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Voo Livre em Psitacídeos: Fases e Períodos Sensíveis Do Desenvolvimento Mental e Social. O Voo É

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VOO LIVRE EM PSITACÍDEOS

As aves fascinam-nos. O voo fascina-nos. Mas a maioria das aves que


escolhemos como animais de companhia vivem em espaços exíguos. Pior
ainda, os psitacídeos que nos fascinam também pela capacidade de
interagirem connosco falando, vivem com frequência privados de voar. É
objectivo desta comunicação informar e sensibilizar para a necessidade de
proporcionar a capacidade de voar e divulgar as condições de segurança para
a prática do voo livre.

I – Existe um mercado crescente para a comercialização de papagaios bebés,


criados com êxito pelos seres humanos. São anualmente produzidos milhares
destes animais, uma vez que os métodos da criação à mão já estão
amadurecidos. Contudo o “know-how” de como criar com sucesso o papagaio-
bébé a partir do ovo ou das primeiras semanas de vida, não foi acompanhado
pelo conhecimento das fases cruciais do desenvolvimento psicológico da jovem
ave. Os criadores sabem bem das fases e períodos sensíveis do
desenvolvimento físico da ave mas prestam pouca ou nenhuma atenção às
fases e períodos sensíveis do desenvolvimento mental e social. O voo é
um aspecto muito importante desse desenvolvimento.

O treino precoce para o voo livre e a oportunidade de voar pelo menos nos
primeiros meses de vida da ave é determinante para o desenvolvimento físico e
psíquico da ave e afectará para sempre positivamente a vida dessa ave.

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O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E OS PERÍODOS
SENSÍVEIS

Não há tempo nos curtos minutos desta comunicação para discutir o que
é filogenético e ontogenético no comportamento dos papagaios. Mas sabemos
que o desenvolvimento correcto das crias de papagaios é crucial para muitos
dos comportamentos filogenéticos e ontogenéticos. As aves jovens passam por
vários períodos sensíveis em que se estabelecem e desenvolvem determinada
capacidades e competências, como as necessárias para o voo. Interferir nestes
períodos sensíveis pode ter efeitos duradouros nestas capacidades e noutras
futuras que se desenvolveriam com base nelas. Uma ave que não percorra
estas fases ou que falhe no desenvolvimento de certas capacidades
durante os períodos sensíveis pode não se desenvolver correctamente ou
pode desenvolver variações estranhas do que seriam comportamentos
filogenéticos normais e saudáveis.

Os estádios temporais foram estudados por Steve Hartman que teve a


ajuda de estudantes de veterinária da Universidade Estatal de Ohio que
observaram e gravaram em vídeo centenas de papagaios bebés do Aviário
Hartman, em Sunbury, Ohio, EUA. Tomei como referência as espécies
médias, como os amazonas ou as catatuas.

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PERÍODOS SENSÍVEIS – FÍSICO

Começam no início da incubação e prolongam-se até cerca de 3 meses


depois da primeira muda da pena (Hartman, 2009).

PERÍODOS SENSÍVEIS - MENTAIS

Começam cerca de 3 dias antes da eclosão, à medida que o bebé


começa a processar o que ouve, e está praticamente completo aos cinco
anos de idade, quando a ave é considerada adulta (Hartman, 2009).

Durante os 6 primeiros meses a rede neuronal para o desenvolvimento social


processa as experiências de vida para elaborar o conteúdo de quem serão e de
como processarão as experiências da sua vida futura. Foram reconhecidas
como influências positivas o amor incondicional, o tempo de qualidade, os
mimos, etc. O período dos 6 meses a 1 ano é classificado como o
enquadramento temporal para o desenvolvimento neurológico que determinará
se será corajoso e extrovertido ou não, mais ou menos confiante, atlético ou
preguiçoso. (Hartman, 2009).

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PERÍODOS SENSÍVEIS: O DESENVOLVIMENTO MENTAL

Tal como o desenvolvimento físico que pode ser prejudicado por variações
ambientais que saiem dos parâmetros da natureza, o desenvolvimento mental
também é profundamente afectado pelas variáveis ambientais. Cerca de 75%
do desenvolvimento mental está completo no fim do terceiro mês de vida
do papagaio e cerca de 90% entre os 6 e os 8 meses de vida. Tal como o
processo do desenvolvimento físico requer alimentação adequada, humidade e
temperatura controladas, o processo de desenvolvimento mental e social
requer estímulos e interacções adequados para um desenvolvimento
correcto (Hartman, 2009).

