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Ansiedade e Espera a Luz da Gestalt Terapia

Na Gestalt os transtornos são subjetivos para cada pessoa, ou seja, eles se manifestam
de maneira subjetiva e pessoal em cada pessoa.

SITUAÇÃO PROBLEMA:
Marcelo é um jovem adulto que está quase no fim de seu curso de fisioterapia e chega
ao consultório com uma demanda muito clara: "'estou com sintomas ansiosos e busquei a
terapia porque não quero me sentir assim'. Ele relata sintomas físicos, como taquicardia,
enjoos, dores por tensão, angústia paralisante e medo de sair de casa.
Investigando diferentes aspectos de sua vida, a psicoterapeuta descobre que Marcelo
teve uma infância marcada por repressão a erros, mas que tinha uma relação muito boa e
aberta com os pais e que tinha aceitado uma proposta de emprego recentemente. Em sua vida,
buscou sempre estar certo, nunca falar sem ter certeza do que dizia, temia ser repreendido se
fizesse algo de errado. Buscou sempre fugir de demandas que exigissem maiores
enfrentamentos e, por isso, perdeu muitas oportunidades. Com a possibilidade de um novo
emprego, com novos colegas e novas demandas, Marcelo se sentiu paralisado.
Temendo não dar conta das mudanças, falhar e não ser aceito pela equipe começou a ter
sintomas ansiosos que dificultaram ainda mais o processo de enfrentar essa novidade em sua
vida. Em várias sessões, disse pensar com frequência sobre pedir demissão, mesmo mal tendo
completado 2 semanas no emprego . Relata que seus colegas parecem olhá-lo como se
ele fosse "burro" e estivesse abaixo deles por ser um estudante e não um profissional
formado. Todas suas outras obrigações na faculdade se transformaram em demandas difíceis
de serem cumpridas pelo excesso de sintomas físicos, de modo que Marcelo tenta se esquivar
delas sempre que pode. No geral, Marcelo quer apenas que os sintomas ansiosos sumam para
que possa voltar com sua vida normal.

→ Indissociabilidade mente-corpo: ambos se afetam. E, uma das principais coisas que são
afetadas pela ansiedade é o estômago (psicossomática - lugar que faz ligação entre entrada e
saída do nosso corpo).

A ESPERA E A ANSIEDADE:
De acordo com a Gestalt, a ansiedade é inerente ao ser humano, de modo que, o que se
altera é a forma como experienciamos essa ansiedade. Há a ansiedade normal e, ela nos
protege, nos protege de nos submetermos em circunstâncias perigosas. E, há a ansiedade
patológica.
A ansiedade sempre deriva de expectativas catastróficas, as quais, por sua vez, são um
salto para o futuro.

→ Ansiedade saudável x Ansiedade patológica:


A primeira nos protege, tem uma função de antecipar o medo que também é comum.
Ela lida com expectativas catastróficas como hipóteses e gera como fruto o cuidado. Já a
segunda é patológica, pois paralisa, haja vista que há um ajuste disfuncional. Ela lida com
expectativas catastróficas como fatalidade e geral como fruto, a evitação repetida.

Na Gestalt, podemos entender que algo é patológico quando o ajustamento é


disfuncional, de forma que amplia as possibilidades disfuncionais e desadaptativas e restringe
possibilidades de ampliação da awareness.

TEMPORALIDADE:
Como transitamos entre os principais tempos de nossa vida?
Um dos critérios mais importantes para nossas compreensões diagnósticas em
psicoterapia é a vivência do tempo.
Na ansiedade, de maneira geral, é o trânsito entre o presente e o futuro que está em
foco.
Precisamos ter consciência de que só existimos no presente, sem perder de vista que há
aqui um paradoxo notável: o presente não existe (pois a cada segundo que pensamos no
presente, ele já se torna passado).

→ Não temos controle sobre a vida, sobre o tempo e, principalmente sobre o tempo de vida.
O que não podemos é permanecer presos no que poderia ter sido. Isso não é fácil de pensar,
principalmente para o ansioso, mas é o que há. A única coisa que controlamos é o modo com
que enfrentamos isso, como enfrentamos aquilo que nos deixa ansiosos por não podemos
controlar.

