Receitas de Saúde Comunitária 2020
Receitas de Saúde Comunitária 2020
p op u l a r
Saúde comunitária
em tempos
de crise
Primavera, 2020
Boas-vindas .................................................................... 5
Receitário ....................................................................... 9
Bibliografia .................................................................. 63
Notas de tradução
Nem todas as plantas medicinais mencionadas no
texto original deste material são conhecidas e encon-
tradas no Brasil. Sendo assim, para determinadas es-
pécies recomendadas nas receitas sugerimos espécies
locais substitutas, com efeito similar, que podem ser
facilmente encontradas em nosso território e conheci-
das do nosso uso na medicina tradicional popular.
No Brasil utilizamos a palavra chá para qualquer tipo
de infusão de ervas, grãos, frutos, etc. No entanto, chá
se refere à infusão de uma planta especificamente, a
Camellia sinensis. As demais bebidas são denomina-
das infusões, termo que será usado ao longo do texto.
Agradecemos o empenho das tradutoras
Aline Veingartner e Ligia Francilino, por todo cui-
dado e disposição e pela revisão minuciosa da
Leonor do Nascimento, ao adaptar ao máximo o con-
teúdo para a flora medicinal brasileira, valorizando
ainda mais a tradição das nossas comunidades que por
muito tempo guardaram e difundiram esses saberes.
Boas-vindas
5
pela tradição, e sua manutenção é possível graças à prática e ao
relato oral. Estes saberes foram compartilhados por erveiras/os, cu-
randeiras/os e uma médica ayurvédica com o apoio de pesquisa
bibliográfica.
Tivemos a intenção de simplificar o máximo possível as recomen-
dações, já que a ideia é que toda esta informação possa ser aplicada
e que seja fácil ter acesso à maioria das plantas e especiarias – espe-
ramos que você já as tenha na sua própria cozinha, na sua horta ou
em mercados perto de casa. Não é tão difícil. Entre na sua cozinha
e observe: você tem canela, pimenta, gengibre, alho, cebola, anis,
cúrcuma? Se você tem esses elementos, já conta com os ingredien-
tes básicos para começar a sua farmácia caseira.
Sabemos que esta é apenas uma pequena amostra, que aqui não es-
tão contidas todas as respostas e que existem muitas formas de se
aproximar da cura a partir do autoconhecimento. Este é um convite
para lembrar que cada pessoa tem a responsabilidade de caminhar, se
cuidar e se acolher, porque disso se trata o caminho para a autonomia.
Por fim, é inegável que a medicina alopática no Ocidente já está
instalada em nossas vidas e que, ainda que seja muito invasiva e
às vezes aplicada de forma violenta, em muitos casos é necessária.
Diante disso, é nossa responsabilidade nos informar ainda mais, por-
que é o primeiro passo para a nossa soberania: entender como a me-
dicina hegemônica opera e se comporta nos nossos corpos; entender
como essas drogas funcionam, interagem e a dependência que po-
dem gerar em nossas vidas, para que, quando seja necessário, pos-
samos aplicá-las da melhor forma. O convite consiste em nos apro-
priar de todas as ferramentas disponíveis e usá-las em nosso favor
com responsabilidade, e não em negar a possibilidade de utilizá-las
quando necessário.
Hoje, apesar das diversas dificuldades, nos alegra ver um grande des-
pertar revolucionário de solidariedade e de organização territorial –
não o assistencialismo que é oferecido pelo Estado, nem a caridade
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de algumas instituições. Uma solidariedade genuína que provém
do próprio povo, na urgência de traçar novas políticas em escala
humana, em que nascem as transformações reais: no encontro, na
colaboração coletiva e na complementaridade com outres.
Daqui da Cordilheira dos Andes oferecemos este pequeno grãozin-
ho entre as milhares de sementes rebeldes que estão emergindo das
profundas fissuras da Terra.
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Agradecimentos especiais
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Para as vias respiratórias e antigripal
Infusão e vaporizações 9
Estas plantas atuam para melhorar os principais problemas das
vias respiratórias, tais como resfriados, bronquites, tosse, conges-
tão e obstruções respiratórias. Sugerimos infusões para beber e
outros para uso externo, como vaporizações.
