Panorama do Antigo Testamento: Levítico
Leis, Sacrifícios e Santidade
Introdução:
O Livro de Levítico é uma coleção de leis e regulamentos que visavam guiar os israelitas em sua adoração a Deus e na
sua vida diária. Ele estabelece os procedimentos para os sacrifícios, promove a pureza ritual e destaca a importância
da santidade e obediência a Deus. Embora muitas dessas leis sejam específicas para a antiga cultura israelita, o livro
também contém princípios atemporais de justiça, amor ao próximo e devoção a Deus, que podem ser aplicados de
forma relevante nos dias de hoje.
Levítico é um livro que detalha as leis e regulamentos que Deus deu ao povo de Israel, especificamente aos levitas, a
tribo designada para cuidar do Tabernáculo e dos serviços religiosos. O Tabernáculo era uma estrutura móvel
construída de acordo com as instruções divinas, onde Deus manifestava Sua presença e onde os rituais e sacrifícios
eram realizados como parte da adoração.
O livro de Levítico descreve as responsabilidades sacerdotais dos levitas, incluindo as regras para os rituais de
sacrifícios, as leis de pureza ritual, as festividades religiosas e as obrigações morais e éticas do povo de Israel. Essas leis
e regulamentos foram fundamentais para estabelecer a ordem, a santidade e a adoração adequada no meio do povo.
Temas Principais do Livro:
Sacrifícios e Culto Pureza e Santidade
Os primeiros sete capítulos detalham os diferentes A segunda parte do livro, que vai do capítulo 8 ao 16,
tipos de sacrifícios que os israelitas deveriam oferecer trata das leis e regulamentos referentes à pureza ritual
a Deus, incluindo o holocausto, a oferta de cereais, a e santidade. Isso inclui a consagração dos sacerdotes,
oferta pacífica, a oferta pelo pecado e a oferta pela as regras sobre alimentos puros e impuros, a
culpa. Esses sacrifícios eram uma forma de os israelitas purificação após o parto, as leis de higiene e a proibição
se aproximarem de Deus, receberem perdão pelos de práticas pagãs, como idolatria e sacrifícios a outros
pecados e renovarem a comunhão com Ele. deuses.
Leis e Festividades
A última parte do livro, que abrange os capítulos 17 a 27, contém várias leis e mandamentos dados por Deus ao povo
de Israel. Isso inclui regulamentos sobre o sábado, a santidade do povo de Deus, a proibição de práticas sexuais imorais,
as festas religiosas e as leis sobre justiça, caridade e responsabilidades sociais.
Relação com Hebreus
O livro de Levítico é como o antecessor de Hebreus, pois estabelece uma conexão entre o sistema de sacrifícios e o
sacerdócio levítico apresentados em Levítico com a pessoa e o ministério de Jesus Cristo.
O autor de Hebreus faz uma profunda análise dos rituais e sacrifícios levíticos, ressaltando que eles eram sombras e
prefigurações do sacrifício perfeito e definitivo de Jesus na cruz. Ele argumenta que os sacrifícios realizados pelos
sacerdotes levíticos eram temporários e precisavam ser repetidos constantemente para expiar os pecados, enquanto
o sacrifício de Jesus foi único e suficiente para a redenção de toda a humanidade.
Através dessa comparação entre os sacrifícios e o sacerdócio levítico com a obra de Jesus, o autor de Hebreus mostra
que Jesus é o cumprimento e a perfeição de tudo o que foi prefigurado em Levítico. Ele apresenta Jesus como o
verdadeiro sumo sacerdote, o sacrifício definitivo e o mediador entre Deus e os seres humanos, que torna possível o
acesso direto a Deus.
Sacrifícios e Culto
No Livro de Levítico, encontramos uma ampla gama de sacrifícios prescritos por Deus para o povo de Israel. Esses
sacrifícios desempenhavam um papel crucial na adoração e no relacionamento do povo com Deus. Cada tipo de
sacrifício tinha seu propósito e significado específicos.
Cada um desses sacrifícios e ofertas supria uma necessidade específica da vida do adorador e expressava alguma
verdade sobre a Pessoa e obra de Jesus Cristo, o sacrifício perfeito de Deus.
