ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p.
40-55, 2017
A IMPORTÂNCIA DO ABATE HUMANITÁRIO E BEM-ESTAR
ANIMAL NA CADEIA DE PRODUÇÃO DA CARNE BOVINA
[The importance of humanitarian slaughter and animal welfare in the bovine meat
production chain]
Guilherme Arruda GONÇALVES1
Bruna Maria SALOTTI-SOUZA2
RESUMO
O Brasil é o segundo produtor mundial de carne bovina com 211,764 milhões de cabeças
em 2013 e a exportação de 1.565.308 toneladas em 2014. O abate humanitário é o conjunto
de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem estar dos animais desde o
embarque na propriedade rural até a operação de sangria no matadouro-frigorífico. O abate
humanitário e o bem estar animal têm relação direta com a lucratividade pois, se não forem
obedecidos tais requisitos, a carne não é considerada de qualidade não havendo mercado
entre os consumidores, gerando um marketing negativo que produz uma rejeição do
produto. Este estudo teve por objetivo analisar a importância do abate humanitário e bem
estar animal na cadeia de produção da carne bovina.
Palavras-chave: qualidade; carne; insensibilização.
ABSTRACT
Brazil is the world's second largest beef of producer with 211.764 million heads in 2013 and
the export of 1,565,308 tons in 2014. The humane slaughter is the set of technical and
scientific procedures that ensure animal welfare from loading at the rural property until the
bleeding operation the slaughter plant. The humane slaughter and animal welfare is directly
related to profitability because if not complied with such requirements meat is not considered
quality there is no market among consumers generating a negative marketing that produces
a rejection of the product. This study aimed to analyze the importance of humane slaughter
and animal welfare in the production beef of chain.
Keywords: Quality; Beef, Stunning.
1
Médico Veterinário Autônomo
2
Docente do curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário do Norte Paulista – UNORP *Autor
para correspondência. [email protected]
40
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
internacionais e exigências mínimas pode
INTRODUÇÃO
perder espaço no mercado (CHIAPPINI,
O sistema intensivo de produção de 2014).
animais teve início após a Segunda
Este estudo tem por objetivo discutir,
Guerra Mundial, devido a grande
mediante a apresentação de algumas
escassez de alimentos na Europa e o
referências, a importância do abate
modelo de produção industrial em larga
humanitário e bem-estar animal na cadeia
escala e em série, atingiu todos os
de produção da carne bovina.
setores, inclusive o pecuário (LUDTKE et
al., 2012). Houve um aumento no número
de abatedouros de animais para o
consumo humano.
DESENVOLVIMENTO
Atualmente o Brasil apresenta aptidão,
alta performance e grande potencial Carne bovina no Brasil
pecuário, se destacando, tanto no cenário
nacional com o internacional, na produção
de carne bovina, ocupando o segundo O setor pecuário brasileiro é bastante
lugar mundial com um efetivo de 211,764 privilegiado, pois detém largas extensões
milhões de cabeças de bovinos em 2013. de terras onde se pode manter o gado a
O país ocupa também a segunda posição pasto, o clima favorável e um custo de
mundial na produção de carne bovina, produção baixo, tornando o preço da
sendo os Estados Unidos o maior produtor carne bovina brasileira atraente no
(INSTITUTO BRASILEIRO DE mercado internacional, elevando a
GEOGRÁFIA E ESTATISTICA, 2013). vantagens competitivas do país
(CALEMAN; CUNHA, 2011).
No agronegócio brasileiro, a exportação
de carne bovina é uma atividade bastante Tais condições foram decisivas para o
expressiva. De janeiro a dezembro de desenvolvimento dos sistemas
2014 foram exportadas 1.565.308 agroindustrial da carne bovina brasileira,
toneladas com uma receita de US$ principalmente nas últimas décadas
7.242.131 (ABIEC, 2014). elevando o país ao patamar de maior
exportador de carne, dando um salto nas
Os números demonstram a dimensão do exportações de carne brasileira
potencial de mercado brasileiro que (CALEMAN; CUNHA, 2011).
mantém-se competitivo e para ampliar as
exportações de carne necessita seguir as Existem vários fatores para tal
exigências dos consumidores cada vez desempenho das exportações de carne
mais atentos à qualidade e à origem do bovina nos últimos anos, sendo que os
produto. Dentre as exigências, o abate principais fatores são mudanças no setor
humanitário e o bem estar animal são um produtivo, incidência de encefalopatia
dos pontos observados, pois impactam na espongiforme bovina, redução do rebanho
qualidade final do produto exportado. norte-americano, alto custo de produção
de carne bovina na Europa, a seca
Para o Brasil continuar a exportar, se australiana em 2008 (CALEMAN; CUNHA,
mantendo competitivo no mercado, deve 2011).
se adequar às normas exigidas pelos
mercados exportadores que são rigorosos A abertura de capital e abertura do
quanto à qualidade do abate da carne. Se mercado brasileiro, internacionalização e
o país não se adequar às leis diversificação das atividades brasileiras,
41
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
postura empresarial da pecuária nacional, Para se adequar as exigências do
preço competitivo e atraente da carne mercado internacional o Brasil, além de
brasileira no mercado internacional e adotar todas as legislações e preceitos
modernização das unidades industriais internacionais como base, também
para abate e adoção de legislações e, atualizou suas legislações para atender
padrões internacionais de higiene, toda a cadeia de produtiva de carne
sanidade e principalmente de abate (LUDTKE et al., 2012; CHIAPPINI, 2014).
humanitário e bem estar animal
Surge então uma indústria de carne
(CALEMAN; CUNHA, 2011).
especializada e moderna com grandes
Dentre todos os fatores, a adoção de frigoríficos exportadores que respondem
legislações e padrões internacionais de ao Serviço de Inspeção Federal (SIF), e
higiene, sanidade e principalmente de são habilitadas pela Lista Geral 9, que
abate humanitário e bem estar animal, corresponde os países importadores de
modernização do setor das unidades carne brasileira a União Européia (Lista
industriais para abate foram os que mais Geral mais países da UE) e Estados
possibilitaram ao Brasil alcançar o nível de Unidos. A habilitação para atender a
excelência nas exportações de carne esses mercados consumidores implica em
(ROÇA, 2011). maiores exigências por parte das vistorias
realizadas pelos órgãos de inspeção dos
países em questão (CALEMAN; CUNHA,
A evolução da indústria da carne no 2011).