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Para resfriados em geral, influenza e gripe
Infusão 9
h Raminhos de cavalinha
h Folhas de eucalipto, melissa, urtiga, sabugueiro
h Folhas de macela. Obs: Não deve ser utilizada por gestantes.
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Para resfriados. Relaxante e emoliente
de zonas inflamadas
Infusão peitoral 9
Para a tosse
Xarope 9
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Para o catarro e a sinusite
Inalação 9
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Para estados depressivos
Infusão 9
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Para controlar a ansiedade
Cozimento tranquilizante 9
Obs: Aqui no Brasil é conhecida como um tipo de cidreira, que são popularmen-
te usadas como calmante.
h 3 folhas de boldo
h 3 ramos de funcho
h 3 folhas de aipo (ou salsão)
h 1 punhadinho de sementes de anis estrelada
h 1 colher de chá de carqueja
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Preparo: Picar e misturar as ervas. Colocar uma colher de chá de
ervas numa xícara com água recém-fervida e deixar repousar por
5 minutos, coar e beber uma xícara dessa infusão depois de cada
refeição.
Nota de tradução: Receita alterada. Substituímos a erva conhecida como bai-
lahuén (Haplopappus baylahuen Remy), nativa do Chile, pela carqueja, planta
local com efeito similar para tratar questões hepáticas.
Para a vesícula
Infusão 9
h Carqueja
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Depois, descascar as batatas e colocar as cascas numa panela com
2 litros de água fria, ligar o fogo e deixar ferver até reduzir a 1
litro. A água ficará com uma coloração turva. O litro de água de
cascas de batatas deve ser consumido ao longo do dia. Se as dores
persistirem, repita o processo.
Orientamos urinar num penico para ir notando o efeito. No segun-
do dia, você notará na urina um resíduo de mucosa e um leve as-
pecto arenoso, que irá aumentando com o passar dos dias, à medida
que os maiores cálculos forem se dissolvendo. Eles sairão sem dor
por conta da mucosidade ao redor que facilita seu deslocamento.
Além disso, a água de cascas de batata dilata as vias urinárias. O
processo de eliminação dura aproximadamente duas semanas.
Zúñiga, V; Campos, P. (2009). Secretos de nuestras plantas... (obra citada), p. 35.
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do esfriar, estará apto para lavar feridas com ajuda de algodão ou
um pano bem limpo.
Para hipertensão
Maceração 9
h ½ cebola
h ½ xícara de água filtrada
h ½ limão
h 6 dentes de alho
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Para a gota
Maceração 9
h Repolho
h Cebola
h Salsinha
h Aipo (ou salsão)
h Limão
Para a cicatrização
Unguento 9
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Primeiros socorros e
farmácia
caseira
feridas ou cortes superficiais
e profundos
Existem quatro tipos principais de cortes:
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» Lave com uma infusão de barbatimão ou aroeira (à temperatura
ambiente).
» Prepare uma pasta com 1 colher de chá de cúrcuma em pó e
água morna. Aplique essa pasta diretamente na ferida e deixe-a
secar. Para limpar e conferir o estado da ferida, remova a pasta
de cúrcuma com suavidade, enxaguando com uma infusão
morna de barbatimão, aroeira ou similar local (plantas e ervas
de ação cicatrizante). Depois, aplique novamente a pasta até
que a ferida esteja completamente seca.
» Para uma cicatrização suave, quando a ferida estiver comple-
tamente fechada você pode aplicar um unguento de calêndula
(veja preparação na página 58) para suavizar, recuperar e flexi-
bilizar os tecidos, já que o tratamento de cicatrização costuma
ser bastante adstringente para a pele.
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se unirem por nenhum lado, você deve aplicar pontos de sutura
adesiva (suturas líquidas), que são vendidas em farmácias.
Caso não tenha acesso a elas, você pode utilizar fita adesiva.
» Antes de aplicar os pontos adesivos, sugere-se lavar uma vez
com infusão de barbatimão e/ou aroeira à temperatura ambien-
te, secar a ferida com um pano limpo, pressionar com os dedos
para juntar o máximo possível a pele e colocar os pontos
adesivos pressionando para que a ferida se feche.
