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Neurose e Psicose na Psicanálise

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Neurose e Psicose

Apresentar e discutir o conceito de neurose e psicose à luz da psicanálise.

Sigmund Freud (1856-1939), pai da psicanálise, passou boa parte do tempo de seus estudos e
experiência clínica, compreendendo o funcionamento do paciente neurótico. E por estes meios, fundamentou
sua teoria sobre funcionamento psíquico e método terapêutico para tratar doenças psicológicas. Ao longo de
sua prática clínica foi se deparando com outras afecções psíquicas, o que permitiu à ele, tecer
considerações para estabelecer um diagnóstico diferencial entre a neurose e outras formas de adoecimento
psicológico, com por exemplo a psicose.
Definindo...

Neurose

O termo neurose foi introduzido pela primeira vez, em 1777, por um médico escocês, chamado
William Cullen. Mas, nesta primeira versão, o termo neurose, aparece associado a várias afecções, tanto
psíquicas, bem como físicas.

Vale lembrar, que neste período os estudos da Psiquiatria não eram avançados e a psicopatologia
começava a se organizar como um campo do saber. Contudo, a partir do século XIX, a Neurose e outras
doenças psicológicas, receberam diversas classificações, até chegarmos a concepção que temos nos dias de
hoje.

E segundo a Psicanálise a neurose é...

Afecção psicogênica em que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito


psíquico que tem raízes na história infantil do sujeito e constitui compromisso
entre o desejo e a defesa.

A psicanálise possui uma classificação nosográfica das afecções psíquicas, entre elas temos:
neurose, psicose, perversão e doenças psicossomáticas. Mas, aqui o nosso foco é compreender
a neurose, primeiramente, e seus subtipos, denominados por Freud de Neurose de
transferência:

● Neurose histérica;
● Neurose Fóbica;
● Neurose Obsessiva.

Nas neuroses temos um mecanismo de defesa que a caracteriza denominado recalque.


Operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente
representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão.

LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, p. 430.

Entretanto, cada um destes subtipos de neurose referidos acima possui um mecanismo de defesa
específico:

Conforme a tabela abaixo:

Tipo de Neurose Mecanismo de defesa


Histérica Conversão
Fóbica Deslocamento
Obsessiva Formação reativa

Vale lembrar...

as definições destes mecanismos...

Formação reativa:

Atitude ou hábito psicológico de sentido oposto a um desejo recalcado e


consttuído em reação contra ele.

LAPLANCHE, PONTALIS, 1999, p. 200.

Conversão:

Consiste na transposição de um conflito intrapsíquico e numa tentativa de resôve-


los em termos somáticos, motores, ou sensitivos.

LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, p. 103.


Deslocamento:

Fato de importância, o interesse, a intensidade de uma representação ser suscetível


de se destacar dela para passar a outras originalmente pouco intensas, ligadas à
primeira por uma cadeia associativa.

LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, p.116.

Definindo...

Psicose
Segundo a Psicanálise...

(...) é uma perturbação primária de relação libidinal com a realidade que a teoria
psicanalítica vê o denominador comum das psicoses, onde a maioria dos sintomas
manifestos (particularmente) construção delirante) são tentativas secundárias de
restauração do laço objetal.

LAPLANCHE; PONTALIS, 1999, p.390.

No artigo " Neurose e Psicose" de 1924 Sigmund Freud sistematiza o funcionamento das duas
afecções, ou seja, como seria o comportamento do neurótico e do psicótico, à luz da piscanálise.

Vale ressaltar que Freud destaca três conceitos importantes, que caracterizam a segunda tópica,
segundo Laplanche e Pontalis, 1999:

● ID: Pólo pulsional da personalidade: contém os conteúdos recalcados e que foram herdados
filogeneticamente.
● EGO/ EU: Pólo central da personalidade e mediador do conflito entre superego e ID, e faz adequação à
realidade.
● SUPEREGO: Consciência Moral e regras internalizadas.
Ainda no texto "Neurose e Psicose" de 1924 Freud ressalta que nas duas afecções existem conflitos,
mas que são de natureza diferente, como indica a citação a seguir:

(...) Agora, contudo, instigado pela discussão a respeito do surgimento das psicose
e prevenção das psicoses (...). Cheguei a uma fórmula simples, mas que resume
bem a, talvez, a mais importante diferença entre a psicose e neurose: a neurose
seria o resultado de um conflito entre o Eu e o ID, ao passo que a psicose seria
resultado de uma perturbação nas relações entre o Eu mantém com o mundo
externo.

