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Estágio em Psicologia: Melancolia e Psicanálise

O presente artigo apresenta o estágio específico II na clínica escola de psicologia da faculdade Anhanguera de Joinville. A clínica escola oferece ao aluno a possibilidade de integrar a teoria com a prática, configurando-se como um espaço ímpar para o desenvolvimento profissional do acadêmico. Os atendimentos acontecem de forma sistemática, uma vez por semana com possibilidade de continuidade durante os seguintes semestres seguintes. O presente artigo é um estudo bibliográfico referente a melanc

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Estágio em Psicologia: Melancolia e Psicanálise

O presente artigo apresenta o estágio específico II na clínica escola de psicologia da faculdade Anhanguera de Joinville. A clínica escola oferece ao aluno a possibilidade de integrar a teoria com a prática, configurando-se como um espaço ímpar para o desenvolvimento profissional do acadêmico. Os atendimentos acontecem de forma sistemática, uma vez por semana com possibilidade de continuidade durante os seguintes semestres seguintes. O presente artigo é um estudo bibliográfico referente a melanc

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ESTÁGIO ESPECÍFICO II: PSICOLOGIA CLÍNICA E PROMOÇÃO À SAÚDE

Autor: Aline Marquêz


Orientador: Franciana Figueiredo
Faculdade Anhanguera Joinville

RESUMO

O presente artigo apresenta o estágio específico II na clínica escola de psicologia da


faculdade Anhanguera de Joinville. A clínica escola oferece ao aluno a possibilidade de
integrar a teoria com a prática, configurando-se como um espaço ímpar para o
desenvolvimento profissional do acadêmico. Os atendimentos acontecem de forma
sistemática, uma vez por semana com possibilidade de continuidade durante os seguintes
semestres seguintes. O presente artigo é um estudo bibliográfico referente a melancolia na
perspectiva da psicanálise. A hipótese da melancolia surgiu como uma possível explicação
para o sofrimento de pacientes que apresentavam um conjunto de sintomas característicos,
como tristeza profunda, apatia, desânimo e pensamentos negativos persistentes. Essa
hipótese foi formulada a partir da observação clínica de pacientes que relataram esses
sintomas durante o atendimento psicológico. A supervisão realizou-se durante todo o
processo, a troca de experiências entre os acadêmicos e o supervisor foi de suma
importância para a observação e correlação entre os casos e a discussão sobre a condução
do processo terapêutico.

Palavras-chave: Psicanálise; Melancolia; Depressão.

ABSTRACT

This article presents the specific stage II in the psychology school clinic at Anhanguera de
Joinville. The school clinic offers students the possibility of integrating theory with practice,
representing a unique space for the academic's professional development. Services take
place systematically, once a week with the possibility of continuing during the following
semesters. This article is a bibliographical study regarding melancholia from the perspective
of psychoanalysis. The melancholia hypothesis emerged as a possible explanation for the
suffering of patients who presented a set of characteristic symptoms, such as deep sadness,
apathy, discouragement and persistent negative thoughts. This hypothesis was formulated
based on clinical observation of patients who reported these symptoms during psychological
care. Supervision was carried out throughout the process, the exchange of experiences
between the academics and the supervisor was extremely important for the observation and
correlation between the cases and the discussion about the conduct of the therapeutic
process.

Keywords: Psychoanalysis; Melancholy; Depression.

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório tem como objetivo apresentar a experiência vivenciada durante