- A comunicação sonora começa pelo menos 3 dias antes da eclosão. Os pais


interagem verbalmente com o bébé que começa a bicar a casca;

- A coordenação começa a ser evidente cerca de 3 dias após a eclosão, em


parte devido ao papel do macho na limpeza das fezes do ninho, ocasionando
muitos contactos e muitos estímulos mentais e físicos. A fêmea está disponível
cerca de 23 horas por dia durante várias semana e é também uma fonte
constante de estimulação física/psíquica (Hartman, 2009). É fundamental que o
bébé tenha um nível de estimulação física e mental adequado nesta fase da
vida para um saudável desenvolvimento mental. Estabelecem-se biliões de
redes neuronais e numerosos processos mentais desenvolvem-se se houver
um nível adequado de estimulação. Nesta idade precoce o bébé está não só a
crescer fisicamente mas também mentalmente, apesar de isso não ser
facilmente observável. Tal como temos que controlar as variáveis ambientais
para se assemelharem à mãe natureza para obter um correcto
desenvolvimento físico, temos também que imitar a natureza para um
harmonioso desenvolvimento mental. Estimulação insuficiente ou
demasiada de tipo errado ou demasidamente cedo podem originar
desenvolvimento mental retardado ou reduzido e mesmo doenças mentais.
Muito do desenvolvimento social posterior assenta no desenvolvimento
mental de base.

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Muitas destas aves com handicap vivem em cativeiro como animais de
estimação e muitos destes desvios são erradamente considerados como
comportamentos normais de ave de estimação, sendo a verdadeira causa a
falta de suporte para o desenvolvimento mental e social nos períodos
sensíveis. Os novos donos sentir-se-ão culpados pelos problemas e
enfrentarão a tarefa difícil de tentar corrigir esses problemas através de
técnicas de modificação do comportamento. Poucos desses jovens donos
possuem o know-how adequado para essa tarefa e o falhanço é o mais
provável. Nos Estados Unidos os abrigos de animais estão cheios de
papagaios com todo o tipo de perturbações mentais e que já ninguém quer. Em
Portugal isto já começou a ocorrer e será cada vez mais frequente no futuro.
Muitos destes problemas poderiam ter sido evitados ou muito reduzidos
com os cuidados adequados durante as fases iniciais de vida dos
papagaios bebés. Para o desenvolvimento mental saudável a ave necessita
de contacto físico quase constante com os seus irmãos e pais. Em alternativa
o papagaio bebé necessita de contacto físico quase constante com o
criador.

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PERÍODOS SENSÍVEIS: O DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Para os instintos produzirem comportamento normais a ave necessita de uma


base adequada para compreensão do mundo em que vive. Quando atinge uma
idade em que começa a tomar consciência do seu ambiente, inicia-se um
processo que Chris Biro denomina de “calibração plataforma“:

1. O processo de estabelecer que elementos ambientais são “normais” e


significativos para o animal, baseados em observações plataforma. Este
processo estabelece a plataforma das condições normais para o
exercício das tendências instintivas.
2. Observações plataforma – observações ambientais feitas na primeira
fase da vida em que a maioria dos estímulos encontrados são
imediatamente aceites como normais (Biro, 2009)

Este processo de calibração começa quando o bebé observa o que


o rodeia a partir do ninho, continua com a observação fora do ninho e
termina algum tempo após o período de começar a voar.

Há elementos deste processo que acabam mais cedo que outros: a


identificação de alimentos aceitáveis prolonga-se mais no tempo do que a
aceitação de objectos novos perto do ninho. Durante este período sensível de
calibração os objectos novos são imediatamente aceites. Depois do período
sensível de calibração, os objectos novos provocarão uma resposta cautelosa,
que prevalecerá no resto da vida da ave. Este processo de calibração é
importante por muitas razões, entre as quais as reacções de defesa, que
dependem do reconhecimento do que é normal e do que não é normal no
ambiente.

