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BIOLOGIA FLORAL*
Paulo de Souza Gonçalves
EngQ AgrQ, t~.Sc.,Pesqo i sador do CNPSD
r de grande importância o conhecimento da biologia floral da seringueira,
pois ela intervem na produção de material vegetal, expl icando desta forma a forma -
çao e o desenvolvimento do fruto e da semente, como tambem o melhoramento genetico.
Inflorescência - A seringueira e uma planta monõica, com dois diferentes
tipos de flores presentes na mesma inflorescência.
As flores mascul inas e as femininas são agrupadas em uma inflorescência de
forma geral cônica, denomi nada RACEMO ou PAN1CULA. Esta se situa em geral ao longo
dos brotos terminais. O racemo e uma especie de cacho, de crescimento limitado
constituldo de uma axe principal sobre o qual são inseridos os ramos laterais pri -
mãrios. Estes apresentam abundantemente ramos secundãrios, sobre os quais se desen-
volvem, às vezes, sobre os racemos de grandes dimensões, os ramos terciãrios.
As flores femininas se apresentam em estado isolado, nas extremidades da
haste principal e dos ramos laterais primários.
As flores masculinas se distribuem sobre a parte terminal da haste prin-
cipal e sobre os lados das ramificações do racemo. Elas são grupadas em vários ra-
cemos (três a sete) geralmente por um curto pendunculo. Um racemo porta muito mais
flores mascu1 inas do que flores femininas a proporçao e de uma flor feminina para
60 flores masculinas).
Em plantação racional, a primeira floração costuma ocorrer entre três a
cinco anos de idade. No "habitat" natural leva muito mais tempo, não menos que 25
anos. Logicamente este perlodo deve ser muito variável, dependendo em grande parte
da quantidade de insolação, por se tratar de plantas heliõfilas.
* Trabalho apresentado originalmente em 1979, no 111 Curso Intensivo de Heveicultu-
ra para Tecnicos Agrlcolas.
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As Flores - As flores se apresentam como pequenas campânulas, de 3,5mm a
8,Omm de comprimento, de cor amarelo-palida a amarelo-acre. As flores masculin~ são
menores, mais ponteagudas que as flores femininas. Seu invólucro e diretamente in-
serido sobre o pendunculo. As flores femininas de distinguem pela presença de um
disco entumescido em sua base, de onde parte o invólucro floral. Este invólucro flo
ralou perianto e em geral composto de cinco peças.
Flor Masculina - As flores masculinas possuem 10 estames sêsse s, inseri'-
í
dos diretamente sobre a pequena coluna cônica central, denominada ANDROFORO. OS es-
tames são dispostos em dois verticilos de cinco estames cada. Os estames do primei-
ro verticilo alternam-se com os do segundo. Os estames são de forma alongada, orie~
tados para o mesmo sentido do andróforo e ostentam sobre sua superflcie externa um
sulco distinto. (Figura 1).
A quantidade de pólen produzida por uma flor masculina e relat ivamente pou
ca, 1.000 grãos aproximadamente. Os grãos de pólen são triangulares, com um polo
germinativo a cada ângulo. Eles são de 25 a 30 micra de diâmetro. Sua parede e de
dois a três micra de espessura. O invólucro interno ou INTINA e mais espesso que o
invólucro externo, EXINA.
Secos, os grãos de pólen apresentam uma prega formando um pequeno rego se-
melhante a um grão de cafe. Em agua destilada, os grãos de pólen germinam em poucos
minutos. Sua pressão osmótica interna torna-se elevada. Colocando-as em uma solução
contendo 30% de açucar eles são capazes de absorver a agua, indicando desta forma
que sua pressão osmótica e superior a duas atmosferas. A chuva no momento da flora-
çao tem, pois, uma ação desfavorável sobre a fecundação, porque a água destrói os
graos de pólen. Esta constatação explica porque em regiões onde chove durante a flo
raçao existe pouca fecundação e as arvores dão poucas sementes.
Flor Feminina - são maiores do que as masculinas. O perianto e um cáli-
ce aveludado em forma de campânula com cinco lóbulos. O receptáculo alarga-se em um
disco, que e extremamente verde. O ovario e superior e geralmente triloculado, com
estigma, sem pendunculo, com três lóbulos. Uma vez aberto o cálice, a receptividade
do ovario e limitada a cerca de 20 horas. O ovario triangular e formado de três car
pelos soldados e sobre este um grande estigma sessil (sem pendunculo), que e a su -
perflcie receptora de pólen. (Figura 1).
Numero de Flores - Um broto floral da em media uma dezena de racemos, cada
um em media com seis flores femininas. A proporção de flores masculinas para feminl
nas e, como ja dito antes, em geral, uma flor feminina para 60 flores masculinas. Em
certos racemos de grande dimensão, pode-se observar cerca de 3.000 flores masculi -
nas.
Epoca , Idade e Particularidadeda Floração - A Floração normal tem .1ugar
no começo do ciclo vegetativo da seringueira. Ela começa um pouco antes ou depois
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do lançamento das novas folhas e se estende geralmente por todo o perl0do de refo -
lhamento. A senescência e o refolhamento estão influenciados pela situação geogrã -
fica, pelas condições de clima e pela natureza do material vegetal.
Como todas as plantas originãrias de zonas tropicais, a seringueira e uma
planta de dias curtos para seu florescimento. Seu fotoperiodismo não parece ter ain
da sido estudado e não se dispõe de nenhum dado sobre os limites de reconhecimento
diãrio.
Como visto anteriormente, em plantações racionais a flor~ção começa aos
4-5 anos. Entretanto, a seringueira apresenta uma grande variabilidade em relação a
esse aspecto. Esta variabilidade estã em função do clima e da densidade da planta -
ção, que influenciam a incidência de sol, e o material vegetal. O estado fitossani-
tãrio interfere garndemente na idade da floração. Em geral as primeiras florações
dão poucas sementes.