O que ocorre na Neurose:


Freud (1924) pondera que na neurose, o ego entra em conflito com o Id porque recusa uma moção
pulsional indesejável, da qual se protege reprimindo-a (recalcando) no inconsciente. Porém, o reprimido se
revolta e reaparece sob forma de sintoma substituto.(FREUD, 2007)

Sintoma:

... fruto de uma formação de compromisso.

Já na Psicose:
O psicótico frente a uma representação psíquica insustentável, rompe com a realidade e cria uma nova,
em forma de delírios e alucinações.

Freud considera que na psicose a relação entre ego e a percepção de mundo externo esteja perturbada.
A esquizofrenia seria resultado de um embotamento afetivo, isto é, a perda de interesse em participar do
mundo externo. O delírio seria um “remendo” onde houve a ruptura, a fenda.

E qual seria a etiologia das duas afecções?


Vamos ver o que Freud nos diz sobre:

A etiologia comum é a mesma: uma privação, a não-realização, de um daqueles


desejos de infância, sempre indomáveis e tão profundamente enraizado na nossa
organização psíquica filogeneticamente predeterminada.

FREUD, 2007, p.97.

Essa privação é, em última análise, sempre externa, mas, no caso individual, ela pode proceder do
agente interno crítico (no superego) que assumiu a representação das exigências da realidade externa. O
efeito patogênico depende de o ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer fiel à sua dependência do
mundo externo e tentar silenciar o id, no caso da Neurose, ou ele se deixar derrotar pelo id e, portanto, ser
arrancado da realidade, no caso especifico da Psicose. (FREUD, 2007).

No final do texto "Neurose e Psicose" (1924) Freud apresenta o que ele denominou como
nova entidade psicopatológica “psiconeuroses narcísicas”, a melancolia, ligada ao conflito entre o ego e o
superego, e neste sentido, esta afecção ficaria no caminho entre as neuroses de transferência e as psicoses.
Vamos agora estudar o texto " A perda da realidade na neurose e
psicose"...
No texto anterior Freud afirmava que a diferença entre a neurose consistia em que na psicose o ego
recusava em perceber a realidade exterior e que na neurose ele aceitava. Já neste artigo ele confirma e
amplia o conceito afirmando que existe uma perturbação do mundo real nas duas afecções, mas esta
perturbação de natureza diferente.(FREUD, 2007)

Na neurose...

Tal contradição de fato só se mantém se insistirmos em dirigir nossa atenção à


situação de entrada na neurose, isto é, ao recalque da moção pulsional que o EU
promove a serviço da realidade. Lembremos, porém, que o recalque em si ainda
não configura uma neurose propriamente dita, mas sim os processos que buscam
obter uma compensação pela parte danificada do Id, ou seja, é o recalque, seguido
do seu posterior fracasso, que constitui a neurose. Na verdade o afrouxamento da
relação com a realidade é apenas a consequencia desse segundo passo ocorrido na
formação da neurose. Portanto, não devemos nos supreender se uma investigação
mais detalhada nos revelar que a perda da realidade afeta justamente aquela
parcela da realidade cujas exigências intoleráveis desencadearam o recalque contra
a pulsão.

FREUD, 2007, p.127.

Portanto, na Neurose, existe efetivamente uma perda da realidade no primeiro momento, seguida da
formação de compromisso, a formação do sintoma. O fragmento de realidade evitado neste primeiro
momento produz o recalque.