Brasil
Entre os principais frigoríficos
Durante a década de 70 alguns fatores exportadores, com valores exportados em
como a expansão da urbanização, faixa superior a US$ 50 milhões
saneamento básico, infraestrutura de destacam-se: JBS S.A (JBS-Friboi), Bertin
transporte e estruturação sanitária do país S.A, Marfrig Indústria e Comércio de
surgir legislações especificas que Alimentos S.A, Minerva S.A, Frigorífico
possibilitaram a criação de um grande Mercosul S/A, Independência S.A, Quatro
número de matadouros-frigoríficos, Marcos Ltda, Frigorífico Mataboi S.A,
permitindo ao Brasil o crescimento das Frigorífico Margem Ltda e Frigol
exportações de carne bovina nas décadas Comercial Ltda. Apenas 18 frigoríficos
de 70, 80 e 90 (FELÍCIO, 2013). respondem por 98% das exportações
A lei 5.760/71 delegou a União à brasileiras, sendo que os cinco maiores
responsabilidade da fiscalização industrial controlam 65% do mercado exportador
e sanitária e da produção e comércio, (CALEMAN; CUNHA, 2011).
municipal ou intermunicipal, de produtos
de origem animal, o que levou ao
Abate humanitário
fechamento de inúmeros matadouros que
não dispunham de um mínimo de As primeiras preocupações com o bem-
condições higiênicas para proceder ao estar animal no manejo pré-abate iniciou-
abate de animais para consumo (BRASIL, se na Europa no século XVI. De acordo
1971). Foi o período em que o país com Ludtke et al., (2012), há relatos de
ganhou projeção internacional e a fama de que os animais deveriam ser alimentados,
possuir alguns dos mais modernos hidratados e estar em descansados antes
matadouros-frigoríficos do mundo do abate e que deveriam receber um
(FELÍCIO, 2013). golpe na cabeça que os deixaria
42
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
inconscientes, antes que fosse efetuada a matadouros e abatedouros, muitos deles
sangria, evitando sofrimento. Entretanto, a clandestinos, sem qualquer fiscalização e
primeira lei geral sobre bem-estar animal em péssimas condições de higiene
surgiu no ano de 1822, na Grã Bretanha. sanitária.
Os primeiros princípios sobre bem-estar A regulamentação do transporte de
em animais de produção começaram a ser bovinos em território nacional apenas com
estudados em 1965 por pesquisadores e documentação da Inspeção Federal
profissionais da agricultura e pecuária do ocorreu por meio da Lei nº 1283 de 1951,
Reino Unido, denominado Comitê que deu início a um rígido controle
Brambell. Esse Comitê foi uma resposta à sanitário (FELÍCIO, 2013). Este foi
pressão da população, indignada com os afirmado por intermédio da aprovação do
maus tratos dados aos animais em Regulamento de Inspeção Industrial e
sistemas de confinamento, denunciados Sanitária dos Produtos de Origem Animal
no livro “Animal Machines” (Animais e (RIISPOA), Decreto nº 30.691, de 29 de
Máquinas), publicado pela jornalista março de 1952.
inglesa Ruth Harrison em 1964 (LUDTKE
O abate de animais era considerado uma
et al., 2012).
operação tecnológica de baixo nível
Também com a necessidade de científico. Somente assumiu importância
harmonizar as normas internacionais de científica quando se observou que os
alimentos que englobassem o bem-estar eventos que envolvem todo o processo de
animal, a qualidade dos produtos cárneos abate do animal tinham grande influência
e a higiene durante todo o processo de na qualidade da carne (ROÇA, 2001).
produção da carne, iniciou-se a produção
Atualmente o abate humanitário pode ser
de documentos por diferentes entidades: a
definido como o conjunto de
ONU representada pela FAO que
procedimentos técnicos e científicos que
implementou o CODEX; os EUA que
garantem o bem estar dos animais desde
utilizava Análise de Perigos e Pontos
o embarque na propriedade rural até a
Críticos de Controle, a Organização
operação de sangria no matadouro-
Mundial do Comércio (OMC) também
frigorífico (ROÇA, 2001).
adotou o Acordo Sanitário e Fitossanitário
com sigla inglesas (SPS) (FAO, 1997; Para nortear o abate humanitário o
BROWN, 2000). Estas legislações foram Ministério da Agricultura aprovou em 2000
as primeiras que evoluíram dando origem a Instrução Normativa 3, com protocolos
às modernas normas que embasa os para garantir o abate humanitário e o
preceitos internacionais sobre higiene, bem-estar dos animais (BRASIL, 2000).
qualidade, e bem estar animal. As principais legislações sobre o bem-
O país evoluiu, e no início do século XX, estar dos animais de produção em vigor
surge a primeira legislação brasileira com no país são: Instrução Normativa Nº 3, de
medidas de proteção aos animais, o 17 de janeiro de 2000, que é um
Decreto Lei nº 24.645 de julho de 1934 Regulamento Técnico de Métodos de
que tratava do transporte de animais, Insensibilização para o Abate Humanitário
acomodações e higiene dos locais de de Animais de Açougue; Ofício Circular N°
comercialização dos animais (BRASIL, 550 de 24 de agosto de 2011 e 562 de 29
1934). Contudo, o decreto não tratava de agosto de 2011, que estabelece
especificamente do abate de animais para adaptações da Circular N° 176/2005, na
consumo humano, o país tinha qual se atribui responsabilidade aos
43
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
fiscais federais para a verificação no local Portanto, o abate humanitário e o bem
e documentar do bem-estar animal por estar animal são fatores preditivos de
meio de planilhas oficiais padronizadas, elevada qualidade e alto valor do produto
Normativa N° 56, de 06 de novembro de final para o mercado importador do
2008, que estabelece os procedimentos produto brasileiro, influenciando
gerais de Recomendações de Boas diretamente nos lucros da cadeia de
Práticas de Bem-estar para Animais de produção da carne bovina (GOLDONI,
Produção e de Interesse Econômico – 2011; ROÇA, 2001).
