Aula 17 - Romantismo
Aula 17 - Romantismo
PORTUGUÊS
1º MÓDULO
VERSO DA CAPA
NÃO ALTERAR
TÍTULO ...........................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
1. SUBCAPITULO ...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
1.1 Subitem: ................... Erro! Indicador não definido.
EXERCÍCIOS ....................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
MINISSIMULADO ...........ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
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isso não significa necessariamente um descompromisso com a
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1.1 Contexto histórico-cultural (fins do século XVIII e Subjetividade e individualismo: reação à
início do XIX) objetividade e racionalismo do Iluminismo. O
Romantismo terá como foco principal a subjetividade
A Europa do final do século XVIII e início do século XIX humana e os sentimentos. O artista romântico,
foi marcada por profundas mudanças sociais que abalaram o sentindo-se incompreendido pela sociedade por suas
mundo como um todo. O contexto social e político dores emocionais, também optará por um
compreende acontecimentos fundamentais que nos ajudam a distanciamento social;
pensar o movimento romântico e sua ideologia, como a
Revolução Industrial na Inglaterra (a partir de 1760); a Originalidade e genialidade: o Romantismo trouxe
Independência dos EUA (1776); a Revolução Francesa (em para as artes as ideias de originalidade (ou seja, a de
1789); a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder na que a obra artística deve ser inovadora) e de gênio
França (em 1799); a Revolução Liberal na França (em 1830), (isto é, a de que o artista romântico escreve ou faz
entre outros. arte porque está profundamente inspirado e numa
espécie de “estado” artístico);
A classe social que mais se beneficia neste momento é
a burguesia, que conquista lugares de poder, principalmente Nativismo: louvação da natureza, em que esta
na França do final do século XVIII. Esse conjunto de fatores aparece como lugar assemelhado a um refúgio, que
promoveu uma grande virada na organização social do mundo guarda ainda os bens que os homens desprezaram
ocidental. Assim, o homem passou a ser considerado na sua em nome do progresso; é exótica e às vezes contém
individualidade e se constituiu enquanto cidadão, com lugares intocados, habitados pelos “bons selvagens”;
direitos e deveres garantidos por lei. Nacionalismo (louvação da pátria): principalmente
Enquanto isso, no Brasil, o povo da colônia recebia no Brasil, o desejo de liberdade da colônia em
ecos de tais acontecimentos. O mais importante deles talvez relação à Metrópole, culmina em uma literatura
tenha sido a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em patriótica;
1808. Tal fato, motivado pela invasão da cidade de Lisboa Idealização (da mulher, dos heróis, da natureza, da
pelas tropas de Napoleão Bonaparte, deu à colônia a infância etc.): o homem desse período literário se
possibilidade de um desenvolvimento artístico e cultural que sente em desarmonia com a realidade objetiva e, por
não existia até então. O Rio de Janeiro, sobretudo, foi palco isso, fantasia, imagina e idealiza; o escritor romântico
de importantes acontecimentos, como a vinda das missões não aceita a realidade tal como ela se apresenta, por
artísticas Francesa (1816) e Austríaca (1817), e a construção isso ele a idealiza, constrói na literatura um mundo
de centros culturais importantes como a Biblioteca Nacional perfeito habitado por seres perfeitos;
(1810).
Escapismo/ evasão: o pessimismo, a insatisfação
Outro importante fato foi a criação da Imprensa Régia com o momento presente, com a sociedade e as
(1808), atividade até então proibida em território nacional, desilusões amorosas fazem com que o ser romântico
que contribuiu para a circulação de jornais e revistas que queira fugir da realidade através da morte, apego ao
passaram a publicar os textos literários de nossos autores. passado, ao futuro, aos sonhos etc;
Contudo, o mais importante dentre os acontecimentos da
época se dá no ano de 1822, quando o Imperador Pedro I Reformismo: desejo de transformar a realidade
declarou, às margens do social e política;
rio Ipiranga, a
Gosto pelo noturno, pelo misterioso, macabro;
independência do
Brasil. Tal episódio será Medievalismo: na Europa, a tentativa de buscar
fundamental para heróis bons, belos, justos e verdadeiros levou os
caracterizar o autores de volta ao medievalismo e, por isso, alguns
movimento romântico heróis românticos podem ser comparados com os
brasileiro, já que a cavaleiros medievais; no Brasil, o movimento
independência, com seu conhecido como indianismo substituiu tal tendência;
sentido de louvor à
Fé: em substituição à razão clássica, um profundo
pátria, contribuiu para
sentimento religioso, bem como a intuição, o
que a temática do
misticismo, as coincidências e os acasos compõem o
patriotismo e do
universo da época;
nacionalismo, através da
admiração da nossa Ilogismo: Não busque no romântico um ser
natureza, surgisse com integralmente definido. Ele é instável e ora se mostra
bastante força no nosso Romantismo. melancólico e triste, ora alegre e entusiasmado;
Sonho: há um universo de sonhos e desejos no
caráter romântico; há sempre um lugar onde tudo é
1.2 Características temáticas
possível e que é representado por imagens,
metáforas, símbolos;
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Retorno ao passado: o sofrimento e a angústia A primeira geração de poetas românticos surge em um
sentidos pelos poetas românticos no momento contexto no qual o Brasil começa a desenvolver um
presente gera um desejo de retornar ao passado e à sentimento de nacionalidade. Nesse sentido, os autores da
infância, idealizados como tempos em que não havia época se esforçaram para criar uma ideia de nação através da
dor. É o que chamamos de saudosismo; literatura. Os marcos iniciais do movimento no Brasil foram a
publicação, em 1836, da obra Suspiros poéticos e saudades,
Tristeza: é um sentimento sem medida, que vem não
de Gonçalves de Magalhães, concomitante com a publicação
se sabe de onde, uma melancolia inexplicável,
em Paris da Nitheroy, Revista Brasiliense de Ciências, Letras e
intensa.
Artes, editada por nomes como o mesmo Gonçalves de
Você deve ter reparado que os autores românticos Magalhães, Torres Homem e Araújo Porto Alegre. O lema da
viviam sempre na “fossa”, né, em uma eterna sofrência… E é revista era ‘Tudo pelo Brasil, e para o Brasil’, marcando o
justamente esse tom deprimente e essa emoção intensa e início do romantismo brasileiro.
transbordante que caracterizam o Romantismo! Por isso, ele
Mais próximos de 1822, os poetas dessa geração se
se opõe à escola anterior, o Arcadismo, que tava toda na vibe
empenharam em traduzir, através da construção de imagens
da racionalidade, da suavidade, da placidez e da vida tranquila
e símbolos nacionais, o momento de independência política e
no campo! E por causa desse sentimentalismo todo e dessa
cultural pelo qual o Brasil passava. Assim, é a partir da busca
emoção transbordante que as palavras “romance” e
pela identidade nacional que a figura nativa do indígena
“romântico” viraram sinônimo de amor intenso, de algo
ganha força enquanto elemento representativo do território
sentimental!
brasileiro. Aliado a esse fator, havia também a necessidade de
valorização da natureza brasileira, que dava aos textos
românticos a cor local de que eles precisavam.
1.3 Características formais
No que diz respeito à estrutura dos textos, o
Romantismo vai se caracterizar por aquilo que chamamos de Os principais autores desse período são: Gonçalves de
liberdade formal, que indica que não havia uma forma
Magalhães e Gonçalves Dias.
específica de se escrever os textos românticos. Enquanto o
Arcadismo buscava respeitar ao máximo as regras clássicas
(com o uso de formas fixas como o soneto), o Romantismo
trará uma ruptura em relação a essas regras, defendendo a 2.1.1 Gonçalves Dias (1823-1864)
originalidade, a inventividade e a imaginação.
Mestiço, filho de pai português e mãe
Mas calma, pois isso não significa que os artistas cafuza, Gonçalves Dias, já no seu DNA,
românticos também não usavam as formas mais clássicas, trazia a verdadeira face do povo
significa apenas que eles não se limitavam a elas! Assim, brasileiro, sendo herdeiro das três
vamos encontrar nos textos românticos tanto versos rimados raças. Tendo vivido sua juventude em
e metrificados quanto versos brancos (sem rimas) e versos Portugal, enquanto estudante de
livres (sem métrica), e um uso abundante de pontos de Direito em Coimbra, travou contato
exclamação e interrogação e de adjetivos: tudo para enfatizar com os ideais românticos a partir da
a emoção que está sendo expressa nos textos! Além disso, é obra de importantes escritores
comum nos textos românticos a presença de uma linguagem portugueses como Almeida Garret. Sua obra poética
mais eloquente, que reforça tal intensidade. desenvolveu temas fundamentais, característicos da primeira
Agora vamos dar uma olhada em como o Romantismo fase do nosso romantismo, como o amor à pátria, a
se fez presente aqui no Brasil! Antes de tudo, porém, é idealização da mulher, a expressão dos sentimentos
importante você saber que nós estudamos o Romantismo no individuais, o indianismo, a religião e a valorização da
Brasil dividindo-o em dois segmentos, cada um com suas natureza brasileira. Suas principais obras são: Primeiros
próprias características: o segmento da poesia romântica e o cantos (1846); Segundos cantos (1848); Últimos cantos (1851).
segmento da prosa romântica! Leia abaixo um de seus mais significativos poemas, marco do
romantismo:
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Não gorjeiam como lá. as do sabiá e da palmeira são recuperadas para representar a
melancolia do eu lírico, que sonha com a possibilidade de
Nosso céu tem mais estrelas, retorno à pátria.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. Sabiá
Em cismar, sozinho, à noite,
Vou voltar
Mais prazer encontro eu lá;
Sei que ainda vou voltar
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Minha terra tem primores, Que eu hei de ouvir cantar
Que tais não encontro eu cá; Uma sabiá
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá; Vou voltar
Minha terra tem palmeiras, Sei que ainda vou voltar
Onde canta o Sabiá. Vou deitar à sombra
De uma palmeira
Não permita Deus que eu morra, Que já não há
Sem que eu volte para lá; Colher a flor
Sem que desfrute os primores Que já não dá
Que não encontro por cá;
E algum amor
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Talvez possa espantar
Onde canta o Sabiá.
