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Direito Administrativo - Material Base 14-03

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FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Prof. Ma. Maria de Lourdes Araújo

MATERIAL BASE
1. Gênese e evolução histórica do Direito Administrativo.
A origem do Direito Administrativo vincula-se com a consagração dos ideais
liberais da Revolução Francesa de 1789 e o surgimento do Estado de Direito. A partir dos
ideais liberais, como a separação de poderes, princípio da legalidade e Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, o poder estatal foi limitado e o Direito Administrativo foi
concebido como ramo especial do Direito, ao lado do Direito Privado, regulador das relações
envolvendo o Estado e o exercício das atividades administrativas. (Bruno Betti Costa, p. 15)

1.1 INTRODUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO


- Conceito
O direito administrativo é o conjunto de regras e princípios imposto coativamente pelo
Estado e que vai disciplinar a vida em sociedade. Ramo do direito público que disciplina a
função administrativa e os órgãos que a exercem.

Toda regra de direito público é uma regra de ordem pública, mas nem toda regra de
ordem pública é de direito público, eis que algumas são regras de direito privado.
Regra de ordem pública: é aquela que é inafastável pela vontade das partes. Ex.: regras
de impedimento para o casamento, regra de capacidade (são de ordem pública e de direito
privado).
O direito administrativo é um ramo do direito público.

1.2. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO


Fonte é aquilo que leva ao surgimento de uma norma de direito administrativo.

1.2.1) Lei (em sentido amplo, admitindo toda e qualquer espécie normativa). Constituição,
LC, LO – o ordenamento é escalonado, hierarquizado – STF: “relação de compatibilidade
vertical”: as normas inferiores devem ser compatíveis com as normas superiores e todas elas
devem ser compatíveis com a CF. Assim, o ato administrativo tem que ser compatível com a
lei e com a CF.
1
1.2.2) Doutrina: é o resultado do trabalho dos estudiosos. A divergência é enorme e quem
resolve as polêmicas do direito administrativo é a jurisprudência.

1.2.3) Jurisprudência: são decisões reiteradas sempre no mesmo sentido de um tribunal. Nem
sempre uma decisão do tribunal (acórdão) é jurisprudência. A súmula nada mais é do que uma
jurisprudência cristalizada. Súmula no Brasil é, em regra, mecanismo de orientação.
EC/45 – súmula vinculante: uma súmula para ganhar efeito vinculante deve se
submeter ao procedimento da Lei 11.417, sendo que este efeito impede que o PJ e o
administrador decidam em sentido contrário.

1.2.4) Costume: é a prática habitual, acreditando ser ela obrigatória. É fonte, mas não cria
nem exime a prática de obrigações. É possível que sua prática reiterada o transforme em regra
de direito administrativo.

1.2.5) Princípio Geral do Direito: não precisa estar escrito, podendo estar implícito no
sistema. Ex.: princípio que veda o enriquecimento ilícito (indenização em responsabilidade
civil - o dano deve estar demonstrado); vedação a que o indivíduo se beneficie da própria
torpeza etc.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


RECURSO ESPECIAL Nº 638.385 - PE (2004/0009497-6)
DECISÃO (monocrática)
Trata-se de dois recursos especiais, o primeiro interposto por Silvia Maria Lemos
Hinrichsen, o segundo, pela Universidade Federal de Pernambuco, ambos com
fundamento no artigo 105, inciso III, alínea “a", da Constituição da República,
contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado (fls.
306):
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. DOCENTE. PROPOSIÇÃO.
COMPETÊNCIA.
INTERPRETAÇÃO. COLMATAÇÃO DE LACUNAS. FONTES DO DIREITO
ADMINISTRATIVO.
(...).
3. In casu, além de ser perfeitamente possível colmatar a lacuna ocasionada pela
inexistência do Regulamento Específico do Departamento, através do recurso às
fontes do Direito Administrativo, dentre as quais a práxis, há de ser ressaltada a
desconfiguração da ilegalidade, isto porque o próprio Pleno do Departamento
findara por ratificar a necessidade do certame e a possibilidade de seu impulso pela
Comissão Diretora.(...). Brasília, 23 de fevereiro de 2010. Ministro Celso Limongi
(desembargador Convocado do TJ/SP). Relator (REsp n. 638.385, Ministro Celso
Limongi (Desembargador Convocado do TJ/SP), DJe de 02/03/2010.)

2
QUADRO SINÓTICO (Mazza, p. 93).

Conceito – ramo do direito público que estuda princípios e normas reguladores do


exercício da função administrativa.
TAXINOMIA – é parte do Direito Público, na medida em que seus princípios e
normas regulam o exercício de atividades estatais, especialmente a função
administrativa.
DIREITO ADMINISTRATIVO versus CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO
Direito Administrativo - Define os limites Ciência da Administração - Estudo das
dentro dos quais a gestão pública (ciência técnicas e estratégias para melhor
da administração) pode ser validamente planejar, organizar e controlar a gestão
realizada. governamental.
ADMINISTRAÇÃO BUROCRÁTICA versus ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL
MODELO DE ADMINISTRAÇÃO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO
BUROCRÁTICA GERENCIAL
Norma padrão: Lei n. 8.666/93: Norma padrão: EC n. 19/98:
a) toda autoridade baseada na legalidade; a) inspiração neoliberal;
b) relações hierarquizadas de b) também chamada de governança
subordinação entre órgãos e agentes; consensual;
c) competência técnica como critério para c) objetiva atribuir maior agilidade e
seleção de pessoal; eficiência na atuação administrativa;
d) remuneração baseada na função d) enfatiza a obtenção de resultados, em
desempenhada e não nas realizações detrimento de processos e ritos;
alcançadas (controle de fins); e) estimula a participação popular na
e) ênfase em processos e ritos. gestão pública.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO
ADMINISTRATIVO
1ª – É um ramo recente;
2ª – Não está codificado (há legislações esparsas e codificações parciais);
3ª – Jurisdição una como forma de controle da administração (modelo inglês);
4ª – Influenciado parcialmente pela jurisprudência (influência indicativa).
OBJETO IMEDIATO DO DIREITO OBJETO MEDIATO DO DIREITO
ADMINISTRATIVO ADMINISTRATIVO

3
São os princípios e normas que regulam a As normas e os princípios administrativos
função administrativa. têm por objeto a disciplina das atividades,
agentes, pessoas e órgãos da
Administração Pública.
PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DO SURGIMENTO DO DIREITO
ADMINISTRATIVO
1º – A subordinação do Estado às regras jurídicas, característica surgida com o advento
do Estado de Direito;
2º – A existência de divisão de tarefas entre os órgãos estatais.
AUTONOMIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
A existência de um objeto próprio (regras de direito disciplinadoras do exercício da
função administrativa) e a existência de princípios específicos são fatores suficientes
para conferir status de ramo autônomo.
SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
JURISDIÇÃO UNA (INGLÊS) CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
Todas as causas, mesmo aquelas que (FRANCÊS)
envolvem interesse da Administração Repartição da função jurisdicional entre o
Pública, são julgadas pelo Poder Poder Judiciário e tribunais
Judiciário. É a forma de controle existente administrativos. Neste sistema, o Poder
atualmente no Brasil (art. 5º, XXXV, Judiciário decide as causas comuns,
CF/88). enquanto as demandas que envolvam
interesse da Administração Pública são
julgadas por um conjunto de órgãos
administrativos encabeçados pelo
Conselho de Estado. (O Brasil já adotou
este sistema quando da Carta de 1967.)
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA FUNÇÃO DE GOVERNO
É aquela exercida preponderantemente Governo, em sentido objetivo, é a
pelo Poder Executivo, com caráter atividade de condução dos altos interesses
infralegal e mediante a utilização de do Estado e da coletividade (é a atividade
prerrogativas instrumentais. Possui como diretiva do Estado). O ato de governo, ou
característica fundamental a sua absoluta ato político, diferencia-se do ato
submissão à lei (Princípio da Legalidade). administrativo por duas razões principais:

4
1ª) o ato de governo tem sua competência
extraída diretamente da Constituição (no
caso do ato administrativo, é da lei); 2ª) o
ato de governo é caracterizado por uma
acentuada margem de liberdade, ou uma
ampla discricionariedade, ultrapassando a
liberdade usualmente presente na prática
do ato administrativo.
TENDÊNCIAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO MODERNO
1) Constitucionalização de temas administrativos;
2) Petrificação do direito administrativo (constitucionalização por cláusulas pétreas –
ex.: periodicidade do mandato eletivo, separação dos poderes; ressarcimento prévio na
desapropriação; devido processo legal – contraditório e ampla defesa);
3) Codificações parciais (Código Florestal, Código de Minas, de Águas, Aeronáutico,
etc.);
4) Fuga para o direito privado (arbitragem, contratos de gestão, franquias e contratos de
gerenciamento);
5) Relativização dos supraprincípios;
6) Objetivação das teorias;
7) Colaborativismo; (participação do usuário na administração pública)
8) Diluição da responsabilidade estatal – terceirização e outros instrumentos;
9) Quinquenização de prazos (prescrição e decadência);
10) Personificação dos contratos administrativos (pessoas jurídicas especialmente
criadas para gerenciar contratos administrativos – ex.: PPP e SPE;
11) Inversão das fases licitatórias (primeiro julga propostas, depois habilita);
12) Objetivação da responsabilidade.

2. Regime jurídico-administrativo no Estado Democrático de


Direito (CABM p. 56 ss)

2.1. Regime jurídico-administrativo:

5
A autonomia do Direito Administrativo enquanto disciplina jurídica a partir de um
conjunto sistematizado de princípios e regras que lhe dá identidade, diferenciando-o dos
demais ramos do direito.
Esta coexistência de princípios peculiares, que guardam entre si uma relação
lógica de coerência e unidade, compõe o regime-jurídico administrativo.
Encarar o Direito Administrativo como um sistema coerente e lógico, a partir das
noções que instrumentam a sua compreensão numa perspectiva unitária, é fundamental para
assegurar a existência e autonomia deste regime-jurídico administrativo, que traz em si todas
as características do regime de Direito Público, acrescidas dos seguintes princípios como
“pedra de toque” (CABM, p. 52) que, embora não representem valores absolutos, mas como
fonte-motriz do sistema:
a) Supremacia do interesse público sobre o privado;
b) Indisponibilidade, pela Administração, dos interesses públicos.
Todo o sistema de Direito Administrativo deve estar fundado em tais orientações
principiológicas.

CONCURSO: Quais são as “pedras de toque” (CABM) do direito administrativo?


Quais são os dois princípios que estão na base do direito administrativo? Supremacia e
indisponibilidade (em cima desses dois princípios todos os outros se constroem).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA RECURSAL DO ESTADO DO PARANÁ.
FAZENDA PÚBLICA. DOCENTE POR PRAZO DETERMINADO.
CONTRATAÇÃO POR MEIO DE PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO -
PSS. SUCESSIVAS CONTRATAÇÕES TEMPORÁRIAS. ARTIGO 37, IX, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO AO
RECEBIMENTO DE 13° SALÁRIO, FÉRIAS REMUNERADAS ACRESCIDAS
DO TERÇO CONSTITUCIONAL E INDENIZAÇÃO CORRESPONDENTE À
METADE DO QUE LHE CABERIA ATÉ O TÉRMINO DO CONTRATO.
CONSOANTE O TEMA 916 DO STF, EM REGRA, OS SERVIDORES
TEMPORÁRIOS NÃO POSSUEM DIREITO AO 13° SALÁRIO, FÉRIAS E
ADICIONAL DE TERÇO DE FÉRIAS, NO ENTANTO, (I) EXISTINDO
PREVISÃO LEGAL E/OU CONTRATUAL EM SENTIDO CONTRÁRIO, OU (II)
COMPROVADO O DESVIRTUAMENTO DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA
PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, EM RAZÃO DE SUCESSIVAS E
REITERADAS RENOVAÇÕES E/OU PRORROGAÇÕES, ADMITE-SE O
PERCEBIMENTO DAS VERBAS EM RAZÃO DA APLICAÇÃO DO TEMA 551
DO STF. CASO CONCRETO EM QUE RESTOU DEMONSTRADA A
EXISTÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N° 108/2005
ASSEGURANDO O RECEBIMENTO DOS REFLEXOS, BEM COMO A PROVA
DO DESVIRTUAMENTO DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA EM RAZÃO

6
DAS SUCESSIVAS E REITERADAS RENOVAÇÕES E/OU PRORROGAÇÕES
EM DEMANDA ANTERIOR. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9.099/95. Recurso
conhecido e desprovido.1. Em sede de repercussão geral (TEMA 551), o Supremo
Tribunal Federal entendeu que “(...) 1. A contratação de servidores públicos por
tempo determinado, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público, prevista no art. 37, IX, da Constituição, submete-se ao regime jurídico-
administrativo, e não à Consolidação das Leis do Trabalho. 2. O direito a décimo
terceiro salário e a férias remuneradas, acrescidas do terço constitucional, não
decorre automaticamente da contratação temporária, demandando previsão legal ou
contratual expressa a respeito. 3. No caso concreto, o vínculo do servidor temporário
perdurou de 10 de dezembro de 2003 a 23 de março de 2009. 4. Trata-se de notório
desvirtuamento da finalidade da contratação temporária, que tem por consequência o
reconhecimento do direito ao 13º salário e às férias remuneradas, acrescidas do
terço. 5. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Tese de repercussão
geral: "Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias
remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão legal
e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da
contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e
reiteradas renovações e/ou prorrogações”. (STF - RE 1066677/MG, Rel.: Ministro
Marco Aurélio, DJe 01/07/2020). (TJPR - 3ª Turma Recursal Suplementar dos
Juizados Especiais - 0039590-02.2020.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: JUIZ DE
DIREITO SUBSTITUTO FERNANDO ANDREONI VASCONCELLOS - J.
06.03.2023)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA.


SERVIDOR PÚBLICO. CELETISTA. ESTABILIDADE DO ART. 19 DA ADCT.
INGRESSO ANTERIOR À EDIÇÃO DA CF/1988. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO.
1. Trata-se de Conflito Negativo de Competência proposto pela 1ª Vara da Comarca
de Picos/PI, que declinou da competência para o processamento e julgamento de
ação em que servidora do Estado do Piauí que ingressou como professora nos
quadros do ente sem concurso público, exercendo suas atividades desde 13.10.1980,
requer o pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS. (...)
6. A definição da competência em razão da matéria é, portanto, estabelecida pela
pretensão deduzida em juízo. É relevante, nas hipóteses de vínculo de trabalho lato
sensu com a Administração Pública, averiguar se o objeto da lide tem como causa de
pedir uma relação celetista ou se o vínculo é reconhecidamente regido ou se
pretende que seja reconhecido sob regime jurídico-administrativo, situações em
que, em regra, a competência será da Justiça do Trabalho ou da Justiça Comum,
respectivamente. (...)
11. Conflito de Competência conhecido para fixar a competência da Vara do
Trabalho de Picos/PI. (CC n. 162.009/PI, relator Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, julgado em 28/11/2018, DJe de 17/12/2018.)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. FGTS. NULIDADE DE


CONTRATO POR AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. DIREITO AO
LEVANTAMENTO DOS SALDOS FUNDIÁRIOS. AÇÃO TRABALHISTA.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE PROFESSORES. REGIME JURÍDICO-
ADMINISTRATIVO. (...) (REsp n. 1.594.432/MS, relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 24/5/2016, DJe de 2/9/2016.)

2.2. CONTEÚDO DO REGIME-JURIDICO ADMINISTRATIVO

7
2.2.1) SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO –
constitui um pressuposto de uma ordem social estável onde todos e cada um possam sentir-se
garantidos e resguardados. Dele decorre outras consequências e subprincípios:
a) a posição privilegiada dos órgãos encarregados de zelar pelo interesse
público e manifestá-lo em relação aos particulares – benefícios que a ordem jurídica confere
para assegurar a conveniente proteção do interesse público nos diversos campos de atuação.
Ex.: presunção de veracidade e legitimidade dos atos administrativos; prazos diferenciados
para intervenção em processos judiciais; prazos especiais de prescrição, etc.
b) posição de supremacia do órgão quando interagindo nestas relações –
verticalidade nas relações entre a Administração e o particular, ao contrário da
horizontalidade típicas das relações vigentes entre particulares.
Da junção destas duas consequências do conteúdo do regime-jurídico
administrativo decorre a exigibilidade dos atos administrativos e, em certos casos, a auto-
executoriedade administrativa, enquanto poder da Administração Pública de executar as suas
próprias decisões sem haver necessidade da tutela judicial, ainda que tal execução interfira na
esfera privada do administrado. A doutrina também reconhece este atributo como autotutela.
Tais prerrogativas da Administração converte-se em verdadeiro poder-dever,
instrumental para o cumprimento da função pública e em benefíco da coletividade, não
podendo ser convertido em fonte de abusos e ilegilidades, sob pena de revisão judicial a
paartir de provocação da parte interessada. Esta é a concepção que se harmoniza com um
efetivo Estado Democrático de Direito.
No desempenho da função administrativa o Estado pode desenvolver atividades
parcialmente sujeito ao direito privado, diretamente ou por intermédio de empresas/entidades
criadas para tal finalidade. Tais sujeitos, contudo, não desfrutarão nem da posição
privilegiada, nem da supremacia em suas relações com os particulares.

2.2.2) INDISPONIBILIDADE, PELA ADMINISTRAÇÃO, DOS INTERESSES


PÚBLICOS - Sendo interesses da coletividade, não se encontram à livre disposição de quem
quer que seja, por inapropriáveis. O próprio órgão administrativo não tem disponibilidade
sobre tais direitos. Ao administrador cumpre a obrigação, o dever de cuidar nos termos da
finalidade a que se destinam os bens e interesses públicos.

8
Importante: a Administração não titulariza interesses públicos. O titular deles é o
Estado que, em certa maneira, os protege e exercita por meio da função administrativa, por
um conjunto de órgãos e veículos da vontade estatal.
São consequências deste princípio: legalidade (com suas implicações: finalidade,
razoabilidade, proporcionalidade, motivação e responsabilidade do Estado); continuidade do
serviço público; controle administrativo (tutela); isonomia (igualdade dos administrados);
publicidade; inalienabilidade; controle jurisdicional dos atos administrativos.
A noção da existência de um regime-jurídico administrativo e sua repercussão tem
grande importância no sentido de que os princípios que o integram alicerçam todos os
institutos que se apresentam numa unidade, horizontal e vertical, cumprindo uma função de
alicerçar o Direito Administrativo.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


Assim, o dirigente de entidade do Sistema S, como o Sebrae, ao praticar atos em
certame público, para ingresso de empregados, está a desempenhar ato típico de
direito público, vinculando-se ao regime jurídico administrativo. Em razão disso,
deve observar os princípios que vinculam toda a Administração, como a
supremacia do interesse público, legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, eficiência e todos os demais. Portanto, tais atos são revestidos de
caráter público, não podendo ser classificados como "de mera gestão", configurando,
verdadeiramente, atos de autoridade. (CC 105.458/RJ, Rel. Ministro Fernando
Gonçalves, Corte Especial, DJe 17/9/2009).
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO ADMINISTRATIVO
DE REMANEJAMENTO DE SERVIDOR PÚBLICO, O QUAL EXERCE A
FUNÇÃO DE POLICIAL MILITAR. ATO DISCRICIONÁRIO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA
SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR.
DECISÃO ADMINISTRATIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 5ª Câmara Cível - 0006892-
57.2021.8.16.0004 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR CARLOS MANSUR
ARIDA - J. 12.12.2022).
APELAÇÃO CÍVEL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. EXTINÇÃO
DO PROCESSO, ANTE A PRESUNÇÃO DE QUITAÇÃO DO ACORDO
ADMINISTRATIVO (ART. 924, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL).
AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO EXEQUENTE SOBRE A INEQUÍVOCA
QUITAÇÃO DO DÉBITO FISCAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. RETORNO DOS AUTOS
AO JUÍZO DE ORIGEM PARA PROSSEGUIMENTO DO EXECUTIVO
FISCAL.SENTENÇA ANULADA. PROVIMENTO AO RECURSO DE
APELAÇÃO. (TJPR - 2ª Câmara Cível - 0002927-80.2020.8.16.0174 - União da
Vitória - Rel.: DESEMBARGADOR STEWALT CAMARGO FILHO - J.
11.10.2022)

9
3. Administração Pública e suas funções;
3.1. SENTIDOS DA EXPRESSÃO “ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA”
A expressão “Administração Pública” pode ser empregada em diferentes sentidos:

1º – Administração Pública em sentido subjetivo, orgânico ou formal é o


conjunto de agentes, órgãos e entidades públicas que exercem a função administrativa;
A prova de Analista Judiciário do TJ/CE de 2014 elaborada pelo
Cespe considerou ERRADA a afirmação: “A administração pública,
em sentido subjetivo, diz respeito à atividade administrativa exercida
pelas pessoas jurídicas, pelos órgãos e agentes públicos que exercem a
função administrativa”.

2º – Administração Pública em sentido objetivo, material ou funcional, mais


adequadamente denominada “administração pública” (com iniciais minúsculas), é a atividade
estatal consistente em defender concretamente o interesse público. No que diz respeito ao
aspecto material da administração pública, isto é, utilizada a expressão para designar uma
atividade estatal, pode-se distinguir a administração pública lato sensu, compreendendo
tanto a função administrativa quanto a função política (ou de governo). Já administração
pública stricto sensu abrange exclusivamente o desempenho da função administrativa.

A prova da Esaf para Promotor de Justiça/PE 2002 deu como


CORRETA a afirmação: “A ex pressão Administração Pública em
sentido objetivo, material ou funcional, designa a natureza da
atividade exercida pelas pes soas jurídicas, órgãos e agentes públicos”.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS
NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO
PÚBLICO. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. EXISTÊNCIA. SANEAMENTO.
SOCIEDADE ANÔNIMA CONTROLADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. EMBARGOS ACOLHIDOS
SEM EFEITOS INFRINGENTES. (...)
2. A questão principal em análise não versa acerca da natureza jurídica da Sociedade
Anônima controlada pela Petrobras Gás S.A., ora embargante - se é, ou não, uma
sociedade de economia mista -, mas se integra ou não o conceito de Administração

10
Pública Indireta para fins de aplicação das regras concernentes aos concursos
públicos. Por conseguinte, conquanto se reconheça que o acórdão embargado firmou
a premissa equivocada de que a ora embargante é uma sociedade de economia mista,
tal fato não é suficiente para alterar o resultado do julgamento do agravo regimental.
3. As entidades que a compõem a Administração Pública Indireta, dentre elas as
Sociedades de Economia Mista e suas empresas subsidiárias, devem se sujeitar às
regras concernentes aos concursos públicos. Nesse sentido: BANDEIRA DE
MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 25ª ed. rev. e atul., São
Paulo: Malheiros, 2008, pp. 275-276; JUSTEN FILHO, Marça. Curso de Direito
Administrativo. 8ª ed. rev.,ampl. e atual., Belo Horizonte: Fórum, 2012, pp. 251-
252. (...) (EDcl no AgRg no Ag n. 1.363.474/RJ, relator Ministro Arnaldo Esteves
Lima, Primeira Turma, julgado em 17/10/2013, DJe de 6/12/2013.)

