui eu. Eu que a expandi para
fora, abri uma filial no Brasil e outra em Nova York, então agora eu não
tenho que dar moleza para ele não. Chega de dar tudo de mãos beijadas para
ele gastar do jeito que quer. Se ele quiser, agora vai ter que trabalhar para
conseguir.

— Está realmente irritado com ele, não é mesmo? — Passo as mãos


no cabelo e respiro fundo antes de ir até onde ela está. De forma alguma
quero descontar minhas frustrações nela.

— Como está se sentindo? — Pergunto, e ela faz uma careta.

— Estou melhor. — Diz e passa a mão na barriga. — Só estou com


fome. — Isabelly sorri.
— Preparei algo para você comer, mas quando cheguei no quarto
você já estava dormindo. — Ela sorri sem graça e segue para a cozinha.

Ela comeu toda a comida que eu havia preparado. Sei que ela pode
ficar com raiva ou coisa do tipo, mas eu não posso mais adiar esse assunto.
— Está de quantos meses? — Pergunto, e ela me olha confusa.

— Do que está falando? — Pergunta limpando o canto da boca.


— Está grávida de quantos meses, Isabelly? — Ela levanta da mesa
e me olha confusa.

— Eu não estou grávida. — Diz, e eu me levanto também.


— Isa, você passou mal no dia que fomos almoçar com o Caleb,
agora passou mal na minha sala. Você acha que isso é normal? — Pergunto,
e ela fica pensativa.
— Você acha que quero dar golpe em você, é isso? — Pergunta, me
deixando com raiva.

— Droga, Isabelly. Eu jamais pensaria isso de você, eu só estou


preocupado! Para mim isso não é normal, e de forma alguma eu pensaria
isso de você. — Eu jamais duvidaria do caráter dela, até porque eu sei com
quem que ela namorava. O cara é bem estudado e foi fazer uma pós
graduação fora, o pai dela tem uma empresa voltada para automóveis, então
eu sei que ela não está se relacionando comigo por interesse. Eu a conheço.

— Vai embora, por favor. Me deixa sozinha. — Ela fala, e eu tento


me aproximar, mas a mesma coloca a mão, pedindo para mim parar. Faço o
que ela pede, não vou invadir seu espaço.

— Tudo bem, eu não vou insistir, mas se precisar de mim, sabe onde
me encontrar. — Falo e vou até a sala. Visto minha camisa e calço meus
sapatos enquanto ela me olha em silêncio. Pego o celular, que até então
estava no sofá, e me dirijo até a porta. Olho para ela mais uma vez, na
intenção dela me pedir para ficar, mas infelizmente ela não fez.
Entrei no elevador. Minha vontade era de abraçar Isabelly e falar
que vai ficar tudo bem, ela estando ou não grávida, mas pelo visto ela não
pensa assim.

Alguns dias depois

Eu falei com a Ruby, e ela ligou para a Isabelly. Eu mesmo dei folga
para ela por uma semana, pois quero que esteja bem para poder voltar ao
trabalho. Esses dias afastado dela me fizeram refletir, e acho que ela pode ter
voltado com o pai do bebê. Se ela realmente estiver grávida, não lhe tiro a
razão. Mas não posso negar que me sinto mais abatido do que nunca. Eu sei
dos meus sentimentos por ela e sei que não vão acabar tão cedo, porém, vou
tentar seguir minha vida. — Ouço batidas na porta e digo um “entre”.

— Senhor Benet, sua videoconferência irá começar em dez minutos.


A sala de reunião já está pronta. — A secretária substituta diz, apenas com a
cabeça para dentro da sala. A Ruby saiu de licença há dois dias e indicou
uma prima para ocupar o cargo enquanto ela volta. A mesma é especializada
na área, então não vi problemas em colocá-la no cargo.
Nessa semana que passou eu esperei a ligação da Isa. Para mim foi
difícil chegar todas as noites e saber que ela realmente não me quer em sua
vida, mas, como todos falam, vida que segue.
Capítulo 10

Quando o Henry saiu da minha casa eu me desabei em lágrimas. Hoje


está com uma semana que não o vejo, e essa semana foi uma loucura para
mim. Eu vou resumir.

No mesmo dia que ele saiu, eu consegui uma consulta e fui até
minha ginecologista, que prolongou o horário dela para poder me atender.
Falei o que estava acontecendo, e ela de imediato pediu exames. Fiz tudo na
mesma clínica em que ela trabalha, e o resultado saiu pouco mais de uma
hora depois. Ela abriu o envelope e, para nossa surpresa, sim, eu estou
grávida. Meu mundo desabou na hora. Fizemos uma ultrassom, e eu estou de
três semanas e cinco dias, menos de um mês. Eu fui a fundo na minha mente
e descobri que o pai não é meu ex e também não é o Henry, e sim o dono da
boate que fui há um mês atrás. Até pensei em não falar nada para ele, mas
infelizmente eu sei que o pai tem direito de saber sobre isso, então fui até a
boate, já que minha amiga disse que ele é o dono. Se eu tiver de encontrar
ele, será lá.

Chegando na boate, entrei e conversei com o barman. Ele disse que


chamaria o tal Henrique, e na hora que ele me viu deu um sorriso forçado e
então me chamou para sua sala. Entramos, e ele pediu para eu me sentar,
mas não quis.

— A que devo a honra? — Perguntou, e então tirei o exame da


bolsa.

— Eu nem queria estar aqui, mas tive que vir. Eu estou grávida, e...
— Antes que eu terminasse de falar, ele começou a rir. Me senti uma
estúpida por estar passando por aquilo.

— Espera! Você disse que está grávida? — Perguntou irônico, e eu


ainda confirmei com um balançar de cabeça. Lhe estendi o exame que
constatava tudo, mas ele nem sequer pegou. — Você acha mesmo que eu
vou acreditar que esse bastardo pode ser meu? Se você fez isso na intenção
de eu lhe dar alguma coisa, você se enganou. Pode ir embora daqui.

Eu já esperava uma reação do tipo, então não me abalei, e também


não iria chorar na frente de um idiota como esse. É claro que eu não preciso
de nada disso. Eu já trabalhei o suficiente para ter uma vida estabilizada e
cuidar de um filho. Eu nunca cogitei a possibilidade de engravidar, muito
menos tirar uma criança, cuja responsabilidade foi minha.
Sai de lá e decidi ir direto para casa. A conversa com meu pai eu sei
que não vai ser fácil.

O Henry me deu folga por uma semana, então achei melhor ficar
essa semana em casa pois estou precisando pensar. Eu queria muito ter ele ao
meu lado, mas ele não precisa passar por isso comigo, muito menos uma
mulher grávida de um idiota. Mais idiota mesmo fui eu, por ter ido para a
cama com um qualquer.

Os enjoos estão constantes em mim, mas estou sabendo lidar bem


com a situação. Meu pai disse que vem me ver hoje, que minha mãe não lhe
deixou em paz desde o dia da reunião que ele teve com o Henry. Eu conheço
minha mãe e sei que ela quer falar sobre minha vida amorosa.
Como estou conhecendo meu corpo nessa fase da gravidez! Eu sei o
que meu corpo está aceitando ou não. Nada de comida pesada, então estou
sobrevivendo com sopinhas e frutas.

Como meus pais vem jantar aqui comigo hoje, resolvi pedir comida
italiana. Meu pai é um italiano, e minha mãe é brasileira. Ela estava fazendo
intercâmbio na Itália e lá ela conheceu meu pai, mas nessa história eles ainda
ficaram um tempo afastados. Minha mãe voltou para o Brasil para cuidar do
meu avô que estava com câncer. Dois anos depois ela voltou, e eles se
encontraram. Eles estão juntos há trinta e cinco anos.
Tomo um banho e me deito novamente. Pego o celular e olho mais
uma vez para o contato do Henry, e mais uma vez eu jogo o celular na cama,
já frustrada. Eu não posso meter ele nessa confusão que está a minha vida.
Ele é novo, é lindo, é uma delícia na cama e tem várias mulheres que com
certeza querem ele. Só de pensar isso eu fico ainda mais frustrada. Droga!
Eu estava tão bem, e agora essa novidade na minha vida.

À noite eu já tinha arrumado tudo. Como hoje é sábado e eu sei o


movimento do restaurante que meu pai frequenta, eu já encomendei a
comida cedo. A mesa já estava posta, e minha mãe avisou que já estava a
caminho, então liguei para o restaurante para avisar que já pode mandar a
minha encomenda.
Pouco tempo depois a comida chegou. Termino de arrumar a mesa,
e meus pais tocam a campainha. Abro a porta, e meu coração falha uma
batida.

— Boa noite, filha. — Meu pai fala e exibe um sorriso no rosto,


assim como minha mãe.
— Boa noite. Entrem, por favor. — Falo sem tirar os olhos do
homem que está acompanhando meu pai e minha mãe.

— Espero que não se incomode. Seu pai passou na empresa do


senhor Henry e o convidou para jantar conosco. — Minha mãe fala pondo a
mão no braço do Henry.
— De forma alguma. — Digo ainda em choque. Por essa eu não
esperava. — Acomodem-se, vou pegar mais um prato para o Henry. — Digo
e vou até a cozinha, vejo a minha mãe logo atrás de mim.

— O Henry é um rapaz tão legal. Não é mesmo, minha filha. — Ela


diz e eu olho para ela.
— Nem vem, mãe. Eu já estou com problemas demais. — Falo, e
ela vem até mim.

— Eu vi a forma como vocês se olharam lá na empresa. Ele gosta de


você, e eu no seu lugar não deixaria essa chance para trás. — Pego as taças e
as levo até a sala de jantar. Meus olhos vão automaticamente para os dele. A
conversa entre ele e meu pai é sobre negócios, mas Henry não tira os olhos
de mim, assim como eu não tiro os meus dele.
Volto novamente para a cozinha, mas minha mãe já está saindo com
o prato e os talheres.

— Vamos, filha. — Ela fala sorridente.


O jantar até que está indo bem, mas, ao contrário do que eu planejei,
não tem como falar para eles que estou grávida. Não na presença do Henry,
mesmo ele já tendo quase certeza.
Capítulo 11

Eu me surpreendi quando os pais da Isa passaram na empresa me


convidando para esse jantar. Não... Eles não foram para lá para falarmos de
negócios. A mãe dela me falou que queriam minha presença nesse jantar, e
até fiquei com receio de aceitar, devido ao fato de ela não ter me ligado
nessa semana toda, mas, como eu estava louco querendo saber algo sobre
ela, eu vim.

— A conversa está ótima, mas eu já estou indo. — Digo me


levantando. Eu já vi que ela está bem, então não vou adiar muito a minha
ida, mesmo meu coração pedindo para ficar.

— Mas já? — A mãe dela pergunta. — Está tão cedo! — Olho para
a Isabelly, que está atenta.
— Sim, meus pais estão de partida amanhã. Como diz minha mãe, a
lua de mel deles está só começando. — Vou até o senhor Blanc, e antes que
eu possa me despedir formalmente, a Isabelly interrompe.

— Ouviu isso, Lorenzo? — Ela olha para o esposo, que dá de


ombros.
— Não vá agora. Lembra que temos o contrato do senhor Afonso
para revisarmos? Ele estará segunda-feira pela manhã para uma reunião,
então peço que fique mais um pouco para podermos resolver isso. — Olho
para ela surpreso. A minha reunião com o senhor Afonso só acontecerá na
quarta-feira no período da tarde, por uma videoconferência.

— Bem lembrado. — Falo, e ela sorri sem graça.

— Então vamos deixar vocês resolverem isso. Não é mesmo, amor?


— A dona Débora pergunta sorridente.

Ela conversa com eles já na porta, enquanto eu resolvo algumas


pendências no celular. Depois que o casal foi embora, ela fechou a porta
lentamente e se virou para mim. Deixei o celular no sofá enquanto Isabelly
andava calmamente até mim.
— Me desculpa por mentir. Só queria um pretexto para podermos
conversar. — Fala envergonhada.

— Eu também quero muito conversar. — Falo olhando em seus


olhos.
— Eu... Bom, você estava certo, eu estou grávida. — Eu não sabia
bem o que falar, mesmo já tendo a quase certeza disso, mas sabia que tinha
que falar alguma coisa. — Eu não planejei. É até irônico falar isso: uma
mulher adulta, formada, engravidar assim. — Ela levanta e parece secar
algumas lágrimas, me levanto e caminho até onde ela está.
— Não, isso não é irônico. Irônico seria se você engravidasse e
tirasse a criança, isso seria irônico e cruel. Mas olha para você, Isa. Você é
uma mulher corajosa e, pelo que eu já vi, está cuidando dessa criança que
está aí dentro. Então não me diga que é irônico você estar grávida. — Puxo-a
para um abraço.

Ficamos ali por algum tempo abraçados, e eu só quero que ela se


sinta bem.
— Eu não quero ser invasivo, mas… e o pai do bebê? — Pergunto,
e ela apenas balança a cabeça em negação — Quer falar sobre? —
Questiono, e ela me solta devagar.

— Não é meu ex, pois já fazia um tempo que não tínhamos nada.
No dia que ele foi embora eu fui para uma festa e acabei... bem, você sabe o
que. — Eu não julgo ela porque eu já fiz isso: saí e fiquei com mulheres sem
lhes conhecer.

— Isa, meu sentimento por você não mudou. — Falo, e ela me olha.

— Mesmo eu estando grávida de um cara qualquer? — Pergunta


surpresa.
— Sim, mesmo você estando grávida de um cara qualquer. E se
você quiser, eu vou estar ao seu lado nesse momento. — Digo, e ela fica
calada por alguns segundos.

— Não, você não vai desperdiçar sua vida com uma mulher grávida
de outro. Você tem o direito de arrumar outra pessoa que possa lhe dar seus
próprios filhos. — Ela fala rapidamente.
— Para com isso, Isa. Vamos fazer o seguinte: não precisamos
assumir nada por enquanto. Vamos com calma, tudo no seu tempo, só não
desista sem termos tentado nada. — Proponho.
Chamo ela para um abraço. isabelly caminha devagar até mim, e
abraço seu corpo, que ainda não tem nenhum sinal de barriga.

— Eu não vou desistir de você. — Falo, e ela me olha. Nossos olhos


ficam fixos por alguns segundos. Passo minha mão direita por sua nuca, me
aproximo calmamente de seu rosto e lhe dou um beijo. Minha língua entra
devagar em sua boca, e aproveito cada milésimo de segundo ali. Em seguida
paramos o beijo por falta de ar.
— Fica comigo hoje? — Pergunta me olhando.

— Fico. — Mais uma vez tomo seus lábios em um beijo calmo.


Me deito e puxo seu corpo para mim, não quero sexo, quero apenas
ela perto, quero poder cuidar dela, poder lhe fazer se sentir protegida e
amada.

Isabelly

Eu sempre soube que o Henry era um cara maduro. Maduro o


suficiente para não se envolver com qualquer uma ou ter o nome em revistas
de fofoca, mas quanto a essa situação eu me surpreendi. Eu não esperava que
ele iria querer ficar comigo mesmo depois de descobrir que estou grávida,
mesmo eu não precisando dele para me ajudar com tal responsabilidade. Ele
é lindo e pode facilmente encontrar outra pessoa, mas mesmo assim ainda
quer ficar comigo.
Acabo pegando no sono em meio aos meus pensamentos.

Acordo e já não sinto mais a presença dele, vou até o banheiro e


faço a minha higiene pessoal, saindo dali à procura dele, mas como o mesmo
mesmo havia dito, seus pais hoje viajariam cedo, então ele deve ter ido se
despedir deles.

Vou atá a cozinha, e Henry deixou uma mesa posta para mim. Tomo
o café da manhã e depois volto para o quarto. Vejo um bilhete no criado
mudo, vou até lá e de início já vejo a caligrafia dele.
“Bom dia. Saí cedo pois tinha um compromisso, mas quero que
esteja pronta às sete da noite, pois quero lhe levar para um lugar. Tenha um
ótimo dia! Beijos, Henry.”

Eu estou me sentindo uma adolescente desse jeito. Meu namoro


com o Richard foi tão diferente que até me sinto estranha em sentir isso em
tão poucos dias. É claro que eu tinha uma quedinha pelo Henry, mas quem
não teria? Só que eu era comprometida e não iria trair meu namorado.
Capítulo 12

Já tem um mês que Henry e eu estamos juntos. Claro que não é um


namoro assumido, mesmo ele querendo assumir para a empresa e para
nossos pais, eu ainda não me sinto à vontade para tal responsabilidade, assim
como não me sentia pronta para ser mãe, mas as coisas não são como
planejamos. Já estou indo para o segundo mês de gestação, já fiz todos os
exames e não peguei nenhum tipo de DST. Por isso que sexo sem camisinha
é perigoso, além dos riscos de uma gravidez, tem o risco de pegar alguma
doença.
Sinto o perfume amadeirado percorrer toda a minha sala e sorrio,
ainda de costas para ele.

— Bom dia. — Ele fala se aproximando.


— Bom dia. — Me viro para olhá-lo.
Seu sorriso logo pela manhã está sendo um refúgio para mim, nem
quando comecei meu namoro com o Richard eu me sentia tão boba.

— Minhas manhãs nunca são as mesmas quando acordo e não estou


ao seu lado. — Nesse mês que estamos ficando ele dormiu a maioria dos
dias comigo, alguns porque acabei passando mal, e outros porque um gosta
da companhia do outro. — Se aceitasse meu pedido de namoro não
estaríamos assim. Eu poderia dormir todos os dias ao seu lado. — Sorrio, e
ele vem me beijar. Enlaço meus braços em seu pescoço, e então ele toma
meus lábios em um beijo.
Uma batida na porta faz a gente se separar.

— Entre. — Digo assim que limpo minha boca. Henry sorri pela
cara que eu fiz.
— O senhor Blanc está à sua espera. — A secretária substituta fala.
Ela olha para mim e depois para Henry. Meu santo não bateu muito com o
dela, mas tudo bem. Ela é secretária do Henry e não minha.

— Estou terminando de ver uns papéis aqui e já estou indo. — Ele


fala sem olhar para ela. Henry caminha até minha mesa e pega alguns
papéis que estavam aqui.
Ela sai e fecha a porta, sorrio assim que ele olha para mim.

— Que bela desculpa, senhor Benet. — Ela dá de ombros e vem me


beijar novamente, depois de mais dois beijos ele se vai.
O restante do dia foi tranquilo. Tranquilo porque já virou rotina
meus enjoos matinais. Depois de revisar dois contratos para o Henry e
solicitar a presença de seu advogado para reavaliar, eu finalmente estava
pronta para ir almoçar.
Saio da minha sala e, no mesmo instante, vejo o Henry sair da sala
dele acompanhado do meu pai.

— Oi, filha. Estamos saindo para almoçar, aceita vir conosco? —


Meu pai pergunta, se aproximando de mim.
— Estava mesmo esperando o senhor me convidar. — Digo,
arrancando um pequeno sorriso dele. Meu pai sempre foi um homem de
gênio forte, porém ele sempre foi brincalhão com os filhos. Eu me lembro
das vezes que ele foi duro e, ao mesmo tempo, foi acolhedor comigo.

Seguimos para o elevador reservado. Enquanto caminhávamos


percebi algumas olhadas da secretaria em mim, mas, como sempre, não dei
importância.
— Sua mãe irá se juntar a nós. — Ele fala, e olho para o Henry. Pelo
visto não é só minha mãe que quer me jogar para meu chefe.

Assim que chegamos ao restaurante, minha mãe já nos esperava na


frente do mesmo.
— Estava aqui perto quando ligou para mim. — Ela fala, dando um
leve beijo em meu pai. Se eu amo ver eles trocando carinhos? Sim, e muito.
Eu sempre vi eles trocarem esses carinhos, não me lembro de brigas deles.

Entramos, e o Henry foi até a recepcionista. Ela então nos leva até a
mesa, nos acomodando, e então meu pai e Henry engatam em uma conversa
animada. Em pensar que meu pai sempre gostou de falar de negócios, agora
estão discutindo sobre qual time de futebol é melhor.
— E você, filha? Estou lhe achando um pouco pálida. Está se
alimentando bem? — Mamãe pergunta me avaliando.
— Eu estou bem, mamãe, só não estou pegando sol por causa dos
dias chuvosos. E como estão a Emilly e o Lorenzo Jr? Já faz algum tempo
que não vejo meus irmãos. — Emilly estuda pedagogia, e o Lorenzo já
terminou a faculdade de advocacia.

— Estão bem. A Emilly está fazendo estágio, e o Lorenzo já está de


viagem marcada para o Brasil. Ele está com uma ótima proposta de emprego
lá e, pelo que eu escutei, acho que ele conheceu alguém. — Eu fico feliz por
as coisas darem certo para eles. Assim como eu, eles não conseguiam
trabalhar com o senhor Blanc. Meu pai nessa parte é bem difícil. Para ele os
filhos tem que ser perfeitos no que fazem, para não dar a chance dos
funcionários fazerem errado. Ele sempre disse que jamais deixaria os filhos
darem mal exemplo para os funcionários.
Almoçamos em silêncio. Vez ou outra meu pai e Henry falavam
algo sobre a empresa.

— Olha se não é minha grávida predileta! — Todos os pelos do meu


corpo se arrepiaram ao ouvir aquela voz.
A minha obstetra falou, já se aproximando de mim. Eu sabia que ali
daria merda.

— Acho que a senhorita se enganou. — Meu pai fala olhando para a


doutora.
— Desculpa a indelicadeza. Boa tarde a todos, estava almoçando e
vi quando você chegou, Isabelly, então resolvi passar para dar um oi e te
lembrar da sua consulta depois de amanhã. — Ela fala, me deixando ainda
mais sem jeito.

— Oi, Suzany. Como está? — Me levanto e cumprimento ela com


dois beijos.
— Desculpa a intromissão, mas eu ouvi certo? — Meu pai pergunta,
se levantando também. — Você falou que a minha filha está grávida. É isso?
— Ela olha de mim para meu pai.

— Eu falei demais? — Ela pergunta me olhando.


— Está tudo bem, eu vou conversar com ele. Não era assim que eu
pretendia dar a notícia.

Olho para Henry, que me olha apreensivo. Esse almoço não saiu
como esperado.
Me acomodo novamente na cadeira e respiro fundo. Procuro as
palavras certas para falar, mas ainda não achei nenhuma.

— Podemos ir para a minha casa, lá será melhor para conversarmos.


— Falo e recebo um olhar matador vindo do meu pai.
— Eu quero que me conte essa história de você estar grávida. Quem
é o pai dessa criança? — Pergunta alterado. Vejo as pessoas olhando para
nós e me sinto ainda mais envergonhada.

Henry levanta e sai.

— Quando ia nos contar? Quando a criança já estivesse andando?


— Seu tom de acusação me deixa ainda mais frustrada.

— Para com esse show, Lorenzo. Sua filha já é de maior, já não


precisa do seu dinheiro, tem um trabalho, então para com isso. Estão todos
olhando, e amanhã estará tudo em um site de fofoca. — Mamãe fala
segurando em seu blaser.
— Arrumei um lugar mais reservado para podermos conversar. Me
acompanhem, por favor. — Henry fala se aproximando. Me levanto antes
que meu pai continue o show.
Acompanho Henry em silêncio. Ele também não falou nada, mas o
que ele falaria em um momento como esse? O quanto eu fui irresponsável
por engravidar, ou que deveria ter falado logo para eles.

Assim que entramos em um escritório, meu pai esbraveja.


— Quem é o pai dessa criança, Isabelly? — Ele pergunta com raiva.

— Sou eu, senhor Blanc. — Henry fala, me pegando de surpresa.

— Então você seduziu e engravidou a minha filha, seu bastardo? —


Ele se aproxima do Henry, que mantém a postura séria.

— A Isabelly já é bem grandinha. Ela já sabe o que deve ou não


fazer, não a trate como uma criança. — Henry fala, sem demonstrar qualquer
medo do meu pai.
— Além de engravidar a minha filha, ainda quer dizer como eu a
devo tratar? Eu deveria acabar com você e com a nossa parceria! — Meu pai
esbraveja.

— Eu e Isabelly estamos juntos há algum tempo, mas queríamos dar


a notícia assim que completasse o terceiro mês de gestação. — Henry fala,
me deixando sem graça de meter ele nessa confusão. — Esses primeiros
meses são os mais arriscados, então optamos por não falar até agora. — Ele
se aproxima de mim e segura a minha mão. — E, quanto à nossa parceria,
isso seria bem desagradável, pelo fato do nosso contrato ter sido bem feito e
aceito por ambas as partes. O senhor, como um bom homem de negócios,
sabe que a quebra do contrato teria uma multa muito alta a ser paga. —
Henry termina de falar, deixando meu pai sem palavras.
Capítulo 13

— Eu não posso quebrar o contrato por não querer dar esse gosto
para você, mas também não vou dizer que aprovo relacionamento de patrão
com funcionária. Mesmo minha filha estando no seu patamar, ela ainda
assim é sua funcionária. — Senhor Blanc fala, bem próximo de mim. Se ele
não fosse o pai da mulher que eu amo, e também um senhor de sessenta e
poucos anos, eu com certeza lhe daria um soco por tal atrevimento

— Eu nunca considerei ela como minha funcionária. — Olho para


ela, que está ao meu lado e em silêncio desde a hora que entramos aqui.

Eu poderia ter ficado calado. Não que eu queira lhe obrigar a ficar
comigo; ela é livre e pode fazer o que quiser, mas quando eu a vi tão
indefesa eu só quis lhe ajudar, mesmo não pensando nas consequências dos
meus atos. Eu sei que fui precipitado, mas não poderia deixar ela falar para
seu pai que está grávida de um idiota que não quis lhe assumir. Porque pela
forma que eu como a vi em sua casa, a única coisa que pode ter acontecido é
isso. Mas se ele soubesse da sua conta bancária, não se negaria a ficar com
ela para tirar proveito.

— Então por que não assumiram o namoro? — A mãe dela, que até
a pouco estava em silêncio, pergunta.

— Não fiquem falando de mim como se eu não estivesse aqui. Pai,


eu estou sim grávida, e eu estou bem com isso, eu trabalho e me sustento há
um bom tempo, e, mãe, não assumimos o namoro pois achamos cedo. Henry
pediu várias vezes para assumir, mas como meu término com o Richard
estava recente, eu preferi deixar quieto. — Isabelly fala, deixando os pais
sem palavras. — Já encerramos esse assunto. Agora vamos cada um cuidar
dos seus afazeres, porque eu ainda tenho muito o que fazer. — Ela diz
decidida e sai do escritório.

— Isso ainda não acabou. Quero conversar com vocês sobre o


casamento. — Senhor Blanc fala olhando para mim. Logo em seguida ele sai
acompanhado da esposa.
Agora o assunto ficou mais sério do que imaginávamos. Eu não me
arrependo. Como já falei, eu gosto dela, mas e ela, o que acha disso? Será
que vai aceitar?

Saio do escritório e vou até o meu amigo Tomás, que é gerente do


estabelecimento. Agradeço a ele e pago as despesas, e então o senhor Blanc
vem até a mim junto de sua esposa.
— Já estamos de saída, espero que cumpra com suas
responsabilidades. — Ele fala e vai embora.
Vou até onde Isa está. Ela parece estar bem abalada com tudo isso,
mesmo sendo a mulher durona e forte que sempre demonstra ser.

— Vamos, vou levar você para casa. — Digo, e ela me olha.


— Claro que não. Eu vou voltar para o escritório, tenho algumas
coisas para fazer. — Fala firme.

— Você precisa descansar um pouco. — Isa me olha séria. Eu


conheço bem essa cara, isso significa que ela não vai voltar para casa e sim
para o escritório, e vai focar no trabalho para não pensar no assunto.
— Ok, não está mais aqui quem falou. — Ela sorri e pega a bolsa.
Saímos do restaurante e seguimos para a empresa. Ela estava calada, eu não
quis deixar o clima mais tenso, então achei melhor não falar nada.

Ao chegar na empresa ela foi direto para sua sala, e eu para a minha.
A Karoline veio logo em seguida para falar sobre minha agenda.
Assim que ela saiu, eu vi a silhueta da Isa entrando pela porta.
Estava resolvendo algumas assuntos da filial que estou abrindo na Espanha.

— Está muito ocupado? — Pergunta sentando de frente para mim.


— Para você... Nunca. — Ela arqueia uma sobrancelha, e ali eu
tenho a certeza que vem chumbo grosso.

— Por que fez aquilo? — Pergunta, e sei do que ela está falando.
— Tem certeza que quer mesmo falar sobre isso agora? — Eu sabia
que ela não ia deixar esse assunto para depois.

— Henry, você assumiu uma responsabilidade que não é sua. — Diz


se levantando.
— Se tornou uma responsabilidade minha, a partir do momento que
eu me declarei para você no seu apartamento e você não me afastou. A partir
daquele momento, você e tudo que te envolve é minha responsabilidade. —
Falo me levantando.

— Você não precisa. Sabe disso, não é mesmo? — Me aproximo


dela e lhe puxo pela cintura.
— Sim, eu sei, e sei também que eu preciso de você. — Tomo seus
lábios em um beijo calmo. Ela pode protestar o quanto for, mas eu não abro
mão de estar ao seu lado e de cuidar dela quando for preciso.

— Só não quero que depois se arrependa disso tudo. — Fala


parando o beijo.
— Não vou. — Puxo ela para mais perto de mim e novamente tomo
seus lábios em um beijo urgente.

— Eu preciso de você. — Fala entre o beijo.


Pego ela pela cintura e a deposito em cima de minha mesa. Jogo
algumas coisas que tem em cima da mesa no chão, seguro na barra do seu
vestido e o puxo para cima, me dando a visão da sua calcinha vermelha de
renda. Ela sorri com malícia, e então me inclino, dou um beijo em seus
lábios e afasto sua calcinha para o lado. Penetro meu dedo indicador em sua
intimidade, fazendo movimentos de vai e vem.

— Sem preliminares, Henry. — Ela fala.


Desisto das preliminares. O dia ainda vai ser bem longo e cheio de
coisas para fazer, então vou deixar para mais tarde.

Abro minha calça e penetro ela lentamente. Seus gemidos baixos me


deixam ainda mais excitado e querendo ter ainda mais dela. Meus
movimentos são rápidos, e Isa geme baixinho, o que me dá mais tesão. Já
posso sentir meu orgasmo se aproximando.

— Eu vou... gozar. — Aumento a velocidade das estocadas até ela


gozar, dou mais duas estocadas e gozo também.
Ela tenta controlar a respiração, assim como eu.

— Fique aí, vou pegar algo para se limpar. — Vou até o banheiro e
me limpo, pego alguns lenços umedecidos e vou até onde ela está.
Passo o primeiro lenço, e ela arqueia um pouco as costas por causa
da umidade. Assim que termino lhe ajudo a levantar.

— Não pense que só isso já me satisfez. — Ela fala me dando um


beijo.
Isabelly arruma a roupa e os cabelos e sai da minha sala. Essa
mulher vai acabar me matando, e eu morrerei feliz.

Depois que ela saiu da minha sala eu não tive tempo para mais nada.
Como minha família tem uma rede de hotéis e quem cuida sou eu, os
assuntos chatos também sou eu quem tem que tratar, e isso inclui um
processo contra um dos hotéis aqui mesmo de Londres, em que um ex-
funcionário colocou nosso hotel na justiça. Ele foi demitido por justa causa
e, mesmo assim, está querendo recorrer à justiça.
Pela brecha da porta vejo a última luz ser apagada. Olho no meu
relógio de pulso e já passa das sete horas da noite. O dia foi bem cansativo e
cheio de emoções, e não posso deixar de exaltar a rodada rápida de sexo que
tivemos aqui na minha sala. Se eu já tinha feito isso? Não, isso foi novo para
mim. Sempre soube separar o pessoal do profissional, mas com a Isa é tudo
diferente, é como se eu voltasse a ter meus quinze anos, pois me sinto bobo
quando estou com ela.
Capítulo 14

A minha barriga já está aparecendo. Os dias estão passando rápido, e


hoje o Henry me convidou para conhecer sua família. Ainda acho cedo, mas
ele insistiu, mesmo eu achando que não é uma boa ideia ele querer me
apresentar e falar para a família que o filho que estou carregando é dele. Eu
sei que ele gosta de mim, mas acho isso um passo muito grande. Ele não tem
obrigação de assumir meu bebê, já não basta meu pai achar que ele é o pai.
Eu sei que a errada da história sou eu e sei também que ele quer estar ao meu
lado.
Ouço a campainha tocar, retoco meu batom e vou abrir a porta. Ele
está com uma roupa casual, a barba aparada e o sorriso de sempre.

— Boa noite. Você está linda. — Ele estende um lindo buquê de


rosas.
— São lindas. Obrigada. — Dou um beijo de leve em seus lábios.
— Está pronta? — Pergunta assim que dou passagem para ele
entrar.

— Sim, vou só pegar minha bolsa. — Vou no quarto, pego a bolsa e


então saímos. Mesmo eu sendo uma mulher já formada, estudada e bem
financeiramente, eu estou com a mão trêmula. Eu não acho certo falar para
seus pais que o bebê é dele, mesmo eu sabendo que o verdadeiro pai nunca
vai lhe conhecer, eu não quero inventar um falso pai para meu bebê, falsos
avós. Eu quero poder lhe ensinar as coisas certas, e coisas certas nunca serão
certas começando com mentiras.
— O que aconteceu? Está tão calada. — Pergunta pondo a mão em
minha perna.

— Não quero que fale que o bebê é seu. — Henry olha para mim
rapidamente.
— Já conversamos sobre isso. — Percebi que ele ficou chateado.

— Henry, eu não acho certo falar para seus pais que eles vão ter um
neto, sendo que não é o mesmo sangue deles. Eles merecem saber a verdade.
— Falo pegando sua mão.
— Isa, eu já me comprometi. Esse bebê é meu e se por acaso o
progenitor aparecer, eu ponho ele no lugar e mando ele se ferrar. — Sorrio
com seu comentário e a cara que ele fez.

— Ok, mas depois você vai arcar com as consequências. — Falo


dando por encerrado o assunto.
Em pouco tempo chegamos na casa de seus pais.

— Até que enfim vocês estão juntos. — A mãe de Henry fala me


abraçando.
— Mãe, já chega, assim vai parecer que nunca trouxe uma
namorada aqui. — Henry parece ficar constrangido com a felicidade da mãe
em me ver com ele.

— Boa noite, senhora Benet. Como está? — Pergunto, lhe dando


dois beijos no rosto.
— Ah, por favor, me chame apenas de Elisabete. — Henry passa a
mão pela minha cintura e me guia para a sala de visitas.

— Boa noite, senhor Benet. — Cumprimento seu pai, que está com
um copo de whisky na mão.
— Boa noite, Isabelly. Fiquei feliz em saber que nos faria
companhia hoje. — Ele sorri, e seus olhos vão de encontro à minha barriga.

— Se acomode, querida, daqui a pouco o jantar será servido. —


Elisabete fala sorrindo. Eu e Henry nos sentamos, e ele engatou uma
conversa com o pai, que, por sinal, não tirava os olhos da minha barriga.
O som da campainha fez eco na casa. Elisabete se prontifica a abrir
a porta de imediato, e os rostos familiares me fazem ficar trêmula. Como
eles estão aqui?

— Boa noite, família. — O ser que eu desconheço o nome fala,


abraçado a ninguém menos que Emily, minha irmã.
— Isa, o que faz aqui? — Pergunta vindo até onde estou, ainda
sentada e tentando entender o que está acontecendo. — Isa, está tudo bem?
— Minha irmã pergunta pegando em meu braço.

Depois de alguns minutos ouço a voz do homem, cujo filho que


estou esperando é dele.
— O que essa mulher faz aqui? — Saio do transe que me
encontrava.

— De onde você conhece esse cara? — Pergunto para a minha irmã,


que está bem à minha frente.
— Como assim? — Pergunta olhando para ele.

— Eu é quem pergunto o que você faz aqui. Foi a senhora que


chamou ele, mãe? — Henry pergunta com raiva.
— Vocês todos querem calar a boca? — O pai de Henry finalmente
se pronuncia.

— Primeiro, Henrique, o que você está fazendo aqui? — Ele


pergunta parando no meio da sala.
— Eu quero saber o que essa mulher faz aqui? — Henrique
pergunta apontando para mim.

— Eu lhe fiz uma pergunta. Me responda.


— Aqui é a casa dos meus pais. Eu não posso vir aqui? — Seu
sarcasmo ecoa pela sala.

— Pelo que eu sei, sua mãe pediu que não viesse aqui hoje, pois o
Henry estaria aqui. — Ele fala.
— Agora eu quero saber o que essa mulher faz aqui. — A atenção
recai em mim mais uma vez.

— Essa é minha namorada. E de onde conhece ela? — Henry


pergunta para o irmão, que logo dá uma gargalhada.

— Sua o quê? Está de brincadeira. Você gosta mesmo dos Benet não
é mesmo, sua vadia?! — Assim que ele termina de pronunciar, vejo o Henry
ir para cima dele.

Todos tentamos apartar a briga, mas não estávamos conseguindo,


até que a mãe de Henry grita e, por incrível que pareça, eles pararam.
— Já chega dessa palhaçada, vocês não são mais crianças! Henry,
levanta daí. Henrique, peça desculpas à moça. — Ela passa a mão na testa
parecendo bem nervosa.

— Não vou pedir desculpas a ninguém. — Henrique fala. Olho para


a minha irmã, que está perdida, sem reação alguma quanto a tudo isso. Pelo
visto temos o dedo podre.
Pego a minha bolsa e saio da casa sem falar com ninguém, minha
cabeça está estourando. Como isso foi acontecer? De tantos homens no
mundo, eu fiquei com o irmão do meu chefe, que agora é meu namorado e
ainda por cima ele está com a minha irmã. Droga! Isso é tão confuso, eu não
estou entendendo nada.

"Isabelly!" Ouço a voz de Henry, mas não paro de caminhar. Quero


sair o mais rápido possível daqui. Quero apenas a minha cama e esquecer
desse dia catastrófico. — sa, por favor fala comigo! — Henry segura em
meu braço, e então eu paro de caminhar.

— Eu só quero ir embora. Não tenho coragem de entrar lá e encarar


sua família, seus pais. Falo, já sentindo algumas lágrimas escorrerem.

— O meu irmão é um tremendo idiota. Nós dois não estamos muito


bem, e ele aca… — Eu o interrompo.
— Ele é o progenitor do bebê. — Falo, deixando-o em choque.

— Espera, você falou o que? — Pergunta passando a mão na testa.


— Ele é o pai do bebê que estou esperando! — Falo mais uma vez e
então as lágrimas vêm com força.

Até queria pedir desculpas por todo o constrangimento, mas antes


que eu falasse mais alguma coisa, Henry sai de perto de mim e vai em
direção à casa de seus pais.
Capítulo 15

Minha cabeça está a mil por hora. De tantos outros homens que
existem na cidade, a mulher que eu amo vai engravidar logo do desgraçado
do meu irmão? Caminho a passos largos para dentro da casa dos meus pais
novamente, e assim que adentro a casa vejo o rosto do infeliz.

— Henry, já chega. Ele já está de saída. — Minha mãe fala, mas


não dou atenção. A moça que estava com ele já não está mais. Pelo que
ouvi na discussão, ela é irmã da Isa.

Não falo nada, apenas me aproximo dele, que me olha com


atenção.

— Não chegue perto dela. Se eu sonhar que você pelo menos falou
com ela eu mato você. — Pego a chave do meu carro, que está numa
mesinha, e saio da casa dos meus pais. Procuro a Isa, mas não acho ela.
Tento ligar algumas vezes, mas ela também não atende.

— Droga. — Esbravejo.
Tentei achá- la, mas foi em vão. Não estava em casa, não estava em
nenhum dos outros lugares que procurei. Voltei para casa frustrado, eu
deveria ter ficado com ela ao invés de ir falar com aquele crápula. Como
meus pais colocaram alguém tão sem caráter como ele no mundo?
Passei a noite deixando recado na sua caixa postal, mas foi em vão.
Ela não atendeu nenhuma das minhas ligações, não retornou minhas
mensagens, não deu nenhum sinal de que estava bem, e isso estava me
matando.
Isabelly

Assim que eu vi ele se afastar, meu coração doeu. Eu tive a certeza


que não daria certo nada entre nós dois. Como isso aconteceu? Eu
engravidei do irmão dele.

Juntei forças de Deus sabe onde e caminhei. Assim que consegui


cruzar os grandes portões da casa de seus pais eu avistei um táxi. Eu sabia
aonde deveria ir, eu tinha que resolver tudo isso enquanto dava tempo. Falei
o endereço para o taxista e em pouco tempo chegamos ao local. Vi as
ligações de Henry, mas não atendi nenhuma e também não respondi suas
mensagens. Eu quero resolver tudo e me livrar de todos esses problemas.

— Eu gostaria de ver o senhor e a senhora Blanc, por favor. Sou


filha deles. — A recepcionista procura no computador.

— Eles estão no restaurante. — Comunica, e então me dirijo ao


restaurante.

O local está pouco movimentado, e logo avisto os dois. Caminho


devagar até onde eles estão, mas antes que eu chegue lá, sinto meu braço
ser puxado lentamente. Viro e vejo minha irmã.

— Vamos conversar? — Ela pergunta, e faço que sim com a


cabeça.

Subimos para o décimo andar, e, em todo o tempo que ficamos no


elevador, o silêncio se fez presente. Assim que chegamos e as portas se
abriram, ela caminhou até uma porta e abriu a mesma com o cartão.

— O que foi aquilo? — Pergunta assim que entramos.


— Eu que pergunto. Posso saber o que você fazia com aquele
idiota? — Questiono cruzando os braços.

— Eu perguntei primeiro. — Emi arqueia a sobrancelha, ela


sempre faz isso.

— Estou namorando o Henry, ou estava até hoje de manhã. — Ela


vem até onde estou e me abraça.

— Eu estava com saudade de você, irmã, e eu não estou


namorando o Henrique. Ele não serve para namorar. Mas me conte sobre
essa barriga. — Se ela não está namorando ele, por que estaria com ele?

— Como assim, não estão namorando? — Pergunto, e ela sorri.

— Conheci ele há um mês. Às vezes venho aqui a passeio e, como


eu sei que você é muito ocupada, não vou te procurar, então fui a uma boate
e acabei conhecendo ele. De lá para cá nós damos uns amassos de vez em
quando. — Ela fala sorrindo.

— Se eu lhe falar que estou grávida dele e que ele não quis assumir
o filho você ficaria com raiva de mim? — Falo tudo de uma vez, pegando-a
de surpresa.
— Wou! Calma que eu me perdi na parte que está grávida dele!
Mas você não está namorando o Henry, que, por sinal, é bem mais gato? E
onde fica o Richard nessa história? Seria bem engraçado se não fosse
trágico.

— Nossa! Você desenterrou o Richard. — Brinco.

— Como isso aconteceu? Você sempre se cuidou! Mamãe e papai


sabem dessa parte? — Ela vai até o pequeno frigobar e pega um vinho.
— Não. A mamãe e o papai não sabem que o bebê não é do Henry,
e o Richard foi embora. Aquele relacionamento deveria ter acabado assim
que começou. — Passei a noite contando tudo que aconteceu, como
engravidei daquele idiota, como meu relacionamento com o Henry
começou e tudo que aconteceu de lá para cá.

Emi bebeu bastante vinho enquanto eu fiquei no suco natural que


ela pediu para mim. Colocamos todos os assuntos em dia, e ela me pediu
para não contar que o bebê não é do Henry para os nossos pais. Eles
ficaram felizes em saber que meu bebê terá um pai tão responsável e
bom… Meus pais nunca se meteram em meus relacionamentos. Qualquer
pessoa que me fizesse feliz e me fosse fiel para eles era o necessário, mas
eu não estou bem com isso. Eu quero contar a verdade e quero que eles me
apoiem da mesma forma.

No dia seguinte meu celular estava congestionado de tantas


mensagens e ligações do Henry. Eu não queria ouvir ele dizer que não me
queria mais. Eu queria me trancar no meu mundinho.

Saio do quarto enquanto ela ainda está dormindo e me dirijo até a


frente do hotel, onde pego um táxi e vou para minha casa. Passo pela
entrada do condomínio e cumprimento o porteiro, ele assente e logo pega o
celular. Vou para o elevador e aperto o numero do meu andar.

A água fria vai de encontro ao meu corpo, que logo se arrepia. Me


sento no azulejo e deixo a água levar todos os meus pensamentos, tanto os
bons quanto os ruins. A água quente começa escorrer no meu rosto, até
cheguei pensar que poderia ter mudado, mas não, isso são lágrimas. Eu
percebi que eu amo o Henry e talvez seja tarde, pois depois de saber que
estou grávida de seu irmão, eu temo que ele não queira mais estar comigo.
Capítulo 16

— Você não precisa estar aqui. — A irmã da Isa fala enquanto eu


me sento no sofá. Passo a mão nos cabelos, frustrado com toda essa situação.

Assim que ela chegou o porteiro me ligou, então vim para cá.
Encontrei a irmã dela na porta, ela não abriu, então conversei com o porteiro
que, por saber da nossa relação e por ver minha cara de preocupado, abriu a
porta, com o argumento de que se ele for demitido eu darei um trabalho para
ele. Assim que entramos eu vim para seu quarto. Ela estava deitada no chão
do banheiro com o chuveiro ligado. Seu corpo estava frio, então peguei ela
no colo e a levei para cama, liguei o aquecedor e deixei ela dormindo. Sua
irmã a todo tempo me questionou o porquê de eu estar ali, mas não falei
nada. Estou com a cabeça a mil, não dormi, passei a noite preocupado com
ela, e depois de vê-la daquela forma descobri que eu tenho realmente
motivos para estar preocupado.
— Já pode ir embora. — Ela fala sentando no outro sofá, de frente
para mim.

