Resumos de História A - Parte 3
Os caminhos da Europa Unidão
Talvez por isso, a construção europeia tenha sido uma história de altos e baixos, com
períodos de grande entusiasmo e outros de grande ceticismo. Etapa a etapa, o projeto foi,
no entanto, progredindo, orientando-se por dois vetores principais: o estreitamento dos
laços entre os Estados e os cidadãos, e o alargamento geográfico da União.
Da CEE à União Europeia
Nas décadas seguintes (após 70), o estreitamento dos laços comunitários receberá um
impulso decisivo graças ao dinamismo de Jacques Delors, que, em 1985, assume a
presidência da Comissão Europeia. Será durante o mandato de Delors que se assinarão
dois diplomas fundamentais:
● o Ato Único Europeu (1986), que, em outros aspetos, visava criar um, espaço
económico sem fronteiras internas (mercado único);
● o Tratado de Maastricht (1992), que representa um marco fundamental no percurso
europeu, pois é este tratado que, a partir da CEE, cria a União Europeia (UE).
Com a assinatura do Ato Único, Delors esforçou-se por mostrar as vantagens que
poderiam advir de um mercado unificado, mobilizando governos, empresas e sindicatos
para a sua concretização, na data prevista.
Em 1993, o mercado único europeu entrou em funcionamento e a Comunidade passou a
funcionar como um espaço económico coeso, onde, além das mercadorias, podem
circular livremente, pessoas, capitais e serviços.
Aproveitando esta dinâmica, intensificam-se as negociações que conduzem ao Tratado da
União Europeia, assinado na cidade holandesa de Maastricht.
O Tratado de Maastricht: moeda única e cidadania europeia
O Tratado de Maastricht representou um grande passo em frente no caminho da União.
Em termo económico, estabeleceu as etapas para a adoção de uma moeda única. A 1 de
janeiro de 1999, 11 países, aos quais viria a juntar-se a Grécia, inauguraram oficialmente o
euro, que entra, então, nos mercados de capitais. Nessa mesma altura, começa a funcionar
um Banco Central Europeu, supranacional, que define a política monetária da União.
Em termos políticos, Maastricht estabeleceu a União Europeia (EU), fundada em três
pilares: um pilar económico, que se alicerça na já existente CEE; um segundo pilar que
visa a estruturação de uma Política Externa
e de Segurança Comum (PESC); e um
terceiro pilar que congrega a cooperação
nos domínios da justiça e dos assuntos
internos.
Os três pilares articulam-se no quadro das
instituições da União, que conjugam órgãos
de tipo federal, como o Parlamento Europeu e
a Comissão Europeia, e órgão composto
pelos ministros ou chefes de Estado
Nacionais, como o Conselho de Ministros
(Conselho da União), por exemplo.
A criação da União Europeia trouxe consigo uma cidadania europeia, atribuída a todos os
nacionais de um Estado-membro. Procurou-se “estabelecer um vínculo direto entre os
cidadãos dos Estados-membros”, para além disso a cidadania da União confere direitos
vários.
Tratados posteriores, como o Tratado de Amesterdão (1997), e o Tratado de Lisboa
(2007), viriam clarificar e reforçar a cidadania instituída em Maastricht, definindo que a
cidadania europeia não substitui a nacional e alargando os direitos de participação cívica
junto das instituições. Porém, a pertença a uma casa europeia comum é ainda sentida como
uma coisa vaga e longínqua.
O alargamento geográfico
Nos anos 80, entraram para a Comunidade a Grécia, Portugal e Espanha, estas
adesões colocaram à Comunidade o seu primeiro grande desafio, já que se tratava de um
grupo de países economicamente atrasados, em comparação com os restantes membros.
Em 1995, a Comunidade alargou-se no centro e no norte da Europa, com as adesões da
Áustria, Finlândia, e Suécia, e passou a funcionar com 15 membros.
O fim da cortina de ferro abriu portas aos países de Leste. O princípio da integração das
novas democracias é aceite e, preparando-o, a Cimeira de Copenhaga (1993) define os
critérios que, de aí em diante, devem presidir às entradas na União.
Em 2004, a Europa enfrenta o desafio imenso de unir o Leste e o Oeste, acolhendo, de
uma vez, 10 países. Em 2007, efetivaram-se as adesões da Bulgária e da Roménia e, em
2013, a da Croácia. Nesse ano, UE atinge os 28 países-membros. Este percurso de
crescimento, foi um dos maiores marcos da União, no entanto foi cortado por um referendo
no Reino Unido que deixa a UE em 2020, deixando-a com 27 membros.