o Estágio Supervisionado em Psicologia, realizado na Clínica-Escola de Psicologia da
Faculdade Anhanguera.
O estágio específico II - Psicologia clínica: prevenção e promoção à saúde é uma
disciplina curricular obrigatória no curso de graduação em Psicologia, oferecendo aos
estudantes a oportunidade de integrar a teoria à prática, aplicando os conhecimentos
adquiridos em sala de aula em um contexto real de atendimento psicológico.
O estágio específico II é a continuação da proposta do estágio específico I, reforçando
ao aluno a oportunidade de um contato aprofundado com o paciente, agora com um
atendimento psicológico no setting terapêutico, desta forma o acadêmico assume um papel
mais ativo na condução do atendimento, o que proporciona que o acadêmico se aproxime
ainda mais da realidade profissional, desenvolvendo habilidades de escuta qualificada,
avaliação do quadro do paciente, produção de relatórios, levantamento de hipóteses, além
do desenvolvimento de técnicas terapêuticas pertinentes a abordagem escolhida para a
condução dos atendimentos.
Durante a sua realização, o acadêmico utiliza-se da abordagem psicanalítica, criada
por Sigmund Freud no final do século XIX, Freud primeiramente utilizou a técnica da hipnose
e após o método catártico para o tratamento de seus pacientes, Em 1895, Freud apresentou
sua primeira teoria sobre a estrutura da mente humana, dividindo-a em três níveis:
consciente, pré-consciente e inconsciente, essa teoria visa compreender e tratar os
transtornos mentais explorando o inconsciente e seus mecanismos complexos através da
técnica da associação livre.
O Objetivo da realização do estágio específico II é para além de proporcionar ao
paciente o bem estar e o acompanhamento psicológico, oferecer ao acadêmico uma
formação plena, que consolide sua identidade profissional, desenvolvendo a autoconfiança e
autonomia, além de uma visão crítica e reflexiva aos casos atendidos.
A primeira parte do estudo refere-se a uma contextualização histórica da melancolia
trazendo seus principais conceitos durante as modificações que ocorreram na sociedade
chegando na discussão acerca do tema na contemporaneidade.
A segunda parte refere-se a um estudo de caso e levantamento de hipóteses do
diagnóstico da Melancolia em uma paciente atendida na clínica escola, correlacionando suas
queixas com a sintomatologia da melancolia, além de uma perspectiva da teoria da
psicanálise e a sociedade atual.
A finalização do artigo se dá pela conclusão da atuação do graduando na clínica
escola de psicologia, reforçando os objetivos da realização do estágio.

2 MÉTODO.

Trata-se de um estudo qualitativo, acerca da melancolia na abordagem psicanalítica


que combinou prática, teoria e supervisão.
A prática clínica ocorreu no contexto da clínica escola, os atendimentos realizaram-se
semanalmente durante o semestre, a seleção dos pacientes se deu por uma triagem dos
casos, consulta inicial onde efetuou-se anamnese do paciente para avaliação de cada caso de
forma individual, levando-os para a supervisão e aceite da continuidade do atendimento.
A teoria deu-se por estudo de textos fornecidos pela orientação do estágio como
buscas em plataformas digitais, os principais textos selecionados foram: Melancolia e
depressão, autora Urania Tourinho Peres, Melancolia e Depressão: Um Estudo Psicanalítico,
autores Elzilaine Domingues Mendes, Terezinha de Camargo Viana e Olivier Bara, Melancolia
e modo de funcionamento dos melancólicos de Ilka Franco Ferrari e Breno Ferreira Pena,
Melancolia e Contemporaneidade de Luciana Chauí Berlinck e ser mãe no contemporâneo:
representação social e melancolia pós parto de Rodrigues e Volmoco.
A hipótese da melancolia surgiu como uma possível explicação para o sofrimento de
pacientes que apresentavam um conjunto de sintomas característicos, como tristeza
profunda, apatia, desânimo e pensamentos negativos persistentes. Essa hipótese foi
formulada a partir da observação clínica de pacientes que relataram esses sintomas durante
o atendimento psicológico.
A supervisão realizou-se uma vez por semana, de forma grupal, para estudo de caso,
análise de textos e troca de experiência entre alunos e orientador.