— Qual o seu problema? — Pergunto, já com raiva.


— Por enquanto? Você. — Fala, me deixando ainda mais
estressado.

— Posso ir embora então, mas eu só vou depois que a Isa pedir.


Ela fica calada por um tempo.

— O que pretende fazer? — Emilly pergunta, me pegando de


surpresa. Eu sei do que ela está falando, mas também não sei o que fazer.
Mesmo eu amando ela a ponto de querer assumir seu bebe, agora é diferente,
pois o pai do bebe é meu irmão. Droga! Como isso foi acontecer?
— Eu não sei. — Ela parece não gostar da minha resposta, mas a
única coisa que eu quero agora é ver a Isabelly bem. Droga. Por que ela saiu
daquela forma? Me deixou perdido, não atendeu minhas ligações, não
retornou minhas mensagens.

— Henry. — Ouço a voz dela e me viro rapidamente.


— O que faz fora da cama? — Levanto rapidamente do sofá e vou
até onde ela está.

— O que houve? Como entrou aqui?


— Isso não importa agora. Venha, você ainda está fria. Vou te
colocar na cama e depois fazer algo para você comer. — Levo ela
novamente para o quarto e depois volto para a cozinha. Começo a preparar
uma sopa enquanto sua irmã me olha atenta. — Você pode parar de me
encarar. Quer ajudar em algo ou apenas ficar tentando me decifrar? — Falo
enquanto corto os legumes.
— Acho que você realmente gosta dela. — Emilly pega as cenouras
e começa a cortá-las.

— O que quer dizer com isso? E por que estava com meu irmão? —
Pergunto, e ela sorri.
— Seu irmão é bom de cama, só isso. Ele me levou lá só para dizer
para a família que estava com alguém, mas não imaginava que iria encontrar
a Bell lá. — Suspiro.

Terminei de cortar os legumes em total silêncio. Eu estava tentando


digerir toda a situação, procurando uma forma de encarar todos os fatos sem
surtar.
Assim que a sopa ficou pronta, a coloquei em um prato fundo, fiz
um chá de erva doce e levei para ela. A mesma estava encarando o teto, e a
essa altura sua irmã já não estava mais aqui. Ela disse que tinha um
compromisso e saiu.

— Não precisava. — Isa diz assim que deposito a bandeja na cama.


— Claro que precisa. Está grávida. Não pode ficar sem se alimentar
direito. — Sento na cama, e então ela começa a comer. Eu estou curioso,
quero saber o que ela pretende fazer agora quanto a tudo isso, mas tenho
receio que fique com raiva e me mande embora de uma vez da sua vida. Foi
difícil Isabelly me aceitar, não quero perder ela agora.

— Está pensativo, posso saber o que é? — Isa está me olhando.


— Não é nada demais. — Minto.

— Eu sei sobre o que está pensando, então é melhor falar logo do


que ficarmos assim. Você não tem que ficar do meu lado. — Ela fala e, nesse
momento, tudo que eu estava disposto a guardar vem de uma vez. Levanto
da cama e passo a mão nos cabelos.

— Esse é o problema: Você não se esforça para ficar comigo. Eu


não me importo que esteja grávida, eu não sou machista. Eu não me importo
que seja do crápula do meu irmão, até porque ele nunca vai assumir uma
criança. Eu não me importo com quem você seja, seu status, seu nome, eu
me importo com você. Porque desde que você foi trabalhar para mim eu amo
você, porém você estava em um relacionamento. Eu só quero estar contigo,
mas você não dá a mínima para isso, e às vezes isso me magoa em uma
proporção tão grande que você é incapaz de saber. Por que você não quer
estar comigo? — Me sinto aliviado por falar tudo que estava com vontade,
mas, por um lado, isso me doeu, porque eu consegui perceber que ela não
quer estar comigo. Esse desabafo me fez enxergar que ela não me quer.
Isabelly estava prestes a falar, mas eu não quis ouvir. Eu só queria sair,
queria refrescar a minha mente.
Saí do apartamento dela e segui para o rio Tâmisa, tirei meus
sapatos e então me sentei na areia. Estava um dia nublado, e eu só queria
poder esquecer o que sinto por ela, mas é um sentimento que dói, um
sentimento que eu não sei explicar.

Passei não sei quanto tempo sentado, apenas olhando a água.


Amanhã tenho uma viagem para o Brasil, e eu iria convidar ela para ir
comigo assim que saíssemos da casa dos meus pais, porém tudo aconteceu
tão rápido, e agora eu preciso mesmo ir para o Brasil para esquecer um
pouco disso tudo.
Voltei para casa, arrumei minhas malas e então liguei para meu
piloto particular, que já está preparando o Jatinho para irmos ainda hoje.
Conversei com meu pai para ficar na empresa para mim, já que não tenho
previsão para quando vou voltar. Quero conhecer os lugares em que ainda
não fui, quero poder viver a vida que não vivo desde que eu tomei conta dos
negócios da família. Eu preciso viver, preciso me sentir vivo e, talvez,
amado por alguém algum dia.
Capítulo 17

Vejo ele cruzar a porta do meu quarto sem eu poder fazer nada. Eu
não queria ofendê-lo, eu queria poder ter dito o quanto eu o amo, mas
sempre falo coisas que não são adequadas para aquele momento. Eu me
sinto insegura.

Ligo para Henry. Quero poder pedir desculpas, porém o mesmo não
atende. Converso com minha irmã, que me dá a maior bronca. Depois de um
tempo ela chega e deita comigo, e me aninho em seus braços enquanto ela
passa a mão em meus cabelos. Falo como começou meu relacionamento com
ele, que eu o amo, mas sou insegura, que não consigo demonstrar o que
sinto, e então ela me dá conselhos.

Pego no sono enquanto ela conversa comigo.


Acordo de manhã um pouco indisposta, mas sei que tenho que ir
trabalhar. Eu quero poder conversar com Henry, me explicar e dizer o quanto
eu lhe amo.
Visto um vestido preto e um blazer nude, coloco meu scarpin nude
também e passo um perfume que Henry disse que ama quando eu uso. Eu
havia diminuído o uso dele por causa das náuseas. Passo uma maquiagem
leve e um batom vermelho, solto os cabelos e então pego minha bolsa e saio
de casa. Entro no carro confiante de que hoje nós dois vamos nos entender.
Vamos poder esquecer tudo isso e tocar nossa vida em frente.

Assim que chego na empresa cumprimento os funcionários. Eles


todos me cumprimentam de volta, e vou para o elevador e dou uma ajeitada
no cabelo, retoco o batom e arrumo o vestido em meu corpo. A barriga já
demonstra que não estou mais sozinha e que em meu corpo batem dois
corações. Chego no andar da presidência e vou direto para a sala do Henry,
bato na porta e, antes que ele responda eu entro, mas tomo um susto quando
vejo o pai dele sentado na cadeira.
— Bom dia, senhorita Blanc. Deseja algo? — Ele pergunta.

— É... Bom, eu... Eu vim repassar a agenda do Henry. — Falo, na


busca com meus olhos para encontrar o mesmo.

— O Henry não está, ele teve uma viagem de negócios. Mas eu não
me lembro de nada marcado para hoje.

— É... Bom, o senhor sabe que horas ele volta? — Pergunto com
dificuldade.
— Eu sei que não será hoje, talvez nem amanhã. Não sei que dia ou
até mesmo em que mês ele volta. — Isso me deixou aflita, e a minha
insegurança voltou, muito forte, por sinal.

— É... Ok, qualquer coisa que o senhor precise, eu vou estar logo
ali, na outra sala. — Saio da sala sem falar mais nada. Ele nem sequer me
disse que iria viajar, não fez um esforço em me escutar. Suas palavras ainda
ecoam em minha mente, que eu não me esforço para estar com ele, e,
pensando bem, realmente ele sempre se esforçou para me ter em sua vida, e
eu nunca movi um dedo. No primeiro obstáculo eu não soube como agir e o
fiz na minha própria estupidez. Eu sou uma estúpida! E se ele conhecer
alguém na viagem? Pelo visto ele não tem data para voltar. Como seu pai
disse, pode ser amanhã ou até mesmo daqui a meses. Será que tudo isso foi
por minha causa?

Resolvo voltar para a sala dele, que agora é de seu pai. Bato
novamente na porta, e então ele manda eu entrar.

— Senhorita Blanc. — Ele fala para que eu possa me pronunciar.

— Eu quero minha demissão. – Falo, e então ele larga o papel que


está em suas mãos e suspira.
— Ok. Posso saber o por quê? — Ele levanta e fica de frente a sua
mesa.

— O senhor sabe o porque. — Falo, e então ele arqueia a


sobrancelha.
— Explique. Eu não sei e também não sou adivinho, senhorita. —
Dou alguns passos à frente.

— Olha, senhor Benet, eu sou uma profissional. Não pense que essa
cara carrancuda me intimida porque não intimida. O senhor sabe que estou
grávida do seu filho Henrique e estou namorando seu filho Henry, ou estava,
até aquele momento em sua casa. Eu não estou com tempo para brincadeiras,
para ficar zangada e etc, eu apenas quero que assine minha demissão. —
Falo, e então ele suspira novamente.
— Sabe, senhorita Blanc, você entrou em detalhes muito pessoais, e
não, eu não sabia que estava grávida de Henrique, o que foi um erro muito
grande. E erro maior seria se sua irmã continuasse com ele. Eu sei quem é
meu filho, eu criei ele, mas ele nunca foi um terço do homem que Henry é, e
se ele sabe que está grávida de outro homem e mesmo assim ele aceitou
você, então ele com certeza não aceitaria essa demissão por esse motivo.
Henry só viajou para uma reunião, então não precipite as coisas. Ele ama
você, ele ter levado você na nossa casa significa que ele encontrou a pessoa
para preencher seu vazio. — Estava prestes a chorar na frente dele, mas
segurei as lágrimas. Eu não faria isso.

— Obrigada, eu... No final do dia eu decido o que fazer da vida. —


Saio da sala e vou para a minha. Chegando lá derramei as lágrimas, lavei
minha alma. No final do dia, o que eu tive foi apenas uma cara inchada e
nada mais, porque não decidi porcaria nenhuma.
Cheguei em casa, tomei um banho, olhei minha secretária eletrônica
e não tinha nada.

Ouço a campainha tocar e logo vou atender, me surpreendendo


quando vejo ele parado na porta.
— Boa noite. — Ele sorri, mas não tem nenhum brilho nesse olhar.
Por mais que eles dois se pareçam, ele não tem o brilho do Henry.

— O que você quer e como descobriu meu endereço? — Pergunto, e


então ele entra na minha casa, mesmo sem ser convidado.
— Quero conversar, conhecer a mãe do meu filho. — Ele fala com
tom de superioridade.

— Como tem certeza que é seu filho? Não fizemos nenhum teste de
paternidade. — Ele senta no sofá e põe os pés na mesinha de centro.
— Eu sei que você não é dessas. Eu li seu histórico, acho que
conheço você melhor que você mesma. — Ele fala, e então eu me sento na
poltrona que fica de frente para ele.

— Não, você não me conhece. Você nunca vai me conhecer e, para


falar a verdade, nem ao meu bebê. Eu quero você fora da minha casa e da
minha vida. Eu errei quando eu transei com você, errei quando deixei você
colocar esse pênis minúsculo e nojento em mim. — Me levanto, já alterada.
— Agora saia da minha casa e nunca mais me procure, e nem ouse dizer que
esse bebê é seu, porque não é. E se for preciso eu vou pedir medidas
protetivas contra você, agora saia e não volte a me procurar nunca mais! —
Grito as últimas frases. Ele sai com um sorriso debochado no rosto, mas
assim que atravessa a porta ele para e me olha
— Esse bastardo não vai nascer com vida. Ele não terá o sobrenome
Benet, e quanto ao Henry, ele vai se tocar que você não vale nada. — Meu
sangue ferve, e sinto uma energia negativa passar por todo o meu corpo.

— VAI EMBORA! — Grito, e então ele se vai, cantarolando uma


música.
Tranco a porta rapidamente, as lágrimas teimam em cair. Tento me
acalmar, mas sinto meu coração acelerar. Suas palavras estão em minha
cabeça a todo vapor, me sinto suja por ter ficado com ele.
Capítulo 18

A viagem estava tranquila até eu receber um e-mail. O sobrenome


Blanc apareceu frequentemente na minha caixa de spam, e assim que li os
primeiros, achando ser da Isa, me deparei com o medo de que algo ruim
poderia acontecer.

— Fred, prepare o jato o mais rápido possível. Preciso estar em


casa ainda hoje. — Falo para o meu piloto particular.

— Sim senhor, só preciso abastecer e ver como está o tempo. —


Ele desliga, mas para falar a verdade eu não estou me importando com o
mau tempo. Apenas quero saber o que está acontecendo.

Horas depois estamos chegando em Londres. Assim que


desembarco, meu motorista já está à minha espera, dou todas as
coordenadas para ele e então seguimos caminho. Em todo o momento fiquei
imaginando o que pode ter acontecido e porque só fui informado agora.

Assim que cheguei de frente ao prédio que a Isa mora, todas as


lembranças vieram mais fortes que antes, pois foram duas semanas sem ver
ela e sem ter nenhum tipo de contato. Eu precisei desse tempo, mas agora,
saber que ela não está bem, e eu nem sei se o motivo fui eu, me deixou
arrasado. Posso dizer que estou me sentindo um lixo por isso.

— Boa tarde. — Cumprimento o porteiro.


— Boa tarde, estava sumido. — Ele fala alegre.

— Tratando de negócios. — Falo ajeitando meu blazer.

— Veio ver a dona Isa? — Pergunta, e faço que sim com a cabeça.
Entro no elevador e aperto o botão da cobertura, em pouco tempo
chego no andar de seu apartamento, caminho a passos curtos até a porta e
toco a campainha um pouco receoso. Logo a porta é aberta, mas me
surpreendo quando vejo a mãe dela a me atender.

— Henry! — Ela fala surpresa.

— Senhora Blanc, como está? — Ela me aperta num abraço forte.

— Entre, me conte como foi a viagem. Está tudo bem? —


Pergunta, me dando passagem para entrar.

— É... Bom, foi tudo bem. Eu recebi um e-mail da Emilly. Eu...


Onde está a Isabelly? — Pergunto, e então ela desmancha o pequeno
sorriso. Será que aconteceu algo grave? — Ela está bem. Certo? Por que
está com essa cara? — O desespero está tomando conta de todo o meu
corpo.

— Calma, ela está bem, está deitada. Estamos monitorando ela. —


Fala a senhora Blanc, indo para a cozinha.

— Como assim “monitorando ela”? — Pergunto acompanhando a


mesma.

— É melhor você conversar com ela. Pode entrar no quarto, Isa


está lá. — Deixo de segui-la e vou para o quarto. Isa esta deitada com os
olhos fechados, mas assim que adentro o local, cuja porta estava aberta, ela
abre os olhos.

— O que faz aqui. — Ela pergunta sentando na cama, mas a cara


que fez não foi nada boa, o que me deixou preocupado.

— O que houve? — Pergunto, me aproximando para ajudá-la a


sentar.
— Nada demais. — Ela aceita segurar minha mão para sentar.

— Se não fosse nada demais, não estaria com dificuldade para


sentar. — Vejo sua respiração ficar desregulada e então percebo que ela está
chorando. A única coisa que fui capaz de fazer naquele momento foi
aninhá-la em meus braços e pensar porque eu fui embora. — Me perdoe. Eu
estou aqui e jamais vou abandonar você, Isa. — Falo lhe afagando em meu
corpo.

— Meu bebê, estou correndo o risco de perder meu bebê. —


Explica, entre os soluços e com a fala cortada.

Deixo ela chorar. Eu quero saber tudo, quero estar ao seu lado e
poder dizer que vai dar tudo certo, que esse bebê vai chegar cheio de saúde,
mas também quero deixar ela desabafar. Então fico apenas ali, sentindo seu
coração acelerado, a respiração desregulada e os soluços constantes. Depois
de um bom tempo ela se acalma, então deito Isa novamente e me deito ao
seu lado. Ela então começa a falar.

— Eu tive um sangramento, fui para o hospital e descobri que eu


tive um descolamento na placenta. Eu tenho que repousar, ficar o mais
quieta possível para meu bebê não morrer. — Ela diz, secando uma lágrima
que teima em cair.

Ponho a minha mão em sua barriga, o que faz ela sorrir entre a
lágrima.

— Nosso bebê. Não pense que eu esqueci. Ele virá cheio de saúde
e vai alegrar nossa vida. Mesmo que não estejamos juntos, ele ou ela
sempre será nosso bebê. — Dou um beijo em sua testa.
— Então com isso você quer dizer que não estamos mais juntos?
— Ela pergunta, me pegando desprevenido.
— Eu... Bom, você tem que descansar. Fique quietinha deitada. —
Estava prestes a levantar, mas ela segura meu braço. Olho para seus olhos,
que ainda estão marejados.

— Eu amo você, por mais insegura que eu seja. Por mais que eu
não lute por nós dois, eu amo você. Se quiser terminar o que temos eu vou
aceitar, porém não me iluda com falsas palavras. — Não digo nada, apenas
saio de seu quarto.

— Já está indo, querido? — A mãe da Isa pergunta assim que cruzo


o corredor.

— Sim, tenho alguns negócios inacabados. — Cheguei no hall do


prédio, então o porteiro olha para mim.

— Como está a senhorita Blanc?

— Ela está bem. — Digo e me dirijo para fora, mas antes que eu
chegue ele fala novamente.

— Eu só vi ela no dia que esteve aqui na segunda. Depois ela foi


para o hospital, e depois disso não vi mais. Eu estava preocupado com ela,
mas não tenho coragem de ir lá ver como ela está. — Fiquei pensando no
que ele disse sobre eu ter vindo na segunda.

— Eu não vim aqui na segunda. — Falo e então me viro para ele.

— Sim, o senhor veio. Teve até um vizinho que reclamou da


discussão de vocês dois. Depois que o senhor saiu, logo veio a irmã dela,
que foi quem chamou a emergência. — Volto e fico de frente para ele.

— Eu estava no Brasil na segunda. Eu não vim aqui. —Ele parece


ficar assustado.
— Mas eu vi o senhor entrar no elevador, depois que ela chegou do
trabalho. Eu tenho certeza que era o senhor! — Ele diz, já aflito.

— Não era eu, mas sei quem era. — Afirmo.

Deixo ele para trás e vou ao encontro de quem eu sei que fez isso.
Ele fez alguma coisa para que isso acontecesse, e dessa vez eu não vou
deixar barato.
Capítulo 19

Depois que o Henrique saiu, senti minhas pernas fraquejarem. Eu


senti algo escorrer em minhas pernas e sabia que não era nada bom e nem
normal. Estou com três meses de gestação, então com certeza aquilo não era
nada bom. Corri até meu celular e liguei para a Emilly.
Ela em pouco tempo chegou. Eu estava deitada no chão sentindo
cólica, e ela logo ligou para o pronto socorro. A minha ginecologista disse
que eu tive uma ruptura na placenta e um começo de aborto, mas graças a
Deus não perdi o bebe, então agora tenho que ter todo o cuidado. Fiquei no
soro a noite toda e no outro dia a minha mãe chegou, então depois desse dia
ela não foi mais embora. Desde o acontecido que ela não sai da minha casa,
não posso falar que estou achando ruim porque, para falar a verdade, não
estou.

Vejo o Henry sair e já penso logo que realmente ele não me quer.
Você pode ser bonita, rica e ter todas as características consideradas
“importantes” do mundo, mas você nunca será o suficiente se não tiver
autoestima. Sempre tenha ela com você, por mais que seu corpo, seu rosto
ou até mesmo seu cabelo não estejam como você quer. E uma coisa que eu
não tenho há muito tempo é autoestima. Passei dois anos namorando um
cara que sempre falava de trabalho, estudo e academia. Ele nunca me
elogiou, nunca fez nada para eu me sentir melhor, e agora descobri que o pai
do meu bebe é um babaca, que até desejou a morte do próprio filho, se é que
posso chamar aquele crápula de pai.

Ouço o barulho da campainha soar, a voz espantada da minha mãe


me faz levantar, mas com cuidado.
Assim que cheguei na sala, Henry estava lá, sentado, com a camisa
rasgada e ensanguentada, um olho roxo e o lábio cortado.

— O que houve com você? — Me aproximo dele.


— O que você faz fora da cama? — Minha mãe se aproxima com
um pano molhado nas mãos.

— Pega o kit de primeiros socorros no meu banheiro. Eu cuido


desse lutador aqui. — Minha mãe vai pegar o que eu pedi, e então me
encaixo entre suas pernas e levanto seu rosto, que até então estava olhando
para o chão. — Acho que o outro saiu pior, certo? — Nossos olhos se
cruzam por segundos, e me perco na imensidão dos seus olhos azuis. — Não
quero que brigue com seu irmão por minha causa. — Minha mãe chega e me
entrega o kit, o celular dela toca e então ela vai para o quarto.
— Ele teve o que mereceu. — Ele se gaba.

— Eu não quero piorar ainda mais a relação entre vocês dois. —


Molho o algodão com álcool e passo em seu machucado.
— Aii. — Reclama se afastando.
— Não tem o que reclamar. Se não quisesse passar por isso, não
deveria ter ido atrás de briga. — Ele pega o algodão da minha mão e aperta
firme contra o machucado.

— A questão aqui não é essa. Ele mexeu onde não deveria. Ele te
fez mal de alguma forma. Eu sei como ele é, eu conheço ele, Isabelly. —
Fico calada por alguns segundos, as palavras dele vem fortemente na minha
cabeça.
— Henry, está tudo bem, eu e o bebê estamos bem. Nada do que ele
fez ou falou vai me fazer mal. — Tento acalmá-lo, mesmo eu sabendo que
estou dessa forma devido às palavras lançadas contra mim e meu bebê.

— Vamos mudar de assunto, ok? Pode ir deitar, eu vou para casa


tomar um banho e mais tarde eu venho ver como você está. — Ele termina
de se limpar e vai embora, me deixando num vazio enorme. Eu percebi que
necessito da sua presença comigo, então como será se realmente não
tivermos mais nada? O fato de ele ter vindo me ver não quer dizer que
estamos juntos, apenas que ele se preocupa comigo.
— Filha, seu pai já está no aeroporto. — Mamãe fala se
aproximando de mim. — Onde está o Henry? Ele foi atrás do irmão, certo?
— Apenas balanço a cabeça que sim.

Eu expliquei toda a história para a minha mãe. No começo ela


brigou bastante comigo, mas depois me apoiou e xingou o Henrique de todos
os nomes existentes. Ela pediu para não contar nada para o meu papai agora,
mas eu sei que isso nunca acaba bem. Para que esconder algo tão sério? Só
para depois que a verdade vir à tona, e a gente ficar como mentiroso?

— Venha. Fiz uma macarronada para você.


Como um pouco, mas estou preocupada com o Henry. Poxa, eu não
queria que ele e o irmão brigassem por minha culpa. Eu sei que o irmão dele
não vale nada e não estou defendendo ele, mas de toda forma, os dois são do
mesmo sangue.

Depois de comer resolvi tomar um banho. Minha mãe não sai do


meu pé por nada, até quando estou no banheiro ela fica na porta. Termino
meu banho e então vou me vestir, ela continua me acompanhando. Em
pouco tempo ouço o barulho da porta, mamãe vai até lá e pela alegria dela,
sei que foi meu pai que chegou. Faz duas semanas que eles não se viam.
— Ela está bem. Não a encha de perguntas, o que ela quiser ela vai
falar. — Eu já decidi que vou contar a verdade para ele, pois não posso ficar
com isso para o resto da vida. Eu não me perdoaria nunca, pois se tem uma
coisa que eu detesto é mentira. Meu pai não tem que aprovar nada, já faz um
bom tempo que ele não me sustenta mais.
Capítulo 20

Assim que desci do carro, o motorista perguntou se queria que ele


entrasse comigo, mas balancei a cabeça em negação.

Adentro o local, que está vazio, mas vejo alguns garçons limpando
o bar. Vou até onde está um deles e pergunto pelo Henrique. A moça me diz
onde encontro ele e me lança um olhar de sedução, mas não tenho nenhum
interesse. A única mulher que está fixada nos meus pensamentos é a
Isabelly, e é por ela que eu estou aqui. É para ele lembrar que eu mandei ele
não se aproximar dela, porém ele nunca me obedece; paro de frente uma
porta que fica perto do camarote, e o nome ‘administração’ me faz rir. Ele
não sabe nem mesmo administrar a vida dele, e uma boate então? Se não
fosse pelo dinheiro que ele estava desviando da minha conta, isso daqui já
teria se acabado.
Entro sem bater. Sei que poderia ser uma falta de educação, mas se
ele não sabe usar isso com as pessoas, por que eu usaria com ele? O mesmo
está sentado fumando um cigarro enquanto uma loira rebola em seu colo.

— Sai. — Falo, e a mulher logo se vai.

— Ah, você está de brincadeira! Seu empata foda do caralho! —


Ele esbraveja.

— Eu falei para não ir atrás dela. Você tem merda na cabeça ou só


está se achando o machão mesmo? — Ele sorri de canto.
— A vadiazinha já foi te contar? Não vai me dizer que veio embora
da viagem só por causa dela... Ah, mano, que vacilo. Está gamadinho nela.
— Ele sorri alto, o que me dá mais raiva ainda. Ela quase perdeu o bebê por
causa dele.

— Como alguém como você é meu irmão? Faz muito tempo que
me pergunto isso, mas não achei a resposta. — Eu estava prestes a sair e
deixar aquele babaca para trás. Ele não precisa saber que tenho um ponto
fraco e que esse ponto fraco é a Isa.

— Ela é uma vadia. Pode ter o dinheiro que for, pode ser estudada,
ela pode ser uma rainha, a rainha do Henry, mas sempre será uma vadia. —
Ele grita as últimas palavras, o que me dá mais ódio ainda, quando dei por
mim já estava socando ele.

— Você nunca mais ouse chegar perto dela ou eu vou te matar. —


Ele acertou um soco perto da minha boca. Senti o gosto metálico de sangue
e em seguida dei um em seu estômago, o que fez ele cair. Subi em cima
dele e desferi mais alguns socos. Ele desviou de um e me acertou acima do
olho.

Senti mãos me puxarem e, quando consegui recobrar minha


sanidade, percebi que era meu motorista. Ele com certeza sabia que eu
vinha para acerto de contas.

— Aquela vadia é mãe de um filho meu. Não pense que vou deixar
ela de mãos beijadas para você! — Estava prestes a ir para cima dele de
novo, mas o Jonas me segurou forte.

— Eu acabo com a sua raça, seu filho da mãe desgraçado. — Saio


daquele lugar soltando fumaça pelo nariz. Minha camisa está rasgada e com
manchas de sangue, meu punho está machucado, mas tenho certeza que
amanhã ele vai estar bem pior que eu.

Eu queria ter ido para casa, mas resolvi passar na casa da Isa. Eu
sabia que ela ficaria furiosa de me ver dessa forma, mas eu só queria saber
que ela estava bem.

Depois de sair da casa dela eu fui para a minha, tomei um banho e


deitei. Tive que tomar um analgésico porque meu pulso ficou doendo para
caramba. Ouço a empregada protestar e, pela voz, sei que é meu pai.
Levanto da cama e vou até a porta, abro e então dou de cara com os dois no
corredor.

— Pai. — Falo cruzando os braços.

— O que deu na sua cabeça pra bater no seu irmão? — Ele


pergunta, olhando de mim para a minha empregada.

— Pai, o senhor não tem nada a ver com isso. — Falo voltando
para o quarto, ele me acompanha.

— Desde quando meus dois filhos saem no soco e eu não tenho


nada a ver? — Eu só queria descansar. Queria poder resolver todos os meus
problemas e ainda sair com meu juízo perfeito.

— O senhor quer mesmo saber o que aconteceu? — Falo,


aumentando o tom de voz.

— Primeiramente baixe seu tom, seu moleque, para falar comigo.


Está achando que sou quem para vir cantar de galo comigo? — Ele fala
alto.

— Desculpe. — Falo, e então ele passa a mão nos cabelos.


Costume de família.
— Meu filho, eu só tenho vocês dois de homens na família. Sua
irmã mal vem aqui, então será que algum dia eu vou poder ter um jantar de
natal em família? Será que algum dia eu terei esse prazer? — Eu poderia até
sentir remorso, mas o Henrique não dá oportunidade para isso.

— Pai, já pedi para deixar isso para lá. — Falo, e ele balança a
cabeça em negação.

— Henry Benet, se você não se explicar para mim, vai ser para a
sua mãe. E você conhece bem ela, não é mesmo? — O interrogatório com
meu pai é moleza.

— Ele foi na casa da Isabelly. Não sei o que ele fez, mas foi algo
sério, a ponto de deixá-la doente, e ela corre o risco de perder o bebê. —
Falo dando as costas para ele.

— Isso é um assunto que os dois têm que tratar. — Papai fala, e


então me viro para ficar de frente para ele.

— Os dois não. Eu e Henrique. Ele não vai mais chegar perto dela,
eu não quero nem imaginar isso acontecendo e acho melhor o senhor passar
essa informação para aquele crápula. — Falo, já sentindo meu sangue ferver
só de imaginar ele perto dela novamente.

— Henry, se seu irmão for realmente o pai desse bebê, ele tem
direitos. — Eu estou com ódio. Ódio de mim, por ter deixado ela frágil
quando decidi fazer a viagem.

— Pai, Henrique não tem responsabilidade com nada. Acha mesmo


que ele assumirá um bebê? Isso só pode ser piada! — Falo com raiva. —
Quer saber? Se o senhor tem essa opinião toda por ele, então vá o senhor
mesmo perguntar o que ele acha dela. Se pretende cuidar ou até mesmo dar
o nome para o bebê, que ele mesmo denomina como bastardo. — Falo
apontando para a porta.

Meu pai se vai sem falar mais nada. Eu fui criado como um
verdadeiro substituto para o lugar do meu pai, já o Henrique sempre teve
todas as regalias, sempre fez o que quis, saía sem falar nada, e hoje não
passa de um inútil. Não é isso que eu quero para aquele bebê. Não é esse
tipo de influência que eu quero que ele ou ela tenha.
Capítulo 21

Estava prestes a deitar quando a campainha tocou. Mamãe foi atender,


e então pude ouvir a voz do Henry. Meu pai não quis dormir na minha casa,
então ele reservou um quarto no hotel onde os dois sempre se hospedam.

Ele logo adentra o quarto, e seu sorriso faz meu coração errar
algumas batidas. O buquê de rosas em sua mão me faz sorrir igual uma boba
apaixonada e, sim, eu sou apaixonada por ele.

— Boa noite. — Sua voz saiu sensual e apaixonante.


Ele se aproxima de mim e me entrega o buquê de rosas. Sorrio e,
quando vejo, uma lágrima solitária desce de meus olhos. Eu não esperava
que ele fosse vir aqui ainda hoje. Para falar a verdade, eu não esperava que
ele fosse me aceitar depois de tudo que está acontecendo.

Não perco tempo e dou um beijo em seus lábios. Eu quero que ele
veja que eu lhe amo, assim como ele faz questão de dizer que me ama.
— Eu amo você, Henry. Não importa o que eu falo de manhã, à
noite eu sempre vou dizer que te amo. Não importa o meu mau humor, a
minha falta de demonstração, eu quero que você saiba que sempre vou amar
você. — Digo assim que paramos o beijo.

— Eu também amo você. Casa comigo? — As palavras dele


demoram um tempo para ser processadas na minha cabeça.

— Você falou o quê? — Pergunto olhando em seus olhos.

— Falei que também amo você. — Ele fala me segurando pela


cintura.
— A outra parte… — Meu coração está acelerado.

— Você quer casar comigo? — Ele pergunta novamente.


Não sei o que responder, acho tudo muito rápido. Não quero
precipitar as coisas e depois me arrepender das decisões as quais ambos
estamos passando por cima.

— Não... Quer dizer, bom, eu quero casar com você, mas acho
muito cedo para isso. — Henry fica calado por um tempo. Sei que não era
essa a resposta que ele esperava, mas é o que eu tenho para agora. Só não
quero fazer mais besteira do que eu já fiz.
— Ei, eu entendo! Acho que foi precipitado também da minha parte,
eu sei que está passando por muitas coisas ultimamente. — Eu percebi que
ele não gostou, porém eu não vou meter os pés pelas mãos e aceitar. Depois
nós dois podemos não dar certo porque foi uma decisão no calor do
momento. Quando eu engravidei foi por um deslize, eu não me cuidei o
suficiente para evitar, mas agora que eu e ele estamos em um
relacionamento, eu não vou fazer mais tamanha besteira.
Naquela noite ele dormiu comigo. Eu estava bem sonolenta quando
senti sua mão acariciar minha barriga, e pude ouvir ele sussurrar que amava
meu bebê. Ele de fato não é o pai, mas é bem melhor que o mesmo.

Quando acordei ele já não estava mais comigo. Depois de tomar um


banho decidi que estava na hora de sair um pouco de casa. Eu estou de
atestado, mas já não aguento mais estar aqui nesse apartamento.
— Está pensando em ir aonde? — Mamãe pergunta quando me vê
cruzar a porta da cozinha.

— Vou trabalhar um pouco. — Falo, já sabendo o que vem pela


frente.
— De jeito nenhum. Você tem que ficar de repouso! — Ela protesta.

— Mãe, já se passaram duas semanas. Já estou bem melhor, nada de


dor, e vou ficar pouco tempo lá, além de estar sentada. — Pego o suco de
laranja e bebo um pouco, ela me olha em todos os movimentos.
— Não vai comer nada? Vai apenas tomar esse suco? — Ela
pergunta vindo até mim.

— Eu vou levar algumas frutas e pretendo ir almoçar com o Henry


se ele estiver disponível. Ela balança a cabeça em negação, mas, ao contrário
do que pensei, mamãe não diz mais nada.
Saio de casa e vou direto para a empresa. O médico me deu um
atestado de duas semanas e meia, mas já basta de estar em casa.

Chego e cumprimento todos, como de costume, subindo para o


andar da presidência. Assim que passo por as portas do elevador a secretária
substituta me olha. Não sei porque, mas meu santo não se deu bem com o
dela, se é que pode se dizer que ela tem santo.
Vou primeiramente na minha sala, e as coisas estão do mesmo jeito
que deixei há alguns dias atrás, quando estive aqui pela última vez, que foi o
mesmo dia que o Henrique foi na minha casa e disse tudo aquilo para mim.

— Soube que estava aqui, então vim conferir se está tudo bem. —
Dulce, uma das advogadas da empresa fala. Eu nunca fui muito de sair com
amigas devido ao fato de namorar, mas sempre conversamos muito. Ela
começou a trabalhar aqui no mesmo ano que eu, e foi bom chegar aqui com
mais uma novata. Ela sempre é calma e uma boa ouvinte.

— Oi! Que saudade que eu estava de você! — Dou um abraço nela.

— Agora pode me dizer o que houve. Só escutei rumores, e sabe


que não gosto de saber das coisas por último. — Sorrio.
Comecei a contar um pouco das coisas que estavam acontecendo
ultimamente na minha vida, e ela se espantava a cada detalhe mais oculto
que eu dava. Eu nunca fui de expor a minha vida assim, mas eu estava
precisando desabafar com alguém, e Dulce veio bem a calhar nesse
momento que estou passando.

Ela foi uma boa conselheira para o que devo fazer nesse momento
da minha vida. Tem certas coisas que não posso contar para a minha mãe,
mesmo ela sendo minha mãe, tipo em como o Henry é bom de cama e como
me satisfaz. Não seria justo com ela ficar com essa impressão de mim, que
tem uma filha insana que gosta bastante de sexo, isso já se pode saber por o
fato de eu estar grávida, mas ela não precisa pensar nisso todas as vezes que
me olhar.
— Obrigada pela conversa. — Falo levando ela até a porta.

Nós nos despedimos com um abraço, olho para a porta de Henry, e a


secretária não está lá, então pego meu celular na sala e vou para a sala dele.
Ela deve estar no banheiro ou coisa do tipo. Antes que eu entrasse na sala
pude ouvir a voz dela, mas o que mais me chocou foi a cena dela saindo do
banheiro da sala dele com a blusa semi aberta. Seus seios estavam quase
pulando do pequeno sutiã preto de renda, ela olha para mim e dá uma leve
mordida no lábio inferior. Logo atrás vejo o Henry com a camisa molhada e
alguns botões abertos, ele olha para mim também, mas eu não tinha nada
para falar com tal cena, aquilo era o bastante para mim.

Saí sem esperar nenhum tipo de desculpas esfarrapadas, só me dei


conta que estava sem bolsa quando eu já estava na garagem. Meu coração
estava a mil. Como ele teve coragem de me pedir em casamento ontem e
hoje estar com a secretária? Eu estava destruída por dentro, só queria chorar
e esquecer aquela cena. Com certeza eles dois estão rindo da minha cara
agora. Minhas chaves também ficaram na sala, então saí da garagem, peguei
um táxi e, quando eu já estava dentro dele, deixei algumas lágrimas rolarem.
Ultimamente é só o que venho fazendo, chorando e me perguntando o
porquê dessas coisas acontecerem comigo.
Capítulo 22

Hoje o dia não está a meu favor. Perdi dois contratos logo pela
manhã, e, para terminar de completar, a Karoline ainda me deu um banho de
café. A mesma pediu várias desculpas.

— Foi um erro meu, senhor Benet. — Ela fala limpando a própria


blusa.

— Tudo bem, senhorita Fernandes, eu estava distraído e não a vi


chegar. — Falo, já impaciente.
Ela sai do banheiro, e eu vou logo em seguida. Lavei minha camisa
e estava começando a abotoar, quando vejo a Isabelly parada próximo à
porta. Seus olhos estavam marejados, e senti o peso em seu olhar. Era como
se eu tivesse lhe ferido de alguma forma, só aí me dou conta que a Karoline
está na minha frente, com a blusa também semi aberta. Antes que eu pudesse
explicar a situação, ela saiu da minha sala. Até tentei acompanhá-la, mas não
consegui. O elevador já tinha se fechado, e não conseguiria chegar lá
embaixo pelas escadas, pois iria demorar muito tempo. Eu estava me
recriminando.

Assim que cheguei a minha sala ela ainda estava lá dentro.


— Eu juro que não... — Não lhe dei chances para falar.

— Saia agora da minha sala, cancele todos os meus compromissos e


não me dirija a palavra hoje. — Karoline parecia estar petrificada no lugar.
— Agora! — Gritei.
Eu não sou um chefe ruim, não sou de gritar ou descontar raiva em
funcionários, mas hoje ela já fez muito por um dia. Perdi dois contratos
importantes pelo fato de ela ter perdido o meu projeto de apresentação.

Respirei fundo e sai logo em seguida. Tenho que tentar encontrar a


Isa, ela precisa me escutar.
Assim que saí da minha sala a Karoline tentou falar comigo, mas eu
não estava a fim de escutar quaisquer que fossem suas desculpas. De alguma
forma, nós dois demos a entender que tivemos alguma coisa, e agora tenho
que resolver as coisas com a Isabelly.

Peguei o carro e saí. Eu não tinha um rumo certo para ir, não sabia
por onde procurar ela. Fui até sua casa, porém a senhora Blanc disse que ela
não apareceu depois que saiu para trabalhar. Eu estava preocupado, estava
com raiva, queria poder explicar tudo para Isa, mas não achei ela em lugar
algum.
Eu estava parado no sinal, com mil e uma coisas na cabeça. Queria
entender o porque ela não esperou para mim explicar, já foi tirando
conclusões precipitadas. Tirei o pé da embreagem, acelerei o carro, e ouvi a
buzina de outro veículo. Assim que olhei para meu lado vi um carro se
aproximando. Eu sabia o que ia acontecer, não pude desviar, e a única coisa
que pensei foi na Isa.

Isabelly
Eu já chorei bastante. Eu não queria ter me apaixonado dessa forma
por ele, mas, sim, eu me apaixonei. Agora estou aqui, grávida do irmão dele,
enquanto Henry estava com a secretária. Eu nunca gostei dela, mas não
tenho o que fazer agora. Estava indo para casa quando vi a ambulância com
as sirenes ligadas, assim que o taxista parou no sinal vi o carro ser retirado
do local, e o desespero tomou conta de mim. Eu conheço esse carro, até
porque o único que tem o adesivo da empresa é o carro dele.

— Para o carro, por favor. — Falo para o taxista.


Desci rapidamente. Tentei me aproximar, mas os policiais não
deixaram, então entrei novamente no carro e pedi para seguir para o hospital.
Se realmente fosse ele, eu iria lhe encontrar. Meu celular tocou, olhei e era
um número desconhecido

— Alô. — Falei com a voz entrecortada.


— Senhorita Blanc? — Uma voz masculina pergunta.

— Sim, sou eu mesma. — Falo com um aperto no peito.


— Seu número está salvo como contato de emergência do senhor
Henry Benet. Ele sofreu um acidente e está no Hospital Real de Londres. A
senhorita tem algum parentesco com ele?

Falo que sim e já estou a caminho. Talvez seus pais ainda não
estejam sabendo, e por que meu número está como contato de emergência?
Chego em pouco tempo, adentro o lugar e, assim que estou lá, a
recepcionista fala o nome dele. Ela me explica que ele está em cirurgia,
então me sento na sala de espera. Vejo sua mãe vir na minha direção, me
levanto para falar com ela e assim que ela chega próxima a mim, sou pega de
surpresa por um tapa no rosto. Ouvi o som da sua mão em mim e fiquei com
o rosto virado, ainda tentando entender o que estava acontecendo.

— Elisabete, está ficando louca? — O senhor Benet fala.


— Ela trouxe todas essas desgraças para nossa família! Nossos
filhos não podem se ver que estão se matando, e agora meu filho sofreu um
acidente porque ela deu um piti e saiu sem escutar ele! — Ela fala enquanto
eu estou apenas escutando, algumas lágrimas teimam em cair. — Saia daqui,
não quero ver você perto do meu filho. Se esse bebê realmente for do
Henrique, nós iremos arcar com tudo, mas agora eu só quero que vá embora.
Sai de perto dos meus filhos, pois você já fez o suficiente! — Ela dá as
costas para mim.

— Eu não preciso do dinheiro de vocês. Não estava com seu filho


por dinheiro e também não engravidei do Henrique por dinheiro. Eu mereço
um mínimo de respeito, eu vou embora sim, mas a senhora irá se arrepender
por esse tapa que me deu. — Pego minha bolsa e saio da sala de espera. O
vento me faz pensar em tudo que aconteceu hoje, sento em um dos bancos e
deixo as lágrimas descerem. Minha respiração fica entrecortada por causa do
choro forte, e me sinto destruída, não fisicamente, mas sim mentalmente. Por
que tem acontecido tanta coisa ruim comigo ultimamente?
Sinto uma mão nas minhas costas, levanto a cabeça e vejo o
Henrique me olhando, então levanto rapidamente para me afastar

— Está tudo bem? — Ele pergunta.


— Não precisa me falar mais nada, já estou de saída. — Arrumo
minha bolsa no ombro.

— Calma! Não precisa ficar assim, eu não vou lhe fazer mal. — Os
hematomas em seu rosto ainda são visíveis.
— Eu preciso ir. — Digo me afastando.

— Deixe-me levar você na sua casa. — Ele sugere. Eu não estou em


condições de pegar um táxi agora, mas me lembro de suas palavras contra
meu bebê, então eu não quero proximidade com ele.
— Não, obrigada, eu estou bem. Sua mãe está precisando mais de
você. — Saio andando rápido. Sei que ele está me seguindo, mas faço de
conta que não.

— Para de bobagem e me deixe levar você. — Ele fala, e então me


viro para olhar em seu rosto.
— Eu não preciso de você! Quero que se afaste de mim e do meu
bebê, sua presença não fará bem para nós dois. — Falo com raiva ao lembrar
que ele proferiu palavras perversas contra um pequeno ser que cresce dentro
de mim.
Capítulo 23

— Você não tinha o direito de bater nela. Se o Henry souber disso,


talvez fique até sem falar com você, Elisabete. — Meu esposo fala me
encarando.

— Se o Henry pelo menos sobreviver, não é? E tudo por causa dela!


Eu não consigo perdoá-la. Nossos filhos não podem se encontrar que estão
brigando. — Falo em meio às lágrimas. Já faz duas horas que estamos
esperando notícias, não posso entrar na sala de cirurgia porque não é
permitido familiares presenciarem os procedimentos.

— O Cristóvão está cuidando dele, amor. Vai ficar tudo bem. —


Cristóvão é um velho amigo da família, ele também é médico e está
cuidando do meu filho.

Horas se passaram, eu já estava com o rosto vermelho de tanto


chorar, rezei e pedi a Deus para cuidar do meu filho, que está em Suas Mãos
agora.
— Elisabete, George. — Doutor Cristóvão fala parando próximo a
nós, olho rapidamente para ele.

— Como está nosso filho? — George pergunta, indo até ele.


— Ele passou por uma longa cirurgia. — Ele começa a falar, mas se
interrompe.

— Vá direto ao ponto. Eu sou cirurgiã, então não enrole. — Falo


abraçando meu esposo.
— Ele fraturou duas costelas, o que resultou uma perfuração no
baço. Retiramos o órgão perfurado, mas ele teve outras lesões. Fraturou
também a perna esquerda e, bem... Agora ele está bem. Ainda está sedado
para que o corpo tenha o descanso necessário. — George fala, mas não sei se
posso ficar totalmente aliviada por isso.

