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DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA CIVIL
GEOTECNIA

MÉTODO PARA DETEÇÃO DE ANOMALIAS


EM BARRAGENS DE ATERRO POR
MODELAÇÃO INTEGRADA:
TÉRMICA, ESPACIAL E MAGNÉTICA
(MITEM)
UMA NOVA ABORDAGEM PARA A AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA
DAS BARRAGENS DE ATERRO, UTILIZANDO NOVAS TECNOLOGIAS

DANIEL TEIXEIRA LEITE


Engenheiro Civil

DOUTORAMENTO EM ENGENHARIA CIVIL


ESPECIALIDADE EM GEOTECNIA
Universidade NOVA de Lisboa
Draft: 16 de fevereiro de 2024
DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA CIVIL
GEOTECNIA

MÉTODO PARA DETEÇÃO DE ANOMALIAS EM


BARRAGENS DE ATERRO POR MODELAÇÃO
INTEGRADA:
TÉRMICA, ESPACIAL E MAGNÉTICA
(MITEM)
UMA NOVA ABORDAGEM PARA A AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DAS
BARRAGENS DE ATERRO, UTILIZANDO NOVAS TECNOLOGIAS
Porque não:
Abordagem para a ...

?
DANIEL TEIXEIRA LEITE
Engenheiro Civil

-Coordenador

Orientadora: João Manuel Marcelino Mateus da Silva


Investigador Principal, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

Coorientador: Nuno Manuel da Costa Guerra


Universidade NOVA de Lisboa (FCT)

DOUTORAMENTO EM ENGENHARIA CIVIL


ESPECIALIDADE EM GEOTECNIA
Universidade NOVA de Lisboa
Draft: 16 de fevereiro de 2024
para evitar RESUMO

As barragens desempenham um papel fundamental na sociedade, tendo em conta os be-


nefícios e recursos vitais que essas estruturas podem prover, tal como na geração de re-
servatórios para abastecimento de água e energia hidroelétrica, na regulação de caldais
pluviais, visando evitar inundações, no armazenamento de resíduos para extração mine-
ral, entre outros benefícios.
No entanto, os acidentes em barragens podem representar um grande perigo, com
colocaria 1º efeitos devastadores. Inundações, deslizamentos de terra e poluição ambiental são apenas
as perdas de
algumas das possíveis consequências de um acidente envolvendo uma barragem. Além
vida e depois
o restante. disso, tais acidentes podem levar à perda de vidas humanas e ter um impacto severo nas
comunidades locais e nos ecossistemas.
Devido ao estas
elevado risco É fundamental garantir que as barragens sejam construídas e mantidas de forma se-
associado a gura, com medidas adequadas de monitorização e manutenção para minimizar os riscos
uma barragem
de acidentes.
a probabilidade
observação ou Em termos da monitorização do desempenho estrutural e geotécnico das barragens
acompanhamentode aterro, é comum realizar a supervisão das deformações e dos fluxos no corpo da bar-
ou medição //
caudais // ragem e na sua base. As deformações são frequentemente acompanhadas utilizando mar-
fundação cas de superfície, inclinómetros e extensómetros, enquanto os fluxos são monitorizados
por meio de piezómetros e medidores de caudal. Além da monitorização destes parâme-
tros envolve inspeções visuais, que visam avaliar o estado de conservação da estrutura e
identificar possíveis anomalias, como ressurgências, afloramentos, fissuras, afundamen-
tos entre outras. não tem ligação
falta qq direta
Muitas barragens possuem dispositivos de observação limitados, obsoletos e inope-
coisa
rantes, especialmente em estruturas mais antigas. Salienta-se que patologias em barra-
gens, quando detetadas precocemente, geralmente são saneáveis. No entanto, devido à
falta de monitorização adequada, esses problemas podem passar despercebidos e evoluir
rapidamente a situações de emergência.
Ressalta-se que em situações de emergência, ao se constatar alguma deficiência nos
rever,
dispositivos de observação, pode não haver tempo ou condições propícias para a sua subs- enquadrar
tituição dos mesmos, o que prejudicaria o diagnóstico essencial para uma intervenção

ii
rever. Fluxo= caudal. Os piezómetros não medem
caudal
eficaz na promoção da resiliência da estrutura.
Nosso desafio é prover e integrar novas tecnologias, as quais trabalhando em con-
junto possibilitem um diagnóstico preciso e rápido quanto ao desempenho geotécnico e
estrutural, visando a segurança de barragens de aterro.
Conforme abordaremos mais adiante, as principais anomalias apresentadas em bar-
ragens de aterro, se manifestam na superfície e zona a jusante da barragem. Assim, esta
tese apresentará a aplicação do mapeamento integrado Termográfico Espacial e Magné-
tico (miTEM) para a deteção destas anomalias.
O mapeamento termográfico é uma técnica de medição de temperatura sem contacto
que utiliza câmaras termográficas para captar imagens térmicas. Esta técnica permite ob-
ter informações sobre a temperatura de um objeto ou superfície, indicando as áreas onde
há perda de energia. O mapeamento termográfico é frequentemente utilizado em edifí-
cios, equipamentos e sistemas de energia, permitindo identificar possíveis falhas e pon-
tos críticos que possam afetar a eficiência energética e a segurança das instalações. Nossa
missão neste trabalho é aplicar o mapeamento termográfico a partir de câmaras térmicas
acoplada em Veículos Aéreos Não Tripulado (VANT), para o diagnóstico de anomalias
em barragens de aterro.
Já o mapeamento espacial pode ser obtido através da aerofotogrametria, uma técnica
que utiliza imagens aéreas para mapear áreas e objetos em três dimensões. Através da
aerofotogrametria, é possível obter modelos digitais de superfície, modelos digitais de
terreno e ortofotomapas, que são representações cartográficas georreferenciadas. Essas
representações fornecem informações detalhadas sobre a topografia do terreno, o uso do
solo e as características físicas de uma área. Nosso objetivo nesta tese é aplicar a técnica
de aerofotogrametria, utilizando VANT para obtenção de dados geoespaciais de alta qua-
lidade, visando o diagnóstico de anomalias em barragens de aterro.
Por fim o mapeamento magnético é uma técnica que utiliza magnetômetros para me-
dir e representar as variações magnéticas em uma determinada área. O objetivo do ma-
peamento magnético é obter informações sobre a distribuição e intensidade de campos
magnéticos na superfície da Terra, o que pode ser útil em diversas aplicações, como a
na área em
estudo prospeção mineral, estudos geológicos, arqueologia, meio ambiente e geofísica aplicada.
A técnica é baseada no princípio de que diferentes materiais apresentam diferentes pro-
priedades magnéticas, e essas propriedades afetam o campo magnético da Terra de ma-
neira diferente. Visando a deteção de anomalia em barragens de aterro, demonstraremos
demonstrar
a aplicação do mapeamento magnético induzindo correntes elétricas no corpo da barra- -se-á
gem para a deteção de fluxos no corpo de barragens.
Conforme apresentaremos a seguir, a miTEM demonstra-se uma ferramenta impor-
tante para a monitorização, deteção de anomalias precoce, visando a manutenção regular
e a adoção de medidas preventivas para garantir a segurança de barragens.

Palavras-chave: Segurança de barragens, Dispositivos de observação, Instrumentação,


Monitorização

iii
ABSTRACT

Dams play a pivotal role in society, considering the vital benefits and resources they can
provide, such as creating reservoirs for water supply and hydroelectric power generation,
regulating rainfall runoff to prevent flooding, and storing waste for mineral extraction,
among other advantages.
However, dam accidents can pose significant dangers with devastating effects. Flood-
ing, landslides, and environmental pollution are just a few potential consequences of a
dam failure. Additionally, such accidents can result in loss of human lives and have a
severe impact on local communities and ecosystems.
It is essential to ensure that dams are constructed and maintained safely, with ade-
quate monitoring and maintenance measures in place to minimize the risks of accidents.
In terms of monitoring the structural and geotechnical performance of earth-fill dams,
it is common to supervise deformations and flows within the dam body and its founda-
tion. Deformations are often tracked using surface markers, inclinometers, and exten-
someters, while flows are monitored through piezometers and flow meters. Additionally,
visual inspections are conducted to assess the structural integrity and identify anomalies
such as resurgences, outcrops, cracks, and subsidence.
Many dams have limited, outdated, or non-functioning observation devices, espe-
cially in older structures. It should be noted that pathologies in dams, when detected
early, are generally manageable. However, due to the lack of proper monitoring, these
issues can go unnoticed and rapidly escalate into emergency situations.
In emergency situations, when observation devices prove inefficient, there may not
be sufficient time or conditions for their installation, hindering the essential diagnostics
required for an effective intervention to enhance the structure’s resilience.
Our challenge is to provide and integrate new technologies that, working together,
allow for precise and rapid diagnostics of geotechnical and structural performance, with
a focus on earth-fill dams’ safety.
As we will address further, the primary anomalies in earth-fill dams often manifest
on the surface and downstream of the dam. Therefore, this thesis will present the appli-
cation of integrated thermal, spatial, and magnetic mapping (miTEM) for detecting these

iv
anomalies.
Thermal mapping is a non-contact temperature measurement technique that employs
thermal cameras to capture thermal images. This technique provides information about
an object or surface’s temperature, indicating areas with energy loss. Thermal mapping is
commonly used in buildings, equipment, and energy systems to identify potential faults
and critical points that may affect energy efficiency and facility safety. Our challenge in
this work is to apply thermal mapping using thermal cameras mounted on Unmanned
Aerial Vehicles (UAVs) for diagnosing anomalies in earth-fill dams.
Spatial mapping can be obtained through photogrammetry, a technique that uses
aerial images to map areas and objects in three dimensions. Through photogrammetry,
it is possible to generate digital surface models, digital terrain models, and orthophotos,
which are georeferenced cartographic representations. These representations offer de-
tailed information about terrain topography, land use, and physical characteristics of an
area. Our objective in this thesis is to apply the photogrammetry technique using UAVs
to obtain high-quality geospatial data for diagnosing anomalies in earth-fill dams.
Lastly, magnetic mapping is a technique that utilizes magnetometers to measure and
represent magnetic variations in a specific area. The goal of magnetic mapping is to gather
information about the distribution and intensity of magnetic fields on the Earth’s surface,
which can be useful in various applications, including mineral prospecting, geological
studies, archaeology, environmental monitoring, and applied geophysics. The technique
is based on the principle that different materials exhibit varying magnetic properties,
which affect the Earth’s magnetic field differently. To detect anomalies in earth-fill dams,
we will demonstrate the application of magnetic mapping by inducing electric currents
within the dam’s body to detect flows within the dam body.
As we will illustrate in the following sections, miTEM proves to be an essential tool
for monitoring, early anomaly detection, regular maintenance, and the adoption of pre-
ventive measures to ensure dam safety.

Keywords: Dam safety, Dam instrumentation, Visual inspections, Anomaly mapping

v
ÍNDICE

Índice de Figuras ix

Índice dos Quadros xiii

Siglas xiv

1 Introdução 1
1.1 Considerações gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Modelação espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.2 Modelação termográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.3 Modelação magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.4 Análise integrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Estrutura da tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Segurança Hidráulico-Estrutural 9
2.1 Anomalias associadas a erosão interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.1 Carreamento de partículas em aterros . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.2 Carreamento de partículas em fundações . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.3 Fissuras e caminhos preferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.1.4 Gradientes elevados no contacto entre solo-estrutura . . . . . . . 26
2.1.5 Solos dispersivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.6 Sufusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.1.7 Levantamento ou Heave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.2 Anomalias associadas ao movimento de grandes massas . . . . . . . . . 50
2.2.1 Instabilidade por excesso de pressão intersticial . . . . . . . . . . 52
2.2.2 Instabilidade devido ao esvaziamento rápido da albufeira . . . . 57
2.2.3 Instabilidade nos maciços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.2.4 Instabilidade por corte da fundação . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.2.5 Instabilidade por perda de folga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

vi
2.2.6 Fraturação hidráulica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2.2.7 Liquefação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.2.8 Instabilidade por sismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.3 Dispositivos de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
2.4 Inspeções visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
2.5 Análise do comportamento e avaliação da segurança . . . . . . . . . . . . 84

3 Revisão Bibliográfica Sobre Novas Tecnologias Aplicadas na Deteção de Ano-


malias em Barragens de Aterro 85
3.1 Uso de VANT aplicado na segurança de barragens de aterro . . . . . . . 85
3.2 Tecnologia InSAR aplicada na segurança de barragens de aterro . . . . . 85
3.3 Uso de Laser Scan aplicado na segurança de barragens de aterro . . . . . 85
3.4 Análise temográfica aplicada na segurança de barragens de aterro . . . . 85
3.5 Análise magnetográfica aplicada na segurança de barragens de aterro . . 85

4 Modelação Espacial Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens de Aterro 86


4.1 Características das anomalias detetáveis na modelação espacial . . . . . 86
4.2 Aplicação de VANT na modelação espacial na deteção de anomalias . . 86
4.2.1 Aplicação de câmaras especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.2.2 Aplicação de laser scan em VANTs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.3 Aplicação de software de código aberto, na modelação espacial . . . . . 86
4.3.1 Automação dos pontos de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.4 Avaliação das deformações em barragens de aterro por meio do inSAR . 86
4.5 Mapa de anomalias obtidos na modelação espacial . . . . . . . . . . . . . 86

5 Análise Termográfica Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens de


Aterro 87
5.1 Características das Anomalias Detetáveis na Modelação Térmica . . . . . 87
5.2 Análise do Comportamento Térmico de Barragens em Modelo Reduzido 87
5.3 Utilização de Câmaras Térmicas em VANT para a Modelação Térmica . 87
5.4 Mapa de Anomalias Obtidos na Modelação Térmica . . . . . . . . . . . . 87

6 Modelação Magnética Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens de


Aterro 88
6.1 Características das Anomalias Detetáveis na Modelação Magnética . . . 88
6.2 Caracterização do Comportamento Eletromagnético em Modelo Reduzido 88
6.3 Utilização de Sensores em VANT para a Modelação Magnética . . . . . . 88
6.4 Mapa de Anomalias Obtidos na Modelação Magnética . . . . . . . . . . 88

7 Avaliação da Segurança de Barragens de Aterro através da miTEM 89


7.1 Análise integrada das anomalias identificadas no miTEM . . . . . . . . 89
7.2 Estudo de Caso 01 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

vii
7.3 Estudo de Caso 02 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.4 Estudo de Caso 03 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

8 Conclusões 90

Bibliografia 91

viii
ÍNDICE DE FIGURAS

1.1 Análise quantitativa de barragens de aterro e barragens de betão . . . . . . . 4


1.2 Análise comparativa dos números de casos de acidente por tipo de barragem 4

2.1 Exemplo do controlo do fluxo em barragens de aterro . . . . . . . . . . . . . 9


2.2 Incidência dos modos de falhas em barragens de Enrocamento vs. Terra[6] . 11
2.3 Ilustração de erosão interna em barragem de secção homogénea . . . . . . . 13
2.4 Rotura da barragem de Pampulha em Belo Horizonte [8] . . . . . . . . . . . 14
2.5 Secção típica da barragem da Pampulha [8] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.6 Inspeção Visual realizada pelo prefeito Américo Renné e governador JK, ins-
tantes antes da rotura da barragem[8] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.7 Ressurgências no talude de jusante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.8 Ressurgências em taludes de aterro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.9 Vista aérea do talude de jusante - zonas húmidas . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.10 Ressurgências em taludes de aterro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.11 Ocorrência de assentamentos e fissuras circulares . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.12 Ocorrência de dolina, cavidade ou sinkhole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.13 Escorregamento em taludes devido a piping . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.14 Ilustração de modo de falha por carreamento de partículas na fundação . . 21
2.15 Barragem A.V. Watkins Dam, adaptado de FEMA [20] . . . . . . . . . . . . . 22
2.16 Barragem A.V. Watkins Dam, adaptado de FEMA [20] . . . . . . . . . . . . . 22
2.17 Barragem A.V. Watkins, registo de anomalias (FEMA [20]) . . . . . . . . . . 23
2.18 Ilustração do modo de falha da barragem Baldwin Hills . . . . . . . . . . . . 24
2.19 Ilustração das falhas geológicas transversais a barragem Baldwin Hills [21] . 25
2.20 Barragem Baldwin Hills, início da abertura da brecha em 14/12/1963 [22] . 26
2.21 Barragem Baldwin Hills, vistas da abertura da brecha [22] . . . . . . . . . . 26
2.22 Situações onde os assentamentos provoca o descolamento do aterro, favore-
cendo o aparecimento de fissuras (adaptada de Fell [23]) . . . . . . . . . . . 27
2.23 Rotura das barragens das PCHs Bocaiúva e Inxu no Mato Grosso [8] . . . . 28
2.24 Circuito hidráulico da PCH Bocaiúva (fonte: Imagem obtida no Google Earth) . 28

ix
2.25 PCH Bocaiúva, vista panorâmica do circuito hidráulico
(fonte: https://www.silea.com.br/pchs/pch-bocaiuva em 11/11/2023) . . . . . . . . 29
2.26 Rotura das barragens da PCHs em 18/01/2023 - [8], [24] e [25] . . . . . . . . 30
2.27 Feições típicas na ocorrência de solos dispersivos, adaptado de Cruz [31] . . 32
2.28 Piping em argilas dispersivas junto a galeria da descarga de fundo [32] . . . 32
2.29 Secção de maior altura da barragem Tınaztepe (adaptado de ASDSO [33]) . 33
2.30 Barragem Tınaztepe, vista do talude de jusante (fonte: ASDSO [33]) . . . . . 34
2.31 Vazão das infiltrações vs. Rebaixamento da albufeira ao longo do tempo (fonte:
ASDSO [33]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.32 Sinkhole no talude de jusante próximo ao coroamento (fonte: ASDSO [33]) . 35
2.33 Evidencias geológico-geotécnicas em solos dispersivos. . . . . . . . . . . . . 37
2.34 Solos potencialmente suscetíveis à Sufusão (adaptado de Fell [23]) . . . . . . 38
2.35 Solos potencialmente suscetíveis à sufusão (adaptado de Fell [23]) . . . . . . 39
2.36 Ilustração de um modo de falha por sufusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.37 Barragem Brodhead, Pensilvânia (Fonte: Google Earth, 2016) . . . . . . . . . 41
2.38 Barragem Brodhead, implantação e locação de sikhole [37] . . . . . . . . . . . 42
2.39 Ocorrência de sinkhole no talude de jusante [38] . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.40 Caracterização granulométrica dos aterros e drenos [38] . . . . . . . . . . . . 43
2.41 Ocorrência de sinkhole em aterro, devido a sufusão [38] . . . . . . . . . . . . 44
2.42 Ilustração do processo de heave (Adaptado de Civil Engineering RWTH Aa-
chen University [39]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.43 Ilustração do processo de heave a jusante de uma barragem [36] . . . . . . . 46
2.44 Modo de falha por heave (adaptado de Robbins [41]) . . . . . . . . . . . . . . 47
2.45 BLE, zona de ocorrência das anomalias (adaptado de Bandeira [42]) . . . . . 48
2.46 BLE, secção típca (adaptado de Bandeira [42]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.47 BLE vista de jusante, berma e drenos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.48 Estudo de percolação simulando a condição de piezometrias correspondentes
a N.A. de montante de 96,50 m [42] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.49 Exemplos de desmoronamentos (adaptado de Guerra [43]) . . . . . . . . . . 50
2.50 Exemplos de escorregamentos (adaptado de Guerra [43]) . . . . . . . . . . . 50
2.51 Efeitos do acréscimo de pressão intersticial no solo . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.52 Modo de falha por excesso de pressão intersticial . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.53 Arranjo geral da barragem Açu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.54 Barragem Açu - Secção típica original [8] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.55 Barragem Açu - vista da trincheira corta águas [46] . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.56 Barragem Açu - Rotura da barragem [47] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.57 Barragem Açu - Inspeção na coroamento pós rotura [8] . . . . . . . . . . . . 56
2.58 Barragem Açu - Secção da barragem após o rompimento [8] . . . . . . . . . 57
2.59 Esvaziamento rápido da albufeira (adaptado de Narita [48]) . . . . . . . . . 57
2.60 Modo de falha por esvaziamento rápido da albufeira . . . . . . . . . . . . . 58
2.61 Barragem Walter Bouldin, vista de jusante, antes e depois da rotura [49] . . 59

x
2.62 Barragem Walter Bouldin, arranjo geral da casa de força e diques [49] . . . . 59
2.63 Pormenor da zona de abertura de brecha [49] . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.64 Secção do dique na zona de rotura [49] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.65 Secção do dique na zona de rotura [51] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.66 Barragem Walter Bouldin, análise de estabilidade [51] . . . . . . . . . . . . . 61
2.67 Anomalias associadas ao esvaziamento rápido . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.68 Inabilidade por elevação do nível freático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.69 Arranjo geral da UHE Santa Branca (Google Earth 29/01/2024) . . . . . . . 64
2.70 Barragem Santa Branca - Secção típica [11] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
2.71 Barragem Santa Branca - Solução adotada [11] . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.72 Exemplo de anomalias associadas a instabilidade nos maciços [53] [54] . . . 66
2.73 Barragem Trieu Thuong 2 - Implantação (fonte Google Eath 2024) . . . . . . 67
2.74 Barragem Trieu Thuong 2 - Secção tipo (adaptado de Vu [55]) . . . . . . . . 67
2.75 Barragem Trieu Thuong 2 - Secção após alargamento da crista (adaptado de
Vu [55]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.76 Barragem Trieu Thuong 2 - Escorregamentos de talude (adaptado de Vu [55]) 69
2.77 Barragem Trieu Thuong 2 - Modelo numérico [55] . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.78 Barragem Trieu Thuong 2 - Escorregamentos de talude (adaptado de Vu [55]) 70
2.79 Rotura da barragem Carsington [52] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.80 Fissuras logitudinais em barragens de aterro (adaptado de Buerau [61][62]) 72
2.81 Fissuras transversais em barragens de aterro (adaptado de Buerau [61][62]) 73
2.82 Arranjo geral da barragem Beliche (fonte: Google Earth 2024) . . . . . . . . 73
2.83 Barragem Beliche - Secção Tipo (adaptado de Marcelino [60]) . . . . . . . . . 74
2.84 Barragem Beliche - Fendas longitudinais junto à guarda de montante [60] . 75
2.85 Barragem Emborcação, secção tipo e fissuras (adaptado de Cruz [11][8]) . . 76
2.86 Arranjo geral da barragem Buffalo (fonte: Google Earth 07/04/2024) . . . . 76
2.87 Esquema das fissuras encontradas na barragem Buffalo [67][23] . . . . . . . 77
2.88 Barragem Buffalo fissura transversal no encontro esquerdo [67][23] . . . . . 77
2.89 Mecanismo de formação de fraturas hidráulicas em barragens de aterro (adap-
tado de Fell [23]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2.90 Situações em que o recalque diferencial entre vales pode levar a fissuras ou
deformações laterais e zonas de baixa tensão sujeitas a fraturação hidráulica.
(adaptado de Fell [23]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.91 Fraturação hidráulica - Vale com secção íngreme. (adaptado de Fell [23]) . . 79
2.92 Fraturação hidráulica - Vale com secção íngreme com berma. (adaptado de
Fell [23]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.93 Secção do vale da barragem Mud Mountain mostrando zonas soltas, moles e
de baixa tensão. (adaptado de Fell [23]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
2.94 Barragem Wister (fonte: Google Earth) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.95 Barragem Wister, secção típica e locação da zona de fraturação / piping (adap-
tado de Sherard [70]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

xi
2.96 Barragem Wister, secção típica e locação da zona de fraturação / piping (adap-
tado de Bureau [18]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.97 Barragem Wister, perfil longitudinal (adaptado de Sherard [70]) . . . . . . . 83

xii
ÍNDICE DOS QUADROS

1.1 Acidentes por tipo de barragem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.1 Principais causas do movimentos de massa [44]. . . . . . . . . . . . . . . . . 51


