32 Implementando Reflorestamentos com Alta Diversidade na Zona da Mata Nordestina
6. Como escolher as espécies que
serão plantadas?
Uma série de critérios deve ser cuidadosamente seguida de modo a garantir uma boa
escolha das espécies e o sucesso do reflorestamento. Veja abaixo cada um dos passos:
a) Com base nas figuras 10 a 13, localize a área a ser reflorestada em termos de
município, tipo de vegetação (consulte também o apêndice 1) e microrregião
vegetacional. Se o local a ser reflorestado situa-se no estado: (1) Rio Grande
do Norte, vá para a figura 10; (2) Paraíba, vá para a figura 11; (3) Pernambuco,
vá para a figura 12; ou (4) Alagoas, vá para a figura 13.
b) Escolha, pelo menos, 80 espécies que naturalmente ocorrem na sua microrregião
vegetacional com base no apêndice 2. Se tiver dificuldade para conseguir 80
espécies, utilize espécies de outras microrregiões que sejam próximas e do
mesmo tipo de vegetação. O apêndice 3 informa os tipos de vegetação nos
quais as espécies ocorrem, mas informações adicionais podem ser obtidas
com profissionais especializados, de forma a garantir que as espécies vegetais
utilizadas sejam aquelas que naturalmente ocorrem no tipo de vegetação em
que a área a ser reflorestada está inserida.
Atenção! As figuras de 10 a 13 mostram os tipos vegetacionais com precisão
na escala regional. Estes mapas são pouco precisos na determinação do
tipo de vegetação na escala local*. Para identificar com precisão local o
tipo de vegetação, recomenda-se consultar especialistas.
c) Metade do número de mudas a serem utilizadas no plantio deve conter no
mínimo 10 espécies do grupo de preenchimento e a outra metade deve conter
em torno de 70 espécies do grupo de diversidade. Em cada um desses dois
grupos, o número de mudas por espécie deve ser o mais igualmente distribuído,
para evitar plantar muitas mudas de poucas espécies. As espécies dentro de
cada grupo devem ser plantadas o mais misturado, evitando que plantas da
mesma espécie fiquem lado a lado.
* Atlas Nacional do Brasil: Região Nordeste. Rio de Janeiro: IBGE, 1985.
6. Como escolher as espécies que serão plantadas? 33
Exemplo:
Para o plantio de 10.000 mudas, deve-se utilizar:
• 5.000 mudas (grupo de preenchimento) 15 espécies cerca de 333 mudas
por espécie
• 5.000 mudas (grupo de diversidade) 75 espécies cerca de 67 mudas por
espécie
Nos apêndices, estão incluídas várias informações sobre ecologia e distribuição geográfica
das espécies que devem ajudar na escolha do conjunto de espécies a ser utilizado em cada
situação.
6.1. O que são espécies de preenchimento e diversidade?
O grupo de preenchimento é constituído de espécies que possuem rápido crescimento
e grande cobertura de copa, proporcionando o rápido sombreamento da área plantada. A
maioria dessas espécies é classificada como iniciais da sucessão (pioneiras), embora não seja
adequado se referir a esse grupo como “pioneiras”, porque as pioneiras que crescem rápido e
que não promovem grande cobertura, como a embaúba (Cecropia spp.) e o guapuruvu
(Schizolobium parahyba), são incluídas no grupo de diversidade. Com o rápido recobrimento e
sombreamento da área, essas espécies criam um ambiente favorável ao desenvolvimento dos
indivíduos do grupo de diversidade e desfavorecem o desenvolvimento de espécies competidoras,
como gramíneas e lianas agressivas (trepadeiras). Outra característica desejável para as
espécies do grupo de preenchimento é que floresçam e produzam sementes rapidamente.
Como as espécies do grupo de preenchimento possuem ciclo de vida curto, será necessária
a substituição dos indivíduos plantados dessas espécies, quando estes começarem a morrer.
Dessa forma, espécies finais da sucessão (não pioneiras) devem ser utilizadas conjuntamente
com as iniciais, permitindo que haja uma substituição gradual de espécies no tempo, para que
a floresta restaurada se perpetue e não permita a reinfestação de gramíneas exóticas agressivas.
O grupo de preenchimento pode ser exemplificado pelas espécies: cupiúba (Tapirira
guianensis), ingá (Inga spp.), marmeleiro (Croton floribundus), caboatã-de-leite (Thyrsodium
spruceanum), amarelo (Plathymenia foliolosa), salgueiro (Aegiphila pernambucensis e A.
sellowiana), pau-de-jangada (Apeiba tibourbou), sabiazeira (Miconia prasina), jitó (Guarea
guidonia), entre outras (veja apêndice 2). Vale destacar que é importante uma caracterização
do desenvolvimento de mudas já plantadas nas diversas regiões, para que haja uma adequada
classificação local das espécies quanto ao grupo ao qual pertencem (preenchimento ou
diversidade).