3.2 O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO “FAZENDA PÚBLICA”?


A locução “Fazenda Pública” é normalmente utilizada pelos operadores do Direito
para designar o Estado em juízo, ou seja, as pessoas jurídicas governamentais quando
figuram no polo ativo ou passivo de ações judiciais, assim como órgãos despersonalizados
dotados de capacidade processual especial.
No entanto, em decorrência do supraprincípio da supremacia do interesse público
sobre o privado, a legislação processual brasileira reconhece determinadas “prerrogativas
especiais para a Fazenda Pública” que somente são aplicadas às pessoas jurídicas de direito
público, como ocorre, por exemplo, nas prerrogativas listadas na Lei n. 9.494/97.
Assim, tornou-se obrigatório reduzir a abrangência do conceito de Fazenda
Pública para nele incluir somente as pessoas jurídicas de direito público interno, quer da
Administração Pública Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), quer da
Administração Pública Indireta (autarquias, fundações públicas, associações públicas,
agências reguladoras e agências executivas), além dos órgãos públicos despersonalizados
dotados de capacidade processual especial (Ministério Público, Defensoria, Tribunais de
Contas, Mesa do Senado etc.).
Importante destacar que as empresas estatais (empresas públicas, sociedades de
economia mista e respectivas subsidiárias) não integram o conceito de Fazenda Pública na
medida em que, embora pertençam à Administração Pública, são pessoas jurídicas de direito
privado.
Todavia, sabe-se que as empresas estatais prestadoras de serviços públicos
(exemplo: Empresa de Correios e Telégrafos – ECT) gozam de condição especial. Isso porque
o regime jurídico próprio do serviço público (regime jurídico-administrativo) derroga
parcialmente as regras privadas, razão pela qual algumas características normativas são
diferentes daquelas aplicáveis às exploradoras de atividades econômicas.

11
A prova de Juiz de Direito/RS elaborada pela FMP/RS em 2015
considerou ERRADA a afirmação: “O regime jurídico juspublicista,
no todo ou em parte, somente pode ser aplicado às pessoas jurídicas
de direito público”.
Uma dessas características diferenciadas consiste no fato de que nas empresas
estatais prestadoras de serviços públicos, ao contrário do que ocorre nas exploradoras de
atividade econômica, os bens são impenhoráveis, de modo que tais entidades estão
submetidas ao regime especial de execução por precatório (art. 100 da Constituição Federal).
E a execução via precatório é considerada uma das prerrogativas da Fazenda Pública em
juízo.
Com isso, verifica-se que, quando prestam serviços públicos, as empresas estatais,
embora dotadas de personalidade de direito privado, também gozam de privilégios
decorrentes da supremacia do interesse público sobre o privado, como bens impenhoráveis,
execução por precatório, imunidade tributária, prazos processuais maiores, entre outros,
integrando para todos os efeitos legais o conceito de Fazenda Pública.
Portanto, o conceito de Fazenda Pública engloba:
a) entidades federativas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios);
b) órgãos públicos com capacidade processual especial (Ministério Público,
Defensorias, Tribunais de Contas etc.);
c) autarquias, fundações públicas, agências reguladoras, agências executivas e
demais espécies do gênero autárquico;
d) empresas estatais prestadoras de serviços públicos (exemplo: Correios e Metrô)
(Nesse sentido: 1a Turma do STF, RE 851.711 Agr/DF, 12-12-2017).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

As normas que criam privilégios ou prerrogativas especiais devem ser interpretadas


restritivamente, não se encontrando as empresas públicas, em regra, inseridas no
conceito de Fazenda Pública. Precedentes do STJ: AgInt no AREsp. 1.179.770/SP,
Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 14.5.2018

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PROCEDIMENTO CITATÓRIO.


RESPONSABILIDADE DA SERVENTIA JUDICIÁRIA. ART. 152, II, DO CPC.
RECOLHIMENTO DE CUSTAS PARA ATO CITATÓRIO. DISPENSADO
RECOLHIMENTO PARA FAZENDA PÚBLICA. MATÉRIA DISCUTIDA NO
RITO DOS REPETITIVOS. ALÍNEA "C". DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO. (...)
4. A jurisprudência do STJ estabeleceu, em julgamento de recurso no rito do art.
543-C do CPC/1973, que os Conselhos Regionais de Fiscalização profissional
"possuem natureza jurídica autárquica, pois exercem 'atividade típica de Estado, que
12
abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no que concerne ao exercício de
atividades profissionais regulamentadas'. Desta forma, por possuir natureza
autárquica, os créditos do recorrente são cobrados por execução fiscal,
regulamentada pela Lei 6.830/80" (REsp 1.330.473/SP, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, DJe 2/8/2013). O recorrente, portanto, está incluído no conceito de
Fazenda Pública.
5. A Primeira Seção do STJ, ao apreciar o REsp 1.107.543/SP e o REsp
1.144.687/RS, ambos submetidos à sistemática prevista no art. 543-C do CPC/1973,
pacificou o entendimento de que a Fazenda Pública, em Execução Fiscal, está
dispensada do recolhimento antecipado das custas para a realização do ato citatório,
as quais serão recolhidas, ao final, pelo vencido, nos termos dos arts. 27 e 39 da Lei
6.830/1980. (REsp n. 1.845.327/RS, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 5/12/2019, DJe de 12/5/2020.)

3.3. Administração Pública introversa e extroversa


Trata-se de uma classificação proposta por Diogo Figueiredo Moreira Neto. No
caso de as relações jurídicas administrativas serem constituídas em face dos
administrados, teremos a chamada Administração Extroversa, pois nela existem
ações extroversas (EXTERNAS), que incidem para fora do núcleo estatal atingindo
os administrados, a exemplo de ações de polícia administrativa, que frenam a
atividade particular, em benefício do bem comum. Essas relações extroversas são
fundamentadas, portanto, nos princípios administrativos implícitos da Supremacia do
Interesse Público sobre o Privado e na Indisponibilidade, pela Administração, dos interesses
dos administrados. Por outro lado, temos as relações introversas, que compõem a
Administração Introversa, materializando-se pelos atos administrativos realizados entre os
Entes Políticos (União, Estado, Municípios e DF), entre esses e os órgãos da Administração
Direta e entre esses entre si.
Trata-se, assim, das relações jurídicas administrativas realizadas internamente, no
âmbito da estrutura interna administrativa e, por isso, são considerados
instrumentais em relação à Administração Extroversa, já que os órgãos e pessoas jurídicas
devem se organizar relacionando-se, a fim de efetivar as políticas públicas e atividades
diversas de execução material, em prol do bem comum. Desse modo, conforme diz Diogo de
Figueiredo Moreira Neto, enquanto a administração pública extroversa é finalística, na
medida em que é atribuída especificamente a cada ente político, obedecendo a uma partilha
constitucional de competências, a administração pública introversa é instrumental, visto que é
atribuída, genericamente, a todos os entes, para que possam atingir aqueles objetivos.

A prova da Polícia Civil do Acre, organizada pelo Ibade, em 2017, utilizou o


conceito de “Administração Pública introversa”, no sentido do conjunto de relações

13
existentes entre o Poder Público e seus agentes. Já “Administração Pública
extroversa” seria o complexo de vínculos entre a Administração e os particulares.

3.4. FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


O grande número e a diversidade das atribuições cometidas ao Estado, nos dias
atuais da chamada pós-modernidade, não impedem a doutrina clássica de identificar as três
tarefas precípuas da Administração Pública moderna. A ordem abaixo indicada reflete a
sequência histórica exata em que as tarefas foram sendo atribuídas ao Poder Público durante
os séculos XIX e XX:
1ª) o exercício do poder de polícia: foi a primeira missão fundamental conferida à
Administração, ainda durante o século XIX, período do chamado “Estado-Polícia” ou
“Estado-Gendarme”. O poder de polícia consiste na limitação e no condicionamento, pelo
Estado, da liberdade e propriedade privadas em favor do interesse público. A melhor
conceituação de poder de polícia está no parágrafo único do art. 78 do CTN.
2ª) a prestação de serviços públicos: na primeira metade do século XX,
especialmente após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as denominadas Constituições
Sociais (mexicana, de 1917, e alemã, ou de Weimar, de 1919) passaram a atribuir ao Estado
funções positivas (o poder de polícia é função negativa, limitadora) de prestação de serviços
públicos, como o oferecimento de transporte coletivo, água canalizada e energia elétrica;
3ª) a realização de atividades de fomento: já na segunda metade do século XX, a
Administração Pública passou também a incentivar se tores sociais específicos, estimulando
o desenvolvimento da ordem social e econômica.

A prova de Fiscal do Trabalho elaborada pela Esaf considerou CORRETA a


afirmação: “A função executiva, por meio da qual o Estado realiza atos concretos
voltados para a realização dos fins estatais e da satisfação das necessidades
coletivas, compreende a função de governo, relacionada com atribuições políticas,
colegislativas e de decisão, e a função administrativa, da qual se vale o Estado para
desenvolver as atividades de intervenção, fomento, polícia administrativa e ser viço
público”.

Sem relevante fundamento doutrinário, os concursos públicos começaram a fazer


referência a uma quarta tarefa precípua da Administração moderna: a atividade de
intervenção, subdividida nas categorias:

14
a) intervenção na propriedade privada: compreende todas as ações estatais de
limitação da propriedade em favor do interesse público, visando o cumprimento do princípio
da “função social da propriedade” (art. 5º, XXIII, da CF);
b) intervenção no domínio econômico (regulação): consiste nas atividades estatais
de disciplina, normatização e fiscalização dos agentes econômicos;
c) intervenção no domínio social: trata-se da atuação do Estado voltada a apoiar os
economicamente hipossuficientes com o objetivo, por exemplo, de reduzir as desigualdades
sociais.
Na verdade, todas as funções compreendidas sob o título de “atividades
interventivas” já faziam parte das três tarefas precípuas clássicas da Administração moderna,
ou seja, são atividades que podem ser perfeitamente enquadradas como poder de polícia,
serviços públicos ou fomento.

Obs: a denominação Administração Pública (com iniciais maiúsculas) designa o


conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa,
independentemente de pertencerem ao Poder Executivo, ao Legislativo, ao Judiciário, ou a
qualquer outro organismo estatal (como Ministério Público e Defensorias Públicas). A
expressão “administração pública” (com iniciais minúsculas) é sinônimo de “poder
executivo” (também com iniciais minúsculas), e ambas designam a atividade consistente na
defesa concreta do interesse público.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA.


CREDENCIAMENTO DE DESPACHANTES PELO DETRAN - PR.
AGRAVANTE QUE ALMEJA SER LIMINARMENTE DISPENSADA DE SE
SUBMETER AO EXAME DE PROVAS ESCRITAS E DE TÍTULOS EXIGIDO
NOS ARTS. 4º E 7º DA LEI ESTADUAL Nº 17.682/2013. (...) .
DESPACHANTES DE TRÂNSITO DO ESTADO DO PARANÁ QUE, ALÉM DE
POSSUÍREM OUTRAS ATRIBUIÇÕES, SÃO DELEGATÁRIOS DE FUNÇÃO
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 12 DA LEI ESTADUAL Nº
17.682/2013). SITUAÇÃO QUE NÃO SE CONFUNDE COM OS
DESPACHANTES EM GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, QUE EXERCEM
ATIVIDADE DE NATUREZA EXCLUSIVAMENTE PRIVADA. APARENTE
AUSÊNCIA, OUTROSSIM, DE DIREITO SUBJETIVO E POTESTATIVO DA
AGRAVANTE DE ESCOLHER A QUAIS REQUISITOS LEGAIS PRETENDE
SER DISPENSADA E QUAIS ACEITA SE SUBMETER PARA SE TORNAR
DESPACHANTE DE TRÂNSITO CREDENCIADA PELO DETRAN. RECURSO
DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Câmara Cível - 0001162-77.2021.8.16.0000 - Curitiba -
Rel.: DESEMBARGADOR CARLOS MANSUR ARIDA - J. 28.06.2021).

15
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DETERMINANDO A
ANULAÇÃO DO ACÓRDÃO. (...) IMPOSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA
DO PODER JUDICIÁRIO EM DETERMINAR A IMPLANTAÇÃO DE
POLÍTICAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SOB PENA DE VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. RECONHECIMENTO DE
ULTRA PETITA NA SENTENÇA DE MÉRITO. MAGISTRADO SINGULAR
QUE JULGOU ALÉM DO PEDIDO FORMULADO NA INICIAL. ARTIGO 489
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.PREQUESTIONAMENTO. EMBARGOS
DE (...) 2. É função da Administração Pública após exame discricionário decidir
acerca das verbas públicas. Não estando o Poder Judiciário autorizado a usurpar
atribuições do Poder Público. Não há, portanto, qualquer ilegalidade que enseje a
atuação do Poder Judiciário no caso, especialmente no que toca o cumprimento das
Resoluções de Diretoria Colegiada da ANVISA nº 26/2012 e nº 07/2010. (...). (TJPR
- 4ª Câmara Cível - EDC - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de
Londrina - Rel.: DESEMBARGADOR HAMILTON RAFAEL MARINS
SCHWARTZ - Un�nime - J. 13.11.2018)

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SENTENÇA


CONDENATÓRIA. MULTA DIÁRIA (ASTREINTE). CABIMENTO. TUTELA
ADEQUADA E EFETIVA DOS INTERESSES DIFUSOS. AUSÊNCIA DE
INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO NAS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS.
1. Hipótese em que o Ministério Público propôs Ação Civil Pública com o escopo de
compelir a adequação das atividades de unidade industrial da Petrobras S/A
(Refinaria Gabriel Passos - REGAP) às normas ambientais, considerando a alta
concentração de emissões atmosféricas e de efluentes líquidos, bem como o
descumprimento de Termo de Compromisso firmado anteriormente. (....)
8. Um dos instrumentos legais para induzir o cumprimento de obrigações de fazer e
de não fazer é a fixação de astreintes na sentença (art. 461 do CPC, art. 84 do CDC e
art. 11 da Lei 7.347/1985).
9. O Poder Judiciário está autorizado a fixar astreintes para assegurar o cumprimento
de sua própria decisão, sem prejuízo da atuação dos órgãos administrativos
competentes no exercício do poder de polícia ambiental, razão pela qual não há falar
em indevida ingerência judicial nas funções da Administração Pública. (...).
(REsp n. 947.555/MG, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 18/8/2009, DJe de 27/4/2011.)

4. Objeto do Direito Administrativo.


Abrange ainda a organização interna da Administração Pública, a atividade que
ela exerce e os bens de que se utiliza.
Em síntese, o direito administrativo tem como objeto:
(a) as relações internas à administração pública - entre os órgãos e entidades
administrativas, uns com os outros, e entre a administração e seus agentes, estatutários e
celetistas;
(b) as relações entre a administração e os administrados, regidas
predominantemente pelo direito público ou pelo direito privado; e

16
(c) as atividades de administração pública em sentido material exercidas por
particulares sob regime predominante de direito público, tais como a prestação de serviços
públicos mediante contratos de concessão ou de permissão. (Marcelo Alexandrino)

Embora o objeto do Direito Administrativo seja tipicamente exercido pelo Poder


Executivo, os poderes Legislativo e Judiciário também exercem atividades próprias de
administração e gestão, atuando como administradores de seus serviços, de seus bens ou de
seu pessoal, estão praticando atos administrativos, sujeitos ao regramento do direito
administrativo. Ex.: nomeação de um servidor, a aplicação de uma penalidade disciplinar, o
remanejamento de pessoal ou a realização de uma licitação pública.

Restringir o objeto do direito administrativo às atividades exercidas pelo Poder


Executivo - ideia que, no passado, chegou ser dominante na doutrina Italiana - é inadequado,
haja vista haja vista que os demais Poderes também desempenham atividades administrativas.
Ademais, o Poder Executivo exerce, além de função administrativa, a chamada função de
governo, de cunho político, traduzida na elaboração de políticas públicas, na determinação das
diretrizes de atuação estatal - e não na mera execução delas. A função política de governo
não constitui objeto de estudo do direito administrativo. (Marcelo Alexandrino, p. 46).

Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro (p. 54), no direito brasileiro, constituem
objeto do Direito Administrativo, os seguintes temas:

a) Administração Pública em sentido subjetivo;


b) Administração Pública em sentido objetivo;
c) as entidades paraestatais;
d) o regime jurídico administrativo (prerrogativas, privilégios, etc.)
e) os vários desdobramentos do poder de polícia e do princípio da função social da
propriedade (limitações administrativas, tombamentos, desapropriação, requisição, servidão
administrativa, etc);
f) a discricionariedade administrativa (limites de sua apreciação pelo Poder
Judiciário);
g) os meios de atuação da Administração Pública (atos, contratos, licitação,
concessão, permissão, parcerias, convênios, etc.);
17
h) bens públicos e respectivos regimes jurídicos;
i) processo/procedimento administrativo e seus princípios;
j) a responsabilidade civil do Estado;
k) responsabilidade das pessoas jurídicas que causam danos à Administração
Pública;
l) controle da Administração Pública (administrativo, legislativo e jurisdicional);
m) improbidade administrativa.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 168.176 - MG (2019/0269789-3)


DECISÃO (monocrática) no relatório
Trata-se de Conflito Negativo de Competência instaurado entre o Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais e o Juízo da Vara do Trabalho de Sabará/MG, nos autos
da Ação de Cobrança ajuizada pelo Sindicato do Médicos do Estado de Minas
Gerais contra o Município de Sabrá/MG, relativa à contribuição sindical prevista no
art. 578 da CLT.
Neste contexto, as relações jurídicas mantidas entre o Município de Sabará com
os seus servidores configuram objeto do Direito Administrativo e a matéria é
reservada à competência da Justiça Comum, conforme decisão, com efeitos ergam
omnes, do Supremo Tribunal Federal, emitida no julgamento da ADI n. 3.395-6, que
suspendeu "toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CF, na
redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a
apreciação de causas que sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores,
a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-
administrativo".
É pacífico, também, o entendimento de que compete à Justiça Comum a apreciação
de ações que versem sobre pleitos relativos à contribuição sindical em face de entes
públicos cujos servidores estão submetidos ao regime jurídico-administrativo, uma
vez que o art. 114, III, da Constituição da República, incluído pela EC 45/2004,
refere-se às ações ajuizadas entre "sindicatos e empregadores" e o ente público
reclamado não é empregador, mantendo com seus servidores vínculo estatutário-
institucional e não empregatício, sendo patente a incompetência material desta
Justiça do Trabalho para processar e julgar ações dessa natureza.
Isto posto, conheço do Conflito para declarar competente o Juízo suscitante, Juízo da
Vara do Trabalho de Sabará/MG. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 10 de
setembro de 2019. MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator (CC n. 168.176,
Ministro Herman Benjamin, DJe de 13/09/2019.)

5. Princípios Constitucionais e Gerais da Administração Pública;


- Princípios
Segundo Miguel Reale:
Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais,
que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um
sistema de conceitos relativos à dada porção da realidade. Às vezes também se denominam
princípios certas proposições, que apesar de não serem evidentes ou resultantes de
evidências, são assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de
18
conhecimentos, como seus pressupostos necessários. (REALE, Miguel. Filosofia do Direito.
11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60).
Nos dizeres de Luís Roberto Barroso:
.. são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus
postulados básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as
normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem
jurídica que institui. (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição:
fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. São Paulo, Saraiva, 1999, pág.
147).
Tratando da atuação da Administração Pública os princípios estão,
fundamentalmente, expostos na Constituição Federal (art. 37 e outros). Dentre eles:

1) Princípio da Supremacia do Interesse Público


Está implícito no texto constitucional e está presente em várias regras e institutos do
direito administrativo.
Princípio indispensável para a convivência social.
Significa sobreposição do interesse coletivo em face do interesse individual. Não se
refere ao interesse da máquina, do administrador ou do Estado, e sim ao interesse público.
Ex.: CF, art. 5º - direito à propriedade, mas em nome da supremacia, o poder público
poderá realizar desapropriação e também requisitar o patrimônio particular;
Ex.: fechamento de boate – poder de polícia;
Ex.: fechamento de padaria devido à desobediência às normas sanitárias sem a
intervenção do PJ: auto-executoriedade é decorrência da supremacia;
Ex.: rescisão unilateral dos contratos administrativos (cláusulas exorbitantes –
indenização do particular).
O princípio da supremacia tem como freio o princípio da indisponibilidade do
interesse público.
POSIÇÃO MINORITÁRIA – (Marçal Justen Filho) – em nome desse princípio são cometidas
arbitrariedades e ilegalidades por parte do administrador. Por isso, o autor defende a exclusão desse
princípio.
Obs.: A exclusão do princípio não extinguirá as ilegalidades (lei de improbidade
administrativa não resolveu o problema). Desconstituir esse princípio é só mudar o foco do
fundamento para a prática de ilegalidades. Crítica: o que é necessário é aplicar o princípio
efetivamente.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

19
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO URBANÍSTICO. USO E PARCELAMENTO DO SOLO
URBANO. DESAFETAÇÃO DE ÁREA EM LOTEAMENTO DESTINADA AO USO PÚBLICO.
AUSÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO
CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES.
SÚMULA 83/STJ. 1. Cuida-se de inconformismo contra acórdão do Tribunal de origem, que mantem a
sentença que anula acordo firmado entre particular e a prefeitura acerca de desafetação de área, antes
destinada a loteamento público. (...) 5. Ora, a controvérsia gravita em torno do uso e parcelamento do
solo, zoneamento urbano e da tutela ao meio ambiente, matérias sujeitas ao regime jurídico de Direito
Público, fincado nos princípios da supremacia do interesse público sobre o interesse privado e da
legalidade. Vale dizer, a participação dos adquirentes de boa-fé e dos invasores na relação jurídico-
processual é de somenos importância, porquanto o que se está a definir é se a desafetação e a ocupação
da área institucional, por iniciativa dos corréus na demanda coletiva, afrontaram, ou não, a norma de
regência. (...) 9. Configurada está a responsabilidade do recorrente, pela desafetação irregular da área e
omissão no seu dever de polícia. (REsp n. 1.693.624/SP, relator Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 5/12/2017, DJe de 19/12/2017.)

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo.


Permissão de serviço funerário. Competência municipal. Sistema de rodízio. Ofensa
aos princípios da livre concorrência e da ordem econômica. Não ocorrência. Poder de
polícia. Possibilidade. Precedentes. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da
ADI nº 1.221/RJ, Relator o Ministro Carlos Velloso, definiu que os serviços funerários
são considerados serviços públicos de competência legislativa municipal, uma vez que
abarcados pela expressão serviços públicos de interesse local, constante no art. 30,
inciso V, da Constituição da República. 2. Nos termos do acórdão recorrido, a
instituição do sistema de rodízio entre as funerárias no Município de Curitiba não
inviabilizou o exercício da atividade econômica da agravante, tratando-se de mera
manifestação do poder de polícia da Administração Pública, com base na supremacia
do interesse público sobre o privado. 3. Agravo regimental não provido. 4.
Majoração da verba honorária em valor equivalente a 10% (dez por cento) do total
daquela já fixada (art. 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC), observada a eventual concessão do
benefício da gratuidade da justiça. ARE 862377 ARE 2ª Turma, Rel. Min. Dias
Toffoli, julamento: 10/09/2018, Publicação 03/12/2018.

2) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público


Interesse público: é a soma dos interesses individuais de cada membro da sociedade,
desde que represente a vontade da maioria da sociedade.
Interesse público primário: é a vontade do povo, da coletividade.
Interesse público secundário: é a vontade do Estado enquanto pessoa jurídica. Ex.:
arrecadação de impostos de forma abusiva ou de impostos prescritos: para a pessoa jurídica
será bom, pois o Estado irá arrecadar mais dinheiro, mas para o povo não será bom e, neste
caso, deverá prevalecer o interesse público primário.
Teoricamente o interesse público primário deveria coincidir com o interesse público
secundário, mas na prática não é isso que acontece. Nestas hipóteses de conflito deverá
prevalecer o interesse público primário (o ideal é que os dois interesses coincidam).

20
O administrador não tem liberdade sobre o interesse público, não podendo dispor nem
renunciar o mesmo. O administrador exerce uma função pública (atividade em nome e no
interesse do povo) e o direito é do povo.
Ex.: Nomeação de servidor sem concurso/contratação de obra sem licitação: violação
do princípio da indisponibilidade, pois a finalidade do concurso/licitação é escolher o
indivíduo mais apto/a melhor proposta, sendo tais fatos interesse público.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


ADMINISTRATIVO. PATRIMÔNIO PÚBLICO. TAXA DE OCUPAÇÃO. ART.
24 DA LEI 4.545/1964. INEXISTÊNCIA DE ATO OU NEGÓCIO JURÍDICO
FORMALIZADO AUTORIZANDO A OCUPAÇÃO DO IMÓVEL PELO
PARTICULAR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA E PRINCÍPIO DA
INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. ARTS. 102, 884 E 1.216
DO CÓDIGO CIVIL. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. OCUPAÇÃO OU
FRUIÇÃO IRREGULAR DE BEM PÚBLICO. DEVERES DE RESTITUIÇÃO,
RESSARCIMENTO, RESTAURAÇÃO E PAGAMENTO DE TRIBUTOS.
1. A interpretação de que a taxa de ocupação de imóvel público só é devida caso
haja prévia formalização de ato ou negócio jurídico administrativo contraria o
princípio da boa-fé objetiva. O ocupante irregular de bem público não pode se
beneficiar da sua própria ilegalidade para deixar de cumprir obrigação a todos
imposta: o pagamento da taxa de ocupação. 2. Nessa linha de raciocínio, dispensar o
detentor irregular de imóvel público de pagar taxa de ocupação, modalidade de
ressarcimento mínimo (e não de lucro), é ferir duplamente o interesse coletivo, pois,
não obstante a situação de apropriação ilícita, alça o já infrator à injusta posição de
privilégio anti-isonômico em relação aos outros cidadãos, cumpridores dos
requisitos e formalidades exigidos para a fruição do patrimônio coletivo. Tal isenção
gera atraente e irresistível (e por isso mesmo indefensável) incentivo aos particulares
a não se incomodarem com a ilegalidade e a nela repousarem suas esperanças e
eternamente permanecerem. Se a ilegalidade se mostra mais vantajosa do que a
legalidade, aí se materializa quadro de grave ameaça a uma das premissas
existenciais do Estado de Direito, que depende, fundamentalmente, do cumprimento
da lei por todos. 3. Nos termos do art. 884 do Código Civil, caracteriza
enriquecimento sem causa ocupar, usar, fruir ou explorar ilicitamente a totalidade ou
parte do patrimônio público, material e imaterial. À luz do princípio da
indisponibilidade do interesse público, eventual omissão do Estado no exercício
do seu poder de polícia - ao deixar de fiscalizar e adotar medidas cabíveis para se
opor ou reagir à apropriação irregular de bem público - não transforma o errado em
certo, irrelevante ademais que a injuricidade ocorra às vistas do Administrador ou
com a sua inércia, conivência ou mesmo (inconcebível) aceitação tácita. Tolerância
administrativa não converte em boa-fé aquilo que a lei qualifica como má-fé, pois
admitir-se o contrário seria o mesmo que reconhecer a servidores públicos a
possibilidade de, por meio de um simples fechar de olhos, rasgarem a norma e a
vontade do legislador. 4. Recurso Especial provido. (REsp n. 1.986.143/DF, relator
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 6/12/2022, DJe de
19/12/2022.)

3) Princípio da Legalidade
CF, art. 37, “caput”, alterado pela EC 19. Estabelece 5 princípios (LIMPE).
Trata da Administração Direta e da Administração Indireta
Legalidade: CF, art. 5º, art. 37 e art. 150, e apesar de toda essa repetição do texto
constitucional ainda há muita ilegalidade.

21
Dois enfoques do princípio da legalidade:
a) Administração Pública: o princípio da legalidade para o administrador público significa que
ele só poderá fazer o que estiver autorizado na lei – Critério de subordinação à lei. Ex.:
aumento a servidores. Todo ato administrativo tem que estar previsto na lei (Poderá fazer por
meio de decreto? NÃO). Tal fato não afasta a atuação discricionária do administrador, pois a
sua liberdade está autorizada pela própria lei, eis que discricionariedade significa liberdade
nos limites da lei.
b) Particular: o princípio da legalidade para o particular significa que ele pode tudo, salvo o
que estiver proibido na lei – Critério de não contradição à lei.
Seabra Fagundes: Legalidade é aplicar a lei de ofício.
Administrar é aplicar a lei de ofício.
Legalidade é condição de existência do Estado de Direito, que é aquele politicamente
organizado e que obedece às suas próprias leis.
O princípio da legalidade hoje é entendido em sentido amplo e não significa apenas a
obediência à lei, mas também obediência à regra constitucional (ex.: a violação de princípios
constitucionais é desobediência ao princípio da legalidade).
CONCURSO: O princípio da legalidade é sinônimo do princípio da reserva de lei (F). O
princípio da reserva de lei é quando o constituinte reserva à determinada matéria uma
determinada espécie normativa (ex.: LC, LO, etc.).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


RECURSO INOMINADO. RECLAMAÇÃO. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE AUTORA.
FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE UNIÃO DA
VITÓRIA. BASE DE CÁLCULO DO SALÁRIO FAMÍLIA. NORMA LOCAL
QUE PREVÊ REAJUSTE CONFORME ÍNDICES FEDERAIS. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE. ATO VINCULADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PARTE
AUTORA QUE FAZ JUS AO RECEBIMENTO DAS DIFERENÇAS ENTRE O
VALOR PAGO E O VALOR EFETIVAMENTE DEVIDO, A PARTIR DO
MOMENTO QUE DEIXARAM DE SER OBSERVADOS OS ÍNDICES
ADEQUADOS. SENTENÇA REFORMADA. Recurso conhecido e provido. (TJPR
- 4ª Turma Recursal - 0008103-06.2021.8.16.0174 - União da Vitória - Rel.: JUIZ
DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LEO
HENRIQUE FURTADO ARAUJO - J. 03.03.2023)

4) Princípio da Impessoalidade
O administrador não pode buscar interesse pessoal, ou seja, deverá agir com ausência
de subjetividade.
Dois institutos que por excelência obedecem ao princípio da impessoalidade: concurso
e licitação.

22
CABM – o princípio da impessoalidade esta ligado à ausência de discriminações,
benéficas ou detrimentosas, favoritismos e perseguições não são tolerados.
MP-MG: o princípio da impessoalidade está ligado ao princípio da isonomia e o princípio da
moralidade está ligado à lealdade e boa fé.
CONCURSO MP-PERNANBUCO: Disserte sobre o princípio da impessoalidade e sua
divergência com o princípio da finalidade.
- Doutrina tradicional (Hely Lopes)
O princípio da finalidade foi substituído pelo novo princípio da impessoalidade.
- Doutrina moderna (CABM)
Não há nenhuma substituição e os dois princípios existem em separado. Os princípios
são diferentes e autônomos. O princípio da finalidade significa buscar o espírito da lei, buscar
a vontade maior da lei. É possível aplicar o espírito da lei sem aplicar a lei? Não, pois quando
eu cumpro a lei eu cumpro a sua vontade e vice-versa. Assim, o princípio da finalidade está
ligado ao princípio da legalidade e não tem nada a ver com impessoalidade. Lei 9.784/99, art.
2º - lei de processo administrativo (fazer a leitura desta lei).
CONCURSO: Nepotismo agride à quais princípios? Nepotismo envolve o parentesco até o 3º
grau (linha reta/colateral). Envolve o PE e o PL? Existe projeto de lei e seria ideal que o
nepotismo fosse vedado em todos os poderes. CNJ e CNMP têm resoluções sobre o tema e
decidiram proibir o nepotismo com duas considerações relevantes: se o indivíduo passou no
concurso, poderá ser empossado independentemente do parentesco, bem como no caso de
licitação, se a empresa de parente ganhar a licitação não tem problema. Se a contratação for
temporária ou o cargo for em comissão é proibido o parentesco até o 3º.
Proibição do nepotismo cruzado: a troca de parentes também fica proibida. E se o PJ trocar de
parentes com o PL? A fiscalização é impossível (saber onde está a troca de parentes entre
diferentes poderes).
STF, ADC 12 – liminar em ação declaratória. O STF decidiu que essa vedação (ao nepotismo)
é constitucional e o CNJ tem competência para tomar essa decisão, além de ferir os princípios
da impessoalidade, moralidade, eficiência e isonomia.
Súmula vinculante nº 13 - Vedação expressa do nepotismo para a Magistratura e para o MP,
com relação aos outros poderes não havia vedação expressa. A súmula nº 13 diz que não é
necessária nenhuma disposição expressa contra o nepotismo, eis que este já está proibido
pelos princípios constitucionais (moralidade, eficiência, impessoalidade e isonomia). Vedação
de ingresso de parentes (linha reta ou colateral até o 3º grau) em todos os poderes, salvo
aprovação em concurso. A obediência a essa súmula depende de fiscalização, que é difícil!
CONCURSO ADVOGADO DA CEF - Ato normativo emanado pelo CNJ prevendo regras
que vedam o nepotismo no PJ atendem a um só tempo aos princípios da moralidade,
impessoalidade e eficiência na administração pública (V).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


23
MANDADO DE SEGURANÇA. OFÍCIO NOTARIAL E DE REGISTRO.
TITULAR INTERINO. CNJ. REVOGAÇÃO DAS DESIGNAÇÕES QUANDO
CONFIGURADA OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
MORALIDADE E DA IMPESSOALIDADE. NEPOTISMO. SUBSTITUTO
MAIS ANTIGO. PARENTE EM 1° GRAU. RESOLUÇÃO N° 77/18 CNJ.
PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO
DA SEGURANÇA. (TJPR - 5ª Câmara Cível - 0059573-50.2020.8.16.0000 - * Não
definida - Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ MATEUS DE LIMA - J. 23.02.2021)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SERVIDOR PÚBLICO.
PENSIONISTAS/APOSENTADOS. VENCIMENTOS. CORREÇÃO
MONETÁRIA. ACÓRDO CELEBRADO ENTRE O PROCURADOR GERAL DO
ESTADO E AS AUTORAS. VIOLAÇÃO DO ART. 11 DA LEI N. 8.429/1992.
DOLO GENÉRICO. CONFIGURAÇÃO. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE. I - Na origem, trata-se de ação civil pública por improbidade
administrativa ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte
contra o Procurador do Estado e outros objetivando a condenação dos réus nas
sanções do art. 12, II, III, da Lei n. 8.429/1992 pela prática da conduta descrita no
art. 11 da mesma lei, em razão da transação celebrada por eles sem aquiescência do
Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Rio Grande de Norte, nos autos
da ação por elas proposta contra a autarquia, na qual as autoras buscavam a cobrança
dos valores relativos a correção monetária dos seus vencimentos no período de
dezembro de 1988 a maio de 1992, por atraso no pagamento. (...) IX - Infringiram os
réus o princípio da impessoalidade, assim conceituado pela doutrina: "Nele se
traduz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem
discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são
toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem
interferir na atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou
grupos de qualquer espécie. O princípio em causa não é senão o próprio princípio da
igualdade ou isonomia. Está consagrado explicitamente no art. 37, caput, da
Constituição. Além disso, assim como "todos são iguais perante a lei" (art. 5º,
caput), a fortiori teriam de sê-lo perante a Administração. (DE MELLO, Celso
Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo . 32ª ed. Malheiros: São Paulo,
2015, p. 117)" X - Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp n. 1.054.571/RN,
relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 24/5/2021, DJe de
28/5/2021.)

5) Princípio da Moralidade
É novidade no nosso ordenamento jurídico. Moralidade tem um conceito
indeterminado, um conceito vago. Conseqüência: no controle do ato administrativo o PJ não
reconhece a ofensa ao princípio da moralidade sozinha. Ele sempre envolve mais de um
princípio, em razão da dificuldade de conceituar. Para não deixar dúvida, na prova embasá-lo
com outros princípios.
O princípio da moralidade traz a ideia de obediência aos princípios éticos:
honestidade/lealdade/boa-fé. Conduta correta, coerente.
A moralidade administrativa é mais rigorosa do que a moralidade comum (idéia de
certo e errado). A moralidade administrativa vai além da simples idéia de certo e errado, é
exigido do administrador a melhor administração possível (isso não é o princípio da
eficiência? Sim, pois o princípio da moralidade está ligado ao princípio da eficiência).
CONCURSO: A violação ao princípio da moralidade representa improbidade administrativa?
Moralidade e improbidade são sinônimos? Não, pois nem toda improbidade decorre da

24
imoralidade (ex.: não publicação de ato administrativo) e nem toda imoralidade é
improbidade, pois são necessários os elementos subjetivos (dolo e culpa).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
CESSÃO DE SERVIDORA COMISSIONADA. AMPARO EM LEI. EXERCÍCIO
DE FUNÇÕES BUROCRÁTICAS EM ENTIDADE PRIVADA. CUSTEIO DOS
VENCIMENTOS PELA MUNICIPALIDADE. DESVIO DE FINALIDADE.
OFENSA AOS PRINCÍPOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DISSÍDO
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.
1. Cinge-se a controvérsia acerca da configuração, ou não, de ato ímprobo, em razão
de cessão de servidora comissionada, amparada em lei, para exercer suas atividades
em cooperativa municipal (entidade privada).
2. O art. 37, inciso II, da CF/88 prevê exceção à regra do concurso para a investidura
em cargo ou emprego público, consistente na nomeação para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Por sua vez, o art. 37, V, da CF/88
preconiza que as funções de confiança e os cargos em comissão destinam-se,
exclusivamente, às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
3.Nessa linha de percepção, esta Corte já firmou o entendimento de que a nomeação
de servidores para o desempenho de função comissionada, os quais, na verdade,
exerciam atividades cujo cargo deveria ser provido por meio de regular concurso
público configura verdadeira burla à regra insculpida no inciso II do art. 37 da
Constituição Federal e, consequentemente, violação aos princípios da Administração
Pública previstos no art. 11 da Lei n. 8.429/1992 (AgInt no REsp 1.511.053/SP, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 6/8/2020). Nesse sentido: AgInt no REsp 1.850.547/PR, Rel.
Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 18/12/2020; AgInt no AREsp
963.260/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 8/8/2018; REsp
1.505.360/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 12/2/2016.
4. Dessa forma, configura ato ímprobo a hipótese em que o alcaide nomeia servidor
para cargo comissionado, o qual por sua natureza é destinado às funções de direção,
chefia e assessoramento e, em seguida, autoriza a sua cessão à entidade privada, com
custeio dos vencimentos pela Municipalidade. Nesse caso, há uma ilegalidade
qualificada em virtude de nítida ofensa ao princípio da moralidade administrativa
ensejando, por conseguinte, o dolo genérico para a caracterização do ato ímprobo.
5. O alegado dissídio jurisprudencial não foi comprovado nos moldes estabelecidos
nos artigos 541, parágrafo único, do CPC/1973 e 255, § 1º, do RISTJ, tendo em vista
que não foi realizado o devido cotejo analítico, com a demonstração clara do
dissídio entre os casos confrontados, identificando os trechos que os assemelhem,
não se oferecendo, como bastante, a simples transcrição de ementas ou votos.
6. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp n. 1.221.590/SP, relator Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 21/9/2021, DJe de 23/9/2021.)

6) Princípio da Publicidade
O exercício da publicidade nada mais é do que dar conhecimento dos atos ao titular do
direito, o povo. É coerente com o exercício de uma função pública. Conhecimento também
significa início de produção de efeitos, significa condição de eficácia (ex.: multa de trânsito;
publicação de contrato administrativo – art. 61, Lei 8.666), além de dar início à contagem de

25
prazo (multa: o prazo para defesa é de 30 dias do recebimento da notificação) e viabilizar o
controle dos atos.
Função do princípio da publicidade:
 Conhecimento;
 Início de produção de efeitos;
 Condição de eficácia;
 Início da contagem do prazo;
 Controle dos atos administrativos.

CONCURSO CESPE: Na modalidade convite não há publicidade (F). No convite não há
exigência de publicação, haverá somente a carta-convite. A licitação é feita de portas abertas,
há encaminhamento da carta-convite e sua afixação no mural da repartição, por isso, há
publicidade. Publicação é apenas uma modalidade de publicidade.
- Exceções ao princípio da publicidade.
Quando a publicidade não deve acontecer?

 Quando comprometer a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem da pessoa


(CF, art. 5º, X);
 Em nome da segurança da sociedade e do Estado (CF, art. 5º, XXXIII) – não há
divergência na doutrina;
 Nas hipóteses expressamente previstas em lei (CF, art. 5º, LX – “a lei só poderá
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem”) – há divergência quanto à aplicação deste dispositivo no
âmbito administrativo. A corrente majoritária entende que sua aplicação ocorre tanto
no âmbito judiciário quanto no âmbito administrativo. Ex.: processos éticos
(CRM/OAB: o processo corre em sigilo até o seu julgamento final).

CONCURSO: Se um órgão público nega informações sobre a empresa que o indivíduo deseja
comprar. Qual o remédio constitucional cabível neste caso? Não caberá HD, pois as
informações que o indivíduo deseja são de seu interesse, mas não são de seu interesse pessoal.
Por isso, é cabível o mandado de segurança.
 Habeas Data: informações sobre a própria pessoa (CF, art. 5º, LXXII).
 Mandado de Segurança: informações de seu interesse, mas que não são pessoais.

CONCURSO: CF, art. 37, § 1º - A publicidade das obras deve ter caráter informativo e não
caráter de promoção pessoal, propaganda do administrador ou do servidor público (pessoa do
candidato/campanha eleitoral). Proibição de vinculação à pessoa do administrador (promoção
do próprio administrador). Ex.: Candidato cuja campanha era divulgada com a cor ver, após
ganhar pinta os órgãos da administração de verde: caso de improbidade administrativa Lei
8.429/92.
STJ - O simples fato de constar o nome não implica ato de improbidade – o ato de constar o
nome pode ter o caráter informativo, só no caso de intenção de promoção pessoal que haverá
improbidade.
26
CESPE - Considere que determinado governador de Estado promoveu a vinculação de
propaganda publicitária de realização de obra pública ao seu nome, haverá, precipuamente,
ofensa ao princípio da publicidade (F). Especialmente vai haver ofensa ao princípio da
impessoalidade, moralidade, legalidade, além do que o simples fato de citar o nome não
implica necessariamente promoção pessoal.
MAGISTRATURA-SP PROVA ORAL: Como se faz a publicidade? A divulgação por rádio e
TV somente, cumpre o princípio da publicidade? Quais os efeitos da publicidade? Quando se
fala em publicidade, algumas leis exigem formalidades especiais (ex.: publicação no DOU;
notificação no caso de aplicação de multa).
DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA
DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO E
LEI DA TRANSPARÊNCIA. VIOLAÇÃO AO ART. 8º, § 2º, DA LEI
COMPLEMENTAR 75/1993; ART. 21 DA LEI 12.527/2011 E LEI
COMPLEMENTAR 131/2009. POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.
1. Trata-se na origem de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público
Federal contra o Município de Campo Grande/MS em razão de reiterados
descumprimentos às disposições da Lei 12.527/2001 (Lei de Acesso à Informação)
e da Lei Complementar 131/2009 (Lei da Transparência). (...)
3. O art. 127 da Constituição Federal define o Ministério Público como instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbiu-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis, cabendo-lhe promover Ação Civil Pública (art. 129, III). 4. Cabe ao
Parquet resguardar os princípios constitucionais da Administração Pública,
previstos no art. 37 da Constituição Federal, entre os quais temos os princípios da
publicidade, da legalidade, da eficiência e ainda o da probidade administrativa.
(...) 6. Diante das supostas irregularidades narradas envolvendo a publicidade do
uso de recursos financeiros federais, a atuação do Ministério Público Federal
configura-se legitima, tendo em vista sua tarefa de "zelar pelo efetivo respeito dos
poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia", nas quais
se incluem a promoção do inquérito civil público e da ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social (CRF/88, art. 129, II e III). 8. Recurso
Especial provido. (REsp n. 1.784.354/MS, relator Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 20/8/2019, DJe de 18/10/2019.)

7) Princípio da Eficiência
Decorre da EC 19/98 (princípio passa a ser expresso no texto constitucional). Antes de
referida emenda a administração já tinha a obrigação de ser eficiente? Sim, pois citado
princípio está implícito no sistema, eis que a Lei 8.987/95, em seu art. 6º fazia referência
expressa a este princípio.

CONCURSO: Disserte sobre a eficiência


Eficiência significa ausência de desperdícios e, conseqüentemente, economia e produtividade.
Exige-se agilidade, presteza, rapidez, e praticidade da conduta administrativa.