2.2 Propriedade dos materiais [55] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

xiii
SIGLAS

APA Agência Portuguesa do Ambiente (p. 2)

CBDB Comité Brasileiro de Grandes Barragens (p. 2)

DTA Documentos Técnicos de Apoio ao Regulamento de Segurança de Barragens


(p. 71)

ICOLD Comité Internacional de Grandes Barragens (pp. 3, 11)


InSAR Interferometria de Radar de Abertura Sintética (pp. 6, 8)

miTEM mapeamento integrado Termográfico Espacial e Magnético (pp. iii, 3, 8, 11)

RSB Regulamento de Segurança de Barragens (pp. 2, 62)

VANT Veículos Aéreos Não Tripulado (pp. iii, 6–8)

xiv
1
INTRODUÇÃO

1.1 Considerações gerais

A temática da segurança de barragens tem ganhado relevância nos tempos atuais, sobre-
tudo em virtude dos desastres o ocorridos no Brasil nas barragens em Mariana (novembro
de 2015) e em Brumadinho (janeiro de 2019). Estes eventos, infelizmente, culminaram em
significativas perdas de vidas e impactos ambientais incalculáveis.
É indubitável que esses acidentes não apenas afetaram indivíduos e o ambiente, mas
também reverberaram profundamente na disciplina da engenharia de barragens e em
todos os agentes associados a esta esfera.
Particularmente no contexto brasileiro, sob uma nova perspetiva, observou-se uma
drástica alteração legislativa em prol da segurança de barragens. Implementou-se uma
política renovada e foram adotadas medidas substanciais, como a descomissionamento
de rejeitados de barragens, com enfoque especial nas alteadas por montante.
Centenas de barragens com tais características foram descaracterizadas, sujeitas a re-
moção ou modificações substanciais, com o intuito primordial de salvaguardar a segu-
rança das barragens. sua
Neste período, assistiu-se à implementação de inúmeros planos de segurança, e os
operadores de barragens tiveram que adequar-se a este novo contexto, movimentando
significativamente a dinâmica do mercado relacionado com a segurança de barragens.
A segurança de barragens é um tema de caráter multidisciplinar que abrange diver-
sas áreas do conhecimento, tais como engenharia geológico-geotécnica, engenharia de
concreto, engenharia eletromecânica, hidrologia e hidráulica, bem como disciplinas rela-
cionadas a questões políticas, jurídicas, socioambientais e outros campos de estudo.
No que diz respeito à definição do conceito de segurança de barragens, é evidente que
esse conceito pode variar conforme o prisma, contexto ou área de estudo a que se destina.
No entanto, a legislação brasileira de segurança de barragens, Lei 12.334, estabelece ”se-
gurança de barragens”como uma condição que visa a manter a integridade estrutural
e operacional da barragem, além de preservar a vida, a saúde, a propriedade e o meio
ambiente [1].

1
talvez seja de indicar algo na introdução que se irá fazer referência
especial à legislação brasileira e justificar.
o conceito de segurança de barragens no Brasil é
vista de forma integrada,
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Comité Brasileiro de Grandes Barragens (CBDB) em seu Guia Básico
de Segurança de Barragens [2], afirma que uma barragem segura é aquela cujo desem-
penho garanta um nível aceitável de proteção contra rotura, ou galgamento sem rotura,
conforme os critérios de segurança utilizados pelo meio técnico.
De um modo geral, a segurança de barragem brasileira é entendida como a capacidade
das barragens manterem-se seguras e integras durante a sua vida útil. Contudo, a legis-
lação portuguesa aborda a segurança sobre quatro prismas, nomeadamente a segurança
estrutural, hidráulica, operacional e ambiental.
Conforme o artigo 4º do Regulamento de Segurança de Barragens (RSB) [3], a se-
gurança de barragens como a capacidade da barragem para satisfazer as exigências de
comportamento relativas a aspetos estruturais, hidráulico-operacionais e ambientais, de
modo a evitar a ocorrência de acidentes ¹ e incidentes ² ou minorar as suas consequências
ao longo da vida da obra.
Estes aspetos, também são enfatizados no manual do Curso de Exploração de Barra-
gens [4], ministrado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA):

• No que se refere aos aspetos hidráulicos, observa-se que é crucial assegurar que os
sistemas de impermeabilização, filtragem e drenagem estejam aptos a cumprir os
objetivos do projeto, prevenindo problemas relacionados ao fluxo interno na barra-
gem e áreas circundantes. Isso envolve a avaliação dos caudais, levando em conside-
ração as necessidades ao longo do tempo, bem como o cálculo dos hidrogramas de
cheia para dimensionar os sistemas de segurança da barragem, garantindo proteção
contra galgamentos e erosões externas.

• Relativamente aos aspetos operacionais, o manual enfatiza a necessidade de uma


exploração adequada da barragem, incluindo a conformidade com normas de ex-
ploração e segurança, a implementação de programas de operação, manutenção,
conservação, observação e inspeção. A gestão apropriada das albufeiras e a apli-
cação de regras de gestão também são fundamentais para garantir a segurança da
barragem.

• No que concerne aos aspetos ambientais, verifica-se a importância de se observar os


impactos sociais, económicos e ambientais relacionados à barragem. É importante
que a construção e operação da barragem sejam realizadas de forma a minimizar
esses impactos, com foco na proteção do meio ambiente e na preservação da biodi-
versidade, aspetos essenciais para a segurança das barragens

• Por fim, no que diz respeito aos aspetos estruturais, a APA destaca a necessidade
de garantir que o projeto, construção e manutenção da barragem sejam executados
¹Entende-se como ”acidente”como a ocorrência excecional cuja evolução não controlada é suscetível de
originar uma onda de inundação.
²Entende-se como ”incidente”como uma anomalia suscetível de afetar, a curto ou longo prazo, a funci-
onalidade da obra e que implica a tomada de medidas corretivas ( RSB, artigo 4º).

2
1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

com o devido zelo. Isso envolve a utilização de critérios de projeto adequados, ma-
teriais apropriados e manutenção adequada, a fim de evitar problemas estruturais,
deslizamentos e assentamentos que possam comprometer a segurança da barragem.

Portanto, verifica-se que a segurança de barragens como a uma condições em que uma
barragem é capaz de manter sua integridade hidráulico-operacional e estrutural, de modo
a evitar acidentes que possam causar danos à vida, à saúde, à propriedade e ao meio
ambiente.
No que diz respeito ao foco principal desta tese, a segurança estrutural e hidráulica
estarão em primeiro plano, visto que a metodologia miTEM, visa a identificação de ano-
malias em termos de fluxos e assentamentos em barragens de aterro.
Segundo o Comité Internacional de Grandes Barragens (ICOLD), em 2023 há cerca de
ref?
36 mil grandes barragens cadastrada em seu banco de dados (World Register of Dams),
com cerca de 300 casos de acidentes reportados, correspondendo a aproximadamente
0,8 % de casos de acidentes em grandes barragens.
No que se refere as estatísticas de acidentes com barragens, em 1995 o ICOLD apre-
senta no Boletin nº 99 [5] um importante trabalho sobre os modos de falha. Este trabalho
posteriormente foi atualizado no ano de 2019 [6], cujo Quadro 1.1 apresenta um resumo
quantitativo dos números de casos para os diversos tipo de barragens.

Quadro 1.1: Acidentes por tipo de barragem.

Tipo de barragem Total de barragens Número de acidentes Percentagem de casos

Abóbada 890 6 0,67%


Contrafortes 340 8 2,35%
Abóbadas múltiplas 105 4 3,81%
Gravidade 5571 46 0,83%
Enrocamento 2378 33 1,39%
Terra 21977 209 0,95%
Barragem móvel 224 0 0,00%
Desconhecido 715 5 0,70%

Verifica-se na Figura 1.1 que 75,64 % da barragens cadastradas banco de dados do


na base de
ICOLD referem-se a barragens de aterro, ao passo que as barragens de betão representam
apenas 21,95 %.
Conforme ilustrado na Figura 1.2, a incidência de casos de acidentes com barragens
de aterro é inferior à das barragens de betão, oscilando entre 1,39 % a 0,95 % e 3,81 % a
0,67 % respetivamente.
No âmbito da segurança das barragens de aterro, a identificação precoce de anoma-
lias é fundamental. Neste sentido, medidas de controlo e vigilância normalmente são
implementadas, as quais envolve a instalação e controlo de dispositivos de observação, a
realização de inspeções visuais e avaliação da segurança.
só nestas?
3

Se calhar vale a pena alongar um


pouco mais esta ideia
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

30000

25000 75,64%
Quantidade de barragens cadastradas

20000

15000

10000
21,95%
5000

2,92%
0
Aterro Betão Outros

Terra Enrocamento Abóbada Abóbadas múltiplas


Contrafortes Gravidade Barragem móvel Desconhecido

Distribuição de barragens por tipo


tirar Figura 1.1: Análise quantitativa de barragens de aterro e barragens de betão
linhas

4,00% 3,81%
3,50%

3,00%
Insidência de acidente (%)

2,50% 2,35%

2,00%

1,50% 1,39%
0,95%
1,00% 0,83% 0,70%
0,67%
0,50%

0,00% 0,00%

Aterro Betão Outros

Figura 1.2: Análise comparativa dos números de casos de acidente por tipo de barragem

4
1.2. OBJETIVOS

Salienta-se que o tempo decorrido entre a deteção de uma anomalia em barragem


de aterro e a implementação de medidas de saneamento, bem como a implementação de
medidas de proteção ou evacuação das áreas de risco a jusante, pode ser crucial para evitar
um acidente com graves consequências. Apresenta-se a seguir, alguns casos de ruturas
em barragens de aterro e o tempo decorrido entre a deteção da anomalia e a rotura:

• Barragem de Teton (Idaho, EUA): Rompeu em 5 de junho de 1976, durante o seu


primeiro enchimento. A causa da rotura foi uma erosão interna iniciada por vaza-
rever mentos ao longo da face do aterro e o encontro direito. O tempo decorrido entre a
deteção do fluxo e a rotura da barragem foi de cerca de 2 horas, até o início da rotura
e em menos de 24 a barragem rompeu-se completamente [7].
h

• Barragem de Pampulha (Belo Horizonte, Brasil): Rompeu em 18 de abril de 1954,


após 16 anos de operação. A anomalia identificada foi fluxo no pé de jusante, devido
a um processos de erosão interna que rapidamente evoluiu até a rotura num perdido
de aproximadamente 48 horas [8].
devida que era

• Barragem Big Bay Lake (Mississippi, EUA): Rompeu em 12 de março de 2004, após
13 anos de operação. A causa da rotura foi devido a problemas na fundação, consti-
tuída principalmente de areia siltosa altamente erodível e materiais de lodo arenoso.
O tempo decorrido entre a deteção anomalias e a rotura foi de cerca de 20 horas [9].
A barragem foi construída com
• Barragem B1 (Brumadinho, Brasil): Rompeu em 25 de janeiro de 2019, após 43 anos
de operação, com diversas fases de alteamento, estando fora de operação na altura
do rompimento. Apesar da rotura por liquefação ter ocorrido de maneira quase que
instantânea, a barragem apresentava problemas no sistema de drenagem a 24 anos,
e mantinha os níveis freáticos muito elevados na altura da rotura [10].

Como evidenciado nos exemplos mencionados anteriormente, o intervalo de tempo


entre a deteção da anomalia e a rotura pode revelar-se surpreendentemente reduzido,
enfatizando assim a importância de um sistema de vigilância e manutenção eficaz.
Portanto, podemos concluir que a aplicação de novas tecnologias deve ser considerada
como uma oportunidade para aprimorar os sistemas de observação tradicionais, permi-
tindo a deteção precoce de anomalias em barragens de aterro.

1.2 Objetivos
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia que integra novas tecno-
logias aplicadas na segurança de barragens de aterro, explorando a modelação espacial,
termográfica e magnética como ferramentas para deteção de anomalias.

5
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

1.2.1 Modelação espacial

A modelação espacial, por intermédio do processo de fotogrametria, tem sido ampla-


mente empregada em diversas áreas da engenharia e do ambiente, tanto para a represen-
tação tridimensional do terreno quanto para a produção de imagens ortográficas.
Estes modelos e imagens demonstram uma elevada utilidade na avaliação de assen-
tamentos e deformações em terreno, na deteção de fissuras, na identificação de zonas hú-
midas, e na monitorização do crescimento excessivo da vegetação, constituindo, assim,
ferramentas valiosas de possíveis indicadores de anomalias em barragens de aterro.
O objetivo desta tese inclui ainda a criação de modelos espaciais de barragens, usando
imagens obtidas com VANT, que servirão como base para o desenvolvimento e aprimo-
melhoramento ramento de programas de código aberto, como o WebODM, destinado à modelação es-
pacial. também ou
ainda a tecnologia Interferometria de Radar de Abertura Sintética
Nesse âmbito, integra-se
(InSAR), que utiliza imagens obtidas por satélite para a deteção de deformações no ter-
reno.
Essas informações visam ao aprimoramento em conjunto dessas tecnologias para a
identificação de anomalias em barragens de aterro.

Camaras
1.2.2 Modelação termográfica

A termografia é uma técnica que permite medir a radiação infravermelha emitida por
objetos, fornecendo informações sobre a sua temperatura superficial. Esta técnica tem
diversas aplicações em vários domínios, tais como inspeções industriais, monitorização
ambiental, busca e resgate, agricultura de precisão e muitas outras.
A presente tese de doutoramento visa explorar o potencial das imagens termográficas
na deteção de anomalias em barragens de aterro. Serão utilizadas termográficas embar-
instaladas cadas em VANT para sobrevoar e inspecionar barragens de aterro. Através da aquisição
de imagens termográficas, pretende-se desenvolver uma modelação térmica da superfície
de barragens, bem como um mapeamento detalhado de anomalias.
As anomalias em barragens de aterro podem incluir ressurgências de água, variações
na vegetação, erosões, ou outras alterações térmicas significativas, que possibilite a dete-
ção precoce destas anomalias. m

1.2.3 Modelação magnética zonas de escoamento


preferencial
No que concerne a modelação magnética, esta tese visa explorara os métodos eletromag-
néticos para a deteção de fluxos de água em barragens de aterro. A água, devido à sua
capacidade condutora de energia elétrica, é suscetível de gerar um campo eletromagné-
tico quando sujeita a uma corrente elétrica. Este fenómeno é a base da nossa abordagem
para detetar e modelar a concentração de água em zonas específicas das barragens de
aterro.

6
1.3. ESTRUTURA DA TESE
O procedimento

A nossa estratégia consiste em induzir deliberadamente uma corrente elétrica entre a


albufeira e as áreas a jusante da barragem, onde existe a presença de água. Ao fazer isso,
podemos criar um campo magnético que é influenciado pela concentração de água nas
é criado
zonas sob investigação. Este campo magnético gerado nas áreas de concentração de água
pode ser analisado e modelado, permitindo-nos identificar com precisão as regiões onde
ocorrem essas concentrações.
Para tal, serão acoplados sensores magnéticos em VANT, os quais fornecerão os dados
necessários para a geração dos modelos eletromagnéticos das barragens.
Este processo apresenta uma utilidade significativa na deteção de zonas onde há con-
centração de fluxos de água, que podem ser indicativos de potenciais problemas, como a
formação de erosão interna, níveis freáticos elevados, ressurgências, entre outras anoma-
lias.
magnética ou
eletromagnética?
1.2.4 Análise integrada

Este estudo visa a realização de uma análise integrada, que combina as abordagens de
modelação espacial, termográfica e eletromagnética, para complementar as análises con-
vencionais realizadas por dispositivos de observação tradicionais na deteção precoce de
anomalias em barragens de aterro.
permitirá obter / proporcionará
A integração destas diferentes técnicas proporciona uma visão mais completa e pre-
cisa das condições das barragens, permitindo uma identificação mais eficaz de potenciais
problemas. e,

Por fim, este estudo tem por objetivo a aplicação de técnicas de inteligência artificial
para analisar e interpretar os dados coletados, através do treino de algoritmos de apren-
dizado de máquina, pretende-se desenvolver um sistema capaz de reconhecer padrões
aprendizagem
de anomalias em barragens de aterro.
O resultado final será uma ferramenta avançada que não só detetará de forma eficaz e
precoce anomalias, como também terá a capacidade de alertar automaticamente para po-
tenciais problemas. Isso contribuirá significativamente para a segurança das barragens de
aterro, permitindo a adoção de medidas corretivas antes que ocorram situações críticas.

1.3 Estrutura da tese


Esta tese encontra-se estruturada em 08 secções:
Secção 01 - Introdução;
Secção 02 - Aspetos Hidráulico-Estruturais da Segurança em Barragens de Aterro:
apresentação dos princípios fundamentais relacionados à segurança hidráulica e estru-
tural das barragens em aterro, tendo em vista a identificação de anomalias e as causas de
acidentes que podem ocorrer neste tipo de barragem, bem como a apresentação dos dis-
positivos de controlo aplicáveis, além das inspeções visuais e a análise do comportamento
e avaliação da segurança.

7
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Secção 03 - Revisão Bibliográfica Sobre Novas Tecnologias Aplicadas na Deteção de


Anomalias em Barragens de Aterro: aborda-se sobre o uso das novas tecnologias apli-
cadas na deteção de anomalias em barragens de aterro. Serão apresentados os estudos
recentes que utilizam as seguintes tecnologias: uso de VANT, tecnologia InSAR, uso de
Laser Scan, análise termográfica e análise magnetográfica.
Secção 04 - Modelação Espacial Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens de
Aterro: apresenta-se nesta secção os estudos desenvolvidos na modelação espacial apli-
cada na deteção de anomalias em barragens de aterro. Serão apresentadas as característi-
cas das anomalias detetáveis na modelação espacial, a aplicação de VANT na modelação
espacial e a utilização de software de código aberto para automatização dos pontos de
controlo. Além disso, será abordada a avaliação das deformações em barragens de aterro

nisso? por meio do InSAR e a apresentação de um mapa de anomalias obtidos na modelação
espacial. o que quer dizer?
Secção 05 - Análise Termográfica Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens
de Aterro: nesta secção, apresenta-se a utilização da análise termográfica na deteção de
anomalias em barragens de aterro. Serão apresentadas as características das anomalias
detetáveis na modelação térmica, a análise do comportamento térmico de barragens em
modelo reduzido, a utilização de câmaras térmicas em VANT para a modelação térmica
e a apresentação de um mapa de anomalias obtidos na modelação térmica.
Secção 06 - Modelação Magnética Aplicada na Deteção de Anomalias em Barragens
de Aterro: apresenta-se os estudos desenvolvidos na modelação magnética pode ser apli-
cada na deteção de anomalias em barragens de aterro. Serão apresentadas as caracterís-
ticas das anomalias detetáveis na modelação magnética, a caracterização do comporta-
mento eletromagnético em modelo reduzido, a utilização de sensores em VANT para a
modelação magnética e a apresentação de um mapa de anomalias obtidos na modelação
magnética.
Secção 07 - Avaliação da Segurança de Barragens de Aterro através da miTEM: apresenta-
se nesta secção a análise integrada das anomalias detetadas na modelação espacial, temo-
gráfica e magnética, bem como estudos de casos reais.
Secção 08 - Conclusões: apresentação das conclusões e recomendações finais.