Habitar nos primeiros 2-3 meses de vida num ambiente similar ao que a
ave viverá na maior parte da sua vida é crucial para a forma como essa ave
adaptará as suas tendências naturais ao ambiente em que passará a sua vida
(por ex., um estranho é presumivelmente um amigo nas nossas casas
enquanto na vida selvagem um estranho é presumivelmente um predador).
Durante este período desenvolvem-se muitos processos importantes que

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assentam nas observações iniciais do ambiente. Exemplos: processamento
auditivo, desenvolvimento da linguagem, brincar com brinquedos,
conhecimento do bando, desenvolver amizades, resposta de fuga ou luta, visão
tridimensional, competências de voo, controlo das fezes…

Os meses 4 e 5 incluem o processo de desmame e são críticos para o


desenvolvimento saudável. Durante o 4º mês o bebé começa o processo de
desmame e desenvolve várias competências sociais tais como desenvolver a
confiança através da observação de outras aves à distância, brincar perto de
outras aves mas não com elas, e por fim brincar com outras aves. Aprende a
ser independente à medida que se afasta para explorar. Aprende a partilhar e
desenvolve a auto-confiança.

Durante o 5º mês desenvolvem-se ainda competências de raciocínio e


de resolução de problemas.

Poderíamos ser tentados a pensar que se um animal está destinado a


uma vida sedentária seria melhor ser criado num ambiente com poucos
estímulos. Com frequência é recomendado ao novos donos que não devem
manipular muito a sua ave de forma a que ela não exija mais tarde muita
manipulação. A investigação com uma variedade de animais e seres humanos
demonstra que passar pelos períodos sensíveis numa caixa estéril ou com um
mínimo manuseamento produz desequilíbrios mentais graves. Um animal com
estes desequilíbrios não é adequado para animal de companhia.

Pode ser tentador pensar em colocar um bebé num ambiente muito


estimulante. Mas a estimulação excessiva em qualquer das fases de
desenvolvimento pode causar perturbações mentais e fobias com
consequência a longo prazo. A chave para evitar os estímulos excessivos é dar
ao bebé a possibilidade de se retirar quando quiser, proporcionando-lhe uma
caixa de cartão, por exemplo, para onde ele se retira ou de onde vai espiando o
que se passa no exterior, à sua vontade, ao seu próprio ritmo.

Para um desenvolvimento físico, mental e social pleno, o bebé deve ser


criado no ambiente social e com os estímulos com que viverá. Ao aplicar isto

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ao papagaio de companhia a ave é criada pelos progenitores até mesmo
antes da consciência activa do seu ambiente e é então transferida para a
sua nova casa, a tempo dos processos de calibração da plataforma. Pode
então observar e investigar o seu ambiente ao seu próprio ritmo. Os voos
iniciais são realizados no ambiente doméstico na idade natural de aprender a
voar, e as competências de voo e sociais expandem-se depois em ambiente
exterior como elemento de um grupo de papagaios similares nos 2 anos
seguintes. A nova casa deverá compreender como continuar a manusear
adequadamente o bebé, de acordo com o seu ritmo de desenvolvimento
natural.

Em alternativa o bebé pode ser alojado de forma a ter a visão do espaço


de vida dos humanos e a visão do espaço exterior, ser manuseado com muita
frequência, começar a voar na idade natural tendo condições para o máximo
possível de desenvolvimento do voo, até ser transferido para a nova casa e na
nova casa continuar a poder praticar o voo dentro e fora de casa.

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ADAPTÁVEL E FLEXÍVEL ATÉ CERTO PONTO

Com tempo e oportunidade os indivíduos podem com frequência


ultrapassar algum do atraso e da incapacidade causados por condições
ambientais não-ideais durante os períodos sensíveis de crescimento. Há
evidentemente limitações ao que pode ser ultrapassado e que pode ser
trazido de volta aos níveis de desenvolvimento “normais”. Não havendo
pesquisa científica é difícil saber com rigor que estragos são causados quando
as capacidade de adaptação de um papagaio são excedidas. Actualmente
apenas podemos presumir legitimamente que as disfunções presentes em
muitos dos papagaios de companhia podem ter a sua origem nas condições
estéreis de estímulos comuns à maioria dos ambientes de criação actuais ou
na sobre-estimulação dos donos que não compreendem a vulnerabilidade
mental do papagaio bebé. Os avicultores devem pesar estas questões e
procurarem pistas que possam levar a novos “insights”.

