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Em destaque Revolta dos excluídos

No texto, as historiadoras Margarida de Souza Neves e Alda Heizer falam sobre as reformas que,
por um lado, transformaram o Rio de Janeiro na “capital do progresso”, e, por outro, provocaram a
continuidade da exclusão social. Leia-o com atenção.
A avenida Central foi aberta em 1905. A varíola desapareceu da cidade com a vacinação
em massa obrigatória. O cais do porto foi remodelado e reequipado. “O Rio civiliza-se”, di-
ziam então muitos, encantados com o cenário parisiense montado no centro da cidade […].
Estava feita a reforma que transformara o Rio de Janeiro na capital do progresso […].
Por trás do cenário francês da avenida Central, estava o Brasil de verdade, onde pouca coisa
mudara com a proclamação da República. Por trás da barulheira e da agitação com as obras
de reformulação da capital estava a rotina de um país que substituíra o açúcar pelo café na
pauta de exportação, que deixara de ter escravos para ter ex-escravos, imigrantes e trabalha-
dores nacionais trabalhando no pesado e onde os barões do império viraram ministros da
República. Por trás do discurso do progresso estava a preocupação com a ordem, uma ordem
que excluía muitos da cidadania plena e que hierarquizava a sociedade como um todo. […]
Nos sertões, outra forma de sonho de uma ordem diferente se esboçava: alguns, cansados
da vida dura que levavam no campo, tentaram construir um mundo à parte, fora da ordem
que os excluía, um espaço onde as normas e a disciplina fossem de outra natureza. Para
construir essa outra sociedade, levavam o que possuíam: sua gente, sua religiosidade, cer-
tamente diversa da doutrina oficial da Igreja Católica, e sua fé na promessa de que a terra
— ao menos aquela terra em que pisavam — seria, enfim, uma terra deles.
NEVES, Margarida de Souza; HEIZER, Alda. A ordem é o progresso: o Brasil de 1870 a 1910. São Paulo: Atual, 1991. p. 65-67, 79-80.

• De acordo com o texto, no Rio de Janeiro do início do século, “por trás do discurso do progresso estava a
preocupação com a ordem”. Responda:
a) Que ordem era essa? Qual era o motivo da preocupação com ela?
b) A que frase famosa em nosso país o trecho citado faz referência?

Revolta da chibata (1910)


Seis anos depois da Revolta da Vacina, em 22 de depois que um marujo do encouraçado Minas Gerais
novembro de 1910, explodiu outra insurreição no Rio recebeu uma punição de 250 chibatadas, quantidade
de Janeiro: aproximadamente 2 mil membros da Ma- dez vezes superior ao limite estabelecido.
rinha brasileira, liderados pelo marinheiro João Cân-
Quando o encouraçado chegou à baía de Guana-
dido, rebelaram-se contra os castigos físicos que rece-
bara, sua tripulação amotinou-se. Primeiro, os revol-
biam nessa instituição, dando início ao episódio que
tosos tomaram o comando do Minas Gerais, sendo,
ficou conhecido como Revolta da Chibata.
em seguida, acompanhados pelos marujos dos en-
Explosão da revolta couraçados São Paulo, Bahia e Deodoro, que também
assumiram o controle de seus respectivos navios.
No início do século XX, a Marinha do Brasil ainda
mantinha em seu código disciplinar algumas normas Em seguida, todos apontaram os canhões para a
que remontavam aos séculos XVIII e XIX. Entre elas cidade do Rio de Janeiro e enviaram um comunica-
estava a punição dos marinheiros, por faltas graves, do ao presidente da República, explicando as razões
com 25 chibatadas. Essa punição humilhante era apli- da revolta e fazendo exigências. Queriam mudanças
cada na presença dos demais companheiros, obriga- no código de disciplina da Marinha (especificamente,
dos a assistir ao açoite dos faltosos. acabar com as chibatadas). Além dos castigos físicos,
A indignação das tripulações dos navios crescia. os marinheiros reclamavam da má alimentação e dos
A tolerância com os maus-tratos chegou ao limite soldos (salários) miseráveis que recebiam.

