OS DESAFIOS DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Tamires Carneiro 1
Maria Salvilene Lopes2
Maria do Perpétuo Socorro de Vasconcelos 3
Francisco Ariel dos Santos Silva 4
RESUMO
A educação inclusiva tem como objetivo incluir todos, independente de qualquer distinção, no
espaço escolar. No Brasil, a legislação assegura a inclusão de pessoas com deficiência desde os
primeiros anos de vida escolar. Porém, ainda existem muitos desafios que impedem a plena
inclusão dos alunos com deficiências nas escolas regulares, principalmente na Educação
Infantil, que acolhe crianças bem pequenas. Nesse contexto o objetivo deste trabalho é
identificar quais são os desafios que se apresentam frente a concretização da escola inclusiva,
assim como assegura a legislação educacional e as correntes teóricas aceitas atualmente. Para
cumprir com tal objetivo, o estudo foi realizado a partir de uma pesquisa integrada da
bibliografia existente sobre a educação inclusiva na Educação Infantil e sobre os desafios que se
apresentam frente a implementação dessa nova concepção de ensino na realidade brasileira. A
modalidade da pesquisa se caracteriza como de natureza qualitativa. A partir dessa pesquisa
pode-se concluir que no sistema educacional brasileiro, a educação inclusiva, principalmente
referente a Educação infantil, ainda encontra muitas dificuldades, destacam-se: a falta de
capacitação nessa área de atuação pelos professores, a superlotação das salas de aula, bem como
a falta de estrutura dos espaços físicos das escolas.
Palavras-chave: Educação Inclusiva. Educação especial. Desafios da inclusão.
INTRODUÇÃO
De acordo com a legislação brasileira, a educação é um direito de todos, sem
discriminação de raça, cor, religião e nenhuma outra distinção de qualquer natureza.
Nesse contexto, é possível perceber que a escola deve ser um ambiente de inclusão, que
acolhe e disponibiliza oportunidades a todos os alunos, inclusive aqueles com
necessidades especiais.
1
Especialista em Gestão Escolar pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – Uniasselvi,
[email protected];
2
Especialista em Gestão, Coordenação, Planejamento e Avaliação Escolar pelo Centro Universitário Inta
– UNINTA. [email protected]
3
Especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica da Faculdade Venda Nova do Imigrante.
[email protected];
4
Mestrando em Geografia de Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, [email protected];
No entanto, por muito tempo a educação esteve restrita apenas as pessoas não
deficientes e esteve fechada para pessoas fora da “normalidade”. Após muitas lutas e
mobilizações da sociedade pela inclusão, atualmente é possível verificar uma mudança
nesse cenário. Escolas e demais instituições de ensino em todo o mundo passaram a
estabelecer novas diretrizes para a educação, no sentido de incluir e desenvolver a
aprendizagem de todos os seus alunos, inclusive os com necessidades especiais.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e bases da educação de 1996, consolida o direito
de inclusão de todas as crianças e adolescentes sem distinção, no seu art. 58 estabelece
que a Educação Especial será oferecida preferencialmente na rede regular de ensino
para educandos portadores de necessidades especiais. Isso inclui todas as etapas e
modalidades de ensino, inclusive a Educação Infantil, que é a primeira fase de
escolarização, que acolhe crianças de 0 a 6 anos de idade.
Porém, ainda existem muitos desafios que impedem a plena inclusão dos alunos
com deficiências nas escolas, nesse sentido, esta pesquisa busca responder a esta
questão: quais são os desafios atuais que impactam a implementação de uma educação
que inclua e favoreça o aprendizado das crianças com necessidades especiais na
Educação Infantil? O objetivo central deste trabalho é identificar quais são os
desafios que se apresentam frente a concretização da escola inclusiva, assim como
assegura a legislação educacional e as correntes teóricas aceitas atualmente. Para
cumprir com tal objetivo, o estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa integrada
da bibliografia existente sobre a educação inclusiva na Educação Infantil e sobre
desafios que se apresentam frente a
implementação dessa nova concepção de ensino na realidade brasileira.