As noites que eu não queria
Coimbra - Julho de 1843 E anunciar o dia
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguillar,
1998, p. 105-106. Vou voltar
A “Canção do exílio” é um dos poemas mais famosos da Sei que ainda vou voltar
literatura brasileira. Nele, o eu lírico se encontra distante de Não vai ser em vão
sua terra natal, e a saudade faz com que o poeta cante e Que fiz tantos planos
valorize a sua nação. As comparações entre a terra natal e o De me enganar
exílio (Portugal) explodem na contraposição marcada entre o Como fiz enganos
“lá” e o “cá”. De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Diálogos intertextuais
Fiz de tudo e nada
De te esquecer
BUARQUE, Chico. Tantas palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 2006 p.
172.
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irremediável, cuja única saída é a morte ou as drogas. Outro
Esta noite - era a lua já morta – ponto sensível dessa geração são as doenças, uma vez que a
Anhangá me vedava sonhar; tuberculose, considerada o mal do século, vitimou diversas
Eis na horrível caverna, que habito, pessoas, sobretudo os mais jovens. Aqui no Brasil, nossos
Rouca voz começou-me a chamar. poetas ultrarromânticos morreram, quase todos, muito
jovens, o que se trata de uma infeliz coincidência, posto que
Abro os olhos, inquieto, medroso, um dos temas fundamentais do romantismo é a morte!
Manitôs! que prodígios que vil
Arde o pau de resina fumosa, Os principais autores desse período são: Álvares de Azevedo,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi! Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
Inspirados pelo poeta inglês Lord Byron (1788-1824), Quanta glória pressinto em meu futuro!
essa geração é caracterizada pelo forte individualismo e pela Que aurora de porvir e que manhã!
exacerbação das questões abordadas no romantismo como Eu perdera chorando essas coroas
um todo (daí a alcunha de ultrarromânticos). Oposições como Se eu morresse amanhã!
amor e morte, medo e solidão, o sublime e o grotesco,
marcam uma produção que estabelece como paradigma a Que sol! que céu azul! que doce n'alva
idealização total do amor, o culto da mulher virginal e Acorda a natureza mais louçã!
etérea, a impossibilidade de concretização do ato amoroso, Não me batera tanto amor no peito
o apreço pela morte, o retorno a um passado longínquo, o Se eu morresse amanhã!
pessimismo, a valorização da noite e do sonho enquanto
cenários ideais para a expressão dos sentimentos do eu lírico Mas essa dor da vida que devora
- instâncias que funcionam como válvulas de escape para o A ânsia de glória, o dolorido afã...
poeta (escapismo). A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
A imagem do poeta ultrarromântico é a do homem
isolado do meio social, que se opõe aos valores burgueses. AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Ateliê editorial, 2000, p.
Desse modo, cria-se no indivíduo um pessimismo 416.
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Face Caliban: Namoro a Cavalo “Namoro a cavalo”, por sua vez, consiste em uma
Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça sátira ao próprio movimento romântico. A cena narrada é a
Que rege minha vida malfadada, de um namorado que vai ao encontro de sua namorada
Pôs lá no fim da rua do Catete andando a cavalo. Entretanto, ao longo do caminho, o eu
A minha Dulcinéia namorada. lírico sofre alguns acidentes, como sujar as roupas de lama,
por causa de uma carroça, e rasgar as calças. Perceba que
Alugo (três mil réis) por uma tarde toda a cena de idealização romântica é desmontada
Um cavalo de trote (que esparrela!) progressivamente, uma vez que o poeta reclama da distância
Só para erguer meus olhos suspirando da casa da mulher amada (estrofe 1); revela que gasta todo o
A minha namorada na janela... seu ordenado em flores e diz que furta versos para oferecer à
namorada (estrofe 3), contrariando tanto a ideia de
Todo o meu ordenado vai-se em flores romantismo quanto a noção de autoria, originalidade e gênio
E em lindas folhas de papel bordado tão caras aos autores românticos. Assim, através da
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso, comicidade, Álvares de Azevedo desmonta, em parte, o
Algum verso bonito... mas furtado. ideário romântico que o formou enquanto poeta e escritor.
Outro livro importante do autor é a coletânea de
Morro pela menina, junto dela
contos Noite na taverna (1855), que apresenta cinco histórias
Nem ouso suspirar de acanhamento...
macabras marcadas pelos temas do amor e da morte, caros
Se ela quisesse eu acabava a história
ao romantismo da segunda fase. Narradas por bêbados que
Como toda a Comédia - em casamento...
estão conversando em um bar (a tal taverna), as narrativas
apresentam mortes trágicas por doença, homicídio ou
Ontem tinha chovido... que desgraça!
suicídio. Sinistro, né?!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça 2.2.2 Casimiro de Abreu (1839-1860)
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Nascido no interior do Rio de Janeiro, em Barra de São João,
Eu não desanimei. Se Dom Quixote Casimiro de Abreu, por influência paterna, dedicou-se ao
No Rocinante erguendo a larga espada comércio em grande parte da sua vida. Passou um período em
Nunca voltou de medo, eu, mais valente, Portugal e voltou para o Brasil em 1857, quando então
Fui mesmo sujo ver a namorada... publica, dois anos depois, o livro de poesias Primaveras
(1859), morrendo de tuberculose no ano seguinte. Sua
Mas eis que no passar pelo sobrado, poética é considerada simples, pois apresenta uma
Onde habita nas lojas minha bela, musicalidade acentuada, com esquemas de rima de fácil
Por ver-me tão lodoso ela irritada memorização e de verve popular, o que assegurou o seu
Bateu-me sobre as ventas a janela... grande sucesso junto ao público em geral. Embora faça parte
dessa geração, Casimiro de Abreu não retrata tanto os temas
O cavalo ignorante de namoros, de morte em suas obras, mas dá destaque ao saudosismo
Entre dentes tomou a bofetada, (valorização do passado) como solução para o desequilíbrio
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo latente no/a presente/realidade. Veja a seguir o seu poema
Com pernas para o ar, sobre a calçada... de maior notoriedade, “Meus oito anos”, exemplar da
temática da valorização da infância e do desprezo pelo tempo
Dei ao diabo os namoros. Escovado presente:
Meu chapéu que sofrera no pagode
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode. Meus oito anos
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O céu – um manto azulado, A última geração de poetas românticos é marcada pela
O mundo – um sonho dourado, luta por liberdade, justiça e igualdade e principalmente pela
A vida – um hino d’amor! causa abolicionista. A poesia produzida durante a terceira
geração romântica foi inspirada pela obra do francês Victor
Que auroras, que sol, que vida, Hugo (1802-1885), autor de “Os miseráveis”, obra máxima da
Que noites de melodia expressão de uma literatura engajada e comprometida com
Naquela doce alegria, temáticas sociais. Tendo o condor, uma ave da Cordilheira
Naquele ingênuo folgar! dos Andes, como símbolo da liberdade, essa geração buscava
O céu bordado d’estrelas, a justiça social, combatendo a escravidão. Nesse sentido, as
A terra de aromas cheia, obras desse período são menos idealizadas, tratando-se de
As ondas beijando a areia uma arte que visa mais as demandas sociais do que as do
E a lua beijando o mar! indivíduo.
Como prova desse espírito libertário, o Brasil da época,
Oh! dias de minha infância!
sob o reinado de Pedro II desde 1840, enfrenta graves crises
Oh! meu céu de primavera!
econômicas, além de revoltas por todo o território brasileiro,
Que doce a vida não era
como a balaiada, no Maranhão, a revolta liberal, em São
Nessa risonha manhã!
Paulo e em Minas Gerais e o movimento dos farroupilhas, no
Em vez de mágoas de agora,
Rio Grande do Sul. Também são marcos do período a
Eu tinha nessas delícias
proibição do tráfico negreiro, a partir de 1850 (lei Eusébio de
De minha mãe as carícias
Queirós), e a Guerra do Paraguai (1864).
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas, Os principais autores desse período são: Castro Alves e
Eu ia bem satisfeito, Joaquim de Sousândrade
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas 2.3.1 Castro Alves (1847-1871)
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras Nascido em Salvador, Castro Alves
Das borboletas azuis! estudou Direito em Recife e depois
em São Paulo. Principal poeta da
Naqueles tempos ditosos causa abolicionista, ficou conhecido
Ia colher as pitangas, como o “poeta dos escravos”. Morre
Trepava a tirar as mangas, aos 24 anos, após se acidentar com
Brincava à beira do mar; uma arma de caça e ter complicações
Rezava às Ave-Marias, em virtude da tuberculose. Suas
Achava o céu sempre lindo, principais obras são os livros de poesia
Adormecia sorrindo, Espumas flutuantes (1870) e Os escravos (1883).
E despertava a cantar!
Um dos principais temas abordados pelo poeta é a
escravidão. Com grande senso de humanidade, o escritor
Oh! que saudades que eu tenho
valoriza em seus textos o pensamento e a racionalidade em
Da aurora da minha vida
detrimento do sentimentalismo irracional, apontando para
Da minha infância querida
um momento de transição do romantismo. A poesia de Castro
Que os anos não trazem mais!
Alves segue uma orientação que visa à declamação dos
– Que amor, que sonhos, que flores,
poemas em praça pública. Assim, a partir da figura do poeta-
Naquelas tardes fagueiras
orador, a sua produção é dotada de hipérboles, exclamações
À sombra das bananeiras,
e imagens grandiosas que auxiliam nesse tipo de
Debaixo dos laranjais!
apresentação. Já no que diz respeito à postura do eu lírico
ABREU, Casimiro. Clássicos da poesia brasileira. São Paulo: Klick Editora, diante da mulher amada, nos poemas de Castro Alves vemos
1997, p. 114-116.
um tratamento diferente em relação aos românticos
Neste poema repleto de saudosismo, Casimiro de anteriores, uma vez que aqui é possível perceber, de
Abreu celebra imagens de sua infância. Ao contrapor o maneira mais explícita, o toque, o erotismo, a vivacidade da
passado idealizado ao presente cheio de mágoas, o poeta figura feminina e a concretização do ato amoroso. Veja a
pinta o quadro de uma infância feliz, em que o eu lírico vivia seguir, no poema “Adormecida”, um exemplo dessa
supostamente em plena harmonia com a família e a natureza. abordagem mais erótica:
Adormecida
2.3 Terceira geração (condoreira ou poesia social) Seus longos cabelos espalhados a cobrirem por inteiro.
A cruz de seu colar repousa em sua mão,
Como para testemunhar que ela fez sua oração,
11
E que fará ao despertar amanhã Era um sonho dantesco... O tombadilho
Alfred de Musset
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Uma noite, eu me lembro… Ela dormia Tinir de ferros... estalar do açoite...
