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Trocando Ideias (Ricardo Orestes Forni)

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TROCANDO IDEIAS

Ricardo Orestes Forni

Data de publicação: 28/5/2021

PUBLICAÇÃO:
EVOC – Editora Virtual O Consolador
Londrina – Paraná – Brasil
www.oconsolador.com
Dados internacionais de catalogação na publicação

Forni, Ricardo Orestes

F727t
Trocando ideias / Ricardo Orestes Forni; capa de
Ana Luísa Barroso da Silva Neto; revisão de
Thiago Bernardes. – Londrina, PR : EVOC, 2021.
198 p.

1. Literatura espírita. 2. Espiritismo. I. Silva


Neto, Ana Luísa Barroso da. II. Bernardes,
Thiago. III. Título.

CDD 133.9
19.ed.

Bibliotecária responsável Maria Luiza Perez CRB9/703

2
Sumário
Sobre o Autor ........................................................................ 5
Trocando ideias................................................................... 11
O sonho da lagarta.............................................................. 13
O frasco de perfume ........................................................... 18
Meu Deus! Meu Deus! ......................................................... 24
Espírita gosta de sofrer! ...................................................... 27
Sofrer no umbral e na Terra, por quê? ................................. 30
Mundos de regeneração e mundos transitórios ................... 35
Mundo de regeneração e mundo de Espíritos regenerados .. 37
Os flagelos são calendário? ................................................. 41
O momento da caridade ...................................................... 44
Os nossos flagelos .............................................................. 47
O banimento e a misericórdia ............................................. 51
A que distância estamos? .................................................... 54
Os pertences daqueles que partiram ................................... 57
Onde Ele está? .................................................................... 62
Pela experiência do sexo..................................................... 65
Previsão do tempo .............................................................. 70
O que tem feito dos seus talentos? ..................................... 75
Suicídio entre animais ......................................................... 79
O dia “D” dos encarnados ................................................... 83
O melhor telefone ............................................................... 90
Sonho ou realidade?............................................................ 94
Logo ali!.............................................................................. 98
A cruz vazia .......................................................................102
O Jesus “guerreiro” ............................................................107
Os vários porquês ..............................................................110
A minha dor, a nossa dor! ..................................................117
Nossa estrada de Damasco ................................................122
A caixa de laranja ..............................................................130

3
Os três médiuns que visitaram Jesus ..................................134
Problemas: provas ou expiações? .......................................138
Vencendo os obstáculos .....................................................143
Onde se localiza a violência? ..............................................149
Doutrina Espírita: converter ou convencer? ........................153
Onde está a paz? ...............................................................157
A fidelidade de Deus ..........................................................163
A quarta guerra mundial ....................................................167
Ano Novo? .........................................................................171
As luzes se apagaram… .....................................................175
Cirurgia plástica .................................................................178
Como vai a nossa pista? .....................................................181
Deus me esqueceu? ...........................................................184
Na “boca” do caixa ............................................................188
O Natal de Lin Meiyun ........................................................192
A lâmpada da garagem ......................................................195

4
Sobre o Autor

No dia 13 de setembro de 2015, a revista O


Consolador, em sua edição 431, publicou a entrevista
abaixo que Ricardo Orestes Forni concedeu a Orson Peter
Carrara, da equipe de redação da citada publicação.
Nada melhor para apresentar o Autor aos nossos
leitores do que reproduzi-la na abertura desta obra:

Ricardo Orestes Forni:

“Os assuntos sempre me procuram”

Autor de várias obras de grande sucesso, o


conhecido escritor, que é também colaborador
de nossa revista, fala sobre suas experiências e
revela como surgem seus livros

Ricardo Orestes Forni, natural de São José do Rio Preto


e residente em Tupã, ambos municípios paulistas, nosso
entrevistado de hoje, é médico e vincula-se à União
Espírita Allan Kardec, sendo também um dos colaboradores
desta revista. Seu primeiro contato com o Espiritismo foi
por meio do livro Nosso Lar. Atualmente com vários
publicados e outros no prelo, conta sua experiência e
inspiração para escrever as obras, distribuídas entre
contos, textos doutrinários e romances de grande sucesso
editorial e muita clareza doutrinária.

5
De onde vem o gosto e a experiência em
escrever?
Sempre gostei muito de ler desde a minha
adolescência, o que deve ter facilitado para que eu viesse
um dia a escrever. Sobre aquilo que escrevo se passa
sempre o seguinte: o assunto a ser desenvolvido vem ao
meu encontro. Raríssimas vezes eu fui ao encontro deles.
Por isso não sei explicar a experiência em escrever, já que
sou “procurado” e não procuro.
Quantos livros publicados? Quantos romances e
quantos doutrinários?
Publicados são dezoito, além de uma participação em
um livro de Orson Peter Carrara. Além desses, outros
encontram-se em processo de análise e elaboração em
diversas editoras, tais como Petit, Mythos e Editora EME.
Do total dos livros que vieram a lume, oito são romances.
Os demais têm conteúdo diverso, mas sempre pautado nas
diretrizes espíritas.
Pode relacionar, por favor?
Voltou pela Lei do amor, Semeadura e Colheita, O Amor
e a Multidão dos Pecados, É Impossível Morrer, Reconcilia-
te primeiro, Dolorosa Colheita, Mãe Estou Aqui! e A Vida
Sempre Floresce (romances), Sempre Existirá Esperança,
Admirável Mundo Bom, Bom Dia Mesmo, A Cura Pela Fé, O
Amor Pelos Animais, Razões para uma vida melhor, Faça
sua Parte, FILHOS – Da sexualidade À Adoção, Das Drogas
À Deficiência Física, Descomplicando o Espiritismo.
Participação no livro Educação Do Desejo, do escritor
Orson Peter Carrara.
Como são construídos os romances?
Como disse, os assuntos sempre me procuram. Muitas
vezes julgo que aquilo a que dei início não se

6
desenvolverá, porque não consigo enxergar o meio e,
muito menos, o fim. Contudo, as coisas vão se encaixando
e acabam por ser concluídas. O que posso dizer é que uma
ideia inicial surge e a partir dela as coisas vão
acontecendo.
Desses livros todos, qual aquele que mais o
marcou?
Tenho imenso amor pelos animais. Não me considero,
como está em O Livro dos Espíritos, um deus para eles.
Sinto-os como meus irmãos mais jovens a quem devo
respeito e auxílio, da mesma forma como vivemos pedindo
ajuda aos Espíritos superiores. Por isso, o livro O Amor
Pelos Animais, em que desenvolvo o assunto da
progressão do princípio imortal pelo reino animal em
direção ao reino hominal, em homenagem a uma
cachorrinha que tivemos e a quem amamos muito, foi o
que mais me marcou os sentimentos.
O Descomplicando o Espiritismo, da Petit, foi
vencedor do Concurso Literário PETIT 30 anos.
Comente sobre a obra.
O interessante desse livro editado pela Petit é que
recebi o comunicado do Concurso “Saia da Gaveta” e achei
a ideia interessante. Ocorre, porém, que nada tinha nem
na gaveta física e muito menos na “gaveta” mental. Por
isso mesmo, esqueci o assunto. Depois de quase um mês,
com o prazo para o envio do material a se esgotar, todo o
conteúdo do livro surgiu-me rapidamente pela mente e o
transferimos para o papel, encaminhando-o para o
julgamento. Ficamos imensamente felizes com o resultado
e gostaríamos que os leitores dessa obra também se
sentissem da mesma forma.
O livro FILHOS, editado pela Mythos, como
surgiu?

7
O livro publicado pela Mythos, que nos honrou com o
prestígio dessa Editora, também não fugiu à regra. Não sei
dizer como ele surgiu ou como percorremos o assunto nele
contido. Esperamos, da mesma forma, que ele agrade aos
leitores que nos derem o carinho da sua atenção e que
esse livro possa ser útil de alguma maneira.
E sua experiência com o PONTO DE VISTA da
Revista Internacional de Espiritismo?
O jornal O Imortal, de Cambé-PR, na figura da doce
pessoa do inesquecível “paizinho” Hugo Gonçalves e O
Clarim, através da pessoa do senhor Aparecido Belvedere,
foram quem nos proporcionaram as primeiras
oportunidades da publicação de nossos artigos, creio eu
que pela década de noventa. A eles a nossa gratidão
perene. Participar da RIE é uma honra que não merecemos
e que acontece mercê da bondade desses confrades,
principalmente se nos lembrarmos que dela participou o
cultíssimo Wallace Leal Rodrigues a quem reverenciamos
física e espiritualmente após o seu desencarne. Sinto-me
atrevido em colocar a pena em órgão da imprensa espírita
que teve esse baluarte entre os seus colaboradores.
Nessa facilidade e empenho em escrever, qual a
experiência mais marcante de suas lembranças?
Naquilo que o autor escreve está o seu sangue, seus
ossos, sua alma, está todo o seu ser num mecanismo
incondicional de entrega total ao leitor de boa vontade.
Quando isso é reconhecido através de alguma comunicação
entre o leitor e o autor, ocorre a consumação dessa
entrega, em que aquele que oferece se vê resguardado no
íntimo daquele que o recebe. Tive oportunidade de ter
algumas situações em que isso ocorreu e esse
reconhecimento ressoa em mim como um alento para não
parar.

8
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Só tenho a agradecer a todas as Editoras que nos dão
oportunidade de sair de nós mesmos e realizarmos o
mecanismo de entrega aos leitores, mesmo que nossa
parcela seja a mais ínfima de todas. É do pequeno que um
dia surge o grande. É do pouco, muito pouco, que um dia
surge algo maior. Sem essas oportunidades viveríamos
egoisticamente nossas meditações por mais simples que
elas sejam e menor valor que possam conter.
Suas palavras finais.
Meu amigo, minha amiga, abrace o seu tesouro real
que é o tempo presente. Do passado só traga as lições.
Deixe o fel da derrota entregue ao esquecimento do
tempo. Do futuro, contemple o aceno da esperança em
dias melhores. Mas o nosso tempo real é o presente. O
passado já se foi. O futuro quem sabe se existirá? Mas o
momento do agora é concreto, é o real. Agarre-se a ele e
faça de cada dia um hino de realizações de um homem
melhor que quer e realiza em si mesmo a parcela de um
mundo novo onde o Amor seja um sol perene e onde o
ódio seja apenas um sonho mau que nunca mais irá voltar.
Muita paz!

Após a publicação da entrevista, ou seja, de 2015 até a


presente data, Ricardo Orestes Forni publicou os seguintes
livros:
– no gênero romance: O Anjo Da Guarda (EME),
Triângulo de Paixões (Mithos), A Aprendiz Do Amor (Petit),
As Propostas do Amor (IDE), O Amor Prossegue (EME),
Elos de Ódio (EME), O Ódio e o Tempo (EME);
– em outros gêneros: Sorria, você já é feliz (EME),
Herdeiros da Imortalidade (EME), Conhecereis a Verdade

9
(EME) e o último: Chico, histórias e lições (EME), além da
participação nos livros O Veterinário de Deus (EME) e
Fome De Quê (EME).
No curso da atual pandemia, ele vem participando de
um encontro virtual locorregional aos domingos para o
estudo da Doutrina Espírita e, semanalmente, do grupo Luz
e Paz.

A direção da EVOC

10
Trocando ideias

Creio que o leitor merece uma explicação sobre o título.


Não somente sobre o título, mas sobre cada tópico do
conteúdo. Afinal, cada livro nasce também em função da
pessoa que possa apreciá-lo e quanto melhor explicado for,
tanto melhor para se alcançar o objetivo da utilidade do
que se escreve.

Pois bem. Trocando ideias surgiu ao refletirmos sobre o


silêncio de Jesus quando indagado pela triste figura de
Pilatos sobre o que era a Verdade.

Ora, a Verdade absoluta e infinita é Deus! E os Espíritos


deixaram bem claro na questão de número dez do Livro
Dos Espíritos que o homem não pode compreender a
natureza íntima do Criador. Portanto, a que distância
estaremos de compreender o que seja a verdade da
existência, tanto quanto em relação à Verdade sobre a
qual Jesus preferiu o silêncio na presença de Pilatos?

Por essas poucas colocações resolvemos nomear como


título desse livro Trocando ideias, para que fique bem claro
que em nenhuma de suas frases ou parágrafos tivemos a
distante pretensão de esgotar qualquer assunto ou de ser,
como é hábito expressar, donos da verdade.

Estamos apenas trocando ideias.

Quando trocamos ideias ficamos abertos para a


concordância do que está sendo exposto, também como
para a discordância de parte ou tudo sobre o que vai ser
discorrido. É dos embates construtivos que evoluímos e
nos aprofundamos em direção aos porquês da existência.

11
O importante é darmos sempre um passo à frente
desprovidos de orgulho e de egoísmo em busca da luz
interior retirando-a de debaixo do alqueire como Ele nos
recomendou.

Como somos observados pelas Leis do Pai de acordo


com as nossas reais intenções, estamos de consciência
tranquila para convidá-lo a trocar ideias conosco no
transcorrer das páginas desse pequeno apanhado de
colocações, concordando ou discordando de cada uma
delas, mas sempre caminhando em busca da Verdade
possível de ser conquistada.

Se você concordar e estivermos certos, estaremos


dando um passo a mais em direção ao objetivo de todo
Espírito imortal que é de se integrar cada vez mais na Obra
da Criação.

Se discordar e estiver certo, da mesma forma nos


alegraremos e buscaremos segui-lo em busca do
conhecimento indispensável ao nosso progresso como
seres imortais.

Vós sois deuses! – disse-nos Jesus. Tomando desse


norte definido pelo nosso Mestre e Senhor, fica a proposta
de trocarmos ideias em caminhada determinada para
aproximarmo-nos D’Ele e da Verdade.

Ricardo Orestes Forni

12
O sonho da lagarta

Escrevo essa página três dias depois da desencarnação


do meu filho. O coração ainda sangra. A alma dói porque,
ao contrário do que muitos pensam, o espírita não é feito
de bloco de mármore. Se existe amor, é natural que exista
a dor e as lágrimas. Só a revolta, a blasfêmia e o
questionamento a Deus é que não comportam espaço na
concepção do espírita. Estou tendo forças, às duras penas
evidentemente, a quem me pergunta sobre a “perda” do
meu filho para responder que não o perdi, apenas o
devolvi ao verdadeiro “dono”, Senhor de nossas vidas que
é Deus.

No velório do corpo me surgiu essa concepção a quem


dei o nome de “sonho da lagarta” e reparto com você
desejando que nunca passe pela mesma experiência.

Uma velha lagarta se rastejava pesadamente sobre o


chão duro do terreno onde passava as horas do seu dia.
Tinha dores pelo corpo à semelhança da pessoa idosa que
desenvolve o processo de inflamações e desgastes das
articulações (juntas) do corpo e que dificulta a marcha,
impondo muitas vezes, além da dificuldade para se
locomover, o processo de dor crônica que limita e
transtorna os hábitos do dia a dia.

A velha lagarta de alguns dias de vida que para ela


semelhava a um longo tempo de existência se deslocava
em direção a uma árvore que servia-lhe o alimento através
de suas folhas verdes.

Arrastando-se pelo chão sujo e duro o animal


reclamava:

13
– Ô vida dura, meu Deus! Tenho dificuldade para andar
e ainda preciso subir novamente na velha árvore para
comer as mesmas folhas amargas de sempre! Ô vida! Se é
que isso pode ser chamado de vida!

Nisso, passou uma linda borboleta que parecia dançar


um balé formoso deslizando pela brisa com o auxílio de
asas coloridas e belas.

A velha lagarta, com dificuldade, moveu o pescoço para


cima e teve tempo de contemplar o voo belíssimo da
companheira alada.

Isso aumentou o sofrimento dela que retornou às suas


reclamações.

– Essa voadora que vai para onde quer é a prova de


que minha vida é muito ruim! Seria melhor não existir do
que viver como vivo! Não é justo que eu rasteje enquanto
ela é a princesa do ar!

Para piorar ainda mais as queixas da lagarta, a


borboleta pousou numa bela flor recentemente aberta em
um galho que se estendia como a oferecer-lhe a saudável
refeição. O animal alado introduziu sua trompa no interior
da flor e sorveu o néctar dos “deuses”!

A lagarta não perdeu tempo e retornou recheando


ainda mais de amargura as suas queixas:

– Essa vida não é justa mesmo! Eu tenho que comer


essas folhas amargas depois de me arrastar pelo chão e
subir nas árvores. Enquanto isso, ela se alimenta das flores
que ela alcança voando e longe do chão imundo! Onde está
a justiça dessa vida?!

Depois de se alojar com muita dificuldade próxima à


folha que lhe serviria de alimento, ela ouviu uma voz grave

14
e pausada que vinha do alto da árvore:

– Minha filha, você acredita que um dia alçará voo


como a borboleta que acabou de contemplar?

A lagarta assustada por não entender a origem daquela


voz misteriosa, indagou:

– Quem conversa comigo e tenta me iludir com


tamanho sonho? Como posso acreditar que um ser que
rasteja como eu, um dia poderá voar?! Como acreditar que
um dia largarei essas folhas amargas como alimento em
troca do néctar de uma flor?! Oh! Não! Isso não é verdade!
Encerrarei meus dias arrastando-me e amargando essa
vida injusta!

– Então, minha amiga, não crê nisso? – insistiu a voz


desconhecida para a lagarta.

– É claro que não! Isso é um absurdo! Se acreditasse


nisso, estaria completamente fora do meu juízo!

– Mesmo assim, que a Lei seja cumprida! – completou


a mesma voz grave que parecei vir da parte mais alta da
árvore onde a lagarta se instalara.

Ela ainda tentou levantar a cabeça com grande


dificuldade para ver se conseguia localizar a origem
daquelas palavras, sem conseguir. Acomodou-se da melhor
maneira possível no galho em que se dependurara.

Estranhamente começou a sentir um sono muito


grande que foi vencendo suas forças em permanecer
desperta. Acabou entregando-se a ele.

Lentamente foi adormecendo e começou a sonhar com


a beleza e o voo da borboleta.

Enquanto sonhava, porém, do seu corpo foi se

15
desprendendo fios de prata que se enroscavam em
pequenos gravetos aqui, ali e acolá.

A lagarta não percebeu, mas acabou aprisionada numa


espécie de cárcere construído pelos fios e gravetos.

Depois de um determinado tempo de Deus, ela


despertou assustada! Sua barriga grande e mole com a
qual se arrastava no chão para caminhar havia
desaparecido.

– Como vou fazer para me locomover agora?! –


perguntou aflita. E começou a se agitar dentro daquela
prisão escura.

De repente percebeu que do corpo antes disforme


partiam duas espécies de braços como se fossem... como
se fossem asas!

Sim! Parecia ter asas como da bela borboleta! Seu


corpo gordo tornara-se esguio como se usasse um antigo
espartilho das mulheres dos séculos passados!

Agitou-se ainda mais procurando pela liberdade de


movimento. Não queria ficar presa naquele lugar estranho.

Agitou-se tanto que acabou despencando da prisão e,


para seu enorme espanto, começou a se erguer no ar!
Liberdade! Liberdade nunca antes conhecida! Liberdade
nunca antes sonhada! Tinha asas e cores belíssimas! Seu
corpo era bem definido. Ao invés de mastigar, tinha meios
de sugar o néctar das flores! Não precisava mais amargar
as folhas verdes como alimento. Agitou as asas e ganhou
mais altura. Sentiu que bailava no ar!

Lembrou-se da voz! Era verdade! Ela já não era mais a


lagarta informe. Tudo mudara para melhor! Ela, agora, era
uma belíssima borboleta! O ar ganhara mais uma bailarina

16
e as flores mais uma visitante!

Como disse no início, essa versão da lagarta e da


borboleta surgiu no velório do meu filho que estava no
casulo do corpo físico como todos os encarnados estão.

Entretanto, creiamos ou não na “Voz”, um dia sairemos


desse local para “voar” em direção para regiões sublimes
onde imperam a paz e a felicidade plenas. Um dia seremos
“bailarinos” a esvoaçar entre as estrelas e cultivar o amor
por entre os raios de prata do luar!

Lembro-me de coração sangrando desse filho e envio


mentalmente a ele esta visão que a Vida nos apresenta
sobre O sonho da lagarta.

Não te perdemos, apenas tu voltaste antes para a


verdadeira dimensão da Vida imortal.

Voltaremos a nos encontrar porque é da Lei!

Voltaremos a nos encontrar porque somos imortais.

Voltaremos a nos encontrar porque somos bailarinos da


eternidade.

Então, até lá meu filho! Que a misericórdia de Deus te


acolha nos braços como um dia te tivemos nos nossos.

Quando da vontade do Pai, nos encontraremos no


brilho das estrelas e na poesia do luar!

17
O frasco de perfume

Célia era uma senhora sexagenária com uma boa quota


de trabalho na Doutrina espírita em favor de encarnados e
desencarnados sofredores.

Os cabelos grisalhos mesclados nas cores branco e


cinza emprestavam um ar de respeito ao rosto que sempre
abrigava um sorriso acolhedor, antes mesmo que as
palavras de consolo fossem pronunciadas.

Ao lado da sua residência morava uma vizinha chamada


Margarida um pouco mais nova que lutara com grandes
dificuldades financeiras para criar o filho, abandonada que
fora pelo companheiro que preferiu partir em busca de
aventuras logo nos primeiros anos do compromisso
assumido.

O filho moço, razão de viver daquela mãe lutadora,


desencarnara havia poucos dias de acidente
automobilístico.

Márcio – esse era o nome dele – começara trabalhar


bem cedo para auxiliar a mãe nas despesas de casa. Com
o auxílio da progenitora comprara uma moto de terceira
mão para deslocar-se até o serviço que ficava a uma boa
distância da residência. Jamais utilizava o veículo para o
divertimento próprio já que entendia a responsabilidade
que a vida depositara em seu lar desde sua adolescência.

Era, para resumir, o filho muito bem equilibrado e


cônscio de suas obrigações que toda mãe desejaria. Bem
afeiçoado fisicamente, evitava mesmo o namoro para que
não se comprometesse e nem ocupasse o tempo de moça

18
nenhuma enquanto não tivesse as condições para
compromissos mais sérios.

Contudo, o acidente acontecera com total isenção de


culpa desse jovem já que dirigindo com todo cuidado que
se deve ter no trânsito, foi atingido por um veículo
desgovernado que tinha ao volante um motorista
embriagado.

Dessas tragédias em que só encontramos explicações e


consolo nos ensinamentos espíritas.

Acontece que a mãe de Márcio não tinha nenhuma


noção de espiritualidade de acordo com as orientações
doutrinárias do espiritismo.

Célia sensibilizada e entristecida pela dor de Margarida,


pediu auxílio aos Espíritos amigos para que fosse portadora
de algum bálsamo para aquele coração materno que
enfrentava a maior das dores que pode se abater sobre um
ser humano, principalmente quando a ideia da morte
implica em um final irreversível e a separação do ser
amado para todo sempre ou por um período indefinido que
exacerbava ainda mais os sofrimentos.

Pensou por algum tempo e decidiu comprar um frasco


de perfume, mas teve o cuidado de escolher um vidro que
não tivesse nenhum atrativo externo.

Logo em seguida dirigiu-se ao lar ferido pela fatalidade


da existência.

Bateu à porta que demorou ser aberta. Enquanto


aguardava ouviu o choro do coração materno que se
desfazia com a partida do ente querido, razão de todas as
suas lutas até então.

Enfim, após alguns minutos e novas batidas na porta,

19
ela foi aberta e a figura transfigurada pela dor naquela face
de mãe surgiu à frente de Célia que não disse nada no
primeiro impacto, apenas abraçando forte e ternamente
sua vizinha. Um abraço prolongado como se através dele
pudesse transmitir toda a solidariedade que o mundo
possuísse.

– Perdi meu filho, Célia! – afirmou a mãe de Márcio que


desabou em choro convulso após essas palavras.

– Minha amiga! Venho abraçá-la como a uma querida


irmã em Deus. Permita-me alguns minutos junto ao seu lar
e ao seu coração.

Margarida não respondeu, apenas apontou com as


mãos para que ela entrasse no lar humilde.

Poucas peças de mobília encontravam-se espalhadas


pela sala. Uma mesa pequena com lugar apenas para
quatro pessoas e duas poltronas envelhecidas completava
a decoração. Do grande vitrô pendia silenciosamente uma
cortina de tecido muito simples como a se oferecer para
enxugar tantas lágrimas que banhavam aquele lar.

Célia acomodou-se em uma das poltronas enquanto a


vizinha repetia mais uma vez em palavras que o pranto
entrecortava:

– Pois é, Célia! Perdi meu filho!

Célia que segurava o vidro de perfume que adquirira


nas mãos, colocou:

– Minha amiga! Trouxe-lhe um presente para ajudá-la


em tão difícil situação.

E estendeu o vidro para a mãe de Márcio.

Margarida pegou o objeto sem demonstrar nenhum

20
interesse em saber do que se tratava e depositou sobre a
mesa.

– Desculpe, Célia. Depois eu abro. Agora não estou em


condições.

– Se for possível abrir agora, eu agradeceria muito


minha amiga. – retornou Célia ao diálogo.

– Mas… Mas… – balbuciou a mãe de Márcio não


querendo ser grosseira e indelicada para com a vizinha que
parecia estar fora de si.

– Abra minha irmã! Abra, eu te peço por favor. –


insistiu Célia.

Sem a mínima vontade e somente para não ser mal


educada, Margarida pegou o pacote pequeno e dele retirou
um pequeno frasco de perfume alimentando o pensamento
de que “esses espíritas” realmente não tinham a mente em
ordem.

– Agora, se não for muita insistência da minha parte,


peço-lhe o favor de que aspire o perfume minha amiga. Só
por um segundo. Por favor! Faça isso por mim.

A mãe de Márcio novamente atendeu ao pedido de


Célia, retirou a pequena tampa do frasco e colocou, com
um pequeno toque, uma porção da fragrância no dorso de
sua mão esquerda. Na verdade Margarida queria que ela
fosse embora, sumisse de sua frente com aquelas atitudes.
Mas, como Célia sempre demonstrara ser uma pessoa
extremamente boa, conseguiu conter-se.

– Me responda só a uma pergunta e eu prometo que


irei embora e deixarei de importuná-la nesse momento em
que você experimenta a maior das dores minha amiga. –
ponderou Célia.

21
A mãe de Márcio, sem nada entender, segurando-se
para não explodir com aquela atitude e, até mesmo
achando que a vizinha enlouquecera, fez um sinal
afirmativo com a cabeça e aguardou a pergunta sem o
mínimo interesse.

– Gostou do aroma, minha querida irmã?

– Sim. É muito bom. – conseguiu balbuciar sem


nenhum entusiasmo a mãe sofredora.

– Percebeu que o vidro não é o responsável pelo


aroma, mas sim a fragrância que está em seu interior, não
é mesmo?

Com novo esforço a mãe de Márcio conseguiu


movimentar a cabeça afirmativamente.

Incontinenti, Célia deixou o frasco que voltara às suas


mãos cair sobre o chão e quebrar-se por inteiro. O aroma
extremamente agradável inundou o ambiente onde as duas
se encontravam.

A mãe do rapaz recém-desencarnado olhou com


extremo espanto para a vizinha convencida de que ela
enlouquecera.

Movimentou os lábios para demonstrar toda a sua


indignação contida até então, mas antes que pronunciasse
qualquer palavra, Célia começou a explicar:

– Pois então! O Márcio é o perfume minha irmã. O


corpo é o vidro que o contém. Você não perdeu seu filho. O
“frasco” do corpo “partiu-se” de encontro ao chão quando
ocorreu o acidente, mas o delicioso perfume continua
minha irmã! Você perdeu o frasco, mas não o perfume.
Quando nosso lar é abençoado pela presença de um filho,
nós confeccionamos um corpo, mas o perfume que é o

22
Espírito imortal vem de Deus! Márcio não se desfez.
Continua perfumando sua vida que não tem fim
exatamente como a dele, através das lembranças
amoráveis que ficarão para sempre em seu coração e a
aguardá-la para o reencontro certo entre aqueles que
verdadeiramente se amam. O perfume dele continuará
abençoando seus dias através de sua memória, do seu
coração e, quando o “frasco” do seu corpo se quebrar
como acontece com todos nós que estamos nesse mundo
da matéria, ocorrerá o encontro entre o “perfume” da mãe
que continua a amar com o “perfume” do filho que
abençoou a sua existência atual e poderão caminhar juntos
espalhando o aroma de Deus pelos mais variados
caminhos da vida imortal!

Ditas essas palavras, Célia se aproximou novamente de


Margarida e a envolveu outra vez num abraço de real
fraternidade que existe em todo aquele que consegue
sentir, verdadeiramente, a dor do seu semelhante.

Margarida inspirou profundamente o ar ambiente como


se tentasse sentir o aroma da imortalidade do filho querido
que a amiga espírita havia sugerido!

23
Meu Deus! Meu Deus!

Meu Deus! Meu Deus!

Por que me abandonaste?

Por que estás tão longe de salvar-me,

Tão longe dos meus gritos de angústia?

Está acima o Salmo 22 que, segundo a profecia, o


Messias enviado por Deus haveria de enunciar no alto da
cruz nos momentos de profunda angústia que atingiria o
Embaixador supremo do Criador perante os homens do
planeta Terra.

Na época em que Jesus esteve encarnado entre os


homens, existiam muitas figuras que se apresentavam
como profetas. Por isso, aquele que seria o verdadeiro e
único enviado de Deus haveria de apresentar uma espécie
de credencial para que fosse reconhecido, credencial essa
anunciada séculos antes de sua vinda em corpo físico até a
humanidade.

Podemos citar, de passagem, o batismo de Jesus nas


águas do rio Jordão por João Batista. João ficou espantado
ao ver Aquele a quem ele, João, não tinha o mérito de
desatar os nós de suas sandálias, à sua frente pedindo
para ser batizado! As Escrituras anunciavam dessa
maneira. Jesus pretendia com isso se revelar como o
Messias esperado e não apenas dizer que ele era o próprio
enviado, fornecendo mais esse sinal aos homens daquele
tempo.

24
Mas, retornando à nossa troca de ideias, por que teria
Jesus pronunciado essas palavras do salmo 22 nos seus
momentos finais do suplício na cruz?

Sempre lembrando que, absolutamente, não estamos a


excluir outras interpretações. Estamos apenas trocando
ideias.

Então, vamos lá.

Jesus falava o aramaico que era um dialeto da Judeia.


Portanto, Ele ensinava nesse dialeto durante o tempo em
que ficou vivendo e proporcionando ensinamentos às
pessoas a sua volta.

Acontece que, no alto da cruz, Jesus repetiu o salmo 22


em hebraico!

Qual teria sido a intenção D’Ele que sempre ensinou


falando o aramaico?

Uma hipótese interessante, muito interessante mesmo,


é de que Jesus mandava um recado para os sacerdotes do
Templo que falavam o hebraico! Perceberam?

Se Jesus recitasse o salmo 22 em aramaico, os


sacerdotes poderiam alegar que havia faltado a Jesus essa
prova para que Ele fosse considerado o verdadeiro
Messias!

Falando em hebraico não deixava nenhuma dúvida. Era


realmente Ele o representante máximo de Deus junto aos
homens.

Jesus como que passava mais um recibo sobre a sua


identidade espiritual conforme anunciavam as escrituras.

Outras explicações existem sobre esse momento da


cruz como a possibilidade de Jesus estar ensinando mais

25
alguma coisa aos homens daquela época e de outras eras.
Mas, como Ele sempre ensinou em aramaico, acreditamos
que se fosse deixar mais alguma lição nesse momento
crucial da sua existência física, continuaria a ensinar em
aramaico, não havendo necessidade de falar em hebraico.

Foi um recado com endereço certo. E esse endereço


certo era para os sacerdotes do povo judeu.

Mas, calma! Como estamos apenas trocando ideias,


registramos essa hipótese, ficando cada um com o total e
absoluto direito em concordar ou não.

Trocar ideias não é, em absoluto, impor opiniões.

26
Espírita gosta de sofrer!

Espírita gosta de sofrer ou sofre com gosto?

Confuso? Pois é! Não sei de onde tiram determinados


conceitos sobre os espíritas.

