O principe de maquiavel
Há muitas
características na
natureza humana que
parecem defeitos,
mas, uma vez
analisadas bem a
fundo, provam ser
virtudes. E há outras
que parecem virtudes,
mas quando colocadas
em prática no
momento correto se
mostram defeitos.
Um dos segredos da vida é compreender que,
acima de tudo, ela é um jogo e que as chances
de vencer serão muito pequenas se não
conhecermos as regras desse jogo.
Esforçar-se por abrir os olhos para a realidade como ela é,
desvencilhando-nos de todo apego e ilusão ingênua sobre o mundo e,
acima de tudo, sobre as pessoas é o começo de qualquer transformação
humana. A coragem de encarar a realidade sem perder a fé e a esperança
de que um mundo melhor é possível é o que separa o verdadeiro líder do
manipulador corrupto.
Quanto maior for nossa compreensão das coisas, menos fracassos,
frustrações e desapontamentos teremos. Quanto melhor
compreendermos as pessoas, quanto mais entendermos suas
capacidades, suas aspirações, seus talentos, suas intenções, seus
truques e suas motivações secretas, mais bem preparados estaremos
para ajudá-las (ou para nos defender delas). Por isso, desenvolver a
habilidade de entender o que de fato motiva as pessoas e saber lidar de
maneira adequada com essa compreensão é a lição mais importante que
você pode aprender no jogo da vida. Pare e pense nisso por um
momento!
Nossa tendência habitual é reagir a tudo com base nos valores
pessoais que cultivamos.
No mundo do poder e dos negócios isso quase
sempre é um erro terrível por dois motivos básicos:
não importa o quanto uma coisa pareça inútil ou prejudicial, se
estudá-la bem, se analisá-la detalhadamente, encontrará uma virtude, um
ponto forte, algo que pode ser explorado a seu favor
Ele fará com que você passe a fazer
parte do pequeníssimo grupo de pessoas com a habilidade de ver as
coisas como elas realmente são e, a partir disso, mudá-las para como
você gostaria que elas fossem.
você deixará de interpretar qualquer atitude de
alguém como uma afronta pessoal. As pessoas agem e reagem para
defender seus valores e desejos próprios, e não, necessariamente, para
atacar os teus. Ao compreender isso, você entenderá que conhecer a
motivação das pessoas é uma das coisas mais importantes da vida.
sem abrir mão de sua essência.
CAPÍTULO 2
DO PAPEL DA SORTE NAS COISAS HUMANAS E COMO MUDÁ#L
Se um príncipe age com cautela e paciência e se, naquele momento,
as circunstâncias exigem cautela e paciência, será bem-sucedido. Mas se
as circunstâncias mudarem, exigindo decisões e atitudes rápidas, e ele
continuar agindo com cautela e paciência, na certa fracassará.
E isso tão
só porque não alterou o seu modo de agir quando as circunstâncias
mudaram.
Quando uma pessoa avança e conquista um certo nível de sucesso, sua
tendência é se apegar a essa conquista e criar raízes nela. O sentimento
ingênuo de que agora ela domina o jogo toma conta
conhece suas forças e sabe como explorá-las; se sabe onde estão suas
fraquezas e como controlá-las; se é capaz de entender as pessoas e ter
uma ideia clara do que as motiva; mesmo que não consiga ter controle
absoluto sobre o contexto a sua volta, o simples fato de estar consciente
de tudo isso lhe dará uma enorme vantagem sobre a maioria que o
ignora
CAPÍTULO 3
DO QUE FAZER PARA OBTER PRESTÍGIO E SER BENQUIST
Além de realizar grandes feitos, convém ainda ao príncipe, que pretende
obter grande prestígio, O foco do príncipe deve estar constantemente voltado no
sentido
de, em cada atitude e acima de tudo, procurar conquistar para si o
prestígio e a reputação de uma pessoa grandiosa e marcante.
Outra estratégia que traz prestígio ao príncipe é ter sempre uma
posição clara a respeito das coisas, mostrando-se um verdadeiro amigo
ou um inimigo honesto. Com isso, quero dizer que ele deve, sem
nenhuma restrição, declarar-se aberta e francamente a favor de uma ideia
ou pessoa em oposição à outra.
Esteja atento, pois, ao contrário do que muitos pensam, assumir
uma posição claramente em favor de alguém é sempre melhor do que
manter-se neutro.
Vejamos o porquê: no caso de o vencedor ser de tal ordem que seja
prudente temê-lo, caso você não se declare abertamente durante a
disputa, mais tarde, sem dúvida, você se tornará presa fácil dele, pois ele
não lhe considerará um amigo, uma vez que não o apoiou. E aquele que
foi vencido tirará disso satisfação e prazer. Ele irá torcer para que você
seja derrotado também, uma vez que não o auxiliou na disputa. Assim,
você não terá aliado algum para sua defesa, nem terá quem o acolha
Talvez você se pergunte: e se eu procurar o
vencedor para formar uma aliança com ele?