Numa rede encostada molemente… Legiões de homens negros como a noite,
Quase aberto o roupão… solto o cabelo Horrendos a dançar...
E o pé descalço do tapete rente.
Negras mulheres suspendendo às tetas
´Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Magras crianças, cujas bocas pretas
Exalavam as silvas da campina… Rega o sangue das mães.
E ao longe, num pedaço do horizonte, Outras, moças... mas nuas, espantadas,
Via-se a noite plácida e divina. No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala, E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E de leve oscilando ao tom das auras, E da ronda fantástica a serpente
Iam na face trêmulos – beijá-la. Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Era um quadro celeste!… A cada afago, Ouvem-se gritos... o chicote estala.
Mesmo em sonhos a moça estremecia… E voam mais e mais...
Quando ela serenava… a flor beijava-a…
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia… Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
Dir-se-ia que naquele doce instante E chora e dança ali...
Brincavam duas cândidas crianças… Um de raiva delira, outro enlouquece...
A brisa, que agitava as folhas verdes, Outro, que de martírios embrutece,
Fazia-lhe ondear as negras tranças! Cantando, geme e ri!
E o ramo ora chegava, ora afastava-se… No entanto o capitão manda a manobra
Mas quando a via despertada a meio, E após, fitando o céu que se desdobra
Pra não zangá-la… sacudia alegre Tão puro sobre o mar,
Uma chuva de pétalas no seio… Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Eu, fitando esta cena, repetia Fazei-os mais dançar!...”
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! - tu és a virgem das campinas! E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
Virgem! tu és a flor de minha vida!...” E da ronda fantástica a serpente
ALVES, Castro. Antologia poética. org. Antonio Carlos Secchin. Lisboa: Glaciar; Faz doudas espirais!...
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2014, p. 59-60. Qual num sonho dantesco as sombras voam!...
Repare nas imagens sugestivas que o poema Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
apresenta: a moça está deitada em sua cama, e o modo como E ri-se Satanás!...
o eu lírico a descreve, a partir de imagens metonímicas do
corpo dessa mulher, revela um olhar erotizado: o roupão está VI
quase aberto; os cabelos estão soltos e o pé está à mostra.
Além disso, o poeta utiliza uma imagem da natureza, Existe um povo que a bandeira empresta
representada pelo jasmineiro, para dar conta da realização do P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
ato amoroso entre os amantes... Diz pra mim, o Castro Alves E deixa-a transformar-se nessa festa
era ou não era ousado para a sua época?! Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! Meu Deus! mas que bandeira é esta,
Já “O navio negreiro”, além de ser o poema mais Que impudente na gávea tripudia?!...
conhecido do autor, é representativo da chamada poesia Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
abolicionista. Nele, os horrores do tráfico atlântico são Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
descritos com contundência e dramaticidade. Leia dois
trechos a seguir: Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
O Navio Negreiro (excertos) E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da Liberdade após a guerra,
IV Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
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Que servires a um povo de mortalha!... Cheinho de poesia...
ALVES, Castro. Antologia poética. org. Antonio Carlos Secchin. Lisboa: Glaciar;
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2014, p. 113-118.
Mas, mesmo com essa pegada mais social, as obras 3. A PROSA ROMÂNTICA
dessa geração mantiveram traços das gerações anteriores,
como é possível perceber no poema de Castro Alves: a BRASILEIRA
linguagem, por exemplo, continuou bastante eloquente e
Passaremos agora para as obras da prosa romântica.
grandiosa, sendo repleta de pontuações. Perceba também
Escritas durante o período de 1844 a 1881, elas não estão
que, ao final, o eu lírico faz uma crítica contundente à pátria,
divididas em gerações, como na poesia, mas sim em
uma vez que ela estaria acobertando, com a própria bandeira,
diferentes tipos de romance, com algumas características
os horrores e a covardia da escravidão. Diante disso, o poeta
gerais comuns entre eles. No Brasil, o gênero romance surge a
apela para os “heróis do Novo Mundo”, pedindo para que
partir dos famosos folhetins, narrativas em séries que eram
José Bonifácio de Andrada e Silva e Cristóvão Colombo
publicadas nos jornais da época. Tais publicações tinham a
resolvam essa “tragédia do mar”. Não podemos esquecer
função de entreter as senhoras do século XIX, tendo tido
que, em pleno Século XIX, o Brasil era ainda um país
origem na Europa. Cada dia era publicado um capítulo de uma
escravagista, algo que contrastava com os ideais liberais em
história, que terminava sempre em um momento de grande
voga em parte da sociedade! Sendo assim, os poetas da 3ª
clímax (o gancho) que impulsionava a leitura do dia seguinte.
geração assumiram a bandeira do abolicionismo,
Ao final, os capítulos poderiam ser reunidos e organizados no
denunciando a crueldade da escravidão.
formato de romance.
Os novos navios negreiros O primeiro romance brasileiro a ser publicado foi O
filho do pescador, de Teixeira e Sousa (1812-1861), em 1843.
Atualmente, os escritores da chamada literatura afro ou Porém, sua pouca repercussão daria ao romance A
negro-brasileira têm retomado a imagem do navio negreiro Moreninha, escrito por Joaquim Manuel de Macedo (1820-
como forma de criar novas narrativas em torno do passado 1882) e publicado um ano depois, sendo sucesso de público e
traumático da escravidão. Solano Trindade (1908-1974), crítica, o posto de primeiro romance brasileiro significativo
poeta e ativista do Movimento Negro, foi um desses autores. para a consolidação do gênero entre nossos escritores.
Em seu poema chamado “Navio Negreiro”, o escritor Vejamos algumas características temáticas e formais do
recupera a imagem eternizada por Castro Alves para ressaltar romance romântico:
a enorme contribuição dos africanos sequestrados para a
3.1 Características temáticas
formação do território nacional: poesia, resistência e
inteligência são alguns dos aspectos ressaltados no poema: Casal apaixonado que enfrenta obstáculos sociais e
morais;
Personagens que não possuem grande densidade
Navio negreiro
psicológica e que não produzem reflexões
existenciais profundas;
Lá vem o navio negreiro
Lá vem ele sobre o mar Personagens corajosos e movidos pelo amor, que
Lá vem o navio negreiro devem ser capazes de merecê-lo demonstrando
Vamos minha gente olhar... honra e caráter;
Desfecho feliz (o casal fica junto no fim) ou final
Lá vem o navio negreiro trágico (normalmente a morte como libertação ou
Por água brasiliana punição da personagem feminina, por transgredir os
Lá vem o navio negreiro valores sociais).
Trazendo carga humana... 3.2 Características formais
Lá vem o navio negreiro Visão de mundo maniqueísta (bem X mal), expressa
Cheio de melancolia pelo modo como o narrador descreve as
Lá vem o navio negreiro personagens;
13
Linearidade narrativa (as histórias são lineares, corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
seguem uma linha cronológica definida); guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal
Descrições dos aspectos físicos e dos sentimentos roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com
dos personagens a partir de um olhar subjetivo. as primeiras águas.”
ALENCAR, José. Iracema. São Paulo: Editora Ática, 2006, p. 16.
4. OS TIPOS DE ROMANCE
4.1 Romances indianistas
São romances em que o índio é visto como herói e
protagonista (já que o negro ainda estava na condição de
escravizado). O objetivo desses romances era resgatar aquilo
que seria essencialmente “brasileiro”, como uma forma de
afirmar que o país tinha uma identidade própria,
distanciando-se da Europa e, principalmente de Portugal,
nossa antiga Metrópole. Por isso, encontramos nessas obras
uma valorização da natureza, do indígena e histórias que são
alegorias da formação do nosso país, do encontro entre o
indígena e o europeu.
No entanto, o indígena era retratado nesses romances
MEDEIROS, José Maria de. Iracema, 1881.
de modo idealizado, seguindo valores não do mundo
indígena, mas sim do mundo europeu! Quase uma
europeização da figura dos povos originários! Esse foi o meio
encontrado pelos autores de criarem um herói nacional No trecho acima, o narrador apresenta a personagem
semelhante aos cavaleiros da Idade Média, usados no principal da hisrória, Iracema, a virgem dos lábios de mel.
Romantismo europeu. Por isso, nessas histórias, os indígenas Perceba que ele utiliza os elementos da natureza para
apresentavam valores europeus. Dentre as principais obras descrevê-la, ressaltando a harmonia entre o indígena e o
dessa vertente, podemos destacar: mundo natural. Esse romance fez tanto sucesso que, ainda na
época, foi tema de pinturas, como a de José Maria Medeiros,
O Guarani, de José de Alencar (1857);
em 1881 (foto anterior).
Iracema, de José de Alencar (1865);
4.2 Romances regionalistas
Ubirajara, de José de Alencar (1874).
Característico de um pensamento nacionalista que
Leia abaixo um trecho de Iracema, romance de José de busca, a partir da literatura, mapear os espaços geográficos
Alencar, uma das obras mais significativas do indianismo: mais recônditos do território brasileiro, o romance
regionalista procurou retratar os valores do homem do campo
e do sertão, que se opunham aos do homem urbano. Esse
tipo de romance teve como intuito revelar aos leitores da
Capítulo II corte o Brasil interiorano, cujas principais regiões eram o
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no Mato Grosso, as Minas Gerais, os pampas gaúcho e o sertão
horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de nordestino. Os hábitos do homem rural, calcado em uma
mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e estrutura patriarcal, escravagista e de valores coloniais, eram
mais longos que seu talhe de palmeira. representados muitas vezes de maneira pitoresca, causando
ao público urbano ao mesmo tempo um estranhamento e um
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a fascínio.
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Podemos destacar, como obras principais, os seguintes
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem textos:
14
O Gaúcho, de José de Alencar (1870); no salão. Era também uma formosa dama ainda no viço da
Til, de José de Alencar (1871); mocidade, bonita, bem feita e elegante. […]
Inocência, de Visconde de Taunay (1872); Malvina aproximou-se de manso e sem ser pressentida
para junto da cantora, colocando-se por detrás dela esperou
A Escrava Isaura, de Bernardo de Guimarães (1875); que terminasse a última copla. [...]
