Módulo 11
Infecção pelo HIV na Mulher
Grávida
Unidade 11 – Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
Introdução
Nesta unidade serão abordadas as particularidades da infecção pelo HIV na mulher grávida. A gravidez
não parece ter um efeito negativo na progressão para SIDA, mas as doentes com HIV/SIDA têm maior
probabilidade de sofrer de complicações relacionadas com a gravidez.
O tratamento anti-retroviral e outros cuidados pré-natais na mulher grávida têm os seguintes objectivos:
Tratar a infecção na própria mãe como em qualquer outro adulto;
Prevenir a transmissão da infecção para a criança;
Prevenir outras complicações na criança como infecções oportunistas ou baixo peso ao
nascer.
Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos:
Epidemiologia da infecção pelo HIV na mulher grávida em Moçambique
Possíveis consequências da infecção pelo HIV para mãe e para o filho
O programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV)
Vantagens do TARV Universal paa Mulher Grávida
O tratamento anti-retroviral na mulher grávida: particularidades
Malária e gravidez na doente seropositiva
Outras intervenções pré-natais com relevância nos cuidados de HIV/SIDA
Coordenação de serviços: Consultas Pré-natais, Maternidade, Consulta Criança em Risco e
Serviço TARV.
Epidemiologia da Infecção pelo HIV na Mulher Grávida em Moçambique
Desde o início da epidemia do SIDA em Moçambique, à semelhança de outros países também
afectados pela mesma doença, reconheceu-se a necessidade de avaliar periodicamente a situação da
prevalência do HIV. Esse tipo de avaliação periódica fornece dados essenciais para a definição de
acções de prevenção e controle da doença, bem como para avaliar o seu impacto demográfico. Assim,
foi estabelecida uma rotina de realização de Rondas de Vigilância Epidemiológica de modo a permitir
a avaliação da prevalência do HIV na população adulta.
A vigilância epidemiológica consiste na testagem periódica de mulheres grávidas em relação ao HIV em
Unidades Sanitárias seleccionadas como Postos Sentinelas.
As mulheres grávidas são consideradas uma parte representativa da população geral, e por isso estima-
se que a prevalência de HIV neste grupo pode ser um bom indicador da prevalência no total da
população entre os 15 e os 49 anos (idade reprodutiva).
Na Ronda de Vigilância Epidemiológica de 2007, um total de 10.757 mulheres grávidas foram incluídas
no estudo. Os dados obtidos neste estudo foram os seguintes:
Região Taxa de Prevalência
Sul 21%
Centro 18%
Norte 9%
Nacional 16%
Em 2009, os dados do INSIDA dão uma prevalência nacional de 11,5%. De este total, 13,1%
corresponde a mulheres de 15 a 49 anos (9,2% para homens)
Manual de Referência do Técnico de Medicina 344
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
Possíveis Consequências da Infecção pelo HIV para Mãe e para o Filho
A infecção pelo HIV na mulher grávida traz diferentes consequências negativas tanto para a mãe e
como para o filho.
As complicações para a mãe podem incluir:
a. Infecções e outras doenças oportunistas
b. Estigma
c. Desenvolvimento de resistência aos medicamentos anti-retrovirais
d. Risco elevado de complicações próprias da gravidez: endometrite, anemia, mortalidade
materna
As complicações para o filho podem incluir:
a. Transmissão vertical (da mãe para o filho) do HIV
b. Exposição a infecções oportunistas
c. Baixo peso ao nascer
d. Morte fetal intra-uterina
Risco Elevado de Complicações da Gravidez para a Mãe
Para além do risco de infecções oportunistas, reacções adversas a medicamentos, outras complicações
do SIDA e do próprio tratamento (iguais as que os outros doentes HIV positivos adultos podem
apresentar), as grávidas seropositivas correm mais risco de sofrer de outras complicações na gravidez,
tais como:
a. Morbilidade materna pós-parto: As complicações pós-partos são aproximadamente cinco vezes
mais frequentes na mulher seropositiva na fase pós-parto do que na mulher seronegativa e incluem:
febre, anemia, endometrite, peritonite, e pneumonia 1. As complicações infecciosas mais comuns são
algumas vezes associadas às intervenções cirúrgicas (episiotomia, por exemplo).
b. Mortalidade materna: A infecção pelo HIV é também associada à mortalidade materna. Num
estudo realizado no hospital central de Maputo sobre os óbitos maternos, verificou-se que o SIDA
causou mais de um óbito em cada 8 mortes maternas (mais mortes do que as causadas pela
malária).