» Para cuidar da ferida, você deve mantê-la seca e conferi-la
diariamente. Quando estiver completamente fechada, você
pode retirar os pontos e aplicar unguento à base de calêndula,
barbatimão e/ou aroeira para garantir a cicatrização.
» Para remover as marcas (depois que estiver completamente
cicatrizada), você pode usar óleo de rosa mosqueta à noite,
aplicando com uma massagem suave.
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Queimaduras
Existem três tipos principais de queimaduras:
* De primeiro grau (superficiais): afetam as primeiras
camadas da pele. Produzem dor, avermelhamento e inchaço.
Um exemplo comum são as queimaduras de sol.
* De segundo grau (espessura parcial): afetam a camada
externa e a camada subjacente da pele. Produzem dor, aver-
melhamento, inflamação e bolhas.
* De terceiro grau (espessura total): afetam as camadas
mais profundas da pele. A pele pode sofrer adormecimento e
se tornar esbranquiçada, escura ou carbonizada. Essas quei-
maduras requerem atendimento médico imediato. Nesses
casos há altos riscos de infecção.
É possível tratar em casa queimaduras de primeiro e segundo
grau, desde que tenham menos de 6 centímetros de diâmetro. Em
todo caso, quando são de segundo grau e afetam mãos, pés, rosto,
virilha, glúteos, genitais ou alguma articulação, é muito provável a
necessidade de ajuda médica.
Os sintomas de alerta são:
* Aumento da dor
* Febre
* Pus
* Inflamação de gânglios
Os casos de crianças com menos de 4 anos e de pessoas com mais de
60 são considerados mais delicados devido à fragilidade de sua pele.
Se a queimadura é controlável e sem sintomas de risco, é possível
tratá-la em casa com as seguintes medidas.
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> Importante <
Depois de qualquer tipo de queimadura, a primeira ação
deverá SEMPRE ser aplicar ÁGUA, e NUNCA os seguintes
elementos: gelo, farinha, clara de ovo, manteiga ou cremes
que contenham antibióticos ou cortisona, uma vez que podem
provocar reações alérgicas e/ou piorar a queimadura.
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Depois que a área queimada estiver completamente recuperada,
você pode aplicar óleo de rosa mosqueta durante as noites para
reduzir as manchas da pele.
Estes conselhos também podem ser aplicados para queimaduras
por contato com superfícies quentes, como aquecedores e fogões,
por exemplo.
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Angina de peito
É uma dor intensa localizada na área do peito, na altura do timo
(justo entre as mamas ou peitoral). Causa falta de ar, sensação de
sufoco, medo e/ou sensação de adormecimento corporal.
A angina de peito pode ter muitas causas, associadas a:
* Ataque de pânico ou angústia
* Hiperacidez
* Estresse
* Infarto de coração
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Se a dor persistir, você pode comer uma segunda bolinha de pi-
menta-do-reino para ativar o efeito dilatador de seu princípio ativo.
Sugere-se acompanhar o processo com infusão de melissa, lavan-
da, maracujá ou raiz de valeriana.
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Dor de dente
Alho: é um potente bactericida. Quando as cáries estiverem aber-
tas, descascar e cortar um dente de alho e colocar um pedaço na
cavidade. Isto ajudará a acalmar a dor.
Folhas de abacateiro: mastigar as folhas frescas ajuda a acalmar
a dor.
Sementes de limão: a semente de limão desidratada acalma a dor.
Triture com um pilão e coloque na cavidade da cárie.
Aloe vera (ou babosa): o gel da planta acalma a dor. Aplicar na
cavidade afetada.
Malva e/ou camomila: depois de uma extração de dente, para uma
melhor cicatrização e para evitar complicações, realizar bochechos
ou gargarejos dessas plantas. Prepare uma infusão concentrada,
coe e deixe esfriar. Use durante o dia, renove e prepare uma nova
infusão no dia seguinte.