3 MELANCOLIA NA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA.

O estudo da melancolia inicia-se muito antes da teoria Freudiana acerca deste tema,
inspirou vários estudiosos em épocas e áreas diferentes a tentar decifrá-la e até mesmo
apontar o causador de fato de sua existência.
Hipócrates ainda no séc. IV a.c. escreve sobre a teoria dos quatro humores, segundo
esta teoria, o homem é composto de sangue, fleuma, bile amarela e bile negra, e sua saúde é
resultado do equilíbrio entre essas quatro matérias vitais e o surgimento da doença se dava
pelo domínio de um sobre os outros. Ainda no mesmo século, Aristóteles atribui a
melancolia à bílis negra e associou a melancolia como a fonte de genialidade para filósofos,
poetas e artistas, sendo inseparável da memória e da imaginação (MENDES, 2014 apud
PRINGENT, 2005).
No século XIV, a acedia, que provém de um termo religioso, é um mal a ser
combatido, um pecado, a “cabeça” que fundamenta a muitos outros pecados mescla-se à
melancolia. Vista como um estado de tédio e desânimo causado pelo diabo, ambas as
condições eram associadas à falta de fé e à dúvida. Essa visão reforçava a relação entre corpo
e alma, presente em ambas as teorias (Mendes, 2014 apud CLAIR, 2005).
A Renascença italiana revive os escritos de Aristóteles e Platão que acreditava que o
delírio advinha de um poder divino, que o escolhido acessaria outro mundo durante o sono,
sendo capaz de profetizar o futuro.(Mendes, 2014 apud FöLDÉNYI, 2012)
Nos séculos XVII e XVIII, a melancolia se torna uma patologia inquietante, ligada à
imaginação descontrolada e necessitada de tratamento. A genialidade e a melancolia se
separam de forma definitiva. O Romantismo resgata o vocabulário da acedia,
identificando-se com a melancolia antiga. No plano filosófico e literário, a melancolia se
manifesta como tédio, desinteresse pelo mundo, dor existencial, paralisia psíquica, tristeza
profunda e desgosto. (Mendes, 2014 apud Clair, 2005).
A melancolia é somente vista como doença mental no séc. XIX com a psiquiatria e
com o avanço da ciência e da medicina, a melancolia passa a ser considerada uma
psicopatologia. A partir da segunda metade do século XIX, a melancolia foi renomeada como
"monomania triste" ou "lipemania". Essa mudança de nome reflete a crescente
medicalização da doença mental, que passou a ser vista como um distúrbio específico do
funcionamento mental. Emil Kraepelin, um psiquiatra alemão, desempenhou um papel
fundamental na caracterização da psicose maníaco-depressiva. Ele descreveu o quadro
clínico da doença como uma alternância de acessos maníacos (que podem atingir uma
dimensão delirante) e acessos depressivos. Kraepelin também identificou formas mais leves
da doença, que se caracterizam por uma baixa de humor e inibição psíquica, além de
publicar em 1883 o primeiro Compêndio de Psiquiatria que tornou-se referência para o
estudo da psicose maníaco-depressiva e de outras doenças mentais (PERES, 2010).
O período entre o final do século XIX e o início do século XXI marca uma profunda
transformação na forma de pensar a doença mental. Duas visões distintas se destacam: a
psicanálise e a psiquiatria biológica. O surgimento dos asilos contribuiu para a mudança da
percepção da melancolia, transformando-a de uma "doença da grandeza da alma e do gênio"
em "miséria afetiva" (Peres, 2010).
No final do século XIX, a neurastenia surge como a "doença da modernidade",
associada ao ritmo acelerado da vida industrial e urbana. George Beard define a neurastenia
como uma doença social, distanciando-se da etiologia tradicional baseada em lesões
orgânicas, que caracterizam-se por por fadiga mental e física extrema, fraqueza muscular,
irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração e dores de cabeça. (ZORZANELLI, 2010)
No mesmo período, Sigmund Freud propôs uma nova perspectiva sobre a melancolia.
Em seu trabalho "Luto e Melancolia" (1917[1915]/2006), Freud argumenta que a melancolia
é uma psiconeurose narcísica, caracterizada por um luto patológico pela perda de um objeto
amado. Freud também destaca a importância da memória na melancolia, e propõe que a
doença está ligada a um passado distante. (Mendes, 2014).
Segundo Freud, o narcisismo é fundamental para a constituição do Eu, desde o
nascimento, a dependência do bebê de um cuidador que atenda às suas necessidades
básicas (função materna) contribui para a formação de um "narcisismo primário". Essa
experiência molda a autoestima e a capacidade de autocuidado do indivíduo. Na melancolia,
observa-se uma particularidade na escolha objetal, que se caracteriza por uma regressão ao
narcisismo primitivo. Isso significa que o sujeito melancólico busca no outro a mesma relação
de totalidade e completude que vivenciou com o cuidador primário na infância. (Mendes,
2014).
Na melancolia, observa-se um processo de identificação com o objeto perdido. Isso
significa que o melancólico incorpora em si mesmo características do objeto amado, como
forma de manter a ligação com ele. Mendes (2014), apud Hassoun (2002) contribui para a
compreensão da melancolia ao abordar a crueldade na subjetivação melancólica. O
melancólico, ao se identificar com o objeto perdido (geralmente um dos pais), internaliza a
ambivalência de sentimentos em relação a ele. Essa internalização pode levar à tentativa de
destruição do objeto, que se volta contra o próprio eu, resultando em sofrimento e
autodestruição (FERRARI et al., 2012).
O supereu do melancólico, internalização das normas e valores parentais, torna-se
extremamente sádico e punitivo. Ele se transforma em um juiz implacável que
constantemente critica e condena o eu, levando a uma autodepreciação extrema. O
melancólico se sente inferior, indigno e merecedor de punição (Ferrari et al., 2012).
A melancolia também se caracteriza por uma perda de interesse pelo mundo exterior,
o indivíduo sente-se desmotivado, apático e sem energia, perdendo o prazer em atividades
que antes lhe traziam alegria (Ferrari et al., 2012).
A melancolia também leva à destituição do eu de suas vestes narcísicas. O narcisismo,
amor próprio e valorização do eu, é abalado pela perda do objeto e pela internalização da
ambivalência, o indivíduo se sente inferior, inadequado e sem valor, perdendo a autoestima
e a confiança em si mesmo. Essa desvalorização do eu contribui para a intensificação da
tristeza e da desesperança (Ferrari et al., 2012).
Ao longo dos séculos a compreensão e classificação da melancolia sofreu diversas
mudanças, resultando na sua integração ao conceito de depressão no DSM-V.
A depressão configura-se como um dos maiores desafios da saúde mental da
atualidade, impactando indivíduos em todos os âmbitos da vida. O crescente mal-estar
gerado pela sociedade moderna, somado à medicalização excessiva, contribuem para a
crescente prevalência da doença. (Peres, 2010).
A sociedade contemporânea é marcada pelo excesso de atividades. A necessidade de
produção individual exige do indivíduo uma organização rígida cronológica, sem espaço para
reflexão, lembranças e sofrimento, outro ponto nesse contexto é a banalização da dor, do
sofrimento e da angústia, não permitindo que o indivíduo elabore suas perdas, A super
medicalização contribui para a desresponsabilização do sujeito em relação à sua dor,
impedindo a elaboração do trauma, interferindo na capacidade criativa e na construção de
novas referências (Mendes, 2014 apud LIPOVETSKY, 2004).