Risco Elevado de Complicações para o Filho
A. Transmissão de HIV de Mãe para Filho: Riscos
Em Moçambique registam-se em cada ano cerca de 150.000 mulheres grávidas seropositivas 2; 30% a
35% dos bebés nascidos destas mulheres, sem prevenção da transmissão vertical, estarão infectados
pelo HIV.3 Este número de crianças infectadas distribui-se em função da circunstância em que adquirem
a infecção. Por exemplo:
Impacto da Transmissão Vertical/Riscos:
Em cada 100 crianças que nascem de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs,
destas 10 a 25 serão infectadas durante a gravidez no período pré-natal das 14-36 semanas.
Os factores que favorecem a infecção precoce dependem da mãe. Em resumo, pode-se referir o
seguinte:
a. Mãe com infecção avançada pelo HIV: estadio III ou IV da OMS, carga viral alta e o nível de
CD4 baixo.
b. Mãe com alguma infecção (por exemplo, malária, tuberculose ou sífilis) que pode contribuir
para elevar a carga viral e pode favorecer a transmissão do HIV para o filho.
Em cada 100 crianças nascidas de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs,
destas 25-50 serão infectadas durante o período pré-natal tardio (>36 semanas) e no parto,
1
European HIV in Obstetrics Group. Higher Rates of Post-Partum Complications in HIV-Infected than in Uninfected Women
Irrespective of Mode of Delivery. AIDS 2004;18:933-938.
2
Impacto Demográfico do HIV/SIDA em Moçambique, MISAU, Maio 2004
3
Antriretroviral Drugs for Treating Pregnant Women and Preventing HIV Infection in Infants in Resource-Limited Settings, WHO
2006, p.5
Manual de Referência do Técnico de Medicina 345
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
no momento da passagem através do canal vaginal, por contacto da criança com fluidos
maternos infectados. Todas aquelas práticas que contribuem para o sangramento da mãe (por
exemplo, a episiotomia,) ou da criança (o parto instrumentado com fórceps, ventosa, etc.), ou
aquelas que fazem com que a criança esteja exposta durante mais tempo (rotura prematura de
membranas, partos muito prolongados) aumentam o risco de transmissão.
As mães seropositivas devem ser manipuladas o menos possível durante o trabalho de parto e a
cesariana deve ser indicada perante qualquer complicação, de modo a evitar práticas mais
agressivas, que possam favorecer a transmissão.
Em cada 100 crianças nascidas de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs,
destas 35-40 serão infectadas através do aleitamento materno. À semelhança do que
acontece com qualquer fluido corporal de uma pessoa infectada, o leite da mãe contém o vírus.
Alguns factores que favorecem a transmissão são:
a. Prematuridade: as crianças prematuras têm menor capacidade de defesa, por isso o vírus
do HIV atravessa com maior facilidade as mucosas do aparelho digestivo.
b. Alimentação mista (mistura de leite materno com outros alimentos líquidos ou sólidos):
também facilita a infecção. Os alimentos sólidos podem provocar pequenas feridas nas
mucosas digestivas das crianças (por exemplo, na boca), facilitando a entrada do vírus
através delas.
c. Processos infecciosos: as feridas nos mamilos, a mastite, dermatites ou abcessos no peito
da mãe favorecem a transmissão do vírus de HIV de mãe para filho.
d. Lesões nas mucosas do bebé (por exemplo, através duma candidíase oral que provoca
feridas e favorece o sangramento): também facilitam a transmissão do HIV durante o
aleitamento.
Portanto, se a mãe não recebe anti-retrovirais:
Durante a gravidez existe 10-25% de risco de transmissão.
Durante o trabalho de parto existe 25-50% de risco de transmissão.
Durante a amamentação existe 35-40% de risco de transmissão.
B. Exposição a Infecções Oportunistas e Outras
O filho de uma mãe com tuberculose ou outra infecção associada ao SIDA pode apanhar a infecção da
mãe. As infecções associadas ao SIDA que podem infectar mãe e filho incluem:
Tuberculose (infecção pós-parto);
Toxoplasmose (infecção antes de nascer);
Sífilis (infecção antes de nascer);
Herpes (infecção antes de nascer).