Muitas poucas pessoas, talvez por um julgamento


brando, vejam nos espíritas um ser humano
pretensamente mais evoluído do que os outros.

Muitos afirmam isso por ironia, por citarem que os


espíritas vivem falando em sofrimento e procurando se
consolar com explicações estapafúrdias no julgamento
dessas pessoas, baseando-se os espíritas em vidas
passadas, quando não em causas do presente momento.

Seja lá como for, fiquemos meditando entre a gente,


espíritas, sobre a afirmativa acima.

Então, como ficamos: gostamos de sofrer ou sofremos


com gosto?

Como fomos criados por Deus para sermos felizes,


nenhum ser humano gosta de sofrer, creio eu.

Sendo o espírita também um ser humano e com o


mesmo destino de todas as criaturas do Senhor do
Universo, também não gosta de sofrer.

Aliás, na questão de número 614 de O Livro Dos


Espíritos, é colocada de maneira muito clara que o homem
somente sofre quando se afasta das Leis de Deus. Ou seja,
sendo o Pai sinônimo de Amor, Ele também não destinou
sofrimento a nenhum dos seus filhos. O sofrimento é

27
consequência educativa do afastamento das Leis de Amor
que regem o Universo. Se preferirem, que regem os
multiversos já que, segundo alguns autores, existem vários
Universos.

Mas, em resumo, o espírita então também não gosta de


sofrer.

Mas sofre com gosto?

Aí a coisa muda de figura.

Se interpretarmos ao pé da letra a afirmativa, a


resposta é não!

Mas se procuramos o sentido velado, a resposta é sim.


O espírita sofre com gosto! Sim! Sofre com gosto porque
entende a dor como mensageira de algo bom para o
Espírito imortal, embora não o seja para o homem que se
inicia no berço e termina no túmulo. A dor é o degrau da
escada que nos permite escalar paulatinamente do átomo
ao Arcanjo!

E como aprendemos que o sofrimento só traz todo o


seu ensinamento quando não sofremos revoltados,
procuramos sofrer com gosto, ou seja, longe da revolta, da
blasfêmia, para que todo ensinamento de que a dor é
mensageira chegue de forma plena a cada um de nós.

Quantos exemplos magníficos temos nos grandes vultos


da humanidade que passaram pelo sofrimento de maneira
tão grandiosa, deixando-nos lições imortais!

Citar nomes é correr o grande risco de não fazer justiça


a esses vultos.

Mas, como estamos muito distantes da perfeição


possível de ser alcançada, vamos correr o risco, errando

28
com certeza, mas movidos pela boa intenção.

Francisco de Assis, Allan Kardec, Chico Xavier, Madre


Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Albert Schweitzer, Martin
Luther King Jr., Mahatma Gandhi, os primeiros mártires do
Cristianismo que eram barbarizados de muitas maneiras
pela maldade dos dominadores da época e tantos outros
que a sua memória quiser incluir nessa lista que se
estenderá para muito longe.

Diante dessa realidade, oremos pedindo ao Senhor da


Vida que nos dê sempre forças para que cada vez mais,
embora não gostando de sofrer, soframos com gosto até o
dia em que libertos das nossas mazelas íntimas, possamos
ingressar no reino dos bem-aventurados!

29
Sofrer no umbral e na Terra, por quê?

Como não gostamos de sofrer, vivemos advogando em


nossa defesa para nos livrarmos das dores, dos problemas.
É muito válido não gostarmos do sofrimento porque não
fomos criados por Deus com esse objetivo. O problema é
que não nos lembramos de nos prevenir contra o
sofrimento quando fazemos ao próximo o que não
gostaríamos que o próximo nos fizesse. Nesse momento
lamentável de nossa existência é que marcamos encontro
com as lições necessárias ao nosso crescimento espiritual.

Daí é que surge pergunta como essa: se o Espírito já


sofre no mundo espiritual nas regiões em que estagia por
consequência de sua semeadura, ainda tem que
reencarnar e sofrer também no corpo físico? O sofrimento
do umbral não teria sido suficiente perante a misericórdia
de Deus?

Vamos trocar ideias sobre esse ponto.

Para os espíritas, o sofrimento não se trata de punição.


Esse conceito precisamos não perder de vista na
interpretação dos acontecimentos do dia a dia.

O Deus bravo, irado, vingativo que mandava passar os


inimigos derrotados a fio de espada, o Deus que tinha um
povo preferido ensinado por Moisés, teve esse conceito
modificado com a vinda de Jesus que nos apresentou um
Deus que é Amor e que é Pai de todas as suas criaturas!

Portanto, conhecemos a partir da vinda do Governador


do planeta Terra, esse Deus que é infinitamente doce,
misericordioso, que não dá um pedaço de pedra a um filho

30
que lhe peça um naco de pão.

Entretanto, como acontece conosco aqui na Terra


quando temos a responsabilidade de educar nossos filhos e
educar não é transmitir conhecimento que as escolas
proporcionam, mas sim formar o caráter desses filhos,
muito mais haverá de fazer o mesmo o Criador.

Por isso, Deus educa o filho imortal que Ele num ato de
estremado amor colocou na vida imortal. Não pune. O
sofrimento tem a função educativa para nos conduzir à
perfeição que podemos atingir, quando então
mergulharemos na felicidade e na paz absolutas que ainda
sequer conseguimos conceber.

Sofremos quando nos afastamos das Leis de Amor que


reinam no Universo. Deus não envia a dor em nossa busca
como se fôssemos foragidos que precisam ser encontrados
e punidos. Não! A consciência endividada gera em si
mesmo o sentimento de remorso que deve evoluir para o
arrependimento das faltas cometidas e que acabam por
solicitar das Leis misericordiosas novas oportunidades para
reparar o mal cometido. O remorso é um sentimento
destrutivo. É preciso muito cuidado com ele. Já o
arrependimento é o chamado sempre ouvido de um
coração que deseja modificar-se para melhor, constituindo-
se num sentimento sempre bem-vindo aos olhos dos
Espíritos que assessoram nossa caminhada evolutiva.

A função do sofrimento no umbral é proporcionar o


arrependimento para que possamos reiniciar nosso
prosseguimento em direção a Deus.

Prova disso são os servos da legião de Maria que


percorrem constantemente o vale dos suicidas em busca
daqueles que alcançaram o verdadeiro arrependimento.
Contam-nos os Espíritos que esses servos lançam redes

31
luminosas em direção aos sofredores que se agarram nelas
para sair daquele local. Quando o arrependimento é
verdadeiro são dali retirados e conduzidos para o devido
tratamento e novas oportunidades de recomeçar. Quando
o arrependimento ainda não trabalhou o Espírito de
maneira suficiente, as redes se rompem e o sofredor
permanece naquele local pelo tempo necessário para
reiniciar sua recuperação.

Pois bem. Se aqueles que vão para o umbral já sofrem


naquele local até arrependerem-se verdadeiramente, por
que então é necessário retornar a uma nova reencarnação
e enfrentar o sofrimento novamente? Se o Espírito já se
arrependeu nas regiões umbralinas não poderia continuar
sua evolução na dimensão espiritual? Por que a
necessidade de voltar a um novo corpo e enfrentar outros
sofrimentos?

Vamos tomar o exemplo da escola aqui da Terra. Os


alunos recebem as lições durante certo período de tempo e
depois são submetidos às provas para que o professor
observe se realmente aprenderam as lições administradas.

Deus sendo onisciente não precisa provar nenhum


Espírito. Ele conhece sua criatura na mais profunda da sua
intimidade. Contudo, o Espírito necessita verificar se
realmente progrediu para que sua consciência conquiste a
paz continuando sua marcha evolutiva.

Se sofreu no umbral e alcançou o arrependimento


necessário, cabe agora enfrentar situações que levem à
prova esse arrependimento e o desejo de modificar-se
realmente. É a associação da teoria à prática. É a
necessidade de reparar o deslize cometido ferindo o direito
do semelhante. Precisamos retornar ao local onde falimos
para um novo teste. Alcançou o arrependimento sofrendo

32
no umbral e, agora, vai testar se aprendeu as lições
experimentadas nas regiões de meditação profunda, da
mesma maneira que o aluno enfrenta a prova para avaliar
o seu aprendizado. E essa realidade não é para provar para
Deus se realmente melhoramos porque Ele já sabe, mas
para provar a nós mesmos essa nova realidade. Dessa
maneira vamos nos firmando em nossa caminhada
evolutiva e nos aproximando cada vez mais da perfeição
que nos aguarda.

E tem outro detalhe: não voltamos ao mundo físico


sozinhos. Somos acompanhados pelo nosso Espírito guia,
nosso anjo de guarda e pelos amigos encarnados que
retornam conosco dentro do lar ou próximo a ele. É
evidente que dentro de nossa casa aqui na Terra retornam
também aqueles a quem devemos, exatamente para ver se
as lições aprendidas na dimensão espiritual foram
realmente capazes de nos reformar intimamente. Como
conferir um certificado de término bem-sucedido de um
curso ao aluno que não passou pelas provas necessárias
demonstrando o conhecimento das lições que recebeu?

No umbral sofremos a dor interior que se constitui no


“inferno” particular de cada um para caminharmos em
direção à paz e a felicidade plenas que representam o
“céu” particular de cada pessoa.

O sofrimento educativo que experimentamos nas


regiões transitórias da dimensão espiritual precisa ser
confirmado para o bem da nossa consciência em novas
reencarnações onde experimentaremos encontros e
reencontros com nossos semelhantes para colocar à prova
o quanto melhoramos, o quanto evoluímos. É diante dos
convites do mundo material que colocamos à prova o
aprendizado conquistado na dimensão espiritual.

33
Sofremos no umbral para nos abrirmos às lições
necessárias à modificação de nossas atitudes e somente
sofreremos aqui na Terra se não tivermos realmente
incorporado as lições recebidas na dimensão espiritual, o
que nos levará a reincidir no erro e ao nosso afastamento
das Leis de Deus.

Está em nossas mãos abandonarmos a companhia tão


indesejável das dores que nos visitam. Para alcançarmos
essa realidade, atentemos ao alerta de Jesus quando
socorria as pessoas convidando-as a não pecar mais.

Pecar para nós espíritas é fazer a outrem o que não


gostaríamos que nos fizessem. Pecar é macular as Leis de
Amor que vigem permeando os infinitos mundos da Casa
do Pai.

Estamos trocando ideias. Mas o bom mesmo é trocar


ideias com a própria consciência sem amordaçá-la ou
anestesiá-la para atender aos valores do mundo.

34
Mundos de regeneração e mundos
transitórios

Com as mudanças todas que temos visto e observado


no planeta Terra, nossa atual escola das almas, é de bom
alvitre recordar algumas características do mundo de
regeneração e dos mundos transitórios.

Vamos nos valer da autoridade da Revista Espírita de


1865, mês de julho a seguir.

Suponhamos, pois, que em vez de Espíritos egoístas, a


Humanidade seja, num dado tempo, formada de Espíritos
imbuídos de sentimentos de caridade: em vez de buscarem
prejudicar-se, eles se ajudarão mutuamente, viverão
felizes e em paz. Não mais ambição de povo a povo e,
portanto, não mais guerras; não mais soberanos
governando ao seu bel-prazer, a justiça em vez do arbítrio,
portanto não mais revoluções; não mais os fortes
esmagando ou explorando o fraco; equidade voluntária em
todas as transições, portanto não mais querelas e
chicanas. Tal será o estado do mundo depois de sua
transformação. De um mundo de expiação e de provas, de
um lugar de exílio para os Espíritos imperfeitos, tornar-se-
á um mundo feliz, um local de repouso para os Espíritos
bons; de um mundo de punição, será um mundo de
recompensa.

Nossa! Que maravilha, não? Pois é. Atente bem para


essas colocações porque serão úteis na compreensão do
próximo tópico que iremos abordar na página a seguir.

E agora, vamos ao mundo transitório que é outra

35
realidade um pouco esquecida por alguns espíritas.

Continuaremos a nos valer dos ensinamentos da


Revista Espírita, agora do ano de 1859, mês de maio. Os
ensinamentos provem do Espírito São Agostinho.

Os mundos transitórios são habitados por Espíritos


errantes, ou seja, por Espíritos que ainda necessitam de
reencarnar em outros mundos de acordo com a sua
evolução moral. Eles são livres como aves que pousam
numa ilha para refazer as forças aguardando pelo
momento oportuno de seguirem rumo a outros planetas
onde reencarnarão.

Sim, os Espíritos que estagiam no mundo transitório


não ocupam uma veste física.

Esses mundos carecem de belezas naturais. São


estéreis porque os Espíritos que os habitam de nada
necessitam. Neles realizam estudos se preparando para
futuras reencarnações pelas muitas moradas da Casa do
Pai. Como tudo evolui na Obra da Criação Divina, esses
planetas também estão sujeitos à Lei de evolução.

Como podemos observar, encarnados ou não, a


evolução nos solicita ao estudo e ao trabalho sempre para
que cumpramos a determinação de Deus que é a de
atingirmos a perfeição possível de ser atingida.

Não sei a origem do famoso “descanse em paz” dirigido


àqueles que desencarnam, mas com toda a certeza esse
descanso só pode ser destinado ao corpo que retorna às
suas origens e não ao Espírito que, criado pelo Pai, retorna
como o filho pródigo ao seio do seu Criador com a festa da
consciência do dever retamente cumprido esperando
ansiosamente por ele!

36
Mundo de regeneração e mundo de Espíritos
regenerados

Parece a mesma coisa o significado do título acima?


Pode até parecer, mas não é como pretendemos trocar
ideias sobre esse significado.

Os planetas criados no Universo e entregues ao


comando dos Espíritos que já atingiram a perfeição
máxima que pode ser atingida, também evoluem. É uma
determinação divina. Consulte o capítulo III de O
Evangelho Segundo O Espiritismo, item 19, um
ensinamento de Santo Agostinho sobre essa realidade.

Dessa maneira, o planeta Terra que surgiu como um


mundo primitivo evoluiu para um mundo de provas e
expiações e continua a sua marcha evolutiva em direção
ao mundo de regeneração.

Flagelos ocorrem como nos elucidam os Espíritos


superiores com a intenção de acelerar esse progresso.
Basta analisarmos a história da humanidade que frequenta
essa nossa abençoada escola.

Mas, o que queremos destacar é que essa evolução é


lenta, embora progressiva. Kardec já nos falava sobre os
novos tempos, o caminhar da escola atual no progresso
dos mundos. Aliás, a bem da verdade, somos nós os
Espíritos que aqui reencarnam os autores dessa progressão
de mundo de provas e expiações para um mundo de
regeneração. Não é o planeta fisicamente falando que vai
dar origem a um mundo regenerado. São os alunos dessa
escola que irão progredindo científica e moralmente que

37
irão elevá-la na classificação das “muitas moradas da Casa
do Pai”.

Em resumo, nos encaminhamos para um planeta de


regeneração sem saltos, sem mudanças bruscas e
desorganizadas. Tudo segue um planejamento de tempo
muitas vezes lento, mas que não interrompe o seu
caminhar para frente.

A transformação para um mundo de regeneração na


realidade nasce dentro de cada Espírito vinculado ao
planeta que hora habitamos. A velocidade maior ou menor
está diretamente relacionada à velocidade com que
conseguimos realizar a implantação do reino de Deus em
nosso interior. Não existem milagres e nem segredos.
Cada ser humano o constrói em mais ou menos tempo ou
estaciona na conquista do mundo de regeneração. Esse
mundo de regeneração pelo qual tanto ansiamos muitos
aguardando erroneamente que ele venha de fora para
dentro, é construído exatamente em sentido contrário.
Nasce do nosso interior para fora quando cada um de seus
alunos caminhar em direção do mais necessitado que pode
ser auxiliado.

Reparem que a segunda colocação do título acima se


refere a um mundo de Espíritos regenerados! Ou seja, os
Espíritos que nele habitam já conseguiram conquistar as
reformas necessárias para concretizar e consolidar o
mundo de regeneração cujas características registramos no
capítulo anterior.

No momento atual ainda estamos na luta contra nossas


imperfeições para conquistarmos as qualidades necessárias
que concretize esse mundo regenerado.

Portanto, existe uma diferença de tempo entre um


mundo de regeneração e um mundo de Espíritos

38
regenerados quando as características do mesmo já se
fizer presente na convivência entre os homens.

Para exemplificar de uma forma mais clara,


imaginemos um aluno que ingressa no primeiro ano dos
seus estudos básicos desejando atingir uma determinada
profissão. Esse aluno somente receberá a graduação na
profissão escolhida quando concluir o último ano da
faculdade eleita por ele.

Nessa situação se encontra um determinado número de


Espíritos vinculados ao planeta Terra. Desejam o “diploma”
de Espírito regenerado, mas ainda não concluíram o curso
para que isso se concretize verdadeiramente. Não fomos
ainda “diplomados”! Estamos ainda realizando nosso curso
penosamente. Mas dia virá em que receberemos nosso
certificado de conclusão de estudo e veremos instalada na
Terra as condições enumeradas no capítulo anterior
quando os Espíritos nos ensinam o que encontraremos
num mundo em que a regeneração já se encontra
consumada.

Estamos em um número expressivo à espera desse


mundo de regeneração, mas ainda há uma boa distância
de um mundo de Espíritos verdadeiramente regenerados.

Queremos que seja mais rápido? Então caminhemos o


mais rapidamente possível para dentro de nós mesmos em
exercício que Santo Agostinho já nos ensinava no
Evangelho Segundo O Espiritismo, no qual buscamos o
mais precioso dos conhecimentos que é a arte suprema de
se autoconhecer.

Quanto mais apressados estivermos em identificarmos


nossas imperfeições, tanto mais rápido deixaremos de ser
um planeta em direção a um mundo de regeneração para
sermos verdadeiramente um planeta de Espíritos

39
regenerados.

A troca de ideias com respeito mútuo será uma das


características de um mundo de Espíritos regenerados.
Estamos conseguindo isso no livro em leitura?

40
Os flagelos são calendário?

O título estranho logo será explicado. Estou


perguntando se você acha que os flagelos que atingem a
humanidade seriam uma espécie de calendário que
marcaria a data do ingresso do planeta Terra num mundo
de regeneração.

Digo isso porque no meio dos espíritas, muitas pessoas


tendem a interpretar um flagelo como sendo uma data a
partir da qual a Terra estaria entrando na classificação de
um planeta de regeneração.

A humanidade conheceu muitos flagelos, infelizmente.


Eles são utilizados pela Providência divina como um meio
de acelerar o progresso dos Espíritos vinculados ao
planeta. Isso está muito bem explicado na questão de
número 737 de O Livro Dos Espíritos. Seria uma espécie de
empurrão de Deus para que o homem não fique
estacionado em meio aos sofrimentos, fruto de sua pouca
evolução e caminhe mais rápido na conquista da felicidade
para a qual foi criado.

A humanidade conheceu cinco flagelos que a fustigou


durante muitos anos. Alguns, por séculos.

A varíola, por exemplo, atingiu os homens por cerca de


três mil anos! Foram vítimas dela para citar algumas
pessoas, o faraó Ramsés II, Maria II, rainha da Inglaterra,
o rei Luís XV da França, além, é evidente, de milhares de
pessoas.

A peste bubônica, ou peste negra, talvez tenha sido a


doença que mais matou na história da humanidade.

41
Dizimou a população da Europa e da Ásia no século XIV,
causando a morte de 75 a 200 milhões de pessoas! É isso
mesmo que você leu! Reduziu a população mundial
drasticamente! E tudo isso devido à picada da pulga de
roedores que inoculavam uma bactéria – Yersinia pestis –
quando picavam para sugar o sangue. Formavam-se
abcessos por todo o corpo que drenavam pus repugnante e
levava a pessoa à morte sem os recursos na medicina da
época.

A cólera também vitimou centena de milhares de


pessoas.

No início do século XX, esteve visitando a humanidade


a gripe Espanhola que causou a morte de 40 a 50 milhões
de pessoas. Diga-se de passagem, que essa gripe não
surgiu na Espanha, mas foi o vírus levado para a Europa
durante a guerra por soldados norte-americanos.

A gripe suína, H1N1, que surgiu no México em 2009,


matou 16.000 pessoas e só não fez mais vítimas porque
uma vacina chegou a tempo de impedir.

Isso tudo para não adentrarmos nas tragédias das


guerras!

Por exemplo, na primeira guerra mundial morreram de


20 a 30 milhões de pessoas!

Na segunda guerra mundial 70 a 85 milhões de pessoas


foram vitimadas!

E isso só para citar de leve o assunto guerras!

Nas cruzadas em que os cristãos guerreavam contra os


mulçumanos faleceram de um a três milhões de pessoas.

Já imaginou então, na guerra dos Cem anos entre a

42
França e a Inglaterra? Cem anos de guerra, uma pessoa
matando a outra! É demais, não é?

Como você já deve estar cansado de tanta tragédia,


voltamos à pergunta: os flagelos seriam uma espécie de
calendário para indicar quando a Terra entrará na posse da
condição de um planeta de regeneração?

Em minha opinião com a qual não sei se você


concordará ou não, é que não. Os flagelos não indicam
uma data limite a partir da qual estaremos ingressando em
um planeta de regeneração que, como já mencionamos,
não está nas mudanças exteriores que possam
comprometer o planeta, mas sim no interior de cada
Espírito vinculado à escola da Terra e desejoso de habitar
um mundo moral de melhores condições para todos.

43
O momento da caridade

Fora da caridade não há salvação!

Qual o espírita que já não leu ou ouviu referência sobre


essa verdade ensinada pelos Espíritos Superiores?

Se quiséssemos complicar, invocaríamos a questão de


número 886 de O Livro Dos Espíritos onde os mensageiros
do Mundo Maior esclarecem que o verdadeiro sentido da
palavra caridade como a entendia e praticava Jesus, é a
benevolência para com todos, indulgência para com as
imperfeições alheias, perdão das ofensas.

Não importa que ainda estejamos muito longe dessa


plenitude da caridade. Temos a referência que devemos
atingir um dia pelos caminhos da evolução. Devagar, muito
lentamente, engatinhamos em direção a ela.

Um número determinado de Espíritos vinculados ao


planeta Terra ainda não se sensibilizam para nenhum tipo
de caridade.

Outra porção já pratica uma escala da caridade que vai


desde darmos o que nos sobra até começarmos a aprender
a doar de nós mesmos. Quando atingirmos esse estágio
avançado da doação de nós mesmos, estaremos mais
próximo da questão 886 mencionada pelo Livro Dos
Espíritos.

Mas, em que momento surge a caridade em nossa


vida?

Para trocarmos ideia sobre esse instante, vamos


recordar a parábola do bom samaritano tão célebre e bela

44
do Evangelho.

Sem querer tornar-me cansativo, permita-me apenas


lembrar o início dessa parábola.

Um homem que descia de Jerusalém para Jericó, caiu


em poder de ladrões que o despojaram, cobriram de
ferimentos e se foram, deixando-o semimorto.

Por esse local passou um sacerdote que vendo o ferido,


passou adiante.

Em seguida, pela vítima do assalto, passou um levita


que teve a mesma atitude do sacerdote.

Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar


onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de
compaixão.

Ressaltei em itálico essas últimas palavras porque elas


são a chave da nossa meditação sobre o momento da
caridade.

O samaritano sentiu compaixão pelo ferido do caminho,


ou seja, o samaritano se identificou com a vítima! Se não
tivesse ocorrido essa sintonia, tudo o que veio depois não
teria acontecido. Sem compaixão o socorrista da Samaria
não teria deitado óleo e vinho nas feridas.

Se não tivesse sentido compaixão, o samaritano não


teria posto o ferido sobre o seu cavalo.

Sem compaixão, o bom samaritano não o teria levado a


uma hospedaria e cuidado dele.

Se não acontecesse a compaixão que é essa sintonia


com a dor alheia, o samaritano não teria pego dois
denários e dado ao dono da hospedaria pedindo que
cuidasse do ferido até o seu regresso.

45
Dessa maneira fica claro que para praticarmos a
caridade, principalmente aquela que nos recomenda os
Espíritos como sendo a praticada por Jesus, é
indispensável sentir o que o outro está sentindo em toda
extensão e profundidade de sua dor. Foi o que fez o
homem que descia de Jerusalém para Jericó. Sem essa
sensibilidade é impossível caminharmos em direção ao
aperfeiçoamento da caridade que estejamos praticando nos
dias de hoje.

Esse instante mágico em que nos identificamos com a


dor do próximo é o gatilho para a prática da verdadeira
caridade.

Existisse a compaixão pelo semelhante e a corrupção,


os mais variados tipos de crime, a impunidade e os demais
fatos lamentáveis através dos quais um ser humano é
capaz de ferir a outra pessoa não aconteceriam.

Me arrisco mais: existisse esse momento mágico da


caridade para com a Natureza e os animais reconhecendo
que tudo faz parte da obra da Criação Divina como
Francisco de Assis compreendeu, tudo seria muito melhor
para os homens que habitam o planeta Terra.

Porque ocorreu esse instante mágico da caridade, Jesus


entregou-se a um corpo de matéria densa para nos ensinar
o caminho da verdade e da vida.

Por esse instante grandioso da caridade para com


nossas imperfeições, Jesus rogou o perdão de Deus para
todos os seus algozes!

46
Os nossos flagelos

Tenho a impressão de que a pergunta número 737 do


Livro Dos Espíritos nunca foi tão consultada como nos dias
atuais de pandemia.

Com que objetivo Deus atinge a Humanidade por meio


de flagelos destruidores? – indaga Kardec.

Para fazê-la avançar mais depressa. – respondem os


Espíritos.

Pronto! Respiramos aliviados! Bem, não tão aliviados


assim com a ausência de tratamento comprovado
cientificamente e um tempo que é uma interrogação para o
surgimento de uma vacina eficaz muito esperada como a
mais benfazeja visita à Humanidade.

Parece que estamos a repetir dose semelhante de


ansiedade quando a AIDS começou a ceifar as suas
primeiras centenas de vidas nos Estados Unidos da
América, espalhando progressivamente seus tentáculos
para outras partes do mundo.

Quando em meados da década de oitenta do século


passado surgiu o AZT, aconteceu uma corrida desesperada
de pessoas contaminadas atrás dessa medicação que
proporcionava um alívio passageiro à crueldade da
moléstia que chegou a ser conhecida como um “castigo de
Deus”. Obviamente que esse raciocínio demonstra
esclarecer a bondade e a misericórdia do Pai que jamais
criaria filhos para destiná-los ao sofrimento quando o
objetivo é atingir a felicidade e paz absoluta colhida pela
perfeição a que todos temos direito.

47
Recuando ainda mais no tempo vamos encontrar a
epidemia da peste negra que, por coincidência, surgiu na
China no século XIV e esparramou para a Europa
vitimando em toda a Eurásia aproximadamente de 75 a
200 milhões de pessoas! Essa grave enfermidade pelos
escassos recursos da medicina da época, era transmitida
pela pulga de roedores que introduziam no corpo da vítima
uma bactéria, a Yersinia pestis, que fazia eclodir no corpo
vários pontos de necrose dos tecidos levando
inexoravelmente a pessoa à morte em grande sofrimento.
Tudo fruto de uma caça aos gatos por serem considerados
como a imagem do “diabo”. Mortos os felinos, os ratos se
reproduziram sem controle e, junto com eles, as pulgas
agentes da peste negra.

Ainda bem que a paciência do Criador é infinita como


tudo Nele!

Nesses tempos atuais Ele é muito lembrado como o


autorizador dessa pandemia que está a ceifar vidas e a paz
de número incontável de pessoas sobre o planeta Terra.

E a pergunta de Kardec se repete de maneiras


diferentes nas mais diversas vozes, nos mais distantes
rincões: por que, por que, meu Deus?!

Quando nosso alvo na atualidade diante dessa


pandemia se volta para o Criador, uma pergunta se impõe:
e os flagelos destruidores impostos pelo homem ao próprio
homem, acaso nunca existiram?

Vamos recordar alguns exemplos desse fato.

A primeira guerra mundial no século XX ceifou a vida


de aproximadamente vinte a trinta milhões de pessoas!
Exercício do livre arbítrio do próprio homem orgulhoso
promovendo flagelos!

48
Na segunda guerra mundial nesse mesmo século ceifou
a existência de aproximadamente setenta a oitenta
milhões de pessoas! Novamente o livre arbítrio do homem
egoísta em ação dando azo a novo flagelo!

Acredita-se que as guerras levadas a efeito nas


Cruzadas consumiram cerca de um a três milhões de
vidas! De novo o livre arbítrio do ser humano dando
origem a flagelos destruidores.

Quantos não padeceram na época da Inquisição?

Esses poucos flagelos mencionados impostos pelo


homem ao próprio semelhante, tem um “simples” detalhe:
todos poderiam ser evitados se o homem não fosse
portador de dose imensa de orgulho, vaidade, egoísmo,
fruto do desamor que abriga dentro de si!

De tal maneira que, esses flagelos que correm por


conta e iniciativa do ser humano contra outro semelhante,
clamam por um equilíbrio que a Providência Divina
providencia para educar o ser imortal.

Mas o flagelo atual, o coronavírus, tem uma


característica interessante! A Humanidade está se
abraçando no momento de dor.

Se não ficou claro, vamos esclarecer com outro


exemplo.

O tsunami no oceano Índico em 2.004 junto com um


terremoto que atingiu a Índia, a Tailândia e outros países,
ceifou a vida física de dois milhões de pessoas! O
sentimento foi o mesmo que estamos a sentir agora? Ou
aquelas pessoas estavam muito distantes de nós para nos
sensibilizarmos?

Em 2010 o terremoto no Haiti promoveu o desencarne

49
de um milhão de pessoas! Sentimos na mesma intensidade
como estamos a sentir nessa pandemia a perda de
existências preciosas? Ou as vítimas estavam muito
distantes de onde estamos na atualidade e, por isso
mesmo, não nos comovemos?

Então, essa dor atual que o vírus trouxe é muito


especial porque nos faz abraçar aqueles que estão do outro
lado do mundo, mas dentro do mesmo barco!

O ser humano se une, troca experiências, soma


esforços para que a ciência traga algum alívio a tão terrível
mal.

É exatamente dessa maneira que Deus nos educa para


podermos avançar mais depressa rumo a um planeta de
regeneração.

50
O banimento e a misericórdia

Todo Espírito encarnado que acredita na necessidade


da evolução moral para que possa continuar a habitar o
planeta Terra em marcha para um planeta de regeneração,
estará a meditar sobre essa realidade motivado pela
pandemia atual, formulando uma pergunta para si mesmo
em relação ao direito de retornar a essa escola abençoada
de almas, embora a pequenez material desse orbe em
relação ao Universo.

Valemo-nos dos ensinamentos de Kardec contidos na


Revista Espírita de 1866, mês de outubro.

Referimo-nos linhas antes à pandemia do coronavírus,


mas temos que observar que Kardec deixa claro que “os
tempos chegados” não se caracterizarão por um novo
dilúvio, nem um cataclismo, nem perturbação geral.
Ressalta ele que convulsões parciais do globo sempre
ocorreram em variadas épocas.

Essa transformação moral é necessária para que o


homem possa ser feliz na face do planeta quando a maioria
dos Espíritos, encarnados ou não, desejarem que o bem se
estabeleça de maneira maior entre as criaturas.

Retornando ao assunto do banimento daqueles que


persistirem no mal, anotamos o escrito por Kardec: “Sendo
chegado esse tempo, uma grande emigração se realiza
neste momento entre os que a habitam; os que fazem o
mal pelo mal e não são tocados pelo sentimento do bem
por não serem dignos da Terra transformada, dela serão
excluídos, porque aí trariam novamente perturbação e
confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Irão expiar

51
seu endurecimento nos mundos inferiores, para onde
levarão os conhecimentos adquiridos e terão por missão
fazê-los progredir.”

Confesso que senti com grande alívio a misericórdia de


Deus nas palavras que destaco em itálico que Kardec apôs
em seu texto: e não são tocados pelo sentimento do bem!
Passei a ter esperanças de poder retornar porque, se fosse
exigido uma condição mais rigorosa, poderia estar
preparando a mala como fez o grupo de Espíritos da
chamada raça adâmica.

