UROLOGIA DE
C O N S U LT Ó R I O
HIDROCELE
A hidrocele é caracterizada pelo acúmulo de líquido peritesticular entre a
túnica vaginal parietal e visceral. Isso pode ocorrer devido à persistência do
conduto peritônio-vaginal, que é comunicante em crianças. Já em adultos, a
hidrocele geralmente resulta de um desequilíbrio entre a produção e absorção de
líquido peritesticular e pode ser não comunicante e idiopática, ou causada por
trauma, infecção ou neoplasia.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da hidrocele é feito mediante o aumento do volume escrotal
unilateral ou bilateral, que é indolor. Na avaliação física, realiza-se a
transiluminação, enquanto a ultrassonografia é utilizada como exame de imagem.
É preciso fazer um diagnóstico
diferencial com hérnia inguinoescrotal,
tumor testicular, torção ou orquite.
TRATAMENTO
Para o tratamento da hidrocele,
podem ser usadas medidas diferentes,
dependendo do caso. A aspiração
apresenta uma alta taxa de recidiva,
enquanto a aspiração e esclerose envolvem a injeção de solução esclerosante,
diminuindo a chance de recidiva, mas sendo indicada apenas em casos
selecionados. O tratamento padrão-ouro, no entanto, é a hidrocelectomia, que
implica na ressecção da túnica parietal.
INFERTILIDADE
A infertilidade é definida como a incapacidade de gestação após um ano de
tentativas, segundo a OMS. Afeta cerca de 25% dos casais em idade fértil. Dentre
as causas, 40% são de origem masculina, 20% são de combinação de fatores
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masculinos e femininos, e as demais dividem-se em múltiplas etiologias, sendo
25% do tipo idiopático, ou seja, sem causa aparente.
ETIOLOGIA
As causas pré-testiculares abrangem alterações hormonais (5%), comumente
no eixo hipotálamo/hipófise/testículo, as quais podem ser revertidas com
manipulação hormonal, e alterações genéticas (5%), como numeração
cromossômica anormal, presente em síndromes como Klinefelter e Turner, ou
agenesia do ducto deferente.
As causas testiculares são variadas, incluindo varicocele (20% a 40%),
infecções (15%) - como caxumba e DSTs causadas por Chlamydia trachomatis, U.
urealyticum e M. hominis -, além de criptorquidia (5% a 10%), uma disgenesia com
aumento da temperatura, cuja correção precoce, até os 2 anos de idade, pode
contribuir para o aumento da espermatogênese.
Por fim, as causas pós-testiculares são causadas, em grande parte, pela
obstrução ductal ou epididimária, geralmente associada a traumas, infecções
(incluindo DSTs) e malformações, e por doenças imunológicas, com formação de
anticorpos anti-espermatozoides, decorrentes do rompimento da barreira
hematotesticular, em razão de traumas e processos inflamatórios.
A compreensão das diferentes etiologias da infertilidade masculina é
fundamenta em diferentes estratégias de tratamento e acompanhamento médico,
e em estudos de prevenção a DSTs e outras infecções comunitárias.
VARICOCELE
A varicocele é a causa mais comum de infertilidade masculina, atingindo de
10 a 25% dos homens após os 20 anos. Geralmente ocorre mais à esquerda (70-
90%) devido ao ângulo de entrada da veia gonadal esquerda, e seu mecanismo se
dá por uma incompetência valvular que leva ao refluxo e dilatação do plexo
pampiniforme. A fisiopatologia da infertilidade
não é clara, mas pode estar relacionada com
hipertermia, hipóxia, hipofluxo testicular,
estresse oxidativo e refluxo de metabólitos renais
e adrenais.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico inclui infertilidade,
aumento do volume escrotal, a característica
“saco de minhocas” e diminuição do volume
testicular. O exame físico irá graduar a varicocele,
mas não é diretamente proporcional à gravidade. Os graus são: I – palpáveis com
Valsalva, II – palpáveis sem Valsalva e III – visíveis atrás da pele escrotal.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico pode ser feito por meio do ecodoppler, que evidencia a
dilatação do plexo pampiniforme, refluxo a manobra de Valsalva e é considerado o
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padrão-ouro. A venografia é pouco utilizada, sendo indicada em situações especiais.
O espermograma pode apresentar oligo-astenospermia (poucos espermatozóides
e déficit na motilidade para chegar até o óvulo no corpo da mulher).
TRATAMENTO
O tratamento é a varicocelectomia, que pode ser realizada por ligadura das
veias nas técnicas retroperitoneal, inguinal, subinguinal com magnificação (melhor
resultado) e laparoscópica. As indicações são alterações do espermograma, atrofia
testicular e pré-adolescentes (dilema).