Manual de Referência do Técnico de Medicina 346
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
C. Baixo Peso ao Nascer
O filho de uma mãe seropositiva corre maior risco de nascer com baixo peso (peso <2500 g) 4. Os bebés
que têm baixo peso ao nascer correm maior risco de morrer. O baixo peso no bebé pode ser causado
por malnutrição materna, por malária ou outra infecção materna ou por prematuridade.
D. Óbitos ao Nascer (nados mortos, morte fetal prematura)
O risco de morrer antes ou durante o parto é mais elevado para o filho de uma mãe seropositiva.
Condições que Favorecem a Transmissão Vertical
Tabela 1: Condições que Favorecem a Transmissão Vertical
Durante a Gravidez Durante o Parto Durante o Aleitamento
• Infecção pelo HIV aguda durante a • Modo do parto: o parto vaginal está • Condições do peito (mastite,
gravidez: uma mulher grávida deve-se associado com as taxas mais altas de abcessos no peito, fissuras nos
proteger mais por causa do risco de transmissão do que a cesariana electiva. mamilos)
transmissão do HIV ao bebé.
• HIV avançado (baixo CD4, estadio • A hemorragia intra-parto está • Padrão da alimentação do
III ou IV da OMS). associada ao aumento da transmissão do bebé (aleitamento materno não
HIV ao bebé. exclusivo ou alimentação mista)
• A malária torna a placenta mais • Os procedimentos obstétricos como • Infecções do bebé
permeável ao HIV. rotura prematura das membranas, rotinas (candidíase oral, gastrite)
de episiotomias, parto com ventosa ou
fórceps estão associados ao aumento da
transmissão.
• As ITS podem aumentar o número • Prematuridade
de vírus nas secreções vaginais.
• A TB pode diminuir a contagem de • Parto prolongado (rotura prolongada das
CD4 e aumentar a carga viral. membranas por mais de 4 horas)
Tabela 2: Conduta para Reduzir a Transmissão Vertical
Durante a Gravidez Durante o Trabalho de Parto Após o Parto:
· Oferecer aconselhamento de · Aplicar o protocolo de · Evitar a sucção nasal mecânica a
rotina, testagem para o HIV e PTV com anti-retrovirais menos que seja para salvar a vida.
apoio psicossocial (opcional). durante o parto Limpar o recém-nascido imediatamente
(Nevirapina+Duovir). de todas as secreções de sangue.
· Estadiar a mãe e tratar · Faça apenas exames Começar a profilaxia anti-retroviral no
imediatamente a malária, ITSs e vaginais mínimos durante recém-nascido o mais rápido possível
IOs. todo o trabalho de parto.
· Iniciar a terapia preventiva com · Reduzir o uso de · Apoie a opção de alimentação do bebé
Cotrimoxazol (quando elegivel) assistência ao parto com escolhida pela mãe.
fórceps ou ventosa
· Iniciar o TARV ou protocolo de · Não fazer episiotomia de · Se o aleitamento de peito for escolhido
PTV com fármacos anti-retrovirais rotina. como uma opção, encoraje a
amamentação exclusiva nos primeiros 6
meses de vida.
· Dar assistência pré-natal como Nota: A cesariana electiva é · Aconselhe o uso de substitutos do leite
a qualquer mãe incluindo uma forma eficaz para reduzir materno quando as condições
suplementação de ferro e multi- a transmissão vertical económicas da mãe forem favoráveis.
vitaminas, apoio nutricional (ex contudo, existe um risco
PMA), vacina contra tétano, elevado de complicações pós-
medicamentos para parasitas, operatórias (p.e., infecção)
tratamento para sífilis. que acontecem com mais
frequência nas mães
seropositivas.
· Se a alimentação de substituição for
escolhida, garanta a segurança e apoie a
mãe na preparação, higiene, seguimento.
Outras intervenções para reduzir a transmissão vertical
4
Ekouevi DK, Tonwe-Gold B, Becquet R, et al. Low Birth Weight with Nevirapine-Based Antiretroviral Therapy in Abidjan
Côte d’Ivoire. The ANRS Ditrame Plus Cohort and MTCT-Plus Initiative 2001-2007. CROI Abstract #641.
Manual de Referência do Técnico de Medicina 347
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
Segundo o descrito na Tabela 1: Condições que Favorecem a Transmissão Vertical, os riscos de
transmissão do HIV de mãe para filho são variáveis, e dependem de várias situações e condições que
podem surgir durante a gravidez, parto e aleitamento.
O Programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV)
Conhecendo os riscos de transmissão que as crianças têm, as estratégias para reduzir a transmissão
vertical que podem ser:
A prevenção primária do HIV nos adultos (potenciais pais e mães);
A prevenção da gravidez em mulheres seropositivas (planeamento familiar);
A redução da transmissão do HIV de uma mulher infectada para a sua criança, tanto durante a
gravidez como durante o parto e o aleitamento.
O programa de prevenção da transmissão vertical (PTV) é a estratégia nacional destinada a reduzir o
impacto da transmissão de mães para filhos com vista a garantir que as mães tenham acesso aos
recursos disponíveis para reduzir os riscos de transmissão do HIV.
As intervenções para a prevenção da transmissão vertical devem ser implementadas precocemente de
modo a
• A mulher grávida deve chegar o mais cedo possível para a primeira consulta pré-natal (CPN)
• A toda mulher grávida deve ser oferecido o aconselhamento e testagem para o HIV na primeira
consulta de CPN
• Testagem familiar (parceiros e filhos)
Toda mulher grávida testada positiva para o HIV deve receber as intervenções do PTV no mesmo dia
do diagnostico para prevenir a transmissão do HIV ao bebé.
O seguimento da mulher grávida permite que ela receba informações sobre as diferentes possibilidades
para a alimentação da criança e obtenha conhecimento sobre os possíveis riscos. A partir destas
informações e segundo as possibilidades socioeconómicas da mãe, o pessoal da saúde deve
recomendar a forma de alimentação que tenha menor risco possível de infecção para a criança.
Opções de PTV Disponíveis em Moçambique (2013)
Em Novembro de 2012 o Comité Terapêutico Nacional aprovou a implementação do TARV Universal
para todas as mulheres grávidas HIV positivas. Esta norma será implementada em conjunto com a
estratégia da Paragem Única, que consiste na integração dos serviços de HIV no sector da Saúde
Materno-infantil (SMI) e a delegação de tarefas, com a autorização das enfermeiras de SMI (ESMI) a
prescreverem TARV.
O TARV Universal para mulheres grávidas HIV positivas será oferecido em todas as US que estão a
oferecer TARV e PTV, e a sua expansão deverá seguir a expansão dos serviços de TARV.
Em Moçambique duas opções de profilaxia estarão a ser oferecidas concomitantemente:
TARV universal para Eliminação da Transmissão Vertical (ETV) nas US que oferecem TARV e
PTV (Opção B+)
Profilaxia com a Opção A nas US que ainda não oferecem TARV
Os detalhes sobre os regimes de PTV existentes e oferecidos nos dois tipos de serviços, podem ser
vistos na tabela 3:
As Vantagens do TARV Universal para a mulher grávida são:
• Redução da transmissão vertical (TV);
• Simplificação do início do TARV para as mulheres grávidas e lactantes (não dependência de
resultado de CD4) ;
• A TV reduz até menos 2% nas mulheres em TARV por longo prazo;
Manual de Referência do Técnico de Medicina 348
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
• Protecção contra TV em gravidezes futuras;
• Prevenção da TV durante a amamentação;
• Redução da mortalidade materna. Cerca de 18% das mortes maternas em Moçambique são
atribuidas ao HIV e o TARV pode prevenir 90% destas mortes).