Um percurso difícil
O abandono britânico da UE, que se consumou em 2020, é a expressão das dificuldades
que têm presidido ao sonho de “fazer a Europa”. O Reino Unido sempre rejeitou a ideia de
uma Europa supranacional.
No entanto, o euroceticismo não é exclusivo inglês. Tem conduzido à rejeição de
tratados, como aconteceu com o projeto de Constituição Europeia, ou à relutância em
abdicar de moeda própria, como é o caso dos suecos e dinamarqueses que exigiram não
pertencer à zona euro.
Por outro lado, se o alargamento geográfico da Comunidade lhe acrescentou
importância, contribuiu também para a complexibilidade do seu funcionamento.
Pensadas para um punhado de países, as instituições europeias necessitam de uma
reforma profunda, que se adapte ao aumento exponencial do número de membros da
União.
A União Europeia no mundo
A União Europeia é um projeto único no mundo. Hoje, parece impensável que estale um
conflito armado dentro das fronteiras da União. São já sete décadas de paz ininterrupta.
A União Europeia é uma grande potência económica, formando, com os Estados Unidos
e a China, a “tríade” económica do planeta. Os cerca de 440 milhões de cidadãos fazem da
UE um enorme mercado consumidor e a sua moeda - o euro - partilhada por vinte países,
impôs-se como a segunda moeda mais importante do mundo. Além disso, a UE detém uma
importante parcela no comércio mundial e afirma-se como o principal parceiro comercial de
cerca de 80 países. Revela-se ainda como a economia mais aberta aos países em
desenvolvimento, superando, em importações desses países, os Estados Unidos, a China
e o Japão, em conjunto.
A Europa distingue-se no mundo como um espaço de respeito pelos Direitos do Homem
e um exemplo no que respeita à proteção dos cidadãos, cobertos por um sistema social
abrangente. É-o também no que concerne à política climática.
Em suma, a União dá ao Velho Continente uma voz nas questões mundiais.
O impacto da integração europeia a nível interno e externo
Em 1 de janeiro de 1986, Portugal integra-se nas Comunidades Europeias, apostando na
aproximação aos países desenvolvidos da Europa.
A evolução económica: O impacto inédito da integração
A integração nas Comunidades segue-se a um período marcado pelas dificuldades
económico-financeiras: elevadas taxas de juro, forte inflação que consumia os salários,
desemprego, escasso desenvolvimento tecnológico, débil dinamismo empresarial, carências
na rede de comunicações.
Em 1986, porém, os ventos da mudança sopraram. Chegam apoios de ordem técnica e,
sobretudo, um largo fluxo de capitais no âmbito dos Fundos Estruturais e,
posteriormente, Fundo de Coesão, destinados a fazer convergir os índices
socioeconómicos do país com os dos outros parceiros da Comunidade.
O impacto dos fundos comunitários faz-se sentir nos anos posteriores a 1986:
● as infraestruturas desenvolvem-se e modernizam-se com um vasto programa
de obras públicas, de que se salientam as redes de estradas, autoestradas,
saneamento, eletricidade, gás natural, telecomunicações, as pontes, os aeroportos,
as escolas, os hospitais, equipamentos culturais, bem como a prossecução da
barragem do Alqueva (projeto que remonta aos anos 60, iniciado na década
seguinte é interrompido);
● as exportações crescem e registam um aumento dos produtos de valor
acrescentado (máquinas, químicos, minérios, metais), em detrimento das indústrias
tradicionais ( agroalimentar, cortiça, couros, papel, vestuário, calçado);
● o número de empresas aumenta, especialmente as pequenas e médias;
● o produto interno bruto (PIB) cresce significativamente, diminuindo a diferença
relativamente à média comunitária;
● a estrutura da população ativa assiste à progressiva terciarização da sociedade;
● a taxa de desemprego desce;
● as remunerações ascendem, não só pelo aumento de salários, como também pela
descida da inflação;
● as regalias sociais melhoram, como pensões e subsídios;
● o analfabetismo regride e o acesso ao ensino expande-se com a escolaridade
obrigatória a passar para o 9 ano;
● os índices de desenvolvimento humano (IDH) melhoram, nomeadamente com a
descida acelerada da mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida;
● o consumo privado cresce, o que detona progressos no nível de vida e de
bem-estar da população.