: quem é vencedor não aceita aliados suspeitos e que desapareçam
nos momentos difíceis. E quem perde não o aceitará porque você não
quis lutar ao lado dele quando ele precisou de você
Como todo comandante sabe, aquele que é
seu inimigo sempre irá lhe pedir para que se
mantenha neutro; e aquele que é seu amigo o
incitará a tomar partido ao lado dele,
abertamente
Quando, ao contrário, um líder toma partido aberta e ativamente,
sempre encontrará bons aliados e amigos.
E se aquele que você apoiar perder a contenda, os laços serão ainda
mais fortes, porque ele irá reconhecer que você esteve ao seu lado em
um momento de dificuldade. E ele o socorrerá sempre que puder
Vejamos, ainda, o que ocorre no caso de os dois rivais em luta serem
inferiores a você e forem de tal ordem que você não precise temer a
vitória de quem quer que seja.
Neste caso, tomar partido e se aliar a um deles é uma atitude ainda
mais sábia, uma vez que, assim, provocará a ruína de um com a ajuda
daquele que o deveria salvar se fosse sábio. O vencedor, seja quem for,
ficará sob seu domínio. E aquele que você apoiar certamente será o
vencedor.
É preciso ressaltar, contudo, que um príncipe nunca deveria se aliar
com alguém mais poderoso, exceto por extrema necessidade, para
derrotar um terceiro inimigo, como expliquei antes. A razão disso é que,
mesmo vencendo, o príncipe ficará preso ao seu aliado que é mais forte;
e um príncipe deve evitar a todo custo ser dependente, submisso ou
estar sob controle de outro príncipe.
O motivo pelo qual muitos optam pela neutralidade é que ela parece
a escolha com menos riscos. Um príncipe, entretanto, nunca deve
escolher um caminho só por parecer o mais seguro, porque todas as
escolhas envolvem riscos.
Também não é sábio por parte de um príncipe esperar que todas as
suas decisões sejam inteiramente acertadas. Ele deve saber que, pelo
contrário, suas decisões são sempre incertas. Pois é da natureza das
coisas, quando se busca resolver um problema, nunca deixa de criar
outro
Além do mais, para obter prestígio, ele deve, ainda, mostrar-se admirador
dos talentos e reconhecer aqueles que se destacam numa arte qualquer.
Do mesmo modo, deve estimular seus cidadãos a exercer suas
atividades em liberdade, seja nos esportes, nas artes, no comércio, na
agricultura ou em qualquer outra área.
Aos cidadãos cabe não deixar de produzir riquezas pelo medo de
serem assaltados, atacados ou do risco de serem perseguidos por isso.
Aquele que quiser acumular riquezas deve ter a liberdade de fazê-lo sem
precisar temer que suas posses lhe sejam tomadas.
Por esse motivo, o príncipe deve instituir prêmios e
reconhecimentos especiais para aqueles que desejarem empreender em
tais coisas e enriquecer sua empresa, família ou comunidade.
Ele deve também, em certas épocas do ano, promover festas e
espetáculos ao seu povo. E como todas as comunidades estão divididas
em grupos culturais, profissionais e étnicos, deve envolver-se com elas,
procurando dar provas de afabilidade e união, mantendo sempre
íntegras e honradas, entretanto, a grandeza e superioridade do seu
posto.
Capítulo XXI
O que um príncipe deve realizar para ser estimado
o a
estratégia do manipulador é sempre a mesma: criar uma espécie de culto
em torno de uma causa aparentemente nobre e se colocar no centro,
como profeta e precursor da transformação que, em geral, converte um,
aparente, mal num bem.
O processo todo não envolve nenhum tipo de ação (o que exigiria
esforço e resultados concretos), mas imagens e palavras sempre
empolgantes e evasivas. De um lado, o que essas pessoas nos oferecem
parece grandioso e transformador; de outro, vazio, raso e evazivo. Isso
não é uma falha, mas uma técnica. Porque o vazio e evasivo oferece
espaço para os indivíduos criarem sua própria ilusão sobre a promessa
grandiosa que lhes é oferecida. E a técnica terá um efeito ainda maior se
as palavras tiverem enorme ressonância, se forem repletas de
entusiasmo, calor e promessas eloquentes. Títulos sólidos e pomposos,
muitas vezes envolvendo números para esconder a característica vaga do
conceito em si, podem ter um efeito viral sobre as massas.
quenta
anos em cinco”, Fernando Collor de Mello e o “caçador de marajás”, Luiz
Inácio Lula da Silva e o “fome zero”. Em todos eles, teve-se o cuidado de
criar um slogan que criasse nos seguidores a sensação de fazerem parte
de um grupo exclusivo que os conectasse a uma causa nobre, grande,
maior que eles próprios. Em todos, há uma luta envolvida. Sempre
contra um terrível inimigo comum, alguém que todos querem ajudar a
exterminar
Ao apresentar uma causa nobre, e apontar seu adversário como
inimigo dessa causa, essas pessoas criam a sensação de que o mundo
está divido em dois blocos: o bloco do bem e o bloco do mal. Elas,
lógico, são o bloco do bem; os seus adversários, o do mal. Exemplos
dessa técnica podem ser percebidas na história de Stálin e sua luta
contra o capitalismo,
Para evitar esse tipo de manipulação, olhe sempre para o produto ou
para a pessoa e não para a causa na qual se insere. Olhe para o indivíduo
em si, não para o super-herói no qual ele tenta se projetar por trás de
uma causa. Analise suas palavras sem a euforia que elas provocam. Em
vez de se concentrar cegamente na causa proposta, questione o como, o
quando e o porquê dessa causa. O manipulador nunca terá a resposta para
essas questões. Jamais se distraia com a imagem colorida que as
pessoas pintam de si mesmas. Procure por aquilo que as motiva, pelos
interesses escondidos em suas palavras entusiasmadas e enganadoras.