CAPÍTULO 7 Revoltas na Primeira República 111


Em destaque Reivindicações dos marinheiros
Leia o documento que apresenta a mensagem dos marinheiros rebelados na chamada Revolta da
Chibata, enviado ao presidente da República de então.
Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910.
Ilmo. e Exmo. Sr. Presidente da República Brasileira.
Cumpre-nos comunicar a V. Excia. como Chefe da Nação Brasileira:
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a es-
cravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá [...], rompemos o
negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.
Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo como prisioneiros todos
os Oficiais, os quais têm sido os causadores de a Marinha Brasileira não ser grandiosa, por-
que durante vinte anos de república ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos
fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Excia. faça aos
Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilitam,
acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha
Brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Bra-
sileira; reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata,
o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre
Senador José Carlos de Carvalho; educar os marinheiros que não têm competência para vestir
a orgulhosa farda; mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.
Tendo V. Excia. o prazo de 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de
ver a Pátria aniquilada — Bordo do Encouraçado “São Paulo”, em 22 de novembro de 1910.
Nota: não poderá ser interrompida a ida e a volta do mensageiro — Marinheiros.
In: MOREL , Edmar. A Revolta da Chibata. Rio de Janeiro: Graal, 1979. p. 84-85.

1. Quais são as reivindicações dos marinheiros apresentadas no documento?


2. Aponte a forma como a república é tratada pelos marinheiros no documento.

Reação do governo
Sob a mira dos canhões e após alguns disparos, o governo respondeu, depois
de quatro dias de muita tensão, que atenderia a todas as exigências dos marujos.
Rapidamente, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que punha fim às chi-
anistiar: perdoar. batadas e anistiava os revoltosos, já que o motim, no direito militar, é considerado
um crime contra a disciplina.
Os marinheiros, confiando na palavra das autoridades, entregaram os navios
aos comandantes. O governo, entretanto, não cumpriu tudo o que havia prome-
tido: os castigos foram abolidos, mas alguns líderes da rebelião foram presos e
vários marinheiros acabaram sendo expulsos da corporação militar.
Em reação, no dia 9 de dezembro, os marujos organizaram outra rebelião.
Só que dessa vez o governo estava preparado para reagir, e o fez violentamente.
Dezenas de revoltosos foram mortos e centenas foram presos e mandados para a
Amazônia. Mais de mil foram expulsos da Marinha.
João Cândido foi preso em uma masmorra da ilha das Cobras, no Rio de
Janeiro, sendo julgado e absolvido em 1912. Passou para a história como
o Almirante Negro, que acabou com o castigo da chibatada na Marinha
do Brasil.

112 UNIDADE 2 República e sociedade


Interpretar fonte Cantos e chibatas
A música O mestre-sala dos mares, dos compositores Aldir Blanc e João Bosco, tem como tema a
Revolta da Chibata. Leia alguns trechos de sua letra.

O mestre-sala dos mares


Há muito tempo
Nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro,
Tinha a dignidade de um mestre-sala […]
Rubras cascatas,
Jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro
Gritava então: […]
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

c. alvim costa/Futura press


Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais […]
BOSCO, João; BLANC, Aldir. O mestre-sala dos mares.
©BMG Music Publishing Brasil, 1974.

Mestre-sala: aquele que


conduz uma festa, um bai-
le ou uma cerimônia; nas
escolas de samba, figura
de destaque que acompa-
nha a porta-bandeira.

Estátua de João Cândido, que se encontra na praça XV


de Novembro, no Rio de Janeiro. Fotografia de 2010.

• Com base na letra da canção e no episódio da Revolta da Chibata, explique o significado dos seguintes ter-
mos ou expressões poéticas:
a) bravo feiticeiro/navegante negro;
b) rubras cascatas;
c) pessoal do porão;
d) lutas inglórias.

