de T o c q u e l
yies e
obras
dos anteriores
22
liberal
Locke, pelas distinguindo-se
além do contribuições,
(abordado, para
traz H a b e r m a s .
Outro
autor que
Hayek). contemporâneo
finalmente
o
Weber, e
Contratualistas
Estado n o s
do
1.0jusnaturalismo
eagênese
sociedade
civil no pensamento moderno
Estado e
de do " d i r e i t o natural"
concepções contratualistas
As teorias
original nas de transição Dara
ara o
seu lastro
n o processo
têm d e s e n v o l v i d a s
foram
jusnaturalismo, que
capitalismo. desenvolvimento
da ideia do direito
refere-se ao
jusnaturalismo
século XVIII. Essas teoriae
O termo
XVII e o fim do
início do século liberal, que afir
natural entre o individualista e
doutrinas políticas
de tendência
moldam as os direitos inatos dos
necessidade de o Estado respeitare legitimar
mam a
do poder estatal a
uma função derivada
reduz o exercício
individuos, que
o
concebida c o m a finalidade de
individuais. A ordem política é
dos direitos
coibir qualquer violação desses direitos.
encontrada particularmente
de "direito natural moderno" é
A ideia u m
contratualistas Hobbes, Locke e Rousseau, cujas reflexões apre-
nas obras dos
de u m princípio n o v o de legitimação
do
sentam, como tema central, a criação
moderno.
poder politico ou do Estado
é o consenso daqueles
Esse princípio de legitimação do poder político
seria expresso num pacto ou
sobre quem tal poder estatal é exercido, que
entre os homens, sobre a autoridade e normas
contrato social, estabelecido
de convivência social, aos quais passam a se submeter, renunciando à sua
liberdade individual e natural- daí o termo "contratualista" (ver Bobbio
e Bovero, 1994, p. 61). E é por meio desse pacto que se instituiria o Estado.
Isso significa explicar e justificar o fundamento do Estado partindo do
estudo da natureza humana, em contraposição às explicações magicase ic
ligiosas (próprias da ldade Média) sobre origem do homem, da sociedade
a
e da divisão social, das leis das e autoridades. Rompendo com as concepgoe
de homem tanto da
tradição judaico-cristã- que o concebia como criarurd
divina inserido em uma comunidade
que submete à vontade de Deus se
quantoda tradição aristotélica-que o concebia como animal político inseria
em uma
comunidade-,ohomem passa a ser considerado como ser tural,
nau
ESTADO, CLASSE EMOVIMENTO SOCIAL 23
racional e individualizado, que age movido por paixões e interesses. Essae
a grande contribuiço dos contratualistas para a teoria política do Estado.
1.10"Estado de Natureza" e o"Estado Civil" em Hobbes e Locke
Os modelos dos contratualistas Hobbes e Locke são constituídos comn
base em dois elementos que se contrapõeme sucedem: 0 estado (ou
estado (ou sociedade) civil. Note-se
sociedade)
de natureza e o
que aqui "sociedade civil"
não se contrapõe ao "Estado", nem remete a sua coexistência
(como nas abor-
dagens posteriores); mas significa a sucessão (um substituindo o
outro) de
dois momentos, dois estados; um natural, sem leise
autoridades, e o outro,
o estado ou sociedade civil ou
político, após um contrato social, em que se
estabelecem normas, leis e autoridades.
No "estado de natureza" os indivíduos vivem isolados e atuam
seguindo
suas paixões, instintos e interesses. Nele os indivíduos são livres e iguais,
sendo o local do exercício dos direitos individuais naturais. Já no "estado
civil" (ou "político"), os indivíduos estão unidos e vivem segundo os ditames
da razão a partir de normas e autoridades constituídas.
O contrato social-uma espécie de pacto entre os homens para estabelecer
tais normas e autoridades às quais se submeterão consensualmente-seria o
meio peloqual ocorreria a passagem de um estado para o outro. O Estado seria
o produto do contrato social, ou seja, da conjunção de vontades individuais.
