TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO
JURÍDICA
C/ GILDETE POMPEU
REVISÃO
• Ao longo dos tempos, a comunicação evoluiu paralelamente
com o homem até hoje. A evolução da comunicação pode-se
dividir em duas partes: Pré-História e História. Pré-História é
toda a forma de civilização anterior à invenção da escrita. O
REVISÃO surgimento da escrita marca o início da História.
• A linguagem é o instrumento que garante ao ser humano
estabelecer diálogo com seu semelhante ao mesmo tempo que
confere sentido à realidade e a seu agir.
Conceitos Iniciais
Embora no cotidiano os termos linguagem, língua e fala sejam
utilizados sem rígida distinção são expressões que não podem ser
confundidas.
A linguística é definida como campo do conhecimento que
estuda a linguagem verbal humana que, com base em teorias e
estudos específicos, possibilita compreender as
REVISÃO transformações das línguas e seus desdobramentos em distintos
idiomas.
É importante salientar que o termo “linguagem”, como melhor
veremos mais adiante, é relacionado a fenômenos bastante
diversos. Além de referir-se a uma capacidade humana, é
utilizado para compor expressões como “linguagem corporal”,
“linguagem literária”, “linguagem jurídica”, dentre outras.
A língua é entendida como um “código” através do qual se
estabelece a comunicação entre um emissor (aquele que
codifica) e um receptor(aquele que decodifica).
Conceitos Iniciais
A linguagem é classificada em:
1- Linguagem verbal:
1.1 – Escrita;
1.2 - Oral
2- Linguagem não verbal;
3- Linguagem mista.
REVISÃO
É comum utilizarmos a combinação da linguagem verbal e não
verbal, do tipo mista. Nos dias de hoje, utilizamos mensagens via
internet com palavras (mensagem verbal) e com emojis
(linguagem não verbal).
De acordo com Petri (2017), as funções da linguagem podem ser
classificadas em: função referencial, função emotiva, função
conotativa, função poética e função metalinguística, cada qual
possuindo características bastante particulares.
Conceitos Iniciais
O Brasil, por exemplo, é um país com imensa variedade de línguas.
Somos o oitavo país com maior número de línguas em uso, sendo a
maioria das comunidades indígenas. São 190 línguas indígenas que
atualmente estão em perigo de extinção. O Brasil, além dos
diferentes sotaques regionais, é um país multilíngue.
As diferenças sociais não podem servir de condição para que os
REVISÃO indivíduos sejam considerados aptos a exercerem a
comunicação “certa ou errada”.
REVISÃO
• Conceitos Iniciais
• A linguagem jurídica é uma das
manifestações específicas da
língua portuguesa aplicada à
uma área específica do
conhecimento com características
próprias.
• Jargão é o vocabulário típico de
uma especialidade profissional e
é utilizado especificamente por
pessoas que compõem
determinado segmento ou grupo
tecnicamente especializado.
Conceitos Iniciais
O vocabulário jurídico carrega consigo vícios para os quais
devemos estar atentos. Polissemia, Homonímia, Sinonímia,
Paronímia, Vagueza e Ambiguidade são os desafios a serem
enfrentados pelos juristas a fim de adequadamente interpretar
e aplicar a norma jurídica.
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Não é incomum os termos oratória e retórica serem
REVISÃO equivocadamente utilizados como sinônimos, uma vez que ambos
possuem conceitos semelhantes e estão relacionados com a
habilidade de comunicação.
A retórica é mais abrangente e é independente da existência de uma
plateia, e tem o claro objetivo de persuadir o público. Alguém que
possua boa retórica pode se comunicar não estando necessariamente
diante de um público.
A oratória como a arte de bem falar em público, de forma eloquente
e é uma forma específica de comunicação. É uma habilidade
comunicar-se com confiança e clareza.
Conceitos Iniciais
A oratória é considerada um conhecimento específico constituído
por meios e regras através das quais se chama a atenção e influencia
o público ouvinte.
1- Dicção;
2- Gesticulação;
3 - . Intensidade de voz.
REVISÃO
A chamada oratória forense é aquela utilizada no cotidiano dos
tribunais, seja na sustentação oral ou mesmo na sustentação de um
recurso. Ainda nas audiências, o profissional do Direito necessita
fazer intervenções a fim de esclarecer dúvidas ou equívocos que
podem interferir diretamente no julgamento de uma causa.