O Sertanejo, de José de Alencar (1875). – Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar
que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de
senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida
Veja a seguir um trecho do romance “A escrava que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus
Isaura”, de Bernardo Guimarães. Passada na segunda metade senhores. Deram-te uma educação como não tiveram muitas
do século XIX, durante os primeiros anos do Império de Pedro ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma
II, a trama narra a história de Isaura, uma escrava branca. cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só
Criada pelos seus senhores como sendo “parte da família”, ela gota de sangue africano. [...]
passa a ser vítima do assédio de Leôncio, filho dos patrões de
Isaura e o grande vilão da história, que tenta possui-la a todo – Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais
o custo. do que uma simples escrava? Essa educação que me deram e
essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... São
trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala
nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.
Capítulo I – Queixas-te de tua sorte, Isaura?
“O clarão do Sol poente por tal sorte abraseava as – Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero
vidraças do edifício, que esse parecia estar sendo devorado dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens
pelas chamas de um incêndio interior. Entretanto, quer no que me atribuem, sei conhecer o meu lugar.”
interior, quer em derredor, reinava fundo silêncio, e perfeita
tranquilidade. [...]
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p.
A favor desse quase silêncio harmonioso da natureza
6-11.
ouvia-se distintamente o arpejo de um piano casando-se a
uma voz de mulher, voz melodiosa, suave, apaixonada, e do
timbre o mais puro e fresco que se pode imaginar. [...]
Era essa a única voz que quebrava o silêncio da vasta e Na passagem, Isaura é confrontada por Malvina, sua
tranquila vivenda. Por fora tudo parecia escutá-la em místico dona e esposa de Leôncio, por cantar uma música que expõe
e profundo recolhimento. a violência da escravidão. Perceba que o romance não trata
do assunto de maneira crítica: na verdade, trata-se de uma
As coplas, que cantava, diziam assim: visão bem conservadora, que enxerga o “bom escravismo”
enquanto um benefício para os escravizados...
15
aprofundado no romance realista. Dentre as principais obras, fazer da praia de Botafogo um passeio, à semelhança do Bois
podemos destacar: de Boulogne em Paris, do Prater em Viena, e do Hyde Park em
A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo Londres. Durante alguns dias ela e algumas amigas
(1844); percorriam de carro aberto, por volta de quatro horas, a
extensa curva da pitoresca enseada, espairecendo a vista pelo
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel panorama encantador, e respirando a fresca viração do mar.
Antônio de Almeida (1852); […]
Lucíola, de José de Alencar (1862); Esta ânsia de festas e distrações sucedendo a uma
Diva, de José de Alencar (1864); inexplicável apatia e recolhimento, faziam desconfiar que
Aurélia buscava na sociedade, não o prazer, mas talvez o
Senhora, de José de Alencar (1875); esquecimento. Porventura tentava aturdir o espírito, e
arrancá-lo por este modo às cismas e enlevos em que se
engolfara por tantos dias?
REPARE: Memórias de um Sargento de Milícias é diferente da - Deve estranhar esta febre de divertimentos? disse ela
maioria dos romances românticos, pois o protagonista não é ao marido. É uma febre, é; mas não tem perigo. Quero que o
nenhum virtuoso nem um vilão, mas apenas um simpático mundo me julgue feliz. O orgulho de ser invejada, talvez me
malandro que acaba se “libertando” pelo amor. Nesse console da humilhação de nunca ter sido amada. Ao menos
romance, a mulher não é idealizada, a linguagem é bastante gozarei de um aparato de ventura. No fim de contas, o que é
direta, o humor aparece com frequência e as classes mais tudo neste mundo senão uma ilusão, para não dizer uma
baixas são retratadas no texto. Por isso, muitos estudiosos mentira? Assim desculpe se o incomodo, tirando-o de seus
consideram essa obra como precursora do Realismo (o hábitos para acompanhar-me. Há de reconhecer que mereço
esta compensação.
movimento literário que estudaremos na próxima aula).
- É minha obrigação acompanhá-la, e me achará
Como exemplo de romance romântico, leia abaixo um sempre disposto a cumpri-la. Moça, formosa e rica, deve
trecho do romance Senhora, de José de Alencar, que traz gozar da vida que lhe sorri. O mundo tem esta virtude; o que
como tema principal o casamento por interesse. Apesar de não absorve, gasta. Daqui a algum tempo a senhora verá a
seguir as convenções narrativas da época, segundo as quais o existência por um prisma bem diverso, e do passado não lhe
amor é capaz de vencer tudo, o autor faz uma crítica severa à ficará senão a lembrança de um pesadelo de criança.
sociedade. Os protagonistas, Aurélia Camargo e Fernando
Seixas, eram apaixonados na juventude e acabam se
separando após Seixas aceitar o dote de uma moça mais rica. ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Edições Pavana, 2012, p. 334-336.
16
Foi o nosso maior romancista da entanto no meio da sua felicidade parecia às vezes tocado por
primeira metade do século XIX. viva melancolia, que se lhe debuxava no rosto, onde uma
Nascido no Ceará, logo cedo foi para lágrima recente havia deixado profundo sulco. [...]
a corte, em função da vida política do
pai. Torna-se, na vida adulta, político E aí havia uma mulher escrava, e negra como ele; mas
e escritor, função que exerceu com boa, e compassiva, que lhe serviu de mãe enquanto lhe sorriu
esmero, dando à prosa romântica essa idade lisonjeira e feliz, única na vida do homem que se
brasileira características grava no coração com caracteres de amor (...)
fundamentais, ao escrever diferentes Susana, chama-se ela; trajava uma saia de grosseiro
tipos de romance. tecido de algodão preto, cuja orla chegava-lhe ao meio das
Na verdade, Alencar possuía um projeto artístico, cujo pernas magras e descarnadas como todo o seu corpo: na
objetivo era retratar em suas obras os mais variados cabeça tinha cingido um lenço encarnado e amarelo, que mal
aspectos sociais, históricos e geográficos de nossa lhe ocultava as alvíssimas cãs. [...]
identidade cultural. Ele também defendia que nossas obras – Túlio, – continuou – não sabes quanto sofro quando
fossem escritas numa língua mais brasileira, sem o estilo recordo-me de que a nossa querida menina vai tão breve ficar
português que podia ser encontrado em outras obras (apesar só no mundo! Só, Túlio! Quem a acompanhará? Quem poderá
de Alencar ainda ser um autor bem rigoroso e formal nas consolá-la! Eu? Não. Pouco poderei demorar-me neste
regras gramaticais da norma padrão). Mas José Alencar, mundo. Meu filho, acho bom que não te vás. Que te adianta
apesar de sua fama, não foi o único autor do nosso trocares um cativeiro por outro! E sabes tu se aí o encontrarás
Romantismo! E é sempre bom lembrar que os autores que melhor? Olha, chamar-te-ão, talvez, ingrato, e eu não terei
vemos nas aulas não são todos os autores da época, mas sim uma palavra para defender-te.
aqueles que mais se destacaram, ou seja, que ficaram
famosos diante do público ou dos estudiosos. O caso de – Oh! quanto a isso não, mãe Susana – tornou Túlio – A
Alencar é singular pois ele conheceu o sucesso ainda em vida, senhora Luísa B... foi para mim boa e carinhosa, o céu lhe
o que é raro, sendo um dos primeiros best-seller nacional! pague o bem que me fez, que eu nunca me esquecerei de que
poupou-me os mais acerbos desgostos da escravidão, mas
Contudo, nós não podemos esquecer dos autores e quanto ao jovem cavaleiro, é bem diverso o meu sentir; sim,
autoras que não fazem parte desse “cânone”, isto é, desse bem diverso. Não troco cativeiro por cativeiro, oh não! Troco
conjunto de obras consagradas. Um exemplo disso é Maria escravidão por liberdade, por ampla liberdade! Veja, mãe
Firmina dos Reis, a primeira romancista mulher do nosso país. Susana, se devo ter limites à minha gratidão: veja se devo, ou
4.5 Maria Firmina dos Reis (1822-1917) não, acompanhá-lo, se devo, ou não provar-lhe até a morte o
meu reconhecimento!...
Mulher negra, Maria Firmina
dos Reis escreveu o romance – Tu! tu livre? ah não me iludas! – exclamou a velha
Úrsula (1859), uma obra africana abrindo uns grandes olhos. Meu filho, tu és já livre?...
antiescravista que traz entre [...]
os personagens os próprios A africana limpou o rosto com as mãos, e um momento
escravizados (antes mesmo depois exclamou:
das obras da geração
condoreira). Além disso, Maria Firmina foi a primeira mulher a – Sim, para que estas lágrimas?!... Dizes bem! Elas são
ser aprovada em concurso público para professora no inúteis, meu Deus; mas é um tributo de saudade, que não
Maranhão, profissão com a qual sustentou-se sozinha, e posso deixar de render a tudo quanto me foi caro! Liberdade!
também criou a primeira escola mista da época (aceitando Liberdade... ah! eu a gozei na minha mocidade! – continuou
estudantes meninos e meninas no mesmo espaço). Susana com amargura – Túlio, meu filho, ninguém a gozou
mais ampla, não houve mulher alguma mais ditosa do que eu.
Sua obra, devido ao público leitor da época em que foi [...]
escrita (uma elite escravista), ao seu tema e à sua autoria
(escrita por uma mulher negra em uma época de forte Vou contar-te o meu cativeiro. […]
machismo e racismo), ficou durante muito tempo esquecida e Ainda não tinha vencido cem braças de caminho,
desconhecida. Agora, graças ao trabalho de historiadores e quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio
pesquisadores do nosso país, ela está sendo resgatada, orientar acerca do perigo iminente, que aí me aguardava. E
mostrando que a nossa literatura é bem mais vasta do que logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas.
parece. Leia abaixo um trecho do romance de Maria Firmina, Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi embalde que
em que dois escravizados, Túlio e a preta Susana, conversam supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a
sobre liberdade. Veja a riqueza de detalhes com que o liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e
processo de escravidão é descrito: olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei
morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda
Capítulo IX – A preta Susana longos combates. Quando me arrancaram daqueles lugares,
onde tudo me ficava – pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade!
Estavam já feitos os aprestos da viagem, e Túlio, Meu Deus! O que se passou no fundo de minha alma, só vós o
17
pudestes avaliar!...