Receita compartilhada pela erveira Ana Domínguez
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Olhos irritados
Calêndula e/ou camomila: quando tiver incômodos nos olhos. Apli-
car uma água de lavagem (similar ao colírio) de uma dessas flores.
Deve-se embeber a solução num algodão e limpar os olhos com a
pálpebra fechada. Usar uma planta por vez.
Preparar uma infusão da planta com apenas uma colher de chá de
flores. Aplicar o líquido muito bem filtrado nos olhos com a ajuda
de um conta-gotas. Usar três vezes ao dia.
Erva-de-santa-luzia: é um colírio por excelência para olhos irri-
tados e conjuntivite. Essa plantinha mostra a sagrada perfeição da
natureza, já que na bráctea que sustenta a flor guarda um líquido
viscoso transparente. Usar exatamente uma gota para cada olho.
Receita compartilhada pela erveira Ana Domínguez
Dor de ouvido
Alhos: para tratar uma dor de ouvido simples, triturar e tostar cinco
dentes de alho recém-descascados e mesclá-los com uma colher de
sal marinho (ou sal refinado se você não tiver sal marinho). Colocar
essa mescla morna em um pano ou toalha fina e aplicar pela parte
de fora do ouvido, por trás e perto do orifício. É muito importante
não aplicar líquidos ou óleos dentro do ouvido enquanto a dor esti-
ver forte, já que a inflamação pode gerar ainda mais colapso e dor
Repetir o processo de calor localizado ao menos durante 30 minutos.
Recomendações compartilhadas por Verna Pérez, terapeuta ayurveda
34
Farmácia básica
Recomendamos que você tenha essas plantas ao alcance das mãos
e escreva em sua embalagem o uso de cada uma para casos rá-
pidos de aplicação. A partir da página 51 você encontra a forma
de prepará-las. Lembre-se de que é importante rotular a data de
preparação e manter as plantas em um lugar fresco e escuro para
conservá-las bem. Normalmente as preparações como unguen-
tos, tinturas, óleos e xaropes duram entre 6 meses a 1 ano, o que
depende do cuidado dado e do clima. As tinturas bem conservadas
duram até 2 anos.
Ervas secas
» Melissa: para vômitos.
» Tomilho: antibiótico e tônico.
» Hortelã: digestivo e calmantes de dores de cabeça.
» Calêndula: para gastrite e diarréia.
» Cabelo de milho: para cistite.
Tinturas e outros
» Tintura de tanchagem (ou tansagem): antialérgica, antibiótica,
digestiva, cicatrizante, desinflamante.
» Tintura de salgueiro ou mil folhas: analgésica, anti-inflamatória.
» Tintura de erva-de-são-joão: antidepressiva, antiviral, imunoes-
timulante.
» Unguento de calêndula: emoliente, antifúngico para doenças de
pele.
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» Óleo de erva-de-são-joão: descontraturante, alivia queimaduras.
» Xarope de tanchagem e hortelã: estimula as defesas.
Sara Itkin (2004). Plantas de la patagonia para la salud. Caleuche, p. 24.
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Herbário
medicinal
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Prepare suas
próprias
medicinas
Cada planta medicinal é composta de um corpo que se divide em
raízes, casca, talos, folhas, flores e outras partes. Cada parte cum-
pre uma função específica. É por isso que devemos nos informar
e reconhecer qual parte nos serve e para quê. Assim, devemos
nos dedicar a conhecer seu uso, aplicação, preparação e a parte da
planta a ser utilizada para cada dor, incômodo ou doença.
É importante ressaltar que, quando coletamos a planta, devemos
arrancar apenas a parte que nos servirá, e não a matar desde a raiz
(se não for necessário usá-la). Não devemos depredar o ecossiste-
ma onde vivemos, e sim nos conectar com a Terra e agradecer as
bondades que ela nos entrega.
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Preparação
das plantas medicinais
Cozimento ou decocção:
Usada para as partes mais duras da planta, como sementes, raízes,
cascas, talos e folhas, quando são firmes.
Preparo:
Em um recipiente, colocar a parte da planta a ser usada, adicionar
água fria e deixar ferver por 5-10 minutos. Depois, coar ou filtrar.
