Processo
Administrativo
Lilian Pires
PROCESSO ADMINISTRATIVO
• Podemos definir o processo como um conjunto de atos coordenados para a
obtenção de decisão sobre uma controvérsia no âmbito judicial ou
administrativo; já o procedimento é o modo de realização do processo, ou
seja, o rito processual.
• Lucia Valle Figueiredo , adota a classificação de Giannini, e define da seguinte forma:
• 1. procedimento / forma de atuação da administração
• Processo 2. procedimento – seqüência de atos a) procedimento nominado
• (gênero) b) procedimento inominado
•
• 3. Processo a) processo revisivos
• Sentido estrito b) processo disciplinar
• c) processo sancionatório
Critério lógico: direito é uma realidade social, portanto o jurista e o legislador devem
preferir conservar o sentido das palavras que lhe dá o linguajar comum
Critério normativo: Constituição Federal – artigo 5, inciso LV
Critério ideológico: o processo é uma relação jurídica entre o Cidadão e o Estado
para viabilizar o direito subjetivo público , visando instrumentalizar o direito
subjetivo público à solução imparcial dos litígios pelo Estado
Princípios do processo administrativo
1) Princípio do devido processo legal (“Due process of law”) – com assento
constitucional no art. 5º , LIV e LV, o devido processo legal é uma garantia defendida
pela doutrina, jurisprudência e também pela Lei 9.784/99 em seu artigo 2º,
podendo ser analisado sob dois aspectos: o adjetivo e o substantivo.
O adjetivo, também chamado em sentido processual ou formal, refere-se à garantia
de um processo democrático, com a aplicação dos princípios do contraditório e
ampla defesa, do juiz natural e da não admissão de provas obtidas por meios ilícitos.
Podemos então dizer que o contraditório e a ampla defesa decorrem do devido
processo legal.
• Contraditório é o direito do acusado se manifestar sobre fatos a ele imputados e
provas contra ele produzidas.
• Ampla defesa é o direito do acusado se utilizar de todos os meios lícitos para provar
sua inocência.
O aspecto substantivo, também chamado em sentido material ou substancial,
refere-se ao direito de decisões justas. É o reconhecimento da aplicação pelo juiz
dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. (“substantive due process of
law”).
2) Princípio da gratuidade – significa a não onerosidade do processo administrativo;
pois a Lei 9.784/99, em seu artigo 2º, parágrafo único, veda a cobrança de despesas
processuais em sede administrativa, com exceção para os casos em que leis
específicas ressalvarem.
3) Princípio da oficialidade (ou da impulsão de ofício) – assegura a possibilidade de
a própria Administração instaurar processo administrativo; bem como produzir as provas
necessárias à sua instrução.
4) Princípio do formalismo moderado (ou da informalidade) – não significa a
ausência de forma, mas a não sujeição a normas tão rígidas como as que norteiam o
processo judicial; salvo quando a lei expressamente exigir o atendimento de formas
determinadas e rigorosas.
O STF decidiu (RMS 22450 –DF) que o rigor na via administrativa não se equipara ao
formalismo judicial “tratando-se de procedimento administrativo disciplinar, o julgamento
fora do prazo legal não importa nulidade (Lei 8112/90, art. 169 , parágrafo 1º
5) Princípio da verdade material – também denominado de liberdade de prova,
permite a Administração utilizar quaisquer provas lícitas de que tenha conhecimento e
juntá-las no respectivo processo administrativo, a fim de auxiliar na elucidação do caso.
6) Princípio da motivação – obriga a autoridade competente quando decidir sobre uma
lide, motivar as razões de sua decisão face à vinculação ao devido procedimento legal,
e para que o acusado possa saber o porquê daquele desfecho. A ausência de
motivação gera a nulidade do processo por cerceamento de defesa.
7) Princípio da celeridade processual ou da razoável duração do processo –
inserido no ordenamento pela Emenda Constitucional nº 45/04, ao criar mais um inciso
no art. 5º, assim redigido: “LXXVIII – A todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de
sua tramitação”.
Fases do Processo Administrativo
O processo administrativo existirá em todas as vezes que houver um litígio
entre o particular ou administrado e a Administração. Conforme as determinações da
lei que rege o processo administrativo (Lei nº 9.784/99) ele terá as seguintes fases:
a) Instauratória – pode decorrer da provocação da pessoa interessada, que representa
junto à Administração; ou de ofício pela própria Administração, que por força do
princípio da oficialidade, deve instaurar processos administrativos em casos de
portarias, autos de infrações e despachos das autoridades competentes.
b) Instrutória – é a fase em que a Administração, impulsionada pelo princípio da
oficialidade, busca produzir provas por todos os meios lícitos e admitidos em direito,
sem prejuízo do direito de apresentação de defesa e provas pela parte adversa.
a) Decisória – é a fase final do processo, demarcada pela decisão da autoridade
administrativa competente, devidamente acompanhada de sua motivação.