27
CF, art. 37, “caput”, EC 19: alteração da regra de estabilidade para os servidores
públicos (muitos entendiam que a ausência de eficiência dos serviços públicos era decorrência
da estabilidade dos servidores). Estabilidade é a certeza de continuar no cargo.
O fato de o ente federativo gastar toda a sua arrecadação com pessoal (folha de
pagamento) ofende ao princípio da eficiência? Sim, pois a administração também exige gastos
com estrutura, etc. Por isso, o constituinte criou regras para a racionalização da máquina
administrativa - EC 19, CF, art. 169: os gastos com folha de pagamento devem obedecer aos
limites fixados na lei – LC 101/00, quais sejam:
 União: limite de 50% da arrecadação;
 Estados e Municípios será de 60% da arrecadação.
Os entes que não obedeciam tais limites tiveram que enxugar a
máquina administrativa efetuando exonerações, efetuadas na
seguinte ordem:
a) Ocupantes de cargo em comissão de livre nomeação e livre
exoneração e ocupantes de função de confiança (só podem ser
desempenhadas por quem ocupa cargo efetivo). Ambos servem para
direção, chefia e assessoramento. O corte dos ocupantes de cargo em
comissão e função de confiança será de 20%, pelo menos.
b) Servidores não estáveis (se não for suficiente o corte acima),
quantos forem necessários (não deve ser respeitado o limite de 20%).
c) Caso ainda não seja suficiente (exoneração de todos os não-
estáveis), serão exonerados servidores estáveis.
Obs.: Meio de evitar que referida exoneração seja utilizada como
“vingança”: a possibilidade de criar novo cargo com iguais funções
somente após o decurso do prazo de 4 anos.
Obs.: Somente o servidor estável terá direito à indenização.
Eficiência quanto aos meios e quanto aos resultados. É preciso ter equilíbrio.
Doutrina: infelizmente o conceito de eficiência é muito vulnerável e flexível, sendo
difícil sua aplicação prática. Assim, sua expressa previsão foi mais um desabafo do
constituinte e não resolve o problema na prática.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO. ANISTIA POLÍTICA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA
MINISTRA DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. ATO
OMISSIVO. DIREITO DE PETIÇÃO. ORDEM CONCEDIDA PARA QUE A
AUTORIDADE COATORA DECIDA O PEDIDO DE ANISTIA DO
IMPETRANTE NO PRAZO DO ART. 49 DA LEI Nº 9.784/99.
1. Cuida-se, no caso concreto, de pedido administrativo para declaração da condição
de anistiado, formulado pela parte impetrante em maio de 2010, ou seja, há mais de
uma década, mas ainda pendente de decisão final pela Administração Pública.
2. O direito de petição aos Poderes Públicos, assegurado no art. 5º, XXXIV, "a", da
Constituição Federal, traduz-se em preceito fundamental a que se deve conferir a
máxima eficácia, impondo-se à Administração, como contrapartida lógica e
necessária ao pleno exercício desse direito pelo Administrado, o dever de apresentar
tempestiva resposta. 3. Nos termos da certeira lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA,
"o direito de petição não pode ser destituído de eficácia. Não pode a autoridade a

28
quem é dirigido escusar pronunciar-se sobre a petição, quer para acolhê-la quer para
desacolhê-la com a devida motivação [...] A Constituição não prevê sanção à falta de
resposta e pronunciamento da autoridade, mas parece-nos certo que ela pode ser
constrangida a isso por via do mandado de segurança, quer quando se nega
expressamente a pronunciar-se quer quando omite" (Curso de direito constitucional
positivo. 6. ed. São Paulo: RT, 1990, p. 382-3). 4. A demora excessiva e
injustificada da Administração para cumprir obrigação que a própria Constituição
lhe impõe é omissão violadora do princípio da eficiência, na medida em que
denuncia a incapacidade operacional do Poder Público em desempenhar, num prazo
razoável, as atribuições que lhe foram conferidas pelo ordenamento (nesse sentido, o
comando do art. 5º, LXXVIII, da CF). Fere, também, a moralidade administrativa,
por colocar em xeque a legítima confiança que o cidadão comum deposita, e deve
depositar, na atuação Administração. Por isso que semelhante conduta se revela
ilegal e abusiva, podendo ser coibida pela via mandamental, consoante previsto no
art. 1.º, caput, da Lei n. 12.016, de 7 de agosto de 2009. 5. Ordem concedida para
determinar à autoridade impetrada que, no prazo do art. 49 da Lei n. 9.784/1999,
decida, em caráter final e como entender de direito, o requerimento administrativo
de concessão de anistia formulado pelo impetrante, no âmbito do Processo
Administrativo n. 2010.01.67242. (MS n. 26.552/DF, relator Ministro Sérgio
Kukina, Primeira Seção, julgado em 10/2/2021, DJe de 18/2/2021.)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


VEÍCULO APREENDIDO PELA POLÍCIA MILITAR. AUSÊNCIA DE BAIXA
NO ALERTA DE ROUBO. CERCEAMENTO DE DEFESA. CAUSA MADURA.
MATÉRIA EMINENTEMENTE DE DIREITO. CELERIDADE PROCESSUAL.
MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
NEGLIGÊNCIA NA ATUALIZAÇÃO DOS DADOS SISTÊMICOS DE
SEGURANÇA PÚBLICA QUE FERE O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA.
CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. INDENIZAÇÃO DEVIDA. QUANTUM
ARBITRADO EM R$ 7.000,00 (SETE MIL REAIS) PARA CADA
RECORRENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 4ª Turma
Recursal - 0008895-82.2018.8.16.0038 - Fazenda Rio Grande - Rel.: JUÍZA DE
DIREITO SUBSTITUTO BRUNA GREGGIO - J. 14.02.2022)

8) Princípio da Isonomia – igualdade - equidade


Conceito: tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida
de sua desigualdade. Qual é a medida da desigualdade? Se o fator de discriminação estiver em
desacordo com o objetivo da norma haverá ofensa ao princípio da isonomia. Ex.: Concurso de
salva-vidas: exclusão de deficiente físico – não há violação ao princípio da isonomia;
exclusão de deficiente físico de concurso que exija somente atividade administrativa viola o
princípio da isonomia; concurso para polícia feminina, havendo exclusão de indivíduos do
sexo masculino não viola o princípio da isonomia; concurso para delegado impedindo a posse
de indivíduo menor que 1,5m viola o princípio da isonomia; concurso para gari excluindo
indivíduo que não tivesse tantos dentes viola o princípio da isonomia.
Obs.: Nem toda exigência ofende a isonomia, depende de disposição na lei da
carreira.

Súmula 683, STF: o limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em
face do art. 7º, XXX, da constituição, quando possa ser justificado pela natureza das
atribuições do cargo a ser preenchido.

29
CF, art. 7º, XXX: proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

Obs.: Concurso para delegado: o exame psicotécnico é muito criticado devido à sua
subjetividade; concurso de força física para mulheres tinha critério diferente do
estabelecido para os homens não viola o princípio da isonomia, eis que o tratamento
dos desiguais deve ser de forma desigual (força física feminina é menor do que a
masculina).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. AGRAVO


INTERNO EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. CRITÉRIO DE
CORREÇÃO DA BANCA EXAMINADORA. REVISÃO PELO PODER
JUDICIÁRIO DAS NOTAS ATRIBUÍDAS PELA COMISSÃO.
IMPOSSIBILIDADE. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART.
1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO.
(...) II - É firme a orientação desta Corte no sentido de que o edital é a lei interna do
concurso público, que vincula não apenas os candidatos, mas também a própria
Administração, e estabelece regras dirigidas à observância do princípio da
igualdade, devendo ambas as partes observar suas disposições. III - Os critérios
adotados pela banca na correção e atribuição das notas foram disponibilizados, não
havendo violação ao edital do certame. IV - O Supremo Tribunal Federal firmou, em
julgamento submetido à sistemática da repercussão geral, tese segundo a qual os
critérios adotados pela banca examinadora não podem ser revistos pelo Poder
Judiciário, ressalvando-se o juízo de sua compatibilidade com a previsão do edital.
(...) (AgInt no RMS n. 69.310/RJ, relatora Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, julgado em 14/11/2022, DJe de 17/11/2022.)

9) Princípio do Contraditório
Referido princípio está relacionado com o princípio da ampla defesa, ambos estão
sedimentados no direito processual. A partir de 1988 passa a ser aplicado no processo
administrativo.
Representa uma lógica política: ninguém pode ser processado sem ter ciência da
existência do processo. Na prática, acontece do indivíduo ser comunicado da sua demissão
sem ter ciência do processo.
CONCURSO: o princípio do contraditório normalmente é relacionado com a existência de
vícios do processo.

DIREITO ADMINITRATIVO NA PRÁTICA


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO INOMINADO. DIREITO
ADMINISTRATIVO E DO CONSUMIDOR. CMTU/PR. AÇÃO ANULATÓRIA.
AUTO DE INFRAÇÃO LAVRADO PELA COMPANHIA MUNICIPAL DE
TRÂNSITO E URBANIZAÇÃO DE LONDRINA - CMTU. SERVIÇO DE

30
LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DE TERRENO. NULIDADE DA INTIMAÇÃO
DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL. NOTIFICAÇÃO GERAL A TODOS OS
PROPRIETÁRIOS DE TERRENOS. IMPOSSIBILIDADE. NOTIFICAÇÃO
REALIZADA DE FORMA GENÉRICA. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DA PUBLICIDADE. ALEGADA
OMISSÃO E CONTRADIÇÃO QUANTO A INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA
DE NORMA DEVIDAMENTE REGULAMENTADA, BEM COMO QUANDO
DA EXIGÊNCIA DE ADOÇÃO DE PROVIDÊNCIAS, PELA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DIVERSAS ÀS PREVISTAS EM LEGISLAÇÃO
VIGENTE E EFICAZ, E AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO PREVISTA AO
ART. 1.022, PARÁGRAFO ÚNICO, II, COMBINADO AO ART. 489, § 1º, I A III,
TODOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL VIGENTE, AFRONTANDO
DESTA FORMA O DISPOSTO AO ART. 93, IX DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988. INOCORRÊNCIA. MERO INCONFORMISMO DA PARTE.
FINALIDADE DE REDISCUSSÃO DO MÉRITO. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0065070-03.2020.8.16.0014/1 -
Londrina - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS TIAGO GAGLIANO PINTO ALBERTO - J. 15.02.2023)

10) Princípio da Ampla Defesa


A parte deve ter oportunidade de defesa. Basta abrir prazo? O princípio vai além da
simples oportunidade. Existem exigências: provas, informações, defesas etc.
CF, art. 5º, LV dispõe sobre os recursos possíveis.
Antes da condenação a parte tem direito à defesa.
- Exigências da ampla defesa:
a) Defesa prévia: a parte tem que ter a oportunidade de defesa. Não só enquanto condição
formal.
b) Penalidades determinadas: as penas devem ser previamente estabelecidas. Quais são as
possíveis sanções que a parte poderá sofrer? Os nossos estatutos estipulam condutas com
conceitos vagos. Ex.: condutas escandalosas.
c) Procedimento preestabelecido: conhecimento prévio do procedimento e de suas fases. Ex:
no processo penal há a defesa prévia, de forma enxuta e toda a tese é defendida nas alegações
finais.
d) A parte tem direito de produzir provas. Não basta constar no processo. Ex.: depoimento da
testemunha, não basta que a prova conste no processo, ela tem que efetivamente participar da
formação do convencimento do julgador (juiz tem que ler a prova).
e) Direito à informação do processo. Ex.: direito de cópia do processo (a parte paga).
f) Direito de recurso (independentemente de previsão específica, ele tem que ser exercitado,
sob pena de inconstitucionalidade). No processo tributário administrativo há exigência do
depósito prévio da multa para a interposição do recurso. Hoje essa exigência do depósito
prévio foi considerada inconstitucional pelo STF e STJ (STF, RE 388.359 e STJ, RESP
943.116).
Obs.: O recurso no processo administrativo admite a reformatio in pejus (Não
recorrer à toa das notas dos concursos!).
31
Obs.: A revisão não admite a reformatio in pejus (revisão é quando surge um fato
novo).
g) Presença de advogado? A presença do advogado é obrigatória na defesa técnica do
processo administrativo?
 Lei 8.112: diz que a presença do advogado no processo disciplinar é facultativa.
 Jurisprudência: evoluiu no sentido de ser obrigatória a presença do advogado, eis
que esse contribui para a legalidade do processo.
 STJ, súmula 343: reconhece que a presença do advogado é obrigatória em todas as
fases do processo administrativo disciplinar.
Então qual seria a conseqüência dessa decisão no âmbito federal nos casos dos
servidores que foram despedidos sem a presença de advogado? Segundo o STJ o processo
seria nulo e a seria demissão ilegal e, como conseqüência, os servidores retornariam aos
cargos de origem com todas as vantagens.
 STF: em sentido contrário, editou a súmula vinculante nº 5 que dispõe que a
ausência do advogado em processo disciplinar não ofende a constituição. Essa
súmula vinculante representa um retrocesso no processo.
Essa súmula foi utilizada apenas como uma saída econômica para solucionar os gastos
que o governo federal teria para reintegrar os seus servidores. O STF poderia ter estabelecido
um marco temporal para a vigência da súmula 343, do STJ para resolver o problema.
A súmula vinculante impede que qualquer órgão aja contrariamente ao estabelecido.
CONCURSO: A presença de advogado no processo administrativo é facultativa devido à
existência da súmula vinculante nº 5 do STF (a súmula 343, do STJ não foi revogada, mas ela
não pode ser aplicada).
Súmula Vinculante nº 3: nos processos perante o TCU o contraditório e a ampla defesa são
obrigatórios nos casos em que o TC acha que é ilegal a nomeação de servidor aprovado em
concurso. TC atua como fiscal, o ato já está formado.
Obs.: Antes da súmula nº 3 a revogação/anulação do ato de nomeação do servidor
público aprovado em concurso pelo TC não observava os princípios do contraditório e
da ampla defesa. O TC solicitava informações à administração pública e se entendesse
que era caso de anulação/revogação ele a procedia e não chamava o interessado a se
manifestar. O indivíduo era destituído do cargo sem nunca ter tido a chance de se
manifestar no processo.
A parte final da súmula nº 3 excetua a aplicação do contraditório e da ampla defesa nos caso
de aposentadoria, reforma e pensão. A idéia é que concessão da aposentadoria, da reforma e
da pensão são atos administrativos complexos (ato que depende de duas manifestações de
vontades de órgãos diferentes: administração + TC). Neste caso, não existe apenas uma
fiscalização por parte do TC, que participa da própria formação do ato. A manifestação do TC
compõe a formação do ato e por isso não há necessidade de manifestação da parte, eis que o
processo ainda não está definido. Posteriormente a parte terá direito de recorrer (na via
administrativa). Esta decisão não é definitiva ainda.
CONCURSO: ver precedentes da súmula nº 3.

32
 Revogação/anulação de nomeação de servidor aprovado em concurso público: ato
simples (o ato já estava formado com a manifestação da administração e o TC
agirá como fiscal) – Observância do contraditório e da ampla defesa.
 Concessão de aposentadoria/reforma/pensão para servidor: ato complexo (depende
de 2 manifestações de vontade para se formar: Administração + TC). O TC atua na
formação do ato – Inexistência de contraditório e de ampla defesa (TC não
observará esses princípios para decidir se aprova ou não a concessão da
reforma/aposentadoria/pensão). O contraditório e a ampla defesa serão observados
posteriormente na esfera administrativa.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL ADMINISTRATIVO. PROCESSO DE


REVISÃO DE ANISTIA DE MILITAR. CABO DA AERONÁUTICA.
MANDADO DE SEGURANÇA. ENUNCIADO APROVADO PELO STF EM
REGIME DE REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 839. NOTIFICAÇÃO POR
EDITAL. PREJUÍZO AO EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. NULIDADE
RECONHECIDA. ORDEM CONCEDIDA. RESTABELECIMENTO DA
CONDIÇÃO DE ANISTIADO DO EX-MILITAR. 1. Caso em que se discute a
validade de ato administrativo ministerial que determinou a anulação de anterior
portaria, por meio da qual se havia declarado a condição de anistiado político do
impetrante, ex-cabo da Aeronáutica. 2. Ao apreciar o Tema 839, com repercussão
geral, o Supremo Tribunal Federal aprovou o seguinte enunciado: "No exercício do
seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão
de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria nº 1.104/1964,
quando se comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política,
assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo
legal e a não devolução das verbas já recebidas". 3. A Administração Pública não é
obrigada a revisar as anistias. Porém, caso o faça, a revisão estará condicionada,
dentre outras exigências, à observância de regular procedimento administrativo, em
que sejam asseguradas ao administrado as garantias inerentes ao devido processo
legal, como deflui, com primazia, do art. 5º, LIV, da Constituição Federal. 4. A
validade do processo administrativo é constitucionalmente vinculada à rigorosa
observação do princípio da ampla defesa "com os meios e recursos a ela
inerentes". Inteligência do disposto no art. 5º, LV, da Carta Republicana. Ao
disciplinar, no âmbito do processo administrativo, a incidência do princípio da
ampla defesa e "dos meios e recursos a ela inerentes", o legislador ordinário
positivou parâmetros mais precisos, cuidadosamente descritos no art. 2º, parágrafo
único, da Lei do Processo Administrativo Federal - LPA (Lei n. 9.784/1999), os
quais não foram fixados para conveniência, ou comodidade, da Administração.
Antes, privilegiaram a garantia dos direitos dos administrados, razão pela qual a
notificação que não chega ao conhecimento do cidadão intimado não cumpre, em
linha de princípio, a sua função constitucionalmente prevista. Assim, a intimação
por via postal só pode ser tida como meio idôneo se alcançar o fim a que se destina:
dar, ao interessado, inequívoca ciência da decisão ou da efetivação de diligências
(Lei n. 9.784/199, art. 26). 5. Nas hipóteses em que a tentativa de entrega da
notificação pelos Correios é frustrada, cabe à Administração buscar outro meio
idôneo para provar, nos autos, "a certeza da ciência do interessado", reservando-se a
publicação oficial, nos termos da lei, tão somente às hipóteses de: a) interessado
indeterminado; b) interessado desconhecido; ou c) interessado com domicílio
indefinido. 6. Ordem concedida para para anular a notificação feita por edital, bem
como todos os atos que lhe seguiram nos autos do processo administrativo
correspondente. (MS n. 27.227/DF, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira Seção,
julgado em 27/10/2021, DJe de 9/11/2021.)

33
11) Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade
O princípio da razoabilidade significa que o administrador tem que agir de forma
coerente, congruente.
Segundo a doutrina brasileira, embutido no princípio da razoabilidade está o princípio
da proporcionalidade.
O princípio da proporcionalidade significa equilíbrio do administrador (ex.: equilíbrio
entre o ato praticado e à medida conseqüente a ele).
Ex.: Dissolução de passeata, administrador mata uma pessoa.
Ex.: Servidor praticou uma infração leve, não é razoável a aplicação de demissão ou
pena grave.
Não é possível a prática de um ato se o prejuízo for maior que o benefício.
Razoabilidade e proporcionalidade são princípios implícitos na CF e expressos na
norma infraconstitucional (Lei 9.784/99, art. 2º).
EC 45, art. 5º, LXXVIII: “duração de prazo razoável dos processos” não significa
princípio da razoabilidade e sim princípio da celeridade.
Decisão vinculada: o administrador não tem liberdade e preenchidos os requisitos
legais o administrador é obrigado a praticar o ato. A decisão vinculada não tem mérito
(conveniência e oportunidade) e o administrador só pode fazer o controle de legalidade.
Decisão discricionária: o administrador exerce juízo de valor, analisando a
conveniência e oportunidade para a prática do ato – mérito do ato administrativo. A decisão
discricionária tem legalidade e tem mérito. O PJ pode rever essa decisão através da revisão
dos princípios constitucionais, PJ faz o controle de legalidade em sentido amplo que acaba
atingindo o mérito do ato administrativo e limitando a liberdade do administrador
Obs.: O PJ não pode fazer o controle do mérito do ato administrativo, mas pode fazer
o controle de legalidade em sentido amplo (revisão dos princípios constitucionais), que
acaba atingindo o mérito do ato administrativo.
ADPF 45: discussão sobre a possibilidade de controle das políticas públicas por parte do PJ
através da observância dos princípios da legalidade, da proporcionalidade, da reserva do
possível e do mínimo existencial. A ação constitucional em referência qualifica-se como
instrumento idôneo e apto a viabilizar a concretização de políticas públicas (saúde pública –
direito social) previstas no texto da Carta Política (encargos próprios do PE e do PL), tal como
sucede no caso (EC 29/2000), venham a ser descumpridas (cláusulas programáticas referentes
a políticas de saúde pública), total ou parcialmente, pelas instâncias governamentais
destinatárias do comando inscrito na própria Constituição da República.
A aplicação da efetiva legalidade tem flexibilizado a afirmação de que o PJ não pode
adentrar no mérito do ato administrativo dos atos discricionários.

34
DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA
RECURSO INOMINADO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. SENTENÇA
DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA RECURSAL DO MUNICÍPIO DE
FAZENDA RIO GRANDE/PR. PRINCÍPIO DA ORALIDADE. PROVA
COLHIDA EM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. JUIZ DA ORIGEM QUE TEVE
DIRETO CONTATO COM AS PARTES E TESTEMUNHAS. PRINCÍPIO DE
NATUREZA CONSTITUCIONAL. INEXISTÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIAS
QUE AUTORIZEM A REANÁLISE DOS FATOS PELO COLEGIADO. PARTE
AUTORA QUE COMPROVOU FATOS CONSTITUTIVOS DE SEU DIREITO A
TEOR DO CONTIDO NO ART. 373, INCISO I DO CPC. JUIZADO ESPECIAL
DA FAZENDA PÚBLICA. FUNCIONÁRIO PÚBLICO MUNICIPAL. ASSÉDIO
MORAL E OFENSAS. PARTE RÉ QUE NÃO COMPROVOU FATO
IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR
(ARTIGO 373, II DO CPC). CONSTRANGIMENTO DESNECESSÁRIO.
CONTROLE DE TEMPO DE USO DE BANHEIRO E RESTRIÇÕES DE
UTILIZAÇÃO. CERCEAMENTO E DIFICULDADES PARA GOZO DOS
HORÁRIOS DE ALMOÇO. FALHA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTIGO 37, §6º DA CF/88. DANO MORAL
CONFIGURADO. TRANSTORNOS QUE ULTRAPASSAM O MERO
ABORRECIMENTO DO DIA A DIA. REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE
CIVIL PRESENTES. ARTIGOS 186, 187 E 927 DO C. DEVER DE INDENIZAR.
QUANTUM QUE OBSERVA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE,
PROPORCIONALIDADE, BEM COMO AS PECULIARIDADES DO CASO
CONCRETO. ARTIGO 46 DA LEI 9.099/95. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. Recurso conhecido e desprovido. (TJPR - 4ª Turma
Recursal - 0010025-39.2020.8.16.0038 - Fazenda Rio Grande - Rel.: JUIZ DE
DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LEO
HENRIQUE FURTADO ARAUJO - J. 27.06.2022).

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ART. 54 DA LEI 9.784/1999.
APLICAÇÃO POR ANALOGIA NO ÂMBITO ESTADUAL. NATUREZA DE
LEI LOCAL. SÚMULA 280/STF. 1. Como cediço, "com vistas nos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, este Superior Tribunal de Justiça tem
admitido a aplicação, por analogia integrativa, da Lei Federal n. 9.784/1999, que
disciplina a decadência quinquenal para revisão de atos administrativos no âmbito da
administração pública federal, aos Estados e Municípios, quando ausente norma
específica, não obstante a autonomia legislativa destes para regular a matéria em
seus territórios" (REsp 1.251.769/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 14/9/2011). 2. A Lei 9.784/1999, ao ser
aplicada por analogia no âmbito da Administração Pública dos Estados e
Municípios, assume natureza de lei local, o que inviabiliza o reexame das
conclusões firmadas pelo Tribunal de origem em virtude do óbice da Súmula
280/STF. Nesse sentido: AgRg no AREsp 713.381/DF, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 26/10/2015. 3. Agravo interno não
provido. (AgInt no REsp n. 1.919.428/ES, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, julgado em 21/2/2022, DJe de 24/2/2022.).