4 ESTUDO DE CASO, CORRELAÇÃO DE SINTOMAS INDIVIDUAIS E PERSPECTIVAS SOCIAIS.

O levantamento da hipótese de diagnóstico da melancolia baseou-se


fundamentalmente na apresentação da sintomatologia da paciente durante as sessões, além
do relato, a observação dos sinais comportamentais da paciente foram levados em conta, a
análise do discurso da paciente perpassando a narrativa individual, refletindo questões da
atualidade social sob uma ótica da psicanálise contemporânea.
A paciente refere sentir-se desanimada na maior parte do dia, perda do interesse em
atividades antes consideradas agradáveis, dificuldade de realizar as tarefas cotidianas
apresentando lentidão motora, frustração consigo e hipersonia.
Segundo o relato da paciente, observou-se um superego valorizado e punitivo, que
impõe padrões altos de comportamento e exige a perfeição, por mais que não consiga
realizar as tarefas ou que as realize sente-se pressionada a atender às expectativas do
superego, levando-a a frustração, gerando ansiedade e culpa quando não consegue alcançar
seus objetivos, sente-se criticada e castigada por seus erros e falhas, além de se sentir
constantemente julgada pelos outros.
A maternidade e o casamento recente da paciente apresentam-se como um
intensificador destas características visto que a paciente refere possuir dificuldades em
exercer as funções esperadas socialmente para a prática feminina da maternagem. As
representações sociais da maternidade exercem um papel de pressão social na figura
feminina que nem sempre consegue ser realizada, gerando frustração e culpa.