8
2
SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

subtítulo?
As barragens são estruturas projetadas com objetivo principal da retenção e armazena-
mento de água ou resíduos. Dizer que uma barragem é segura, em termos hidráulicos-
estruturais é dizer que os fluxos percolados pelo conjunto corpo da barragem e fundação,
ocorrem de forma controlada e segura, de modo a preservar a integridade estrutural deste
conjunto. falta a estabilidade mecânica pura e
simples
No que concerne ao controlo do fluxo, Cruz[11] refere que a zona a montante da bar-
ragem deve operar de modo a reter ou reduzir a passagem do fluxo, ao passo que a zona
a jusante deve desempenhar uma função de drenagem, visando facilitar a passagem con-
de aterro com
trolada do fluxo. núcleo central
A Figura 2.1 ilustra o comportamento adequado de uma barragem, em termos de flu-
xos, representados pela linha a azul, em que o núcleo, vala corta-águas e cortina de inje-
ção, desempenham o papel de vedação ou retenção do fluxo, enquanto os filtros, tapete
drenante e dreno de pé desempenham o papel de drenagem e condução do fluxo para
jusante, de maneira controlada.

Nível da albufeira Núcleo vedante Filtro drenante

Tapete drenante

Dreno de pé
Superficie do terreno

Superficie do maciço rochoso

Vala corta-águas Filtro drenante

Cortina de injeção
ZONA VEDANTE ZONA DRENANTE

0 20 40 m

Figura 2.1: Exemplo do controlo do fluxo em barragens de aterro

9
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Segundo Cruz[11], para garantir um desempenho satisfatório das barragens, é essen-


cial que estas atendam a três requisitos fundamentais: fluxo controlado, estabilidade e a
compatibilidade nas deformações.
Quando uma barragem não atende algum destes requisitos, anomalias são apresen-
tadas no aterro ou fundação, as quais se não saneadas em tempo hábil, podem ocasionar
útil ? adequado ? refere
a rotura da estrutura.
ou indica
No que diz respeito aos modos de falha em barragens de aterro, Caldeira [12] apre-
senta em seu trabalho (Análise de risco em geotecnia, aplicado em barragens de aterro), os se-
guintes modos de falha:

• Erosão interna:

– Erosão interna dos solos ou dos preenchimentos de descontinuidades dos en-


contros ou da fundação, através do corpo do aterro, da fundação, dos encon-
tros ou do aterro para a fundação;
– Erosão interna ao longo de condutas ou galerias (de descarga de fundo, de
tomada de água ou derivação provisória) ou nas proximidades de outras es-
truturas rígidas.

• Movimento de grandes massas (devido a ações extremas, excetuando as cheias, as pro-


priedades inadequadas dos materiais ou as singularidades da fundação não detetadas):

– Instabilidade por ações estáticas (onde se inclui o esvaziamento rápido da al-


bufeira) ou sísmicas dos maciços estabilizadores de montante ou jusante, da
fundação ou dos encontros;
– Assentamentos conduzindo a perda de folga, galgamento e subsequente ero-
são externa do aterro;
– Galgamento do aterro e subsequente erosão externa induzido pela instabiliza-
ção de encostas da albufeira;
– Liquefação do como da barragem ou da sua fundação, devido à ocorrência de
sismos;¹
– Perda de folga conduzindo a galgamento e subsequente erosão extrema, de-
vido à ocorrência de sismos;¹
– Rotura total ou parcial, por corte da fundação devido a presença de argilas
plásticas com amolecimento por molhagem.

• Roturas hidráulicas (devidas a níveis de água da albufeira excecionais):

– Galgamento do aterro e subsequente erosão devido a insuficiente capacidade


do descarregador;¹
¹Este modo de falha não faz parte do âmbito deste trabalho.
Qual a razão de ser do
comentário? Não estamos
10 a falar genericamente dos
modos de falha? Há outros
que me parece que
também não fazem parte...
– Galgamento do aterro devido a erros de operação das comportas dos descar-
reegadores;¹
– Erosão do canal ou da bacia de dissipação do descarregada de cheias;
– Galgamento das paredes do canal do descarregador de cheias e subsequente
erosão externa da fundação e/ou aterros.

Conforme apresenta-se na Figura 2.2, referente aos dados estatísticos do Boletim 99 [6]
da ICOLD, as principais causas de incidentes em barragens de aterro são galgamento,
erosão interna e falhas estruturais.

1,20%
1,01%
1,00%
Incidência de acidentes

0,80% relativamente ao total de barragens


de terra+enrocamento?
0,60%
0,39% 0,37%
0,40%
0,21% 0,20%
0,20% 0,13%
0,08%
0,02%
0,00%
Galgamento Erosão interna Falha estrutural Outros

Entocamento Terra

e
Figura 2.2: Incidência dos modos de falhas em barragens de Enrocamento vs. Terra[6]

Verifica-se que incidência de acidentes por galgamento é mais frequente nas barragens
de enrocamento do que nas barragens de terra, com cerca de 1,0 % e 0,4 % respetivamente,
já os caso de erosão interna, são menos frequentes nas barragens de enrocamento dos que
nas barragens de terra, com cerca de 0,2 % e 0.4 %. Relativamente às falhas estruturas,
verifica-se que as barragens de enrocamento são mais resistentes, apresentando menor
frequência de incidentes que as de terra, cerca de 0,1 % e 0,2 respetivamente.
Relativamente à limitação da metodologia miTEM, no que se refere a ocorrência de
falhas por galgamento, as quais podem estar intrinsecamente associada a aspetos hidro-
lógicos e operacionais, que por este motivo não apresentam anomalias nos aterros ou
fundação, não sendo assim passíveis de deteção por essa metodologia.
Porém, em casos de galgamento resultantes de assentamentos excessivos, anomalias
passíveis de deteção nos aterros podem ser detetados pela metodologia miTEM.
Por outro lado, as questões relativas à erosão interna e as falhas estruturais frequen-
temente revelam anomalias que serão o cerne desta tese.
No que diz respeito a segurança da barragem, é relevante notar que, em geral, as bar-
ragens de aterro apresentam anomalias antes da ocorrência de uma rotura.

11 Pode começar aqui


não são, ou
portanto, No que diz respeito à evolução dos
ou processos que podem levar à rotura,
não são
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Portanto, identificar e compreender os comportamentos anómalos nas barragens ou


na suas fundações é de suma importância para assegurar a segurança dessas estruturas.
tudo certo, mas
parece um pouco " As barragens, assim como as fundações, não são estruturas completamente imper-
solto" meáveis. No entanto, a condução dos fluxos deve ocorrer de forma controlada.
Porém, quando o fluxo no corpo da barragem ou fundação ocorre de maneira anormal
e descontrolada, diversos problemas podem surgir, que se não saneados podem desen-
cadear um processo de rotura da estrutura.
No que concerne aos modos de falha devido ao descontrolo do fluxo em barragens
de aterro, destaca-se a erosão interna, além, da falha estrutural pela desestabilização dos
maciços devido ao aumento ou redução anormal da linha freática.

uma das causas mais


2.1 Anomalias associadas a erosão interna frequentes

A erosão interna, também conhecida como erosão regressiva ou piping, representa a se-
gunda causa mais frequente de roturas em barragens e pode ocorrer devido à migração
de partículas do solo, causada pelas forças de percolação, resultando no desenvolvimento
de canais ou tubos no maciço da barragem, ou na sua fundação, os quais tende a se conec-
rever tam ao reservatório, provocando um fluxo concentrado que se não tratado pode provocar
o colapso da barragem. contido?
Contudo, a definição do termo piping, pode englobar diversos fenómenos físicos e
químicos, conforme apresentado no artigo Critical appraisal of piping phenomena in earth
dams[13]. por "fulano []"

Apresenta-se a seguir os principais fenómenos de erosão interna, acompanhada de


estudos de casos específicos e das anomalias associadas a tais ocorrências.
com
apresentação

2.1.1 Carreamento de partículas em aterros

Essa visão do piping é o estilo clássico de erosão regressiva, que geralmente ocorre numa
zona do solo potencialmente erosivo, permite a abertura de uma ponte de ligação erosiva,
em que a força de tração, gerada pelo fluxo, está diretamente relacionada com à velocidade
deste fluxo. escoamento com a

Terzaghi [14], Lane [15] e Sherard [16], aprestam um modelo de erosão interna no qual
as partículas de um solo são progressivamente deslocadas da matriz de origem, devido às
forças de tração resultantes da infiltração da água entre os grãos. Estas forças de tração,
por sua vez mobilizam as forças de equilíbrio e resistência ao cisalhamento dos grãos,
assim como pelo peso das partículas do solo e pela capacidade de percolação.
Neste modelo, as forças erosivas são mais intensas onde o fluxo se concentra em um num
ponto de saída e, uma vez que as partículas do solo são removidas pela erosão, a magni-
tude das forças erosivas aumenta devido à maior concentração do fluxo.

12
cisalhamento ->
não sei se corte
percebo movimento?
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Lutz [17] apresentou um modelo semelhante, no que diz respeito ao carreamento de


partículas, contudo, as propriedades físico-químicas do solo são o principal fator na ero-
são regressiva, cuja a resistência à remoção de grãos do solo depende do gradiente hi-
dráulico através do solo (necessário para superar essa resistência) e do estado de tensões
em torno da abertura formada pela erosão do material.
tensão
no
Modo de falha: a Figura 2.3 ilustra a formação de erosão interna devido ao carrea-
mento de partículas em aterro de uma barragem com secção homogénea, em que o sis-
tema de drenagem pode estar obstruído ou inoperante e a erosão interna ocorre no aterro
da barragem.

a) Estágio inicial de piping,


surência a jusnate

b) Aumento do carreamento de
partículas, evolução da erosão
regressiva

c) Formação do tubo (piping) entre


o reservatório a montente e o local
da surgência a jusante

d) Abertura da cunha de rotura e


colapso da barragem

0 20 40 m

Figura 2.3: Ilustração de erosão interna em barragem de secção homogénea


ref?

Estudo de caso: em barragens de aterro, este modo de falha pode estar associado a
falhas no sistema de drenagem e filtragem, como ocorrido na barragem da Pambulha em

13
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Bélo Horizonte, no dia 20 de abril de 1954. Conforme relatado no livro Lições aprendidas
com acidentes e incidentes em barragens e obras anexas no Brasil[8] (ver Figura 2.4).

Figura 2.4: Rotura da barragem de Pampulha em Belo Horizonte [8]

Figura 2.5: Secção típica da barragem da Pampulha [8]

Trata-se de uma barragem de secção homogénea, construida em duas fases distintas.

14
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

A primeira fase abrange a secção montante do corpo da barragem, erguida com uma al-
tura inicial de 11,50 m, compreendendo o período de 1936 a 1938. Posteriormente, em
1940, iniciou-se a expansão da barragem, elevando a sua altura total para 16,50 m. Este
processo resultou na criação de uma barragem com 330 m de extensão, apresentando um
talude de montante com uma relação de 1V:2H, e um talude de jusante que variava entre
1V:2,5H e 1V:3H, conforme Figura 2.5.
Destaca-se que uma laje, apoiada ao longo do talude de montante, constituiu uma
cortina monolítica, caracterizada pela ausência de juntas de dilatação. A espessura da
laje variava desde 19,5 cm na sua base até 8 cm no topo, e esta se prolongava na fundação
da barragem por meio de um muro intercetor de concreto armado. O mencionado muro
uma
possuía uma espessura de 30 cm e atingia profundidade variando de 3 a 5 m na porção
mais elevada da barragem. Importa realçar que a betonagem deste muro ocorreu por
o que
meio do método de vala aberta, sendo posteriormente preenchida com argila.
é? No que concerne as deteções das anomalias, no dia anterior ao acidente, identificou-
se uma ressurgência, a jusante da barragem, mas o fato não aparentava ter natureza alar-
mante, provavelmente ao estágio (a) da Figura 2.3. No entanto, notou-se uma rápida evo-
lução do processo de piping, evoluiu num intervalo de aproximadamente 24 horas para
que,
um estágio semelhante ao (c).
terá atingido
da figura 2.3

correspondendo,

Figura 2.6: Inspeção Visual realizada pelo prefeito Américo Renné e governador JK, ins-
tantes antes da rotura da barragem[8]

Na manhã do dia 16 (data do acidente), foi observada um jorro de água nas proximi-
dades do pé de jusante da barragem, adjacente à boca de lobo existente no revestimento

15
colocar depois
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

em cimento que cobria o muro de pé. A Figura 2.6 apresenta uma inspeção visual de auto
risco realizada por técnicos e autoridades no local da ressurgência, sendo este procedi-
mento conduzido sob elevado risco devido à iminência da rotura da barragem, que se
concretizou no próprio dia desta visita.
No que se refere as causas do acidente, conforme relatado [8], os estudos realizados
et al. por Vargas e colaboradores em 1954, a ruptura da barragem de Pampulha ocorreu devido
a um processo de erosão interna, que se desenvolveu através do corpo da barragem. Isso
resultou de um sistema de drenagem interna inadequado, que permitiu a formação de
gradientes excessivamente elevados em certos segmentos, agravados pela ausência de
filtros de proteção.
A fina laje de concreto que se encontrava apoiada sobre o talude de montante da barra-
terá tido fissuras gem apresentou fissuras e ruturas em algum momento, devido às deformações no corpo
e roturas do aterro, resultando em tensões de tração superiores à resistência do concreto da laje. O
fluxo de água que se estabeleceu no interior do corpo da barragem não foi controlado por
um sistema de drenagem eficiente, o que propiciou o surgimento do fenómeno de erosão
interna, a partir do pé de jusante, através da erosão interna do aterro. Não se pode excluir
a possibilidade de que esse mesmo processo tenha afetado o material da fundação. também
Por fim, é relevante mencionar que a comporta de fundo da torre do vertedouro, a qual
não havia sido operada por um longo período, não pôde ser aberta de forma apropriada.
Caso o mecanismo de acionamento da comporta estivesse funcionando corretamente, o
colapso da barragem poderia ter sido evitado. eventualmente

Principais anomalias: importa ressaltar que no caso supracitado, as anomalias ini-


ciais podem ter passado despercebidas, sendo apenas notadas somente após a instalação
da erosão interna em estágio avançado. Contudo, em estágios iniciais, a erosão interna
pode manifestar-se apenas como uma zona húmida ou pequenas ressurgências no talude
de jusante, conforme ilustrado na Figura 2.7.
Algumas ressurgências ou zonas encharcadas podem manifestar-se, desencadeando
erosões e escorregamentos de terra, como ilustrado na Figura 2.8(a). Em determinados
casos, essas manifestações ocorrem em valas de drenagem pluvial, conforme evidenci-
ado na Figura 2.8(b). Em outras situações, podem apresentar-se de forma extremamente
pontual em áreas de fragilidade, como calículos, como exemplificado na Figura 2.8(c). No
entanto, em taludes revestidos com enrocamento, as ressurgências podem passar desper-
cebidas, uma vez que a água pode percolar sob o enrocamento e manifestar-se em regiões
sua
distantes da própria ressurgência, conforme ilustrado na Figura 2.8(d), onde verifica-se
origem uma ressurgência adjacente à instalação de um piezómetro em artesianismo. com
De modo geral, observa-se uma tendência para que a vegetação se apresente de forma
mais arbustiva e viçosa, exibindo uma coloração mais intensa de verde em zonas onde a
humidade é maior, conforme ilustrado na Figura 2.9. Este fenómeno é comum nas regiões
mais baixas dos taludes a jusante das barragens, onde é expetável ocorrer zonas enchar-
cadas ou escorrência de água, devido drenagem dos fluxos da barragem. Contudo, em

16
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Nível da albufeira

Res
urg
ênc
ias
Superficie do terreno

0 20 40 m

Figura 2.7: Ressurgências no talude de jusante

(a) Talude em aterro encharcado (b) Ressurgência em vala

(c) Ressurgência em canalículos (d) Ressurgência sob enrocamento

Figura 2.8: Ressurgências em taludes de aterro

17
em água ou apenas
humidade

CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

circunstâncias anómalas em termos da presença de teores de humidade mais elevados, o


desenvolvimento excecional de vegetação arbustiva, pode ser um indício preliminar de
erosão interna.

Vegetação viçosa

Figura 2.9: Vista aérea do talude de jusante - zonas húmidas

Salienta-se que a erosão interna, como descrita aqui, envolve o carreamento de partí-
culas finas, que muitas vezes pode resultar na turbidez da água, ou mesmo no acumulo de
material oriundo dos drenos ou filtros, quando esses inicialmente se deterioram devido
a ocorrência de piping.
Especialmente em barragens de enrocamento, a observação de zonas húmidas ou res-
surgências tornam-se mais limitada, visto que a água ao infiltrar pelo núcleo vedante da
barragem, acaba por se dissipar sob o enrocamento, não sendo possível a identificação
visual dos locais por onde as humidades ou ressurgências estão a ocorrer. Contudo, em
estágios mais avançados, a erosão interna acaba por ocasionar o carreamento de partícu-
las finas, que normalmente altera a coloração da água, deixando-a turva. Este fenómeno
pode ser observado nos medidores de caldais ou em zonas mais baixas a jusante da bar-
ragem, onde ocorre a passagem de água por gravidade (Figura 2.10).
Em enrocamento, a observação de zonas húmidas ou ressurgências torna-se nota-
velmente restrita, uma vez que a água, ao infiltrar-se pelo núcleo vedante da barragem,
dispersa-se sob o enrocamento, impossibilitando a identificação visual dos pontos espe-
cíficos onde as humidades ou ressurgências estão a manifestar-se, conforme ilustrado na
Figura 2.10(a).
Salienta-se que a erosão interna, conforme delineada neste contexto, implica o trans-
porte de partículas finas, frequentemente culminando na turvação da água ou no acu-
mulo de material proveniente dos aterros, drenos ou filtros, especialmente quando estes
sofrem deterioração devido ao processo de erosão regressiva,conforme ilustrado na Fi-
gura 2.10(b).

18
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Linha freática
Água turva, devido o
carreamento de finos
(indício de piping)
2
1

Legenda
0 10 20 m 1 - Núcleo argiloso
2 - Enrocamento

(a) Escorrência sob taludes de enrocamento (b) Água turva em medidor de caudal [18]
indicar
Figura 2.10: Ressurgências em taludes de aterro razão

Neste sentido, em barragens de enrocamento é relevante uma boa manutenção dos


medidores de caudal de modo a deixados limpos, visando a identificação da coloração
da água, assim como de todo sistema de drenagem pluvial a jusante da barragem.
À medida que o processo de erosão interna progride para estágios mais avançados,
conforme ilustrado na Figura 2.3(c), em que ocorre a comunicação do fluxo de água entre
a albufeira a montante e a ressurgência a jusante através do fenómeno de piping, algumas
anomalias se tornam mais notórios.
Evidentemente, nesta altura será possível observar o aumento do fluxo de água turva
a jusante, entretanto, algumas cavidades formadas pelo processo no erosão interna no
aterro podem colapsar, provocando assentamentos pontuais, favorecendo a ocorrência
localizados
de fissuras circulares, conforme ilustrado na Figura 2.11, na qual sugere a presença se
fissura na zona de montante e no coroamento da barragem, contudo, estes locais podem
variar conforme o tipo de piping.

Ocorrência de assentamentos
e fissuras circulares

(a) Ilustração do processo de fissuras (b) Fissuras circular [19]


seja resolvido?
estabilize ?
Figura 2.11: Ocorrência de assentamentos e fissuras circulares

Num estágio seguinte, caso o processo de erosão interna não seja saneado, a evolu-
ção das cavidades internas tendem a aumentar provocando a ocorrência de dolinas ou
sinkhole, conforme ilustrado na Figura 2.12. Importa ressaltar que estes eventos podem
representar um risco iminente de rotura da barragem.

19
traduzem, normalmente, uma situação de rotura iminente da barragem.
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Dolina, Cavidade
ou "Sinkhole"

(a) Ilustração do processo de sinkhole (b) Ocorrência de sinkhole [19]

Figura 2.12: Ocorrência de dolina, cavidade ou sinkhole

Além das anomalias supracitadas, a ocorrência de escorregamentos de pequeno e


grande porte podem ocorrer, devido a elevação do nível freático, ou mesmo devido a ins-
tabilização por remoção de material na base do talude, conforme ilustrado na Figura 2.13.

Escorregamento

(a) Ilustração do processo escorregamento (b) Escorregamento em talude

Figura 2.13: Escorregamento em taludes devido a piping

2.1.2 Carreamento de partículas em fundações


No que se refere ao processo de erosão interna por carreamento de partículas em fun-
dações, o processo assemelha-se ao apresentado no item anterior, contudo desenvolve-se
nas fundações, normalmente de matriz arenosa ou em solos com baixa coesão.
na Figura ... assente
Modo de falha: a seguir um modelo onde uma pequena barragem assentada sobre
uma camada de solo argiloso, cuja as permeabilidades são inferiores ao solo arenoso sob
esta camada. Este contraste de permeabilidades normalmente gera supressões elevadas
na barreira com baixa permeabilidade (solo argiloso) devido o fluxo acedente a jusante
e favorece a ocorrência de artesianismo em especial nas zonas mais baixas a jusante da
barragem, conforme ilustrado favorece a ocorrência de ressurgências (Figura 2.14 a).
Em situações onde o solo com matriz arenosa não possui restrições coesivas ou no que
se refere a materiais filtrantes, como ilustrado na Figura 2.14 (b), no fundo de uma vala

20
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

pode favorecer o aparecimento de ”vulcões de areia”ou sand boils.


Caso o processo de transporte de material não for saneado o piping se desenvolverá até
encontrar a albufeira a montante. Neste estágio, o aparecimento de fissuras e pequenos
escorregamentos poderão ser observados, conforme ilustrado na Figura 2.14 (c).
Por fim, o processo de colapso da barragem, poderá ocorrer por instabilidade dos
maciços e da fundação, que devido a perda de material por carreamento de partículas,
torna-se instável favorece e ocorreria de escorregamentos, aberturas da brecha e o colapso
da barragem, conforme ilustrado na Figura 2.14 (d).