Essa condição é reforçada em outro texto em que o


Codificador afirma: “Por esta emigração de Espíritos não se
deve entender que todos os Espíritos retardatários serão
expulsos da Terra e relegados a mundos inferiores. Muitos,
ao contrário, a ela voltarão, porque muitos cederam ao
arrastamento das circunstâncias e do exemplo; neles a
casca era pior que a essência. Uma vez subtraídos à
influência da matéria e dos preconceitos do mundo
corporal, a maioria verá as coisas de maneira
completamente diferente do que quando vivos, do que
tendes numerosos exemplos. Nisto são ajudados pelos
Espíritos benevolentes, que por eles se interessam e que
se desvelam em os esclarecer e em lhes mostrar o falso
caminho que seguiram.”

Honestamente, vi nessas linhas um retrato meu


descrito pela benevolência do autor da Codificação.

Consumei minha paz interior quando li algumas linhas


adiante das anteriores, a confirmação da colocação que
precedeu a essa: “Assim, só haverá uma exclusão
definitiva para os Espíritos rebeldes por natureza, aqueles
que o orgulho e o egoísmo mais que a ignorância, tornam-
se surdos à voz do bem e da razão.”

52
Estou salvo! Terei nova oportunidade na escola da
Terra!

Estamos recebendo em nosso orbe como tem sido


anunciado, Espíritos de planetas mais evoluídos que têm
migrado para a Terra em auxílio a essa transformação
moral em direção a um mundo de regeneração. Auxiliar e
não fazer por nós a parte que nos compete.

Se nossa casa necessita da mão de obra de um


pedreiro, ele comparecerá, fará os reparos, mas teremos
que fornecer o material necessário para a realização do
serviço e continuar cuidando da nossa moradia.

Se a pintura do local onde moramos necessitar de


reparos, o pintor realizará o serviço indispensável com o
material fornecido pelo interessado, mas temos a
responsabilidade de cuidar da nova pintura.

No caso do planeta de regeneração, o material que


teremos que fornecer aos Espíritos que vêm nos auxiliar é
a nossa boa vontade e a disposição firme de realizarmos as
transformações interiores que nos cabe fazer. É
interrompermos o mergulho para fora em direção às
conquistas dos bens materiais, dos títulos do mundo, dos
valores transitórios da terra e mergulharmos para dentro
na procura de aí instalar o reino de Deus convidando o
homem velho ceder lugar para o homem novo.

Agindo assim, a misericórdia de Deus permitirá a nossa


matrícula novamente no orbe terrestre regenerado!

53
A que distância estamos?

A que distância estamos de um mundo de regeneração?


Sabemos que a transição já vem acontecendo há muito
tempo. Kardec já nos falava sobre esse assunto. Por isso
mesmo, vamos nos valer da Revista Espírita de 1865, mais
precisamente do mês de julho para trocarmos ideias.

O Codificador começa por fornecer notícias de uma


comunidade de Koenigsfeld, perto de Villingen, na Floresta
Negra, onde quatrocentos habitantes viviam há cinquenta
anos em plena harmonia fornecendo um modelo de como
deveremos um dia agir perante a sociedade de um mundo
regenerado. Nesse grupamento de pessoas, nunca ocorreu
um crime; nunca houve um leilão de bens penhorado de
alguém; nunca nasceu um filho bastardo ou algum
envolvimento com fato policial.

Essa notícia lida na Sociedade de Paris deu ensejo à


manifestação espontânea do Espírito Lamennais. Em
seguida à comunicação desse Espírito, Kardec nos tece
considerações da qual vamos extrair alguns ensinamentos
que nos proporcionará um meio de avaliarmos a que
distância estamos do mundo tão sonhado de regeneração.

“A comuna de Koenigsfeld oferece-nos em miniatura o


que será o mundo quando for regenerado. O que é possível
em pequena escala sê-lo-á em grande? Duvidar disto seria
negar o progresso. Dia virá em que os homens, vencidos
pelos males gerados pelo egoísmo, compreenderão que
seguem caminho errado, e quer Deus que eles o aprendam
à própria custa, porque lhes deu o livre-arbítrio. O excesso
do mal lhes fará sentir a necessidade do bem e eles se

54
voltarão para este lado, como para a única âncora de
salvação. Quem os levará a isto? A fé séria no futuro, e
não a crença no nada depois da morte; a confiança num
Deus bom e misericordioso, e não temor dos suplícios
eternos.

Tudo está submetido à lei do progresso; os mundos


também progridem, física e moralmente; mas se a
transformação da Humanidade deve esperar o resultado da
melhora individual, se nenhuma causa vier acelerar essa
transformação, quantos séculos, quantos milhares de anos
não serão ainda precisos?”

Podemos considerar que os habitantes de Koenigsfeld é


uma pequena amostra do que aguarda a Terra toda
quando a caridade imperar entre aqueles que tiverem o
mérito de reencarnar nessa escola.

Como o próprio Kardec continua ensinando, não mais a


ambição ou as guerras! A disputa com um mais forte em
face ao derrotado onde pulula a orfandade, a viuvez, o
ódio, a fome, os destroços físicos e morais de uma
sociedade egoísta.

Não mais governos poderosos que impõem a “paz”


através de armamentos que ameaçam a própria
sobrevivência do planeta.

Não mais o mais forte se impondo ao mais fraco porque


nesse mundo regenerado não haverá essa distinção de
posição social.

Não mais a busca pela riqueza material por meio de


condutas corruptas e corruptoras.

Não mais a impunidade que vasculha nos meandros das


leis dos homens mecanismos de livrar da responsabilidade

55
aqueles que possuem os recursos necessários para,
inutilmente, se livrarem das consequências de seus atos
perante as Leis divinas!

Não mais as mãos que revolvem latas de lixo em busca


da migalha de cada dia para pacificar minimamente a dor
da fome.

Não mais aqueles que dormem expostos ao frio das


noites de inverno rigoroso, muitas vezes desencarnando
sob o rigor das intempéries.

Não mais aqueles que retornam ao mundo sem um teto


por mais humilde que seja para proporcionar um local de
retorno ao final de cada dia exaustos por um período de
labuta.

Não mais crianças violentadas dentro do local sagrado


do lar ou mendigando em sinaleiros de grandes cidades
para recolher migalhas de caridade dos que passam
indiferentes à dor alheia e depositam moedas de valor
desprezível nas pequeninas mãos súplices de seres que
retornam nessa difícil condição social.

“A comuna de Koenigsfeld compõe-se


incontestavelmente de Espíritos adiantados, ao menos
moralmente, se não cientificamente, e que praticam entre
si a lei de caridade e de amor ao próximo; esses Espíritos
se reúnem por simpatia nesse recanto bendito da Terra
para aí viver em paz, esperando que o possam fazer em
toda a sua superfície.” – observa Kardec.

Dessa forma podemos lançar mão do “metro” da nossa


consciência para avaliarmos a que distância estamos do
planeta de regeneração!

56
Os pertences daqueles que partiram

Vamos valer-nos de um ensinamento de Buda.

Uma jovem casada com um homem muito rico teve um


filho. O pai encantado com a criança, cada vez mais exigia
cuidados da mãe para com o rebento.

Um dia, porém, a criança brincando no jardim da sua


casa, enquanto a mãe realizava serviços domésticos no
cuidado com o lar, foi picada por uma serpente
extremamente venenosa.

A mulher desesperada tomou a criança nos braços e


saiu correndo pedindo ajuda a todos que encontrava pelo
seu caminho, enquanto a criança estertorava em seus
braços e morria.

Não querendo aceitar a morte, aquela jovem mãe


continuou a buscar auxílio para o filho que julgava ainda
vivo o que causava tristeza nas pessoas que percebiam a
morte da criança em seus braços.

Pedindo ajuda aqui, ali e acolá, a mulher acabou


encontrando um camponês sábio que indicou a ela a figura
de Buda, o Iluminado.

A moça com o filho nos braços estendido pediu a Buda


que lhe desse um remédio que curasse a criança.

Buda, então, recomendou a ela como último recurso


para o filho, que encontrasse uma semente de mostarda
negra e trouxesse até ele para restabelecer a saúde da
criança.

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Antes, porém, que a mãe desesperada partisse em
desembalada correria em busca da semente, o grande
iluminado explicou-lhe que deveria ser uma semente de
mostarda negra de um lar que nunca tivesse conhecido a
dor da morte.

E a jovem mãe partiu esperançosa de poder salvar a


criança e foi batendo de porta em porta. Na maioria delas
lhe estendiam o grão de mostarda. E ela sempre
perguntava se naquele lar a dor da morte já tinha se feito
presente.

A resposta era invariavelmente a mesma: sim, naquele


lar a morte já se fizera presente levando um pai ou uma
mãe, um irmão ou uma irmã, um filho ou uma filha.

Não havia exceção! A morte, sempre a morte a ferir os


corações!

Desolada, a jovem mãe retornou à sua vila, sentou-se à


beira do caminho antes de adentrar o vilarejo e ficou
observando. Viu o entardecer e as luzes do final do dia
ceder lugar ao escuro da noite. Meditou nesse panorama e
acabou por entender que a vida do homem era como o
entardecer cujas luzes acabavam por ceder lugar à
escuridão da noite, assim como a vida acaba por ceder à
dor da morte.

Enterrou o filho e procurou refugiar-se próxima a Buda


que esclareceu-lhe o seguinte: “A vida dos mortais sobre a
terra está envolta, atravessada e alterada pela dor. Porém
não há nenhum meio para aqueles que nascem deixarem
de morrer, após a velhice vem a morte. Assim o quer a
natureza dos seres vivos. Da mesma forma como os frutos
maduros chegam ao ponto de cair da árvore, também os
mortais, desde o instante em que nascem, caem no poder
da morte. Todos são submissos a ela. Entre os que,

58
assustados pela morte, abandonam a vida, o pai não pode
salvar seu filho, nem os mesmos da família seus pais.
Vede! Enquanto os pais olham e se lamentam com
amargura, a vida corporal do homem acaba partindo-se
como a vasilha de barro do oleiro. Assim, o mundo é
afligido pela morte e ruína, e é por isso que o sábio não é
desconcertado, porque conhece as leis do mundo.”

Esperamos pela morte dos mais velhos. O filho espera


pela morte dos pais ou de um irmão mais idoso.

A única morte que não ocupa lugar em nossa mente é a


possibilidade de acontecer a partida de um filho antes que
os pais. Parece que há uma inversão no calendário da
Natureza. Por isso mesmo, a dor dos pais que vêm o filho
partir antes, é a dor mais terrível conhecida pelo ser
humano.

Muitas pessoas protestam, blasfemam diante do ente


querido que desce à sepultura antes dos seus progenitores.

Uma ferida se abre na alma da mãe e do pai que


passam por essa experiência extremamente dolorosa.

O tempo vai, muito lentamente, colocando curativos


sobre a ferida que muito devagar vai cicatrizando.

Cicatriza, mas deixa a marca da saudade perene.


Nunca se esquece aquele que partiu. E não é para
esquecer mesmo, já que a ausência física não significa,
absolutamente, que o ser querido não existe mais. Apenas
não está visível aos nossos olhos, mas continua presente
na vida por determinação Divina já que somos Espíritos
imortais.

Mas, o tema proposto é para trocarmos ideias se


devemos ou não doar os objetos materiais daqueles que se

59
foram antes.

Utilizando do bom senso, a resposta de imediato à


partida é não. Não é recomendável dispormos daquilo que
ficou na fase aguda da dor da separação para não
reavivarmos a chaga aberta na alma.

Com o tempo, sem pressa, devemos, aos poucos,


muito lentamente, doando o que tenha ficado e que possa
socorrer a outra pessoa em nome do nosso ente querido
que se foi. Quando doamos em nome desse ser amado,
essa atitude cairá como bálsamo consolador sobre ele na
outra dimensão da vida.

Muitos perguntam se essa atitude não representa que


estaremos nos despojando das lembranças do ente
querido. Entretanto, o que importa, o que toca aquele que
continua vivo do outro lado da vida, são os sentimentos
que alimentamos sobre ele. Continuamos a querer-lhe
bem? Está sempre presente em nossos pensamentos na
certeza do reencontro futuro? Em nossas orações sempre
dirigimos a ele sentimento de um grande carinho, de um
amor que não morreu? Confiamos na certeza de que nos
reencontraremos com ele porque continua vivo? A
presença dele continua em nossa casa como se ainda
dispusesse do corpo como o nosso?

De nada adianta não doar nada daquele que se foi se


vivermos mergulhados na revolta e na incerteza da
continuidade da vida. Esses sentimentos fere aquele que
se encontra em outra dimensão.

Inúmeras cartas de Chico Xavier dirigidas às mães que


o procuraram no auge do sofrimento revelavam esse fato.
Filhos pedindo que os pais não chorassem mais. Que eles
continuavam vivos. Que foram recebidos com muito amor
e carinho por parentes desencarnados antes deles.

60
Manter um quarto intocável como muitos pais fazem
infelizmente e todos os dias se dirigir a esse local para
chorar, cai como doloroso desespero sobre os filhos que
continuam vivos e em contato emocional conosco.

Então, depois de um tempo adequado para viver o luto


daquele que partiu, devemos ir aos pouco nos despojando
dos seus pertences em nome deles e a favor de pessoas a
quem esses pertences possam socorrer de alguma forma.
Não existem pais que num gesto magnânimo de amor não
fazem a doação de órgãos de um filho que a morte colheu
de forma repentina?

Já imaginaram que bênção isso não representa para o


filho desencarnado quando outras pessoas continuam a
viver graças a esses órgãos? Como Deus que é a justiça
suprema não compensaria o desencarnado cujos pais
assim procederam?

Nada impede que guardemos alguma lembrança mais


querida ao nosso coração. Uma ou outra coisa. Uma
pequena lembrança.

Porém, guardar absolutamente tudo como justificativa


de que as coisas que ficaram representam a presença
daquele que partiu, pode ser causa de ficar reavivando a
chaga aberta na alma e ferindo os que se encontram do
outro lado da vida com a nossa tristeza e inconformação
perante os fatos da vida sob o comando da Providência
Divina.

Infelizmente, a semente de mostarda negra pode ser


encontrada, mas estará sempre maculada pela dor da
morte de alguém que já partiu…

61
Onde Ele está?

Quando alguma calamidade ocorre abatendo-se sobre o


ser humano, vozes materialistas rapidamente se levantam
lançando aos quatro ventos frases de famosos desafios!

Onde está Deus, que em toda a sua apregoada


bondade e misericórdia permitiu que isso acontecesse?

Se Ele realmente existisse, não teria permitido que tal


acontecimento vitimasse às suas criaturas!

Que Deus é esse que não moveu uma “palha” para


impedir que tamanho desastre vitimasse seus filhos?

E vai por aí afora as expressões de desafio embutindo o


sentimento de revolta que, na realidade, apenas tentam
confirmar em atitude inútil e desesperada e cada vez mais
vazia de concretude e verdade, a ideia da inexistência de
uma Inteligência suprema criadora de tudo e de todos.

Quando o banco está recheado de recursos, quando a


saúde física está plena, quando o sucesso é o companheiro
do dia a dia, quando tudo no lar caminha em paz, quando
os filhos seguem triunfantes a passos firmes e seguros em
direção ao propósito material da existência, quando, enfim,
o barco da existência navega por águas calmas, o
marinheiro não procura por nenhum autor dessa situação
toda. Ele mesmo, o “marinheiro”, é o total e pleno
responsável pelo sucesso dos seus dias.

Mas, quando a tormenta agita as águas da existência e


o frágil barco do corpo material é colocado sob ameaça,
onde estará o culpado do insucesso que se desenha na
linha do horizonte? Onde se esconde o antes triunfante

62
“marinheiro” quando tudo caminhava bem pelas águas
mansas da vida?

Passamos então, a nos valer dos ensinamentos dos


Espíritos contidos na Revista Espírita de 1866, mês de
outubro.

“Para o materialista, os flagelos destruidores são


calamidades sem compensação, sem resultados úteis,
porquanto, segundo ele, aniquilam os seres sem retorno.
Mas para o que sabe que a morte apenas destrói o
envoltório, eles não têm as mesmas consequências e não
lhe causam o menor pavor, porque compreende o seu
objetivo e sabe também que os homens não perdem mais
morrendo em conjunto do que isoladamente, uma vez que,
de uma ou de outra maneira, é preciso sempre lá chegar.

Os incrédulos rirão destas coisas e as tratarão como


quimeras. Mas, digam o que disserem, não escaparão à lei
comum; cairão por sua vez, como os outros e, então, o
que acontecerá? Dizem: nada. Mas viverão, a despeito de
si mesmos, e um dia serão forçados a abrir os olhos.”

O momento atual da pandemia que assola a face do


planeta deve estar sendo um banquete especial para os
negadores de Deus, de plantão. Entretanto, lançando mão
dos ensinamentos contidos na mesma Revista Espírita, no
mês e ano mencionados, diremos que a Covid-19 é um
desses movimentos gerais que se opera neste momento e
que deve desencadear o remanejamento da Humanidade.

Eis o texto: A multiplicidade das causas de destruição é


um sinal característico dos tempos, porque deve apressar a
eclosão dos novos germes. São folhas de outono que
caem, e às quais sucederão novas folhas, cheias de vida,
pois a Humanidade tem as suas estações, como os
indivíduos as suas idades. As folhas mortas da

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Humanidade caem, levadas pela ventania, para renascer
mais vivazes, sob o mesmo sopro de vida, que não se
extingue, mas se purifica.

Os flagelos destruidores como nos ensinam os Espíritos,


embora apresentem aos olhos físicos fenômenos dolorosos,
aceleram o movimento de vai e vem entre o mundo
corporal e o mundo espiritual fazendo com que o progresso
adquira maior dinâmica. Os que acreditam num mundo
onde o bem se faça mais presente, aqueles que creem na
aproximação lenta, mas progressiva, de um mundo
moralmente melhor, compreendem os objetivos da
Providência Divina. E como somos frutos do Amor, esse
amor presente em cada uma das pessoas não permite que
nos transformemos em blocos de mármore insensíveis
perante a partida de um ente querido vitimado pela
enfermidade atual. Sentimos a dor da separação mesmo
sabendo do reencontro futuro. Se nós partirmos ou se os
amores da nossa atual existência partirem, estaremos
apenas indo trocar de uniforme para retornarmos a uma
escola em reforma para aperfeiçoar aqueles que
retornarem imbuídos da real necessidade de construir o
reino de Deus dentro de si de maneira mais ampla, onde o
amor a si mesmo e ao semelhante e, por consequência ao
Criador, seja vivenciado da maneira como Jesus nos
convidou a fazer.

64
Pela experiência do sexo

Você já deve ter ouvido a expressão que resume


determinada discussão julgada inútil ou extremamente
difícil: “discutir o sexo dos anjos!”

É evidente que Kardec abordou no Livro Dos Espíritos


uma pergunta sobre o sexo nos Espíritos, por ser a força
sexual extremamente importante e poderosa nos homens,
Espíritos reencarnados.

A indagação está na questão de número 200 e a


resposta, para muita gente, é óbvia: os Espíritos têm sexo,
não como o entendeis, pois os sexos dependem do
organismo. Entre eles há o amor e simpatia baseados na
identidade de sentimentos.

Mas não foi só nesse livro que Kardec aborda o


assunto.

Na Revista Espírita de 1862, mês de junho, vamos


encontrar o Espírito Sanson que se manifesta na Sociedade
Espírita de Paris, pouco tempo depois do seu desencarne,
tratando-se, portanto, de um Espírito de considerável
evolução, abordando o assunto.

Kardec, então, pergunta a ele sobre o sexo agora que


Sanson estava desencarnado.

A resposta obtida confirma a do Livro Dos Espíritos:


“Não nos prendemos à natureza masculina ou feminina: os
Espíritos não se reproduzem.”

Diante dessa afirmação, gostaríamos de aproveitar para


alertar sobre colocações no meio espírita da existência de

65
gravidez no mundo espiritual. Como bem colocou o Espírito
comunicante, Espíritos não se reproduzem, portanto,
gravidez no mundo espiritual destoa completamente da
obra de Kardec.

E mais, Sanson completa a sua informação dizendo que


Deus criou a reprodução da raça humana como um
mecanismo de proporcionar a reencarnação de Espíritos
necessitados de passar pela experiência física. Para isso o
Criador permitiu ao Espírito encarnado utilizar-se de um
veículo apropriado a essa finalidade assim como nos
animais existem o macho e a fêmea.

Na mesma Revista Espírita mencionada, Kardec


arremata dizendo que os Espíritos não têm sexo, sendo
essa forma, essa morfologia do corpo material, um meio
para que novos corpos sejam confeccionados com a
finalidade de abrigar os seres imortais necessitados do
retorno à escola da Terra, deixando bem claro o
Codificador que os Espíritos não se reproduzem.
Portanto, gravidez no mundo espiritual não é uma
informação compatível com a Doutrina.

Em planos espirituais muito atrasados, habitados por


Espíritos ainda fortemente vinculados ao mundo das
sensações físicas e sem a evolução moral suficiente para
romperem com esses laços, essas criaturas podem plasmar
em seus veículos perispirituais órgãos semelhantes às
características masculinas ou femininas que possuíram no
mundo. Ainda assim, não ocorre gravidez entre os
desencarnados. Evoluirão por uma determinação divina
para libertarem-se desse condicionamento, quando então,
retornarão às suas características de Espíritos sem a forma
sexual terrena.

Mas falamos no título desse capítulo que os Espíritos

66
necessitam de passar pela experiência do sexo.

E o porquê dessa necessidade muitos indagarão.

Tudo muito simples. O sexo masculino proporciona


experiências próprias dessa forma do veículo físico. O
mesmo ocorre em relação às experiências proporcionadas
na vivência do sexo feminino.

Como a perfeição final que o Espírito pode alcançar


solicita toda uma coleção de lições, nada mais natural e
necessário que o ser imortal percorra os caminhos
inerentes ao sexo masculino e ao sexo feminino
aprendendo com um e com o outro gênero.

Dessa maneira, de acordo com a soma maior das


experiências ajuntadas ao seu material de aprendizado, o
Espírito apresenta temporariamente uma polaridade maior
para o sexo onde adquiriu mais aprendizado. Não se
apresenta no mundo espiritual como homem ou mulher
sexualmente falando, mas com as tendências psicológicas
desse ou daquele sexo. De acordo com a polaridade que
predomina masculina ou feminina, o Espírito constrói a sua
aparência no mundo dos Espíritos.

Uma pergunta muito comum no meio espírita é se o


Espírito volta sempre como homem ou como mulher.

Como dissemos linhas atrás, o Espírito precisa aprender


as lições de ambos os sexos quando encarnado. Pode
passar longo período apenas vinculado a uma forma física,
mas não para sempre.

Outra preocupação entre os encarnados é se o Espírito,


quando precisa ocupar um corpo físico com sexo diferente
daquele a que estava acostumado, se isso pode gerar um
problema psicológico para o ser imortal.

67
Aí depende da evolução espiritual de cada um. Se essa
transição for suave, compreendendo o Espírito a
necessidade de novas lições e não provocada por algum
trauma contra as Leis de Deus, geralmente isso se dá sem
nenhum problema.

Entretanto, pode ocorrer a mudança de sexo na


experiência física determinada por um mau emprego das
energias sexuais do Espírito enquanto encarnado.

Da mesma maneira como um Espírito pode empregar


mal a inteligência, a prova do dinheiro, a experiência do
poder, do saber, da beleza física e necessitar reparar o mal
praticado, ele pode empregar mal a sua passagem pelo
sexo masculino ou feminino disseminando sofrimentos
quando na vestimenta física característica de cada um
deles.

Usar do sexo para destruir lares, para induzir pessoas


ao suicídio, para gerar filhos que são abandonados, esposa
ou marido junto aos quais não soube honrar a presença
são alguns exemplos desses desequilíbrios.

As Leis de Deus que têm o objetivo de nos conduzir à


perfeição para a qual fomos criados, interrompe a
experiência no sexo que está proporcionando os
desequilíbrios daquele Espírito que é conduzido, então,
para experimentar uma ou mais vivência no sexo oposto.

Nessa mudança de sexo por violentar à Lei maior, pode


haver trauma, inadaptação do Espírito às novas condições
de vida no veículo carnal.

Nessa forma de aprisionamento providencial, o Espírito


pode se comportar bem ou dar prosseguimento às escolhas
erradas perante a energia sexual.

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Nesses casos surgem os conflitos entre a polarização
sexual acumulada em um determinado sexo e a aparência
do novo veículo físico.

A ciência estuda as variadas formas de inadaptação do


ser imortal às novas condições de vida que não cabe
nessas singelas linhas entrar em maiores detalhes.

O que vale registrar é que o Espírito, com o auxílio da


espiritualidade amiga, pode vencer os problemas que
surgem e sair-se vencedor das dificuldades que a vida
como encarnado vai apresentar-lhe.

Como inesquecivelmente nos ensinou Chico Xavier,


tudo passa.

É verdade que gostaríamos que aquilo que nos


desagrada enquanto encarnados passasse o mais rápido
possível. Mas, a Providência Divina não tem pressa porque
somos imortais. De nada adianta sairmos da escola sem
aprendermos a lição devido à pressa e termos que retornar
ao mesmo “ano letivo” que abandonamos, não é verdade?

O assunto comporta uma discussão muito maior e mais


profunda. Na verdade comporta até mesmo um livro.

Mas, como estamos apenas trocando ideias, vamos


parando por aqui para não nos tornarmos cansativos.

69
Previsão do tempo

Pois é! Essa é a melhor previsão de tempo que já li ou


ouvi.

Previsão do tempo: o tempo está passando!

Conforme se diz hoje, o tempo está passando muito


rápido!

Não sei se você concorda comigo, mas o tempo não


passa. Nós é que passamos pelo tempo.

E a maneira como passamos pelo tempo é que deve


nos preocupar muito, principalmente quem tem os alertas
da Doutrina.

Vamos a um ensinamento de Emmanuel através de


Chico Xavier: se queres conhecer o lugar que te espera
depois da morte, examina o que fazes contigo mesmo nas
horas livres!

Aí está! Acordo muito cedo e fico prestando a atenção


no barulho que vem das ruas. Carros e motos para cima e
para baixo como se estivessem à procura de alguma coisa.

É o Espírito encarnado absorvido pelos compromissos


da vida material.

Não estamos criticando porque temos que cumprir


nossos deveres para conosco mesmos sob o ponto de vista
de espíritos encarnados e perante a sociedade. Nem Deus,
suprema inteligência e sabedoria, exigiria isso da nossa
parte enquanto estamos mergulhados na carne. Temos
compromissos que precisamos cumprir da melhor maneira

70
possível como cidadãos de bem.

O problema é outro. Acabamos por nos entregar


totalmente em busca dos valores materiais não deixando a
menor cota de tempo para cuidar de nós mesmos, Espíritos
imortais!

Ficamos sabendo através de Divaldo pelo Espírito


Joanna de Ângelis, que Chico Xavier foi recebido por Jesus
quando desencarnou.

Ficamos deslumbrados com tal informação! Quem de


nós não gostaria de tremenda recepção em nosso retorno
ao mundo espiritual?

Entretanto, não paramos para pensar mais detida e


profundamente o que Chico fez de suas horas livres dos
compromissos como Espírito encarnado.

Ele nunca faltou um único dia no seu emprego para o


ganho suado e honesto do pão de cada dia. E quando
ficava livre do trabalho material, entregava-se de corpo e
alma ao compromisso espiritual da sua abençoada missão.

Poucas horas de sono. Quantas pessoas que reclamam


de ter dormido apenas oito horas por dia?!

Chico ouvia queixas seguidas de corações


amargurados. Quantos minutos temos de paciência para
escutar alguém necessitado?

Raras pessoas que se acercaram dele lembraram-se de


perguntar como Chico estava. Será que nunca ele precisou
de um coração amigo para desabafar algum problema ou
nunca encontrou esse coração?

Mesmo acompanhado praticamente a existência toda


por problemas de saúde, nunca deixou de atender aos

71
mais enfermos. Como nos comportamos quando um
simples resfriado nos visita?

Amava também aos animais porque entendia que eram


criaturas de Deus. O que fazemos nós a favor desses
nossos irmãos menores que de tanto auxílio necessitam?

Chico foi o arrimo de toda a sua família sanguínea que


era bastante grande. Que temos feito dentro do nosso
próprio lar?

Depois dos parentes biológicos, Chico abraçou a todos


os que o procuraram como verdadeiros irmãos aplicando
em seus dias a parábola do bom samaritano. Onde termina
nossa fronteira para com o nosso próximo? Nos parentes
de segundo ou terceiro graus?

Vejamos os exemplos de Divaldo Franco na Mansão do


Caminho. De quantas crianças foi o pai adotivo até
conduzi-las a bom termo do abandono à realização como
adultos honestos? A quantas crianças temos auxiliado além
de nossos próprios filhos?

Em quantas palestras sacrificiais, porque Divaldo nunca


se aproveitou para fazer turismo pelo mundo através de
suas conferências, ele não levou a palavras do Cristianismo
redivivo a países longínquos? Quantos núcleos espíritas
não surgiram pela sua presença inspiradora? O que temos
feito como espíritas para difundir esses ensinamentos?
Será que comparecemos a uma palestra mensal a nossa
Casa espírita? Será que procuramos a leitura esclarecedora
das obras básicas e complementares?

Allan Kardec sabia de suas condições comprometidas


de saúde. Mesmo assim, não abriu mão do seu trabalho
gigantesco em favor da humanidade para viver alguns
anos a mais dentro de um corpo de carne. Optou por bem

72
aproveitar suas horas livres.

Albert Schweitzer foi o maior intérprete de Bach no seu


tempo. Seus recitais eram grandemente concorridos.
Contudo, formou-se médico e para aproveitar suas horas
vazias, aprofundou-se no interior do continente africano
para cuidar de leprosos.

Irmã Dulce esmolava pelas ruas para conseguir


amparar os seus doentes do coração. Não tinha tempo
para ela mesma. Alimentava-se da mais reduzida cota de
qualquer produto destinado a manutenção do corpo.
Dormia sentada já que padecia de problemas respiratórios
por ter apenas um dos pulmões! Tudo para aproveitar as
suas horas livres. E nós com um corpo perfeito o que
temos feito em nossas horas vazias? Assistido a novela de
nossa escolha? Ficamos torcendo pelo time da nossa
predileção em frente a uma televisão? Nos acomodamos
sentado numa mesa para tomar cerveja com amigos?
Vamos ao clube dar um bronzeado na pele? Planejamos e
usufruímos de viagens de turismo para conhecer lugares e
culturas diferentes? E tem sobrado tempo para o ser
imortal que somos? Ou o homem físico tem absorvido
todas as nossas horas livres?

O que fizeram de suas horas livres Madre Teresa de


Calcutá, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Francisco de
Assis e quem mais você desejar incluir nessa lista que vai
longe?

Pois é! Essa previsão do tempo é realmente


assustadora dependendo de como temos utilizado as
nossas horas livres! O tempo está passando! Cada ano a
mais é um a menos na nossa cota de tempo aqui na Terra!

Chico Xavier foi recebido por Jesus ao desencarnar.


Soube aproveitar completamente suas horas livres.

73
Como temos utilizado o nosso tempo? Vamos nos
movimentar enquanto ainda é tempo?

74
O que tem feito dos seus talentos?

O capítulo XVI de O Evangelho Segundo O Espiritismo,


item 6, nos traz a parábola dos talentos.

Para entendermos um pouco mais por que Jesus lançou


mão dessa expressão – talento – vamos dar uma
recordada no que ela significava ou representava naquela
ocasião entre o povo daquela época.

Talento era uma unidade monetária de grande valor


para a época. Um talento equivalia ao salário de 15 anos
de um trabalhador comum!

Sua procedência remete à moeda romana, em ouro ou


em prata, que era a unidade maior no sistema monetário
daquele império. Um único talento de ouro em valores
atuais daria algo em torno de 60 mil reais
aproximadamente. Portanto, representava algo de imenso
valor.

Na parábola dos talentos encontramos o Senhor que


possuía diversos servidores e que se dispõe realizar uma
viagem longa para fora do seu país e resolve confiar a
esses servos um número variável de talentos esperando
que os mesmos cuidem de multiplicá-los.