12) Princípio da Continuidade


- Prestação de serviços públicos
35
Possibilidade de interrupção da prestação de serviço sem comprometimento do
princípio da continuidade (Lei 8.987/95, art. 6º, § 3º) nos seguintes casos:

 Segurança;
 Inadimplemento do usuário.
A jurisprudência também entende ser lícita a interrupção da prestação do serviço em
caso de inadimplemento, pois, se não cortar o serviço do usuário inadimplente o usuário
adimplente poderia ser prejudicado (falência da empresa): princípio da Supremacia do
Interesse Público, princípio da Continuidade e princípio da Isonomia (tratar os desiguais
desigualmente: pagadores e não-pagadores). A interrupção do serviço exige comunicação
prévia.
Posição minoritária: com base no art. 22 e 42, do CDC não é possível o corte.
Hoje temos o particular prestando o serviço público. É o Estado mínimo: privatização,
concessão, etc. Assim, o prestador do serviço (empresa privada prestando o serviço público)
deve ser protegido.

- Direito de greve do servidor público


CF, art. 37, VII, EC 19/98: “na forma da lei” – a jurisprudência é unânime em afirmar
que esta norma constitucional é de eficácia limitada, necessitando da edição de lei para ser
exercitada: LC.
Mandado de Injunção: direito que está na constituição, mas que não pode ser exercido
por falta de lei. É a posição majoritária. Mas sempre há greves. O STF julgou em sede de
mandado de injunção que em caso de norma constitucional de eficácia limitada deveria haver
a comunicação ao Congresso Nacional objetivando a edição da norma regulamentadora (em
regra este não edita a norma regulamentadora). Com a perpetuação desta situação, se
houvesse o exercício de greve sem lei esta conduta seria ilegal. A conseqüência é o desconto
dos dias não trabalhados. Não é cabível a demissão (só para infrações graves). O Presidente
da República disse na imprensa nacional que deveria ser abolido o direito de greve dos
servidores. O STF então mudou o entendimento, já que comunicar o CN não era suficiente e
eliminar o direito de greve como o presidente sugeriu não seria razoável, assim reconheceu
que enquanto não vier a lei própria do servidor, ser-lhe-á aplicado, no que for cabível, a lei do
trabalhador comum (Lei 7.783/89) (MI 670/708/712) (ler o 708). A discussão agora gira em
torno do que é cabível e do que não é cabível. A AGU elaborou um projeto de lei que exige a
comunicação ao governo com 24h de antecedência, além de votação de maioria absoluta em
assembléia (inviabilizaria o direito de greve!)
- Contratos Administrativos
Exceptio non adimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido: se eu não
cumprir a minha parte no contrato, não posso exigir que a outra parte a cumpra): é aplicável
ao contrato administrativo (após o decurso de 90 dias). Se a administração deixa de pagar à
prestadora de serviço ela tem que continuar prestando o serviço? Sim, mas em nome do
princípio da continuidade a exceptio non adimpleti contractus é aplicável após o decurso de
90 dias (posição da corrente moderna). 2 correntes sobre o assunto:
36
 Corrente tradicional: a exceptio non adimpleti contractus não é aplicável à
administração pública.
 Corrente moderna: a exceptio non adimpleti contractus é aplicável, mas em nome
do princípio da continuidade ela é aplicável de forma diferenciada (a partir de 90
dias) (Lei 8.666/93, art. 78, XV).

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


APELAÇÃO CÍVEL – RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – INTERRUPÇÃO DE
FORNECIMENTO DE ÁGUA – CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO
EM PARANACITY – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – CF, ART. 37, §6° -
INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES CONSUMERISTAS – PRINCÍPIO DA
CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS – SUPOSTO DANO SOFRIDO
INCOMPROVADO – NEXO DE CAUSALIDADE INDEMONSTRADO – ÔNUS
PROBATÓRIO DESATENDIDO – DIRETRIZ EMANADA DO IRDR
INSTAURADO EM CASOS COMO O PRESENTE – IMPROCEDÊNCIA DA
PRETENSÃO QUE SE IMPÕE – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Dos arestos desta c. Câmara: “... interrupções
temporárias no fornecimento de água para fins de manutenção ou reparo na rede,
desde que não corriqueiras e por prazo razoável, independentemente de aviso, não
caracterizam ilícito hábil a fundar pedido indenizatório. Por mais que o
fornecimento de água deva ser contínuo, pois se sujeita ao princípio da
continuidade do serviço público, como ficou comprovado que ocorreu durante um
curto período e em dias esporádicos, não gera abalo moral, enquadrando-se como
mero dissabor cotidiano” (TJPR - 10ª C.Cível - 0005533-98.2015.8.16.0128 -
Paranacity - Rel.: DESEMBARGADORA ANGELA KHURY - J. 21.05.2022)
(TJPR - 10ª Câmara Cível - 0005148-87.2014.8.16.0128 - Paranacity - Rel.:
DESEMBARGADOR DOMINGOS THADEU RIBEIRO DA FONSECA - J.
05.02.2023)

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIÇOS DE


LAVANDERIA HOSPITALAR. ENCERRAMENTO DO CONTRATO
EMERGENCIAL. PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS SEM BASE CONTRATUAL E
REMUNERAÇÃO FEITA EM REGIME INDENIZATÓRIO. AUSÊNCIA DE
REALIZAÇÃO DE LICITAÇÃO. ATO OMISSIVO. DECADÊNCIA NÃO
CONFIGURADA. 1. Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por sociedade
empresária contra ato coator do Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal
consistente em alegada omissão em realizar processo licitatório que tenha por objeto
a prestação de serviços de lavanderia hospitalar ao Hospital Regional de Santa
Maria. Foi pleiteada a concessão de segurança para determinar ao "impetrado que,
no prazo de 30 dias adote todas as providências necessárias a que, sem haver
prejuízos ao funcionamento do Hospital Santa Maria, a impetrante possa se
desincompatibilizar da prestação dos serviços de lavanderia atualmente prestados
sem base contratual". 2. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
reconheceu a existência de decadência sob o argumento de que o termo inicial para a
impetração é o término de vigência do contrato emergencial que a administração
celebrara com a impetrante. 3. No caso, o ato apontado como coator é a omissão em
não se realizar processo licitatório, de modo a permitir a liberação da impetrante da
obrigação de realizar serviços de lavanderia hospitalar, ante a essencialidade dos
aludidos serviços, que não podem ser interrompidos em virtude do princípio da
continuidade do serviço público. 4. Como o ato apontado como coator é omissivo,
a relação é de trato sucessivo, renovando-se o prazo para a impetração do writ, não
37
havendo falar em decadência. Precedentes. 5. Recurso Ordinário provido, com o
retorno dos autos ao Tribunal de origem para que prossiga no julgamento do feito.
(RMS n. 56.814/DF, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 18/8/2020, DJe de 16/9/2020.)

13) Princípio da Autotutela


Esse princípio tem duas aplicações diferentes.
a) Aplicação mais utilizada pela doutrina: autoutela é a possibilidade que tem a administração
de revisar os seus próprios atos.

 Atos ilegais: anulação;


 Atos inconvenientes: revogação.
STF, súmula 346 – “A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.
STF, súmula 473 – “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial”.

b) Aplicação dada por Maria Sylvia Zanella di Pietro: o princípio da auto-tutela exige o zelo
do administrador, que tem que zelar dos bens públicos. Dever de cuidado do administrador
público.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


ANULAÇÃO DE PORTARIA CONCESSIVA DA ANISTIA. DECADÊNCIA.
JUÍZO DE RETRATAÇÃO. ART. 1.040, II, DO CPC. APLICAÇÃO DA TESE
839/STF. JULGAMENTO DE RECURSO COM REPERCUSSÃO GERAL.
5. Com efeito, é de conhecimento geral que o STF, no julgamento do RE
817.338/DF, com Repercussão Geral (Tema 839/STF), pacificou o entendimento de
que a Portaria 1.104 não é ato de exceção, de modo que o reconhecimento da
condição de anistiado amparado nessa premissa é passível de revisão, sem
submissão ao prazo decadencial, assegurando-se o contraditório e a ampla defesa
(essa última parte não foi objeto de impugnação no presente writ). A tese repetitiva
foi redigida nos seguintes termos: "no exercício do seu poder de autotutela, poderá
a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da
Aeronáutica com fundamento na Portaria n° 1.104/1964, quando se comprovar a
ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao
anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não
devolução das verbas já recebidas". (...) 12. Ordem denegada (juízo de retratação,
nos termos do art. 1.040, II, do CPC). (MS n. 19.695/DF, relator Ministro Herman
Benjamin, Primeira Seção, julgado em 8/2/2023, DJe de 23/2/2023.)

APELAÇÃO CÍVEL – MANDADO DE SEGURANÇA – PREFEITURA


MUNICIPAL DE PIRAQUARA – REENQUADRAMENTO (PROMOÇÃO)
VERTICAL DE SERVIDORES MUNICIPAIS SEM A PRÉVIA REALIZAÇÃO
DE CONCURSO PÚBLICO – PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 11.195/2016 –

38
PRELIMINAR DE TRANSGRESSÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE –
EXPOSIÇÃO DOS MOTIVOS DE FATO E DE DIREITO QUE PERMITEM
IDENTIFICAR, AO CASO, A INTENÇÃO DE REFORMA DA DECISÃO –
REJEIÇÃO QUE SE IMPÕE – MÉRITO – INVALIDAÇÃO DO ATO ILEGAL
PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – EXERCÍCIO DE AUTOTUTELA –
POSSIBILIDADE AGASALHADA PELA SÚMULA 473 DO STF –
SINDICÂNCIA nº 22/2016 – PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO QUE NÃO SE
CONFUNDE COM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR –
INEXISTÊNCIA DE PENALIDADE – DEVIDO PROCESSO LEGAL
DEVIDAMENTE RESPEITADO – AUSÊNCIA DE NULIDADE –
INVESTIDURA EM CARGO OU EMPREGO PÚBLICO DEPENDENTE DE
APROVAÇÃO PRÉVIA EM CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS OU DE
PROVAS E TÍTULOS (ART. 37, INCISO II, DA C.F.) – PROMOÇÃO
VERTICAL SEM CONCURSO PÚBLICO EVIDENTEMENTE
INCONSTITUCIONAL – SÚMULA VINCULANTE Nº 43 DO STF – (...) –
REGULARIDADE DO DECRETO MUNICIPAL Nº 5.944/2017 QUE
DETERMINOU O RETORNO DOS SERVIDORES MUNICIPAIS AO CARGO
DE ORIGEM – PEDIDO DE AFASTAMENTO DA DEVOLUÇÃO DE
VALORES RECEBIDOS PELOS SERVIDORES – DECISÃO PROFERIDA
PELO PREFEITO, EM SEDE DE SINDICÂNCIA, AFASTANDO O DEVER DE
DEVOLUÇÃO – FALTA DE INTERESSE DE RECORRER – PEDIDO NÃO
CONHECIDO – FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS –
IMPOSSIBILIDADE – ISENÇÃO PREVISTA NO ART. 25 DA LEI Nº
12.016/2009 E SÚMULAS 105 DO STJ E 512 DO STF – RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO.
(TJPR - 5ª Câmara Cível - 0009179-39.2017.8.16.0034 - Piraquara - Rel.:
DESEMBARGADOR RENATO BRAGA BETTEGA - J. 09.12.2019)

14) Princípio da Presunção de Legitimidade (Presunção de legitimidade = presunção de


legalidade + presunção de veracidade)
 Presunção de legitimidade = correspondência com a moral;
 Presunção de legalidade = correspondência com a lei;
 Presunção de veracidade = correspondência com a verdade.
Presunção relativa (presunção iuris tantum): pode ser discutida, contestada, mas até
que se prove o contrário é a verdade. Ex.: fechamento de estabelecimento por
descumprimento de normas sanitárias: quem contesta é o administrado, a quem normalmente
pertence o ônus da prova. Qual é a conseqüência da presunção de legitimidade? A
conseqüência é a sua aplicação imediata. O ato é paralelo a lei: CN edita uma lei com
presunção de constitucionalidade e os indivíduos terão que obedecê-la, pois sua aplicação é
imediata.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE SEGURANÇA.
ANISTIA POLÍTICA. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA DE
PERSEGUIÇÃO POLÍTICA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. (...) 3. A decisão tomada no
âmbito do processo administrativo, não reconhecimento de perseguição política e
consequente negativa de concessão de anistia política, goza de presunção de
legitimidade, conforme a instrução probatória realizada com garantia de
contraditório e ampla defesa, não podendo, assim, haver interferência indevida na
análise técnico-administrativa, sem a caracterização flagrante de erro, que poderia

39
justificar, excepcionalmente, uma tomada de decisão substitutiva. Agravo interno
improvido. (AgInt no MS n. 27.237/DF, relator Ministro Humberto Martins,
Primeira Seção, julgado em 29/11/2022, DJe de 2/12/2022.)

mandado de segurança. SERVIDORa PÚBLICA do estado do paraná. pretensão de


gozo de licença especial. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA QUANTO AO MOMENTO DE FRUIÇÃO. NECESSIDADE DE
PLANEJAMENTO ANTE O ELEVADO NÚMERO DE SERVIDORES QUE
REQUEREM O USUFRUTO DA LICENÇA NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO
PÚBLICA ESTADUAL. MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO QUE NÃO É
PASSÍVEL DE REVISÃO PELO PODER JUDICIÁRIO, SOB PENA DE
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. OBSERVÂNCIA
DO DEVER DE MOTIVAÇÃO. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO NÃO DESCONSTITUÍDA. NÃO COMPROVAÇÃO DE
VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO A PARTIR DE PROVA
DOCUMENTAL PRÉ-CONSTITUÍDA. PRECEDENTES.segurança denegada.
(TJPR - 4ª Câmara Cível - 0021905-79.2019.8.16.0000 - * Não definida - Rel.:
DESEMBARGADORA MARIA APARECIDA BLANCO DE LIMA - J.
04.12.2019)

6. Administração Pública Direta e Indireta;

6.1 – ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
CENTRALIZADA
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA OU Autarquia, fundação, empresa pública e
DESCENTRALIZADA (transfere-se do núcleo sociedade de economia mista
para outras pessoas jurídicas)
A administração pública, em seu sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos
com a finalidade de realizar as opções políticas e os objetivos do governo e, em seu sentido
material, é o conjunto de funções necessárias ao serviço público em geral.
De acordo com a teoria do órgão da pessoa jurídica aplicada ao direito administrativo,
as pessoas jurídicas estatais expressam suas vontades por meio dos seus órgãos, os quais, por
sua vez, são representados por seus agentes, que atuam como mandatários da pessoa jurídica
estatal. (CESPE)
Formas de prestação da atividade administrativa:
a) Centralizada: a atividade é exercida pelo próprio Estado (Adm. Direta).
b) Descentralizada: quando o Estado transfere o exercício de atividades que lhes são
pertinentes para pessoas jurídicas auxiliares por ele criadas ou para particulares e passa
atuar indiretamente, pois o faz por intermédio de outras pessoas jurídicas, seres juridicamente
distintos, tendo vários planos de descentralização. (Planos da descentralização – Decreto-lei

40
200/67). Questionamento: existe hierarquia ou subordinação entre a administração direta e a
indireta? Não.
Essa descentralização pode ser por OUTORGA ou por DELEGAÇÃO. A primeira
significa a transferência da titularidade (é dona do serviço) + a execução do serviço (só é
possível através de lei, e, como a titularidade não pode sair das mãos da administração,
somente a administração indireta de direito público pode receber: autarquias e fundações de
direito público). A segunda transfere apenas a execução do serviço e é possível transferir
através de: LEI: a todas as pessoas da administração indireta; CONTRATO: para os
particulares – ex: concessionárias e permissionárias de serviço público e através de ATO
ADMINISTRATIVO: ao particular – ex: autorização.
QUESTÃO: A administração pode outorgar a concessão ao particular (assertiva
verdadeira, pois a palavra outorga está utilizada em sua acepção vulgar, significando dar).
c) Desconcentração: é um fenômeno de distribuição interna de partes de
competências decisórias, agrupadas em unidades individualizadas, que não prejudica a
unidade monolítica do Estado, pois todos os órgãos e agentes permanecem ligados por um
sólido vínculo denominado hierarquia. Na desconcentração, ocorre a distribuição, em uma
mesma entidade, de atribuições para outros órgãos. Órgão A para o órgão B; do órgão B para
o órgão C; de uma secretaria para outra. Na desconcentração existe hierarquia: ela surge da
hierarquia.
OBS.: Não confundir: Descentralização Política (a CF determina) com
Descentralização Administrativa (esta pode ser: descentralização territorial ou geográfica,
descentralização por serviços, funcional ou técnica e descentralização por colaboração). Esta
última é a que nos interessa.
6.2. ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Composição: entes políticos – União, Estados, Municípios e DF.
A administração pública é subdividida em vários núcleos, cada qual com sua
competência. Esses núcleos são chamados de ÓRGÃOS PÚBLICOS (essa idéia veio de órgão
humano).
Órgão Público significa centro especializado de competência.
CARACTERÍSTICAS: não têm personalidade jurídica (não tem aptidão para ser
sujeito de direitos e obrigações = quem responde pelos seus atos é a pessoa jurídica a que ele
pertence) – em razão disso, não pode celebrar contrato, não pode contrair obrigações. Ex:
criança que machuca colega em escola pública municipal = escola é órgão, não tem
personalidade, então, quem vai responder é o Município.
Órgão Público não pode celebrar contrato, mas pode e deve licitar. Ele licita e a pessoa
jurídica a que ele pertence celebra o contrato. E o artigo 37, § 8º, da CF? A doutrina critica tal
dispositivo, que inclusive foi introduzido via EC, dizendo ser ele inconstitucional. Além
disso, tal artigo nunca saiu do papel.
Por que órgão público tem CNPJ, já que não tem personalidade jurídica?
Determinação da receita federal, com vistas a fiscalizar a aquisição de recursos pelo órgão.
41
Apesar de não ter personalidade, órgão público pode ir à Juízo, assim como a massa
falida e o espólio? Pode ir à Juízo somente em busca de prerrogativas funcionais e não em
qualquer circunstância; também só pode ir na condição de sujeito ativo, já que não pode ser
acionado (mas há divergência).
O órgão público pode ter o seu próprio representante, seu próprio procurador, ex.
câmara de vereadores.
Existe órgão público na administração indireta? Existe (Lei nº 9.784/99, artigo 1º, § 2º,
I: “para os fins desta lei, considera-se órgão a unidade de atuação integrante da estrutura da
Administração Direta e da estrutura da Administração Indireta”). Ex. INSS.

6.3. TEORIAS SOBRE AS RELAÇÕES DO ESTADO COM OS AGENTES:


a) Teoria do mandato: o agente público é mandatário da pessoa jurídica (Estado e
agente celebram um contrato de mandato). Não prosperou. Fundamento: o Estado não pode
outorgar mandato, sem a pessoa do agente;
b) Teoria da representação: o agente público é representante do Estado por força de
lei, equiparando o agente ao tutor ou curador que representam os incapazes. Também não
prosperou tendo em vista a equiparação do Estado, pessoa jurídica, a um incapaz (o Estado
não é sujeito incapaz, pelo contrário, é ele mesmo quem responde pelos seus atos);
c) Teoria do órgão ou da imputação: não tem contrato, não tem representação, não
tem incapacidade, o que há é determinação legal; a pessoa jurídica manifesta a sua vontade
por meio dos órgãos, de tal modo que, quando os agentes que os compõem manifestam a sua
vontade, é como se o próprio Estado o fizesse (a vontade do Estado e a vontade do agente se
misturam e formam uma única vontade – não dá para separá-las: quando o agente está na sua
função pública, a sua vontade se mistura com a do Estado). Substitui a idéia de representação
pela de imputação direta. TEORIA ADOTADA NO BRASIL.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA


AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DECISÃO QUE
DECLAROU A ILEGITIMIDADE PASSIVA DA PESSOA DO GESTOR
PÚBLICO. INSURGÊNCIA RECURSAL DO AUTOR. PLEITO PELA
MANUTENÇÃO DA AUTORIDADE PÚBLICA NO POLO PASSIVO DA LIDE.
IMPROCEDÊNCIA. APLICAÇÃO DA TEORIA DO ÓRGÃO. INEXISTÊNCIA
DE APURAÇÃO APROFUNDADA ACERCA DA SUA RESPONSABILIDADE.
RECURSO DESPROVIDO. - Em respeito à teoria do órgão, os atos praticados pelo
agente público devem ser imputados à Administração Pública, em razão de ser a real
detentora da vontade manifestada naqueles. (TJPR - 5ª Câmara Cível - 0043646-
73.2022.8.16.0000 - Almirante Tamandaré - Rel.: DESEMBARGADOR CARLOS
MANSUR ARIDA - J. 28.02.2023)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


CONCURSO PÚBLICO. NOMEAÇÃO DA CANDIDATA. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO. RECURSO ESPECIAL. INTEMPESTIVIDADE. INTIMAÇÃO DA

42
PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO A QUE SE VINCULA À
AUTORIDADE IMPETRADA. LEGITIMIDADE PROCESSUAL.
I - Na origem, trata-se de mandado de segurança impetrado contra o Prefeito de
Salvador objetivando a nomeação da autora para o cargo de técnico em enfermagem,
em razão da aprovação na 62° (sexagésima segunda) colocação em concurso público
realizado nos termos do Edital n. 01/2011 - ADM/40h. No Tribunala quo, concedeu-
se a segurança. Esta Corte conheceu do agravo para não conhecer do recurso
especial.
II - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que se
aplica, no âmbito do Direito Administrativo, a Teoria do Órgão ou da Imputação,
segundo a qual o agente que manifesta a vontade do Estado o faz por determinação
legal.
III - As ações praticadas pelos agentes públicos são atribuídas à pessoa jurídica a
qual vinculados, sendo esta que detém personalidade jurídica para titularizar direitos
e assumir obrigações.
IV - Em mandado de segurança, a autoridade coatora, embora seja parte no
processo, é notificada apenas para prestar informações, sendo que, a partir do
momento que as apresenta, cessa a sua intervenção.
V - Tanto o é que a legitimação processual, para recorrer da decisão, é da pessoa
jurídica de direito público a que pertence o agente supostamente coator, o que
significa dizer que o polo passivo no mandado de segurança é da pessoa jurídica de
direito público a qual se vincula a autoridade apontada como coatora. Nesse
sentido:(AgInt no AgRg no RMS n. 28.902/PB, relator Ministro Antonio Saldanha
Palheiro, Sexta Turma, julgado em 4/10/2016, DJe 19/10/2016 e REsp n.
842.279/MA, relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 3/4/2008, DJe
24/4/2008). (...)
XI - Agravo interno improvido
(AgInt no AREsp n. 1.430.628/BA, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda
Turma, julgado em 18/8/2022, DJe de 25/11/2022.)