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros
de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um
navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de
tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa
sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber
a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e
para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como
John Constable (1776-1837)
os animais ferozes das nossas matas, que se levam para
recreio dos potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, Outro bom exemplo do Romantismo na pintura é o
podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais quadro A Liberdade Guiando o Povo (1850), de Eugène
porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à Delacroix (1798 - 1863), que nos dá uma boa ideia de como o
falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que Romantismo idealizava o sentimento patriótico e os grandes
criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que momentos históricos!
não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e
famintos!
Muitos não deixavam chegar esse último extremo –
davam-se à morte.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Jundiaí: Cadernos do mundo inteiro, 2018, p.
84-89.
5. O ROMANTISMO E AS ARTES
Esse quadro retrata, de modo imaginativo, a Revolução
PLÁSTICAS Francesa, justamente o movimento que marcou a decadência
do Antigo Regime e a ascensão da burguesia, classe
Estamos chegando ao fim da nossa aula. Antes,
financiadora dos artistas românticos. Através da figura da
importa dizer que, assim como o Barroco e o Arcadismo, o
Liberdade, representada por uma mulher de seios nu, o
Romantismo também se fez presente na pintura! Nesse caso,
quadro simboliza os ideais que inspiraram a revolução e as
apesar do Romantismo na literatura ter intensificado a
lutas populares da época. Suas cores intensas e formas um
valorização da natureza e do indígena, aspectos já presentes
tanto difusas (algo que também pode ser visto nas outras
no Arcadismo, tivemos também na pintura uma ruptura com
pinturas) demonstram a intensidade emocional característica
os valores clássicos presentes no movimento anterior!
das obras românticas.
Por isso, assim como a literatura romântica adotou
uma liberdade formal, a pintura romântica também irá se
distanciar do estilo de pintura que seguia os valores clássicos
de ordem, proporção, simetria e harmonia. Seu foco será E, assim, chegamos ao fim
muito mais naquilo que é subjetivo: as paixões e os dessa aula e desse
tormentos da emoção humana. Assim, vamos encontrar nas movimento literário que
pinturas românticas uma valorização do artista e de sua ficou marcado por sua
capacidade criadora; da imaginação, do sonho e da fuga da intensidade e idealização,
realidade; dos mitos do herói e da nação; da natureza e da deixando um profundo
cor local. É comum vermos pinturas de grandes extensões de legado nas artes e na
mar, montanhas e planícies cobertas de nuvens e/ou neblina, literatura, notado até hoje!
e o homem solitário, contemplando a natureza, quase como
uma experiência espiritual do indivíduo.
Na próxima aula, veremos dois movimentos que
ocorreram simultaneamente, o Realismo e o Naturalismo, que
surgem com a proposta de criticar a visão idealizada do
mundo, proposta pelo romantismo. Enquanto essa aula não
chega, você pode ir direto resolver as questões sobre o
Romantismo, para ver como esse conteúdo cai nos
vestibulares! A dica é que os conteúdos de Literatura
costumam cair de modo muito parecido ao que vimos na aula
de Barroco e Arcadismo, normalmente na forma de questões
Jopesh Mallord William Turner (1775-1827) que vão pedir para você interpretar um determinado texto
desse movimento, levando em consideração os aspectos
temáticos e formais!
18
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Lista 01 Meu Deus, eu sinto e bem vês que eu morro
Respirando esse ar;
Texto: Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu de meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja já!
Eu quero ouvir cantar na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
ABREU, C. Poetas românticos brasileiros.
TEXTO II:
A ideologia romântica, argamassa da ao longo do
01. (Enem PPL 2016) A pintura Napoleão cruzando os
século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziu-se
Alpes, do artista francês Jacques Louis-David, produzida
em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a
em 1801, contempla as características de um estilo que
anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o
(A) utiliza técnicas e suportes artísticos inovadores. nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e
do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época).
(B) reflete a percepção da população sobre a realidade.
MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix,
(C) caricaturiza episódios marcantes da história europeia. 1971.
(D) idealiza eventos históricos pela ótica de grupos 03. (ENEM 2010) De acordo com as considerações de
dominantes. Massaud Moisés no Texto II, o Texto I centra-se:
(E) compõe obras com base na visão crítica de artistas (A) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar
consagrados. longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país
sufoca o eu lírico.
DIAS, G. Antologia poética. Rio de Janeiro: Agir, 1979 (fragmento). (E) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a
alegria presente em oposição à infância, marcada pela
02. (Enem PPL 2020) Na perspectiva do Romantismo, a tristeza.
representação feminina espelha concepções expressas no
poema pela
(A) reprodução de estereótipos sociais e de gênero. Soneto
(B) presença de traços marcadores de nacionalidade. Oh! Páginas da vida que eu amava,
(C) sublimação do desejo por meio da espiritualização. Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!…
Ardei, lembranças doces do passado!
(D) correlação feita entre estados emocionais e natureza. Quero rir-me de tudo que eu amava!
(E) mudança de paradigmas relacionados à sensibilidade.
E que doido que eu fui!como eu pensava
Em mãe, amor de irmã! em sossegado
TEXTO I Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos.
Meu Deus! não seja já;
Embora — é meu destino. Em treva densa
19
Dentro do peito a existência finda (A) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo
Pressinto a morte na fatal doença! ideológico retórico.
(B) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do
A mim a solidão da noite infinda
liberalismo.
Possa dormir o trovador sem crença.
Perdoa minha mãe — eu te amo ainda! (C) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
o tema amoroso.
04. (ENEM PPL 2014) A produção de Álvares de Azevedo (D) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que
situa-se na década de 1850, período conhecido na tematize a injustiça social.
literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse (E) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a
poema, a força expressiva da exacerbação romântica visão lírica da terra pátria.
identifica-se com a(o)
(A) amor materno, que surge como possibilidade de
salvação para o eu lírico. O laço de fita
(B) saudosismo da infância, indicado pela menção às Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
figuras da mãe e da irmã. Prendi meus afetos, formosa Pepita.
(C) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas
com aparência melancólica. Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
(D) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo Num laço de fita.
seu desejo de dormir. Na selva sombria de tuas madeixas,
(E) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a Nos negros cabelos de moça bonita,
sentir um tormento constante. Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
20
Na ordem dos melhoramentos materiais, sobretudo, (B) tematização da fragilidade humana diante da morte.
cada dia fazemos um passo, e em cada passo realizamos
(C) ressignificação de obras do cânone literário nacional.
uma coisa útil para o engrandecimento do país.
ALENCAR, J. Ao correr da pena. Disponível em:
(D) representação dramática e idealizada do corpo da
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2013. índia.
07. (ENEM PPL 2018) No fragmento da crônica de José de (E) oposição entre a condição humana e a natureza
Alencar, publicada em 1854, a temática nacionalista primitiva.
constrói-se pelo elogio ao(à)
(A) passado glorioso. (B) progresso nacional. O sertão e o sertanejo
(C) inteligência brasileira. (D) imponência civilizatória. Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos,
(E) imaginação exacerbada. tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e
ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante
tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum
Texto: tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma
faúlha do seu isqueiro. Minando à surda na touceira,
Seixas era homem honesto; mas ao atrito da
queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer
secretaria e ao calor das salas, sua honestidade havia
aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo
tomado essa têmpera flexível da cera que se molda às
esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e
fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição.
vacilante os espaços imensos que se alongam diante dela.
Era incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com mais
um abuso de confiança; mas professava a moral fácil e lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se
cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade. extinguir de todo, deixando como sinal da avassaladora
passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os
Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria
velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos os
de amor; e o interesse próprio tem plena liberdade, desde
lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias
que se transija com a lei e evite o escândalo.
copiosa chuva, e parece que uma varinha de fada andou
ALENCAR, J. Senhora. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas jardins
Acesso em: 7 out. 2015. encantados e nunca vistos. Entra tudo num trabalho
08. (Enem digital 2020) A literatura romântica reproduziu íntimo de espantosa atividade. Transborda a vida.
valores sociais em sintonia com seu contexto de TAUNAY, A. Inocência. São Paulo: Ática, 1993 (adaptado).
mudanças. No fragmento de Senhora, as concepções
românticas do narrador repercutem a 10. (ENEM Cancelado 2009) O romance romântico teve
fundamental importância na formação da ideia de nação.
(A) resistência à relativização dos parâmetros éticos. Considerando o trecho acima, é possível reconhecer que
(B) idealização de personagens pela nobreza de atitudes. uma das principais e permanentes contribuições do
Romantismo para construção da identidade da nação é a
(C) crítica aos modelos de austeridade dos espaços
coletivos. (A) possibilidade de apresentar uma dimensão
desconhecida da natureza nacional, marcada pelo
(D) defesa da importância da família na formação moral subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de
do indivíduo. renovação.
(E) representação do amor como fator de (B) consciência da exploração da terra pelos colonizadores
aperfeiçoamento do espírito. e pela classe dominante local, o que coibiu a exploração
desenfreada das riquezas naturais do país.
(C) construção, em linguagem simples, realista e
documental, sem fantasia ou exaltação, de uma imagem
da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza
brasileira.
(D) expansão dos limites geográficos da terra, que
promoveu o sentimento de unidade do território nacional
e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil aos
brasileiros.
MEIRELES, V. Moema, Óleo sobre tela, 129 cm x 190 cm. Masp, São Paulo, 1866. Disponível em:
www.masp.art.br. Acesso em: 13 ago. 2012 (adaptado).
(E) valorização da vida urbana e do progresso, em
09. (Enem 2021) Nessa obra, que retrata uma cena de detrimento do interior do Brasil, formulando um conceito
Caramuru, célebre poema épico brasileiro, a filiação à de nação centrado nos modelos da nascente burguesia
estética romântica manifesta-se na brasileira.
(A) exaltação do retrato fiel da beleza feminina.
21
Gabarito
__________________________________________________
1. D 2. D 3. B 4. E 5. E
6. E 7. B 8. A 9. D 10. D 05. Comente sobre a 1ª geração romântica na poesia,
mencionando suas características e principais autores.
Fichamento __________________________________________________
__________________________________________________
01. Qual foi o contexto histórico do Romantismo?
__________________________________________________ __________________________________________________
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06. Comente sobre a 2ª geração romântica, mencionando
suas características e principais autores.
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__________________________________________________
__________________________________________________
02. Quais são as características temáticas do Romantismo?
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07. Comente sobre a 3ª geração romântica, mencionando
__________________________________________________
suas características e principais autores.