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O TREINO DO VOO DE MODO NATURAL
Se o criador fizer o bom trabalho de providenciar um ambiente
adequado, o processo da natureza produz normalmente uma bebé saudável e
sem defeitos. De igual modo, se o treinador de voo fizer o bom trabalho de
providenciar um ambiente adequado, o processo de treino do voo da natureza
produzirá normalmente um voador competente. De facto, com supervisão
humana em ambiente de cativeiro podemos alcançar uma taxa de
sobrevivência mais alta do que a que se verificaria na vida selvagem durante o
processo de desenvolvimento do processo do voo. O processo de selecção
natural refinou um processo efectivo e eficiente para treinar os bebés para
voarem. Sendo treinadores em terra, o nosso trabalho é proporcionar as
condições ambientais, de forma a que o processo da natureza possa
desenvolver as competências de voo necessárias, enquanto simultaneamente
evitamos a perca da ave durante o processo. O treino do voo inclui o
desenvolvimento da força e da coordenação física, competências sociais e
comportamentais. Uma das competências comportamentais é a “resposta
ao chamamento” que requer agilidade mental (que inclui consciência espacial,
rápida resolução de problemas, respostas sociais, capacidade de navegação,
capacidade de procurar comida e respostas de fuga). A prática do
chamamento no exterior pode envolver circunstâncias inesperadas que
podem causar voo em territórios desconhecidos.

Controlar o ambiente com o objectivo de treinar o voo inclui seleccionar


o estímulo antecedente e as consequências que encorajam a ave a voltar ao
treinador quando é chamada, assim como seleccionar os lugares que
permitirão o desenvolvimento da competência a um nível adequado ao nível de
desenvolvimento físico, mental e social da ave. Os 2 elementos mais críticos
para o processo de treino de voo são a idade do treino e a abordagem do
treino. Começar com um bebé que está num período sensível para
aprender a voar faz a maior diferença entre todos os factores. As aves na
fase natural de aprender a voar (fledgelings) têm uma avidez de voar, uma
velocidade de aprendizagem, uma atitude destemida e enraizada no
desejo de se manterem perto dos progenitores/cuidadores que constituem
vantagens significativas em relação ao treino do papagaio adulto de estimação.

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VARIEDADE COMPLETA DE COMPORTAMENTOS NATURAIS

O voo livre é a forma mais natural de exercício e de enriquecimento que


pode ser proporcionado a uma ave. O objectivo do Chris Biro para as suas
araras, é, por exemplo, “ ajudá-las a desenvolverem comportamentos similares e
competências comparáveis às das araras selvagens…”.

Desenvolver altos níveis de competência na idade correta e com


tempo para os praticar proporciona o aumento do desenvolvimento da
competência de fuga aos predadores, comparado com o treino de um adulto
que não aprendeu a fazê-lo da idade devida. Diz o Chris Biro “as minhas aves não
só voam em bando como reagem aos predadores como um bando, ficando alguns
de sentinela enquanto os outros se alimentam de bagas. Uma triste conclusão do
projecto de reintrodução dos anos 80 Thick Billed Parrot Reintroduction
Project: “as aves criadas em cativeiro tiveram taxas de sobrevivência baixas
devidas fundamentalmente a deficits na busca da comida e deficits na
socialização e devido a pesadas perdas causadas pelos predadores …. As únicas
aves que mostraram bons potenciais para a reintrodução foram os adultos
apanhados e transferidos (Snyder 1994).

Chris Biro diz “Os resultados com o meu programa de voo indicam que é possível
que aves criadas em cativeiro desenvolvam comportamentos de bando e de evitar
os predadores adequados aos objectivos da reintrodução se forem criados e
treinados com a devida atenção aos períodos mentais e sociais sensíveis. As
minhas aves criadas e treinadas com a minha supervisão voam claramente como
um bando, inclusive com espécies diferentes. No voo livre respondem às ameaças
“virtuais” ou reais individualmente e como bando. Vimos muitas vezes aves de
rapina interagirem com as nossas aves em voo livre. Até agora tivemos 0% de
percas para predadores apesar de voarmos mais de 20 aves durante a maior
parte do dia e a maior parte do ano.