Vamos procurar adaptar ao Espírito desencarnado que


em vias de reencarnação recebe do seu Senhor – Deus –
diversos talentos para multiplicá-los enquanto na carne.

Obviamente que, não se trataria para os Espíritos que


irão realizar uma grande viagem através de um novo
mergulho no corpo físico em um país distante – mundo de
provas e expiações – um valor monetário, uma porção em

75
dinheiro que deva ser multiplicado.

Não! Talento nesse caso se refere aos recursos que


trazemos quando reencarnamos e com os quais podemos
auxiliar na construção de um mundo melhor como está
acontecendo com a Terra que se encaminha para um
mundo de regeneração. Está na hora certa para que cada
um se utilize dos seus talentos para auxiliar nessa
transição.

Mas que talentos trouxemos você poderá perguntar.

Muitos! Mais do que cinco talentos que foi dado a um


dos servos da parábola.

Temos um corpo físico repleto de recursos para serem


investidos no bem segundo a nossa vontade.

O que temos feito do talento de enxergar enquanto


muitos vivem mergulhados na escuridão dos olhos sem a
capacidade de captar a luz?

O que temos feito do talento de ouvir enquanto tantos


vivem mergulhados no silêncio da surdez?

O que temos feito da palavra que conseguimos articular


enquanto tantos padecem o sofrimento da mudez?

O que temos feito do talento de caminhar enquanto


tantos jazem sem pernas ou com os membros paralíticos?

O que temos feito do talento das nossas mãos


enquanto muitos nascem amputados ou sofrem a perda
das mesmas durante a vida em um acidente que impõe
essa condição ao corpo de que se utilizam nessa atual
existência?

Temos o talento de raciocinar, de compreender a


grandeza da vida e do nosso Criador enquanto muitos são

76
cerceados pela deficiência mental.

Na passagem do Evangelho Jesus utiliza a figura do


dinheiro para que fosse bem compreendido. Entretanto,
principalmente para o espírita, esse talento extrapola o
valor monetário e ganha dimensões transcendentais
agravando nossa responsabilidade.

Temos – os espíritas – a possibilidade de perdoar mais


por entendermos que o perdão liberta o ofendido muito
mais do que ao ofensor que continua responsável perante
as Leis que governam a Vida.

Temos – os espíritas – a possibilidade de amar mais por


entendermos que é através do amor que nos integramos
cada vez mais ao rebanho do Divino Pastor.

Temos – os espíritas – o talento de compreendermos


melhor a prática da caridade que nos aproxima das
virtudes necessárias em nossa caminhada evolutiva.

Temos – os espíritas – o talento de entendermos que o


suicídio não encerra a vida, apenas destrói o corpo
comprometendo-nos ainda mais perante a própria
consciência. E isso tem um valor imenso num planeta onde
a depressão caminha a passos largos como uma das
grandes chagas da humanidade atual.

Em cada manhã em que acordamos no corpo os


talentos se renovam na oportunidade de serem utilizados
no emprego de um mundo melhor na medida em que
proporcionam a nossa melhoria.

Aos que duvidam de toda a realidade apresentada por


Jesus, resta o recurso da reencarnação pelo qual voltarão
ao aprendizado por hora desdenhado ou ignorado.

Mas a nós, espíritas, semelhante à parábola dos

77
talentos, o Senhor dos talentos nos aguarda em nosso
retorno à realidade inevitável do mundo dos Espíritos
imortais.

Esse senhor, entretanto, não se encontra fora de nós,


mas em nosso mundo íntimo representado pela
consciência que tem em si todas as Leis de Deus.

Seria de boa decisão trocarmos ideias com essa


consciência sobre o que temos feito dos inúmeros talentos
que possuímos.

78
Suicídio entre animais

Suicídio entre animais?! Entendo o seu espanto, mas foi


o que encontrei na Revista Espírita do ano de 1867 em seu
mês de fevereiro.

A notícia encontrada no Morning Post contava a história


de um cão que abandonado pelo seu “dono”, o senhor
Home, após suspeita de que estivesse vitimado pela raiva,
passou a ser evitado por todos aqueles com os quais
convivera até então, mantendo-o afastado da casa.

O animal mergulhou em profunda tristeza e passou a


procurar pela convivência de um amigo íntimo do seu “ex-
dono”, o senhor Home. Da mesma forma foi rejeitado pelo
receio de que estivesse com hidrofobia.

Após alguns dias em frente da casa nessa sua última


tentativa de contato com o ser humano, o animal partiu
em direção a um rio caudaloso que passava próximo ao
local. Desceu lentamente a ribanceira dirigindo-se em
direção às águas o que comprova que não estava atingido
pela hidrofobia que faz com que o animal evite esse
líquido.

Antes de se atirar ao rio, parou em sua margem,


voltou-se soltando uma espécie de uivo e entrou
deliberadamente nas águas. Em pouco tempo reapareceu
sem vida na superfície.

Esse procedimento, segundo consta no relato, foi


assistido por um grande número de pessoas.

Ainda segundo dados históricos mais antigos, Hyrcanus,


o cão do rei Lysimachus, ficou dias sobre o corpo morto do

79
seu “dono” sem comer ou beber e quando o rei foi
cremado, o animal atirou-se no fogo morrendo junto a ele.

O mesmo teria ocorrido com um cão de nome Pyrrhus,


que também teve a mesma atitude e, por consequência, o
mesmo fim.

Mozart, o célebre músico, foi enterrado em uma vala


comum porque morreu longe dos seus familiares.

Seu corpo só pode ser encontrado devido ao animal


que deitou-se sobre a cova do seu “dono” ali morrendo,
permitindo assim que Mozart pudesse ser encontrado e
removido do local.

Não estamos querendo dizer que nesse caso se trata de


um suicídio, mas comprova a presença de fortes emoções
nos animais em relação aos humanos que, infelizmente,
em muitas ocasiões são terríveis algozes deles.

Aliás, gostaria de narrar um fato ocorrido com um


pequeno cão que os “donos” tratavam como uma criança
pelo fato de não terem filhos. Vestiam o animalzinho como
se fosse um menino e passeavam com ele por toda parte.

Depois de um determinado tempo, a mulher engravidou


e o casal colocou o animal que vivia com toda regalia
dentro da casa, no fundo do quintal.

O animal adoeceu e acabou morrendo em mais uma


comprovação de que os animais não são desprovidos de
sentimentos como muitos defendem impondo a eles
sofrimentos desumanos.

Hoje em dia não se acredita que os animais cometam o


suicídio. Quando o escorpião é acuado num círculo de fogo,
parece lançar o ferrão sobre o corpo, num aparente
suicídio. Mas não é exatamente isso que ocorre. Nessas

80
situações, o aracnídeo fica agitado com a alta temperatura
e movimenta sua cauda sem controle. O animal morre
mesmo desidratado pelo calor que o cerca.

É verdade que os animais podem expor sua vida – e


mesmo perdê-la – em função de uma defesa da própria
existência da espécie.

Determinadas aves quando vêm o ninho com os filhotes


ameaçado por algum predador, atiram-se ao chão e
arrastam a asa como se estivesse ferido e deixam-se ser
devorado em lugar da cria.

Certas aranhas deixam-se devorar pelos filhotes para


perpetuar a espécie.

Essas atitudes não tem nada a ver com o suicídio, mas


sim uma atitude que serve de exemplo para muito ser
humano aprender a se doar em favor do seu próximo.

Essa pequena introdução utilizamos para abrir a troca


de ideias sobre o suicídio no ser humano numa época da
humanidade onde a depressão caminha rápida para ser
uma das principais causa de morte no mundo, se não for a
primeira.

Causa-me pesar quando vejo algumas pessoas,


espíritas ou não, emitindo julgamento em relação à
situação dos suicidas para além das fronteiras da morte.

Kardec nos esclarece na questão de número 957 de O


Livro Dos Espíritos que as consequências do suicídio são
muito diversas: não há penas fixadas e, em todos os
casos, são sempre relativas às causas que provocaram.

A única consequência da qual suicida nenhum escapa é


da realidade da vida que continua sem cessar o que se
transforma para eles numa profunda e dolorosa

81
constatação. Numa decepção incomensurável!

Não devemos lançar mãos dos ensinamentos da


Doutrina para emitir julgamentos ou suposições de onde e
em que situação um suicida se encontra. Quem somos
nós? O que sabemos das circunstâncias que levaram uma
pessoa a um final de existência tão lamentável?

Basta ao suicida o peso da própria consciência! Vamos


entregá-los à misericórdia de Deus que é infinita evitando
emitir sequer o mínimo juízo sobre eles.

Façamos como dona Yvonne do Amaral Pereira que, ao


ter conhecimento de um ato de eliminação da própria vida
física por alguém, anotava o nome da pessoa em um
caderno destinado a essa finalidade e orava contritamente
por eles derramando sobre esses Espíritos, onde
estivessem, o bálsamo da prece de um coração amigo.

Orar pelos suicidas e não comentar sua atitude!

Por acaso temos alguma garantia de que um dia não


seremos tentados para buscarmos esse fim?

Vamos trocar as ideias e ao invés de tecer comentários


ou julgamentos, orar sinceramente suplicando para eles o
socorro da Providência Divina?

Se a nossa Mãe Santíssima cuida deles através da


legião dos servos de Maria, você não acha que a nossa
opinião ou pretenso julgamento é totalmente dispensável
no caso?

82
O dia “D” dos encarnados

Dia “D” foi uma expressão utilizada durante a segunda


guerra mundial em que os aliados, Estados Unidos,
Canadá, França e o Reino Unido, definiram como o dia de
invadir a costa norte da França para atacar os alemães.

Essa expressão é utilizada pela criação das mentes


humanas para designar a programação de alguns
acontecimentos em um determinado dia do calendário.

Por exemplo, o quinto dia útil do mês é o dia “D” para o


pagamento de salários. Tal data é o dia “D” do casamento
entre dois enamorados. Dia “D” é o dia de você pagar uma
determinada dívida. E assim por diante.

Quando eu era um pré-adolescente no ano de 1960,


aconteceu uma tragédia que ficou denominada de tragédia
do rio Turvo que foi o dia “D” para 59 estudantes da minha
cidade que se dirigiam em dois ônibus de São José do Rio
Preto para a cidade de Barretos.

Esses dois ônibus transportavam pessoas que


compunham uma fanfarra com variados instrumentos e
que se fizera famosa pelo espetáculo que proporcionavam
ao exibir seus elementos devidamente paramentados com
roupas de gala e seus instrumentos musicais que emitiam
toques musicais que conquistavam os assistentes. Era uma
exibição muito bonita de ser assistida. Para a época, era
um espetáculo bastante solicitado a exibição daquela
fanfarra pertencente a um determinado estabelecimento
educacional da cidade.

Os jovens iriam se exibir na cidade de Barretos em

83
comemoração ao aniversário daquela cidade.

Um ônibus seguiu com as meninas e o outro com os


meninos.

Antes da partida, porém, um dos jovens mudou de


veículo saindo do ônibus masculino para ocupar um lugar
junto ao ônibus feminino.

Imaginem o furor que isso causou numa época em que


a proximidade entre os dois gêneros era mantida com
certa reserva.

Entre a cidade de São José do Rio Preto e a cidade de


Barretos, havia uma ponte em construção exigindo um
determinado desvio ao chegar naquele local.

Como o ônibus que transportava as meninas partiu


antes, o ônibus dos meninos ao aproximar-se da ponte em
construção, ultrapassou o primeiro em determinada
velocidade e, por desconhecimento do local pelo motorista
que conduzia jovens do sexo masculino, perdeu a direção e
caiu dentro do rio Turvo virado com o teto para baixo o
que desorientou os jovens no interior do veículo e que
procuravam sair pelo lado que, na verdade, era o fundo do
veículo.

O resultado foi a tragédia que ceifou a vida de 59


jovens iniciando a vida física naquela existência.

O moço que havia trocado de ônibus indo para o das


meninas ainda tentou mergulhar no rio para tentar salvar
algum companheiro, mas o resultado foi praticamente
ineficaz pelo desespero do momento.

Ao trocar de lugar, mal imaginava ele que estava como


que fugindo da sua morte.

84
A cidade de São José do Rio Preto mergulhou num
profundo luto como é de se imaginar.

Os caixões foram enfileirados na frente da catedral da


cidade e as lágrimas dos pais banhou aquela data que ficou
marcada por muito tempo e até os dias atuais como a
maior tragédia com um acidente de ônibus.

No atentado terrorista ao World Trade Center nos


Estados Unidos, algumas pessoas também escaparam da
morte por variados motivos.

Vejamos alguns.

O diretor de uma pequena companhia chegou tarde ao


trabalho porque foi participar de uma reunião na escola do
seu filho.

Uma mulher se atrasou porque o seu despertador não


alarmou a tempo e ela perdeu a hora.

Uma das pessoas que trabalhavam naquele edifício


enorme chegou atrasada porque pegou um caminho
diferente para chegar mais rápido, mas enfrentou um
congestionamento no caminho escolhido devido a um
engarrafamento.

Outra pessoa perdeu o ônibus que a levaria até o local


fatídico naquele dia.

Uma funcionária (vejam só!) foi atingida pelas fezes de


um pombo e precisou voltar e trocar de roupa.

Um senhor teve problema para ligar o carro e precisou


solicitar ajuda de um mecânico.

Alguém se atrasou porque teve que atender a um


telefonema antes de sair para o trabalho.

85
O resultado comum a todos eles foi escapar do local
fatídico onde dois grandes aviões pilotados por terroristas
colidiram com os edifícios, colocando-os abaixo juntamente
com quase três mil vidas!

Nós nos referimos a esses dois episódios


profundamente lamentáveis da tragédia do rio Turvo e das
torres do World Trade Center para recordarmos a resposta
dada pelos Espíritos superiores no Livro Dos Espíritos, à
pergunta de número 853, quando afirmam que o instante
da morte é fatal e dele não podemos nos livrar.

Sabemos que no projeto da nossa reencarnação, nos é


proporcionado uma determinada cota de tempo para
frequentarmos a escola da Terra.

Esse tempo, contudo, não é rígido. Podemos aumentá-


lo através de grandes investimentos no campo do bem a
exemplo de Chico Xavier que teve cinco moratórias
segundo seus biógrafos, como também podemos diminuí-lo
quando agredimos nosso corpo físico das mais variadas
maneiras. Excesso de comida e bebida, utilização de
drogas lícitas e ilícitas, momentos de explosão de cólera
quando bombardeamos nossa vestimenta física com
substâncias nocivas, excesso de preocupação com fatos
que podem não acontecer, falta do repouso adequado para
o corpo físico e tudo o mais que você queira e possa
nomear em termos de agressão ao nosso “uniforme” na
escola da Terra.

Pessoas que não conhecem mais a fundo a Doutrina


dos Espíritos, mas se dão o direito de opinar sobre ela,
alegam que o espírita vive falando em morte como se
fizesse um culto a esse momento, trazendo tristeza aos
dias das pessoas.

A Doutrina Espírita não faz, de maneira alguma,

86
apologia ao fenômeno da desencarnação. Apenas procura
lembrar àqueles que tenham interesse, que somos seres
em trânsito sobre a face do planeta e dia virá, sem
exceção, para todos nós esse momento da partida para o
qual devemos estar preparados para que possamos bem
viver que é muito contrário do que viver bem.

Essa inversão do ato de viver que aparentemente


parece apenas um jogo de palavras, oculta uma posição
muito séria perante a vida.

Bem viver é cumprir nossos deveres perante a


sociedade como Espíritos reencarnados, mas sem
esquecermo-nos dos nossos compromissos que trazemos
como o ser imortal do plano espiritual. Esse
comportamento faz uma tremenda diferença no momento
da partida do mundo físico!

Já o viver bem é aproveitar ao máximo aquilo que o


mundo pode oferecer ao Espírito reencarnado, mesmo que
isso signifique esquecermo-nos da tarefa assumida
enquanto desencarnados.

Quem no seu dia a dia procura bem viver está


realizando um treino diário para a despedida do mundo
material, atenuando esse momento grave para todos os
seres criados por Deus.

Não há como se preparar no instante da despedida se


isso não foi feito durante o curso de toda uma existência.

A rainha Isabel I ilustra bem esse momento


extremamente sério da vida de todos nós. Reinou
perseguindo católicos e fortalecendo o anglicanismo.
Destroçou a esquadra espanhola considerada à época
como invencível. Protegia a um pirata chamado Drake que
saqueava navios portugueses. Ou seja, como todos nós

87
cometeu desequilíbrios perante a Lei que a todos governa
dando a cada um segundo as suas obras.

Reinou durante cinquenta anos! Nos instantes finais da


sua existência lançou uma frase que se tornou célebre ao
mesmo tempo em que é uma séria advertência a todos
que desejam se preparar para esse momento solene da
vida física: “Todo meu reino, Senhor, por mais um minuto
de vida!”

Como esteve no poder por meio século, poderia ter se


preparado para o ato da desencarnação enfrentando com
maior tranquilidade de consciência esse momento.

E a grande maioria até hoje vive dessa maneira. A


morte é uma realidade que está muito distante da minha
pessoa, supõe erradamente.

Quem dispõe de um calendário que garanta isso?

Provavelmente a rainha nunca cogitou desse momento


da vida dela. Esteve no trono por cinquenta anos. Deve ter
sido contagiada pela mesma ideia de muitas e muitas
pessoas dos dias atuais. A morte estava longe dela. Seria
uma visão muito distante. Uma miragem. Mas, por mais
que se viva no corpo material conheceremos um fim.

Não teria sido mais suave ter pensado nessa


possibilidade a rainha Isabel I?

Da mesma forma, não será melhor não perdermos essa


realidade da qual ninguém fugirá para podermos bem viver
ao invés de viver bem?

Quem, por mais poderoso que seja, consegue adicionar


um segundo à sua própria vida?

A rainha passou por essa dolorosa provação. E é

88
exatamente para que não sejamos submetidos a essa dor
no momento derradeiro que a Doutrina Espírita nos
convida a mantermos a única certeza da vida sempre
presente em nossa mente, em nosso raciocínio e,
principalmente, em nossas decisões e escolhas entre bem
viver e viver bem.

Existe uma enorme diferença entre esses dois jogos de


palavras. A diferença é tão grande que muitos são levados
a pensar, senão a dizer: tudo o que tenho por mais um
segundo de existência no corpo!

89
O melhor telefone

Quando uma pequena nuvem de problema tolda o


horizonte de nossas vidas aqui na Terra, a lembrança do
Espírito protetor assume à nossa mente.

Qual seria nessa ocasião o melhor telefone para


estabelecermos contato com ele?

Antes, porém, vamos a uma breve recordação sobre


alguns conceitos que nos permitem a Doutrina dos
Espíritos.

O Espírito protetor é um espírito de maior evolução do


que a nossa e que assume compromisso de amparar-nos
em nossa caminhada aqui na Terra.

Ao contrário do que muitos pensam, o Espírito protetor


não tem somente essa tarefa no sentido de ter uma
exclusividade para com à nossa pessoa, junto à nossa
orientação. Não. Ao mesmo tempo em que procura
acompanhar nosso trânsito pela jornada terrestre, também
executam compromissos outros como Espíritos que já
abraçam o trabalho como uma Lei de Deus.

Quando necessitamos, está a postos para nos orientar,


mas sem jamais para nos pajear! Existe nessa conduta
uma definição bem clara que precisamos entender. Não
fica como uma xícara ou um copo dentro de um armário
que pegamos na hora em que temos necessidade. Não é
“utensílio” de uso nos momentos em que julgamos
necessitar.

Permanece conosco por toda nossa existência aqui na


face do planeta e pode nos acompanhar no plano espiritual

90
após a nossa desencarnação.

Jamais abandonam a tarefa de nos inspirar. Tem


pessoas que defendem a hipótese de que se afastam
quando nos negamos a ouvi-lo. Mas, consideremos: se são
mais evoluídos do que seus tutelados, não é mais lógico
presumir que não são eles que se afastam de sua tarefa,
mas nós é que o fazemos através de nossa rebeldia? Fica a
ideia para ser pensada.

E os Espíritos familiares quem são?

Espíritos familiares, como o nome já sugere, são


Espíritos que pertencem à mesma família espiritual nossa.
Geralmente têm uma evolução parecida com a nossa. Uns
um pouco mais evoluídos. Outros no mesmo nível
evolutivo ou de evolução um pouco menor, porém sem
grandes diferenças.

Espíritos simpáticos são aqueles que se afinam conosco


de acordo com as ideias e tipo de vida que escolhemos.
Daí a verdade do ditado: diga-me o pensas que eu direi
com quem andas. De acordo com as ondas mentais que
emitimos geradas por nossa conduta moral, os Espíritos
simpáticos aos nossos pensamentos se aproximam.

Mas, mas vamos voltar ao assunto sobre o telefone.

Qual seria o melhor meio de apelarmos para o Espírito


protetor?

Pensou que pela prece?

Digamos que quase isso.

O melhor meio, contudo, de “ligarmos” pedindo socorro


é o trabalho no campo do bem. Sim isso mesmo! Trabalho
em favor dos que necessitam mais. Que estão em situação

91
de necessidades maiores do que a nossa.

Se você discorda achando que é através da prece,


perguntamos se o trabalho no bem não é a oração mais
completa que existe.

Tem uma frase de Madre Teresa de Calcutá que diz,


mais ou menos, o seguinte: as mãos que trabalham são
mais poderosas do que os lábios que oram.

Lembram-se da afirmativa do apóstolo Tiago de que a


fé sem obras é morta? Pois então!

Quando nos mantemos no trabalho do bem o Espírito


protetor está do nosso lado atento a tudo. Não é preciso
nem pegarmos o “telefone” para pedir. Ele já está
presente. Vigilante. A postos para nos socorrer.

Entendamos, porém, que nos livrar das lições que as


dificuldades nos trazem, não é função do Espírito protetor
que participou da programação das nossas provas antes de
reencarnarmos. Auxiliam-nos a carregarmos a cruz sem
revolta, mas não podem retirar a cruz que confeccionamos
dos nossos ombros.

Então, para que a “ligação telefônica” não demore ou


encontremos a “linha ocupada”, vamos trabalhar no bem
em todas as oportunidades que a vida nos proporcionar e
que são muitas!

Alô! Quem fala? Preciso falar com o meu Espírito


protetor urgente! Estou em dificuldades!

“Meu filho”! “Pode desligar o telefone”. “Já estou ao seu


lado!” “Fique tranquilo!” “Apenas continue trabalhando em
nome do amor ao semelhante como Jesus nos
recomendou!”

92
São frases que ouviremos através da nossa
consciência!

93
Sonho ou realidade?

Os ensinamentos da Doutrina dos Espíritos é um


derramar de socorro ininterrupto sobre nossas vidas. E um
desses momentos em que mais precisamos dessa ajuda da
Providência, é exatamente quando nos separamos de um
ente querido que ultrapassa as barreiras vibratórias entre
nosso mundo material e os diversos planos do mundo
espiritual.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o espírita


também sofre com a partida de um ser querido. Não
somos feitos de bloco de mármore. A diferença é que
procuramos entender que essa separação é aparente e
transitória.

Aparente porque os Espíritos também enxameiam o


ambiente terrestre principalmente quando ainda não
possuem a devida evolução para elevar-se em direção aos
planos maiores da Vida. E transitória porque nenhum
encarnado ficará nessa situação.

Os Espíritos nos ensinam essa realidade expressa na


questão de número 459 do Livro Dos Espíritos quando
ficamos sabendo que frequentemente são eles que nos
dirigem! Desse modo, o ser amado que partiu antes pelo
desencarne, está invisível aos sentidos do corpo físico que
transitoriamente possuímos o que não significa dizer que
se acabou. Está mergulhado na vida por uma determinação
Divina!

E essa separação é transitória simplesmente porque


nós todos também deixaremos nosso veículo carnal em
direção ao mundo dos Espíritos desencarnados.

94
Se pertencermos à mesma família espiritual esse
reencontro será ainda mais facilitado.

Entretanto, enquanto nossa partida não se verifica, a


misericórdia de Deus provê outro recurso.

Quando o corpo físico adormece para a devida


reparação das forças dispensadas no dia a dia do homem,
o ser espiritual se vê mais livre dos laços que o prendem
ao veículo carnal.

Na questão de número 401 do Livro Dos Espíritos,


aprendemos que o Espírito jamais está inativo.
Enfraquecendo a influência do corpo sobre o Espírito, esse
fica bem mais livre entrando em contato com o mundo
espiritual de forma mais intensa podendo, dessa forma,
encontrar-se com o ser querido que partiu pelo fenômeno
da desencarnação.

Assim como nos encontramos com pessoas conhecidas


quando viajamos para uma cidade muito grande e, às
vezes até, para outros países, podemos também nos
encontrar, libertos dos laços materiais do corpo
adormecido, com as pessoas queridas que nos
antecederam na grande Viagem.

Quando damos essa notícia a pessoas não espíritas,


mas simpatizantes das ideias espíritas, logo vem a
pergunta: mas como vou saber se esse encontro realmente
aconteceu ou se foi um simples sonho, um simples produto
da minha imaginação?

Realmente temos sonhos que reprisam acontecimentos


que vivemos juntos ao ser amado antes do seu
desencarne. Como também existem sonhos que nascem
dos problemas do nosso dia a dia. Com as preocupações
do homem terra a terra.

95
Então, como saber se houve o encontro Espírito a
Espírito?

Simples assim: se no sonho conversamos com a pessoa


que partiu entendendo que ela já desencarnou, então, com
uma boa chance de acerto podemos dizer que está
ocorrendo o encontro entre o desencarnado com o
encarnado desdobrado pelo sono.

Muitas vezes, é bom que se esclareça, não fica a


lembrança muito nítida desse encontro, mas o encarnado
acorda com a lembrança do ser querido que vem ao seu
pensamento e se sente feliz, em paz, uma sensação de
felicidade por motivo não definido, sentimento não
presente nos demais dias.

Essa lembrança não muito clara, às vezes até mesmo


sem uma recordação mais intensa, acontece porque o
cérebro material quando o Espírito fica submetido ao corpo
que acorda, não consegue interpretar de maneira plena a
dimensão espiritual conforme encontramos na questão de
número 403 do mesmo livro antes mencionado.

No capítulo Emancipação Da Alma encontramos todos


os detalhes para que não tenhamos dúvidas de que
podemos e nos reencontramos com os entes queridos na
outra dimensão da vida, mesmo enquanto permanecemos
no corpo material.

É a manifestação da Misericórdia Divina a todos os


Espíritos, estejam ele na vida física ou quando na pátria
espiritual.

O que nos impede de compreendermos melhor esse


socorro que não cessa é a confusão que fazemos entre o
homem físico, filho do homem, e o Espírito imortal, filho de
Deus!

96
Espero que nessa troca de ideias você também troque
de posição: aquela imagem que vemos no espelho todas as
manhãs, não é o que somos, mas um mero uniforme que
se desgasta dia a dia preparando o ser imortal para a
liberdade de retornar ao seu verdadeiro mundo, a sua
verdadeira realidade, quando então poderá reencontrar o
ser querido que estará a nos aguardar para a grande festa
da imortalidade!

97
Logo ali!

Uma senhora bem idosa, com os dedos das mãos


mostrando o processo de artrose pela curvatura acentuada
de alguns deles, a pele do rosto tatuado com as rugas do
tempo, cabelos muito alvos como se a neve da idade os
houvesse descolorido, mantinha-se sentada em um banco
de um ônibus segurando-se no apoio do branco da frente
para suportar os solavancos que o veículo transmitia na
medida em que rodava.

Assim que o transporte público parou em um


determinado ponto, subiu uma jovem carregada de
pacotes e desprovida da devida dose de educação que é de
se esperar de uma pessoa na convivência com os seus
semelhantes, principalmente quando se trata de idosos
com as angústias que a idade avançada vai trazendo
àquele que avança no tempo.

Aproximou-se do banco da velhinha e, olhando por


cima daqueles pacotes, todos e sem pedir licença, lançou-
se pesadamente sobre o assento.

A idosa assustou-se, mas não disse nenhuma palavra.

A jovem nem olhou para o lado para dirigir algum


cumprimento à companheira do banco ao lado que tivera a
infelicidade de tê-la como companhia no transporte.

A idosa pensou em dizer alguma coisa em sua defesa


contra os modos grosseiros da jovem, mas logo raciocinou:
“Para que se vou descer logo ali no próximo ponto?”

A nossa vida também é assim. Vamos descer em algum


ponto que pode ser exatamente o próximo! Ou será que

98
alguém tem algum calendário sinalando os acontecimentos
da existência?

Quantas discussões por motivos banais que poderia ser


resolvida com uma simples conversa se não sabemos se
estamos perto de deixar a existência física? Quanto
desgaste, quanta energia consumida em troca agressiva de
palavras se não sabemos se acordaremos no corpo na
manhã seguinte?

Quantas brigas de trânsito que resultam em morte por


desentendimentos que poderiam ter sido contornados com
diálogo esclarecedor e sem a carga de energia negativa
que culmina com um crime? Podemos estar descendo no
“próximo ponto”!

Quanto enriquecimento por meios desonestos com


valores do mundo do qual não iremos transportar nem a
moeda de Caronte (*) para atravessar o rio da morte
conforme crença de povo medieval!

Quanto tempo negado aos filhos que assumimos a


responsabilidade de colocar em um novo corpo e que
resulta, muitas vezes, em tragédias do consumo de drogas
e outros variados crimes se podemos ter que descer na
“próxima parada”?

Porque passar adiante a maledicência cujo resultado


pode estar nos aguardando de um momento para o outro
quando chegar nosso “ponto de descer” do veículo dessa
existência com consequências desagradáveis e que poderia
ser evitado?

Ciúmes, discussões, brigas, desentendimentos,


agressões, negar o perdão a uma ofensa recebida, não
agradecer as benesses que nos abençoam, para que se a
próxima parada na qual iremos saltar do “ônibus” da vida

99
material está logo ali?

A viagem é curta demais! O problema é que as


consequências “descem” conosco na outra dimensão
vibratória para um encontro complicado com a consciência!

Nossa viagem junto às pessoas é extremamente breve!

Não vamos “levar desaforo para casa”! Vamos impedir


que ele exista!

Não vamos “deixar a batata assar” como dizemos nos


momentos perigosos da raiva! Vamos eliminá-la do nosso
“cardápio”! Afinal, batata engorda o corpo e compromete o
espírito!

Todos estamos no ônibus da existência com várias


paradas para a “descida” inevitável ao longo do percurso
que, muitas vezes, é tão curto.

A velhinha que recebeu a falta de educação da moça


jovem foi sábia! Poderia ter dado uma lição de moral
naquela moça. Mas como sabia que desceria no próximo
ponto, o desgaste não valeria a pena. A vida traria para a
jovem desavisada das paradas e descidas obrigatórias do
ônibus da existência, se tivesse tempo, as lições
necessárias da própria vida.

Nessa troca de ideias vamos aproveitar para observar


nossa conduta no “ônibus” da vida porque não sabemos
qual será nossa situação no próximo “ponto”.
_______________________

(*) Na mitologia grega, Caronte é o barqueiro de Hades, que


carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas do
rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo
dos mortos. Uma moeda para pagá-lo pelo trajeto, geralmente
um óbolo, era por vezes colocada dentro ou sobre a boca dos

100
cadáveres, de acordo com a tradição funerária da Grécia
Antiga. Segundo alguns autores, aqueles que não tinham condições
de pagar a quantia, ou aqueles cujos corpos não haviam sido
enterrados, tinham de vagar pelas margens por cem anos.

101
A cruz vazia

O símbolo da cruz para os espíritas evoca a vitória de


Jesus em toda a grandeza da sua obra incomensurável de
amor para com toda a humanidade.

A figura de Jesus sem vida preso a um instrumento de


suplício utilizado há dois mil anos pelos romanos não
traduz o seu triunfo sobre a morte, mas mantém fixado na
memória dos homens as horas derradeiras de um Mestre
que veio nos ensinar a Verdade para o Caminho da Vida
imortal.

Onde estaria Jesus após a consumação do seu sacrifício


pelos homens de sempre após suas palavras de que tudo
estava consumado segundo a vontade de Deus?