Os sacrifícios de descritos no livro nos fazem lembrar das necessidades espirituais básicas que temos como povo de
Deus:
• Compromisso com Deus
• Comunhão com Deus
• Purificação de Deus
Compromisso com Deus
Holocausto (1: 1-17; 6: 8-13)
O holocausto, ou oferta queimada, era um sacrifício de entrega total a Deus. O animal sacrificado era completamente
consumido pelo fogo, simbolizando uma rendição completa de si mesmo a Deus. Essa oferta destacava a importância
de colocar Deus acima de tudo e oferecemos a Ele toda a nossa vida e não retermos nada. Em Romanos 12: 1-2 somos
chamados a sermos esse sacrifício vivo, inteiramente consagrados ao Senhor.
O Processo do Sacrifício:
• A Seleção do Animal (Romanos 12:1): O ritual do sacrifício foi determinado pelo Senhor e não podia sofrer
variações. O animal sacrificado tinha de ser um macho de novilho (1:3-10), cabrito ou carneiro (10-14), ou
podia ainda ser uma ave (14-1 7),2 e o adorador devia levar o sacrifício até a porta do tabernáculo, onde o fogo
queimava continuamente no altar de bronze (6:13).
• Identificação com a oferta (Efésios 5:2): O sacerdote examinava o sacrifício para certificar-se de que não tinha
qualquer defeito (22:20-24), pois devemos dar ao Senhor o que temos de melhor (Ml 1:6-14). Jesus Cristo foi
um sacrifício "sem defeito e sem mácula" (1 Pe 1:19), que se entregou em total consagração a Deus (Jo 10:17;
Rm 5:19; Hb 10:10).
• Abate e preparação (Hebreus 10:10-14): Exceto quando o sacrifício era de aves, o adorador colocava a mão
sobre o animal a ser sacrificado (1:4), gesto que simbolizava duas coisas:
o (1) a identificação do ofertante com o sacrifício;
o (2) a transferência de algo para o sacrifício.
• Queima no altar: O animal, incluindo suas partes e órgãos internos, era totalmente queimado no altar como
uma oferta agradável a Deus.
A Oferta de Manjares (2: 1-6; 6: 14-23)
A oferta pacífica era um ato de comunhão com Deus e com os outros. Parte da oferta era queimada no altar como um
presente a Deus, enquanto outra parte era compartilhada com o sacerdote e com a pessoa que ofereceu o sacrifício.
Essa oferta destacava a importância da comunhão com Deus e da harmonia entre o povo, promovendo a reconciliação
e a união
Essa oferta representa Jesus Cristo como o Pão da Vida (Jo 6:32ss), Aquele que é perfeito e que nutre o seu interior
quando o adoramos e meditamos sobre sua Palavra. Isso explica o motivo de Deus ter determinado requisitos tão
rígidos a ser preenchidos pelo ofertante antes de a oferta de manjares ser aceita. A oferta devia ser acompanhada de
azeite (Lv 2:1, 2, 4, 6, 15) derramado sobre ela ou misturado com ela, um retrato do Espírito de Deus dado a Cristo sem
medida (Jo 3:34). Também era preciso que incluísse sal (Lv 2:13; Mt 5:13), uma referência à pureza do caráter do
Senhor. Jesus comparou-se a um grão de trigo (Jo 12:23-25), e foi moído ("flor da farinha") e colocado na fornalha do
sofrimento para que pudesse nos salvar de nossos pecados.
Libação (Nm 15: 1-13)
É mencionada em Levítico 23:13, 18, e 37, mas suas "leis" não são explicadas nesses versículos. Assim como a oferta
de manjares, a libação era apresentada depois que os sacrifícios de animais haviam sido colocados sobre o altar e era
uma parte integrante do sacrifício (ver Nm 29:6, 11, 18, 19 e assim por diante). A "quarta parte de um him" eqüivalia
a pouco menos de um litro de líquido. Nem o ofertante nem o sacerdote bebiam do vinho, pois era todo derramado
no altar.
Tanto o holocausto quanto a oferta de manjares e a libação representam consagração a Deus e compromisso com ele
e com sua obra. O derramamento do vinho era um símbolo da vida sendo derramada em consagração a Deus. Na cruz,
Jesus "[derramou-se] como água" (Sl 22:14) e "derramou a sua alma na morte" (Is 53:12). Paulo viu-se sendo oferecido
como libação em favor dos filipenses, participando do sacrifício deles (Fp 2:1 7), e na prisão em Roma, já estava "sendo
oferecido por libação" (2 Tm 4:6), uma vez que antevia seu martírio.
Comunhão com Deus (3; 7: 11-38)
A oferta pacífica era um ato de comunhão com Deus e com os outros. Parte da oferta era queimada no altar como um
presente a Deus, enquanto outra parte era compartilhada com o sacerdote e com a pessoa que ofereceu o sacrifício.