Ressurgência "Sand boil"


Solo argiloso Solo argiloso

Barragem Barragem

Solo arenoso Solo arenoso

(a) Ressurgências a jusante (b) Carreamento da areia (sand boil)

Fissuras Colapso

"Piping"

(c) Desenvolvimento do piping (d) Colapso da barragem

Figura 2.14: Ilustração de modo de falha por carreamento de partículas na fundação


confirmar

Estudo de caso: faz-se referência ao incidente ocorrido em 11 de novembro de 2006


em Utah nos Estados Unidos da América, na barragem A.V. Watkins. Trata-se de uma bar-
ragem de aterro com aproximadamente 23 km de extensão e 11 metros de altura, assente
sobre sedimentos compressíveis, conforme ilustrado na Figura 2.15.
A barragem A.V. Watkins registou ocorrência de erosão interna pela fundação em no-
vembro de 2006, segundo a FEMA [20], num primeiro estágio o piping instalou-se entre
a vala drenante a jusante da barragem e a albufeira. O material erodido da fundação foi
sendo depositado no interior da vala.
Num período de aproximadamente 02 dias (dia 13 de novembro), registou-se o au-
mento da vazão com o carreamento de finos na zona a jusante na zona da vala, oca-
sionando uma primeira instabilização da zona junto a vala fazendo com que o terreno
colapsasse e obstruísse a saída do piping. saída de água?
Consequentemente, ocorreu novas ressurgências junto ao pé da barragem, com o aper-
cebimento de novos pontos de sand boils nesta zona. Registou-se ainda, um princípio da
abertura de uma brecha começou a se desenvolver, junto ao pé do talude de jusante, neste

que 21
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Rip-rap
Local do incidente
Dreno
1= ? 3m
de pé
2= ?
36,7 m
76,2 m 9,1 m Vala de
Areia siltosa
drenagem
Argila siltosa SEM ESCALA

Figura 2.15: Barragem A.V. Watkins Dam, adaptado de FEMA [20]


rever. confuso

local ocorreu assentamentos e fissuras, quando felizmente as medidas mitigatório toma-


das, incluindo uma redução do nível do reservatório e a deposição de material vedante a
montante da barragem, paralisou o evento. Posteriormente uma grande cortina de veda-
ção foi aplicada da crista da barragem até a zona mais profunda da fundação foi aplicada
e a barragem recuperada.
A Figura 2.16 apresenta um resumo destes eventos, assim como um registo das prin-
desde
cipais anomalias observadas no corpo da barragem e na zona a jusante.

Assentamentos, princípio
de colapso da barragem
Aparecimento de fissuras Novos pontos de sand boils
Ressurgência e
ocorrência de sinkholes

Areia siltosa Vala de


drenagem

Areia siltosa Colapso do tubo de Solo


solo formado pelo erodido
processo de piping
Argila siltosa

Figura 2.16: Barragem A.V. Watkins Dam, adaptado de FEMA [20]

Principais anomalias: segundo o operador da barragem, durante uma inspeção de


rotina, inicialmente observou-se uma ressurgências com água turva a jusante da barragem

22
verificar!!!!
é o mesmo dia da
anterior????
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

(Figura 2.17 a), bem como a presença de sand boils (Figura 2.17 b).
Num período de aproximadamente 02 dias (dia 13 de novembro), verificou-se um au-
mento na infiltração, bem como uma deposição de argila escura na vala de drenagem a
jusante. Observou-se sand boils junto ao pé do talude (Figura 2.17 c), bem como escorre-
gamentos e assentamentos (Figura 2.17 d).
Por fim, observou-se fissuras transversais no coroamentos (Figura 2.17 d) e uma fissura
longitudinal no talude de jusante, em virtude dos assentamentos observados nesta zona
(Figura 2.17 e).

(a) Água turva (b) Sand boil a jusante da barragem

(c) Grande sand boil junto ao pé do talude (d) Escorregamentos a jusante da barragem

(e) Fissuras transversais no coroamento (f) Fissuras longitudinais no pé doo talude

Figura 2.17: Barragem A.V. Watkins, registo de anomalias (FEMA [20])

23
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2.1.3 Fissuras e caminhos preferenciais


causa de ?
Neste tipo de erosão interna, a causa principal é o fluxo ao longo de fissuras em materiais
coesivos ou vazios ao longo do contacto solo-estrutura. Por essa definição a hidráulica
do problema é bastante diferente da ”erosão regressiva”[15]. Em vez de ser iniciada pelo
fluxo de Darcy em um ponto de saída, a erosão interna é iniciada pelas forças erosivas da
água ao longo de uma ou varias fissuras. A erosão interna é expressa como uma carga
de tração ao longo do comprimento da fissura. Isso contrasta com o caso da ”erosão
regressiva”, onde a erosão ocorre no ponto de saída.

com início no
Modo de falha: em alguns casos, este processo de fissuração do aterro ou fundação
pode ser induzido por fraturas hidráulicas devido a perfurações com injeção de água ou
ar, também pode ocorrer por assentamentos diferenciais cujas deformações resultam em
fissuras por tração ou cisalhamento do aterro. A Figura 2.18 apresenta uma ilustração do
modo de falha da barragem.

Piping

Fissuras devido
Subsidência

Falha
geológica

Falha
geológica

Maciços Estabilizadores

Vedação asfaltica

0 100 200 m

Figura 2.18: Ilustração do modo de falha da barragem Baldwin Hills

na
Estudo de caso: um exemplo deste tipo de falha é o acidente ocorrido na barragem
de Baldwin Hills em California. Trata-se de uma barragem de secção homogénea com
aproximada mente 70 m de altura, com revestimento asfáltico a montante de espessura
entre 1,5 e 3 m, construida em 1951 e veio a romper cerca de 12 anos após a sua construção.
Conforme relatado no artigo Analysis and design of embankment dams for foundation fault
rupture[21], uma das principais causas do acidente foi o assentamento da barragem ao

24
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

longo de uma falha geológica transversal ao eixo da barragem, conforme ilustrado na


Figura 2.19.

Figura 2.19: Ilustração das falhas geológicas transversais a barragem Baldwin Hills [21]

As investigações realizadas para investigar as causas do acidente indicaram que as


fundações ao longo da falha geológica, assentaram cerca de 15 cm (aparentemente asso-
ciado à subsidência induzida pela extração de petróleo regional), ocasionando fissuras ao
longo da camada de vedação do aterro, o que resultou num processo de erosão interna
ao longo desta fissura levando a barragem colapsar.

Principais anomalias: no que se refere a identificação de anomalias, durante uma


inspeção de rotina na manhã do dia 14 de dezembro de 1963, observou-se um compor-
tamento anómalo no reservatório, devido fluxo infiltrando por uma fissura na vedação
asfáltica da barragem, provavelmente devido ao piping em estágio já avançado. A Fi-
gura 2.20, apresenta a dimensão da brecha instalada no talude de montante da barragem
logo após o início do rebaixamento da albufeira, na tentativa de evitar a rotura da barra-
gem.
sua
Apesar de todos os esforços para o rebaixamento da albufeira, a barragem veio a
romper num período de 4 horas, abrindo uma enorme brecha na barragem conforme
apresenta-se na Figura 2.21.

25
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Figura 2.20: Barragem Baldwin Hills, início da abertura da brecha em 14/12/1963 [22]

(a) Vista aérea (b) Secção transversal

Figura 2.21: Barragem Baldwin Hills, vistas da abertura da brecha [22]

2.1.4 Gradientes elevados no contacto entre solo-estrutura eu diria: podem

Os fluxos na zona do contacto entre o solo-estrutura, costumam a ser ligeiramente maio-


res, devido à natureza da condutividade hidráulica, que pela infiltração da água no solo
rever tudo.
ocorrer com maior facilidade, porém, ao encontrar uma barreira com baixa permeabi- Está muito
lidade no betão, acaba por concentra os fluxos, e em alguns casos podem acarretar em confuso
gradientes hidráulicos mais elevados, favorecendo a ocorrência de erosão interna.
Ademais, os aterros possuem módulos de deformação muito diferentes que as estrutu-
ras e por esse motivo as deformações ocorridas nesta zona são contrastantes, favorecendo
o aparecimento de fissuras.
Neste sentido, cuidados especiais devem ser tomados ao se projetar e construir ater-
ros em contacto com estruturas, de modo a impedir a formação de erosão interna nesta

em betão 26
nas interfaces entre materiais distintos

2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

zona. No que se refere a compactação, teores de humidade mais elevados, uso de equi-
pamentos especiais, entre outras medidas podem ser necessárias, visando garantir uma
boa compactação na zona vedante da barragem, contudo na zona drenante, recomenda-
se medidas que proporcione uma drenagem mais elevada e uma retenção de finos mais
sei o que quer dizer, mas não
eficiente.
está explicado
No que se refere a geometria da estrutura, segundo Fell [23], paredes de betão, bem
projetadas com inclinações de talude superiores a 0,25H:1V provavelmente evitarão o
aparecimento de fissuras ou trincas nos aterros. Porém, paredes em betão sub-verticais
ou fundadas em zonas imediatamente elevadas, onde a fundação do aterro é relativa-
não se
mente mais inclinada que da estrutura, provavelmente apresentarão fissuras ou trincas. percebe. referir
figura?
Modo de falha: a Figura 2.22 (a), apresenta um exemplo onde a inclinação sub-
vertical da parede de uma tomada de água, em que a inclinação da fundação favorecem o
e potencia descolamento do aterro potencializa o aparecimento de trincas e fissuras. Já a Figura 2.22
(b), mostra outro exemplo que a mudança abrupta na inclinação do paramento favorece
o deslocamento da parta superior do talude na zona do contacto, potencializando o apa-
recimento de fissuras e favorecendo a ocorrência de erosão interna nestas zonas.

Zona potecial para Zona potecial para


Tomada de água formação de fissuras Tomada de água formação de fissuras
Coroamento Coroamento
Será tomada de
As
água? Em pt a se
nt
tomada de água é Ass am
ent en
normalmente am
e
to
s
nto
associada ao s
Mudança na
abastecimento. declividade do talude
Fundação da barragem
Talvez fosse
Fundação da barragem
melhor: estrutura do
descarregador ou
(a) Inclinação da fundação desfavorável (b) Inclinação do paramento desfavorável
do canal?

Figura 2.22: Situações onde os assentamentos provoca o descolamento do aterro, favore-


cendo o aparecimento de fissuras (adaptada de Fell [23])

Estudo de caso: relativamente aos casos de erosão interna na zona de contacto entre
solo-estrutura, que pelos motivos acima explicitados, torna-se uma zona de fraqueza da
rever barragem, havendo inúmeros registos de ocorrência de incidentes e acidente, onde fre-
quentemente ocorrem logo no início da operação, como nos casos das barragens da PCH
Bocaiúva e PCH Inxu, ambas no Mato Grosso.
Os dois casos assemelham-se no tipo de estrutura, modo de falha por erosão interna
na zona do contacto solo estrutura, ambas situadas na bacia do Parecis, geologicamente
rever
constituída por arenitos finos e friáveis e romperam no início da operação (ver Figura 2.23)
No que se refere as informações disponíveis sobre os acidentes, infelizmente são muito
sucintas, por esse motivo apresenta-se o caso da PCH Bocaiúva, pois dispões-se um pouco

27
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

(a) Bocaiúva, acidente ocorrido em 18/01/2010 (b) PCH Inxu, acidente ocorrido em 05/06/2015
Em português PT, dito desta forma
parece que não há certeza quanto à
informação. Figura 2.23: Rotura das barragens das PCHs Bocaiúva e Inxu no Mato Grosso [8]

mais de informações sobre as anomalias e relatos descritos no livro Acidentes e Incidentes


em Barragens [8],[24] e [25].
Conforme consta, a PCH Bocaiúva situa-se no rio Cravari, município de Brasnorte,
Estado de Mato Grosso e possui uma potência instalada de 30 MW, tendo entrado em
operação em 2010. central elétrica ou central de geração

A PCH possui um descarregador de cheias de soleira livre vertente em betão armado,


situado no trecho do leito do rio. Entretanto, o acidente ocorreu no circuito de geração,
que é constituído por longo canal de derivação que liga a albufeira até a tomada de água,
um conduto forçado, casa de força e canal de fuga, localizado na ombreira direita ao longo
do trecho de desnível aproveitado, conforme ilustrado na Figura 2.24.
uma conduta Apresenta-se na Figura 2.25 uma vista aérea deste circuito hidráulico da PCH já res-
forçada taurada, onde é possível ter uma perspetiva da a altura da barragem.

Tomada de água
Subestação

Acesso

Conduto revestido em betão Casa de força


N

0 50 100m
Barragem

Figura 2.24: Circuito hidráulico da PCH Bocaiúva (fonte: Imagem obtida no Google Earth)

Verifica-se na Figura 2.23(a), que a barragem é protegida por manta de PEAD em toda

28
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Figura 2.25: PCH Bocaiúva, vista panorâmica do circuito hidráulico


(fonte: https://www.silea.com.br/pchs/pch-bocaiuva em 11/11/2023)

extensão do talude de montante vindo a romper no lado direito hidráulico da tomada de


água, onde a fundação predominante é de um arenito friável com capacidade de suporte
superior às tensões transmitidas pelas estruturas. eu dria apenas: com boa capacidade de
rever. suporte.
No que concerne a descrição do acidente, não havendo informações técnicas relati-
deveria ser:
... apesar de vas ao projeto na literatura, tão pouco uma descrição temporal pormenorizadas dos fatos
não haver
informações ocorridos na rotura, contudo a partir das imagens apresentadas na Figura 2.26, é possível
.... nem tão perceber a sequência dos fatos ocorrido no dia 18/01/2023.
pouco uma
descrição ....
rotura, a
partir das Principais anomalias: observou-se uma perturbação na albufeira associada ao pro-
imagens ... cesso de sinkhole no talude de montante junto ao contrato com a toma da de água, con-
forme apresentado na Figura 2.26 (a). No talude de jusante, observou-se ressurgências
na interface entre o aterro e o lado direito hidráulico da estrutura de betão que reveste os
condutos de baixa pressão (ver Figura 2.26 (b), (c) e (d)).
As Figuras 2.26 (e) e (f), mostram uma tentativa de saneamento do processo de erosão
interna, através da execução de filtro invertido com areia geotéxtil e brita. Contudo, apesar
das tentativas de saneamento, o processo de erosão interna evolui rapidamente, vindo evoluiu
alcançar a barragem, junto ao lado direito hidráulico da tomada de água, abrindo uma
brecha na interface desta com o corpo do aterro, por onde escoaram as águas do canal de
adução, danificando a subestação e casa de força (Figura 2.26 (g)).
De acordo com a literatura disponível [8], as causas do acidente em análise residem,
predominantemente, no fenômeno da erosão interna, cujas manifestações foram identifi-
cadas na junção entre o aterro da barragem e o perímetro da câmara de carga, em interação
com a estrutura de concreto dos condutos forçados. No decorrer do processo, verificou-se
a evolução do piping de jusante em direção a montante, sendo plausível inferir que não

29
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

(a) Anomalia na albufeira (b) Detalhe da ressurgência a jusante

(c) Vista do processos de piping (d) Escorregamento e piping

(e) Execução de filtro invertido (f) Aplicação de manta geotéxtil

(g) Rotura da barragem

Figura 2.26: Rotura das barragens da PCHs em 18/01/2023 - [8], [24] e [25]
30
não são as paredes que têm deformações &
assentamentos desagregação
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

apenas o solo do aterro foi suscetível à erosão interna, mas também a própria fundação,
dada a sua composição por solos resultantes da desintegração dos arenitos locais. Estes
solos, embora demonstrem características de suporte adequadas para as estruturas, ca-
recem de resistência frente a gradientes hidráulicos elevados, tornando-se suscetíveis à
erosão e lixiviação.
Contudo, é pertinente salientar que as estruturas em betão armado, da tomada de
água e condutos, exibem uma geometria aparentemente inadequada para a aderência
do aterro em contacto com estas estruturas. As Figuras 2.26 (g) e 2.23 (a) apresentam
semi-verticais paredes semi-vertical, cujas deformações e assentamentos, nessas condições, podem ter
contribuído para o surgimento de fissuras, ou mesmo para o descolamento do aterro na
zona em questão, podendo ter contribuído significativamente para a ocorrência da erosão
interna.
Salienta-se ainda, que barragens ou aterros construidos em contactos com estruturas
em betão, devem dispor de drenos e filtros na zona drenante e a jusante, em toda extensão
do contacto com a estrutura, os drenos visam a redução dos gradientes e os filtros a re-
tenção de finos, visando impedir a erosão interna. Entretanto pelas imagens disponíveis
não é possível observar se estas medidas foram dotadas neste projeto.

e
2.1.5 Solos dispersivos

O fenómeno de erosao interna pode ocorrer em solos dispersivos, cuja a natureza físico-
química se caracteriza por ter a alta concentração de ions de sódio, que ao entrar em iões
dissolução ?
contacto com a água, ocorre segregação das partículas (dispersão em suspensão), sendo
facilmente carreadas pelas forças de percolação, favorecendo a ocorrência de erosão in-
terna [26] [27]. Este fenómeno é diferente de outros solos altamente erodíveis, como lodo o lodo é
erodível
e areia, que sofrem erosão pela ação física da água que flui através ou sobre o solo. ?
Segundo Fell [23], no que se refere a mineralogia dos solos dispersivos, solos com uma
alta percentagem de sódio, como a montmorilonita, tendem a ser dispersivos, enquanto
a caulinita e minerais relacionados (halloysita) não são dispersivos. Já os solos com pre-
sença de illita tendem a ser moderadamente dispersivos.
Outro fator importante, refere-se a plasticidade das argilas, Mitchell [28] indica que
algumas falhas em barragens de aterro ocorreram principalmente em argilas de plasti-
cidade baixa a média (CL e CL-CH) que continham montmorilonita. Bell e Maud [29]
concordam com essa visão. A experiência dos autores é semelhante, ou seja, os solos
mais suscetíveis não são aqueles com alta plasticidade, mas sim aqueles com frações de
argila limitadas, suficientes apenas para conferir uma plasticidade baixa a média.
No entanto, Sherard [30] testaram alguns solos como dispersivos no teste de pinhole
com % de passagem de 0,005mm superior a 50%. O melhor desempenho das argilas de
maior plasticidade provavelmente está relacionado à maior resistência à erosão e maior
probabilidade de fechamento de fissuras à medida que o solo incha. Indica ainda que,
com base em seus testes, solos com menos de 10% de material mais fino que 0,005mm

explicar melhor 31
este

CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

podem não ter argila suficiente para sustentar a erosão dispersiva.

Modo de falha: no que se refere ao modo de falha em barragens por erosão interna
em solos dispersivos, de certo modo assemelha-se aos modos de falha estudados anteri-
ormente nos itens de 2.1.1 a 2.1.4, porém o piping se desenvolverá com maior facilidade
nas zonas onde há maior concentração de fluxo. Ressalta-se que este tipo de erosão in-
terna pode ocorrer tantos nos aterros como nas fundações, conforme apresenta-se na Fi-
gura 2.27 um perfil geológico típico em sítio com presença de solos dispersivos, onde é
possível observar a ocorrência de depressões e a formação de sinkholes na fronteira do solo
dispersivo com a barreira impermeável, observa-se ainda a presença de material deposi-
tado a jusante, semelhante a ocorrência de sand boils.

CHUVA

Depressão

Afundamentos superficiais
Ocorrência de sinkholes

Sand boils

Ocorrência de piping

Figura 2.27: Feições típicas na ocorrência de solos dispersivos, adaptado de Cruz [31]

Observa-se na Figura 2.28 a ocorrência de piping no contacto entre a descarga de fundo


e o aterro (em solo dispersivo), logo após o primeiro enchimento da albufeira.
Eu não vejo
piping... Vejo uma
rotura substancial,
provavelmente
causada por piping.

Figura 2.28: Piping em argilas dispersivas junto a galeria da descarga de fundo [32]

32
da

2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Estudo de caso: no que se refere aos casos de erosão interna em solos dispersivos,
normalmente estão associados a ausência de ensaios visando a verificação do potencial
de dispersividade nos solos dos aterros e da fundação, manifestando-se os normalmente
logo no primeiro enchimento, porem em alguns casos porem apresentar as anomalias
mais evidentes relacionadas a erosão interna após alguns anos de operação, como no
caso ocorrido na Turquia nos anos 2000 na barragem Tınaztepe, que operou normalmente
durante 7 anos até manifestar as anomalias mais evidentes relacionadas ao piping.
Conforme relatado no artigo Internal erosion resulted from dispersive soils in earthfill dams
and a case study [33], a barragem Tınaztepe possui 36,6 m de altura e 324 m de compri-
mento. Trata-se de uma barragem com secção zonada, possuindo um núcleo argiloso e
vedante (Zona 1), protegido por filtro vertical a montante e a jusante (Zona 2), os maci-
ços estabilizadores são de solo semi-impermeável (Zona 3), protegidos por um rip-rap a
montante e enrocamento de proteção a jusante. Junto ao pé a barragem possui um dreno
que interliga-se com o tapete drenante (Figura 2.29).