A ESPERA:
Uma das formas de lidar com a ansiedade, a fim de mantê-la no nível saudável, é a
paciência, matriz da espera, a qual, por sua vez, é uma das virtudes mais em falta hoje em dia.
Há a espera passiva que é baseada em introjeções, fruto e geradora de ressentimentos e
de falta de empatia. E, também, a espera ativa que é fruto de um posicionamento que
considera empaticamente o campo e gera solidariedade.

RAPIDEZ E A PRESSA:
A pressa é sustentada pela ansiedade patológica.
“A boa vida é baseada na correria” → há uma naturalização da correria, como se ela
fosse boa e saudável → produtividade.
Estamos trocando, nos dias de hoje, a rapidez pela pressa. E, a rapidez é desejável, mas
não se dialoga com a possibilidade da espera, torna-se pressa e deteriora o contato. A rapidez
não é um problema, não há problema desejar que algo seja rápido. Mas se ela surge sem a
possibilidade da espera, em que quando se demora começa-se a criar cenários catastróficos,
então ela se torna pressa e mantém a ansiedade patológica e, é sustentada por ela.

RAÍZES E ÂNCORAS:
Estamos perdendo as raízes. Elas estão sendo trocadas por âncoras (Bauman, 2011).
A redução da previsibilidade do mundo foi, pouco a pouco, se tornando figura e
gerando novas ansiedades.
A tradição (raízes) por muito tempo proveu respostas para as dúvidas, para as escolhas,
para as ansiedades. O caminho já era, de certa maneira, pré determinado pelos pais, como os
casamentos arranjados da época e, de certa maneira, era apenas esperar acontecer, era meio
previsível, agora já não é mais.
→ ESPERAR ERA MUITO MAIS FÁCIL, DADO QUE O RESULTADO ERA
(IMAGINAVA-SE) PREVISÍVEL.
Nós temos raízes, mas elas são mais móveis e, com essa mobilidade, sentimos
ansiedade com o incerto.
Certas raízes se tornaram inúteis, dado que são velhas respostas para novos problemas.
O mais assemelhado a raízes que o nosso tempo pode possibilitar é a segurança das
âncoras, porém, estas são mais facilmente removíveis, por isso, permitem maior mobilidade e
criatividade.
Não se pode mais voltar às raízes: há que se ajustar criativamente às âncoras. É
aprender a ter prazer e segurança suficientes nisso, para que a ansiedade seja apenas saudável.
IMEDIATISMOS, URGÊNCIAS OU “APROVEITA QUE VAI ACABAR LOGO”
A pressa, elemento comum aos viventes de nosso tempo, instiga a viver tudo, a viver o
máximo possível e o mais intensamente possível, já que tudo pode acabar em segundos.

→ “o imediatismo toma do chão, ainda que com violência e sem ética, o que é um
broto, um potencial”.

A espera e a solidão, suportes fundamentais para se lidar com as frustrações de nossos


desejos, têm cada vez menos valor na sociedade.

A ESPERA DO FIM
Sabemos que iremos partir.

O horizonte (perspectiva como um sonho) alimenta a espera ativa, de modo que, sem
ele, só resta ao projeto (meta) a espera angustiada da ansiedade patológica.
→ É preciso nos darmos a chance de sonharmos algo que não são metas → horizonte,
espera empática, que não gera frustração.

Quando o horizonte e projeto dialogam com calma, fazem nascer no coração a


possibilidade da espera habilidosa, o trato amoroso e confiante com o tempo, o qual por sua
vez dá suporte à mais importante e mais difícil espera: a espera do fim.

O fato de saber que morreremos um dia, aliado ao fato de não sabermos quando isso
acontecerá, coloca a morte em um ponto central da vida, o ponto do sentido.

Não é negando a morte e o morrer que esperamos da melhor forma, mas, é tendo-os
presentes que nos arriscando a viver com mais coragem e plenitude.

"A morte apenas tem sentido para quem existe e se põe como um dado fundamental da
existência mesma. Assumir o ser para a morte (entender a morte), porém, não significa pensar
constantemente na morte e sim encarar a morte como um problema que se manifesta na
própria existência".
“A espera e a ansiedade, quando em bom contato, podem promover crescimento bem
sustentado, apoiado na percepção sábia de que tudo tem seu tempo próprio, e de que há
tempo para tudo que precisa ser vivido”

LIVROS: Dialogar com a ansiedade: Uma vereda para o cuidado por Ênio Brito Pinto

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