Primeiramente, vamos recordar algumas hipóteses


sobre o destino do corpo D’Ele sobre o qual ainda se lança
um mistério que em nada tem a ver com a obra de um
Espírito que dividiu a história da Humanidade em antes e
depois D’Ele.

Uma delas é a ideia rejeitada por Allan Kardec de que


Jesus teria tido um corpo fluídico sem jamais ter tido um
corpo material, físico como os habitantes da Terra.

Com toda a razão o Codificador rejeitou essa hipótese


porque Jesus não veio representar um teatro perante os
homens. Fosse o seu corpo fluídico e nada teria sofrido
desde a sua prisão até a sua morte na cruz infamante.

O interessante é que no século IV da era cristã,


julgava-se que todo mal advinha do corpo e, portanto,
Jesus não poderia ter habitado um corpo físico igual aos

102
homens da época, mas sim ter um corpo celestial que
apenas passara pelo ventre de sua mãe. Lembra essa
interpretação a velha ideia de que o “espírito é forte, mas
a carne é fraca” numa tentativa inútil de transferir ao
veículo material a responsabilidade das decisões que cabe
ao Espírito imortal.

Outra hipótese sobre o desaparecimento do corpo de


Jesus é de que seu veículo físico teria sido retirado do
sepulcro onde José de Arimateia o havia colocado e levado
para local desconhecido até os dias atuais.

Essa ideia esbarra fortemente no fato de que o sepulcro


era fechado por uma pesada pedra que demandava o
esforço de vários homens para removê-la, e o “detalhe”
que o local ficou vigiado por soldados romanos o que
praticamente impossibilitaria essa remoção do corpo para
outro local desconhecido por seguidores de Jesus.

Consideramos também a hipótese de que o próprio


Mestre conhecedor da ciência em toda a sua grandeza
como Espírito perfeito que era, tivesse promovido Ele
próprio a desintegração molecular do seu veículo carnal, o
que teria provocado uma explosão suficientemente forte
para remover a pedra que fechava a entrada do sepulcro,
apresentando-o aberto no terceiro dia em que procuraram
por Ele após a crucificação.

Mas perguntamos onde estaria Jesus após o


encerramento da sua vida física no planeta.

Naquele tempo permaneceu entre os discípulos para


injetar-lhes a força necessária para o prosseguimento dos
Seus ensinamentos entre os homens.

Esteve presente na estrada de Emaús. Apresentou-se


aos discípulos permitindo que Tomé tocasse as suas

103
chagas ainda mantidas em seu corpo espiritual para a
devida lição. Buscou Pedro que mergulhara em profunda
tristeza perguntando-lhe por três vezes se o amava e,
diante da resposta afirmativa, pedindo ao apóstolo que
apascentasse suas ovelhas.

Também se fez presente entre os quinhentos da


Galileia e, possivelmente, em outras ocasiões de que não
se tem registro.

E onde continua Jesus até os dias atuais? No


inimaginável conforto das regiões espirituais que sequer
conseguimos conceber assistindo à distância todas as
tragédias morais e físicas presentes no planeta e entre os
homens pelos quais imolou a vida física?

Absolutamente não!

Jesus está presente no leito do enfermo que


lentamente se despede da existência em seu retorno à
verdadeira vida.

Jesus está presente nos famintos que desfilam de mãos


estendidas pelas mais diversas regiões do planeta
suplicando o socorro aos que com eles cruzam, muitas
vezes indiferentes.

Jesus está presente solicitando que não passemos


adiante uma maledicência.

Jesus está presente nos campos de batalha dos homens


que ainda não entenderam a parábola do Bom Samaritano
e empunham armas para aniquilar seus semelhantes.

Jesus está presente no trânsito quando a discussão


perigosa se desenha com a possibilidade de que um crime
seja cometido em momentos de desequilíbrio emocional de
cada condutor de um veículo.

104
Jesus está presente quando uma corrupção se
apresenta apelando através da consciência do corruptor
para que não consuma o fato que gerará compromissos
futuros dolorosos.

Jesus está presente em cada abrigo de velhos ou de


crianças abandonadas que se despedem ou ingressam na
existência material em meio a dificuldades lamentáveis.

Jesus está presente nos lares onde reina a desarmonia


entre os casais e em relação aos filhos que não encontra
nos pais o tempo necessário para o diálogo indispensável.

Jesus está presente junto àquela mãe que vela pelo


sono do filho pequenino e enfermo.

Jesus está presente no jovem totalmente desorientado


pelo consumo de drogas que matam o corpo e maculam o
Espírito.

Jesus está presente em cada lugar onde uma arma se


levante empunhada por alguém em grande desequilíbrio
para ferir ou tirar a existência física de outra pessoa.

Jesus está presente onde cada animal que é também


criatura de nosso Pai é submetido a maus tratos pela
maldade ainda existente em cada coração insensível.

Jesus está presente onde um ato extremado de suicídio


se apresenta para ser consumado por um Espírito em
completo desconhecimento de que a vida criada por Deus
não pode jamais ser interrompida.

Jesus está presente entre os governantes dos mais


diversos países para que a paz impere entre os povos que
nada mais são do que irmãos perante a Divindade.

Jesus está presente em todos os locais de sofrimento

105
na dimensão espiritual levando o socorro ininterrupto aos
desencarnados envolvidos com os conflitos da consciência.

Enfim, são tantos os locais que solicitam a presença


d’Ele, que Jesus não tem tempo de ficar pregado a uma
cruz como a representação da Sua pessoa é sugerida por
algumas religiões.

Ele trabalha até hoje porque o Pai trabalha também na


ampliação desse Universo onde a nossa frágil inteligência
descobre uma nova estrela a brilhar na constelação sem
fim.

Por isso tudo e por muito mais que cada um pode


nomear, a cruz do espírita está vazia. Jesus não está mais
nela há milhares de anos!

Ele está ao nosso lado como prometeu até que tudo se


cumpra conduzindo ao rebanho do Divino Pastor até a
última ovelha tresmalhada!

106
O Jesus “guerreiro”

Confesso que é muito estranho colocar a palavra


“guerreiro” ao lado do nome d’Ele, mas espero explicar o
mais rapidamente possível essa expressão.

Sabemos que os judeus até hoje não reconhecem a


figura de Jesus como o Messias que Deus enviaria a
Humanidade.

Ficamos a pensar como isso pode ser possível se Ele


dividiu a história em antes e depois d’Ele enquanto tantos
conquistadores que dominaram vasta extensão do mundo
em suas épocas, foram tragados pela voragem do tempo.

Onde está agora Alexandre, o Grande, um dos maiores


conquistadores de todas as datas, senão o maior que a
história registrou? Apenas em livros que registram seus
feitos.

Onde está Nabucodonosor, rei da Babilônia senão em


anotações históricas?

Alarico I, Alarico II, que terminou a sua recuperação


moral na reencarnação ocorrida no século XX na expiação
do mal de Hansen, tem sua trajetória trágica apenas em
registros históricos, tragados que foram pelo passar das
eras.

Onde está o poderio dos exércitos romanos e as regiões


e povos dominados?

E, dessa maneira, todos os outros conquistadores que


desfilaram pela humanidade semeando sua fúria de
conquista interrompida pela morte física.

107
No entanto, Jesus, o Cordeiro de Deus manso e pacífico
persiste dividindo a história do homem!

Como então o povo judeu espera ainda por um


Messias?

Esse povo veio de muitos cativeiros escravizados que


foi, somente conseguindo a libertação pela violência.

Do domínio de mais de quatrocentos anos no Egito,


conseguiu se livrar o povo hebreu através das pragas de
Moisés, ou seja, pela violência.

No ano de 721 a.C. o povo judeu caiu sob o domínio


dos assírios ocasião em que desapareceram dez das doze
tribos de Israel!

Em 596 a.C. foram dominados por Nabudonosor que os


levaram cativos para a Babilônia de onde saíram quando o
rei foi derrotado por Ciro II, ou seja, através da violência.

Em 332 a.C. caíram diante do poder de Alexandre, o


Grande e conheceram outro período de escravidão do qual
foram libertados pela violência.

Finalmente no ano de 63 a.C. veio o domínio do povo


romano e tentaram a libertação através de sete
insurreições, tendo sido derrotados em todas elas pelo
poderio dos exércitos romanos.

Está nesse breve resumo o motivo pelo qual esperavam


um Messias guerreiro, senhor de exércitos que esmagaria
o poderio do escravizador.

Ao invés disso conhecem a figura meiga e doce do


profeta Nazareno que recomenda amar ao inimigo, perdoar
quantas vezes forem necessárias a quem ofender,
reconciliar com o adversário, o amor a Deus sobre todas as

108
coisas e ao próximo como a si mesmo.

O povo judeu ficou convencido de que aquele homem


não poderia ser o Messias que tivesse o poder de libertá-lo
das garras dos dominadores.

Por esse motivo também Judas Iscariotes tentou numa


decisão infeliz entregar o seu Mestre aos soldados na vã
ilusão de que Ele convocaria exércitos celestes que
aniquilariam o poder dos exércitos romanos. Judas havia
presenciado a força do seu Mestre em curar a tantas
pessoas livrando-as dos males físicos. Se utilizasse o
mesmo poder, pensava Judas, para evocar as forças
celestes depois que se visse prisioneiro, o povo dominador
seria esmagado com a mais absoluta certeza.

Estava equivocado como até hoje estão os judeus por


todo esse tempo que transcorreu entre a vinda do Amor à
Terra para ensinar que somente através d’Ele podemos
chegar ao Pai, à felicidade, e à paz que tanto desejamos!

109
Os vários porquês

Na vida o ser humano encontra ocasião para propor à


Providência Divina vários porquês!

Por que estou passando por tal situação? Por que perdi
meu ente querido? Por que a dificuldade financeira que me
visita? Por que não encontro emprego? Por que meu
marido não me compreende? Por que minha esposa não é
a mulher que idealizei para companheira? Por que meus
filhos dão tanto trabalho? Por que tenho um patrão tão
ruim? Por que não consigo comprar um carro? Por que não
conquisto a minha casa própria? Por que os problemas de
saúde que me acompanham por uma vida inteira?

O leitor pode acrescentar por sua conta os muitos


outros “porquês” que lhe ocorrerem à mente.

Um “porquê” bastante na moda hoje que a pandemia


do coronavírus visita a Humanidade é sobre o motivo de tal
calamidade! E acrescenta ainda o ser humano o “por que”
ele tinha que estar na Terra exatamente quando isso
acontece ao planeta!

Agora me permita fazer algumas perguntas.

Você já ouviu alguém dizer assim: “Meu Deus! Por que


justo eu fui ganhar no primeiro prêmio da loteria sozinho?!
Tanto dinheiro só em minhas mãos?! Não é justo!”

Já ouviu alguém fazendo tal ponderação?

E frase como essa você já escutou: “Ó! Meu Deus! Por


que tinha que ser premiado com uma viagem internacional
com tudo pago?! Tinha muitas outras pessoas

110
concorrendo! Por que eu fui ganhar?”

Essa “lamentação” você já ouviu?

Ou então, essa outra: “Não é justo eu ganhar o carro


da rifa que comprei! Tinha que ter saído para outro
ganhador! Outras pessoas também compraram!”

Esse “protesto” contra Deus você já ouviu uma única


vez em sua vida?

“Por que tenho tanta saúde enquanto muitos padecem


em seus leitos de dores?”

“Por que ganho tão bem enquanto muitos nem


emprego possuem?”

“Por que possuo sempre o carro do ano e outras


pessoas nem uma bicicleta podem ter?”

“Por que moro numa mansão e pessoas vivem em


favelas?”

Já ouviu questionamentos como esses?

Já sabemos a resposta não é mesmo?

Quando as coisas vão bem para o homem físico, não


existe protesto mesmo que esse “bem” represente um mal
para o Espírito imortal!

Mas quando o menor contratempo aparece no céu da


existência do homem material causando as mínimas
preocupações, são lançados em direção a Deus os
inúmeros “porquês” que conhecemos em abundância.

Vamos utilizar a última existência de um Espírito


redimido perante si mesmo no século XX que também teve
seu momento de perguntar a causa dos seus imensos

111
sofrimentos.

Jésus Gonçalves! Quem não conhece, não é mesmo?

Ele sofreu profundamente vitimado pelo mal de


Hansen, ou seja, a lepra que no século passado em sua
primeira metade pelo menos, exigia que o leproso fosse
isolado da sociedade onde vivia.

Jésus tinha uma vida difícil de muito trabalho desde a


mocidade, mas mantinha-se muito bem-humorado
exercitando suas possibilidades para agregar as pessoas.
Foi casado e pai de seis filhos, sendo que dois deles, na
realidade, seus enteados.

Com todos esses filhos para cuidar, ele se viu atingido


pelo terrível mal que naquela época não tinha cura. Era
segregação em leprosários até o término da existência. E
foi o que aconteceu com ele.

Internado no sanatório de Pirapitingui e mergulhado


inicialmente em ideias materialistas, foi convencido sobre a
imortalidade após uma mensagem da sua segunda esposa,
Anita, após a desencarnação dela, revelando a ele que a
morte não existia e que a vida continuava sim!

Contam também que um determinado dia, como


estivesse com muitas dores, lançou uma espécie de desafio
diante de um copo com água dizendo que, se Deus
existisse, em cinco minutos Ele deveria colocar naquele
recipiente um remédio que aliviasse suas dores. Depois de
cinco minutos tomou o líquido e obteve alívio para o
sofrimento consequente às dores de que estava sofrendo.

Você deve estar pensando como o Criador permitiu


essa espécie de desafio por parte de Jésus Gonçalves. É
que para ele chegava o momento de sua redenção perante

112
sofrimentos intensos que marcaram seus dias na Terra.
Jésus estava na posição da fruta que amadurecera e
estava no ponto de ser colhida pelo Divino pomicultor. Por
isso seu desafio foi atendido para oferecer-lhe mais uma
prova da existência do Pai.

A partir desses dois fatos Jésus Gonçalves se agigantou


diante do sofrimento e mesmo começando a ficar cada vez
mais desfigurado pela doença, não desistiu. Seu nariz foi
sendo destruído pela enfermidade. Suas orelhas
engrossaram. Seus pés e mãos foram afetados pelo mal de
Hansen, de modo que, do jovem forte e belo de anos
anteriores praticamente nada sobrou.

Mesmo nessas condições de ruína física, não


esmoreceu. Fundou o Centro espírita Santo Agostinho no
interior do leprosário e desenvolveu diversas atividades
sempre com o objetivo de aliviar as dores dos
companheiros de infortúnio vitimados pela lepra como ele.

Um dia também Jésus lançou o seu “porquê” perante a


Justiça cósmica. Gostaria de saber o motivo de tanto
sofrimento naquela existência se havia sido uma pessoa
boa.

Foi então informado pelos Espíritos que acompanhavam


a sua saga redentora de que em existências anteriores, no
início da era cristã, havia, por duas vezes, reencarnado
como um conquistador sanguinário que espalhava a morte
e o terror por onde passava, semeando a terra com a
orfandade, a viuvez, a morte de centenas de pessoas,
destruindo aldeias pobres e miseráveis nas guerras de
conquistas.

Tinha sido Alarico I e, logo em reencarnação seguinte,


Alarico II, rei dos visigodos.

113
Não bastassem essas duas existências, Jésus também
tinha sido o famoso cardeal Richelieu no século XVI que
havia dominado o próprio rei com a sua astúcia, fomentado
guerras e outros desatinos que vieram custar-lhe muito
caro no século XX na pessoa de Jésus Gonçalves e sua
provação na lepra.

Aquela informação trouxe a paz à sua consciência


levando-o a se empenhar cada vez mais para aproveitar as
provas que se apresentavam a ele como mecanismo de
sua educação moral.

Estou querendo dizer com tudo o que foi escrito de uma


forma a mais resumida possível de que sempre os
sofrimentos do presente, têm ligação com o passado de
quem sofre?

Absolutamente não! Esses sofrimentos podem também


ter começo em atitudes da vida atual.

Por exemplo, muito se perguntam por que nessa


pandemia que assola a face do planeta semeando a morte
e o sofrimento, muitos contraem o vírus enquanto a
maioria passa de maneira ilesa pelo mesmo mal.

Os atingidos seriam sempre Espíritos em resgate por


débitos anteriores?

Evidente que não. Muitos contraem a enfermidade por


condutas da existência atual. Alguns porque se previnem
de maneira inadequada se expondo à doença. Outros
aprendem através desse mal a importância da convivência
familiar que até então não consideravam. Outros são
despertados para o valor de um abraço. Vários
contaminados são despertados para o valor da existência
após se aproximarem do momento grave da
desencarnação modificando a maneira de encarar e

114
proceder diante da oportunidade de viver. Ou seja, nem
sempre existe um vínculo com o passado. Os motivos
estão no momento atual de suas vidas.

Eurípides Barsanulfo, o apóstolo de Sacramento,


desencarnou vítima da gripe espanhola em 1918. Estaria
expurgando erros do seu passado? Um Espírito daquela
envergadura moral, evidente que não. A enfermidade foi
somente o meio que o levou de volta ao mundo dos
Espíritos sem a necessidade de possuir causa em
existências anteriores.

Mas então, nessa troca de ideias, como ficamos? As


razões dos sofrimentos possuem ligação com o passado do
sofredor ou pode ter causas na existência atual?

Creio que a resposta está clara o suficiente nas linhas


que foram traçadas até aqui.

Não é necessário lançar nossos porquês em direção à


Providência Divina. Basta ter a coragem e honestidade
suficiente para analisar a própria consciência e obteremos
as respostas que buscamos em nós mesmos.

Existe uma conduta que auxilia muito ao buscarmos


respostas para determinados fatos de nossa vida sem a
necessidade de dirigirmos perguntas ao Criador. Fique
diante de um espelho e interrogue a figura que você vê
sobre os porquês dos problemas que despontam em nosso
dia a dia. Se não encontrar respostas na sua existência
atual, com certeza as explicações remontam ao passado de
cada um pelo simples fato de que a Justiça perfeita impera
no Universo caminhando junta à Misericórdia de Deus!

Se chegar a essa última conclusão, procure aproveitar


as lições que chegam pela via do sofrimento a convidá-lo a
uma modificação profunda de você mesmo.

115
Se nesses momentos que todos temos sentir-se fraco,
sem a vontade de lutar de um Jésus Gonçalves, lembre-se
da frase do grande apóstolo Paulo: quando estou fraco é
que sou forte. É que ele sentia-se na presença de Deus nos
momentos das maiores provações, da mesma forma que
um filho doente está mais próximo dos cuidados dos pais.

A que distância da Providência Divina estaremos em


nossos sofrimentos?

116
A minha dor, a nossa dor!

Passamos, eu e a minha esposa, pelo desencarne de


um filho de 39 anos. Moço inteligente na profissão que
escolheu, de uma beleza física que chamava a atenção e
também de boa moral, mas que não suportou o quadro
depressivo que apresentava quando a vida começou a
apresentar em seus caminhos os problemas que foram
surgindo.

Tentamos várias maneiras de auxiliá-lo. Dizer que


fizemos de tudo lembra-me uma conotação de perfeição.
Só faz tudo quem é perfeito. Um Espírito completista
consegue fazer tudo, o que não é o nosso caso. Longe
disso! Prefiro dizer que fizemos aquilo que nossas
imperfeições permitiram que fizéssemos. Internação em
hospitais, socorro de várias religiões, medicações,
psiquiatras, psicólogos, apoio materno com quem era
muito identificado e apoio paterno em outros sentidos que
no momento tornaria a narrativa muito longa e, talvez,
cansativa o que não é nosso objetivo.

Para trocarmos ideia sobre essa dor que somente quem


passa é capaz de imaginar, vou me utilizar de uma página
do Espírito Joanna de Ângelis, através de Divaldo, contida
no livro Desperte e seja Feliz, na página Dor-Reparação,
editora LEAL, 10ª edição, ano de 2007.

Os ensinamentos de Joanna colocarei em itálico para


diferenciar das minhas palavras.

Quando a morte física visita a sua vida na pessoa de


um ente querido invertendo a lei biológica, no dizer da
própria Joanna, é a dor mais intensa que um ser humano

117
pode conhecer.

Essa dor tem uma característica que não nos


apercebemos no momento agudo do acontecimento.
Ensina Joanna que essa dor é pessoal, intransferível, que
ninguém pode compartir.

Quando nos atinge, desejamos que os outros a


compreendam, a sintam, principalmente as pessoas mais
próximas, não em sentido egoísta de transferência do
sofrimento, mas como um mecanismo de aliviar a pressão
emocional gigantesca que ameaça explodir os sentimentos
dos que são vitimados.

Entretanto, não é possível! Há experiências que


necessitam ser vividas, para mais bem dimensionadas.
Cada criatura conduz a própria dor e está preocupada com
o fardo que a esmaga.

Quando nos apercebemos que a partilha dessa dor é


impossível, passamos a alimentar a ideia de que somos a
criatura que a “má sorte” escolheu para ferir.

Nossa dor é a maior do mundo? Não! Não é! Nosso


desconhecimento das dores alheias é que nos traz esse
pensamento egoísta. Como coloca Joanna, supões que o
teu é um calvário demasiado e que tudo de aflitivo te
acontece. Assim crês, porque ignoras os testemunhos dos
demais.

É até mesmo sábio o fato de nosso semelhante mais


próximo à nossa dor não senti-la em toda a sua
intensidade porque cada um tem os seus problemas a
resolver e suas dores a suportar. Se houvesse uma
somatória dos nossos sentimentos particulares aos
sentimentos daqueles que estão ao nosso lado, em nosso
nível evolutivo, não suportariam! Só sintoniza a

118
profundidade e extensão da dor do outro os Espíritos muito
evoluídos como o Chico que chorava junto com as mães
que lamentavam a desencarnação de seus filhos e
suportava esse compartilhamento, mesmo com o coração
problemático que tinha. Aliás, esse trabalho missionário foi
quem conferiu a ele várias moratórias.

Como ensina Joanna, ninguém passa pela Terra sem a


presença da agonia, que sempre surge para cada um
consoante a necessidade do resgate em que se encontra
incurso.

Dias depois do desencarne de meu filho, encontrei um


amigo que me disse que se fosse com ele, estaria a gritar
pelo mundo sua dor, sua revolta. Eu perguntei a ele se
caso eu subisse no mais alto dos telhados e atirasse as
telhas para baixo, isso traria meu filho de volta. Respondeu
que não, mas que teria atitude semelhante a essa ou até
pior do que essa.

Retorno com Joanna quando ela ensina que a rebeldia


torna-a (a dor) insuportável; a desesperação fá-la maior
do que é; o desânimo conspira contra a sua superação; a
mágoa apresenta-a mais rude…

Graças aos ensinamentos da Doutrina Espírita também


não fiquei fazendo suposições, hipóteses, para o
acontecido. Tenho absoluta certeza de que o sofrimento
que nos chegou está envolvido com um planejamento
prévio à nossa atual existência. Deus não erra o endereço
de ninguém. A Justiça é perfeita e sempre acompanhada
pela Sua misericórdia.

Continuando com Joanna, aprendemos que existe a


dor-elevação, a dor-conquista, a dor-resgate. A tua é
resgate, sim, que o teu amor não conseguiu evitar.

119
E é isso mesmo em meu caso, tenho absoluta certeza.
Se tivesse amado em outras existências no corpo, não
teria assumido tal promissória. Sim. No meu caso uma
dívida a ser saldada na conta da vida porque não tenho
evolução suficiente para ter me oferecido para ajudar esse
meu filho a superar a alternativa do autoextermínio. Por
isso só me cabe continuar seguindo as recomendações dela
quando afirma que devemos amar. Desveste-se das
prevenções e do pessimismo, da autocompaixão e da
revolta surda, amando mais, e conseguirás com rapidez e
harmonia.

O que me sobressai nessas últimas linhas da nobre


Mentora é o sentimento da autocompaixão onde
assumimos a ideia de que somos coitadinhos injustiçados
ou esquecidos do Amor de Deus. Não e não! Esse
posicionamento nos paralisa nas lutas que continuam a
existir após a partida do ser amado que continua a viver e
a depender de nossos sentimentos construtivos na outra
dimensão da Vida. Se continuamos a amá-lo, precisamos
demonstrar isso em nosso dia a dia de resignação e
continuidade na caminhada evolutiva acreditando no
reencontro futuro.

No teu processo de resgate, porque amando, mais


amenas têm sido as provações, pois que, igualmente
recebes ajudas incomuns, que somente poucas pessoas
conseguem. Num balanço justo, a tua coleta de favores
divinos é muito maior do que o testemunho de lágrimas e
dores.

Por mais paradoxal possa parecer, é exatamente isso


que acontece com a balança de Deus. Não fosse assim,
não suportaríamos as expiações e provas que nos visitam
na escola da Terra.

120
Por isso que aquelas lágrimas que vertes e as dores
que carpes poderão ser amenizadas, se mudares de
paisagem mental e começares a agradecer a Deus,
louvando-O através da oração.

Precisamos tomar muito cuidado diante do desencarne


de um ente querido atentando para a seguinte realidade:
se sofreu com resignação e amealhou benefícios retirados
do sofrimento, a sua dor-resgate brinda-o com os
reencontros felizes e as alegrias a que faz jus.

É o que eu e minha esposa temos tentado com os


conhecimentos da abençoada Doutrina dos Espíritos
entendendo que se, no entanto, não foi suportada com o
aprumo e a elevação necessários, prossegue, porque
dívida não paga ressurge com juros que a aumentam.

E não é isso que queremos para nós, não é mesmo?

Então, mãos à obra! Ou melhor, coração no bem ao


próximo!

121
Nossa estrada de Damasco

Sim, precisamos encontrar Jesus! Por onde andará


nossa estrada de Damasco?

Paulo, enquanto Saulo da cidade de Tarso foi terrível


perseguidor dos cristãos. Tão cruel que foi o responsável
pelo primeiro mártir do Cristianismo, na figura de Estevão,
irmão de sua noiva Abigail.

Seguindo para Damasco em busca de Ananias que


tinha levado as verdades do Evangelho à sua noiva Abigail,
foi interrompido por uma luz mais forte do que o sol
terrível do deserto que lhe impôs uma cegueira imediata e
de onde provinha aquela voz inesquecível que perguntava
a ele, Saulo, qual o motivo de sua perseguição aos
cristãos. O representante fiel aos ensinamentos de Moisés
não resistiu a essa luz, caiu do animal que montava e
prostrou-se por terra na areia escaldante e dali levantou-
se para ser o maior divulgador das mensagens da Boa
Nova aos povos gentios. Não fosse por ele e a mensagem
do Mestre teria ficado asfixiada no seio do povo judeu. Foi
necessário esse encontro. Saulo precisou encontrar-se com
Jesus para levantar-se Paulo!

Joanna de Cusa, casada com um funcionário graduado


(procurador de Herodes) dos poderes da época, após seu
encontro com Jesus, passou a segui-Lo primeiramente à
distância por recomendação do próprio Mestre para que ela
não se afastasse de suas responsabilidades familiares.
Depois, chegou ao testemunho com a sua morte na
fogueira com que comprovou juntamente com um dos seus
filhos, a sua fidelidade a Ele. Joanna necessitou encontrar-

122
se com Jesus para culminar com o sacrifício da própria vida
a sua entrega a Jesus.

Maria de Magdala que segundo Chico não era uma


meretriz, mas uma pessoa atormentada por um processo
obsessivo, necessitou de encontrar-se com o Mestre que
passou a amar, o Raboni que ela procurou no terceiro dia
junto ao sepulcro vazio para que entregasse a sua vida a
cuidar de leprosos em nome D’Ele.

Pedro, mesmo tendo-o negado por três vezes,


conseguiu fidelizar o seu amor ao Mestre quando
interrogado por três vezes se O amava, respondendo
afirmativamente e dando continuidade à sua tarefa como o
pilar mestre onde Jesus depositou sua confiança no
prosseguimento da divulgação das notícias alvissareiras do
Evangelho.

Judas, mesmo tendo sido objeto da traição conhecida,


deu prosseguimento à quitação de sua consciência através
de reencarnações dolorosas onde redimiu-se perante si
mesmo, culminando a quitação de sua consciência com a
existência como Joanna d´Arc na França do século XV.

Francisco de Assis por ter escutado a voz do Mestre que


pedia a ele a restauração da sua Igreja, abandonou os
valores do mundo e em extrema pobreza e vitimado por
várias enfermidades e sofrimentos atrozes, tornou-se o
Irmão Alegria que cantava exultante as glórias de servir ao
seu Mestre amado!

É indispensável esse encontro com Ele para


modificarmos nossas vidas. Para optarmos pelo amor de
forma definitiva!

Madre Teresa de Calcutá encontrou-se com Jesus!

123
Irmã Dulce encontrou-se com Jesus!

Albert Schweitzer encontrou-se com Jesus!

Chico Xavier encontrou-se com Jesus!

Divaldo Franco encontrou-se com Jesus!

E onde estará nossa estrada de Damasco que não


conseguimos encontrá-Lo? Quantas idas e vindas através
de tantas reencarnações nesses dois mil anos de
cristianismo sem que consigamos nossa estrada de
Damasco para levantarmos outro Espírito como fez Paulo?

Onde está Jesus que não conseguimos enxergá-Lo para


que também modifiquemos nossas vidas como o fizeram
os vultos grandiosos do cristianismo?

Será que existe algum fundamento na ideia daqueles


que defendem a volta do Mestre a um novo corpo material
para que, finalmente, possamos ter nosso encontro com
Ele?

Ou a resposta estaria numa passagem do Evangelho de


Mateus?

Vamos dar uma olhadinha?

“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e


destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-
me;36 Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me;
estive na prisão, e foste me ver.
37
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou
com sede, e te demos de beber?
38
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos?
ou nu, e te vestimos?

124
39
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos
ver-te?
40
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos
digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos
irmãos, a mim o fizestes.”
Eis porque não conseguimos nosso encontro com
Jesus! Eis aí porque não encontramos nossa estrada de
Damasco!
Jesus está dentro do lar na figura da esposa que
precisamos compreender sem que queiramos que ela seja
exatamente segundo a nossa vontade, mas da maneira
como o livre arbítrio dela permite escolher.
Jesus está no lar junto aos filhos que assumimos o
compromisso de encaminhar pelo caminho do bem.
Jesus está no lar visitado pela morte onde podemos
enxugar lágrimas com mensagens de bom ânimo.
Jesus está no trânsito complicado de nossa cidade
pedindo-nos paciência.
Jesus está na criança que esmola nos sinaleiros das
grandes metrópoles.
Jesus está debaixo das pontes onde vivem abaixo da
crítica aqueles que não possuem um lar como o nosso.
Jesus está ao lado do faminto junto aos quais
passamos indiferentes porque não conhecemos a dor da
fome.
Jesus está naqueles que caminham seminus enquanto
nosso guarda-roupas possui peças sem uso.
Jesus está junto daqueles que sangram os pés
descalços enquanto armazenamos pares de sapato sem
utilidade.

125
Jesus está junto àquele que dorme sobre sarjetas frias
nas noites de inverno rigoroso enquanto nos agasalhamos
da melhor maneira em leitos limpos e confortáveis.
Jesus está naquele que esmola pelas ruas invisíveis
aos olhos daqueles que possuem o necessário para uma
vida digna.
Jesus está junto ao vizinho que nos importuna dando
oportunidade de exercitarmos a paciência.
Jesus está junto àqueles que nos ofendem
proporcionando-nos as lições para aprendermos a
perdoar.
Não precisamos nos estender mais para
compreendermos porque vivemos fugindo da nossa
estrada de Damasco e do nosso encontro com a figura do
Mestre ignorando aqueles que nos antecederam nas
existências em que exemplificaram o caminho da estrada
de Saulo de Tarso.
Continuaremos na rota que temos escolhido por
inúmeras reencarnações ou ainda existe alguma chance de
modificarmos nosso roteiro?

Damasco que significa cidade do jasmim é a capital da


Síria. E a nossa Damasco você tem ideia de onde fica?
Sim! Claro! Todos têm uma Damasco como iremos trocar
ideias.