— Você sabe que sou médica de traumas, então pode me explicar


tudo que aconteceu com meu filho lá dentro. — Falo secando as lágrimas.
— Elisabete, já chega. O que importa é que nosso filho está bem. —
George fala.

— Eu sei que tem mais alguma coisa acontecendo. Eu quero saber o


que pode acontecer com meu filho quando ele acordar. Quero poder dizer
para ele que vai ficar tudo bem, mas para isso eu preciso saber de tudo que
aconteceu. — Falo, e meu esposo se afasta.
— Henry teve duas paradas cardíacas, mas ele está bem, Elisabete.
Não precisa se preocupar. — Ele diz, e só aí me sinto aliviada.

— Quando posso vê-lo? — Pergunto, e então meu marido se


aproxima novamente.
— Ele já está no quarto. Podem ir, só não demorem muito, pois ele
precisa de repouso. — Seguimos ele até o quarto em que Henry está. Assim
que cruzo a porta o choro vem com força, então abraço meu esposo, que me
afaga em seus braços. Nunca imaginei ver meu filho nessa situação. Seu
rosto está com alguns arranhões, a cabeça está enfaixada e a perna
engessada.

Me aproximo devagar. Estou com medo de pegar em sua mão e isso


lhe causar dor. Só queria poder segurar ele no colo como eu fazia
antigamente, cantar uma canção de ninar e dizer que vai ficar tudo bem,
dizer o quanto eu amo meu menino.
— Olha como está nosso filho querido. Por que logo com ele? Por
que com o meu filho? — Ponho a mão no rosto, já sentindo as lágrimas
escorrendo.

— Ele está bem, Elisabete. Logo ele estará na nossa casa e tudo
ficará bem. — Ele se aproxima de Henry e segura em sua mão. — Seja forte,
Henry. Nós precisamos de você, filho. Nós te amamos. — Meu esposo sai do
quarto com os olhos cheios de lágrimas. Eu sei que os dois brigam, mas sei
também que um sente orgulho do outro. Eu me orgulho do filho que criamos.
Ficamos pouco tempo devido ao fato de ele ainda estar sedado,
como o doutor Cristóvão explicou. Ao sair dei de cara com Henrique, que
estava entrando no hospital. Na hora me deu vontade de xingá-lo; depois de
horas que estamos aqui, ele vem chegar agora.

— Onde esteve? — Pergunto arrumando a bolsa no ombro.


— Resolvendo alguns problemas. — Fala, não dando a mínima para
a situação.
— Você sabe que seu irmão está lá dentro, certo? Uma perna
quebrada, sem o baço, fraturas nas costelas, cheio de hematomas, e você
estava resolvendo problemas? — Falo, já com raiva e sarcasmo ao mesmo
tempo.

— Queria que eu fizesse o que, mãe? A médica da família é a


senhora. — Ele fala apontando para mim. Assim como mais cedo, não vi a
hora que minha mão foi parar em seu rosto, mas senti a palma da mão
queimar. Ele mereceu, assim como a Isabelly. Quem ele pensa que é para
falar de tal forma comigo?
— Aliviou sua dor? — Ele pergunta, e então sai pelo mesmo lugar
que entrou.

— Vamos, antes que você faça o mesmo comigo. — George fala


saindo na frente.
Não quis jantar. Queria apenas voltar para a infância dos meus
filhos, onde eles brincavam e dividiam as coisas um com o outro. O
Henrique é o mais velho, depois vem o Henry e, por último, minha menina.
Era tão lindo ver eles brincarem e na escola defenderem um ao outro, mas
hoje em dia eu tenho que ligar para um não vir quando o outro está. É
doloroso isso para uma mãe.
Capítulo 24

— Deixe-me levar você em casa. — Ele fala próximo a mim.

— Não força, tá? Por favor, eu não quero nenhum tipo de contato
com você. — Falo para o ser que não largou do meu pé.

— Dá para entrar na droga do carro? Eu não vou tocar em você, só


quero que chegue em casa bem com o nosso filho! — Sorrio alto com o
comentário.
— Nosso filho uma ova! Você denominou meu bebê como bastardo,
agora ele é seu filho? Por favor, não é, Henrique?! Saia do meu caminho que
estou indo embora. — Consigo acenar para um táxi que para próximo a
mim, adentro, e logo em seguida o embuste entra também.

— Já que não quer ir comigo, eu vou com você. — Ele adentra o


carro. O caminho foi em total silêncio, e estávamos próximo ao prédio onde
moro quando ele falou.
— Desculpa se lhe fiz mal, só não estava preparado para ser pai. —
Fico calada por alguns minutos.

— Eu também não estava preparada, mas nem por isso eu quis fazer
mal para o bebê. Você falou palavras que jamais irão voltar atrás; não quero
que meu bebê tenha nenhum tipo de contato com você. — O carro para no
meu endereço, pago o motorista e saio do carro. Desta vez ele não me
acompanha, e eu agradeço mentalmente.
Assim que cruzo a porta do meu apartamento, minha mãe vem me
abraçar. Só aí me dou conta do quanto estava precisando desse abraço.

— Tudo culpa minha. — Falo aos prantos.


— De forma alguma, meu amor. Se isso aconteceu foi porque iria
acontecer de toda forma, ou agora ou depois. Não se culpe. — Ela me abraça
ainda mais forte.

Passei o restante do dia deitada. Eu não sabia se ele estava mesmo


com aquela mulher, ou se foi uma atitude sem pensar. Se foi um equívoco
meu ou coisa da minha cabeça, mas eu sabia que o remorso estava forte em
mim. Eu só queria poder voltar horas atrás e deixá-lo falar. Talvez seria mais
fácil. Henry poderia ter me dito que não me queria mais, que estava
apaixonado por ela, sei lá.

Pego o celular e ligo para a Alice. Ela talvez esteja sabendo de algo
sobre como ele está.

— Isa, como você está?


Começo a chorar assim que ouço sua voz.

— Está me deixando preocupada. — Ela fala, então crio forças para


perguntar.
— Como ele está?

— Não temos muita informação, mas o que soubemos é que ele está
fora de perigo. Henry está estável. — Me sinto mais aliviada em saber que
ele está fora de perigo.
— Obrigada.

— Olha, não quero te deixar pior, mas eu te digo de certeza que ele
não estava com aquela lambisgoia. Ele ama você. — Ela fala convicta.

— Como soube?

— A Ruby veio aqui e fez o maior escândalo, chegou até a bater


nela. A mesma disse que você não merece o amor que ele sente por você,
então juntamos uma coisa com a outra e descobrimos o que aconteceu. Ela
fez uma cena para você achar que ele estava tendo alguma coisa com ela. —
Tento assimilar tudo, mas minha cabeça está muito confusa agora.
— Obrigada, amiga. Depois nós conversamos, pois estou cansada e
confusa. — Nós nos despedimos, e então respiro mais aliviada. Só de ele
estar bem já me deixa feliz.

Ouço a voz do meu pai na sala, e, pelo tom, sei que vem bomba.
Saio do quarto e vou ao encontro de sua voz alterada.
— O que houve, papai? — Pergunto me aproximando.

— Pode me explicar o que foi isso? — Ele joga um jornal nos meus
pés. Na capa está a minha foto e da mãe de Henry no momento que ela me
dá o tapa.

Na manchete fala que sou uma das razões por ele ter sofrido o
acidente, que estamos em um relacionamento no qual estou grávida de seu
irmão. E também que a mãe, desolada com todos os acontecimentos, se viu
no direito de pedir que a senhorita Isabelly Blanc se afaste dos filhos.

— Pai, eu...
Ele me interrompe

— Eu não esperava isso de você, Isabelly. Da sua irmã poderia ser,


mas de você? Nunca! Mentiu para mim com a cara mais lavada do mundo,
me disse que essa criança era do Henry sendo que na verdade é do irmão
dele, que não vale nada, se mete em brigas e não tem nenhum futuro. — A
esse ponto eu já estava me desmanchando em lágrimas.
— Pai, eu queria ter te contado. — Tento me aproximar, porém ele
se afasta.

— Não se aproxime de mim! — Aquilo me partiu o coração em


uma proporção absurda.
— Pai, por favor. — Digo, ainda tentando me aproximar.

— Lorenzo, para de falar isso! — Minha mãe tenta intervir.


— Não, Isabelly, eu não sou mais seu pai. Uma filha não faria o pai
de besta como você me fez! Sempre sonhei em casar você para ser uma
mulher como sua mãe, mas, ao contrário, você se tornou uma qualquer, que
não pode ver um homem. Sabe com que cara vou olhar para as pessoas,
meus sócios, meu amigos de longas datas, a quem sempre elogiei você? Essa
criança a qual carrega sentirá vergonha da mãe. Eu não deixarei nada do que
é meu para você, nem para essa criança. — A mágoa em seus olhos me
fuzila.

— Sempre foi sobre isso, pai. Sempre seus negócios e suas parcerias
foram mais importantes, sempre colocou a mamãe em escanteio, deixava ela
com nós para ir a jantares, com mulheres mais novas ao redor, minha mãe
sempre soube de tudo e aceitou porque foi uma boa submissa, enquanto ela
cuidava de nós quatro. Até que chegou o ponto de Cristiano morrer de uma
pneumonia, e foi aí que você começou a cuidar de nós, foi aí que viu que a
família era importante. Eu em nenhum momento lhe pedi para cuidar do meu
bebê, se quer me virar as costas tudo bem, mas não faça isso como um
homem de bem, um homem que sempre pôs a família em primeiro lugar.
Então, senhor Lorenzo Blanc, pode sair da minha casa, a qual eu comprei e
paguei com meu trabalho.

Eu sei que toquei no ponto mais fraco que ele poderia ter, mas foi
difícil controlar. Cristiano morreu aos nove meses; nunca tocamos no
assunto, eu, como filha mais velha, sempre soube de tudo, mas nunca falei
nada porque mamãe sempre ficava triste ao ver suas fotos. Até que chegou o
ponto dela jogar fora todas as lembranças dele, e só depois que ele morreu
que meu pai começou a dar atenção para nós.
Ele sai, enquanto minha mãe chora atrás de mim. Eu sei que magoei
ela com as minhas palavras, sei que foi duro de ouvir tudo que falei, mas eu
também não estava pronta para ouvir tudo que ele me disse. Meu coração
está doendo, e me sinto um lixo, mas eu tenho que ter forças para seguir
minha vida, cuidar do meu bebê.

— Se quiser ir com ele, eu entendo, mamãe. — Falo, ainda sem


olhar para ela.
Sinto suas mãos me rodearem.

— Eu jamais abandonaria você. — Ela fala, então me viro e dou um


beijo em sua testa.
Capítulo 25

— Eu não quero ela perto do meu filho.

— Você não pode afastar ela dele. E quando ele acordar e perguntar
por ela? Você vai mentir, dizer que ela não esteve aqui?

— Irei fazer isso com o maior prazer do mundo.

Eu sei que estão falando de mim, só não estou entendendo sobre o


que estão falando, e meu corpo todo dói.

Flashs me vem à mente, sobre o carro batendo do meu lado. Ainda


vi o veículo capotar, mas naquele momento eu só queria ver a Isabelly,
queria me explicar e até mesmo insistir para ela casar comigo.

Abro os olhos devagar. A luz me faz apertar os mesmos com força,


alguns sons de dores saíram da minha boca.
— Filho… — Sinto as mãos de minha mãe no meu braço, onde
também sinto uma dor intensa. Gemo de dor, e ela logo tira a mão.

— Vou chamar o doutor Cristóvão. — A voz do meu pai ecoa pelo


quarto.
— Vamos aplicar uma dose de morfina e mais sedativos. Ele vai
dormir por mais um tempo, e as dores diminuirão.

George

Nunca senti tanto medo como senti ao ver meu filho todo
machucado. Pensei que ele não iria voltar com vida para nós. Henry está
conosco, e só tenho a agradecer por Deus ter salvo a vida dele.
O doutor Cristóvão aplica mais remédio nele, o que faz o mesmo
dormir por mais um tempo

— Vou pegar um café. Quer alguma coisa? — Pergunto à minha


esposa, que nega com a cabeça.
Sei que ela foi longe demais com a Isabelly. Elisabete não tinha o
direito de ter batido nela, porém ela é mãe e está passando por um momento
difícil.

Assim que chego à cafeteria, pego meu celular e ligo para a Ruby.

— Bom dia, senhor Benet.

— Bom dia, Ruby. Por favor, passe o número da Isabelly para mim.

— Senhor, se for para brigar com ela, eu não...


A interrompi.
— Não é nada disso, só passe o numero para mim. — Desligo o
celular, e logo chega um e-mail com o número.

— Alô. — A voz um pouco fraca soa pelo fone.


— Isabelly, George Benet. — Falo pegando o café.

— Bom dia, senhor Benet. Está tudo bem? Aconteceu algo com o
Henry? — A voz do outro lado já começa a se alterar.
— Ele está bem. Liguei para dizer que ele acordou, porém estava
sentindo muita dor, e então o doutor tornou a dar medicação para ele dormir.

Eu sei que ela ama ele, assim como ele também está apaixonado por
ela. Henry nunca foi de falar de sentimentos comigo ou até mesmo com sua
mãe, mas basta olhar para ele que o seu sentimento por Isabelly reflete em
seus olhos, e, no que depender de mim, eles ficarão juntos.

— Obrigada. — Ela fala com a voz mais calma.

— Esta noite iremos para casa. Elisabete está cansada, sabe? Precisa
dormir uma boa noite de sono, comer algo para se sentir mais forte. A
Doutora Letícia é uma grande amiga e sabe guardar segredos obscuros, então
já sabe: se precisar de uma médica pela noite, ela estará de plantão. Até
mais. — Desligo o celular assim que vejo Elisabete se aproximar.
— Estava ao telefone? — Pergunta me olhando.

— Desmarcando compromissos do Henry. — Minto. — Falei com a


Gisele para preparar algo para nós jantarmos. Estamos precisando de um
tempo.

— E quem ficará com Henry?

— A Doutora Letícia, ela estará o tempo todo com ele. Sabe que ela
sempre gostou de nossos filhos. Lembra quando Henrique deu catapora? Ela
ficou por dias cuidando dele na nossa casa. — Relembro.

— Verdade, ela sempre esteve com eles. Eu vou sim para casa
descansar um pouco e amanhã cedo estarei aqui novamente. — Ela fala com
um meio sorriso.
E assim fizemos, às cinco da tarde fomos para casa. Já tinha
conversado com a Gisele para fazer um jantar bem caprichado para
Elisabete, e ela dormiu às nove da noite. Sei que estava cansada, porque dois
dias dormindo no hospital não é brincadeira.

Isabelly

— Acho melhor não ir. — Mamãe fala quando me aproximo da


porta.
— Eu preciso, mãe, não só por mim, mas pelo Lucas também. —
Ontem fiz a ultrassom e descobri que é um menino.

Eu já tinha pensado nos nomes: se fosse menina seria Cecília; se


fosse menino, Lucas. Quando o pai do Henry me ligou eu achei que seria
uma notícia ruim, mas pelo contrário. Ele acordou, então eu preciso ir lá
falar para ele, mesmo que quando Henry acorde não queira me ver mais,
diga que não me quer mais em sua vida, eu vou aceitar. Mas agora eu só
preciso saber que ele está bem.
Capítulo 26

Chego ao hospital e adentro o local, minha última vez aqui não foi das
melhores.

— Boa noite, gostaria de ver a doutora Letícia. — A recepcionista


procura ela e logo me informa.

— Ela está no segundo andar. Pode ir lá, que a outra moça te


indicará onde encontrar ela. — A mesma fala, e então vou à procura da
doutora.
Espero o elevador chegar e então vou para o segundo andar. Minhas
mãos estão suadas, estou com o famoso frio na barriga.

— Olá, boa noite. Poderia me informar onde encontro a doutora


Letícia? — Pergunto para a outra recepcionista.

— Sim, só um minutinho. — Ela procura no computador por alguns


minutos e então olha para mim. — Ela está fazendo as rondas, mas daqui a
pouco estará aqui.

— Posso esperar por ela aqui? — A mulher faz que sim com a
cabeça.
Fico longos minutos ali, caminho de um lado para o outro e até a
mania que eu já tive de roer as unhas voltou. Até meus quinze anos eu
sempre roí as unhas, depois de algumas sessões de terapia me curei desse
mal, mas depois do acidente do Henry e da briga com meu pai, que agora já
não é mais meu pai, a mania voltou, e estou com os nervos à flor da pele.
Faço de tudo para não chorar perto da minha mãe, já que ela também está
enfrentando problemas. Eu não queria causar desavenças entre ela e papai,
mas ele tocou em pontos meus que eu não soube controlar, e nem pensei o
quanto aquelas palavras poderiam ferir minha mãe. Ela, que sempre sofreu
com os comentários maldosos de algumas conhecidas, famosas fofoqueiras,
que conheciam bem meu pai. Algumas — casadas — chegaram a ter casos
com ele, mas ela aguentou firme, e hoje por minha causa eles estão
separados.

— Já terminei minhas rondas. Pode ficar de olho no paciente do


leito cinco, por favor? Ele está com a saturação baixa, qualquer coisa me
avise.
— Doutora, aquela moça está à sua procura. — Olho para a doutora,
e ela então se aproxima de mim.

— Está à minha procura? — Pergunta sorrindo.


— Boa noite. Me chamo Isabelly, o senhor Benet pediu para mim
falar com você. — Ela dá um sorriso de lado e então balança a cabeça.

— Me acompanhe, por favor. — Faço o que ela pediu.


Nos aproximamos de um quarto, bem maior que os outros e cheio
de flores, e na cama está Henry. Alguns aparelhos estão ligados a ele, aquele
som me faz querer chorar.

— Como ele está? — Me aproximo dele, a pele mais branca do que


o normal, talvez pelos dias sem pegar sol.
— Está se recuperando bem, mas hoje não poderá falar com ele. O
mesmo estava muito agitado, chamou seu nome várias vezes, então tivemos
que sedá-lo. — Algumas lágrimas teimam em cair. Pego em sua mão e levo
até meu lábios, dou um beijo leve. Queria poder dizer o quanto me
arrependo de não tê-lo escutado, de ter feito ele sair da empresa à minha
procura. — Vou deixar você um pouco com ele. — Ela sai, e então me sento
ao seu lado.

— Oi, Henry. Nossa! Como eu queria que essa conversa fosse com
nós dois olhando um para o outro. O Lucas está perfeito e já começou a
pular. Me desculpa, mas eu pedi demissão. Não tinha mais porque eu
continuar lá na empresa; eu descobri que a Karoline queria me fazer pensar
que vocês tinham algo, e ela conseguiu. Te peço perdão por isso. — Me
levanto e dou um beijo em seus lábios e outro em sua testa. — Os dias com
você foram maravilhosos, e eu vou sempre te amar, mas agora a única coisa
que posso fazer é me afastar. Não venha me procurar, por favor. — As
lágrimas caíram instantaneamente. Meu coração está dilacerado, mas eu sei
que é o melhor para nós dois.
Caminho até a porta. Cada passo que dou é como se facas
estivessem perfurando meu coração.

— Adeus, Henry. — Saio o mais rápido que consigo. Só quero me


afastar, quero poder tentar consertar meu coração, que está doendo demais.
Jamais senti algo tão forte, a ponto de me destruir assim.
Capítulo 27

— Filha, para onde você vai assim? — Mamãe pergunta quando me


vê fazendo as malas.
— Mamãe, eu vou passar um tempo na fazenda de uma amiga. A
senhora não chegou a conhecê-la, mas está tudo bem. Eu estou bem, só
preciso me afastar. — Falo, pegando mais algumas peças de roupa.

— E suas consultas? O Lucas ainda precisa de todo cuidado. — Ela


fala pegando em meu braço.
— Está tudo bem, mãe. Vou continuar fazendo acompanhamento, só
preciso sair daqui. Vou deixar o endereço para a senhora, mas não diga a
ninguém. E quero que me prometa que irá ser feliz. Se for de sua vontade irá
procurar o papai, e se não for, vai procurar todas as maneiras de ser feliz.
Pode ficar aqui o tempo que quiser. — Ela me puxa para um abraço. Estou
sendo forte e não choro mais em sua frente, muitas vezes minha banheira e
meu chuveiro são meus confidentes. Mas agora eu sei que o melhor será me
afastar, ficar focada em coisas que me dão paz, e a natureza é o melhor lugar
onde eu a encontrarei novamente para a minha vida.

— Só quero sua felicidade, minha bonequinha.

Henry

Hoje estarei indo para casa. Ainda vou precisar fazer fisioterapia na
perna, mas fora isso estou bem melhor. Senti falta da Isa, mas talvez ela
esteja trabalhando e ainda não teve tempo de vir me ver.

— Está pronto, filho? — Meu pai pergunta cruzando a porta.


— Já faz dois dias que espero por isso. — Na verdade, desde o dia
que acordei que quero ir embora, mas, como estou com uma perna quebrada
e algumas costelas fraturadas, não pude ir antes. — Pai, onde está a Isa? —
Pergunto assim que ele me ajuda a ir para a cadeira de rodas.

— Eu não… — Mamãe chega, e então ele não fala mais.

Percebo um clima chato. Algo está acontecendo, e eu não sei o que


é.

Já estávamos a caminho de casa. Meu pai e minha mãe mal estavam


se olhando, peguei o celular novo que pedi à minha mãe para comprar,
coloquei o chip e então tentei por diversas vezes falar com a Isa, mas só dava
caixa postal. Como o clima já estava bastante chato, resolvi deixar para falar
com ela quando estivesse em casa.
— Para onde estamos indo? — Pergunto, não vendo a rota da minha
casa.
— Estamos indo para nossa casa, filho. — Mamãe fala
naturalmente.

— De forma alguma que vou ficar lá! Pode me levar para minha
casa. — Esbravejo.
— Mas, filho, você ficará mais confortável lá em casa. — Ela tenta
argumentar, mas só de imaginar ver o Henrique todos os dias… não daria
certo nunca.

— Por favor, não sou mais uma criança. Eu tenho minha casa e é
para lá que vou. — Eles finalmente me ouvem e dão a volta no carro. Assim
que chegamos fui recebido por todos os meus funcionários na porta. Todos
me cumprimentaram e ficaram felizes por eu estar bem.
Montaram um quarto para mim no meu escritório. Depois de
algumas horas finalmente me deitei, peguei meu celular e liguei para Ruby

— Alô.
— Ruby? Sou eu, Henry.

— Que felicidade falar com o senhor! Como está a recuperação? —


Sua voz de felicidade me faz ficar ainda mais feliz por saber que tem pessoas
que gostam de mim.
— Preciso ter notícias da Isabelly. Ela está trabalhando? — O
celular fica mudo, nada sai do outro lado, e começo a ficar apreensivo. Será
que aconteceu alguma coisa com ela que eu não sei?

— Senhor, ela pediu demissão há alguns dias. — Depois de longos


minutos, ela finalmente fala.
— Como assim? Quem assinou os papéis para ela? — A aflição já
tomou conta de mim.
— Aqui está uma loucura ultimamente. Toda a sua família vem aqui
resolver coisas, então não sei quem foi. — Ela fala parecendo preocupada.

— Peça para o RH me mandar tudo. Quero todos os documentos


que ela assinou. Desligo o celular e jogo o mesmo na cama com raiva. Ela
realmente me deixou? Eu não tive nem tempo de explicar o que aconteceu,
então por que ela fez isso? Será que todas as declarações que eu fiz não
foram suficientes para Isabelly ver o quanto eu a amo?
Pouco tempo depois chegou mensagem no meu celular. Olhei o e-
mail e tinha o nome da empresa, abri e vi os documentos em que ela assinou
sua demissão, mas o que me chamou a atenção foram as assinaturas da
minha mãe nos papéis.

— Mãe! — Chamei, e ela em pouco tempo adentrou o quarto.


— Está sentindo alguma coisa? — O tom de preocupação em sua
voz faz pensar em

como vou abordar esse assunto.


— Pode me dar notícias da Isabelly? Como ela está se virando na
empresa? — Pergunto calmamente para ver o que ela me diz.

— Bom, ela... Ela está indo bem. Não está tendo tempo de vir lhe
ver, mas sei que ela está com saudade e que irá lhe perdoar pelo acontecido.
Como minha mãe sabe o que aconteceu é a pergunta que não quer
calar? Por que ela está mentindo para mim, sendo que ela mesmo assinou os
papéis da demissão? E ainda tem a parte burocrática dela sair grávida da
empresa.

Minha cabeça já está doendo de tanto criar teorias, mas não vou
abordar ela agora. Quero apenas tentar entender tudo para poder tomar
alguma providência.
Capítulo 28

Já faz mais de duas semanas que não tenho nenhuma notícia da Isa,
talvez ela já arranjou outra pessoa. Pelo que minha mãe falou, ela nem veio
me visitar. Hoje tenho uma consulta com a doutora Letícia, e já está no dia
de tirar o gesso da minha perna. Eu até poderia dizer que estou dando pulos
de alegria, mas isso seria uma grande mentira.

Meu motorista estaciona o carro e então vem me ajudar a descer, e


logo o enfermeiro aparece com uma cadeira de rodas. Me sento devagar
nela, ele então segue caminho, e até que foi legal. Ele conversou bastante e
estava bem animado pelo seu time de futebol ter ganhado na noite passada.

— Cara, não acredito que não torce para nenhum time! — Ele fala
entrando no elevador.
— Nunca tive muito tempo para isso. Quando não estava estudando,
estava acompanhando meu pai em viagens de negócios e na empresa. —
Falo lembrando da minha vida, que não foi a de uma criança normal, só que
hoje eu tenho que agradecer por meu pai ter me feito o homem que sou.
Talvez se eles tivessem puxado as rédeas do Henrique ele não seria tão
irresponsável.

— Me desculpe falar, mas sua vida foi muito chata. — Sorrio com o
comentário.
Pouco tempo depois o elevador se abre, ele segue para a sala da
doutora e então dá duas batidas na porta.

— Seu convidado VIP chegou. — Ele fala quando entramos na sala.

— Oi, amor. — A doutora Letícia fala e depois dá um beijo no


rapaz.

— Se quiserem licença eu posso sair. — Eles sorriem, e ela vem me


cumprimentar.
O rapaz se vai, e então ela começa a me atender, explicando tudo
que vou ter que fazer depois da retirada do gesso. Isso inclui fisioterapia, que
achei a pior parte, mas tenho que fazer.

— E como está aquela sua namorada? — Ela pergunta quando


começa a cortar a faixa.
— Namorada? — Fico confuso.

— Ela veio aqui quando estava dormindo, só que depois não a vi


mais. Ela está grávida, não é? — Me perco em suas palavras. Mamãe disse
que ela não veio aqui, e eu não me lembro dela ter vindo, mas eu fiquei um
bom tempo sedado.
— Ela veio aqui? — Consigo formular algumas palavras.

— Sim, ela veio. Você tinha acordado nesse dia, mas quando ela
esteve aqui você estava bastante agitado, chamou o nome Isabelly várias
vezes. — Ela continua conversando, e minha cabeça só para na minha mãe.
Será que tudo que ela fala eu tenho que duvidar? Agora já não basta ela ter
dito que a Isa pediu demissão, sendo que ela mesmo assinou os papéis.
— Quando foi isso, que dia, que hora? — As perguntas vem
rápidas, só quero saber quando ela esteve aqui.

Ela para o que está fazendo e olha para mim.


— Henry, o que está acontecendo? — Ela pergunta olhando nos
meus olhos.

Teve um tempo que nós dois começamos a namorar, namoro de


criança, mas eu gostava bastante dela. Letícia é três anos mais velha que eu,
e depois de um dia lá em casa ela resolveu terminar. Depois de adulto eu não
considerava aquilo um namoro de verdade, mas eu gostei muito dela, porém,
de alguma forma acabou, e ela não soube me explicar, mas eu confio nela
para falar sobre isso.
Conto toda a história para ela, do começo do meu relacionamento
até o dia na empresa, que foi como vim parar aqui. Ela fica surpresa a cada
minuto e, quando finalmente falei que a Isa tinha sumido, ela se afasta.

— O que houve? — Pergunto, e ela se vira para mim.


— Sabe, Henry, todos esses anos eu esperei que você conhecesse
realmente sua mãe, mas, pelo visto, só agora está conhecendo ela de
verdade. — Ela fala e depois suspira. Eu sempre vi defeitos em minha mãe,
mas sempre achei normal. Sei lá, ela sempre foi muito protetora.
— Do que está falando? — Pergunto mais confuso.

Ela pega o celular e procura algo nele, então vira a tela do aparelho
para mim, e a foto da minha mãe dando um tapa na Isa me faz perder o chão.
Depois a manchete, que fala que ela estava em um triângulo amoroso entre
mim e o Henrique. Na matéria também fala que o filho que ela espera é do
meu irmão.
— Quando foi isso? — Pergunto, desviando a atenção para Letícia.

— No dia do seu acidente. — Ela pega outra tesoura e volta a fazer


o que estava fazendo antes.
— Foi ela também, não foi? — Pergunto, e ela me olha novamente.

— Sim, mas naquele tempo eu não sabia como dizer. Hoje você já
tem uma opinião mais formada. — Estava me referindo ao término do nosso
namoro.
— Por que não me falou nada? — Pergunto, e ela sorri sarcástica.

— Até parece que teria acreditado em mim. Sua mãe me fez


ameaças, Henry. Eu era uma adolescente de quinze anos, você com treze. É
claro que acreditaria nela. Agora ela se faz de mulher arrependida para mim,
porque eu me formei mesmo sendo bolsista. Se ela me falou coisas horríveis
quando era uma criança, imagina o que falou para aquela moça? — A minha
cabeça está a mil, pois são muitas informações para um dia.

Henrique

A Isabelly sumiu. Ninguém sabe notícias dela, e aquilo estava me


deixando preocupado. Eu realmente estava gostando dela, desde o dia que
fiquei com ela que eu queria mais, porém eu não queria um filho. Não estava
nos meus planos ser pai, e saber que o Henry ama ela me deixou ainda mais
fascinado.

Meu irmão sempre foi o predileto de toda a família, sempre foi o


inteligente, interessado na empresa, ia com o papai nas viagens, enquanto eu
ficava com a mamãe para suas reuniões de dondocas. Eu queria ir com eles,
conhecer os países diferentes, mas, ao contrário de tudo isso, eu ficava preso.
Para ela e Henry terminarem eu tive que pagar a secretária para
fazer um charme para ele. Estava tudo dando certo, só que ele se acidentou.
Eu soltei para uma amiga da imprensa que o bebê é meu, e ela foi atrás de
notícias no hospital, foi onde ela tirou as fotos da mamãe e da Isabelly. Mas
eu não esperei ela publicar aquela nota. Depois disso ainda tentei mostrar
que eu me arrependo e gosto de verdade dela, mas Isabelly sumiu. Não
tivemos mais notícias, Henry não sabe de tudo que aconteceu quando ele
estava internado, e eu conheço a mamãe melhor que ele. Em uma das
viagens que ele fez com o papai, a Letícia, que na época era sua namorada,
foi lá em casa, minha mãe ameaçou ela de várias maneiras. A mesma se
mudou da cidade, pois no tempo ela era bem fraca de condições, e então foi
morar com uma amiga e deixou o Henry. E agora ela é médica do Henry.
Que ironia do destino!
Capítulo 29

Já faz duas semanas que estou na fazenda, se é que pode ser


chamado de fazenda. O lugar é maravilhoso, sem internet, sem contato com
qualquer coisa que seja do mundo virtual. Aqui tem telefone, mas eu não
quero contato com ninguém por enquanto, embora a saudade do Henry seja
constante. Queria saber como ele está, se já está recuperado, se ainda pensa
em mim, mas creio que não seja uma boa ideia me reaproximar dele. Não
depois das coisas que meu pai me falou, não depois do que a mãe dele me
falou.

Eu só preciso me reconectar comigo mesma, eu preciso desse


espaço. Eu sei que não foi justo com o Henry sair daquela forma, mas sei
também que eu tinha me perdido, e a única coisa que eu precisava naquele
momento era me encontrar. Agora estou aproveitando melhor minha
gravidez, aproveitando cada chute que o Lucas dá. Pode ser que ninguém me
perdoe por ter feito isso, mas depois de tudo que aconteceu comigo e com
meu bebê, eu só precisava de espaço para cuidar da gente.

— Deixe-me adivinhar, está pensando nele? — Júlia pergunta,


sentando ao meu lado.
— Também. — Nós duas sorrimos.

Júlia é uma amiga de muitos anos. Ficamos afastadas por um longo


período, ela fez faculdade de medicina, e pouco tempo depois seu pai morreu
de infarto, deixando seus bens para ela por ser filha única. Ela, quando soube
o que eu estava passando, me convidou para passar um tempo aqui. Eu
pensei em recusar, mas depois eu resolvi aceitar. A mãe do Henry me
demitiu e, pelo que eu soube, ela pediu para o RH colocar como se eu tivesse
pedido demissão.
Isso não me afeta. A única coisa que me deixou ainda mais triste foi
o fato de o Henry achar que eu abandonei ele de todas as formas, e isso não
foi bem verdade. No dia que estava prestes a vir, o Henrique me procurou,
pediu desculpas pelo que ele disse e falou que gosta de mim. Claro que eu
não sou tão besta em cair nessa conversa; eu posso até perdoá-lo, mas não
pretendo ter qualquer tipo de relação com o mesmo.

— Vamos conferir o bebê. — Ela está cuidando do meu pré-natal


aqui mesmo, pois já tem tudo equipado, já que tem as funcionárias, e ela
mesma que cuida de todos, o que achei bem profissional da sua parte.
— Vamos sim, só deixa eu levantar. — Nesses últimos dias minha
barriga cresceu mais que o normal. Às vezes acho que vou explodir de tão
enorme que estou.

— Deixe-me te ajudar. — Ela me ajuda a levantar, o que foi muito


bom, pois isso está ficando cansativo. Mas só de saber que meu bebê está tão
bem e saudável, já me deixa em êxtase.

Ela faz ultrassom, e meu bebê está bem, já está até pegando peso.
Meu líquido amniótico está normal, e ele já está todo formado, já estamos na
fase dos pulmões se desenvolverem.
— Não quer mesmo ligar para ele? — Ela sabe como estou aflita,
sabe de meus sentimentos por ele, mas ela sabe também que não podemos
ficar juntos. Às vezes acho que deveria ir para outro país; o Henrique nunca
vai ser um pai para meu filho, e depois de tudo que aconteceu, eu também
não quero a mãe dele como uma avó. Vai ser muito doloroso para minha
mãe, mas não acho que alguém mais sairá prejudicado. Henry pode
facilmente gostar de outra. Devido à forma como eu lhe deixei, não será tão
difícil isso acontecer.

— Não posso trazer ele para a minha vida de cabeça para baixo.
Henry ficará melhor sem mim.

— Ok, não posso obrigar você a fazer nada, mas acho que deveria
pensar melhor sobre tais atitudes. — Minha amiga sai do pequeno
consultório e me deixa a pensar.

Na escola, mesmo eu sendo super rica e consideravelmente bonita,


eu nunca fui a mais popular. Sempre me escondi na biblioteca por não ter
amigas, e foi aí que conheci a Júlia, ela sempre ficava comigo, e ríamos
juntas, isso até a faculdade, quando seguimos rumos diferentes. Nunca fiz
questão de levar ela até minha casa pois papai sempre levou seus negócios
para lá, junto com homens que sempre me olhavam de jeitos esquisitos, o
que às vezes me dava medo.

Papai nunca foi ruim com nós, mas ele nunca foi de brincar ou até
mesmo dar conselhos para os filhos, até que o Cristiano morreu. Foi um
baque para nós, mas isso fez ele dar mais valor à família. Por muitas vezes vi
minha mãe chorar ao ver notícias com ele. Até então eu nunca entendi, mas
quando comecei a prestar atenção, ele estava com acompanhantes de luxo no
lugar de minha mãe. Aquilo me deixou com um certo rancor dele, porém
nunca quis expor isso, até o dia que ele tentou me diminuir como mulher.

Eu vou superar tudo e vou seguir minha vida com o meu filho.
Capítulo 30

Já estou entrando para o último mês de gestação. Não tive notícias de


ninguém, às vezes converso com a mamãe para ela não ficar tão preocupada
comigo, mas todas as vezes peço que ela não me fale nada sobre ele. Ainda
dói muito, dói pensar em como fugi dele. Não foi bonito, mas não tenho
coragem de encará-lo. Já se passaram meses, talvez Henry já esteja com
alguém, e eu fui apenas uma lembrança para ele, ou talvez nem tenha sido
isso, dadas as circunstâncias que saí de sua vida.
— Isa, para com isso. Você deveria deixar de ser orgulhosa e ligar
logo para ele! Poxa, você ama o Henry! — Júlia fala, tentando me tirar da
fossa.
É nisso que estou pensando desde o dia que cheguei. Eu tento ser
forte pelo meu filho, mas às vezes eu não consigo. Eu amo o Henry, e está
doendo tanto esse amor, que eu só queria poder transformá-lo em outra
coisa. Aqui as pessoas já me vêem como da família, e eu também já me sinto
assim. Aqui é maravilhoso, e às vezes estou tão pensativa que me vejo
criando meu filho aqui mesmo, mas sei que uma hora ou outra vou ter que
encarar todos: meus pais, meus irmãos e a família de Henry.

Henry

Já coloquei até detetive para encontrar ela, mas tudo que faço é em
vão. Já não tenho mais paciência com nada. Briguei feio com meus pais e,
mesmo sem querer, eu coloquei um detetive na minha mãe também. Tem
muita coisa mal explicada, muitas mentiras envolvidas, e não consigo mais
confiar nela.

Henrique não parece estar bem. Mesmo nós dois não nos
entendendo, eu sei quando ele está bem e quando está mal.

Ouço batidas na porta, falo um “entre” e logo a Ruby adentra.


— O senhor Pierre está aqui. — Depois de todo o acontecido, eu
demiti a Karoline. A Ruby fez questão de voltar antes da licença acabar, e eu
não pude recusar, porque ela é de confiança. Já tem bastante tempo que ela
está trabalhando para mim.

— Obrigada, Ruby. Pode mandar ele entrar. — Magno Pierre, o


melhor detetive, ele com certeza tem alguma notícia da Isa.
— Bom dia, Henry. — Já tem um tempo que nós conhecemos,
porém nunca precisei dos seus serviços, mas depois de tudo que está
acontecendo eu tive que recorrer a ele.

— Sente-se e me diga que tem boas notícias, já basta eu ter recebido


uma intimação. — Logo quando cheguei à empresa pela manhã, fui
intimado. Estou sendo processado por abuso de incapaz. Uma coisa
totalmente sem cabimento, mas tenho provas suficientes de que nunca
cheguei perto da Karoline para atos sexuais.
— Talvez boas, não sei como reagirá com tudo isso. — Fico um
tanto curioso, minha vida está uma bagunça.

— Achou a Isa? — Pergunto aflito. Desde a fisioterapia, onde


descobri que ela foi me ver, que não paro de pensar nela. Vou achá-la a todo
custo, e eu sei que sua mãe sabe onde ela está, mas ela não me fala. Já tentei
de todas as maneiras e, pelas minhas contas, ela já está prestes a ter o bebê.
— Não, mas descobri quem são seus pais. — Quando ele fala, a
primeira coisa que vem é uma gargalhada tão forte que ecoa pela sala.

— O que é isso? Uma brincadeira? Se não consegue fazer seu


trabalho, então não invente problemas. — Falo alto, mas ele parece não se
importar.
— Não invento coisas, sou um detetive. Não descobri o paradeiro da
senhorita Blanc, porém descobri quem são seus pais e de seu irmão
Henrique. — Olho para ele. Minha vontade mesmo é de matá-lo, mas o
mesmo me estende uma pasta.

Pego o objeto ainda relutante, abro e vejo alguns documentos. As


fotos de um casal com dois bebês chamam minha atenção.
— Esses são o senhor e senhora Clark. Como pode ver, eles têm
dois filhos, um de três anos e outro de dois. Eles sofreram um acidente
pouco tempo depois dessa foto e vieram a óbito. Vocês foram para um lar de
adoção porque não tinham parentes próximos, e o senhor e senhora Benet
adotaram vocês. Sua mãe já tinha sofrido dois abortos, então adotou vocês
dois. — Ele fala, e então fico encarando aquela foto.

Sempre me vi parecido com meus pais, mas agora, olhando para


essa foto, vejo que o Henrique é a cara do homem da foto. Pego alguns
papéis em cima da mesa e vejo o nome dos meus pais. Samanta e Leonardo
Clark, esses eram meus pais?
— Desculpe falar assim para você. Já aconteceu em outros casos,
mas nem sempre teve esse mesmo final. Muitas vezes as crianças crianças
acabam vivendo toda a vida num orfanato, outras entrando para o mundo das
drogas e do crime, e outras acabam sendo adotadas para depois ter seu corpo
vendido, então aproveite que seus pais amam você. De todas as formas, eles
te deram um império. Não fique bravo, não grite e não jogue na cara deles
que você é adotado. Se fizeram isso foi por amor a vocês.

Suas palavras me pegaram de jeito. Eu realmente tenho que


agradecer a eles por isso, só não queria ter descoberto dessa maneira. Seria
tão mais fácil ouvir dos meus pais essa realidade.
Capítulo 31

— Precisamos conversar. — Falo assim que vejo ela descer as escadas.

— O que houve? Vai me xingar, falar o quanto eu sou


inescrupulosa? — Sua voz sai como facas afiadas.

— Olha, mãe, eu poderia fazer isso, mas na verdade quero saber por
que nunca contou para mim e Henrique que somos adotados? — Sua feição
muda rapidamente, de sarcástica para apavorada.
— De onde tirou isso, menino? — Sua voz sai entrecortada.

— Para mim não precisa mentir, eu já sei de tudo. Sei que meus pais
já morreram, eu sei de tudo, mãe. — Falo, e ela tenta se aproximar de mim.
— Eu... Eu posso explicar, meu amor. — Ela se aproxima e me
abraça.
— Pode começar a se explicar então. — Ela se afasta um pouco e
começa a falar.

— Bom, eu sempre tive vontade de ter filhos, mas nunca consegui.


Eu e seu pai passamos muito tempo tentando. — Ela dá uma pausa e suspira.
— Fiz fertilização e não consegui, até que um dia nós dois resolvemos
adotar. Era tão normal fazer isso, apesar da burocracia. Tantas pessoas têm o
sonho de ser pais, mas não é fácil conseguir adotar uma criança. — Ela
começa a andar pela sala. — Nós conseguimos burlar o sistema, e alguns
dias depois vocês apareceram nas nossas vidas. No começo não nos
importamos muito de onde vocês vinham, mas tempos depois um casal
procurou vocês, alegando serem seus tios por parte de pai. Só que já
tínhamos a guarda definitiva de vocês, então, para o casal não entrar na
justiça e corrermos o risco de perder vocês, nós pagamos a eles, e então eles
nunca mais apareceram. — Aquela história cada vez me deixava com mais
raiva. Eles compraram nós dois, como se fôssemos bichos. — Mas eu quero
dizer que amamos vocês e só fizemos isso por amor.

A vontade que tenho é de esquecer tudo isso, me isolar em qualquer


lugar onde ninguém me encontre, assim como a Isa fez.

— Isso não é amor, mãe. Amar não machuca as pessoas, não faz
elas acreditarem em uma mentira. Amar é deixar a pessoa fazer as próprias
escolhas, é se sentir bem vendo a outra pessoa bem, amar é isso. — Falo
pondo as mãos no bolso.
— Henrique teve uma pneumonia logo depois que chegaram, então
cuidamos dele, e depois que vocês ficaram maiores eu não deixava ele ir
viajar porque tinha medo dele passar mal, precisar de sangue ou coisas do
tipo e vocês descobrirem. Eu fiz o meu papel de mãe, eu cuidei de vocês, eu
amei e amo vocês incondicionalmente, e, independente do que você pense,
essa é a minha forma de amar. E se isso te afeta, eu não posso fazer nada. Se
o fato de eu te proteger de namoradas interesseiras te dá raiva, eu não posso
fazer nada. Essa sou eu, Henry, cheia de defeitos. — Ela fala alto.

— Você não tem o direito de se meter nos meus relacionamentos.


Eu sei com quem eu devo ou não me relacionar, isso aqui não é sobre seu
amor incondicional, é sobre a vida de duas pessoas, em que tudo foi uma
mentira. — Caminho entre a sala para tentar me acalmar. À essa altura ela já
está sentada, bebericando uma dose de whisky.
— O meu amor incondicional te manteve bem até hoje. Aquelas
vadias que passaram por sua vida nunca te mereceram. Eu mereço ter meu
filho por completo. — Ela se aproxima, mas me afasto.

— Escuta o que a senhora está dizendo, mãe! Eu não sou sua


propriedade! A senhora não percebe o quanto estou mal por não ter a
Isabelly aqui comigo?

— Ela fez bem em ter sumido, ou eu mesma daria um fim nela. Foi
por culpa dela que você descobriu isso. Essa história estava enterrada, junto
dos seus pais! — Minha mãe grita, e fico olhando para ela. Como a pessoa
que eu mais amei se transformou nesse ser humano?