Aplicação:
Pode ser bebida ou usada externamente em forma de:
1. Gargarejos
Depois de fazer o cozimento, retirar a planta da água e coar. Deixar
esfriar e mesclar com uma pitada de sal. Introduzir essa mescla na
boca e enxaguar fazendo gargarejos. Não engolir. Fazer ao menos
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duas vezes por dia. É usado para infecções e irritações na boca, na
garganta e na gengiva. Nesses casos, as plantas mais utilizadas são
a sálvia e a hortelã.
2. Inalações
Depois de fazer o cozimento da planta, retirá-la do fogo. Colocar
o rosto sobre o recipiente de água recém-fervida e tapar toda a ca-
beça com uma toalha. Manter o rosto em cima da água, evitando se
queimar, e respirar o vapor durante 10-15 minutos, sem destapar a
cabeça e o pescoço. As mais usadas em resfriados são as folhas de
abacateiro e de eucalipto. Para as crianças, a inalação não deve ser
feita de modo direto, e sim colocando o cozimento da planta em
algum lugar seguro do cômodo (muito cuidado com isso) para que
ela respire o vapor enquanto dorme. Tornar a ferver as ervas tampa-
das e colocar para que se espalhe o vapor.
3. Vaporizações
Em uma panela, realizar o cozimento da planta. Depois, destam-
par o recipiente em um lugar onde se possa respirar esse vapor. É
utilizada especialmente para umedecer os espaços e diminuir o ar
seco que irrita o nariz e a garganta. As mais utilizadas em casos de
resfriados são o eucalipto e a camomila. Preparar uma vaporização
diferente a cada dia.
Por favor, tenha muito cuidado com onde e como colocar o reci-
piente, já que é uma causa comum de acidentes nos lares, sobretudo
com crianças. Se você deixá-lo no quarto à noite, coloque-o em um
lugar seguro e distante da cama.
4. Compressas
Depois de cozinhar a planta, retirar do fogo e deixar esfriar ou usar
quente, de acordo com a necessidade. Empapar um tecido de algo-
dão no cozimento, torcer para tirar o excesso e colocar diretamente
na pele.
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Se for necessária a compressa quente, ela deve ser untada nova-
mente na água para que o pano não esfrie. Essa técnica é utilizada
normalmente para problemas de infecções na pele, abscessos, fe-
ridas, pancadas e inflamações, entre outras. O mais comum é usar
camomila para a inflamação; para contusões em geral, uma mescla
de arnica, alecrim e tomilho.
5. Vaporização uterina
Depois do cozimento da planta, colocar a água recém-fervida num
bidê ou lavatório (evitar o uso de fontes de alumínio e plástico) e
ficar de cócoras em cima sem tocar a água quente, para receber todo
o vapor. Tapar-se com uma toalha do quadril até os pés, para que o
vapor não escape. Pode ser necessária a ajuda de outra pessoa para
que seja bem-feito. Ter cuidado especial com a temperatura, que
não deve estar quente demais, já que com o uso prolongado pode
ocasionar queimaduras ou irritações. Essa técnica é normalmente
aplicada para infecções vaginais e urinárias. As plantas mais utili-
zadas para isso são orégano, calêndula, manjericão, camomila e to-
milho, entre outras. Pode ser realizada até três vezes ao dia durante
10-15 minutos no máximo.
Essa técnica é contraindicada para mulheres com dispositivo in-
trauterino ou em tratamento de fertilidade, e também durante a
menstruação e a gestação.
Infusão:
É a maneira mais comum de consumo de plantas medicinais, para
a qual são usadas, em geral, as partes aéreas das plantas: folhas,
flores e talos. Primeiro, colocar as ervas em um recipiente, depois
verter água previamente fervida em cima (nesse caso, não se deve
cozinhar a planta) e então tampar o recipiente, esperar 5-15 minu-
tos, coar e beber.
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As mais usadas são as digestivas, depois das refeições, como tomil-
ho, funcho, canela, cúrcuma e camomila. E também as anti-infla-
matórias e analgésicas em casos de menstruações dolorosas, como
tomilho, mil folhas com macela, camomila, gengibre, valeriana, ma-
racujá, entre outras.
