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Você Não É Aquilo Que Pensa Que É o Poder Da Visão

Enviado por

Lea Mendes
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Você Não É Aquilo Que Pensa Que É o Poder Da Visão

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Você não é aquilo que pensa que é:

o poder da Visão Pura


Texto
Amar
Edição
Paulo Gois Bastos
Revisão
Luiz Claudio Kleaim
Projeto gráfico, diagramação e capa
Monomotor
APRESENTAÇÃO

Este material foi escrito apenas com o propósito de sentar e escrever o


que vinha à mente. Confesso que escrever nunca foi natural para mim. No
entanto, foi-me lembrado, um dia desses, em um trabalho terapêutico de
leitura de Registros Akashicos, que cheguei a escrever na infância, mas, por
algum motivo, esta lembrança não ficou na memória.
Foi sugerido a partir da leitura dos Registros (gratidão à Olga Obregón e
à minha querida irmã Josiele que fez sua indicação) que eu começasse a
escrever de forma intuitiva, sem um tema preestabelecido, simplesmente
abrindo-me para um tipo de telepatia ou canalização — palavras usadas por
Olga. E foi o que fiz: mesmo a mente não entendendo no início, este
material foi escrito de forma muito rápida; normalmente, de madrugada
quando acordava sem sono. Passei a escrever o que vinha, quase que
diariamente, por menos de uma hora e então voltava a dormir.
Todas as vezes em que sentei para escrever, a mente não tinha a menor
ideia do assunto que seria escrito segundos antes de começar a escrever,
mas, por mais incrível que parecia pra mim, as ideias e a escrita foram
acontecendo sem pensar, muito rápido, sem mesmo olhar ou refletir sobre o
que estava sendo escrito. Foi tudo muito fluído e intuitivo. Muito novo
mesmo!
Em muitos casos, acontecia um diálogo como se eu perguntasse e eu
mesmo respondesse. Interessante que a pergunta surgia, eu não imaginava a
resposta e ela vinha. É como se realmente eu estivesse falando com um
guia-eu de outro plano… E o era de certa forma! Na prática, eu não ouvia
nada; apenas intuitivamente transformava a informação que surgia em
palavras, sem pensar, em tempo real e de uma forma completamente fácil e
natural.
Quanto aos diálogos e perguntas que surgiram nesse processo, optei por
suprimir boa parte deles após a revisão — que começou a acontecer
passados cerca de 45 dias do início da escrita quando já havia quase 200
páginas.
Passei a ler o material e, muitas vezes, não lembrava com clareza das
coisas que haviam sido escritas. Então, passei a organizar, ordenar e
melhorar a forma de escrita a fim de corrigir o português e de deixar o
material mais didático, porém quase sem alteração no conteúdo inicial. Os
maiores ajustes aconteceram não no conteúdo, mas na forma da escrita
depois do trabalho de edição (gratidão a toda a sensibilidade de Paulo
Gois). Gratidão também à Ingrid Sinkovits que, como amiga, apontou
sugestões preciosas ao ler o material inacabado.
Não havia a pretensão inicial de fazer com que os escritos se tornassem
um livro. Apenas pensei em utilizá-lo como material de apoio para trazer
mais clareza para as pessoas que participam dos grupos de Satsang —
Encontros com a Verdade que conduzo todas as semanas em Vitória-ES.
Saiba que não haverá uma sequência cronológica como em um romance,
mas espero que este material lhe traga clareza inicial sobre o que chamo de
“autoconhecimento real”. Para alguns, talvez surja até uma certa confusão
mental no início, mas este livro vai tocar em alguns pontos importantes para
trazer uma abertura para a Visão Pura e fazer uma pequena ponte entre
alguns conceitos, a vida prática e a espiritualidade até conduzir à
possibilidade para um Despertar para a Visão Não-Dual.
Conhecer a abordagem não-dual há alguns anos por meio do meu grande
amigo Sambodh Naseeb (gratidão eterna ao mestre!) foi arrebatador já no
primeiro contato. A Visão do Advaita e do Neo-Advaita fez todo o sentido
e, de alguma maneira, esta publicação pode fazer sentido também para
outras pessoas, pois traz uma abordagem diferente da ideia que eu tinha
sobre espiritualidade e que talvez você tenha até então.
Os temas, em geral, começam falando de questões práticas do dia a dia e,
a partir daí, buscam conduzir o leitor a ampliar a visão convencional do
intelecto e vão em direção à não-mente, à Visão Pura.
Os temas surgiram de modo aleatório, mas estão interligados de certa
forma. As palavras em itálico e com letra maiúscula como Consciência,
Presença, Visão Pura, Agora, Instante Zero e outras que surgem no texto se
referem a termos alinhados com a Verdade-Fonte ou à Essência da Vida.
Em algumas partes do texto vão surgir destacados Momentos de
Aprofundamento, que têm um intuito de trazer uma visão mais ampla ao
tema em “discussão” e da mesma forma os Momentos de Clareza trazem
uma nova informação complementar, mas sem aprofundá-la. Já os
Momentos Experienciais sugerem durante a leitura ou para o seu dia a dia
pequenas vivências na prática.
Sempre que surgir o símbolo ٠ ٠ ٠ recomenda-se uma pausa e uma
vivência silenciosa pelo tempo que a experiência durar. Não se apresse com
a leitura, pois esta vivência é mais importante do que o entendimento
mental.
Este material não é um livro de leitura convencional, portanto, insisto:
não se apresse em ir adiante. Tenha clareza de que você estará expandindo
energeticamente mesmo que não saiba disso. Por exemplo, sempre que a
Presença for acessada na sua experiência, pare de ler e saboreie a
experiência do Silêncio. Talvez nesse instante de acesso consciente ao
Silêncio você sinta a necessidade de deixar o livro de lado e voltar a ler
apenas em outro momento. Se assim sentir, faça-o. Depois de terminar o
livro, releia-o, pois é na segunda leitura casual e sem velocidade que você
irá notar a progressão e a mudança de consciência na sua vida.
Caso esteja lendo outro livro paralelamente, não se importe em manter a
leitura deste aqui concomitantemente. Encare-o mais como um orientador
do que como um livro para terminar de ser lido com intuito de compreender
o todo. Não é necessário agir assim neste caso. Cada momento de leitura
terá seu valor. Valorizar cada instante é mais importante do que a leitura em
si.
Talvez você possa ter sono ao ler o livro. Se acontecer, sem problemas!
Saiba que é normal, não pelo tédio, mas porque ele pode mexer com seu
campo de energia. Durma se quiser e volte a ler em outro momento.
Serão abordados alguns temas que apontarão para a Visão da Presença,
para um estar consciente de estar consciente Agora até o reconhecimento
intuitivo de que não há, em verdade, um eu fazedor independente e
separado da Fonte.
Os textos foram construídos de forma mais ou menos direta e, por
questões didáticas, você perceberá repetições intencionais de termos, temas
e alguns conceitos. Este reforço é proposital e tem o intuito de afrouxar a
mente e levá-la à Visão Pura final, na qual não há um “eu” separado e que
só há livre-arbítrio na ilusão da separação. E também o dar-se conta de que
tudo, eu e você somos Pura Consciência: a grande maestra da vida.
Para você que é marinheiro de primeira viagem nesta Visão, e se este
material chegou até você, saiba que não é por acaso. Assim, recomendo
seguir a leitura com dois pontos em mente: caso você tenha sido tocado
logo no início, este é o seu caminho; do contrário, seja persistente no início
e esteja com a mente relaxada para que, aos poucos, tudo possa fazer
sentido. Se desejar aprofundar-se nas questões aqui levantadas, você
encontrará vídeos no YouTube no Canal Visão Pura-Amar e também
encontrará, durante a leitura, indicação de vários autores “libertos” como
referências sobre esta Visão.
Amar
IDEIAS INICIAIS

Os temas que este material aborda têm o propósito de utilizar a mente


para apontar para aquilo que não é a mente. Portanto, não têm o escopo de
ensinar absolutamente nada ao intelecto. Muito pelo contrário, é mais uma
desconstrução intelectual.
Os textos trazem questões práticas para serem olhadas com um pouco
mais de carinho ou lucidez e apontam para Aquilo que é a Verdade da
experiência. Apontar para Aquilo que está completamente presente e lúcido
agora, e não é aquilo que se tem chamado de “eu”.
Este livro não tem a finalidade de abordar ou de resgatar pontos de vista
da psicologia positiva ou de filosofias sobre comportamento. Pelo contrário,
você notará que quanto menos a mente estiver interpretando ou tentando
entender, melhor. Ele vai trazer abordagens iniciais para conduzir à Visão
Pura a partir de um ponto de vista prático. Trará algumas percepções sobre
temas do dia a dia, às vezes mais ou menos profundas, mas suficientes para
cada momento. O intuito sempre será o de mostrar que Aquilo que está aí,
lendo estas palavras, não é o eu fulano de tal.
Alguns de nós já estão completamente prontos para esta Visão. E alguns
outros poderão ser tocados pelo texto para iniciar um modo de vida
completamente diferente que pode ser revolucionário, apesar de
extremamente simples. Aliás, é muito simples; tão simples que, em geral,
passa-nos despercebido.
Estes escritos não têm a intenção de contrapor qualquer ponto de vista
religioso, filosófico, espiritualista, acadêmico ou sugerir conceitos de vida
ideal. São completamente neutros e respeitam todos os pontos de vista,
apenas talvez vão incluir e ampliar a visão.
Os textos foram escritos de forma intuitiva e dinâmica e, talvez, possam
servir de base ou de suporte para você ir além nas temáticas abordadas. Se
algum ponto de vista parecer-lhe incompreensível em um primeiro
momento, não leve muito a sério esta incompreensão ou não desacredite no
que está escrito a seguir. Não leve palavra alguma ao pé da letra como se
fosse uma verdade absoluta, pois isso é impossível. Todas as palavras que
usamos são naturalmente distorcidas e não retratam uma verdade absoluta.
Tudo a seguir é para ser sentido e intuído na sua própria experiência.
Alimentar apenas o intelecto não é a ideia, mas sim apontar para Algo que
o intelecto não consegue captar.
Para quem estiver, pela primeira vez, em contato com esta Visão,
recomendo que, como um primeiro passo, cogite a possibilidade de
reconhecer que você não é aquilo que pensa que é. Em seguida, cada vez
mais, ficará nítida a falácia do eu-personalidade, do eu-história de vida e,
portanto, do eu-comportamento. Este “eu” não é real. Os textos procuram
desconstruir conceitos e, depois, apontar para Aquilo que conhece o suposto
“eu”, e que está completamente presente aí, Agora.
Uma gentileza apenas: gostaria de receber qualquer tipo de feedback que
você possa dar. Sejam pontos positivos: compreensões que aconteceram,
experiências novas e mudanças de percepção; sejam pontos negativos:
dificuldade de entendimento, complicações não esclarecidas em algum
parágrafo ou página, falta de objetividade ou até mesmo objetividade em
excesso. Tudo será levado em conta para aprimorar estes escritos de forma a
torná-los mais claros para outras pessoas em uma próxima edição.
Gratidão desde já e aproveite!
SUMÁRIO

I Reconhecendo o Instante Zero

A Visão Pura: compreensão inicial


Consciência, pensamentos e emoções
Rótulos são apenas rótulos
Experienciando sem rótulos
Aquilo que testemunha a experiência
Pensamentos são apenas pensamentos
O velho mundo: do intelecto / O novo mundo: da Consciência
Do intelecto viciado para a lucidez da Consciência
A Visão Pura
A Experiência Direta, Zero

II A Verdade da Visão Pura

Apenas um hábito mental de distorcer


Verdade e realidade
Máscaras e relacionamentos inconscientes
A vida consciente
Visão equilibrada
Clareza a partir da visão do Eu: solitude vs. relacionamentos assertivos
Experienciar a Consciência
A beleza da vida
O experienciar na prática: benefícios
Alinhamento
Aquilo que supostamente escolhe e decide
é só um pensamento que surge
Tentativa de controle
Você não é aquilo que pensa que é
A verdadeira identidade
Intuição – O Fluxo (a resposta está “dentro”)
Autoconhecimento real
A busca
Visão Clara e desapego
Visão Pura – Ser

III O Despertar: o que sou Eu

A metáfora do jogo da vida


Visão Pura das sincronicidades
A visão sobre coincidências, sorte, azar
Espiritualidade
Amor
O que cria a “realidade”?
Afinal, o que eu sou de verdade? (assim como em uma selva)
O senso de desconexão da Consciência
A disciplina adequada para o Despertar
Desenvolvimento de maior Presença-Consciente
Perguntas para o Despertar
O livre-arbítrio dentro da cegueira do jogo é só um pensamento, é só uma
ideia?
Intuição, conectar com o coração: Como viver no novo mundo, no mundo
do fluxo
I
Reconhecendo
o Instante Zero
A Visão Pura: compreensão inicial

Visão Pura tem a ver com uma percepção aberta, com um tipo de
inteligência expandida e ilimitada. Revela-se como um “saber” profundo
que não tem a ver com informações acumuladas. A Visão se dá
naturalmente em algum momento. É um vislumbre silencioso que nota a
realidade aparente e enxerga mais fundo, pois reconhece a verdade por trás
dos conceitos.
Este livro tem o intuito de apontar para alguns conceitos de mundo e
trazer aprofundamento a fim de abrir espaço na mente para a Visão Pura
revelar-se. E isso será só o começo!
Alguns assuntos serão abordados de forma a conduzir-lhe à tomada de
consciência sobre outra possibilidade de viver: interagir no mundo com os
olhos do Silêncio e senti-lo a partir de um espaço de Paz.
Em algum momento o Instante Zero ou o Agora será abordado. Este
Instante não tem relação com o momento presente ou com o tempo do
relógio. Tem a ver com um Viver Lúcido sem o filtro da mente. “Mente” irá
referir-se a pensamentos, emoções, sentimentos, sensações, rótulos e pontos
de vista. A palavra “mente” terá uma abordagem relacionada à limitação do
intelecto, do senso de ser uma personalidade, um personagem no jogo da
vida com uma história e uma sensação profunda de estar separado do
mundo e de todos.
Aumentar o nível de Presença significará aumentar o reconhecimento de
que Neste Instante há uma Consciência Lúcida, olhando por meio dos
olhos, ouvindo através dos ouvidos e sentindo por meio do corpo. Neste
instante, aí e aqui, existe uma Consciência Viva que não é intelectual.
Existe uma Consciência-Sempre-Presente, sempre aberta, estável, viva,
notando a experiência. O mundo externo ao corpo é percebido de forma
objetiva por essa Consciência. O mundo sutil, interno, é também
testemunhado pela Consciência na forma de objetos, mas com
características mais tênues como os pensamentos, as sensações, as emoções,
os sentimentos, a inspiração e a intuição.
Reconhecer essa Consciência torna a Visão Pura livre das lentes das
crenças e do condicionamento imposto por uma sociedade ainda pobre
sobre a Verdadeira Natureza da Vida. Abre um espaço para o afloramento
da Intuição Pura que possibilita um fluir ou um viver mais leve.
Você verá que a Visão Pura colocará em perspectiva alguns conceitos de
mundo que foram, de alguma forma, distorcidos por uma programação
mental-intelectual que ainda insiste em mostrar-se em primeiro plano.
Por isso, inicialmente, será necessária uma desconstrução mental para que
o espaço da Verdade, da Essência, revele-se naturalmente.
Bem-vindo à Vida Nova! Bem-vindo a um despertar que pode ser
transformador! Bem-vindo a um novo olhar: o vislumbre intuitivo da Visão
Pura!
Consciência, pensamentos e emoções

A emoção não é real.


A emoção não é real quando perde o poder de influenciar nas atitudes e
nas ações diárias. E isso é possível quando existe sabedoria sobre a sua
natureza e a sua origem.
Esta afirmativa pode soar estranha em um primeiro momento, pois, em
geral, emoções têm grande influência na vida das pessoas.
Primeiramente, é importante analisar do que se trata uma emoção.
O que é uma emoção?
É uma reação energética sentida no corpo que surge de forma
involuntária e que começou a ser construída em situações de vida,
normalmente inconscientes, vivenciadas, em geral, desde a infância.
Uma emoção pode ter surgido de um trauma, de eventos nocivos ou, até
mesmo, de eventos considerados benéficos que geraram sentimentos
agradáveis.
Existe um propósito prático por trás de uma emoção, mas este propósito é
normalmente negligenciado por puro desconhecimento sobre a sua natureza
inata. Principalmente uma emoção considerada “negativa” traz intrínseca a
possibilidade de ficarmos conscientes de que há, na mente, um ponto de
vista equivocado sobre a situação prática de vida.
Uma emoção negativa pode servir como um farol de alerta que acende
para mostrar-nos que há algo na nossa forma de ver o mundo que faz com
que a experiência atual parecer desalinhada com um fluxo de vida mais
profundo e mais elevado: o fluxo do Amor e da Paz. Quando não existe
Amor e Paz, a emoção negativa pode surgir. É o que veremos mais adiante.
Uma emoção, quando começa a ser notada de forma mais consciente, vai
revelar crenças limitantes, formas de pensamentos que andam em círculos e
que, quando vêm à tona, tendem a aprisionar a mente em um beco sem
saída que gera dúvidas, conflitos, tensão e estresse. Quando inconsciente,
este modelo mental limitado amplifica a própria emoção sentida.
Quando as crenças e os pensamentos não são enxergados como raízes das
emoções, a própria emoção se intensifica, ou seja, sentimos mais da própria
emoção: o medo intensifica, temos mais ansiedade, insegurança, raiva,
inveja, preguiça. O orgulho se amplia, a vaidade se torna poderosa e muitos
outros aspectos do comportamento que foram mal compreendidos desde a
infância conduzem impulsivamente as atitudes atuais de forma
inconsciente.
Sendo assim, ao analisar os aspectos mentais por trás de uma emoção,
poderíamos entrar em assuntos terapêuticos, psicológicos, sobre curas de
traumas do passado ou de maus ensinamentos transferidos pelos pais, por
exemplo. Poderíamos procurar entender o porquê das atitudes atuais a fim
de realizar mudanças e melhorias no comportamento, mas o propósito deste
livro não é melhorar atitudes e comportamentos. Definitivamente não é
isso!
Neste livro, vamos ser mais simples do que analisar aspectos psicológicos
por trás da emoção e vamos para um ponto inicial importante: a
perspectiva que daremos a uma emoção envolve em última instância
apenas uma visão mental e uma energética corporal.
Vamos a partir de agora olhar para a emoção como sendo apenas uma
perspectiva mental de uma energética corporal.
Como assim?
Vamos a uma investigação:
Comparativamente, ao olhar para qualquer objeto físico, por exemplo,
naturalmente em fração de segundos a mente tenderá a nomeá-lo. Um
exemplo simples: uma porta é nomeada de “porta” pelos pensamentos
depois de a percepção visual acontecer. O nome “porta” surge em milésimo
de segundo após o objeto ser visualmente notado pelo olho. Este
movimento rápido de nomear as coisas na forma de pensamento “isso é
uma porta” normalmente não é notado pela maioria das pessoas porque é
um processo mental automático sutil, rápido e involuntário.
Da mesma forma, com as emoções também acontece este rotular mental
inconsciente. O nome “medo”, por exemplo, é um carimbo dado pela
mente pensante a uma energética corporal. O rótulo “medo” não tem um
peso emocional por si só. É só um nome, é um pensamento que se refere a
uma sensação corporal.
Isso está muito distante da compreensão?
Veja: existe uma perspectiva mental posterior à experiência da sensação
corporal. Quando surge uma sensação corporal tal qual na experiência
prática, imediatamente surge um pensamento acerca do qual se poderia
dizer: “Isso que sinto é medo”.
Note que “medo” é apenas uma palavra ou um som quando verbalizado
que dá nome a uma sensação corporal. A palavra “medo” surge
rapidamente depois da sensação e a nomeia de “medo”, assim como no caso
da “porta”.
E, ainda, após o pensamento/sentimento inicial “estou com medo”,
podem surgir mais e mais pensamentos que irão ampliar a interpretação
mental sobre a sensação corporal e sobre a experiência prática. Observe
que os novos pensamentos surgem a partir da experiência geradora da
emoção e podem fazer tal sensação, agora nomeada de “medo”, perdurar
mais tempo no corpo. E vai durar tanto tempo quanto houver pensamentos
remoendo em torno do tema. Ou seja, quanto mais pensamentos surgirem
trazendo novas perspectivas mentais limitadas sobre a energética corporal
e sobre o acontecimento prático, maior a tendência desta energética-medo
ficar presa no corpo.
Vamos esclarecer isso:
Imagina que alguém esteja viajando à noite de carro, sozinho em uma
rodovia pouco movimentada. Aí, suponhamos que surge na experiência um
pensamento de que o “pneu poderia furar agora”. Apenas este pensamento
pode ser suficiente para gerar uma sensação corporal que podemos nomear
instantaneamente de um “medinho”. Então, poderia vir outro pensamento e
uma imagem mental imaginando a cena do pneu furado e de que “eu teria
de trocá-lo sozinho!”. Outros pensamentos poderiam surgir dizendo:
“Minha nossa! Eu não sei trocar pneu!… O que vou fazer? Tá escuro, não
enxergo nada! Posso ser assaltado aqui! Ouvi dizer que este local é perigoso
à noite.” etc.
Esta perspectiva mental, ou esses pensamentos todos, encadeados com
imagens mentais (imaginação) ampliam aquela sensaçãoinicial de “medo”
e de insegurança. Esta energia de medo no corpo pode alimentar alguns
novos pensamentos, pode fazer o suposto motorista acelerar o carro para
passar rápido por ali, mais “medo” pode surgir e, dependendo do histórico
de vida da pessoa, até o sentimento de pânico pode ser desencadeado.
Agora, vamos ver a situação mais de perto: o “medo” que surgiu não é
real (no sentido prático), não tem motivo real para existir, pois o pneu ainda
não furou. Foi apenas uma preocupação-pensamento-sentimento que surgiu
e começou a gerar novos pensamentos e sentimentos sequenciais que
culminaram em sentimentos diferentes ou em uma energética corporal
diferente daquela que existia no corpo até então e que foi nomeada e
sentida inconscientemente como sendo “medo”.
A palavra “medo” no exemplo acima é uma nominação dada
mentalmente, através de todos os pensamentos que surgiram, a uma
sensação. Note que o sentimento surgiu por causa de outros pensamentos
inconscientes anteriores. A emoção-sensação foi reflexo de memórias e de
pensamentos sequenciais que deram a sensação de que a energética
manifestada era algo desagradável e, portanto, teve o poder de influenciar
negativamente nas atitudes e nos pensamentos subsequentes.
Aqui, vem o principal: se as experiências de vida desta pessoa no
exemplo acima, vivenciadas desde a infância viessem mesmo que
inconscientes, de traumas, de vivências envolvendo velhos medos, questões
não resolvidas de insegurança ou de problemas de baixa autoconfiança na
adolescência, esta sensação chamada de “medo” desde o início de sua
educação, traria uma amplitude e um peso maior ao “medo” da experiência
atual.
Vamos adiante:
Portanto, no exemplo do carro, um pensamento qualquer gerou imagens e
suposições que geraram mais pensamentos e uma energética corporal que
foi se ampliando, sendo rotulada rápida e inconscientemente pela mente
como algo ruim (medo), e alimentou padrões de o que fazer e de como se
comportar: acelerar o carro ou até mesmo pegar o celular para ligar para
alguém etc.
Nesse sentido, o que se está falando aqui é simples: é justamente a
inabilidade em notar os pensamentos em tempo real apenas como sendo
pensamentos ou em perceber a imaginação como sendo uma simples
perspectiva mental que fez transcorrer uma experiência apenas imaginária,
mas supostamente real naquele instante.
Esta inconsciência a respeito da perspectiva mental imaginária
alimentou a sensação corporal e a fez ser percebida inconscientemente
como algo realmente negativo (medo). E toda essa inconsciência a respeito
dos pensamentos fez com que a energética corporal durasse cinco, dez
minutos ou o tempo que fosse.
Se houvesse lucidez suficiente no momento ou um nível de consciência
mais elevado, aqueles pensamentos teriam sido percebidos
instantaneamente apenas como imaginação, como suposição ou pré-
ocupação mental. O rótulo “medo” e a energética corporal (a emoção)
seriam testemunhados imediatamente também. Seria possível ter enxergado
os pensamentos e a emoção de forma neutra: perceber apenas como uma
“energética na altura do estômago”, por exemplo, talvez como um
“friozinho na barriga” ou como uma “sensação de aperto no umbigo”.
Quando se tem consciência em tempo real a respeito de pensamentos e
sensações, passa-se a vê-los de forma mais simples: apenas um movimento
energético físico.
A consequência desta consciência a respeito da sensação corporal e dos
pensamentos poderia ser: perceber a “loucura-insensatez” da mente e
diminuir, consequentemente, este alimentar de mais e mais pensamentos e
imagens mentais.
Perceber a insensatez dos pensamentos não alimentaria mais aquela
energética/sensação corporal de “insegurança” e a tal energética “medo”
não se sustentaria por muito tempo sem aqueles pensamentos. Sem os
pensamentos inconscientes, não haveria ações inconsequentes como
acelerar o carro ou pegar o telefone celular para fazer uma ligação para
pedir apoio.
Nesse sentido, está-se falando que perceber os pensamentos
instantaneamente e reconhecer emoções e sensações em tempo real pode
ser uma boa base para o autoconhecimento. O suposto “medo” não seria
mais alimentado inconscientemente e, portanto, eu estaria conhecendo
melhor minhas tendências mentais: seria possível ter ciência dos “meus”
pensamentos e sentimentos mais claramente, mas sem se perder em
devaneios.
Ao reconhecer instantaneamente pensamentos, emoções sentimentos e
sensações, mudamos a forma como nos relacionamos com eles e como eles
influenciam o estado de humor, as reações e as atitudes.
E aqui começamos a entrar no propósito deste livro:
Vamos chamar este reconhecimento neutro instantâneo de estar
consciente. Neste primeiro momento, estar consciente só significa começar
a perceber os pensamentos e emoções assim que surgem, no momento
exato em que surgem.
Por isso, é necessária a seguinte pergunta:
Você tem estado presente-consciente em tempo real de seus pensamentos
e emoções?
Está consciente-presente agora?…
Vamos voltar à nossa história da rodovia e do pneu furado. Suponhamos
agora que o pneu realmente tenha furado sem mesmo ter existido
pensamentos sobre este tema antes de o fato ocorrer, imagine: a pessoa está
dirigindo e simplesmente o pneu fura repentinamente.
O problema, ou questão prática, é: o pneu furou. Pensamentos práticos
que poderiam vir depois: “Vou sair, tirar as coisas do porta-malas e trocar o
pneu o mais rápido possível”. Ou pensamentos imaginários poderiam
surgir: “Ai, ai, ai! E, se vem alguém me assaltar, o que farei? Eu não tenho
como defender-me!… Se ao menos tivesse uma arma comigo! E se levarem
meu carro ou quiserem fazer algo comigo?”.
Nesse caso, os pensamentos não retratam a realidade e são preocupação
mental sobre possibilidades futuras, o que, mais uma vez, vai gerar um tipo
de energética corporal que poderá ser nomeada e sentida novamente como
“medo”. Tal energética trará desconforto ao corpo, novos pensamentos e
imagens mentais vão surgir tornando a tarefa de trocar o pneu mais difícil,
mais demorada, desconcentrada ou atrapalhada pela emoção e por toda
conjectura mental imaginária sobre um possível assalto, por exemplo.
Mais uma vez, dependendo do histórico mental/emocional e dos traumas
do passado, essa pessoa pode ter a energética corporal alimentada,
aumentada fortemente e haver sensação de pânico ou desespero surgindo, o
que tiraria toda a capacidade de resolver a situação prática de forma simples
que é: trocar o pneu com serenidade ou pedir ajuda de forma lúcida, pois
você verá que a lucidez pode existir mesmo que haja insegurança e
sensação de frio na barriga.
Repare que a insegurança, até que qualquer fato realmente aconteça, é
apenas uma suposição mental, imagens mentais e sentimentos pré-
concebidos que até então não têm a ver com a realidade. Comece a notar
que a maioria das questões imaginadas não acontece! Em geral, são pura
imaginação (imagens mentais em movimento) que podemos considerar que
são apenas pensamentos “lixo” ou pensamentos ilusórios sem sentido
prático.
Mas aí você pode pensar: “Ah, mas e se algo acontecesse? Vivemos em
um mundo de muita violência”.
Sim, se realmente estivesse fadado a acontecer, não teria nada que o
pânico mental pudesse evitar. Pelo contrário, esta falta de lucidez naquele
momento poderia gerar ações impulsivas desesperadas e outros problemas
ainda mais graves poderiam ocorrer.
MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