REBEM, que abrange os sistemas de
produção e o transporte; a Instrução
Normativa Nº 46, de 6 de outubro de Recomendações quanto ao abate
2011, que contempla os requisitos de humanitário
bem-estar animal dentro das normas As recomendações abordam que os
técnicas para instalações, manejo, animais de produção não sofram durante
nutrição, aspectos sanitários e ambiente o período de pré-abate e abate,
de criação nos sistemas orgânicos de envolvendo os seguintes pontos (LUDTKE
produção animal (LUDTKE et al., 2012). et al., 2012; CHIAPPINI, 2014):
Em 2011 foi publicada a Portaria N° 524 Os animais devem ser
que instituí a Comissão Técnica transportados apenas se estiverem
Permanente de bem-estar animal em boas condições físicas;
(CTBEA) do Ministério da Agricultura, Os manejadores devem
Pecuária e Abastecimento para ações compreender o comportamento
específicas sobre bem-estar animal nas dos animais;
diferentes cadeias pecuárias com o
Animais machucados ou sem
objetivo de fomentar o procedimento no
condições de moverem-se devem
Brasil, buscando estabelecer normas e
ser abatidos de forma humanitária
legislações de acordo com as demandas.
imediatamente;
As diretrizes brasileiras de bem-estar
Os animais não devem ser
animal são elaboradas com base nas
forçados a andar além da sua
recomendações da Organização Mundial
capacidade natural, procurando-se
de Saúde Animal (OIE) (LUDTKE et al.,
evitar quedas e escorregões;
2012).
Não é permitido o uso de objetos
Segundo Neves (2008), a produção e que possam causar dor ou injúrias
abate de animais no Brasil têm sido aos animais;
influenciados pela opinião dos O uso de bastões elétricos só deve
consumidores europeus e ser permitido em casos extremos e
consequentemente pelas legislações da quando o animal tiver clareza do
União Europeia, uma vez que há interesse caminho a seguir;
na exportação de carnes para esses Animais conscientes não podem
países. Para tanto, é necessário adequar ser arrastados ou forçados a
as práticas de manejo dos animais com moverem-se caso não estejam em
relação às exigências desses países, de boas condições físicas;
forma a mantê-los ou mesmo ampliar o No transporte, os veículos deverão
mercado de exportação de carnes estar em bom estado de
brasileiras. conservação e com adequação da
densidade;
44
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
A contenção dos animais não deve registrando os respectivos
provocar pressão e barulhos treinamentos de reciclagem;
excessivos; Manutenção dos equipamentos e
O ambiente da área de descanso registros contínuos de
deve ser iluminado e apresentar monitoramento.
piso bem drenado, respeitando o
comportamento natural dos Atualmente todos os países exportadores
animais; dentre eles o Brasil têm adotado o
No momento da espera no conceito “Cinco Liberdades desenvolvido
frigorífico, deve-se supri-los com pelo Comitê Brambell que avalia o bem-
suas necessidades básicas como estar dos animais e que fora aprimorado
fornecimento de água, espaço, pelo Farm Animal Welfare Council –
condições favoráveis de conforto FAWC (Conselho de Bem-estar em
térmico; Animais de Produção) do Reino Unido
O abate deverá ser realizado de (LUDTKE et al., 2012; CHIAPPINI, 2014).
forma humanitária, com São eles:
equipamentos adequados para
cada espécie; Livre de sede, fome e má nutrição;
Equipamento de emergência deve Livre de desconforto;
estar disponível, em caso de falha Livre de dor, injúria e doença;
do primeiro método de Livre para expressar seu
insensibilização. comportamento normal;
Livre de medo e estresse.
Além das diretrizes nacionais, há as
exigências internacionais como o Todas essas legislações e requisitos
regulamento EC 1099/2009 que sobre bem-estar animal são para atender
estabelece regras mínimas para a a crescente preocupação dos
proteção dos animais durante o abate na consumidores com a forma como os
União Europeia (UE), medida ampliada animais são criados, transportados e
aos seus países fornecedores de carne. abatidos. Isto vem pressionando a
Dentre os requisitos dessa diretiva indústria, obrigando-a a tratar com
destacam-se (LUDTKE et al., 2012): cuidado, respeitando a capacidade de
sentir dos animais (consciência) e, com
Obrigatoriedade de todo o
isso, melhorando não só a qualidade
estabelecimento de abate ter o
intrínseca dos produtos de origem animal,
responsável pelo bem-estar dos
mas também a qualidade ética (LUDTKE
animais.
et al., 2012).
Esse profissional, além de
fiscalizar, deve possuir autoridade
direta, a fim de identificar as Etapas importantes no bem estar animal
prioridades na rotina e determinar
No Brasil a idade média para o abate dos
ações que supram as
bovinos é de 2 ½ a 4 anos de idade,
necessidades de bem-estar
porém os estabelecimentos que visam
animal;
exportar para a União Europeia devem
Qualificar a mão de obra com
atender a cota Hilton no qual são
treinamentos em bem-estar animal,
obrigados a abater animais mais jovens
entre 24 a 30 meses. Esses animais
45
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
apresentam um rendimento médio de 250- animais à nova situação, já em percursos
270 Kg (16-17 arrobas) por cabeça com mais de 12 horas, deve haver
(PRATA; FUKUDA, 2001). descanso para os animais (VIDAL, 2010).