Xarope:
São infusões muito concentradas às quais se adiciona uma grande
quantidade de açúcar, que permite que a preparação se mantenha
conservada por períodos prolongados (até um ano), já que o açúcar
em excesso evita a fermentação.
Preparo:
Colocar 50 gramas da planta desidratada ou 100 gramas de planta
fresca em uma jarra esmaltada ou de vidro.
Acrescentar 400 mililitros de água fervente sobre a erva (se for uma
planta lenhosa ou partes duras da planta, fazer um cozimento em
lugar de infusão). Às vezes, quando usamos a planta seca, pode ser
necessário usar um pouco mais de água do que o indicado, porque
a planta deve ser reidratada.
Tampar e deixar repousar por duas horas.
Coar, espremendo para obter o máximo de líquido possível.
Adicionar 850 gramas de açúcar, misturar e dissolver ao fogo, sem
deixar que a mistura ferva. Coar outra vez.
Medir a quantidade de mistura obtida e completar com água previa-
mente fervida para obter um litro, caso seja necessário.
Guardar a preparação quando já estiver fria em um frasco limpo
de vidro escuro com tampa hermética. Encher a embalagem até o
topo e adicionar algumas gotas de álcool na superfície, para evitar
a formação de fungos, antes de tampar.
Etiquetar, anotando o que é, data de elaboração e quem o fez.*
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Tintura:
São preparações muito concentradas e costumam ser tomadas em
quantidades bem pequenas (20-40 gotas diluídas em um copo de
água).
Preparo:
Colocar 200 gramas de planta seca ou 400 gramas de planta fresca em
um frasco de vidro escuro com tampa hermética ou vidro transparen-
te, que deve ser recoberto com papel escuro para proteger da luz solar.
Acrescentar ½ litro de álcool de 96º (etílico potável) e ½ litro de
água purificada e tampar (essa mescla baixa o grau de álcool). Ou
simplesmente utilizar aguardente ou vodka de 50º.
Agitar durante 10 minutos até conseguir que toda a preparação este-
ja coberta pelo líquido. Etiquetar com a data de elaboração e o nome
dos ingredientes contidos. Guardar em um lugar escuro e fresco.
Durante os 7-10 dias de contato, agitar um pouco diariamente.
No sétimo dia (podem ser mais dias), coar e filtrar com papel filtro
de laboratório ou de café, ou guardanapo de papel ou gaze em um
funil, pressionando ao final para extrair todo o líquido.
Guardar em frascos herméticos escuros, protegidos da luz (envol-
ver com jornal ou sacola de plástico preta).
Etiquetar as embalagens, com o nome do preparado e a data de
elaboração.*
*
MARCUS, A. “Partería, plantas y salud: La partería posmoderna y la inte-
gración de saberes”. In: SAN MARTÍN, Pabla Pérez; CHEUQUELAF, Inés;
CERPA, Carla. Del cuerpo a las raíces. Uso de plantas medicinales para la
salud sexual y reproductiva de las mujeres. Putraintú, Chile: Ginecosofía, 2016.
57
Óleo macerado:
Preparado da mesma forma que a tintura, mas substituindo o álcool
por azeite de oliva, de amêndoas ou óleo de girassol prensado a frio
como base para a maceração da planta. O extrato ficará no azeite.
Não se esqueça de filtrar ao final da mescla.
Unguento:
De uso externo, para aplicar diretamente sobre a pele, para hidratar,
cicatrizar, dar calor, tonificar, massagear, etc.
Preparo:
Usar uma base neutra de cera de abelhas, carité, entre outras. De-
rreter a base em banho-maria (sem deixar ferver). Quando estiver
líquida, tirar do fogo e misturar com óleo macerado da planta (que
terá a ação medicinal), mexer e colocar em uma embalagem escura
e hermética. Aplicar sobre a pele quantas vezes forem necessárias.
As proporções são de 25 gramas de manteiga e 100 centímetros
cúbicos de azeite macerado.