6.4. CLASSIFICAÇÃO:
a) Quanto à posição estatal: INDEPENDENTES (são aqueles que gozam de
independência, que estão no topo da estrutura estatal, estão no comando, na chefia de cada um
dos poderes. Ex. âmbito do executivo: Presidência da República, Governadoria do Estado e
Prefeitura; no âmbito do Judiciário: Tribunais e Juízes Monocráticos e no âmbito do
legislativo: Congresso, Assembléias e Câmaras Municipais), AUTÔNOMOS (são aqueles
que gozam de autonomia técnica, financeira, mas que estão subordinados aos independentes.
Ex. ministérios, secretarias de estado, secretarias municipais), SUPERIORES (tem poder de
decisão, mas estão subordinados aos órgãos autônomos e independentes. Ex. gabinetes e
procuradorias) e SUBALTERNOS (órgão de mera execução; não tem poder decisório,
apenas executa o que foi decidido pelos demais órgãos. Ex: zeladoria, almoxarifado, seções
administrativas);
b) Quanto à estrutura: SIMPLES (não tem desdobramentos; não têm agregados. Ex:
gabinetes, procuradorias) e COMPOSTOS (têm outros órgãos agregados à sua estrutura. Ex:
delegacia de ensino, postos de saúde). OBS: o órgão não é subdividido em simples,
composto e complexo; essa divisão é dos atos administrativos.
c) Quanto à atuação funcional: SINGULARES OU UNIPESSOAIS (são aqueles
formados por apenas um agente. Ex. presidência, prefeitura, juízos monocráticos) e
COLEGIADOS (composto por vários agentes e que a tomada de decisão é feita por vontade
coletiva. Ex: Congresso, Assembléias, Tribunais).

43
d) Quanto às funções: ativos, consultivos e de controle.
OBS: não há subordinação ou hierarquia entre os poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário; o que há é controle (sistema de pesos e contrapesos).

6.5. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA


(Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista)
É composta por entidades que possuem personalidade jurídica própria e são
responsáveis pela execução de atividades de Governo que necessitam ser desenvolvidas de
forma descentralizada.
Características gerais (aplicáveis a todas as pessoas da administração indireta):
a) Têm personalidade jurídica própria (aptidão para ser sujeito de direitos e
obrigações = responde pelos seus atos). Já que respondem pelos seus atos, têm patrimônio
próprio (se eu constituo uma autarquia e disponibilizo um prédio, esse prédio agora é dela,
não interessa a origem do bem); também tem receita própria (essa receita pode vir de
variadas fontes) – o fato de ter personalidade, dá às pessoas jurídicas autonomia técnica,
administrativa e financeira (autonomia política, que é a capacidade para legislar, elas não
possuem);
b) Não tem fins lucrativos, nem mesmo as exploradoras de atividade econômica (isso
não significa que o lucro não pode aparecer);
OBS: Empresas Públicas e SEM – podem ser criadas para prestar serviços públicos ou
explorar atividade econômica (quando for imprescindível à segurança nacional ou interesse
coletivo – artigo 173 da CF: essa é a finalidade, e não o lucro).
c) As pessoas jurídicas da administração indireta permanecem ligadas à
finalidade que lhes instituiu; princípio da especialidade (uma vez definida a finalidade da
pessoa jurídica, ela não poderá ser modificada, salvo através de lei);
d) Devem ser criadas / autorizadas mediante lei ordinária específica (cada pessoa
jurídica tem a sua própria lei). Serão CRIADAS mediante lei as autarquias (basta a lei para
que tenha existência) e será AUTORIZADA A CRIAÇÃO mediante lei a criação das EP,
SEM e fundações (não basta a lei, ainda se faz necessário o registro no Cartório de Pessoa
Jurídica ou Junta Comercial, dependendo da natureza, se pública ou privada) - artigo 37, XIX,
CF. Se a lei cria, a lei também EXTINGUE (Paralelismo de Formas), se autoriza a sua
criação, também deve autorizar a extinção.
OBS: de acordo com o artigo 37, XIX, da CF, Lei Complementar definirá as áreas de
atuação da fundação, que será criada mediante Lei Ordinária Específica.
Doutrina majoritária (e não unânime) e Posição do STF: Que fundação é essa
especificada no artigo 37 da CF? Explicação: Se a fundação foi instituída pelo direito
público, a chamaremos de fundação pública; mas se quem a instituiu foi um particular
teremos uma fundação privada (quem estuda a fundação privada é o direito civil e não o
direito administrativo). Mas, quando o poder público decide criar uma fundação, ele pode dar
44
a ela o regime de direito público ou privado (toda idéia vem do instituidor). Se a fundação é
pública de direito público, é espécie de autarquia (autarquia fundacional, espécie do gênero
autarquia = se é autarquia, a lei CRIA). Se a fundação é pública de direito privado, ela é
chamada de fundação governamental (segue as mesmas regras da empresa pública e
sociedade de economia mista = então a lei AUTORIZA A CRIAÇÃO). CONCLUI-SE,
PORTANTO, QUE A FUNDAÇÃO REFERIDA NO ARTIGO 37 DA CF É UMA
FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PRIVADO.
e) Estão sujeitas a controle interno e externo. Não existe hierarquia entre as pessoas
jurídicas da administração direta e indireta, pois a hipótese é de descentralização e não de
desconcentração. O que existe é controle (Ex. de controle no âmbito do poder legislativo:
Tribunal de Contas, CPI; controle no âmbito do judiciário: através das diversas ações
judiciais; no âmbito do executivo: supervisão ministerial – se eu tenho uma autarquia na área
da saúde quem controla é o ministério da saúde).
A supervisão ministerial controla primeiramente a finalidade (princípio da
especialidade) e posteriormente as receitas e despesas (aplicação da regra orçamentária).
O chefe do executivo é quem nomeia o dirigente da pessoa jurídica da administração
indireta, em regra (então ele acaba “mandando”). Excepcionalmente, o PR não poderá
nomear sozinho, precisará de prévia aprovação do Senado Federal. Ex: Banco Central e
Agências Reguladoras – Ler artigos 48, 49 e 50 da CF.
Até o final de 2005, o STF albergava a ideia de que o TC não poderia controlar SEM.
Hoje, o entendimento é diverso. O Tribunal de Contas pode controlar as SEM, autarquias,
empresas públicas, enfim, todas as pessoas da administração pública indireta.
6.5.1. - AUTARQUIAS
a) Conceito: É pessoa jurídica de direito público, dotada de capital exclusivamente
público, com capacidade administrativa e criada para a prestação de serviço público (realizam
atividades típicas de Estado - recebe titularidade + execução = outorga).
b) Regime Jurídico: (é praticamente igual ao regime da administração direta, tem
tratamento de Fazenda Pública).
c) Criação e extinção: por lei – art. 37, XIX, da CF – lembrar do paralelismo de
formas;
d) Controle: interno e externo
e) Atos e Contratos: os atos das autarquias seguem regime administrativo (seus atos
gozam de imperatividade, auto-executoriedade) e seus contratos obedecem à Lei nº 8.666/93
(para contratar tem que licitar);
f) Responsabilidade Civil: é, em regra, objetiva – conduta comissiva (art. 37, § 6º, da
CF) - e subsidiária do Estado. Será subjetiva, nos casos de omissão. O carro de uma
autarquia atropela uma pessoa e a vítima quer interpor uma ação – tal ação deve ser ajuizada
contra a própria autarquia, mas se esta não tiver dinheiro para pagar, o Estado responde
subsidiariamente.

45
g) Responsabilidade Solidária = ambos respondem ao mesmo tempo; não há ordem
de preferência; Responsabilidade Subsidiária = há ordem de preferência: cobra-se primeiro
da autarquia e, se esta não tiver patrimônio, chama o Estado para responder.
Questão: a responsabilidade do Estado por ato de autarquia é objetiva (verdadeiro). É
objetiva e subsidiária.
h) Prazo prescricional para ajuizar ação contra autarquia: prescrição qüinqüenal,
segundo a posição majoritária – Decreto nº 20.910/32. Segundo José dos Santos Carvalho
Filho (posição minoritária), se a ação for de reparação civil, o prazo será de 03 anos
(orientação do artigo 206 do NCC);
i) Bens autárquicos: seguem o regime de bem público (são alienáveis de forma
condicionada, que é o mesmo de dizer que são inalienáveis de forma relativa - preenchidas
algumas condições eu posso alienar; são impenhoráveis – então não podem ser objeto de
penhora, de arresto e de seqüestro, justamente porque não podem ser alienados em hasta
pública e não podem ser convertidos em penhora; não podem ser objeto de oneração e são
imprescritíveis).
j) Débitos judiciais: seguem regime de precatório (art.100 da CF); Alimentos seguem
o regime de precatório? Seguem. Só que têm uma lista própria. OBS: a autarquia também tem
fila própria;
k) Privilégios processuais: a autarquia, tendo tratamento de Fazenda Pública, tem
prazos dilatados: quádruplo para contestar e dobro pra responder (artigo 188 do CPC); tem
juízo privativo e reexame necessário, também chamado de duplo grau obrigatório ou recurso
de ofício (mesmo não tendo recurso voluntário, a decisão tem que ser revista pelo tribunal.
Exceção: matéria já julgada pelo pleno do tribunal ou já decidida por Súmula do STF e valor
de até 60 salários mínimos). Se o reexame for necessário e o juiz esquecer de mandar para o
Tribunal, a decisão não transita em julgado;
l) Regime Tributário: Imunidade tributária para os impostos (nada impede a
cobrança de taxa ou de contribuição), desde que ligada à sua finalidade específica (art. 150,
VI, ‘a”, e § 2º da CF). As autarquias podem pagar impostos se não ligados à finalidade
específica.

Artigo 150, inciso VI, a, § 2º, da CF - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às
autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao
patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.

DIREITO ADMINISTRATIVO NA PRÁTICA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL.


LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS. EXAMES LABORATORIAIS
REALIZADOS NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA
“A”, § 2º, DA CF. NÃO APLICABILIDADE. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
PÚBLICO DE SAÚDE REALIZADO COM INTUITO LUCRATIVO.
REMUNERAÇÃO DO SERVIÇO PELO FUNDO ESTADUAL DE SAÚDE,
APTO A ENSEJAR A INCIDÊNCIA DO ISS. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO

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PRIVADO NÃO INTEGRANTE DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA. NÃO
CONFIGURAÇÃO ADEMAIS, DE ENTIDADE FILANTRÓPICA OU SEM FIM
LUCRATIVO, A FIM DE ATRAIR A REGRA IMUNIZANTE DA ALÍNEA “C”
DO INC. VI DO ART. 150 DA CF. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. (TJPR - 2ª Câmara Cível - 0004021-11.2017.8.16.0193 - Colombo
- Rel.: DESEMBARGADOR ANTONIO RENATO STRAPASSON - J.
10.03.2020)

Procedimentos financeiros: a autarquia está sujeita à regra de contabilidade pública,


de responsabilidade fiscal? Sim, Lei nº 4.320/64 e LC nº 101/00;
m) Regime de pessoal: os seus agentes são servidores públicos, podendo ser
estatutários ou celetistas, a depender da previsão legal. O texto original da CF/88 estabelecia
que os servidores deveriam seguir Regime Jurídico Único = um só regime (todos estatutários
ou todos celetistas, preferencialmente o primeiro). Em 1.998, a EC nº 19 aboliu o RJU e
passou a admitir o regime múltiplo (na mesma pessoa jurídica poderia haver dois regimes) =
alteração do artigo 39 da CF. Essa EC foi objeto da ADIN 2135, onde o STF, em sede
cautelar, declarou inconstitucional o artigo 39 (por conta da forma, pois a EC não foi
aprovada nas duas casas). Assim, a partir de tal ADIN, restabelece-se no Brasil o RJU.
Quando o mérito for analisado, decidirá o que fazer com as pessoas jurídicas que já
misturaram os dois regimes. OBS: nunca se exigiu ser o regime estatutário, mas sim ser um
regime único.
n) Autarquias Profissionais (conselhos de classe): Atenção à situação excepcional da
OAB - NOTÍCIA IMPORTANTE: OAB pode contratar sem concurso público.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente, por nove votos a
dois, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3026 ajuizada pela Procuradoria Geral da
República (PGR), contestando dispositivo da Lei 8906/94, do Estatuto da Advocacia, que
entendia ser necessário concurso público para o ingresso nos quadros da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Na ação, o PGR defendia que a OAB é uma autarquia especial,
devendo reger-se, pelos princípios da administração pública e contratar seus funcionários por
meio de concurso público. No início do julgamento da ADI, em 23 de fevereiro de 2005,
votaram pelo não conhecimento da ação os ministros Celso de Mello, Sepúlveda Pertence e
Nelson Jobim. O ministro-relator, Eros Grau, e os ministros Carlos Ayres Britto e Cezar
Peluso conheceram da ação, mas entenderam não ser exigível o concurso público para
ingresso na OAB. Joaquim Barbosa votou pela procedência da ADI e Gilmar Mendes pediu
vista. Em seu voto-vista hoje (08/06) o ministro Gilmar Mendes considerou ser exigível o
concurso público para o ingresso nos quadros funcionais da OAB. Seu entendimento foi
acompanhado por Joaquim Barbosa. O ministro-relator Eros Grau reafirmou seu
entendimento e ressaltou a independência e autonomia da OAB argumentando que “o
princípio republicano se afirma na medida em que se assegure a independência de
determinadas instituições”. Assim também entendeu Carlos Ayres Britto que observou que a
OAB deve permanecer desatrelada do poder público, e fora do alcance de sua fiscalização.
"Ela deve é fiscalizar com toda autonomia, com toda independência o poder público, tal como
faz a imprensa”. Na mesma linha votou Ricardo Lewandowski. Marco Aurélio votou pela
total improcedência da ADI e destacou que o Supremo só poderia aceitar a proposta dessa
ação, se nela tivesse preceito ambíguo a ser resolvido, “sob pena de o STF se transformar em

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legislador positivo ou órgão consultivo”. Já o ministro Cezar Peluso confirmou seu voto.
Assim também votaram os ministros Celso de Mello, Sepúlveda Pertence e a ministra-
presidente, Ellen Gracie. Dessa forma, a ADI 3026 foi julgada improcedente, por maioria.
FONTE: STF - Sugestão: Ler Informativo nº 430 do STF

INFORMATIVO 430 DO STF - Lei 8.906/94, Art. 79, Caput e § 1º - 2 - Concluído


julgamento de ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República, na qual se objetivava
a declaração de inconstitucionalidade da expressão "sendo assegurando aos optantes o
pagamento de indenização, quando da aposentadoria, correspondente a cinco vezes o valor da
última remuneração", contida no § 1º do art. 79 da Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB), e, ainda, a
interpretação conforme o inciso II do art. 37 ao caput do referido art. 79, no sentido de ser
exigível o concurso público para provimento dos cargos da OAB - v. Informativo 377. No que
se refere ao caput do art. 79 da Lei 8.906/94, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente o
pedido formulado, por entender que, em razão de a OAB não integrar a Administração
Pública, não se haveria de exigir a regra do concurso público. Vencidos, no ponto, os
Ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes que davam interpretação conforme, com
eficácia ex nunc, ressalvando os cargos de chefia, direção ou assessoramento, por considerar
que a OAB exerce serviço público de forte caráter estatal e submete-se, por isso, ao regime
republicano do concurso público. Quanto ao § 1º do art. 79 da lei impugnada, o Tribunal, à
unanimidade, julgou improcedente o pedido formulado, por não vislumbrar a alegada violação
ao princípio da moralidade administrativa (Lei 8.906/94: "Art. 79. Aos servidores da OAB,
aplica-se o regime trabalhista. § 1º Aos servidores da OAB, sujeitos ao regime da Lei nº
8.112, de 11 de dezembro de 1990, é concedido o direito de opção pelo regime trabalhista, no
prazo de noventa dias a partir da vigência desta lei, sendo assegurado aos optantes o
pagamento de indenização, quando da aposentadoria, correspondente a cinco vezes o valor da
última remuneração."). Asseverou-se, no ponto, que a previsão de indenização seria razoável
porque destinada a compensar, aos optantes pelo regime celetista, a perda de eventuais
direitos e vantagens até então integrados ao patrimônio dos funcionários, e que o dispositivo
estatuiu disciplina proporcional e consoante os princípios da igualdade e isonomia. Além
disso, o preceito já teria produzido efeitos, devendo ser preservadas as situações constituídas
por questões de segurança jurídica e boa-fé. ADI 3026/DF, rel. Min. Eros Grau, 8.6.2006.
(ADI-3026).
A OAB, de acordo com o entendimento do STJ, e uma autarquia especial que não se
sujeita à fiscalização do Tribunal de Contas da União (Cespe).
A Lei nº 9.649/98 passa a admitir o Conselho de Classe como pessoa jurídica de
direito privado. Na ADIN 1.717 o STF disse que dar poder de polícia a uma pessoa privada
significa insegurança jurídica, por isso, declara o supremo que o conselho de classe não pode
ser pessoa jurídica de direito privado. Restabelece-se, assim, a natureza de autarquia, como
era antigamente. Daí vem a pergunta: já que é autarquia, a anuidade do conselho de classe tem
natureza tributária? Sim, e se não for pagar cabe execução fiscal. Enquanto autarquia o TC
pode controlar? Sim. Também esta sujeita a exigência de concurso público. Ajuizada a ADIN
3026, que discute especificamente a situação da OAB = nesta ação, o STF surpreende e diz
que não procede a alegação de que a OAB sujeita aos ditames da administração direta e
indireta (é uma categoria ímpar e não uma autarquia especial = porque exerce função especial
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da justiça). Então, a anuidade não tem natureza de tributo, a OAB não está sujeita a
execução fiscal, a contabilidade não é pública, o TC não pode controlar e não está sujeita
a concurso público. Depois de tal decisão, vários conselhos ajuizaram pedidos perante o
STF, com vistas a escapar da exigência de concurso público.
o) Autarquias Territoriais: Não se confundem com as autarquias administrativas e
não compõem a Administração Indireta. Aproximam-se muito dos entes políticos. Foi essa
saída que a doutrina encontrou para dar ao território a natureza de direito público.
p) Autarquia de regime especial = surgiu inicialmente para definir as universidades
públicas. É uma autarquia, mas com algumas especificidades: o reitor, que é o dirigente, é
escolhido via eleição (ao contrário da indireta que é escolhido pelo PR); as universidades
têm liberdade para escolher a grade curricular (tratamento de mais liberdade, de mais
autonomia).
A partir de 1.995 o Brasil entra na chamada política das privatizações
(desestatizações), daí surge a necessidade de controle = de conseqüência, surgem as agências
reguladoras.

6.5.2. AGÊNCIAS REGULADORAS


a) Conceito: Autarquia de regime especial. Surge em razão do fim do monopólio
estatal.
b) Regime especial: enquanto autarquia, as agências reguladoras seguem as mesmas
regras analisadas acima, mas, por serem especiais, terão tratamento diferenciado em alguns
aspectos. Caracteriza-se por três elementos: MAIOR INDEPENDÊNCIA (mais autonomia,
mais liberdade = fundamento: porque as AR servem para regular, fiscalizar e normatizar as
diversas atividades), INVESTIDURA ESPECIAL (depende de aprovação prévia do Poder
Legislativo / a nomeação dos dirigentes depende de prévia sabatina do SF = Senado aprova e
o PR nomeia), e MANDATO, com prazo fixo, conforme lei que cria a pessoa jurídica (os
dirigentes são nomeados com mandato fixo = cada agência tem um prazo diverso). Mas os
dirigentes podem sair antes de findar o prazo do mandato em caso de renúncia, conduta
criminosa ou processo disciplinar.
OBS: terminado o mandato, o dirigente da agência não poderá trabalhar na mesma
atividade na iniciativa privada pelo período de quarentena (04 meses) – pois ele
tem várias informações privilegiadas. Algumas agências têm quarentena de 12
meses.
c) Função: São responsáveis pela regulamentação, controle e fiscalização de serviços
públicos, atividades e bens transferidos ao setor privado. A função da Agência Reguladora
de normatizar significa o quê? Não significa fazer leis, mas sim complementá-las, definindo
normas técnicas.
Impropriedades - Alguns aspectos:
d) Regime de pessoal: estatutário – a Lei 9.986/00 diz que o regime de pessoal da
Agência Reguladora deve ser o da CLT, com contrato temporário. Esta regra foi objeto da
49
ADIN 2310, onde o STF disse, em sede cautelar, que essa disposição é inconstitucional (não
pode ser contratado temporariamente se trata de uma necessidade permanente = além disso,
contrato temporário não depende de concurso). Antes de o STF chegar ao mérito da questão, o
PR editou a MP 155/03 com o fim de criar vários cargos públicos. Tal MP foi convertida na
Lei 10.871/04. Então, quando a Lei 10.871 foi editada, a ADIN 2310 perdeu o objeto. Logo
após a extinção da ADIN, o PR editou uma outra MP (nº 269/05) com vistas a prorrogar os
contratos temporários firmados por diversas agências reguladoras e pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) até 31 de março de 2007. O procurador-geral da
República, Antônio Fernando Souza, ajuizou no Supremo uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 3678) contra o artigo 10 da Medida Provisória (MP) nº 269, de 15
de dezembro de 2005. A Medida Provisória 269/05 foi convertida na Lei 11.292/2006, sendo,
por conseguinte, a mencionada ADIN devidamente aditada. Até a presente data não há
decisão sobre a matéria, estando os autos conclusos ao relator desde 05/07/2006. OBS: no dia
26/12/2007 o PR editou a MP 407, prorrogando os contratos temporários de algumas agências
até 31/07/09.
e) Licitação: a Agência Reguladora está sujeita à licitação? A Lei 9.472/97 (Anatel)
excluiu as Agências Reguladoras das normas da Lei 8.666/93. Tal lei estabelece ainda que a
agência reguladora vai ter como modalidade de licitação o pregão e a consulta. Será que essa
lei é constitucional? Sendo objeto da ADIN 1668 o STF disse que as Agências Reguladoras
não podem escapar da Lei 8.666/93, vez que obrigadas a licitar. Todavia, podem adotar as
modalidades específicas do pregão e da consulta (a modalidade específica mesmo é a
consulta, a qual ainda não foi regulamentada).
Exemplos de Agências Reguladoras de SERVIÇOS: ANEEL (agencia nacional de
energia elétrica); ANATEL (telecomunicações), ANS (agencia nacional de saúde), ANVISA
(de vigilância sanitária), ANTT (transporte terrestre), ANTAQ (transporte aquaviário), ANAC
(aviação civil).
Exemplo de Agência Reguladora PARA FISCALIZAR A EXTRAÇÃO DO
PETRÓLEO: ANP;
Exemplo de Agência Reguladora PARA CUIDAR DE BEM PÚBLICO: ANA
(águas);
Exemplo de Agência Reguladora PARA BUSCAR O FOMENTO: ANCINE (agência
nacional de cinema).
OBS: Nem tudo que tem nome de agência é AR, podendo ser só uma autarquia
= ADA (agência de desenvolvimento da Amazônia), ADENE (agência de
desenvolvimento do nordeste) e AEB (agência especial brasileira). Com natureza
de órgão nós encontramos a ABIN (cuida da segurança nacional, investiga as
espionagens).
OBS 2: A CVM (comissão de valores mobiliários) é agência reguladora mas
não tem o nome característico de agência.
Dica: as Agências Reguladoras, em regra, iniciam-se com as letras: “AN"
(agência nacional).