É importante saber ou relembrar que os estados emocionais e


mentais são formas de energia-vibração que conectam ou atraem
frequências semelhantes. “É dando que se recebe”, “Gentileza gera
gentileza”, “A energia que se emana é a energia que retorna”.
Ou seja, de maneira prática, se existe vibração de medo, são
geradas situações de medo. Se existe vibração de amor, situações de
amor são geradas. No exemplo anterior, a mente desesperada
impulsiona ações de desespero que podem gerar situações
condizentes.
Mas este tema não está relacionado a este livro e tem aqui o intuito
de ampliar um pouco a visão sobre as Leis Cósmicas da atração, do
fluxo de energia e vibração: atrai-se, ou melhor, cocria-se aquilo que
vibramos. Em outras palavras, frequências elevadas geram situações
condizentes, baixa vibração gera situações densas. Pensamentos de
desespero, neste caso, apenas densificaram o campo de energia e
ampliaram o medo do momento.

Portanto, o exemplo no trânsito tem o propósito inicial de fazer notar


nitidamente a influência dos pensamentos, imagens e emoções quando
existe inconsciência a seu respeito; a força que exercem quando eles não
são percebidos (instantaneamente) como sendo simples pensamentos ou
simples energéticas corporais (emoções).
Esta inconsciência sobre o mundo “interno”, o mundo da mente, gera um
tipo de prisão mental que chamaremos de piloto automático ou de ausência
de consciência.
Você perceberá que, quando conscientemente os pensamentos são
notados apenas como são, eles perdem completamente sua influência. Um
instante de presença-consciência é um instante de lucidez, é como apertar
um botão reset no programa mental fazendo-o diminuir sua força e
impulsividade.
Este é o Poder da Visão Pura. Este é o Poder de estar Consciente: traz
uma lucidez completa fazendo com que, consequentemente, as emoções e
os pensamentos percam a soberania de conduzir-nos impulsivamente e,
portanto, surge maior clareza e assertividade nas ações diárias.
MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

As emoções são uma ótima bússola para o autoconhecimento, são


um tipo de guia para fluir na vida, principalmente quando não se quer
evitá-las e sim acolhê-las de forma a aceitá-las com consciência
como parte da experiência. Em geral, na nossa sociedade, fomos
ensinados a negar as emoções, principalmente as consideradas
negativas. Aprendemos a reprimir determinadas energéticas corporais
que estão aí apenas para mostrar aspectos mentais que precisam ser
percebidos, abraçados e integrados à experiência conscientemente.
Em geral, afastamo-nos das emoções com distrações, diversões,
bebidas, com um novo projeto, com pensamentos positivos etc. Uma
emoção verdadeiramente reconhecida conscientemente pode
desenterrar crenças antigas e mudar paradigmas.

Existem muitas formas e técnicas de autoempoderamento para mudar


crenças. Mas aqui neste livro será construída uma abordagem diferente,
direta e poderosa: vamos potencializar o caminho à Autorrealização, ou
seja, vamos aumentar o nível de Consciência e Presença sobre as emoções,
vamos apontar para Aquilo que somos, e também considerar olhar para
alguns aspectos práticos da vida a fim de tornar a Visão mais elevada e mais
próxima da Verdade sobre nossa Essência.
Rótulos são apenas rótulos

Um “rótulo” é um carimbo-pensamento na forma de palavra que nomeia


qualquer parte da experiência sensorial. O rótulo “medo”, como falamos,
surgiu na infância, na alfabetização, quando essa palavra ganhou a
conotação que hoje conhecemos.
Dissemos que antes do rótulo “medo” surgir na mente, a sensação que ele
nomeia é uma energética corporal, nem boa nem ruim, apenas uma
energética, sem nome, pois, como já vimos, o nome “medo” vem depois da
experiência sensorial sob a forma de pensamento.
Portanto, um rótulo é um símbolo linguístico dado a uma experiência que
poderia ser um objeto visual (xícara), uma sensação (calor), uma
experiência auditiva (música), olfativa (perfume), tato (dureza), emoção
(raiva) e assim por diante…
A questão é que um rótulo não se resume apenas ao dicionário ou ao
símbolo linguístico da comunicação. Um rótulo tem o poder de armazenar
em si, através do processo de memória e do subconsciente, todas as
experiências, conceitos e sentimentos acumulados sobre ele.
Por exemplo, se uma criança teve na infância, durante muitas vezes, uma
energética corporal rotulada de “raiva”, ela pode ter sido ensinada pelos
pais que “isso não é bom” e foi ensinada a suprimir esta energética. Ela
também pode ter aprendido a liberar tal energética chorando ou pode ter
sido estimulada, de alguma forma, a gritar, ou talvez brigar, bater, apanhar
etc.
Nesse caso, algo que era inofensivo — apenas uma vibração ou energia
no corpo, e que foi rotulada de “raiva” — foi armazenando padrões
emocionais, padrões de comportamento, atitudes, pensamentos e reações
tais que gerou um condicionamento a partir de então. Este
condicionamento são pensamentos ondulatórios cíclicos em torno dessa
energética original que trazem subconscientemente memórias e reações que
impactarão neste indivíduo sempre que aquela mesma energética (chamada
de raiva) surgir no futuro. Dito de outra forma, aqueles condicionamentos
armazenados e reações comportamentais consequentemente vão surgir
também: choro, grito, agito, reatividade, impulsividade, tentativa de
defender-se, acusar…
Agora, investigue: tenha em mente uma criança que passa por situações
em que esta mesma energética começa a aparecer no corpo pelas primeiras
vezes. Se os pais tiverem a lucidez e um nível de Presença-Consciência
elevado, eles permitirão que a energia recém surgida na criança seja
expressada da melhor maneira possível: sem brigas, sem bate-bocas, sem a
reatividade do condicionamento dos próprios pais. Os pais, ao notarem o
movimento energético surgir no filho (apenas como uma energia “neutra”, e
não como algo “ruim”), poderiam fazer silêncio, deixar a energia raiva na
criança ser expressada, respeitar aquele instante e, depois, em um momento
oportuno, chamar a criança para conversar: “Filho, você notou ontem à
noite o que foi que aconteceu quando sua mãe e eu pedimos para você
desligar a televisão? Você lembra o que aconteceu? O que foi que aconteceu
no seu corpo, dentro de você, você lembra?”.
Atitudes assim por parte dos pais educariam o filho a ficar consciente.
Ajudariam-no a rememorar apenas a energética sem focar-se na história ou
sem fazer correções no seu comportamento. Ao se referirem apenas à
energética vivida sem o rótulo “raiva”, poderiam ensiná-lo a lidar com a
energia de forma neutra: “O que foi que aconteceu? Onde estava aquela
energia no corpo? Você lembra? Aquela energia tinha alguma forma?
Alguma cor? Que consistência tinha? Fazia algum movimento giratório?
Subia e descia? E, depois, pra onde foi a energia, filho?”.
A partir de então lhe mostrariam que foi apenas uma energética e o
ensinariam como canalizar a mesma energética para, por exemplo, deixá-lo
só, brincar com alguma coisa se tivesse vontade; fazer uma pergunta;
permitir chorar, colocar para fora se for o caso, chorar até o final e
extravasar sem conter ou repreender, sem culpar, corrigir ou acusar. Depois
de algum tempo, conversariam maduramente sobre o sentimento que surgiu
e o apoiaria em como lidar com a energia consciente e sabiamente da
próxima vez que surgisse.

MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

Ensinar o filho a acolher e expressar a energia lhe fornece, dessa


forma, amorosidade; mostrar-lhe que qualquer emoção é bem-vinda,
que ele tem o direito de sentir o que for e que está tudo bem. Estas
são ações por parte dos pais que contribuiriam para criar um
ambiente seguro para a sinceridade e para a expressão natural da
criança. Construiriam um ambiente amoroso de apoio ao invés de
repreender, criticar ou ditar regras do que se deve e do que não se
deve fazer. Reprimendas impedem a criança de ter consciência da
emoção (que faz parte também da sua experiência) e a impede de
conectar-se com a energia de forma eficaz.
As distorções na vida adulta, em geral, são frutos de falta de
acolhimento, da falta de consciência e de integração das emoções que
surgiram na infância e que, quase sempre, são vistas como problema.
Na vida adulta, na nossa sociedade atual, emoções acumuladas
continuam sendo vistas como “algo errado que se passa comigo” e
toda a tentativa de mudar e corrigir isso só empurra a sujeira para
debaixo do tapete.

Trazer apoio, clareza e explicação vai ensinar a criança sempre que a


mesma energética surgir no futuro a:
1. Ter a noção da sensação corporal surgindo em tempo real (começar a
desenvolver Presença) aí;
2. Permitir fazer o que surgir no momento (chorar, por exemplo) e,
depois;
3. Lucidamente, com um nível de consciência elevado canalizar tal
energética com uma clareza maior.
Nesse caso, a criança, antes de lidar com a emoção rotulada
negativamente de “raiva”, aprende a lidar, a aceitar e a liberar a energia
que não é boa nem ruim, mas apenas é uma energética corporal. “Bom” e
“ruim” são outros rótulos também ensinados desde a infância, geralmente
por pais imaturos, neste reconhecimento da Presença-Consciente.
No primeiro exemplo de pais inconscientes, o rótulo “raiva”
cumulativamente até a vida adulta traz um peso muito grande sempre que a
raiva surgir e não for vista apenas como um movimento de energia neutra
em alguma parte do corpo.
A raiva (energética + rótulo + programação reativa + falta de
acolhimento) pode ter um peso maior ou menor dependendo dos
acontecimentos individuais do passado e das interpretações dadas por cada
pessoa. Ou seja, a intensidade da raiva e a reatividade impulsiva tem
relação com a educação que recebeu ao lidar com tal energética.
Se a situação do carro na rodovia acontecer com esta primeira pessoa, a
reatividade será proporcional à “visão” pouco madura desta energética (já
rotulada de “raiva” ou “medo”) e simplesmente entraria em um piloto
automático inconsciente de impulsos ou reatividades emocionais pouco
assertivas.
Na criança-adulto da segunda possibilidade, a mesma passagem pela
rodovia traria uma resposta de maior lucidez, de menos medo ou raiva e
que, se houvesse realmente um pneu furado, desencadearia ações práticas
mais inteligentes, sem pânico e sem projeções mentais irreais. Ou seja: uma
Visão mais Consciente sobre a experiência mudaria a própria experiência
emocional.
Da mesma forma, isso também acontece com todos os tipos de emoção.
A imagem que temos de “nós mesmos” e de nossos comportamentos veio
sendo construída e se tornando cheia de rótulos e de reatividades
automáticas que são armazenadas e ficam inconscientes desde a infância.
Toda e qualquer ideia de um eu-personalidade (“eu sou assim”) é apenas
um processo mental-emocional que em algum momento foi aprendido,
repetido e gradualmente adestrado por alguém imaturo sobre a natureza das
emoções-energia-rótulos — é claro que, geralmente, isso se deu na melhor
das intenções.
A questão principal deste raciocínio é perceber inicialmente que, ao longo
do dia a dia, acontece constantemente um carimbar natural da mente para
todos os detalhes das experiências que surgem e também para as
energéticas-sensações que surgem no corpo.
Nas questões práticas diárias, após o rotular mental inconsciente,
imediatamente também surgem novos pensamentos inconscientes
encadeados ou percepções do tipo “eu fiz isso”, “estou me sentindo
magoado”, “ele não deveria ter feito aquilo comigo”, “estou com raiva, eu
estou com medo, não sei o que fazer”, “estou com dúvida, vou fazer algo
para me defender, pois me sinto ameaçado…”.
Lembre-se que no instante exato em que uma sensação ou uma energética
corporal surge, elas são apenas sensações ou apenas energias neutras. É
justamente e somente o rótulo que a transforma, que a qualifica em boa ou
ruim, confortável ou incômoda, e que é este ponto de vista (positivo ou
negativo) que irá influenciar, a partir de então, na sequência de todos os
pensamentos e conclusões que virão em seguida.
Um rótulo é, portanto, a base inconsciente que modifica a energética
neutra original, que dá poder à sensação e a transforma, que amplia a
emoção juntamente com todo o emaranhado de pensamentos que surgem
depois dele.
Observar ou testemunhar essas sensações sem rotular ou apenas notar a
energética corporal e senti-la, mas sem envolver-se mentalmente em
pensamentos e devaneios é o convite inicial aqui.

MOMENTO EXPERIENCIAL DIÁRIO

A partir de hoje, procure aumentar o nível de Consciência e de


atenção em relação a todo o seu mapa mental. “Veja de perto” os
pensamentos surgindo, as emoções como energias localizadas, talvez
dinâmicas, em algum lugar do corpo. Investigue silenciosamente,
mas procure não alimentar os pensamentos com outros pensamentos.
Fique completamente alerta e atento!
Também não precisa fazer esforço para negá-los ou eliminá-los.
Apenas, de forma curiosa e atenta, observe até aonde os
pensamentos e emoções vão por si só. Deixe fluir: apenas
testemunhar já é suficiente!
Procure estar alerta e presente para observar o movimento dos
pensamentos em alguns momentos do dia.
Teste estar consciente agora! Fique alerta e perceba a mente…