Vejamos como a passagem de um estado natural ou pré-político para um
estado civil ou político é construída por Hobbes e por ILocke.
.Para Thomas Hobbes (Inglaterra, 1588-1679), emsua obra Leviathan
(1997, publicada originalmente em 1651), o "estado de natureza" é um estado
configurado pela existência de um desejo perpétuo de poder pelos homens. O
poder é definido pela capacidade individual de adquirir riqueza, reputação
e de comandar e dominar os outros. No estado de natureza, todo homem
ve os outros como concorrentes, pois todos são iguais na capacidade de
até causar um ao outro a morte, na defesa dos
alcançar seus fins, podendo
seus interesses. A dos bens pode fazer com que mais de unm homem
escassez
mesma coisa, pois não existem
critérios de distinção entre o
deseje possuir a
não há leis: "só a cada homem aquilo que ele
meue o teu, ou seja, pertence
e capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo" (Hobbes,
1997, p. 110).
MONTA DURIGUET
são igua
os sãoi
qual todos
24
poder,
numa situação na Imente
desejode
satisfaze
satistazer as
insuficientes
I n s u f i c i e n t e s
para necessi.
Assim, o b e n s são
bens sa0
Os
os
1al
qual de
de uerra, o
guerra,
g ouu seja,
e na
tado permanente
permanente
vulneráveis
estado
home
contra todos e o homem é um
um
e
dades de cada um,
guerra de todos obo
éo
stado de ver Bobbio, 1991,
1991
p. 35). essa
E
108-109;
de
natureza
Hobbes, 1997, p.
homem" faz com que os
ens (considerem
homens útil
para o permanente que da na
de guerra de segurança
Isca da
(a busca paz) e para
situação razões
de natureza por
sair do estado
conservaçäo d a vida.
preveem
as várias ações orientadas
ações orion.
as regras que
Mas é preciso que menos, pela maioria.
todos, ou peloimenos,
maioria
o b s e r v a d a s por
obter a paz sejam natureza o haver n
não. nenhun
e por
nara
o c o r r e no
estado de
não
Essa possibilidade observäncia, pois a única forma do
a essa
autoridade que obrigue
poder e de um poder comum. Hobhes
essas regras
seria pela instituição
fazer operar estabelecerem um contrato
de os homens
a necessidade
evidencia, assim,
de convívio social e de subordinação
política, pelo qual
entre si, que cria regras
soberan0: o Estado.
e direitos seriam transferidos a u m poder
seus poderes
a do estado de natureza para
Aconstituição do Estado marca passagem
Dessa forma, por
a constituiçãoda sociedade civil ou sociedade política.
outro", os homens transferem ao soberano
contrato firmado "entre um e
direito natural que cada um
(que pode ser um homem ou uma assembleia),
o
possui sobre todas as coisas. Esse acordo impõe aos indivíduos a obrigação
de obedecer a tudo aquilo que o poder soberano ordenar. O pacto de unio (o
contrato social) significa que todos se submeterão à autoridade constituída,
comprometendo-se a considerar bom e justo o que ordena o soberano, e mau
e injusto o que ele proibe. Dessa maneira é inconcebível qualquer recurso
contra a legitimidade das ordens do soberano (Hobbes, 1997, p. 123).
Esse pacto de união,
por outro lado, é concebido de modo a caracterizar
asoberania que dele deriva mediante
três atributos fundamentais: a irrevo
gabilidade; o caráter absoluto e a indivisibilidade do poder e da
consensuados mediante o contrato social autoridad
A soberania é
(Bobbio, 1991, p. 42).
e feito
irrevogável, seja, o pacto que institui o poder sODE
ou ano
por todos indivíduos, assim, a rescisão do
os
tação de todos, ou contrato requer acel a
seja, requer a unanimidade. A
soberano é absoluto afirmação de que o p der
exteriores. A significa que quem o detém pode exercê-lo sem tes
vontade única do
todos soberano vai substituir a vontade de 0s, .a
representando (ver Hobbes, 1997, tou
cap. XXVI).