De acordo com os preceitos de bem-estar
animal, o transporte por tempo superior a
O pré-abate 15 horas é inaceitável (ROÇA, 2001). Em
O pré-abate compreende as principais percursos acima de 36 horas os animais
etapas, como o embarque de animais, devem ser alimentados para recuperação
transporte, recepção, descanso, jejum fisiológica, evitar a pernoite dos animais
alimentar. O manejo pré-abate acontece embarcados em decúbito o que se
24 horas antes do transporte dos animais, configura maus tratos (PRATA; FUKUDA,
na fazenda onde estes devem ficar 2001).
supridos somente com água (DUARTE; No Brasil não existem legislações que
BIAZOLLI; HONORATO, 2014). estabelecem tempo máximo para o
O transporte do animal no Brasil ocorre na transporte de animais destinados ao abate
maioria das vezes por via terrestre, para e nem a obrigatoriedade de paradas para
evitar a superlotação e o estresse do fornecimento de alimentos ou água
animal deve-se transportar em média 21 a durante o percurso. Na União Européia a
22 animais por veículo, o piso da duração de viagem dos animais não pode
carroceria do caminhão deve ser exceder 8 horas ininterruptas
guarnecido de gradil antiderrapante (FALCOCHIO, 2012).
articulado nas laterais revestido com Recomenda-se que os bovinos sejam
fundo de palha para facilitar a limpeza e transportados em “caminhões boiadeiros”,
desinfecção (PRATA; FUKUDA, 2001). com capacidade média de 5 animais na
Os veículos de transporte com piso parte anterior e posterior e 10 animais na
escorregadio ou quebrado ou com parte intermediaria, totalizando 20
proteções laterais comprometidas podem animais. O transporte não deve ser
conduzir a acidentes como contusões realizado em condições desfavoráveis ao
graves, luxações de articulações ou até animal, deve ser feito nas horas mais
fraturas dos membros (HERNANDES et frescas do dia, para evitar estresse,
al., 2009). contusão e até mesmo a morte dos
animais. Altas temperaturas e diminuição
O transporte pode causar estresse do espaço também são problemas
psicológico e físico devido ao ambiente e durante o transporte (BRASIL, 1952;
manejo novos, cansaço, movimentação ROÇA 2001; SARCINELLI; VENTURIM;
indesejável devido a péssimas condições SILVA, 2007).
das estradas, direção perigosa,
machucados, temperaturas indesejáveis, Gregory (2008), relata que, devido a
alta umidade, alta velocidade do ar e problemas no bem-estar animal durante o
densidade de carga, restrição alimentar e atual trânsito entre paises na Europa e a
superlotação (FALCOCHIO, 2012; ROÇA, insensibilidade dos manejadores durante
2001). o transporte, uma parte da Europa
pretende exigir a rastreabilidade de
Os percursos de curta duração (menos origem do bovino ao invés de restringir
que 3 horas) causam tanto desgaste seu acesso ao mercado.
quanto um transporte com duração de 6
horas, em virtude da não adaptação dos Hultgren et al., (2014), descreveram que
as ações dos tratadores relacionado aos
46
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
maus tratos aos animais influenciou no conteúdo gástrico para facilitar a
comportamento do gado nas plantas de evisceração da carcaça e restabeleçam as
abate comerciais na Suécia. O manejo reservas de glicogênio muscular tendo em
dos tratadores influenciou no vista que as condições de estresse
comportamento de 64% dos animais reduzem as reservas de glicogênio antes
abatido nos matadouros bovinos. Trinta e do abate (ROÇA, 2001).
quatro por cento dos animais tiveram seu
De acordo com o artigo 110 do RIISPOA,
bem-estar animal severamente
os animais devem permanecer em
comprometido e prejudicado,
descanso, jejum e dieta hídrica por um
demonstrando a necessidade de se treinar
período de 24 horas. Esse período pode
melhor os recursos humanos quanto às
ser reduzido quando o tempo de viagem
suas ações em relação ao bem-estar
não tenha sido superior a 2 horas, porém
animal.
o repouso não pode ser inferior a 6 horas
Um dos principais fatores que afeta o (PRATA; FUKUDA, 2001).
bem-estar dos animais durante o manejo
O estudo de Romero et al. (2013)
pré-abate é o comportamento de quem
indicaram que a densidade de carga do
dirige o veículo e maneja os animais
caminhão durante o transporte de gado e
durante o embarque e o desembarque. Ao
o tempo de espera de 18 a 24 h no
desembarque os animais devem ser
abatedouro aumentou a incidência de
colocados em currais de maneira calma e
contusões 2,1 vezes em comparação com
controlada o que requer paciência,
períodos de estabulação de entre 12 e 18
habilidade e um conhecimento claro do
h.
modo como os animais se comportam em
um ambiente estranho (DUARTE; No momento em que o animal chega ao
BIAZOLLI; HONORATO, 2014; frigorífico e é descarregado se realiza a
HULTGREN et al., 2014). inspeção ante-mortem com a finalidade de
se verificar: os certificados de vacinação e
Segundo o RIISPOA, a administração dos
sanidade do gado, identificar o estado
estabelecimentos frigoríficos é obrigada a
higiênico-sanitário dos animais, identificar
tomar as medidas mais adequadas, no
e isolar os animais doentes ou suspeitos,
sentido de evitar maus tratos aos animais,
antes do abate e verificar as condições
sendo responsável desde o momento do
higiênicas dos currais e anexos (PRATA;
seu desembarque. Desta forma se proíbe,
FUKUDA, 2001, RANKEN, 2003).
no desembarque ou movimentação de
animais, o uso de instrumentos A organização mundial da saúde
pontiagudos ou de quaisquer outros que preconiza padrões de bem-estar para
possam lesar o couro ou a musculatura do abate, transportes, e controle de doença
animal (BRASIL, 1952). mediante dos escores numéricos de
pontuação para se quantificar o bem-estar
animal durante o manuseio e nas plantas
Recepção, descanso e jejum alimentar de abate com o intuito de oferecer uma
maior coerência entre diferentes auditores
O período de descanso ou dieta hídrica no
e inspectores, além de ser prático e fácil
matadouro é o tempo necessário para que
de implementar. Estes escores constam
os animais se recuperem totalmente das
apenas de cinco medidas numéricas que
perturbações sofridas pelo deslocamento
avaliam a eficácia do atordoamento,
desde o local de origem até ao
insensibilidade, vocalização, queda
estabelecimento de abate, reduzam o
durante o manuseio e uso de aguilhão
47
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
elétrico apesar de haver muitas condições essa ser a mais completa possível. Assim,
prejudiciais ao bem-estar animal devido a o principal objetivo do atordoamento é
problemas durante o transporte ou as más diminuir o sofrimento dos animais na
condições na fazenda. Porém, na planta eminência da sua morte. O uso de
de abate, as condições que podem ser marreta e o corte da medula ou
avaliadas são, má condição corporal, choupeamento são proibidos no Brasil
claudicação, perdas por morte, limpeza do (DUARTE; BIAZOLLI; HONORATO,
animal, e problemas de saúde óbvios 2014).
negligenciados (GRANDIN, 2010).