— Só me fala uma coisa, antes que eu vá embora e não olhe mais


para você. A Mia é sua filha ou você sequestrou ela? Porque, pelas coisas
que me disse hoje nessa sala, eu não duvido que tenha feito algo do tipo.
— Sim, ela é minha filha de sangue. Tive a Mia anos depois e nem
esperava que fosse acontecer, mas ela sempre foi rebelde e decidiu ir
embora. — Quem vê nem imagina que ela fala da filha que ela tanto quis ter
e só conseguiu depois de anos.
— Nossa conversa acabou. Espero que conte para o Henrique a
verdade, pois ele merece saber. — Saio sem mais delongas. Acho que se
ficar mais alguns minutos eu vou passar mal.
Capítulo 32

Eu não esperava que ele descobrisse tudo. Meu coração está doendo
demais por saber que ele não vai me perdoar. Por mais que eu tenha tomado
decisões por meus filhos sem eles saberem, eu os amo mais do que tudo.
Independente de como eu aja, eu sou mãe deles. Vou dar um tempo para
Henry esfriar a cabeça e tentar conversar com ele novamente.

Quando começamos a tentar e eu vi que não conseguiria, busquei


fazer os tratamentos. Fiz de tudo e não consegui, tive dois abortos, e então
eles apareceram na minha vida, o que foi a melhor coisa que aconteceu.
Anos depois eu engravidei da Mia, mas estava com depressão, então não
aproveitei a gestação como eu sonhei. Nem sempre meu marido foi o
homem que é hoje; ele me bateu algumas vezes quando soube que tinha
perdido os bebês, mas meus filhos não precisam passar por esse transtorno
de saber que o pai deles me batia. Algumas vezes ele chegou a trazer
mulheres para dentro da nossa casa. Eu nem sempre fui essa mulher amarga,
o tempo me transformou nessa pessoa. Eu sei que não sou a melhor
companhia ultimamente, mas eu já fui alguém melhor. Eu já fui uma boa
esposa, já fui uma boa mãe, uma boa amiga, mas depois dos ocorridos em
minha vida, depois de saber que, mesmo depois de velho, meu marido ainda
me trai, eu não consigo ser essa pessoa boa. Depois de descobrir que ele tem
um filho de dois anos com uma garota de vinte, eu não consigo ter tudo no
meu controle.

No dia que dei aquele tapa na Isabelly, eu queria ter feito na garota,
e ela foi a primeira pessoa que eu pude descontar um pouco das minhas
frustrações. Descobrir que meu marido tem um filho de dois anos e ainda ter
o filho no hospital foi demais para mim, eu sei que não foi certo. Não
deveria ter descontado nela, mas eu precisava do meu filho e, de alguma
forma, ela estava tirando os dois, então eu assinei os papéis dela de
demissão.
Claro que eu não tenho coragem de fazer mal a ela, sei que ela é
uma boa pessoa, mas eu preciso dos meus filhos.

Pego o carro e vou até a clínica. Há alguns dias me senti mal, mas
não dei muita importância. Algumas dores de cabeça incomodando, até que
no dia do acidente do meu filho eu fui obrigada pelo doutor Cristóvão a fazer
os exames, porque ele me viu passando mal.
Assim que estaciono olho para o envelope. Eu sou médica, mas não
posso me auto diagnosticar. Tenho que mostrar os resultados para ele.

— Boa tarde. Tenho uma consulta marcada com o Dr. Cristóvão. —


A recepcionista digital algo no computador.
— Pode entrar, a senhora é a primeira. — Falo um “obrigada” e me
dirijo ao seu consultório.

Bato na porta, e ele então pede que eu entre.


— Eu disse que vinha. — Falo passando pela porta.

— É sempre bom ver você. — Cristóvão vem até onde estou e me


abraça.
Conversamos alguns assuntos aleatórios até ele resolver olhar meus
exames. Pela cara que ele fez, eu sei que não é coisa boa. Eu muitas vezes ao
dia tenho que dar notícias ruins, seja para os pais ou para os filhos, esposas
ou até mesmo para os maridos. Na minha área não posso falhar e também
não posso ter medo de dar as notícias, por mais ruins que elas sejam.

— Pode falar, eu não tenho medo. — Falo, mesmo sabendo que por
dentro estou com medo.
— Olha, Elisabete, a notícia não é das melhores. — Cristóvão fala
me olhando com pena, talvez por não ter ninguém aqui junto. Meu filho
Henry está revoltado comigo, Henrique faz uma semana que não vejo, Mia
foi embora há alguns anos e só conversamos por vídeo chamada. E, bom...
Meu marido… não o via há dois dias.

— Pode falar, Cristóvão. Eu sou médica e só quero a verdade. —


Dou um sorriso forçado.
— Você está com um glioblastoma. Já está mais avançado do que
deveria, eu sinto muito. — Ele fala e, na minha cabeça, ou melhor, no meu
cérebro doente, se repetem várias vezes o nome dele. — É um tumor raro.
Você pode optar pela cirurgia ou fazer os tratamentos. — Eu o interrompo.
— Eu sei quais são os tratamentos. Quantos meses? — Pergunto
secando uma lágrima.

— Poucos, uns quatro ou cinco.


Sorrio sem ânimo.

— Como a vida é irônica. Então esse será o fim de Elisabete Benet.


Não poderia esperar coisa melhor. — Saio do consultório desnorteada.
Eu mereço isso. Eu não sou uma boa pessoa, eu mereço morrer
sozinha, por que é assim que eu me encontro. Eu já imaginava que estivesse
com algo assim, de certa forma eu afastei o Henry porque sei que ele vai
sofrer quando eu morrer, mas não esperava que fosse algo que vai me
deteriorar assim. Já sentia enjoos fortes dores de cabeça, será bom ele estar
afastado de mim.
Capítulo 33

Estou decidido a falar para Elisabete sobre meu filho fora do


casamento. Sei que ela vai ficar muito brava comigo e pode até falar de
divórcio, assim como ela fez há muito tempo atrás, mas nós voltamos. Eu
fiquei louco quando ela perdeu o segundo bebê e bati nela, tanto que a
mesma foi parar no hospital. Ela não quis me denunciar porque eu já era
dono de um hotel aqui em Londres, mas ela foi embora e me deixou. Eu
fiquei desesperado, prometi tudo para ela, até que consegui a convencer de
voltar. Depois disso eu continuei fazendo besteiras, mas Elisabete nunca
soube, até que um ano atrás uma das camareiras de um dos meus hotéis me
falou que tínhamos um filho. Consegui mantê-la calada até essa semana, mas
ela já falou que quer que meus filhos saibam da existência dele, e agora
tenho que falar para Elisabete sobre a criança.
— Elisabete?! Cheguei, amor. — Falo entrando na casa.
— Senhor Benet, a dona Elisabete não está muito bem. Passou o dia
deitada. — A governanta fala.

— Como assim? Ela reclamou de algo? Elisabete sempre teve uma


saúde de ferro e nunca ficou em casa assim.
— Já tem dois dias que ela está assim. — Ela fala, então corro para
o quarto.

— Querida, o que houve? Está tudo bem? — Ela está deitada de


lado, seus pensamentos estão longe e sua aparência já não é a mesma. Sua
pele está mais pálida que o normal.
Tento conversar com ela, mas a mesma não me responde, nem
sequer me olha nos olhos. Seu olhar está vago, como se ela já não estivesse
aqui.

Saio do quarto e vou ligar para Henry.


— Oi, pai.

— Filho, sua mãe não está bem.


— Com certeza deve ser consciência pesada.

— Não, Henry, tem algo acontecendo com ela. Venha aqui se puder.
— Pai, eu não quero ver ela esses dias. Mamãe me falou coisas
absurdas. Agora tenho que desligar.

Ele desliga o celular, e fico encarando o aparelho.

Volto para o quarto e me deito ao seu lado, vou lhe fazer companhia
até o dia que nós dois morrer. Quando eu falei que lhe amaria e respeitaria eu
não fui esse homem, eu fui um filho da puta desgraçado, trouxe mulheres
para dentro da nossa casa, humilhei Elisabete com palavras, com atos e com
desprezo, mas eu sempre fui apaixonado por minha esposa.

Mia

Hoje estou indo para Londres. Pelo que estou sabendo, a vida dos
meus pais e irmãos está um caos. Tinha marcado tudo para ir quando Henry
se acidentou, mas tive um imprevisto. Sou fisioterapeuta aqui em Madri e
quando comprei a passagem apareceu um paciente. Não ia atender ele,
porém o dinheiro que me ofereceram foi muito bom, então não pude recusar.
Meus pais mandam uma boa quantia para mim, mas eu não uso. Prefiro ter o
meu dinheiro e deixo o que eles mandam em uma conta, onde eles não têm
nenhum acesso. Quando eu tiver uma precisão muito grande eu uso.

— Não acredito que vai fugir assim dele. — Lília pergunta. Moro
com mais uma amiga, e dividimos o aluguel. Conheci ela na faculdade, e foi
uma das melhores coisas que aconteceu. Ela é maravilhosa, seu humor me
alegra todos os dias.
— Já deixei claro que não quero mais contato com ele. — Me refiro
ao meu ex-namorado, que é pai do bebê que estou esperando. Esqueci de
contar esse detalhe.

— Mas ele é o pai, Mia. Isso não é certo. — Ela fala mordendo uma
maçã.
— Lili, está tudo do jeito que deveria ser. Ele estava com outra,
então ele não precisa saber do bebê, e você já tinha aceitado isso, agora
termina de arrumar sua mala. — Claro que ela vai comigo, mas nossa rota
vai ser bem diferente.

De Londres vamos para o Brasil. Lá será meu novo lar, não


pretendo vir aqui mais, e ela vai comigo. Já até compramos uma casa lá. A
Lília é advogada criminal, e seus pais também são bons de condições. Eles
moram lá no Brasil, por isso ela aceitou tão facilmente ir para lá. Meus pais
não sabem que estou grávida, e será uma surpresa para eles, assim como foi
para mim.

Estava com cinco meses de namoro. Eu até gostava do Pedro, porém


ele sempre gostou de festas e estar junto com a galera. Até achei normal no
começo, mas quando eu queria um momento só nosso ele sempre incluía
amigas e amigos. Fui achando esquisito, até que peguei ele com outra
menina, justamente das que ele incluía nos nossos programas de namorado.
E então no outro dia descobri a gravidez. Pelas minhas contas já estou de
dois meses. Ainda não é aparente, então quero ir embora antes que ele
descubra. Ele não sabe o que eu vi, dei a desculpa que estou com catapora
para ele não vir aqui, e hoje estou de mudança. Vou passar alguns dias em
Londres e depois vou para o Brasil, o mais longe possível dele.
Capítulo 34

— Tem certeza que não quer que eu fique? — Júlia pergunta mais
uma vez.

— Não, Júlia, eles precisam de você lá. — Houve um problema em


uma das fazendas, e ela agora vai ter que ir resolver. Júlia não quer me
deixar só porque está com medo de eu ganhar nenê a qualquer momento,
porém ainda não está nos dias.
— Qualquer coisa me liga que eu venho correndo. — Nós duas
sorrimos, e ela me abraça.

Depois do meio-dia ela viajou. O dia está bem nublado, e já posso


sentir alguns pingos de chuva. Sento no balanço e fico olhando os cavalos.
Ela disse que seu pai construiu esse balanço quando ela ainda era bem
pequena, e me mostrou uma foto que sua mãe tirou dele fazendo o balanço.
Eu tenho muitas lembranças boas do meu pai, só que ultimamente a que
mais lembro é dele falar coisas absurdas pra mim.

Sinto minha barriga contrair, e mais alguns pingos de chuva cair em


meus braços.
— Calma, Lucas. Ainda faltam alguns dias. — Passo a mão e, mais
uma vez, ela contrai.

Me levanto devagar e vou até onde está a Anastácia, que é a


governanta da casa.
— Você quer comer alguma coisa, menina? Parece que vai vir um
temporal, o que será muito bom, pois você poderá até dormir um bocadinho.
— Ela sempre está com um sorriso no rosto, nem parece que perdeu um
filho há três anos.

— Não, Ana, obrigada. Eu vou me deitar, porque Lucas hoje está


agitado. — Falo, e ela sorri. A mesma vem pôr a mão em minha barriga.
Assim que ela põe a mão gélida na minha barriga, ela contrai novamente.
— Menina, você está sentindo alguma dor? Isso já são indícios de
trabalho de parto. — Ela fala com um pequeno sorriso.

— Droga! Como assim? Ainda faltam alguns dias. — Falo, já


entrando em desespero.
— Eles nunca chegam no dia, sempre vem antes ou depois. — “Ok,
respira, Isabelly. Não entre em desespero, mentalize coisas boas, que logo
ele estará em seus braços.” Penso.

A chuva começa a cair forte, os pingos fazem barulho ao cair no


telhado. Ok, como essa chuva começou assim tão rápido? Cadê aquele sol
maravilhoso, que brilha e nos encanta ao olhar para ele?
— Como vou para o hospital? — Pergunto, já desesperada.

— Não sei, filha. O Alexandro foi levar a dona Júlia, e não tem mais
ninguém na fazenda hoje. Por ser domingo, todos os funcionários vão
passear e resolver suas vidas. Mas e agora, o que eu devo fazer? Eu não
posso ter meu filho aqui sozinha.
— Faz alguma coisa, por favor. Liga para a Júlia. — Olho para
minhas pernas e vejo água escorrer. — Minha bolsa! — Falo olhando entre a
poça de água que se formou em meus pés e a Anastácia.

— Sua bolsa! Nossa senhora! Sua bolsa. — Anastácia fala, mais


desesperada que eu. — Vou ligar para dona Júlia.
Ela sai para tentar falar com a Júlia, e enquanto eu vou me sentar, a
primeira contração vem com força.

Droga, droga, droga, não era assim que eu tinha pensado. Iria viajar
na terça feira, teria mais alguns dias para me preparar para o parto, que seria
em um hospital, com médicas e enfermeiras, talvez até anestesia.
— Ela disse que acabou de pousar em Nova York, não vai dar
tempo dela chegar, e o Alexandro foi comprar umas coisas que ela pediu
para a fazenda. — Sinto mais uma contração vir e seguro no braço da
cadeira, apertando o mais forte possível.

Lorenzo Blanc

— Querida, volta para casa. — Falo para minha esposa.

— Não, Lorenzo. Você falou coisas horríveis para nossa filha, e ela
está grávida. Isabelly não apareceu mais em casa, eu não sei como ela está e
eu quero distância de você! — Ela fala com raiva.

— Eu já fiz de tudo para achar ela, eu estou em desespero! Ela


sempre vai ser minha menininha. Eu estava com raiva. — Falo, mas ela nem
olha na minha cara.
Eu procurei a Isabelly, pois me arrependi no momento que saí pela
porta da casa dela, mas meu orgulho não me deixou voltar atrás. Quando o
Henry me ligou procurando ela eu entrei em desespero, já coloquei alguns
seguranças meus para procurá-la, Henry contratou um detetive, mas Isabelly
não apareceu.

— Eu me livrei de você, Lorenzo, eu não quero mais voltar. Depois


de tantos anos, depois de tanta humilhação, consegui me livrar dessa relação
tóxica. — Ela fala, me deixando sem palavras.
— Você pensa assim do nosso casamento? — Pergunto, na
esperança dela dizer que me ama e que quer voltar para mim.

— Sim, inclusive, aqui estão os papéis do divórcio. Eu deveria ter te


deixado quando você começou a me trair, mas nós tínhamos três filhos
pequenos. Eu fiquei, mas agora já não aguento mais, e o que você fez com a
nossa filha ultrapassou todos os limites. — Minha esposa me entrega os
papéis, os quais fico encarando por longo tempo. O que fiz com meu
casamento?
Capítulo 35

Já estou desistindo de encontrá-la, até porque, pelo visto, Isabelly


não quer ser encontrada. Já se passaram meses, já nem sei há quanto tempo
foi que a vi pela última vez, já não sei se o que sinto por ela é amor ou
apenas uma dor imensurável.

Levanto mais uma vez para ir à empresa. Meu pai já me ligou duas
vezes para falar da minha mãe, falar que a mesma não está comendo, parece
que já não está mais entre nós. Talvez seja a consciência pesada pelos seus
erros, ou apenas um drama. Não sei o que pode ser, mas não estou com
cabeça para pensar nisso agora.

Tomo meu banho e, depois de vestir a roupa, saio finalmente da


minha casa, parece que ela ficou ainda mais vazia nesses últimos meses.
Hoje o trânsito está agitado, talvez pelo céu estar bem formado, às vezes
caem galhos de árvores pela rua.
Chego na empresa e passo direto para minha sala. A noite ontem foi
longa; depois de beber meia garrafa de whisky, fui dormir lá pela
madrugada, hoje minha cabeça está doendo e não estou com paciência para
problemas.

— Cancele todos os meus compromissos hoje e não passe nenhuma


ligação para mim. — Digo para Ruby, que me olha com atenção.

— Boa tarde para você também. — Ouço ela murmurar antes de eu


fechar a porta.

Reviso alguns contratos e depois beberico mais alguns goles de


whisky, que hoje não está tão bom como ontem à noite
Horas depois a Ruby entra sem avisar. Fico olhando sua cara, ela
tenta formular palavras, mas nada sai de sua boca.

— Fala logo, Ruby. Alguém morreu? — Pergunto, e ela sorri.


—Pelo contrário: vai nascer. — Ela fala, e eu fico tentando
entender.

— Quem vai nascer? — Pergunto.


— O seu bebê! Uma tal de Júlia me ligou, ela está na linha. — Ela
fala, me deixando ainda mais confuso.

— Que brincadeira é essa, Ruby? Volte para sua mesa e me deixe


quieto. — Falo, me virando para olhar os prédios.
— Henry, a Isabelly está prestes a dar a luz! — Quando Ruby fala o
nome dela, me viro rapidamente.

— Onde ela está? Como ela está? — Pergunto deixando o copo em


cima da mesa.
— Venha, ela vai lhe explicar. — Sigo-a até sua mesa, meu coração
está palpitando.

— Alô. — Digo, com receio de que seja apenas uma brincadeira de


mau gosto.
— Henry, meu nome é Júlia Evans. A Isabelly está em uma das
minhas fazendas, próxima à cidade. Ela entrou em trabalho de parto agora
pouco; eu acabei de pousar em Nova York, e o único transporte disponível
hoje está aí na cidade. Ela precisa de você! — Quando ela termina de falar
eu solto a respiração.

— Onde fica isso? E como posso saber que não está mentindo ou
armando algo para mim? Pergunto apreensivo.
— Eu jamais brincaria com algo dessa intensidade! Por várias vezes
tentei fazer ela ligar, mas o medo de você estar com outra pessoa a impediu
de fazer isso. Agora vá atrás da sua mulher e do seu filho, seu imbecil! —
Ela fala, e eu solto uma gargalhada. O meu dia, que tinha começado ruim,
iria melhorar assim que eu a encontrasse.

Ela me passa todas as coordenadas, e saio o mais rápido possível da


empresa, pego meu carro e sigo para onde ela mandou. Do lado de fora a
chuva já molha todas as ruas, a água sobe quando passo com o carro. Meu
coração está acelerado, me sinto um adolescente, mas é a melhor sensação.
O GPS indica que estou perto. Quanto mais perto estou, mais meu
coração palpita. Aquele frio na barriga está presente, e só quero poder ver
ela, sentir seu cheiro, dizer o quanto eu a amo e também poder segurar nosso
bebê. Sim, eu me considero o pai, mesmo sabendo que o pai de sangue é
meu irmão.

Isabelly
Isso dói pra caramba. Acho que não vou querer mais passar por isso
nunca mais.
— Deita na cama. Pelo tempo que está assim, talvez já esteja perto
de nascer.

— Ai! — Falo quando sinto mais uma contração.


— Abra as pernas, querida. Deixe eu ver se ele já está aparecendo.
— Tiro minha calcinha e abro as pernas do jeito que ela me explica.

Ouvimos um barulho na porta. Ela vai ver do que se trata, e mais


uma contração vem. Grito alto e não sei se estou vendo uma miragem ou se
realmente é o Henry na minha frente.
— Henry. — Digo baixo.

— Eu estou aqui, meu amor, e não vou deixar você escapar nunca
mais. — É ele! Ele está aqui comigo!
— Aii! — É como se meu corpo estivesse sendo rasgado ao meio.

— Vamos trazer nosso bebê ao mundo, eu estou aqui e vou te


ajudar. — Só aí me dou conta que é ele mesmo. Henry segura minha mão e
depois beija minha testa. Ele se ajoelha na cama de frente para mim e segura
minhas pernas.
— Quando a contração vier, você faz força para o bebê nascer. —
Ele diz, e então me lembro que ele não sabe que o bebê é um menino.

— Lucas... O nome dele é Lucas. — Vejo um sorriso se formar em


seus lábios.
— Então vamos trazer o Lucas ao mundo! — Uma contração se
aproxima, e coloco toda a força que encontro para baixo, faço isso mais duas
vezes, até ouvir o choro fino ecoar pelo quarto. Minhas forças tinham
acabado, mas só de ouvir esse som eu consegui sorrir e abrir os olhos para
ver meu filho. Ele nasceu.

Henry

Nunca senti nada comparado a isso na minha vida. Poder ajudar um


bebê a vir ao mundo, poder segurar uma criaturinha tão indefesa e que
emana amor só pelo choro. Não posso negar que algumas lágrimas rolaram
no meu rosto. Pensei que não daria tempo de ver esse momento único, mas
quando cheguei aqui ouvi o grito dela. Eu só queria encontrar a Isa, ver seu
rosto e como ela estava, e agora, vendo ela amamentar, me dá a certeza que
eu nunca vou desistir dela, independente de qualquer coisa. Se Isa sumir, eu
rodo o mundo a sua procura e movo céu e terra para ter ela ao meu lado.
— Venha aqui. Vem ver nosso filho. — Ela me chama, e isso me
enche de alegria. Não posso explicar esse sentimento, não sei nem se existe
nome para o que estou sentindo.
Capítulo 36

Ver o meu bebê assim, tão saudável, me deu um alívio tão grande, e
o melhor foi ter o Henry nesse momento. Se há dois dias atrás me falassem
que ele iria fazer meu parto, com certeza eu teria rido muito.

— Vamos. Tem uma avó louca para ver esse bebê. — Ele fala
pegando a última mala.
— Vamos sim. — Me despeço da Anastácia, que ficou de coração
partido por eu estar indo embora, mas tenho coisas a resolver.

Pegamos a estrada. A fazenda não fica muito longe da cidade,


Henry estava muito preocupado com a minha recuperação, e tínhamos que
levar o Lucas para fazer exames. Ter ele fora do hospital e sem
acompanhamento apropriado poderia ter sido bem perigoso, tanto para ele
como para mim, mas a Júlia examinou ele e está tudo bem. Ela teve que
viajar novamente, mas disse que estava tudo bem com o Lucas e me liberou
pra viajar. É questão de meia hora de viagem até chegarmos.

— Como será isso? — Pergunto, já sabendo que ele sabe ao que me


refiro.
— Não tenho uma resposta para sua pergunta, mas sei que você não
sai do meu lado nunca mais. — Ele me contou algumas coisas que
aconteceram enquanto eu estava fora, incluindo a briga que ele teve com sua
mãe.

O restante da viagem foi tranquilo, estávamos apenas falando o


quanto o Lucas é lindo e calmo. Iremos passar primeiramente no hospital e
depois vamos para minha casa. Chegamos no hospital, e ele logo foi tirar o
Lucas do carro, achei até engraçado seu jeito com o Lucas: um verdadeiro
pai.
— Já marquei com a pediatra, você vai gostar dela. — Henry fala
balançando Lucas, que dorme tranquilamente.

— Vou ligar para minha mãe. — Falo me levantando.


— Oi, mãe.

— Filha, onde você está?


— Estou no hospital. A senhora pode vir aqui?

— Me passa o endereço que já estou a caminho.


Passo o nome do hospital e onde vou estar, e em pouco tempo ela
chega. Mamãe vem me abraçar rapidamente, e sinto meu ombro molhado
por suas lágrimas.

— Nunca mais faça isso. Não criei você para me deixar nessa
preocupação toda! Como está meu netinho? — Ela põe a mão em minha
barriga, e logo Henry aparece atrás de nós. Mamãe conversa como se o
Lucas ainda estivesse dentro de mim.

— Mãe. — Chamo, e ela me olha. Aponto com a cabeça para atrás


dela.
Henry está com um sorriso enorme estampado no rosto.

— Meu Deus! — Ela grita, olhando de mim para ele que estava com
o bebê em seus braços.

— Olha a vovó, meu amor. — Henry entrega Lucas para a minha


mãe, que sorri e chora ao mesmo tempo. Até eu chorei de ver ela nessa
alegria toda.

Ela entrou na sala da pediatra com ele, e Henry e eu fui para a


ginecologista. Preciso saber se está tudo bem comigo depois do parto; não
estou sentindo nada demais, só que tenho que fazer exames para saber como
estão as coisas nas partes baixas.
— Isabelly. — A médica me chama.

— Boa tarde. — Falo com ela, que está com um sorriso enorme.
— Acho que me lembro de você. — Ela fala, e eu sorrio.

— Não foi dessa vez. — Ela estava cuidando do meu pré-natal aqui,
mas depois fui para a fazenda, e então a Júlia cuidou de mim e do Lucas.
— Vamos fazer os exames. Me conte como foi seu parto e como
está o bebê enquanto vou preenchendo aqui. — Contei como tudo aconteceu.
Ela ficou surpresa e ao mesmo tempo muito zangada, pois disse que poderia
ter sido muito perigoso para nós dois, que o bebê poderia ter nascido com
algum problema respiratório ou até eu mesma ter complicações. Que isso era
feito há muitos anos atrás e que muitas mulheres chegaram a morrer por não
dar conta de ter bebê de parto normal. Escutei calada tudo que ela falou, já
estou muito velha para receber broncas.

Ela me examinou e me receitou alguns anti-inflamatórios, remédios


para dor e repouso. Mesmo que o parto normal seja mais fácil, a recuperação
ainda assim exige cuidados.
— Lucas está perfeito, tudo dentro do normal. — Mamãe fala
segurando ele.

— Então vamos para casa. Preciso repousar. — Falo, e mamãe


assente.
Seguimos para minha casa. Henry gostaria que eu fosse para sua
casa, mas me sinto melhor na minha, pois já tem todas as minhas coisas lá.

Assim que chegamos fui recebida pelo senhor Antônio, que é o


porteiro. Ele ficou tão contente em me ver, e eu me senti lisonjeada de
alguém ficar tão feliz com a minha volta.
— Seu bebê é tão lindo, dona Isabelly. — Ele fala olhando para
Lucas.

— Obrigada, senhor Antônio. — Conversei mais um pouco com ele,


e então subimos para meu apartamento.
— Eu vou tomar um banho e depois dou de mamar para o Lucas. —
Falo indo para o banho.

— Vou comprar algumas coisas que estão faltando e daqui a pouco


volto. Ouço Henry falar, e a porta abrir e fechar.
Entro debaixo da água morna e sinto o alívio tomar conta do meu
corpo. O puerpério é muito difícil. Amamentar dói, ver seu bebê chorar sem
saber o que é dói, tudo dói, mas tem muitas mulheres que preferem esconder
isso para não serem julgadas. Só sabe o que é quem passa.
Capítulo 37

Ouço minha mãe falar um pouco alterada e vou até onde ela está, meu
coração acelera quando vejo Henrique segurando o Lucas.
— Então é isso. Você tem o nosso filho, não me avisa e pensa o
quê? Que vai formar a família perfeita com o Henry e meu filho? — Percebo
sua voz rancorosa.

— Me entrega meu neto, por favor. — Mamãe pede, aos prantos.


— Saia daqui, sua velha. — Ele fala com raiva, segurando o Lucas,
que está assustado.

— Filha, eu só estava fazendo comida. Ele chegou, e eu pensei que


fosse o Henry. — Mamãe fala desesperada.

— Calma, mãe, está tudo bem. — Henrique não vai fazer nada com
o nosso filho, não é mesmo, Henrique? — Pergunto, dando um passo em sua
direção.
— Fique aí, não se aproxime! — Ele grita, e então Lucas começa a
chorar.

— Henrique, ele precisa de mim, de nós dois! — Falo desesperada.


O medo dele fazer alguma coisa com meu filho me consome. Nunca passei
por nada parecido.
— Está falando isso agora, mas eu sei que o Henry vai assumir ele
como filho. Eu sei que ele nunca fará parte da minha vida! Eu sei que você
me acha um idiota e sei também que ele nunca vai saber que sou seu pai. —
A mágoa exala de sua voz.

— Claro que você fará parte da vida do Lucas. Ele saberá que você
é o pai dele, você poderá passar finais de semana com ele, poderá levar ele
ao parquinho, só me devolva ele. O Lucas está assustado, Henrique. —
Começo a chorar, com medo do que ele pode fazer com meu bebê.
A porta é aberta, e vejo meu pai entrar por ela. Ele vê como estou e
então levanta as mãos em sinal de rendição.

— Agora só falta meu irmão entrar para a família estar completa. —


Fala com raiva na voz.
— Calma, Henrique. Deixe meu neto ali, vamos conversar. — Papai
fala se aproximando.

— Eu não vou machucar meu filho, senhor Lorenzo. Eu só quero


poder ficar alguns minutos com ele. Eu sei que a Isa não vai deixar eu
acompanhar a infância dele e eu até entendo, mas eu me arrependi de ter
armado para você no dia do acidente do Henry. Eu falei para a repórter que
publicou aquela matéria, eu fiz a cabeça da minha mãe contra você, mas é
por que eu queria ter você para mim.
— A memória daquele dia está bem viva na minha cabeça. Sua mãe
me dando um tapa bem estalado no meio de todo mundo.

— Você fez aquilo com a minha filha? — Mamãe pergunta.


— Sim, eu queria que ela se afastasse do Henry. Mas ela foi embora,
e eu não consegui ter ela em minha vida, até que ligaram para o Henry e
falaram onde ela estava. Eu não consegui ter você, mas eu quero o Lucas em
minha vida. Por favor, não tire isso de mim. — Pede.

— Eu prometo não afastar ele de você, mas me dá ele, por favor.


Nós vamos registrar ele em seu nome, Henrique. Ele é seu filho, e isso nunca
vai mudar. — Falo me aproximando. Ele enfim me entrega Lucas, que logo
para de chorar. Abraço meu bebê com tanto desespero. Espero nunca mais
passar por algo parecido.
— Eu vou embora.

Henrique se vai, e eu caio em lágrimas. Meu pai se aproxima de


mim e me abraça.
— Me perdoa, filha. Por favor, me perdoe pelas coisas horríveis que
eu te disse. Eu sei que nada vai mudar, mas eu preciso do seu perdão. — Eu
não esperava essa atitude do meu pai.

— Eu te perdoo, pai. Eu sou sua filha e quero que faça parte da vida
do seu neto, se assim quiser. A mamãe também vai ficar muito feliz com
isso, não é, mamãe? — Os dois ficam em silêncio, e percebo que tem coisas
que eu não estou sabendo entre eles.
— Bom, eu vou fazer um chá. Descanse um pouco, filha. — Ela
estava prestes a sair, mas a chamei.

— O que eu não estou sabendo? — Eles se entreolham.


— Uma hora ou outra ela terá que saber. — Mamãe fala, mas meu
pai não parece estar de acordo.

— Falem logo, por favor, não sou mais uma criança. — Falo, e eles
concordam com a cabeça.
— Estamos nos divorciando. A papelada já está pronta, cada um
seguirá sua vida. — Mamãe fala naturalmente, mas meu pai não parece estar
muito de acordo com isso.

— Isso foi por causa daquele dia. Foi por causa das coisas que eu
falei? — Pergunto me sentindo mal.
— Claro que não, filha. Eu quis isso, e vamos deixar esse assunto
para lá. Já está tudo resolvido.

Mamãe fez o almoço e depois Henry chegou. Ele e meu pai não se
falaram muito bem, mas também não quis fazer perguntas. Preferi não
comentar sobre o ocorrido de mais cedo; ele e o irmão já tem muitos
conflitos, não seria bom colocar mais um na lista. Mas sei que eu vou ter um
grande desentendimento com ele ao falar do bebê, sobre o fato de que vou
registrar Lucas como filho de Henrique.
— Aconteceu alguma coisa? Está tão pensativa. — Henry pergunta
me abraçando por trás.

— Está tudo bem, só estou cansada. — Falo suspirando. Henry


começa a massagear minhas costas, e aproveito o momento maravilhoso
para relaxar enquanto Lucas está dormindo. Depois da massagem tomei um
banho, e então mamãe nos chamou para jantar. Seu risoto de camarão não
muda nunca.
Capítulo 38

Como está sendo ultimamente, venho sentindo dor de cabeça


sempre. Sei que meus dias estão contados; fazer o tratamento só me deixaria
pior e também não teria tempo. Hoje decidi ir ver a Isabelly. Sei que ela
pode me rejeitar, talvez até devolver o tapa que eu lhe dei, eu não iria
reclamar. Sei que o que fiz foi errado.

— Para onde vai? — Meu esposo pergunta, parando na porta do


closet.

— Irei resolver algumas coisas, não me espere para o almoço. —


Saio sem falar mais nada. Não quero puni-lo pelas coisas que já
aconteceram, mas sim prepará-lo para que ele não sinta tanta a minha falta
quando eu partir.
— Francisco, está pronto? — Pergunto para o motorista.
— Estou sim, senhora Benet. — Ele abre a porta para mim. Quando
eu estava prestes a entrar, me vem uma ideia.

— Eu vou dirigir hoje. Tire o dia para você e sua família, nunca se
sabe quando a morte vem. — Digo, e ele me encara sério como sempre.
— Mas, senhora...

— É uma ordem. Vai ver sua filha, ela se casará daqui poucos dias.
— Ele apenas assente com a cabeça, e eu vou para o lado do motorista.
Sigo até o prédio onde ela mora. Não esperaria menos vindo de uma
Blanc, o lugar é bem centralizado, um apartamento de luxo.

— Olá, bom dia. Gostaria de ver a senhorita Blanc. — Falo para o


porteiro, que me olha atento.
— E quem é a senhora? Pergunto isso porque ultimamente ela anda
recebendo umas visitas que só a aborrecem. — Ele fala, com uma
sobrancelha arqueada.

— Me desculpe. Sou a mãe do Henry, ou seja, sou avó do bebê. —


Ele balança a cabeça.
— Pode subir então. — O porteiro fala, e então me dirijo ao
elevador.

Eu estava com medo da sua reação, não fui muito educada com ela
na última vez que nós vimos, e isso faz meses. Eu não posso julgá-la se sua
reação não for das melhores.
Assim que o elevador parou, tomei uma lufada de ar para poder
prosseguir até a porta. Apertei a campainha e, em poucos segundos, a porta
foi aberta.

— O que faz aqui? — Perguntou sua mãe.


— Bom dia, eu gostaria de falar com a Isabelly. — Digo.

— E por que eu deixaria você falar com ela depois de tudo que fez?
— Não é uma pergunta ruim. Por que ela, que é mãe, me deixaria ver sua
filha, depois do episódio no hospital?
— Eu gostaria de...

— Deixe-a entrar, mãe. — Ouço sua voz ao fundo.


— Entre. — Ela abre espaço, e então entro.

— Oi, Isabelly. — Falo assim que a vejo.


— Tudo bem, senhora Benet? — Ela pergunta tranquilamente.

— Sim, estou aqui para me desculpar por aquele dia infeliz. Sei que
o que fiz não se apagará nunca, mas eu preciso do seu perdão. — Falo, e ela
parece não se importar muito com isso.
— Venha ver seu neto. — Isabelly fala se virando de costas.

Sigo ela até o primeiro quarto. Ela adentra, e eu fico um pouco mais
atrás, me sinto incomodada por Isabelly não falar o que preciso ouvir, e seu
perdão é uma das coisas que preciso para poder descansar em paz.
— Venha, não vou morder a senhora. — Me aproximo lentamente.

Ela pega ele e então se aproxima mais de mim, e sorrio ao ver seu
rosto. Ele parece muito com o Henrique, não tem como não dizer que é filho
dele.

— Posso? — Pergunto, e ela diz que sim. Pego ele em meus braços
e sinto como se todos os meus problemas sumissem, então começo a chorar
descontroladamente.
— Eu perdoo a senhora. Não fique assim, foi apenas um momento
de raiva. — Ela fala, me fazendo chorar ainda mais.

Coloco o bebê no berço novamente e abraço Isabelly.


— Me prometa que cuidará do Henry, que não lhe deixará só. —
Suplico.

— Ele irá perdoar a senhora. — Isabelly fala.

Isabelly

Me surpreendo com sua atitude repentina. Não esperava sua visita e


muito menos sua reação ao ver o Lucas.

— Ele irá perdoar a senhora. — Digo, e ela me solta.


— Só não quero que ele se sinta mal. Eu entendo o Henry. Todos
esses anos sem saber da verdade, da sua verdadeira origem.

Estou totalmente perdida em seus assuntos. Eu sei que Henry e


Henrique não são seus filhos, mas por que ele não se perdoaria por ela
mesma ter mentido para eles por todo esse tempo?

— Está acontecendo alguma coisa? — Pergunto confusa.

— Nada que você possa resolver. — Ela fala e olha para Lucas.

— Pelo que conheço Henry, ele é bem temperamental, mas tenho


certeza que ele perdoará a senhora. — Falo, e ela parece não ter muita
esperança.
Ela coloca a mão na cabeça e faz uma careta.

— A senhora está bem? — Pergunto preocupada.


— Poderia pegar um copo de água para mim? — Pergunta, e olho
desconfiada para ela.

— Sim, só um instante. — Vou até a cozinha e pego o copo de água.


Quando me aproximei da porta pude ouvir Elisabete conversar com o Lucas.
— Meu netinho, me perdoe por ser essa pessoa horrível, acho que
poderia ser uma avó melhor se eu tivesse tempo. Está tudo tão embaçado, a
vovó está sentindo tanta dor. — Entro no quarto, e ela se assusta com a
minha chegada.

— Pode me explicar agora o que está acontecendo?! — Pergunto, e


ela fica sem jeito.
— Como já falei, nada que possa resolver. — Elisabete diz, secando
uma lágrima.

— Olha, Elisabete, eu não me importo com esse papo de poder


resolver ou não, mas me importo com seu filho. E se caso tiver alguma coisa
que eu possa fazer e não tiver feito, depois eu não me perdoaria. — Ela
balança a cabeça e depois fala.
— Estou com um tumor no cérebro. Quando descobri, tinha mais ou
menos seis meses de vida, mas ele está se desenvolvendo mais rápido do que
o esperado, então digamos que agora tenho uns quatro. — Fico em choque
com sua revelação.

— Mas e a cirurgia, tratamento, alguma coisa? — Ela sorri


sarcástica.
— Meu tumor não pode ser operado. Eu morreria do mesmo jeito e
numa sala de cirurgia. Quanto à quimioterapia, eu não quis. Seria doloroso e
eu morreria do mesmo jeito.
Não posso mentir que estou duvidando dessa história.

— E por que seus filhos não sabem disso? — Pergunto.


— Não quero que eles me perdoem por eu estar doente, Isabelly.
Não precisa duvidar da minha história. Não quero sua pena, só estou lhe
dizendo isso porque eu sempre fui a figura materna dos meus filhos, e sei
que, mesmo Henry me odiando agora, ele vai sentir minha falta, ou até
mesmo se sentir culpado. Eu não quero que conte para ele, apenas esteja do
seu lado quando eu partir. — Ela não parece muito abalada com seu futuro.

— Isso não é certo. A senhora não pode vir aqui na minha casa,
jogar essa bomba em meu colo e pedir que eu não conte para seu filho. Isso
faria ele nunca mais olhar para mim. — Falo com raiva.
— É total responsabilidade minha, Isabelly, só não quero que eles
fiquem comigo por dó. Isso me mataria ainda mais rápido. — Ela põe a
bolsa em seu ombro, e antes de sair do meu quarto, Elisabete se vira e fala.
— Me perdoe novamente.

Ela não pode falar tudo isso e ir embora como se nada estivesse
acontecendo.
— Você é uma pessoa egoísta. Isso não é sobre seus filhos terem dó,
é sobre você não enfrentar seus problemas de frente. Está prestes a morrer e
ainda tem medo do que vão achar, continua seguindo padrões de uma mulher
inabalável. Isso vai lhe matar mais rápido, Elisabete!

Ela se vai, e não sei o que vou fazer daqui para frente. Não posso
ficar sem falar isso para o Henry, ele tem o direito de saber o que está se
passando com sua mãe.
Capítulo 39

Eu não posso acreditar que ela não me falou nada. Por mais que eu
tente ter uma relação com ela, fica difícil com um tipo de coisa dessa
acontecendo. Eu sei que Isabelly é independente e tudo mais, e sei que ela
tem todo o direito de fazer o que bem quiser sem me comunicar nada, mas
eu mereço um pouco de consideração.

— Agora que já sabe de tudo, decida o que fazer. — Henrique fala


saindo da minha sala.

Fico alguns minutos tentando processar as últimas palavras do


Henrique. A Isabelly prometeu registrar o Lucas como seu filho, e eu sei que
ele é o pai biológico, mas eu esperava mais consideração da parte dela, já
que eu fiz parte dos momentos deles dois e estava lá quando ela precisou.
Desço até a garagem. Hoje eu dispensei meu motorista, pois é
aniversário de um ano do seu filho, e ele merece esse momento com a
família. Estava bem perto do meu carro até ouvir uma pessoa falar comigo.

— Preciso falar com você. — Ainda de costas, sei bem de quem se


trata.
— O que quer? Já não fez o suficiente? — Pergunto, me virando
para olhá-la.

— Você me usou, depois me demitiu. Eu amo você, Henry. Como


teve coragem de me tratar dessa forma? — Karoline pergunta parecendo
transtornada.
— Não foi bem assim que as coisas aconteceram. Nós nunca
tivemos nada, eu sempre deixei claro aqui para todos que amo a Isabelly, e
você fez uma cena na minha sala para ela achar que tivemos algo. — Ela fica
ainda mais furiosa.

— Você vai ficar comigo, por bem ou por mal. — Ela aponta uma
arma para mim.
— Calma, Karoline. — Levanto as mãos para que ela se acalme,
mas sua face revela seu desespero por estar segurando uma arma. As mãos
estão trêmulas e a respiração irregular.

— Senhor Henry! — Vejo o segurança se aproximar. Ela se


desespera e atira nele, mas me aproximo rapidamente dela e pego a arma de
sua mão.
— Me... me desculpe, eu não queria. — Ela sai correndo, e vou até
onde está o segurança.
— Está tudo bem, vou levar você no hospital. — Graças a Deus, o
tiro pegou apenas em seu ombro.

Ajudo ele a levantar e ir até meu carro, entro no banco do motorista


e me dirijo rapidamente para o hospital mais próximo.
— Eu estou bem, senhor. — Ele fala fazendo careta.

— Já estamos perto. Daqui a pouco você terá o melhor atendimento


possível. — Ele respira fundo e depois solta.

Em menos de dez minutos chegamos ao hospital. Ajudo ele a


descer, e um enfermeiro vem auxiliar. Vou até a recepção cuidar da parte
burocrática.

— Eu quero o melhor atendimento para ele, o melhor quarto e o


melhor médico, pois ele merece o melhor. — Falo aflito.

— Ele será muito bem atendido, senhor.

Trato de ligar para a família dele, pois preciso avisar o que


aconteceu.
Depois de avisar para sua esposa o que aconteceu, vou até a
recepção. De repente, vejo a Isabelly com o rosto vermelho de tanto chorar.

— Henry, meu Deus, você está bem? — Ela se aproxima e confere


meu corpo.
— Calma, está tudo bem. Não foi nada comigo. — Digo enquanto
ela procura algum ferimento em mim.

— Meu Deus, disseram que ouviram um tiro e depois viram a


Karoline sair correndo de lá. Eu pensei que ela tivesse feito algo com você!
— Ela começa a chorar descontroladamente.
Puxo-a para um abraço. Por mais que eu estivesse muito chateado
com ela, agora já não me lembro mais disso. Quero apenas ter Isabelly em
meus braços, dizer o quanto eu a amo.

— Eu te amo, e, independente das suas escolhas, eu vou estar aqui.


— Falo, e ela me olha.
— Eu preciso conversar com você. Podemos ir para algum lugar
mais calmo? — Sua fala sai cortada por causa do choro compulsivo.

Seguro em sua mão e a puxo para a sala de espera. Assim que


entramos, fecho a porta.
— O que houve? — Pergunto levando ela até um sofá.

— Seu irmão apareceu no meu apartamento. Mamãe estava fazendo


o almoço enquanto eu fui tomar um banho, logo em seguida ouvi vozes
alteradas, fui até onde ela estava e me deparei com o Henrique segurando o
Lucas. Foi um momento de desespero para mim. — Ela para de falar, e
percebo o quanto Isabelly fica desconfortável. — Ele me fez prometer que
colocaria ele como pai, que o Lucas tem que ter o nome dele e não o seu. Na
hora eu concordei, pois estava tão aflita com tudo aquilo. Estava com medo
dele fazer mal ao nosso filho, eu estava desesperada e falei que colocaria o
nome dele. — Ela termina de falar entre soluços, e puxo-a novamente para
um abraço.
— Eu amo você, Isa, e não me importo com isso, se for o que você
quer. — Claro que não estou bem com essa situação, mas não quero deixá-la
ainda mais sobrecarregada.

— Ele é seu filho, Henry, eu não quero ele com outro sobrenome, eu
quero você como pai. Você é o verdadeiro pai dele, não quero seu irmão
como uma figura paterna, muito menos o nome dele. — Isa fala olhando
para mim.

— Eu amo vocês dois, Isa. Eu tenho ele como um filho, mas a


decisão é sua. Eu não quero influenciar você em nada. — Ela levanta, e fico
olhando.
— Eu queria ter falado antes, mas fiquei tão insegura, tive medo de
você não aceitar. Hoje logo pela manhã eu iria te falar sobre isso, mas você
estava com tanta pressa que não tive tempo. Porém eu não quero esconder
nada de você, quero poder confiar e te passar confiança. — Isa fala me
encarando.