• Redução do número de órfãos devido ao HIV;5
• Redução da transmissão sexual. Estudos internacionais demonstraram 96% de redução na
transmissão entre casais sero discordantes ao iniciar o TARV para o parceiro seropositivo
independente do seu estado imunológico e/ou clínico. Isto daria consequentemente, uma
redução da transmissão na comunidade;
• Prevenir a exposição transitória ao TARV. Taxa de fecundidade em Moçambique 5.7 e portanto
com o risco de resistência, e ma-adesão com continuas interrupções e reinícios;
• Mensagem única para comunidade: “TARV é para toda a vida”
Tabela 3: Opções de PTV disponíveis em Moçambique:
Opção A Opção B+
“TARV para ETV ou TARV universal”
Mãe CD4 >350 cel/mm3 TARV inicio assim que diagnosticada
AZT – 14 sem. Idade Gestacional (IG) HIV + durante a gravidez, continuar
NVPdu – entregue as 14sem IG para tomar no inicio para toda a vida
do trabalho de parto
AZT +3TC-trabalho de parto, ate 7 dias após o parto Independente do valor de CD4
CD4 <350 cel/mm3
TARV independentemente da idade gestacional
(assim que diagnosticada HIV+), continuar para toda a
vida
Criança Mãe em profilaxia ARV • Se aleitamento materno: – AZT 2x/dia
• Se aleitamento materno: NVP diária (2mg/kg/dia) do nascimento até 6 semanas de vida
desde o nascimento até 1 semana após ter terminado • Se aleitamento artificial: – AZT 2x/dia
toda e qualquer exposição ao leite materno do nascimento até 6 semanas de vida
• Se aleitamento artificial: NVP diária (2mg/kg/dia)
desde o nascimento até 6 semanas de vida
Mãe em TARV
Mãe em TARV independente do tipo de aleitamento
da criança - NVP 2mg/kg de peso diário do nascimento
e durante 6 semanas
5
(Mozambique National Institute of Statistics, U.S. Census Bureau, MEASURE Evaluation, U.S. Centers for Disease Control and
Prevention. 2012. Mortality in Mozambique: Results from a 2006–2007 Post-Census Mortality Survey. Chapel Hill, USA
Manual de Referência do Técnico de Medicina 349
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
1. US COM TARV E PTV
TARV UNIVERSAL para todas as Mulheres Grávidas HIV positivas (Opção B+).
Todas as mulheres grávidas testadas positivas na Consulta Pré-natal deverão iniciar TARV para toda a
vida independente do seu estadio clínico ou valor de CD4.
Onde será implementado?
• Em todas as US com PTV e TARV
• As US com PTV e TARV irão implementar a Paragem Única na SMI, com a integração dos
cuidados de HIV na SMI e o TARV a ser prescrito pelas ESMI
• A expansão para periferias devera seguir a expansão do TARV
O aconselhamento pré-TARV deverá ocorrer no mesmo dia do diagnóstico. Sempre que possível,
deverá ser iniciado o TARV na segunda visita, O aconselhamento para adesão deverá acompanhar
todas consultas seguintes.
1.1. Esquemas Terapêuticos para a Mulher Grávida:
I. TDF+3TC+EFV
a. A implementação deste regime terapêutico será feita gradualmente em todo o país. No
ano de 2013, apenas 101 US estarão a oferecer este regime, até 2015 todas as US com
TARV estarão a oferecer regime com TDF.
b. O uso deste regime de TARV apresenta várias vantagens, nomeadamente:
i. Ao não incluir Nevirapina, pode ser usado em pacientes com qualquer contagem
de CD4, sem o problema do risco elevado de hepatite que apresentam os
pacientes quando a Nevirapina é administrada com contagens de CD4 elevadas.
Por este motivo é preferível para a implementação do TARV Universal (todas as
mulheres grávidas com independência do valor de CD4)
ii. Ao não incluir AZT não apresenta o problema do risco de anemia, num grupo de
população (mulheres grávidas) que com muita frequência já apresenta anemia.
iii. A combinação de TDF+3TC+EFV apresenta-se em dose fixa combinada, e sua
administração é 1 vez por dia, pelo que simplifica o tratamento anterior.
iv. Harmonização entre diferentes grupos (grávidas, adultos, co-infectados com TB
e/ou Hepatite B).
c. A implementação faseada desta linha é devida à necessidade de avaliar a função dos
rins, através da avaliação da creatinina no sangue. Este teste de bioquímica ainda não
está disponível em todas as US do país.
II. Esquemas alternativos:
a. AZT+3TC+EFV
i. Este regime terapêutico será implementado nas restantes US a oferecerem
TARV, que não possuem o esquema de TDF+3TC+EFV e deverá ser
gradualmente substituído pelo esquema com TDF quando estiver disponível.
ii. Este regime deve ser oferecido no caso de contra-indicação ao uso de TDF
(Rever a tabela 3 na Unidade 10.3 sobre Início de TARV)
b. D4T+3TC+EFV
i. Nas US que não têm acesso a esquema com TDF, no caso de anemia que
contra-indique o uso de AZT, as mulheres grávidas devem iniciar TARV com este
esquema terapêutico.
c. TDF+3TC+LPV/r
i. No caso de pacientes psiquiátricos não deve-se utilizar o EFV, Este fármaco deve
ser substituído por LPV/r. O EFV deverá ser suspenso e substituído por LPV/r nas
pacientes que desenvolvem alterações de comportamento com o uso de EFV.