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
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__________________________________________________ __________________________________________________
03. Quais são as características formais do Romantismo? 08. Quais são as características gerais da prosa romântica?
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________ __________________________________________________
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__________________________________________________ __________________________________________________
__________________________________________________
04. Em quantas fases dividimos a poesia romântica no Brasil e
quais são os nomes delas?
__________________________________________________
__________________________________________________
09. Comente sobre os romances indianistas.
__________________________________________________
22
__________________________________________________ George usou um software para definir quem deveria ser
entrevistado. Ao reproduzir a forma como os funcionários
__________________________________________________ faziam essa escolha, o programa eliminou, de cara, 60 de
2.000 candidatos. Só por causa do sexo ou da origem
__________________________________________________ racial, numa dedução baseada em sobrenome e local de
nascimento. Um estudo sobre o caso foi publicado em
__________________________________________________ 1988, mas, 25 anos depois, outra pesquisa apontou que
esse tipo de discriminação segue firme. O exemplo
recente envolve o buscador do Google: ao digitar nomes
10. Comente sobre os romances regionalistas.
comuns entre negros dos EUA, a chance de os anúncios
__________________________________________________ automáticos oferecerem checagem de antecedentes
criminais pode aumentar 25%. E pode piorar com a
__________________________________________________ pergunta “detido?” logo após a palavra procurada.
Disponível em: https://tab.uol.com.br. Acesso em: 11 ago. 2017
__________________________________________________ (adaptado).
23
com que essa canção se apresente como uma referência à
cultura popular nordestina.
(C) exaltação das raízes populares, como a poesia, a
literatura de cordel e o frevo, misturadas ao erudito, como
a Orquestra Armorial, compondo um rico tecido cultural,
que transforma o popular em erudito.
(D) caracterização das festas populares como identidade
cultural localizada e como representantes de uma cultura
que reflete valores históricos e sociais próprios da
população local.
(E) apresentação do Pastoril do Faceta, do maracatu, do 04. (Enem 2020) O esporte é uma manifestação cultural na
bumba meu boi e dos autos como representação da qual se estabelecem relações sociais. Considerando o
musicalidade e do teatro popular religioso, bastante texto, o futebol é uma modalidade que
comum ao folclore brasileiro.
(A) apresenta proximidades com o tênis, no que tange às
Texto: relações de gênero entre homens e mulheres.
O conceito de saúde formulado na histórica VIII (B) caracteriza por uma identidade masculina no Brasil,
Conferência Nacional de Saúde, no ano de 1986, ficou conferindo maior remuneração aos jogadores.
conhecido como um “conceito ampliado” de saúde,
(C) traz remunerações, aos jogadores e jogadoras,
conforme ilustrado na figura. Esse conceito foi fruto de
proporcionais aos seus esforços no treinamento esportivo.
intensa mobilização em diversos países da América Latina
nas décadas de 1970 e 1980, como resposta à crise dos (D) resulta em melhor eficiência para as mulheres e,
sistemas públicos de saúde. consequentemente, em remuneração mais alta às
jogadoras.
(E) possui jogadores e jogadoras com a mesma
visibilidade, apesar de haver expoentes femininas de
destaque, como Marta.
24
Por “complexo de vira-latas” entendo eu a
inferioridade em que o brasileiro se coloca,
voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em
todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós
nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em
Wembley, por que perdemos? Porque, diante do quadro
inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de
humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo,
espetacular o nosso vira-latismo [...]. É um problema de fé
06. (Fuvest 2021) O efeito de humor presente nas falas em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que
das personagens decorre não é um vira-latas.
(A) da quebra de expectativa gerada pela polissemia. RODRIGUES, N. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das
Letras, 1993.
(B) da ambiguidade causada pela antonímia.
TEXTO II
(C) do contraste provocado pela fonética.
A melhor banda de todos os tempos da última semana
(D) do contraste introduzido pela neologia.
(E) do estranhamento devido à morfologia. As músicas mais pedidas
Os discos que vendem mais
As novidades antigas
Texto: Nas páginas dos jornais
25
juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do – Eu mais o Timinho.
corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.
– O que tinha dentro?
GALEANO, E. Futebol ao sol e à sombra.
– Um ninho.
09. (ENEM 2018) O texto indica que as mudanças nas
práticas corporais, especificamente no futebol, – Vazio?
26
Que desfazia o bando; JORGE – Minha senhora mana! A bênção de Deus te cubra,
filha! Também estou desassossegado como vós, mana
Mas, coitada! Madalena: mas não vos aflijais, espero que não há de ser
Foi tanta a bordoada, nada. É certo que tive umas notícias de Lisboa...
Ah! que exclamava enfim
MADALENA (assustada) – Pois que é, que foi?
A besta oficial:
- Nunca imaginei tal! JORGE – Nada, não vos assusteis; mas é bom que estejais
Tratada assim prevenida, por isso vo-lo digo. Os governadores querem
Uma besta real!... sair da cidade... é um capricho verdadeiro... Depois de
Mas aquela que vinha atrás de mim, aturarem metidos ali dentro toda a força da peste, agora
Por que a não tratais mal? que ela está, se pode dizer, acabada, que são raríssimos os
casos, é que por força querem mudar de ares.
“Minha amiga, cá vou no meu sossego,
MADALENA – Pois coitados!...
Tu tens um belo emprego!
Tu sustentas-te a fava, e eu a troços! MARIA – Coitado do povo! Que mais valem as vidas deles?
Tu lá server el-rei, e eu um moleiro! Em pestes e desgraças assim, eu entendia, se governasse,
Ossos do ofício, que o não há sem ossos.” que o serviço de Deus e do rei me mandava ficar, até a
(Campo de flores, s/d)
última, onde a miséria fosse mais e o perigo maior, para
atender com remédio e amparo aos necessitados. Pois, rei
12. (UNESP 2014) A leitura da primeira estrofe sugere que não quer dizer pai comum de todos?
a besta fiscal estava carregada de
JORGE – A minha donzela Teodora! Assim é, filha, mas o
(A) moedas. (B) equipamentos. (C) documentos. mundo é doutro modo: que lhe faremos?
(D) cevada. (E) minério. MARIA – Emendá-lo.
13. (UNESP 2014) Na terceira estrofe, com relação à JORGE (para Madalena, baixo) – Sabeis que mais? Tenho
oração principal do período de que faz parte, a oração que medo desta criança.
exclamava enfim expressa
MADALENA (do mesmo modo) – Também eu.
(A) causa. (B) consequência. (C) finalidade.
JORGE (alto) – Mas enfim, resolveram sair: e sabereis mais
(D) condição. (E) negação. que, para corte e “buen retiro” dos nossos cinco reis, os
14. (UNESP 2014) Empregada na segunda estrofe, a senhores governadores de Portugal por D. Filipe de
palavra choquilha não é registrada em alguns dicionários. Castela, que Deus guarde, foi escolhida esta nossa boa vila
No entanto, pelo contexto dessa estrofe, sobretudo pela de Almada, que o deveu à fama de suas águas sadias, ares
presença da forma verbal repicando, torna-se possível lavados e graciosa vista.
verificar que significa MADALENA – Deixá-los vir.
(A) arma de choque. (B) chibata. JORGE – Assim é: que remédio! Mas ouvi o resto. O nosso
(C) chocalho. (D) saco de couro. pobre Convento de São Paulo tem de hospedar o senhor
arcebispo D. Miguel de Castro, presidente do governo.
(E) freio metálico. Bom prelado é ele; e, se não fosse que nos tira do humilde
15. (UNESP 2014) Considerando que a sátira se apresenta sossego de nossa vida, por vir como senhor e príncipe
sob forma de fábula, com personagens animais assumindo secular... o mais, paciência. Pior é o vosso caso...
modos de agir e pensar tipicamente humanos, verifica-se MADALENA – O meu!
que a atitude da besta real em relação à outra traduz um
preconceito de JORGE – O vosso e de Manuel de Sousa: porque os outros
quatro governadores – e aqui está o que me mandaram
(A) cor. (B) raça. (C) credo religioso. dizer em muito segredo de Lisboa – dizem que querem vir
2
(D) credo político. (E) classe social. para esta casa, e pôr aqui aposentadoria.
Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1799-1854): MARIA (com vivacidade) – Fechamos-lhes as portas.
3
Metemos a nossa gente dentro – o terço de meu pai tem
Cena V – JORGE, MADALENA E MARIA mais de seiscentos homens – e defendemo-nos. Pois não é
JORGE – Ora seja Deus nesta casa! uma tirania?... E há de ser bonito!... Tomara eu ver seja o
1
que for que se pareça com uma batalha!
(Maria beija-lhe o escapulário e depois a mão; Madalena
somente o escapulário.) JORGE – Louquinha!
MADALENA – Sejais bem-vindo, meu irmão! MARIA – Boas MADALENA – Mas que mal fizemos nós ao conde de
tardes, tio Jorge! Sabugal e aos outros governadores, para nos fazerem esse
desacato? Não há por aí outras casas; e eles não sabem
27
que nesta há senhoras, uma família... e que estou eu (C) experiências por ele compartilhadas.
aqui?...
(D) padrões de linguagem por ele utilizados.
(Teatro, vol. 3, 1844)
(E) preços acessíveis de seus treinamentos.
16. (UNESP 2015) Ao dizer, em voz baixa, para Madalena,
“Tenho medo desta criança”, Jorge sugere que Texto:
(A) as falas de Maria apresentam indícios de insanidade e “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu
loucura. biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que
colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou
(A) as opiniões de Maria revelam uma menina inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-
desobediente e irresponsável. 1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido
(C) Maria começa a manifestar propensão para a carreira como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos
militar. da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e
históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal,
(D) Maria não acredita na religião nem na misericórdia autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e
divina. até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das
(E) as opiniões de Maria podem atrair a ira dos múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte
governantes. de seu acervo inédito será digitalizada.
História Viva, n. 99, 2011.
17. (UNESP 2015) Focalizando eventos do final do século
XVI e início do século XVII português, a passagem procura 19. (ENEM 2012) Com base no texto, que trata do papel
destacar do escritor José de Alencar e da futura digitalização de
sua obra, depreende-se que
(A) os abusos de poder da aristocracia governante.
(A) a digitalização dos textos é importante para que os
(B) as sábias e justas decisões dos governantes.
leitores possam compreender seus romances.
(C) o desejo das pessoas de agradar os poderosos.