— Isabelly, eu confio em você. Hoje, antes de eu sair da empresa,


Henrique me procurou, me falando que você iria registrar Lucas em seu
nome. Eu confesso que na hora fiquei com raiva e iria procurar você, até a
Karoline aparecer e atirar no Francisco. Eu sempre vou confiar em você e
peço perdão por ter pensando que não iria me contar. — Ela vem até mim e
me abraça, tomo seus lábios em um beijo.
— Eu preciso de você. — Ela fala em meio ao beijo.

Sem pensar duas vezes, saímos daquele lugar. Eu sei que deveria
ficar lá, por causa do meu segurança que está baleado, mas acho que não foi
tão grave, por ter atingido somente seu ombro. Pelo menos assim espero.
Entramos no carro ainda na garagem. Ela não perde tempo e vem
para cima de mim, ainda bem que os vidros são escuros, ou qualquer pessoa
poderia ver o que vamos fazer aqui.

— Ei, calma, Isa. — Falo me lembrando.


— O que houve? Fiz alguma coisa errada? — Ela pergunta, e eu
sorrio.
— Não, minha linda. Você sempre é maravilhosa, mas você ainda
está de resguardo, e ainda não completou 45 dias. — Falo e ela suspira.

— Henry, já tem um mês. Foi parto normal e sem complicações,


está tudo bem.
Eu até poderia fazer isso, estamos os dois loucos por isso, mas eu
não quero prejudicar a minha mulher. Quero que ela fique bem, para que
daqui alguns anos possamos dar irmãos para o Lucas, e que nossas relações
sejam cada vez melhores. E isso não será possível se transarmos agora. Sou
um homem tradicional, que acredita que um resguardo quebrado não terá
mais cura.

— Vamos esperar mais alguns dias, passará rápido.


Ela reclama, já saindo de cima de mim. Eu também não queria que
terminasse assim, mas é tudo pela saúde dela. Não me arrependo de negar
alguns minutos de sexo por uma boa causa.

— Isso é injusto. Estou todos os dias tendo uma luta diária comigo
mesma para controlar meus instintos, e você me deixa assim, na seca! —
Dou uma gargalhada, o que faz Isa me dar um tapa no braço.
Capítulo 40

Isso não vai ficar assim. Eu não fiz tanto esforço para acabar desse
jeito. A porta é aberta, e Henry passa por ela.

— O que pensa que está fazendo, indo na casa da Isa para assustar
ela? — Ele pergunta furioso.

— Como assim? — Pergunto.

— Eu sei o seu jogo, Henrique, eu conheço você. Está fazendo isso


porque achou apropriado ter um filho com o sobrenome Blanc, mas sinto te
informar, meu filho nunca terá seu nome. Eu movo céus e terra, mas ele
nunca terá seu nome, nem nunca saberá que tem nas veias o seu sangue
podre. — Henry fala com raiva.

— Isso é o que veremos. Ele é meu filho, eu tenho direito a ele e


vou fazer o que estiver ao meu alcance. — Ele se aproxima como um
predador.
— Nunca mais chegue perto da minha família! Você perdeu esse
direito há muito tempo! — Ele esbraveja.

— Eu quero eles em minha vida e vou ter, e você não vai poder
fazer nada quanto a isso.
Ele fica ainda mais furioso.

— A Isa não vai voltar se fizer isso. Nada do que tente fazer trará
ela de volta, isso tudo é em vão.
Perco totalmente a cabeça e vou para cima dele, Henry não tem o
direito de falar dela, ninguém tem o direito de falar dela. Acerto um soco em
seu rosto, ele dá dois passos para trás e, sem eu esperar, ele acerta um em
meu estômago e depois dois em meu rosto. Henry sempre foi melhor de
briga que eu.

— Você não tem o direito de pôr ela nessa história. — Falo


limpando o canto da minha boca, onde tem algumas gotas de sangue.
— Por que eu não falaria dela? Você foi o culpado por tudo que
aconteceu aquela pobre garota! — Ele sabe o quanto isso dói em mim. —
Você tentou fazer com a Isa, mas ela já é uma mulher, ela não precisa da sua
ajuda para nada. Ela nunca precisou de um pai para o Lucas, até porque você
não serve para ser um.

Vou mais uma vez para cima dele, só que dessa vez ele apenas me
segura. Começo a chorar descontroladamente e eu nunca fiz isso, nunca
parei para pensar nisso como culpa minha, mesmo que tenha sido.
— Eu não queria que ela tivesse morrido, eu só não estava pronto
para assumir um filho naquela época, então pensei que fosse seguro levar ela
lá para tirar o bebê. — Falo em meio ao choro compulsivo.
Há dez anos atrás eu fazia faculdade de medicina, pois sempre fui
influenciado por mamãe a fazer faculdade e seguir uma boa profissão, foi
quando conheci a Sarah. Nós começamos um relacionamento; nada sério,
estávamos apenas ficando, e eu gostava da companhia dela, foi aí que ela me
deu a notícia de que estava grávida. Ela disse que não contou logo quando
descobriu porque ficou em choque, e foi aí que eu convenci ela a fazer um
aborto, dizendo para ela que um bebê só atrapalharia nossas vidas, que ela
precisava estudar e se formar, para depois nós podermos pensar em ter
filhos. Eu prometi que ela teria o melhor tratamento, só que quando eles
tiraram o bebê cortaram um vaso sanguíneo, e ela teve uma hemorragia e
morreu. Na hora eu não sabia o que fazer, então liguei para minha mãe, que
resolveu tudo. Eu saí da faculdade porque as pessoas ficaram sabendo, e eu
não aguentava os olhares me julgando.

— Se há dez anos atrás você não estava preparado, porque estaria


agora? Se quando descobriu sobre a gravidez você fez pouco dela, depois
ainda foi lá fazer ameaças. Porque, Henrique, você estaria pronto agora? —
Henry grita, e eu fico calado.
— Ele é meu filho, Henry. Eu me arrependi de tudo que fiz com a
Isabelly. E eu sou pai dele. — Não quero que ele estrague meus planos, pois
é claro que quero ser um pai para o Lucas. Eu gostei de segurá-lo, seus
olhinhos ficaram brilhando ao me olhar, mas eu também quero que ele tenha
meu nome. Será bom para minha boate que eu tenha um filho com
sobrenome Blanc, mas o Henry não precisa saber disso.

— Isso é uma decisão apenas da Isa. Não tente influenciar ela, você
não é digno de ser pai. Você nunca será. — Ele fala e se vai, me deixando
ainda mais frustrado.

Henry
Saio do escritório dele e passo por seus funcionários na boate.
Gostaria de saber como eles recebem. Chego na casa da Isa e tenho uma
surpresa ao ver meu pai sentado com o Lucas no colo.
— Ele é muito lindo, claro que puxou o avô paterno. — Ele fala,
sorrindo para o bebê.

— Só em seus sonhos, Benet. — O pai da Isa fala vindo da cozinha.


— Não esperava encontrar o senhor aqui hoje. — Falo, e ele olha
para mim.

— Você não apareceu mais na casa dos seus pais. — Senti a crítica
em seu tom, mas ainda não consigo olhar para a mamãe e não lembrar das
coisas que ela fez. Não por meu namoro fracassado com a Letícia ou pelo
fato dela ter feito aquilo com a Isa, mas sim por toda a mentira. Ela deveria
ter me falado sobre nossas verdadeiras origens, isso era o mínimo que
mamãe poderia ter feito por mim e por Henrique.
— Sente-se, Henry. Eu e seu pai estávamos falando sobre as
empresas. Como andam as obras?

Começamos a construir uma nova empresa do começo, o que leva


um tempo até dar lucro, mas sei que valerá a pena. Quando as pessoas vêm
para passar férias e aproveitar o lugar, sempre desejam um carro para poder
transitar na cidade, então foi isso que pensei quando decidi chamar o pai da
Isa para sermos sócios.
— Onde está a Isa? — Pergunto, e ela logo aparece. Nem parece
que ela teve filho há pouco mais de um mês, pois seu corpo já está normal.
— Estava tomando um banho enquanto Lucas ficava com os avós
corujas. — Ela sorri, e então meu pai vai lhe entregar Lucas.

— Precisamos conversar, Henry. — Isabelly olha para mim com


cara de que também quer me falar algo. Esses dias notei ela um pouco
apreensiva, e sinto que está me escondendo algo, mas eu não sei se estou
certo e não quero que ela pense que eu não confio nela.
Capítulo 41

— O que houve, pai? Por que o senhor veio me procurar aqui? —


Pergunto entrando no escritório da Isa, onde ela falou para que eu passasse
meu tempo trabalhando aqui.

— Henry, você sempre foi o mais responsável, o mais adulto e agora


está dando birra porque sua mãe não contou que somos seus pais adotivos.
— Papai fala, e olho para ele.

— Sabe que não é só por isso. Eu não gostei do que ela fez com a
Isa e também não gostei de saber o que ela fez quando eu namorava com a
Letícia. — Falo, e ele nega com a cabeça.
— Olha, Henry, sua mãe tem mil e um defeitos, assim como eu
também sempre fui o mais errado dessa história, mas eu gostaria de lhe falar
uma coisa muito importante: sua mãe teve todos os motivos para perder a
cabeça aquele dia, e eu fui o culpado, então peço que me escute e não diga
nada até eu terminar.

Meu pai começa a me falar o que ele sempre fez com mamãe, e eu
fiquei incrédulo, principalmente ao saber que ele chegou a bater nela e levar
mulheres para casa. Nunca imaginei que o homem de quem eu sempre tive
orgulho era esse tipo de homem. Eu não quis fazer um escândalo aqui na
casa da Isa, mas eu estava muito puto com ele. Naquele dia do meu acidente,
mamãe descobriu que ele tem um filho fora do casamento, o que fez ela ter
aquela atitude com a Isabelly, claro que isso não justifica, mas eu no seu
lugar poderia ter feito qualquer coisa, brigado com qualquer um.
— Eu sempre tive o senhor como um herói, agora descobri que tudo
que eu idealizava sobre o senhor era uma mentira! Eu julgava minha mãe
por seu temperamento forte, por tratar o senhor mal muitas vezes, mas agora
eu entendo ela. — Seu olhar de arrependimento me faz ficar com mais raiva.
Isabelly entra no escritório, e olho para ela como forma de pedir socorro por
ter julgado tanto minha mãe.

— Preciso falar uma coisa para vocês. — Ela parece apreensiva. —


Elisabete está doente. — Seu semblante de tristeza me faz perceber que não
é algo que se cure facilmente.
— Como assim? — Meu pai pergunta confuso.

— Ela veio aqui alguns dias atrás. Eu percebi que ela estava
estranha, com assuntos confusos, então eu vim buscar uma água para ela, e
quando eu voltei ela estava conversando com o Lucas. Eu entrei e questionei
suas falas, até que ela me contou. — Isa fala, andando de um lado para o
outro na sala.
— Como escondeu isso de mim, sabendo que não estou falando com
ela e que eu falei coisas horríveis para ela? — Grito.

— Eu... Eu não sabia como falar isso, Henry. Ela não contou para
ninguém. — Isabelly fala em defesa.
— O que ela tem? Ela falou? — O homem ao meu lado pergunta.

— Um tumor no cérebro, e é inoperante. — Isa fala de cabeça


baixa.

Saio da sala, e Isa tenta falar comigo. Seu pai, que estava na sala,
fica confuso.

— Henry, me escuta, por favor. — Ela fala quando pego a chave do


carro.
— Você teve dias para me contar isso, assim como teve dias para me
contar sobre o registro do Lucas. O que mais está escondendo? Pretende
casar com o Henrique? Isso não me surpreenderia. — Falo com raiva.

— Não fale assim com a minha filha. — O senhor Blanc fala, vindo
até mim.
— Agora está dando uma de bom pai, depois de tudo que fez e falou
para ela e depois de ter quase a deserdado? — Ele se cala.

Saio da casa dela e vou direto para a casa da minha mãe. Preciso
pedir perdão por ter falado tudo aquilo para ela e agradecer tudo que ela fez
por mim. Sei que nada vai mudar as coisas ruins que mamãe fez, mas ela foi
a mulher quem me criou, quem deu amor e carinho. Foi ela quem cuidou de
mim quando eu estava doente, quando eu estava indefeso ela me protegeu e
me deu amor, me ensinou o certo e o errado.
Paro o carro de frente para a grande porta, adentrando a casa como
se minha vida dependesse daquilo.

— Mãe! Mãe! — Chamo, já sentindo as lágrimas virem. O nó que


se forma em minha garganta é como uma laranja de tão grande.
— O que houve, senhor Benet? — Francisca pergunta, vindo até
mim.

— Cadê minha mãe, Fran? — Pergunto olhando por toda a sala.


— Ela está deitada, não levantou hoje. — Ela fala, e corro para o
quarto.

Abro a porta rapidamente. Mamãe está deitada e me olha assustada.


— Henry, o que houve? Seu irmão está bem? — Ela pergunta, e as
lágrimas descem. Como posso viver sabendo que não vou mais vê-la, sentir
o cheiro dos seus cabelos quando me abraça?

— Me perdoa, mãe, me perdoa por ter dito coisas horríveis, por não
ter cuidado da senhora, por não ter percebido que precisava de mim. — Falo
me ajoelhando ao lado da cama.

— Ela te contou, não foi? Eu pedi a ela que não fizesse isso. —
Mamãe fala, sentando e passando as mãos no meu cabelo.

— Por que, mãe? Por que não me falou nada? Eu merecia saber pela
senhora. — Falo sentindo a mágoa no meu coração dilacerar ele por
completo.
— Eu não queria que ficasse ao meu lado por pena, filho. Eu vou
partir e quero que pense nos nossos momentos bons, quando levava vocês
três para o parquinho, quando nós tomávamos sorvete na volta. — Abraço
ela e continuo chorando. Como eu vou viver sem isso, sem ela me abraçando
e me lembrando dos momentos bons? Como eu queria mudar isso.

— Me perdoa, mãe. Por favor, eu preciso disso.


— Eu nunca ficaria com raiva de você, meu amor, eu perdoo você
sim. Mil vezes eu te perdoaria, e quero que perdoe seu pai, seu irmão e a
Isabelly por não terem contado logo. Eu joguei uma bomba em seus braços,
e ela não sabia como lidar com isso.

Eu estou com raiva dela por ter escondido a doença da minha mãe, e
sei que agora ela deve estar com raiva de mim por tudo que eu disse para ela.
Fico ali deitado ao lado dela, papai chega e vem abraçá-la também,
logo é a vez do Henrique, ele também não sabia de nada.

Eu tive que ligar para Mia. Ela disse que está a caminho, pois ainda
estava se instalando no Brasil. Minha irmã ainda não encontrou um trabalho;
mesmo não precisando trabalhar, ela faz questão de se manter por conta
própria. Pelo que eu sei, ela guarda todo o dinheiro que recebe da empresa
em uma poupança para o bebê que está esperando. Mia é um exemplo de
mulher, forte, corajosa e independente.
Capítulo 42

Eu não queria ter falado assim para ele, mas eu não sabia como falar
que a mãe dele está morrendo. Para mim foi mais fácil daquela forma do que
chegar num momento só eu e ele e contar, mas pelo jeito ele já estava num
conflito muito grande com seu pai naquele momento.

— Você pode me dizer o que foi que aconteceu para ele ter saído
daquela forma, e ter falado coisas absurdas para mim e para você? — Papai
perguntou assim que Henry saiu, deixando-nos totalmente atônitos.
— Não é um problema nosso, pai. É sobre a família dele. — Saio da
sala, pensando na besteira que fiz de não ter contado antes. Henry merecia
saber a verdade logo, e eu fui uma burra por não ter falado de uma vez.
Agora a burrada já está feita, e eu não posso fazer nada.
— Ele não deveria ter falado assim com nós. — Ouço papai
esbravejar.

Lucas essa noite quase não dormiu, então marquei uma consulta na
pediatra hoje. Ela só poderá atender ele depois das cinco; medi sua
temperatura mas não estava com febre, talvez a ausência do Henry esses dias
pode ter feito isso. Ele anda trabalhando muito, chega em casa tarde e quase
não tem tempo para o pequeno. Henry está enrolado com a obra em que é
sócio do meu pai, e por isso eu tento não cobrar tanto as coisas dele.
— Eu vou levar o Lucas na pediatra e qualquer coisa me liga, tá
bom? — Saio de casa com o coração apertado.

Eu não queria ter escondido de Henry a doença de sua mãe. Até


tentei conversar com ele sobre isso, mas não consegui. Não tinha como eu
contar que sua mãe está morrendo, até que eu me senti no dever de falar para
ele e seu pai. Passei por cima de tudo que me afligia e contei.
— Calma, filho, daqui a pouco você vai ficar melhor. — Falo
seguindo para a clínica.

Assim que chego, logo sou atendida.


— Boa tarde, Isa. Como você está? — Samanta pergunta sorridente.

— Uma mãe nunca está bem se seu bebê não dorme durante a noite.
— Falo, e ela confirma com a cabeça.
— Mas me conte: o que o pequeno Lucas tem? — Ela pergunta
vindo pegar o bebê.

— Ele deu febre noite passada, e hoje continuou pelo dia todo. Fiz
como mandou, dei os remédios e não cortou a febre, então trouxe ele aqui.
— Falo olhando meu bebê em seus braços.
— Vou pedir uns exames para descartar qualquer infecção e vou
olhar a gargantinha dele, ok? — Ela fala passando a mão em seu rostinho.

— Já que não tenho outra opção, pode fazer os exames. — Assino


alguns termos de responsabilidade. Lucas ainda não está registrado, e não sei
como vai ser para registrar meu bebê. Já pensei em colocar apenas no meu
nome, pois não quero criar mais um conflito entre os Benet. Já basta toda
essa bagunça.
Passaram algumas horas depois dela já ter feito a coleta para os
exames, e foi uma parte bem dolorosa para mim como mãe. Ver tirarem
sangue de um bebê de apenas um mês não é fácil, o choro agudo me fez
sentir impotente.

Depois de longas horas, vejo ela vindo em minha direção. Ela


segura alguns papéis que acredito que sejam os exames de Lucas.
— Está tudo bem, Sam? — Pergunto, já me levantando com Lucas.

— Venha até minha sala, precisamos conversar.


Fico apreensiva.

Chegamos a sua sala, e ela fecha a porta. Olho seus movimentos,


Samanta aponta a cadeira para que eu me sente. Como estou com um bebê
no colo, não recuso.
— Pode me contar agora o que está acontecendo. — Pergunto
preocupada

— Isa, foram feitos todos os exames possíveis, e eu refiz o exame


para não ter dúvidas. — Ela para por um tempo e depois suspira. — O Lucas
está com pneumonia. Está no começo, mas tem que ser tratada com
antibiótico. O mais indicado é que ele fique internado por alguns dias para
receber a medicação.

Me senti ainda mais impotente, uma pessoa fraca. Como posso ser
uma boa mãe se não consigo nem cuidar do meu bebê direito? Pensei que
estava sendo uma mãe boa, uma heroína para ele, quando na verdade meu
filho está com pneumonia.
— Eu… Eu posso ficar com ele? — Pergunto com dificuldade,
engolindo o nó que se forma em minha garganta.

— Claro que sim, você tem todo o direito do mundo de ficar com
seu bebê. — Ela fala, vindo até onde estou.
Quando ela se aproxima, entrego Lucas em seus braços e começo a
chorar. É isso que estou precisando: chorar. Meu bebê está doente, e o
homem que eu amo está me odiando agora.

— Calma, Isa, ele vai ficar bem. São só alguns dias aqui, e ele logo
estará em casa com você. — Tento formular alguma palavra, mas nada me
vem à mente. Só quero poder chorar e colocar toda essa angústia para fora.
Ela me levou até a UTI onde meu filho ficará por alguns dias.
Troquei de roupa e coloquei uma de hospital, totalmente higienizada. Depois
de meu bebê já estar no berçário, onde ele ficará por alguns dias, liguei para
minha mãe para avisar o que estava acontecendo. Pedi que ela arrumasse
uma bolsa para mim, com algumas roupas e meu estojo de higiene pessoal.
Mamãe me fez prometer que qualquer coisa eu a chamaria para ficar com
ele, mas eu não vou deixar meu bebê nem por uma hora sem mim.

Tentei por diversas vezes falar com o Henry. Eu sabia que ele não
queria falar comigo; percebi isso na primeira tentativa de ligação, quando ele
mesmo fez questão de desligar, mas depois disso ainda tentei por mais cinco
vezes, deixando três mensagens na sua caixa postal.

— Eu estou aqui, meu amor, jamais vou deixar você desamparado.


Quando ninguém mais estiver aqui, eu vou estar. — Falo, segurando a
pequena mão de Lucas. Mas uma vez as lágrimas vieram com força, e eu
queria que Henry estivesse comigo agora.

Alguns dias depois

Já faz cinco dias que estou com o Lucas no hospital. Durante esses
cinco dias eu tentei incansáveis vezes falar com o Henry, mas ele não
atendeu. No quarto dia eu já tinha desistido; se ele não me atendeu, então
não tinha o porquê de eu insistir tanto por alguém que jurou me amar
incondicionalmente.

— Só preciso que fique com ele enquanto vou em casa tomar um


banho e pegar mais algumas coisas. — Mamãe fez questão de ficar um
pouco com Lucas, então eu acabei cedendo.
— Fique tranquila. Pode ir, meu amor, qualquer coisa eu ligo. —
Percebi que ela está reluzindo, um brilho que antes ela não tinha, e fico feliz
por ela. Já eu não posso dizer o mesmo, pois nesses cinco dias eu já perdi
dois quilos. Não consigo ficar longe do Lucas, então o que como é só o que
as enfermeiras trazem a pedido da Samanta. Mesmo assim não como muito
bem, o que está me deixando cada dia mais magra e sem vida.

Depois de cinco dias é a primeira vez que estou vendo o sol


novamente. Os raios solares batem na minha pele pálida, e logo coloco a
mão na frente dos meus olhos. Pego o carro e vou até meu apartamento. Está
tudo da mesma forma como estava quando eu saí. Mamãe faz de tudo para
deixar do mesmo jeito, inclusive ela já selecionou uma babá para me ajudar
assim que eu chegar. Claro que ela quase não vai ter o que fazer, porque não
pretendo soltar meu pinguinho por nada. Já não trabalho mais para o Henry,
porém tenho uma boa quantia para viver bem, então posso muito bem
trabalhar em casa e cuidar do meu pimpolho.

Vou direto para o banheiro. A água morna faz meu corpo relaxar,
porém não consigo tomar um bom banho lá. Estou tão cansada, com meu
psicológico fodido, não durmo direito pensando que meu bebê pode passar
mal durante a noite, que eu posso perder ele. Como eu fui deixar isso
acontecer?
Vou para o closet e visto uma roupa qualquer. Não tem por que eu
me arrumar, pois quando chegar no hospital tenho que trocar toda a minha
roupa mesmo. Peguei tudo que eu precisava e saí do quarto. Ouço um
barulho de porta se abrindo e vou até a sala.

— O que faz aqui? — Pergunto para o homem parado na minha


frente. Só agora, olhando para ele, percebi o quanto estou magoada.
— Oi, eu vim buscar uns documentos e ver como estão você e o
Lucas. Queria pedir desculpas por aquele dia. — Ele fala tentando se
aproximar, mas dou um passo para trás.

— Não tem porque me pedir desculpas, eu já estou de saída.


Quando terminar, feche a porta e deixe a chave com o porteiro. — Ele
parece ficar confuso.
— Isa, não precisamos chegar a esse ponto. O Lucas precisa de nós.
— Ele fala, me deixando ainda mais frustrada.

— Não. Não, Henry. O Lucas precisa de mim, que sou mãe dele. Ele
precisa apenas de mim, que estive com eles esses dias todos, segurando sua
mão enquanto ele sofria. — Falo, já sentindo minha garganta trancar.

— Como assim? Do que está falando? Cadê o nosso filho. — Ele


pergunta, e sorrio sem humor.
— Nosso filho uma ova. Meu filho. Apenas meu! Porque enquanto
você recusava as minhas inúmeras ligações, o meu filho era — e ainda é —
penetrado por várias agulhas e sondas para se alimentar. Não venha tentar
ser pai agora, Henry. Agora ele já não está mais precisando da sua
compaixão. Por ele não ter um pai decente, meu filho terá apenas meu nome.
— Falo com raiva enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

— Como assim? Você não pode fazer isso! Eu amo aquele bebê
como meu filho, eu também estou passando por problemas, Isa! Eu estava
com raiva por não ter me contado sobre a doença da minha mãe. Você não
pode apenas jogar a culpa em mim! — Henry fala, com os olhos marejados.
— Assim como você jogou a culpa em mim por sua mãe não ter lhe
contado sobre a doença dela. Eu nunca quis saber disso, Henry. Eu não sabia
como falar para você! — Passo a mão na cabeça, já sentindo a mesma doer.

— Tudo bem, Isa. Eu sou o errado dessa história. Eu que briguei


com ela e me afastei, eu que não conversei com você e só saí, deixando tudo
para você, mas eu quero saber como está meu filho. Eu quero poder ver ele!
— Respiro fundo e penso duas vezes no que vou falar. Sei que isso vai
magoar ele profundamente, mas eu não vou esconder o que estou pensando e
sentindo.

— Você não verá ele, Henry. Ao longo desses cinco dias, eu percebi
que você não serve para ser pai do Lucas. Se na primeira briga, no primeiro
atrito que tivemos, você desapareceu das nossas vidas, você não serve para
ser uma figura paterna para meu filho. Nós dois merecemos alguém por
inteiro. — Vejo a primeira lágrimas escorrer de seus olhos.

Olho para ele mais uma vez, arrumo a bolsa em meu ombro e saio
da minha casa. Eu sei que fui dura, sei que posso e vou me arrepender
amargamente das palavras que disse para ele, mas o que eu preciso é de uma
pessoa que não me vire as costas quando eu precisar.
Capítulo 43

Ouvir ela falar que não sou digno dela e do Lucas me partiu o
coração. Eu estou em choque, ainda no mesmo lugar, pois não consegui
mover nem um dedo de onde estava.

Depois de tempos olhando para o nada, consegui me mover. Fui até


seu escritório e peguei os papéis que precisava. Segui até a porta e, quando a
abri, olhei para trás, lembrando de tudo que fiz para tê-la e tudo que fiz para
perdê-la. Eu sei que peguei pesado com Isabelly. Eu não deveria ter culpado
ela por não ter me contado a verdade, pois mamãe jogou uma bomba em
seus braços, e Isa não sabia o que fazer. Eu deveria ter escutado ela, deveria
ter atendido suas ligações. A primeira eu vi e desliguei, sabendo que Isa
saberia que eu não queria falar com ela naquele momento.

Não quero que ela se sinta pressionada por mim, então assim que
chego ao hall do prédio, entrego a chave para o porteiro. Estou tão atônito
que ele fala comigo mas não escuto, apenas confirmo com a cabeça e saio do
prédio. Vou fazer o que sempre fiz de melhor: enfiar a cara no trabalho e
tentar esquecer as burrices que eu fiz.

As horas passam devagar. É como se o tempo estivesse parado, e


tudo estivesse em câmera lenta. Ruby entra na sala, me tirando dos meus
devaneios. Olho para ela e tento focar no que a ruiva diz.

— Quando a Isa vai voltar? Tem coisas que ela precisa analisar. —
Ela fala, e então tudo volta a funcionar normalmente, me tirando novamente
do meu transe.

— Ela não vai. — Falo sentindo o peito apertado, a respiração


falhar.

— Como assim? Vocês não voltaram? Ela já pode voltar e trazer o


Lucas. — Ela fala, gesticulando com as mãos.

— Isabelly não vai voltar. — Falo, mais para mim do que para ela.
— Henry, o que houve? — Ruby se aproxima com o semblante
preocupado.

— Ela me deixou. Eu fui um tolo! Eu não cuidei dela e do Lucas, e


agora ele está no Hospital. Eu não estava ao seu lado, Ruby. Eu a perdi. Essa
é a mais pura verdade.
— Pois a reconquiste novamente! Faça melhor dessa vez, seja
alguém melhor do que foi agora. — Ruby fala batendo na mesa. Sua atitude
me fez, de alguma forma, acordar.

— Meu filho…
Lembro que ele está doente, e eu o ajudei a chegar nesse mundo.
Por mais cruel que o mundo seja, ele é meu filho, mesmo que não seja de
sangue. Eu o considero meu filho e vou lutar para ter Lucas ao meu lado,
mesmo que a mulher que eu amo não me queira mais.

Levanto e saio sem falar nada. Hoje eu rodo toda a cidade de


Londres, mas eu encontro ele. E se a Isa não quiser que eu o veja, eu entro
escondido e alego ser o pai do bebê, mas acho alguma forma de ver o Lucas.
— Eu quero aquele ali. — Falo apontando para um buquê de tulipas
vermelhas.

— Ótima escolha. — A vendedora de meia idade fala sorridente.


Vou o caminho todo pensando o que falar para Isa. Ela está com
muita raiva de mim, e eu até tentei dar um tempo, mas eu já dei tempo
suficiente, dois dias, dez horas e trinta e cinco minutos foram o suficiente
para ela perceber que eu não vou ficar longe dela e muito menos do Lucas.

Depois de procurar em dois hospitais os quais tem UTI neonatal,


cheguei no último onde me falaram que ele poderia estar. Saio do carro e
olho para as flores, que já estão murchas de tanto tempo ali dentro. Já
passaram duas horas da tarde, não consegui nem ao menos comer; quero
poder trazer a mulher que eu amo e mãe do meu filho para perto de mim
novamente.
— Boa tarde. Eu gostaria de saber se Lucas Blanc está internado
aqui. Ele tem quarenta e dois dias. — Falo o sobrenome da mãe dele, pois
talvez Isabelly tenha internado ele com esse nome.

— Só um minutinho. — Ela digita alguma coisa no computador, e


fico esperando impaciente.
— Temos sim, um Lucas Blanc. Ele está na UTI neonatal, está
tratando uma pneumonia. — Meu Deus! Meu filho está com pneumonia, e
eu estava dando birra para não atender a mãe dele.
— Fazem quantos dias que eles estão aqui? — Pergunto, só para me
recriminar ainda mais.

— Fazem cinco dias. — Ela fala e depois volta a atenção para o


computador.
— Eu posso ver ele? — Pergunto com medo da resposta.

— Apenas pelo vidro. É uma área muito delicada e que requer


muitos cuidados. — Ela fala, e concordo com a cabeça.
Um rapaz me acompanha até o local onde posso ver o Lucas. De
longe avisto Isa. Ela está tão abatida, e eu não pude segurar ela em meus
braços e dizer que tudo vai ficar bem. Eu fui o culpado por ela estar tão
longe de mim.

— Obrigado. — Falo para o rapaz, que se afasta aos poucos.


Fico apenas observando ele mexer as perninhas. Isa segura sua mão
e sussurra algumas coisas. Ela tem todo o direito de estar me odiando. Eu
deveria estar lhe dando apoio, quando fiz ao contrário, lhe condenando por
um erro que não foi seu. Sei que minha mãe às vezes passa dos limites, ela
poderia ter me contado, mas a quem eu quero enganar? Eu sou o maior
culpado por tudo isso. Henry Bennet não consegue nem assumir seus
próprios erros.

Vejo Isa secar algumas lágrimas teimosas que insistem em cair de


seus olhos. Ah, Isa, como eu queria poder consertar minhas burradas. Talvez
se eu até tivesse te falado que eu sempre te amei lá no começo, o Lucas seria
meu filho de verdade, e nós não estivéssemos passando por tudo isso.
Será que eu vou conseguir reconquistar ela?

Isabelly
— Oh, filho. Como eu queria ter cuidado melhor de você, sei lá o
que eu poderia ter feito diferente, mas eu teria feito. — Passo a mão em seu
rosto e depois seguro sua pequena mão. Lágrimas escorrem do meu rosto,
pois isso é a única coisa que tenho feito nesses dias, e hoje foi o cúmulo para
mim. Eu não estava preparada para encontrar o Henry hoje. Pensei em tudo
que falei para ele e, por mais que eu não esteja errada, eu me senti culpada.
Ele ajudou a trazer o Lucas para o mundo, ele fez por mim coisa que muitos
homens nunca fariam. Vivemos em uma sociedade machista, que não aceita
o fato da mulher trabalhar, ser independente e ter filhos sem marido. No
começo eu pensei que estaria perdida, mas depois vi que não precisaria de
ninguém para criar meu bebê. Porém, o Henry, mesmo sem obrigação se fez
presente; ele aceitou o filho do próprio irmão, e eu descobri que sentia por
ele um sentimento que estava oculto, mas ele pisou na bola feio comigo. Eu
não merecia levar toda a culpa. Eu não julgo a mãe dele, mas também não
aceito o fato dela ter feito tudo o que fez comigo, e o fato dela ter jogado
toda essa bomba para mim ser mera coincidência.

Alguns dias depois

Lucas passou nove dias internado. A doutora Samanta pediu para


deixar mais dois dias em observação. Henry insistiu em passar pelo menos
uma noite com ele, e eu acabei deixando. Estava tão cansada, queria poder
dormir uma noite, para ter energia para cuidar dele quando chegássemos.
Hoje estamos indo para casa. Mamãe fez questão de ir buscar nos dois;
Henry até tentou, mas pedi espaço. Sei que ele quer ficar perto do Lucas,
mas eu não quero ele perto de nós dois agora.
— Estou namorando. — Mamãe fala, e olho para ela incrédula.

— Sério? — Pergunto.
— Sim, mas apenas você sabe disso. — Não que eu esteja com raiva
ou coisa do tipo. Eu só quero sua felicidade, assim como a do papai. Eles
tentaram por anos, e agora cada um seguirá um rumo diferente. Eu fico feliz
por ela.

— Eu estou muito feliz, espero que ele saiba cuidar da senhora


como merece. — Falo, e ela sorri.
Ela me falou algumas coisas sobre ele. O mesmo é cinco anos mais
novo que ela, claro que eu jamais julgaria isso. Ela falou que ele é fotógrafo
e que trabalha em uma agência de modelos. Eu achei bem legal, fora dos
padrões de empresa, jantares de negócios etc. Ela realmente precisa se
afastar desse mundo de negócios. Já basta o tempo que mamãe viveu com
meu pai, que não ligava para ela e sim para o trabalho.

— Sei que seu pai vai surtar com isso. Não quero nem ver quando
ele descobrir. — Ela fala sorridente.
Mamãe sempre foi uma mulher cuidadosa com a família, sempre se
preocupou com nosso bem estar. Meu pai sempre andou impecável porque
ela gostava de passar suas roupas, mas ele nunca valorizou ela.
Capítulo 44

Já faz mais de meses que não sinto o cheiro doce dos cabelos dela.
Só eu e Deus sabemos a falta que estou sentindo dela e do Lucas.

Tomo mais uma dose do whisky que estava no copo e olho para a
garrafa, que já quase seca em cima do balcão. Nesses dias todos que estou
longe dela eu não tenho conseguido fazer quase nada. Até tentei enfiar a cara
no trabalho, mas está tão difícil ver minha vida sem a Isabelly, saber que ela
está me odiando, e tudo por que sou um imbecil. Olho para o pequeno
embrulho em cima da mesa de vidro. Eu comprei um macacão para o Lucas,
mas não consegui entregar. Respiro fundo e sinto minhas vistas ficarem
escuras, penso em ir até a casa da Isa, mas não seria legal chegar lá com
cheiro de álcool e totalmente embriagado.

Subo até meu quarto com dificuldade, já que a casa parece que ficou
ainda maior. Eu estava acostumado com o apartamento da Isa. As grandes
janelas de vidro que fazem reluzir os raios solares, os cômodos tão arejados,
e mesmo minha casa sendo tão espaçosa eu me sinto sufocado. Tomo um
longo banho, passo as mãos em meu rosto e sinto a barba por fazer, depois
de ficar por um bom tempo embaixo da água fria me recriminando, saio e
vou até meu closet, pego uma cueca box preta e visto, olho para meus ternos
pendurados perfeitamente alinhados. Faz dez dias que não vou na empresa.
Dormi alguns dias na casa da minha mãe, pois ela não está bem. Às vezes
acorda durante a noite gritando de dor, a morfina já não está mais fazendo
efeito, e cada dia ela está pior. Meu pai já perdeu alguns quilos, ele também
não dorme, porque o medo de acontecer algo com ela durante a noite nos
consome todos os dias. Henrique… mal vimos ele. Estou sentindo pena do
meu irmão; nunca imaginei que ele ficaria assim por ver nossa mãe se
definhando aos poucos. Ele foi na casa da Isa, eu soube por sua mãe, que é
quem me dá notícias dela. Henrique pediu para ela avisar caso ele volte a
ficar doente.

Deito em minha cama, mas o sono não vem. A cama parece ter
espinhos, mas eu sei que sou eu que não consigo mais dormir, já que a falta
da Isabelly está me destruindo aos poucos. Levanto, mesmo com meu corpo
pedindo um descanso, respiro fundo e vou até o closet. Visto uma calça jeans
e uma camisa gola polo, calço um sapato preto e passo um perfume
qualquer, olho meu reflexo no espelho e penso: “Como estou acabado!”.

Pego o pequeno embrulho em cima do balcão, pensando mais uma


vez se devo ou não fazer isso. Eu vou fazer isso sim! Ele também é meu
filho, pelo menos eu o considero. Pego meu carro e sigo para a casa dela;
minhas mãos estão suando, meu coração está batendo tão acelerado que é
como se eu tivesse corrido uma maratona. Chego no prédio dela e fico
encarando o grande edifício. Será que Isabelly vai me receber bem? E se ela
não quiser que eu entre, eu não posso fazer nada, apenas aceitar o fato de
que ela nunca mais será minha.

Toco a campainha com receio dela não atender. Sei lá, a única coisa
que consigo pensar são coisas ruins.
— Olá, Henry. — A mãe da Isa fala sorridente.

— Boa tarde, senhora Blanc. — Falo com um meio sorriso.


— Por favor, me chame de Débora, pois o sobrenome Blanc já não
me pertence. — Ela fala, me dando passagem.

— Me desculpe. — Falo, me lembrando que eles se divorciaram.


— Não precisa disso, meu querido. Não sabe como foi bom se livrar
desse sobrenome. — Ela sorri.

— Bom, eu gostaria de ver o Lucas. — Falo segurando o pequeno


embrulho.
— A Isa acabou de dar banho nele. Pode ir até o quarto, vou
preparar a comida dele. — Isa tinha comentado que, pelo fato dele ter se
alimentado por sonda na UTI, ele não aceitou muito bem o peito novamente.
Ela estava muito triste, mas não pôde fazer nada quanto a isso.

— Ok, vou ver ele. — Falo.


— Sei. — Ela fala enquanto sai. Está tão visível assim que quero
ver os dois e não só o pequeno?

Adentro o cômodo. O berço dele fica no quarto da Isa, mas as


coisinhas dele ficam em um quarto todo branco e verde, que foi feito
especialmente para ele. Isa já tinha chegado quando decidimos fazer essa
decoração, eu contratei os profissionais, e tudo foi feito muito rápido. O
quarto tem a floresta como tema, e alguns animais desenhados pelo quarto
chamam a atenção devido às cores variadas.

— Oi, Henry, não esperava sua visita. — Isa fala, me tirando dos
meus devaneios.
— Oi, desculpe, foi algo de última hora. — Falo olhando ela vestir
o Lucas. Ele está tão lindo, está corado e bem rechonchudo.

— Tudo bem. Como você está? — Ela termina de vestir o pequeno,


que começa a brincar com a própria mão. Isabelly me analisa.
— Eu... Eu estou bem. — Minto. Se eu falar que estou bebendo dia
e noite, com certeza ela iria me desprezar ainda mais.

Me aproximo dele, que está no trocador. Quando seus olhos me


encontram ele abre um sorriso.
— Oi, amor. Papai estava com saudade. — Pego ele. Seu pequeno
corpo me traz uma paz… Balanço Lucas devagar, me sinto mais vivo
segurando ele.

Fico um tempo com ele em meus braços, até que a mãe da Isa chega
com seu alimento. Entrego ele para Isa, ela sorri para o pequeno, e sorrio
junto. Observo ela dar comida para ele, e em pouco tempo ele dorme. Isa
tenta fazer ele arrotar, mas é uma perda de tempo. Lucas já pegou no sono.
— Bom, eu tenho que ir. — Falo baixo. Lembro do presente e
estendo ele para Isa. Ela sai, dizendo que vai colocar ele no berço e, pouco
tempo depois, ela volta.

— Obrigada. — Ela abre e vê a pequena roupa que vai cair


perfeitamente nele.
— Já faz algum tempo que comprei, mas não tive tempo de entregar
antes. — Passo minha mão direita em minha nuca.

— É lindo! Vai ficar muito bom no Lucas. — Isa fala admirando a


peça.
— Eu... Bom, deixa para lá. — Falo levantando.

— Fala! Você o que?

Ela pergunta, se aproximando.

— Eu comprei em uma das minhas reuniões. Olhando assim parece


até mentira, mas eu tinha uma reunião depois das cinco da tarde, e o meu
advogado pediu que fosse no shopping. Eu achei estranho, mas ao chegar lá
ele estava cuidando da sua filha de cinco anos. Ela estava se divertindo nos
brinquedos enquanto nós dois falávamos de um processo. Quando eu estava
prestes a ir embora, vi esse macacão e lembrei do Lucas. — Explico, já me
lembrando do dia. Eu ainda tinha ela do meu lado.
Quando a Isa sumiu, eu fiquei mal. Na verdade eu fiquei péssimo,
mas depois descobri a verdade, então eu sabia que poderia ter ela
novamente, mas agora é diferente. Eu a magoei, e ela me falou coisas que
me fazem ter a certeza que ela não me quer em sua vida.

— Obrigada, Henry. É um lindo presente. — Ela fala.


— Eu tenho que ir. Deixei alguns papéis sem assinar na empresa. —
Minto.

— Henry, eu sei que fazem dias que não vai lá. — Ela fala, me
pegando de surpresa.
— Você foi lá? — Pergunto, na esperança dela falar que foi me ver.

— Não, Ruby me ligou. Aquela ruiva.


— Está tudo bem. — Falo e começo a caminhar até a porta, mas
paro de andar e olho para ela. — Eu sei que errei feio. Nada justifica a forma
que eu lhe tratei, mas eu ainda amo você, Isabelly. Ver você tão perto e não
poder te tocar é uma tortura para mim. — Desabafo.

— Henry, você fala que me ama, mas estava tão focado no trabalho,
mal dormia em casa, e quando chegava ia direto para o escritório. Eu vi em
você o meu pai, um homem ausente, que nunca poderia ser alguém para meu
filho porque não tem tempo para nada além do trabalho. — Ela fala, e me
aproximo ao ponto de sentir sua respiração.
— Eu estava fazendo isso por nós, Isa. — Digo segurando seu rosto.

— Como isso poderia ser por nós, Henry? — Por mais difícil que
seja de entender, esse era o motivo por eu estar tão ausente.
— Eu estava pondo os negócios todos no seu tempo. Queria poder
organizar tudo, para que nós três pudéssemos passar um ano sabático quando
Lucas fizesse um ano. Queria poder levar ele nos melhores lugares e, mesmo
que ele não se lembrasse, iríamos deixar tudo registrado por onde ele passou.
Eu queria poder fazer algo grandioso por nosso filho, Isa, mas eu meti os pés
pelas mãos e perdi vocês dois. Agora eu passo minutos com ele. Essa agora é
minha vida, passar minutos ao lado dele e depois ir ficar na minha solidão,
que parece que não acaba.
Capítulo 45

Ver o Henry nesse estado me deixa de coração partido. Ele está uns
quilos mais magro, a barba por fazer, e não está mais com a postura que
tinha. Ruby me ligou há dois dias e disse que ele não está indo na empresa,
que já cancelou quinze reuniões. Seu pai reveza o tempo entre a mulher e a
empresa.

— Henry, eu não sabia. — Falo com o coração apertado.


— Eu preciso ir. — Ele sai antes de eu falar o que estou sentindo.
Esse último mês está sendo difícil, pois eu amo ele, mas ainda estou
magoada com tudo que aconteceu. Eu queria poder me jogar em seus braços
e dizer que tudo vai ficar bem, mas eu ainda estou magoada. Eu quero
perdoá-lo, mas tenho medo de precisar dele novamente e ele não atender,
falar coisas absurdas para mim outra vez.
— Filha, por que o Henry saiu daquele jeito? — Mamãe pergunta, e
olho para ela confusa.

— Que jeito, mamãe? — Fico olhando seu semblante. Eu sei que


ela quer que eu perdoe ele. Mamãe disse que um cara como Henry é difícil
de se encontrar, e que tudo que ele já fez para ficar comigo o torna digno do
meu amor.

— Eu encontrei ele ali no corredor, ele estava chorando. — Ela fala.

— Droga! — Saio correndo do quarto na esperança de encontrá-lo,


mas é em vão. O elevador já está em movimento, eu nunca conseguiria
alcançar ele.
Respiro fundo e penso o que devo fazer. Droga! Mil vezes droga!
Eu não vou deixar ele! Esse mês foi uma tortura para ambas as partes. Ele é
lindo, solteiro, e tem tantas outras mulheres por aí, e ele só quer a mim e ao
Lucas.