Manual de Referência do Técnico de Medicina 350
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
IMPORTANTE: Estudos internacionais não demonstram aumento do risco de teratogenicidade para
mulheres grávidas recebendo EFV no 1º trimestre. A prevalência de teratogenicidade para mulheres
expostas a EFV no 1º trimestre é similar as mulheres expostas a linhas terapêuticas sem EFV e na
população em geral (2%, 2.9% e 6% respectivamente). A incidência de defeitos do tubo neural se
manteve baixa (0.07%).
A OMS tem publicado recentemente (Junho 2012) uma revisão dos dados existentes até agora. Esta
revisão mostra que os benefícios do uso de EFV são maiores que os riscos. Alem disso, esta revisão
também destaca que os esquemas contendo EFV apresentam uma eficácia maior que esquemas
contendo NVP e um menor risco de reacções adversas graves (hepatite e reacções cutâneas)
1.2. Profilaxia ARV para a crianças expostas:
Todas as crianças nascidas de mães seropositivas em US a oferecer TARV Universal deverão receber
como profilaxia o AZT xarope por 6 semanas independente do tipo de aleitamento.
2. US COM PTV, SEM TARV
Nas unidades sanitárias onde ainda não é possível prescrever TARV, todas as mulheres testadas
positivas para HIV devem ser avaliadas para elegibilidade para o TARV em todas as consultas através
do estadiamento clínico e do resultado de CD4, de acordo com os critérios na tabela abaixo (Opção A
de PTV)
.Tabela 4 : Início TARV nas mulheres grávidas
Estadio Clinico da CD4 não disponível CD4 disponível
OMS
I Não iniciar TARV Iniciar TARV se CD4 ≤ 350cel/mm3
II Não iniciar TARV
III Iniciar TARV Iniciar TARV independentemente da
contagem de CD4
IV Iniciar TARV
As mulheres grávidas HIV+ não elegíveis para receberem o TARV deverão receber a profilaxia com
ARV como forma de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV). O AZT é o fármaco de eleição neste
caso.
Portanto, a profilaxia com AZT está indicada para mulheres grávidas, a partir da 14ª semana de
gestação, ou o mais cedo possível no caso da mulher grávida se apresentar com idade gestacional
mais avançada, no trabalho de parto ou no parto
2.1. Tratamento ARV para a Mulher Grávida Elegível
A mulher grávida identificada como elegível, deverá ser referida para a US de referência mais próxima
que ofereça TARV.
O esquema terapêutico que será oferecido a esta mulher grávida deverá ser aquele disponível na US e
de acordo com o explicado no apartado 1.1 desta unidade.
2.2. Profilaxia ARV para a Mulher Grávida não elegível ao TARV
Oferecer AZT cp 12/12h diário a partir da 14ª semana gestacional;
Oferecer NVP dose única para ser tomada no momento do início do parto (deve ser entregue
à mulher grávida na mesma consulta em que se entrega pela primeira vez o AZT).
Oferecer AZT+3TC 12/12h durante o trabalho de parto e manter até 7 dias após o parto
Se a grávida tomou o comprimido de NVP, mas chega à maternidade e não se encontra de
Manual de Referência do Técnico de Medicina 351
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
facto em trabalho de parto, ela deve ser entregue uma nova dose de Nevirapina e ser
orientada para tomá-la quando o trabalho de parto ocorrer de facto e SOMENTE SE
TIVEREM PASSADO 72 HORAS APÓS A PRIMEIRA DOSE.