Nos tribunais gregos, os processos eram essencialmente orais e para
tanto, o discurso retórico era essencial. A retórica era uma
habilidade ensinada pelos sofistas que dava a habilidade de
confrontar argumentos contrários e não a sustentação de uma
verdade.
REVISÃO
• Córax, discípulo do filósofo
Empédocles, e Tísias,
publicaram a obra Arte
Retórica, com o objetivo de
instrumentalizar os cidadãos
envolvidos em disputas
judiciais à habilidade de
convencer.
REVISÃO
• Argumento é um termo que deriva
do latim argumentum, que significa um
raciocínio que se utiliza para demonstrar ou
comprovar uma proposição ou ainda para
convencer.
• 1- Convencer é o primeiro passo que tem
por objetivo esclarecer;
• 2- Persuadir é ir mais além e leva a um
resultado por ter como objetivo um “levar a
fazer”.
A argumentação, portanto, deve ser elaborada de acordo com o
auditório e deve possuir elementos ou componentes básicos que,
segundo Henriques (2013), são os seguintes:
1- Coerência;
2 – Carisma; e
3 – Dialética.
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REVISÃO Falácia argumentativa ocorre quando o raciocínio desenvolvido
aparenta ser válido e verdadeiro, mas em realidade é falso e
incorreto em razão dos vícios e incoerências de que possui, e, por
essa razão.
O termo “falácia” tem sua origem no verbo latino fallare (enganar),
sendo, portanto, relacionado com engano, falha, erro ou equívoco.
Para Freitas (2012, p. 138), “Falácias são erros lógicos, conscientes ou
inconscientes, enganadores e/ou autoenganadores, que servem para
ludibriar e formar pré-compreensões equivocadas, conducentes a
preconceitos ilegítimos, estereótipos e más decisões”.
As figuras de linguagem são formas de utilização não literal das
palavras que, distanciando-se dos padrões gramaticais
convencionais, dão à argumentação mais ênfase. Por sua
importância merecem destaque particular.
REVISÃO
Como já estudado, a argumentação é definida como recurso linguístico que
tem como estratégia razões de defesa de uma conclusão – argumentos – a
fim de convencer alguém. Assim, ao utilizarmos recursos lógicos de
argumentação estamos fazendo uso de mecanismos para convencer alguém
a “pensar como pensamos” (ELTZ; TEIXEIRA; DUARTE, 2018, p. 110).
Veremos que a validade de um argumento jurídico decorre da lógica das
inferências elaboradas, ou seja, poderemos compreender que na atividade do
jurista se impõe a necessidade de realização de um conjunto de deduções
conceituais e relacionadas aos fatos ou informações relevantes a fim de
produzir o direito do caso concreto.
REVISÃO PAP
A lógica jurídica é definida como um conjunto de técnicas racionais
que possibilitam a elaboração de um raciocínio argumentativo
persuasivo cujo objetivo é a tomada de uma decisão na esfera
jurídica.
No direito não há exercício de nenhuma atividade sem justificação e
argumentação.
No entender de Eltz, Teixeira e Duarte (2018, p. 110), os argumentos jurídicos
podem ser simples ou padronizados e complexos.
1- Argumentos Simples;
2- Argumentos Complexos.
Aristóteles definiu o ser humano como “animal que fala”, ou seja, percebeu
que diferente dos demais animais, o homem possui linguagem e que os
enunciados linguísticos possuem sentido e validade, nascendo desde aí, a
lógica como estudo sistemático dos enunciados linguísticos.
A lógica ou argumento válido deve obedecer a três princípios básicos:
REVISÃO
1- Princípio da Identidade: é a enunciação da identidade, do que é, os seres e
as coisas. Por exemplo, quando afirmamos: “isto é um laudo”;
2- Princípio da não Contradição: segundo tal princípio, um ser ou uma coisa
não pode ao mesmo tempo ter e não ter uma identidade. Ex: se “isso é um
laudo”, logo não pode ser “um parecer”;
3- Princípio do Terceiro Excluído: segundo tal princípio, se o ser ou a coisa é
ou não é algo não existe uma possibilidade. Ex: “isso é um laudo”, não há
outra possibilidade.