— Mãe, eu preciso sair. O Lucas está dormindo e provavelmente só


acordará depois das cinco. Até lá eu já cheguei. — Ela afirma com a cabeça
e exibe um pequeno sorriso. Tomo um banho rápido, visto um vestido preto
com bolinhas brancas e calço uma rasteirinha. Pego minha bolsa e a chave
do carro. Vou o mais rápido que posso, chego em frente à grande casa de
fachada branca e colunas douradas. Ele mora em uma verdadeira mansão.
Falo meu nome para o porteiro, e ele então abre o grande portão.
Paro o carro de frente para a entrada da casa, vejo o carro dele na garagem e
então saio do carro. Caminho até a porta e toco a campanhia, logo a
senhorinha abre a porta.

— Olá, boa tarde, eu gostaria de ver o Henry. — Falo, e ela me dá


passagem.
— Ele está no quarto. A senhora já sabe onde fica. — Já vi ela
algumas vezes aqui, e pelo jeito ela está muito zangada comigo, eu não tiro a
razão dela. Pelo jeito ela está na família há um bom tempo, com certeza deve
tê-lo como um filho.

— Me desculpa, eu...
Ela me interrompe

— Olha, senhorita Blanc, eu já estou há um bom tempo na família, e


já vi esses meninos se envolverem com muitas garotas interessadas no
dinheiro deles. Foram namoros que não duraram, mas a senhorita e o senhor
Henry é diferente. Não há interesse porque já tem muito dinheiro envolvido,
então não acho que seja por interesse financeiro. Se veio aqui para fazer ele
sofrer ainda mais, eu mesmo peço que vá embora.
Eu não me senti ofendida, pelo contrário, eu me senti liberta por ela
ter me falado a verdade que eu precisava.

— Obrigada, eu precisava disso. Agora eu posso ir ver o homem da


minha vida?
Ela dá um meio sorriso, e subo as escadas, abrindo a porta com as
mãos suadas. Henry está deitado apenas usando um moletom. Seu braço
direito está por cima da cabeça, os gominhos do seu abdômen estão bem
visíveis. Henry não notou minha presença, suspiro para tentar conter o
nervosismo. Ele parece perceber que está sendo observado e senta
rapidamente na cama, seus olhos parecem não acreditar está me vendo aqui
na sua frente.

— Isa, o que faz aqui? — Ele pergunta esfregando os olhos


— Eu... Henry eu vinha planejado te falar tantas coisas, mas agora
que estou aqui eu já não sei mais de nada, só que eu ainda lembro de uma
coisa: eu amo você, e se quiser me perdoar por não ter te perdoado logo, eu
estou aqui. — As palavras saem da minha boca descompassadas, nada faz
sentido.

Henry levanta e caminha devagar até mim. Fico olhando seu corpo
coberto pelo simples moletom cinza. Henry vem devagar até mim, esperei
ele falar alguma coisa para me magoar, mas ao invés disso ele se aproximou
ainda mais de mim, passou uma de suas mãos por a minha nuca e me puxou
para um beijo. E que beijo! Como eu estava precisando disso. Precisando
dele, sentir seu corpo perto do meu.
— Eu te amo, Isa. — Ele fala parando o beijo, passo minhas mãos
por suas costas nuas.

— Eu não quero ficar sem você. — Falo, e então ele me pega no


colo. Me assusto com a atitude repentina, porém ele caminha comigo até a
cama, e seus lábios tomam os meus novamente, em um beijo quente e
apaixonado.
Henry me coloca na cama devagar, e mordo o lábio inferior. Ele
deita ao meu lado e fica apenas me observando, fico sem jeito por ele estar
me olhando assim.

Henry

Eu esperei tanto para tê-la novamente, só que quando eu a tive em


meus braços, o medo de perder ela novamente me assombrou. Eu pensei em
tantas coisas, tantas formas dela me deixar.
— Isa, eu pensei tanto esses dias. Não ter você e o Lucas para
ocupar meus horários vagos foi doloroso. — Falo passando a mão em seu
rosto.

— Eu estou aqui agora. — Ela fala sorridente.


— Isabelly, eu não estou mais na idade se brincar de casinha. Já
estou indo para meus trinta e cinco anos, então não quero ter uma noite de
sexo com você e amanhã acordar sozinho. — Estou me sentindo estranho
por falar isso para ela. Eu estava imaginando se ela ainda seria minha, e
agora que Isabelly está aqui na minha cama eu não consigo fazer nada.

— Henry, eu estou aqui, eu vim por que te amo. — Ela fala e passa
a mão em meu rosto.
Tiro sua mão lentamente do meu rosto e sento na cama, ela faz o
mesmo.

— Acho que foi um erro eu ter vindo aqui. — Isa levanta, e meu
coração acelera. Eu não quero expulsar ela da minha vida, pelo contrário: eu
quero ela para sempre comigo.
Ela começa a caminhar rumo à porta do meu quarto, a única coisa
que tenho a falar é a decisão das nossas vidas.

— Casa comigo? — Pergunto ficando em pé.


Isabelly olha para mim confusa. Ela tenta formular as palavras, que
sumiram da sua boca.

— Você... Você falou o quê? — Ela perguntou.


— Perguntei se você aceita casar comigo.

Falo devagar. Ela se aproxima de mim e eu dela, nossos passos são


curtos, ela parece tentar entender se o que eu digo é verdade.

— Você está falando sério? — Isa me analisa.


— Eu amo você, Isabelly. Eu preciso de alguém do meu lado, eu
preciso da mulher por quem eu sou apaixonado há quatro anos. Sabe como
era torturante te ver com outro e pensar que eu nunca teria uma chance com
você? Eu prometi a mim mesmo que faria você me amar, para mim poder
cuidar de você, te proteger e te dar amor. Eu errei e passei um mês sem sentir
o cheiro dos seus cabelos, a maciez do seu corpo, até mesmo sua unha
fazendo círculos no meu peito. Eu quero você mais do que a Eva queria
aquela maçã, mais do que o Noé queria construir aquela arca, eu quero você
mais do que o próprio ar que eu respiro.

Isabelly vem até mim com os olhos cheios de lágrimas. Passo meu
polegar em uma lágrima, que teima em cair do seu lindo rosto.
— Eu quero você mais do que a mim mesma, Henry. Eu quero
poder fazer esses círculos no seu peito, quero poder acordar e ver o seu
sorriso pela manhã. Eu quero poder envelhecer com você. — Isa fala, e tomo
seus lábios em um beijo.

— Só um minuto. — Vou até o criado e pego uma pequena caixinha


de veludo preta.
Caminho devagar até ela e me ajoelho, abrindo a pequena caixa. Ela
põe a mão na boca em sinal de surpresa.

— Você... Meu Deus! É lindo! — Seu sorriso se alarga.


— Já tem algum tempo que ela está aqui. Eu comprei no mesmo dia
da minha reunião no shopping, mas dois dias depois nós brigamos, então
pensei em devolver para a loja, mas eu tinha fé de que ela seria sua. — Falo,
pondo a pequena joia em seu dedo.

— Ele é perfeito, Henry. — Isabelly toma meus lábios em um beijo


calmo. O beijo foi tomando proporção, e eu já estava louco para tê-la, mas
eu não sabia se ela estava do mesmo jeito. — Henry, eu preciso de você. —
Sua voz sensual me faz grunhir de desejo.

Não espero ela pedir mais uma vez. Tiro minha calça moletom e
minha box, desço o zíper do vestido que ela usa, e o tecido desliza até o
chão. Passo a mão em seu corpo, que se arrepia ao meu toque. Ela me quer
tanto quanto eu a quero. Deposito seu corpo quente em minha cama
novamente, o sutiã e a calcinha preta de renda são a única coisa que me
impedem de admirar seu corpo por inteiro. Isabelly morde o lábio inferior
novamente, puxo ela para perto do meu corpo, seguro seu cabelo em um
rabo de cavalo e tomo seus lábios em um beijo quente. Isa geme nos meus
braços, e com a minha mão livre abro o fecho do seu sutiã, massageando um
de seus seios sem parar o beijo. Sento na cama, trazendo seu corpo para cima
de mim, Isa começa a rebolar em meu colo. Estou com tanto desejo de ter
seu corpo novamente ao meu, que apenas afasto a sua calcinha para o lado e
a penetro lentamente, mesmo estando louco de desejo por ela, Isa teve um
bebê há dois meses e ainda não tinha tido relação.
Capítulo 46

— Preciso ir. Lucas já deve ter acordado. — Falo lembrando que ele
provavelmente dormiria até às cinco horas, e já são seis.

— Só um banho, e depois se você quiser eu posso levar você. —


Henry fala me beijando.

— Só um banho, nada de mãos bobas. — Falo, e ele sorri com os


dentes perfeitamente alinhados.

— Sem mãos bobas. — Ele levanta a mão em sinal de rendição.

Tomamos banho e, por incrível que pareça, ele cumpriu o que


prometeu. Não me tocou, apenas tomamos banho e depois seguimos para
minha casa. Assim que chegamos, mamãe abriu um sorriso de canto a canto,
acho que nem eu e Henry estávamos tão sorridentes como ela.
— Puta merda! Vocês estão com cara de cansados. — Ela fala
sorridente.

— Mamãe! — Repreendo.
— Temos uma notícia. — Henry fala e olha para mim.

Mostro minha mão, e ela quase solta um grito, mas lembra que o
pequeno ainda dorme tranquilamente.
— Eu não acredito. — Ela se aproxima e admira a joia em meu
dedo.

— Ela merece o melhor, a minha joia mais linda. — Henry fala, me


abraçando por trás.

— Se vocês brigarem novamente, eu mesma vou cuidar disso,


entenderam? — Mamãe repreende nós dois.

— Eu jamais vou fazer isso novamente. — Henry fala.


Ele foi olhar o Lucas, e eu e mamãe ficamos conversando.

— Henry quer marcar um jantar para oficializar o noivado. — Falo


olhando a joia em meu dedo.
— Será maravilhoso, só não sei se seu pai irá participar. Sabe como
ele fica quando ouve a verdade. — Mamãe se refere ao dia que Henry brigou
com ele.

— Sei sim. Se ele não quiser vir, não posso fazer nada, mas irei
convidá-lo.

— E sua sogra? Sabe que ela está nas últimas, então não guarde
rancor dela. — Mamãe fala, e penso por um tempo. Será inevitável a
presença dela, mas ainda penso muito no que ela fez. Sei que Elisabete está
cada dia mais perto de partir, mas foi doloroso tudo que ela fez comigo, e
quando eu dei uma segunda chance ela jogou uma responsabilidade grande
demais para mim.

— Sim. Henry irá convidá-los. Vou recebê-los da melhor forma


possível.
É assim que pretendo fazer, só espero que Henrique não venha e
faça escândalo. A Mia não poderá vir pois está passando dias difíceis na
gestação. Pelo que eu entendi, ela foi traída quando descobriu que estava
grávida, saiu de Madri, que era onde ela morava com uma amiga, e agora
está morando no Brasil.

— Bom, já que você chegou, eu tenho que sair. Qualquer coisa me


liga, eu te amo. — Mamãe me dá um beijo na testa e sai.
Vou até o quarto onde o Lucas está dormindo, e o Henry está apenas
olhando o pequeno dormir. As palavras que disse para ele ainda fervem em
minha cabeça, e me arrependo todos os minutos por ter falado aquilo. Como
eu pude dizer que ele não é digno de ser pai do Lucas? Ele é, mais do que
qualquer pessoa poderia ser para meu filho. O jeito que ele olha para o
pequeno dormindo é tão sincero.

— Ele é tão lindo dormindo. — Henry fala olhando para mim.


— É sim, é muito bom ver ele dormir. — Me aproximo dos dois,
Lucas está com a boquinha semiaberta, os braços bem abertos e as pernas
também. Ele é bem espaçoso.

— Poderíamos tomar um banho? — Henry sugere.


— Talvez mais tarde. — Ele segura minha mão e dá um beijo casto
no dorso.
— Eu amo vocês dois. — Sorrio. Eu sei que ele ama, e estou
seriamente pensando como será o nome no registro do meu filho, se terá o
Henry ou o Henrique como pai. Henry pelo menos é responsável, arcará com
a responsabilidade de ser pai, será um bom exemplo para meu filho. Já o
Henrique não quer ter responsabilidade com nada. Como será com nosso
filho? O que ele oferecerá para Lucas quando estiver na adolescência?
Talvez um copo de whisky e um cigarro quando ele fizer algo errado.

— Está pensativa. Aconteceu algo? — Henry pergunta, me tirando


dos meus devaneios.
— Está tudo bem, só estou um pouco cansada. — Falo e dou um
beijo em sua testa. Saio do quarto do Lucas e vou me deitar. Já fazia algum
tempo que não tinha relação, e depois da tarde que nós tivemos eu estou
esgotada. Preciso descansar um pouco e vou aproveitar que Henry está
babando o Lucas para fazer isso.

Henry

Ela está dormindo tão serena. Lucas está em meu colo, com o olhar
mais tranquilo do mundo. Não sabe ele que eu daria o mundo para ter ele
sempre aqui perto de mim e da Isa; posso não ser o pai de sangue, mas o que
importa é o amor que sinto por esse pequeno. Assim que ele acordou fez
cocô, dei um banho nele e depois dei uma mamadeira. Ele nem sequer
lembra que tem a mãe, e sorrio com o pensamento, claro que ele lembra do
colo quentinho e do amor que só ela sabe dar para ele.
Deito o pequeno na cama e me deito também, deixando ele entre Isa
e eu, fico olhando seu rosto, o nariz perfeito, a boca bem desenhada.
— Boa noite, dorminhoca. Já passa das oito. — Falo passando a
mão no rosto da Isa.

Ela abre um pequeno sorriso e depois abre os olhos lentamente.


Lucas está brincando com as mãos. Um ser tão pequeno, mas carregado de
amor. Ah, como eu amo esse pequeno.
— Mamãe já chegou? — Pergunta ainda sonolenta.

— Ela ligou avisando que não vem hoje. — Falo.


— Você banhou ele? — Pergunta, agora totalmente acordada e com
uma feição engraçada.

— Sim, e ele já mamou. — Isa começa a cheirar o pequeno, que


sorri por causa da cosquinha.
Lucas tem cosquinha em todo lugar, o jeito que ele se contorce com
os cheiros que a Isa dá nele é muito engraçado. Se eu pudesse, ficaria o dia
todo apenas olhando a cena.

— Vou fazer algo para nós comermos. — Falo levantando da cama.


— Estava pensando de nós três irmos no restaurante. — Ela sugere.

— Ótima ideia. — Isa levanta e vai colocar uma roupa mais


quentinha no Lucas. Eu já não tenho mais roupas aqui, então terei que passar
em casa para me trocar.
— Está ótimo assim, não precisamos de formalidades. — Ela fala e
me dá um beijo rápido.

Eu estava usando uma calça jeans e uma camisa gola polo preta, Isa
também não se vestiu com roupas formais, estava usando um vestido florido,
colado ao busto e rodado da cintura para baixo, colocou uma rasteirinha e
estava linda como sempre. Não me canso de admirá-la. Enquanto estivermos
juntos quero demonstrar todo o amor que tenho por ela, pretendo ser alguém
melhor para ela do que nossos pais conseguiram ser. Pensei ter tido um
homem honrado dentro de casa, mas agora descobri que ele nunca foi o
homem em quem eu queria me espelhar. Eu quero ser um homem melhor,
quero poder dar todo o amor que eu tenho para ela e meu filho.

— Vamos? — Isa pergunta pegando minha mão. Sorrio para ela e


afirmo com a cabeça.
Capítulo 47

— Casa comigo? — Henry pergunta.

— Henry, eu já aceitei. Lembra? — Falo limpando o canto da boca


no guardanapo.

— Mas quero ouvir você falar que sim novamente. — Ele fala.

— Sim, Henry, eu aceito. — Falo, e seu sorriso se alarga.

— Que tal amanhã? — Ele pergunta, e engasgo com a água.


— Está louco? — Pergunto baixo, ainda sentindo minha garganta
irritada. As pessoas olham para nós como se fôssemos dois loucos.

Henry segura minha mão e sorri.


— Estou falando sério. Não quero passar mais nem uma noite sem
dormir com você, quero poder acordar todos os dias ao seu lado, então
amanhã será um bom dia para nós dois casarmos. — Sorrio de nervoso.

Fico calada, apenas olhando para ele e esperando Henry falar que
está brincando, mas ele não faz isso, apenas espera uma resposta.
— Henry, um casamento tem preparativos. E, pelo que me lembro,
nós dois tínhamos combinado de fazer um jantar no final de semana para
comunicar a todos e comemorar o noivado. — Henry parece ficar chateado.

— Tudo bem. — Ele fala.


— Henry, não quero que fique assim. Bom, eu já vinha planejando
há alguns dias, o que você acha de nós dois mudarmos para a sua casa? —
Henry parece não acreditar nas palavras que acabaram de sair da minha
boca.

— Está falando de você e do Lucas? — Ele pergunta, olhando de


mim para o pequeno.
— Sim, eu pensei em alugar meu apartamento, ou de deixar a
mamãe morando nele, sei lá. — Ele sorri de canto a canto.

— Sério, você não está brincando. Está? — Henry parece uma


criança quando os pais falam que vão dar o game mais novo, ou quando vai
ao parque de diversão e pode tomar quantos sorvetes der conta.
— Sério, o que acha de amanhã eu mudar para sua casa e poder
dormir todos os dias com você? — Ele levanta e começa a falar o quanto me
ama. As pessoas olham para nós, ainda mais assustadas.

— Eu amo você. — Ele me puxa para um beijo, e as pessoas


começam a aplaudir.
— Ela vai morar comigo! — Henry fala para um casal de idosos ao
nosso lado.
— Cuide dela, filho. Ela parece ser uma ótima mulher. — A senhora
fala sorridente.

— E eu vou! Eu amo essa mulher, mais do que a mim mesmo. —


Henry fala e todos aplaudem.
— Já chega, Henry, já declarou seu amor a Deus e o mundo. — Falo
segurando sua mão.

Ele senta ainda sorridente. Lucas está dormindo tranquilo, não viu a
cena que seu pai acabou de fazer.
— Não sabe como está me fazendo feliz. — Ele fala segurando
minha mão, que estava depositada em cima da mesa.

— E você também está me fazendo feliz, mas tem uma coisa que
está me preocupando. — Digo, lembrando que seu irmão vai querer fazer
algo em relação a isso.
— Se está preocupada com o Henrique, não fique. Eu sei lidar com
meu irmão.

Esse tempo que eu e Henry estamos em uma relação, às vezes bem


conturbada, eu já percebi tantas diferenças nele. Sempre achei que fora da
empresa ele também seria sério, não seria um homem de muitas palavras,
mas me enganei totalmente.
— Ok, se sabe como lidar com ele, não irei me preocupar à toa. —
Henry chama o garçom e paga a conta. A noite está fria, e mesmo Lucas
estando bem agasalhado, ainda sim é perigoso, já que ele teve uma
pneumonia recentemente.

A noite estava tão linda… Depois de dar de mamar para o Lucas,


tomei um banho e fiquei observando o trânsito da varanda, me perco nos
meus pensamentos, no dia que fiquei com ele pela primeira vez, como ele
lutou para estar comigo, como nossas palavras foram duras um com o outro.
Ainda lembro de tudo que falei para ele há pouco mais de um mês, foram
palavras que jamais voltaram atrás.

Sinto a presença dele atrás de mim e fico na mesma posição, estou


debruçada no para peito de vidro.
— A noite está perfeita. — Sorrio para ele e vejo a taça de vinho em
minha frente.

Pego a taça e dou uma golada, está uma delícia. As lembranças vêm
fortes em minha mente, do dia que ele veio jantar aqui, trouxe esse mesmo
vinho, malbec. Como esquecer esse sabor? Henry cola seu corpo ao meu, e
ficamos nós dois ali, admirando a cidade. Logo eu estarei morando em sua
casa e pensei muito antes de decidir isso. Sei que o Henrique ficará muito
irritado por causa do Lucas, mas não vou parar a minha vida por causa
aquele indivíduo.
— Vamos nos deitar, Lucas está dormindo tão bem. — Henry diz,
sussurrando em meu ouvido.

— Vamos sim. — Ele me puxa pela mão devagar, seus olhos me


penetram de uma forma… Ver a felicidade que ele ficou quando eu disse que
vou morar com ele foi tão bom, eu posso ver o quanto ele me ama. Todos os
esforços que ele fez e ainda se declarar para mim, depois falar que assumiria
meu filho. Poucos homens no mundo fariam o que ele fez, eu tenho sorte de
ter ele em minha vida.
Depois de troca de carícias, fizemos amor mais uma vez. Henry toca
meu corpo como homem nenhum jamais fez, o sexo com ele não é apenas
sexo, é um misto de sensações, não sei como explicar. Henry tem o poder de
me levar ao ápice só com os dedos, ou até mesmo o fato de sussurrar
besteiras em meu ouvido me tocando. Não sei como ele faz, mas sei que eu
amo os seus toques.
Capítulo 48

— Só falta aquela ali. — Isa fala, e vou pegar a última mala. A mãe
dela está triste, porém animada também. Ela já desejou toda a felicidade do
mundo para nós dois, só está triste porque não irá ver o Lucas como antes,
mesmo com nós falando que ela pode ver ele quando ela quiser.

— Não será a mesma coisa. — Ela fala, pegando o pequeno no colo.

— Mamãe, sabe que será sempre bem vinda na nossa casa. — Isa
passa o braço por minhas costas, me rodeando.
— Eu sei e, mesmo que eu esteja fazendo todo esse drama, eu fico
muito feliz por vocês dois. Foram tantas coisas, tantos dias ruins até vocês
finalmente ficarem juntos e felizes. — Ela fala dando um cheiro no Lucas,
que sorri para a avó.
Ela acompanhou-nos até nossa casa. Isa, assim como eu, está muito
feliz. Espero que eu possa ver esse sorriso sempre em seu rosto, quero poder
fazer ela a mulher mais feliz do mundo, quero poder dizer todos os dias o
quanto eu amo seu sorriso.

— Vou ver se sua governanta precisa de ajuda. Ainda não decorei o


nome dela, mas logo vou me lembrar. — A mãe da Isa fala, se dirigindo para
a cozinha.
— Já falou para seus pais sobre essa mudança? — Isabelly pergunta
olhando para o Lucas.

— Não, eles não precisam saber de muitos detalhes da minha vida.


— Falo pegando a mala e indo para o meu quarto.

Subo os degraus, e quando estava no último vejo ela vindo atrás de


mim, sei que vem sermão pela frente. Isabelly tem o instinto de proteger até
mesmo as pessoas que a fazem mal. Minha mãe fez coisas absurdas e,
mesmo assim, Isabelly ainda a defende. Eu sei que ela está doente, mas não
preciso estar em cima dela todo tempo, ela não precisa da minha pena.
Mamãe precisa aproveitar cada minuto de sua vida, e tenho certeza que eu e
Henrique não poderíamos dar isso a ela estando no mesmo ambiente.

— Henry...

Faço de conta que não estou ouvindo e continuo caminhando.

— Henry Benet, eu sei que está me ouvindo e não adianta fazer essa
cara de desentendido. Ligue para seus pais, fale que já estou morando aqui e
que o jantar de noivado será no fim de semana. — Isabelly ordena.
Porra! Eu poderia ficar muito bravo por ela me ordenar algo, mas é
totalmente ao contrário, o desejo que me desperta por ela ser tão mandona é
sem explicação.
— Tudo bem, eu vou fazer isso, mas eu quero algo em troca. —
Falo, e ela arqueia a sobrancelha.

— Não está no direito de pedir nada, está no dever de avisar aos


seus pais que agora é um homem casado. — Ela fala, e puxo ela lentamente
para meus braços.
— Fala isso de novo? — Peço.

— Falar o quê? — Pergunta confusa.

— Que eu sou um homem casado. — Uma risada gostosa sai de sua


boca.

— É isso mesmo, senhor Henry Benet, você agora é um homem


casado e tem uma mulher bastante ciumenta pelo que eu sei. — Isa me dá
um beijo e depois sai dos meus braços. Ela caminha devagar a porta, e fico
apenas admirando seu corpo escultural.
Deixo a mala no closet e desço as escadas, a mãe da Isa está com o
Lucas, aviso que estou de saída e pego as chaves do carro.

— Devagar, por favor. — Isabelly fala assim que chego na porta, e


sorrio mesmo sem olhar para ela.

O caminho até a casa dos meus pais é rápido, não por que eu esteja
correndo, e sim porque a casa deles fica a dois quarteirões da minha. Saio do
carro e caminho devagar até a grande porta de madeira, adentrando sem
nenhuma cerimônia. Vejo alguns dos funcionários fazendo a limpeza e subo
as escadas, a porta do quarto de mamãe está semiaberta. Adentro e vejo a
porta do banheiro fechada, mesmo a casa sendo forrada, ouço seu choro. Ela
sente dor, por isso não venho muito aqui esses dias, pois ela se recusa fazer
tratamento. Eu vejo mamãe morrendo todas as vezes que venho aqui, sinto
como se todas as vezes que dou um beijo em sua testa antes de sair fosse o
último, como se fosse um adeus, e esse sentimento me corrói por dentro.
Tenho medo de receber uma ligação à noite, e falarem que foi ela quem se
foi.

— Mãe. — Bato na porta, ela responde um “já vai” fraco, e me


recrimino por não estar vindo aqui mais vezes.
— Oi, filho, tudo bem? — Ela segura minha mão e passa a outra em
meu rosto.

— Está sim. Vim ver como a senhora está. — Falo e dou um beijo
em sua testa. Mamãe sempre foi uma mulher vaidosa, sempre gostou de usar
salto, joias e nunca lhe faltou uma maquiagem básica no rosto, mas agora ela
mal veste uma roupa e penteia os cabelos, estando cada dia mais distante da
mulher perfeccionista que eu conhecia. O que a doença faz com o ser
humano?
— Está tão pensativo. Aconteceu algo? — Ela pergunta sentando na
poltrona, sua mão direita faz massagem nas têmporas.

— Vim convidar a senhora e o papai para meu jantar no fim de


semana. — Falo, e ela sorri.
— Claro, meu amor, e como está a Isabelly e o bebê? — Pergunta
de olhos fechados.

— Estão bem. Eles agora estão morando comigo. — Ela abre os


olhos devagar e sorri.
— Que bom, meu amor, pelo menos vou partir em paz, sabendo que
vocês se resolveram. — Ela fala, e me aproximo, seguro em sua mão e dou
um beijo no dorso.
— Mãe, por favor, não fala isso. Eu já insisti para fazer tratamento.
— Ela coloca o dedo indicador em meus lábios.

— Filho, você já viu as pessoas que têm o mesmo tumor que eu


fazer tratamento? Elas morrem, elas sofrem com radioterapia e
quimioterapia, e mesmo assim nunca tem um bom resultado. Eu preciso
manter o resto da dignidade que me resta, preciso conseguir andar sozinha
sem vomitar em tudo, preciso da minha vida, mesmo que sentindo dor.
Quando ela terminou de falar eu já estava chorando. Eu perdi uma
mãe que nem conheci e agora vou perder mais uma.

Deitei com ela na cama, e a mesma ficou passando a mão em meu


cabelo, era reconfortante ter seu colo, mesmo eu sabendo que não duraria
muito tempo.
Capítulo 49

Já está tudo pronto para o jantar, e eu estou um pouco nervosa. Faz


alguns dias que não vejo a mãe do Henry, sei que ela está cada dia doente e
as últimas noites foram complicadas. Henry mal dormiu aqui, mas ela disse
que viria para o jantar, porque sabe que não estará para o casamento.

— Está linda. — Henry fala, me dando um beijo calmo.


— Você também, está um belo cavalheiro. — Falo e ele me puxa
devagar para seus braços.

— Eu amo você. — Sussurra perto dos meus lábios.

Tomo seus lábios em um beijo calmo, mas somos separados pelo


som da campainha.
— Vamos. — Ele segura minha mão, e seguimos para a sala de
jantar. A Margarida abre a porta e dá passagem para os meus sogros
entrarem.

— Boa noite. — O senhor e a senhora Benet falam em uníssono.


Eu e Henry respondemos na mesma sintonia, mamãe falou que
chegaria pouco mais das sete, e meu pai não confirmou se viria. Henry não
convidou o irmão, que, por sinal, não deu as caras esses dias. Não acho que
ele esteja fazendo coisa boa, já que está muito quieto, o que me preocupa às
vezes.

— A decoração ficou muito boa. — Elisabete fala olhando ao redor.


— Ficou sim, eu contratei uma designer de interiores. Aproveitamos
muitas coisas que já tinha aqui, e algumas que foram trocadas eu doei. —
Falo me sentando. Lucas está dormindo, ele sempre dorme nesse horário.

— Agora já não parece mais a casa de um homem solteiro. —


Henry sorri com o comentário da mãe.
Logo os garçons trazem bandejas com alguns petiscos, vejo a porta
ser aberta, e mamãe passa por ela. Abro os olhos um pouco mais, assim que
vejo ela de mãos dadas com um homem. Ele é muito bonito e aparenta ser
mais novo do que ela, pelo menos alguns anos, não colocaria muitos, mas
pelo menos uns cinco anos a menos.

— Boa noite. — Os dois falam em uníssono.


Respondemos no mesmo tom. Ela olha para mim com um certo
medo, como se esperasse que eu falasse algo. Lembro-me quando levei o
primeiro namorado em casa, fiquei igual ela está agora, apreensiva.
Esperando eu falar se é o cara certo ou não. Eu fico muito feliz por ela e
espero que ele saiba cuidar dela, porque essa mulher é tudo para mim.
Eu e o Henry vamos cumprimentar o convidado.

— Seja bem vindo. — Henry fala estendendo a mão para ele.

— É um prazer conhecer vocês. Não sabem o quanto ela fala de


vocês dois e do pequeno Lucas, que, por sinal, ainda não vi aqui. — Ele fala
olhando para as poucas pessoas que estão aqui.

— Ele está dormindo, sempre dorme a esse horário. — Falo.


— Eduardo, esses são Isabelly e Henry, aqueles são os pais dele. —
Mamãe leva ele até meus sogros. Eu e Henry ficamos conversando algumas
amenidades, até eles voltarem.

— Sua mãe falou que é um jantar de noivado, eu queria saber se


aceitaria tirar algumas fotos, pois acho que daria um belo quadro. — Eu e
Henry concordamos.

Ele começou tirar as fotos, Henry me puxou para um beijo, e vi o


flash ser disparado. Tiramos mais fotos do que imaginei que tiraríamos. A
última nós dois tiramos com seus pais e com a minha mãe, antes do flash ser
disparado vi meu pai entrando na casa.

— Boa noite. — Ele falou assim que tiramos a foto e todos foram
para seus lugares.
Respondemos em uníssono. Eu e Henry fomos cumprimentar ele, e
sua cara não estava muito boa para o Henry, mas meu noivo não se
incomodou com isso.

— O jantar está pronto. — Henry fala segurando minha mão.

Todos se dirigiram para a sala de jantar, eu sentei ao lado de Henry,


a mãe de Henry ao lado de seu pai, mamãe sentou em uma cadeira e ficaram
duas cadeiras vagas, uma de cada lado. Em uma senta meu pai; e, na outra,
Eduardo. Confesso que senti um certo medo. Pelo que eu entendi, mamãe
ainda não falou com meu pai sobre seu novo namorado.

— Não sabia que era um convidado. — Papai pergunta olhando para


o rapaz.
— Sim, ele é. — Falo, na intenção de pelo menos o jantar correr
bem.

Até que estava tudo indo bem. O jantar foi posto na mesa, e todos já
estavam sendo servidos. Para o prato principal escolhemos lagosta, fiz
questão de saber se todos comeriam, e por enquanto deu tudo certo. O
segundo prato será um risoto de carne seca e para a sobremesa um mousse
de frutas vermelhas com calda de caramelo.
— Está tudo uma maravilha, Isabelly. — Senhor Benet fala
limpando o canto da boca.

— Obrigada, senhor Benette. — Falo formalmente.


— Agora já é da família, não precisa de formalidade. — Ele fala
com um sorriso no rosto.

— Será difícil acostumar. — Falo deixando os talheres na mesa.


— E então, você é fotógrafo apenas de casais ou de paisagem
também? — Elisabete pergunta para Eduardo, que apenas observava.

— Trabalho em uma agência de modelos. Mas nas horas vagas


gosto de ir tirar fotos de animais e da natureza.
— E como vocês dois se conheceram? — O pai de Henry pergunta.
Eu e mamãe nos olhamos. Ali com certeza seria o fim do jantar — que
estava indo tão bem por sinal.
— Eu vi ela com o Lucas no parque e pedi para tirar algumas fotos.
Ela aceitou, e depois disso ficamos conversando. — Ele fala naturalmente.

Meu pai olha de um lado para o outro e parece ainda não ter
entendido do que estão falando, ou está apenas esperando que seja mentira
ou algo do tipo.
— Esse cara é o que seu? — Papai pergunta para minha mãe, que
está com uma cara nada boa.

— Ele não sabe? — Eduardo pergunta.


— Não sabia. — Ela fala.

— Ótimo. — Eduardo fala cruzando os braços.


— Não sabia o quê? — Papai pergunta.

— Olha, vamos terminar de jantar, depois temos essa conversa,


pode ser? — Pergunto, na tentativa de ter pelo menos uma refeição tranquila
com a minha família, ou só a metade dela.
— Não, filha, eu quero saber o que todos vocês sabem e eu não. —
Papai fala, cruzando os braços também.

— Eu estou namorando, é isso. — Ela fala soltando o guardanapo


na mesa.
— Isso é uma maravilha, não é mesmo? — Falo, para tentar quebrar
o clima tenso que se instaurou no ambiente.

— Verdade, filha, isso é ótimo, significa que eu sou o último a saber


de tudo. — Papai fala parecendo indignado.

— Não exagera, Lorenzo. — Mamãe fala.


— Exagero? Eu fui o último a saber que Isabelly estava grávida...
— Eu também não sabia. — Mamãe se defende.

— Fui o último a saber quem era o pai do bebê. — Mamãe dá de


ombros. — E agora fui o último a saber que minha esposa está namorando
um cara mais novo. — O olhar dele é de pura mágoa.
— Primeiro: eu não sou mais sua esposa, e, segundo: ele não é tão
mais novo que eu, são apenas cinco anos. — Mamãe fala. Meu pai levanta
da cadeira e vai até a sala de estar.

Mamãe acompanha ele, Eduardo também levanta e vai atrás dos


dois. Não era assim que eu esperava terminar o jantar.
Capítulo 50

Percebi o desconforto só de olhar para a Isa, pois ela planejou muito


esse jantar para acabar assim.

— Senhor e senhora Blanc, por favor, esse era para ser o jantar em
comemoração ao nosso noivado. Isabelly planejou todos os detalhes com
todo carinho, então vocês poderiam deixar para ter essa conversa depois. —
Falo chegando na sala, onde os dois discutem sem parar.

— Não se meta, Henry, por favor. — O pai de Isa fala.


— Não sou mais Blanc, agora meu sobrenome é Torres. — A mãe
de Isa fala olhando para mim.

— Ok, mas esse é meu jantar de noivado, e vocês dois estão


estragando isso. Era para ser apenas um jantar em família. — Isa fala
parecendo cansada.
— Isabelly, Henry, me perdoem, não era para mim ter vindo nesse
jantar. Pensei que estava tudo resolvido, e que todos soubessem desse
namoro, mas me enganei. — Eduardo fala e pega a mochila onde está seu
equipamento de trabalho.

Minha sogra tenta convencer ele a ficar, mas é em vão.


— Então é isso, o jantar acabou. — Isabelly sobe para o quarto, e
fico olhando para meus pais. Tenho certeza que se mamãe não estivesse tão
doente ela faria uma crítica, mas ela está cada dia mais cansada, e não se
preocupa muito com as coisas que estão acontecendo no mundo ou até
mesmo com as coisas que acontecem ao seu redor.

— Eu também vou embora, não sei nem o que vim fazer aqui. —
Senhor Blanc se despede e vai embora. Sei que para ele não foi fácil saber
que a esposa com quem ele dividiu tantos anos de vida está com outra
pessoa. Eu no seu lugar não saberia o que fazer, talvez tivesse tido uma
reação bem diferente da dele, talvez teria até agredido o sujeito. Eu não o
julgo, mas acho que poderia ter sido evitado se minha sogra tivesse
conversado com ele antes. Claro que ela não deve mais satisfação de sua
vida para ele, mas aqui não era o lugar certo para ele descobrir sobre seu
novo relacionamento.
— Então é isso, querem que eu leve vocês dois? — Pergunto para
meus pais.

— Quero que me ajude a subir para ver o Lucas, pode ser? —


Mamãe pergunta.
Mamãe está cada dia mais incapacitada. Subir as escadas agora já
não é mais como antes, ela fica tonta e sempre precisa do auxílio de alguém
para subir os degraus.
— Claro que ajudo, mamãe. — Subo as escadas com ela se
apoiando em mim. O meu quarto e da Isa está com a porta fechada, mas eu
também entendo ela ter ficado tão chateada, já que planejou esse jantar a
semana inteira.

Chegamos ao quarto do Lucas, e mamãe vai direto no berço. O


pequeno, que se alimenta três vezes à noite, dorme tranquilamente.
— Ele é tão lindo, parece com... — Mamãe para de falar e olha para
mim, sei que ela iria falar que parece com o Henrique.

— Sim, ele parece mesmo. — Afirmo.


— Me desculpa, filho, não queria deixar você chateado. — Ela fala
passando a mão no rosto do pequeno.

— Não fiquei, ele realmente parece com ele, mas isso não quer
dizer que ele não seja meu filho. Ele pode não ter meu sangue, mas tem meu
coração, que é o mais importante. — Falo dando um beijo na testa dela.
— Eu queria que vocês se entendessem antes de eu partir. Filho, eu
sei que não vai demorar muito para isso acontecer. Estou cada dia mais
dependente de remédios. — Mamãe fala me olhando.

— Mãe, não fala isso, e a senhora sabe que isso é quase impossível.
Eu e o Henrique não vamos conseguir nos entender. Me peça qualquer coisa,
menos isso. Minha relação com o Henrique sempre foi difícil, não será agora
que vai mudar muita coisa, ele é uma pessoa difícil de se lidar, e eu não fico
muito atrás quanto a isso.
— Tenho que ir, está quase na hora da minha medicação. — Ela
fala, olhando o relógio de pulso que meu pai lhe deu de presente de
aniversário.
— Eu vou levar vocês em casa. — E, mais uma vez, ajudo ela com
os degraus.

O caminho para casa foi tranquilo. Assim que estacionei o carro na


frente da casa, meu pai se prontificou a ajudar ela a descer do veículo.
Mamãe está tomando morfina para controlar as dores de cabeça, e nunca
imaginei vê-la dessa maneira, tão frágil, tão dependente.
— Eu já vou indo. — Pela luz acesa da sala eu sabia que Henrique
estava em casa. Sua boate já não recebe mais sua presença como antes, não
sei nem como ele ainda está com ela aberta. Depois de eu descobrir suas
falcatruas e mudar todas as minhas senhas do banco, ele está apenas
recebendo a pensão por ser um Benet. A empresa deposita uma quantia para
ele todos os meses, e é apenas com esse dinheiro que ele está se mantendo.

— Tudo bem, filho, obrigado. — Papai fala, ajudando minha mãe a


entrar.
Retomo meu caminho para casa. Sei que Isabelly está muito triste
com toda a situação, mas vou tentar animar ela quando chegar.

Chego em casa e preparo o leite do Lucas, subindo até seu quarto e


pegando o pequeno no colo. Sempre que posso cuido dele. Acho uma das
melhores tarefas da minha vida, poder ver ele ficando forte e corado. Essa
semana ele terá uma consulta com a pediatra, porque depois do que
aconteceu não podemos descuidar nem um minuto. Sento na poltrona e
coloco o bico da mamadeira em seus lábios, ele já sabe do que se trata e logo
começa a sugar o leite morno. Seus olhos não se abrem nem por um minuto,
o sono está tão bom que até eu fico com inveja dessa paz que ele sente.
Espero que quando ele estiver na maioridade possa continuar assim,
tranquilo. A adolescência é uma fase complicada, é onde as primeiras
espinhas aparecem, onde o primeiro amor surge, onde a vida toma rumos
diferentes do que o pai ou a mãe imaginaram. Depois de ele ter tomando
todo o leite, coloco ele para arrotar, deitando-o novamente no berço e
colocando o cobertor por cima. Deixo a babá eletrônica ligada e um pequeno
abajur — afastado do berço — aceso, volto para a cozinha e vou preparar
uma pequena bandeja para a Isa. Sei que ela está no quarto, mas não está
dormindo. Percebi que ela foi no quarto do Lucas por causa do livro que ela
lê todas as noites para ele.

Pego alguns morangos, o chocolate derretido e o mousse de frutas


vermelhas que ela mesmo fez, coloco em um pratinho e vou para o quarto,
abro a porta com uma das mãos enquanto a outra equilibra a bandeja. Isa
está na varanda olhando para o céu, que hoje está em festa. As estrelas estão
mais brilhantes e a lua está perfeita, como não admirar? Uma verdadeira
perfeição.
Capítulo 51

Ouvi o toque do celular e acordei. Henry já tinha atendido, e vi sua


pele ficar mais branca que o normal. Eu sabia o que tinha acontecido, só não
queria acreditar que realmente aconteceu.

— Eu preciso… — Ele levantou da cama, e me levantei também.

Me aproximo dele e lhe abraço. O choro ecoa pelo quarto.

— Ela se foi, Isa, minha mãe se foi. — Ele fala em meio ao choro.

— Eu sei, amor, precisamos ir para lá. — Falo, e ele nega.

— Eu não consigo, eu...

Sei o quanto ele estava abalado. Não posso nem imaginar perder os
meus pais, que meu coração já sangra.
— Vamos para lá, seu pai está precisando de todo apoio agora. —
Henry apenas chora.

Arrumo uma bolsa para o Lucas, coloco tudo que ele precisa e
chamo Henry, que está em choque. Seguro Lucas em um braço, e, com o
outro, entrelaço no braço de Henry. Coloco o Lucas no bebê conforto e ajudo
Henry entrar no carro, vou para o lado do motorista e dirijo rumo à casa dos
seus pais. Assim que chegamos podemos ver as luzes da ambulância
piscando.
Saio do carro e tiro Lucas do bebê conforto. Henry sai do carro e
começa a caminhar para dentro da casa, seu pai está sentado no sofá, com a
cabeça baixa e as mãos tapando seu rosto. Henrique está sentado em uma
cadeira, seu pensamento está longe.

— Pai, como isso aconteceu? — Henry pergunta, se aproximando


de seu pai. Ele levanta a cabeça e olha para o filho, e os dois se abraçam e
choram compulsivamente.
— Acordei com um barulho, procurei ela na cama e não estava. Fui
até o banheiro, e ela estava caída lá. Quando fui ver seus batimentos, não
tinha mais.

O choro toma conta, e ele não consegue falar mais nada. O corpo
dela já foi levado para fazer a autópsia, pois mesmo sabendo do seu câncer
terminal, é preciso saber a real causa da morte.
— Eu vou até lá para assinar a papelada, vocês estão muito
sobrecarregados. — Falo, e Henry apenas assente, pego a bolsa e já estava
prestes a sair.

— Deixa ele comigo, lá não é lugar para um bebê. — Henry vem


até mim e pega o Lucas, que estava observando tudo.
Olho para Henrique e depois para o Henry.

— Não se preocupe, ele ficará bem. — Henry fala me


tranquilizando.
Deixo o Lucas com ele e vou para o carro, sigo para o hospital onde
ela foi levada, estaciono o carro e adentro o local. Os médicos ainda estão
fazendo a autópsia para saber o que aconteceu. As horas passam mais
devagar do que o normal; são cinco da manhã, ligo para meus pais e dou a
notícia para eles.

— Está esperando o corpo ser liberado? — O médico pergunta.


— Sim, já foi feita a autópsia? — Ele afirma com a cabeça.

— Com a queda, o tumor rompeu, o que causou uma hemorragia no


cérebro, trazendo a senhora Benet a óbito. Com o problema que ela estava,
nós já esperávamos por isso a qualquer momento.
— O corpo já pode ser levado para o preparo? — Pergunto, e ele
afirma com a cabeça.

Quando chego na casa do pai do Henry já passa das oito da manhã.


Os familiares já estão chegando, será uma cerimônia apenas para os mais
próximos, e o corpo depois será cremado, o que era um de seus desejos.
— Preciso ir em casa tomar um banho. Se importa de ficar mais um
pouco com ele? — Pergunto para Henry, que nega com a cabeça

— Acho que vou com você. Preciso pensar um pouco. — Henry vai
falar com seu pai e depois volta pra onde eu estou.

— Como ele está? — Pergunto olhando para seu pai, que está
totalmente no automático.
— Está tentando se conformar. — Henry fala olhando para Lucas,
que está sorrindo para ele

Seguimos para nossa casa, dei um banho no Lucas e pus ele para
dormir. Henry estava no quarto, e sei o quanto ele deve estar triste, fecho a
porta do quarto do Lucas e vou para nosso quarto. Ele está sentado na cama
com a cabeça baixa, as mãos estão cobrindo os olhos.
— Quer conversar? — Pergunto sentando próximo a ele.

— Estou bem. Por mais que eu tentasse colocar na cabeça que ela
ficaria bem, algo dentro de mim já sabia que não iria demorar para
acontecer. Ontem ela se despediu do Lucas e pediu que eu e Henrique se
reconciliássemos.
— Tudo bem. Quer comer alguma coisa? — Pergunto.

— Não estou com fome, vou tomar um banho e depois me deitar um


pouco.
A cerimônia será apenas às quatro da tarde. Será na funerária
mesmo, onde também será cremado o corpo.