Perceba que a dinâmica da vida é esta: nada na experiência pode ser


mudado após ter surgido e, nem mesmo no instante em que surge, a
experiência pode se modificada. Pensamentos surgem e podem ser deixados
como estão. Apenas testemunhar sem alterar nada é o propósito inicial. A
partir de agora, vamos chamar o instante exato em que uma experiência
surge de Instante Zero.
No Instante Zero, nada pode ser alterado de forma alguma e perceba que
tudo está acontecendo na mais perfeita naturalidade. O único convite é
começar a notar em tempo zero que uma energética corporal surge e que
os rótulos também podem surgir, mas não precisam ser levados a sério!
Somente este dar-se conta de que o rótulo é apenas um rótulo (uma
palavra mental) e de que a sensação é só uma energética corporal já muda
por si só a consequência das ações involuntárias que poderiam surgir se
ficássemos inconscientemente presos aos pensamentos: no piloto
automático.
No nível do piloto automático, o que existe é um completo colapsar da
atenção nos pensamentos e nas emoções. Há um esquecimento total de que
existem pensamentos, portanto estar no piloto automático significa
ausência de consciência em Instante Zero. Toda e qualquer tentativa no
piloto automático de alterar aquilo que surgiu na mente também faz surgir
novos pensamentos e, normalmente, desencadeia uma briga mental. O
propósito é tomar consciência de que este embate mental não é necessário e
de que em momentos de consciência e de presença há lucidez e clareza.
Apenas testemunhar os pensamentos sem envolver-se é tudo o que se
precisa!
Já aquela tentativa corriqueira de resolver as questões no nível intelectual,
tentando achar uma saída ou uma solução, só faz aumentar o fluxo de
pensamentos. Sabemos que pensamentos acelerados geram um estado
emocional aflitivo de preocupação e de tensão.
Perceba que outra tendência inconsciente é que, no nível da mente, pode
existir um querer fugir de certos pensamentos aflitivos em uma tentativa
automática de não querer enfrentar os pensamentos inconvenientes. Ou de
não querer sentir a emoção “ruim”, o que faz muitos procurarem distrações
como comer ou beber para aliviar a apreensão. Isso continua trazendo
tensão ao corpo e gera certa sensação de impotência, além de fazer surgirem
muitos outros sentimentos, emoções e até vícios.
O que se está sugerindo a partir de agora com o exercício da consciência
diária é que seja clareado o carrossel de pensamentos encadeados apenas
enxergando-os como “pensamentos”. Nada mais!
É como deixar o fluxo de pensamentos ir para onde quiser ir, sem
alimentá-lo, negá-lo, distraí-lo ou substituí-lo. Ou seja: sem luta! É apenas
um testemunhar com um nível de consciência aguçado.
Em geral, no piloto automático da mente, existe sofrimento, que é um
sentimento inconsciente de não aceitação de acontecimentos ou de
pensamentos que acabaram de surgir (o medo e o pneu furado no exemplo
do carro). Só que, no nível da mente, este problema-sofrimento nunca
poderá ser resolvido de verdade, pois a mente vai girar em círculos
conforme os padrões antigos, ficando limitada àquela aprendizagem viciada
da infância. O condicionamento apresenta respostas emocionais pouco
assertivas que, em geral, geram mais medo, bem como outros pensamentos
viciados de angústia e ansiedade, por exemplo. O acúmulo disso tudo
amplia ainda mais o sofrimento inicial.
Claro que todo este modelo mental-emocional também faz parte da
experiência de vida diária, sendo percebido ou não, mas o maior sofrimento
se dá principalmente para aquelas pessoas que ainda se encontram
completamente inconscientes, no piloto automático. Em outras palavras: o
sofrimento é enorme para aqueles que estão inconscientes sem a percepção
instantânea do processo mental e emocional.
Aqui é importante notar: perceber os rótulos e pensamentos em Instante
Zero também pode fazer parte da sua experiência, que é composta por
“dirigir o carro”, “furar o pneu”, “trocar o pneu” e, junto a tudo isso na
experiência sutil interna, também estão surgindo os pensamentos, emoções
e os rótulos. É possível testemunhar a experiência completa, integral, com
toda a sua riqueza de detalhes, pois é neste testemunhar que reside o início
do despertar.
A visão interna, ou seja, a percepção das emoções, dos pensamentos e
sentimentos é a parte mais sutil e desafiadora da experiência. Este é
justamente o convite: começar a identificar o mundo sutil-mental
(interno) ocorrendo juntamente com o mundo grosseiro-material (externo).
As emoções e os rótulos surgem e podem ser notados em Instante Zero
assim como se nota qualquer objeto externo (afazeres diários) da
experiência.
Quando essa Visão Consciente começa a ficar nítida, pode-se dizer que a
Visão fica Neutra, Pura. Com o desenvolvimento da Presença-Consciente
em Instante Zero, que é quando e onde as experiências da vida surgem, não
há mais necessidade de lutar e sofrer com as circunstâncias.
O simples fato de os rótulos serem vistos apenas como rótulos (a Visão
Neutra-Pura sobre eles) faz com que os tais rótulos e pensamentos percam
a força, pois não são mais alimentados inconscientemente. É justamente
esta a mudança que começa a acontecer. Este é o início do despertar!
Comece a testar isso no seu dia a dia: exercite estar Consciente! Agora,
note a mente aí!…
As consequências práticas da vida diária serão evidentes ao perceber os
rótulos da forma simples como são: eles começam a serem vistos apenas
como pensamentos e não mais como realidade e, consequentemente, existe
menos reatividade, impulsividade, menos medo e insegurança. Mais paz,
tranquilidade e sabedoria começam a surgir. Inicia-se um não se importar
com os pensamentos insanos e com aqueles rótulos prejudiciais que não
têm uma realidade palpável.
Poderíamos ir além, mas já se notou que todos os conceitos sobre
qualquer aspecto do mundo externo também são rótulos e estão de alguma
forma carregados de distorções mentais e emocionais. Em geral, estão
cheios de crenças abarrotadas de significados distorcidos (mundo interno).
Os conceitos sobre como deve ser a vida ideal, o trabalho, o melhor jeito de
agir, religiões, educação, escolas, relacionamentos, lugares, política,
alimentação, saúde, doença, certo e errado, isso pode ou aquilo não pode;
tudo, de alguma forma, é influenciado pela mente e pelas emoções.
Os temas relacionados ao dia a dia como um todo, assim como no
exemplo da raiva, são suposições, rótulos, distorções ou carimbos mentais
frutos de um adestramento que foi apenas transferido para o processo
evolutivo da criança-adulto-“você”-hoje.

MOMENTO DE CLAREZA

Os rótulos são parte do fluxo natural da vida, pois surgem


naturalmente como um processo ou como um programa vivo, assim
como qualquer movimento da natureza. O convite é que, através da
consciência-presença (em Instante Zero), não precisemos mais viver
colapsados nos rótulos como se fossem uma verdade absoluta, ou
seja, podemos sair do piloto automático dos pensamentos e emoções
distorcidos pela programação social.

Dessa forma, até mesmo o senso de eu sou assim (a personalidade)


começa a ficar evidente como apenas um condicionamento a partir dos
rótulos das experiências que tivemos.
Você não é isso! A personalidade é só uma programação ou um
condicionamento. O comportamento que “eu achava que era eu” ou este
ser humano pensante inteligente com liberdade de escolher o que quiser
sentir, pensar ou fazer começa a ser visto mais como um robô
condicionado por causa da inconsciência sobre a programação social
recebida.
A personalidade é um robô no sentido de que os pensamentos e rótulos
surgem com a carga do condicionamento do passado. É um robô no sentido
de estar no piloto automático e que, na verdade, não tem controle sobre os
aspectos mentais e emoções que surgem do subconsciente.
Portanto, se estamos no piloto automático, aqueles rótulos que vêm na
forma de preconceitos, certezas ou convicções não são percebidos também
e eles vêm guiando inconscientemente até aqui este robô — este “alguém-
eu”. Perceba que a população vive um tipo de transe ou de hipnose gerados
pelas crenças e padrões mentais-emocionais inconscientes.
Vai ficar mais claro, pouco a pouco, que não se tem controle sobre as
emoções e pensamentos que surgem no Instante Zero, mas se pode
enxergá-los em tempo real. Com isso, é possível observar a personalidade
não mais como sendo “eu”, mas sim como sendo um automatismo, uma
programação social-emocional ou apenas um condicionamento intelectual.
A partir de então, e só então, abre-se a possibilidade, com a Visão Pura
da Consciência, de viver-se algo diferente daquilo que é a programação
antiga. É possível viver menos no modelo mental programado e mais na
espontaneidade sábia da intuição e da Presença-Consciente.
Como você perceberá mais e mais, os rótulos e pensamentos surgem de
forma involuntária e automática e direcionam comportamentos e as ações.
O convite a partir de agora é Testemunhar o eu-fazendo (a identidade João
da Silva) que acredita (crença) que é o criador de pensamentos, que acredita
no senso de que “eu estou pensando, eu estou com medo, eu estou com
raiva…” como se isso acontecesse por sua vontade própria.
Comece a dar-se conta que um pensamento surge, o medo surge ou a
raiva aparece por causa do condicionamento. Os pensamentos, emoções e
rótulos automatizados não estão sob seu domínio, mas até aqui foram eles
que estiveram no comando da maioria das ações.
Um propósito deste livro é observar mais e mais esta parte sutil “interna”
da experiência mental-emocional como sendo também uma parte da
paisagem que surge. Saiba: o nível de Presença e Lucidez em Instante Zero
vai apoiar-lhe nisso!
O Instante Zero é o ponto a ser reconhecido em que tudo acontece, em
que tudo só pode acontecer. É a única possibilidade de reconhecer os
rótulos, crenças e pensamentos em tempo real sem que eles interfiram e
condicionem a próxima ação.
Portanto, comece a perceber que não é mais necessário permitir que os
rótulos ou pensamentos distorcidos guiem a vida!
Neste Instante, ative a atenção e note: como está a mente aí?…

Os pensamentos estão cegamente no comando?…


Experienciando sem rótulos

O Ponto Zero ou Instante Zero é quando a Visão Pura, sem rótulos, pode
acontecer.

MOMENTO EXPERIENCIAL

A Visão Pura — Neutra


Veja por si só agora, perceba o seu entorno: sons, sensações, campo
visual, pensamentos… Tem algo experiencial surgindo agora…

Este surgir (o experienciar) se realiza em Instante Zero.


Independente de quão complexo seja o rotular da mente, tudo surge
Neste Instante, Agora. Esteja alerta!…

No Instante Zero ou no Ponto Zero só há pura observação. O


Instante Zero é o ponto ou a fonte de onde a experiência como a
conhecemos surge. É o ponto de partida de tudo. É o ponto de
aparecimento da experiência. Veja: tudo que neste momento é
reconhecido como sendo a sua vida acontece no instante único, Zero,
agora. Perceba que mentalmente não existe nenhum esforço para que
a experiência seja percebida agora…
Existe uma naturalidade, um constante experienciar em Instante
Zero: sons surgem, sensações corporais estão aí, agora. Sinta o
corpo, ouça tudo que puder ouvir agora, porém não rotule. Perceba o
aroma, perceba a mente… (não tente entender) só perceba… tudo.
Tudo acontece em Instante Zero…

A experiência simplesmente é Agora. Acontece Agora. Rótulos virão


depois da experiência original tentando traduzir e explicar os
acontecimentos em detalhes. Os rótulos fracionam a experiência e são
apenas um vício mental automático.
Observe que, de verdade, tudo no Instante Zero simplesmente já vem
surgindo sem rótulos. Por isso, a experiência neutra sempre é Agora.
Olhe para um objeto qualquer à sua frente agora. A percepção ou o
experienciar desse objeto já está acontecendo naturalmente e independente
de qualquer coisa que a mente diga ou rotule.
Observe-o silenciosamente…

Perceba: antes mesmo de a mente nominar o objeto com o rótulo, a


experiência já está acontecendo. A natureza mental se encarrega de
chamá-lo de “xícara”, por exemplo, mas, antes disso, já existe um
experienciar visual.
Olhe para o entorno de um objeto qualquer que estiver a sua frente agora.
Ou, então, pegue uma xícara e coloque à sua frente para experienciar o
seguinte:
A mente pode chamar de “espaço” a experiência limite ao lado desta
xícara, mas, antes de a mente rotular este vazio de “espaço”, a experiência
já é.
Mais ao lado, poderia existir outro objeto, como uma colher, antes mesmo
de a colher ser rotulada com esse nome já existe um experienciar. Então,
nesta experiência, teríamos os rótulos: “xícara”, “espaço vazio” (ar) e
“colher” — três objetos e três rótulos. Mas, na verdade, existe uma única
experiência, um único experienciar. Não tem divisão da experiência. A
experiência é tudo aquilo que está surgindo agora, é o todo, tudo junto,
cores, formas, e poderíamos ir além: todos os sons, sensações, olfato,
gosto… tudo acontecendo única e concomitantemente.
A experiência toda está acontecendo junto em um Instante Único, Zero.
A aparente divisão desta experiência em rótulos é feita pela mente.
Sinta a unicidade total da experiência aí, agora! (não rotule!)… Alerta!…

Vamos analisar por hora apenas a experiência visual e os rótulos que


surgem:
1. Instante Zero Experiência Pura: experiência completa, única, natural,
sem divisão e inteira.
2. Primeira camada de rótulos: um rotular surgindo e começando a
dividir (aparentemente) a experiência única: o rótulo mental “xícara”.
3. Segunda camada de rótulos: o “espaço” ao lado da xícara surge como
novo rótulo à experiência que, por sua vez, a separa da “colher” (outro
rótulo e mais divisão).
4. Terceira camada de rótulos: pode surgir, por exemplo, um outro
pensamento nomeando a xícara de “amarela” ou de “feia” (rotulando os
rótulos iniciais “xícara-espaço-colher”).
Note que no momento em que surgem outros pensamentos que dão mais
nomes à experiência, do tipo “xícara amarela”, “ela é feia” e “está separada
da colher”, esses pensamentos surgem na mesma experiência, mas a tornam
mais complexa, mais dividida. O observar é um só, o experienciar é
indivisível. A experiência em si é contínua, não partida, mas começa a ser
dividida pela mente através dos rótulos e dos pensamentos.
Observe aí, agora, que o experienciar já está acontecendo instantaneamente.
Ele é total e único! E são justamente os carimbos-rótulos-pensamentos que
estão ampliando a experiência e, ao mesmo tempo, estão aparentemente
partindo-a em objetos (com nomes). Estes, por sua vez, dão a ideia-
sensação de estarem separados na experiência: “xícara”, “espaço”,
“colher”, “amarela”, “feia”. Mas note que a experiência é uma só, pois
existe um único testemunhar instantâneo de tudo.
5. Quarta camada de rótulos: também surge um senso de que “eu estou
vendo a xícara, o espaço, a colher e notando o pensamento ‘é feia’”
(sinta aí, procure perceber este senso de “eu vendo” agora)…

Este senso de “eu estou vendo/observando” também é um outro


ingrediente (camada) desta experiência completa que surge em Instante
Zero. E poderia surgir ainda outro pensamento: o de que “eu estou a dois
metros da xícara”. E assim pode seguir infinitamente…
Veja do Ponto Zero: a experiência integral, única, o todo, é composta ao
mesmo tempo de “xícara + espaço + colher + amarela + feia + eu estou
vendo + eu estou a dois metros da xícara”. Tudo isso já acontece
instantaneamente sempre em Instante Zero.
Quando não há rótulos, só existe a experiência única, inalterada, global,
inteira, ou melhor, ao relaxar a mente e deixar o experienciar simplesmente
ocorrer, tem-se a Visão Pura da experiência toda, única, indivisível, mesmo
que cheia de nuances que fazem a experiência visual ser captada pelos
olhos (luz, cores, sensações, formas, tons, sombras…).
Quando existe a Presença-Consciente e a mente está relaxada o suficiente
para não rotular incessantemente, o vislumbre desta Unicidade acontece.
Fique alerta silenciosamente e note o experienciar puro…

Perceba, portanto, que uma única experiência global ocorre agora. Sinta
isso: relaxe, não rotule, apenas perceba o todo agora!…
Dica: testemunhe e investigue isso na sua experiência, não tente entender
mentalmente, pois esta Visão Pura não é intelectual.

MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

Observe também que até mesmo o processo do rotular, de separar


ou dividir a experiência com palavras e pensamentos surge também
em Instante Zero, mas acontece apenas na mente, como naquele caso
de imaginar o pneu furado. Na realidade, a mente não pode dividir,
pois a experiência real é integral, una.

Agora, vamos a outro ingrediente rico e mais complexo desta


experiência:
Perceba que pode surgir também uma lembrança na forma de
pensamento, de que primeiro veio a imagem-forma, depois os rótulos,
depois mais pensamentos, depois o senso de “eu observando a dois
metros”.
Esta lembrança de uma sequência de acontecimentos é mais um aspecto
da experiência rotulado de “tempo”. A sensação de tempo é um rememorar
de imagens. Perceba que até mesmo a sensação de tempo precisa da
mente-memória-pensamento que faz a ligação sequencial entre os rótulos.
6. Nova camada de rótulo: o “tempo passando”.
Obviamente, não se está dizendo que a experiência não muda. Ela está
surgindo incrementada, mas sempre instantânea em um ponto único, em
Instante Zero, sempre. Tudo é visto e só pode ser notado ao vivo. Depois do
agora, qualquer tentativa de olhar para trás é apenas uma rememoração, ou
seja, mais pensamentos.
Reconheça que até mesmo a sensação de tempo é percebida no agora. O
tempo é só uma sensação que vem de uma lembrança cumulativa
(pensamentos) das experiências passadas a cada Instante que estão
armazenadas na mente. “Acordei pela manhã, tomei café, fui ao trabalho e
agora estou almoçando”. Essa é a sensação de tempo passando e que só
acontece ao rememorar os acontecimentos. Mas toda experiência relatada
só acontece fora do tempo da mente: no agora, ou acontece antes do
momento da rememoração, mas nunca ocorre no passado. Isso é
impossível! Nada pode acontecer no passado ou no futuro. Isso é teoria
mental, é apenas lembrança e pensamentos que também surgem agora.
Tudo, quando aconteceu e o que acontecerá, surgiu ou surgirá também no
Único Instante possível de a vida acontecer: Neste Instante.
Observe, portanto, que a vida só acontece em Instante Zero, agora. A
sensação de tempo só se dá quando existem lembranças no Agora.

MOMENTO DE CLAREZA

O termo “Agora”, em geral, é interpretado de forma distorcida pela


linguagem e pela perspectiva mental que se dá a esta palavra. Esse
“Agora” não se refere ao momento presente no sentido de passado,
presente (agora) e futuro. Não é isso! A palavra Agora é, na verdade,
imprecisa, mas está apontando para o Único Instante em que a Vida
se dá: Instante Único e Zero do Viver. O Agora significa fora do
tempo mental.
A lembrança de passado e futuro sempre ocorre Neste Instante,
mas gera o tempo psicológico, que é uma noção mental que necessita
rememoração. Sem lembrar ou projetar mentalmente, “esquece-se”
do passado e, assim, também não há futuro.
Já o tempo do relógio, ao qual estamos acostumados a utilizar para
agendar compromissos, é apenas uma convenção social para poder
haver programação de tarefas. Dias da semana, 24 horas e meses são
convenções ou acordos para a vida prática poder ser organizada.
Perceba que não existe pôr do sol nem nascer do sol se nos
imaginarmos fora do planeta. Acima do planeta não tem sol nascendo
e se pondo; portanto, neste sentido também não há tempo de dias (24
horas).
O Agora ou o Instante Zero faz referência ao momento exato em
que a vida está sempre acontecendo. A sensação de tempo ocorre
apenas quando existem pensamentos e se faz referência ao calendário
(inventado) e rotula a vida em espaços de anos, meses e dias como
referência a vários “nasceres” do sol. O corpo está envelhecendo no
Agora, as células estão mudando Agora, o processo do crescimento
se dá Agora, nunca depois nem antes, sempre Neste Instante.
Obs.: Claro que isso não pode ficar apenas no nível intelectual.
Você perceberá a Presença-Consciente, o Agora é experienciado e o
não tempo é vislumbrado.

Observe que, quando acontece uma lembrança (um rememorar de


imagens), perde-se, naturalmente, a experiência Pura do Agora — é quando
a mente sai deste Instante e se prende em uma imagem-lembrança. A isso
se pode chamar de ausência de presença, ou seja, o corpo está aqui, mas a
cabeça-mente está com a atenção em outro lugar.
Quantos já vivenciaram a experiência de estarem no carro andando por
quilômetros e, quando se dão conta, não lembram por onde passaram? O
que aconteceu: a mente saiu do momento real e perdeu a experiência no
Instante Zero como um esquecimento ou desatenção do Agora.
Portanto, de verdade, só existe vida no Agora e todos os detalhes da
experiência são notados sempre em Instante Zero por Algo Consciente.
Sinta a experiência do Agora: sem perder-se em pensamentos, esteja
alerta agora!…
Aquilo que testemunha a experiência

Então, a partir deste ponto, fazem-se necessárias algumas perguntas:


O que é Isto que está consciente?
O que é Isto que se dá conta de tudo em tempo real?
O que é Isto que percebe até mesmo os rótulos e as infinitas possibilidade
de pensamentos?
O que é Isto que testemunha a experiência Agora?
O que é Isto que percebe agora o senso de “estar consciente”?
Este Algo que percebe a experiência é a base da experiência. A
experiência não seria possível ser falada, vivida, vista e experienciada sem
esse Algo que se dá conta dela em Instante Zero.
Esse Algo que está consciente aí vamos chamá-lo, momentaneamente, de
Consciência com “c” maiúsculo. A Consciência da Vida neste Instante Zero
está experienciando, agora, aí, a experiência integral e vendo a mente
dividindo e interpretando estas palavras.
Então, estamos falando, a princípio, e por questões didáticas, de dois
aspectos da experiência:
1. A experiência percebida, completa, dividida em objetos-rótulos, que
está surgindo aí, agora;
2. Algo Consciente que percebe toda a experiência.
O reconhecimento destes dois aspectos é o propósito principal aqui:
reconhecer o percebido, mas também o que percebe.
Perceba, agora, que há Algo alerta. Isto é a Consciência que está aí
sempre testemunhado…

A experiência que chamamos de “minha vida” está acontecendo


naturalmente agora e só pode ser conhecida porque existe a percepção dela.
A Consciência é a inteligência perceptiva que tem o dom do conhecer.
Perceba estes dois aspectos: o conhecido e o conhecer.
O dar-se conta da experiência é natural e espontâneo, mas note que a
experiência não é experienciada pela mente ou pelos pensamentos, como se
imagina. Pelo contrário, a mente (pensamentos, rótulos, emoções,
sentimentos) é observada também. A mente também é a experiência.
Portanto, existe Algo mais sutil testemunhando a experiência integral
que é composta de vida prática, afazeres, pessoas, lugares, acontecimentos,
mas também composta pela experiência mental a qual podemos resumir em
pensamentos, sentimentos, emoções e sensações.
Mas o principal é: comece a dar-se conta de que tudo que é experienciado
é naturalmente percebido em Instante Zero por Algo Lúcido e Consciente. O
convite, portanto, é para começar a reconhecer que a vida está sendo
testemunhada pela Consciência e não pela mente.
Perceba esta Consciência Lúcida presente aí, agora…

Este Algo Consciente percebe tudo acontecendo neste Instante. Sempre,


tudo é testemunhado pela Consciência. Perceba a Consciência agora!

Portanto, existe sempre:


1. A Consciência consciente (cujo propósito é ser reconhecida mais e
mais a partir de agora);
2. A experiência sendo percebida nitidamente.
A Consciência que testemunha a experiência está completamente alerta,
neste instante, mas em geral passa despercebida.
Perceba a Consciência alerta aí, agora…
Perceba este alerta consciente aí…

Reconhecer este Algo consciente conscientemente é o propósito aqui.