ESTADO, CLASSE EMOVIMENTO SOCIAL
25
A finalidade da
constituição do Estado é a garantia da paz e da segurançaa
e de fazer boas leis,
revertendo o ambiente (natural) de
guerra de todos contra
todos. Se o Estado não se mostra
capaz de assegurar aos súditos a proteçao,
seja por inépcia ou por ele mesmo a ameaçar
por excesso de crueldade, o
pacto é violado e os súditos retomam sua liberdade
para se defender como
quiserem. Para Hobbes, "a obrigação dos súditos para com o soberano dura
enquanto dura o poder mediante o qual ele é capaz de
ibidem, p. 178). protegê-los" (idem,
Em Hobbes a
soberania é indivisível, assim, para ele, a melhor forma de
governo é a monarquia. Quando afirma que o poder soberano é
indivisível,
o que
rechaça é a teoria do governo misto, ou seja, a
entre órgãos diversos distribuição do poder
(rei, câmara dos lordes e câmara dos comuns) como
numa
"monarquia constitucional". Para Hobbes, o soberano é o único poder
(Legislativo e Executivo). Não há lei seno a sua ordem. Assim, suas formu-
lações constituem uma
fundamentação contratualista do absolutismo (ver
Bobbio e Bovero, 1994,p. 78).
John Locke (Inglaterra, 1632-1704), como Hobbes, também manifestou
preocupação com a forma queo poder político deveria assumir para garantir
a
segurança, a pazea liberdade da esfera privada. Na obra Segundo tratado
sobre o governo (1994,
publicado originalmente em 1690), Locke argumenta,
como Hobbes, que homens viviam em estado de natureza, um estado de
os
absoluta liberdade. Também, para ele, esse estado é
passível de conflitos
em razão da ausência de leis e de coerção,
porém (a diferença de Hobbes),
opossível conflito ameaça a paz natural. Também em contraposição àquele
pensador, Locke justifica a legitimidade da posse dos bens (a propriedade
privada), não sendo objeto de disputa pela força. Para ele, o fundamento
originário da propriedade é o trabalho. Os homens tornavam-se proprietá-
rios à medida que transformavam o "estado comum" da natureza através
de seu trabalho, visando a sua subsistência e satisfação. Assim, em Locke os
homens passam a se apropriar da natureza pelo trabalho, podendo acumular
bens à medida que trabalho conseguir produzir maior riqueza do que
seu
suas necessidades imediatas de consumo, tornando-se assim produtores
de valores de troca, o que leva à existência de homens ricos e pobres nesse
estado de natureza, justificados pela capacidade de trabalho de cada um
de criar valores. O desenvolvimento de relações mercantis (surgimento do
dinheiro), comércioe indústria levou à concentração da riqueza, tornando
ANO DURIGUETTO
pela prope
queconflitos,
seriam
motivados
ahuma opens« humana
latente a ameaça
"natural" para a
de
acumulação. O
temor da perda da liberdade e da
político p a r aa conservå-las
erdade propric
criem um poder
indivíduos
os
dade faz com que
(ver Macpherson, 1979).
civil ou b o l i :
Apassagem do estado de
natureza à sociedade
ar o
lítica, mediante
diro:"ediant
faz, assim, para
asse'gurare conservar
direito
o contrato social,
se
a garantia
da propriedade é a dade uralà
finalidado em funçãc naturalà
propriedade. Ou seja,
o Estado. Por poder político- diz L
homens instituem
da qual os
tratado"entendo o direito de fazer leis com e, no
no
inicio do Sigundo
com toda penalidade menor, Dara
penalidad
dade
de morte e, por conseguinte, de re-
e conservar a propriedade".
gulamentar
Diferentemente de Hobbes para quem a propriedade inexiste n o .
natural, sendo instituída, após o contrato social, pelo Estado na socia
civil. para Locke a propriedade já existe no estado natural e, sendo uma ine
tuição anterior à sociedade civil ou política, é um direito natural do indiuid..
