Teoria das elites
1. Sobre o conceito de teoria das elites ou elitismo
Compreende trabalhos e autores bastante heterogêneos.
Três versões do elitismo: teoria das elites clássica, radical e elitismo
democrático.
o O que as diferencia? A resposta é forma como os autores se posicionaram
diante da democracia representativa ou liberal.
1. Definição
Norberto Bobbio fornece duas definições de teoria das elites ou elitismo.
(BOBBIO, 1993, p. 385)
o Governantes (elite, minoria) e governados (massa, maioria). (BOBBIO,
1993, p. 385)
2. Os precursores
Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michel.
Não era nova a ideia de que (a) toda sociedade é dividida entre governantes e
governados e que os primeiros são uma minoria quanto (b) a ideia de
incompatibilidade entre esta concepção e a democracia.
Novidade introduzida por Mosca apresentou a tese elitista como uma concepção
científica, a saber, fundada sobre:
o Uma observação imparcial dos fatos;
o Elevou-a à lei constante e certa de toda sociedade política;
o Dela tomou o ponto de partida para reformular conceitos fundamentais da
teoria política tradicional. (BOBBIO, 1993, p. 385)
Mosca: minoria organizada vs. maioria desorganizada.
o a organização da minoria é o segredo de sua força. (BOBBIO, 1993, p.
385)
Pareto:
o Conceito de elite: são aqueles a quem atribuímos as melhores notas;
aristocracia; se opõe à massa.
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o Tipos de elites: elite governante e elite não governante. (BOBBIO, 1993,
p. 386)
Michels
o A divisão entre minoria (elite, oligarquia) e maioria (massa) ocorre dentro
do SPD (Partido Social-Democrata e dos sindicatos).
o Lei de férreo da oligarquia: toda e qualquer organização (partido político,
sindicato, por exemplo) está sujeita a sofrer as consequências desta lei
sociológica. (BOBBIO, 1993, p. 386)
3. Interpretação conservadora e democrática da teoria das elites
3.1. Interpretação conservadora
O advento da teoria das elites é uma das consequências da (a) democratização do
Estado liberal e (b) da percepção que a democracia representativa estava em crise.
Mosca, Pareto e Michels: anti-democrática e anti-socialista; interpretação
pessimista ou realista da democracia.
Anti-ilumismo: crise da ideia de progresso infinito. (BOBBIO, 1993, p. 386)
o Concepção de desigualdade da sociedade e
o Concepção estática ou cíclica da História. (BOBBIO, 1993, p. 387)
3.2. Interpretação democrática
Teoria correta acerca da democracia. (BOBBIO, 1993, p. 387)
Contribuição de Mosca (seguido por Max Weber e Joseph Schumpeter).
(BOBBIO, 1993, p. 387)
Elites fechadas e restritas vs. elites abertas e amplas: regimes autocratas vs.
regimes democráticos ou liberais. (BOBBIO, 1993, p. 387)
4. O sucesso da teoria das elites nos EUA
Verdadeira cidadania na ciência política contemporânea, renascimento e
renovação: Harold D. Lasswell. (BOBBIO, 1998, p. 387)
Lasswell e Abraham Kaplan: conciliação entre a teoria das elites e a teoria
democrática. (BOBBIO, 1998, p. 388)
o Lasswell, antes de Schumpeter, busca conciliar o elitismo com a teoria
democrática.
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James Burnham e C. Wrights Mills: obras de grande repercussão. (BOBBIO,
1998, p. 388)
Wright Mills:
o Análise histórica e sociológica procura demonstrar que os Estados Unidos
são dominados por um restrito grupo de poder (elite no poder) composto
por aqueles que ocupam as posições-chaves na economia, no exército e na
política. (BOBBIO, 1998, p. 388)
o Os EUA não são uma democracia.
Duas novas vertentes do elitismo: a de Lasswell/Schumpeter que concilia as teorias
elitista com a democrática; a de Wright Mills para quem a participação popular é
desejável, porém inviável.
4.1. Os críticos democráticos (pluralistas) e os marxistas
Marxistas: a classe dominante é a que detém o recursos econômicos. (BOBBIO,
1993, p. 389)
Democráticos (pluralistas): rejeita os fundamentos científicos da teoria das elites
(ausência de uma definição precisa de elite governante e não demonstra que as
preferências da elite governante prevalece em todos os casos). (BOBBIO, 1993,
p. 389)
Liberais e pluralistas não negam a existência de elites, mas a tese de que há uma
única elite no poder. (BOBBIO, 1993, p. 389)
Teoria marxista vs. teoria das elites: conflito de classes e oposição entre elite e
massa. (BOBBIO, 1993, p. 389)
Conciliação entre teoria das elites e teoria marxista: teoria do Estado capitalista
de Ralph Milliband.
4.2. Verificação empírica: investigações sobre as elites das comunidades locais
Pesquisas sobre poder local. (BOBBIO, 1993, p. 389)
Críticas aos pluralistas:
o As pesquisas empiricamente realizadas não confirmaram a
preponderância da interpretação pluralista sobre a teoria elitista.
(BOBBIO, 1993, p. 390)
o A distinção entre elitistas e pluralistas é uma distinção teórica (ou talvez
ideológica). (BOBBIO, 1993, p. 390)
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o As diversas conclusões podem depender das diferentes técnicas de
pesquisa adotadas e nenhuma dessas técnicas escapou da crítica
(BOBBIO, 1993, p. 390-391)
5. Características negativas e positivas do elitismo
O termo “positivo” e “negativo” não expressa um julgamento de valor. O primeiro
indica as conclusões dos elitistas acerca da realidade social e política de toda e
qualquer sociedade.
Há sete características positivas:
(1) Em toda sociedade organizada, as relações entre indivíduos ou grupos que
a caracterizam são relações de desigualdades;
(2) A causa principal da desigualdade está na distribuição desigual do poder;
(3) O poder mais determinante é o poder político;
(4) Aqueles que detêm o poder são sempre uma minoria;
(5) Sendo poucos e tendo interesses comuns, os que detém o poder político têm
ligames entre si e são solidários pelo menos na manutenção das regras do
jogo;
(6) Um regime se diferencia de outro na base do modo diferente como as elites
surgem, desenvolvem-se e decaem; na base da forma diferente como se
organizam e na base da forma diferente com que exercem o poder;
(7) O elemento oposto à elite, ou à não-elite, é a massa (maioria que não têm
poder e que não é organizada. (BOBBIO, 1998, p. 391)
O termo “negativo” indica quais concepções são criticadas pelos elitistas:
(1) A crítica da ideologia democrática segundo a qual é possível o poder é
exercido efetivamente pela maioria,
(2) A crítica da teoria marxista, segundo a qual é possível haver uma sociedade
democrática (fundada sobre o poder da maioria), desde que não haja
propriedade privada dos meios de produção. (BOBBIO, 1998, p. 391)
Referências bibliográficas
BOBBIO, Norberto. Teoria das elites. In: BOBBIO, Norberto et alii. Dicionário de
Política. Brasília? UnB, 1993, p. 385-391.