Obs.: 1) O prazo para recurso é de 10 dias, contados da ciência ou divulgação
oficial da decisão recorrida (chamado de recurso hierárquico); 2) Quando a Lei não
fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá ser decidido no prazo máximo
de 30 dias; 3) O recurso não tem efeito suspensivo, mas a autoridade se achar
pertinente, poderá dar efeito suspensivo ao recurso (art. 61, parágrafo único, da Lei
9.784/99).
Tipos de Processos Administrativos
- de gestão – Ex.: Licitações; concurso público; concurso de movimentação nas
carreiras – promoção e remoção, etc.
- de outorga – Ex.: Licenciamento ambiental; licenciamento de atividades e exercício
de direitos, registro de marcas e patentes, etc.
- de controle – Ex.: Prestação de contas; lançamento tributário; consulta fiscal, etc.
punitivos – internos (imposição de sanções disciplinares) e externos (apuração de
infrações).
Processo Administrativo Disciplinar (PAD)
Processo Administrativo Disciplinar (PAD) é o meio hábil que a Administração tem
para apurar as faltas disciplinares, as violações de deveres funcionais e as
imposições de sanções a servidores públicos.
A Constituição Federal, em seu art. 41, determina a obrigatoriedade da instauração
de processo administrativo disciplinar para a apuração de fatos que impliquem em
penalizações com perda de cargo para o servidor estável.
Para a Lei 8.112/90 (Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União) é obrigatória a
instauração de PAD quando o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição das
seguintes penalidades:
• Suspensão por mais de trinta dias
• Demissão
• Cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
• Destituição de cargo em comissão
Para o bom andamento do processo o servidor poderá ser afastado preventivamente
pelo prazo de 60 dias, prorrogado uma vez por igual período, sem prejuízo da
remuneração.
O PAD será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados
pela autoridade competente que indicará entre eles o seu presidente. Esses agentes
deverão ocupar cargo idêntico ou mais elevado do que o servidor acusado ou ter nível
de escolaridade igual ou superior ao do indiciado (art. 149 da Lei 8.112/90).
Obs.: No PAD será sempre garantido o contraditório e ampla defesa.
Fases do PAD (art. 151 da Lei 8.112/90)
O PAD é composto de três fases: a Instauração (é a propositura do processo e inicia-
se com a publicação do ato que constituir a comissão), o Inquérito administrativo (que
compreende a instrução, a defesa e o relatório) e por fim o Julgamento (que é a
decisão proferida pela autoridade competente).
ATENÇÃO: A Súmula 343 do STJ estabelece que é obrigatória a presença de
advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar.
Súmula vinculante 05 - A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição. RE 434.059,
Observações importantes:
1) O prazo para a conclusão do PAD é de 60 dias admitida sua prorrogação por igual
período.
2) O indiciado será citado por mandado para apresentar defesa escrita no prazo de 10
dias.
3) Se houver dois ou mais indiciados o prazo será comum de 20 dias.
4) Se o indiciado estiver em local incerto e não sabido (LINS) o prazo será de 15 dias.
5) Concluído o serviço da Comissão, o PAD é encaminhado a autoridade competente
para que profira sua decisão no prazo de 20 dias contados do recebimento.
Da Revisão do Processo
O PAD poderá ser revisto a qualquer tempo a pedido ou de ofício quando surgirem
fatos novos ou na inadequação da penalidade.
O prazo para julgamento do pedido de revisão é de 20 dias.
Da revisão não poderá resultar agravamento da penalidade, logo não se admite a
“reformatio in pejus” (art. 182, parágrafo único da Lei 8.112/90).
Processo Sumário
É o meio utilizado pela Administração para a “elucidação preliminar” de
determinados fatos ou aplicação de penalidades disciplinares menores ou
comprovadas na sua flagrância, como a sindicância e a verdade sabida.
1) Sindicância administrativa – É o procedimento mais simples cabível nos casos
de aplicação das penalidades de advertência e suspensão de até 30 dias.
Também se admite a utilização da sindicância como procedimento prévio
investigativo, mas neste caso se dispensa o contraditório e ampla defesa.
O prazo para conclusão da sindicância é de 30 dias podendo ser prorrogado por
mais 30 dias e dela poderá resultar:
- o arquivamento do processo
- a aplicação de penalidades de advertência ou suspensão até 30dias ou
- a instauração de processo administrativo disciplinar.
2) Verdade Sabida – é admitida nos estatutos que regem o funcionalismo de alguns
Estados, para a aplicação de pequenas sanções mediante os institutos da ampla
defesa e do contraditório, nas hipóteses em que a autoridade superior presencie ou
tome conhecimento inequívoco de faltas disciplinares efetuadas pelo seu servidor.
Todavia, este meio sumário não foi recepcionado pela CF/88, restando, portanto, a
sua utilização como método de apuração disciplinar inconstitucional ante um caso
concreto.