‘’Os aspectos das representações sociais relacionados com o papel da


mulher na família foram construídos ao longo do tempo de acordo com o contexto
social, econômico, político e cultural e vem ganhando forças, mantendo-se na
contemporaneidade. As representações sociais da mulher como mãe e esposa, são
produzidas e reproduzidas através das práticas sociais compartilhadas pela
sociedade, firmando o papel social das mulheres e dando sentido para suas
condutas (COUTINHO; MENANDRO, 2009 apud Rodrigues et al, 2017)

A maternidade é um período de grandes transformações nas mulheres, o amor


materno é uma construção social e não algo instintivo das mulheres, não é inata, mas sim
adicionada a sua identidade de forma pessoal e subjetiva a cada uma, a desconstrução da
maternidade instintiva iniciou a partir da publicação da obra da filósofa Elisabeth Badinter
(1985) “Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno”, ( Rodrigues et al,2017).

‘’A maternidade não é uma identidade da mulher e sim uma parte do processo
feminino. Deve ser compreendida como algo que poderá vir a fazer parte do
processo da mulher, sendo algo que se pode escolher e não como uma etapa
obrigatória e imprescindível de sua vida; ou ainda como um papel que lhe era
atribuído nos séculos anteriores, quando se assumia que a mulher foi feita para
procriar (ARAÚJO, 2014 apud Rodrigues, 2017).’’

Outro aspecto importante para o levantamento da hipótese da melancolia na


paciente e a construção social da atualidade são falas que caracterizam a perda da auto
estima e uma busca por um objeto que se perde rapidamente em meio a uma sociedade
capitalista e de consumo desenfreado. A paciente traz relatos de estar triste, mas não ser
uma pessoa triste, também refere que atividades e coisas que antes lhe traziam prazer e
alegria nos dias atuais já não trazem prazer.

A questão do melancólico é não conseguir lidar com uma perda, a perda


inconsciente de si mesmo, a perda da auto-estima. Com a mudança rápida
dos valores na sociedade do efêmero, mal o sujeito identificou-se com certo
objeto, este já tornou-se ultrapassado e, assim, a perda do objeto torna-se
perda do próprio ego. Ora, na sociedade do efêmero o próprio sujeito é
efêmero. O que nos leva à questão da impossibilidade de corresponder ao
ego ideal, pois, pela fugacidade, o sujeito cai na desvalorização, isto é,
torna-se impossível para ele corresponder à representação de si com seus
elementos valorativos (BERLINCK, 2008).
A sociedade contemporânea também é marcada pela medicalização e uma emissão
de diagnósticos exacerbada, a depressão é considerada a doença do século, a busca pelo eu
ideal e uma imagem dentro de um padrão de beleza e bem estar é reforçada por uma
alienação e uma necessidade de consumo de produtos e serviços que giram a roda da
sociedade capitalista.
‘’Ora, como diz Freud, no narcisismo, o ego se comporta como objeto de seu
próprio amor e esse amor se caracteriza pela idealização de si ou a superestima de
si, a vivência prazerosa de sentir-se especial, perfeito, sem defeitos. A procura da
vida feliz reduzida à idéia de bem-estar, de satisfação prazerosa e de plenitude,
supostamente asseguradas pela identificação, por meio do consumo, com imagens
de perfeição, beleza, sucesso, juventude, saúde, etc., caracteriza a sociedade
contemporânea e pode ser comparada à procura narcisista de retorno à vida
intra-uterina, ou à relação simbiótica com a mãe, num período em que o outro e o
mundo não existiam para o indivíduo como separados dele; à época da
onipotência, na qual o outro e o mundo faziam parte indiferenciada do eu, ou seja,
a volta à situação na qual era superestimado e na qual todas as suas necessidades
eram prontamente atendidas (quando não havia o sentimento de falta) (Berlinck,
2008).’’

O sofrimento surge como resultado da mistura de idealização e estereotipização. O


sentimento de perda, vazio e inadequação é causado pela desvalorização da própria
identidade, pela frustração de não conseguir atingir a perfeição inalcançável e pela constante
comparação com padrões artificiais. O indivíduo se afasta de si mesmo e busca a felicidade
que reside em sua própria essência em imagens e rótulos (Berlinck, 2008).
O excesso de imagens e mensagens criadas por padrões artificiais de beleza, sucesso
e felicidade na sociedade moderna favorece a proliferação de estereótipos e idealizações.
Essa obsessão pela perfeição, não somente da imagem externa, mas também de papéis e
funções sociais é inalcançável por sua própria natureza e faz uma grande diferença entre a
vida real e a utopia pretendida. Isso leva a frustração, sofrimento e um sentimento constante
de perda.