Os desafios dos anos 90
A década de 90 traz novos desafios à Europa comunitária. O Tratado de Maastricht
(1992), que institui a União Europeia, define as condições de integração na União
Económica e Monetária, tendo em vista a adoção da moeda única. Os esforços são
premiados e o país integra o grupo de 11 membros que aderem à moeda única em 1999. A
partir de 2002, o euro circulou normalmente, mas o crescimento econômico abrandou.
Entretanto, em 1993, entrara em vigor o Mercado Único Europeu, baseado no livre
comércio de bens, serviços, pessoas e capitais. Sem protecionismo, a economia portuguesa
fica, como nunca, exposta à concorrência externa.
Num mundo cada vez mais competitivo, Portugal prossegue a modernização. Grandes
grupos empresariais investem na rede de distribuição de bens de consumo. O Estado
privatiza empresas, o que lhe proporciona receitas adicionais e a Bolsa de Valores anima
a economia. Verifica-se um BOOM na concessão de créditos, mais dirigido para a
habitação e os serviços do que para a indústria. O setor terciário explode, com a
proliferação das grandes superfícies comerciais, a expansão da banca e das
telecomunicações e os progressos da informação. O investimento em infraestruturas
continua uma aposta forte. Grandiosos projetos de obras públicas, como a ponte Vasco
da Gama e os equipamentos da Expo’98, dinamizam a construção civil e atestam o
desenvolvimento do país na segunda metade da década de 90.
Atente-se, no entanto, nos pontos fracos da nossa economia. O consumo passa a
produção; crescem as importações; o Estado e particulares endividam-se. A agricultura,
sujeita aos ditames da Política Agrícola Comum (PAC), e as pescas sofrem um inexorável
declínio. Recebem investimentos comunitários, mas não suportam a concorrência
europeia. Quanto à indústria, parece ser o elo mais fraco. Beneficia do investimento de
algumas multinacionais, apontando-se a fábrica Autoeuropa, em Palmela, como sendo o
investimento mais importante efetuado, nos anos 90, no nosso país. Mas a concorrência
onde a mão de obra é mais barata, a pequena dimensão das empresas, a gestão
pouco eficiente dos recursos humanos e a débil aposta em Investigação e
Desenvolvimento não permitem consolidar uma indústria competitiva.
As dificuldades do terceiro milénio
No terceiro milénio, Portugal enfrenta uma conjuntura externa adversa. Assiste à marcha
imparável da globalização e acusa os efeitos da quebra económica norte-americana e da
regressão mundial relacionada à crise de mercados financeiros, em 2008.
Neste contexto, a economia evoluiu desfavoravelmente. Encerram empresas que não
resistem à crise, enquanto as multinacionais deslocalizam as suas filiais. O desemprego
passa a ser uma realidade visível. O crescimento anual médio do PIB regride, cessando a
convergência nos níveis de vida e bem-estar com os outros parceiros da União.
A dívida pública, impulsionada pelo acréscimo das despesas do Estado - que, cada vez
mais ,se endivida - e pela acumulação dos défices orçamentais, conheceu um aumento
explosivo, levando Portugal a solicitar um resgate financeiro em 2011.
Nos três primeiros anos (2011 a 2014) de intervenção da Troika (Comissão Europeia,
Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional ) estabeleceram-se as contas
públicas, atingindo-se o equilíbrio da balança comercial, devido à acentuada contratação a
despesa interna e à melhoria das exportações. No entanto, degrada-se o nível de vida da
população, penalizada por uma carga de impostos agravada e por cortes nos rendimentos,
atividade económica retrai-se com a falência de empresas e instituições bancárias, o
desempenho agrava-se e a emigração dos jovens acelera.
Desde 2015, em condições externas favoráveis (crescimento económico global e baixas
taxas de juro das dívidas soberanas), o país recupera. O incremento e a dinamização da
atividade imobiliária permitem o crescimento do PIB.
Datas importantes
1957- Tratado de Roma (Nascem a CEE e a EURATOM)
1986 - Assinatura do Ato Único Europeu
1992 - Assinatura do Tratado de Maastricht
1993 - Concretiza-se o mercado único, previsto no Ato Único Europeu
1997 - Assinatura do Tratado de Amesterdão
Entrada dos países na UE:
1973: Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
1981: Grécia.
1986: Portugal e Espanha.
1995: Áustria, Finlândia e Suécia.
2004: Checa, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta e
Polónia.
2007: Bulgária e Roménia.
2013: Croácia.
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