50
6.5.3 - AGÊNCIAS EXECUTIVAS
a) Conceito: são velhas autarquias ou velhas fundações ineficientes e que precisam ser
melhoradas; para tanto, elaboram um plano estratégico de reestruturação, celebrando com a
Administração Direta um contrato de gestão. Através deste contrato de gestão, a pessoa
jurídica recebe mais liberdade e mais recursos públicos (dinheiro) - Lei nº 9.649/98.
A Agência Executiva recebe esse nome através de um decreto do PR e é um status
temporário (vencido o contrato de gestão, volta a ser simplesmente autarquia ou fundação).
Crítica: a autarquia e a fundação já deveriam ser eficientes desde o início. Ademais, o
contrato de gestão não pode dar mais liberdade ou dinheiro que a lei deu.
b) Dever de licitar - (art. 24, parágrafo único, Lei 8.666/93).
Exemplo de Agência Executiva atual: INMETRO.

6.5.4. FUNDAÇÃO PÚBLICA


a) Conceito: É uma pessoa jurídica composta por um patrimônio personalizado,
destinado pelo seu fundador para uma finalidade específica. Pode ser pública ou privada de
acordo com a sua instituição, sendo que somente a pública, portanto, instituída pelo Poder
Público, é que compõe a Administração Indireta.
b) Natureza Jurídica: pode ser de direito público, caracterizando uma espécie de
autarquia, denominada autarquia fundacional, ou de direito privado, denominada fundação
governamental, e seguirá o regime das empresas públicas e sociedades de economia mista.
c) Características das fundações instituídas pelo Poder Público (TJDF/2004):
realizam atividades não lucrativas e atípicas do poder público; sua instituição depende de
autorização de lei específica; lei complementar define as áreas de sua atuação (art. 37, XIX,
CF); seus dirigentes são considerados “autoridades” no desempenho de função delegada.

6.5.4. EMPRESAS ESTATAIS


São aquelas que pertencem ao Estado. Nem toda empresa que o Estado participa
compõe a Administração Pública. Somente compõem a classe das empresas estatais as
empresas públicas e as sociedades de economia mista.
6.5.4.1. Empresa pública
Apesar do nome, trata-se de pessoa jurídica de direito privado. O nome deriva do
fato de o capital ser exclusivamente público. Serve para prestação de serviços públicos ou
para exploração da atividade econômica.
É possível que o capital da empresa pública seja de mais de uma pessoa jurídica
(autarquia e Estado, União e Municípios, ou dois Estados, por exemplo)?

51
Sim. Basta que o capital seja público (qualquer modalidade empresarial pode ser
utilizada).
Finalidade: prestação de serviços públicos ou exploração da atividade econômica.
A sua constituição pode ser de qualquer modalidade empresarial, inclusive S/A.

6.5.4.2. Sociedade de economia mista

Trata-se de pessoa jurídica de direito privado. O seu CAPITAL é MISTO (uma


parte pública e uma parte privada). A maioria votante do capital, todavia, deve estar nas mãos
do poder público.
Finalidade: é a mesma da EP, ou seja, prestação de serviço público ou exploração de
atividade econômica.
Deve ser constituída, necessariamente, na forma de S/A (ao contrário da EP, que pode
utilizar qualquer modalidade empresarial).

DISTINÇÃO
Empresa pública Sociedade de economia mista

 Capital público;  Capital misto;


 Constituição por qualquer modalidade  Constituída necessariamente na forma de
empresarial; S/A;
 Competência para o julgamento das  Competência para o julgamento das
ações: EP Federal = competência da ações: SEM Federal = competência da
Justiça Federal (artigo 109, I, CF). Se a Justiça Estadual. SEM Estadual ou
EP for Estadual ou Municipal, a Municipal = competência da JE.
polêmica não existe, sendo de
competência da JE.

Ver Súmulas 517 e 556 do STF: 1ª) “As SEM só tem foro na JF, quando a União
intervêm como assistente ou opoente” e 2ª) “É competente a justiça comum para julgar as
causas em que é parte SEM”.
O regime das empresas estatais, apesar de ser pessoa jurídica de direito privado, é
considerado HÍBRIDO/MISTO. O nosso regime vai ser mais público ou mais privado, de
acordo com a finalidade. Dependendo da finalidade (prestadora de serviço público ou
exploradora de atividade econômica), aproxima-se mais do regime público ou privado.
Assim, tratando-se de prestadora de serviço público, o seu regime aproxima-se àquele
das autarquias.
As exploradoras de atividade econômica (art. 173 CF) só podem ser criadas por
motivo de segurança nacional e relevante interesse coletivo. Não podem ser criadas para mera
obtenção de lucro. Tratando-se de exploradoras de atividade econômica, aproxima-se mais do
regime privado.
52
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou
a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da
sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem
atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de
prestação de serviços, dispondo sobre:
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
sociedade;
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais,
trabalhistas e tributários;
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações,
observados os princípios da administração pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração
e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos
administradores.
§ 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não
poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor
privado.
§ 3º A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado
e a sociedade.
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento
arbitrário dos lucros.
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes
da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a
as punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra
a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

6.5.4.2 Regime jurídico aplicável às empresas estatais (EP e SEM):


Para a criação de tais empresas, é necessário a edição de lei específica autorizadora e
registro no órgão competente (art. 37, XIX CF)
Há possibilidade de criação de subsidiárias, desde que haja autorização legal. É
possível que a mesma lei autorize a criação da empresa pública e preveja também a
possibilidade de criação das subsidiárias.

53
As empresas estatais estão sujeitas a controle?
Empresa pública tem controle pelo Tribunal de Contas, não sendo o caso de Sociedade
de Economia Mista. Este era o posicionamento pretérito do STF. Atualmente, desde janeiro
do ano de 2006, tem dinheiro público, tem Tribunal de Contas! (STF).
As empresas públicas estão ou não sujeitas à Lei de Licitação? O tratamento vai
depender da finalidade. Se prestadora de serviço público, estão sujeitas à obrigatoriedade de
licitar, seja EP ou SEM (artigo 1º da Lei 8.666/93); Se exploradoras da atividade econômica,
também deverão licitar. A lei 8.666/93 não distingue e o artigo 173, § 1º, III, da CF autoriza a
criação de estatuto próprio = como esse estatuto ainda não veio, aplica-se a norma geral, que é
o artigo 1º da Lei de Licitação. PERGUNTA: Mas porque na prática essas empresas nunca
licitam? Porque a própria lei institui dispensas (artigos 17 e 24 da Lei 8.666/93) e
inexigibilidades (artigo 25).
Dispensa = regra geral para todas as pessoas jurídicas: valor pequeno (10% do valor
do convite). Para as empresas, o limite é 20% (é dobrado – artigo 24, parágrafo único).
CONCURSO: As empresas públicas e as SEM não precisam licitar na sua atividade
fim. Correto. A licitação será inexigível quando prejudicar o interesse público, quando
prejudicar o interesse fim da empresa. Se a licitação tem por fim proteger o interesse público
(escolhendo a proposta mais vantajosa para a administração), ela não pode prejudicar esse
mesmo interesse. OBS: o rol do artigo 25 é exemplificativo. Ex: Se uma gráfica pública tem
que competir com uma gráfica privada, a licitação atrapalhará a sua atividade fim (se tiver que
comprar papel, por exemplo). Mas, para construir uma nova sede, a gráfica pública terá que
licitar, porque tal atividade não é fim.
As empresas estatais estão sujeitas a falência?
Art. 2º da Lei de Falências (Lei 11.101/2005) – as empresas estatais não estão sujeitas
à falência. Não cabe mais a antiga diferenciação que se fazia entre a prestadora de serviço
público e a exploradora de atividade econômica.
Alguns doutrinadores, entre eles Celso Antônio Bandeira de Melo, continuam
entendendo que as prestadoras de serviço público, consoante dispõe a lei, não estão sujeitas à
falência. Por outro lado, as exploradoras de atividade econômica, para ele, sujeitam-se à
falência, tendo em vista que se aproximam mais do regime jurídico privado, o qual inclusive
previsto constitucionalmente. Daí porque o doutrinador entende que a norma do art. 2º da LF
é inconstitucional.

7. Contratações Públicas

7.1. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS (Título III da Lei 14.133/2021) –


art. 89 a 154 da Lei 14.133/2021 (que entra em vigor dia 02/04/20223), com a seguinte
disposição:
Capítulo I – Da formalização dos contratos – art. 89 a 95;
54
Capítulo II – Das garantias – art. 96 a 102;
Capítulo III – Da alocação dos riscos – art. 103;
Capítulo IV – Das prerrogativas da Administração – art. 104;
Capítulo V – Da duração dos contratos –art. 105 a 114;
Capítulo VI – Da execução dos contratos – art. 115 a 123;
Capítulo VII – Da alteração dos contratos – art. 124 a 136;
Capítulo VIII – Das hipóteses de extinção – art. 137 a 139;
Capítulo IX – Do recebimento do contrato – art. 140;
Capítulo X – Dos pagamentos – art. 141 a 146;
Capítulo XI – Das nulidades – art. 147 a 150;
Capítulo XII – Dos meios alternativos de resolução de controvérsias – art. 151 a
154;

No sentido comum, o contrato corresponde a formalização de uma manifestação


de vontade entre partes capazes, com objeto específico e lícito. Quando uma das partes
contratantes é a Administração Pública, guarda algumas peculiaridades em relação à
contratação entre particulares, sobretudo no que se refere a cláusulas exorbitantes, causas de
revisão e formas de extinção.
No exercício das atividades de gestão pública, a Administração celebra contratos
de direito público (predominam as normas de Direito Público) e de direito privado (não está
presente como Poder Público, mas na condição equivalente ao particular).
- Conceito - O contrato administrativo é uma espécie do gênero de contrato. Deve-
se ressaltar que nem todo o contrato que a administração celebra é contrato administrativo.
Somente o contrato regido pelo regime público é que consiste em contrato administrativo.
Entretanto, todo o contrato celebrado pela administração é chamado de contrato da
administração. A principal distinção é a presença de cláusulas exorbitantes ou de privilégio
presente no contrato administrativo (ex.: prazo de inadimplemento).
Assim, o contrato administrativo é um ato jurídico bilateral, um vínculo jurídico
capaz de criar uma prestação e uma contraprestação que irá criar, modificar ou extinguir
direitos. O vínculo jurídico é de regime público, sendo exigida a presença da administração.
Obs.: 1. nos contratos de direito privado celebrados pela Administração Pública
também pode haver cláusulas exorbitantes, contudo deve constar expressamente no
instrumento e com aceitação do contratado (art. 62, § 3º da Lei 8.666/93).

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Obs.: 2. é possível a aplicação das normas de direito privado aos contratos
públicos, de forma supletiva (art. 54 Lei 8.666/93).
Nem todo pacto celebrado pela Administração Pública é materializada num
contrato, podendo também ser elaborado por convênio ou consórcio.

Espécies CONTRATO CONVÊNIO CONSÓRCIO


Objetivo Acordo de vontades Acordo de vontades Acordo de vontades
Quem pode Administração com o Administração com Somente entre entes
celebrar particular ou outra particular ou com federativos: União,
pessoa da outra pessoa da Estados, DF e
Administração. Administração Municípios.
Interesses São opostos São convergentes ao São convergentes ao
interesse público interesse público.
Licitação Pressupõe licitação, Não exige licitação Não há licitação.
salvo inexigibilidade (art. 116 da Lei
8666/93).
Quanto ao Não nasce uma nova Não surge uma nova Surge uma nova pessoa
surgimento pessoa jurídica pessoa jurídica jurídica diversa dos
participantes.

7.2. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


a) Formal: exige um instrumento que materializa o acordo de vontades
estabelecido;
b) Contrato consensual: o aperfeiçoamento é consagrado com a manifestação da
vontade. É diferente do contrato real, que depende da entrega do bem.
c) Comutativo (diferente de aleatório): a prestação e a contraprestação tem que ser
equivalentes de previamente determinadas;
d) Personalíssimo: o contrato leva em consideração as qualidades do contratado.
Em tese não é possível a subcontratação (regra), porém a lei traz hipóteses em que é possível
a subcontratação (previsão no edital e no contrato + anuência da administração – caso
contrário, haverá rescisão do contrato).
A doutrina estabelece outros dois requisitos para a subcontratação:
1) preenchimento dos requisitos da licitação (idoneidade fiscal, financeira, etc.);

56
2) não é possível subcontratar a totalidade do contrato, somente partes deste.
e) Adesão: as regras são impostas pela administração, não havendo a possibilidade
de discussão de cláusulas contratuais

7.3. FORMALIDADES DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


a) Contrato escrito: é a regra, sendo admitido o contrato verbal em três situações:
Art. 95, § 2º, a NLL dispõe: “É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a
Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação de serviços de pronto
pagamento, assim entendidos aqueles de valor não superior a dez mil reais”
Admite-se o contrato eletrônico (art. 91, § 3º).
b) Publicação: condição de eficácia. Se o contrato não for publicado ele é válido,
mas não é eficaz e não produzirá efeitos.
Art. 95, § 2º, a NLL dispõe: “É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a
Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação de serviços de pronto
pagamento, assim entendidos aqueles de valor não superior a dez mil reais” Ainda, dispõe o
art. 95: Art. 91. Os contratos e seus aditamentos terão forma escrita e serão juntados ao
processo que tiver dado origem à contratação, divulgados e mantidos à disposição do público
em sítio eletrônico oficial.” O sigilo só é admitido quando imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.
Também como condição de eficácia, os contratos administrativos e aditamentos,
mesmo que celebrados em regime de urgência, devem ser divulgados no Portal Nacional de
Contratações Públicas (PNCP) nos seguintes prazos, contados da data de sua assinatura (art.
94):
a) 20 (vinte) dias úteis, no caso de licitação;
b) 10 (dez) dias úteis, no caso de contratação direta.
Quando a contratação for de profissional artístico, com inexigibilidade de
licitação, a publicação deve divulgar: os custos do cachê do artista, dos músicos ou da banda,
quando houver, do transporte, da hospedagem, da infraestrutura, da logística do evento e das
demais despesas específicas.

7.4. DA FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS – art.


89 a 95 da Lei 14.133/21;

57
Os contratos administrativos regulam-se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de
direito público, e a eles serão aplicados, supletivamente, os princípios da teoria geral dos
contratos e as disposições de direito privado.
Encerrado o processo licitatório, a Administração convoca o vencedor para assinar
o termo de contrato, no prazo (pode haver uma prorrogação) e condições previstas no edital,
sob pena de decadência do direito, além de outras implicações. A recusa injustificada pode
levar a perda da garantia de proposta em favor da Administração. Se o vencedor não
comparecer, a Administração pode convocar os demais, na ordem de classificação. Caso
nenhum licitante aceitar a contratação, a Administração poderá:
a) convocar os licitantes remanescentes para negociação, na ordem de
classificação, com vistas à obtenção de preço melhor, mesmo que acima do preço
do adjudicatário;
b) adjudicar e celebrar o contrato nas condições ofertadas pelos licitantes
remanescentes, atendida a ordem classificatória, quando frustrada a negociação de
melhor condição.
Antes de celebrar ou prorrogar a vigência de um contrato, a Administração deve
verificar a regularidade fiscal do contratado.
DIREITO ADMINISTRTIVO NA PRÁTICA
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. CHEQUE
PRESCRITO. CONTRATO VERBAL DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
TRANSPORTE. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO E PRÉVIO EMPENHO.
ALEGADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 59, § 4º, DA LEI 4.320/64, 59 E 60,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.666/93. OCORRÊNCIA.
OBRIGATORIEDADE DA LICITAÇÃO. PRINCÍPIO DE ORDEM
CONSTITUCIONAL (CF/88, ART. 37, XXI). FINALIDADE (LEI 8.666/93, ART.
3º). FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS. REGRA
GERAL: CONTRATO ESCRITO (LEI 8.666/93, ART. 60, PARÁGRAFO
ÚNICO). INOBSERVÂNCIA DA FORMA LEGAL. EFEITOS. NULIDADE.
EFICÁCIA RETROATIVA (LEI 8.666/93, ART. 59, PARÁGRAFO ÚNICO).
APLICAÇÃO DAS NORMAS DE DIREITO FINANCEIRO. PROVIMENTO.
1. Da análise do acórdão recorrido, verifica-se que não há dúvidas quanto à
existência do contrato verbal de prestação de serviços celebrado entre o Município
de Morretes/PR e a Viação Estrela de Ouro Ltda, bem como do cheque emitido e
não-pago pela municipalidade a título de contraprestação pelo arrendamento de três
ônibus efetivamente utilizados no transporte coletivo. Nesse contexto, a questão
controvertida consiste em saber se, à luz das normas e princípios que norteiam a
atuação da Administração Pública, é válido e eficaz o contrato administrativo verbal
de prestação de serviço firmado.
2. No ordenamento jurídico em vigor, a contratação de obras, serviços, compras e
alienações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e entidades da administração pública indireta, está subordinada ao
princípio constitucional da obrigatoriedade da licitação pública, no escopo de
assegurar a igualdade de condições a todos os concorrentes e a seleção da proposta
mais vantajosa (CF/88, art. 37, XXI; Lei 8.666/93, arts. 1º, 2º e 3º).

58
3. Além disso, a Lei 8.666/93, na seção que trata da formalização dos contratos
administrativos, prevê, no seu art. 60, parágrafo único, a regra geral de que o
contrato será formalizado por escrito, qualificando como nulo e ineficaz o contrato
verbal celebrado com o Poder Público, ressalvadas as pequenas compras de pronto
pagamento, exceção que não alcança o caso concreto.
4. Por outro lado, o contrato em exame não atende às normas de Direito Financeiro
previstas na Lei 4.320/64, especificamente a exigência de prévio empenho para
realização de despesa pública (art.
60) e a emissão da 'nota de empenho' que indicará o nome do credor, a importância
da despesa e a dedução desta do saldo da dotação própria (art. 61). A inobservância
dessa forma legal gera a nulidade do ato (art. 59, § 4º).
5. Por todas essas razões, o contrato administrativo verbal de prestação de serviços
de transporte não-precedido de licitação e prévio empenho é nulo, pois vai de
encontro às regras e princípios constitucionais, notadamente a legalidade, a
moralidade, a impessoalidade, a publicidade, além de macular a finalidade da
licitação, deixando de concretizar, em última análise, o interesse público.
6. No regime jurídico dos contratos administrativos nulos, a declaração de nulidade
opera eficácia ex tunc, ou seja, retroativamente, não exonerando, porém, a
Administração do dever de indenizar o contratado (Lei 8.666/93, art. 59, parágrafo
único), o que, todavia, deve ser buscado na via judicial adequada.
7. Recurso especial provido.
(REsp n. 545.471/PR, relatora Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em
23/8/2005, DJ de 19/9/2005, p. 187.)

7.4.1. CLÁUSULAS CONTRATUAIS


Necessárias: são as cláusulas obrigatórias no contrato
Art. 92. São necessárias em todo contrato cláusulas que estabeleçam:
I - o objeto e seus elementos característicos;
II - a vinculação ao edital de licitação e à proposta do licitante vencedor ou ao ato
que tiver autorizado a contratação direta e à respectiva proposta;
III - a legislação aplicável à execução do contrato, inclusive quanto aos casos
omissos;
IV - o regime de execução ou a forma de fornecimento;
V - o preço e as condições de pagamento, os critérios, a data-base e a
periodicidade do reajustamento de preços e os critérios de atualização monetária
entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
VI - os critérios e a periodicidade da medição, quando for o caso, e o prazo para
liquidação e para pagamento;
VII - os prazos de início das etapas de execução, conclusão, entrega, observação e
recebimento definitivo, quando for o caso;
VIII - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação
funcional programática e da categoria econômica;
IX - a matriz de risco, quando for o caso;

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X - o prazo para resposta ao pedido de repactuação de preços, quando for o caso;
XI - o prazo para resposta ao pedido de restabelecimento do equilíbrio
econômico-financeiro, quando for o caso;
XII - as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas,
inclusive as que forem oferecidas pelo contratado no caso de antecipação de
valores a título de pagamento;
XIII - o prazo de garantia mínima do objeto, observados os prazos mínimos
estabelecidos nesta Lei e nas normas técnicas aplicáveis, e as condições de
manutenção e assistência técnica, quando for o caso;
XIV - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os
valores das multas e suas bases de cálculo;
XV - as condições de importação e a data e a taxa de câmbio para conversão,
quando for o caso;
XVI - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato,
em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições
exigidas para a habilitação na licitação, ou para a qualificação, na contratação
direta;
XVII - a obrigação de o contratado cumprir as exigências de reserva de cargos
prevista em lei, bem como em outras normas específicas, para pessoa com
deficiência, para reabilitado da Previdência Social e para aprendiz;
XVIII - o modelo de gestão do contrato, observados os requisitos definidos em
regulamento;
XIX - os casos de extinção.

Sempre deverá prever como competente para dirimir as controvérsias decorrentes


da contratação o foro da Administração, ressalvadas licitação internacional, contratação com
empresa estrangeira (para compra e entrega de equipamentos entregues no exterior, mediante
autorização do chefe do poder executivo) e aquisição de bens por unidades da Administração
com sede no exterior.
Independentemente do prazo de duração, o contrato deverá conter cláusula que
estabeleça o índice de reajustamento de preço, com data-base vinculada à data do
orçamento estimado, e poderá ser estabelecido mais de um índice específico ou setorial, em
conformidade com a realidade de mercado dos respectivos insumos.

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Nos contratos contínuos, após o interregno de um ano, o reajuste poderá se dar
por:
a) - reajustamento em sentido estrito, quando não houver regime de dedicação
exclusiva de mão de obra ou predominância de mão de obra, mediante previsão de
índices específicos ou setoriais;
b) - repactuação, quando houver regime de dedicação exclusiva de mão de obra
ou predominância de mão de obra, mediante demonstração analítica da variação
dos custos.

Nas obras e serviços de engenharia a medição será mensal, sempre que for
compatível com o regime de execução.
Na contratação de software, o contratado cede à Administração os direitos
patrimoniais relativos ao desenvolvimento (art. 93)

7.5. DAS GARANTIAS NOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS (art. 96 a


102)

Pode ser exigida, a critério da autoridade competente, mediante previsão no edital


para contratação de obras, serviços e fornecimentos, uma das seguintes garantias, cuja opção
caberá ao contratado:
a) caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública emitidos sob a forma
escritural, mediante registro em sistema centralizado de liquidação e de custódia
autorizado pelo Banco Central do Brasil, e avaliados por seus valores econômicos,
conforme definido pelo Ministério da Economia;
b) seguro-garantia – com o objetivo garantir o fiel cumprimento das obrigações
assumidas pelo contratado perante à Administração, inclusive as multas, os
prejuízos e as indenizações decorrentes de inadimplemento, vigente pelo prazo do
contrato;
c) fiança bancária emitida por banco ou instituição financeira devidamente
autorizada a operar no País pelo Banco Central do Brasil.