Henry tomou um banho e deitou, e fiquei ao seu lado apenas em


silêncio. Seus olhos estavam fechados, mas as lágrimas ainda desciam
silenciosas, eu queria poder tirar um pouco da dor que ele está sentindo, mas
não posso.
Capítulo 52

— Já está tudo no carro. — Henry fala pegando o Lucas.

— Já estou indo. — Falo pegando uma mamadeira já pronta.

Hoje é o dia de jogar as cinzas da Elisabete. Vamos para Nova York


jogar as cinzas dela no rio Hudson. Vamos apenas eu, Henry e seu pai. O
Lucas vai ficar com a minha mãe, pois ela disse que ele é muito pequeno
para viajar de avião, então ela ficará com ele.
— Como você está? — Henry pergunta olhando para mim.

— Não sei descrever. — Falo olhando para o pequeno, que dorme


bem tranquilo em seu bebê conforto.

— Sua mãe cuida tão bem dele, e ele também é apaixonado por ela.
— Henry está tão calado esses dias, que quando ele fala algo eu me perco
nos seus lábios e sua voz sensual. Não tivemos clima para sexo após a morte
da sua mãe, e já faz uma semana que não fazemos nada, então até mesmo
quando ele fala eu já estou ficando excitada. Pode até ser errado, pois ele
ainda está passando pelo luto, e eu preciso entender isso e respeitar.

— Chegamos. — Ele fala, parando o carro na frente do meu antigo


prédio.
— Eu só vou lá deixar ele. — Falo, mas ele já tinha descido do
carro. Henry pergunta como eu estou, mas sei que ele já está de coração
partido por deixar o pequeno.

— Vou ajudar com as bolsas. — Henry pega duas bolsas e caminha


até a entrada, mamãe já espera por nós no hall.
Lucas ficará hoje e amanhã. Henry tem uma reunião com alguns
sócios, então vamos aproveitar e resolver tudo de uma vez. Hoje jogaremos
as cinzas e amanhã Henry participará da reunião.

— Oi, filha. — Mamãe fala me dando dois beijos no rosto.


— Oi, mamãe. Cuida dele por favor. — Peço.

— Com a minha vida. — Ela fala e pega ele.


— Assim que terminar lá eu venho. Não vou demorar muito, eu
prometo. — Falo olhando ele dormindo.

— Isabelly, eu criei você e seus dois irmãos. Acha que não sei
cuidar de uma criança mais? — Ela pergunta com cara de brava.
— Vamos, Isa, antes que você desista. — Henry fala me puxando.
Ele se despede dela, e seguimos para o carro. Iremos no jatinho da empresa,
o que tornará a viagem mais rápida.

— Bom dia, Isabelly. — O pai de Henry fala, se acomodando ao


meu lado.
— Bom dia, senhor Benette. — Ainda não me adaptei a chamá-lo
pelo primeiro nome. Estou treinando, mas está difícil me adaptar.

Chegamos em Nova York depois das onze horas da manhã.


Ficaremos em um dos hotéis da família. Henry pediu duas suítes exclusivas:
uma para seu pai e outra para nós dois.
— Irei tomar um banho, daqui a pouco eu desço. — Falo para
Henry, que afirma com a cabeça.

O quarto é bem arejado, e a vista para a cidade é deslumbrante. Eu


ficaria aqui por um mês facilmente se meu filho estivesse comigo.
Entro embaixo da água morna. O clima aqui está muito frio, quando
pisei no chão do aeroporto senti o frio vir de encontro ao meu corpo, então
me encolhi e me abracei com meus próprios braços. Henry, percebendo, me
cedeu seu paletó, onde me esquentei um pouco. Ultimamente não estamos
sentindo muito frio em Londres, a mudança de clima é bem notável.

Depois do banho visto uma roupa quente, uma calça preta de seda e
um casaco do mesmo tecido, por cima coloco um casaco de pele na cor
marrom, amarro o cabelo em um rabo de cavalo e calço uma bota cano
longo. Passo um gloss nos lábios, pois o frio também deixa os lábios
ressecados.
Pego meu celular e disco o número da minha mãe.

— Oi, filha. — Ela fala, com a voz calma de sempre.


— Oi, mamãe. Como está o Lucas? — Pergunto.

— Filha, você está em Nova York com o Henry. Por que não vão
namorar? Deixa que eu me viro com o meu neto.
Realmente, eu sou muito chata.
— Desculpa, mamãe, só fico com medo. — Digo, e ela suspira.

— Eu sei como é isso, meu amor, mas não precisa ficar assim. Ele
está bem. Já mamou e está brincando com os próprios pés. Ele está bem, ok?
— Fico aliviada, ao passo que ela fala que tem coisas para fazer e desliga o
celular. Eu não deveria ficar com esse medo idiota, mas eu sou mãe e, poxa,
eu não fico longe dele.
Desço para o restaurante, Henry e seu pai ainda estão conversando.

— Me desculpa a demora. — Falo sentando ao lado de Henry.


— Nós dois ficamos conversando e nem vimos a hora passar.
Vamos almoçar. — Henry levanta e estende a mão para mim.

— Vamos sim, que estou com muito apetite. — O pai de Henry não
estava se alimentando bem depois da sua persa, mas acho que eles estavam
conversando sobre o assunto, porque agora ele está bem animado para
comer, espero que ele fique sempre assim.
— Que bom ver o senhor assim. — Henry fala, pondo a mão no
ombro de seu pai.

O almoço foi entre conversas e alguns sorrisos, o pai de Henry


estava mais animado, e é muito bom ver ele assim. Quando descobriu a
doença de Elisabete ele se isolou do mundo e só queria estar ao seu lado.
Henry me contou um pouco da vida deles dois, falou sobre o fato de quando
mais novo ter batido nela, mas que passou todos os anos arrependido. Henry
também falou sobre seu irmão. Seu pai não registrou ele, mas arca com todas
as despesas do garoto.
Henry chama o garçom e paga a conta. Já passam das duas da tarde;
ele convidou um padre para falar algumas palavras enquanto joga as cinzas
no rio. Ela disse que queria que fosse aqui porque foi onde conheceu o pai
do Henry. Ela já tinha falado várias vezes que quando chegasse o dia de sua
morte, seu corpo deveria ser cremado e deveriam jogar as cinzas no rio
Hudson, então vamos realizar seu último desejo.

— Vamos, ele já deve estar quase chegando. — Henry fala


levantando.
Seguimos para o local. Está muito frio, mesmo com todo agasalho
ainda sinto o gelo, Henry parece perceber e me abraça.

— Daqui a pouco vamos para o hotel, tá bom? — Ele dá um beijo no


topo da minha cabeça.
O padre começou a celebrar uma pequena missa para nós três
enquanto Henry e seu pai jogavam as cinzas. Não joguei porque não é um
momento meu e sim deles, fiquei apenas observando e prestando atenção em
cada palavra que o padre falava. Meu pai nunca gostou muito de religião,
mas mamãe sempre fez questão de ensinar os mandamentos de Deus e as
orações. Eu sempre gostei de rezar quando ia me deitar, e com o tempo isso
foi se perdendo. Às vezes acho que eu mesma me perdi no tempo.
Capítulo 53

Percebi que a Isa está distante. O padre terminou a celebração, e


depois meu pai falou que ia andar um pouco.

— Vamos? — Pergunto segurando sua mão.

— Vamos sim, o que eu mais quero agora é um cobertor bem


quente. — Sorrio e abraço Isa.
Seguimos para o hotel, e eu ainda tinha que conversar com o
contador.

— Amor, tenho umas coisas para resolver com a gerência e com o


contador. Daqui a pouco eu estou lá, tudo bem? — Pergunto. Ela assente, me
dá um beijo e se vai.
Vou até o escritório, onde Ítalo já me espera.
— Boa tarde, Henry. Quando me falaram que você ficaria aqui, eu
fiquei surpreso. — Ele levanta e vem me cumprimentar.

— Tive um compromisso aqui. — Falo.


— Como está a Mia? — Ítalo é um amigo de infância. Ele cresceu
dentro da minha casa e sempre foi apaixonado pela minha irmã, porém ela
nunca gostou dele. Mesmo ele sendo um cara bonito e de porte atlético, ela
nunca se encantou muito por isso.

— Prestes a ter um bebê. — Falo, e seu sorriso se desfaz.


— Ela casou? — Ele pergunta.

— Ítalo, esquece a Mia. Ela não quis ficar com você enquanto era
nova, então esquece ela. Você já está com vinte e nove anos e ainda não
encontrou alguém para de relacionar. Vai viver, pelo amor de Deus! — Falo,
e ele fica calado. Eu sei o que é gostar de alguém ao ponto de não pensar em
mais ninguém, só que Ítalo já tentou com ela e não conseguiu. Não é
querendo tirar a esperança dele, é querendo lhe dar uma vida com alguém
que o queira de verdade.
— Você tem razão, eu já deveria ter esquecido ela. Já fazem oito
anos que não a vejo, mas não consigo esquecê-la. — Ítalo se apaixonou por
ela quando pegou todas da escola e ela não quis ele, isso feriu seu ego de
jogador de basquete e capitão do time, sendo demais para ele, mas ela falou
em alto e bom som para todos que não queria ficar com um cara galinha que
não tinha amor por ninguém, e foi assim que ele ficou esse cara solitário que
só pensa na minha irmã.

Deixamos o assunto para trás e começamos a falar sobre trabalho. O


contador chegou, e fomos fazer os cálculos. Está tudo dentro do parâmetro,
por isso coloquei Ítalo para trabalhar aqui. Além dele ser de total confiança,
ainda é um ótimo gerente, atende bem às necessidades das pessoas, trata bem
os funcionários e é muito educado. Eu ficaria feliz se a Mia ficasse com ele,
porém isso é uma decisão dela, apenas ela pode escolher com quem quer
ficar. Já fazem alguns meses que não a vejo, ela já deve estar entrando para o
oitavo mês de gestação, e tenho que ir lá o quanto antes. Ela não pôde vir
quando mamãe morreu, pois sua gestação é de risco. Ela teve um começo de
eclampsia, o que a deixou muito vulnerável, então ela tem acompanhamento
dia sim e dia não.

— Então é isso. Tenho que ir, minha esposa ainda não jantou. —
Falo levantando.
— Pelo menos você desencantou e conseguiu alguém. — Sorrio
com a forma que ele fala.

— Você irá encontrar alguém, só deixe de pensar na Mia e viva sua


vida. — Ítalo dá dois tapinhas no meu ombro e sai da sala.

Entro no elevador e aperto no botão da cobertura, caminho devagar


até a porta, entro na sala de estar e depois vou para o quarto. Adentro o local,
que está silencioso.

— Isa. — chamo mas não tenho resposta.


Ouço uma música lenta vinda do banheiro e vou até lá a passos
curtos. Adentro o local, que está coberto pelo vapor da água morna. Está
tocando uma música do James Arthur, e Isa está descansando a cabeça na
borda da banheira.

Tiro a roupa e vou até ela. Isabelly olha diretamente para meu
membro, que já está ereto. Entro na banheira ficando de frente para ela. Não
falamos nada, apenas ficamos olhando um para o outro, mas qualquer pessoa
que olhasse de longe perceberia o olhar de segundas intenções de ambas as
partes. Desde a morte da minha mãe que não fizemos mais sexo. Cada
pessoa age de uma forma com o luto. Todas as noites que me deitava ao seu
lado eu sentia vontade de tocá-la e de fazer sexo com a Isabelly, porém eu
sentia a necessidade de tirar alguns dias para o meu luto, e sei que ela
entendeu isso. Isabelly deitava em meu ombro e falava de amenidades, do
seu dia com o Lucas, o que me deixava mais relaxado. Ela percebia meu
tesão, mas sei que, em seu interior, ela sabia o que eu estava fazendo mesmo
sem me perguntar.

Começo a massagear seu pé, que está próximo a mim, ela inclina a
cabeça para trás, e subo uma das mãos para sua intimidade. Isabelly dá
espaço para meus dedos chegarem onde eu quero. Ela morde o lábio inferior.
Me aproximo mais de seu corpo, rompendo qualquer espaço entre a gente,
meus dedos começam a massagear seu clitóris. Isa arqueia um pouco o
corpo, e aumento os movimentos, deixando ela cada vez mais próxima do
prazer.
Capítulo 54

— Volta para cama. — Henry fala assim que me levanto.

— Eu acabei de levantar. Quero ir fazer umas compras ainda, levar


alguns mimos para dona Débora.

— Tudo bem, mas pode vir aqui rapidinho? — Ele fala, e vou até
onde ele está, estou usando apenas um roupão.

Me aproximo dele na cama, seus olhos vão para minhas pernas,


sorrio e ele passa a mão em minha perna direita.

— Já falei o quanto és linda? — Ele pergunta mordendo o lábio


inferior.
— Hoje ainda não. — Falo olhando para seu membro que já está
ereto.
Em um movimento rápido ele me puxa, fazendo eu cair na cama.
Henry começa a beijar minhas pernas, e sorrio com as cosquinhas que está
fazendo.

— Eu quero você. — Ele fala e, antes que eu responda, seus dedos


começam a me masturbar.
— Henry. — Sussurro seu nome com dificuldade.

— Fala o que você quer. — Henry fala com a voz rouca e sensual.
— Você... Eu preciso de você. — As palavras saem com
dificuldade, ele sabe como me deixar louca em segundos.

Henry vem até onde estou e beija meus lábios. Sinto seu membro
me penetrando lentamente. Sussurro gemidos em seu ouvido, Henry fala
algumas insanidades enquanto se mexe dentro de mim. Já sinto meu
primeiro orgasmo se aproximar, Henry percebe que já estou perto de gozar
pela primeira vez, então se abaixa um pouco, pondo um de meus seios na
boca, o que é o gatilho para mim gozar falando o quanto eu o amo. Não
demora muito e ele também chega ao ápice.
— Eu amo você. — Henry fala deitando ao meu lado.

Ficamos os dois controlando a respiração.


— Quando chegarmos vamos organizar o casamento. Certo? —
Henry pergunta depois de um tempo.

— Não quer esperar mais uns dias? — Pergunto.


— Ela não vai voltar, e agora só podemos seguir nossa vida. Já vivi
o meu luto e sempre vou lembrar dela, mas quero oficializar logo nossa
união. — Henry fala me encarando.

— Então iremos organizar a cerimônia. — Falo, e ele sorri.


Tomamos banho na banheira e depois resolvemos sair. Já anoiteceu,
e o pai de Henry falou que não irá jantar com nós dois, pois está indisposto e
quer ficar no quarto, então eu e Henry vamos jantar em outro restaurante.
Iremos fazer algumas compras e depois ir em algum restaurante, para
aproveitar a última noite aqui. Amanhã ele terá uma reunião às oito da
manhã, e às nove e meia iremos voltar para casa. Estou louca para pegar meu
pequeno. Já liguei para mamãe, e ela disse que ele nem percebeu que eu saí,
por um lado fiquei aliviada, mas pelo outro eu fiquei muito triste, porque sei
que ele não sente minha falta, mas também sei que ele se sente seguro com a
vovó dele. Minha mãe cuida muito bem do meu pequeno.

— Estou pronta. — Falo chegando na porta.


Henry está sentado em uma poltrona tendo as pernas cruzadas, o
típico charme de sempre. Seu terno preto destaca o azul dos seus olhos.
Como eu não percebi que ele me amava logo no começo? Era notável o jeito
que ele me olhava. Alice chegou a me falar isso algumas vezes, mas sempre
achei que fosse coisa da cabeça dela, até o dia que ele foi na minha casa e se
declarou. Eu relutei. Mesmo sendo filha de quem sou, eu não queria que as
pessoas achassem que eu queria dar um golpe nele. Henry era meu chefe, e o
que poderia se esperar das pessoas que vêem de fora? Apenas comentários
maldosos. Vivemos em uma sociedade que não se importa muito com os
sentimentos, então namoramos alguns meses escondidos. Descobri que
estava grávida de outro e depois descobri que era de seu irmão mais novo, e,
mesmo assim, ele me aceitou.

— Fica linda quando está pensativa. — Só agora percebi que ele


está na minha frente.
— Estava pensando em nós dois. — Falo, e ele afasta meu cabelo.
Henry dá um beijo em meu pescoço, o que me faz ficar levemente arrepiada.
— Acho que é melhor ficarmos aqui. — Ele sussurra em meu
ouvido.

— Henry, amanhã já vamos embora. — Falo tentando me afastar,


mesmo querendo muito ir para a cama novamente.
— Eu tenho uma proposta para você. Que tal nós irmos para a cama
e, amanhã, quando eu for para a reunião, você ir fazer as compras? — Ele
sugere.

Sorrio e nego com a cabeça.


— Não senhor! Vamos sair. Ainda temos a noite e mais o resto da
vida para fazer sexo, agora vamos embora. — Falo começando a caminhar.

Ele bufa e vem atrás de mim. Sorrio e saio do quarto, ele vem logo
atrás, entro no elevador e sorrio ao ver o bico que ele está fazendo.
— Henry, desmanche essa cara. Já basta o Lucas daqui uns dias. —
Falo, e ele cruza os braços, parecendo uma criança quando quer alguma
coisa que a mãe nega. — Eu estou querendo uma lingerie preta, quem sabe
até alguns brinquedos, acho que deve ter alguma loja que tem uns
brinquedos bem legais.

Henry olha para mim com um olhar de pura luxúria, eu sabia bem
como conseguir fazer ele parar de birra.
— Eu sei o que está fazendo. Ele se aproxima e me toma em um
beijo. O elevador se abre, e entram algumas pessoas. Henry olha para mim e
sorri.

Fomos andando até o shopping. Henry disse que construiu o hotel


nesse lugar por ser perto dos melhores pontos turísticos. Fica em um lugar
bem centralizado e de fácil acesso para as pessoas.
— Essa vai ficar perfeita. — Estou dentro do provador quando
Henry me estende uma lingerie preta de renda com alguns detalhes
vermelhos.

— Henry, aqui não é um local para fazer isso. — Falo, e ele olha
para as funcionárias. Vendo que ninguém está olhando, ele entra na cabine,
fechando a porta.
— Você está perfeita com essa lingerie. — Estou usando uma peça
da cor nude, que cobre muito pouco o meu corpo. Henry me vira de costas
para ele, me fazendo ficar de frente para o espelho.

— Você consegue ver o quanto você é perfeita? — Ele acaricia


meus seios por cima do tecido fino que cobre apenas a aréola. O conjunto é
uma peça muito delicada.
— Henry, por favor. — Mordo o lábio inferior, e meus olhos fecham
sem nem mesmo eu perceber. Sinto minha intimidade ficar úmida, então esse
conjunto eu vou ser obrigada a levar.

— Olha para o espelho, Isabelly. — Ele ordena, me fazendo olhar


para nosso reflexo.
Henry leva uma de suas mãos para minha vagina, me fazendo
suspirar pesadamente.

— Não faça barulho, ou vão perceber o que estamos fazendo aqui.


— Henry começa a massagear meu clitóris com uma das mãos enquanto a
outra está em meu seio. Tento cruzar as pernas, mas ele me impede. Seus
movimentos aumentam ainda mais, me fazendo gozar em seus dedos. Olho
seu reflexo no espelho, Henry leva os dedos até a boca e saboreia meu
líquido.
Capítulo 55

— Vamos levar essa daqui também. — Henry entrega a etiqueta que


estava na lingerie. As atendentes olham uma para a outra; elas com certeza
sabem o que aconteceu naquele provador.

Saímos da loja depois que ele pagou e fomos para o restaurante.


— Está proibido de fazer isso novamente. — Henry passa o braço
pelo meu pescoço e sorri.

— Tenho certeza que você adorou gozar nos meus dedos. — Ele
fala, me deixando vermelha.

O garçom se aproxima assim que Henry faz sinal com a mão.


— Eu vou querer essa lagosta ao molho branco e um vinho tinto, o
melhor que vocês tem. — Henry fala.
— E a senhorita? — O garçom pergunta olhando para mim.

— Essa massa com molho branco e granola. — Falo, e então ele se


vai.
— Comprei um presente para você. — Henry fala estendendo uma
caixinha para mim.

— Quando comprou? — Pergunto pegando a caixinha de veludo


preta.
— Quando foi ao banheiro. — Ele fala.

Abro a caixinha, e um lindo colar de ouro branco reluz dentro dela.


Uma pedrinha de diamante dá o toque final, deixando a peça ainda mais
linda e delicada.
— É perfeito. — Henry levanta e vem até onde estou. Ele pega o
colar dentro da caixinha e vai para trás de mim, sua mão fria encosta em
minha pele, que está aquecida por causa dos agasalhos.

— Você que é perfeita. — Seu sussurro me fez arrepiar.


Ele volta a sentar de frente para mim. A noite está tão linda, e Henry
escolheu uma mesa ao ar livre, onde podemos admirar as estrelas, que estão
ainda mais radiantes esta noite.

— Já pensou onde será nossa lua de mel? — Ele pergunta me


encarando.
— Ainda não tive nenhuma ideia. Estou achando esse casamento tão
precipitado.

Sei que ele quer tocar a vida novamente, mas sua mãe morreu há
uma semana. Sei que ele quer fazer tudo de uma vez para preencher o vazio
que ela está causando em sua vida e tenho medo desse casamento ser isso,
apenas um calço para preencher esse vazio. E se depois ele perceber isso? Eu
não duvido do seu amor, mas vendo ele assim, querendo a todo custo viver a
vida, me dá um certo medo do que vem depois. Ele e Henrique não se
falaram. Mesmo depois de tudo, eles continuam sem se falar, e isso me deixa
preocupada, porque a mãe deles morreu e pediu que eles se entendessem, e
até agora eles nem sequer olharam um para o outro.

— Está tudo bem? Está tão pensativa.


— Está tudo bem, amor, só estou pensando em como o Lucas vai
ficar. Não quero deixar ele muitos dias. — Isso não é mentira.

Eu fico pensando em como vai ser a lua de mel. Eu não quero deixar
ele por muitos dias. Já estou com o coração na mão de ir embora só amanhã!
Passar uma semana ou mais longe dele? Como será? Não sei se vou
conseguir.
— Nós temos a Carmem, que pode ir conosco.

Carmem é uma babá que eu contratei há alguns dias. Ela gosta


muito do Lucas, porém só fica de vez em quando com ele. Ela foi muito bem
indicada, mas Lucas fica mais tempo com a minha mãe do que com ela.
Como Lucas teve pneumonia eu me preocupo ainda mais com ele.
— Isso será ótimo! Ele poderá ir conosco. — Falo mais animada.

— Então já está resolvido. Eu pensei em irmos no Brasil pra visitar


a Mia. — Henry fala, olhando apreensivo para mim.
— Ótima ideia, sempre tive vontade de conhecer lá. — Falo
empolgada.

O garçom chegou com a nossa refeição. Começamos a jantar, entre


conversas e planos para o casamento, e agora eu já estou mais animada, pois
não queria deixar meu filho.

Henry queria experimentar uma torta de abacaxi que lhe chamou


muita atenção.
— Pode ser duas porções. — Falo assim que o garçom pega os
nossos cardápios.

— O que acha da cerimônia ser no nosso jardim? Acho que o lugar


já tem uma decoração própria. — O jardim da casa do Henry, ou seja, nossa
casa.
No jardim tem uma fonte muito bonita, talvez possa ser lá, acho que
ficará muito bom.

— Tem razão, então já decidimos o local. — Não queremos nada


extravagante, será algo bem simples. Apenas um juiz de paz e já é o
suficiente.
Saboreamos a sobremesa, que estava uma delícia. Ainda não tinha
experimentado, e pela primeira experiência foi maravilhoso.

— Vamos? — Henry pergunta, estendendo a mão para mim.

— Vamos sim. — Seguro sua mão e levanto. O jantar foi


maravilhoso, e a companhia dele é sempre muito agradável.

Chegamos no hotel, Henry disse que iria até a recepção, e fiquei


aguardando ele perto do elevador.
— Já podemos ir. — Entramos no elevador. Em seguida entram
mais duas mulheres, e percebo os olhares dela para Henry, que parece não
notar.

Coloco a minha mão que carrega o lindo anel de noivado em seu


ombro. Nunca fui possessiva, sempre dei espaço para a pessoa decidir se me
respeitaria ou não, e dou esse espaço para Henry. Porém, em uma ocasião
como essa é bom deixar claro a quem ele pertence. As duas mulheres olham
para meu dedo e depois uma olha para a outra. Dou um sorriso de canto, e
elas desviam o olhar.

Elas saem do elevador, e Henry olha para mim.


— Eu percebi. — Ele fala com um pequeno sorriso nos lábios.

— Percebeu o que? — Pergunto, me fazendo de desentendida.


— Que você estava marcando território. — Ele fala vindo me beijar.

— Não faço ideia do que está falando. — Henry toma meus lábios
em um beijo quente e feroz. Separamos o beijo quando o elevador abre as
portas no nosso andar.
— Vamos, senhorita ciumenta. — Balanço a cabeça e saio do
elevador, Henry, assim que sai, fala que vai ver o pai e que logo irá para o
quarto.

Entro no quarto e tiro meus saltos. Meus pés estão destruídos, pois o
dia hoje foi longo. Tiro todos os agasalhos e deixo o quarto aquecido, o frio
que faz lá fora é de congelar a ponta do nariz. Vou para o banheiro e me
desfaço da roupa que estava por baixo dos agasalhos recém tirados, e coloco
a banheira para encher enquanto me olho no espelho. Estou usando a mesma
lingerie da loja, pois não tive coragem de tirar depois do episódio no
provador. Ainda fui jantar assim, com a mesma peça. Tive que colocar a
outra que estava usando em minha bolsa. Quando dei por mim, Henry já
tinha arrancado a etiqueta. Fiquei sem saber o porquê, até o momento em
que ele entregou para a gerente da loja, que nem mesmo perguntou pela
peça, só passou o código de barra e falou o valor, que, por se tratar de uma
peça íntima, foi bem além do preço. Mesmo eu tendo dinheiro, nunca fui de
comprar coisas absurdamente caras sem necessidade.

Quando a banheira já está cheia, desligo as torneiras e jogo alguns


sais de banho, tiro minha lingerie e adentro a água morna, ao mesmo tempo
em que meu corpo agradece por esse ato. Nem sei mais quanto tempo fiquei
aqui dentro da água, mas minha pele já estava um pouco enrugada. Saio do
banho e vou me deitar. Henry está demorando, e não tiro a razão dele, tem
que dar atenção para seu pai, pois ele ficou viúvo e, mesmo que tenha traído
a mulher muitas vezes, parecia amar ela, então Henry tem que ficar com ele
um pouco, conversar e tentar distraí-lo.
Capítulo 56

Escuto o som da porta batendo. Henry adentra o quarto, e seu


perfume invade o lugar. Sorrio de canto quando sinto seu toque.

— Desculpe a demora, meu pai tinha mais coisas para falar do que
imaginei. — Dou espaço para ele deitar ao meu lado.
— Tudo bem, amor, ele precisa de você. — Henry suspira e levanta.

— Vou tomar um banho, quer me acompanhar? — Pergunta


sorrindo.

Mostro minha mão, que ainda está enrugada.


— Melhor não. — Falo, e ele me dá um beijo. Estou coberta por um
edredom bem grosso e, mesmo assim, ainda estou com frio.
Henry sai do banheiro usando apenas uma box branca, que marca
muito bem seu membro.

— Vou aumentar um pouco a temperatura para você. — Ele pega o


controle e aumenta o aquecedor. Passam-se alguns minutos e já posso sentir
o calor embaixo de todo o edredom.
— Está bem melhor. — Falo retirando a coberta.

— Essa é a intenção, te deixar bem aquecida. — Henry vem até


onde estou e me dá um beijo. Desço minha mão até sua box, encontrando
seu membro já ereto.
— Eu sei bem qual sua intenção. — Falo olhando em seus olhos.

— Sabe mesmo? — Ele pergunta e levanta, e fico olhando seus


movimentos.
Henry vai até uma pequena sala de chegada e depois volta com um
pote na mão. Logo percebo do que se trata e dou uma gargalhada.

— Está brincando, né? — Pergunto, pensando o quão frio aquilo


deve estar.
— Temos que mudar um pouco, amor. — Henry fala com a voz
mais safada do mundo.

— Henry, isso está muito...


Ele vem até onde estou e me beija, e fico olhando seus movimentos.
Henry tira minha camisola e depois minha calcinha. Seus lábios encostam no
bico do meu seio, e a essa altura já estou molhada e arrepiada por causa do
frio.

Henry começa a estimular meu clitóris, arqueio levemente as costas


e minhas mãos vão para os cabelos dele, que estão maiores que os normal.
Henry dá um beijo no meu seio e se afasta um pouco. Estava prestes a
questionar, mas antes que eu fizesse isso ele passou a ponta da língua na
minha intimidade, me deixando totalmente sem palavras. Jogo a cabeça
levemente para trás, o choque térmico toma conta do meu corpo quando ele
coloca um pouco do sorvete na minha intimidade.

— Henry. — Balbucio seu nome.


Henry continua sugando minha intimidade, e estou prestes a gozar
na sua boca. Henry coloca mais um pouco do sorvete e chupa com mais
força, então me perco na deliciosa sensação e gozo em sua boca. Ele olha
para mim e passa a língua nos lábios.

— Deliciosa. — Henry vem até mim, e tomo seus lábios em um


beijo. Deito ele na cama, ficando por cima.
— Você gosta de brincar, não é? — Pergunto, e ele sorri.

— Com você eu gosto de fazer de tudo. — Beijo seus lábios,


sentindo seu membro roçando na minha intimidade.
— Eu também sei brincar. — Falo e distribuo beijos em seu
peitoral. Henry coloca as duas mãos atrás da cabeça, dando visão dos seus
músculos.

Dou uma leve mordida em seu peito, e Henry morde o lábio inferior.
Continuo distribuindo beijos em seu tórax, depois sua barriga, até chegar
onde eu quero. Desço a cueca box que ele usava e seu membro salta dela, me
dando uma visão maravilhosa do que tanto me leva à loucura.
Passo a língua na glande, fazendo-o dar um gemido baixo. Começo
a fazer movimentos de vai e vem com a mão, Henry está com os olhos
fechados, apenas apreciando meus movimentos. Com a mão livre, pego um
pouco do sorvete que estava próximo a mim, colocando na superfície de seu
membro.

— Porra, Isa. — Henry xinga.


Passo a língua onde coloquei a sobremesa gélida. Estava prestes a
começar a tortura, porém Henry me puxa, me fazendo deitar em seu peito.

— Acabou a brincadeira. — Sorrio com sua atitude.


Henry me deita de bruços, cruza meus braços para trás e me penetra,
me fazendo gemer alto. Suas estocadas são rápidas, e estou prestes a chegar
ao ápice. Henry estoca mais algumas vezes, me fazendo ter um delicioso
orgasmo. Não demora muito e ele também tem seu orgasmo. Ele fica alguns
segundos na mesma posição tentando controlar a respiração, depois de
alguns segundos ele deita ao meu lado.

— Eu amo você. — Falo deitando em seu peito.


— Eu amo você. — Henry fala depositando um beijo no topo da
minha cabeça.

Depois de alguns minutos controlando as respirações, fomos tomar


banho. Não fizemos sexo no banho pois, assim como eu, Henry também
estava cansado, e ao amanhecer ele teria uma reunião e depois iríamos para
casa. São seis horas de viagem, e estou louca para ver meu bebê. Por mim eu
teria ido embora hoje mesmo, mas aproveitamos para fazer tudo de uma vez.
Jogar as cinzas e também fazer essa reunião, que é de extrema importância
para a Benet hotelaria.
— Boa noite, meu amor. — Henry fala me puxando para seu peito.

— Boa noite. — Me aconchego em seu peito, e em poucos minutos


sinto meus olhos pesarem.
Passo a mão na cama e não o sinto. Abro os olhos lentamente, a
cama está vazia, mas o cheiro amadeirado do seu perfume paira no quarto.
Levanto com meu corpo relutante, queria dormir mais um pouco, mas hoje
vamos para casa, e o meu coração está pulsando para ver meu pequeno.

Vou para o banheiro e faço minha higiene pessoal, tomo um banho e


visto meus agasalhos, coloco uma calça jeans e uma blusa de manga na cor
nude, pego um casaco de frio felpudo, e estou bem melhor depois de estar
toda agasalhada. Calço uma bota de cano curto e depois passo um gloss nos
lábios, termino de arrumar minhas malas e já estou pronta para ver meu
pequeno.
Quando saio do quarto vejo um carrinho com o café da manhã e
uma rosa perto da porta, vou até ele e vejo um pequeno bilhete.

“Bom dia, flor. Espero que tenha tido uma ótima noite, te amo.”
Sorrio com o gesto e pego uma das frutas. Essas viagens de avião
me deixam enjoada, então prefiro comer algo leve para não passar mal no
voo.
Capítulo 57

Isa está sentada de costas para mim. Chego devagar e dou um beijo
em seu pescoço, vendo ela ficar arrepiada.

— Está pronta? — Pergunto e vejo as malas todas arrumadas.

— Faz um bom tempo. — Sorrio.


Meu pai também já estava pronto, então seguimos para o aeroporto.
Isa estava sonolenta, talvez devido ao remédio que deixei para ela para
enjoo. Isa fica enjoada em viagens de avião, mas só soube disso quando
estávamos vindo para cá.

— Está tudo bem, amor? — Pergunto.


— Está sim, só estou um pouco tonta por causa do remédio, mas
está tudo bem. — Fico sentado ao seu lado apenas observando. A viagem é
demorada, são quase sete horas.

Isa conseguiu dormir quase a viagem toda. Tivemos uma


turbulência, mas graças a Deus deu tudo certo.
O copiloto avisa que já vamos pousar, e aperto mais um pouco o
cinto dela.

Quando finalmente o avião pousou, Isa acordou ainda sonolenta.


— Chegamos, amor. — Falo, e ela abre um pequeno sorriso.

Isa levanta com um pouco de dificuldade, ajudo ela a sair do avião


e seguimos até o carro que nos esperava. Papai foi em outro, porque iria
diretamente para casa. Eu e Isa fomos para nossa casa; assim que chegamos,
ela foi para o quarto, e eu para a empresa, pois ainda tenho alguns papéis
para revisar e assinar.
— Bruno, você pode ir na empresa? Quero que revise alguns papéis.
— Falo para meu advogado.

Ele confirma que logo estará lá. Chego na empresa e adentro o


local, cumprimento meus funcionários e vou para o elevador.
— Pensei que não voltaria mais. — Ruby fala sorridente.

— Estou aqui. — Falo, e ela balança a cabeça em negação. Ruby é


aquele tipo de funcionária que você não quer perder de forma alguma. Ela é
paciente, prestativa e muito eficiente.
— Não fez um filho nessa viagem não, né? — Ela pergunta, me
fazendo olhá-la.

— Lucas tem apenas quatro meses. Tenho certeza que Isabelly não
pretende ter outro tão cedo. — Falo, e ela gargalha.
— Falar em Isa, quando ela voltará a trabalhar? Eu preciso dela
aqui. — Ela fala, entrando na sala junto comigo.

— Isso depende dela. As portas estão sempre abertas, mas acho que
ela não quer voltar. — Ruby faz uma careta e sai da sala.
Em pouco tempo, Bruno entra na minha sala.

— Bom dia, sumido. Pensei que não precisaria dos meus serviços.
Conheço Bruno há muito tempo. Ele era advogado de porta de
cadeia, mas sempre gostei dos serviços dele e, vendo que era um cara
inteligente, o trouxe para trabalhar aqui. Já livrou nossa empresa de muita
enrascada.

— Senta aí. — Falo, e ele desmancha o sorriso.


— Pelo visto é algo sério. — Ele fala, e eu sorrio.

— Estou brincando, só quero que revise esses contratos. — Ele olha


para mim sério, e eu faço sinal de rendição com as mãos.
Ficamos o resto da tarde lendo contratos, propostas de sociedade e
alguns currículos. Nossa empresa está aumentando, e precisamos de
funcionários competentes para trabalhar conosco.

Isabelly

Depois de chegar de viagem tomo um banho. Henry foi na empresa


resolver alguns assuntos pendentes, então deitei e, novamente, peguei no
sono.

Acordo e olho no celular. Já passa das seis da tarde, já descansei


mais do que precisava e agora vou buscar meu pequeno.
Levanto e vou trocar de roupa. Pego minha bolsa e lembro o quanto
é bom esse calorzinho. Aqui tem tempos de frio, mas o de Nova York estava
muito pior. Desço as escadas e, antes que eu possa chegar na porta, a
governanta me chama.

— Dona Isabelly, isso chegou para a senhora hoje pela manhã. —


Ela fala, me entregando um papel.
— Já falei que pode me chamar apenas de Isa. — Falo abrindo o
papel.

Começo a ler, e por um minuto achei que minha visão estava me


enganando.
“O juiz André de Nóbrega convoca a senhora Isabelly Blanc para
uma audiência no dia vinte e dois do quatro de dois mil e cinco, referente à
guarda do menor Lucas Blanc.”

Procuro a cadeira mais perto e me sento.


— Está tudo bem, senhorita? — Ela pergunta enquanto eu ainda
estou me recuperando.

— Henrique está tentando tirar a guarda do meu filho. — Falo, e ela


põe a mão na boca
— E ele pode fazer isso? — Ela pergunta.

— Não sei, eu... acho que sim. Ele é pai.


Não faço questão de esconder isso de ninguém. Henry de toda
forma se considera o pai do Lucas, e como toda a família já sabe sobre a
paternidade do meu filho, não tem porque eu esconder.

— Vai ficar tudo bem, senhorita. Tenho certeza que Henry


conseguirá resolver isso. — Ela sai da sala onde estou sentada, e eu crio
forças para levantar. Pego a chave do carro e saio a caminho da boate
daquele crápula desgraçado. Como ele ousa tentar tirar o meu filho?

Estaciono o carro e adentro o local. Alguns funcionários transitam


por ali, assim como no outro dia que vim aqui.
— Que surpresa! — Ele fala, sentado em sua cadeira, se achando o
dono do pedaço.

— Que palhaçada é essa aqui? — Jogo o papel em cima dele.


— Nossa! Que falta de educação, senhorita Blanc. Ou já virou uma
Benet? — Ele pergunta com a cara mais lavada do mundo. Que ódio desse
cara.

— Você não sabe o que está fazendo. Acha mesmo que vou te
deixar ficar com o meu filho? — Pergunto com raiva.
— Nosso filho, não se esqueça que ele é nosso filho, ou não lembra
mais de quando estava gemendo na minha cama? — Sinto nojo e repulsa por
aquele dia.

— Você nunca vai ficar com o meu filho! Você foi apenas o
progenitor, mas o Henry que é pai dele! Você nunca fez nada pelo Lucas, foi
Henry sempre esteve ao nosso lado, inclusive foi ele quem trouxe Lucas ao
mundo, então você nunca fará parte das nossas vidas. — Falo, e ele se
aproxima rapidamente de mim, dou um passo para trás.
— Você não vai tirar meu filho de mim. — Henrique segura meu
braço com força.

— Está me machucando. — Falo, tentando soltar meu braço de sua


mão.
— Ele é meu filho, porra! — Henrique grita, fazendo uma lágrima
escorrer dos meus olhos.

— Você nunca se importou com ele, por que só agora? — Pergunto


sentindo meu braço doendo.
— Porque eu não tenho mais ninguém. A única pessoa que ainda me
amava morreu, e a única pessoa que pode me amar você quer tirar de mim!
— Ele está alterado.

— Solta meu braço agora. — Grito, e logo entra um dos seus


seguranças.
Ele me ajuda, contrariando seu chefe.

— Você nem sequer quis registrar ele. Depois daquela cena patética
que fez em minha casa, você nem mesmo procurou ele de novo! Um pai para
ser amado tem que ser presente na vida da criança. — Falo e, antes que ele
fale mais alguma coisa para me deixar com raiva, saio de seu escritório.
Capítulo 58

— Ele fez o quê? — Henry pergunta depois que falo tudo de uma
vez.

— Isso mesmo, Henry. Ele teve a coragem de fazer isso. Se ele acha
que vai tirar meu filho de mim, ele está redondamente enganado, que eu
movo céu e terra para ele nem encostar no Lucas.

— Ele não vai chegar perto do Lucas. — Henry fala me puxando


para um abraço.

Ligamos para a advogada, e ela está vindo até nossa casa.

Na volta da boate passei na empresa, que já era no caminho e depois


fomos buscar o Lucas. Deixei para conversar com o Henry em casa sobre
isso. Sei que ele ficaria alterado, assim como eu fiquei, mas quando
chegamos eu já fui falando tudo de uma vez.
Pouco tempo depois a advogada chega na nossa casa, abro a porta e
dou passagem para ela, já entregando a intimação.

— Olha, não se tem muita coisa a fazer até o dia da audiência. Se


ele for mesmo o pai, como ele afirma, então ele tem direito à guarda da
criança. — Ela fala.
— Ele nunca se importou com a criança! Como ele tem direito ao
meu filho? — Henry pergunta com raiva.

— Isabelly e Henry, a única coisa que eu posso indicar pra vocês


fazerem agora é se casar. Por quê? Para o juiz ver que vocês têm uma união
estável, que são pais responsáveis e que a criança é bem amparada. — Ela
fala levantando.

— Você acha que isso pode ajudar? — Pergunto.

— Sim, ao ver do juiz, uma família sólida tem mais possibilidades.


— Iremos nos casar. — Henry fala olhando para mim.

— Sim, o mais rápido possível. — Falo, e Henry me abraça.


Sim, é uma decisão tomada no calor do momento. Nós já estávamos
planejando isso, mas agora será tudo mais rápido, o quanto antes melhor.
Não vou deixar Henrique pegar meu filho. Ele nunca sairá de perto de mim e
do Henry. Nós somos os pais dele. Henrique só foi o progenitor do bebê.

No dia seguinte foi uma correria. Iríamos nos casar apenas no civil e
depois iríamos planejar o casamento na igreja. Não conseguimos comunicar
a ninguém, além do fato da mãe dele ter falecido há poucos dias, não tinha
animação para festa, e, depois do que o Henrique fez, queríamos ter a certeza
de que tudo daria certo.
— Você vai ficar bem? — Henry pergunta, arrumando o seu paletó.
Ele tem uma videoconferência, e depois que sair da empresa nós iremos para
o cartório.

— Sim, tenho que terminar de arrumar os papéis que a advogada


pediu e depois te encontro lá. — Falo dando um beijo nele.
— Eu amo você, e nada vai acontecer. Ele nunca vai conseguir
separar nossa família. — Henry me abraça e depois sai.

Noite passada não consegui dormir direito. Tive muitos sonhos


ruins, o primeiro foi com o Henrique pegando meu filho do meus braços. Ele
dá um sorriso sarcástico e vira as costas levando Lucas, o segundo foi o
Lucas me dando tchau, segurando a mão dele e indo embora enquanto eu
estava sentada sem conseguir segurar meu bebê.
Me senti destruída a cada vez que eu acordava e pensava que posso
perder meu filho para ele. Não sei se vou suportar ter que entregar meu filho,
não sei se conseguirei seguir uma vida sem meu bebê.

Pego Lucas no colo. O pequeno já sorri, mesmo sem dentes. Os


pequenos detalhes nele são o que mais me fascina, os sorrisos dormindo, ele
brincando com as mãos, até mesmo ele mordendo os dedinhos com a
gengiva.
— Eu amo você, pequeno. Vai dar tudo certo. — Aconchego ele
meus braços.

O dia passou rápido. Na verdade, nem tão rápido para quem tem um
coração aflito, mas estou confiante que tudo dará certo e que Lucas nunca
ficará longe de mim.
Dou banho no pequeno, visto uma roupinha de ursinho que comprei
em Nova York e deixo ele ainda mais lindo, se é que é possível. A babá
ficará com ele, e minha mãe já está a caminho. A propósito, ela reatou o
namoro. Papai ainda está tentando se acostumar, porém ele sabe que não a
terá novamente. Então, uma dica é sempre valorizar quem a gente ama.

Tomo um banho, faço uma maquiagem básica, pego um vestido


longo na cor nude, calço uma sandália de salto preta com detalhes prata e
dou mais uma olhada no espelho. Talvez possa não ser o casamento dos
sonhos, na verdade nem iríamos fazer uma festa enorme para vários
convidados. Já tínhamos combinado de fazer uma pequena cerimônia, então
para mim, está mais que perfeito esse casamento em cima de hora.
— Está linda, boa sorte. — Mamãe fala assim que desço as escadas.

— Obrigada, mamãe. Lucas está dormindo, já deixei um leite pronto


caso ele acorde logo.
— Tudo bem, meu amor, pode ir. Vai oficializar logo essa união,
que você já tem a benção de mim e do seu pai. — Dou um beijo em sua testa
e vou para o carro, o motorista que vai me levar.

Chego no cartório, e o carro do Henry já está parado na frente. O


motorista me ajuda a descer, entro no cartório e Henry abre um sorriso ao me
ver. Ele se aproxima de mim e dá um beijo em minha testa.

— Você está perfeita. — Ele fala olhando em meus olhos.

— E você continua lindo. — Henry não teve tempo de passar em


casa para trocar de roupa, mas ele ainda estava lindo, da mesma forma que
saiu.
Eu me apaixonaria por ele todos os dias facilmente. Ainda me
lembro de cada palavra que disse para ele no dia da nossa discussão. Aquilo
ainda dói em mim, em uma proporção que não posso explicar. Às vezes pela
manhã, peço desculpas a ele quando acordamos. Ele sempre fala que não
tem o que desculpar, que, assim como eu, ele também falou coisas que não
deveriam ter sido ditas naquele momento.