Se tivéssemos o mérito de encontrar Jesus e Ele nos


orientasse para dirigirmo-nos para a nossa Damasco, será
que atenderíamos tão sublime convite?

É evidente que não temos nem de longe as condições


de Saulo que pode ver uma luz mais intensa do que o
próprio sol do deserto e ouvir uma voz a orientá-lo a ir
para Damasco. Esse homem que após as escamas dos

126
seus olhos materiais e espirituais caírem, se transformou
no maior divulgador do cristianismo que os judeus queriam
reter somente para eles, muito sofreu na Terra para
cumprir sua missão.

Foi feito prisioneiro várias vezes, chicoteado a tal ponto


de ser jogado em um monte de lixo com a costela
fraturada sendo socorrido pelos servidores da Casa do
Caminho; desprezado pelos próprios familiares e pelo povo
da sua nação, tendo perdido toda a sua condição como
futuro grande membro do Sinédrio com um futuro
brilhante pela frente; perdeu o grande amor de sua vida na
pessoa de sua noiva Abigail; perdeu tudo o que o mundo
dos homens tinha a lhe oferecer. Entretanto tinha
qualidades para ter o mérito de ouvir a voz de Jesus a
apontar-lhe o caminho de Damasco.

Por esse breve resumo que se amplia e aprimora de


uma maneira muito grande no livro ditado por Emmanuel
intitulado Paulo e Estêvão pela mediunidade de Chico
Xavier, já temos a certeza absoluta de que não temos a
mínima condição de ter um contato com Jesus para que
vejamos apontada a nossa Damasco por Ele próprio.

E por lembrarmo-nos de Emmanuel, é automático vir à


nossa mente o orgulhoso senador romano à época do
Mestre, Públio Lentulus, que também teve a oportunidade
deslumbrante de encontrar-se pessoalmente com Jesus
encarnado e receber o convite direto D’Ele para segui-Lo! E
apesar dessa oportunidade inesquecível para o senador
entregue ao orgulho da época, o poderoso representante
romano cai por terra de forma incontrolável diante da
grandeza espiritual do Messias enviado pelo Pai aos
homens da Terra naquele tempo. Apesar de convidado,
optou pelos bens terrenos que a sua posição lhe
proporcionava.

127
Mas, em apenas cinquenta anos depois Emmanuel
retorna como o escravo Nestório a iniciar seu caminho para
o alto atendendo ao convite recusado meio século antes.
Um tempo muito breve se compararmos aos milênios de
lutas em que teimamos em não aceitar o mesmo convite.

Já vemos também por esse pouco tempo que


Emmanuel necessitou para reformular as suas escolhas e a
sua vida, que não temos nenhuma condição de nos
encontrarmos com Jesus para sermos orientado a buscar
nossa Damasco.

E como ficamos então? Ninguém a orientar-nos em


nossa cegueira espiritual que já vem há milênios? Se não
temos nenhuma possibilidade de um encontro com Jesus,
ficamos como barco à deriva? Absolutamente, não!
Segundo Ele próprio, nenhuma ovelha que o Pai lhe
confiou se perderá.

Espíritos amigos em nome do governador do planeta


Terra têm planejado de maneira incansável essa nossa rota
para nossa Damasco. Não é por falta de roteiro e sugestão
que não temos chegado ainda até ela. Fugimos porque
desejamos continuar com as escamas nos olhos espirituais
“cavalgando” o orgulho, o egoísmo e a vaidade. De certa
forma reagimos como o senador Públio Lentulus! Optamos
pelos valores e prazeres do mundo dos homens. Não
queremos nos ver livres das escamas dos nossos olhos
espirituais, as mesmas que caíram dos olhos de Saulo
quando ele resolveu decisivamente a transformar-se em
Paulo.

Mas onde afinal está a nossa Damasco?

Todos têm uma Damasco que se repete a cada


reencarnação que a misericórdia de Deus nos permite ter
em um novo corpo físico.

128
Saulo ouviu a recomendação de Jesus saindo da
cegueira física e espiritual para a luz plena da vida eterna.

Emmanuel necessitou apenas de cinquenta anos para


seguir o Mestre cujo convite havia recusado na última
reencarnação.

Há quantos séculos ou milênios estamos resistindo?

Nosso “Ananias” está no plano espiritual planejando


cada volta nossa à escola da Terra.

Das esferas celestiais Jesus busca-nos através dos seus


mensageiros a recomendar repetidas vezes para que
sigamos até a nossa Damasco.

Trata-se de estarmos dispostos de maneira decisiva a


mudarmos o rumo da nossa história como Espíritos
imortais ou permanecer no deserto de nossos sofrimentos
aguardando por novas oportunidades em companhia da
consciência endividada por nossas escolhas e atitudes.

129
A caixa de laranja

Uma senhora espírita estava muito preocupada com


suas imperfeições. A Doutrina Espírita tem essa
peculiaridade de despertar a consciência que muitos
procuram deixar adormecida ou “amordaçada” para poder
viver os prazeres dos valores do mundo. É a opção pelo
viver bem porque a vida é curta ao invés de bem viver.
Grande engano porque a vida é extremamente longa para
o Espírito. Somos imortais! Temos como calendário a
eternidade! O que é muito curta é a existência corpórea
que não passa de um sopro.

Com esse incômodo a cobrar-lhe a consciência, a


senhora espírita resolveu dirigir-se a um orientador do
Centro que frequentava e expor-lhe essa angústia em que
se via mergulhada.

Expôs ao amigo a angústia que aflorara em seus


pensamentos absorvendo seus pensamentos do dia a dia.

O encontro com o autoconhecimento que propõe a


Doutrina Espírita traz dois grandes riscos contra os quais
precisamos estar de sobreaviso.

Ao descobrir a quantidade de imperfeições que ainda


nos caracterizam como habitantes de um mundo de provas
e expiações, a pessoa pode cair em um extremo de
assumir seus defeitos e teimar em continuar com eles
afirmando que é daquele jeito mesmo, que de nada
adianta lutar contra suas imperfeições, que vai assumir o
que realmente é e ponto final!

Esse é um dos extremos em que a pessoa pode

130
mergulhar. Sem dúvida nenhuma uma opção lamentável
semelhante ao aluno que inicia seus estudos e ao concluir
que ainda não sabe nada, desistir de estudar. Ora, se
nascêssemos sabendo, não precisaríamos estar na escola
da Terra. Estamos aqui exatamente porque temos muito a
aprender. Necessitamos desse aprendizado para sair da
ignorância moral para a perfeição que nos aguarda.

O outro extremo muito perigoso do autoconhecimento é


a pessoa cair em processo depressivo ao constatar o pouco
desenvolvimento moral que possui. Nessa posição é
convidado a desistir da luta o que é extremamente
lamentável. A falta de evolução deve ser um convite ao
progresso espiritual e nunca um chamado para a
desistência porque ainda falta muito. Nesses momentos de
falta de forças para lutar é preciso lembrar dos ensinos de
Jesus entre os quais encontramos a afirmativa de que
poderemos fazer tudo o que Ele fazia e, até mesmo, muito
mais!

Mas aquela senhora ainda não tinha caído em nenhum


dos dois extremos. Desejava uma orientação. Queria lutar
pelo aperfeiçoamento e desejava um amparo nesse
sentido. Lembrava-se constantemente dos ensinamentos
de Santo Agostinho que orientava repassar os
acontecimentos do dia antes de adormecer à noite e
procurar fazer uma análise das escolhas feitas, propondo-
se a não repetir os mesmos erros no dia seguinte.

O companheiro do Centro percebeu a preocupação


daquela senhora companheira das atividades espíritas e
convidou-a a dirigir-se até à cozinha que havia naquele
local destinado a produzir a sopa fraterna que era servida
aos mais necessitados.

No ambiente em que entraram havia uma caixa repleta

131
de laranjas até a parte de cima do recipiente.

O amigo pediu àquela senhora que colocasse a caixa


toda de laranjas sobre o balcão para produzir o suco a ser
distribuído entre as pessoas que seriam atendidas.

A senhora observou bem o tamanho da caixa e


respondeu-lhe que não conseguiria levantar aquela caixa
até a altura da mesa. Só seria possível a ela ir colocando
as frutas aos poucos sobre o balcão.

O amigo sorriu e passou a explicar-lhe que com Deus


em relação às nossas imperfeições se passava o mesmo.

– Como assim? – indagou a senhora.

– Considere a caixa de laranja como as imperfeições


que carregamos. O Criador sabe muito bem o peso que
transportamos devido a nossa invigilância. Jamais Ele
esperaria que eliminássemos todos os nossos deslizes
morais em apenas uma única existência que, muitas vezes,
é bastante curta. Seria muito “peso” para erguermos à
semelhança do recipiente onde estão as frutas. Aos poucos
vamos retirando em cada existência na carne aquilo que a
consciência nos cobra. É exatamente por isso que temos
inúmeras oportunidades através da reencarnação.

– Mas, que fazer então? Quais meus defeitos que devo


eliminar de maneira mais rápida? É tudo muito confuso! –
retrucou a mulher.

– Fique tranquila. Fazendo uma análise dos erros que


se repetem com mais frequência ou aqueles que
incomodam mais as pessoas com as quais convivemos,
podemos escolher dois ou três problemas para focar neles
nossa luta. Como a maior batalha da vida é contra nós
mesmos, a Doutrina espírita nos proporciona os meios de

132
nos orientarmos nessa espécie de “guerra” do bem contra
o mal que ainda reside em cada um de nós.

Diante do silêncio da senhora que ficara pensativa, o


amigo voltou a completar:

– Se tivermos dúvidas ou dificuldades para escolher os


defeitos que devemos combater mais rapidamente, vamos
aplicar a orientação de Jesus e nos colocar do outro lado
da questão, ou seja, o que incomodaria mais a nossa
pessoa se tivéssemos que conviver com alguém que
apresentasse as nossas imperfeições? Fazendo assim,
devemos dar combate àquelas que nossa consciência nos
apontar. Sendo o reflexo de Deus em nós, a consciência
sempre ditará o mais correto desde que nos dispomos
realmente em consultá-la com coragem e verdade. Dessa
forma iremos retirando uma a uma as imperfeições que
carregamos semelhante as frutas que se encontram na
caixa pesada que não conseguimos erguer de uma só vez,
minha amiga. Retirar uma a uma as laranjas. Retirar uma
a uma as imperfeições com uma imensa diferença: a caixa
conseguiremos erguer em pouco tempo. As imperfeições
conseguiremos eliminar existência a existência,
pacienciosa e vagarosamente sem nos entregarmos,
entretanto, ao desânimo.

É assim que a Providência Divina espera que


esvaziemos nossa “caixa” da consciência dos “frutos” que
nos roubam a paz e nos impedem de sermos felizes e
vivermos em paz em plenitude!

Já que estamos trocando ideias, que tal darmos uma


olhada em nossa “caixa de laranjas”?

133
Os três médiuns que visitaram Jesus

“E tendo Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do


rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a
Jerusalém.” – (Mateus, 2:1)

Tenho quase a certeza que ao ler o título você já


pensou: em nenhum momento Mateus falou que eram
três! E você está certo. Apenas conservamos o número que
a tradição consagrou como sendo três reis magos para
trocarmos ideias.

Outro aspecto que também tenho certeza que você


observou foi quanto ao título: “reis”! Em nenhum
momento, da mesma forma, Mateus disse que se tratavam
de reis, apenas de magos. Ótimo isso! Também
trocaremos ideias sobre esse fato.

Na realidade, não se sabe se foram três ou um número


maior ou menor que saindo do Oriente veio até o local
onde Jesus havia nascido, orientados, segundo a tradição,
por uma estrela que em Doutrina espírita consideramos a
hipótese de ser uma plêiade de Espíritos luminosos a
indicar o caminho até Jesus.

O título pode parecer estranho: os três médiuns!

Contudo, se procurarmos no dicionário um dos


significados da palavra “mago”, começaremos a entender a
colocação em nossa troca de ideias. Mago pode traduzir-se
como feiticeiro, bruxo, aquele que faz previsões. Esse
termo, portanto, pode muito bem ter sido aplicado aos
chamados “reis” magos como sinônimo de que eram

134
médiuns, mediunidade essa que na Idade Média levava à
fogueira da Inquisição.

E qual o motivo de chamá-los de “reis”? Pertenceriam


realmente a uma aristocracia? Também não. O termo
“reis” poderia traduzir uma mediunidade muito bem
desenvolvida que permitia o contato com o plano espiritual
através do qual teriam sido informados do nascimento do
tão aguardado Messias, o rei dos Judeus.

Interessante aprender com Paulo Alves Godoy, um


grande estudioso da Doutrina espírita do século XX, o
significado dos chamados presentes levados até o recém-
nascido em Belém: o ouro, o incenso e a mirra.

O ouro, segundo Paulo Alves, simboliza o homem carnal


que gira seus interesses em torno desse metal precioso de
alto valor, situação em que mergulha no egoísmo e no
orgulho podendo ser o causador de muitas misérias no
mundo.

O incenso simboliza o Espírito já que, naquela época,


acreditava-se e era usado como higienizador do ambiente
para manifestações de caráter espiritual.

Segundo nos ensina ainda o referido autor, no livro


“Êxodo” deparamos com uma ordenação a Moisés sobre a
maneira como preparar o incenso, afirmando que ele seria
santo para o Senhor.

Finalmente, a mirra, é uma planta extremamente


amarga, difícil de ser suportada na boca que poderíamos
fazer uma associação em nossa troca de ideias com a taça
amarga do sacrifício de Jesus depois da sua prisão,
julgamento e crucificação.

Procurando fazer uma síntese dos três presentes,

135
resumiríamos assim: Jesus (Espírito) encarnou entre os
homens (ouro) tomando de um corpo físico e amargou
(mirra) em seu testemunho pelo planeta inundado de ódio
dos homens daquela época, como se alguém tentasse ficar
com a mirra em sua boca.

Interessante lembrar que os “reis” magos,


desconhecendo o local preciso onde nascera o Salvador,
cometeram a ingenuidade de buscar informações junto ao
rei Herodes sobre o menino. Outros já acham que Herodes
consultou os sacerdotes do Templo para saber a
localização da criança recém-nascida. Contudo, haveria um
bom relacionamento entre o rei e os sacerdotes para que
Herodes procurasse essa informação entre eles? Fica a
indagação.

Herodes não era de família real. Era um homem do


povo. Tornou-se rei porque casou-se com Mariana, filha do
rei Antíoco, e com ela teve seis filhos. Por ser uma pessoa
muito má, a esposa e dois filhos tramaram a morte do
marido e pai. Entretanto, foram descobertos e levados à
pena de morte.

Perante os magos, Herodes demonstrou o interesse


sobre o local onde o rei dos judeus tivesse nascido
mentindo sobre as suas intenções que já conhecemos hoje
muito bem. Pediu, portanto, aos visitantes que
retornassem após descobrir o local do nascimento para
avisá-lo onde era tal localidade.

As ideias são variadas e, creio, devemos ir conhecendo-


as e enriquecendo o que podemos aprender.

Pela intervenção do plano espiritual junto aos magos,


assim que levaram suas oferendas ao menino recém-
nascido e planejavam retornar para revelar o local a
Herodes, foram avisados em sono pela espiritualidade

136
maior de que não deveriam retornar junto ao soberano por
razões óbvias. Mais uma vez se evidencia nesse sonho de
alerta o dom mediúnico de que eram portadores.

Como os magos não retornaram, Herodes teria


decretado a morte dos meninos recém-nascidos em toda a
redondeza e com a idade até dois anos.

Estima-se que cerca de vinte crianças foram mortas


numa população que contava àquela época, cerca de mil
habitantes. Jesus escapou porque um “anjo” alertou e
orientou José levar a família para o Egito.

Somente Mateus ser refere ao acontecimento do


massacre. Se não existem dados históricos sobre esse
episódio, ele é compatível com a crueldade de Herodes
cuja personalidade foi bem descrita por Flávio Josefo.

Evidentemente que não pretendemos nessas poucas


linhas aprofundarmo-nos sobre o assunto, mas trocar
ideias e incentivar quem assim o desejar a buscar mais
dados sobre o assunto.

137
Problemas: provas ou expiações?

Tornou-se comum no meio espírita pela ideia da


reencarnação, a pergunta acima diante das dificuldades da
vida: provas ou expiações?

É dispensável saber essa resposta para todos que


acreditam firmemente na existência de Deus, porque sabe
que os obstáculos que nos alcançam nunca têm o endereço
errado. Entretanto, como temos a capacidade de raciocinar
permitida pelo Criador, vamos usá-la para ver até onde
conseguimos ir.

É bom lembrar que as dores podem ter três origens:


expiações, provações e caráter missionário.

É expiatória as dificuldades do hoje quando traz os


meios de resgatar desequilíbrios de existências passadas.

Contudo, encontramos sofrimentos que são


provatórios, ou seja, não estão vinculados ao nosso
passado espiritual, mas é o Espírito que escolhe para
adquirir qualidades que ainda não possui. Pode parecer
estranho quando estamos reencarnados que um Espírito
escolha sofrer. Mas tudo se esclarece quando nos
lembramos de que no plano espiritual temos uma visão
real do que é a transitoriedade da vida no corpo e
entendemos que tudo passa e, portanto, compensa a
quota de sofrimento que nos traga lições através das quais
iremos evoluir para planos melhores na espiritualidade.

Não podemos nos esquecer das dores missionárias que


são aquelas que Espíritos evoluídos o suficiente aceitam
trazer para nos exemplificar como devemos nos comportar

138
diante do sofrimento quando temos realmente fé na
existência do Criador. Para aqueles que não creem em
Deus, a discussão se encerra com a ideia do materialismo
que não se preocupa com a lógica do raciocínio, mas com o
intuito de negar uma Inteligência suprema autora do
Universo. Resta deixar a esses descrentes uma pergunta:
quem seria a Causa do efeito que os cientistas descobrem
cada dia mais ao estudar os astros partindo do pressuposto
de que não existe efeito sem causa segundo enunciado
aceito pelo próprio homem? O acaso seria o responsável
por esse equilíbrio perfeito que rege os universos ou os
multiversos?

De tempos em tempos o homem, ainda muito pequeno


em conhecimentos, descobre uma nova estrela. Ela seria
obra do acaso? Quem a teria colocado numa harmonia
perfeita exatamente no local em que está? O acaso?

Sabemos que estrelas se extinguem e são formadas.


Tudo teria por autor o acaso? Mas que acaso inteligente,
não?! Talvez “acaso” seja, para os materialistas, um
apelido de Deus.

Mas voltemos a falar sobre as dores missionárias.


Espíritos de grande evolução aceitam trazer o sofrimento
em uma determinada reencarnação para nos ensinar já
que estamos bem no início da nossa caminhada evolutiva.

Por exemplo, Francisco de Assis, o segundo Espírito em


evolução que passou pelo planeta depois de Jesus, ficou
cego devido uma infecção no olho que, naquele tempo, era
tratado com ferro em brasa! Isso mesmo! Francisco foi
tratado com o calor intenso de um ferro incandescente
aplicado em seus olhos o que o levou a cegueira.
Imaginem a dor que sentiu quando teve seus olhos
queimados quando um pequeno cisco já nos incomoda

139
tanto! Imagine se você teria condições de suportar um
tratamento dessa forma hoje que a anestesia evoluiu
muito quando necessitamos de uma cirurgia!

Mas não parou por aí. Francisco também contraiu a


lepra por conviver com irmãos leprosos! Você sabia que no
início do século XX as pessoas fugiam do contato com
esses doentes que eram internados em colônias
especializadas em recebê-los e retirá-los do convívio da
família? Alguns leprosos tinham um pequeno sino preso ao
corpo para anunciar sua aproximação das pessoas sãs e
que se afastavam rapidamente deles. Hoje sabemos que o
contágio não se faz apenas porque respiramos o mesmo ar
que eles respiram ou frequentamos o mesmo ambiente
que eles frequentam. Mas, naquela época não se sabia
disso o que custava uma dolorosa expiação para os
portadores do mal da lepra retirados do convívio com a
sociedade.

Pois é! Francisco, no século XIII, abraçou os leprosos


como seus legítimos irmãos. E se a lepra só encontrou
tratamento e cura no século XX, imaginem o que acontecia
naquele tempo distante!

Diante dessas dores apresentadas por um Espírito da


evolução de Francisco de Assis, fica o exemplo das dores
missionárias! A não ser que você acredite que ele tivesse
débitos com o passado espiritual para trazer tais
sofrimentos em sua existência terrestre. Logo Francisco
que enxergava a obra da criação Divina em tudo e em
todos – irmão Sol, irmã Lua, irmão lobo, irmão fogo, irmã
água – o raciocínio nos diz que se tratava um exemplo
para os sofredores de todos os tempos de como devemos
nos comportar diante das enfermidades e demais
obstáculos.

140
Pois bem. Seja dor expiação, seja dor provação, não
devemos procurar a causa porque isso representa um
questionamento à Providência Divina: por que sofro?

Se acreditamos que Deus não erra, o que nos cabe é


aceitar que existe um motivo para os nossos problemas e
que um dia saberemos as explicações quando retornarmos
ao plano espiritual. Esse querer saber soa como uma
interpelação ao Pai como se estivéssemos pedindo conta a
Ele.

Quando Jesus afirmou que bem-aventurados eram


aqueles que sofriam porque seriam consolados, Ele se
referia aos sofredores resignados exatamente por
depositar confiança irrestrita em Deus.

Mas, se podemos fazer alguma suposição para


buscarmos um entendimento sobre os problemas da
existência, talvez essa hipótese traga alguma pacificação
às nossas dúvidas: os que passam pela dor expiação,
geralmente reclamam por serem Espíritos de pouca
evolução que estão resgatando desequilíbrios de passadas
existência.

Aqueles que passam pela dor provação, reclamam


menos porque pediram essas lições visando o objetivo do
seu crescimento espiritual. Dessa forma, são mais
resignados com as dificuldades por terem um grau
evolutivo um pouco maior do que aqueles que transitam
pelas expiações.

Contudo, essa análise é apenas uma suposição. O ideal


sempre é ter a devida fé no Criador e entender que tudo
aquilo que nos acontece e que não tem relação com a
existência presente, deve ter com fatos passados quando
se tratar de expiações.

141
Como Espíritos imortais no caminho evolutivo para a
conquista da perfeição, retornamos a um novo corpo para
aprender através das dificuldades, sejam expiatórias ou
provatórias, que nos tragam lições das quais temos
necessidade.

A dor, os obstáculos, as dificuldades, os problemas são


“cercas de Deus” para que não nos afastemos D’Ele e, por
consequência, não nos distanciemos da felicidade e da paz
para a qual fomos criados.

Com essas trocas de ideias, espero que possamos


modificar nossas indagações a respeito dos problemas que
nos visitam com a promessa de permanecer conosco
apenas enquanto precisarmos de tal presença.

142
Vencendo os obstáculos

Conta-se, e não sei o autor para mencionar, que um


homem ficou extremamente rico em uma pequena cidade
do interior.

Como ficou rico, despertou a curiosidade das pessoas.


Infelizmente, como ocorre muitas vezes, o acontecimento
julgado bom na vida de alguém gerou inveja a que levou a
vários comentários que podemos resumir dessa forma:
como aquele homem pode ficar tão rico se era analfabeto?!

Era o ser humano tentando ofuscar o brilho da vitória


alcançada levantando a crítica destrutiva sobre o dinheiro
conquistado honestamente.

A curiosidade foi crescendo de uma tal maneira que um


dia alguém representando a muitas pessoas abordou o
novo rico e perguntou sem nenhum constrangimento:

– Como você conseguiu conquistar tamanha fortuna se


é analfabeto?

E para suavizar um pouco a má língua, colocou:

– Se soubesse ler e escrever teria ficado ainda mais


rico!

O homem muito tranquilo respondeu calmamente:

– Você está enganado meu amigo. Se eu soubesse ler e


escrever, não teria conquistado o meu dinheiro!

Diante do espanto e da curiosidade ainda mais aguçada


do representante da má língua, continuou:

143
– Sim! É isso mesmo. Eu ajudava na Igreja da nossa
cidade tocando o sino para chamar os fiéis para a santa
Missa. Depois o padre quis que eu lesse o missal, coisa que
não poderia fazer porque não sei ler. Fui dispensado do
meu trabalho. Entretanto, não desisti. Comprei algumas
dúzias de bananas e consegui algum lucro revendendo-as.
Com esse lucro comprei mais frutas e, novamente,
consegui lucrar um pouco mais. Dessa maneira, de negócio
a negócio, mesmo sem saber ler e escrever consegui,
honestamente, a soma de dinheiro que hoje possuo.

A lição que a história nos permite argumentar é de que


o obstáculo, muitas vezes, é exatamente a ferramenta
para superar-nos. Está no obstáculo o chamamento à
superação tirando-nos do comodismo limitante em que nos
permitimos ficar. Como o homem que enriqueceu não pode
continuar com sua função na igreja, teve que buscar outra
alternativa para ganhar o sustento.

Se você está pensando o contrário, ou seja, que o


problema nos convida ao desânimo e não à luta, vamos
relembrar alguns pontos da vida vencedora do maior
psiquiatra que o mundo conheceu, doutor Viktor Frankl!

Esse médico era austríaco de família judia que durante


a segunda guerra mundial foi perseguida como muitos
outros seres humanos. Antes, porém, dedicava-se a ajudar
as pessoas a buscar o sentido da vida evitando dessa
maneira o caminho errado do suicídio.

Mas, Viktor foi levado aos campos de concentração


alemães pela sua origem. Nesses locais, por algumas vezes
o seu número como prisioneiro – nº 119 104 – foi levado à
lista para morrer na câmara de gás, mas que acabou não
se consumando. Sua esposa grávida foi obrigada a abortar
a criança. Ela, os pais de Viktor, os irmãos, foram

144
destinados a campos de concentração diferentes, onde a
maioria deles foi sacrificada pela impiedade da guerra. Em
resumo, ele acabou perdendo todos os familiares.

Depois da guerra quando foi solto pela invasão dos


aliados, era muito perguntado de como conseguira
sobreviver àqueles dias pavorosos dos campos de
concentração. A sua explicação era muito simples de ser
anunciada, mas extremamente difícil de ser praticada.

Viktor Frankl ensinava que procurava sempre uma


razão para viver, mesmo dentro de um campo de
concentração, auxiliando também a muitos judeus que
pensavam em se suicidar antes que a câmara de gás
tirasse as suas vidas.

Trabalhando esse tema de valorizar a existência, de


encontrar uma razão para viver, ele construiu uma escola
renomada no mundo inteiro levando à renovação da
esperança a milhares de pessoas.

Existe uma colocação consagrada do psiquiatra de


renome mundial: Nós podemos descobrir o significado da
vida de três diferentes maneiras. Fazendo alguma coisa.
Experimentando um valor ou um amor. E a terceira
alternativa que ele coloca pode parecer estranha porque é
sofrendo!

E ele realmente vivia esses seus ensinamentos. Nos


campos de concentração onde a morte rondava dia a dia,
ele fazia algo enorme que era exatamente orientar os
judeus desejosos de cometer o suicídio antes que
morressem nas câmaras de gás, a enxergar que sempre
existia uma chance de sobreviver. Existia uma
possibilidade daquela pessoa entregue ao desespero de
não chegar a ser morta pelo gás, como realmente muitas
escaparam.

145
Viktor Frankl também exercitou sua segunda a
orientação que era experimentar o amor. Ele amava
suficientemente aqueles sofredores cadavéricos ao ponto
de levantar o ânimo daqueles que queriam desistir da vida
pela impossibilidade de fugir ao campo de concentração e
à morte pelo gás.

E a sua terceira orientação ele também a vivenciou


profundamente que era o sofrimento. Perdeu a maioria dos
seres amados, mas não perdeu a fé numa possibilidade de
liberdade como realmente aconteceu.

Muitas vezes nos sentimos como se estivéssemos numa


guerra do mundo contra nossos sonhos e objetivos
maiores. Parece até que os obstáculos que temos que
enfrentar são um verdadeiro campo de concentração com
câmaras de gás a nos aguardar para o golpe final. Não
conseguimos a suficiente dose de otimismo que possa
modificar nossa visão da vida acreditando em dias
melhores dando como consumado a tragédia que
abrigamos em nossa mente para os dias futuros que nem
sabemos se serão concretizados.

Gostaria de deixar registrada uma história narrada por


Divaldo Franco em uma de suas lives.

Um judeu ficou prisioneiro de um árabe. Sabemos bem


o desentendimento que existe entre esses povos,
infelizmente.

Por problemas pessoais o judeu foi condenado à morte


pelo seu inimigo. Entretanto o judeu teve a visão de
perceber que o árabe adorava o seu animal de montaria, o
seu cavalo.

Como havia sido condenado à morte em pouco tempo,


teve uma ideia brilhante. Propôs ao árabe a ensinar o

146
cavalo dele a falar! Sim! Isso mesmo. A ensinar o cavalo
do árabe a falar! Impossível você estará pensando.

Contudo, vamos seguir o raciocínio do judeu porque


vale a pena para nos ensinar algo.

– Senhor! – disse o judeu ao seu inimigo. Já que estou


condenado à morte em poucas horas, gostaria de fazer-lhe
uma proposta.

O árabe aquiesceu. Não teria nenhum problema deixar


o judeu falar já que o seu destino estava selado. Seria
executado de qualquer jeito.

O judeu prosseguiu:

– Se me for concedido um ano de vida, ensino o seu


animal maravilhoso a falar!

Evidentemente que o árabe ficou espantado com a


ousadia do judeu já que isso era uma coisa impossível!
Mas, para verificar até onde ia a coragem do inimigo,
aceitou a proposta concedendo-lhe o ano de vida pedido. O
final – pensou o árabe – seria o mesmo, ou seja, a morte
do judeu porque seu animal jamais aprenderia a falar.

E assim foi feito. O judeu foi libertado com o prazo de


mais um ano de vida.

Os judeus que souberam da história ficaram


boquiabertos com o patrício. Como prometer ensinar um
animal a falar se isso era absolutamente impossível?!

Tranquilo o judeu explicou:

– Estava condenado a morrer em algumas horas e


ganhei um ano de vida! Um ano! Em um ano eu posso
morrer de qualquer coisa. O árabe pode morrer! O animal
pode morrer. Ou o cavalo poderá aprender a falar! Não se

147
sabe o que será do dia de amanhã.

É exatamente isso que precisamos colocar em nossas


vidas. O destino não está selado como muitas vezes
pensamos. O dia de amanhã não poderá ser tão cruel, tão
desastroso como concebemos. Soluções podem surgir
diante dos desafios do momento presente. Não devemos
nos entregar derrotados diante do obstáculo. Podemos
escapar dos aparentes campos de concentração que a vida
se nos apresenta. Um novo dia com novas oportunidades
para modificarmos a tragédia aparente de hoje se
apresentarão à nossa vontade de modificar as situações
adversas. Nada está consumado irremediavelmente.
Precisamos buscar um objetivo de vida como ensinou
durante toda a sua existência doutor Viktor Frankl dentro e
fora do campo de concentração alemão quando tinha
perdido toda a sua família. A única coisa que ele nunca
perdeu foi a busca para um sentido da sua existência!

Trocando as ideias e em miúdos a nossa conversa:


porque não tentar ensinar o “cavalo” dos problemas que a
vida se nos apresenta a falar?!

148
Onde se localiza a violência?

Violência contra as mulheres. Violência contra as


crianças. Violência contra idosos. Violência contra os
animais.

Violência! Violência!

Mas onde ela está na realidade?

No caso das mulheres, ela se localiza no homem


agressor?

Nos demais casos que possamos citar ou lembrar,


estaria em uma pessoa contra outra?

Sim ou não?

Vamos nos valer da Revista Espírita de 1860, mês de


fevereiro, na qual o Espírito de São Luís ensina sobre a
violência de um Espírito desencarnado.

Numa casa pequena perto de Castelnaudary,


aconteciam manifestações de efeito físico como barulhos
estranhos e outros acontecimentos que levaram os
moradores a concluir de que aquele local era assombrado.

Em virtude disso, a casa foi exorcizada e colocaram


nela um número muito grande de imagens de santos.