CAPÍTULO 7 Revoltas na Primeira República 113


tenentismo (1922-1926)
Uma década depois da Revolta da Chibata, seguia duziu efeitos imediatos na estrutura política brasilei-
crescendo o descontentamento de diversas camadas ra, mas mantiveram acesa a chama da revolta contra
sociais com o tradicional sistema oligárquico que do- o poder e os privilégios das oligarquias.
minava a política brasileira. Esse descontentamento
era particularmente notado entre as populações dos Revolta do Forte de copacabana (1922)
grandes centros urbanos, que não estavam direta- A primeira revolta tenentista teve início em
mente sujeitas às pressões dos coronéis. 5 de julho de 1922, no Forte de Copacabana,
O clima de revolta atingiu as forças armadas, di- que contava com uma tropa de aproximadamente
fundindo-se, sobretudo, entre jovens oficiais, a maio- 300 homens. Os revoltosos do forte decidiram im-
ria tenentes. Estes acabaram liderando uma série de pedir a posse do presidente Artur Bernardes.
rebeliões, como parte de um movimento político-mili-
Tropas fiéis ao governo isolaram os rebeldes, que
tar, que ficou conhecido como tenentismo.
não tiveram condições para resistir. Mesmo diante da
O movimento tenentista pretendia conquistar o superioridade das forças governamentais, 17 tenen-
poder pela luta armada e promover reformas na Pri- tes e um civil saíram às ruas para um combate corpo
meira República. Entre suas principais reivindicações, a corpo com as tropas opositoras. Dessa luta, ape-
incluíam-se: a moralização da administração pública e
nas dois revoltosos escaparam com vida: os tenentes
o fim da corrupção eleitoral; o voto secreto e uma Jus-
Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
tiça Eleitoral confiável; a defesa da economia nacional
contra a exploração das empresas e do capital estran- Esse episódio ficou conhecido como Revolta do
geiro; a reforma da educação pública, para que o en- Forte de Copacabana ou Os Dezoito do Forte.
sino fosse gratuito e obrigatório a todos os brasileiros.
Revoltas de 1924
A maioria das propostas do tenentismo contava
com a simpatia de grande parte da classe média su- Dois anos depois da Revolta do Forte de Copaca-
burbana, dos produtores rurais que não pertenciam bana, ocorreram novas rebeliões tenentistas em re-
ao grupo que estava no poder e de alguns empresá- giões como Rio Grande do Sul e São Paulo.
rios da indústria. Em São Paulo, a revolta eclodiu também em 5 de
Na interpretação do historiador Boris Fausto: julho, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, pelo
tenente Juarez Távora e por políticos como Nilo Peça-
[os] tenentes pretendiam dotar o país de
nha. Com uma guarnição de aproximadamente mil
um poder centralizado, com o objetivo de
homens, os revolucionários rapidamente ocuparam
educar o povo e seguir uma política vagamen-
os lugares mais estratégicos da cidade, travando di-
te nacionalista. Tratava-se de reconstruir o Es-
versas batalhas com as forças governamentais.
tado para construir a nação. Embora não che-
gassem nessa época a formular um programa O governo paulista viu-se obrigado a fugir
antiliberal, os “tenentes” não acreditavam da capital para uma localidade próxima, de onde
que o “liberalismo autêntico” fosse o caminho pôde organizar melhor a reação contra os rebel-
para a recuperação do país. Faziam restrições des. Recebendo reforços militares do Rio de Janei-
às eleições diretas, ao sufrágio universal, insi- ro, preparou uma violenta contraofensiva.
nuando a crença em uma via autoritária para Depois de mais de vinte dias no controle da ci-
a reforma do Estado e da sociedade.
dade, os rebeldes perceberam que não teriam mais
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 314. condições de resistir e decidiram abandoná-la. For-
Fazem parte do mo- coluna: na terminologia mou-se, então, uma numerosa e bem-armada tropa
vimento tenentista a Re- militar, tropas dispostas de rebeldes – a chamada Coluna Paulista, liderada
volta do Forte de Copa- em formação compacta pelo militar Miguel Costa –, que seguiu em direção
cabana, as Revoltas de que se deslocam em ao sul do país, ao encontro de outra coluna militar te-
1924 e a Coluna Pres- direção a um objetivo nentista: era a tropa liderada pelo capitão Luís Carlos
estratégico de combate.
tes. Nenhuma delas pro- Prestes, que partira do Rio Grande do Sul.