Tome consciência desta Consciência agora!…
Pensamentos são apenas pensamentos

Pensamentos surgem e desaparecem. Na maior parte do tempo, os


pensamentos não são percebidos como algo que surge e desaparece, ou não
são notados como algo que vem e vai. E este é justamente o ponto
essencial: não são percebidos apenas como pensamentos.
Por causa do piloto automático diário, existe uma falta de reconhecimento
dos pensamentos como sendo simples pensamentos e assim é dado pleno
poder das nossas ações a eles. A partir de uma nova Visão, os pensamentos
serão naturalmente observados juntamente como parte de toda a
experiência. Haverá na experiência diária: casa, carros, pessoas, família,
trabalho, escritório, ida ao supermercado, ao dentista e, concomitantemente
a tudo isso, pensamentos sendo notados.
Assim, se, juntamente com as circunstâncias de vida, os pensamentos são
reconhecidos em tempo real como sendo simples pensamentos surgindo,
gradativamente a impulsividade da mente e a reatividade emocional perdem
a força, pois os pensamentos ficam expostos e não precisam ser levados
mais tão a sério.
Quando acontece um dar-se conta em Instante Zero, de que pensamentos,
rótulos, imagens, sentimentos e ideias apenas surgem, uma riqueza incrível
de infinitas possibilidades será notada na experiência. Isso pode parecer
complexo no início, mas vai se tornando evidente à medida que o nível de
consciência sobre esses aspectos sutis se expande.
No dia a dia, no automatismo, ocorre uma aceleração mental que faz o
pensamento rotular objetos, coisas, pessoas, lugares e circunstâncias de
forma involuntária e absolutamente invisível. Juntando-se a isso, vem a
noção de antes e de depois, a noção de fluxo de acontecimentos — que são
a memória e que trazem a sensação de tempo acelerado. Esse ritmo mental
traz aquela sensação de impotência diante da correria e da velocidade que
se vive.
A partir de agora, todo o fluxo mental começará a ser observado.
Observado pelo quê? Por Algo consciente que, por enquanto, chamaremos
de Consciência ou Consciência da Vida.
Por que chamar de “Consciência da Vida”? Porque é o que É: é
involuntário, natural, dinâmico e surge espontaneamente como o fluxo da
Vida, da natureza, nesse Instante Aqui. Portanto, Aquilo que se dá conta da
experiência, Aquilo que está consciente agora de forma involuntária, é a
Vida! Involuntária porque não é você que está controlando esse fenômeno.
A Vida está acontecendo exatamente assim: a Consciência percebendo a
experiência sem que você faça qualquer esforço.
Portanto, você não está no controle desta Consciência! Perceba que Ela
está acontecendo independente do querer. É o fenômeno da Vida surgindo.
Você verá também que não existe como controlar aquilo que surge no
Instante Zero. As circunstâncias surgem e juntamente surgem os
pensamentos. Provavelmente, a partir de agora, os pensamentos
involuntários começarão a ser reconhecidos, como sendo apenas
pensamentos.
“Ah, mas eu controlo meus pensamentos!”, você poderia afirmar.
Saiba que o controlar os pensamentos e emoções é apenas aparente,
como veremos mais e mais.

MOMENTO DE CLAREZA

Uma observação importante é necessária para quem estiver fazendo


a leitura sobre este tema pela primeira vez: talvez esteja achando
confuso ou muito distante da realidade. Já, para outros, faça sentido,
apesar de ser surpreendente. Em qualquer um desses casos, apenas
uma sugestão: não tente entender nada! Não queira intelectualmente
compreender já em um primeiro momento. Apenas abra-se
mentalmente para essa possibilidade. A leitura por si só, mesmo que
a experiência ou a compreensão ainda não estejam acontecendo, já
está fazendo o seu papel. Confie nisso e siga em frente!

Veremos que qualquer tentativa de controlar a mente é em vão, pois


isso não é possível. O querer controlar um pensamento é apenas outro
pensamento dizendo que algo na experiência não está bem, portanto, “tenho
que corrigir”. A tentativa de controlar a mente quando olhada de perto, vai
revelar mais pensamentos: talvez seja percebido um padrão de
pensamento bem antigo de querer controlar as coisas, como veremos
mais adiante. Este padrão de pensamento é inconsciente e pode ter se
iniciado, por exemplo, lá com os rótulos básicos: “xícara amarela feia”, que
“não gosto”, e assim se amplia para “estou chateado” e “quero mudar isso”,
“preciso corrigir para ficar do meu jeito” etc. Note que tudo isso são apenas
pensamentos!
Este fluxo de pensamentos vai se desencadeando de forma espontânea,
trazem outros pensamentos sequenciais, que geram a tentativa de corrigir o
que supostamente não está bem. É neste sentido, de não perceber o fluxo de
pensamentos, que não notamos que a certeza de controlar os pensamentos
é aparente porque é mais um pensamento, uma ideia apenas… Você
perceberá que os pensamentos são na verdade involuntários e ocorrem de
forma natural na vida diária. Ou seja, pensamentos surgem em camadas,
não dependem do querer, geram emoções e produzem ações automatizadas
e inconscientes (o piloto automático).
O convite, a partir de agora, é perceber os pensamentos em Instante Zero
de forma simples: são apenas pensamentos surgindo sem “a minha
intenção”. Essa grande descoberta traz consciência sobre a mente agitada e
diminui a impulsividade cega das ações.
Para questões práticas e simples como a “xícara amarela”, parece uma
situação sem impacto profundo, como: “Vou trocar a xícara por outra que
me trará mais satisfação, aí finalmente vou me sentir melhor”.
OK, no caso da xícara, parece bobo. Agora vamos analisar algo diferente
e supor a seguinte situação de vida:
Imagine alguém que tem um dia a dia corriqueiro, assim como eu e você,
e que decide casar-se. Ao começar a programar o casamento, podem surgir
muitas situações a serem ajustadas ou corrigidas, assim como no exemplo
da xícara. Sentimentos surgirão, afinal de contas, “é meu casamento: a coisa
mais importante da minha vida” e “fazer tudo certo e que nada fique fora do
lugar é fundamental para minha felicidade” (pensamentos-emoções). A
tentativa de encontrar o local da festa; decidir quem serão os convidados,
quem servirá o bufê, quem serão os padrinhos, quais serão as vestimentas,
doces, música etc.; tudo isso pode se transformar em uma situação de
estresse caso essa pessoa esteja em um nível de inconsciência a respeito do
seu processo mental.
Por exemplo: supondo que, neste caso, durante toda a vida passada desta
pessoa aconteceram experiências de insegurança no colégio, timidez e tenha
sofrido algum tipo de bullying. Esta pessoa formou um mindset, um modelo
mental programado desde a infância com pensamentos e emoções de certos
tipos e interpretações tais que são condizentes aos acontecimentos de seu
passado. Por isso, surge naturalmente muita ansiedade e expectativa em
agradar às outras pessoas e querer tudo muito perfeito para que não ocorram
experiências “ruins” como tantas vezes já aconteceu anteriormente. A
mente — as formas de pensamento que surgem nesta pessoa organismo com
uma genética específica e tendências — pode trazer pensamentos
padronizados, por exemplo, de querer “evitar o que não foi bom no passado
e criar uma cerimônia ideal conforme os seus melhores sonhos” (mais
pensamentos e imaginação que surgem).
Ao contratar profissionais para a realização da festa de casamento, podem
surgir padrões de desconfiança (a energética “medo” aí de novo): “São estes
os mais competentes?”; “Entregarão no prazo certo?”; “Não sei não, não fui
com a cara dela, estou com receio de algo dar errado”; “Quero a melhor
festa para mostrar aos meus amigos”… A partir destes pensamentos
antigos, frutos de frustração ou da insatisfação no passado, surgirão mais
ansiedade e mais desejos. Haverá também pontos de vista conflitantes do
parceiro ou parceira, a família poderá dar opiniões diferentes e toda esta
tentativa de mudar, controlar ou corrigir o que aparentemente poderia dar
errado pode tornar a preparação do casamento extremamente tensa.
A questão é que situações assim não acontecem apenas para casamentos
como sabemos… Dependendo do processo mental, portanto, dependendo
da programação que surge em cada indivíduo-organismo-DNA-
experiências passadas, a tomada de decisão em outras áreas da vida
provavelmente será muito parecida: na hora de planejar férias ou de
escolher a roupa para o trabalho; sobre o que fazer no final de semana; na
sua relação com amigos, funcionários, colegas de trabalho ou familiares; na
sua relação com o dinheiro; sobre o que é certo ou errado; sobre suas
concepções a respeito de pecado, religião, estudo, trabalho, governo, futuro
etc.
Sentimentos de tensão aqui e ali, de insatisfação, ou muitas formas de
medo disfarçado, por exemplo, como uma máscara-imagem que
transparece: superioridade (medo de ser fraco), inferioridade (medo de ser
grande), tentativa de manipular alguém (medo de perder o controle),
vaidade (medo de não ser o melhor), orgulho (medo de não ser querido ou
aceito), inveja (medo da falta ou de ser pior que os outros), obstinação
(medo de não conquistar, de não ser o maior), preguiça (medo do conflito
ou do atrito), raiva (medo de não ser perfeito) etc. Isso tudo são exemplos,
talvez imprecisos e gerais, mas que acontecem de forma involuntária e no
piloto automático. Estas tendências surgem de forma completamente única
e diferente de indivíduo para indivíduo dependendo do condicionamento do
passado. Mesmo que na sua experiência não existam exatamente os padrões
mentais-emocionais citados acima, você já os entendeu e não precisamos ir
tão a fundo aqui. Em resumo: você vai notar que “sua vida”, em muitos
casos, segue algum tipo de padrão ou tendência de pensamentos, emoções
e atitudes. Você irá notar também que esta tendência mental simplesmente
surge.
Quando existe inconsciência sobre essa tendência mental involuntária, os
pensamentos são levados a sério como se fossem verdades, o que gera uma
luta interior na tentativa de mudar as coisas, de controlar o comportamento,
de empreender desejos insanos ou, ainda, de focar naquilo que a mente diz
que não está bem. Pensamentos deste tipo, em geral, trazem uma sensação
de que algo está faltando agora e esta sensação de falta gera sofrimento. O
sofrimento, que às vezes é tão simples quanto o inconformismo de não ter
sido ouvido pelo colega de trabalho do jeito que gostaria, tem como base
fundamental alguma forma medo*, como nos exemplos acima.
A programação mental, em geral, gera sofrimento porque tem, portanto,
o medo como a emoção básica: medo de perder, medo de não conseguir,
medo de ser pequeno, medo de ser abandonado ou desprezado, medo de que
não vai ter ou ser o suficiente, medo de estar errado, medo de ser grande
(este é mais sutil e difícil de ser notado), medo do que os outros irão pensar,
medo de não ter sucesso como a sociedade exige, medo da violência; medo
de não ser cuidado pelos filhos no futuro, medo de não ser aceito
socialmente, medo de não ser igual ou superior aos outros, medo da solidão,
medo de não ser inteligente o suficiente e de não ser competente, medo de
não ser capaz e de falhar, medo de não ter dinheiro no futuro, medo da
traição, medo da morte, medo de não ser querido, medo de não ter sucesso,
medo de não agradar, medo de não conseguir aquilo que sempre sonhou,
medo de não ser aprovado, medo da crítica, medo da rejeição, medo da
imagem que passa para os outros, medo de não ser amado, medo de ser
grande ou de se sentir um nada.
Enfim, a lista aqui é exponencial e tão infindável quanto a quantidade de
seres humanos que existem no planeta. Portanto, a base dos desafios
comportamentais são os medos ou crenças (inconscientes) que definem
perfis e padrões de personalidade e que irão fazer as pessoas se
relacionarem de certa forma, terem estilos de comportamentos e terem
certas facilidades ou dificuldades. Os padrões farão as pessoas serem
empreendedoras ou não, terem muito dinheiro ou não. Perceba, por
exemplo, que ser próspero ou não são possibilidades que podem estar
baseadas em algum tipo inconsciente de medo.

MOMENTO DE CLAREZA

Uma crença é um pensamento que não foi visto como apenas


pensamento. É uma verdade-certeza inconsciente que conduz
pensamentos, mexe nas emoções, sendo que as principais e mais
influenciadoras foram implantadas na infância. As principais crenças
limitantes foram ensinadas e estão baseadas no medo, na falta e na
separação.
Uma crença é uma convicção profunda inconsciente que gera
pensamentos e, por não ter sido vista como tal (crença), é
considerada como verdade e impacta na realidade. Por exemplo: a
convicção “ganhar dinheiro não é fácil!” pode parecer simples, mas
não é, pois mexe na vida inteira de algumas pessoas de forma
inconsciente. Esta afirmação é comum entre muitos, mas ela é só um
pensamento que se transformou em uma convicção que ficou
enraizada no inconsciente por causa de experiências da infância, dos
pais, da educação etc.
Portanto, uma crença se torna uma verdade absoluta e todas as
situações da sua vida geradas por ela irão reforçar esta verdade. Por
não ser percebida ou questionada em sua raiz, uma crença-
pensamento não é reconhecida apenas como sendo uma
programação ou como um amontoado de palavras, rótulos e
símbolos. As crenças geram sentimentos em relação ao dinheiro
(como no exemplo acima), geram emoções e, consequentemente,
convicções que fazem com que a pessoa acredite (crença) nesta
“verdade”. Por ser uma convicção, a crença gera atitudes
inconscientes na vida prática que realmente trazem dificuldades em
relação ao dinheiro.
Por não perceber o teor daquela afirmação como sendo um simples
pensamento infundado, uma crença irreal e limitante, tudo ao seu
entorno gera um padrão energético de muitos outros pensamentos e
atitudes frente ao dinheiro que acabam estes por reforçar a crença
raiz.
Por causa de todos os pensamentos e emoções relacionados ao tema
dinheiro, sua vida inteira sofrerá um impacto profundo a partir da
área financeira: “achar que nunca será rico”, “que não é merecedor”,
“que riqueza é para poucos”, “que é necessário trabalho árduo para
ganhar dinheiro”, “que dinheiro é tudo”, “que dinheiro é o propósito
principal e não um meio”, “que riqueza não é espiritual”, “rico é
arrogante e insensível”, “rico explora os mais pobres”, “prefiro ser
pobre, mas ser feliz”, “dinheiro não traz felicidade”, “eu não sou bom
o suficiente”, “eu gasto tudo que ganho”, “sou inferior ou superior
aos outros”, “eu não mereço ter o que os outros têm”, “que falta
dinheiro para tudo na minha vida”, “que preciso dinheiro para tudo
na minha vida”, “que somente os pobres terão direito ao reino dos
céus” — esse último um equívoco de tradução e de interpretação
bíblica. Ou: “pobre é assim mesmo, nasce pobre, morre pobre”,
“pobre tem que trabalhar até o fim da vida”, “que nasci sem dinheiro,
portanto, pertenço ou sou desta classe social” e assim por diante…
Todos estes conceitos sobre dinheiro são invisíveis como “conceitos”
e tornam real a escassez, pois a consequência serão ações diárias que
são, por sua vez, consequência dos pensamentos!
As emoções, por conseguinte, também surgem: inveja, raiva,
orgulho, mesquinharia, medo de não ter, medo de perder e de confiar
nas pessoas. O valor que se dá ao dinheiro pode alimentar a vaidade,
a tendência ao acúmulo e, em muitos casos, é motivo de brigas em
família e entre amigos. Esta história vai longe, mas você já entendeu
o ponto aqui. Uma crença pode até parecer ingênua, mas na prática
impacta toda a vida da pessoa.
As Crenças podem estar registradas ao nível do corpo físico, desde
a infância; podem estar no DNA, vindas dos ancestrais; no campo
áurico, de vidas passadas ou até mesmo ao nível de alma. O propósito
deste livro não é o de focar na mudança de crenças por si só ou
aprofundar-se nesses aspectos. Não é necessário, mas vamos tratar de
Despertar para a Natureza do que Eu Sou, o que vai expor e mexer
com as crenças mais básicas a respeito de nossa identidade.

Ao começar a reconhecer, portanto, estes padrões antigos como sendo


apenas formas de pensamento que surgem e como energéticas (as
emoções) que aparecem no Agora — em Instante Zero, a tendência da ação
comportamental é mudada completamente. Simplesmente começar a
reconhecer os pensamentos como sendo a Vida acontecendo na sua
espontânea naturalidade, mas sem identificar-se com eles, é o caminho
sugerido aqui. Reconhecer que os exemplos de pensamentos acima não
precisam ser seguidos é um grande salto na compreensão sobre a vida.
Assim, passa-se a ampliar e refinar a Visão sobre a realidade dos
pensamentos, das crenças e sobre a influência que a mente agitada tem na
vida prática.
Este refino na Visão, ou este dar-se conta, acontece a partir de outro
“espaço” que não é o processo mental programado. A Visão surge de um
local de observação neutra, não mental, onde um testemunhar acontece. É
justamente neste espaço que a Pura Consciência ou a Consciência-
consciente se revela. A Visão surge de um espaço Vazio que é de Pura
Inteligência. Consciência é um “local” de Silêncio Observador.

MOMENTO DE CLAREZA

É muito importante entender que não se está dizendo que todas


estas formas de medo ou crenças citadas anteriormente estão erradas
ou que não deveriam existir. Nada disso! Este é o modus operandi da
vida humana que até aqui existiu no planeta Terra. Este paradigma
mental gerou o tipo de experiência que conhecemos como realidade,
com seus modelos sociais, religiosos, políticos, educacionais e
padrões de vida de consumo, de lazer, de prazeres emocionais etc.
Portanto, está tudo OK do jeito que está. São justamente esses estilos
de personalidade que construíram aquilo que conhecemos como a
história recente da humanidade, tal como vemos ainda hoje em dia,
mas você perceberá que o Despertar para a Consciência mudará estes
conceitos!

O mais importante é notar, a partir de agora, que os pensamentos e


crenças também podem ser percebidos em tempo real e reconhecidos
conscientemente como apenas simples pensamentos e que, em geral, não
precisam ser levados muito a sério. Assim, as crenças limitantes que
influenciaram até aqui começam a ser expostas e percebidas como
infundadas, o que permite o surgimento de um novo modelo de vida.
Verifique na sua experiência aí: Como está a mente neste instante?
agitada, silenciosa, tensa, neutra?
Observe atentamente o mindset agora, por alguns segundos…

Tome consciência dos pensamentos que surgem em tempo real…


O velho mundo: do intelecto
O novo mundo: da Consciência

Os padrões de vida conhecidos até aqui seguiram a programação mental


enraizada no medo como vimos. Vivemos um estilo de vida, em geral,
focado em acumular e em atingir sucesso externo com a supervalorização
do mundo material. Tudo isso veio acontecendo a partir do adestramento
social que tivemos, o que criou uma realidade de disputa e de competição.
Até agora vivenciamos, como sociedade humana, a busca pelo poder, a
exploração de uns sobre os outros, vivemos convictos de estarmos
separados onde a luta pelo sucesso gerou escassez de muitos recursos do
planeta e, consequentemente, vem gerando esforço e tensão.
Até os dias de hoje, a humanidade soube depender apenas do intelecto
para tudo. Da ciência aos negócios, do sistema educacional às relações
interpessoais, todos utilizam e valorizam o conhecimento acumulado como
a base da verdade e, portanto, como referencial para o estilo vida que se
vive. O intelecto foi, até então, o parâmetro para determinar o que é
científico e, portanto, “verdadeiro”. O intelecto tem nos dito o que fazer e
tem sido a lógica do entendimento humano. O intelecto se faz necessário,
mas até certo ponto. Sim, até certo ponto! Nada errado com ele, mas o
intelecto se tornou o alicerce daquilo que é aceitável como real e, portanto,
o pensamento racional tem sido a única ferramenta que define o modelo
para uma vida ideal.
O que está se chamando de intelecto aqui é composto de todo
aprendizado, do armazenamento de informações que tivemos e da
velocidade em que a mente processa os dados acumulados
inconscientemente. Analogamente, um programador de computação e o
usuário de um software ou de um aplicativo de smartphone alimentam o
programa com informações tais ou com certas qualidades de dados que
fazem aquele software trabalhar de um jeito específico. Ao continuar
acumulando mais e mais informações, o usuário cria um aplicativo quase
exclusivo, do seu jeito. A capacidade de armazenamento dos dados, a
memória RAM e a velocidade de processamento dos dados dizem o quão
rápido e bom é tal computador e aplicativo.
No caso do ser humano, a metáfora é válida. O intelecto é a soma de
dados armazenados (experiências e aprendizados) com a velocidade de
juntar e processar tais dados, o que revela um tipo de inteligência mental
peculiar ou de quoeficiente de inteligência (QI).
O intelecto e a razão são importantes para não precisarmos reaprender
novamente tudo. Imagine se todas as vezes que entrar em um automóvel,
você precisasse reaprender a ligá-lo ou tivesse de ser lembrado sobre qual o
número do seu apartamento ou qual a sua profissão. O intelecto é
importante! O que acontece é que se aprendeu que ele é a única forma de
inteligência e nos acostumamos a depender exclusivamente dele para viver
a vida. Você notará que isso não é necessário!
A ciência avançou da maneira como conhecemos porque acumulou
informações, suposições e teorias e só considera válido aquilo que pode ser
provado intelectualmente em um sentido de teste e comprovação. A ciência,
por exemplo, não considerou a intuição e a experiência mística como algo
científico. Tudo que até aqui não foi comprovado logicamente não tem sido
considerado “real” do ponto de vista da ciência.
O mesmo intelecto, lógico e cartesiano, apenas para fazer um link com o
que já foi dito aqui anteriormente, foi quem criou o modelo de mundo que
conhecemos, de inconsciência sobre a natureza da mente e das emoções. A
mente impulsiva não foi claramente percebida, até aqui, como uma
sabotadora do comportamento e como sendo apenas um condicionamento.
Portanto, o intelecto ou a ciência do século passado nunca teve uma visão
mais profunda a respeito da Consciência.
A notícia nova talvez para a maioria das pessoas é a capacidade de
interagir com o mundo conscientemente a partir de outro lugar que não o
intelecto (memória + velocidade de processamento). Podemos levar uma
vida expandida ao reconhecer que é possível viver a partir de outra
Inteligência, aliás, a Verdadeira Inteligência que está sempre presente e
lúcida, porém negligenciada mentalmente.

MOMENTO EXPERIENCIAL

Para seguir adiante e poder reconhecer o que É esta Inteligência


não intelectual, volte a observar os pensamentos e teste isso na sua
experiência!
Sugestão: leia os passos a seguir e depois faça do seu jeito.
Reconhecendo a Consciência em cinco passos:
1 Feche os olhos e fique completamente atento por alguns instantes e
.
amplie seu estado de alerta;
2 Sinta a respiração e/ou centro cardíaco. Leve a mão ao centro do peito e
.
repouse levemente a atenção consciente onde a mão toca o peito. Fique
aí por um minuto;
3 Depois de um minuto, continue alerta. Abra a percepção consciente e
.
observe qual o próximo pensamento que vai surgir! Apenas, dê-se conta;

4 Ao notar um pensamento surgindo, permita que ele fique ou vá, tanto


. faz;
5 Então, desfoque do pensamento e observe: há algo consciente que nota
.
o pensamento surgindo.
Isto que reconhece o pensamento surgindo é esta Inteligência da
qual estamos falando.