No Brasil, o método de insensibilização
mais utilizado para bovinos é a pistola de
dardo percussivo penetrativo cativo e a
Métodos de Insensibilização
pistola de dardo de percussão não
Segundo a Instrução Normativa nº 3, de penetrante que provoca uma concussão
17 de Janeiro de 2000, do Ministério da cerebral (TREVIÑO et al, 2010).
Agricultura Pecuária e Abastecimento,
O método percussivo penetrativo é
todos os animais classificados como de
realizado com uma pistola com dardo
açougue, devem ser abatidos de forma
cativo, acionado por ar comprimido
humanitária, devendo ser insensibilizados
(pneumáticas) ou cartucho de explosão. O
antes da sangria, com exceções apenas
método de atordoamento com pistola de
para os abates religiosos (DUARTE;
dardo cativo percussivo penetrativo pode
BIAZOLLI; HONORATO, 2014).
produzir uma grave laceração encefálica,
A legislação acima referida também define fraturas ósseas, hemorragias e
o abate humanitário como o conjunto de perfurações mediate e irreversível
diretrizes técnicas e científicas que (PRATA; FUKUDA, 2001).
garantem o bem-estar dos animais desde
O método percussivo não penetrativo
a recepção até a operação de sangria
(martelo pneumático) é realizado por
(BRASIL, 2000).
pistolas de dardo de percussão, que
Na legislação da União Europeia há causa a concussão com o impacto, sem a
também a exigência de que todos os penetração do dardo no crânio do animal.
animais abatidos para fins de consumo da Este método pode ser imediato e
carne devam ser insensibilizados reversível no qual o animal perde a
instantâneamente e permaneçam consciência sem fratura óssea,
insensíveis à dor até que haja perda hemorragias meningiais ou encefálicas e
completa da atividade cerebral, decorrente sem laceração craniana (PRATA;
da sangria (EEC, 1993). FUKUDA, 2001).
A finalidade da insensibilização ou No atordoamento com qualquer um dos
atordoamento é deixar os animais instrumentos o objetivo principal é manter
inconscientes, de modo que rapidamente a respiração e o batimento cardíaco do
se estabeleça um estado de animal (PRATA; FUKUDA, 2001).
insensibilidade, mantendo as funções
No atordoamento, realizado com dardo
vitais até a sangria que possam ser
cativo com penetração, há imediata perda
tirados e sangrados sem causar dor ou
de consciência dos animais, portanto,
aflição (BRASIL, 2000; RANKEN, 2003).
possui melhor eficiência quando
Esse estado de inconsciência deve comparada com a pistola com dardo
perdurar até o final da sangria, devendo cativo sem penetração.
48
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
Porém Lim, Erwanto, Lee (2007), Em geral considera-se o seguinte critério
relataram que o método de atordoamento para análise do processo de
de dardo cativo penetrante resulta em um insensibilização em bovinos (GRANDIN,
maior nível de contaminação do sistema 2000; RANKEN, 2003):
nervoso central de bovinos do que pistola
- Excelente: menos que 1 por 1.000 de
de dardo de percussão não-penetrante.
animais insensibilizados parcialmente.
Essa contaminação do sistema nervoso
- Aceitável: menos que 1 por 500 de
central pode provocar a disseminação da
animais insensibilizados parcialmente.
doença de encefalite espongiforme bovina
(BSE).
Se a utilização da pistola pneumática for Abates Religiosos: Kasher (Judaico) e
inadequada, resultando em mais de um Halal (Islâmico)
disparo para levar o animal à Todos os animais destinados ao abate
inconsciência, há prejuízos ao bem-estar devem passar pelos métodos de
do animal, que sente dor e tem seu nível insensibilização exceto os animais
de estresse aumentado, o que pode destinados ao abate pelos rituais
causar queda na qualidade da carne. O religiosos que são o abate judaico
tipo de Box de atordoamento também é (Kasher) e o islâmico (Halal) conforme
um fator fundamental para que a eficácia preconiza a Instrução Normativa nº
pretendida seja alcançada, pois com uma 3/2000. Esta normativa permite o sacrifício
correta imobilização do animal, o trabalho de animais de acordo com preceitos
do atordoador é facilitado e religiosos, desde que sejam destinados ao
consequentemente a eficácia do consumo por comunidade religiosa que os
atordoamento é melhorada (CIOCCA et requeiram ou ao comércio internacional
al., 2006). com países que façam essa exigência,
O atordoamento resulta em uma sempre atendidos os métodos de
importante prática que influencia de contenção dos animais (BRASIL, 2000).
maneira substancial (TREVIÑO et al.,
2010).
Abate Kasher
Após o atordoamento em ruminantes,
procede-se a sangria, normalmente O termo "kosher" ou "kasher" é utilizado
cortando as duas carótidas que deve ser para definir os alimentos preparados de
realizada em 45 segundos (TREVIÑO et acordo com as leis judaicas de
al, 2010). alimentação. O abate Kasher é uma
degola cruenta sem atordoamento prévio
Após a insensibilização, o animal desliza pela religião judaica tem sido muito
sobre a grade tubular da área de vômito e criticado tanto pela crueldade como
é suspenso ao trilho aéreo pelo membro também pela falta de cuidados quanto aos
posterior, com o auxílio de um gancho e aspectos higiênico-sanitários (ROÇA,
uma roldana. Nesse local e também na 2001).
canaleta de sangria deve ser observada a
eficiência da insensibilização. Os sinais de Este tipo específico de abate é permitido
uma insensibilização deficiente são: por lei para se atender à comunidade
vocalizações, reflexos oculares presentes, judaica brasileira ou ao mercado de
movimentos oculares, contração dos exportação, não podendo ser a forma de
membros dianteiros e respiração rítmica. eleição de abate dentro de um frigorífico
(BRASIL, 2000).