a partir de seu trabalho. íduo,
Locke, também diferentemente de Hobbes, rejeitava a noção
de tum
Estado absoluto, sendo um defensor da divisão de
poderes. Defendia que a
autoridade deveria ser composta por um corpo
executivo (um monarca), para que
legislativo e pelo poder
leis visando ao direito de
respectivamente Criassem e executassem
propriedade e å segurança pessoal (ver Chevalier,
1976, p. 110). Porém, em Locke
predomina
a ideia da
legislativo, devendo sero poder executivo a ele superioridade do poder
atual subordinado, a exemplo da
monarquia constitucional (ou parlamentar) inglesa.
Também ao contrário de
Hobbes, em que o contrato é um
missão dos súditos ao
soberano, em Locke o
pacto de sub
mento dos contrato é um pacto de consenti-
indivíduos para proteção da
um poder político limitado, uma vez propriedade, é um pacto que institul
poder legislativo. Suas que o poder executivoé
proposições subordinado ao
revogação da autoridade. Ou o preveem, também, o direito de resistenciu, a
seja,
tambem
com osoberano.Quandocontrato é feito de cada
um com cada
un
ea propriedade e
utiliza a
o
governo atenta contra a
vida, noeru a
fim a que fora força sem amparo da da lei,ele
ele deixa de
destinado,
situação confere ao tornando-se ilegal e degenerando
ae cumprir
legenerando em emtirania. Essa
retomando sua povoolegítimo direito de rebelião a
soberania Contiando-a
1976,p. 112). Assim, e
confiando-a opressao
o poder político a
quem
quem hevalie
aprouver (ver Chevalie
aprouver
permanece nas mãos dos indivíduos,
ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL 27
uma vez que e transferido somente enquanto se cumprem seus interesses,
conforme as normas e as leis estabelecidas no contrato social.
As formulações de Locke constituíram as diretrizes fundamentais do
Estado liberal, inaugurando aquele que se firmaria como um dos princípios
e fundamentos centrais do liberalismo: "o Estado existe para proteger os
direitos e liberdades dos cidadãos que, em última instância, são os melhores
iuizes de seus próprios interesses"; e que deve "ter sua esfera de ação restrita
e sua prática limitada de modo a garantir o máximo de liberdade possível a
cada cidadão" (Held, 1987, p. 49).
Mas, fundamentalmente, o resultado de suas formulações consistiu na
afirmação0, em termos universais, de direitos e deveres que tinham um conte-
údo de classe e que, portanto, eram desiguais. Como assinalou
Macpherson
(1979, p. 258-262), trata-se da defesa de que o status de cidadão- em suma,
o estatuto da cidadania- depende da condição de ser proprietário de bens.
De um lado, todos os homens são membros da sociedade civil quando se
trata de serem governados; de outro, somente os detentores de propriedade
são dela integralmente membros quando se trata de governar. Ou seja, o
poder de governar está hipotecado aos que tem propriedade, pois somente
estes têm poder político. O Estado é fundado por eles para proteção de sua
propriedade e de si mesmos.
As formulações teóricas de Locke tiveram,nonível histórico, significati-
va influência no movimento de emancipação política da burguesia objetivado
nas revoluçöes liberais da época moderna. Foi na doutrina do direito natural
que se Declaração da Independência dos Estados Unidos (1776), na
inspirou a
qual se afirma que todos os homens são possuidores de direitos inalienáveis,
como o direito à vida, à liberdade e à
busca da felicidade; a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que constituiu uns dos primeiros
atos
como "direitos
da Revolução Francesa e no qual se proclamam igualmente
etc.
naturais" a liberdade, a igualdade, a propriedade
1.20 contrato social e a vontade geral em Rousseau
Rousseau (Suíça,
Entrepensadores políticos clássicos, Jean Jacques
os
formulações realiza-
um lugar à parte pelas significativas
1712-1778) ocupa