Parece óbvio, não? Este reconhecimento pode ser simples, mas muda
tudo, absolutamente tudo! É claro que é necessário um aprofundamento
aqui. Isso será feito pouco a pouco.
Isto que testemunha o pensamento e o corpo, ou esta Inteligência que está
alerta, poderemos nomeá-la de várias formas, mas a estamos chamando de
Consciência. Já o fato de “estar consciente da Consciência”, chamaremos
de Presença.
Dar-se conta de que há Algo que percebe os pensamentos e que observa as
emoções contribui para evidenciar que aqueles padrões intelectuais ou de
personalidade, referenciados anteriormente, podem ser testemunhados de
forma distanciada e sem nos identificarmos com eles.
Esta Inteligência que Testemunha, ou seja, a Consciência (com C
maiúsculo), poderia ser chamada também de Inteligência Infinita, Pura
Consciência, Inteligência Pura, Vazio Sábio, Mente Infinita, Infinito, Vácuo
Quântico, Inteligência Universal ou de muitas outras denominações, mas
esses nomes não importam muito. O ponto principal é que quanto maior o
nível de consciência da Consciência, mais a Visão do mundo se torna Pura
e menos poluída pela mente. A mente distorce o mundo através das crenças,
preconceitos, rótulos e vícios sociais. Este é o velho mundo: poluído e
distorcido pela mente.
Você pode estar se perguntando: mas para que serve saber disso?
Serve para perceber que o intelecto tem ditado as regras de conduta o
tempo todo; portanto, o medo, as emoções, as crenças, como vimos, têm
sido fatores determinantes para as ações diárias da humanidade.
OK, mas o que poderia ser diferente?
Aí, você mesmo pode responder ao utilizar a memória que agora será útil:
lembre-se de algum momento de tensão, ou de preocupação acentuada com
alguma questão prática da vida, ou lembre-se de algum momento mesmo
sem preocupação, mas com aquela confabulação mental incessante: como
foi na época? Você se lembra de ter sido afetado pelo nervosismo, dúvida,
raiva, ansiedade, angústia, simplesmente por não saber como resolver a
situação? Ou, talvez, você até tenha resolvido o problema, mas gerou ou não
desconforto e estresse?
Pois é. Este é o padrão da mente: ao buscar informações no hard-drive-
intelecto, nem sempre se consegue encontrar soluções. Ou, se encontramos
soluções, muitas vezes as resolvemos de maneira tensa e condicionada. O
pensar incessante pode ativar emoções negativas que são a base da
programação, e acionar memórias armazenadas, que geram algum tipo de
ação ou reatividade, que causam desconforto, peso, estresse, brigas, tensão,
doenças etc.
Agora, lembre-se de algum outro momento onde houve paz e
tranquilidade onde tudo parecia perfeito e completo. Traga na memória um
episódio em que surgiu uma ideia inspiradora que lhe trouxe alegria,
empolgação e vontade de viver. Ou, ainda, relembre quando uma ideia nova
“veio do nada” e o levou a outras possibilidades e a melhorias na vida. Esta
é a diferença! O primeiro caso é o modelo mental de atuação condicionada,
de tensão, e o segundo é uma forma intuitiva de viver com leveza, mas que
vem deste outro “espaço“, não mental, ao qual estamos começando a nos
referir aqui.
A mente programada gera um desejo infindável por atingir a felicidade e
produz tentativas constantes de empreender para que o indivíduo se sinta
realizado justamente porque algo está faltando.
Você já percebeu que, mesmo que sua vida seja “boa”, existe em muitos
momentos tensão, preocupação, esforço, insegurança, luta. Vivemos em um
mundo nitidamente de desigualdade social, de exploração, de guerras, de
corrupção, de injustiças de todos os tipos, só para resumir. Existe uma
infinidade de problemas gerados por uma sociedade intelectualmente
orientada.
Quando a mente está acelerada, tensa, vivendo mais no futuro e no
passado, o que você acha que acontece?
O aceleramento mental gera o mundo que conhecemos: de pessoas
enfeitiçadas seguindo o sistema, escravos da indústria do consumo, com
criminalidade velada por todos os lados, onde somos servos da política, da
indústria da doença, da indústria do alimento e manipulados pela
comunicação de massa. As pessoas são influenciadas e não sabem disso,
vivem cegas, tensas, preocupadas, desconectadas de si e dos outros, com
vidas superficiais e com alto nível de insatisfação. Outras vivem sob muito
estresse e nervosismo, com dúvida, dívidas, ansiedade, angústia e incertezas
brotando constantemente. Aqueles que estão felizes, em geral, estão
hipnotizados pela habilidade que desenvolveram em adaptar-se a este
sistema-matrix insano.
Este é o padrão do intelecto. Ao buscar informações e soluções
exclusivamente nele, nem sempre se consegue encontrar soluções sábias,
pois apenas em raros momentos acessamos a intuição.
A boa notícia é que o reconhecimento da Inteligência da Consciência está
acessível a todos neste momento. O novo mundo se baseia na Pureza
Inteligente, na Presença-Consciente onde não há programação de medo,
falta e não há disputas, controle e poder.
Para quem está mais atento, apesar de todos os problemas, já está
percebendo a mudança. Pela primeira vez nos últimos milhares de anos já é
possível começar a acessar outra frequência. Estamos começando a perceber
pouco a pouco que esta forma de vida de pessoas inconscientes que se
tornaram escravas dos pensamentos, das emoções e das crenças não faz
mais sentido. Muitos estão querendo diminuir o ritmo, desacelerar; outros
estão mudando completamente de vida, de trabalho e de valores. A mudança
de paradigma está em todo o lugar. Os jovens são diferentes e não se
adaptam mais ao estilo de vida dos pais. Muitos estão cuidando mais da
saúde, da natureza, da alimentação, da mente, do corpo e do espírito.
O que está acontecendo é que a humanidade está se abrindo para uma
nova possibilidade: levar uma vida desperta, lúcida, a partir da Consciência,
que revela uma sabedoria diferente daquela inteligência racional do
intelecto que nos guiou até aqui.
Saiba que já é possível sim viver consciente, de maneira não mental, a
partir do espaço que a física quântica vem chamando de Vazio, mas que não
foi bem compreendido ainda. Este Vazio não é um vazio sem sentido; pelo
contrário, você perceberá mais e mais na sua experiência, nas páginas a
seguir, que esta lucidez da Consciência é Vazia, mas Inteligente.
A partir desta Inteligência, a partir da Visão Pura, existe paz, intuição,
confiança, ideias elevadas, respeito, amor, bondade, sincronicidade e fluxo.
Tudo aquilo de maravilhoso que os mestres espirituais sempre revelaram, a
partir de agora já pode ser sentido e vivenciado.
O velho mundo, o mundo do intelecto, está desmoronando. E o momento
atual é justamente para deixar de seguir a programação e os padrões
mentais do passado e utilizar conscientemente a Inteligência Verdadeira
para interagirmos com a vida. E isso muda tudo. E é simples, saiba disso!
Você notará a Intuição e a leveza do novo mundo florescerem na sua vida.
O propósito deste livro é apoiá-lo a viver dessa nova forma. O viver
consciente, desperto para o sistema mental, vai ajudá-lo a descolar do velho
mundo.
Agora, existe lucidez aí, ou a mente está em primeiro plano pensando,
pensando, pensando…? Perceba esta Alerteza vazia agora…
Do intelecto viciado para a lucidez da Consciência

O processo do pensamento é natural e espontâneo como um aspecto da


natureza. Sim, eles são parte da natureza assim como as plantas e o clima
estão em harmonia em um ecossistema. A questão é que da mesma maneira
que uma brisa vem e vai, uma nuvem vem e vai, um pássaro vai e vem; os
pensamentos também vêm e vão. Os pensamentos são um fenômeno natural
e não têm algum tipo de poder especial por si só.
Ouve-se falar tanto sobre o “poder dos pensamentos” e que a forma como
se pensa é a maneira como a realidade se mostra. OK, tudo bem com esta
abordagem. Ela não está sendo negada; pelo contrário, pois recentemente
falamos disso! No entanto, precisamos agora ir além do nível da mente. A
mente por si só tem ditado os resultados do mundo e, neste sentido, é claro
que ela tem poder, mas no Novo Mundo o olhar que é preciso ter para a
mente é outro, bem diferente!
A força dos pensamentos só ocorre quando existe identificação com eles,
por falta de Visão ou por inconsciência da Consciência. Enquanto ainda
existe ignorância ou ausência de reconhecimento desta Presença-Lúcida-
Consciência, os pensamentos podem ter uma força incrível simplesmente
por não serem percebidos como verdadeiramente são.
Ao dar-se conta de forma mais profunda que, assim como o vento não
afeta o céu, um pensamento não afeta o que Você É, tudo à sua volta,
absolutamente tudo, muda de figura.
Para a maior parte da população, os pensamentos, as emoções e,
consequentemente, as ações que surgem a cada instante são aspectos de si
mesmo, como uma identidade: “Eu penso, eu sou os meus pensamentos, eu
fico ansioso, eu sou uma pessoa preocupada, eu sou alegre quando… eu
estou bem quando…”. Ao começar a olhar bem de perto para um
pensamento quando ele aparece, em Instante Zero, começa a existir a
consciência nítida de que “Eu estou vendo os pensamentos”, então, se eles
podem ser vistos por “mim”, eles não são “eu”!
Quando uma emoção surge como um acesso de raiva ou inveja, por
exemplo, a tendência é de a emoção não ser vista simplesmente como ela é:
uma energética corporal ou apenas um tipo de sensação corporal.
Por não serem notados, os sentimentos, as emoções e os pensamentos
geram ações impulsivas. O que geralmente acontece é que uma atitude
motivada pela raiva ou pela inveja traz consequências que não são
benéficas. Neste sentido, sim, o pensamento, a emoção ou a crença não
reconhecidos têm poder.
Assim como uma nuvem que vem e vai não afeta o céu, os pensamentos e
as emoções da mesma forma não o afetam quando percebidos a partir da
Consciência.
A partir desta Visão Pura, Neutra e Inteligente que observa os
pensamentos é possível permitir que eles surjam, fiquem o tempo que
tiverem de ficar e desaparecem.
Na verdade, esta transitoriedade de um pensamento já ocorre, pois um
pensamento não perdura por muito tempo. O que acontece ainda é que, num
nível de inconsciência, normalmente se tem um encadeamento de muitos
pensamentos que vão alimentando as emoções e vice-versa. Isso gera tensão
no corpo, o que gera novos pensamentos, mais tensão e projeções mentais e,
consequentemente, ações condizentes com o carrossel de pensamentos e
com as emoções anteriores vão ocorrer.
Viver inconsciente destes pensamentos e emoções e das ações impulsivas
e condicionadas é como permanecer no piloto automático. Ou seja: a
ausência de reconhecimento em tempo real de que um pensamento é só um
pensamento e uma emoção é só uma energética corporal é o que permite
que ações impulsivas inconsequentes surjam.
Sem esta Visão Pura mais profunda e sutil ou sem a Visão Consciente de
toda a experiência (externa: pessoas, situações e lugares; e interna:
pensamentos e sentimentos), o que acontece é um tipo de escravidão
mental-emocional. Na inconsciência, vive-se numa hipnose ou num transe
de dependência quase que exclusiva de pensamentos antigos, aprendidos e
condicionados. Neste sentido, eles têm o poder de afetar fortemente os
resultados práticos no dia a dia.
Quando os pensamentos são percebidos instantaneamente em Instante
Zero e vistos apenas como uma nuvem que não tem poder real sobre
“mim”; tudo passa a mudar, pois eles perdem sua força influenciadora
gradativamente.
Isto aí na sua experiência lendo este livro, que tem a percepção corporal
em tempo real, e que concomitantemente reconhece os pensamentos que
surgem não é a mente nem o intelecto; é a Consciência. Quando a
Consciência é conscientemente reconhecida, em Instante Zero, surge a
sensação de Presença.
Perceba agora, reconheça esta Inteligência Lúcida, este Vazio Inteligente
que está aí!…

Este Algo consciente é o que vamos atentar e reconhecer mais e mais


juntamente com a experiência. Sinta a Consciência aí, agora!

A partir de hoje, um convite especial: faça no seu dia a dia exercícios


frequentes de Estar Consciente, como os exemplos abaixo.

MOMENTO EXPERIENCIAL DIÁRIO

Você pode separar instantes para praticar no seu dia a dia. Por
exemplo, durante dois minutos pela manhã, outros dois minutos
durante o almoço, em alguns momentos à tarde ou à noite:

Exemplo 1
Se estiver em casa, pode até fechar os olhos se quiser.
Relaxe sua atenção onde estiver… Sinta mais o corpo por alguns
segundos. Perceba as sensações corporais como um todo, sinta por
alguns segundos o campo de energia corporal, como se a atenção
fosse um scanner que capta o corpo da cabeça aos pés. Então,
subitamente, observe atentamente os pensamentos que surgem!

Simplesmente testemunhe a mente pulando e perceba até onde um


pensamento vai…
Isso é muito simples, mas poderoso. Pode ser feito também de
olhos abertos a qualquer instante.

Exemplo 2
Quando estiver almoçando, evite conversar nas primeiras práticas
para não perder o foco no exercício.
Relaxe a mente, sentindo o corpo por um instante e “mergulhe” no
gosto da comida. Investigue a riqueza e a explosão de sabores, sem
nomear, sem pensar. Apenas sinta o sabor…
Em seguida, perceba a mente saltitando, rotulando, tirando a
atenção da comida.
Fique alerta, saboreando o variados detalhes de sabor e perceba a
impulsividade da mente enquanto almoça.

Exemplo 3
Se estiver caminhando, relaxe a mente ao notar os pés tocando o
solo, perceba o movimento dos braços e a respiração indo e vindo.
Sinta… Faça isso por alguns instantes. Ouça todos os sons do
ambiente por alguns segundos e então fique atento para o saltitar dos
pensamentos, mas sem se prender a nenhum…
Em algum momento do exercício, os pensamentos irão tomar sua
atenção desviando o foco (isso vai acontecer). Sem problemas,
retorne levemente ao exercício, sem esforço, leve a atenção para o
corpo…

Exemplo 4
Quando estiver no trânsito, esteja atento, completamente ligado e
sinta o corpo no assento do ônibus ou sinta as mãos no volante. Sinta
as costas tocando o espaldar, sinta o pé no acelerador ou o cinto de
segurança prendendo o corpo. Então abra a percepção visual…
Observe atentamente todos os tons de cores e formas que chegam ao
campo visual, relaxe a mente… Sinta o Agora… Perceba que o ato
de dirigir fica mais lúcido. Observe as luzes do semáforo, ouça todos
os sons ou ruídos que surgem, mas sem nomear ou perder-se em
pensamentos analíticos… Apenas sinta, perceba… e então observe
que as cores terão mais intensidade, que os sons serão mais notados,
ou seja, haverá mais Lucidez consciente…
Testemunhe os pensamentos surgindo em tempo real! Deixe-os
surgirem e desaparecerem… Caso se perca em algum pensamento,
quando se der conta, tudo OK, volte para o exercício.
Obs.: este exercício, por incrível que pareça, não é perigoso; pelo
contrário, ele aumenta sua destreza ao volante, a mente se torna mais
ligada no trânsito e fica mais atenta a tudo o que se passa.
Em outras palavras, torne-se um cientista neutro e observador sem
se prender a pensamentos e devaneios mentais. Perceba que o
colapsar nos pensamentos nos tira da experiência do Agora.
Experimente o exercício agora onde estiver!

Este Exercício de Estar Consciente ou de Mindfulness que acabamos de


fazer possibilita que ocorra um pequeno “distanciamento” entre os
pensamentos e Aquilo que vê os pensamentos: a Consciência. É como se, a
partir de agora, o pensamento começasse a ser “visto” apenas como uma
nuvem ou como um simples pensamento inofensivo.
O que muda com isso?
Pouco a pouco, você vai notar que diminui aquele impulso automático de
resposta imediata e inconsciente que temos, ou seja, o pensamento viciado
começa a perder o poder de comandar.
Outra coisa: perceba que neste Espaço Inteligente que se dá conta dos
pensamentos não há pensamentos. Note isso! É um espaço vazio
consciente, fonte da Verdadeira Inteligência. A Consciência é este espaço
não-mental de equilíbrio, de paz e de harmonia em que existe um tipo de
inteligência cognitiva natural que “sabe” sem pensar. É como um vazio que
“registra” sem precisar gastar tempo com a análise das coisas… É
realmente incrível quando você se dá conta disso pela primeira vez!
É neste Espaço que se percebe mais claramente a intuição, mas que não
vem na forma de pensamento. Esta é a nova forma de viver, é um modo
intuitivo e silencioso. Este é o Novo Mundo, o mundo da Consciência
Consciente, que não é viciado no condicionamento mental do intelecto.
Neste instante aí, esteja alerta e perceba conscientemente Isto que está
consciente… silencioso…

Não analise, relaxe a mente e abra o estado de alerta, agora…


A Visão Pura

PURA CONSCIÊNCIA – INTELIGÊNCIA PURA – PUREZA LÚCIDA –


VAZIO SÁBIO – TESTEMUNHAR – INTELIGÊNCIA ABERTA –
VISÃO NEUTRA – PRESENÇA CONSCIENTE – CONSCIÊNCIA
CONSCIENTE – AQUI E AGORA – SILÊNCIO – QUIETUDE – VAZIO
Visão Pura, assim podemos chamá-la, porém não se trata de uma
experiência visual no sentido de ver com os olhos.
Vamos esclarecer: o que está se chamando de Visão Pura ou Neutra, ou
qualquer nome acima, tem apenas a intenção de não utilizar
necessariamente as mesmas palavras para descrever ou nomear o
reconhecimento desta forma de Inteligência não-mental, não-intelectual de
viver a vida.
Alguns conceitos que talvez você já tenha sobre o tema espiritualidade
podem ser úteis, mas não vamos nos prender a nenhum deles
necessariamente. O intuito neste livro é incluir novas possibilidades de
linguagem para clarear o reconhecimento da Visão. Caso alguns conceitos já
estejam enraizados na sua mente, sem problemas! Apenas perceba se os
conceitos que você carrega são fruto de uma crença ou se eles realmente
retratam a sua experiência real: “Ah sim, já li, já sei do que se trata, sei o
que é o Agora: é o momento presente… Sim, já entendi!”, “Eu já pratico
meditação há muito tempo”, “Estou no caminho espiritual há anos”. Esses
conceitos provavelmente são o intelecto atuando fortemente. O convite é:
procure investigar silenciosamente sem pensar. A experiência Zero, Agora,
Real, Consciente, é mais importante do que qualquer conceito aprendido
intelectualmente.
Mesmo que você venha de tradições que utilizam a meditação, por
exemplo, como ferramenta para silenciar a mente, não é disso que está se
falando aqui! O novo mundo já dispensa as antigas formas de meditação,
mas claro que você pode continuar com elas caso as ame muito, mas nós
iremos além das técnicas. Ela não são necessárias.
A afirmação acima pode soar estranha caso você já tenha meditado ou
tenha tentado meditar por anos, mas permita apenas que haja um
relaxamento deste conceito mental (crença) de que “é preciso meditar”. A
Visão Pura da Presença vai, pouco a pouco, ficando nítida no dia a dia de
forma que ficará claro que não há necessidade ou obrigatoriedade de fazer
uso de alguma técnica meditativa para evoluir.
Visão Pura, portanto, não é a forma mais apropriada para se referir a esta
Presença-Consciente-Agora. Aliás, não existe nomenclatura apropriada,
pois todas levam a algum tipo de distorção Daquilo que se quer apontar.
Mas é assim mesmo, relaxe, pois tudo vai clarear pouco a pouco.
Visão Pura é uma percepção diferente que se refere à Presença-
Consciente da experiência em cada Instante Zero! Visão Pura se refere ao
experienciar sem rótulos que já está acontecendo Agora.
Sinta: existe ou não uma sensação de estar vivo Agora? Há Algo que está
alerta, mas sem pensar?

A vida tal qual surge agora é conhecida por Algo Lúcido. Este Algo tem
uma faculdade que lhe é intrínseca e natural: o dom da cognição ou o dom
do Conhecer. Isto que Conhece neste instante todos os detalhes da
experiência como: o som surgindo, as sensações corporais, a temperatura do
ambiente, os pensamentos surgindo, os sentimentos, os desconfortos, o
gosto da saliva, o formigar do pé direito, o calorzinho na região torácica, a
respiração acontecendo e sendo notada; é Algo Vivo inexplicável. Antes
mesmo de cada detalhe ser rotulado com todos estes nomes acima, o
Experienciar está acontecendo de forma espontânea e sendo notado por
Algo. Este Algo é Auto-Consciente e é o mistério da Vida. Este Algo que
Conhece, Agora, não é o corpo, não é o cérebro, nem o coração. Não. O
corpo não tem a faculdade do Conhecer, pelo contrário, ele é conhecido, por
este Algo.
Sinta agora… Note este Algo Consciente aí…

Veja agora: tem ou não tem Algo que sabe, que percebe que as costas
existem, que os pés estão tocando o calçado? Algo que percebe que o corpo
está aí?

Este Algo é a Consciência imaterial, não mental. Isto que conhece, que
registra a experiência o tempo todo, não é a mente, não é um pensamento!
Neste livro, a palavra “mente” é empregada com sentido de pensamentos,
ideias, imagens mentais, sentimentos, emoções, sensações e pontos de vista.
Portanto, tudo isso que convencionamos a chamar de “mente” é notado por
Algo em tempo real. Este Algo que nota os pensamentos é Pura Consciência
Vazia. A Consciência, quer a mente já saiba, quer não, está sempre
conhecendo, lendo e captando a experiência o tempo todo. Desde sempre
foi assim. A Consciência é a única coisa que tem a faculdade do estar
consciente e é autoconsciente naturalmente!
Portanto, toda e qualquer nomenclatura abaixo do título da página 89 tem
o intuito de apontar para Aquilo que é a Inteligência que conhece a
experiência. Esta Presença-Consciente está aqui, aí e Agora, dando-se
conta destas palavras em Instante Zero antes mesmo até de o rótulo
“palavras” surgir na mente. As letras são notadas, os espaços entre elas são
vistos e depois o intelecto interpreta (nomeia) em palavras. Tudo isso é
notado pela Consciência, Agora.