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO
Atualmente muito tem se falado sobre educação inclusiva, contudo há ainda
muitas questões que fogem do conhecimento das pessoas, principalmente em relação a
educação inclusiva e a educação especial.
Educação inclusiva ou escola inclusiva diz respeito a inclusão dos alunos com
deficiência ou com alguma dificuldade de aprendizagem em um espaço comum, em que
convivem alunos que não possuem nenhuma deficiência. Vale dizer que a educação
inclusiva é uma nova concepção de ensino que tem como principal objetivo incluir a
todos no processo de educação.
O termo Educação Inclusiva foi conceituado pela primeira vez pela Declaração
de Salamanca, que defendeu a ideia de que as pessoas (crianças e adultos) podem
participar do processo de aprendizagem por meio da socialização e interação em turmas
regulares de ensino.
Ela pressupõe a igualdade de oportunidades e a valorização das diferenças
humanas, contemplando, assim, as diversidades étnicas, sociais, culturais,
intelectuais, físicas, sensoriais e de gênero dos seres humanos. Implica a
transformação da cultura, das práticas e das políticas vigentes na escola e nos
sistemas de ensino, de modo a garantir o acesso, a participação e a
aprendizagem de todos, sem exceção (MENDES, 2019, on-line)
Cumpre destacar que a educação inclusiva não se trata de um sinônimo de
educação especial, pois, esta, é conceituada como uma modalidade de educação especial
que realiza atendimento educacional especializado, ou seja, dentro da instituição de
ensino (ou fora dela), deve haver um espaço onde o aluno portador de alguma
deficiência é recebido para ter um atendimento especializado, com profissional
especifico, muitas vezes em contato com outras crianças que também possuem
necessidades especiais.
“Ela é o ramo da Educação que se ocupa do atendimento e da educação de
pessoas com deficiência em instituições especializadas, tais como escolas
para surdos, escolas para cegos ou escolas para atender pessoas com
deficiência intelectual” (MENDOÇA, 2015, p. 2).
O Ministério da Educação classifica o público-alvo da educação especial em três
grupos: pessoas com deficiência, seja ela física, mental, intelectual ou sensorial; pessoas
com transtornos globais do desenvolvimento, os quais apresentam quadro de alteração
no desenvolvimento psicomotor (autismo, Asperger, psicose infantil); pessoas com altas
habilidades e superdotação, aqueles que possuem um alto grau de desenvolvimento nas
áreas do conhecimento humano.
A educação especial na perspectiva inclusiva, trata-se, portanto da promoção de
inclusão do público-alvo da educação especial. Ou seja, de uma forma geral, educação
inclusiva se refere ao movimento de inserir todos os alunos na escola regular,
independentemente de qualquer distinção, inclusive aqueles que estão no foco do
trabalho das instituições de ensino especializados.
É válido ressaltar que não são apenas os alunos com deficiência que se
beneficiam, antes, porém, todos os alunos ganham com a inclusão, tendo em vista que a
escola formará pessoas capazes de identificar e valorizar as diferenças, sendo capazes
de reconhecer que ser diferente não é um motivo de separação, mas, sim de inclusão,
propiciando trocas de experiências e saberes.
Guijarro (2005) enfatiza que a Educação Inclusiva não acontece somente com a
inserção dos alunos com deficiências nas escolas regulares, a inclusão acontece quando o
aluno começa a desenvolver sua aprendizagem, pois o direito a educação não se restringe
ao direito de ter acesso a ela, mas sim de ter oportunidade de aprender e desenvolver-se
plenamente como pessoa.
Na construção de uma prática verdadeiramente inclusiva na sala de aula deve haver
a observância dos cinco princípios que norteiam a educação inclusiva, são elas:
1. Toda pessoa tem o direito de acesso à educação.
2. Toda pessoa aprende
3. O processo de aprendizagem de cada pessoa é singular
4. O convívio no ambiente escolar comum beneficia todos
5. A educação inclusiva diz respeito a todos (PAGANELI, 2018)
Para Mendes (2019) os princípios são como um guia para os educadores
comprometidos com a educação inclusiva. Como diz o autor, esses princípios servem para
que não se perca o “rumo” das práticas pedagógicas, sejam por professores iniciantes na
atividade docente, e até mesmo os professores experientes.
IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO NOS PRIMEIROS ANOS DA VIDA ESCOLAR
A LDB é um importante instrumento que dá diretrizes e normatiza a
Educação Infantil. Segundo esse documento, os alunos da primeira etapa da
Educação Básica devem ser acolhidos em instituições que visem primordialmente
o desenvolvimento integral das crianças, que comtemple os aspectos físicos,
motores, cognitivos, emocionais, psicológicos e sociais
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB) instituiu a
Educação Infantil como sendo a primeira etapa da Educação Básica, a qual deve
ser destinada às crianças de 0 a 3 anos, que compreende a creche e de 4 a 6
anos, compreendendo a pré-escola. Contudo, só será obrigatório a matrícula das
crianças a partir dos 4 anos de idade, ficando a critério dos pais a escolha por
matricular as crianças abaixo dessa faixa etária.
O MEC elaborou em 2001 o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, Estratégias e Orientações para a Educação de Crianças com
Necessidades Educacionais Especiais. Dessa forma, após três anos da entrada
em vigor da LDB, a Educação Infantil foi a primeira etapa a estabelecer diretrizes
para a construção de um ensino inclusivo. No item 5.1 do referido documento, está
expresso as orientações gerais
para creches e pré-escolas no intuito de atender com qualidade as
necessidades educacionais dos alunos especiais. Dentre essas
recomendações destacam-se a necessidade de:
- Disponibilizar recursos humanos capacitados em educação
especial/ educação infantil para dar suporte e apoio ao docente das
creches e pré-escolas ou centros de educação infantil, assim como
possibilitar sua capacitação e educação continuada por intermédio da
oferta de cursos ou estágios em instituições comprometidas com o
movimento da inclusão;
- Adaptar o espaço físico interno e externo para atender crianças com
NEE, conforme normas de acessibilidade. (BRASIL, 2001, p. 24-26)
Além das recomendações supracitadas, o RCNI destaca ainda outras
inúmeras orientações para que essa etapa da educação possa desenvolver as
habilidades dos alunos com necessidades especiais. Contudo, depois de 20
anos da criação desse documento, ainda é possível perceber que a estrutura
geral das instituições de Educação Infantil ainda não conseguiu superar as
dificuldades que impedem o pleno acesso das crianças especiais a Educação
Infantil.
Carneiro (2012), atribui essas dificuldades ao fato de a trajetória da
educação ter sido marcada pelo não atendimento do aluno com deficiência,
dessa forma, nos dias atuais as escolas ainda não se encontram preparadas
para tal tarefa, “e sua transformação no sentido de cumprimento legal e de
responder positivamente aos anseios sociais, requer alterações em toda a sua
dinâmica” (CARNEIRO, 2012, p. 86). Segundo o autor, as alterações urgentes
para que seja cumprida com as determinações legais são de natureza
estruturais, econômicas, de recursos humanos e pedagógicos.
A construção da escola inclusiva desde a educação infantil implica em
pensar em seus espaços, tempos, profissionais, recursos
pedagógicos etc. voltados para a possibilidade de acesso,
permanência e desenvolvimento pleno também de alunos com
deficiências, alunos esses que, em virtude de suas particularidades,
apresentam necessidades educacionais que são especiais. Talvez o
maior desafio esteja na prática pedagógica. Embora todos os
aspectos mencionados sejam fundamentais e estejam atrelados uns
aos outros, a ação pedagógica direcionada e intencional contribuirá
em muito para a inclusão em seu sentido pleno (CARNEIRO, 2012, p.
86)
O autor dá ênfase a prática pedagógica como um dos principais fatores
que afetam o acesso e a permanência do aluno em salas de ensino regular.
Contudo, a presença do público da Educação Especial, nem sempre é bem-
vinda, pois, muitos dos professores se veem sobrecarregados, com turmas
lotadas e sem estrutura adequada para receber essas crianças. A prática
pedagógica também se torna frágil, visto que a formação dos professores
tende a focar na preparação para o ensino de crianças sem necessidades
especiais de ensino. A falta de experiencia e preparação torna o trabalho
pedagógico inconsistente e tende a ter reflexos no processo educativo dessas
crianças.