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O ESTILO DE VIDA DO VOO LIVRE: DESAFIOS E BENEFÍCIOS
ASSOCIADOS

Muitos processos do período sensível são iniciados


automaticamente e desenrolam-se normalmente se o treino do voo
começar da idade natural de aprender a voar e tiver continuidade no
primeiro ano de vida, da forma como a natureza o previu.

“Na fase da vida mais maleável da jovem ave, é um imenso benefício


para ela se puder, como a natureza planeou, experienciar o alto nível de
estimulação neural e processamento mental envolvido na aprendizagem da
coordenação da mente e do corpo para ser um voador ágil membro de um
grupo. Pensem nos processos mentais envolvidos na aprendizagem
necessária para navegar a alta velocidade entre os ramos e raminhos das
árvores; ou para desenvolver a confiança necessária para navegar em
territórios desconhecidos; ou para negociar e aplicar as muitas regras
envolvidas para se ser um membro de um bando altamente móvel e interactivo.
De um ponto de vista do desenvolvimento, são estas as capacidades e
competências que a selecção natural previu que os jovens papagaios
aprendessem e começassem a dominar nesta idade jovem. Em vez disso a
maioria cresce confinada a uma vida equivalente, em termos de vida humana,
ao confinamento numa casa de banho. E interrogamo-nos porque desenvolvem
doenças mentais. Para mim o facto de muitos papagaios de estimação se
integrarem bem como o fazem é uma grande prova da sua maleabilidade e
adaptabilidade.

A ideia do voo livre dos papagaios contem um elemento romântico


com que muitos dos donos de papagaios sonham, seja pelo desejo que o seu
papagaio experiencie um estilo de vida natural ou pela ansiedade de engaiolar
o animal. Raramente os donos compreendem as complexidades do estilo
de vida do voo livre ou os elementos de treino envolvidos para produzir um
voador com sucesso. Para a maioria das famílias, partilhar o espaço vital com
um papagaio voador não é mais natural que partilhar a casa com um cavalo. E
tal como na manutenção de cavalos, o sucesso na manutenção de papagaios

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que voam depende em grande medida da localização adequada, do treino
apropriado, de dedicação e de tempo livre. Viver com um “alicate” voador
exige uma série de ajustes à nossa vida pessoal. Com uma ave que voa
não treinada e solta em casa nada está seguro de não sofrer uma “alteração”
ou de não ficar sujo com os dejectos, por vezes mesmo com supervisão
directa. Mas ao mesmo tempo nada se compara à alegria de ser um
participante chave no amadurecimento de uma ave jovem que evolui para
um acrobata aéreo espantosamente habilidoso e nada se compara à
relação que se desenvolve quando a ave vem ter connosco no nosso quintal,
com afecto e de acordo com a sua própria vontade, e não de acordo com a
nossa.

Manter papagaios com capacidade de voar é não apenas bom para o


desenvolvimento da ave de estimação mas é também bom para o dono.
Em 10 anos de actividade da Free Flight
(http://pets.groups.yahoo.com/group/Freeflight) foi possível verificar que os
donos de aves que voam se interessam progressivamente mais por aprender
melhores técnicas de maneio e de treino. Manter um papagaio que voa em
casa requer capacidades de treino acima da média, pelo menos para
proteger a mobília e as decorações. E as pessoas não demoram a perceber
isto quando têm uma ave que voa em casa. O interesse no voo dentro ou no
exterior gera motivação para aprender a melhor treinar. O interesse pela
etologia é também comum entre os treinadores de voo. Para algumas pessoas
o seu papagaio que voa faz desenvolver um interesse completamente novo
que vem com a beleza do voo e daí o gosto pela fotografia. Os vídeos do
Youtube provam-no.
Manter papagaios que voam exige um nível de conhecimento,
compromisso e interacção entre o papagaio e o seu dono de forma a
preservar um bom nível de resposta ao “recall”. Os donos que gastam o
seu tempo na interacção com os seus animais de estimação têm com eles
relações mais duradouras. Os donos de papagaios que voam dedicam-se a
manter as condições que permitem o voo e em geral preocupam-se muito
que as suas aves não vão parar a lares em que não possam voar. Tudo isto se
traduz num duradouro compromisso com o bem-estar dessas aves.