El. 1151,6 m Enrocamento de proteção


NA. Max. 1150,6 m

Rip-rap
3 2,5
1 1
NA. Min. 1136.5 m 3 2 1 2 3
Superficie do terreno

1
Solo aluvionar Legenda
1 - Núcleo argiloso
0 10 20 m El. 1151,6 m 2 - Filtros e drenos
Vala corta-águas 3 - Maciços estabilizadors

Figura 2.29: Secção de maior altura da barragem Tınaztepe (adaptado de ASDSO [33])
assente ou fundada
No que se refere a geologia, a barragem está assentada sobre um aluvião de idade qua-
ternária, composto por areia, cascalho, silte e argila. A espessura máxima desta unidade
é de cerca de 16 m, mas reduz para 0,5 m nos flancos do vale. Sob o aluvião encontra-se encontram-se
rochas sedimentares jovens, conglomerados e argilas. As análise do DAMHA, que é um
programa de risco de barragens da Turquia, indica que o local da barragem estará sujeito
a um pico de aceleração do solo de 0,08g com terremoto máximo de projeto de 6,8.
O acidente veio a ocorrer em abril de 2000, e as anomalias iniciais identificada pelos
engenheiros foram elevadas ressurgências, além de várias depressões de pequena dimen-
são na superfície a jusante da barragem (Figura 2.30).
Durante esta observação, o nível da água encontrava-se no nível máximo no final do in-
verno rigoroso e chuvoso. A vazão incidentalmente registada oriunda das ressurgências e
infiltrações a jusante foi de 163 L/s. Entretanto uma vez acionado o plano de emergência
da barragem, buscou-se rebaixar o nível da albufeira, através do descarregador de fundo,
com uma vazão de 250 L/s. Conforme observa-se na Figura 2.31, após 5 dias a vazão das

33
melhorar
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Figura 2.30: Barragem Tınaztepe, vista do talude de jusante (fonte: ASDSO [33])

Descarga
(450 L/s)

Descarga
Volume de água do reservatório x103(m3)

(450 L/s) Falha


Descarga
(450 L/s)
Vazão (L/s)

Volume do
reservatório
Descarga Descarga
Descarga (450 L/s) (450 L/s)
(250 L/s)
Vazão das
infiltrações

0 2 4 6 8 10 12 14 16 (dias)

Figura 2.31: Vazão das infiltrações vs. Rebaixamento da albufeira ao longo do tempo
(fonte: ASDSO [33])

34
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

infiltrações atingiu um pico de 212 L/s e de seguida ocorreu uma redução abrupta para
188 L/s, provavelmente por colapsos internos devido ao processo do piping, junto a zona
do conduto do descarregador de fundo, pelo qual observo-se escorregamentos no talude
a jusante, junto a saída do descarregador de fundo, além do aumento dos assentamentos
no talude de jusante com a presença de sinkholes, como o observado nas proximidades do
coroamento da barragem com diâmetros de aproximadamente 7,5 m e profundidade da
ordem dos 4 m (Figura 2.32).

Figura 2.32: Sinkhole no talude de jusante próximo ao coroamento (fonte: ASDSO [33])

Diante deste quadro os operadores da barragem aumentaram a vazão dos descarrega-


só??? dor para 450 L/s, contudo, apesar da redução do volume do reservatório o qual resultou
num rebaixamento da carga hidráulica de 14,5 m, em aproximadamente 7 dias a vazão
das infiltrações atingiu um novo pico de aproximadamente 220 L/s, quando a barragem
veio a romper.

Principais anomalias: evidentemente que as anomalias observadas no caso da bar-


rever ragem Tınaztepe, o piping devido a presença se solos dispersivos já estavam em está-
gio avançado, quando inicialmente detetadas as primeiras anomalias observadas na Fi-
gura 2.30. Regista-se ainda que infelizmente os testes referente a dispercividade do nú-
cleo argiloso só foram realizados após o acidente da barragem. Segundo ASDSO [33],
as amostras de argila apresentaram, em geral, teores de finos entre 32% e 79% , com um
valor médio de 58,3%. As amostras de granulometria fina exibiram limites de liquidez
variando de 26 a 54 e índices de plasticidade variando de 8 a 29. De acordo com o Sistema

35
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Unificado de Classificação de Solos, as amostras foram predominantemente classificadas


como CL (argila de baixa plasticidade), com a ocorrência de alguns solos SC (areia argi-
losa). Algumas amostras foram identificadas como solos não plásticos (NP). Conforme
mecionados na primeira parte desta secção, argilas de plasticidade baixa a média (CL e
CL-CH) que contenha montmorilonita, tende a ser dispersivo.

Segundo ASDSO [33], numa segunda etapa, realizou-se ensaio de Pinhole, o qual re-
gistou um valor de 34,7%, classificado como dispersivo, realizou-se ensaio de Crumb, o
qual também classificou o solo como dispersivo, por fim realizou-se ensio de Double hy-
drometer o qual indicou um valor intermediário. Esses resultados evidenciam a natureza
dispersiva do material do núcleo argiloso, representando um alto risco para a estabilidade
da barragem de aterro.

Ressalta-se ainda, que os solos empregados em aterros de barragem devem ser sub-
metidos a ensaios para avaliação do potencial de dispersividade, sendo sua utilização
desaconselhada em casos afirmativos. Entretanto, no que se refere a identificação de
anomalias, é relevante observar as feições geológicas dos solos dispersivos normalmente
apresentam algumas manifestações podem fornecer indícios acerca da sua presença. em túneis? ou
que através de
Normalmente os solos dispersivos apresentam o desenvolvimento da erosão de tú- túveis?

neis, em zonas onde ocorre a concentração de fluxos, conforme ilustrado nas Figuras 2.33 (a)
e (b), estes eventos se desenvolve com maior facilidade na ocorrência de chuvas inten-
sas, ou mediante a remoção de camadas superficiais de proteção do solo, favorecendo
desenvolvem-se
o carreamento do material de solo disperso, resultando no aparecimento de cavidades.
Eventualmente, as cavidades se conectam formando um sistema de túneis contínuo no
qual a água fluindo na base do túnel, escava ainda mais as paredes laterais, resultando
em deslizamentos e aumento do tamanho do túnel.

Uma vez que os solo subsolo tenham se dispersado, o desenvolvimento da erosão in-
rever. confuso
e um pouco terna tende a evoluir, a depender da permeabilidade do solo para permitir que o material
repetido do disperso seja carreado através de fissuras e poros no solo. Esse movimento pode pro-
que está antes
mover a conexão dos túneis de erosão, formando um sistema de túneis contínuo no qual
a água fluindo na base do túnel, escava ainda mais as paredes laterais, resultando em
deslizamentos e colapsos do solo conforme ilustrado na Figura 2.33 (c). Em alguns casos
a evolução do processo de erosão pode resultar em ravinas de grande porte, conforme
ilustrado na ilustrado na Figura 2.33 (d).

Os solos dispersivos tendem a erodir com facilidade e devido a este facto nas escava-
ções de taludes podem evidenciar a existência de solos dispersivos, que conforme ilus-
trado nas Figuras 2.33 (e) e (f), podem apresentar sucos de erosão com a presenção de
túneis de erosão.

Uma outra evidência é a presença de sinkholes, conforme ilustrado nas Figuras 2.33 (g)
e (h), onde á possível observar as cavidades destes eventos a se desenvolver no processo
de piping.

36
explicar melhor
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

como???

(a) Ocorrência de túneis de erosão devido a dis- (b) Início da erosão do interna causada pela re-
solução do solo dispersivo [34]. moção da camada superficial do solo [34].

(c) Ocorrência de fissuras, escorregamentos e co- (d) Desenvolvimento de erosões de grande porte
lápsos em solos dispersivos [34]. e formação de ravinas [35].

(e) Formação de túneis de erosão e sucos de ero- (f) Ocorrência de sucos de erosão e túneis de ero-
são em taludes de escavação [34]. são em drenagem pluvial [34].

(g) Sinkhole em solos dispersivos [34]. (h) Depressão e ocorrência de sinkholes [35].

Figura 2.33: Evidencias geológico-geotécnicas em solos dispersivos.


de cenários de erosão
37
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2.1.6 Sufusão
percolação
Solos mal graduados e não coesivos, desprovidos da capacidade de retenção das próprias
partículas finas durante a ocorrência de fluxos, são propensos à erosão interna por sufu-
são. Os aluviões, assim como os colúvios em leitos de rios, solos de origem glaciais, ou
mesmo filtros de barragens que possuam distribuição granulométrica mal graduada ou
que apresentem um excesso de finos são alguns exemplos de solos suscetíveis a Sufusão.
A sufusão constitui um processo de erosão interna que envolve a migração seletiva
de partículas finas de um solo cuja distribuição granulométrica não satisfaz as condições
de auto-filtragem. As partículas mais finas são suficientemente pequenas para serem re-
movidas através das constrições entre as partículas maiores e pelo fluxo, deixando para
trás um esqueleto de solo íntegro formado pelas partículas mais grosseiras [36] [37], como
ilustrado na Figura 2.34.
Estes solos, são conhecido com internamente instáveis, pois nestas condições, em que
as tensões efetivas são transferidas para a matriz formada pelas partículas mais grossas,
poderá ocorrer o colapso interno do solo, caso as partículas de maior dimensão não su-
porte as tensões transferidas.

Estágio 1 Estágio 2

Mecanismo de sufusão em
solos suscetíveis

Figura 2.34: Solos potencialmente suscetíveis à Sufusão (adaptado de Fell [23])

A ocorrência de sufusão não requer necessariamente da presença de uma fissura no


solo para que ocorra a erosão, nem de uma superfície livre da qual as partículas se des-
prendam, como ocorre na erosão regressiva clássica. Segundo Fell [23], são suscetíveis
à sufusão, os solos amplamente graduados e solos com lacunas na graduação, como os
representados esquematicamente na Figura 2.35.

38
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

100
90 Areia e Silte Areia Pedregulho
80
70 Fração de finos
% que passa

60

50 Solo mal graduado


40
30
90
Solo grosso com
10
patamar de finos
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Tamanho das partículas (mm)
Caraterísticas granulométricas de

Figura 2.35: Solos potencialmente suscetíveis à sufusão (adaptado de Fell [23])

Modo de falha: o processo de sufusão poderá tornar o solo internamente instável,


a medida em que ocorre o processo de migração de finos e as tensões sobre o solo são
transferidas para as particulas mais grossas, o solo pode colapsar internamente provo-
cando o aparecimentos de lacunas internas, que num processo evolutivo se manifestarão
em sinkholers.
Conforme ilustrado na Figura 2.36 (a), os esforços oriundo dos fluxos podem provocar
a segregação do solo sucessível a sufusão, facilitando o deslocamento das partículas finas
para baixo, a erosão interna do solo se desenvolverá inicialmente de maneira silenciosa.
Porém, devido a migração dos finos, o solo internamente poderá colapsar favorecendo
a ocorrência de cavidades no interior do aterro, abrindo caminho para a ocorrência de
piping, podendo se manifestar em assentamentos e o aparecimento de fissuras, conforme
ilustrado na Figura 2.36 (b).
Contudo, num estágio mais avançado, o piping se desenvolverá, e o processo de co-
lapso interno do solo tenderá a acelerar, manifestando-se em sinkholes na superfície do
aterro. Neste estágio, torna-se possível a ocorrência de ressurgências, bem como a pre-
sença de partículas finas provenientes da matriz do solo erodido a jusante, conforme ilus-
trado na Figura 2.36 (c).
Por fim, na eventualidade das anomalias não serem devidamente saneadas, ou no caso
das medidas de mitigação, como o esvaziamento da albufeira ser efetivado, existe o risco
do processo de piping por sufusão provocar a abertura de brecha no aterro, a qual poderá
desencadear na rotura da barragem, particularmente na zona de fluxo mais intenso no
aterro, conforme ilustrado na Figura 2.36 (d).

39
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

As partículas finas do solo


segregam-se para as zonas
inferiores do maciço,
Linha freática movidas pelo fluxo de
percolação.

Maciço homogéneo

Superfície do terreno

Tapete drenate

(a) Segregação do solo, migração das partículas finas.

Assentamentos A medida que o solo internamente se


e fissuras desestabiliza, poderão ocorrer cavidades
internas no interior do maciço, assentamentos
Linha freática Assentamentos e o aparecimento de fissuras.
e fissuras
Maciço homogéneo

Cavidades
internas
Superfície do terreno

Tapete drenate

(b) Ocorrência de cavidades internas, fissuras e assentamentos.

Num estágio mais avançado, a erosão interna


Sinkhole
por sufusão poderá apresentar a ocorrência de
sinkholes e ressurgências.
Linha freática
Sinkhole
Maciço homogéneo
Sinkhole
Piping Ressurgências

Superfície do terreno

Tapete drenate

(c) Aparacimento de sinkholers e ressurgências.

Por fim, caso não ocorra medidas


mitigatórias, poderá ocorrer a rotura total do
maciço.

Rotura do maciço

(d) Colapso do maciço.

Figura 2.36: Ilustração de um modo de falha por sufusão

40
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Estudo de Caso: os casos de erosão interna por sufusão em barragens de aterro não
são frequentes na atualidade, graças aos critérios de filtragem atualmente implementados
na engenharia geotécnica. No entanto, é importante mencionar um incidente ocorrido em
1984 na barragem Brodhead, localizada na Pensilvânia, Estados Unidos.
Conforme relatado no artigo Evaluation and Monitoring of Seepage and Internal Ero-
sion [37], a Barragem PA 463 do Serviço de Conservação do Solo dos Estados Unidos (atu-
almente NRCS) também conhecida como Barragem Leavitt Branch ou Barragem Brodhead,
foi construida em 1976 para o controlo de cheias, com cerca de 259 m de comprimento e
27 m de altura, com uma largura de crista aproximada de 8 m, conforme apresentado na
Figura 2.37.

Figura 2.37: Barragem Brodhead, Pensilvânia (Fonte: Google Earth, 2016)

No que se refere ao projeto original da barragem, esta foi concebida com uma secção
homogénea, os aterros foram construídos a partir de solos silto-arenosos amplamente
graduado, não plástico, contendo cascalhos, seixos e blocos. A barragem foi construida
sobre uma fundação composta por xistos e silte-xistosos. Além disso, foi projetado um
sistema interno de drenagem, o qual abrange um tapete drenante localizado a jusante,
uma trincheira drenante posicionada a dois terços da distância entre a linha central e a
extremidade de jusante. Ambas as estruturas de drenagem interligadas por tubos drenan-
tes, envoltos por manta geotextl, visando conduzir os fluxos provenientes das drenagens
até a extremidade de jusante, conforme ilustrado na Figura 2.38.
Após 16 dias da ocorrência de um evento de amortecimento de cheia extraordinária,
em 4 de maio 1984, registou-se a ocorrência de um sinkhole com cerca de 3,6 m de diâme-
tro e aproximadamente 1 m de profundidade, localizado junto ao PK 4+13, na ombreira

41
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Tapete drenante

Locação de sinkhole

Tubo drenante

(a) Planta e locação de sinkholes

Montante Jusante - Locação de sinkhole


Tubo drenante

Secção Locada na ombreira


esquerda na El. 1168 Tapete drenante

(b) Secção A-A, locação de sinkholes

Figura 2.38: Barragem Brodhead, implantação e locação de sikhole [37]

42
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

esquerda, a aproximadamente 48 m da linha central a jusante, conforme ilustrado na Fi-


gura 2.39.

(a) Vista do talude de jusante, localização do sinkhole (b) Inspeção em sinkhole

Figura 2.39: Ocorrência de sinkhole no talude de jusante [38]

Durante a investigação, constatou-se que os aterros dos maciços enquadravam-se na


faixa granulométrica dos solos internamente instável e amplamente graduados, com finos
e areias finas potencialmente carreáveis, deixando para trás a areia e cascalho, conforme
ilustrado na Figura 2.40
#140
#200

3/4"
3/8"
#80

#40

#20

#10
#60

#4

1"
2"
3"
Sedimentação Peneiração 4"
100
Drenos
Percentagem de material passado (%)

90
80
70
60 Maciços estabilizadores
50
40
Finos não plástico Faixa de distribuição
30 granulométrica de partícula
20 de solos grosseiros e de
classificação ampla,
10 suscetíveis a sufusão.
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Diâmetro das partículas (mm)
Fina Média Gros.
ASTM Argila Silte Cascalho Pedregulho Bloco
Areia

Figura 2.40: Caracterização granulométrica dos aterros e drenos [38]

Principais anomalias: visando identificar a extensão do problema, realizou-se um


minucioso trabalho de escavação com equipamentos pesados para abertura de trinchei-
ras, para aferir a profundidade das cavidades, bem como para identificação de sinkholes
adicionais. A Figura 2.38, apresenta o mapa das cavidades e sinkholes identificados na
zona se maior fluxo da barragem, devido a sufusão.

43
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

(a) Inspeção em sinkhole (b) Sinkhole de pequeno diâmetro

(c) Sinkhole grande diâmetro (d) Cavidade horizontal no aterro

(e) Pormenor do sinkhole, com ausência de finos

(f) Ocorrência de material carreado em tubo drenante

Figura 2.41: Ocorrência de sinkhole em aterro, devido a sufusão [38]


44
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

Salienta-se a observação de ausência de finos no interior dos sinkholes e cavidades,


conforme apresentado na Figura 2.41 (e).
A Figura 2.41 apresenta o aspeto das anomalias observadas. Em alguns casos identificou-
se sinkholes com cerca de 1,8 m de diâmetro e 9 m de profundidade, como o ilustrado nas
Figuras (a) e (b), entretanto, algumas cavidades apresentaram diâmetro na ordem de 3 m,
como o ilustrado na Figura (c). Registou-se ainda a ocorrência de algumas cavidades in-
ternas horizontais, como apresentado na Figura (d).
No que se refere a presença de finos nos tubos de drenagem, as investigações identifi-
caram a ocorrência de material (finos) oriundo dos aterros (Figura 2.41 (f)). Porém, muitas
vezes os finos podem se concentrar nas cotas mais baixas do aterro e trabalhar como um
filtro de areia, impedindo a saída desta material a jusante. Ressalta-se que não houve
observação desta anomalia antes da ocorrência do piping.
Estes eventos demonstram que a sufusão pode ocorre de maneira muito ”silenciosa”,
antes de manifestar as primeira anomalias, a migração de finos no interior dos aterros
podem se desenvolver sem apresentar grandes anomalias.
Ao se utilizar solos mal graduados ou com granulometria extensa , importa verificar
os critérios de alto filtram do solo (aluviões, colúvios em leitos de rios, solos de origem
glaciais).
Contudo, os assentamentos, assim como a ocorrência de finos no sistema de drenagem
a jusante, poderão dar indícios da ocorrência de sufusão em estágios iniciais.
Além destes eventos, conforme apresentado neste capítulo, a ocorrência de cavidades
e sinkholes poderão demonstrar este fenómeno em estágios mais avançados.

2.1.7 Levantamento ou Heave


O fenómeno de heave caracteriza-se pela movimentação acedente de uma porção do solo,
devido as forças de percolação. Nestas condições o solo poderá apresentar um compor-
tamento de uma agua fervente, numa mistura de solo e agua, conforme ilustrado na Fi-
gura 2.42.

(a) Wsolo = F água (b) Wsolo < F água (c) Solo instável

Figura 2.42: Ilustração do processo de heave (Adaptado de Civil Engineering RWTH Aa-
chen University [39])

45
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Terzaghi [40], que desenvolveu uma equação para avaliar o ”heave”em cortinas auto-
portantes. A falha por heave geralmente ocorre em uma fundação de solos com baixa
coesão e relativamente permeáveis.
Quando os solos superficiais a jusante de uma barragem é relativamente menos per-
meável, contrastando com os solos subjacentes, de modo a reter a saída dos fluxos, provo-
cando a elevação das tensões efetivas e favorecendo o artesianismo e a ocorrência de fluxo
acedente nesta zona. A medida em que as forças de percolação aumentam e se tornam
maior que a força do peso efetivo e da coesão do solo, o processo de heave se iniciará. Este
fenómeno é frequentemente caracterizada pela presença de sand boils, conforme apresen-
tado na Figura 2.43

Solo com baixa


permeabilidade
Sand boil

Princípio de piping

Solo com elevada Tensão efetiva igual


permeabilidade a zero neste ponto

Figura 2.43: Ilustração do processo de heave a jusante de uma barragem [36]

Modo de falha: de modo semelhante aos casos de erosão interna por carreamento
de partículas em fundações, apresentado no item 2.1.2, a erosão interna associada ao pro-
cesso de heaving ocorrerá, porém este processo se dará em virtude das forças de percolação
acedente a jusante da barragem.
Neste sentido, nas zonas a jusante, nas proximidades da barragem, nos cenários em
que se verifica um contraste de permeabilidade entre o solo superficial e os estratos subja-
centes, é prática comum a implementação de medidas para aliviar as pressões ascenden-
tes resultantes dos fluxos presentes nas camadas mais permeáveis. Tais medidas incluem
a instalação de valas drenantes, poços de alívio, entre outras medidas pertinentes.
Caso as medidas de alívio não sejam implementadas, os fluxos acedentes poderão
provocar o fenómeno de heave, como mostrado na Figura2.44(a).
Conforme ocorre o processo de heaveing, ocorrerá o aparecimento de ressurgência e
sand boil, Tal como ilustrado nas Figuras2.44(b) e (c). Consequentemente, o desenvolvi-
mento do piping se iniciará podendo provocar o aparecimento de fissuras, assentamentos,
sinkholes, ou mesmo a instabilização do talude, como apresentado nas Figuras2.44(e) e (f).
Por fim, caso medidas mitigadoras ou para o saneamento das anomalias sejam tomas,
ocorrerá a rotura da barragem (Figura2.44(g)).