Vamos relembrar o Caso Elizabeth, a moça de 24 anos, que padecia de neurose histérica, e foi
analisada por Freud. Os seus sintomas principais eram dores nas pernas e dificuldade de ambular. Por meio
da associações livres da paciente ao longo de seu tratamento, Freud identificou que Elizabeth era
apaixonada pelo cunhado, moção insustetável para ela, e que parecia estar na gênese de seu conflito. Em
certo momento de suas associações durante a análise, Elizabeth narra para Freud, o momento que antecedeu
a morte de sua irmã do meio, casada com o rapaz por qual estava apaixonada, e revela o seguinte
pensamento no leito de morte da irmã:

“ agora ele está livre para mim e pode se casar”

Freud destaca que sua paciente esquece esta cena, e imediatamente, surgem as dores histéricas.
Pode-se concluir que na Neurose, em relação a realidade, temos dois momentos:

1º Momento 2º Momento
NEUROSE Fuga do real Formação de Compromisso

Na Psicose...
No texto " A perda da realidade na neurose e psicose" de 1924, Freud analisa com mais intensidade a
relação da psicose com a realidade e enfatiza que, nesta afecção, há “negação da realidade”, como
característica da recusa de perceber a realidade exterior. E ainda, segundo Freud, existem também dois
momentos, o primeiro separa o Eu/Ego da realidade por meio da negação, o segundo cria uma nova
realidade, sob forma de delírio ou uma alucinação, com objetivo de reparar os desgastes.

Ao difirenciando a neurose da psicose conclui que: na neurose um fragmento significativo da


realidade é evitado em forma de fuga, enquanto na psicose esse fragmento negado é reconstruído.
(QUINODOZ, 2007)

Vamos então sistematizar esta comparação para que você


entenda bem, segundo Mocelin; Sigler, 2015:
● Freud no final do artigo ressalta que não há uma distinção tão clara entre as duas afecções no que diz
respeito à criação de uma nova realidade.
● Tanto na neurose como na psicose está destinada a substituir uma realidade insustentável.
● Na psicose o paciente cria uma nova realidade através do delírio ou das alucinações.
● Na neurose o paciente tenta restabelecer uma nova realidade por meio do mundo de fantasia.

Finalizando...
A compreensão da neurose e do funcionamento das demais estruturas clínicas ou psicopatológicas na
Psicanálise são cruciais para o futuro psicanalista. O tema psicose é bastante instigante, o próprio Freud,
não teve muita experiência com esta afecção, ao longo de sua obra encontramos incursões e um famoso
caso publicado em suas obras psicológicas completas, do Juiz presidente Schreber, não foi acompanhado
por ele. Entretano, Freud teve contato com suas memórias e por meio delas fez conjecturas acerca do
fenômeno psicótico.

Vale lembrar, que autores contemporâneos a Freud, entre eles: Melanie Klein, Jacques Lacan, Donald
W. Winnicott e Wilfred Bion, ampliaram e aprofundaram de forma mais consistente nas implicações
terapêuticas destes quadros.
Quiz

1
Qual nome Freud atribuiu ao desfecho e a criação do sintoma na neurose?

Formação de compromisso

Formação reativa

Deslocamento

Psicose

2
O que faz o EU/EG0 do psicótico frente a uma representação psíquica
insustetável?

Rompe com a realidade e cria outra, sob forma de delérios e alucinações.

Formação de compromisso

Conversão de sintomas físicos

Formação reativa
3
Qual é o nome dado para nova entidade psicopatológica que Freud apresenta no
texto " Neurose e Psicose" de 1924?

Epilepsia

Melancolia

Perversão

Neurose de angústias

Referências

FREUD, S. (1924). Neurose e Psicose. In: Obras Psicológicas Completas. Escritos sobre o
inconsciente.

vol. III. Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2007. p.93-95.

____________ (1924). A perda da realidade na neurose e psicose. In: Obras Psicológicas Completas.
Escritos sobre o inconsciente.

vol. III. Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2007.p. 125-127.

LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise: Laplanche e Pontalis. Tradução Pedro Tamen. 3 ed. São
Paulo, 1999.

MOCELIN, V.L.; SIGLER, R. Neurose e Psicanálise. Material didático- EAD. São Paulo: Universidade
Nove de Julho. 2015.

MOCELIN, V.L.; SIGLER, R.Psicose e Psicanálise. Material didático- EAD. São Paulo: Universidade
Nove de Julho. 2015.

QUINODOZ, J.M. Ler Freud. Guia de leitura da obra de S. Freud. Tradução Fátima Murad. Porto
Alegre: Atemed, 2007.

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