Em 2004, foi criado pelo Ministério da Educação as Diretrizes da Política
Nacional da Educação Infantil MEC/2004, que dentre outras providências
instituiu que: “A educação de crianças com necessidades educacionais
especiais deve ser realizada em conjunto com as demais crianças,
assegurando-lhes o atendimento educacional especializado, mediante a
avaliação e interação com a família e a comunidade.” (BRASIL, 2004, p. 17).
A visão de que é imprescindível a interação entre as crianças para o
sucesso do ensino aprendizagem é uma concepção defendida por autores que
desenvolveram teorias sobre a educação, como foi o caso de Vygotsky (1984).
Para o autor o processo de aquisição de conhecimento não acontece apenas
entre uma criança e um adulto, mas também mediante a convivência entre
seus pares mais experientes. Nessa mesma perspectiva Arroyo (1998) enfatiza
que:
[...] nada justifica, nos processos educativos, reter, separar crianças,
adolescentes ou jovens de seus pares de ciclo de formação, entre
outras razões, porque eles aprendem não apenas na interação com
os professores adultos, mas nas interações entre si. Os aprendizes se
ajudam uns aos outros a aprender, trocando saberes, vivências,
significados [...] (ARROYO, 1998, p.41)
Essa inserção ao ambiente escolar é de fundamental importância para
as crianças pequenas portadores de deficiência. Para Carneiro (2012) a
interação entre as crianças contribui para formar uma geração mais consciente,
sem preconceitos com o diferente. Mas para que isso aconteça, a escola deve
promover uma prática pedagógica em que as crianças da Educação Infantil
possam cultivar o respeito, o companheirismo, a concepção de cuidado
consigo e com o outro, dentre outros tantos valores, visando a formação de
cidadãos justos e éticos.
Já para as crianças portadoras de deficiência o convívio escolar tem o
papel de desenvolver suas habilidades, como a fala, a coordenação motora, os
aspectos cognitivos e emocionais e a introspecção de valores sociais.
Muitos estudos já comprovam que os primeiros três anos de vida da
criança são decisivos para o desenvolvimento da personalidade, da
inteligência, da linguagem e da socialização. Esses primeiros três anos
correspondem aos anos da creche, que em muitas instituições de ensino
funcionam de forma integral.
Todos os estímulos direcionados a crianças de 0 a 3 anos de idade
serão muito mais intensos, pois o desenvolvimento cerebral nesse período é
consideravelmente mais acelerado do que em comparação aos anos
posteriores. Mas cabe destacar que não apenas os estímulos positivos, mas
também os negativos são propensos a gerar resultados na fase adulta. Nesse
contexto Mendes ressalta que “o desenvolvimento do cérebro é muito mais
vulnerável nessa etapa e pode ser afetado por fatores nutricionais, pela
qualidade da interação, do cuidado e da estimulação proporcionada à criança”
(MENDES, 2010, p.47- 48).
Portanto, nessa etapa, se a criança tiver seus aspectos do
desenvolvimento estimulados, terão mais chances de adquirir uma gama de
habilidades que lhe possibilitará uma melhor qualidade de vida.
Nos anos que correspondem a pré-escola, ainda que o desenvolvimento
cerebral perda a aceleração, o meio em que o indivíduo está inserido é de
fundamental importância para o desenvolvimento, principalmente no que se
refere aos aspectos emocionais e cognitivos. O que possibilita concluir que, a
inclusão das crianças com necessidades especiais na Educação Infantil é
imprescindível, de acordo com os argumentos apresentados até o momento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar de já haver um consenso entre estudiosos da educação e legisladores a
respeito da relevância da inclusão das crianças na sua tenra idade no sistema
educacional, ainda são percebidos inúmeros desafios para o pleno exercício desse
direito. Os principais desafios, que foram identificados nesse estudo se referem a
formação dos profissionais de educação, que ainda não cumpre o papel de preparar os
docentes para a educação inclusiva, além disso a estrutura física da maioria das
instituições de ensino se encontra inaptas ao acesso de crianças deficientes.