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À medida que o treinador observa e participa no crescimento,
desenvolvimento e nos progressos relacionados com o treino do voo,
desenvolve-se no dono/treinador um orgulho imenso nos seus papagaios.
Só os donos de papagaios que voam fora experimentam a natureza confiante
de um papagaio que tem a liberdade de encarar os perigos que percepciona
através de uma retirada natural ou de um processo de abordagem. Alguns
donos sentem uma satisfação pessoal ao saberem que a sua ave que voa fora
é similar ao papagaios selvagens no que respeita ao tónus muscular,
respiratório e cardiovascular e à agilidade mental. Há qualquer coisa de
quase mágico em dar um passeio pelo campo com os papagaios a voarem
de árvore em árvore ao longo do caminho, pousando ocasionalmente no nosso
ombro e a levantarem voo e circularem sobre as nossas cabeças. A
interacção social e os jogos entre os treinadores e as suas aves com
quem partilham a vida muda a vida de todos, aves e donos.

Há um grande potencial para que estes jogos sociais evoluam para


eventos sociais de voo livre e competições. Estes eventos darão oportunidades
para criar e melhorar os standards da avicultura em geral, como aconteceu
com a comunidade dos cães graças aos desportos competitivos. Estes eventos
oferecem motivação para aprender e partilhar informação, desenvolver
competências de maneio e treino, e melhorar assim a interacção entre os
papagaios de companhia e os seus donos. Estes eventos dão motivação aos
donos para procurarem os criadores que melhor ajudem a maximizar e
optimizar o desenvolvimento físico, mental e social dos papagaios de
companhia.

Os benefícios físicos, mentais e sociais que provêm do


desenvolvimento nas fases adequadas, incluindo as competências de
voo, oferecem vantagens para toda a vida quer à ave quer ao dono. Se o
treino de voo começar na idade natural de começar a voar o processo é
significativamente mais simples do que comparado com o treino de aves mais
velhas.

Se escolhermos optimizar não só os processos de desenvolvimento


físico mas também os processos mentais e sociais, temos que parar de pensar

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que a única coisa importante é que o papagaio bebé esteja vivo quando vai
para a nova casa. O grande desafio é identificar e comunicar a informação
chave aos criadores e aos futuros donos sobre como tirar vantagem dos
períodos sensíveis. Deveremos também reconsiderar o que pensamos
serem os níveis adequados para manter estes animais. O modelo
correntemente aceite do lar ideal para um papagaio pode precisar de mudar
para um modelo mais similar ao da comunidade de donos de cavalos onde há
necessidades de espaço aberto para exercício e enriquecimento apropriado à
necessidade de mobilidade dos equinos. As espécies pequenas como os
periquitos, caturras, senegais, etc, têm razoáveis oportunidades de
desenvolvimento no espaço disponível dentro de casa. Mas as espécies
maiores como as araras, catatuas e amazonas precisam de grandes
“pastagens” fora para poderem usar adequadamente as suas potencialidades.
Seguindo o modelo equestre, picadeiros fechados ou outros espaços amplos
poderiam ser usados como espaços temporários para fins de exercício e de
desenvolvimento para os indivíduos que não estejam preparados para
enfrentar o voo no exterior.

O RISCO ASSOCIADO À VIDA

É muito importante considerar todos os aspectos relativos à segurança do


ambiente que proporcionamos aos nossos papagaios. A vida em cativeiro
oferece vantagens significativas no que respeita a dietas pré-preparadas,
cuidado veterinário e segurança em relação a predadores; todos estes factores
têm um impacto importante na taxa de mortalidade causada por uma grande
variedade de perigos. A doença e a predação são os 2 factores mais
importantes de morte entre os papagaios selvagens. Há indícios in situ que
indicam uma taxa de mortalidade de 90% no primeiro ano de vida.

Historicamente a avicultura considerou o voo como uma das actividades


mais perigosa para um papagaio e a ser evitado na maiorias das
circunstâncias. Contudo os últimos 20 anos de observação começaram a
demonstrar que a vida de um papagaio sem o benefício do voo pode ser
mental, física e socialmente devastadora. Podemos ter que nos interrogar se
a doença mental é melhor que a morte. Ambientes de voo cuidadosamente

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seleccionados, as nossas casas para a exploração inicial do voo, viveiros
amplos para voo, e a nossa presença física no exterior durante os voos
diminuem substancialmente os riscos de predação e outros acasos enfrentados
pelos papagaios. Podemos ajudá-los a encarar os perigos assegurando que o
ambiente em que são criados condiz bem com os processos de
desenvolvimento, permitindo que atinjam o seu potencial físico, mental e social.