No grupo de diversidade, incluem-se as espécies que não possuem rápido crescimento
e/ou nem grande cobertura de copa, mas são fundamentais para garantir a perpetuação da
34 Implementando Reflorestamentos com Alta Diversidade na Zona da Mata Nordestina
área plantada. São as espécies desse grupo que irão gradualmente substituir as de preenchimento,
quando estas entrarem em senescência (morte), ocupando definitivamente a área restaurada
e garantindo sua continuidade. Esse grupo se assemelha ao grupo referido em alguns projetos
como o das não pioneiras, com a diferença de que no grupo de diversidade estão incluídas
também as espécies iniciais da sucessão (pioneiras) que não promovem forte sombreamento
da área. Incluem-se nesse grupo todas as demais espécies regionais não pertencentes ao
grupo de preenchimento, inclusive espécies vegetais de outras formas de vida que não as
arbóreas, como os arbustos e subarbustos. Inclui-se, também, a maioria das árvores emergentes*
e das árvores produtoras de grandes frutos e sementes. Estas últimas são muito importantes
para a alimentação da fauna de grandes vertebrados, sendo representadas pelas famílias
Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Leguminosae e Myrtaceae, entre outras. Árvores com estas
características são muito importantes para a viabilidade futura da floresta plantada.
6.2. Árvores nobres e árvores vulneráveis à extinção
Na seleção das espécies, certa atenção deve ser dada a estes dois grupos. Árvores
nobres são aquelas espécies de árvores nativas que possuem madeira de boa qualidade (madeira
de lei), produzem compostos de alta utilidade medicinal, fornecem frutos ou sementes de
grande apreciação ou têm alguma outra utilidade de destaque. Estas espécies foram exploradas
de maneira abusiva e hoje encontram-se em quantidades reduzidas na Natureza. Por isso,
muitas delas encontram-se vulneráveis à extinção (isto é, com grande chance de desaparecer).
Exemplos de árvores nobres da região são: pau-brasil (Caesalpinia echinata), maria-preta
(Melanoxylon brauna), pau-d’óleo (Copaifera langsdorffii), jatobás (Hymenaea spp.), angelins
(Andira spp.), jacarandá (Swartzia macrostachya), cedro (Cedrela spp.), cumarú (Dipteryx
odorata), maçarandubas (Manilkara salzmannii, M. rufala), louros (Ocotea spp.), sapucaias
(Lecythis spp.) e a urucuba (Virola gardneri), dentre outros.
Neste guia, apresentamos uma lista das espécies de árvores que possuem ocorrência
conhecida em apenas uma localidade em toda floresta Atlântica de terras baixas entre Alagoas
e Rio Grande do Norte e, por isso são provavelmente as árvores mais ameaçadas de extinção
na região (apêndice 4). Os reflorestamentos devem ter o papel de aumentar as populações
destas espécies, contribuindo para a sua conservação e agregando valor às iniciativas de
restauração. Dessa forma, devemos estar sempre atentos para incorporá-las nos plantios.
*Árvores mais altas da floresta, que chegam a ultrapassar o dossel.
35
Arês 11
Baía Formosa 20
Canguaretama 18
Ceará-Mirim 5
Espírito Santo 14
Extremoz 6
Goianinha 15
Jundiá 13
Maxaranguape 4
Natal 7
Nísia Floresta 10
Parnamirim 8
Pedro Velho 19
Pureza 2
Rio do Fogo 3
São José de Mipibu 9
Senador Georgino
Avelino 12
Tibau do Sul 16
Touros 1
Vila Flor 17
Figura 10. Mapa dos municípios da Zona da Mata do Rio Grande do Norte e seus respectivos tipos de vegetações e microrregiões.
Figura 10
Mapa dos municípios da Zona da Mata do Rio Grande do Norte e seus respectivos tipos de vegetação e microrregiões.
37
Alagoa Grande 41 Juarez Távora 29
Alagoa Nova 42 Juripiranga 21
Alagoinha 52 Lagoa Seca 45
Algodão de Jandaíra 58 Lucena 6
Alhandra 18 Mamanguape 2
Arara 57 Marcação 4
Areia 51 Massaranduba 39
Areial 48 Mataraca 1
Aroeiras 32 Matinhas 43
Baía da Traição 3 Mogeiro 28
Bananeiras 62 Montadas 47
Bayeux 13 Natuba 33
Belém 63 Pedras de Fogo 19
Borborema 61 Pilar 24
Caaporã 17 Pilões 55
Cabedelo 11 Pilõezinhos 54
Cacimba de Dentro 66 Pitimbu 16
Campina Grande 37 Puxinanã 46
Campo de Santana 64 Remígio 50
Capim 7 Riachão do Bacamarte 38
Casserengue 59 Riachão do Poço 23
Conde 15 Rio Tinto 5
Cruz do Espírito Santo 12 Salgado de São Félix 27
Cuité de Mamanguape 8 Santa Rita 10
Cuitegi 53 São José dos Ramos 25
Dona Inês 65 São Miguel de Taipu 20
Esperança 49 São Sebastião de Lagoa de Roça 44
Fagundes 36 Sapé 9
Gado Bravo 35 Serra Redonda 40
Ingá 30 Serraria 56
Itabaiana 26 Solânea 60
Itatuba 31 Sobrado 22
João Pessoa 14 Umbuzeiro 34
Figura 11. Mapa dos municípios da Zona da Mata da Paraíba e seus respectivos tipos de vegetações e microrregiões.