5 CONCLUSÃO
Durante a realização do estágio, os acadêmicos têm a oportunidade de aplicar a
teoria aprendida em sala de aula diretamente no campo, desenvolvendo suas habilidades e
utilizando as ferramentas metodológicas do psicólogo. O estágio não apenas envolveu o
planejamento de ações, mas também o desenvolvimento da capacidade de lidar com
demandas improvisadas que surgem durante a intervenção.
Nesse contexto, explorou-se a atuação dos estudantes de graduação em psicologia no
processo de atendimento psicológico na clínica escola. O estágio permitiu aos acadêmicos
desenvolver e aprimorar habilidades essenciais para a atuação profissional do psicólogo,
como comunicação eficaz, observação e análise, intervenção psicológica e resolução de
problemas. A experiência proporcionou autonomia, responsabilidade, adaptabilidade,
flexibilidade e trabalho em equipe, além de aprimorar a consciência sobre os princípios
éticos da profissão, além da supervisão incentivar a reflexão crítica sobre a prática,
permitindo que o estudante questione suas ações e busque aperfeiçoamento constante.
O atendimento na clínica escola oferece ao acadêmico um espaço para que ele
construa saberes a partir da experiência prática, tornando-o um sujeito ativo no processo
terapêutico.
‘’Há ainda que se acrescentar que a transmissão em jogo na prática
da clínica-escola não se recobre por um acúmulo de experiência (o
exercício do aluno em determinada prática), mas diz respeito a um
tempo e a um espaço criados dentro da universidade e propiciados
por ela mesma na busca de uma formação que leve em conta a
construção do saber no particular de cada caso’’ (MARCOS, 2012, p.
85).
Segundo Marcos (2012), os pacientes buscam auxílio na clínica-escola para alívio das
suas dores psíquicas e sofrimentos emocionais. O sofrimento na maioria das vezes é o que os
motiva a buscar ajuda profissional. A clínica escola não é um lugar onde o acadêmico oferece
respostas prontas e soluções mágicas para o sofrimento dos pacientes. Na verdade, a clínica
coloca tanto o acadêmico quanto o paciente diante da impossibilidade de dar uma resposta
definitiva para o adoecimento psíquico, mas oferece suporte para o acompanhamento
psicológico. É fundamental no desenvolvimento do acadêmico a capacidade de aplicar o
conhecimento teórico na prática clínica, aprendendo com cada caso e cada paciente.
Durante o estágio, os alunos tiveram a oportunidade de observar, desenvolver e
executar atividades de diferentes níveis de complexidade, o que os desafiou a compreender
a prática profissional em suas diversas dimensões. Isso permitiu que eles se posicionassem
como profissionais e analisassem criticamente a relação entre teoria e prática, tanto em
termos técnicos e científicos quanto éticos. O estágio também integrou teoria e prática,
proporcionando aos alunos uma visão abrangente da profissão por meio dessa experiência
supervisionada.
Além disso, o estágio estimulou a pesquisa científica e tecnológica no campo da
psicologia, incentivando os alunos a vivenciarem experiências de avaliação, planejamento e
intervenção em diferentes situações, contextos, grupos e indivíduos, preparando-os para
suas futuras atividades profissionais como psicólogos.

REFERÊNCIAS

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Paulo, v. 18, n. 2, p. 89-106, jun. 2008. Disponível em:
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FERRARI, Ilka Franco et al. Melancolia e modo de funcionamento dos melancólicos. 2012. 4 v.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Universidade Católica Dom Bosco, Campo
Grande, 2012. Disponível em: file:///C:/Users/U03689/Downloads/124-Texto% 20do% 20
artigo-475-540-10-20120709.pdf. Acesso em: 11 abr. 2024.

MARCOS, Cristina Moreira. A Supervisão em Psicanálise na Clínica Escola: Breve Relato de


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