Acreditando que o mal estava sanado, uma pessoa


resolveu realizar os reparos na casa e retirou as gravuras
ali colocadas.

Acontece que depois de alguns anos morando no lugar,


essa pessoa teve uma morte repentina.

149
A casa passou a ser utilizada pelo filho do
desencarnado que certo dia levou uma bofetada repentina
de mão invisível.

A pessoa como tivesse a certeza absoluta de estar


sozinha no local abandonou incontinenti a casa em
questão.

O Espírito de São Luís consultado sobre a possibilidade


de se evocar o Espírito perturbador concordou e ele logo se
manifestou de maneira violenta através do médium.

Lápis destinados a grafar alguma comunicação foram


quebrados com violência e atirados sobre os presentes,
assim como papeis foram rasgados com cólera.

Sob a orientação de São Luís, os presentes aprenderam


que o Espírito que perturbava o local fora inclusive o
responsável pela morte do primeiro morador após o local
ter sido exorcizado.

Dessa forma sucinta trouxemos esse fato registrado por


Kardec para deixarmos claro que a violência está no ser
espiritual e não no corpo físico através do qual se
manifesta. Como o Espírito não tem sexo, tanto pode ser
violento quando reencarnado em um corpo feminino, como
em roupagem física masculina.

É compreensível que no mundo dos encarnados a


notícia chegue responsabilizando um homem pela violência
cometida contra uma mulher ou que uma pessoa é a
autora da violência contra seu semelhante, contra os
animais e demais componentes da Natureza como rios,
florestas, atmosfera e em qualquer lugar onde a
manifestação do desamor encontre possibilidade de se
manifestar.

150
O corpo, porém, é apenas um mero instrumento
através do qual o sentimento do ódio se manifesta.

Você poderá estar pensando que tudo o que foi escrito


até agora é muito óbvio para o espírita.

Sim. Concordo. Porém, tem outro aspecto nessa


realidade. Sendo o Espírito aquele que detém a violência,
podemos concluir a inverdade do ditado popular que diz:
morta a cobra, morto o veneno. Pois é. O desencarne não
promove uma limpeza dos sentimentos negativos. O ser
imortal continua na posse desses sentimentos até que
consiga fazer sua reforma íntima instalando dentro de si
mesmo o reino de Deus.

E tem mais. A realidade de que o Espírito é quem


abriga a violência que se manifesta através do corpo
material, o alerta de Jesus para que reconciliemos com
nossos inimigos ganha mais força! Força tremenda!

Mantida a mágoa, mantido o ódio, continuando o


sentimento de violência que não foi eliminado enquanto
em vida física, o problema obsessivo adquire mais força
para se estabelecer entre aqueles que se desentendem.

A violência que se manifestava enquanto no corpo,


pode continuar a se processar após o desencarne com o
agravante de que se torna menos, muito menos evidente
aos olhos humanos não ocupando espaço nos noticiários,
porém, não menos efetiva.

Então, quando assistirmos algum relato de violência de


um ser humano contra o outro, é bom que meditemos nos
alertas abundantes da Doutrina espírita em nosso círculo
de relacionamento, buscando a paz em nosso interior e em
nossa volta, estendendo a quem necessitar a força do
perdão por mais distante que essa pessoa esteja do nosso

151
raio de ação.

Violência contra a mulher, contra a criança, contra o


idoso, ou seja, onde essa violência se manifestar, que se
levante a força do amor para que o Espírito pacificado
possa prosseguir em paz na vida espiritual e permitir que
prossigamos também em paz onde quer que estejamos.

A afirmativa sobre a morte da cobra e o seu veneno


não é realidade quando se trata do ser imortal mergulhado
na vida que prossegue para todo o sempre.

152
Doutrina Espírita: converter ou convencer?

Ambas! Calma! Se você não concorda, me dê sua


atenção em apenas umas linhas a mais e trocaremos ideias
sobre esta afirmação.

Abordaremos a grande médium brasileira de


materialização Anna Prado, que reencarnou no estado do
Pará no início do século XX e deslumbrou os olhos de
muitas pessoas com a materialização de vários Espíritos.

Só para termos ideia da importância do seu trabalho,


foi através dela que se materializou, no dia 28 de abril de
1831, a filha Rachel de Frederico Figner, o irmão Jacob,
autor do excelente livro “Voltei”, em que ele conta o seu
retorno ao plano espiritual amparado por doutor Bezerra
de Menezes!

Foi uma grande colaboradora na ilustração do livro Os


mortos falam de autoria de Raymundo Nogueira de Faria,
publicado pela FEB no ano de 1921.

Mas, voltando ao assunto, a Doutrina serve para


converter e convencer, como veremos.

O Espiritismo é uma grande arma contra o materialismo


porque demonstra com fatos a imortalidade da alma, o
prosseguimento da vida para além das fronteiras
acanhadas do mundo material.

As comunicações com os desencarnados


inapropriadamente denominados de mortos, trazem uma
robustez muito grande contra a ideia materialista já que
coloca os que estão em outra dimensão em contato com o
mundo vibratório dos encarnados, que apesar de

153
caminharem para o fenômeno da desencarnação ou morte
física, são chamados de vivos.

Por isso dissemos que a revelação espírita serve para


convencer os incrédulos sobre a vida abundante que a
todos aguarda em dimensão diferente do espaço. Esse
trabalho realizado pela médium Anna Prado por ser algo
que todos os presentes no local onde se realizava a
materialização dos Espíritos podiam constatar
pessoalmente, forneceu as provas necessárias aos sentidos
do homem físico que podia vê-los de maneira bastante
evidente.

Creio, portanto, que não fica nenhuma dúvida sobre o


papel importantíssimo da Doutrina nesse aspecto do
convencimento da criatura humana, Espírito encarnado.

Já a expressão “converter”, examinada de maneira


muito rápida, pode trazer uma impressão errada já que o
espiritismo não é dado a converter ninguém à Doutrina dos
Espíritos. Não comporta essa Doutrina a função de fazer
adeptos já que ela própria destaca o livre arbítrio de que
as pessoas são providas pela Providência Divina.

Esse “converter” não é transformar ninguém em


seguidor das obras da Codificação de Allan Kardec. Não!
Converter no caso é levar a pessoa a realizar a sua
reforma íntima, a construir o reino de Deus dentro de cada
um, caso seja da vontade de determinada pessoa. É nesse
sentido que empregamos a palavra “converter”.

Dalai-lama, líder religioso do budismo, indagado certa


ocasião sobre qual era a melhor religião, não titubeou em
informar que a melhor religião era aquela que fizesse a
pessoa modificar-se para o bem.

Não resta nenhuma dúvida quanto a isso. Aliás, fato

154
interessante ocorrido com Chico Xavier e que endossa esse
pensamento, foi o caso da esposa que contava para o
Chico que o marido só tinha um defeito. Perguntado a ela
qual defeito seria esse, a esposa afirmou que o marido não
era espírita. Contudo, era um excelente pai, um
companheiro amoroso que não deixava faltar nada em seu
lar em termos materiais e emocionais para ela e os
rebentos. Diante dessa colocação daquela moça, Chico
sorriu e disse que ela ficasse em paz porque era preferível
qualquer religião que o marido professasse do que ele ser
espírita, porém, uma má pessoa.

Os ensinamentos dos Espíritos na obra da codificação


de Allan Kardec têm essa intenção, esse objetivo: que nos
transformemos a cada dia em um ser melhor perante a
sociedade e perante a nossa própria consciência.

Nesse sentido é que não titubeamos em afirmar que o


Espiritismo deseja sim converter a todos para que
possamos viver num mundo melhorado pelo cultivo do
amor e pelo afastamento do ódio entre as criaturas!

Então, por que os fenômenos de efeitos físicos são tão


poucos hoje em diante se apresentam também uma forma
de converter uma pessoa após convencê-la sobre a
continuidade da vida?

Muito simples: os dados referentes aos anos que Anna


Prado exerceu o seu trabalho no Estado do Pará, informam
que cerca de quatrocentas pessoas tiveram a oportunidade
de assistir a manifestação dos desencarnados através
daquela médium.

Entretanto, apenas cerca de duas pessoas se tornaram


espíritas!

Ora, qual o maior produtor de provas de que o Espírito

155
é imortal, senão Jesus?

No entanto, infelizmente para toda a humanidade,


poucos se convenceram acabando com a infâmia de sua
crucificação.

Outra parte menor se converteu e se transformou nos


primeiros mártires do Cristianismo nascente entregando a
própria vida física aos mais diversos meios de tortura da
época.

Chico “materializou” palavras de filhos, maridos e


esposas desencarnados através das cartas abençoadas de
suas mãos. Muitos foram convencidos. Entretanto, quantos
se converteram em pessoas que mudaram de vida para
uma atitude melhor perante si mesmos? Não sabemos a
resposta, mas fica a pergunta para nossa meditação sobre
o convencer-se e o converter-se.

Mas o que importa para o momento é aplicar essas


duas questões a nós mesmos através da nossa
consciência.

Fomos convencidos pela Doutrina Espírita da


imortalidade da vida com as suas consequências?

Se fomos, passamos para a pergunta seguinte:


estamos convertidos numa pessoa que procura
aperfeiçoar-se a cada dia um pouco?

Lembremos as palavras de Jesus a Tomé: felizes


daqueles que não viram e creram!

Será que deu para trocar alguma ideia sobre o motivo


dos fenômenos de materialização ir se escasseando no
meio espírita?

156
Onde está a paz?

Senão todos os seres humanos, a imensa maioria busca


pela paz porque ela é uma condição indispensável para a
felicidade de qualquer pessoa. Pode existir já que toda
regra comporta exceção, que alguém goste de viver em
atrito, sentir-se bem discutindo, ser agressivo, preferir a
beligerância ao invés da paz. Mas, com certeza será a
minoria, mesmo nesse período conturbado da
Humanidade.

O interessante é que o homem, quando falamos sobre


a paz, assume uma atitude semelhante àquela quando
busca por Deus. Pelo menos a maioria procede assim.

Quando abordamos a figura do Criador, a imensa


maioria das criaturas olha para cima como se Ele estivesse
em algum lugar muito alto inacessível a qualquer mortal, a
exemplo do Olimpo dos deuses gregos que habitavam um
lugar muito acima do mundo e proibido para os mortais.

Deus estaria em uma localização imensamente distante


da sua criatura a contemplar do seu trono o que fazemos
aqui na Terra, e só aqui nesse planeta, já que admitir a
vida nos inúmeros e incontáveis outros sóis ainda é ideia
que se debate entre o orgulho e vaidade desse ser humano
tão pequeno! Tão pequeno que não enxerga a sua
pequenez.

Essa atitude de altivez do homem atual da escola da


Terra, faz-me recordar da humildade grandiosa de
Sócrates quando foi informado pelo oráculo de Delfos
sobre o fato de ser o homem mais sábio do planeta. Ao
invés do orgulho e da soberba pela notícia, justificou-se

157
afirmando que o que sabia era que nada sabia! Como
estamos longe de tal comportamento!

Pois bem. Quando se toca no assunto da paz, a atitude


é semelhante. O olhar do homem se volta para fora a
buscar algum lugar longe ou perto, mas que seja sempre
fora dele.

A paz estaria nos campos de batalha dos países


envolvidos em guerras em pleno século XXI quando as
razões para a destruição acabasse.

A paz estaria num sistema de combate eficaz ao crime


impedindo as inúmeras vítimas do ódio do seu semelhante.

A paz estaria numa justiça social que realmente se


efetivasse.

A paz estaria num sistema de saúde que atendesse a


toda uma população com os mesmos recursos dos
hospitais de primeira linha e que somente os portadores de
muito dinheiro conseguem acesso.

A paz estaria no preço justo do alimento que não


faltasse na mesa dos mais desprovidos de recurso
financeiro.

A paz estaria na presença do emprego a todos os


cidadãos desejosos de ganhar o pão de maneira honesta.

A paz estaria no preço dos combustíveis que não


subissem de semana a semana.

Resumindo, a paz estaria sempre fora do indivíduo e


distante da sua casa.

Vou narrar uma pequena história cuja íntegra não me


recordo mais, mas que serve para ilustrar essa nossa troca
de ideias.

158
Existia um lar em localidade distante que vivia em
absoluta paz. Nunca naquela casa se ouvira uma única
palavra exaltada. Os cônjuges e os filhos viviam em
harmonia invejável!

Qual o segredo para tamanha conquista? Que bem-


aventurança havia feito morada naquele lar modesto?

Observando-se do lado de fora, o que chamava a


atenção é que o responsável pelo sustento da família saía
todas as manhãs da sua morada, acariciava as folhas de
uma frondosa árvore e nela pegava um pequeno alforje
que colocava no ombro e se dirigia ao trabalho.

A curiosidade ficava ainda maior quando esse mesmo


trabalhador retornava ao lar nas primeiras horas da noite e
colocava o mesmo alforje na árvore silenciosa.

Os moradores da localidade depois de observar tal


comportamento por longo tempo, não resistiram e
resolveram abordar àquele homem do lar feliz.

Porém, tiveram o cuidado de espiar dentro do alforje


antes que fosse recolhido por aquele homem ao se dirigir
ao trabalho e, depois, em seu retorno ao lar
dependurando-o na frondosa árvore.

Nada encontraram! Por isso mesmo a curiosidade se fez


mais intensa!

A solução era mesma abordá-lo e perguntar


diretamente sobre duas grandes dúvidas.

E assim o fizeram através de dois questionamentos:


como conseguia viver num lar onde a paz fizera morada e
o que ele levava no alforje que todos os dias ele recolhia
da árvore e devolvia à mesma planta em seu regresso ao
lar.

159
“Não era possível!” – comentavam. Deveria haver
alguma relação entre a paz do lar e aquela pequena bolsa
que era transportada invariavelmente todos os dias!

Assim decidido, assim foi feito e o trabalhador foi


abordado e questionado sobre o conteúdo do alforje.

“Nada levo para o trabalho. Nenhum alimento ou tipo


de objeto. Apenas transporto o meu alforje vazio quando
vou.” – foi a resposta simples e sincera dele.

“E quando retorna para sua casa, traz alguma coisa


para seu lar?” – perguntaram curiosos.

“Sim! Vem repleto de coisas!” – respondeu de maneira


bem simplificada para aguçar ainda mais a curiosidade das
pessoas.

“Mas o quê? O que traz tem relação com a paz que


existe em sua casa?!” – voltaram a perguntar em curiosa
ansiedade.

“Toda relação meus amigos! Vivo num lar feliz porque


transporto o meu alforje repleto de coisas quando volto do
trabalho à noite.” – foi a resposta.

“Então divida conosco o seu segredo se deseja ajudar-


nos!” – colocaram todos em tom quase de súplica.

“Muito simples! Dentro do meu alforje que penduro na


árvore amiga, trago todas as minhas preocupações de
cada dia. Eles permanecem do lado de fora de onde moro.
Não permito que os problemas adentrem comigo a
intimidade do meu lar! Dessa maneira consigo manter a
paz da minha família.” – arrematou deixando os curiosos
envolvidos em profundas meditações.

Allan Kardec na Revista Espírita de 1865, mês de

160
agosto, traz uma orientação do Espírito de Lacordaire.

Vamos rever um pequeno trecho: E a família, que será


dela? Estamos quites com ela desde que socorremos os
chamados pobres? Não, evidentemente, senhores,
porquanto, desde que reconheceis a necessidade de vos
despojar pelos pobres, trata-se de fazer uma escolha e
estabelecer uma hierarquia. Ora, vossas mulheres e vossos
filhos são os vossos primeiros pobres; a eles, pois, deveis
dar a vossa primeira esmola. Depois vêm as almas que
Deus vos deu como irmãos segundo a carne; depois os
amigos do coração; depois todos os pobres, a começar
pelos mais miseráveis.

Ou seja, a primeira opção é a família junto a qual Deus


permitiu que retornássemos. Mais objetivamente falando
em relação que tanto desejamos e buscamos um tanto
além, ela está dentro de cada pessoa e de cada lar.

Em vão buscaremos a paz nas ruas, no trabalho, no


trânsito, junto ao patrão complicado se não a
estabelecermos muito antes em nosso íntimo e dentro de
nossas casas ao lado dos familiares diretos que
constituímos.

Justo raciocinar que essa paz nasce primeiramente


junto a própria consciência tranquila pelo dever retamente
cumprido. Sem essa paz, todas as condições que se
apresentarem como sendo a nossa tranquilidade será falsa.
O sopro do tempo vai revelar que a paz sem o alicerce da
consciência pacificada é ilusória, não existe. Temos
exemplos grandiosos na história da humanidade.

Em nosso movimento espírita, avulta a vida de Chico


Xavier em meio a tantos problemas particulares e de seus
semelhantes a quem socorria, mas sempre estava em paz!

161
Divaldo Franco que atinge, para nossa felicidade, uma
vida de grande longevidade por méritos adquiridos perante
o plano espiritual superior, é outro exemplo da paz nascida
nele mesmo e que não depende da instabilidade de outras
pessoas.

Procure, portanto, pela paz iniciando em você mesmo


e, logo em seguida, no seio da sua família.

Qualquer busca que seja feita em outros lugares e que


se assente em condições diferentes, apenas trará a ilusão
da paz que se desmorona ao primeiro vendaval do
infortúnio que atinge a todos que vivem em um planeta de
provas e expiações.

Somente a paz que se assenta no alicerce da própria


pessoa e no seio da sua família conseguirá suplantar os
obstáculos e prosseguir em direção à vitória sobre o
mundo ao invés da vitória no mundo dos homens.

162
A fidelidade de Deus

Antes de entrarmos propriamente no tema do título


desse artigo, devo esclarecer que vejo a frase – Deus é fiel
– em vários carros nas diversas cidades por onde tenho
passado. E a resposta é óbvia quando não interpretada
com a intenção que é anunciada como se o Criador
estivesse à nossa disposição para resolver todo e qualquer
problema que se apresente em nossa jornada terrestre.

Essa frase, a meu ver, traduz a ideia comodista de um


Deus à disposição do ser humano para satisfazer a todos
os pedidos a Ele dirigidos. Seria um Deus do “me dá is

Esse Deus que concebemos de acordo com nossas


necessidades não é fiel simplesmente porque não existe.
Já pensaram como Ele conseguiria aplicar ao mundo suas
Leis de perfeição absoluta caso tivesse que satisfazer aos
incontáveis pedidos que do Universo chegassem até Ele,
sendo muitos deles antagônicos? Só para ilustrar e não
ficar confuso, se Ele fosse atender aos pedidos dos
torcedores de times de futebol, como satisfaria a todos,
percebem?

O equilíbrio do infinito mundo cósmico estaria


comprometido.

O Deus que entendemos ser fiel é Aquele anunciado por


Emmanuel na oração do Pai Nosso quando o venerável
Espírito nos ensina a dizer que seja feita a Sua vontade
acima de nossos desejos tanto na Terra como nos círculos
espirituais. Esse sim é fiel porque tem em suas sábias e
perfeitas decisões o controle da Vida.

163
Antes de reencarnarmos é feito todo um estudo sobre
as nossas necessidades na escola da Terra e a essa
programação Deus é fiel nos concedendo tudo,
absolutamente tudo o que foi planejado.

O lar ou a ausência dele; a saúde ou as debilidades


orgânicas; a bonança ou a falta; a instrução que teremos
oportunidade de adquirir ou a ausência dela; a presença de
pais amorosos ou a orfandade; o alimento sobre a mesa ou
a escassez; a profissão que nos permitirá o aprimoramento
moral ou a dificuldade de um serviço; o reencontro com
amigos do passado assim como com os credores do
presente, a tudo isso Deus é fiel permitindo que não se
desvie uma única vírgula da programação de vida que nos
proporcionará o crescimento espiritual, embora o homem
físico passe por dificuldades variadas indispensáveis ao
amadurecimento do espírito imortal. Os desvios que
ocorrem, e são muitos, correm por conta do nosso livre
arbítrio já que não somos obrigados a aceitar nada. Os
programadores da nossa reencarnação nos apresentam o
que é o melhor para a nossa evolução, porém, ao
tomarmos posse de um novo corpo podemos realizar
desvios que correm por conta e risco da nossa
responsabilidade, sempre dentro da lei de semeadura e
colheita. Quando isso ocorre, a fidelidade de Deus não fica
comprometida porque fazemos opções que visam atender
aos interesses do homem físico, esquecendo-nos da
necessidade do espírito imortal que somos.

Entretanto, a ideia exposta nos dizeres Deus é fiel


estampada nos veículos em circulação, sugere que o
Criador deve atender sua criatura livrando-as dos
problemas mais variados, mas necessários ao
enriquecimento do Espírito em evolução.

No livro Alma e Luz, Editora IDE, psicografia do querido

164
Chico Xavier, Emmanuel nos chama à realidade com sábias
e profundas observações que devemos entender para
termos a certeza de que Deus realmente é fiel sob outro
ângulo: “Sob a infecção mental do pessimismo, afirma-te,
por vezes, irremediavelmente, cansado, à frente da luta e
proclamas, tanta vez, em desânimo e desespero, que a
Terra se converteu em charco de podridão; que a
sociedade é um jogo de máscaras; que os maus tripudiam,
impunes, sobre o amor dos bons; que a crueldade é a
norma da vida; que cataclismos diversos tombarão no
horizonte, incendiando a atmosfera de que os homens se
nutrem e dizes desalentado que te apartaste da confiança,
que perdeste a fé; que não tornarás ao prazer de servir;
que não estenderás o coração ao culto do amor e que te
retirarás da arena qual soldado rebelde, fugindo à própria
luta.”

Toda essa revolta porque, nessas condições, Deus não


é fiel em nossa concepção porque deixou o pobrezinho do
ser humano em ambiente hostil submetido a terríveis e
injustos sofrimentos! Pensamos assim porque Deus não
nos acomodou em um hotel cinco estrelas na atual
reencarnação permitindo que os problemas da existência
nos atingissem para o aprimoramento do espírito imortal!

Mas Emmanuel desfaz essa concepção infantil que


ainda nos caracteriza ao ensinar que “a cada manhã,
volves ao corpo que te suporta a intemperança e recebes a
bênção do Sol que te convida ao trabalho, a palavra do
amigo que te induz à esperança, o apoio constante da
Natureza, o reencontro com os desafetos para que
aprendas a convertê-los em laços de beleza e harmonia, e,
sobretudo, a graça de lutar, por teu próprio
aprimoramento, a fim de que o tempo te erga à vitória do
Bem.”

165
A isso Deus é absolutamente fiel! Deus só falta com a
sua fidelidade quando abrimos mão de cumprir a parte que
assumimos em nossa programação de vida para a atual
reencarnação.

Deus não é e não pode ser fiel a nossa infidelidade!

166
A quarta guerra mundial

Albert Einstein, o gênio do século XX, afirmou que, se


existisse uma terceira guerra mundial, a quarta seria com
paus e pedras, tamanho o poder de destruição das armas
nucleares existentes. Vou ousar discordar do gênio. Eu que
sou um fiapo de um saco de estopa comparado a ele! Não
ouso nem me tipificar como um verme porque esses têm
determinada função e exercem seu trabalho na natureza.
Creio que um fiapo de saco de estopa vai melhor.

Pois bem, como tenho o atrevimento de tal atitude de


discordar de Einstein em relação à quarta guerra mundial?

Passo a explicar. A União Soviética em 1961 construiu


uma bomba de hidrogênio denominada de ZDS-220,
também conhecida como “Tzar Bomba” com um poder de
destruição cerca de 3.300 vezes à da bomba atômica que
dizimou Hiroshima e Nagasaki durante a segunda guerra
mundial.

Essa bomba foi transportada por um avião bombardeiro


que voava a 10.500 metros de altura e detonada numa ilha
do Oceano Ártico para experimentar seu poder de
destruição calculado em mais de 50 megatons! (*) Para
dar tempo do avião se afastar o máximo possível do local
do impacto da bomba com o solo, ela foi solta com um
paraquedas que retardou sua chegada ao solo, dando
tempo da aeronave de se afastar cerca de 40 km do local.
A bola de fogo gerada pela explosão alcançou a mesma
altitude do avião bombardeiro, podendo ser vista por cerca
de mais de 1.000 km. O calor gerado seria capaz de
provocar queimaduras de terceiro grau em uma pessoa

167
que estivesse a 100 km de distância! A nuvem em forma
de cogumelo atingiu 60 km de altura, ou seja, seis vezes
mais do que a altitude de um avião que voa a caminho da
Europa ou dos Estados Unidos! O impacto da explosão da
bomba chegou a atingir a Finlândia onde foi capaz de
quebrar algumas janelas.

Tudo isso dito de uma forma muito reduzida sem


detalhes técnicos mais profundos.

Essa terrível bomba foi construída em 1961. O que


poderemos ter nos dias atuais com determinados seres
humanos que empregam, infelizmente, a inteligência para
o mal?

Por isso me atrevi como um fiapo de saco de estopa a


contrariar Einstein, entendendo que a quarta guerra não
acontecerá porque não sobrará nenhum ser humano para
realizá-la com paus e pedras. A não ser que alguém
acredite que bombas com esse poder de destruição não
existam mais. Você é capaz de colocar sua “mão no fogo”
de que não exista?

Bem, mas o objetivo desse artigo é outro. Vamos


utilizar a questão do Livro Dos Espíritos de número 737
que aborda os flagelos destruidores. Nela Kardec interroga
aos Espíritos da Codificação com que objetivo Deus atinge
a Humanidade por meio de flagelos destruidores. E a
resposta resumida é para fazer essa Humanidade evoluir.

Mais diretamente: “Não vos dissemos que a destruição


é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que
adquirem a cada nova existência, um novo grau de
perfeição?”

Novamente, na posição do fiapo de saco de estopa, fico


a pensar se esse vírus que se tornou uma pandemia não

168
teria esse objetivo. Não estaria a Humanidade
encaminhando-se para uma terceira guerra mundial com a
possibilidade de devastação de todo planeta com a troca
de bombas do tipo ZDS-220 citada no início desse artigo?

Na posição de fiapo de saco de estopa nada posso


afirmar, mas tenho o direito de levantar essa possibilidade.

O poderio bélico em arsenal atômico das grandes


potências possui poder de destruir várias vezes o planeta
Terra, transformando-o em poeira cósmica!

De uma terceira guerra com o poder destrutivo das


armas que devem existir e que desconhecemos como
leigos no assunto, não sobraria ninguém para realizar a
quarta com paus e pedras. Aqueles que não
desencarnassem de imediato o fariam nas sequências
imprevisíveis da destruição em cadeia que se instalaria no
planeta.

Por mais destruidor que seja o coronavírus em relação


ao ser humano no sentido de sua saúde física e na
devastação econômica que poderá se instalar em diversas
partes do mundo, ele, o vírus, não terá o poder destruidor
da “Tzar Bomba”. Uma hora será debelado pelos recursos
da ciência do homem empregada para a solução do mal
comum a toda a Humanidade.

Procurem ler a mensagem psicografada que circula


pelos meios sociais intitulada “Em apenas quinze dias!”.

Desconheço o autor, mas é repleta de lógica. O homem


aprenderá que o ouro não é capaz de alimentar. A cidade-
luz (Paris) encontra-se em trevas e a cidade eterna
(Roma) conhece uma devastação lamentável. O valor de
um abraço, da convivência familiar, do relacionamento
social, dos valores morais enfim, conhecerá uma outra

169
etapa para melhor.

Infelizmente existem aqueles que, em meio a toda uma


tragédia, reconhecem a oportunidade de explorar a miséria
do outro. Aquilo que não desaparece dos supermercados
aumentam de preço assustadoramente. Álcool em gel é
fabricado com etanol que é tóxico para o organismo além
de não adiantar nada como recurso de se preservar contra
o contágio. E vai por aí afora o ser humano continuando a
errar e explorar o seu próximo em meio a esse outro
flagelo que chega para nos trazer um recado na forma da
dor, professora que ainda não aprendemos a dispensar de
nossas vidas.

Será que paira alguma dúvida de que a destruição é


necessária para a regeneração moral dos Espíritos?

_________________________

(*) um megaton equivale a explosão de um milhão de toneladas de


trinitrotolueno!

170
Ano Novo?

“Em todo primeiro de janeiro, muitos aspiram por um


bom ano; poucos, porém, estão dispostos a construir um
ano bom.” – Dr. José Carlos de Lucca. (Olho mágico, cap.
XIV.)

Por certo, diante do Ano Novo festejado pela


humanidade, você terá desejado alguns benefícios.

Acalentaste a esperança por um mundo com mais paz e


menos guerra que desonra a toda a Humanidade criada
por Deus. Antes, porém, comece por pacificar o seu
interior porque paz nenhuma te alcançará enquanto
estiveres em guerra íntima.

É compreensível que tenha almejado por uma saúde


melhor no Ano Novo. Contudo, comece a ser o mais
urgentemente possível o seu próprio médico aplicando em
sua alma os ensinamentos sublimes do Evangelho de Jesus
sem o qual o teu corpo não conhecerá a saúde verdadeira.
Estranhamente, muitos daqueles que pedem por mais
saúde, já iniciam o ano dando chance a enfermidades
quando se entregam aos excessos da alimentação, da
bebida alcoólica e da noite mal dormida nos festejos que
varam a madrugada em direção da aurora do primeiro dia
do ano.

Também pode ter feito parte dos teus anseios uma


maior união da família e para isso é indispensável que te
transformes no veículo da harmonia quando o
desentendimento rondar o teu ambiente familiar.

171
Se o teu desejo foi o de uma melhor situação
financeira, não dispenses o esforço próprio em busca desse
objetivo lembrando-te de que Deus faz a parte D’Ele a
partir do momento em que nos pomos em marcha para
fazer a nossa.

Não te iludas em colher do solo da existência aquilo que


não semeias porque, segundo Jesus, a cada um será dado
segundo as suas próprias obras.

O Ano Novo que se inicia é a renovação de


oportunidades de realizarmos o bem, oportunidades essas
que já nos visitaram nos anos anteriores e que, muitas
vezes, deixamos passar em branco inebriados pelos
tesouros do mundo material.

A cada cota de tempo que o calendário dos homens


assinala encontramos o desfilar de convites à prática do
amor ao próximo como a nós mesmos. E é válido ressaltar
que, se realmente nos amarmos, não deveremos deixar
passar em branco essas oportunidades que se nos
oferecem e que passam com a rapidez de um relâmpago. A
existência atual não fica esperando que saiamos da
indecisão do egoísmo. Cabe-nos a firme decisão do que
nos cumpre realizar na atual existência e que irá compor o
testemunho à nossa paz íntima ou a nossa confissão de
débitos perante a própria consciência no dia de nosso
retorno ao mundo real dos Espíritos imortais.

Sempre é bom lembrar que a maioria dos Espíritos


desencarnados e que tiveram a bênção de conhecer os
ensinamentos espíritas, lamentam o tempo perdido
enquanto no corpo quando fizeram o que não deveriam ter
feito, ao mesmo tempo em que deixaram de realizar o que
deveriam ter realizado.

Ano Novo! Que seja ele aquele instante de nossa

172
estrada de Damasco onde o homem velho carregando o
fardo pesado dos desequilíbrios milenares, ceda a
oportunidade para o homem novo realmente desejoso de
seguir Jesus.

Somente assim o Ano Novo realmente será um novo


ano.

Lembremos com o Espírito de Casimiro Cunha no livro


Cartas do Evangelho, a seguinte realidade:

Entre um ano que se vai

E outro que se inicia,

Há sempre nova esperança,

Promessas de Novo Dia…

Considerar meu amigo,

Nesse pequeno intervalo,

Todo bem que perdeste

Sem saber aproveitá-lo.

Ano Novo!… Deus te abençoe

No esforço que te conduz

Das sombras tristes da Terra

Para as bênçãos de Jesus.

173
Agradeçamos à Providência Divina a permissão de mais
um ano no corpo físico que se constitui em oportunidade
valiosíssima em nosso caminho evolutivo, deixando velhos
caminhos e retornando ao rebanho do Bom Pastor para
que os erros cometidos e as oportunidades de agir no bem
desperdiçadas em anos anteriores, não venham a se
repetir em mais essa cota de tempo que denominamos na
linguagem dos homens de “Ano Novo”.

Afinal, de que adianta um Ano Novo para um homem


que deseja continuar espiritualmente velho, não é mesmo?