Inferência é uma operação mental através da qual se extrai uma conclusão –
nova proposição – de outras proposições já conhecidas.
Lacuna é a ausência de norma para disciplinar o caso concreto, que pode ser
de diferentes tipos:
1- Lacuna Normativa;
2- Lacuna Ontológica;
3- Lacuna Axiológica; e
4- Antinomia.
Uma das soluções é a analogia que consiste em uma forma de raciocínio
REVISÃO lógico através da comparação, servindo como integração da lei.
Há que sempre se considerar que o objetivo de um argumento jurídico é o
convencimento que deve ser demonstrado de maneira lógica e coerente a fim
de conduzir a uma necessária conclusão.
REVISÃO
No campo do direito, especificamente, o que melhor expressa o pensamento
moderno é o positivismo jurídico. Direito Positivo designa o conjunto de
normas jurídicas “postas” pelo poder político. Portanto, o Direito Positivo é,
nesse sentido, o conjunto de normas legais formais necessárias ao controle
social estabelecido e modernamente postas pelo Estado.
O termo “positivismo” foi empregado pela primeira vez pelo filósofo francês
Claude Saint-Simon (1760-1825) para designar o método exato das ciências e
a possibilidade de sua extensão à filosofia. Mais tarde, Auguste Comte (1798-
1857) utilizou a expressão para designar a sua filosofia, que teve grande
expressão no mundo ocidental durante a segunda metade do século 19
(estendendo-se no Brasil à primeira metade do século 20).
Um dos elementos centrais e ponto de partida é o conceito de
contratualismo, uma espécie de “fórmula” política e jurídica que vai
aliar convenientemente convivência social e submissão a um poder
comum.
Os pensadores contratualistas, tais como Thomas Hobbes (1588-1679),
B. Spinoza (1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), John Locke (1632-
1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), I. Kant (1724-1804)
defendiam a ideia de que o “estado de natureza” é um tipo de
condição humana irracional que deveria definitivamente ser superado
REVISÃO quando uma forma de poder fosse capaz de controlar os conflitos.
É a partir da concepção do contratualismo que se consolida um dos
grandes princípios do Direito Moderno: o princípio da legalidade. Tal
princípio funda-se na ideia de que um conjunto de normas objetivas,
tecnicamente adequadas e legitimamente construídas é capaz de
promover a segurança jurídica e a previsibilidade nas relações
humanas.
Se o século XIX foi marcado por um enorme esforço de construção de ciência
desde o modelo proposto por Comte, com a pretensão de estabelecer um
conhecimento fundado na neutralidade e objetividade científica, no século XX
assiste-se a uma autêntica crise, uma transformação, sobretudo no período
pós-guerra.
O aprofundamento da crise do positivismo jurídico tem como marco a origem
dos regimes totalitários nos países europeus logo após a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). O totalitarismo, em suas distintas versões como o
stalinismo soviético, o fascismo italiano de Benito Mussolini, o nazismo
alemão de Hitler, o salazarismo português e o franquismo espanhol, levou boa
parte da humanidade a deixar de acreditar que através da lei haveria justiça.
REVISÃO
A partir dos anos 1950, a Europa, e com ela boa parte da humanidade, deixou
de acreditar na neutralidade e autonomia do direito constatando-se que a
exclusão de valores éticos e morais do campo interpretativo seriam
responsáveis pela complacência dos juristas com o extermínio de seres
humanos.
Pouco a pouco vai se definindo uma nova cultura jurídica sustentada por um
novo constitucionalismo, consagrado por algumas Constituições do período
pós-guerra, que aproximou democracia e constitucionalismo, dando
contornos a um novo modelo de Estado constitucional de Direito.
O neoconstitucionalismo, chamado também de novo constitucionalismo ou
constitucionalismo contemporâneo, trouxe significativas alterações no direito,
particularmente na interpretação normativa.
O termo “neoconstitucionalismo” é relacionado ao conceito de
constitucionalismo construído na Espanha e na Itália e tem sido amplamente
utilizado sobretudo após os estudos do jurista mexicano Miguel Carbonell.
Trata-se de uma redefinição da própria cultura jurídica que passou a
considerar as constituições como normas superiores de natureza
programática, ou seja, os princípios por elas declarados passam a vincular
também a interpretação do próprio direito.