(B) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi
(D) a tranquilidade e a despreocupação da existência. importante porque deixou uma vasta obra literária com
temática atemporal.
(E) a admiração indiscriminada dos súditos pelo poder
real. (C) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da
digitalização, demonstra sua importância para a história
do Brasil Imperial.
Por que a indústria do empreendedorismo de palco irá
(D) a digitalização dos textos de José de Alencar terá
destruir você
importante papel na preservação da memória linguística e
Se, antigamente, os livros, enormes e com suas da identidade nacional.
setecentas páginas, cuspiam fórmulas, equações e cálculos
(E) o grande romancista José de Alencar é importante
que te ensinavam a lidar com o fluxo de caixa da sua
porque se destacou por sua temática indianista.
empresa, hoje eles dizem: “Você irá chegar lá! Acredite,
você irá vencer!”.
Mindset, empoderamento, millennials, networking, No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a
coworking, deal, business, deadline, salesman com perfil personagem, critica sutilmente um outro estilo de época:
hunter… tudo isso faz parte do seu vocabulário. O pacote o romantismo:
de livros é sempre idêntico e as experiências são passadas
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou
da mesma forma: você está a um único centímetro da
dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da
vitória. Não pare!
nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo
Se desistir agora, será para sempre. Tome, leia a que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
estratégia do oceano azul. Faça mais uma mentoria, mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o
participe de mais uma sessão de coaching. O problema é autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e
que o seu mindset não está ajustado. Você precisa ser espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o
mais proativo. Vamos fazer mais um powermind? Eu rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca,
consigo um precinho bacana para você... saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário
CARVALHO, I. C. Disponível em: https://medium.com. Acesso em: 17 ago. e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os
2017 (adaptado). fins secretos da criação.”
18. (Enem 2020) De acordo com o texto, é possível ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
identificar o “empreendedor de palco” por 20. (ENEM 2001) A frase do texto em que se percebe a
(A) livros por ele indicados. crítica do narrador ao romantismo está transcrita na
alternativa:
(B) suas habilidades em língua inglesa.
28
(A) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às As questões a seguir tomam por base um fragmento de
sardas e espinhas... Glória moribunda, do poeta romântico brasileiro Álvares
de Azevedo (1831-1852):
(B) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...
(C) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia
daquele feitiço, precário e eterno, ... É uma visão medonha uma caveira?
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
(D) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou
Foi a cabeça ardente de um poeta,
dezesseis anos...
Outrora à sombra dos cabelos loiros.
(E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins Quando o reflexo do viver fogoso
secretos da criação. Ali dentro animava o pensamento,
Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Texto:
Formosa palidez cobria o rosto;
No Brasil, a poesia da primeira geração romântica tinha Nessas órbitas — ocas, denegridas! —
como objetivo criar uma __________, tomando como Como era puro seu olhar sombrio!
protagonista a figura do __________. A poesia da segunda
geração romântica, por sua vez, foi impregnada de Agora tudo é cinza. Resta apenas
__________, que se aliou ao subjetivismo extremo e ao A caveira que a alma em si guardava,
escapismo. Já na terceira geração romântica, destaca-se a Como a concha no mar encerra a pérola,
poesia de Castro Alves, que tem como uma de suas Como a caçoula a mirra incandescente.
temáticas principais __________. Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
Por que repugnas levantá-la agora?
21. (Upf 2019) Assinale a alternativa cujas informações
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
preenchem corretamente as lacunas do enunciado.
Quanta vida ali dentro fermentava,
(A) identidade clássica / sertanejo / pessimismo / a Como a seiva nos ramos do arvoredo!
denúncia da escravidão. E a sede em fogo das ideias vivas
Onde está? onde foi? Essa alma errante
(B) identidade nacional / sertanejo / tédio / a repulsa ao
Que um dia no viver passou cantando,
erotismo.
Como canta na treva um vagabundo,
(C) identidade nacional / índio / pessimismo / a denúncia Perdeu-se acaso no sombrio vento,
da escravidão. Como noturna lâmpada apagou-se?
E a centelha da vida, o eletrismo
(D) identidade nacional / sertanejo / pessimismo / o
Que as fibras tremulantes agitava
desejo pela mulher amada.
Morreu para animar futuras vidas?
(E) identidade clássica / índio / tédio / a denúncia da
escravidão. Sorris? eu sou um louco. As utopias,
Texto: Os sonhos da ciência nada valem.
A vida é um escárnio sem sentido,
Comédia infame que ensanguenta o lodo.
Há talvez um segredo que ela esconde;
Mas esse a morte o sabe e o não revela.
Os túmulos são mudos como o vácuo.
Desde a primeira dor sobre um cadáver,
Quando a primeira mãe entre soluços
Do filho morto os membros apertava
Ao ofegante seio, o peito humano
Caiu tremendo interrogando o túmulo...
22. (Enem Libras 2017) Pertencente ao Romantismo, a E a terra sepulcral não respondia.
obra de Victor Meirelles caracteriza-se como uma (Poesias completas, 1962.)
(A) descrição dramática da guerra. 23. (UNESP 2013) Do segundo ao último verso da primeira
(B) inclinação ao retrato nacionalista. estrofe do poema, revelam-se características marcantes
do Romantismo:
(C) estilização das revoltas populares.
(A) conteúdos e desenvolvimentos bucólicos.
(D) construção da identidade brasileira.
(B) subjetivismo e imaginação criadora.
(E) representação das obras francesas.
(C) submissão do discurso poético à musicalidade pura.
(D) observação e descrição meticulosa da realidade.
(E) concepção determinista e mecanicista da natureza.
29
24. (UNESP 2013) Morreu para animar futuras vidas? (A) consciência da solidão. (B) escapismo.
No verso em destaque, sob forma interrogativa, o eu lírico (C) ilogismo. (D) senso do mistério. (E) subjetivismo.
sugere com o termo animar que
Texto:
(A) a morte de uma pessoa deve ser festejada pelos que á da morte o palor me cobre o rosto,
ficam. Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
(B) o verdadeiro objetivo da morte é demonstrar o
E devora meu ser mortal desgosto!
desvalor da vida.
(C) a vida do poeta é mais consistente e animada que Do leito embalde no macio encosto
todas as outras. Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
(D) a alma que habitou o corpo talvez possa reencarnar
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
em novo corpo.
(E) outras pessoas passam a viver melhor quando um O adeus, o teu adeus, minha saudade,
homem morre. Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Lê-se esta passagem no prefácio que o poeta Álvares de Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Azevedo escreveu para sua obra Lira dos vinte anos: Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
O poema então começa pelos últimos crepúsculos do
misticismo brilhando sobre a vida como a tarde sobre a AZEVEDO, A. Obra completa.
terra. A poesia puríssima banha com seu reflexo ideal a 27. (ENEM 2010) O núcleo temático do soneto citado é
beleza sensível e nua. típico da segunda geração romântica, porém configura um
Depois a doença da vida [...] descarna e injeta de fel lirismo que o projeta para além desse momento
cada vez mais o coração. Nos mesmos lábios onde específico. O fundamento desse lirismo é
suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde. (A) a angústia alimentada pela constatação da
25. (Puccamp Direito 2022) Nessa passagem, o poeta irreversibilidade da morte.
romântico está considerando (B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação
(A) o caráter idealista de sua arte, que se manifesta de diante da perda.
modo constante e irredutível. (C) o descontrole das emoções provocado pela
(B) a perda da aura romântica, que lhe sucede quando se autopiedade.
aproxima do parnasianismo. (D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão
(C) a violência com que a negatividade anula sua amorosa.
possibilidade de ter um ideal místico. (E) o gosto pela escuridão como solução para o
(D) a dupla condição de poesia onde se alternam o lirismo sofrimento.
puro e a ironia que fere. Texto:
(E) a oscilação de uma lírica onde a sublimidade do amor Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
dialoga com a da religião. A ventura de uma alma de donzela!
Texto: E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Amoroso palor meu rosto inunda, Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Mórbida languidez me banha os olhos, Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Ardem sem sono as pálpebras doridas, Passam tantas visões sobre meu peito!
Convulsivo tremor meu corpo vibra: Palor de febre meu semblante cobre,
Quando sofro por ti! Nas longas noites Bate meu coração com tanto fogo!
Adoeço de amor e de desejos Um doce nome os lábios meus suspiram,
E nos meus sonhos desmaiando passa Um nome de mulher... e vejo lânguida
A imagem voluptuosa de ventura... No véu suave de amorosas sombras
Eu sinto-a de paixão encher a brisa, Seminua, abatida, a mão no seio,
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens... Perfumada visão romper a nuvem,
Álvares de Azevedo. In: PROENÇA, Filho, Domício. Estilos de época na Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
Literatura. 20 ed. São Paulo: Prumo, 2012. p. 190 (fragmento). O alento fresco e leve como a vida
26. (Unichristus - Medicina 2022) Nesse poema, a Passar delicioso...
realidade é revelada por meio da atitude pessoal do Que delírios!
escritor, manifestada pela presença do(a) Acordo palpitante... inda a procuro;
30
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas (D) Os estados de alma em que o sujeito poético expressa
Banham meus olhos, e suspiro e gemo... seus sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio! recorrente no movimento em que se inscreve a obra de
Só o leito deserto, a sala muda! Álvares de Azevedo.
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
(E) A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
românticos brasileiros, define-se em torno de dois polos
Nunca virás iluminar meu peito
poéticos: a marcante presença da natureza, explorada
Com um raio de luz desses teus olhos?
com destaque em Noites da taverna, e a constante viagem
28. (PUC-SP 2002) Os versos acima integram a obra Lira ao interior do sujeito para exprimir sua dor e seus
dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Da leitura deles sentimentos.
podemos depreender que o poema
Texto:
(A) ilustra a dificuldade de conciliar a ideia de amor com a
Outro traço importante da poesia de Álvares de
de posse física.
Azevedo é o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam
(B) manifesta o desejo de amar e a realização amorosa se a vertente para nós mais moderna do Romantismo. A sua
dá concretamente em imagens de sonho. obra é a mais variada e complexa no quadro da nossa
poesia romântica; mas a imagem tradicional de poeta
(C) concilia sonho e realidade e ambos se alimentam da
sofredor e desesperado atrapalhou a reconhecer a
presença sensual da mulher amada.
importância de sua veia humorística.
(D) espiritualiza a mulher e a apresenta em recatado (Antonio Candido. “Prefácio”. In: Álvares de Azevedo. Melhores poemas,
pudor sob “véu suave de amorosas sombras”. 2003. Adaptado.)