49
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
O ritual do abate religioso judaico é um decréscimo na perda de sangue pela
denominado "schechita" e é realizado por carcaça, e o sangue é considerado um
um magarefe treinado pelas leis judaicas, produto proibido, Haran, para o consumo
denominado Shochet. Este ritual consiste pelo Islamismo (ANDREO et al., 2011). O
em amarrar uma das patas traseiras do abate Halal deve ser realizado em
animal e puxá-lo por essa pata para fora separado do não Halal, sendo executado
do box de atordoamento, de maneira que por um mulçumano mentalmente sadio,
fique suspensa, impedindo assim que o conhecedor dos fundamentos do abate de
animal consiga se levantar; enquanto uma animais no Islã (ROÇA, 2001; NEVES,
pessoa segura a cabeça do animal, outra 2008).
fixa um gancho na narina dele para esticar
As normas básicas a serem
o pescoço para que ele possa ser cortado
seguidas para o abate Halal são:
sem movimentos bruscos, entre a
cartilagem cricóide e a laringe cortando a - Serão abatidos somente animais
pele, músculos, traquéia, esôfago, veias saudáveis, aprovados pelas autoridades
jugulares e artérias carótidas e às vezes sanitárias e que estejam em perfeitas
chegando próximo às vértebras cervicais. condições físicas;
A incisão deve ser executada sem - A frase “Em nome de Alá, o mais
interrupção, sem movimentos bruscos, bondoso, o mais Misericordioso” deve ser
sem perfuração, nem dilacerações. A dita antes do abate;
faca, denominada Chalaf, deve possuir o
dobro do comprimento do pescoço do - Os equipamentos e utensílios
animal abatido e ser própria para esse tipo utilizados devem ser próprios para o
de abate (ROÇA, 2001). Abate Halal. A faca utilizada deve ser bem
afiada, para permitir uma sangria única
Essa operação tem como objetivo permitir que minimize o sofrimento do animal;
a máxima remoção de sangue pois a
religião judaica exige carnes que possuam - O corte deve atingir a traqueia, o
pouco sangue residual retido nos esôfago, artérias e a veia jugular, para
músculos (NEVES, 2008). que todo o sangue do animal seja
escoado e o animal morra sem sofrimento;
- Inspetores mulçumanos
Abate Halal acompanham todo o abate, uma vez que
No caso da religião islâmica o alimento é eles são os responsáveis pela verificação
considerado Halal quando obtido de dos procedimentos determinados pela
acordo com os preceitos e as normas Sharia.
ditadas pelo Alcorão Sagrado e pela É importante ressaltar que o abate e
Jurisprudência Islâmica. A Sharia proíbe o processamento Halal vislumbra produzir
consumo de todo e qualquer tipo de produtos seguros e que tragam benefícios
alimento modificado geneticamente, assim à saúde de quem os consome. Portanto,
como produtos minerais e químicos higiene e sanidade são requisitos
tóxicos que causem danos à saúde imprescindíveis para os operadores e
(ROÇA, 2001). suas vestimentas, equipamentos e
Para os produtos cárneos, o abate deve utensílios empregados no processo,
seguir os procedimentos do ritual evitando assim a contaminações por
Halal. No abate Halal, a insensibilização substâncias não-Halal (ROÇA, 2001).
geralmente não é usada, porque provoca
50
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
Falcochio (2012), examinou 3874 O equipamento de atordoamento
conjuntos cabeça e língua distribuídos deve ser utilizado sob o controle
entre abate tradicional dos quais 2574 de um funcionário treinado sob a
correspondem ao abate religioso Halal. A Supervisão de um inspetor
contaminação do conjunto cabeça e muçulmano com certificado halal
língua foi observada de todos os lotes que deve realizar moniotramentos
avaliados, independente do tipo de abate períodicos.
que os animais foram submetidos. Mas a O atordoamento deve ser
contaminação do conjunto cabeça e reversivel, de efeito temporário e
língua tiveram maiores indicadores não pode matar nem causar danos
quando os animais foram abatidos pelo permanentes ao animal;
método Halal, quando comparados aos O equipamento utilizado para
animais abatidos no método tradicional e atordoar suínos nunca deve ser
concluiu que há uma forte correlação usado para os animais halal
(8:100) destes eventos no abate Halal, ou (NAKYINSIGE et al., 2013).
seja, no conjunto de lotes abatidos por
Outro país que também proibiu o abate
degola a correlação entre o tempo de
religioso foi a Polônia onde o Tribunal
jejum e o percentual de contaminação é
Constitucional, a mais alta instância da
alta, sendo assim possível estabelecer
Justiça da Polônia, o proibiu por
uma equação de predição destes
considerá-lo cruel, desrespeitando,
parâmetros para esta categoria de abate.
portanto, a lei de proteção aos animais.
Esses dois métodos de abate religiosos Para o tribunal polonês, contudo, a
enfrentam críticas e recusa por muitas matança com dor de animais, sem
organizações de proteção aos animais, a atordoá-los, deixando-os sangrar, fere
ponto da Câmara dos Deputados uma lei do país de 2009. A Polônia, nesse
holandeses aprovarem em 2011 uma lei caso, não precisa se submeter à
que proíbe esse tipo de abate porque é orientação da UNIÃO EUROPEIA
feito sem o atordoamento dos animais. O (NATIONAL SECULAR SOCIETY, 2012).