46
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

(a) Heave (d) Piping

(e) Desenvolvimento
(b) Ressurgência da erosão

(c) Sand boil (f) Instabilização

(g) Rotura

Figura 2.44: Modo de falha por heave (adaptado de Robbins [41])

Estudo de Caso: apesar de comum a ocorrência de impulsão a jusante de barragens,


não há muitos registos específico do processo de heave a jusante de barragens de aterro.
Faz-se referência ao incidente ocorrido na Barragem Lateral Esquerda (BLE) no Sítio
Pimental da Usina Hidroelétrica de Belo Monte no Brasil, a qual registou elevados níveis
de impulsão a jusante, durante o primeiro enchimento, levando os projetistas e constru-
tores a executar uma extensa berma sob esta zona (aproximadamente 600 m de extensão),
visando salvaguardar a estabilidade da estrutura e consequentemente proteger a mesma
contra o processo de heave, conforme relatado no artigo Intervention carried out in the Left
Side Dam of the Pimental site of the Belo Monte HPP during the filling of the reservoir [42].
Trata-se de uma barragem extensa, com cerca de 5 000 m de comprimento, construída
principalmente sobre solos aluvionares (com espessura variável entre 4,5m e 8m), mas
tendo por critério a interseção dos mesmos com um cut-off desincorporado a montante
até atingir os solos ou rochas com menor permeabilidade nas camadas mais profundas.
No que se refere a geologia, a rocha predominante em toda a extensão da barragem
é o migmatito, contudo, as anomalias se apresentaram principalmente numa zona onde
a fundação predominante é caracterizada pela rocha denominada tremolitito e solos re-
siduais de tremolitito (entre os PK 205 e 235), cujas permeabilidades se mostram mais
elevadas, conforme ilustrado nas Figuras 2.45 e 2.46.
Conforme relatado por Bandeira [42], o enchimento da albufeira teve início no dia

47
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Barragem
Lateral Esquerda

Loca da intervenção

Figura 2.45: BLE, zona de ocorrência das anomalias (adaptado de Bandeira [42])

Fluxo 100,00 Berma de


5D 6A
3C proteção (5D)
NPA: 97,00 93,00
90,50 90,00 NME: 94,20 89,00
88,20
1C
1C Aluvião Argiloso
Aluvião Arenoso

LEGENDA
Solo residual de tremolitito
1C – Solo compactado
Tremolitito 3C – Areia compactada
5D – Enrocamento de proteção
6A – Rip-rap

Figura 2.46: BLE, secção típca (adaptado de Bandeira [42])

24/11/2015 e entre os dias 16 e 23/12/2015, quando o nível do reservatório se encon-


trava em torno da El. 92,80 m (4,2 m abaixo do NPA), foram observadas leituras acima
das previstas em diversos piezómetros instalados na zona de jusante, comportamento
esse que levou à decisão do início imediato da execução de bermas de equilíbrio, cons-
tituído de enrocamento com finos, visando à recuperação do fator de segurança quanto
ao levantamento da fundação, tendo em vista o provável agravamento da situação com a
iminente subida do reservatório até a El. 97,00m.
As Figuras ??(a) e (b) apresentam uma vista geral da berma executada a jusante da
BLE, bem como a vista dos poços de alívio instalados a jusante da berma, visando aliviar
as impulsões acedentes nas fundações.

Principais anomalias: as investigações realizadas na BLE indicaram a ineficiência no


sistema de vedação ”cut-off”, cujas bases apoiaram-se sobre uma fundação relativamente

48
2.1. ANOMALIAS ASSOCIADAS A EROSÃO INTERNA

(a) Vista da berma a jusante da BLE [42] (b) Drenos a jusante da berma [42]

Figura 2.47: BLE vista de jusante, berma e drenos

permeável (solo residual de tremolitito), permitindo que a água percolace sem maiores
perdas de carga até a fronteira de jusante (aluvião argiloso), resultando num contraste
de permeabilidade elevado, conforme apresentado nos estudos de percolação, conforme
apresentado na Figura 2.48, o contraste de permeabilidade entre o aluvião argilo-siltoso
superior eo solo residual de tremolitito subjacente, teria que ser de aproximadamente 100
vezes.

Permeabilidades dos materiais:


BARRAGEM LATERAL ESQUERDA BARRAGEM ESQUERDO - E.226
DE PIMENTAL - E.226
NÍVEL D'ÁGUA - 96,50 m - SIMULAÇÃO DOS NÍVEIS PIEZOMÉTRICOS - Rocha de tremolitito - 5x10-4 cm/s
NÍVEL D'ÁGUA - 96,50 m - SIMULAÇÃO DOS NÍVEIS PIEZOMÉTRICOS
EQUIPOTENCAIS
- Solo residual de tremolitito - 5x10-3 cm/s
Permeabilidades dos materiais:
- Solo arenoso aluvionar - 5x10-3 cm/s
- Rocha de tremolitito - 5x10-4 cm/s;
- Solo
- Solo residual argiloso
de tremolitito aluvionar
- 5x10-3
- Solo Arenoso Aluvionar - 5x10-3 cm/s;
cm/s; - 5x10-5 cm/s
- Aterro
- Solo Argiloso Aluvionarcompactado
- 5x10-5 cm/s; - Kh=4x10-6 cm/s
- Aterro de solo Compactado - Kh=4x10--6 cm/s
Kv=1x10--6 cm/s Kv=1x10-6 cm/
87.5 88 88.5
89.5
90.5

89
90
91.5

91

Figura 2.48: Estudo de percolação simulando a condição de piezometrias corresponden-


tes a N.A. de montante de 96,50 m [42]

No que se refere a ocorrência de anomalias relacionadas ao processo de heave, no caso


da BLE os piezómetros instalados a jusante da barragem foram eficientes para alertar a
ocorrência de artesianismo, devido as impulsões elevadas nas fundações, porém, em ca-
sos em que as forças acedentes de impulsão a jusante de barragem evoluam num processo
de heaving, poderão se observar expansão ou elevação do terreno nas zonas a jusante, res-
surgências e a ocorrência de sinkholes.

49
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2.2 Anomalias associadas ao movimento de grandes massas


Os fenómenos de movimento de massa em taludes de barragens de aterro, encontros ou
fundações estão intrinsecamente associados aos processos de instabilização de taludes,
os quais por por diversos fatores se traduzem num movimento de grande massa movida
pela força gravitacional no sentido descendente. Segundo Guerra [43], estes movimentos
podem se traduzir em desmoronamentos e escorregamentos.

Fissuras Calcário Calcário


Calcário
Pressões Grés

Argila
Marga Marga

(a) (b) (c)

Figura 2.49: Exemplos de desmoronamentos (adaptado de Guerra [43])

Depósito
de vertente
Argila

Substrato
Argila
Estrada Estrada

(a) (b)

Figura 2.50: Exemplos de escorregamentos (adaptado de Guerra [43])

No que se refere ao processos de desmoronamentos, os quais podem ocorrer princi-


palmente nos encontros e fundações, frequentemente estão associados à queda de blocos
rochosos, motivada pela orientação desfavorável das descontinuidades existentes no ma-
ciço, nas quais se verifica uma sucessiva diminuição da resistência ao corte, decorrente de
processos de meteorização ou da ação da vegetação, conforme ilustrado na Figura 2.49(a).
Outra circunstância propensa a desencadear desmoronamentos é aquela em que a falé-
sia composta por material rochoso, o qual repousa sobre um substrato mais deformável,
conforme ilustrado na Figura 2.49(b). Verifica-se ainda, na Figura 2.49(c) outra o casos em
que a erosão progressiva dos estratos inferiores pode resultar na perda de sustentação dos
estratos superiores, culminando, consequentemente, na sua eventual queda de blocos.
No que concerne aos escorregamentos, os quais podem ocorrer tanto nos aterros,
quanto nas fundações, diferentemente do caso anterior, ocorrem frequente em períodos
de curta duração, manifestando-se de forma rotacional, cuja superfície de deslizamento é

50
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

curva, conforme apresentado na Figura 2.50(a). Também podem se manifestar de modo


planar, estando associado à descontinuidades nos maciços rochosos, ou mesmo no en-
contro de materiais com resistência e deformabilidade contrastante, conforme ilustrado
na Figura 2.50(b).
O movimento gravitacional de massas em barragens de aterro pode estar associado
a diversos fatores, tais como a ocorrência de cheias excecionais, esvaziamento rápido da
albufeira, cargas elevadas, neve, gelo, sismos, propriedades inadequadas dos materiais
de aterro, fundações inapropriadas, deformações excessivas ou mesmo alterações na de-
clividade dos taludes, escavações, entre outros. Esses eventos podem provocar o desequi-
líbrio entre as forças atuantes e a capacidade de resistência dos aterros e/ou da fundação,
levando-os a se deslocar num movimento gravitacional de massa até a ocorrência do re-
equilíbrio das forças atuantes e da resistência dos materiais.
Segundo Terzaghi [44] [45], as instabilização de taludes podem ser agrupadas em três
categorias, externas, internas e intermediárias, conforme apresenta-se no Quadro 2.1

Quadro 2.1: Principais causas do movimentos de massa [44].

Causas Descrição

Externas São devidas a ações externas que alteram o estado de tensão atuante
sobre o maciço. Esta alteração resulta num acréscimo das tensões
de corte, que, igualando ou superando a resistência intrínseca do
solo, leva o maciço à condição de rotura, por exemplo, aumento da
inclinação do talude, deposição de material ao longo da crista do
talude, efeitos sísmicos.
Internas São aquelas que atuam reduzindo a resistência ao corte do solo
constituinte do talude, sem ferir o aspeto geométrico visível, po-
dendo ser: aumento de pressão na água intersticial; decréscimo da
coesão.
Intermediárias Efeitos da água subterrânea, efeitos de resfriamento, intemperismo
das rochas, mudanças na cobertura vegetal dos taludes.

Conforme consta no [4, Curso de exploração e segurança de barragens], pode manifesta-


se através de fenómenos como deslizamentos superficiais ou profundos, deslocamentos
e fendilhações.
Deslizamentos superficiais em taludes a montante podem resultar da adoção de de-
clives excessivamente íngremes para condições de esvaziamento rápido da albufeira, não
representando uma ameaça imediata à integridade das barragens. No entanto, podem
ocasionar a obstrução de estruturas hidráulicas ou provocar deslizamentos profundos de
maiores dimensões.
Quanto ao talude a jusante, deslizamentos superficiais podem indicar uma perda de

51
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

resistência devido à saturação do material de aterro, decorrente da percolação ou escor-


rência superficial de água. Cargas adicionais, como a ação da neve ou de outras estrutu-
ras, podem agravar as condições.
Os deslizamentos profundos representam uma ameaça significativa à segurança da
barragem, caracterizando-se geralmente pela formação de escarpas definidas, protube-
râncias junto ao pé do talude (resultantes de movimentos horizontais e rotacionais da
massa do aterro) e fendas em forma de arco.

2.2.1 Instabilidade por excesso de pressão intersticial


Durante a fase construtiva, o excesso de pressão intersticial nos aterros e fundações de-
vem ser verificado visando evitar o colapso. Conforme abordado por Fell [23], ao ser
compactar aterros em barragens, o teor de água é crucial para uma compactação ideal.
Normalmente, o solo é compactado a um grau de saturação de 90% a 95%, fortemente
sobre-consolidado pelo processo de compactação.
O incremento da pressão intersticial no solo pode manifestar-se concomitantemente
aos procedimentos de elevação dos aterros, particularmente em solos caracterizados por
uma permeabilidade reduzida. Em circunstâncias onde a velocidade do aumento de ten-
sões resultante das elevações do aterro é aplicada aos materiais nas zonas inferiores, de
maneira tão rápida que não haja tempo para drenagem e dissipação da água.
Conforme ilustrado circulo de Mohor apresentado na Figura 2.51, o acréscimo na pres-
são intersticial reduz a tensão efetiva, podendo levar o solo ao limite de resistência ao corte
e ocasionar o colapso do mesmo.

σ'h σ'v σ'


Δu
Figura 2.51: Efeitos do acréscimo de pressão intersticial no solo

O excesso de poro pressão do solo apresenta uma tendência à redução ao longo do


tempo, à medida que ocorre o processo de consolidação, mediante drenagem e dissipação
da água. Contudo, deve se ter atenção para eventos de alteamento que possam ocorrer
em fases posteriores, quando a barragem estiver em operação, com as linhas de fluxo já
estabelecidas. Nessas condições, a pressão intersticial pode atingir níveis críticos.

52
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Modo de Falha: à medida que ocorre o alteamento dos aterros, é crucial prestar es-
pecial atenção à zona vedante no núcleo (Figura 2.52(a)). Como previamente mencionado,
o excesso de pressão intersticial tende a desenvolver-se nas zonas de menor permeabili-
dade da fundação do aterro, podendo manifestar-se tanto na zona a montante quanto na
de jusante da barragem.
Conforme ilustrado na Figura 2.52(b), se o alteamento dos aterros ”saturados”ocorrer
de forma relativamente rápida, poderá surgir fissuras na superfície da zona vedante. Es-
tas fissuras tenderão aumentar à medida que os alteamentos dos aterros progridem e as
pressões nas zonas inferiores são acrescentadas (Figura 2.52(c)).
Por fim, a rotura ocorrerá caso as condições de drenagem não favoreçam a redução
das pressões intersticiais (Figura 2.52(d)).

Núcleo argiloso Fissuras

(a) (b)

Fissuras Rotura
Cunha de rotura

(c) (d)

Figura 2.52: Modo de falha por excesso de pressão intersticial

Estudo de caso: faz-se referencia ao incidente ocorrido na barragem Açu, situada


no rio Piranhas, aproximadamente 6 km a montante da cidade do Açu, no Estado do
Rio Grande do Norte, e dista cerca de 250 km de Natal. Conforme conta no livro Lições
aprendidas com acidente e incidentes em barragens e obras anexas no Brasil [8], a construção
iniciada em 1979 e finalizada em 1983, teve como objetivo principal atender à demanda de
abastecimento de água para o Projeto de Irrigação do Baixo Açu. Configurando-se como
uma estrutura de barragem de terra, sua extensão atinge aproximadamente 2.550 m.
A secção típica do projeto original é apresentada na Figura 2.54. Os materiais em-
pregados na construção da barragem do Açu fundamentaram-se primariamente nos se-
dimentos circunvizinhos ao local. Foram utilizados os solos aluvionares silto-argilosos
de coloração escura (IIA), presentes nas margens do rio, o cascalho com matriz argilo-
arenosa (IB) identificado em um terraço na margem esquerda, bem como os depósitos

53
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Descarregador
de cheias

Casa de
força

Barragem Tomada de
do Açu água

Figura 2.53: Arranjo geral da barragem Açu

arenosos (IC) situados no leito do rio, caracterizados por granulometria média a grossa.
O material rochoso foi extraído de uma pedreira de granito localizada na margem es-
querda.

Figura 2.54: Barragem Açu - Secção típica original [8]

A identificação de uma camada aluvial na fundação, com aproximadamente 30 me-


tros de espessura, composta por areia de granulometria média e grossa, intercalada com
bolsões de pedregulho, suscitou a necessidade de implementação de uma trincheira de
corta águas, posicionada na base montante da barragem e atingindo, em profundidade,
a superfície do substrato rochoso subjacente (Figura 2.55).
Durante a construção da barragem, registou-se dois deslizamentos quase simultâneos
em dezembro de 1980 [8] [47]. Estes incidentes ocorreram após a rápida elevação do aterro
de solo fino (IIA) em aproximadamente um mês, destinado a funcionar como uma ”ense-
cadeira”para prevenir inundações. Os deslizamentos, separados por 10 metros, abrange-
ram cada um cerca de 150 metros de extensão, com 14 metros de altura e talude 1,0V:1,5H.
Notavelmente, as superfícies de ruptura desenvolveram-se completamente no maciço ar-
giloso, adotando uma configuração rotacional.

54
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

(a) Vista geral e cortina corta águas a montante (b) Pormenor da escavação da cortina corta águas

Figura 2.55: Barragem Açu - vista da trincheira corta águas [46]

Contudo, a obra prossegui e somente após um ano, em 15 de dezembro de 1981,


quando a construção do aterro da barragem central atingia aproximadamente 35 metros
de altura, apenas 5 metros abaixo do nível final do projeto, ocorreu a rotura do talude
montante da barragem.

Figura 2.56: Barragem Açu - Rotura da barragem [47]

Principais anomalias: o primeiro indício do incidente manifestou-se com o surgi-


mento de fissuras na praça de construção, de forma não contínua, ao longo da linha que
define a superfície de jusante do núcleo da barragem. Posteriormente, constatou-se que

55
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

essas fissuras adquiriram continuidade ao longo de uma extensão considerável. Logo em


seguida, surgiram novas fissuras paralelas às mencionadas anteriormente, acompanha-
das do progressivo aumento de sua abertura. Iniciou-se, então, o movimento descen-
dente do talude montante da barragem, acompanhado pelo deslocamento da sua berma,
estendendo-se de maneira contínua por aproximadamente 600 metros.

O intervalo entre a deteção das primeiras fissuras e a consumação da rotura do talude


montante foi de aproximadamente 30 minutos. A Figura 2.57 regista o desenvolvimento
das fissuras longitudinais na coroamento da barragem, pós rotura.

Figura 2.57: Barragem Açu - Inspeção na coroamento pós rotura [8]

Conforme se ilustrado na Figura 2.58, a cunha de rotura se desenvolveu ao longo do


material vedante, silto-argilosos (IIA), provavelmente com baixa permeabilidade e satu-
rado. Conforme relatado pelo DNOCS [8] em março de 1982, o relatório final sobre as
causas do acidente atribui o escorregamento às elevadas pressões neutras desenvolvidas
no material (IIA) que compunha o núcleo e a porção inferior da berma montante.

Por fim, à luz da experiência advinda da barragem Açu, no contexto da deteção de


anomalias durante a fase construtiva decorrentes de excesso de pressões intersticiais, uma
atenção especial deve se ter aos materiais de baixa permeabilidade na zona vedante da
barragem. Esse foco deve ser particularmente direcionado à identificação de fissuras lon-
gitudinais no topo do aterro.

56
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Figura 2.58: Barragem Açu - Secção da barragem após o rompimento [8]

2.2.2 Instabilidade devido ao esvaziamento rápido da albufeira

O esvaziamento rápido da albufeira pode representar uma condição de carga crítica que
afeta a estabilidade do talude de montante das barragens de aterro e encostas adjacentes,
devido a diminuição da pressão hidrostática estabilizadora da albufeira e variações de
pressão intersticial no corpo do solo.
Durante a fase de exploração, normalmente são estabelecidos os caminhos de perco-
lação nas barragens e encostas adjacentes, contudo, se o nível da albufeira for reduzido
subitamente ou de forma rápida, de modo que a linha de saturação venha a permanecer
relativamente mais elevada que o nível da albufeira, devido o tempo de drenagem do solo
saturado, associada a redução do efeito estabilizador da água nos taludes a montante.
Netas condições a instabilidade do talude poderá surgir à medida que as tensões to-
tais devido a impulsão da água sob a face de montante, provocará o desequilíbrio das
forças atuantes e a ocorrência da pressão intersticial, associado ao peso próprio do solo,
favorecendo a ocorrência das tensões de corte na zona da cunha de rotura no interior do
solo, conforme ilustrado na Figura 2.59 [48][45].

Linha de saturação
Linha de Excesso de
NA inicial saturação Peso do solo pressão intersticial
Cunha de rotura
Δh
NA final

Solo saturado

Solo saturado

Pressão
Condição inicial hidrostática Esvaziamento rápido

Figura 2.59: Esvaziamento rápido da albufeira (adaptado de Narita [48])

57
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Modo de falha: ilustras-se na Figura 2.60 um modo de falha hipotético da rotura


de uma barragem por esvaziamento rápido da albufeira. Salienta-se que os projetos de
barragens de aterro, devem contemplar a verificação de estabilidade com fluxo transiente,
visando a verificação da segurança da barragem na ocorrência um esvaziamento rápido
da albufeira. Contudo, em situações em que se verifique uma variação rápida no nível da
albufeira, em que não haja tempo para a drenagem do aterro, o talude de montante sofrerá
solicitações da impulsão da água e elevação, associada a elevação da pressão intersticial,
conforme já referido.
Conforme se verifica na Figura 2.60(c), devido ao esvaziamento rápido, poderá ocorrer
o escorregamento superficial do talude de montante, em que se não saneada a anomalia,
em se elevar o reservatório novamente, poderá ocorrer a rotura total da barragem. Entre-
tanto, em alguns casos a rotura total da barragem, poderá ocorrer.

Superfície de
Linha de saturação escorregamento Linha de saturação
Nível de Pleno
Armazenamento (NPA) Projeção do NPA

Esvaziamento rápido

(a) (b)

Linha de saturação
Escorregamento
parcial Colapso total da barragem
Elevação do NA.
Esvaziamento
rápido

(c) (d)

Figura 2.60: Modo de falha por esvaziamento rápido da albufeira

Estudo de caso: faz-se referencia ao caso da Barragem Walter Bouldin, construída


em 1967, nas proximidades da cidade de Wetumpka, Alabama. Em 10 de fevereiro de
1975, ocorreu um colapso por deslizamento do talude de montante durante o esvazia-
mento rápido de aproximadamente 10 m da albufeira em 5,5 horas (Figura 2.61).
Conforme relatado no artigo do FEMEA [37] Case 4 – Walter Bouldin Dam a barragem
foi construída com o propósito de geração de energia hidroelétrica. Diques de terra fo-
ram erigidos para formar um ”lago de captação”. A água é conduzida para o lago de
captação através de um canal de energia proveniente do vizinho Jordan Lake. Dois di-
ques ladeiam a tomada de água na extremidade sul do lago de captação, local este onde
ocorre o acidente (Figura 2.62).
A Figura 2.63 apresenta o pormenor da zona de abertura da brecha, onde é possivel

58
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Figura 2.61: Barragem Walter Bouldin, vista de jusante, antes e depois da rotura [49]

Canal de Dique
adução

Albufeira Casa de força


Forbay
Dique

Figura 2.62: Barragem Walter Bouldin, arranjo geral da casa de força e diques [49]

verificar que o dique aumenta de dimensão, devido ás escavações para construção da


Casa de Força. Observa-se ainda um tratamento com grouting na fundação.
No que se refere a secção típica do dique, na zona onde ocorreu o acidente, verifica-se
que , a altura do dique é aproximadamente 19 m na zona de montante e 50 m na zona de
jusante, o talude de montante protegido é por um rip-rap e suportado por uma camada
de argila com inclinação 1V:1.8H, na zona de jusante verifica-se a existência de sistema de
drenagem e proteção rip-rap em toda extensão do talude (Figura 2.64).
O acidente ocorre por volta das 1h30 da manhã em 10 de fevereiro de 1975. As ob-
servações da ação inicial que desencadeou a falha foram dificultadas pela escuridão e
pelo fato de que as luzes ao longo da crista se apagaram no início da rotura. No entanto,
houve um consenso geral entre os relatos iniciais dos observadores oculares de que um
deslizamento raso em forma de depressão, possivelmente com 7 m de profundidade, se
desenvolveu no topo do aterro, próximo à Tomada de Água. O som de água foi ouvido
vindo através da parte superior do dique. A rotura se desenvolveu bastante rapidamente,

59
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Local da brecha

Fluxo
Cortina de
Grouting

Figura 2.63: Pormenor da zona de abertura de brecha [49]

Projeção da Tomada de Água

Projeção da Casa de Força

Aterro compactado

Figura 2.64: Secção do dique na zona de rotura [49]

erodindo de cima para baixo.