Figura 11
Mapa dos municípios da Zona da Mata da Paraíba e seus respectivos tipos de vegetação e microrregiões.
39
Abreu e Lima 20 Jaqueira 71
Agrestina 74 João Alfredo 31
Água Preta 66 Joaquim Nabuco 60
Águas Belas 104 Jucati 92
Aliança 6 Jupi 86
Altinho 75 Jurema 83
Amaraji 53 Lagoa do Carro 24
Angelim 90 Lagoa do Itaenga 25
Araçoiaba 16 Lagoa do Ouro 97
Barra de Guabiraba 55 Lagoa dos Gatos 80
Barreiros 64 Lajedo 84
Belém de Maria 72 Limoeiro 26
Bom Conselho 102 Macaparana 9
Bom Jardim 30 Machados 27
Bonito 59 Maraial 70
Brejão 98 Moreno 39
Buenos Aires 14 Nazaré da Mata 13
Cabo de Santo Agostinho 49 Olinda 19
Cachoeirinha 77 Orobó 28
Caetés 94 Palmares 67
Calçado 87 Palmeirina 89
Camaragibe 21 Panelas 79
Camocim de São Félix 57 Paranatama 99
Camutanga 8 Passira 41
Canhotinho 88 Paudalho 22
Capoeiras 93 Paulista 18
Carpina 23 Pombos 42
Casinhas 29 Primavera 47
Catende 69 Quipapá 82
Chã de Alegria 35 Recife 37
Chã Grande 46 Ribeirão 52
Condado 5 Rio Formoso 62
Correntes 96 Sairé 56
Cortês 54 Salgadinho 32
Cumaru 43 Saloá 100
Cupira 73 São Benedito do Sul 81
Escada 48 São Bento do Una 85
Feira Nova 33 São Caitano 76
Ferreiros 7 São João 91
Gameleira 61 São Joaquim do Monte 58
Garanhuns 95 São José da Coroa Grande 65
Glória do Goitá 34 São Lourenço da Mata 36
Goiana 1 São Vicente Ferrer 11
Gravatá 45 Sirinhaém 51
Iati 103 Surubim 44
Ibirajuba 78 Tamandaré 63
Igarassu 17 Terezinha 101
Ilha de Itamaracá 3 Timbaúba 10
Ipojuca 50 Tracunhaém 15
Itambé 0 Vicência 12
Itapissuma 2 Vitória de Santo Antão 40
Itaquitinga 4 Xexéu 68
Jaboatão dos Guararapes 38
Figura 12. Mapa dos municípios da Zona da Mata de Pernambuco e seus respectivos tipos de vegetações e microrregiões.
Figura 12
Mapa dos municípios da Zona da Mata de Pernambuco e seus respectivos tipos de vegetação e microrregiões.
41
Anadia 49 Major Isidoro 79
Arapiraca 58 Mar Vermelho 40
Atalaia 34 Maragogi 1
Barra de Santo Antônio 11 Marechal Deodoro 32
Barra de São Miguel 45 Maribondo 42
Batalha 77 Matriz de Camaragibe 8
Belém 52 Messias 22
Boca da Mata 43 Minador do Negrão 55
Branquinha 24 Murici 23
Cacimbinhas 56 Novo Lino 14
Cajueiro 35 Olho d'Água Grande 71
Campestre 6 Palmeira dos Índios 39
Campo Alegre 48 Paripueira 20
Campo Grande 72 Passo de Camaragibe 10
Capela 27 Paulo Jacinto 37
Chã Preta 26 Penedo 66
Coité do Nóia 59 Piaçabuçu 65
Colônia Leopoldina 15 Pilar 33
Coqueiro Seco 31 Pindoba 41
Coruripe 63 Porto Calvo 3
Craíbas 57 Porto de Pedras 5
Dois Riachos 80 Porto Real do Colégio 69
Estrela de Alagoas 54 Quebrangulo 38
Feira Grande 73 Rio Largo 28
Feliz Deserto 64 Roteiro 46
Flexeiras 19 Santa Luzia do Norte 30
Girau do Ponciano 75 Santana do Mundaú 25
Ibateguara 16 São Brás 70
Igaci 53 São José da Laje 17
Igreja Nova 68 São Luís do Quitunde 12
Jacuípe 2 São Miguel dos Campos 44
Japaratinga 4 São Miguel dos Milagres 9
Jaramataia 78 São Sebastião 67
Jequiá da Praia 47 Satuba 29
Joaquim Gomes 13 Tanque d'Arca 50
Jundiá 7 Taquarana 51
Junqueiro 61 Teotônio Vilela 62
Lagoa da Canoa 74 Traipu 76
Limoeiro de Anadia 60 União dos Palmares 18
Maceió 21 Viçosa 36
Figura 13. Mapa dos municípios da Zona da Mata de Alagoas e seus respectivos tipos de vegetações e microrregiões.
Figura 13
Mapa dos municípios da Zona da Mata de Alagoas e seus respectivos tipos de vegetação e microrregiões.