Passados vinte e seis anos desde a Declaração de Salamanca (1994) que foi um
marco para a educação inclusiva para o Brasil, o país ainda enfrenta grandes desafios
para a consolidação de uma educação verdadeiramente inclusiva. Dentre esses
problemas, destaca-se principalmente à fragilidade na formação docente para o ensino
inclusivo.
Como vimos, a própria LDB afirma a necessidade de uma formação docente
voltada para as especificidades da educação especial. Em seu artigo 87 das disposições
transitória, a LDB institui a década de 90 como sendo a “Década da Educação”, pois
seriam durante esses anos que os antigos paradigmas da educação deveriam ser
rompidos, para dar início a uma nova era, a da educação inclusiva e integradora.
Afim de tornar a formação docente uma etapa verdadeiramente formadora de
profissionais capacitados e preparados para atuarem de maneira significativa na
educação, foi criado as Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica,
documento no qual delineia as exigências que se apresentam frente ao novo modelo de
educação provocada pela contemporaneidade.
Orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos; responsabilizar-
se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos; assumir e saber lidar com a
diversidade existente entre os alunos; incentivar atividades de
enriquecimento curricular; elaborar e executar projetos para desenvolver
conteúdos curriculares; utilizar novas metodologias, estratégias e material de
apoio; desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe (MEC, 2000,
p. 5, grifo nosso).
Nesse ponto, denota-se que a formação do professor deve ser voltada para a
construção de um trabalho pedagógico que considere a diversidade de alunos que há em
uma turma, cada um com processo de aprendizagem único, com dificuldades e
potencialidades distintos um do outro. Em outras palavras, a formação precisa enaltecer
as diferenças como um aspecto positivo do processo educativo.
Entretendo, uma grande quantidade de pesquisas tem evidenciado que é
urgente a necessidade de uma melhoria na formação dos professores, principalmente no
que se refere a promoção de inclusão dos alunos com necessidades especiais na rede
regular de ensino. “Não é para menos. A realidade evidenciada por uma pesquisa
recente em âmbito nacional mostrou que os professores, de maneira geral, não estão
preparados para receber em sua sala de aula alunos especiais” (PLETSCH, 2009, 147).
Em uma pesquisa realizada por Castro (2002), na cidade de Santa Maria (RS),
foi identificado que a maioria dos professores ouvidos na entrevista se sentiam
despreparados para receber os alunos com necessidades especiais. Os professores
destacaram ainda que acreditam que pode ser construído uma educação inclusiva, ainda
é necessária uma maior preparação para essa área de ensino. Isso é identificado nas falas
dos educadores.
Eles [alunos especiais incluídos] exigem uma atenção que não temos condição
de dar.
[...] Não temos condição de oferecer o que eles realmente necessitam, pois não
somos educadoras especiais, apesar de termos boa vontade.
[...] Não temos preparo suficiente para fazer um trabalho com muitos
resultados positivos.
[...] Há muito despreparo nas classes regulares e nos cursos de formação do
magistério.
[...] Eu acho ruim [a inclusão], pois os professores precisam de conhecimento
para trabalhar com esses alunos.
[...] Desde que não atrase muito o ritmo do grupo em geral pode acontecer.
[...] É um direito assegurado a todos. E é possível a inclusão se o sistema
educacional estiver preparado a aceitar e tiver conhecimento específico para
lidar com as diferenças (p. 41-43).
Esse mesmo problema foi percebido no estudo feito por Rosa e Papi (2009),
autoras que realizaram um estudo realizado com os professores do ensino Fundamental
II (5° ao 9°) com o objetivo de identificar quais são os desafios em relação a inclusão
escolar dos alunos com deficiência. Nas falas dos educadores é possível perceber que
eles próprios reconhecem as dificuldades que enfrentam
Penso que a escola e professores não estão preparados para inclusão,
principalmente as deficiências mentais. (P1)
[...] Também sinto dificuldade por não estar preparada para atender estes
alunos. (P3)
Não me sinto capacitada para trabalhar com esse aluno. (P5)
A princípio, me senti totalmente abandonada para esta atuação. (P6) (ROSA,
PAPI, p.6 (2009)
Diante do exposto, parece certo dizer que o despreparo dos docentes é
proveniente principalmente da formação que receberam. Além de ser visível que há uma
descrença a respeito da capacidade de o aluno se desenvolver e agir de forma autônoma.