Perceba que este “ensinamento” não é um ensinamento intelectual, pois


não é dogmático, não é teórico e precisa ser experienciado Agora para a
Visão surgir ou ser intuída.
O que muda com este “ensinamento” na prática é que uma nova Visão se
estabelece na experiência. Surge uma Visão sutil, profunda e instantânea
como um “virar da chave”, ou como um leve shift que afrouxa a mente e
permite que a Presença-Consciente fique nítida. Para muitos, pela primeira
vez, começa a haver uma distinção de que Autoconsciência e mente-corpo
são coisas diferentes. Essa distinção, para a maioria das pessoas, ainda não é
evidente em sua experiência. Na verdade, a Consciência apenas vem
passando despercebida. Para a maioria de nós, existe ainda uma
inconsciência da Consciência.
É como se do ponto de vista do céu, o espaço se tornasse autoconsciente:
até então só os objetos eram percebidos. As nuvens, o sol, os pássaros, o
vento, a brisa, a chuva, as tempestades e a poluição eram notados, mas o céu
não se enxergava. Agora, começa a reconhecer que “eu não sou as nuvens,
eu sou céu puro e límpido e não sou nada daquilo que era notado. Sou o céu
vazio”. Autoconsciência é como o céu consciente de si.
“Sou Consciência Pura consciente de Mim” independente dos objetos que
surjam. “Agora sei que sou o céu e que não sou afetado por nada que surge
em Mim”. O pássaro voa, mas não arranha o céu. Na nossa experiência
prática: um pensamento vem e não arranha esta Presença-Consciente.
A questão aqui é até simples, pois, em termos práticos e didáticos, vamos
dizer por hora: tudo o que é notado, que é testemunhado, não é Aquilo que
testemunha. Ponto! A Consciência tem uma característica “estranha” e
diferente de tudo: Ela percebe, mas não pode ser percebida como um objeto
ou com um formato na experiência.
Então, como sabemos o que é a Consciência?
Simples: tudo aquilo que é testemunhado, tudo aquilo que é percebido
não é Consciência.
A Consciência é o Ver, não são os olhos, nem a visão. É o Conhecer, não
é o corpo nem a percepção. É o Saber, não é a mente nem o conhecimento.
O corpo é percebido, portanto, não é Consciência. Um pensamento é
notado, portanto não é Consciência; uma lembrança do passado é percebida,
portanto não é Consciência. Um som, um pássaro, uma dor no corpo, um
desejo, uma doença ou a alegria, tudo isso que é notado não é Aquilo que
nota.
A Consciência é o “acontecimento” mais natural da Vida. Vida e
Consciência são sinônimos na verdade. Ser/estar consciente é primário o
tempo todo, está acontecendo espontaneamente como o fenômeno mais
simples e automático que pode existir. Sem a Consciência que conhece as
coisas não há vida. Simples assim!
Então, você pode perguntar: “E uma pedra tem Consciência?”
Uma pedra não tem Consciência, mas a Consciência tem a pedra. Um ser
humano não tem Consciência, a Consciência tem o ser humano. O ser
humano tem intelecto”; a pedra, não! Consciência é a base da vida, tudo que
conhecemos neste mundo só pode existir por causa desta Inteligência que é
a plataforma que sustenta os átomos, neutrinos, elétrons, quarks etc.
Consciência é o Vazio Inteligente que possibilita a experiência e a vida
material e imaterial acontecer e ser reconhecida.
Quem gosta de estudar física já sabe que quando a matéria é desdobrada
em átomos, prótons, nêutrons, elétrons, quarks, bósons de Higgs, grávitons,
neutrinos etc. se chega à energia e então ao vazio total. O vácuo quântico é
um Vazio Inteligente, a base do universo, que é anterior à energia e é
inteligente por si só. Um Vazio que se mantém Consciente como sendo o
Potencial Divino que possibilita a experiência VIDA acontecer sob todas as
formas.
A física também fala que o som e um pensamento têm um comprimento
de onda assim como a luz. Este comprimento de onda é este Vazio
Inteligente em movimento. A Consciência, o vazio da física quântica não é,
portanto, um vazio morto, é um Vazio inexplicavelmente sábio que
possibilita tudo acontecer a partir dele; inclusive, sustenta a pedra que foi o
foco anterior desta conversa. Dito de outra forma, o Vazio é a Consciência-
Presença que olha por estes olhos agora.

Uma pedra, portanto, são átomos, elétrons, nêutrons, quarks etc. e Vazio.
Aliás, o que mais existe no universo é este Vazio Não-Espaço. Só para ter
uma ideia, você já deve ter lido que, se pudéssemos comparar o núcleo de
um átomo com o tamanho de uma bola de futebol, os primeiros elétrons que
se poderia encontrar orbitando neste núcleo estariam a muitos quilômetros
de distância, ou seja, entre o núcleo do átomo e um elétron só há este Vazio.
Portanto, os órgãos do corpo, estruturas constituídas de células, átomos e
elétrons são 99% espaço vazio. Quase nada é matéria como imaginamos ou
a conhecemos visualmente. Este Vazio Inteligente é inteligente porque tem o
poder de dar a vida, de sustentar a vida e as experiências de vida. Este Vazio
possui uma característica que lhe é intrínseca: tem o poder de Conhecer, de
Testemunhar e de Saber. Portanto, Isto que nota a experiência da vida
agora, aí, acontecendo tal qual já está acontecendo na sua experiência, com
este livro na mão, é este Vazio que estamos chamando de Consciência: o
Vazio Consciente.

MOMENTO DE CLAREZA

Importante notar que este tema para ser “compreendido” necessita


de uma abertura mental e de um tipo de “sacada” experiencial que é
diferente do entendimento intelectual cartesiano pelo qual todos
fomos ensinados a considerar lógico ou o único possível.
Faz-se necessário outro tipo de Visão: a inteligência deste Vazio só
pode ser intuída, pois não é aceita como plausível pelo processo
mental. É como se precisasse de uma leve mudança consciencial, ou
de um fazer sentido intuitivo.
É um vislumbre não intelectual apesar de o intelecto achar que
entendeu.
A compreensão-experiência da Presença ou a Visão Pura vem de
outra forma e requer um outro tipo de interação com o mundo, bem
mais simples e direta. É como se fosse um sexto ou sétimo sentido.
Na verdade não é nem um dos sentidos, pois é outro modus operandi,
anterior aos pensamentos. Não é uma faculdade do intelecto lógico!

Esta Consciência em algum momento começa a ficar consciente de Si


mesma, como um fenômeno natural da vida: consciência de estar
consciente. Quando o estar consciente de estar consciente acontece, uma
experiência não corriqueira, não mental, se dá: o experienciar da
Presença**.
Esta Presença que estamos nomeando aí na sua experiência neste instante
é o puro reconhecimento de que existe consciência da Consciência e existe
também um saber intuitivo de que não é o corpo-mente que está consciente.
Verifique isso aí, agora: a Presença!…

MOMENTO EXPERIENCIAL

Vamos investigar um pouco na prática, pois também é importante


que a mente não apenas entenda, mas principalmente experiencie a
Presença:
1 Feche os olhos ou fique de olhos abertos. Leve a atenção para um dos
.
seus pés. Esqueça, por um instante, que a mente chama isso aí de pé.
Apenas sinta a experiência “pé”.
2 Apenas sinta. Talvez você queira mexer, girar o pé por para senti-lo um
.
pouco mais. O que há aí que está sendo experienciado de verdade? Pois
antes mesmo de o rotularmos de pé, já há uma experiência acontecendo.
3 Sinta. O que é percebido nesta experiência? Um leve calor, uma energia,
.
um leve formigamento? Claro que aqui estamos nomeando à experiência
“pé” de outras formas. Apenas sinta o que é percebido na sua
experiência sem nomear.
4 Observe que aquilo que chamamos de “pé” é apenas uma convenção
.
educacional-linguística-sonora para uma experiência sensorial. Claro
que o pé é uma parte do corpo com tecidos, ossos e músculos, mas esses
rótulos são mentais. O importante é: qual é a experiência direta, não
teórica, do que chamamos de “pé”?
5 Vá para a experiência agora sem olhar o pé, sem pensar, nem imaginar.
.
Sinta! Qual é a experiência real agora? Se você estiver com os olhos
abertos e olhar para o pé, notará que ele tem um formato visual, mas, se
estiver com os olhos fechados, que formato tem? (Faça isso sem
imaginar, apenas ative a percepção consciente).
6 Sinta mais, mas não visualize com a imaginação. Apenas sinta. É
.
possível dizer que a experiência sensorial tem o mesmo formato que a
experiência visual? Observe que não! Alguns vão até notar que é
possível sentir um calorzinho ou uma energia ao redor do “pé” como se
a sensação extrapolasse a pele que limita o pé visual. E vou dizer-lhe:
realmente extrapola! A sensação pé é diferente da visão/imaginação
“pé”.
7 Sinta isso, não pense! Agora se dê conta de que nominar de
.
“calorzinho”, “formigamento”, “energia pulsando” é mais rótulo mental.
Antes que a mente dê estes nomes, a experiência já está acontecendo de
forma involuntária, natural, sem nomenclaturas ou nomes. Investigue,
sinta e perceba a experiência direta antes dos rótulos. Como é
diretamente?
8
. Repouse na experiência sensorial sem rotular, sem nomear por um
instante e então se pergunte: O que está se dando conta da experiência?
9 Então, amplie a percepção e reconheça que tem Algo Lúcido consciente
.
da experiência. Esta lucidez ou esta alerteza, ou este estar consciente
de estar consciente é o Autorreconhecimento da Consciência.
1 Repouse Nisso por alguns instantes, descanse nesta Presença, neste
0
. estar consciente de estar consciente.

Esta autoinvestigação pode ser feita com qualquer parte do corpo


ou também com uma emoção e um pensamento.
Por exemplo: escolha uma emoção como ansiedade, raiva, inveja,
ciúme, medo etc. Torne-se um investigador silencioso daquilo que
acontece sensorialmente na experiência direta da emoção. Que forma
esta energética-emoção tem? Do que é feita? Ela se mexe? Vibra em
círculos? Sobe e desce? É quente ou fria? Tem textura? É dura ou
mole? Tem cor? Em que parte do corpo ela está? Na garganta? No
estômago?
Investigue diretamente, mas sem analisar mentalmente em demasia.
Apenas sinta e faça isso silenciosamente e alerta. Investigue: o que
essa energética-emoção tem?
Em outras palavras, torne hábito separar algum instante para
investigar sem nomear, apenas perceber e sentir a energética. Torne-
se um curioso sensorial, mas sem intelectualizar, fique com os
detalhes não mentais da experiência direta de uma emoção, de um
sentimento ou de um pensamento. Não se perca em devaneios
mentais. É a experiência direta que importa agora!
Por último, e mais importante: depois de investigar a energia,
questione:
O que é Isto que percebe toda e experiência?
E, então, repouse nesta Presença-Consciência por alguns instantes
de forma alerta e lúcida. Esteja de forma completamente presente e
silenciosa mesmo que os pensamentos surjam. É como testemunhar a
partir de um “pano de fundo”. A Consciência Consciente é sempre o
background de toda a experiência!
A Experiência Direta, Zero

A experiência pura, básica, direta e sem nomes é o Ponto Zero ou


Experiência Neutra. Este experienciar neutro, natural e espontâneo,
estamos, por questões de simplificação, chamando-o de Visão Pura. O
experienciar sem rótulos mentais torna a Visão Pura, sem interpretações. A
experiência mais original possível, que é testemunhada ainda sem nomes, é
a única experiência que não é contaminada por palavras, conceitos, crenças
e emoções. Portanto, é a única experiência real — no sentido de
experienciar a realidade pura sem distorções.
Por exemplo, voltemos a analisar uma xícara ou olhe agora para qualquer
objeto à sua frente.
Como é em Instante Zero, na Visão Pura do reconhecimento consciente
(sem rótulos) da experiência visual “xícara”?
O nome “xícara” não faz parte da experiência direta. Ou faz?
Xícara é um conceito-linguagem sonora em que a mente traduz a
experiência em milésimo de segundo. Na experiência direta, quando não
tem rótulo, qual a única coisa que poderia se dizer experiencialmente sobre
o objeto?

Perceba que em Instante Zero existe um experienciar visual de algumas


formas, sombras e cores! É, ou não é? Observe apenas sem pensar. A
experiência é de formas (arredondadas), sombras e tons de cores, apenas!
Mas vamos para antes disso! Voltemos para antes de dizer que há forma
arredondada, que há algum sombreamento e ou alguma tonalidade visual.
Por exemplo, vale lembrar que um bom desenhista ou pintor transfere para
a tela apenas esta experiência primária: tons de cores, formas e sombras, o
que remete à mente, com perfeição, a ideia exata de existir tal objeto
“xícara”. Porém, a pintura de uma xícara por mais perfeita que seja, não é o
objeto xícara. Mesmo que o cérebro diga com toda a certeza de que é uma
xícara, a similaridade acontece apenas visualmente e não na prática.
Portanto, antes de ser “xícara”, existe uma experiência visual, que, se
tivéssemos experienciando um objeto que nunca o tivéssemos visto, não
haveria rótulos; haveria apenas uma experiência nova sem conceitos,
silenciosa e de pura observação.
Existe, portanto, um experienciar anterior às formas, às cores, aos tons e
às sombras, pois tudo isso ainda são descrições após a experiência Zero. A
experiência primária anterior aos rótulos é única, aberta e de pura
percepção. A experiência direta é apenas um acontecimento de um dar-se
conta, um estar consciente.

MOMENTO EXPERIENCIAL

Olhe para o seu entorno agora e não dê nome.


Note um único experienciar completo. Existe um único
experienciar que é composto por tudo aquilo que os sentidos físicos
captam, todos ao mesmo tempo, todos juntos. Visão, audição, tato,
olfato, paladar… todos acontecendo instantaneamente.
Sinta o sentir, ouça o ouvir, veja o ver, sinta o cheirar, perceba o
sabor e note a mente. Perceba tudo ao mesmo tempo como um
fenômeno único, instantâneo e indivisível na experiência direta sem
rótulos!
Testemunhe sua experiência agora!…

Perceba a experiência agora! Na Experiência Zero o que é notado?


Ative todos os sentidos e apenas testemunhe, fique alerta, observe,
sem pensar, sem nomes, pare tudo! Esteja alerta!

Testemunhe! É bem simples: a experiência zero não requer pensar,


analisar, pois ela já está acontecendo. É a experiência base e original
da vivência que engloba tudo no mesmo instante. Tudo que surge aí,
agora, com todos os sentidos ativos de forma integral, é a vida sendo
testemunhada diretamente sem rótulos e separação.

O Instante Zero ou a Experiência Neutra é a Vida real tal qual ela está
acontecendo naturalmente Agora. Tudo o mais é a mente astuta,
extremamente rápida, saindo do agora, dando nomes e trazendo os
conceitos aprendidos que distorcem tudo. A distorção sobre a realidade
primária é feita pelos conceitos mentais logo “em cima” da experiência
inicial.
A mente tem ao menos um propósito importante e prático: dar nome às
coisas para poder haver comunicação. Claro que o processo de
armazenamento dos aprendizados mentais é fundamental para o dia a dia ou
para uma vida prática e social. É importante saber que a xícara é aquilo que
é e que tem uma serventia prática. A questão é que ela desvirtua a realidade
imediata com toda sua carga e peso, o que tira da experiência real o seu
frescor e sua leveza.
Observe, por exemplo, aquilo que chamamos de sol. Ele tem uma
serventia. O rótulo traz um significado: é a base da vida biológica como a
conhecemos, mas, antes de chamarmos de sol, já é! É o quê? Nada que
precisa ser respondido. É o que é, tal qual se pode experienciar de forma
Neutra, Pura. Um pôr do sol é mais sentido como “pôr do sol” quando
ainda não foi rotulado de “pôr do sol”. Toda a vez que alguém se encanta
com um pôr do sol e tem a sensação de paz e completude nesta experiência
é porque o experienciar foi sentido exatamente como ele era, antes mesmo
de a mente chamar tal experiência de “pôr do sol”.
Qual o problema em rotular a experiência?
Aparentemente, para aqueles que não têm ideia a respeito da Consciência
e da programação das crenças, não há problema algum. Mas na verdade há,
pois esta inconsciência é o grande problema da humanidade. Enquanto
existe inconsciência de que é a programação de crenças que está
transformando a experiência, cada acontecimento vem recheado de uma
camada de pontos de vista mental. Todo o aprendizado social com regras,
tabus e dogmas trazem expectativa, julgamento, medo, preconceito, gostos,
preferências, insatisfação, desejos, sentimentos de falta etc.
Cada ponto de vista que brota da mente em Instante Zero, rotulando
qualquer experiência, até mesmo o pôr do sol, vem da programação mental
a respeito do mundo. Quando existe inconsciência a respeito da
programação de crenças e do automatismo dos rótulos, tem-se certeza de
que aquilo que a mente está dizendo a cada instante é real, pois existe uma
identificação instantânea com os pensamentos e emoções que surgem
condicionadamente. Por exemplo, ao trazer pensamentos no momento do
pôr do sol, “nossa que legal”, a mente tira a experiência do Agora e, então,
fica-se preso em diálogos mentais e ao que os pensamentos “legal”, “calor”,
“lindo” estão dizendo; o experienciar puro, sem rótulos, do pôr do sol é
perdido.
Quando se está com uma pessoa, em outro exemplo, e a mente está o
tempo todo julgando, avaliando, trazendo referências sobre o encontro,
sobre a pessoa ou sobre a conversa, deixa-se de sentir a conexão humana,
pois a Presença imediatamente é perdida. E isso acontece com
absolutamente tudo. Vivemos uma vida mental, de pensamentos em
primeiro plano e a ausência de Presença nos tira a possibilidade de
sentirmos cada instante. A mente agitada, rotulando, filtrando e
sentenciando cada instante traz tensão, ansiedade e principalmente
desconexão com o Instante Zero. A desconexão com o Agora é na verdade
uma desconexão com nossa Essência, como veremos mais adiante.
A Experiência Neutra, Direta, como estamos falando aqui, é a única
coisa “real” que podemos experienciar, pois está sem distorção. Ao trazer
mentalmente pensamentos sobre um acontecimento, já ocorre uma poluição
do Experienciar Puro.
Uma xícara tem alguns conceitos mentais que estão enraizados
(inconscientemente) nesta palavra. “Xícara” pode ter significados diferentes
para pessoas diferentes. Por exemplo: primeiro que xícara só é xícara na
nossa língua, em outro país não seria assim. Se alguém desde a infância
usou uma xícara sem alça, pesada ou grande, talvez diga: “Eu não gosto de
tomar café na xícara, prefiro beber no copo” (perceba que os pensamentos
já estão influenciando a experiência). Ou se alguém viveu a experiência de
sempre tomar café em uma xícara de porcelana, tal pessoa poderia dizer, ao
visitar um conhecido, que aquilo que o amigo trouxe para beber um café
não é uma xícara: “Para mim, xícara de verdade é de porcelana!”. Ou,
ainda: “Esta xícara está mais para um caneco”, pois “xícara é um pouco
menor e mais delicada” etc.
Assim, a Experiência Zero começa a ser distorcida através dos rótulos e
das análises mentais e de conceitos armazenados na memória de
experiências anteriores. Se alguém no passado tivesse se cortado na borda
de uma xícara lascada, poderia dizer: “Eu não gosto de xícaras”, “prefiro
beber líquido em um caneco de aço inox” ou “em um de plástico” e assim
por diante. Estes pensamentos são sentenças que quando inconscientes
distorcem a experiência, trazem emoções e geram decisões conforme o
modelo mental de cada um.
Outro exemplo: alguém, ao olhar para o sol, por experiência e memórias
inconscientes do passado, poderia ter pensamentos instantâneos de: “Não
gosto de sol, prefiro sombra”, ou “O sol causa câncer de pele, o sol é ruim
por causa do calor”. Outros poderiam dizer: “Em dias de sol fico mais feliz
e animado”, “Adoro caminhar ao sol” e “Não uso protetor solar, pois esta
estória de câncer de pele é mentira da indústria” e por aí vai.
Os rótulos “sol” e “xícara” trazem junto consigo, inconscientemente,
ingredientes às experiências tornando-as positivas, negativas ou neutras. E
quando não se percebe que palavras são rótulos, que são apenas
pensamentos, também provavelmente haverá dificuldade para notar todos
os conceitos envolvidos. Cada conceito mental funciona como um filtro que
surge depois da experiência direta, trazendo uma visão de mundo pré-
concebido: preconceitos, crenças inconscientes, certezas, convicções,
dúvidas, sentimentos bons ou ruins que influenciam pintando a experiência
conforme a cor mental que se tem. Pensamentos e emoções específicas
geram ações condizentes que influenciam na experiência da vida no que
tange a qualquer tema.
Então, pode parecer que um rótulo como “xícara” ou “sol” sejam
insignificantes, mas na verdade eles carregam, inconscientemente, os
conceitos de vida aprendidos e vivenciados no passado de forma que a
Experiência Neutra é perdida exatamente no momento em que o rótulo
mental surge com toda a sua carga intelectual e emocional.
E o quê isto significa? Significa que a Experiência Zero é praticamente
“negligenciada”. Em milésimos de segundo, a mente extremamente ágil já
criou rótulos e conceitos e os aplicou sobre a Experiência Neutra. Ou seja:
em fração de segundo, colocou um ponto de vista na Experiência Pura e a
transformou de alguma forma, a fez diferente. E se houve qualquer
transformação, podemos ao menos concordar que ela já não é pura ou
original. Esta transformação pode ser ou parecer inofensiva, mas pode não
ser. E na verdade não é!
Perceba agora na sua experiência: como está a mente? Silenciosa ou
rotulando?

Sinta a experiência direta agora!

* Na Visão do Despertar, começamos a reconhecer que existem duas emoções básicas: Amor e
medo. De maneira resumida, onde existe desamor existe alguma forma de medo inconsciente. Este
medo não é uma sensação física como a do temor, mas a vaidade e a obstinação, por exemplo, que
são tipos de emoção, não aparentam trazer medo ao corpo, pois o medo nestes casos é invisível ou
está disfarçado com as tais máscaras emocionais.
** A palavra “presença” também é um rótulo e tem várias interpretações às vezes mais profundas;
em outras, menos; a depender das diferentes tradições que usam esta expressão.
II
A Verdade
da Visão Pura
Apenas um hábito mental de distorcer

Se não houvesse o hábito de rotular tudo tão rápido, o que mudaria?