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CONCLUSÃO

Investigação científica demonstrou com muitas outras espécies que condições


ambientais incorrectas durante os períodos sensíveis podem causar
problemas graves mentais e sociais que se revelarão mais tarde. Se
aplicarmos este corpo de conhecimentos aos papagaios é razoável presumir
que criar papagaios bebés em ambientes com estímulos não apropriados
durante os períodos sensíveis causa danos aos jovens papagaios. O ênfase
tem sido colocado em manter o bebé vivo para ser vendido e não em
maximizar os parâmetros de desenvolvimento, que têm custos inerentes.
As amplitudes habituais dos estímulos ambientais nos ambientes dos criadores
estão muito longe dos ideais. É de importância primordial procurar modos de
adicionar o enriquecimento apropriado, especialmente nas idades mais jovens.
É comunmente aceite que o enriquecimento é necessário para os papagaios
que vivem nas nossas casas. É tempo de reconhecer a importância do
enriquecimento ambiental durante as fases sensíveis de crescimento dos
papagaios criados pelos seres humanos. Este simples processo pode, por si
próprio, ajudar muitos papagaios a permanecerem mais tempo nas suas casas
(nos EUA o número de abandonos é assustador e não faltará muito tempo para
que o problema se comece a sentir em Portugal).

Permitir o treino do voo na fase natural de aprender a voar e encorajar o


voo livre como estilo de vida é um método disponível, paralelo ao
processo da natureza, para adicionar enriquecimento às vidas dos
papagaios com um benefício físico, mental e social máximo.

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APÊNDICE 1 - BÉBÉS DESMAMADOS / BÉBÉS NÃO-
DESMAMADOS

No Aviário Hartman gostamos de ver os papagaios bebés nas mãos de quem


lhe pode dar muita atenção na mesma fase em que os seus primos selvagens
estão a deixar o ninho. Isto acontece, num papagaio médio como um cinzento
africano ou um amazonas entre as 8 e as 10 semanas. Os primeiros 30 a 60
dias depois de um bebé começar a sair da segurança do seu ninho é o tempo
mais importante da sua vida. Durante este período relativamente curto de
tempo um papagaio tem de aprender muitas coisas que asseguram a sua
hipótese de sobrevivência. Aquele pequeno cérebro está programado para
construir redes neuronais ao ritmo mais rápido de toda a sua vida. Estes
caminhos neuronais só podem desenvolver-se como resposta ao estímulo
ambiental.

Os primeiros 30 a 60 dias depois de deixar o ninho um papagaio tem que


aprender a linguagem, como evitar predadores, procurar comida, linguagem
corporal dos papagaios, regras de etiqueta no bando, voar e uma quantidade
de outros comportamento que só podem ser devidamente aprendidos durante a
fase específica de desenvolvimento do cérebro. Os papagaios aprendem tão
depressa que um papagaio cinzento de 4 meses já desenvolveu 75% dos
neurónios que terá em toda a vida.

Esta fase corresponde no ser humano aos 2-3 anos de idade. Os “2 terríveis”
são quando somos uma esponja de aprendizagem, metendo-nos em tudo e
pondo à prova a paciência de todos. Por razões de sobrevivência esta fase
acontece muito mais cedo nos papagaios.

Não há forma de um criador despender a quantidade de tempo necessária para


expor os bebés papagaios à quantidade tremenda de situações necessária
para obter o máximo de desenvolvimento cerebral. Todas as áreas do cérebro
têm de ser desenvolvidas durante o quadro temporal do desenvolvimento
óptimo para cada parte do cérebro. As áreas individuais do cérebro não podem

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ser devidamente desenvolvidas fora da sequência natural nem depois da janela
de oportunidade ter passado.