Durante o trabalho de parto, o AZT+3TC e a NVP dose única devem ser administrados no
início do trabalho de parto vaginal e, pelo menos, 4 horas antes no caso de cesariana
electiva
2.3. Profilaxia ARV para crianças expostas:
- Se mãe em TARV:
O bebé deverá receber NVP por 6 semanas independentemente do tipo de
aleitamento
Mãe não em TARV:
Bebé em aleitamento artificial, deverá receber NVP por 6 semanas
Bebé em aleitamento materno, deverá receber NVP até uma semana após o
desmame
Tabela 3: Protocolos para a Redução da Transmissão Vertical
ESTADIO CLÍNICO
CD4 ESTADIO 1 ESTADIO 2 ESTADIO 3 ESTADIO 4
≤ 350 TARV TARV TARV TARV
PROFILAXIA
> 350 PROFILAXIA ARV TARV TARV
ARV
Malária, Gravidez e HIV
A gravidez supõe um aumento do risco de contrair malária para a mulher. Quando a malária acontece
durante a gravidez, esta pode ter uma série de complicações:
Malária severa na mãe, com risco de óbito materno
Anemia materna
Nado com baixo peso ao nascer
Elevado risco de aborto ou de nado-morto como consequência da anemia
O risco de malária é ainda mais elevado durante a gravidez numa mulher com infecção pelo HIV. Além
do risco elevado de sofrer de malária, a malária está associada à transmissão vertical. A malária
provoca um aumento da carga viral nos doentes, o que favorece a transmissão do vírus da mãe para o
filho.
A terapia profiláctica intermitente (TPI) com Fansidar tenta reduzir o risco de malária nas mulheres
grávidas. No caso das mulheres seropositivas, o tratamento que devem receber para prevenir a malária
é o Cotrimoxazol, que deve ser tomado diariamente (2 comprimidos por dia). O Cotrimoxazol tem
demonstrado ser efectivo na prevenção da malária e também de algumas infecções oportunistas.
O uso da rede mosquiteira é recomendado a todas as mulheres grávidas devido ao risco elevado de
contrair a malária durante a gravidez e as consequências para a futura criança. Nas mães seropositivas,
a recomendação é a mesma.
Manual de Referência do Técnico de Medicina 352
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida
Outras Intervenções Pré-Natais na Mulher Seropositiva
As mulheres grávidas seropositivas devem receber vacinas para o tétano, testagem e tratamento para
sífilis, e suplementos de ferro e sulfato ferroso, segundo os mesmos protocolos usados para as grávidas
sem HIV. Também devem receber Mebendazol em dose única a partir do segundo trimestre (o
Albendazol é contra-indicado na gravidez).
Para apoiar o bom crescimento do feto, a mãe seropositiva terá de se alimentar melhor do que a mulher
seronegativa. Deve fazer avaliação e aconselhamento nutricional em todas as cosultas (veja o capítulo
sobre nutrição).
Coordenação dos Serviços: Consultas Pré-Natais, Maternidade, Consulta Pós Parto,
Consulta Criança em Risco e Serviços TARV
A estratégia de paragem única tem como objectivo simplificar o atendimento à mulher grávida
seropositiva e ao seu filho exposto ao HIV. A simplificação deste atendimento pretende aumentar a
cobertura de TARV nas mulheres grávidas, fazendo com que elas e seus filhos sejam avaliados na
mesma consulta.
Apos o parto, a mulher grávida em TARV irá fazer seguimento junto com a crianças exposta e o sector
responsável por este atendimento será o da Saúde Materno-infantil.
Uma vez que a infecção na criança seja excluída, esta receberá alta da CCR e a mãe deverá ser
referida para o Serviço de TARV, para continuar com seu seguimento e tratamento nesse lugar. Se
apesar dos esforços o resultado final é que a criança fica infectada, ambos (mãe e criança) deverão ser
referidos para o serviço TARV (a mãe para continuar o tratamento e a criança para iniciá-lo sem
demora).
Pontos-Chave
• Na mulher grávida, o tratamento anti-retroviral pode ter mais de um objectivo: pode ser o
tratamento da doença da própria mãe, e também permite reduzir os riscos de infecção para a
futura criança.
• O TMG deve conhecer as diferentes componentes do programa nacional de Prevenção da
Transmissão Vertical (PTV) e apoiar na sua implementação na US.
• O TMG deve conhecer as particularidades do TARV para a mulher grávida (Opção B+ ou TARV
Universal).
• Terapia tripla é superior para ETV (eliminação da transmissão vertical);
• Tratamento para toda a vida previne a exposição transitória ao TARV em países de alta taxa de
fecundidade;
• TARV traz benefícios para saúde materna;
• TARV traz benefícios para a prevenção da infeção no parceiro sero-negativo;
• Adesão e retenção são aspectos críticos.
• As interacções entre a malária e a gravidez são ainda mais complicadas no caso das grávidas
seropositivas. O TMG deve conhecê-las bem como a profilaxia para malária e IOs para a grávida
seropositiva.
Manual de Referência do Técnico de Medicina 353
Infecção pelo HIV na Mulher Grávida