REVISÃO
Segundo Canotilho (2002), os princípios são normas com um alto grau de
abstração, enquanto as regras possuem uma abstração relativamente
reduzida.
Especificamente no campo jurídico, a hermenêutica é construída com
o advento do direito moderno quando, diante de um agir político-social no
sentido de estabelecer as condições para viabilizar o Estado e o modelo de
sociedade moderna, é que se coloca a necessidade de uma específica
racionalização, não apenas da criação do Direito, mas de sua interpretação e
aplicação através de critérios hermenêuticos.
O uso do termo “Hermenêutica” para querer significar interpretação
ou compreensão do sentido de uma mensagem expressa na linguagem não é
HERMENÊUTICA E
recente na cultura ocidental. Trata-se da tradução latina da palavra grega
INTERPRETAÇÃO: hermèneutike (IIЄpí EpμηνЄίας utilizado por Aristóteles) que é relacionado à
CONCEITOS INICIAIS compreensão da mensagem expressa de um texto.
Buscando responder a essa questão surge o conceito mais tradicional
de hermenêutica desenvolvido entre os séculos XVII e XVIII por pensadores
europeus, sobretudo após a Reforma Luterana. A atividade hermenêutica era
a de “revelar o sentido certo ou verdadeiro” de um texto tal qual teria
pretendido o autor.
É necessário que se leve em conta algumas condições, tais como o
contexto cultural, a temporalidade e a particularidade do autor, como
elementos de construção da mensagem, o que permite afirmar que não há
sentido pleno e fixo de uma mensagem sem levar seu contexto, as mudanças
de sentido ao longo do tempo e autoria.
A compreensão, portanto, é um processo que envolve o
conhecimento prévio da linguagem em si, a decodificação das palavras e o
vínculo ou elo cultural e/ou intelectual com o autor do texto. No processo
compreensivo há existência de elementos prévios que o intérprete carrega em
HERMENÊUTICA E si e agem diretamente na compreensão. É aí que está um dos campos da
INTERPRETAÇÃO: hermenêutica. Seu objeto de estudo: a definição de pressupostos que
CONCEITOS INICIAIS reconhecem os elementos prévios que agem no processo compreensivo e
norteiam o processo argumentativo, a partir da definição de um método.
O processo compreensivo decorre das circunstâncias em que o
intérprete se insere e sua carga, ou bagagem, intelectual, cultural, ideológica
etc., ou seja, o sujeito é produto de suas circunstâncias desde as quais
estabelece o horizonte compreensivo, ou horizonte hermenêutico.
Para as correntes tradicionais do direito, a interpretação não é
apenas restrita ao órgão julgador, uma vez que a função do juiz é
decidir/aplicar da sentença. Porém, há outros órgãos com competência para
interpretar. Desde essa consideração, a interpretação jurídica se classifica de
acordo com o seu intérprete que pode ser: autêntica, judicial e doutrinária,
podendo-se falar ainda em interpretação administrativa que é aquela feita
pelos órgãos da administração pública.
HERMENÊUTICA
JURÍDICA
A ordem política e jurídica colocada em marcha no Brasil com a
Constituição de 1988 e o inédito momento histórico de então somados
representaram a consolidação dos direitos fundamentais que representaram a
concretização de uma ordem política e jurídica que buscava superar um
histórico e quadro social de exclusão e violação sistemática de direitos.
DESAFIOS PARA A Desde aí se aprofundaram e se radicalizaram os estudos da
HERMENÊUTICA hermenêutica jurídica. Influenciados pelo pensamento de Ronald Dworkin,
Robert Alexy, John Rawls, Hans Georg Gadamer, Jurgen Habermas, entre
JURÍDICA DO outros, juristas como Lenio L. Streck e Eros Roberto Grau refundam o
BRASIL pensamento jurídico brasileiro denunciando e renunciando ao velho
positivismo e seus procedimentos hermenêuticos.
CONTEMPORÂNEO
As novidades interpretativas e argumentativas trazidas ao Brasil em
fins do século XX, sobretudo com a entrada em cena do
neoconstitucionalismo, acabou por produzir descontrolado solipsismo que
corre o risco de confundir discricionariedade com arbitrariedade.
INTERVALO
BOA PROVA A TODOS