(E) revela sentimento de frustração provocado pelo medo 30. (UNESP 2016) A veia humorística ressaltada pelo
de amar e pela recusa doentia e deliberada à entrega crítico Antonio Candido na poesia de Álvares de Azevedo
amorosa. está bem exemplificada em:
Para responder à questão, leia o excerto abaixo, retirado (A) Cavaleiro das armas escuras,
da obra Macário, de Álvares de Azevedo: Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
(O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite, Macário. E gemidos nos lábios frementes
(MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido Vertem fogo do teu coração?
sai). O diabo! uma boa fortuna! Há dez anos que eu ando
para encontrar esse patife! Desta vez agarrei-o pela
cauda! A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem (B) Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Mefistófeles. Olá, Satã! Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
(SATÃ) Macário. Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
(MACÁRIO) Quando partimos?
(SATÃ) Tens sono?
(C) Pálida, à luz da lâmpada sombria,
(MACÁRIO) Não. Sobre o leito de flores reclinada,
(SATÃ) Então já. Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
(MACÁRIO) E o meu burro?
(SATÃ) Irás na minha garupa.
(D) Se eu morresse amanhã, viria ao menos
29. (PUC-RS 2016) Sobre o movimento literário em que se Fechar meus olhos minha triste irmã;
inscreve Álvares de Azevedo, é incorreto afirmar: Minha mãe de saudades morreria
(A) A representação de figuras do mundo sobrenatural Se eu morresse amanhã!
também constitui uma das características desse
movimento, conforme se lê no excerto acima.
(E) Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
(B) José de Alencar é o autor de romances mais Que o espírito enlaça à dor vivente,
representativos desse movimento, com obras como O Não derramem por mim nem uma lágrima
Guarani, O sertanejo, As minas de prata. Em pálpebra demente.
(C) A representação da nação, um dos temas do
movimento em que se inscreve a obra de Álvares de
Azevedo, exaltou as belezas naturais da terra brasileira.
31
O trecho a seguir é parte do poema “Mocidade e morte”,
do poeta romântico Castro Alves: Porque eu pequei... e do pecado escuro
Tu foste o fruto cândido, inocente,
Oh! eu quero viver, beber perfumes
— Borboleta, que sai do — lodo impuro...
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
— Rosa, que sai de — pútrida semente!
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
Filho! Bem vês... fiz o maior dos crimes
No seio da mulher há tanto aroma…
— Criei um ente para a dor e a fome!
Nos seus beijos de fogo há tanta vida…
Do teu berço escrevi nos brancos vimes
– Árabe errante, vou dormir à tarde
O nome de bastardo — impuro nome.
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Por isso agora tua mãe te implora
Terás o sono sob a lájea fria.
E a teus pés de joelhos se debruça.
(ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Perdoa à triste — que de angústia chora,
Ivo. São Paulo: Global, 1983.)
Perdoa à mártir — que de dor soluça!
31. (ENEM 2001) Esse poema, como o próprio título [...]
sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão Castro Alves. (www.dominiopublico.gov.br. Acessado em 07/10/2011)
da morte prematura, ainda na juventude. A imagem da
morte aparece na palavra 33. (UEPA 2012) A fala do sujeito poético exprime uma das
formas da violência simbólica denunciada por Castro
(A) embalsama. (B) infinito. (C) amplidão. (D) dormir. (E) Alves. No poema, mais do que os maus tratos sofridos
sono. fisicamente, é denunciada a consequência:
Texto: (A) da humilhação imposta pelos algozes que torturam a
Um pensamento liberal moderno, em tudo oposto ao mulher chicoteando-a.
pesado escravismo dos anos 1840, pode formular-se tanto (B) da subordinação da mulher negra que serve aos
entre políticos e intelectuais das cidades mais importantes desejos sexuais do senhor de engenho.
quanto junto a bacharéis egressos das famílias nordestinas
que pouco ou nada poderiam esperar do cativeiro em (C) do erotismo livre que leva a mulher a realizar seus
declínio. desejos sem pensar em consequências.
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. (D) do excesso de religiosidade que leva a mulher negra a
uma confissão de culpa.
32. (PUC-CAMP 2017) Ideias liberais, tornadas públicas,
entraram em conflito com a realidade escravista do Brasil, (E) da tortura psicológica que obriga a mãe a abandonar o
tal como se pode avaliar na força dramática que filho.
assumiram 34. (FUVEST 1996) Tomadas em conjunto, as obras de
(A) os poemas libertários de Castro Alves, já ao final do Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves
período romântico. demonstram que, no Brasil, a poesia romântica:
(B) os romances naturalistas de Aluísio Azevedo e (A) pouco deveu às literaturas estrangeiras, consolidando
Machado de Assis. de forma homogênea a inclinação sentimental e o anseio
nacionalista dos escritores da época.
(C) as páginas de literatura documental de Antonil e Pero
de Magalhães Gândavo. (B) repercutiu, com efeitos locais, diferentes valores e
tonalidades da literatura européia: a dignidade do homem
(D) os manifestos pré-modernistas de Euclides da Cunha e
natural, a exacerbação das paixões e a crença em lutas
Augusto dos Anjos.
libertárias.
(E) as crônicas de costumes de Olavo Bilac e João do Rio.
(C) constituiu um painel de estilos diversificados, cada um
dos poetas criando livremente sua linguagem, mas
preocupados todos com a afirmação dos ideais
Mãe Penitente
abolicionistas e republicanos.
Ouve-me, pois!... Eu fui uma perdida; (D) refletiu as tendências ao intimismo e à morbidez de
Foi este o meu destino, a minha sorte... alguns poetas europeus, evitando ocupar-se com temas
Por esse crime é que hoje perco a vida, sociais e históricos, tidos como prosaicos.
Mas dele em breve há de salvar-me a morte!
(E) cultuou sobretudo o satanismo, inspirado no poeta
inglês Byron, e a memória nostálgica das civilizações da
E minh'alma, bem vês, que não se irrita,
Antiguidade clássica, representadas por suas ruínas.
Antes bendiz estes mandões ferozes.
Eu seria talvez por ti maldita, Texto:
Filho! sem o batismo dos algozes!
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“D. Carolina é o prazer em ebulição; se é inquieta e 37. (Fuvest 2019) Com base nos trechos acima, é
buliçosa, está em sê-lo a sua maior graça; aquele rosto adequado afirmar:
moreno, vivo e delicado, aquele corpinho, ligeiro como a
(A) Para Alencar, a literatura brasileira deveria ser capaz
abelha, perderia metade do que vale, se não estivesse em
de representar os valores nacionais com o mesmo espírito
contínua agitação. O beija-flor nunca se mostra tão belo
do europeu que sorve o figo, a pera, o damasco e a
como quando se pendura na mais tênue flor e voeja nos
nêspera.
ares. D. Carolina é um beija-flor completo.”
MACEDO, J.M. de. A moreninha. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. p.77.
(B) Ao discutir, no primeiro trecho, a importação de ideias
e costumes, Alencar propõe uma literatura baseada no
35. (Esa 2022) A moreninha, de Joaquim Manuel de abrasileiramento da língua portuguesa, como se verifica
Macedo, é o primeiro romance do Romantismo brasileiro. no segundo trecho.
Nessa passagem, evidenciam-se as seguintes
características desse movimento: (C) O contraste entre os verbos “chupar” e “sorver”,
empregados no primeiro trecho, revela o rebaixamento de
(A) Sentimentalismo exacerbado e linguagem próxima ao linguagem buscado pelo escritor em Iracema.
coloquial. (D) Em Iracema, a construção de uma literatura exótica,
(B) Aproximação da leitora e ambientação no contexto tal como se verifica no segundo trecho, pautou‐se pela
burguês. recusa de nossos elementos naturais.
(C) Narrador em primeira pessoa e predomínio do sonho. (E) Ambos os trechos são representativos da tendência
escapista de nosso romantismo, na medida em que
(D) Idealização feminina e metaforização da natureza. valorizam os elementos naturais em detrimento da
(E) Eu lírico introspectivo e representações vagas. realidade rotineira.
Texto: Texto:
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Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que perfume; a fonte do deserto, escondida entre os
atravessou o firmamento da corte como brilhante rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante
meteoro, e apagou-se de repente no meio do sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu
deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos
dezoito anos quando apareceu a primeira vez na primeiros raios do sol.
sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em:
avidez informações acerca da grande novidade do dia. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu
40. (ENEM PPL 2016) O texto de Bernardo Guimarães é
tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos
representativo da estética romântica. Entre as marcas
de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha
textuais que evidenciam a filiação a esse movimento
em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina
literário está em destaque a
Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, (A) referência a elementos da natureza local.
para condescender com os escrúpulos da sociedade
(B) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.
brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda
certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as (C) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.
deferências devidas à idade, a moça não declinava um
(D) representação idealizada do cenário descrito.
instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir
suas ações como entendesse. Constava também que (E) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.
Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era
Gabarito
desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia
exercer maior influência em sua vontade, do que a velha
parenta. 1. D 2. B 3. E 4. B 5. D
ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006. 6. A 7. E 8. C 9. D 10. D
11. B 12. A 13. B 14. C 15. E
39. (ENEM PPL 2015) O romance Senhora, de José de
Alencar, foi publicado em 1875. No fragmento transcrito, a 16. E 17. A 18. D 19. D 20. A
presença de D. Firmina Mascarenhas como "parenta" de 21. C 22. B 23. B 24. D 25. D
Aurélia Camargo assimila práticas e convenções sociais 26. E 27. B 28. A 29. E 30. B
inseridas no contexto do Romantismo, pois 31. E 32. A 33. B 34. B 35. D
(A) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher 36. C 37. B 38. A 39. D 40. A
ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da
época.
(B) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos
sociais no enredo de seu romance.
(C) as características da sociedade em que Aurélia vivia
são remodeladas na imaginação do narrador romântico.
(D) o narrador evidencia o cerceamento sexista à
autoridade da mulher, financeiramente independente.
(E) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito
avançados para a sociedade daquele período histórico.
Texto:
Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos
ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um
hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida
e ufana por ouvir aquele altivo e indômito guerreiro
pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e
mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: –
Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os
favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-
me palpitar o coração como a flor que estremece ao
bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem
o sei, e o amor que te consagro também não é para ti
nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham
revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu
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