Assinamos os papéis, então Henry sorri e me puxa para um beijo.


— Agora é oficialmente minha esposa. — Ele fala sem afastar o
rosto do meu.

— E você é oficialmente um homem casado. — Sorrio, e ele pega


algo do bolso.
Henry abre a pequena caixa com um par de alianças. Eu já estava
usando uma de noivado e agora era oficialmente a de casamento. O meu
nome e o dele estão gravados dentro da aliança.

Henry coloca a minha, e eu coloco a dele. Ambos damos um beijo


na pequena jóia.
— Vamos? — Ele pergunta, estendendo a mão para mim.

— Sim.
Seguro sua mão, e vamos para o carro. No caminho já estávamos
planejando algumas viagens futuras com o Lucas. A viagem de lua de mel
não daria certo, pelo menos não agora. Como eu fui intimada, se eu tirar o
Lucas daqui do país, poderá ser visto como um sequestro, então até o dia da
audiência eu não posso sair com ele.

Henry abre a porta, e tomamos um susto quando olhamos para a


sala.
Estão meus pais e o pai de Henry, alguns amigos da empresa e meus
irmãos. Uma faixa com a frase “Viva os noivos” e um banquete está posto
no mesa. Papai estoura o champanhe enquanto minha mãe sorri eufórica.
— Vocês merecem uma comemoração. — O pai de Henry fala se
aproximando.

— Obrigada. Não tivemos tempo de planejar nada. — Falo, e


mamãe vem me abraçar.
— Não foi das melhores, filha, mas sua festa de casamento não
pode ser passada em branco.

— Nós dois agradecemos muito pelo carinho que tiveram. Isso


daqui saiu melhor que qualquer coisa planejada, e eu e a Isabelly estamos
muito felizes. Agora ela é oficialmente minha esposa, e isso já é uma alegria
enorme para mim, e estar com vocês em um momento como esse é
gratificante. — Henry fala segurando minha mão.
— Faço minhas as palavras do meu marido. — Nossos convidados
sorriem e batem palma quando falo “meu marido”.

A noite terminou melhor do que o que esperávamos, pois poder ter


comemorado com pessoas especiais é maravilhoso.
Quando todos foram embora, Lucas já tinha capotado de sono.
Henry colocou ele no berço e ligou a babá eletrônica.

A noite terminou com uma rodada de sexo. Sim, para fechar com
chave de ouro, depois de uma massagem que eu fiz nele. Não tinha como ir
dormir sem poder fazer o que a gente ama.
Capítulo 59

Hoje é o dia da audiência, Isabelly mal conseguiu dormir durante a


noite, e a irmã dela irá ficar com o Lucas enquanto nós vamos para o fórum,
a mãe dela também irá testemunhar contra meu irmão.

— Estou nervosa. — Isa fala mostrando as mãos trêmulas.

— Irá ficar tudo bem, nós vamos ganhar. — Puxo ela para um
abraço, pois estou confiante que dará tudo certo.
— Espero que esteja certo, não vou suportar perder nosso filho. —
Isa fala, se aconchegando ao meu corpo.

— Tudo ficará bem. — Falo passando a mão em seu cabelo.


Isa começa a se arrumar. Já estou pronto, apenas esperando ela
terminar, então vou até o quarto do Lucas, ele está acordado no berço.
— Oi, filhão. Vai dar tudo certo, papai vai conseguir proteger você.
— Pego ele nos braços.

Fico um bom tempo apenas olhando ele. Lucas está cada dia mais
esperto, já está entrando para o sexto mês, Isa fica tão linda brincando com
ele.
— Vamos? — Ela pergunta, parando na porta.

— Sim. — Coloco ele no berço, o mesmo começa a chorar.


— Leva ele para a babá, ela já está lá embaixo. — Isa fala, e pego
ele novamente.

— Vamos, amor. O papai e a mamãe logo vão voltar com boas


notícias. — Falo, e começamos a descer as escadas.
Entrego Lucas para a Joana, que é a babá dele. Isa se aproxima e
beija a cabeça do pequeno.

— Vai dar tudo certo, filho. Nós amamos você. — Isa sai da casa
com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu nunca pedi nada a vocês, mas agora peço que façam orações
para que nós consigamos ganhar essa causa. Aqui todos sabem o quanto
Lucas é importante. — Peço para as pessoas que trabalham para mim. A
Fran veio trabalhar aqui quando minha mãe faleceu, e papai não reclamou,
pelo contrário, ele disse que não iria precisar de tantas pessoas trabalhando
mais na casa, então ela veio. Fran trabalha para minha família há quinze
anos.

— Ficaremos rezando por vocês. — Ela fala com um pequeno


sorriso nos lábios.
Vou para o carro, onde a Isa já me espera. Ela está com os olhos
vermelhos, então lhe entrego o óculos. — Seguro sua mão e peço para que o
motorista dê partida no carro.

Assim que chegamos ao fórum, já tinha alguns repórteres na porta.


— Quem chamou a imprensa? — Pergunto e logo tenho a resposta.

— Henrique.
Ele está falando com uma das repórteres. Desço do carro e ajudo Isa
a descer. Ela coloca os óculos e arruma a bolsa no ombro. Alguns repórteres
se aproximaram na intenção de conversar com nós, porém meus seguranças
afastam eles.

— Só algumas palavras, senhorita Blanc. — Uma delas fala.


— É verdade que está tentando roubar o filho do seu irmão? — Um
repórter pergunta, colocando o gravador perto do meu rosto.

— Não temos nada a declarar. — Meu segurança empurra ele, e


conseguimos entrar no fórum.
— Consciência pesada, irmão. — Henrique fala assim que
entramos.

— Você que deveria ter, por fazer uma palhaçada dessa. — Falo
com raiva.
— Eu só estou indo atrás dos meus direitos como pai, e você... eu
vou conseguir a guarda do meu filho. — Ele fala apontando para Isa, que se
mantém calada, apenas olhando.

— Vamos, Henry, isso não vai nos afetar. — Isa fala segurando meu
braço.
— Vamos sim, e quanto a você, pode tirar esse sorrisinho de
deboche da cara. Você não merece ter um filho como o Lucas. — Falo, e Isa
me puxa para a sala.

Se tratando de um julgamento para decidir a guarda de um menor,


serão apenas as pessoas envolvidas: eu a Isa e a advogada, Henrique e seu
advogado, e depois as testemunhas.
— Podemos começar. — O juiz fala sentando. — Dou a palavra
para a acusação. Ele aponta para o advogado do Henrique.

— Meritíssimo, meu cliente só quer exercer o direito de pai, mas a


senhorita Isabelly Blanc não permite. Meu cliente só quer poder ter o filho
ao lado, a criança nem mesmo foi registrada ainda. — Ele fala, enquanto eu
balanço a cabeça para tentar tirar a vontade de matar meu irmão de dentro de
mim.
— A palavra passa para a defesa.

— Meritíssimo, minha cliente foi, digamos, escorraçada pelo senhor


Henrique Benet ao contar da gravidez. Ela ainda conversou com ele para
registrar o menor, mas o senhor Benet não deu a mínima para isso. O senhor
Henry foi quem assumiu a criança desde o primeiro momento. — A
advogada fala.
— Senhorita Blanc. — Ele aponta para Isa, que está nervosa.

— Senhor juiz, o senhor Benette me fez ameaças específicas de que


eu não teria o bebê, e que se eu tivesse ele não seria um Benet. Eu não
neguei que ele fosse presente na vida do nosso filho, mas ele preferiu trazer-
nos até aqui do que assumir realmente a paternidade do Lucas. Meu filho
está com seis meses, e ele sequer arcou com as despesas dele. — Isabelly
fala parecendo nervosa.
— Calma, senhorita Blanc, não precisa ficar alterada. — A
advogada fala.

— Me desculpa.
— Senhor Benette. — O juiz passa a palavra para meu irmão.

— Eu sempre quis meu filho ao meu lado, senhorita Blanc, essa


história é totalmente sem cabimento! Como pode levantar uma falsa
acusação dessa contra mim? Meritíssimo, eu amo meu filho, estou aqui para
ter o direito de ter ele comigo. — Henrique fala.
— Você foi na minha casa me ameaçar, e eu tive um começo de
aborto, agora está dizendo que estou mentindo? — Isabelly fala alterada.

— Ordem! Se a senhora não se controlar, eu vou pedir que se retire.


— Henrique está com um sorriso de deboche na cara. Como nós dois somos
irmãos? Sempre me pergunto isso.
Capítulo 60

Era o último dia de audiência. A audiência sobre a guarda do Lucas


foi dividida em duas vezes, e isso está me afligindo ainda mais. Henry pede
sempre que eu fique calma, que tudo vai ficar bem, mas às vezes acho que
não ficará assim tão bem. Tenho pensado muito negativo esses dias.

— Está pronta? — Ele pergunta parando na porta.


— Sim. — Estou sentindo constantes enjoos, muita fraqueza. Talvez
seja o meu psicológico que esteja me fazendo sentir assim.

— A sua mãe está lá embaixo.

Mamãe, depois da primeira audiência, ficará com ele hoje de novo.


— Oi, filha, não se preocupe, tudo ficará bem. — Ela fala, pegando
o pequeno dos meus braços.
— Vamos, amor, não podemos chegar atrasados. — Henry fala
segurando minha mão. Ele dá um beijo no Lucas, e saímos de casa.

— Estou muito nervosa. — Falo, secando uma lágrima que teima


em cair.
— Isa, eu preciso que você fique calma. Você passou a noite
vomitando, está pálida. Se não se acalmar eu vou levar para o hospital e te
deixar de castigo lá. — Henry fala, me fazendo sorrir.

— Ok, vou tentar me controlar. — Ele leva minha mão até os lábios
e dá um beijo demorado.
Chegamos ao fórum novamente. Só de olhar para esse lugar me dá
calafrios, o medo de perder meu filho está cada vez maior dentro de mim.
Henrique sabe argumentar muito bem, da forma que ele fala parece que eu
sou a vilã, que eu cometi um crime horrível contra a sociedade.

— Respira fundo e vamos. — Henry fala, e descemos do carro, os


seguranças nos ajudam a chegar até a porta.
Henrique, como sempre, está com o sorriso de deboche na cara, ele
acha mesmo que vai ganhar a guarda do meu filho.

— Hoje será a decisão, quando sair daqui vou direto pegar meu
filho. — Ele fala, me deixando com raiva.
— Você pelo menos gosta bem que seja um por cento do meu filho,
ou isso é só capricho? — Pergunto, me aproximando dele.

— Como tem coragem de perguntar uma coisa dessa? Eu amo meu


filho tanto quanto você. — Ele fala, me fazendo sorrir sem humor.
— Esse cara só pode estar de brincadeira. — Falo, e Henry sussurra
no meu ouvido.
— Vamos sair. É tudo o que ele quer, que nós briguemos aqui para o
juiz ver. — Henry fala no meu ouvido.

Saímos sem falar mais nada, e logo o juiz chamou.


— Vamos dar continuidade ao processo que vai decidir com quem
ficará com a guarda definitiva do menor, Lucas Blanc. Eu dou a palavra para
a defesa. — Ele aponta para a advogada que está nos defendendo.

— Meritíssimo, eu gostaria de incluir mais duas testemunhas hoje,


se o senhor permitir. — Ela fala olhando para ele.
— Isso é um absurdo, meritíssimo. Todas as testemunhas foram
ouvidas ontem. — O advogado do Henrique fala.

— Pedido concedido, pode mandar entrar a primeira. — Henrique


abre mais os olhos em surpresa quando vê Karoline sentando de frente para
nós.
— Senhorita... Karoline, o que a senhora tem a dizer em defesa da
senhorita Blanc? — A advogada fala olhando para ela.

O que essa mulher está fazendo aqui? E se ela colocar tudo a


perder? A última vez que nós topamos com ela, a mesma me fez sair
correndo da empresa e Henry se acidentar. Depois atentou contra a vida dele.
Por sorte, o tiro pegou de raspão no braço do segurança do Henry.
— Eu pensei muito antes de vir aqui. Eu comecei a trabalhar na
empresa dos Benet porque Henrique me pagou. Eu sempre via o Henry e
sempre tive uma paixão por ele, mas não fui correspondida. Henrique disse
que eu tinha que seduzir seu irmão, porque ele queria casar com a Isabelly.
Até pensei que fosse por ela estar esperando um filho dele, mas logo depois
descobri que era por causa da sua boate, que está falida. Ele queria poder
associar os nomes Benet e Blanc para conseguir um empréstimo milionário.
Quando viu que não conseguiu separar os dois, ele me pagou ainda mais
dinheiro para matar o Henry. Eu até fui na empresa para fazer isso, mas não
tive coragem, então eu fiquei nervosa e acabei disparando um tiro em seu
segurança. — Karoline já está nervosa.

— Isso não tem cabimento, quem pagou para essa mulher falar isso?
— Henrique pergunta alterado.
— Por favor, controle seu cliente. — O juiz fala.

— Eu não iria vir aqui, meritíssimo, se fosse para mentir. Eu atirei


em um homem inocente e estou aqui assinando minha sentença. O Henry e a
Isabelly não merecem ter que entregar o bebê para esse monstro. — Ela fala
apontando para ele.
— Pode se retirar, iremos apurar seu depoimento. — Karoline sai da
sala enquanto Henrique fuzila ela com os olhos.

— Acho desnecessário ouvir mais uma testemunha. — O advogado


dele fala.
— Pode mandar trazer a outra testemunha.

A moça que entra eu não conheço, mas, pela forma que Henrique
olha para ela com ódio, os dois devem se conhecer.
— O que você faz aqui?

— Eu vim falar tudo que sei sobre você. — A mulher fala se


sentando.
— Você não pode fazer nada? Ela não pode depor, essa mulher é
louca! — Ele fala para o advogado.

— Se não conseguir controlar seu cliente, terei que mandar ele sair.
— O juiz fala.
— Não piora a situação, você está cada vez mais encrencado. — O
advogado fala baixo para Henrique.

— Pode começar. — O juiz já está com o semblante cansado.


— Eu trabalho para o Henrique há dois anos. Sempre foi normal ver
ele com uma mulher e outra, já que ele é dono de uma boate onde também
rola o tráfico de drogas. Mas um certo dia a Isabelly apareceu lá na parte da
tarde, e escutei ele falando várias coisas para ela. Até então não tinha
entendido o caso, mas poucos meses depois eu ouvi ele combinar com uma
repórter sobre a matéria do acidente do irmão. O pai dela até então não sabia
que ele era o pai do bebê, e foi quando a repórter saiu que eu entendi que ele
queria que ela fosse humilhada pela falecida mãe dele e depois quisesse ficar
com ele, para o sobrenome Blanc estar interligado ao dele. Ele já até tinha
conversado com o gerente de um banco e, de alguma forma, ele faria o
empréstimo no nome da Isabelly. Eu não ouvi detalhes, mas posso afirmar
que esse homem não pode ficar com esse bebê. — Ela termina de falar, e
algumas lágrimas descem pelo meu rosto.

Como alguém tem tanta maldade no coração? Colocar meu filho


nessa bagunça toda por causa de dinheiro.
— Perante todos esses depoimentos, aqui não foi ouvido nada de
bom a respeito do senhor Henrique Benet. Estamos apurando todos os fatos,
então peço que se retirem, e daqui meia hora retornaremos.

O juiz levanta e sai da sala.


— Sua desgraçada! Como pode vir aqui depor contra mim, que
tanto te ajudei? — Ele fala para a moça que se mantém plena.

— Realmente ajudou, Henrique. Tem um filho de um ano comigo,


nunca deu nada para a criança e está tentando pegar uma criança para ele ter
seu nome como pai. Acha que o pai da Isabelly vai te ajudar em algo? Eles
tem nojo de você, assim como eu! — A moça levanta e olha para ele. —
Está com sorte que nunca falei para ninguém sobre isso, para não manchar
sua reputação, mas depois disso aqui, eu que iria sair prejudicada se meu
filho tivesse seu nome. — Ela sai da sala sem olhar mais para ele.

Eu e Henry saímos também. Assim que chegamos do lado de fora


da sala vimos a Karoline sair do fórum. Ela estava acompanhada de um
rapaz, e não tive tempo de agradecer a ela por seu depoimento.
— Henry, eu preciso ir ao banheiro. — Saio o mais rápido possível,
ele vem logo atrás.

Quando chego no banheiro vou direto no vaso vomitar. Já não tinha


conseguido comer direito hoje pela manhã, e agora não ficou mais nada no
estômago.
— Amor, você está bem? — Henry pergunta, pondo a mão nas
minhas costas.

— Não precisa ficar aqui. — Falo, dando descarga no vaso.


— Eu sempre vou estar ao seu lado, meu amor, seja em momentos
bons ou ruins. — Ele fala, e vou até a pia, lavo minha boca e me olho no
espelho. A última vez que fiquei assim eu estava grávida do Lucas.

— Isa. — Henry me chama, e olho para ele ainda pelo reflexo do


espelho.
— Será que eu estou… ?

— Grávida?
Henry abre um sorriso, e eu não fiz diferente. Mesmo não
planejando outra criança, não seria nada mau nós dois termos outro bebê.
Garanto que amor não faltará nunca para nossos filhos.

Henry se aproxima e me abraça, então ficamos alguns segundos ali,


apenas imaginando a possibilidade de termos outro bebê. Claro que seria
muito difícil cuidar de duas crianças assim. Pelas contas, se realmente eu
estiver, o Lucas vai estar com um ano e três meses.
— Calma, pode ser apenas um mal estar, talvez por causa da pressão
que estamos passando esses últimos dias. Não vamos nos precipitar. — Falo
olhando para ele.

— Tudo bem, mas o que acha de fazermos exame quando nós


sairmos daqui?

— Ótima ideia. — Falo.

Ficamos mais alguns minutos ali. Olhei no meu relógio de pulso que
Henry me deu, só faltavam dois minutos para nós entrarmos na sala
novamente.

— Vai dar tudo certo, meu amor. — Ele me dá um beijo na testa e


depois nos lábios.

Saímos do banheiro, e uma mulher olha com o semblante feio para


nós dois.

— Não foi bem visto sua entrada no banheiro feminino. — Falo, e


Henry sorri.

Fomos chamados novamente para a sala, e o juiz já está sentando


em seu lugar.
— Eu não tive dúvidas a quem dar a guarda desse bebê. Ouvimos
muitas pessoas aqui dentro dessa sala, ouvimos o apelo do pai de sangue do
bebê, ouvimos o senhor Henry, que é o tio do bebê, ouvimos a mãe do menor
Lucas. Aqui nessa sala nós ouvimos várias coisas, e a maioria foram coisas
absurdas a respeito do senhor Henrique. Um pai de verdade não precisa ser
apenas o que fez. O pai é quem cria o filho. Eu não posso tirar uma criança
de uma mãe e de um pai que a criaram desde o primeiro momento de vida e
não posso dar a guarda a um pai que o rejeitou sem ao menos lhe conhecer,
um pai que só pensa no bebê como uma máquina de dinheiro, um pai que
pagou para tirar a vida do irmão. A guarda do menor Lucas fica com o
senhor Henry e a com a senhorita Isabelly. E quanto ao senhor, senhor
Henrique, se dê por satisfeito de não ir preso depois dos depoimentos que
foram ouvidos aqui nessa sala. O senhor ainda vai ser chamado para depor
sobre as alegações de venda de drogas e tentativa de assassinato.

Eu e Henry nos abraçamos, e algumas lágrimas descem do meu


rosto. Estou tão feliz porque meu filho nunca sairá de perto de mim!
— Nós conseguimos, meu amor. — Falo para Henry, que seca
minhas lágrimas.

— Isso não vai ficar assim! Eu tenho direitos! Ele é meu filho! Meu
filho! — Henrique sai gritando da sala, mas não damos muita importância
para ele.

— Vamos? — Henry pergunta, segurando minha mão.

Passamos na farmácia, e Henry comprou vários testes de gravidez.


Até pensamos em ir no laboratório, mas iria demorar, então só compramos
os de farmácia.
Capítulo 61

Estou do lado de fora do banheiro, andando de um lado para o outro.


Isa entrou no banheiro com cinco testes de farmácia. Meu coração está
disparado, todos estão reunidos lá embaixo para comemorar o fato da guarda
do Lucas continuar sendo nossa, e eles ainda não sabem da possibilidade de
um outro bebê a caminho. Ainda hoje iremos registrar Lucas no meu nome,
e eu estou prestes a ter um colapso nervoso.

— Isa, fala alguma coisa. — Falo, encostando a testa na porta. Ouço


o barulho da porta se abrir, ela olha para mim, e meu coração pulsa mais
forte.

— Todos deram negativo. — Ela olha para mim e depois para os


cinco testes em sua mão.
Puxo-a para um abraço, beijo o topo de sua cabeça e aconchego Isa
em meus braços.

— Teremos tempo para isso. Quem sabe foi até melhor, pois agora
poderemos ter nossa atenção apenas para o Lucas. — Eu estava ansioso com
a possibilidade de termos mais um filho, mas Lucas já está aqui com nós, e
poderemos aproveitar bastante tempo com nosso pequeno.

— Tem razão, ele precisa de nós. — Ela fala, tomando meus lábios
e me dando um beijo.

— Eu amo vocês. — Falo, e ela abre um pequeno sorriso.


— Eu amo vocês, Henry. — Nossa! Como é maravilhoso ouvir isso
dela. Cada vez que Isabelly fala que me ama, meu coração fica quentinho.

Descemos para aproveitar a comemoração. Eu estava segurando


Lucas no colo quando meu celular tocou. Vi o número do Henrique e pensei
várias vezes em desligar, mas algo dentro de mim estava mandando eu
atender. Me afasto das pessoas e atendo o celular.
— Oi, Henrique.

— Oi, irmão...

Ouço ele tossir.

— O que houve?
— Está tudo bem, só liguei para dizer que te amo. Não deixa ele
saber que o pai dele era um fracassado.

— Henrique, onde você está? O que está conhecendo?

Ouço ele tossir mais uma vez e me desespero. Isa percebe e vem até
onde estou, em seguida ela pega Lucas do meu colo.
— Chegou minha vez, irmão, está tudo bem. Me perdoe por tudo,
peça perdão a Isa por mim, fala para o velho que amo ele.

A ligação cai. Tento ligar, mas é em vão.


— Filho, o que aconteceu? — Meu pai pergunta, vindo até mim.

— Não sei, pai. Era o Henrique, aconteceu alguma coisa com ele.
Poucos minutos depois um número desconhecido me liga.

— Alô.
— Henry Benet? Seu número estava no contato de emergência do
seu irmão.

— Onde ele está? Meu irmão está bem?


— Sinto muito. — Meu coração se aperta ainda mais, não consigo
conter minhas lágrimas e desligo o celular.

— Não, filho, o seu irmão não. — Papai fala me abraçando.


— Ele se foi, pai. — Falo abraçando meu pai, que ainda não tinha
superado nem a morte da mamãe, e agora vai ter que lidar com mais essa
perda.

— Eu sinto muito. — Isa passa a mão nas costas dele, meu pai se
solta do meu abraço e abraça ela.

— Perdoe meu filho, ele merece descansar em paz. — Papai fala


para Isa.
— Eu já perdoei. Ele me deu o melhor presente que eu poderia
receber.

Seguimos eu, meu pai e Isa para o hospital para fazermos o


reconhecimento do corpo. Os paramédicos explicaram o que aconteceu com
ele. Henrique bateu de carro com outro homem, e depois dos exames
descobriram que estavam os dois bêbados.

Os dois morreram. O outro motorista morreu na hora, e aquilo era


muito triste. A única pessoa que era meu parente de sangue morrer assim. Eu
não me sinto culpado pela morte dele. Se a vida de Henrique chegou a esse
ponto foi por culpa dele mesmo. Eu sempre tentei fazer ele trabalhar e ser
uma pessoa melhor a cada dia, mas foi impossível fazer mais por ele.
— Como você está? — Isabelly pergunta pegando minha mão.

— Ainda não sei. Eu pensei que ele teria jeito, que com o tempo
teria responsabilidade, mas não foi bem assim. — Falo olhando para meu
pai, que está sentado com as duas mãos na nuca.
— Ele vai precisar ainda mais de você depois disso. — Isa fala
olhando para ele.

— E eu vou estar com ele, mas agora ele precisa de um tempo.


— Tudo bem. Eu já arrumei tudo aqui, podemos ir. — Isa tomou
conta da parte burocrática, assim como no dia do velório da minha mãe. O
difícil era dar mais uma notícia triste para minha irmã. Ela está grávida, e dar
esse tipo de notícia é delicado.

Liguei para ela. Mia não pareceu ter se abalado tanto, pois ela e
Henrique nunca tiveram o mesmo vínculo que eu e ela temos, mas sei que
ela sentiu a morte dele. Sempre deixo ela informada de tudo, então minha
irmã sabia o que estava acontecendo entre nós dois.
O velório foi durante o resto da tarde e noite. Ao amanhecer ele será
cremado, assim como mamãe, e faremos o mesmo ritual. Ele merece algo
assim. Tanto eu quanto a Isa conversamos sobre o assunto da paternidade do
Lucas. Ele terá meu nome, mas sempre saberá que o pai dele era meu irmão.
Ele não precisa saber quem meu irmão foi, mas ele tem o direito de saber
que não é meu filho biológico. A noite passou devagar, alguns amigos da
empresa passaram aqui, antigos sócios do meu pai, atuais sócios, a moça que
disse que tem um filho dele. Eu a chamei para conversar. Nós pagaremos
uma pensão mensal para ele, e ela disse que não quer o nome do Henrique
no filho, mas aceitará a ajuda. Ela mesma pediu que fizéssemos o exame na
criança e, por segurança, nós aceitamos.

— Chegou a hora. — Isabelly fala, parando na porta do quarto.

Estava olhando algumas fotos nossas. Até os quinze anos nós dois
éramos unidos, mas com o tempo isso foi se perdendo. Ele procurou os
meios mais difíceis de convivência, e isso nos distanciou.

— Vamos lá, né. — Falo levantando da cama.


Levamos ele para ser cremado. Henrique teve os órgãos internos
perfurados e uma hemorragia interna severa, os paramédicos disseram que
quando chegou ele já não estava mais com vida, e o celular estava ao seu
lado. Eu fui a última pessoa a quem ele disse adeus.
Capítulo 62

Alguns dias depois

Minha mãe se entendeu com o namorado, e eu fiquei feliz por ela.


Papai já consegue ficar no mesmo ambiente que eles dois, e o pai do Henry
anda um pouco abatido. Na próxima semana ele irá ver a filha, que ganhou
nenê há poucos dias.

Hoje faremos a cerimônia no padre. Assim como da primeira, não


terá nada exagerado. Henrique morreu há pouco mais de duas semanas, e
Henry e seu pai foram jogar as cinzas no mesmo rio em que as da mãe deles
foram jogadas.

— Oi, meu amor. Nossa! Como você está lindo! — Falo pegando
Lucas no colo. Ele está vestindo um terno branco e cinza.
— Eu deixei ele lindo. — Mamãe fala beijando o pequeno.

Tem sido uma correria ultimamente. Minha irmã resolveu se mudar


para Barcelona, onde ela irá trabalhar e fazer faculdade, e eu achei o
máximo, pois ela tem que conhecer novos lugares. Emilly já é bem
grandinha e tem que deixar de depender dos pais.
— Você está linda. — Papai fala entrando no quarto.

— Obrigada, pai. Nunca falei isso para o senhor, pelo menos não
que eu me lembre, mas eu amo vocês dois e sempre tive orgulho de vocês.
Até mesmo na escola, quando me perguntavam “onde está o seu pai?”, eu
falava de boca cheia que estava trabalhando para dar conforto a nós. Apesar
das nossas desavenças, o senhor e a mamãe são meu ponto de apoio. — Ele
vem bem abraçar.
— Me desculpe, filha, por todas as coisas horríveis que falei para
você. Eu tenho orgulho da mulher que você se tornou, da mãe maravilhosa
que você é. Eu amo você e seus irmãos. — Percebo sua voz embargada pelo
choro.

— Isabelly, você aceita Henry como seu legítimo esposo?


— Sim!

— Henry, você aceita Isabelly como sua legítima esposa?


— Tá brincando? Eu estou esperando essa mulher casar comigo há
quatro anos! É claro que eu aceito. — Henry fala, fazendo todos sorrirem.

— Eu declaro vocês marido e mulher. — Em um movimento rápido,


Henry inclina meu corpo e me beija. Igual numa cena de filme, as pessoas
aplaudem enquanto ele ainda me beija.
— Eu amo você, Isabelly Blanc. — Ele fala olhando nos meus
olhos.

— Eu amo você, Henry Benet. — Falo.


Fizemos apenas um jantar para a família e os amigos. Está tudo bem
simples, nós já tínhamos planejado o casamento na igreja, que era uma
vontade nossa, e deu certo.

Todos já tinham ido embora. Arrumo o leite do Lucas e pego ele no


colo. Lucas tem uma babá, mas eu não abro mão desses momentos com ele.
Eu quero aproveitar cada segundo do meu filho, quero ter um vínculo com
ele, então eu faço essas pequenas coisas, dar de mamá para ele, pôr ele para
dormir. Os banhos que sempre são muito animados. Lucas já está sentando,
então deixo ele sentadinho na banheira para ele brincar com a água, e sempre
nós dois tomamos banho.
— Você fica ainda mais linda cuidando dele. — Henry fala
encostando no batente da porta.

Henry está tirando a gravata do pescoço, e sua camisa está


entreaberta, o que o deixa ainda mais sexy. Lucas dorme, e vou colocar ele
no berço, dou um beijo de leve em sua cabeça e arrumo seu cobertor. Claro
que ele, assim como a maioria das crianças, não fica coberto, mas deixo ele
sempre bem empacotado.
— Está cansada? — Henry pergunta, pondo a mão na minha nuca.

— Nada que você não resolva. — Deixo apenas a luz do abajur


acesa, a babá eletrônica ligada, e fecho a porta.
— Então venha, que vou resolver.
Entramos no quarto. Henry já tinha colocado a banheira para encher
e então começa a desabotoar meu vestido. A sandália eu tirei há horas, assim
que todos começaram a ir embora, pois já não estava mais aguentando.

Henry passa os dedos lentamente onde meu corpo já está despido,


sua mão está bem aquecida, e sinto meu corpo arrepiar ao seu toque. Viro de
frente para ele.
Não falamos nada, apenas ficamos olhando um no olho do outro.

Henry começa a me acariciar, e fecho os olhos para apreciar seu


toque. Henry toma meus lábios em um beijo calmo, e aproveito cada
milésimo daqueles lábios.
— A banheira já está pronta. — Ele fala parando o beijo

Henry pega minha mão e me leva até a jacuzzi. Ele tira meu sutiã de
renda e depois minha calcinha, sorrio quando ele dá um beijo na minha
nádega direita.
— Gostosa. — Henry fala no meu ouvido.

Henry tira a roupa e entra na jacuzzi, estendendo a mão para que eu


entre também. Ele senta em um canto e me puxa, me fazendo ficar de costas
para ele. Henry introduz um dos dedos em mim, suspiro e deito minha
cabeça em seu ombro.
A nossa lua de mel não poderia ter sido melhor. Com o Henry
sempre tenho sensações diferentes, pois ele me leva ao prazer extremo. Ele
nunca repete a mesma coisa, sempre faz algo, por menor que seja, para me
dar diferentes sensações de prazer. Não tem como não querer fazer sexo com
ele todas as noites ou em horários vagos.

Alguns dias depois


Hoje vou voltar a trabalhar. Lucas já está bem mais esperto e
amanhã ele completa sete meses, já estamos começando a introdução
alimentar, e me sinto mais segura de poder deixar ele em casa. A Fran está
ficando mais com ele também, ela ajudou na criação do Henry e sabe bem
cuidar de criança.
— Nervosa para o primeiro dia? — Henry pergunta segurando
minha mão.

— Estou bem e com saudade das minhas colegas. — Falo olhando


para ele.
Estamos no carro, e Henry está dirigindo. O Samuel, nosso
motorista, está de folga, então ele está dirigindo.

— Nós poderíamos ir jantar à noite, eu, você e o Lucas. — Henry


sugere.
— Ótima ideia, faz alguns dias que não fazemos isso.

Chegamos na empresa, e falo com alguns conhecidos, que ficam


felizes em me ver novamente.
— Que saudade que estava de você. — Alice fala me abraçando.

— Eu também estava com saudade de vocês todos. — Eu e Henry


entramos no elevador.
— Eu vou com vocês. — Alice fala.

Até acho estranho, porque esse elevador vai direto para a


presidência, e ela trabalha em outro departamento.
Ficamos conversando assuntos aleatórios até chegar no nosso andar.
Assim que as portas do elevador se abrem, tomo um susto.

— SURPRESA! — Todos gritam. Até Alice, que está do meu lado,


grita, me fazendo tomar um susto.
— Bem-vinda de volta! — Todos falam em uníssono.

A recepção de boas vindas foi maravilhosa. Estavam todos os meus


colegas, e eu fiquei feliz, principalmente por me sentir tão especial assim.
Capítulo 63
Seis meses depois

Lucas já fez um ano. Nesse meio tempo eu engravidei do Henry,


porém a gravidez não foi adiante. Eu sofri um assalto, e isso pode ter me
feito perder o bebê, então Henry colocou um segurança vinte e quatro horas
comigo. Há um mês atrás meu pai pediu que eu fosse contadora dele
também, então estou me revezando nas empresas. Emily se mudou para cá
há alguns meses e me ajuda nas duas empresas. Ela tomará conta da empresa
do papai daqui algum tempo. Eu e o Henry estamos cada dia melhor, mesmo
depois de perder o bebê, ele ainda fala que nosso amor por enquanto será
apenas para o Lucas. Ele não me cobra um filho de sangue dele porque,
como diz ele, Lucas é seu filho e sobrinho, mas claro que eu sei que ele quer
mais um bebê.
— Oi, irmã. — Emilly fala entrando na sala.

— Oi e tchau. Tenho outros assuntos para resolver, então hoje ficará


por sua conta. — Falo deixando ela na empresa. Hoje estávamos na do
Henry, e amanhã iremos para a do meu pai.
— Até mais. — Ouço ela falar antes de fechar a porta.

— Estou saindo. — Falo entrando na sala do Henry.


— Tudo bem, meu amor. Só posso sair mais tarde, pois tenho uma
videoconferência. — Ele fala, vindo até onde estou.

— Te espero em casa então. Eu amo você. — Falo dando um beijo


em seus lábios.

— Não mais do que eu. — Henry segura minha cintura e cola


nossos corpos. — E os planos para o jantar?

— Pode deixar que vou providenciar. — Falo e dou mais um beijo


em seus lábios.

— Agora me deixe ir, tenho umas coisas para arrumar. — Saio de


sua sala, depois de muito argumentar que ali não é hora e nem lugar para nós
dois namorarmos, principalmente com a louca da minha irmã por perto.

Henry

Já passa das seis da tarde quando consigo terminar minha reunião.


Um sheik árabe quer comprar uma parte da empresa, mas eu não estou
pensando em negociar. Ele disse que ouviu falar que íamos vender e quer
comprar, mas essa parte é justamente a do Henrique, e eu não posso vender
ela. Vou conversar com meu advogado para passar pro nome do Lucas, pois
mesmo que a gente dê tudo que ele precisa, Lucas precisa ter seus próprios
investimentos quando estiver maior, então a parte que foi do meu irmão
passará a ser do meu filho.

Minha equipe já foi embora, só restava eu na empresa. Chego em


casa já passando das seis e meia.
— Amor, cheguei. — Falo tirando meu paletó.

Lucas vem trocando alguns passos até onde estou, e vejo Isa mais
atrás. Mas espera, ele ainda não estava andando!
— Filho, você está andando! — Me agacho para ele vir onde estou,
o que demora um pouco, e ele cai sentado, depois levanta e continua vindo
até onde estou. Antes que ele chegue em mim, olho para sua roupa com os
seguintes dizeres.

“Fui promovido a irmão mais velho”


Olho para Isa, que está com um sorriso no rosto. Lucas chega até
mim, pego ele no colo e olho para Isa novamente.

— É sério? Você está… ? — Não consigo formular as palavras.


— Oito semanas. Já tem duas semanas a mais. — Ela fala secando
uma lágrima.

Me aproximo da minha esposa e dou um beijo nela, trazendo-a para


perto de mim em um abraço. Quando Isa perdeu nosso bebê ela estava de
seis semanas.
— Vai dar tudo certo, meu amor. — Dou um beijo no topo de sua
cabeça.

Isa fez o jantar, que estava uma delícia. Ela fez tudo com tanto
carinho, para nós comemorarmos mais um bebê que vem daqui há um
tempo. Ela me falou que quando saiu hoje da empresa passou no laboratório
para fazer o exame e depois foi fazer ultrassom para saber como está o bebê.

— Ele dormiu. — Isa fala segurando ele no colo.


— Eu vou levar ele. — Pego Lucas do colo e vou levá-lo para o
berço. Fico alguns minutos olhando meu pequeno dormir.

Ligo a babá eletrônica, deixo apenas a luz do abajur ligada e fecho a


porta. Desço as escadas e vejo Isa deitada no sofá. Ela está passando a mão
na barriga. Ligo o som baixinho, e está tocando uma música da Whitney
Houston. Ela olha para mim e sorri, passe o tempo que passar, eu sempre
vou ser louco por ela, por esse sorriso quando me vê, ou quando faço algo
bobo, apenas para vê-la.
— Dança comigo? — Pergunto estendendo a mão para ela, ela
segura minha mão e a ajudo a levantar.

Começamos a dançar, e Isa deita sua cabeça em meu ombro.


— Obrigada por não ter desistido de nós. — Ela fala e olha para
mim.

— Eu nunca desistiria do amor da minha vida.


Ficamos ali na sala da nossa casa dançando, e, aos poucos, eu me
lembrava da nossa trajetória até aqui.
Epílogo

Minha bolsa estourou há meia hora, e Henry não sabe o que fazer.
Nem parece o cara que fez meu parto do Lucas.

— Amor, fica calmo. — Eu estou sentindo dor, mas não tanto


quanto senti do Lucas.

— Eu estou calmo, muito calmo. Na verdade, calmo até demais. —


Ele fala, andando de um lado para o outro enquanto pega as bolsas da Eliza.

Escolhemos o nome juntos, é uma forma de homenagem a sua mãe.

Mamãe ficou com o Lucas para nós irmos ao hospital. Henry,


mesmo estando tão agitado, não avançou os sinais, pois queria chegar lá em
total segurança. Eu estava fazendo o que a médica ensinou: quando eu
sentisse as primeiras contrações, devia respirar pelo nariz e soltar pela boca.
— Chegamos. — Henry fala parando o carro.

Ele vai até um dos enfermeiros, e logo aparecem os dois. A esse


ponto eu já tinha descido do carro, Henry me olha sério.
— Henry, eu vou parir e não estou morta. — Ele vem até mim e
segura meu braço enquanto seguimos para dentro. Henry cuida da parte
burocrática e vai fazer minha ficha. Como não ganhei o Lucas no hospital,
então não tinha ficha cadastral.

Entrei em trabalho de parto logo em seguida, e Henry dessa vez


estava segurando minha mão
— Muito bem, Isa, só mais essa vez, ela já está vindo. — Julia fala
olhando para mim. Eu exigi que ela cuidasse do meu parto, então ela veio,
mesmo não sendo especialista nessa parte.
— Só mais uma vez, amor, nossa menina está vindo. — Henry fala
beijando minha testa, que está bem suada.

Quando sinto a contração vindo, empurro com mais força. O choro


da Eliza toma conta da sala, e eu sorrio e choro ao mesmo tempo.

— Você conseguiu, amor. — Henry fica todo bobo ao ver a filha, e


a pediatra me entrega ela.

— Você é muito linda. — Falo olhando ela.

— Minhas meninas. — Henry passa o polegar no rosto da pequena,


que tenta abrir os olhos.

Limparam ela, pesaram e mediram, depois colocaram ela no berço


ao meu lado.
Henry fez uma chamada de vídeo para minha mãe e mostrou a
Eliza. Depois falei um pouco com ela, mas estava muito cansada, então não
quis conversar muito, mesmo com toda a euforia.

Henry

Isa pega no sono, e eu fico olhando as duas dormirem. Ela já tinha


dado de mamar para a pequena, e agora estão as duas dormindo.

Alguns anos depois


Lucas já está com nove anos, e a Eliza já está perto dos oito. O da
Mia já tem oito também. Nossa família, por menor que tenha ficado, deu
um aumento bom. Não convivemos com nosso meio irmão e nem com o
filho do Henrique. Eles fazem parte da família, mas não tivemos convívio e,
além do mais, as mães deles não se interessaram muito por nós.
Isa abriu uma editora de moda, e agora ela toma conta do seu
próprio negócio. Sua irmã passou a tomar conta da empresa do pai, e a mãe
da Isa ficou sendo minha contadora. Ela se casou com o David, que agora
trabalha com a Isa. A Emily está noiva de um advogado e pretendem se
casar ano que vem.

Isa está grávida novamente, já está entrando no último mês de


gestação, e vem mais uma menina, Melissa, dessa vez foi o Lucas que
escolheu o nome. Por falar nele, o ciúme que ele tem da irmã é bem
engraçado. Fizemos uma festa de aniversário da Eliza, e ela chamou os
amigos da escola, quando um de seus amigos foi lhe dar um abraço ele veio
me falar, perguntando o que faríamos com o menino, achei engraçado a
forma que ele cuida dela e da irmã que ainda nem chegou. Ele disse que não
vai deixar nenhuma das duas namorar, e que elas irão para um convento,
onde nunca irão conhecer nenhum menino. Claro que eu e Isa conversamos
com ele sobre isso.

Nossa vida está cada vez melhor. Meu pai resolveu viajar pelo
mundo; ele até cogitou a ideia de ir para uma casa de idosos, mas nós não
deixamos. Ele disse que seria bom para conhecer novas pessoas, então eu e
Isa sugerimos dele viajar, e assim ele fez. Às vezes ele vai visitar a Mia, às
vezes vai em Nova York, onde foram jogadas as cinzas do Henrique e da
mamãe.
Lucas sabe sobre seu pai biológico. Ele nunca questionou sobre
isso, mas nós falamos tudo para ele, que apenas perguntou como ele era,
então contamos a melhor versão.

— Ela está bem agitada hoje. — Isa fala entrando no quarto.

— Deita aqui perto de mim, vou conversar com ela. — Falo


batendo na cama, onde estou sentado.

Começo a passar a mão em sua barriga e conversar com a Melissa,


e logo seus movimentos diminuem.

Não tenho do que reclamar. Nossas vidas tiveram muitos altos e


baixos, mas não desistimos do que nós dois sentimos um pelo outro.
Mesmo depois de uma gravidez inesperada, eu não desisti do que sentia por
ela e fui atrás do amor da minha vida. E valeu cada esforço.

FIM.
Agradecimentos
Hoje, um dos meus sonhos está se tornando realidade: meu primeiro
livro está sendo publicado! Eu e toda a equipe envolvida nesse projeto
maravilhoso nos dedicamos intensamente para alcançar este momento.
Gostaria de expressar minha gratidão à minha família e amigos, que me
incentivaram incansavelmente a tornar esse sonho realidade.

Quero agradecer especialmente a uma pessoa que se tornou uma


amiga muito especial, mesmo sem nos conhecermos pessoalmente: Samanta
Marinho. Sua amizade tem sido um apoio inestimável. Também não posso
deixar de agradecer às incríveis meninas que participaram de toda a
organização desse projeto, Joyce e Letícia. Vocês fizeram parte da
transformação desse sonho em realidade.

Este livro foi escrito com imenso carinho e esforço, com o objetivo de
alcançar o coração de cada um de vocês. Agradeço a todos que reservaram
um tempo para conhecer essa história.
Sobre a autora
Renata Gonzaga estava pronta para compartilhar com o mundo sua
inspiração e o que a impulsionava diariamente a escrever histórias de
romance. Aquela seria uma jornada emocionante, capaz de despertar os
corações dos leitores.

Desde sua infância, Renata sempre nutriu o desejo de ser reconhecida


e admirada pelas pessoas ao seu redor. Experimentou diferentes sonhos,
considerou ser cantora, mas logo percebeu que suas habilidades vocais não
estavam à altura. Também não se destacou no futebol ou na dança. Durante
um tempo, temeu as críticas que poderia receber. No entanto, aos seus 25
anos, encontrou sua verdadeira paixão: ser uma escritora de romances.

Tudo começou quando Renata mergulhou na leitura de livros de


outras autoras no Wattpad. Cada história a fascinava, despertando em sua
mente a pergunta: por que não criar sua própria história? E assim fez.
Escrever tornou-se um combustível para sua inspiração, especialmente
quando recebia comentários positivos e construtivos, que alimentavam
ainda mais sua motivação.

Atualmente, Renata encontra inspiração em músicas e momentos


felizes, que lhe impulsionam a seguir fazendo o que ama. Afinal, a vida está
repleta de histórias incríveis esperando para serem contadas.

Com essa determinação e paixão em seu coração, Renata Gonzaga


estava pronta para escrever e compartilhar suas histórias de romance,
levando os leitores em uma jornada de emoções, paixões intensas e finais
felizes. Era hora de abrir as páginas de seus livros e deixar que sua
inspiração tomasse forma nas palavras, cativando a imaginação de todos
aqueles que embarcassem em suas histórias.
Onde me Encontrar
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FACEBOOK: @autorarenatagonzaga

ASSESSORIA: Fênix Assessoria Literária


@grupofenix.assessoria / fenixassessorialiteraria.com

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