no processo de formação dos professores, atenção especial deve ser dada à
preparação de todos os docentes, para que exercitem sua autonomia e
apliquem suas habilidades na adaptação do currículo, e da instrução para dar
uma atenção às necessidades especiais dos alunos, bem como para colaborar
com os especialistas e com os pais (BRASIL, 2006)
Na pesquisa realizada por Margaret do Rosário Silva, em que teve como objetivo
investigar quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos professores da rede
pública de ensino do Distrito Federal, identificou outra dificuldade em oferecer uma
educação inclusiva aos alunos com necessidades especiais. Silva (2011), identificou que
grande maioria das escolas não contam com um ambiente adequado para receber as
crianças com necessidades especiais. Os profissionais ouvidos reclamam da
superlotação das salas, fator que influencia sobremaneira no trabalho pedagógico
realizado pelos professores.
Segundo os relatos da pesquisa de Silva (2011), os professores carregam a culpa
sozinhos pelas falhas no processo de aprendizagem inclusiva, contudo, o professor
sozinho não é capaz de disponibilizar todos os recursos necessários para que seus alunos
tenham subsídios para aprender. A educação é uma rede, que para existir precisa da
colaboração de vários setores, além do mais, é imprescindível que os recursos
provenientes das políticas púbicas sejam suficientes para contratar a quantidade
necessário de profissionais, para que seja possível a permanência de uma quantidade
razoável de alunos em uma sala de aula.
A Educação inclusiva requer, dentre outras coisas, um espaço físico condizente
às necessidades especiais dos alunos. Mas, quando se fala em adaptação de espaços
físicos, tende-se a pensar apenas em rampas de acesso, entretanto acessibilidade vai
muito além disso.
As instituições de ensino devem estar preparadas estruturalmente para receber
uma diversidade de alunos, dessa forma deve contar com banheiros acessíveis, salas
amplas e interativas, salas de recursos multifuncionais, equipe de apoio e aprendizagem,
dentre outros. de acordo com o último censo escolar da educação básica somente 26,1%
das creches e 25,1% das pré-escolas têm dependências e vias adequadas a alunos com
deficiência. E banheiros adequados estão presentes em apenas 32,1% das escolas de
Educação Infantil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, compreende-se como educação inclusiva como uma nova
abordagem da educação contemporânea, em que defende que todos têm direito a
educação regular, inclusive o público alvo da educação especial, que são as pessoas com
deficiência, altas habilidades ou superdotação e as com Transtornos Globais do
Desenvolvimento.
De acordo com as pesquisas mais recentes, a inserção de crianças com
deficiência na escola regular de ensino, proporciona diversos benefícios, tanto para o
desenvolvimento dos aspectos cognitivos, sociais, físicos e emocionais da criança
especial, como também reflete na construção de indivíduos mais conscientes, sem
preconceitos e com consciência de cuidado de si e com o outro.
Ao longo das pesquisas que deram origem a esse trabalho foi possível concluir
alguns pontos importantes acerca da Educação Inclusiva na Educação Infantil. A
princípio, pode-se identificar que existe uma gama de normas e diretrizes que
asseguram o acesso dos alunos com necessidades especiais em salas de ensino regular.
No entanto, esse arcabouço legal ainda não conseguiu implementar uma plena educação
inclusiva.
No sistema educacional brasileiro, a Educação Inclusiva, principalmente
referente a Educação infantil, ainda encontra muitas dificuldades, que se destacam: a
falta de capacitação nessa área de atuação pelos professores, a superlotação das salas de
aula, bem como a falta de estrutura dos espaços físicos das escolas.
Dessa forma, entende-se que é necessário a criação de políticas públicas que
ponham em prática as normas vigentes, dando todo o suporte para que as pessoas com
necessidades especiais tenham acesso à educação, e mais, uma educação de qualidade
que possibilite o desenvolvimento de suas potencialidades, pois assim como estabelece
a Constituição Federal a educação é para todos, sem distinção de qualquer natureza.
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