E se você busca prestígio e liderança, torne-se uma fonte de prazer e
distração para os outros. Acorde, atice e flerte com a imaginação e a
fantasia deles
LEMBRE-SE: os indivíduos raramente acreditam que seus problemas são
fruto de seus próprios erros e da sua própria ignorância. A culpa sempre
é de alguém ou de algo: os outros, a vida, as circunstâncias, a falta de
sorte, a ausência de oportunidades e assim por diante. E se, na mente
deles, a causa vem de fora, a solução também precisa estar lá fora
se você busca prestígio e liderança, torne-se uma fonte de prazer e
distração para os outros. Acorde, atice e flerte com a imaginação e a
fantasia deles.
Evite ser o tipo realista e racional que lida abertamente com a dura
realidade dos fatos. Jamais cometa o erro de dizer a quem você quer
seduzir, que o sucesso, a riqueza e o prestígio são resultados do esforço
e do trabalho duro, mesmo sabendo que isso é verdade.
sua promessa de
salvação não deve passar de promessa. Ela até pode ser intangível na
realidade, mas precisa ser perfeitamente palpável na imaginação das
pessoas.
Faça-as sonhar, desejar, serem tentadas por sua promessa, mas não
lhes dê o suficiente para compreendê-la a ponto de quererem colocá-la
em prática. Mantenha a realização delas sempre distante, não a explique
demais, pois isso revelaria os obstáculos que precisam ser superados
para realizá-la e, com isso, a maioria perderia o interesse por sua ideia
CAPÍTULO 4
DA QUESTÃO ECONÔMICA — QUANDO SE DEVE SER
GENEROSO OU SOVINA
A reputação de
generoso pode ser um
fator positivo. Mas o
comportamento que
lhe dá essa reputação
pode lhe trazer
enormes problemas.”
Primeiro, porque se você quiser ser
generoso de modo virtuoso, como se deve ser,
terá que exercer a generosidade em silêncio,
com discrição, sem que a sua mão esquerda
saiba o que a direita está fazendo. E, nesse caso, ninguém saberá da sua
qualidade e você não tirará nenhum proveito dela.
Por outro lado, se você quiser ser amplamente conhecido como
generoso, tem de aproveitar todas as oportunidades que aparecem para
mostrar sua generosidade. Se seguir por esse caminho, terá que gastar
muito e, logo, ficará sem recursos.
Se
quiser manter sua fama de generoso terá de sacrificar o povo
extraordinariamente, sobretudo os que mais produzem. Terá que agir
com dureza e sem piedade no aumento da arrecadação de impostos e na
criação de novas taxas. Terá que fazer todo o possível para juntar
dinheiro a fim de poder sustentar sua generosidade.
Isso começará a torná-lo odioso aos olhos do povo. E, nesse caso, o
empobrecerá. E não tenha dúvida: assim que estiver empobrecido, o
povo, inclusive aqueles a quem você serviu com sua generosidade,
perderá o respeito e a estima por você.
Ao perceber a falta de recursos e os revezes
que a situação lhe causa você desejará retrair#se e cortar as ações que lhe dão a
fama de
generoso e imediatamente se verá rotulado
como mentiroso, enganador e avarento.
o
príncipe, para ser prudente, não deve se preocupar em buscar a
reputação de generoso. Tampouco, deve se importar caso o rotulem de
avarento ou mesquinho.
Com o tempo, ele poderá demonstrar sua generosidade. Pois sua
rigidez no controle de gastos fará com que acumule recursos que poderá
investir em benefícios para a população e também atrever-se à
construção de obras grandiosas que promovam o desenvolvimento da
comunidade. Tudo sem sacrificar o povo com o aumento da cobrança de
taxas e impostos.
Se agir dessa forma, logo as pessoas verão que ele está sendo
generoso com aqueles dos quais nada tira — que são muitos — e
avarento apenas com aqueles para os quais nada dá — que são poucos
No primeiro caso, quando se
está no poder, a generosidade sempre é prejudicial. No segundo, quando
se está a caminho dele, é preciso buscar a fama de generoso.
Desse modo, é mais prudente ter fama de sovina e mesquinho, o que
acarreta má fama sem ódio, do que, para obter fama de generoso, ser
levado a incorrer também na de desonesto e corrupto, o que constitui
infâmia odiosa e quase sempre imperdoável.
Da liberalidade e da parcimônia
regra da reciprocidade