114 UNIDADE 2 República e sociedade


coluna prestes (1924-1926) mas, por meio de manobras militares, sempre conse-
guiu escapar. Em 1926, porém, os homens que ainda
As forças tenentistas de São Paulo e do Rio Gran-
permaneciam na coluna decidiram entrar na Bolívia e,
de do Sul uniram-se em Foz do Iguaçu, no Paraná, e
finalmente, desfazer as tropas.
decidiram percorrer juntas o país, em busca de apoio
A Coluna Prestes não conseguiu provocar revoltas
popular para novas revoltas contra o governo, sob a
capazes de ameaçar seriamente o governo, mas tam-
liderança de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes. Nas-
bém não foi derrotada por ele, o que demonstra que
cia, assim, a chamada Coluna Prestes – nome pelo
o poder na Primeira República não era inatacável. Luís
qual ficou mais conhecida entre os historiadores.
Carlos Prestes voltou ao país posteriormente, tornan-
Durante mais de dois anos (de 1924 a 1926), a do-se um dos principais líderes do Partido Comunista.
Coluna Prestes percorreu 24 mil quilômetros, através Miguel Costa também retornou ao Brasil e aderiu, em
de 12 estados brasileiros. Foi perseguida sem des- 1935, à Aliança Nacional Libertadora (ANL), organiza-
canso durante esse período pelas forças do governo, ção política anti-integralista.

trajeto da coluna prestes (1924-1926)


sidnei moura

VENEZUELA Guiana Francesa (FRA)


SURINAME
COLÔMBIA
GUIANA

AM
CE
MA Teresina
PA
Mirador RN
Picos
Piancó PB
PI
Ouricuri PE
AC Porto
Nacional AL
SE
MT
BA
PERU Presidente GO
Murtinho

Serra Nova
BOLÍVIA Corrientes

MG
ES Fonte: PRESTES, Anita L. A
20º S
Ponta Porã SP Coluna Prestes. São Paulo:
RJ OCEANO
CHILE PARAGUAI ATLÂNTICO Brasiliense/Secretaria de
PR
São Paulo
Estado da Cultura, 1990. p. 464;
OCEANO
PACÍFICO
Foz do Iguaçu
MEIRELES, Domingos. As noites
ARGENTINA SC das grandes fogueiras: uma
São Borja história da Coluna Prestes. Rio de
RS Avanço da Coluna Janeiro: Record, 1995 (caderno
Retirada da Coluna de mapas); SOUZA , Jésus
0 314 km URUGUAI Principais batalhas Barbosa de. A Coluna Prestes. São
50º O
Paulo: Ática, 1997. p. 20-21.

observar o mapa
• Com base no mapa, identifique:
a) a cidade mais setentrional (ao norte) “visitada” pela Coluna;
b) as duas regiões do país onde a Coluna realizou um percurso mais amplo e
participou do maior número de batalhas;
c) os lugares onde a Coluna iniciou e finalizou sua retirada.

CAPÍTULO 7 Revoltas na Primeira República 115


Modernismo
Renovação nas artes brasileiras
O ano de 1922 foi marcado por importantes acontecimentos políticos, como
a primeira revolta dos tenentes e a fundação do Partido Comunista Brasileiro. As
cidades cresciam e se modernizavam. São Paulo tinha cerca de 600 mil habitantes
e o Rio de Janeiro, mais de 1 milhão.
Nesse contexto de transformações, surgiu o movimento modernista, que pro-
punha a remodelação da arte brasileira, reagindo às formas tradicionais das artes
plásticas e da literatura, dominadas pela influência europeia.