Parlamento da Holanda também
A decisão contrária à instrução da UE
concedeu aos líderes do judaísmo e do
(União Europeia) que entrou em vigor em
islamismo um ano para provar
janeiro de 2013 permitindo tal ritual
cientificamente que o abate religioso não
porque faz parte da liberdade de religião
causa sofrimento nos animais. Porém a
(PAULOPES, 2012).
medida não teve andamento no Senado
em consequência das pressões de No Reino Unido, também se discute a
religiosos (PAULOPES, 2012). proibição do ritual, com o apoio de setores
do governo. Sacerdotes do judaísmo e do
As leis islâmicas permaneceam definida e
islamismo argumentam que
inalteradas, no entanto, sua interpretação
desenvolveram uma técnica de abate que
e aplicação pode mudar de acordo com
minimiza o sofrimento dos animais, mas
um consenso de legal ou de opinião para
não há nenhum estudo científico que
se adequar ao tempo, lugar e
garante isso (PAULOPES, 2012).
circunstâncias isso significa que o
atordoamento no abate bovino pode ser Neves (2008), conduziu um estudo para
aceito no islã, no entanto, há três pré- avaliar os efeitos de três métodos de
requisitos que devem ser obedecidos: abate de bovinos no seu bem-estar e na
qualidade da carne: pistola de dardo
cativo com penetração, pistola de dardo
51
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
cativo sem penetração e o método da caminhão e os colaboradores devem ser
degola sem atordoamento. E obteve como treinados corretamente, pois o fator
resultado que o método da pistola de humano tem grande peso e relação em
dardo cativo com penetração é um dos todo o processo.
mais eficientes e com menor risco de
Um aspecto importante na adoção das
comprometer o bem-estar animal durante
medidas de abate humanitário com menos
o atordoamento e abate. O método da
violência e agressividade muda aos
pistola de dardo cativo sem penetração
poucos a mentalidade e o modo de agir
mostrou-se ineficiente e o método de
das pessoas que passam a ter mais
degola sem atordoamento foi inadequado
respeito pelos animais. Essa mudança de
do ponto de vista do bem-estar animal,
comportamento demonstra uma evolução
necessitando rever os procedimentos na
da sociedade que caminha para um modo
tentativa de melhorá-lo.
menos agressivo e violento.
Segundo Nakyinsige et al., 2013 todos os
métodos de abate são estressantes para
os animais. Por isso é importante que REFERÊNCIAS
todos os operadores envolvidos com ABIEC - Associação Brasileira das
atordoamento e abate sejam Indústrias Exportadora de Carne.
competentes, devidamente treinado. Exportações Brasileiras de Carne Bovina,
Devem ter uma atitude positiva em 2014.
relação ao bem-estar dos animais. O
melhor tratamento aos animais no ANDREO, N. et al. Avaliação do estresse
momento do abate, melhorando o seu decorrente do abate Halal em bovinos. In
bem-esta e fazer com que os animais se XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE
comportem com mais calma, melhorando ZOOTECNIA Universidade Federal de
assim a segurança ocupacional dos Alagoas Maceió, 23 a 27 de maio de
colaboradores e, a fim de reduzir os 2011.
ferimentos físicos nos mesmos. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística-IBGE/ Censo Agropecuário.
SIDRA. Disponível em: <
CONCLUSÃO www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em 10 de
Uma das principais consequências da não abril de 2015.
adoção do abate humanitário é a perda BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
econômica com relação à competitividade Estatística-IBGE. / Pesquisa da Pecuária
e queda da exportação. Porém, a queda Municipal 2013.
da qualidade faz com que o produto seja
rejeitado pelo consumidor final. Há ainda o BRASIL. Ministério da Agricultura,
marketing negativo para cadeia da Pecuária e Abastecimento (MAPA).
bovinocultura que produz um impacto Instrução normativa n. 3. Brasília-DF.
silencioso, mas devastador pela rejeição 2000.
do produto de forma velada o que pode BRASIL. Ministério da Agricultura.
demorar mais para ser detectado e se Instrução Normativa n°. 3, de 07 de
intervir. janeiro de 2000. Regulamento técnico de
Todos os envolvidos no processo de métodos de insensibilização para o abate
abate, os colaboradores que realizam o humanitário de animais de açougue.
manejo na fazenda, o motorista do S.D.A.I M.A.A. Diário Oficial da União,
Brasília. 24 de jan. 2000. Seco I. p. 14-16.
52
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
BRASIL. Ministério da Agricultura, DUARTE, J.S.; BIAZOLLI, W.;
Pecuária e Abastecimento (MAPA). HONORATO, C.A. Perdas econômicas
Circular. n. 192. 01/07/1998. Brasília- devido ao manejo pré-abate: bem estar
DF,1998.
animal. Comunicação &
BRASIL. Ministério da Agricultura, Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, v.
Pecuária e Abastecimento. Divisão de 03, n. 07, p. 04-15, jan-jun, 2014
Inspeção de Produtos de Origem Animal
EEC, Council Directive 93/119/EC of 22
(DIPOA). Instalações e equipamentos
December 1993 on the protection of
relacionados com a técnica da inspeção
animals at the time of laughter or killing.
ante-Mortem e post-mortem. In:______.
Official Journal of the European
Inspeção de Carnes: padronização de
Communities, 340, 21–34. 1993.
técnicas, instalações e equipamentos.
Cap I, Brasília,1971 FAO - Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura.
BRASIL. Ministério da Agricultura,
Gestión de riesgo e inocuidad de lós
Pecuária e Abastecimento. Secretaria de
alimentos. Estudio Fao Alimentation y
Defesa Agropecuária. Departamento de
Nutricion, 65. Informe consulta mista
Inspeção de Produtos de Origem Animal.
FAO/OMS, Roma, enero, 1997.
Regulamento da Inspeção Industrial e
Sanitária de Produtos de Origem Animal FALCOCHIO, M. C. Relação entre o
(RIISPOA). Aprovado pelo decreto tempo de jejum e dieta hídrica sobre o
n.30.691, 29/03/52, alterados pelos nível de contaminação do conjunto cabeça
decretos n.1255 de 25/06/62, 1236 de e língua no abate de bovinos. 43 fl. 2012.
01/09/94, 1812 de 08/02/96, 2244 de Monografia (Conclusão de Estágio)-
04/06/97. Brasília, 1952. 241p. Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP,
São José do Rio Preto, 2012.
BRASIL. Decreto lei Nº 24.645, de 10 de
julho de 1934. Estabelece medidas de FELÍCIO, Pedro Eduardo de. A
proteção aos animais. Rio de Janeiro, 10 inviabilidade técnica dos pequenos
de julho de 1934 matadouros, 2013. Disponível em:
<http://www.beefpoint.com.br/cadeia-
BROWN, M. HACCP in the meat industry.
produtiva/espaco-aberto/a-inviabilidade-
Woodhead Publishing Limited e CRC
tecnica-dos-pequenos-matadouros/>.