FIMOSE
A fimose é uma condição muito comum em homens, caracterizada pela
estenose do prepúcio que impede sua retração. Isso pode resultar em problemas
de saúde, como balanopostite, inflamação principalmente por fungos, e obstrução
urinária. A fimose também é um fator de risco para o câncer de pênis.
A fimose pode ser congênita ou adquirida. O tratamento padrão ouro é a
postectomia, que é a remoção do prepúcio. No entanto, em crianças, o tratamento
conservador com corticoides tópicos pode ser uma opção viável.
DISFUNÇÃO ERÉTIL
A disfunção erétil é um problema que afeta muitos homens, especialmente
após os 40 anos (50% dos casos). Ela se caracteriza pela dificuldade em obter e
manter uma ereção satisfatória para o ato sexual. No Brasil, há cerca de um milhão
de casos novos a cada ano, sendo que metade dos homens acima de 40 anos
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sofrem com esse problema, a partir de múltiplas etiologias e impacta diretamente
na qualidade de vida.
FISIOLOGIA DA EREÇÃO
A ereção ocorre a partir do relaxamento do
músculo liso cavernoso, da dilatação das artérias
cavernosas e do preenchimento dos sinusóides. As
veias subalbugíneas são comprimidas, o que
aprisiona o sangue e promove a rigidez peniana.
Tudo isso é mediado pelo óxido nítrico.
ETIOLOGIA
A disfunção erétil pode ter diferentes
causas, desde fatores psicológicos (estresse,
conflitos, doenças psiquiátricas) até doenças
orgânicas, como problemas vasculares (arterial e venosa – síndrome de Leriche),
neurogênicos (lesão da medula), endócrinos (Deficiência Androgênica do
Envelhecimento Masculino – DAEM) ou mista.
DIAGNÓSTICO
Para diagnosticar o problema, é preciso fazer uma análise da história clínica
sexual e do status psicológico do paciente, além do exame físico e de testes
complementares, como o teste inicial com inibidor da 5PDF, o perfil metabólico
(glicemia, lipidograma) e hormonal (testosterona total, TSH), o teste de fármaco-
ereção (papaverina, prostaglandina E1), o Doppler peniano (dificuldade de
avaliação) e o teste de tumescência noturna (Rigiscan), que descarta disfunção
erétil por etiologia psicogênica, mas é pouco utilizada na prática.
TRATAMENTO
O tratamento da disfunção erétil depende da causa do problema e pode
envolver a correção de causas reversíveis, psicoterapia, medicação oral, medicação
intracavernosa ou, em último caso, prótese peniana. As medicações orais mais
comuns são os inibidores da 5PDF, como a sildenafila (tomar 1h antes e efeito
máximo de 8h), vardenafila e tadalafila (tomar 2h antes e efeito máximo de 2h),
que são vasodilatadores e podem ser utilizados sob
demanda ou diariamente. A diferença entre as
drogas é o tempo de início de ação e tempo de
duração do efeito, são contra-indicados em
associação com nitratos. A medicação
intracavernosa é feita com prostaglandina E1 e
papaverina, com alto índice de sucesso (80%), mas
pode apresentar baixa adesão e incidência de dor
local, além de risco de priapismo e fibrose
cavernosa. Já a prótese peniana é uma opção mais invasiva, que é considerada
quando o tratamento clínico falhou. Essa opção envolve riscos de infecção e o uso
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de próteses maleáveis (barata e confiável) ou infláveis (caro e mecanismo
complexo).
EJACULAÇÃO RÁPIDA
A ejaculação rápida é caracterizada pela inabilidade de retardar a ejaculação,
sendo que sua duração depende do grau de satisfação. Não existe critério de tempo
para definir o problema, que afeta cerca de 20% dos homens e tem origem
psicogênica. O tratamento pode ser feito por meio de terapia psicossexual ou
comportamental, e inibidores da recaptação de serotonina, como a paroxetina, são
altamente eficazes (80%). Entretanto, se o paciente parar de tomar o medicamento,
o problema volta.
DOENÇA DE PEYRONIE
A doença de Peyronie é uma condição em que ocorre curvatura peniana
adquirida durante a vida, devido à formação de uma placa fibrótica na túnica
albugínea peniana. Isso pode causar dificuldade de penetração e dispareunia na
parceira. O tratamento clínico inclui Vitamina E e Colquicina (anti-inflamatório),
porém, sem grande eficácia. O tratamento cirúrgico pode ser realizado através de
diferentes procedimentos, como a plicatura contralateral – Nesbit (redução
peniana – encurtamento +/- 2 cm), a remoção da placa (que utiliza pericárdio
bovino, porém, com encurtamento do pênis), e a prótese peniana (maleável).
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