Semana de arte Moderna


O movimento modernista teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna,
realizada na cidade de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922. Tendo
como palco o Teatro Municipal de São Paulo, a Semana contou com recitais de poe-
sia, exposições de pintura e escultura, festivais de música e conferências sobre arte.
Os nomes que mais se destacaram na Semana de Arte Moderna foram os dos
escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho e Oswald
de Andrade; dos músicos Heitor Villa-Lobos e Ernani Braga; e dos artistas plásticos
Emiliano Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret.
anita malFatti. o japonês. 1915-1916

emiliano di cavalcanti. roda de samBa. 1929. coleção particular

O japonês (1915-1916). Óleo sobre tela de Anita Malfatti. Sua polêmica Roda de samba (1929). Óleo sobre madeira, do pintor carioca
mostra individual de pintura em São Paulo, em 1917, é considerada Emiliano Di Cavalcanti.
precursora da Semana de Arte Moderna. A obra pertence à coleção
Mário de Andrade, IEB-USP, São Paulo.

116 UNIDADE 2 República e sociedade


propósitos modernistas
Um dos principais objetivos do movimento mo- Foi com base nessas ideias que nasceu o Mani-
dernista era reagir aos padrões considerados arcaicos festo Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade
de nossa arte (pintura, escultura, literatura) e a inva- e publicado em 1928 na Revista de antropofagia.
são cultural estrangeira, que despersonalizava a ex- Ele propunha a deglutição (o aproveitamento de
pressão artística no Brasil. tudo o que fosse útil) da cultura europeia, que seria
Para os líderes do modernismo, como os escrito- remodelada pelas entranhas (a realidade) da terra
res Mário de Andrade e Oswald de Andrade, abrasilei- brasileira. Era “comer ou ser comido”.
rar nossa arte não significava provincianismo nem iso- O episódio histórico que inspirou a utilização do
lamento cultural. O que eles defendiam era o diálogo
termo antropofagia foi a deglutição, em 1556, do
com o mundo, afirmando as singularidades nacionais
bispo Sardinha (representando a cultura importa-
dentro do contexto internacional.
da) pelos índios brasileiros caetés (representando a
As obras e as ideias dos jovens artistas apresen- cultura genuinamente nacional). Com esse espírito,
tadas na Semana de Arte Moderna foram rejeitadas nasceu o trocadilho com base na frase To be or not
por setores conservadores, mas conseguiram, com o to be, that is the question (“Ser ou não ser, eis a
tempo, influenciar as artes brasileiras.
questão”), de Shakespeare, que no Manifesto trans-
formou-se em Tupi or not tupi, that is the question.
antropofagia cultural

anita malFatti. a BoBa. 1915-1916


No início do século XX, a cultura france-
sa dominava os meios artísticos e intelectuais
brasileiros. Os principais expoentes da inte-
lectualidade liam e falavam o francês e viaja-
vam constantemente a Paris para realizar seus
trabalhos ou buscar inspiração. Os modernis-
tas de 1922 contestavam justamente o como-
dismo cultural dessa produção transplantada
da Europa.
Para o escritor Mário de Andrade, a cultu-
ra popular deveria nascer enraizada à sua terra,
como um aprofundamento do terreno nacional.
Era um protesto contra a mentalidade subser-
viente, contra o sentimento de inferioridade dos
brasileiros em relação aos europeus. Era tam-
bém uma crítica à dominação cultural e política
do Brasil pelos estrangeiros.

A boba (1915-1916). Óleo sobre tela de Anita


Malfatti, exposto na Semana de Arte Moderna,
em 1922. A obra pertence ao Museu de Arte
Contemporânea da USP, São Paulo.

Investigando
1. Você tem mais contato com produções artísticas nacionais ou estrangeiras? Por que você acha que isso
acontece?
2. É possível compatibilizar a influência cultural estrangeira com a construção de uma identidade nacional?
Debata o assunto com os colegas.

CAPÍTULO 7 Revoltas na Primeira República 117

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