Ao amanhecer, a erosão havia progredido abaixo do nível do deck da central elétrica.
Fluxos intensos continuaram através da rotura por cerca de 14 horas, até que o Reserva-
tório Jordan interligado foi baixado até a elevação de uma saliência de terreno elevado na
entrada do Reservatório Bouldin [49].

Principais anomalias: um interessante trabalho foi desenvolvido por Duncan [50],


no qual realizou-se análise de estabilidade simulando o caso da barragem de Walter Boul-
din, posteriormente a empresa Geo-Slope apresentou em seu tutorial esta mesma análise
utilizando o software Slope/W [51], conforme verifica-se na Figura 2.65, a secção típica
adotada para análise, com os respetivos parâmetros.

60
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Cor Material Peso Coesão ϕ Coesão R ϕ Linha piezom.


Espec. (kPa) apos
(°) (kPa) R (°)
(kN/m3) rebaixamento

Cascalho Argilo-Arenoso

Areia Argilosa Siltosa 20,1 11,5 31,1


Argila Cretácea 19,5 8,6 11,0

Silte Micáceo 19,3 10,5 1,5


Elevação (pés)

22,0 0 0

Antes do rebaixamento El. 525 pés

Depois El. 220 pés

Distância (pés)

Figura 2.65: Secção do dique na zona de rotura [51]

A Figura 2.66 apresenta a superfície de escorregamento e o fator de segurança calcu-


lado pelo programa SLOPE/W usando o método de resistência não drenada de 3 estágios.
O fator de segurança é 1,03 [51], essencialmente equivalente ao fator de segurança obtido
por Duncan [50].
Elevação (pés)

Antes do rebaixamento El. 525 pés

Depois El. 220 pés

Distância (pés)

Figura 2.66: Barragem Walter Bouldin, análise de estabilidade [51]

Verifica-se que a cunha de rotura crítica em caso de esvaziamento rápido, normal-


mente interceta o coroamento da barragem e o talude de montante.
No que se refere a ocorrência de anomalias, no caso da barragem Walter Bouldin,

61
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

devido a natureza abrupta do rebaixamento e das condições de luminosidade, não houve


tempo para uma inspeção antes da rotura de mesma. Contudo, a legislação portuguesa no
Artigo 39º do RSB [3], prevê inspeção e verificação de segurança da barragem, no caso de
esvaziamentos rápidos das albufeiras não previstos nas regras de exploração, que possam
originar situações de risco elevado ou significativo para as respetivas encostas e para as
barragens de aterro em que a impermeabilização é assegurada por elementos constituídos
por solos compactados.
Neste sentido, deve-se ter especial atenção no coroamento da barragem e talude de
montante, visando a identificação de fissuras, assentamentos ou indícios de deformações.
Conforme ilustrado na Figura 2.67, muitas vezes a deteção de fissuras em barragem de
aterro pode ser difícil de perceber sem a remoção das camadas superficiais dos revesti-
mentos ou pavimentação do aterro (Figura (a) [52]), contudo em especial no coroamento,
deve se ter atenção aos alinhamentos do sistema de drenagem, postes de iluminação e
guarda-corpo, os quais costumam a apresentar fissuras ou deformações, conforme apre-
sentado nas Figuras (b) e (c).

(a)

(b) (c)

Figura 2.67: Anomalias associadas ao esvaziamento rápido

2.2.3 Instabilidade nos maciços

Barragens devidamente projetadas são dotadas de sistemas de drenagem concebidos para


regular os fluxos na zona drenante a jusante da estrutura. Todavia, eventuais equívocos
no dimensionamento do sistema de drenagem ou problemas de obstrução, como a colma-
tação, podem resultar no aumento do nível freático. Nessas circunstâncias, a estabilidade
dos taludes de jusante pode ser comprometida devido à sobrecarga induzida pelo peso
da água incidente nas zonas superiores do talude, atuando de modo a desequilibrar a

62
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

estrutura e favorecendo a ocorrência de escorregamentos no formato de cunha, com aflo-


ramentos nas zonas inferiores do talude.

Modo de falha: como exemplificado na Figura 2.68(a), quando uma barragem opera
conforme o esperado, com o sistema de drenagem funcionando adequadamente e a linha
freática seguindo um padrão que conduz os fluxos através do sistema de drenagem, o
fator de segurança permanece elevado (Fs = 1,44). No entanto, caso ocorram problemas no
sistema de drenagem, resultando em uma elevação da linha freática, o fator de segurança
é reduzido (Fs = 0,98), conforme ilustrado na Figura 2.68(b).

1,452
0,980

Linha piezométrica Linha piezométrica

(a) Nível freático normal (b) Nível freático sobrelevado

Figura 2.68: Inabilidade por elevação do nível freático

Estudo de caso: faz-se referencia ao caso da barragem Santa Branca, cujos parâme-
tros serviam para a análise de estabilidade apresentada na Figura 2.68. Trata-se de uma
barragem de secção homogénea construida no rio Paraíba do Sul, município de Jacareí, no
estado de São Paulo, construida em 1962 para geração hidroelétrica (Figura 2.70) [8][11].
A barragem possui 320 m de comprimento e altura de 55 m, com taludes de montante
e jusante variados. O sistema de drenagem interna da barragem consiste em um filtro
vertical de areia conectado a um tapete drenante de espessura variável, composto por
areia compactada. Nas zonas dos encontros, situadas acima da curva de nível de 580 m,
o tapete drenante é descontinuado. A capacidade do tapete drenante de areia é reforçada
por um conjunto de tubos de ferro, com diâmetro variando entre 200 e 250 mm, os quais
conduzem as águas coletadas até o pé de jusante da barragem, conforme ilustrado na
Figura 2.70.
O sistema de drenagem é complementado por 71 poços de alívio, os quais possuem
diâmetro de 100 mm e alcançam uma profundidade de 6 m, sendo perfurados na rocha
decomposta da fundação. Estes poços estão alinhados com o filtro vertical, ao longo da
extensão longitudinal correspondente ao dreno horizontal. Contudo, a cortina de poços

63
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Descarregador Tomada
de cheias de água

Casa de força

Subestação Barragem
Santa Branca

Figura 2.69: Arranjo geral da UHE Santa Branca (Google Earth 29/01/2024)

Solo compactado
Filtro vertical

Solo compactado

Poços de alívio Transição

Tubo drenante Areia grossa

Poço drenante
Poços de alívio Rocha decomposta
Cortina de injeção 0 20 40

Figura 2.70: Barragem Santa Branca - Secção típica [11]

64
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

não se estende pelas ombreiras acima da elevação de 580,00 m, diferentemente do tapete


drenante.
Durante os primeiros quatro anos de operação da barragem, foram observadas diver-
sas anomalias no talude de jusante, tais como fissuras, zonas encharcadas, ressurgências
localizadas e deslizamentos superficiais, sobretudo nas proximidades da ombreira es-
querda.
Em 1986, surgiram novas ressurgências de água no talude de jusante. Conforme evi-
denciado na Figura 2.71, o dreno vertical estendia-se apenas até a cota de elevação 615 m,
enquanto o nível da água do reservatório atingia a cota de elevação 622 m. Qualquer
estudo de fluxo, mesmo considerando anisotropias de permeabilidade de 10 ou 20, de-
monstraria que a linha freática apenas tangenciava o dreno abaixo da elevação 615 m, ou
seja, abaixo do topo do dreno, indicando que o projeto do dreno estava correto. No en-
tanto, a ocorrência de ressurgências de água a jusante revelou que o fluxo preferencial era
quase horizontal.

Linha de saturação
admitida no cálculo

Filtro de
Filtro de areia
areia

Drenagem interna
inoperante

Rocha decomposta
0 10 20 30

Figura 2.71: Barragem Santa Branca - Solução adotada [11]

A análise dos dados provenientes da instrumentação instalada no corpo da barra-


gem, aliada às demais observações e elementos disponíveis, conduziu à conclusão de que
a segurança da estrutura estava comprometida de forma significativa, demandando a im-
plementação de medidas de reforço. Verificou-se que o sistema de drenagem interno da
barragem era insuficiente para prevenir a saturação contínua do maciço compactado na
sua porção de jusante, devido à interrupção da camada filtrante antes do enrocamento
a jusante. Além disso, as camadas de aluvião arenosa na fundação da barragem não as-
seguravam uma drenagem adequada do maciço compactado sobrejacente, uma vez que
estavam confinadas por camadas menos permeáveis. A falta de um sistema de drenagem
eficaz próximo às ombreiras corroborava as conclusões sobre a ineficácia do sistema de
drenagem interno da barragem.

65
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

A solução adotada, para estabilização da barragem incluiu um reforço no talude e a


execução de um dreno contínuo sobre o talude atual de jusante da barragem, conforme
ilustrado na Figura 2.71.

Principais anomalias: Conforme relatado no caso da barragem Santa Branca, observou-


se diversas anomalias no talude de jusante, tais como fissuras, zonas encharcadas, ressur-
gências localizadas e deslizamentos superficiais.
Neste sentido, conforme ilustrado na Figura 2.72, deve se ter especial atenção no ta-
lude de jusante, no sentido de encontrar zonas encharcada (a), no coroamento e taludes
poderão apresentar fissuras (b), nas zonas inferiores do talude poderá ocorre pequenos
escorregamentos (c) e deformações.

(a) Zonas encharcadas (b) Fissuras (c) Escorregamento / Deformações

Figura 2.72: Exemplo de anomalias associadas a instabilidade nos maciços [53] [54]

2.2.4 Instabilidade por corte da fundação


Evidentemente a instabilidade por corte na fundação, está intimamente ligada as con-
dições geológicas, assim como da carga exercida pela barragem sobre a mesma. Neste
sentido a instabilidade pode ocorre devido a existência de solos moles, com baixa resi-
dência ao corte, devido à presença de argilas plásticas com amolecimento por molhagem,
assim como devido a presença de falhas geológicas pré-existentes e sustivesse ao escor-
regamento, entre outros casos os quais apresenta-se resumidamente a seguir.

Modo de falha: No que se refere a ocorreria de solos moles, com baixa resistência
ao corte e baixa coesão, caso a barragem não seja devidamente projetada para distribuir
as cargas sob esta fundação, o colapso pode ocorrer devido o estado limite do solo ser
atingido.

Estudo de caso: Um exemplo típico de solos com baixa residência na fundação é o


caso da Barragem Trieu Thuong 2, localizada na comuna de Trieu Thuong, Quang Tri,
Vietnã, construída em 1998.
Trata-se de uma barragem de secção homogénea, com cerca de 10 m de altura e apro-
ximadamente 516 m de comprimento, conforme se apresenta nas Figuras 2.73 e 2.74.

66
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Figura 2.73: Barragem Trieu Thuong 2 - Implantação (fonte Google Eath 2024)

3,0 12,6
10,8

1a
Filtro
1b

2a 2d 2

2b 6

0 10 20 m

Figura 2.74: Barragem Trieu Thuong 2 - Secção tipo (adaptado de Vu [55])

De acordo com o Department of Civil Engineering, Thuyloi University, Vietnam [55], a


secção típica da barragem caracteriza-se pela seguinte composição de materiais:

• (1a) - Silte misturado com areia e cascalho fino;

• (1b) - Silte misturado com areia e cascalho fino, cor castanha-avermelhada a amarelo-
acastanhada;

• (2) - Argila misturada com areia e matéria orgânica. Encontra-se num estado líquido-
plástico, com alta compressibilidade e uma cor cinza escura;

• (2a) - Argila misturada com limo e areia, num estado sólido-plástico, com compres-
sibilidade média e uma cor de cinza a amarelo-acinzentada;

• (2b) - Areia fina misturada com silte argiloso. Tem uma estrutura solta, um estado
poroso e uma cor de cinza a amarelo-acinzentada;

67
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

• (2d) - Argila com alta plasticidade, de cor cinza-escuro a preto, e contém muitos
detritos de madeira em decomposição. O solo tem uma estrutura pobre, maleável,
saturado de água, e é de origem aluvial.

No que se refere a ocorrência do incidente, em Setembro de 2016, o coroamento da


barragem foi alargado de 3 m para 5 m, com um abatimento no talude de jusante com
coeficiente de inclinação 2,5. Foram tomadas medidas para melhorar a drenagem pluvial,
com a adição de valas, uma estrutura de filtro de drenagem e plantio de relva. Uma secção
transversal típica da barragem após a melhoria em 2016 é apresentada na Figura 2.75.

5,0 12,6 Aterro de enchimento


10,8

1a Filtro
5,5
1b 2,3

2a 2d 2

2b 6

0 10 20 m

Figura 2.75: Barragem Trieu Thuong 2 - Secção após alargamento da crista (adaptado de
Vu [55])

Contudo, após a execução do referido aterro para o alargamento coroamento, assos-


siado ocorrência de fortes chuvas, o talude de jusante sofreu o seu primeiro colapso. A
área afetada foi de 1700 m2, com fissuras de 10 a 20 cm. O afundamento foi de cerca de
60 a 80 cm da elevação + 2,0 m até a elevação +10,5 m (Figura2.76a).
Para lidar com o colapso da barragem, foram implementadas apenas medidas pali-
ativas temporárias para limitar a expansão da área de falha. Estacas de bambu foram
utilizadas para reforçar a inclinação da superfície, com uma densidade de estacas de 30
cm por estaca, como mostrado na Figura2.76b. Sacos de solo foram utilizados para pre-
encher todas as fissuras e uma camada de pressão foi construída. Uma camada de filtro
foi instalada a jusante do pé da barragem para prevenir danos por infiltração de água
superficial, juntamente com a adição de uma cobertura de lona.
Porém, durante a temporada de cheias de 2017, a condição da barragem Trieu Thuong
2 deteriorou-se consideravelmente, à medida que a superfície de deslizamento se expan-
diu aproximadamente 75 m em comprimento e 30 m em largura. Uma fissura com largura
entre 30 cm e 50 cm apareceu, com afundamento alcançando entre 120 cm e 150 cm da

68
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

(0,6 – 0,8 m)

(a) (b)

(0,8 – 1,2 m)

(c)

Figura 2.76: Barragem Trieu Thuong 2 - Escorregamentos de talude (adaptado de Vu [55])

elevação +2,0 m até a elevação +10,0 m. A área de deslizamento totalizou cerca de 2000
m2, conforme ilustrado na Figura2.76c.

Principais anomalias: para entender melhor os eventos de escorregamentos ocor-


ridos na barragem Trieu Thuong 2, o Department of Civil Engineering, Thuyloi University,
Vietnam [55] realizou modelação numérica utilizando o programa MIDAS GTS NX, de
modo a verificar as condições de segurança da estrutura antes e depois da construção do
aterro. Salienta-se que a verificação da segurança por elementos finitos em que envolva
análises da residência dos materiais, excesso de pressão intersticial e deformações pode
se mostrar mais adequadas do que as análises por equilíbrio limite.
Os parâmetros adotados nas análises são apresentados no Quadro 2.2. Verifica-se nas
Figura 2.77 discretização dos modelos, antes e depois do aterro (a) e (b) respetivamente.

Quadro 2.2: Propriedade dos materiais [55]

𝛾sat 𝑘 Coesão 𝜑 E
Material
( 𝒌𝑵
𝒎3
) ( 𝒎𝒔 ) ( 𝒌𝑵
𝒎2
) ◦
( ) ( 𝒌𝑵
𝒎2
)

Backfill 21.6 1.8 × 10−7 23.6 23.6 7000


1a 21.5 5.6 × 10−7 23.0 17.5 7800
1𝑏 20.0 4.5 × 10−7 18.3 19.9 8000
2 19.4 3.2 × 10−9 5.9 4.4 4600
2a 20.9 3.6 × 10−9 12.5 9.7 18880
2𝑏 21.0 3.3 × 10−7 26.1 22.4 20000

69
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2c 20.0 3.2 × 10−9 26.6 20.8 11290


2d 19.2 2.9 × 10−7 11.0 9.0 15000
5 20.4 4.2 × 10−7 25.3 19.4 17170
6 21.0 5.0 × 10−7 1.0 42.0 40000
SC 19.5 1.0 × 10−9 70.0 3.4 15000

(a) (b)

Figura 2.77: Barragem Trieu Thuong 2 - Modelo numérico [55]

Após avaliação das condições geológicas e da posição da linha de saturação dentro da


barragem, o fator de segurança (FS) para o talude de jusante foi simulado. Os resultados
são apresentados na Figura 2.78.

FS (1) = 1,05 FS (2) = 1,06

(a) (b)

FS (3) = 1,01

(c)

Figura 2.78: Barragem Trieu Thuong 2 - Escorregamentos de talude (adaptado de Vu [55])

Como pode ser observado, para o Caso 1, o qual representa a condição da barragem
antes da execução do aterro, o valor do FS é de 1,05 (Figura 2.78a). Verifica-se que antes
das intervenções realizada na barragem o Fator de Segurança já era baixo, provavelmente
devido os solos com baixa resistência e alta deformabilidade aprestado pelo material 2.
Entretanto com a execução do aterro para o alargamento do coroamento, (Caso 2)
verificou-se inicialmente uma leve melhora no fator de segurança (FS = 1,06), conforme
apresentado na Figura 2.78(a).

70
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Contudo, verificou-se que a execução do aterro obstruiu a saída da drenagem, ele-


vando os níveis freáticos a jusante da barragem, conforme estudado no Caso 3, reduzindo
fator de segurança para 1,01 (Figura 2.78c), favorecendo a ocorrência do escorregamento
do talude de jusante e o colapso.
No que se refere a ocorrência de anomalias devido a esforço cortante na fundação,
como os demais casos de instabilidade de taludes, caracteriza-se pela ocorrência de des-
lizamentos superficiais ou profundos, assentamentos e fendilhações, que evoluem pro-
gressivamente para a rotura ou colapso.
Estes eventos estão frequentemente associados a fundações com baixa capacidade de
suporte ou sobrecarga na barragem, como evidenciado no caso da barragem Trieu Thuong
2. No entanto, em solos moles, tais anomalias podem surgir durante o período constru-
tivo, antes mesmo do enchimento da albufeira, como foi observado no caso das barragem
Carsington, onde relatos indicaram a ocorrência de escorregamentos e fendilhações du-
rante o processo de construção.
Conforme se verifica na Figura 2.79a, uma camada relativamente fina de uma argila
amarela, com baixa resistência, deixada no contacto da fundação do talude de montante,
colaborou para a ocorrência do escorregamento do talude [56], [57] [58].

Argila
amarela

(a) (b)

Figura 2.79: Rotura da barragem Carsington [52]

2.2.5 Instabilidade por perda de folga


Conforme definido nos Artigo 10º do Documentos Técnicos de Apoio ao Regulamento de
Segurança de Barragens (DTA) [59], a folga se caracteriza pela diferença entre a cota do
coroamento da barragem e o nível máximo de cheia. No que se refere a perda da folga
em barragens de aterro, as deformações ocorridas durante o processo construtivo e fase
de exploração, podem provocar a instabilização da barragem, bem como a ocorrência de
galgamento da estrutura.

71
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Modo de falha: em especial no que diz respeito as barragens de enrocamento, as


deformações excessivas podem ocorrer por molhagem do material, de maneira súbita,
podendo representar uma perda da folga significativa nestas barragens. Contudo, no que
diz respeito aos aterros e fundações de um modo geral, deve se ter em consideração os
efeitos da fluência, cujas as deformações a longo prazo, podem representar uma parcela
significativa da perda de folga [60].
Salienta-se ainda que a ocorrência de assentamentos diferenciais nos aterros e/ou fun-
dações das barragens geralmente está associada à formação de fissuras, as quais podem
acarretar uma significativa redução na folga de segurança, sobretudo quando estas fissu-
ras intersectam a zona vedante da barragem.
Apresenta-se na Figura 2.80(a), um exemplo de formação de fissuras longitudinais
no coroamento e corpo da barragem, em virtude de assentamentos diferenciais na zona
central da barragem (Secção 1), como no núcleo apresentado na (Secção 2), os quais pos-
suem deformações menores das que ocorrem nos maciços, provocando o aparecimento
de fissuras longitudinais coroamento.
Já na Figura 2.80(b) as deformações diferenciais ocorrem no encontro, onde uma pro-
tuberância rochosa se impõe de maneira a sustentar a zona mais superior do aterro, en-
quanto na zona adjacente e mais profunda, as deformações são maiores, resultando na
formação de fissuras.