Mudaria que não seríamos mais escravos das crenças limitantes, da visão
de mundo programada pelos pais e avós, que nos transferiram seus
conceitos, medos, desejos, dificuldades etc. Nossa sociedade nos implantou
crenças de desamor desalinhadas com a fluidez da vida, pois nunca soube
viver de maneira mais elevada. Sem rotular existe silêncio interior.
Pensamentos desacelerados e desidentificação geram sabedoria, leveza, paz
e principalmente abrem espaço para a intuição aflorar.
É importante perceber desde já que quem rotula não é você, mas sim o
processo mental que é automático e vem sendo vivenciado
inconscientemente. A mente subconsciente tem infinitas nuances
escondidas e distorce a visão de mundo o tempo todo.
A linguagem e o processo do aprendizado não é um problema em si, pois
são necessários para que a vida prática aconteça. Informações práticas não
são o problema. Aprender como funciona o seu forno elétrico, conhecer
quais os nomes das ruas da sua cidade, saber onde fica o banco, ensinar o
filho como transitar na rua, aprender um exercício físico, ter conhecimento
sobre a profissão para poder beneficiar os outros, enfim, todo o
conhecimento que tenha propósito prático necessita algum tipo de
linguagem. Por exemplo, esta leitura que está acontecendo agora e a
transferência desta Visão só são possíveis graças aos símbolos que estas
letras representam ao se tornarem palavras, viram significados e passam a
ser uma carga de informação. Não está se questionando sobre o modelo de
comunicação e de aprendizado prático. A questão principal é que a mente
não fica só nisso.
Ao começar a perceber que a distorção é um hábito mental automático,
nota-se que a linguagem, além do propósito prático acima citado, também
constrói uma visão de mundo que não está relacionada à verdade da
experiência. Quando existe distorção da realidade por dúvida, insegurança,
alegria, chateação, preconceito, dependendo de pessoa para pessoa, a
realidade básica foi alterada pela mente e a verdade sobre a experiência foi
poluída com dados que normalmente estão distantes da experiência real.
Voltemos ao exemplo do sol: existem pessoas que, pelas informações que
receberam, desenvolveram algum receio em relação ao sol e fazem disso
um processo tenso de não expor os filhos ao sol ou, por acreditarem que o
sol faz mal, não saem de casa sem protetor solar e acabam levando uma
vida diferente daquela pessoa que vê o sol como um estímulo à felicidade e
ao bem estar.
Portanto, o hábito mental automatizado de distorcer a experiência muda
a visão de realidade de pessoa para pessoa, muda as reações e as formas de
viver a vida. As áreas em que as crenças são “boas” tendem a funcionar
bem, mas quando as crenças são limitantes, o que são a maioria, a vida se
torna tensa, pesada e se vive com muito esforço e gasto de energia.
A Visão da Presença corta as crenças pela raiz por gerar um
distanciamento do pensamento e o torna ineficaz em conduzir a experiência.
A base do viver diário se torna a Consciência Lúcida que não é
pensamento, mas é sábia por si só.
Você vai vivenciar mais e mais este descolamento da mente a partir de
agora à medida que ao longo de um dia exercite tomar breves momentos de
estar consciente da Consciência. Experimente isso agora!

Perceba a Consciência Lúcida aí…


Verdade e realidade

A pergunta que pode ser feita é: como saber se a qualidade da informação


que chega até você é verdadeira? Ou melhor, como saber se o tipo de
conhecimento aprendido não é cheio de interpretação que distorce a
realidade?
Aqui vem a primeira afirmação: a Verdade/Realidade é sempre distorcida
pela linguagem. Sempre! A palavra “pé” é uma convenção para uma
experiência sensorial como vimos antes. A palavra “xícara” que é uma
convenção para uma experiência visual de sombra, cores e formas e é
ampliada sensorialmente e com sentimentos a partir de rótulos e
pensamentos como “bonita” ou “não gosto dela”.
Em outros casos, a experiência vai ganhando infinitas camadas com as
convicções mentais do tipo “certo ou errado”, “difícil ou complicado”,
“impossível”, “vou conseguir”, “não vai dar certo”, “a vida não é fácil”,
“pessoas assim são boas e honestas, já pessoas nascidas e criadas desta
forma não são” etc.
A linha de raciocínio que está sendo desenvolvida aqui é que a
informação e a linguagem carregam concepções de mundo individuais e
coletivas relativas ao atual momento de evolução da nossa sociedade. Todos
os conceitos sobre dinheiro, relacionamento humano, sexo, gênero,
economia, trabalho, comunidade, escola, religião, comportamento, psiquê,
espiritualidade, profissões, horários, organização, disciplina, gostos,
liberdade, deus, tempo, ambição, alegria, tristeza, saúde, doença, vida,
morte, futuro, passado e presente. Ideias sobre líderes, governo, política,
sociedade, ideal de vida, entre outros, são conceitos momentâneos que
foram aprendidos e repetidamente moldados desde a infância pelos
conceitos limitados dos pais, da escola, das leis, da religião, da comunidade,
das amizades etc.
Ou seja, todos os conceitos que vêm imediatamente após a experiência
original de qualquer caráter são limitados e não são completos, pois não têm
como serem completos ou verdadeiros. Se considerarmos a “verdade” do
século passado, veremos que é bem diferente da “verdade” atual e daqui a
100 anos os conceitos de vida serão completamente diferentes.
Nesse sentido, você pode pensar: “OK! Mas assim é a vida! A vida está
em evolução! Como poderia ser diferente?”.
Poderia ser totalmente diferente se houvesse a possibilidade de viver a
mesma vida que está evoluindo, na naturalidade da experiência pura; sem
esta carga tão pesada que os nomes, rótulos, pensamentos, crenças, emoções
e linguagem impõem quase em tempo real para toda a experiência de vida.
Como os conceitos são distorcidos por causa da inconsciência humana a
respeito da Consciência, temos observado uma sociedade de pessoas, em
geral, infelizes com suas vidas, pobreza e riqueza material, pobreza de
espírito, propósitos egoístas, competições insanas, senso de sermos
separados de tudo, inimizades, miséria, exploração, disputa de poder e
busca externa por sucesso. Claro que existe alegria, mas de maneira geral é
rara se olharmos mais a fundo.
O conceito de felicidade, por exemplo, é transmitido e implantado pelo
modelo socioeducacional e alimentado cotidianamente pelos meios de
comunicação. Resultado: tal conceito de busca pela felicidade transforma a
experiência e também as pessoas que, em muitos casos, se tornaram
ansiosas, infelizes, vivendo hipnotizadas, sem um propósito claro de vida
ou, se possuem um propósito, em geral, este está alinhado com um conceito
social, político ou religioso de encontrar a felicidade externamente.
Os conceitos aprendidos conduzem o raciocínio e direcionam as ações
humanas em todos os aspectos da vida. Geram comportamentos. Por
exemplo: supondo que alguém tenha aprendido através da educação
familiar que estudar e se formar numa boa universidade é fundamental para
ter um trabalho, uma bela família e, consequentemente, ser feliz. Esta
diretriz será a tônica de sua vida muito provavelmente, o que pode se
transformar em uma busca incessante para que os “sonhos” de tal pessoa se
realizem exatamente dessa forma.
Quando a vida passa a correr em direção a esse ideal programado,
começam os problemas, surgem inseguranças, pois o que acaba revelando-
se com o passar do tempo é que aquilo que “prometeram” como ideal de
felicidade quase nunca é atingido. Ou, se é atingido, dura muito pouco até ir
em direção ao próximo objetivo preconizado como o de uma vida ideal.
Quase sempre este ideal de vida tem um viés materialista ou dependente de
conquistas e de realizações. Mesmo quando o viés for espiritual, em geral,
vem distorcido por religiões e por tradições que tornaram a espiritualidade
mais um objetivo, mais um estilo de vida ou de comportamento. A
espiritualidade é, nesse caso, transformada em algo “ético e bonito” a ser
alcançado e a ser seguido, ou em algo “bom e mais elevado”. Isso na
realidade ainda está distante da Verdade.
O que vemos hoje é uma sociedade de injustiças e de pessoas infelizes,
buscando felicidade. Ou, se alguém não se está considerando infeliz, é
porque comparativamente com os outros está atingindo o propósito da
programação social, ou seja, está bem adaptado ao sistema! Mais cedo ou
mais tarde, um propósito mais valioso vai surgir e haverá um
questionamento interno do tipo: “O que eu realmente estou fazendo? Qual é
o propósito da vida?”, “Não estou 100% feliz como imaginava! Tenho
muitas coisas boas, mas existe um sentimento interno de que não estou
completo!”. E aí a armadilha é enorme, pois pode novamente cair em
distorções para tentar mentalmente encontrar no futuro respostas aos
mistérios do universo, mas de forma filosófica e intelectual.
O resumo do final desta história de ideal de vida não precisa ser dito, pois
já está claro pela própria forma de como socialmente se vive. A questão
principal aqui é perceber que aquilo que parece inofensivo, no caso da
“xícara”, do “pé” ou do “sol” é, em uma escala maior, aquilo que vem
definindo as ações e comportamentos da nossa sociedade. Rótulos e
conceitos de vida são programações mentais que direcionam 24 horas por
dia os pensamentos e ações de quase todas as pessoas.
Baseado nisto, toda e qualquer informação que chega até nós está
distorcida. Verdade e Realidade não podem ser definidas por meio de
conceitos. Portanto, a mente não pode dizer o que é Real e Verdadeiro. A
mente é sinônimo de inconsciência e distorção: a mente sempre mente!
É necessário um outro tipo de interação com o mundo. A Visão Pura
Consciente (não mental) é a chave para a Verdade começar a ser
reconhecida.
Agora, perceba a Consciência, aí, alerta, notando este momento…
Máscaras e relacionamentos inconscientes

O que são ou para que servem os relacionamentos?


Não só as interações humanas, mas a interação com tudo neste planeta é o
fenômeno da vida acontecendo. O único propósito que existe nas interações
é a própria vida. O maior propósito humano é descobrir a Verdade sobre a
própria essência, sem distorções. É reconhecer a Verdade sobre o que
somos seja através do mundo prático, espiritual, místico, seja nas inter-
relações com a própria vida.
A vida não tem um propósito em si. A vida é o propósito! Nela surgem
muitas possibilidades de viver. Viver profundamente significa descobrir
Aquilo que somos em essência. Qual a verdadeira identidade do Self? O
que é o Sujeito responsável pela vida?
Ao levar-se uma vida quase que exclusivamente mundana, mais focada
nos aspectos materiais e sociais, as relações interpessoais parecem ganhar
uma conotação mais importante do que a relação que se tem consigo
mesmo. A balança, em geral, pesa mais para o lado do relacionamento
interpessoal e muito pouco para a relação que se tem com o próprio Self.
Existe uma tendência em considerar os relacionamentos como uma das
áreas mais importantes da vida. São essenciais, pois estão acontecendo
como algo natural, mas a visão está um pouco deturpada em muitas
questões. As noções sobre relacionamento de família, de amizade, na
carreira profissional são marcadas por trocas em que existe, em geral,
algum tipo de comprometimento e dependência. É como se houvesse, em
muitos casos, alguma forma de prisão física, mental, emocional e
energética.
De forma prática, quando se usa a expressão “minha família”, por
exemplo, nota-se uma carga de inter-relação que em poucos casos é madura.
“Família” pode significar posse, tentativa de controle ou de manter as
pessoas de um certo jeito. Pode existir uma tendência inconsciente de
influenciar e de prender para “ficarmos juntos no futuro”, afinal, “somos
família, podemos precisar um do outro” e “é aqui que me sinto amado e
protegido”.
As relações, principalmente familiares, requerem um olhar um pouco
mais refinado. Relacionamento, para boa parte das pessoas, significa
interação externa na qual, normalmente, deixa-se de lado a conexão
interna, consigo mesmo, com o Silêncio ou com a Essência, que é profunda
e sutil. Esse equívoco faz com que o foco do relacionamento esteja, na
maior parte do tempo, no lugar errado.
Ensinaram-nos que as relações humanas devem existir como uma forma
de mantermos as amizades, o bem-estar pessoal e que a interação social tem
relação com a felicidade. Em outras palavras, estar bem com os outros é um
dos parâmetros para a felicidade. Por exemplo, quando se comemora algo,
estar com pessoas é o objetivo em primeiro plano. Comemorar em silêncio,
sozinho, seria algo insano na visão de muitos!
Entende-se que relações humanas são interpessoais; se possuímos muitos
amigos ou muitos relacionamentos, logo, estamos indo “bem”. Quem é
“bom” em relacionamentos tende a ser visto como uma pessoa querida por
todos, bondosa, alegre, que está sempre disposta a interagir, tem bons
conselhos para dar e diz coisas agradáveis que os outros querem ouvir. A
imagem da pessoa bem relacionada é de alguém que consegue transitar em
todos os meios, que vai a vários lugares, conhece um número grande de
pessoas e se relaciona expressando-se com facilidade. Quando ocorre o
oposto e não se tem pessoas no entorno, pode vir o sentimento de estar só,
portanto, “preciso ter relacionamentos”, “sou solitário” e “estar sozinho não
é o ideal!”.
As relações humanas são fruto de muitas crenças equivocadas. É nas
relações interpessoais, por exemplo, que uma criança aprende, desde muito
pequena, a competir, a ter de tirar boas notas, a querer ser melhor que o
coleguinha: “Eu não possuo o que o outro tem” e assim se desperta o desejo
de obtê-lo. Os pais lhe ensinam a ser sorridente e a dizer certas coisas para
agradar aos outros. A criança aprende a esconder seus sentimentos, sem
muitas vezes poder expressá-los, porque “falar ou agir assim não fica bem,
meu filho!”. A criança é estimulada a estar sempre bem, para cima, senão
“há alguma coisa estranha!”. Se estiver em silêncio, “provavelmente está
triste”. “E se for depressão?”. Por isso, “vamos levá-la no médico, pois há
alguma coisa errada com este menino!”. Em alguns casos, ensina-se que
relacionamento e a interação interpessoal estão ligados à comida e que
comemoração está ligada à junção de pessoas. “Aniversário bom mesmo é
com muita gente e festa!” e, quando isto não acontece, “fica monótono, sem
graça, não tem muito valor”.
É aprendido que curtir a vida, de alguma maneira, significa fazer algo, de
preferência, com pessoas. Relacionamentos sem nada para fazer é sinônimo
de que algo não está indo bem: “O que vamos fazer? Nada pra fazer? Que
monótono!”, “nossa relação está entediante!”, “preciso de adrenalina!”.
Desde pequena a criança é ensinada a preencher o tempo com alguma
atividade ou com pessoas, que ficar em silêncio é sinal de algum problema
ou que ficar sem algum envolvimento seria ficar ocioso ou improdutivo. Os
pais também não sabem silenciar e, para completar, os smartphones estão
preenchendo mais e mais os momentos de inação e, portanto, de
tranquilidade, com alguma distração mental. O relacionamento humano está
sendo substituído pela velocidade das informações e sempre que a mente
desacelera, gera ansiedade e o tempo é preenchido novamente com alguma
atividade. O déficit de atenção é comum em uma mente acelerada que não
consegue repousar e focar no instante presente. As distrações são um tipo
de relacionamento para evitar a solidão do silêncio.
A criança também é desaprovada sempre que se comporta de certa
maneira ou quando diz coisas que não deveria. Ao fazer algo nas interações
humanas que está em desacordo com os pensamentos dos pais ou dos
colegas, é repreendida de alguma forma, o que faz brotar-lhe sentimentos de
culpa, de ser um erro, de inadequação, de não estar agradando aos outros,
de ter que mentir para adaptar-se à situação etc. Às vezes, os pais não são
um bom modelo, pois agem diferentemente daquilo que ensinaram, dizem
uma coisa e fazem outra e dão uma desculpa ou contam uma mentira para
justificarem-se. Mentir e distorcer são ações que a criança passa a enxergar
como caminhos para conseguir o que quer. Ela passa a falar e fazer coisas
apenas para aparentar ser mais legal, querida ou talvez perfeita. Ela aprende
a mostrar uma aparência para encobrir uma situação que seria passível de
repreensão. Ou seja, a criança começa a usar uma máscara para interagir no
ambiente social.
Por falta de maturidade, inclusive em sua própria relação de casal, os pais
também demonstram insegurança, brigam entre si e, dessa forma, dão
exemplos de como a vida “normal” é. Fazem chantagens com a criança: “Se
você não fizer dever de casa, vai ter castigo” ou “se não limpar o quarto,
mamãe vai ficar triste”. A criança passa a levar uma vida de aprendizado
espelhado em comparação com os pais e com os outros: “Se faço algo e sou
aprovado, vou mantê-lo mesmo não sendo sincero”, “quando faço algo que
não colho sorrisos e aprovação, não faço mais ou finjo”. Assim, quando
uma mãe pergunta de forma intimidadora “por que você sujou sua roupa?
Por que você fez isso, meu filho?”, se a criança não tem uma resposta ideal
e já aprendeu a interagir neste tipo de relação com a mãe, ela (a criança) vai
contar uma pequena mentirinha para proteger-se a fim de não gerar aquele
sentimento de medo ou de desaprovação que “aprendi a rejeitar”.
As relações, portanto, são fonte de muita falta de naturalidade; são
robotizadas pelos padrões familiares e sociais que, aos poucos, vão
minando a naturalidade da vida e eliminando a intuição e a espontaneidade.
Passa-se a interagir nas relações humanas com um tipo de máscara
comportamental, com uma infinidade de pensamentos manipulativos, com
medos, dúvidas, desejos, sonhos e um ideal de interação humana. As
interações socioemocionais vão gerando uma programação de crenças
inconscientes do tipo “não sou bom o suficiente”, “não mereço”, “não valho
a pena”, “não tenho valor” etc. Ou seja, por falta de maturidade e de visão
dos pais, dificilmente recebemos amor maduro e compreensão verdadeira
nas relações.
Criou-se um padrão de atitudes, de máscaras que não são vistas. “Posar
para uma foto ou cumprimentar alguém tem que ser com sorriso, senão não
é legal!”. Na vida adulta, ao encontrar com pessoas, “preciso estar sempre
bem” ou ao menos dizer que está tudo bem e fingir! Ou, então, queixar-se
bastante mostrando o quanto “a vida está contra mim” ou o quanto “os
outros estão errados”.
“Meu corpo, minhas histórias de vida, minhas aquisições ou o que fiz no
final de semana devem ser algo importante para aumentar meu valor”. As
relações interpessoais passam a ser tão modeladas por falácias do
“comportamento certo” que não se tem ideia, muitas vezes, de “como ser eu
mesmo”. “Faço elogios para gerar um comportamento no outro e ser bem
quisto”, ou “só vejo defeitos porque no fundo sinto inveja” ou,
simplesmente, porque “não consigo ver qualidades nos outros, muito menos
em mim”. Por interesse, “digo coisas apenas para agradar e ser bem visto” e
“critico quando me sinto inferior/superior”, “critico para depreciar as
pessoas e assim ficarem dependendo de mim” ou “critico para desmerecer
alguém e consequentemente sentir-me melhor”. Estes exemplos de
máscaras foram sutilmente implantadas no comportamento desde a infância.
A questão é que a maioria das pessoas nem questiona ou se dá conta do
fato de levar uma vida inter-relacional com falsidade. Parece normal, afinal
de contas, sempre foi assim, pois esse modelo de comportamento é o que
predomina no inconsciente coletivo.
O que tem de errado nesta forma de relacionar-se?
Nada de errado, pois a sociedade tem vivido assim dentro desta
“normalidade”. Quando as pessoas começam a perceber que “tem algo
errado comigo”, buscam terapia e/ou fazem cursos de melhoria de
performance ou de treinamentos que ensinam habilidades de como
relacionar-se melhor. Aprender a mudar estilos, tentar mudar os outros e
manipular as relações para sentir-se melhor tem sido a tônica, pois “do jeito
que vivo não está bem”.
Por causa das máscaras sociais, temos aí uma sociedade, na qual as
pessoas se espelham umas nas outras dessa maneira superficial, que está
nitidamente doente, emocionalmente imatura e alimentando a indústria
acadêmica e dos medicamentos que promete a cura (ao menos a
diminuição) dessa dor.
Mas que dor é essa?
É a dor do peso da autoimagem, da falta de sinceridade consigo mesmo e
de não ser natural; a dor de não ser espontâneo, a dor de não ser feliz. O
sentimento de inconformidade social traz dor, as disputas doem, as brigas
trazem insegurança pessoal e muita dor. No fundo, a dor que sentimos é a
dor do vazio, de não ser autêntico; é a dor da mentira, a dor da falta de
Amor. A raiz de todas essas dores é uma só: não saber o que sou em
Essência!
O convite aqui é irmos além das aparências das relações externas e dos
comportamentos “assertivos”. Note que na maior parte do tempo existe
investimento em “adequar-se”, saber “comportar-se”, ou rebeldia em não
ser do jeito que a sociedade exige. Foi-nos ensinado a comportarmo-nos
perante Deus e ajustarmos comportamentos para não sermos pecadores.
Nossa relação com o sexo, com a comida, com a bebida, com o trabalho e
com o lazer giram em torno de dogmas que acabaram influenciando
também as relações interpessoais e formamos grupos de pessoas que
compartilham os mesmos valores aprendidos: valorizar o externo e as
aparências. Com estas regras de postura, deixa-se de lado, na maioria dos
casos, de olhar para o essencial: para o Autoconhecimento Verdadeiro, o
olhar para “dentro”, o olhar para Si e reconhecer a Consciência e o
Silêncio.
As relações humanas acabaram tornando-se uniões barulhentas, muitas
vezes uma prisão emocional que não se tem coragem de rompê-la, porque
se aprendeu a suportar e se adequar às regras sociais, mesmo que haja
insatisfação interna. Por sermos imaturos emocionalmente, não
questionamos as máscaras que usamos, afinal de contas, “a vida é assim”.
Já, por outro lado, ficar só, em silêncio, tornou-se sinônimo de solidão,
sinônimo de estar em desarmonia nos relacionamentos, que é uma atitude
rotulada como “negativa”.
Analise com clareza: se alguém não consegue estar bem, se não consegue
ficar em paz quando sozinho ou permanecer em silêncio, se não é simples
ficar apenas consigo mesmo, será que não está faltando algo? Por que é
necessário adequar o comportamento ou depender de outros para sentir-se
bem? Por que são necessárias certas circunstâncias externas para ser feliz?
Quando se está só, normalmente nos sentimos sem rumo, perdidos. Quando
“estou só, sinto solidão”, que é sinônimo de tristeza para muitos.
Mas a vida não é assim?
Será? A questão principal é que toda essa programação foi feita no nível
da mente e não será a partir dela que estas questões serão sanadas. A mente
programada, o intelecto, tende a andar em círculos e jamais encontrará
soluções fora do seu alcance, ou seja, a programação, o software, só
consegue viver dentro de seus próprios limites, com seus dados e seus
arquivos armazenados.
É necessária uma nova Visão, pois, a partir do intelecto, a renovação é
lenta e incompleta. A inspiração que vem do Vazio Silencioso é que
possibilita uma mudança de paradigma nas relações interpessoais. O
reconhecimento da Consciência é a verdadeira relação: um relacionamento
com a própria Essência.
Para isso, a seguinte pergunta será sempre necessária para expor a
máscara e quebrar os padrões do condicionamento socioemocional:
Neste Instante, aí, existe consciência de estar consciente?