Press LLC Edited by 2000.
Acesso e em 10 de abril de 2015.
CALEMAN, S.M.Q.; CUNHA, C.F.
GOLDONI, É. E. Efeitos do tipo de abate
Estrutura e conduta da agroindústria
na produção de carne bovina. Estudos,
exportadora de carne bovina no Brasil.
Goiânia, v. 38, n. 2, p. 397-411, abr./jun.
Organizações Rurais & Agroindustriais, v.
2011
13, n. 1, 2011.
GRANDIN, T. Guía para resolver
CIOCCA, J.R.P. et al. O treinamento dos
problemas usuales en el manejo de los
funcionários de plantas frigoríficas
animales. Fort Collins. 2000.
melhora a eficiência do processo de
insensibilização de bovinos de corte, GRANDIN, T. Auditing animal welfare at
2006. slaughter plants. Meat Science, v. 86, n.
CHIAPPINI, G. Menos sofrimento, mais 1, p. 56-65, 2010.
lucro. Revista A Lavoura v. 117, n. 701, GREGORY, N. G. Animal welfare at
2014. markets and during transport and
53
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
slaughter. Meat science, v. 80, n. 1, p. 2- carne de bovinos. 69 f. 2008. Dissertação
11, 2008. (Mestrado em Zootécnia)- Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
HAJDENWURCE, J. R. Atlas de
Faculdade de Ciências Agrárias e
microbiologia dos alimentos e Fonte
Veterinárias. Jaboticabal, São Paulo,
Comunicações. Editora, São Paulo.Brasil,
2008.
v. 1, 2004.
OLIVEIRA, C. B. de; BORTOLI, E. C. de;
HERNANDES, J. F. M. et al. Bem-Estar
BARCELLOS, J. O. J. Diferenciação por
animal na cadeia produtiva bovina: Da
qualidade da carne bovina: a ótica do
propriedade rural ao abate In 48º SOBER-
bem-estar animal. Ciência Rural, v. 38, n.
Sociedade Brasileira de Economia,
7, p. 2092-2096, 2008.
Administração e Sociologia Rural. Campo
Grande, 25 a 28 de julho de 2009. PRATA, L. F; FUKUDA, T. Fundamentos
de higiene e inspeção de carnes.
Holanda pede a religiosos provas de que
Jaboticabal, Funesp, 2001.
animal não sofre no abate, Paulopes,
2012. Disponível em:< RANKEN, M.D. Manual de Indústrias de la
http://www.paulopes.com.br/2012/06/holan carne. Ediciones Mundi- Prensa, Madri,
da-pede-religiosos-provas-de- Espanã 2003.
que.html#ixzz3aSCNKrw6>. Acesso em
ROÇA. R. O. Abate humanitário de
12 de maio de 2015.
bovinos. Rev. Educ. contin. CRMV-SP,
Paulopes informa que reprodução deste
São Paulo. v.4. fasciculo 2. p. 73 - 85.
texto só poderá ser feita com o CRÉDITO
2001.
e LINK da origem.
ROÇA, R. O. et al. Efeitos dos métodos de
HULTGREN, J. et al. Cattle behaviours
abate de bovinos na eficiência da sangria.
and stockperson actions related to
Ciênc. Tecnol. Aliment, v. 21, n. 2, p.
impaired animal welfare at Swedish
244-248, 2001.
slaughter plants. Applied Animal
Behaviour Science, v. 152, p. 23-37, 2014. ROÇA. Roberto Oliveira. Abate
humanitário melhora a carne: bem-estar
LIM, D. G; ERWANTO, Y; LEE, M.
animal na hora do abate influencia na
Comparison of stunning methods in the
qualidade do produto. Revista do
dissemination of central nervous system
Açougueiro e Frigorífico, v.5, n.42, p.28-
tissue on the beef carcass surface. Meat
30, 1999
Science. v. 75, p. 622–627, 2007.
ROMERO, M. H. et al. Risk factors
LUDTKE, C. B. et al. Abate humanitário
influencing bruising and high muscle pH in
de bovinos. Rio de Janeiro, WSPA Brasil,
Colombian cattle carcasses due to
2012.
transport and pre-slaughter operations.
NATIONAL SECULAR SOCIETY. Polish Meat science, v. 95, n. 2, p. 256-263,
court rules that ritual slaughter is 2013.
unconstitutional and illegal, 2012.
SARCINELLI, M. F; VENTURIM, K. S;
NAKYINSIGE, K. et al. Stunning and SILVA, L. C. Abate bovino. Universidade
animal welfare from Islamic and scientific Federal do Espírito Santo, 2007.
perspectives. Meat science, v. 95, n. 2, p.
SILVA, C. A.; BATALHA, M. O. (Coords.).
352-361, 2013.
Estudo sobre a eficiência econômica e a
NEVES, J. E. G. Influências de métodos competitividade da cadeia agroindustrial
de abate no bem-estar e na qualidade da da pecuária de corte no Brasil: relatório
54
ISSN 2526-9003 Revista Científica de Medicina Veterinária-UNORP, v.1, n.1, p. 40-55, 2017
final feito pelo Consórcio Funarbe. Viçosa,
MG; São Carlos: CNPq, 1999. 552 p.
TREVIÑO, I. H. et al. Manejo pré-abate e
qualidade de carne. REDVET. Revista
Electrónica de Veterinaria, v. 11, n. 8, p.
1-11, 2010.
VASQUEZ, R. L; VANACLOCHA, A. C.
Tecnología de Mataderos. Ediciones
Mundi- Prensa, Madri, Espanã, 2004.
VIDAL R. M.; Rastreabilidade e bem-
estar animal, 2010. Disponível em: <
http://pt.engormix.com/MA-pecuaria-
corte/frigorifico/artigos/bem-estar-animal-
e-rastreabilidade-t267/378-p0.htm>.
Acesso em 07 mai de 2015.
55