Fissuras longitudinais Assentamentos


Fundação no coroamento
compressiva Assentamentos

Relativamente incompressível Fissuras


Rocha
Secção 1
Protuberância rochosa
Núcleo Fissuras
longitudinais Secção longitudinal
Assentamentos Maciços estabilizadores

Rocha Secção 2

Fissuras
Fissuras longitudinais

Planta Planta
(a) (b)

Figura 2.80: Fissuras logitudinais em barragens de aterro (adaptado de Buerau [61][62])

A perda de folga em fissuras transversais pode representar uma maior gravidade em


termos de segurança, pois pode intersectar a zona vedante da barragem e provocar a aber-
tura de uma brecha no coroamento. A Figura 2.81(a) apresenta um exemplo de fissura
transversal em que as deformações na zona central da barragem ou mesmo na funda-
ção podem favorecer a ocorrência de fissuras nas zonas laterais da barragem. Contudo,

72
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

a Figura 2.81(b) mostra outro exemplo em que a zona central da barragem se apresenta
mais rígida do que as zonas laterais, e as fissuras tendem a aparecer na zona central da
barragem.

Assentamentos Assentamentos
no coroamento Fissuras no coroamento

Aterro

Fissuras
Rocha
Aterro Aluvião
Secção longitudinal compactado
Secção longitudinal

Fissuras
Fissuras

Planta Planta
(a) (b)

Figura 2.81: Fissuras transversais em barragens de aterro (adaptado de Buerau [61][62])

Estudo de caso: um interessante caso da perda de folga ocorreu durante o enchi-


mento da barragem Beliche localizada no Algarve em Portugal. Trata-se de uma barragem
de enrocamento com o núcleo argiloso com aproximadamente 54 m de altura e 547 m de
comprimento, construída em 1985 com a finalidade de abastecimento de água e irrigação
[60] [63] [64] [65] [66] (Figura 2.82).

Barragem
Beliche

Descarregador
de cheias

Figura 2.82: Arranjo geral da barragem Beliche (fonte: Google Earth 2024)

73
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

Conforme ilustrado na Figura 2.83, o núcleo da barragem está assente sobre rocha-mãe
composta por xistos moderadamente intemperizados. Foram construídas encadeiraras
de a montante e a jusante para permitir que o trabalho na área do núcleo fosse realizado
a seco. A encadeirara de montante dispõem de uma parede moldada corta águas que
interseta o aluvião. No que se refere aos tratamentos de fundação, realizou-se injeção de
calda de cimento na região de contacto do núcleo, além de uma cortina de injeção de calda
de cimento com penetração até uma profundidade máxima de 20 m [66].

LEGENDA
(1) - TRANSIÇÃO
(2) - ENROCAMENTO
55,0 (3) - NÚCLEO ARGILOSO
NPA: 52,0 (4) - FUNDAÇÃO ALUVIONAR
(5) - FILTROS
(6) - PAREDE MOLDADA
CORTA ÁGUAS
5 5
3 1
20,0
2 1 1 2
3

0,0 4
2 1 4

6 0 20 40 60 80 100 m

Figura 2.83: Barragem Beliche - Secção Tipo (adaptado de Marcelino [60])

Principais anomalias: no que se refere aos assentamentos, foram implementadas


medidas construtivas destinadas a mitigar os efeitos do colapso, os quais se esperava
que ocorressem com alta probabilidade durante o primeiro enchimento. Estas medidas
de projeto basearam-se essencialmente em técnicas mais cuidadosas de seleção de ma-
teriais (especialmente em relação à granulometria), aplicação em camadas de espessura
reduzida (limitadas pela máxima dimensão dos blocos), compactação utilizando cilindro
vibratório e, sobretudo, aplicação abundante de água durante a construção [60].
No entanto, devido a várias razões, principalmente dificuldades na obtenção de água
em quantidade suficiente e uma maior suscetibilidade do material empregue do que o
previsto com base na caracterização laboratorial, os objetivos não foram totalmente alcan-
çados. Ainda assim, ocorreram deslocamentos significativos, resultando em consequên-
cias habituais, como o surgimento de fendas transversais no coroamento, algumas com até
20 m de extensão, e um movimento global da barragem para montante devido à diminui-
ção de volume e consequente ”rotação”da barragem nessa direção. Como resultado deste
assentamento diferencial, foram observadas fendas longitudinais significativas, conforme
apresentado na Figura 2.84.

74
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Figura 2.84: Barragem Beliche - Fendas longitudinais junto à guarda de montante [60]

No que se refere aos relatos de anomalias, no que diz respeito a perda da folga, evi-
dentemente as deformações, assentamentos e fissuras são as principais registadas em bar-
ragens de aterro, contudo, o aparecimento de fissuras longitudinais é mais frequente em
barragens de secção mista, devido o contraste nas deformações dos materiais dos maciços,
filtros e núcleo, como o caso ocorrido na barragem Emborcação no Brasil.
Durante o processo de enchimento do reservatório, foi observada a ocorrência inicial
de fissuras longitudinais ao longo do coroamento, quando o nível da água se situava apro-
ximadamente a 60 metros abaixo do nível normal. Num primeiro momento, identificou-se
uma fissura na zona de transição a jusante do núcleo, com uma extensão de cerca de 130
metros, uma profundidade de 0,6 metros e uma abertura de aproximadamente 7 milíme-
tros. Cerca de uma semana após este evento, surgiram trincas longitudinais dispersas na
região do núcleo, com comprimentos não excedendo os 50 metros e uma abertura má-
xima de 5 centímetros. Tentativas de mitigação foram realizadas através do revestimento
das fissuras com pavimentação asfáltica, no entanto, estas reapareceram em dimensões
superiores logo após [11][8].
Refere-se ainda o caso da barragem Buffalo, localizada no Rio Buffalo, no Nordeste de
Victoria, Austrália, construída em 1965. Trata-se de uma barragem composta dua secções
tipo, homogénea e secção mista, separadas por um vertedouro constituído por uma ogiva
de concreto com três comportas de elevação vertical. O aterro do encontro esquerdo (prin-
cipal) possui um núcleo central de argila zonada e enrocamento, com 120 m de compri-
mento e altura máxima de cerca de 33 m. O aterro do encontro direito (secundário) é uma
secção homogénea de aterro de terra com proteção de enrocamento a montante, com 490

75
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2B

2A 2B 2A

1 3
1 6

Fissura Longitudinal
7

Transição Grosseira
Enrocamento Compactado - 0,6 m Filtro de Areia
Enrocamento Compactado - 1,2 m Núcleo Impermeável
Enrocamento Compactado - 0,9 m Material Impermeável
Blocos de Rocha Transição de Jusante
Transição de Montante Transição Fina
Transição Fina Transição Grosseira

Figura 2.85: Barragem Emborcação, secção tipo e fissuras (adaptado de Cruz [11][8])

m de comprimento e altura máxima de 17 m, conforme apresentado na Figura2.86 [67].

Secção Descarregador Secção


homogénea de cheias mista

Figura 2.86: Arranjo geral da barragem Buffalo (fonte: Google Earth 07/04/2024)

Uma representação esquemática das fissuras observadas na barragem é apresentada


na Figura 2.87. O padrão de fissuração longitudinal e diagonal na superfície do núcleo
apresentava um traçado de tipo arqueado, começando aproximadamente a 40 m a mon-
tante do vertedouro e continuando até ao encontro esquerdo. Estas fissuras geralmente
apresentavam uma abertura inferior a 5 mm no topo do núcleo, mas havia algumas fis-
suras maiores com até 80 mm de largura. Atribuiu-se a fissuração longitudinal ao movi-
mento do núcleo durante ou imediatamente após a construção, devido à falta de efeito de

76
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

suporte/arrasto do enrocamento não compactado sobre o núcleo de argila relativamente


mais rígido [67].

Fissura transversal

Fissura diagonal
Berma
Fissura longitudinal
Fissura diagonal Zona de movimento com
aproximadamente 11 m
Fissura longitudinal de profundidade

Enrocamento
não compactado

Núcleo

Enrocamento
não compactado
Parede do descarregador

Figura 2.87: Esquema das fissuras encontradas na barragem Buffalo [67][23]

(a) Escavação do encontro esquerdo (b) Fissura transversal

Figura 2.88: Barragem Buffalo fissura transversal no encontro esquerdo [67][23]

Contudo, encontrou-se uma fissura transversal no encontro esquerdo, destacada a ver-


melho na Figura 2.87, estendendo-se sobre toda a largura do núcleo. A fissura transversal
desenvolveu-se sobre uma baqueta de escavação da fundação em rocha, apresentada na
Figura 2.88a, as investigações realizadas revelaram uma fissura aberta no topo do núcleo

77
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

(cerca de 40 mm de largura, apresentada na Figura 2.88b) . A causa da fissura transver-


sal sobre o encontro esquerdo são os assentamentos diferenciais do núcleo a baqueta que
está localizado aproximadamente 7,5 m abaixo do coroamento. As obras de reforço da
barragem, incluindo a construção de novos filtros e enrocamento na parte superior da
barragem, e a reconstrução do núcleo no encontro esquerdo.

2.2.6 Fraturação hidráulica

A fraturação hidráulica é geralmente descrita como o processo pelo qual fissuras são in-
duzidas em solos ou rochas e posteriormente propagadas pela pressão da água [68]. A
ocorrência de fraturação hidráulica numa barragem de aterro pode sugerir dois cenários
distintos, durante o enchimento e esvaziamento (causado pelo alívio de tensões devido
a assentamentos diferenciais) ou por excesso de pressões (induzido pelo reservatório em
zonas mal compactadas ou por equipamentos mecânicos) [69].

Modo de falha: num estudo das possíveis causas de incidentes em barragens de


aterro, Sherard [70] apresentou um mecanismo que, devido a assentamentos diferenci-
ais ou ação de arqueamento, são formadas no corpo da barragem fissuras (tanto visíveis
quanto invisíveis). Ao mesmo tempo, estes assentamento e arqueamentos levam à redis-
tribuição das tensões internas em algumas zonas nas barragens de aterro (Figura 2.89).
Nessas zonas, tensão principal é reduzida a quase zero ou mesmo uma tensão de tra-
ção. Essas zonas são chamadas de zonas de baixa tensão e ou zonas soltas, as quais estão
sujeitas a fraturação hidráulica [71].

Assentamento A pressão da água na fissura força


Coroamento
a fissura a abrir e a propagar-se Plano de
Arqueamento baixa tensão
Fratura Solo
hidráulica
vertical
σ3
Fratura
hidráulica
σt
horizontal (resistência à tração)
Fissura inicial
cheia de água
NA
Fratura hidráulica se a pressão
da água γw.h ≥ σ3 + σt

Figura 2.89: Mecanismo de formação de fraturas hidráulicas em barragens de aterro


(adaptado de Fell [23])

Durante a construção de uma barragem de aterro, o solo parcialmente saturado e com-


pactado no aterro consolida-se e ocorrem assentamentos. Quando os lados do vale são

78
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

íngremes e/ou apresentam degraus no perfil, como ilustrado na Figura 2.90, ocorrem as-
sentamentos diferenciais devido às variações na altura do aterro, os quais podem levar à
formação de zonas de tração ou baixa tensão, propícias ao surgimento de fissuras [23].

Recalque diferencial causa


deformações laterais

Encontro Encontro
íngreme Provável ocorrência de fissuras íngreme

Recalque diferencial causa


deformações laterais

Provável
ocorrência
de fissuras

Figura 2.90: Situações em que o recalque diferencial entre vales pode levar a fissuras ou
deformações laterais e zonas de baixa tensão sujeitas a fraturação hidráulica. (adaptado
de Fell [23])

As Figuras 2.91 e 2.92 apresentam exemplos das tensões calculadas para secções de
vale sem e com berma no perfil de base na fundação. São também apresentados os deslo-
camentos laterais (como uma proporção da altura do aterro) que causam as zonas de baixa
tensão. Deve ser salientado que as magnitudes das tensões de tração não são modeladas
com precisão, mas a extensão das baixas tensões é uma representação razoável [23].

(b) deslocamento lateral/altura (%)

(a) Tensão principal


menor (em kPa)

Figura 2.91: Fraturação hidráulica - Vale com secção íngreme. (adaptado de Fell [23])

Se o vale onde a barragem está construída for estreito e íngreme, pode ocorrer arque-
amento transversal do vale, levando à transferência das tensões verticais para os lados
do vale, o que pode resultar em fratura hidráulica. Fell [23] sugerem que o arqueamento
transversal do vale é mais provável se a largura da base do vale for inferior a um quarto

79
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

(b) deslocamento lateral/altura (%)

(a) Tensão principal


menor (em kPa)

Figura 2.92: Fraturação hidráulica - Vale com secção íngreme com berma. (adaptado de
Fell [23])

da altura da barragem e os lados do vale forem mais íngremes do que cerca de 60 graus.
É improvável que seja um problema se a largura da base do vale for maior do que três
quartos da altura da barragem e os lados do vale forem mais planos do que 45 graus. A
Figura 2.93b mostra os resultados da modelagem numérica transversal do vale da bar-
ragem Mud Mountain, com 120 m de altura, que sofreu erosão interna devido à fratura
hidráulica, resultando em zonas soltas e moles, como mostrado na Figura 2.93a. A mode-
lagem estima tensões principais menores muito inferiores às tensões calculadas a partir
da profundidade de preenchimento e inferiores às tensões efetivas que se desenvolvem
à medida que o reservatório é preenchido, prevendo-se assim a ocorrência de fratura hi-
dráulica, consistente com o comportamento de campo.

- Zonas soltas ou moles identificadas


pela facilidade de perfuração.
- Zonas de baixa densidade indicadas
por registros geofísicos.
- Zonas de produção ou perda de água
(a) Secção do vale da (b) Tensão principal
barragem Mud Mountain menor (em kPa)

Figura 2.93: Secção do vale da barragem Mud Mountain mostrando zonas soltas, moles e
de baixa tensão. (adaptado de Fell [23])

80
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Estudo de caso: a fraturação hidráulica normalmente está associada aos fenómenos


de deformação que por sua vez provoca a fratura nas zonas vedantes, que se manifesta
normalmente em fissuras, ressurgência e piping. Um exemplo destes eventos foi o caso
ocorrido em 1949 na barragem de Wister, localizada na cidade de Oklahoma (Figura 2.94).

Barragem Wister

Figura 2.94: Barragem Wister (fonte: Google Earth)

Trata-se de uma barragem com secção homogénea, com 30 m de altura e 1.800 m de


comprimento, o aterro é composto de silte argiloso, com bermas a montante e a jusante, a
barragem não possui filtro vertical, contudo possui um extenso tapete drenante, conforme
ilustrado na Figura 2.95a.

NA antes
da rotura Berma de
Berma de
Solo argiloso jusante
montante

Tapete drenante Zona de ocorrência


(a) Secção típica de piping
1,0 ft = 0,305 m Zona de ocorrência de erosão interna
Talude de montante,
ao longo do leito do rio (~250 m)
entrada do piping

(b) Planta esquemática


da ocorrência de piping Talude de jusante,
Leito do rio
ao longo do leito do rio saída do piping

Figura 2.95: Barragem Wister, secção típica e locação da zona de fraturação / piping
(adaptado de Sherard [70])

Principais anomalias: em janeiro de 1949, uma grande tempestade fez com que o
nível da albufeira subisse rapidamente pela primeira vez, atingindo uma profundidade
máxima de cerca de 18 m em 28 de janeiro de 1949. Posteriormente, com as comportas
do descarregador de fundo abertas, o nível da água do reservatório começou a baixar

81
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

lentamente. Em 30 de janeiro, foi observada pela primeira vez infiltração carregando


material de aterro erodido no talude a jusante, com uma quantidade estimada de cerca
de 150 L/s. Este valor aumentou para mais de 500 L/s nos dias seguintes, mantendo-
se sempre muito suja. Até 3 de fevereiro, com as saídas de fundo a descarregar a plena
capacidade, o nível do reservatório tinha baixado cerca de 4 m (profundidade máxima da
água de cerca de 14 m), expondo vários túneis de erosão com um diâmetro de cerca de 0,6
m que penetravam no talude a montante, todos a aproximadamente a mesma elevação,
ao longo de um comprimento de cerca de 90 m [70] (Figura 2.96).

(a) Talude de montante, zona de infiltração (b) Talude de jusante, resurgências

Figura 2.96: Barragem Wister, secção típica e locação da zona de fraturação / piping
(adaptado de Bureau [18])

Posteriormente, o nível da água do reservatório foi reduzido abaixo dos túneis e a


barragem foi resguardada. Realizou-se estudos com corantes, os quais demonstraram
que a água de infiltração média percorreu uma distância de cerca de 225 m através da
barragem, em cerca de 13 minutos. As fugas percorreram diagonalmente a barragem num
caminho quase paralelo ao leito original do rio, através de um comprimento do aterro que
havia sido construído por último como uma secção de fechamento do leito (Figura 2.95b).
No que se refere a causa do acidente, Sherard [70] apresentou uma abordagem di-
ferente dos estudos anteriormente estudados sobre o caso da barragem Wister, o qual
considerou a incluência do arqueamento do aterro na zona do leito do rio, conforme ilus-
trado na Figura 2.97.
Regista-se ainda que a barragem assentou cerca de 25 cm e que os estudos identifica-
ram que os aterros possuíam argilas dispersavas as quais potencializaram a ocorrência
fraturação hidráulica e do piping.
No que concerne ao registos de anomalias no caso de fraturação hidráulica, verifica-se
que a presença de assentamentos, fissuras e ressurgências podem ser registadas. Con-
tudo, cuidados especiais devem ser tomados durante a fase de projeto e construção da
barragem visando evitar zonas muito íngremes com vales estreitos, degraus e protube-
râncias as quais podem contrastar as deformações dos aterros e favorecer a ocorrência de

82
2.2. ANOMALIAS ASSOCIADAS AO MOVIMENTO DE GRANDES MASSAS

Secção de fechamento do rio 1,0 ft = 0,305 m


(construída por último)
Coroamento da barragem. El. 527,5

Arqueamento devido
a secção fechada no
Escala vertical

leito do rio

Fundação
Ocorrência de aluvionar Superfície do
piping topo rochoso
Leito do rio
Assentamento máximo medido
(~25 cm)

Escala horizontal (ft)

Figura 2.97: Barragem Wister, perfil longitudinal (adaptado de Sherard [70])

zonas com baixas tensões em especial as tensões efetivas menores evitando a ocorrência
de fraturação hidráulica.
No que concerne ao registos de anomalias no caso de fraturação hidráulica, verifica-
se que a presença de assentamentos, fissuras e ressurgências podem ser registadas. No
entanto, durante as fases de projeto e construção da barragem, devem ser adotados cuida-
dos especiais para evitar a formação de zonas com características propensas à ocorrência
de fraturação hidráulica.
Nesse sentido, é crucial evitar a criação de zonas com declives muito íngremes, vales
estreitos, degraus e protuberâncias. Essas características topográficas podem gerar con-
trastes nas deformações dos aterros e favorecer a formação de áreas com baixas tensões,
especialmente tensões efetivas menores, aumentando assim o risco de fraturação hidráu-
lica.

2.2.7 Liquefação
Modo de falha:

Estudo de caso:

Principais anomalias:

2.2.8 Instabilidade por sismos


Modo de falha:

Estudo de caso:

Principais anomalias:

83
CAPÍTULO 2. SEGURANÇA HIDRÁULICO-ESTRUTURAL

2.3 Dispositivos de controle

2.4 Inspeções visuais

2.5 Análise do comportamento e avaliação da segurança

84
3
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE NOVAS
TECNOLOGIAS APLICADAS NA DETEÇÃO DE
ANOMALIAS EM BARRAGENS DE ATERRO

This Chapter aims at exemplifying how to do common stuff with LATEX. We also show
some stuff which is not that common! ;)

3.1 Uso de VANT aplicado na segurança de barragens de aterro

3.2 Tecnologia InSAR aplicada na segurança de barragens de


aterro

3.3 Uso de Laser Scan aplicado na segurança de barragens de


aterro

3.4 Análise temográfica aplicada na segurança de barragens de


aterro

3.5 Análise magnetográfica aplicada na segurança de barragens


de aterro

85
4
MODELAÇÃO ESPACIAL APLICADA NA DETEÇÃO
DE ANOMALIAS EM BARRAGENS DE ATERRO

This Chapter aims at exemplifying how to do common stuff with LATEX. We also show
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4.1 Características das anomalias detetáveis na modelação


espacial

4.2 Aplicação de VANT na modelação espacial na deteção de


anomalias
4.2.1 Aplicação de câmaras especiais

4.2.2 Aplicação de laser scan em VANTs

4.3 Aplicação de software de código aberto, na modelação


espacial
4.3.1 Automação dos pontos de controle

4.4 Avaliação das deformações em barragens de aterro por meio


do inSAR

4.5 Mapa de anomalias obtidos na modelação espacial

86
5
ANÁLISE TERMOGRÁFICA APLICADA NA DETEÇÃO
DE ANOMALIAS EM BARRAGENS DE ATERRO

This Chapter aims at exemplifying how to do common stuff with LATEX. We also show
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5.1 Características das Anomalias Detetáveis na Modelação


Térmica

5.2 Análise do Comportamento Térmico de Barragens em


Modelo Reduzido

5.3 Utilização de Câmaras Térmicas em VANT para a


Modelação Térmica

5.4 Mapa de Anomalias Obtidos na Modelação Térmica

87
6
MODELAÇÃO MAGNÉTICA APLICADA NA DETEÇÃO
DE ANOMALIAS EM BARRAGENS DE ATERRO

This Chapter aims at exemplifying how to do common stuff with LATEX. We also show
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6.1 Características das Anomalias Detetáveis na Modelação


Magnética

6.2 Caracterização do Comportamento Eletromagnético em


Modelo Reduzido

6.3 Utilização de Sensores em VANT para a Modelação


Magnética

6.4 Mapa de Anomalias Obtidos na Modelação Magnética

88
7
AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DE BARRAGENS DE
ATERRO ATRAVÉS DA MITEM

This Chapter aims at exemplifying how to do common stuff with LATEX. We also show
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7.1 Análise integrada das anomalias identificadas no miTEM

7.2 Estudo de Caso 01

7.3 Estudo de Caso 02

7.4 Estudo de Caso 03

89
8
CONCLUSÕES

90
BIBLIOGRAFIA

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