Os criadores que mantêm os seus bebés até estarem desmamados mão


compreendem o desenvolvimento sequencial dos neurónios do cérebro de uma
ave. Assumem que um bebé saudável e amistoso se tornará num adulto
saudável e amistoso. Duvido que algum destes criadores permitisse que as
suas crianças fossem criadas num berçário estéril com um número limitado de
cuidadores até aos 5 ou 6 anos de idade, que é o mesmo estádio de
desenvolvimento da maioria dos bebés em desmame.

Um bebé criado sem uma grande quantidade de estimulação tátil e mental


torna-se em geral num adulto retardado. Não se deixe enganar pelo slogan “eu
crio bebés fantásticos! Você quer saber que tipo de adultos é que eles criam.
Steve Hartman

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APPENDIX A: FREEFLIGHT LEVEL GOALS

Level 0 is indoor flying. Level 1 is the outdoor level with the safest and easiest
flying conditions as well as the best recovery potential; Level 5 represents the
most challenging flying conditions, with the worst recovery potential. Final Goal:
Bird flies successfully in difficult terrain features and safely returns to handler
every time. Note: this discussion does not include dangers such as predators,
power lines, transformers or busy roads.

Level 0: Inside building or aviary


Level 0

1. Introduce basic physical flying skills.

2. Introduce behavioral flying skills, cued recall.

3. Introduce changes in handler locations.

Level 1: Flying in flat open terrain

Level 1

1. Introduce flying with no walls, no obstacles. Fly only in


calm weather conditions.

2. Introduce flying at new locations with no loss of sight to handler.

3. Establish focus on handler location and return to said location.

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Level 2: Flight from gentle elevated terrain

1. Introduce mild elevation changes and breezy weather


conditions.
Level 2

2. Introduce brief loss of sight between handler and bird.

3. Increase bird’s awareness of handler location and reliable


return. Level 3

Level 3: Flight from moderate terrain

1. Introduce significant elevation changes.

2. Introduce longer periods of loss of sight potential.

3. Bird return to handler location is near 100%.

Level 4: Flight from high terrain or base of low terrain

1. Introduce major elevation changes.

Level 4
2. Introduce several minute loss of sight potential.

3. Last adjustments to reliability of return to handler location.

Level 5

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Level 5: Flight from extreme locations; proven birds only

1. No new skills for bird; challenging flight locations used.

2. Confirmation of 100% return of bird to handler in all locations.

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Fonte Primordial

Importance of Flight and the Freeflight Lifestyle

Chris Biro, Manager of “The Pirate’s Parrot Show”, Steve Hartman, Owner of
Hartman Aviary and The Parrot University, Stephen Layman, Wildlife
Biologist, AFA Presentation, Houston, TX, June 2009

Outras fontes (Internet)


Bailey, Bob. "ClickerSolutions Training Articles -- Instinctive Drift."
ClickerSolutions. 6 June 2006. ClickerSolutions. Jan 2009
<http://www.clickersolutions.com/articles/2002/drift.htm>.

Breland, Keller and Breland, Marian (1961). “The Misbehavior of Organisms.”

Animal Behavior Enterprises, Hot Springs, Arkansas

First published in American Psychologist, 16, 681-684.

<http://psychclassics.yorku.ca/Breland/misbehavior.htm>

Biro, Chris. “Styles of Flying.” 2008. Wings at Liberty. January, 2009.


<http://wingsatliberty.com/articlestylesoff.html>.

Bostow, Darrel. Behavior Analysis Glossary Terms. 1999. University of South


Florida. Jan 2009
<http://www.coedu.usf.edu/abaglossary/glossarymain.asp>.

Dewey, Russel. "Instinctive Drift | in Chapter 08: Animals | from Psychology: An


Introduction by Russ Dewey." Psychology: An Introduction. 4 Oct 2008.
31 Jan 2009
<http://www.intropsych.com/ch08_animals/instinctive_drift.html>.

Hartman, Steve and Biro, Chris “20 Years and 4000 Babies Parrots”

Wings At Liberty Alternate Perspective Podcast Episodes 5, 6 & 7.

Feb 2009

< http://www.wingsatliberty.com/podcastepisode5.html>

Snyder, Koenig, Koschmann, Snyder and Johnson (1994). “Thick-Billed Parrot


Releases In Arizona”

The Condor, A Journal Of Avian Biology, Vol 96, Num 4, pg 845.

< http://elibrary.unm.edu/sora/Condor/files/issues/v096n04/p0845-
p0862.pdf >

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