Essa oferta destacava a importância da comunhão com Deus e da harmonia entre o povo, promovendo a reconciliação
e a união.
Isso nos leva ao terceiro aspecto distintivo: o sacrifício pacífico era a única oferta compartilhada com os adoradores.
Depois que o sacerdote havia completado o sacrifício, uma parte considerável da carne ficava para ele, mas o resto era
entregue ao ofertante, que podia, desse modo, desfrutar um banquete com sua família e amigos.
A refeição do sacrifício pacífico, no entanto, era mais do que só desfrutar boa comida e comunhão com pessoas
queridas. Também expressava com alegria as ações de graça do adorador pelo fato de estar em paz com Deus e em
comunhão com o Senhor. Talvez estivesse dando graças por alguma bênção inesperada que havia recebido de Deus (Lv
7:11-15) ou pela reposta às orações de algum voto feito ao Senhor; talvez, ainda, estivesse apenas grato por tudo o
que Deus o havia dado e queria que todos soubessem de sua gratidão (vv. 16-18). O sacrifício pacífico enfatizava o fato
de o perdão dos pecados redundar em comunhão com Deus e com o povo de Deus.
Na cruz, Jesus Cristo pagou o preço pela reconciliação com Deus (2 Co 5:16-21) e pela paz com Deus (Cl 1:20) por todos
aqueles que crerem nele, e podemos ter comunhão com Deus e com os outros cristãos por causa do sangue que ele
derramou (1 Jo 1:5 - 2:2). "Banqueteamos" em Cristo quando nos alimentamos de sua Palavra e nos apropriamos de
tudo o que ele é para nós e do que fez por nós. Em vez de trazer animais, oferecemos a Deus "sacrifícios de ações de
graças" (SI 116:1 7) e o "sacrifício de louvor'' (Hb 13:15) com um coração puro e grato por suas misericórdias.
Purificação de Deus (4-5; 6: 1-7, 24-30; 7: 1-10)
Em Levítico, encontramos diferentes tipos de sacrifícios de purificação que foram estabelecidos por Deus para o povo
de Israel. Esses sacrifícios eram realizados com o propósito de purificar e restaurar a pureza ritual das pessoas que
haviam se contaminado ou se envolvido em situações consideradas impuras. Aqui estão alguns exemplos:
• Oferta pelo pecado (Levítico 4): Essa oferta era apresentada quando alguém cometia um pecado
inadvertidamente, seja um sacerdote, a congregação como um todo ou um indivíduo comum. O sangue do
animal sacrificado era aspergido no altar e suas partes internas eram queimadas fora do acampamento. Esse
sacrifício buscava obter a purificação e o perdão dos pecados cometidos.
• Oferta pela culpa (Levítico 5): Essa oferta era feita quando alguém pecava por negligência ou transgredia algum
dos mandamentos do Senhor. O ofertante trazia um cordeiro ou uma cabra, e, dependendo de suas posses
econômicas, também poderia oferecer uma ave. O animal sacrificado era usado para fazer expiação pelos
pecados cometidos.
Esses sacrifícios de purificação no Livro de Levítico apontavam para a necessidade de expiação e purificação dos
pecados e impurezas. No entanto, no Novo Testamento, encontramos a compreensão de que esses sacrifícios do Antigo
Testamento eram sombras e tipos que apontavam para o sacrifício perfeito de Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Hebreus, destaca como o sacrifício de Jesus supera e cumpre os sacrifícios levíticos
de purificação. Ele ensina que Jesus é o Sumo Sacerdote perfeito e o Cordeiro de Deus sem defeito, que ofereceu a si
mesmo como um sacrifício único e suficiente para a remissão de todos os pecados.
O sacrifício de Jesus na cruz é o sacrifício definitivo de purificação e redenção. Seu sangue derramado tem o poder de
purificar completamente aqueles que creem Nele. Dessa forma, os sacrifícios de purificação em Levítico são vistos
como prefigurações e antecipações do sacrifício de Jesus, que traz uma purificação completa e eterna.
A relação entre os sacrifícios de purificação em Levítico e o Novo Testamento está na compreensão de que Jesus é o
cumprimento final e perfeito desses rituais. Em vez de repetir constantemente os sacrifícios levíticos, os cristãos têm
a certeza da purificação e reconciliação com Deus por meio do sacrifício de Jesus, que proporciona uma purificação
completa e permanente dos pecados.