Cataplasma:
Não é o mesmo que uma compressa, ainda que seja utilizada de um
modo similar para cicatrizações de maneira externa e diretamente
sobre a pele afetada, seja por inflamações, feridas, mordidas, hema-
tomas, etc.
Preparo:
Esmagar a parte a ser utilizada da planta fresca e colocar diretamen-
te sobre a pele como uma máscara. Cobrir com um pano de algodão
para mantê-la por uns 30-40 minutos, depois retirar e lavar. Repetir
duas ou três vezes ao dia.
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A mais utilizada é a cataplasma de folhas de matico e flores de
calêndula, para ajudar a cicatrizar feridas. Também a flor capuchin-
ha: suas pétalas e folhas são muito eficazes para contusões e hema-
tomas, colocadas diretamente sobre a pele.
Nota de tradução: como não encontramos o matico no Brasil, você pode
substituí-lo por qualquer planta ou erva de ação cicatrizante. Nós sugerimos ao
longo do texto o barbatimão e a aroeira.
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Nomes científicos
Encontradas no Brasil
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Capuchinha: Tropaeolum majus L.
Carqueja: Baccharis trimera (Less.)
Cavalinha: Equisetum bogotense. No Brasil temos outra espécie
de cavalinha: Equisetum arvence e gigateum.
Chambá: Justicia pectoralis Jacq.
Cravo-da-índia: Syzygium aromaticum (L.) Merrill & Perry
Cúrcuma: Curcuma longa L.
Dente-de-leão: Taraxacum officinale F. H. Wigg
Erva-de-santa-luzia: Commelina erecta L.
Erva-de-são-joão: Hypericum perforatum L.
Erva Luiza: Aloysia triphylla
Estrela-de-anis: Illicium verum
Eucalipto: Eucalyptus globulus Labill
Funcho: Foeniculum vulgare Mill.
Gengibre: Zingiber officinale Roscoe
Guaco: Mikania laevigata Schultz Bip. ex Baker
Hortelã: Mentha spp L.
Lavanda: Lavandula officinalis L.
Linhaça: Linum usitatissimum L.
Louro: Laurus nobilis L.
Lúpulo: Humulus lupulus L.
Macela: Achyrocline satureioides (Lam.)
Malva: Malva sylvestris L.
61
Maracujá: Passiflora incarnata o coerulea L.
Melissa: Melissa officinalis L.
Mil Folhas: Achillea millefolium L.
Nogueira-comum: Juglans regia L.
Orégano: Oreganum vulgare L.
Sabugueiro: Sambucus nigra L.
Salgueiro-branco: Salix alba L.
Salsa ou salsinha: Petroselinum crispum (Mill.) Fuss
Sálvia: Salvia officinalis L.
Tanchagem ou tançagem: Plantago major L.
Tomilho: Thymus vulgaris L.
Urtiga: Urtica spp.
Valeriana carnosa: Valeriana carnosa Sm.
Valeriana: Valeriana officinalis L.
Verbasco ou barbasco: Verbascum thapsus L.
Outras plantas
62
Bibliografia
* BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira.
Brasília: Anvisa, 2011.
* HARRI, Lorenzi; MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas
medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa,
SP: Instituto Plantarum, 2008.
* ITKIN, Sara. Plantas de la patagonia para la salud. Bariloche,
Argentina: Caleuche, 2004.
* LASTRA, Jorge; PEREIRA, Ruth; QUIROZ, Ramón.
Preparaciones en base a plantas medicinales. Santiago de
Chile: Médicos del mundo - Chile, 1998.
* MONTENEGRO, Gloria; KORNFELD, Rosita; RIOSECO,
Vesna. Secretos de nuestras plantas y otras especies. Cómo
usarlas en beneficio de las personas. Santiago de Chile:
Ediciones Universidad Católica de Chile, 2009.
* SAN MARTÍN, Pabla Pérez; CHEUQUELAF, Inés; CERPA,
Carla. Del cuerpo a las raíces. Uso de plantas medicinales
para la salud sexual y reproductiva de las mujeres. Putraintú,
Chile: Ginecosofía, 2016.
63
Onde antes vi concreto e monocultura na paisagem social
e política de nossas vidas