A garantia poderá ser de até 5% (cinco por cento) do valor inicial do contrato,
autorizada a majoração desse percentual para até 10% (dez por cento), desde que justificada

61
mediante análise da complexidade técnica e dos riscos envolvidos. Nas contratações de
serviços contínuos, será utilizado como base de cálculo o valor anual do contrato. Para obras
se serviços de engenharia de grande vulto, o seguro-garantia será equivalente a até 30% (trinta
por cento) do valor inicial do contrato.
A garantia para participar da licitação – ainda na fase de habilitação – de até 1%,
não se confunde com a garantia para o contrato administrativo – em regra, até 5% do valor.
Após o cumprimento do contrato pelo contratado, ou sua extinção por culpa da
Administração, a garantia será liberada ou restituída.
Na contratação de obras e serviços de engenharia, o edital poderá exigir a prestação da
garantia na modalidade seguro-garantia e prever a obrigação de a seguradora, em caso de
inadimplemento pelo contratado, assumir a execução e concluir o objeto do contrato,
hipótese em que:
a) a seguradora deverá firmar o contrato, inclusive os aditivos, como interveniente
anuente e poderá ter livre acesso às instalações em que for executado o contrato principal;
acompanhar a execução do contrato principal; ter acesso a auditoria técnica e contábil;
requerer esclarecimentos ao responsável técnico pela obra ou pelo fornecimento;
b) a emissão de empenho em nome da seguradora, ou a quem ela indicar para a
conclusão do contrato, será autorizada desde que demonstrada sua regularidade fiscal;
c) a seguradora poderá subcontratar a conclusão do contrato, total ou parcialmente.
Na hipótese de inadimplemento do contratado, caso a seguradora execute e conclua o
objeto do contrato, estará isenta da obrigação de pagar a importância segurada indicada na
apólice e; caso a seguradora não assuma a execução do contrato, pagará a integralidade da
importância segurada indicada na apólice.

7.6. DA ALOCAÇÃO DE RISCOS NOS CONTRATOS


ADMINISTRATIVOS (art. 103)
Considerando, em compatibilidade com as obrigações e os encargos atribuídos às
partes no contrato, a natureza do risco, o beneficiário das prestações a que se vincula e a
capacidade de cada setor para melhor gerenciá-lo, o contrato poderá identificar os riscos
contratuais previstos e presumíveis e prever matriz de alocação de riscos, alocando-os entre
contratante e contratado, mediante indicação daqueles a serem assumidos pelo setor público
ou pelo setor privado ou daqueles a serem compartilhados.

62
Trata-se de uma cláusula que identifica possíveis riscos – previsíveis ou não – que
podem ocorrer na execução do contrato, compartilha com obrigações e encargos das partes,
considera a condição de beneficiário do contrato e a capacidade de gerenciá-la. Define
previamente quem será responsável pelos ônus decorrentes de eventual ocorrência do evento
indesejado, tudo visando manter o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

7.7. PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO (ART. 104)


É a cláusula que extrapola o comum dos contratos. Ex.: Um contrato comum
pode ser alterado pelo consentimento das partes; o fato de uma das partes alterar o contrato
unilateralmente constitui cláusula exorbitante.
São prerrogativas da Administração:
a) modificar, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse
público, respeitados os direitos do contratado (nesta hipótese, as cláusulas
econômico-financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o
equilíbrio contratual).
b) extinguir, unilateralmente, nos casos especificados nesta Lei;
c) fiscalizar sua execução;
d) aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
e) ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços
vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de:
e.1) risco à prestação de serviços essenciais;
e.2) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo
contratado, inclusive após extinção do contrato.

São espécies de cláusula exorbitantes: a exigência de garantia (caução em dinheiro


ou títulos da dívida pública, seguro-garantia ou fiança bancária); alteração unilateral; rescisão
unilateral; fiscalização; penalidades; anulação; retomada do objeto; restrições ao uso da
exceptio non adimpleti contractus.

7.8. DURAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS – 105 a 114


A regra geral é a de que a duração dos contratos “será a prevista em edital”. Regras
específicas:

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a) Possibilidade de vigência inicial de até 5 anos, para contratos de serviços e
fornecimento considerados de natureza continuada;
b) Possibilidade de prorrogação desses contratos, chegando a 10 anos de vigência;
c) Contratos específicos, celebrados por dispensa de licitação, com vigência
inicial de até 10 anos;
d) Contratos com prazos indeterminados, quando versarem sobre serviços
prestados em regime de monopólio;
e) Contratos de receita podendo chegar a 35 anos de vigência;
f) Prorrogação automática de contratos de escopo ou resultado, enquanto o objeto
não for concluído
g) 15 anos – prazo máximo para contratos que prever a operação continuada de
sistemas estruturantes de tecnologia da informação

Previsões fora da Lei de licitações:


a) Lei 8.987/95 – contrato de concessão ou de permissão de serviço: observância do
prazo estabelecido na lei específica de cada serviço. Ex.: serviço de distribuição de energia:
40 anos; serviço de TV a cabo: 1 ano;
b) LC 101, art. 57 – o administrador não pode deixar débitos para o futuro – se o
contrato tem pagamento ele tem preocupação com o crédito orçamentário. Se a administração
não tem que pagar nada ela não terá que respeitar a lei orçamentária. Assim, os contratos sem
desembolso por parte da administração não há preocupação com a lei orçamentária, eis que o
contrato não terá que ser pago pela administração (neste caso não há preocupação com o
crédito orçamentário). Obs.: O prazo tem que ser determinado em quaisquer dessas exceções.

7.9. EXECUÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS – 105 a 114


Quando o contrato exigir prévio licenciamento ambiental a cargo da
Administração, as licenças deverão ser obtidas antes da divulgação do edital. A eventual
posse de novo dirigente da Administração não pode ser invocada como motivo para retardar a
execução do contrato ou de parcela dele.
Notícia de paralisação deve ser publicada e divulgada no próprio local da obra (§
5º, art. 115).
Na execução dos contratos deverão ser reservadas vagas para pessoas portadoras
de deficiência.

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A fiscalização deve ser interpretada como um poder-dever da Administração
Pública – 1 (ou mais) representante da Administração, permitida a contratação de terceiros
para assisti-lo ou subsidiá-lo no encargo, além da assessoria jurídica e técnica da
Administração. O fiscal deverá comunicar eventual irregularidade.
O contratado deverá manter preposto perante a Administração.

7.10. ALTERAÇÃO (OU MUTABILIDADE) DOS CONTRATOS E DOS


PREÇOS – 124 a 136
O contrato administrativo permite alteração durante sua execução. O contrato não
é um documento rígido, inflexível. Ele pode sofrer alterações para se adequar às modificações
que são necessárias durante a execução contratual. Note que a característica da mutabilidade
não tem nada a ver com ‘multa’/sanção, mas sim pela possibilidade de a Administração
Pública fazer modificações durante sua execução.
A lei fixa percentuais em que a Administração pode promover alterações
quantitativas no objeto do contrato, ficando o contratado obrigado a aceitar as modificações
realizadas dentro dos percentuais fixados em lei, são as chamadas cláusulas exorbitantes.

- Situações que justificam a alteração do contrato


a) Fato do Príncipe: é a alteração unilateral do poder público, abstrata e geral,
que atinge o contrato de forma indireta e reflexa. Ex.: alteração da alíquota de um tributo –
contratação de serviço de coleta de lixo – pagamento de ISS e município altera a alíquota de 2
para 5% - o serviço de coleta de lixo poderá continuar a ser prestado, porém, o valor não
poderá permanecer o mesmo (o contrato é atingido de forma indireta e reflexa).
b) Fato da Administração: alteração unilateral do poder público específica e que
atinge diretamente o contrato. Ex.: administração contrata a construção de um viaduto,
entretanto, para tanto, é necessário o procedimento de desapropriação. Referido procedimento
foi negado pelo poder público. Assim, o impedimento na desapropriação atinge diretamente o
contrato.
c) Interferências imprevistas: são situações da natureza, que já existiam ao
tempo da celebração do contrato, porém só foram descobertas ao tempo da execução do
serviço. Ex.: a administração contratou a construção de um edifício, quando a construtora
inicia a construção descobre que o solo é pantanoso ou que existia um lençol freático sob a
construção. Assim, para que a construção fosse segura o alicerce teria que ser bem mais

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profundo e reforçado. Essa característica já existia ao tempo da celebração do contrato,
porém, somente tinha chance de ser descoberta ao tempo da execução do contrato.
d) Caso fortuito e força maior: também podem causar alteração do contrato.
Alguns doutrinadores defendem que somente o caso fortuito poderá alterar o contrato, outros
defendem que somente a força maior poderia.

As alterações podem ser feitas por acordo de vontades entre a Administração e o


contratado ou unilateralmente, nos seguintes casos|:
A) UNILATERALMENTE - o contratado será obrigado a aceitar, nas mesmas
condições contratuais, acréscimos ou supressões de até 25% (vinte e cinco por cento) do valor
inicial atualizado do contrato que se fizerem nas obras, nos serviços ou nas compras, e, no
caso de reforma de edifício ou de equipamento, o limite para os acréscimos será de 50%
(cinquenta por cento). Não poderá “transfigurar” o objeto da contratação.
a.1) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para
melhor adequação técnica a seus objetivos;
b.2) quando for necessária a modificação do valor contratual em decorrência
de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites
permitidos por esta Lei;

B) POR ACORDO –
b.1) quando conveniente a substituição da garantia de execução;
b.2) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou do
serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de verificação
técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
b.3) quando necessária a modificação da forma de pagamento por imposição
de circunstâncias supervenientes, mantido o valor inicial atualizado e
vedada a antecipação do pagamento em relação ao cronograma financeiro
fixado sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou
execução de obra ou serviço;
b.4) para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato
em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe ou em decorrência
de fatos imprevisíveis ou previsíveis de consequências incalculáveis, que

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inviabilizem a execução do contrato tal como pactuado, respeitada, em
qualquer caso, a repartição objetiva de risco estabelecida no contrato.

A alteração deve sempre se dar por meio de termo aditivo, formalizada no prazo
máximo de um mês. Nas hipóteses de registros que não caracterizam alteração do contrato,
podem ser realizados por simples apostila, dispensada a celebração de termo aditivo, como
nas seguintes situações:
a) variação do valor contratual para fazer face ao reajuste ou à repactuação de
preços previstos no próprio contrato;
b) atualizações, compensações ou penalizações financeiras decorrentes das
condições de pagamento previstas no contrato;
c) alterações na razão ou na denominação social do contratado;
d) empenho de dotações orçamentárias.

7.11. HIPÓTESES DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS


ADMINISTRATIVOS (art. 136 e 137):
Formas de extinção
1) Conclusão do objeto/advento do termo final do contrato
Conclusão da obra ou termo final nos contratos a prazo determinado.
2) Rescisão (“Rescisão Administrativa”)
a) Rescisão devido à supremacia do interesse público
A Administração pode, de forma unilateral, rescindir o contrato em nome da
supremacia do interesse público. O particular terá direito à indenização
b) Rescisão devido ao descumprimento de cláusula contratual por parte do
particular - O particular descumpre a sua parte do contrato. Neste caso, a indenização será
prestada pelo contratado à administração.
Obs.: Somente a administração pode rescindir o contrato q unilateralmente.
c) Rescisão Judicial
Se o contratado decide rescindir o contrato ele deverá recorrer à via judicial.
d) Rescisão Consensual/Amigável (Acordo/Distrato)
É a rescisão bilateral.
3) Anulação
Extinção decorrente de uma ilegalidade.

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4) Extinção de pleno direito
É a extinção que decorre de circunstâncias estranhas à vontade das partes. Ex.:
perda da capacidade processual, falecimento.

O contrato pode ser extinto por iniciativa da Administração, do contratado ou por


decisão arbitral (por cláusula compromissória) ou por decisão judicial. A extinção unilateral
do contrato constitui uma das cláusulas exorbitantes em favor da Administração. Assegurada
ampla defesa e contraditório formalizado nos autos, poderá ocorrer nas seguintes hipóteses:
a) - não cumprimento ou cumprimento irregular de normas editalícias ou de
cláusulas contratuais, de especificações, de projetos ou de prazos;
b) desatendimento das determinações regulares emitidas pela autoridade
designada para acompanhar e fiscalizar sua execução ou por autoridade superior;
c) alteração social ou modificação da finalidade ou da estrutura da empresa que
restrinja sua capacidade de concluir o contrato;
d) decretação de falência ou de insolvência civil, dissolução da sociedade ou
falecimento do contratado;
e) caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, impeditivos da
execução do contrato;
f) atraso na obtenção da licença ambiental, ou impossibilidade de obtê-la, ou
alteração substancial do anteprojeto que dela resultar, ainda que obtida no prazo
previsto;
g) atraso na liberação das áreas sujeitas a desapropriação, a desocupação ou a
servidão administrativa, ou impossibilidade de liberação dessas áreas;
h) razões de interesse público, justificadas pela autoridade máxima do órgão ou da
entidade contratante;
i) não cumprimento das obrigações relativas à reserva de cargos prevista em lei,
bem como em outras normas específicas, para pessoa com deficiência, para
reabilitado da Previdência Social ou para aprendiz.

A extinção determinada por ato unilateral da Administração poderá acarretar, sem


prejuízo das sanções previstas em, as seguintes consequências: assunção imediata do objeto
do contrato, no estado e local em que se encontrar, por ato próprio da Administração;
ocupação e utilização do local, das instalações, dos equipamentos, do material e do pessoal

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empregados na execução do contrato e necessários à sua continuidade; retenção dos créditos
decorrentes do contrato até o limite dos prejuízos causados à Administração Pública e das
multas aplicadas, além da execução da garantia contratual para: a) ressarcimento da
Administração Pública por prejuízos decorrentes da não execução; b) pagamento de verbas
trabalhistas, fundiárias e previdenciárias, quando cabível; c) pagamento das multas devidas à
Administração Pública; d) exigência da assunção da execução e da conclusão do objeto do
contrato pela seguradora, quando cabível;

Por iniciativa do contratado, a extinção do contrato administrativo poderá ocorrer nas


seguintes hipóteses:
a) supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou compras que
acarrete modificação do valor inicial do contrato além do limite permitido no art.
125 da lei (acréscimos ou supressões de até 25% (vinte e cinco por cento) do valor
inicial atualizado do contrato que se fizerem nas obras, nos serviços ou nas
compras, e, no caso de reforma de edifício ou de equipamento, o limite para os
acréscimos será de 50% (cinquenta por cento);
b) suspensão de execução do contrato, por ordem escrita da Administração, por
prazo superior a 3 (três) meses;
c) repetidas suspensões que totalizem 90 (noventa) dias úteis, independentemente
do pagamento obrigatório de indenização pelas sucessivas e contratualmente
imprevistas desmobilizações e mobilizações e outras previstas;
e) atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da nota fiscal, dos
pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por
despesas de obras, serviços ou fornecimentos;
f) não liberação pela Administração, nos prazos contratuais, de área, local ou
objeto, para execução de obra, serviço ou fornecimento, e de fontes de materiais
naturais especificadas no projeto, inclusive devido a atraso ou descumprimento
das obrigações atribuídas pelo contrato à Administração relacionadas a
desapropriação, a desocupação de áreas públicas ou a licenciamento ambiental.
Havendo culpa exclusiva da Administração, o contratado será ressarcido pelos prejuízos
regularmente comprovados que houver sofrido e terá direito a: devolução da garantia;
pagamentos devidos pela execução do contrato até a data de extinção e o pagamento do custo
da desmobilização.

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7.11.1) Ocupação provisória dos bens dos contratados
Quando a administração celebra um contrato e a contratada não cumpre o contrato
a administração poderá rescindir o contrato e retomar o serviço.
No caso de inadimplemento da empresa será instaurado um procedimento
administrativo, com possibilidade de contraditório e ampla defesa e, se ao final, for
constatado o inadimplemento poderá haver a rescisão por parte da administração.
Enquanto durar o processo a administração poderá retomar o serviço, ocupando
provisoriamente os bens do contratado.
Encerrado o processo, com conseqüente rescisão do contrato, os bens serão
revertidos em definitivo para a administração (REVERSÃO: transferência dos bens à
administração em caráter permanente).
Obs.: Ocupação e reversão são passíveis de indenização, dependendo a
previsão contratual e atingirão os bens indispensáveis ao serviço.

7.12. RECEBIMENTO DO OBJETO DO CONTRATO (art. 140)


A lei cuidou de formas diferentes de recebimento para obras e serviços e compras.
Em se tratando de OBRAS E SERVIÇOS, o recebimento poderá ser:
a) provisório, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, mediante
termo detalhado, quando verificado o cumprimento das exigências de caráter técnico;
b) definitivo, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, mediante
termo detalhado que comprove o atendimento das exigências contratuais.
Em se tratando de projeto de obra, o recebimento definitivo pela Administração não
eximirá o projetista ou o consultor da responsabilidade objetiva por todos os danos causados
por falha de projeto.
Em se tratando de obra, o recebimento definitivo pela Administração não eximirá o
contratado, pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos, admitida a previsão de prazo de garantia
superior no edital e no contrato, da responsabilidade objetiva pela solidez e pela segurança
dos materiais e dos serviços executados e pela funcionalidade da construção, da reforma, da
recuperação ou da ampliação do bem imóvel, e, em caso de vício, defeito ou incorreção
identificados, o contratado ficará responsável pela reparação, pela correção, pela reconstrução
ou pela substituição necessárias.
Quando o objetivo contratado for COMPRAS, será recebido:

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a) provisoriamente, de forma sumária, pelo responsável por seu acompanhamento e
fiscalização, com verificação posterior da conformidade do material com as exigências
contratuais;
b) definitivo, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, mediante
termo detalhado que comprove o atendimento das exigências contratuais.

Em ambos os casos poderá ser rejeitado, no todo ou em parte, quando estiver em


desacordo com o contrato. O recebimento provisório ou definitivo não excluirá a
responsabilidade civil pela solidez e pela segurança da obra ou serviço nem a
responsabilidade ético-profissional pela perfeita execução do contrato, nos limites
estabelecidos pela lei ou pelo contrato.
Os prazos e os métodos para a realização dos recebimentos provisório e definitivo serão
definidos em regulamento ou no contrato.

7.13. Dos pagamentos nos contratos administrativos (art. 141)


Sob pena de responsabilidade do agente público, será observada a ordem cronológica
para cada fonte diferenciada de recursos, subdividida nas seguintes categorias de contratos:
a) fornecimento de bens;
b) locações;
c) prestação de serviços;
d) realização de obras.
Mensalmente deverá ser publicado a informação acerca dos pagamentos realizados pela
Administração.
Esta ordem pode ser alterada em condições de grave perturbação da ordem, situação de
emergência ou calamidade pública; pagamento a microempresa, empresa de pequeno porte,
agricultor familiar, produtor rural pessoa física, microempreendedor individual e sociedade
cooperativa, desde que demonstrado o risco de descontinuidade do cumprimento do objeto do
contrato; pagamento de serviços necessários ao funcionamento dos sistemas estruturantes,
desde que demonstrado o risco de descontinuidade do cumprimento do objeto do contrato;
pagamento de direitos oriundos de contratos em caso de falência, recuperação judicial ou
dissolução da empresa contratada; pagamento de contrato cujo objeto seja imprescindível para
assegurar a integridade do patrimônio público ou para manter o funcionamento das atividades

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finalísticas do órgão ou entidade, quando demonstrado o risco de descontinuidade da
prestação de serviço público de relevância ou o cumprimento da missão institucional.
Em regra, não é permitido pagamento antecipado, parcial ou total, relativo a
parcelas contratuais vinculadas ao fornecimento de bens, à execução de obras ou à prestação
de serviços.

7.14. DA NULIDADE DOS CONTRATOS (art. 147 a 150)


Somente a Administração Pública pode fazer anulação unilateral. O contratado ou
qualquer outro interessado terão que ir para a via judicial para conseguir a anulação.
A anulação do contrato decorre de ilegalidade constatada na sua execução ou, até
mesmo, na fase de licitação, pois os vícios gerados no procedimento licitatório acarretam a
anulação do contrato, com efeito ex tunc, ou seja, em regra, operará retroativamente,
impedindo os efeitos jurídicos que o contrato deveria produzir ordinariamente e
desconstituindo os já produzidos.
Nos termos do art. 149 da Lei de Licitações, a nulidade não exonera a
Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data
em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não
lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.
Portanto, ocorrendo anulação, o contratado receberá pelo que já executou, pois,
caso contrário, seria até enriquecimento ilícito da Administração Pública. Mas, se foi o
contratado quem deu causa à nulidade, não terá esse mesmo direito.
Constatada irregularidade no procedimento licitatório ou na execução contratual,
caso não seja possível o saneamento, a decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a
declaração de nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em que se revelar
medida de interesse público, com avaliação, entre outros, dos seguintes aspectos:
a) impactos econômicos e financeiros decorrentes do atraso na fruição dos
benefícios do objeto do contrato;
b) riscos sociais, ambientais e à segurança da população local decorrentes do
atraso na fruição dos benefícios do objeto do contrato;
c) motivação social e ambiental do contrato;
d) custo da deterioração ou da perda das parcelas executadas;
e) despesa necessária à preservação das instalações e dos serviços já executados;
f) despesa inerente à desmobilização e ao posterior retorno às atividades;

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g) medidas efetivamente adotadas pelo titular do órgão ou entidade para o
saneamento dos indícios de irregularidades apontados;
h) custo total e estágio de execução física e financeira dos contratos, dos
convênios, das obras ou das parcelas envolvidas;
i) fechamento de postos de trabalho diretos e indiretos em razão da paralisação;
j) custo para realização de nova licitação ou celebração de novo contrato;
k) custo de oportunidade do capital durante o período de paralisação.

7.15. DOS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE


CONTROVÉRSIAS (art. 151 a 154)
A viabilidade de composição, tanto na esfera judicial quanto extrajudicial, por
parte da Administração Pública se constitui num dogma bastante incisivo, sob a invocação a
supremacia e indisponibilidade do interesse público. Contudo, a lei não só incentiva como
prevê expressamente a possibilidade da utilização dos métodos alternativos de resolução de
conflitos para prevenção e resolução de controvérsias, notadamente a conciliação, a
mediação, o comitê de resolução de disputas e a arbitragem, aplicáveis especialmente a
disputas que envolvam direitos patrimoniais disponíveis, como as questões relacionadas ao
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, ao inadimplemento de
obrigações contratuais por quaisquer das partes e ao cálculo de indenizações.
A arbitragem será sempre de direito (fundadas em regras de direito e não de
equidade), observando-se princípio da publicidade.
Mesmo nos contratos firmados sem a previsão da utilização de tais métodos,
poderão ser aditados para permitir a adoção dos meios alternativos de resolução de
controvérsias. O processo de escolha dos árbitros, dos colegiados arbitrais e dos comitês de
resolução de disputas observará critérios isonômicos, técnicos e transparentes.

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