174
As luzes se apagaram…

As luzes se apagaram. A melodia característica que


atende ao calendário dos homens emudeceu. Cestas
básicas deixaram de ser recolhidas para a devida
distribuição aos necessitados. Os presentes angariados
para crianças pobres cessaram de ser solicitados. As
roupas que eram novas perderam o brilho porque já
debutaram. Os sapatos novos e caros dormem aguardando
nova oportunidade em lugares a eles destinados,
esperando por novas exposições já sem o mesmo brilho. A
casa reformada, os móveis novos adquiridos para ocasião
que já se foi, perderam o encanto. Os enfeites pendentes
das ruas foram recolhidos. As lojas ávidas por
consumidores não aguardam mais os visitantes tão
esperados. O “bom velhinho” com o seu carrossel mágico
tracionado por renas dóceis e voadoras, se recolheram em
algum lugar da imaginação infantil alimentada pelas
histórias de adultos que sabem sobre a realidade dos
meros sonhos tão dolorosos e decepcionantes para tantas
mentes infantis!

Ah! Os animais entre os quais Jesus nasceu na gruta


agreste, encontram um tempo muito breve de paz em que
não pagam com a vida para satisfazer a gula dos homens
que dizem crer na vinda do Redentor da Humanidade
debruçados sobre pratos exóticos, bebidas finas, toalhas
de puro linho, talheres de prata e louça de porcelana
importada, em data estabelecida pela conveniência
humana.

Pois é! As luzes se apagaram. O Natal do calendário dos


homens, do comércio, da troca de presentes, da roupa e

175
calçados novos, das ceias e almoços regados com exageros
que no dia seguinte se direcionam para o lixo em
consideráveis proporções enquanto a fome que campeia
em tantos lares, silenciou. É o fastio do excesso, do
supérfluo, que caracteriza a ausência do Cristo em muitos
lares.

Onde colocamos Jesus a partir do dia 26 de dezembro


pelo espaço de um ano?

Trazemo-Lo de volta apenas na data do martírio que


lhe impusemos num ato de ausência total de amor,
daquele Amor ensinado e vivenciado por Ele, na chamada
“Semana Santa”?

Famílias continuam famintas! Onde estão as cestas


básicas recolhidas por ocasião do Natal dos homens? Já se
tornaram desnecessárias ou retornamos ao nosso mundo
de indiferença para com os problemas alheios?

Crianças pobres continuam desejosas de pequenos


brinquedos remendados, remediados de um jeito ou de
outro porque continuam a sonhar em suas mentes infantis.
Pararam de ser recolhidos porque o calendário dos homens
anunciou que o Natal acabou?

A roupa nova adquirida para comemorar o nascimento


Daquele que sempre se vestiu da maneira mais simples de
que se tem notícias, embora tivesse o mérito de usar um
manto de estrelas, jaz dependurada a tantas outras que
poderiam vestir corpo seminus, caso o Natal dos homens
não tivesse colocado um ponto final no calendário da
Terra!

Nossa gula em satisfazer um corpo físico que caminha


para a morte continuará a exigir a vida de nossos irmãos
mais novos em churrascos e festas afins?

176
Que André Luiz nos diga algumas coisas para nossa
reflexão quando a data dos homens deu por encerrado o
Natal de Jesus: Envolve-te ricamente, porém de vestes do
amor e do bem; alimenta-te fartamente, mas de bom
ânimo e coragem; bebe em abundância apenas do licor da
alegria e da esperança; presenteia sem erro paz e
harmonia ao teu próximo e roga para ti os mimos
imorredouros do aperfeiçoamento, como lembrança
preciosa e definitiva. Paciência para as dificuldades.
Tolerância para as diferenças. Benevolência para os
equívocos. Misericórdia para os erros. Perdão para as
ofensas. Coragem para as provas. Fé para as conquistas.
Amor para todas as ocasiões.

Somente assim viveremos de Natal a Natal conforme a


orientação cristã do Espiritismo, que nos recomenda
raciocinar para compreender, amar para engrandecer e
trabalhar para realizar.

Somente assim as bocas famintas não deixarão de ser


alimentadas; os presentes continuarão a ser recolhidos e
depositados nas mãos de crianças inocentes.

Somente assim as roupas, a troca de mimos, o excesso


de comida e a presença de bebidas fartas deixarão de ser o
símbolo do verdadeiro Natal para que as luzes do Amor
não se apaguem e a presença de Jesus não seja uma mera
lembrança a partir do dia seguinte no calendário dos
homens!

Vamos acender a verdadeira Luz do Natal imperecível


do Mestre?

177
Cirurgia plástica

A cirurgia plástica se divide em reparadora e cirurgia


estética.

A chamada de reparadora como o nome está a dizer,


ocorre quando visa reparar um dano no corpo ocasionado
por algum tipo de acidente ou fator externo que venha a
agredir a parte material e também emocional de uma
pessoa.

Para exemplificarmos, suponhamos que alguém sofra


uma queimadura em alguma região do seu corpo e essa
região atingida necessite de uma reparação através de
uma cirurgia plástica. Para ficar mais bem explicado,
imaginemos que a queimadura venha provocar cicatrizes
que deformem alguma parte do organismo que possa ser
reparado – cirurgia reparadora – através de uma cirurgia.

A cirurgia plástica com a finalidade estética já é


diferente. A pessoa sente-se mal com alguma parte do
corpo que não sofreu nenhuma agressão externa prévia,
mas incomoda muito a autoestima de alguém.

Existe quem não goste do formato do nariz que é muito


grande, ou adunco (curvo), ou tem um osso saliente em
seu dorso. Essas pessoas vão-se submeter à rinoplastia,
que é a cirurgia plástica com finalidade estética.
Argumentam que essa insatisfação com essa parte do
corpo afeta o lado emocional da pessoa, o que devemos
respeitar.

Outros não gostam (homens ou mulheres), não se


sentem bem com o volume da região abdominal e se

178
submetem a cirurgia denominada abdominoplastia onde
esse volume é reduzido por técnicas adequadas.

Nessa lista aparecem aquelas pessoas que se


incomodam com a gordura nos braços, nas coxas, na
região do quadril (culotes) e procuram por uma
lipoaspiração que remove a gordura dessas regiões.

No quadro das cirurgias plásticas estéticas existem


ainda as próteses de glúteos ou de panturrilha (“barriga”
da perna) onde são colocadas peças que aumentam o
volume dessas regiões.

Como o assunto não é discutir sobre cirurgia


propriamente dita, vamos ao foco real. A intenção dessa
introdução é nos lembrar de como seria muito bem-vindo
se nos incomodássemos com as imperfeições morais de
que ainda somos portadores e procurássemos corrigi-las
por ser motivo de nos tirar a tranquilidade.

Lembra Emmanuel que devemos cuidar do corpo como


se ele fosse eterno e do Espírito como se fosse
desencarnar amanhã.

Já imaginaram a urgência das “cirurgias” da alma


diante dessa realidade do Mentor?

Irmão José, no livro Com Cinco Pães e Dois Peixes,


psicografia de Baccelli, Editora DIDIER, assim comenta na
lição de número 40: Esmera-te em conhecer mais as tuas
deficiências que as tuas virtudes. Não te iludas com
algumas poucas qualidades que possuas. Em ti, há muito
mais a ser feito do que já fizeste. Concentra-te em vencer
as inclinações infelizes, que, sem dificuldade, identificas
em ti. Toda criatura já se conhece o suficiente para saber
que precisa melhorar.

179
Se assim procedêssemos, quantas “cirurgias” na alma
necessitariam ser providenciadas!

Aquele que reconhecesse a pouca capacidade de


perdoar e se sentisse incomodado com essa imperfeição,
procuraria aperfeiçoar a capacidade de compreender
melhor seus agressores.

Se aquele que reconhecesse que é avarento e isso


fosse motivo de grande preocupação, procuraria se doar
mais por se sentir incomodado com a sovinice, lamentável
defeito do ser!

Se aquele que reconhecesse na sua indiferença para


com a dor dos seus semelhantes causa de importuná-lo
intimamente, buscaria sentir melhor a dor alheia e
providenciar o socorro necessário.

Se os que buscam movidos pelo orgulho as situações


de destaque no mundo despertassem para a brevidade dos
valores da Terra, despertariam para a necessidade de
maior desapego dos bens terrenos e providenciariam a
devida “cirurgia” na alma para remover essa imperfeição.

Em resumo, se corrigimos com a cirurgia plástica os


problemas do corpo que mesmo embelezado caminha para
a morte, como seria bom se utilizássemos o “bisturi” do
Evangelho para remover as imperfeições e recuperar a
saúde do Espírito! Com a mais absoluta certeza nos
sentiríamos extremamente melhores!

180
Como vai a nossa pista?

Os Espíritos Amigos sempre se mostram dispostos a


nos auxiliar, mas é preciso que, pelo menos, lhes
ofereçamos uma base. Muitos ficam na expectativa do
socorro do Alto, mas não querem nada com o esforço de
renovação. Desejam ou até mesmo intimam os Espíritos a
se intrometerem em suas vidas para que resolvam os seus
problemas.

Como diz o Chico: “Ora, nem mesmo Jesus Cristo,


quando veio à Terra, se propôs resolver o problema
particular de alguém! Ele se limitou a nos ensinar o
caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos.”

Quando ocorre alguma catástrofe que causa


devastações em uma determinada região do planeta, a
ajuda humanitária tem no transporte aéreo um caminho
para conduzir o socorro necessário ao local. Para que a
aeronave possa aterrissar com o auxílio que a situação
exige, é necessário existir uma pista para o pouso
adequado. Caso essa pista esteja cheia de buracos, com
mato alto ou pedras de grandes proporções, o socorro
aéreo estará comprometido. Restará a alternativa de
lançar do alto com paraquedas os materiais possíveis de
chegarem em segurança através dessa forma. Contudo,
sempre a melhor alternativa é a de que aconteça o pouso
da aeronave possibilitando a chegada de profissionais que
venham trazer o alívio às pessoas atingidas, além do
socorro material.

Quando surgem problemas sérios representando para a


pessoa que está sofrendo um grave cataclismo, podemos

181
ter a certeza de que Espíritos amigos se assemelham a
aeronaves que dispõe do socorro proporcionado pela
Providência Divina àqueles que singram os mares dos
obstáculos evolutivos. Entretanto, para que isso aconteça,
é necessário que apresentemos a esses Amigos espirituais
uma “pista de pouso” adequada para que o socorro chegue
até cada um de nós encarnados na escola da Terra. Se a
nossa “pista” estiver invadida pela revolta, contendo
“pedras” de grande porte representadas pela ausência da
fé necessária ou o “mato alto” das blasfêmias contra a
Providência Divina, o socorro do Alto não conseguirá
“aterrissar” trazendo-nos auxílio.

A máxima “Ajuda-te e o céu te ajudará” é muito fácil de


ser repetida quando tudo vai indo muito bem em nossa
vida. Mas ao turvar o horizonte de nossa existência com as
provas necessárias à nossa evolução, o ditado é totalmente
esquecido e passamos a cobrar de Deus as soluções que
cabe a cada um buscar.

No livro na Luz da Vitória de José Carlos de Lucca,


encontramos um parágrafo que elucida muito bem essa
realidade: “Em vão clamaremos pela intervenção divina,
permanecendo de braços cruzados para o trabalho de
renovação a que o sofrimento está nos chamando.”

Como nos ensinou Chico Xavier, nem Jesus veio para


resolver o problema de alguém. Essa realidade fica bem
clara quando Ele dizia às pessoas a quem curava: “A tua fé
te curou!”. Era indispensável essa condição para que o
socorro D’Ele chegasse até o necessitado. A fé era a “pista”
de pouso para o auxílio do Cristo. Em várias ocasiões isso
ficou documentado em caráter definitivo para toda a
Humanidade. A mulher hemorroíssa fez a parte dela em
busca do socorro do Senhor. Aproximou-se D’Ele de
maneira discreta e temerosa por ser do sexo feminino,

182
mergulhada entre uma turba de homens extremamente
machistas. Era considerada impura porque sangrava. No
entanto, a “pista” de pouso que ela apresentou para o
socorro de Jesus era tão livre de obstáculos que Ele sentiu
quando a cura ardentemente buscada partiu D’Ele!

Muitas pessoas procuram um Centro Espírita com a


intenção de deixar a cargo dos Espíritos a “mochila” com
os problemas que elas próprias confeccionaram. Não
entendem o “vá e não peques mais”! Querem continuar
entregando a César o que é de César e para Deus as
dificuldades que criaram para si mesmas.

No mesmo livro anteriormente mencionado


encontramos a seguinte lição: “A dor vem para incomodar
o homem a ser melhor do que tem sido. Deus nos criou
para o amor; por isso, todas as vezes em que nos
afastamos da estrada que nos conduz a esse propósito,
acabamos experimentando situações desconfortáveis e
dolorosas, cuja finalidade outra não é, que não a de trazer
de volta aos caminhos do amor.”

Nessas ocasiões é de bom alvitre verificarmos a “pista”


da nossa consciência! Será que a mantemos em bom
estado para que o socorro nos alcance?

183
Deus me esqueceu?

Vamos a duas perguntas básicas para podermos


prosseguir raciocinando sobre o assunto.
Você concorda que Deus é infinitamente melhor e mais
misericordioso do que qualquer criatura?
Você concorda que Deus é infinitamente mais
inteligente do que qualquer ser humano?
Se estivermos de acordo, então vamos prosseguir em
direção à resposta da pergunta ao título desse artigo.
Quando os pais estão mais próximos de um filho: quando
ele está doente ou quando está gozando de saúde
perfeita?
Quando é que os pais estão mais próximos de um filho:
quando ele está em boa companhia ou quando se encontra
envolvido com pessoas não recomendáveis?
Quando é que os pais estão mais próximos de um filho:
quando esse filho está indo bem em seus estudos ou
quando está sob a ameaça de uma reprovação?
Quando os pais estão mais próximos de um filho:
quando ele está seguindo por um bom caminho ou atraído
pelos descaminhos da existência?
Creio que a sua resposta é óbvia e não preciso
transcrevê-la para o papel.
Ora, se como pais extremamente imperfeitos que
somos estamos mais próximos de um filho exatamente nos
momentos em que o identificamos em dificuldades e
perigos maiores, como temos a ousadia de julgar que Deus
de nós se afaste no momento de nossos problemas mais

184
inquietantes?
Novamente, deixemos que Emmanuel nos esclareça
com a sua página Provação E Fé, do livro Amigo, Editora
CEU: Tenhas talvez alcançado o apogeu de semelhantes
tribulações.
Encontraste esse topo do sofrimento na enfermidade
que provavelmente se demora contigo, flagelando-te a
vida orgânica.
Criaturas queridas se desvincularam de ti,
violentamente, arrojando-te à inquietação e ao desânimo.
Sofreste a perda de entes amados nas brumas da
morte e trazes o coração encharcado de lágrimas.
Empenhaste as melhores forças na causa do bem de
todos e situaram-te num cipoal de incompreensões e
desafetos gratuitos que te prendem à dor.
É possível hajas atingido esses dias de conflitos e
aflições, tumultuando-te o ser.
Seja qual seja a espécie de provação que te visita, não
te rebeles, nem desanimes.
Ama e serve mais.
Por mais dolorosa a crise em que te vejas, permanece
firme na coragem da fé, porquanto no momento em que a
criatura se imagina esquecida do Céu, o ápice do
sofrimento significa que o socorro de Deus se encontra a
caminho.
Baseado em nossa atitude em relação aos nossos filhos
aqui na Terra, outra não seria de se esperar da atitude de
um Pai de perfeição e amor como é Deus!
Porque, então, nos sentimos abandonados por Ele
quando somos atingidos pelos problemas da existência?

185
Por um motivo muito simples de explicar e de entender
se deixarmos o orgulho de lado e optarmos pela
sinceridade.
Somos crianças no sentido espiritual de nossa
evolução, acostumados a ter a nossa vontade satisfeita.
Sabe aquela criança que na loja de brinquedo sapateia, se
joga no chão para que a mãe compre o brinquedo que
deseja, não importando o alto preço?
Pois é. Procedemos com Deus da mesma maneira.
Apesar dos Espíritos nos ensinarem que as lições que nos
visitam se apresentam como mecanismo de nossa
educação espiritual, queremos reencarnar para uma
viagem de turismo hospedando-nos em um hotel de cinco
estrelas na escola da Terra!
Quando a dificuldade aparece, ao invés de entendermos
que somos os responsáveis por elas porque temos o livre
arbítrio e fazemos nossas escolhas no momento presente
com consequências nos dias do futuro, julgamos mais fácil
alegar que Deus nos esqueceu. Que Deus nos abandonou.
Transferimos, ou, pelo menos, tentamos como gostamos
de fazer, a culpa e a responsabilidade que é nossa para
Ele. E o que ganhamos com essa atitude? Passamos a
imagem de coitadinhos que não resolve problema algum,
mas muito pelo contrário, complica a nossa vida porque
abrimos a porta para a revolta e dificultamos o socorro do
Pai que está sempre a caminho como enfatiza Emmanuel
linhas atrás.
Retornando a pergunta do título: Deus nos esqueceu? A
resposta é muito fácil: não, nós é que nos esquecemos
D’Ele ou de quem Ele seja. Não fosse assim, jamais
levantaríamos essa hipótese para Aquele a quem Jesus nos
ensinou chamar de Pai e que na definição do Apóstolo João
é a expressão máxima do Amor.

186
Permitam-me a mesma pergunta desse artigo, mas em
outro sentido: e nós, temos nos esquecido dos filhos de
Deus que se hospedam em nossos lares para serem
amados e compreendidos de maneira segura num mundo
de provas e expiações, retornando para o Lar do Criador
melhores do que foram em existências anteriores?

187
Na “boca” do caixa

Todos que acreditam na imortalidade da vida anseiam


por um bom lugar ao deixar o corpo físico aqui na Terra.
Entretanto, isso não acontece por diversas razões.

Vamos a uma situação da vida real para entendermos


os motivos dessa frustração em nosso retorno ao mundo
espiritual.

Com certeza, você como usuário de agências bancárias,


já esteve em uma delas num desses dias em que parece
que o banco ferve. Geralmente isso ocorre no início do mês
em que os aposentados, injustamente remunerados nesse
país dos disparates sociais, com as devidas exceções, se
dirigem para receber o magro salário após uma vida de
trabalho que não lhes proporciona um final de existência
com a devida dignidade que todo trabalhador deveria
merecer. Para quem discorda dessa opinião, analise os
salários de determinados marajás em diversos setores da
sociedade e que se constituem no sorvedouro da receita da
Previdência Social. Nessas datas, portanto, as agências
bancárias se sobrecarregam no atendimento ao público.

Por acaso você, uma única vez, viu alguém que está
numa longa e morosa fila aguardando atendimento e se
aproximando da boca do caixa para ser atendido depois de
muito esperar, sair desse lugar privilegiado e dirigir-se a
última pessoa da fila cedendo-lhe a vez para ser atendido e
colocando-se no último lugar para reiniciar mais uma longa
espera?

Salvo algum enorme engano da minha parte, creio que

188
sua resposta será negativa, ou seja, nunca viu alguém que
está prestes a ser atendido após penosos minutos de
espera, ceder seu lugar para o último da fila.

Mas eu já assisti uma pessoa jovem valer-se de um


parente idoso colocado ao seu lado para entrar na fila
preferencial e dessa maneira burlar a fila, e pagar suas
contas de maneira muito mais cômoda à custa do velhinho
ali utilizado como um instrumento sem vontade própria.

Seria por atitudes semelhantes que Chico dizia que


muita gente desejava ir para o céu, mas na Terra fazia o
que o diabo gosta?

Se você ainda não viu nexo entre o que foi escrito e o


mérito de ir ter a um bom lugar após o desencarne, vou
lembrar a passagem do Evangelho de Marcos, 9:35 que diz
o seguinte: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último
de todos e servo de todos.

Fazemos isso enquanto nos digladiamos nas batalhas


do mundo material? Saímos da boca do caixa para ceder
lugar àquele que está em último lugar no sentido extenso
do termo?

Será que não foi exatamente isso que fez durante toda
a sua existência Chico Xavier ao abrir mão da sua vida em
favor da imensa população de sofredores que o
procuravam desesperados?

Será que não foi o que fez Madre Teresa de Calcutá e


Irmã Dulce buscando os esquecidos pelos caminhos do
mundo, renunciando a si próprias?

Não teria tido o mesmo ato de renúncia inclusive com a


entrega da própria existência o pastor Martin Luther King
batalhando pelo direito dos negros e Mahatma Gandhi em

189
busca da libertação do povo indiano do jugo inglês?

Saíram da boca do caixa para entregar suas existências


àqueles que necessitavam mais.

Esse é o caminho que nos levará para uma situação


melhor ao partirmos em direção à colheita da nossa
semeadura aqui na Terra, no mundo dos Espíritos.

Recordemos Emmanuel no livro Vinha de Luz, edição


FEB, capítulo 56, quando nos ensina o seguinte: Ser dos
primeiros na Terra não é problema de solução complicada.
Há maiorais no mundo em todas as situações. A ciência, a
filosofia, o sacerdócio, tanto quanto a política, o comércio e
as finanças podem exibi-los facilmente. Ser dos primeiros,
no entanto, nas esferas de Jesus sobre a Terra, não é
questão de fácil acesso à criatura vulgar. Em Cristianismo
puro, os espíritos dominantes são os últimos na recepção
dos benefícios, porquanto são servos reais de quantos lhes
procuram a colaboração fraterna. É por isso que em todas
as escolas cristãs há numerosos pregadores, muitos
mordomos, turbas de operários, cooperadores do culto,
polemistas valiosos, doutores da letra, intérpretes
competentes, reformistas apaixonados, mas raríssimos
apóstolos.

Raríssimos os que estão dispostos a deixar a boca do


caixa em favor do último da fila!

O cenário do mundo atual é um recibo incontestável de


tal situação na fase em que estagia a humanidade
terrestre. Falou em levar vantagem a fila de interessados
perde-se de vista. Quando a referência é sobre auxiliar ao
semelhante, não existe fila nenhuma porque a porta do
trabalho em favor dos que necessitam mais está sempre
aberta, mas sem ninguém a esperar o chamado para o
serviço.

190
Posto que a Lei determina que a cada um seja dado
segundo suas obras, enquanto no mundo por egoísmo ou
por orgulho disputarmos avidamente a boca do caixa, do
outro lado da vida estaremos localizados por uma questão
de justiça no fim da fila daqueles que aguardam um local
de refrigério como Espíritos desencarnados.

191
O Natal de Lin Meiyun

“O perdão para as faltas alheias luariza a paisagem


íntima, clareando as sombras da angústia insistente que
bloqueia a alegria de viver, produzindo sofrimentos
injustificáveis.” – Joanna de Ângelis.

O Natal do ano 2000 de Lin Meiyun seria o pior


possível. A dor da perda de um filho, a maior das dores,
visitaria o coração dessa mãe quando o telefone de sua
casa tocou incessantemente na manhã do dia vinte e cinco
de dezembro para anunciar que seu filho único, Teng De,
de dezessete anos havia sido assassinado em uma briga de
adolescentes. Lin passou a cultivar um ódio mortal contra
o assassino, Yang, um jovem com idade inferior à do seu
filho, e também contra os pais dele. Lin chegou a ir
armada com uma faca ao tribunal com o firme desejo de
tirar a vida de Yang, da mesma forma como Teng De havia
morrido. No culto ao seu ódio, passou a seguir os pais do
jovem delinquente. Numa das ruas da cidade com intenso
movimento, Lin Meiyun descobriu que eles eram pobres
como ela. Vendiam magnólias por entre os carros. O pai de
Yang, com uma das mãos amputadas, utilizava a outra
para fazer o troco.
Quase dois anos depois, esse casal foi até a casa dela
e, ajoelhados, pediram perdão pelo que o filho fizera.
Certa noite, ela sonhou com o filho Teng De que lhe
disse: “Mamãe, estou bem, não fique mais preocupada
comigo. Viver com ódio dentro de você faz mal à sua
saúde. Por favor, cuide-se, por mim.”

192
Lin Meiyun não era espírita. Nem sei se em Taiwan se
sabe o que seja a Doutrina Espírita, mas o Amor é Lei do
Universo não importando as barreiras geográficas, étnicas,
religiosas ou de que outras mais possa se valer o homem
para se separar. Aquele coração que odiava
profundamente tomou uma decisão no dia 21 de junho de
2004 que está relatada na revista Seleções READER´S
DIGEST, edição de setembro de 2011, página 153 que
passaremos a reproduzir: “A garoa incessante do lado de
fora da Escola Secundária de Correção Ming Yang deixa a
sala de recepção ainda mais fria e vazia. Lin Meiyun está
sentada à espera numa das extremidades da mesa
comprida.
O silêncio da sala do centro de detenção juvenil de
Taiwan é ampliado pelo som das batidas do seu coração.
Lin diz a si mesma: Calma. Não importa o que acontecer,
não se irrite.
Finalmente, a porta se abre. Surge um adolescente
escoltado por um conselheiro. Ele se chama Yang. O
menino magrela que ela vira anos atrás se transformou
num rapaz alto. O ar tímido e sincero no rosto faz lembrar
o do seu filho único, Teng De.
Ao ver o rapaz à sua frente, as lágrimas se acumulam
nos olhos de Lin. Foi essa pessoa que, três anos atrás,
matou seu filho com uma facada no peito. Não há troca de
palavras; os dois se fitam em silêncio, as emoções
congeladas no ar frio. Yang rompe o silêncio e gagueja:
“Sra. You é o sobrenome de casada de Lin. Com lágrimas
correndo pelo rosto, ele continua: Posso abraçar a
senhora?”
Lin faz que sim. Yang a abraça com força, e as
emoções refreadas dão lugar a soluços incontroláveis.
“Sinto muito. Eu errei. Sinto muito.”, repete Yang

193
várias vezes. As palavras soltam as correntes de ódio e
sofrimento que prenderam por tanto tempo o coração de
Lin. Naquele mesmo instante, a sua alma algemada se
liberta.”
Quando o jovem delinquente ganhou a liberdade
condicional, Lin dispensou-o de trabalhar para pagar a
indenização que o Tribunal ordenara. Preferiu que ele
voltasse à escola.
Disse mais essa nobre senhora: “Não me arrependo de
ter escolhido o perdão. Perdi meu filho, mas não quero que
o meu ódio faça com que outra criança ferida pela culpa se
perca.”
O Natal de 2004 para Lin Meiyun foi totalmente
diferente. Podemos dizer que naquele ano o Natal
realmente renasceu em seu coração. Que não fosse feliz
diante da perda que sofrera, mas entrara na posse da paz
que ela própria se conferira optando pelo perdão do jovem
algoz de seu filho.
Ensina Joanna de Ângelis que o ato de perdoar não
leva, necessariamente, à ideia de anuência com aquilo que
fere o estatuto legal e o código moral da vida, mas
proporciona a compreensão exata da dimensão do
gravame e dos comportamentos a serem adotados para
que ele desapareça, devolvendo à vida a harmonia que foi
perturbada com aquela atitude.
Felizmente não passamos pela dor semelhante a de Lin
Meiyun. Entretanto, que temos anotado em nossa
consciência para que o nosso Natal seja engrandecido com
uma atitude cristã de tal beleza?

194
A lâmpada da garagem

Na entrada da garagem um senhor colocou uma


pequena lâmpada de fraca luminescência, apenas para que
todo o espaço não ficasse mergulhado na escuridão
madrugada adentro.
Comparava as duas luzes acesas dentro daquela parte
da casa com a iluminação discreta da entrada e julgava
que, praticamente, a luz que era emitida quase nada
significava. Mas, porque o raciocínio lhe dizia que mesmo
assim a pequenina fonte de luz deveria ser mantida,
mexeu no interruptor apenas para apagar as duas
lâmpadas mais fortes de luz.
Uma determinada madrugada desejoso por um copo de
água, levantou-se e dirigiu-se à geladeira que ficava na
altura de uma janela bem próxima da entrada da garagem.
Estranhou a forte claridade que entrava ambiente
adentro.
Procurou pelo motivo daquela luz e, para seu espanto,
deparou-se com a lâmpada fraca que havia se tornado
bastante vigorosa em confronto com o escuro da
madrugada.
Podemos ser, se assim o desejarmos, semelhante a
pequena lâmpada da entrada da garagem que diante de
luz mais intensa parecia desnecessária, mas que diante da
escuridão da madrugada crescia em importância.
Nas pequenas atitudes que estão ao nosso alcance
realizar, muitas vezes desanimamos porque não
conseguimos grandes feitos o que pode estar ocultando

195
uma dose de orgulho e vaidade em nosso comportamento.
No livro Vinha de Luz do Espírito Emmanuel, psicografia
de Chico Xavier pela Editora FEB, encontramos uma página
cujo título é bastante significativo: Servicinhos!
Vamos aprender um pouco com ela: “A maioria anda
esquecida do valor dos pequenos trabalhos que se
traduzem, habitualmente, num gesto de boas maneiras,
num sorriso fraterno e consolador… Um copo de água pura,
o silêncio ante o mal que não comporta esclarecimentos
imediatos, um livro santificante que se dá com amor, uma
sentença carinhosa, o transporte de um fardo pequenino, a
sugestão do bem, a tolerância em face de uma
conversação fastidiosa, os favores gratuitos de alguns
vinténs, a dádiva espontânea ainda que humilde, a
gentileza natural, constituem serviços de grande valor que
raras pessoas toma à justa consideração.
Não te mortifiques pela obtenção do ensejo de aparecer
nos cartazes enormes do mundo. Isso pode traduzir muita
dificuldade e perturbação para teu espírito, agora ou
depois.
Sê benevolente para com aqueles que te rodeiam.
Não menosprezes os servicinhos úteis.
Neles repousa o bem-estar do caminho diário para
quantos se congregam na experiência humana.”
Temos que entender que os Espíritos missionários já
percorreram um trecho maior da estrada evolutiva,
enquanto estamos ainda muito no início. Eles já se
fortaleceram o suficiente para serviços maiores no
panorama do mundo. Por isso mesmo, a Providência Divina
em nosso programa reencarnatório, não estabeleceu feitos
de vulto comparados a existência de Chico Xavier, de
Divaldo Franco, de Irmã Dulce, Madre Teresa ou qualquer

196
outro missionário com que a vida brindou o planeta Terra.
Contudo, mesmo como pirilampos da vida, podemos
em meio à escuridão da necessidade alheia, jorrarmos luz
na intensidade possível de promover o socorro aos
sofredores.
Na doação da viúva no templo de Jerusalém, Jesus faz
destaque à moeda, quase sem valor nenhum, doada por
aquela mulher que tirava do pouco que tinha para doar a
outrem.
Talvez na posição dela nem adentrássemos o local
preocupados com o pouco que trazíamos para ofertar.
Não podemos perder de vista que existe sempre
alguma “escuridão” na alma alheia para a qual possamos
ser a fraca luz que praticamente inexiste na claridade do
dia.
E a exemplo da pequena lâmpada na entrada da
garagem, se tivermos a devida dose de boa intenção,
poderemos começar algum “servicinho” dentro de nosso
próprio lar, abençoada oficina de trabalho.
Que tal sermos aquela luz fraquinha que ilumine nossa
compreensão e não alimente discussão dentro de casa?
Aquela luz bem discreta que saiba compreender a
limitação daqueles que convivem conosco no serviço de
burilamento de suas almas como lapidamos a nossa?
Como seria bom que a nossa frágil luz nunca se
apagasse em atenção aos filhos que nos procuram para o
diálogo necessário como Espíritos entregues à nossa
responsabilidade!
Seríamos a alegria de nossos pais idosos se
contribuíssemos com a nossa pequena intensidade
evolutiva na compreensão das limitações da idade mais

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avançada que tanto precisa de amor na reta final da
jornada!
Trocando ideias como fizemos ao longo desses diálogos
sobre o papel que tivemos até agora e que por hora se
encerra, vamos fazer a proposta de sermos a pequena
lâmpada na entrada da garagem das necessidades do
nosso próximo abraçando os “servicinhos” em nosso
próprio lar?

Fim

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