Polinização - No estado espontãneo, na Amazônia, seu local de origem, a se
ringueira e polinizada principalmente por três pequenos mosquitos da famllia dos
He1çúdae..
Nas plantações da Indonesia, diversos autores, como MAAS, HEUSSER, etc.
atribuem a polinização da seringueira a pequenos mosquitos, pequenas abelhas, for -
migas e pequenos coleópteros.
De uma maneira geral, a fecundação cruzada significa a fecundação das flo-
res femininas de uma ãrvore com o pólen de outra ãrvore, ou a fecundação de um clo-
ne com outro. No entanto, a autofecundação de uma mesma ãrvore ou entre os indivl -
duos de um mesmo clone e posslvel. O grau de capacidade de autofecundação e variã -
vel segundo os indivlduos. Certos clones não respondem ã autofecundação.
Fecundação - A fecundação da seringueira e semelhante aos demais angiosper
mas. O grão de põlen germina sobre o estigma, formando dois nucleos que vão do tubo
pollnico ate a micrõpila do õvulo. Um dos nucleos se une ã oosfera, formando o em-
brião, e o outro se une ao nucleo secundãrio, formando o albumen.
Entre o momento da polinização e o momento da fecundação decorre um perlo-
do de três a doze dias. Apõs a fecundação inicia-se o processo de desenvolvimento do
ovãrio para formar o fruto, e o õvulos darão as sementes. Entretanto, o fruto se d~
senvolve mais rapidamente que o õvulo fecundado (ovo). Esse obtem seu tamanho defi-
nitivo dois meses e meio antes da maturação, que se processa quatro a seis meses
após a fecundação.
O fruto da seringueira e uma cãpsula normalmente dividida em três lõculos,
contendo uma semente em cada.
A semente e, de forma geral, arredondada ou ellptica. O tegumento externo
e liso e brilhante quando a semente e nova.
A coloração, a forma e as dimensões da semente variam segundo os indivl
duos (ou os clones) portadores. Assim, pode-se separar as sementes segundo sua
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origem materna, pois os caracteres dos graos sao constantes em um mesmo indivlduo e
em um mesmo clone.
TECNICA DE POLINIZAÇ~O
Ao preparar-se uma infloresc~ncja para polinização, todas as flores mascu-
linas e femininas abertas são removidas, deixando-se somente flores femininas fecha
das.
Material necessãrio: Para se conseguir a polinização, os seguintes mate
riais tornam-se indispensãveis: tesoura de ponta, pinças de ponta, algodão hidrófi-
lo, placa de Petri, sacos de malha, cordão ou barbante, etiquetas e andaimes portá-
teis.
Metodologia:
1) Escolher infloresc~ncia em galhos folhudos e voltados para o sol; ja -
mais preferir infloresc~ncia de galhos baixos, desfolhado ou ainda
sombreados;
2) Deve-se polinizar somente seis a oito flores por inflorescência, o que
darã três a quatro frutos quando bem sucedidas as operações. As flores
não usadas devem ser retiradas do cacho.
3) A polinização deverã ser feita pela manhã, entre 08:00 horas e 12:00
horas.
4) Inicialmente as inflorescências da planta sao preparadas eliminando-se
todas as flores masculinas e femininas jã abertas.
5) Os andróforos da planta pai são retirados, também pela manhã, das flo-
res escolhidas. Em seguida, devem ser colocados em placas de Petri con
tendo no fundo algodão umedecido.
6) Os polinizadores deverão alcançar os galhos por meio de escadas ou an-
daimes portãteis. Devem levar presa a um cordão dependurado no pescoço
uma tesoura, e uma pinça ã mão esquerda.
7) As flores femininas escolhidas para a poliniza~ão devem estar maduras,
porem fechadas.
8) Para abrir o cãlice da flor feminina, usar os dedos polegar e indica -
dor ou ainda contar com ajuda de pinças.
9) Com as pinças retira-se um andróforo e o coloca sobre o estigma da
flor feminina, fechando esta com um pouco de lãtex nas extremidades
Todas as flores não usadas devem ser retiradas do RACEMO.
10) Na etiqueta anota-se o numero de flores polinizadas por racemo e tam-
bem os clones usados como pai e mãe, fixando-a depois no cacho.
11) Seis semanas após e feito um levantamento do resultado das poliniza-
ções, que e registrado em uma caderneta ou tabela de cruzamentos. Ao
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mesmo tempo, pro teçe-se os novos frutos com sacos de ma 1ha, a fim de que as semen
tes não sejam perdidas durante o perlodo de deiscência.
FLOR DA HEvEA
FLOR MASCULINA FLOR FEMININA
SEPALAS
DISCO
1I
FLOR MASCULINA FECHADA
FLOR FEMININA FECHADA
ANDROFORO
ESTAMES
SESSEIS
- SULCO
EsT1G~lA SESSIL
CARPELO
OVARIO
6<:J ESTAMINODIO
DISCO
GAAOS DE PLJLEN
ANDROCEU DE UMA FLOR MASCULINA OVARIO DE UMA FLOR FEMININA
APLis A RETIRADA DAS SEPALAS APOS A RETIRADA DAS SEPALAS
ESTAMES ESnGMA
PROJEÇAO DO ANDROCEU PROJEÇAO DO OVARIO
ANDROFORO CARPELO
ESTAMES SEPALAS OVULO
ESTAMINLiDIO
DIAGRAMA DE UMA FLOR MASCULINA DIAGRAMA DE UMA FLOR FEMININA
Figura 1 - Detalhe das flores masculinas e femininas da seringueira.