(fique com isso* por alguns instantes)


A vida consciente

Como seria se pudéssemos deixar de basear nossa vida no intelecto? O


que mudaria?
Pode-se dizer: tudo. A Visão Pura, a vida consciente tem início no
reconhecimento da Consciência a cada instante. É uma revolução completa.
O processo mental automático (rótulos-crenças-emoções) é repetitivo, não
criativo, condicionado pela programação do passado como já falamos e
principalmente: vive no medo!

MOMENTO DE CLAREZA

A raiz de todas as emoções ligadas ao processo mental que


conhecemos é o medo, que é a sustentação da programação social de
domínio e de controle, de poucos sobre muitos, que vivenciamos
neste estágio evolutivo do planeta. O medo é o combustível dos
padrões de comportamento referidos anteriormente, é o combustível
da personalidade que está naturalmente desalinhada com nossa
essência que é o Amor.

Ao levar uma vida com a Visão Pura da Consciência (que jamais rotula),
ou na Pura Presença, vive-se a partir de outro “espaço” que é silencioso,
não mental, e que altera radicalmente a relação com o mundo, com o outro
e consigo mesmo.
A partir de uma Vida Consciente, os padrões sociais começam a ser
expostos. O condicionamento e prisão da programação educacional começa
a ser implodido. Surge uma visão sem preconceitos, sem medos, em que
diminuem as inseguranças, angústias ou o “sofrimento” de estar
identificado com todo este lixo mental.
Todos esses padrões antigos de pensamento até podem surgir, mas são
percebidos em Instante Zero, apenas como são: dados mentais que então
perdem seu efeito. Assim, a hipnose e a identificação com os pensamentos
enfraquecem.
E principalmente: em uma vida consciente existe uma pura confiança no
fluxo do divino, pois se intui claramente que existe Algo mais grandioso
orquestrando a vida. Por causa da desidentificação com a corrente de
pensamentos e emoções ou por causa da des-identidade com a mente
limitada, o peso da vida e o esforço diminuem. A Presença-Consciente abre
espaço para a leveza, para a paz e para o silêncio interior.
A Consciência é pura intuição, é pacífica e amorosa. É sinônimo de
criatividade, é inovadora e incrivelmente sábia, pois está alinhada como o
Divino e, portanto, com o fluxo da natureza e da Vida.
Quando ocorre o acordar do sonambulismo mental, um despertar para
uma nova Vida se dá. Então, vive-se de “olhos abertos”, acordados, e o
“sistema” fica escancarado como sendo uma programação que não precisa
ser seguida: a mente perde a força e o Silêncio interior se evidencia. A
Consciência é percebida claramente e reconhecida como a verdadeira
identidade.
Perceba a Presença aí! Esteja alerta, desperto!
Agora, há consciência de estar consciente?
Visão equilibrada

O que chamamos de Experiência Neutra, Visão Pura, Zero, ou Ponto


Zero é na verdade uma abertura para uma visão equilibrada e assertiva
sobre qualquer experiência prática. É a Visão da experiência verdadeira,
real, pura, sem a distorção social sobreposta pela mente: emoções,
convicções e crenças a respeito de tudo.
O ser humano médio (a maioria de nós) não tem a menor consciência a
respeito da Consciência e, portanto, não acessa a clareza de Visão que está
sendo abordada aqui. Por não perceber o processo mental apenas como ele
é, um movimento energético de informação na forma de linguagem, acaba
por levar-se uma vida exclusiva a partir da mente. Isso só ocorre por pura
ignorância da involuntariedade da mente. Existe apenas um
“desconhecimento” sobre a pureza e a inteligência da Consciência.
Como falamos, o intelecto tem sido considerado a ferramenta de
sobrevivência neste mundo. O processo intelectual/mental tem sido
supervalorizado pela ciência, o que o tornou um sabotador e direcionou o
ensino convencional. As ciências que estudam a mente têm feito isto a
partir da própria mente, o que é uma insanidade: analisar o furacão de
dentro dele. Ou seja, uma análise limitada só pode gerar percepções
distorcidas do que seja o furacão, ou melhor, é impossível perceber o quão
limitado é o furacão (neste caso, a mente). O intelecto é limitado ao que lhe
foi transferido e não é inteligente por si só, apenas o é aparentemente,
porque é uma ferramenta programada — como um software, um HD ou um
smartphone cheio de aplicativos, mas que não tem inteligência além do
programa inserido.
O intelecto tem passado despercebido como sendo um processo de
informação gravada. Tem sido considerado a “inteligência humana” por
eras, o que é responsável por um equívoco enorme! Equívoco tão grande
quanto à afirmação cartesiana “Penso, logo existo”. Essa talvez seja a
falácia base que reforça e confirma o que estamos falando aqui. A
Consciência-Pura não é pensamento, não é intelecto! É a verdadeira
Inteligência! A Consciência é a Vida agora testemunhando o mundo e o
próprio intelecto por meio deste aparato biológico aí: o corpo com seus
sentidos.
Não se percebe, até então, que o processo intelectual é uma gravação e
que surge de forma espontânea e não controlada. Tem-se baseado todo o
modelo de raciocínio como sendo o único ou a maior inteligência humana!
E não é! A Consciência não pode ser compreendida intelectualmente e,
portanto, tem sido deixada a segundo plano pelo modelo do pensamento e
foi ignorada por ser invisível e abstrata. E aquilo que é invisível é
normalmente considerado inexistente, não importante, por não ser óbvio na
experiência.
A Consciência Pura é a coisa mais óbvia que pode existir agora. A
Consciência é aquilo que percebe a mente, o corpo, o mundo, as
experiências, Agora, aí. É Aquilo que percebe os pensamentos surgindo e,
na medida em que é “des-coberta” como tal, começa a deixar evidente e
claro que o processo mental-pensamento-intelecto é involuntário,
incontrolável e que não tem nada a ver com “eu pensando”, pois eles
simplesmente surgem conforme a programação inserida.
Os místicos sempre disseram isso. Sempre falaram de despertar para a
Consciência, mas esta Visão foi negligenciada pela ciência como sendo algo
utópico, distante da realidade, coisa de “religioso” que não tem nada a ver
com o mundo prático material: “Místicos são pouco objetivos, falam coisas
incompreensíveis. Vamos deixá-los de lado e nos atermos à ‘realidade’ da
ciência”.
A partir daí, todo o movimento evolucionário da vida humana começou a
ser baseado numa premissa equivocada: a mente é tudo. Como nunca se fez
a mínima ideia da existência da Consciência, foi-se deixando-A de lado e,
assim, Ela vem passando despercebida apesar de Sua constante Presença.
Assim, utilizou-se exclusivamente a ferramenta mente para construir uma
visão de mundo que fosse palpável, visível e comprovável, o que deixou o
Invisível de lado: “Deixemos os doidos dos místicos com suas loucuras
indecifráveis, são lunáticos incompreensíveis”.
Realmente, a mente jamais os compreenderia, justamente porque a mente
não é algo inteligente por si só; é apenas a repetição dos rótulos do mundo
visível, prático e “científico”. O intelecto racional é um conjunto de
informações limitadas aos próprios rótulos e limitado a todo aprendizado
prático do mundo visível que evoluiu cientificamente, mas que não tem a
capacidade de perceber o Divino, a Consciência.
Claro que a ciência tem expandido muito em todos os sentidos: da
medicina à tecnologia, mas, com a chegada da mecânica quântica, o mundo
fenomênico está deixando de ser o único existente. A mente-intelecto, tão
valorizada até então, continua sem respostas para os “mistérios da criação”.
Quando as respostas a partir da física quântica começam a surgir, elas ainda
são limitadas ou se tornam cada vez mais inexplicáveis, misteriosas e,
portanto, estão se aproximando do que os místicos diziam.
A única forma de encontrar respostas é mudando o “olhar” e justamente
“saindo” da tentativa de solucionar a partir da mente. Repare que para cada
pergunta que é feita surgem mais e mais respostas que nos afastam da
Essência. Em resumo, a visão distorcida pela mente gera mais e mais
distorções.
O convite é sair deste emaranhado sem fim que gera muitas dúvidas para,
a partir de agora, repousar na Presença-Consciente que é a fonte do
equilíbrio capaz de eliminar as distorções do intelecto. A Visão Equilibrada
não pode vir de interpretações e da programação antiga. A Visão Pura e
livre da poluição do passado traz o frescor e o equilíbrio para um novo
mundo florescer: o mundo da Intuição, da Realidade, da reconexão com a
Verdade.
Portanto, neste instante, aí: há consciência de estar consciente?…

Repouse conscientemente nesta Presença Lúcida!…


Clareza a partir da visão do Eu:
solitude vs. relacionamentos assertivos

Com o reconhecimento intuitivo de que “não sou a personalidade”, “não


sou os pensamentos”, “não sou as emoções”, toda a relação com o mundo
se transforma.
Voltemos a falar sobre relacionamentos a partir de uma perspectiva mais
lúcida:
Existem relacionamentos fraternos, de uma relação de respeito profundo,
através dos quais há uma naturalidade amorosa, em que se experiencia
uma amizade antiga e sincera, de uma sinergia incrível entre pessoas que se
dão bem, apoiam-se e não querem nada em troca. A troca, quando acontece,
está acontecendo pela afinidade em si, pela interconexão energética do
companheirismo, pelo gostar de estar junto, pela diversão, pelo apoio ou
suporte, em que se percebem relações frutíferas em ambientes saudáveis.
Isso acontece geralmente em famílias com um nível de maturidade mental-
emocional mais elevado. Poderíamos chamá-los de relacionamentos
saudáveis, pois não há troca de interesses emocionais ou prisão, não há
dependência e apego. Nestes relacionamentos maduros existem conexões
sem exigências. Mas será que este é o auge quando se fala em
relacionamentos? Veremos…
Por hora, vamos além das interações interpessoais saudáveis:
O principal ponto aqui é perceber os relacionamentos viciados, por
melhores que sejam, e principalmente aqueles relacionamentos frutos de
interações emocionalmente imaturas em que existe algum tipo de
sentimento menos nobre envolvido: raiva, posse, interferência, controle,
medo, dependência, carência, traição, insegurança, peso, infelicidade, amor
condicional, chantagens, desprezo, insatisfação, tensão, indiferença,
cobranças, senso de superioridade ou de inferioridade. Melhor dizendo,
vamos levar mais clareza e uma visão mais pura para onde existe
desequilíbrio energético, mesmo que inconsciente.
Os relacionamentos podem ser fonte de muito engano no mundo prático
de inconsciência. Em geral, relações interpessoais acabam por valorizar em
demasia as aparências da vida “exterior”. Por isso, por haver um modelo de
interação social, ocorre uma comparação com outros seres humanos, há
uma noção de comportamentos adequados a serem seguidos, de atitudes que
são preconcebidas como atitudes exemplares, o que faz com que seja dado
enfoque demasiado a padrões de comportamento. Existe um foco exagerado
em fórmulas do sucesso, em receitas de como tornar-se uma pessoa melhor
e, devido ao foco em modelos de comportamento, esquece-se de interagir
com as pessoas e consigo mesmo a partir de outro espaço: a partir do
ambiente interno. Internamente existe um espaço de naturalidade,
sabedoria, de visão clara e de fluidez de vida.
O modelo social por um lado, a instabilidade emocional por outro e a
falta de educação na verdadeira natureza do Ser desconectaram o humano
da sua Essência. Ao criar um modelo de atuação social, de sucesso, de ideal
familiar, de padrões corretos e não corretos nas interações, deixou-se de
lado a espontaneidade, um jeito mais natural de viver a vida: com leveza e
amorosidade, que são a marca registrada da Presença-Consciente.
Basear-se em padrões de comportamentos aceitáveis gerou uma
sociedade de pessoas inseguras, com medo do que pode acontecer e,
portanto, medo de se relacionarem puramente. Gerou-se uma falta de
confiança em algo mais profundo: a Fé no fluxo da Vida… Hoje, vemos
uma sociedade considerada “normal”, focada no consumo e no acúmulo,
com ideais de vida que desconectaram o ser humano da liberdade do Fluxo
Divino. “Desaprendeu-se” a viver o Ser, a Essência, o Silêncio, a viver no
Agora… “Desaprendeu-se” a viver na pureza da Presença. Vive-se demais
o humano e muito pouco no Ser. Nesse sentido, ao despertar para uma nova
consciência, faz-se necessário colocar em perspectiva o modelo
preconizado como aceitável e ideal nas relações sociais.
A interação interpessoal não vai deixar de existir, mas está passando por
uma transformação. Se, antes mesmo de nos voltarmos para o externo,
reconhecermos o interno, o Ser, as interações se tornam naturais e sem
necessidade de regras e adaptações comportamentais.
Ao reconhecer a Consciência-Silenciosa como base da vida diária,
anterior aos pensamentos e às emoções e comportamentos, ocorre uma
interação mais profunda, sem julgamentos e avaliações, sem medos e
dúvidas e sem tendência a competir, a culpar, acusar, lutar ou duvidar. As
relações podem coexistir naturalmente sem a pressão da autoimagem e das
aparências da personalidade. É possível viver sem o senso de separação ou
de desconexão do outro que foi apenas moldado ao longo de séculos de
programação socioeducacional.
O convite é: antes de tentar interagir corretamente com o outro, vamos
interagir sabiamente conosco mesmos?
Então, as perguntas que poderiam surgir são: “Mas como assim? Como
posso interagir comigo mesmo? Já estou fazendo isso, não?”
Não, provavelmente não!
Interagir consigo mesmo, interagir com “você” mesmo, em geral, passa
pelo pressuposto de que essa interação é com o corpo e com o
comportamento. Aquilo que se chama de “eu” é sempre o equívoco básico.
Não básico no sentido de ser simples, mas no de comprometer toda e
qualquer compreensão mais profunda a respeito da vida.
A crença básica “eu sou esta personalidade, este corpo” e, portanto, esta
“pessoa” com um certo nome e comportamento é o grande equívoco de
compreensão de identidade que finda por distorcer toda a realidade das
relações.
Quando existe a convicção profunda de que “eu sou este corpo, esta
persona” e, portanto, que tem um comportamento e conhecimentos, passa-
se a interagir nas relações interpessoais a partir desta imagem, a partir da
mente barulhenta. Assim sendo, vai-se tentar o tempo todo manter a
autoimagem fortalecida, mostrando-se a todos a partir de uma máscara
social, de um processo de defesa e ataque, de tentativa de estar certo etc.
Assim, as relações passam a ser viciadas nas suas interações porque são
reflexos de comportamento condicionado pela máscara: barulho e “lixo”
mental.
Aquilo que é o Eu não é a personalidade, portanto, não é o programa
social, não é um amontoado de ideias. Interagir a partir da personalidade
não é necessário. A interação humana a partir da Essência, da Consciência,
é o que conecta verdadeiramente as relações e desfaz a máscara.
Reconheça a Si-Essência na sua relação consigo mesmo agora! Existe
consciência da Essência aí agora?

Sinta aí, reconheça a Presença-Eu agora!


Reconhecer Isto que está consciente aí, agora, é a base da interação
humana pura.
Note esta Lucidez Consciente aí, agora!

Isto que testemunha não tem rótulos, portanto, não tem máscaras, é
neutro, é silencioso e não tem preferências nos relacionamentos, pois não
julga. A Essência por ser silenciosa não se importa com a autoimagem e
não faz questão de estar certa, não se defende de nada e, portanto, não
ataca… A Consciência nunca tenta se sobressair, não quer ter posse nas
relações e não tem exigências sobre os outros. Vive completamente no
Agora e é sinônimo de Amor.
Reconhecer esta Essência Aqui é a chave para as relações humanas
sinceras, ou seja, primeiro é necessária uma relação “harmoniosa e
verdadeira” comigo mesmo, reconhecendo o que sou, reconhecendo o Eu
Real. Desfazer a máscara é o convite principal.
Reconheça a Si mesmo nessa Presença aí, agora!

A partir do reconhecimento dessa Presença-Consciente-Silenciosa, a


relação com o corpo, com o comportamento e com a autoimagem será
consequentemente saudável. Se isto estiver alinhado, as relações
interpessoais irão acontecer normalmente sem necessidade de regras de
conduta. A fluidez da vida irá conduzir espontaneamente as interações de
maneira sábia, mesmo que problemas surjam, pois existe uma aceitação
natural de que no fundo tudo está bem… O Silêncio permeia o barulho, a
compreensão permeia a confusão e, assim, as relações se harmonizam
apesar das máscaras.
Reconhecer a Essência nas relações e viver a partir Dela é reconhecer
que existe um Silêncio Sábio em todos. Surge um respeito por todos, pois o
comportamento é percebido como apenas um vício e como não sendo o
outro também. A mente agitada é percebida aqui e também lá e, mesmo que
haja inconsciência em um dos lados, tudo bem! O personagem inconsciente
é testemunhado com suas máscaras, mas há uma aceitação natural de que a
inconsciência faz parte das relações. A Consciência aceita a inconsciência.
Já nas interações inconscientes da sociedade, padronizou-se, portanto, o
comportamento como sendo a identidade de todos. Consequentemente pode
surgir, só para citar um exemplo, a crença de que “não deveria haver
solidão” nas relações.
Este é apenas um exemplo de má compreensão, mas que serve para
mostrar um aspecto da mente condicionada: solidão, em geral, na
perspectiva do comportamento, significa tristeza e afastamento, o que
tende a trazer um vazio ou uma falta de significado para a vida. Nas
relações humanas convencionais, sentir solidão leva ao isolamento e vice-
versa, leva à depressão e à perda de alegria ou de sentido na vida.
Quando começa a haver a compreensão desse equívoco de identidade, em
que a Verdadeira-Identidade-Eu passa a ser vista como o Silêncio Interior,
a “solidão” se transforma em solitude, em paz, em harmonia, completude,
amor… Não importa mais o comportamento, não importa se existem
poucos ou muitos amigos, se a minha família está perto ou longe, se tenho
um companheiro ou se estou só ou, ainda, não importa se as relações estão
indo bem ou não. Não importa mais, pois a descoberta da Essência já se
deu. Existe um Saber-Consciente de que não sou o comportamento. Sou
Pura-Presença-Silenciosa, portanto, Sou completo agora, independente do
personagem, independente de ter amigos ou não. Tudo fica pleno e ter
relações saudáveis é a consequência, não mais o propósito.
Com a Visão Pura do que Sou, o isolamento mental não existe mais,
pessoas não são mais vistas como competidores, como desafios ou como
problema. Seres humanos passam a ser vistos como sendo Eu-Essência
também.
Nessa nova Visão, não há necessidade de reforçar-se a autoimagem
pessoal ou profissional a cada dia ou a cada nova interação. Num
relacionamento que surge, não existe mais aquela necessidade de provar-se
ou de exigir algo, de ser bom o suficiente, de ser melhor, de sorrir sem estar
com vontade ou de dizer coisas para simplesmente agradar. Não há
necessidade de dizer “sim”, quando na verdade se queria dizer “não” ou até
mesmo termina a necessidade de ir aonde não se está a fim, de aparentar o
que não está sentindo internamente. Foi-se a máscara!
Com a Visão Pura, o sucesso não é mais externo, a busca incansável por
objetivos sociais termina (claro, eles vão continuar existindo na vida
prática, mas sem o peso de antes). A ânsia por resultado no futuro não faz
mais sentido, pois surge completude da descoberta de que a vida está
acontecendo e “eu me encontrei”, “estou em paz, independente das
circunstâncias”. Assim, existe apenas fluxo e é o fim da solidão.
Sinta esta Presença-Completude agora!
Experienciar a Consciência

O propósito deste texto mais especificamente é proporcionar durante a


leitura o experienciar. Portanto, não se apresse ao ler, pare nos intervalos
marcados, solte e sinta! Fique o tempo que quiser saboreando o reconhecer
da Presença-Consciência. As palavras utilizadas você já as leu, mas não
foque na compreensão mental; foque no acessar a Lucidez Silenciosa da
Consciência.
Sugestão: faça uma marca, uma dobra, por exemplo, nesta folha para
você voltar a esta parte do livro sempre e quantas vezes quiser daqui em
diante.
Caso o experienciar do silêncio observador não se dê por completo
ainda, não traga pensamentos de desânimo, pois é assim mesmo. Vá
voltando ao “treino” sem expectativas, porque, pouco a pouco e de forma
natural, o vivenciar da Presença e todos os seus dons são sentidos.
Faça de olhos abertos, naturalmente, e se acostume à prática na vida
diária.
Consciência é reconhecida como um senso de Presença nítido e vívido na
experiência agora. Um senso de estar vivo, um senso de existir Agora.
Sinta este senso de viver aí…

Reconheça que há Algo completamente alerta, vivo, dando-se conta das


palavras sendo interpretadas pela mente agora… Perceba esta alerteza aí…

Consciência é aquilo que, neste momento, percebe o corpo sentado aí,


que testemunha o “João da Silva” lendo este livro e observa todo o processo
mental desenrolando-se para interpretar as letras e entender as palavras,
frases e significados agora.
Note esta percepção consciente agora…

Aquilo que nota e que conhece esta experiência agora é Consciência!


Observe que o termo Consciência aqui, como já foi falado, não está se
referindo ao ato de estar ciente apenas: “Ah sim, eu sei que estou sentado,
estou ciente desse fato!”. Não é isso, porque o estar ciente, nesse sentido,
significa apenas a análise mental, mas inconsciente da Presença.
Sinta a Presença Silenciosa que não pensa agora…

Consciência é a base desta experiência aí. É a Visão involuntária da


experiência Agora. Aquilo que tem o poder de “conhecer” é Consciência-
Presença. Isto aí que percebe a audição, que se dá conta do visual, que nota
a experiência sensorial “corpo”, Isto que conhece a experiência através dos
cinco sentidos: Isto que vê o ver, ouve o ouvir, sente o sentir, nota o
saborear, sente o cheirar, este Observar é Pura Consciência Agora. Esteja
alerta e note esta observação involuntária já acontecendo aí…

Consciência é o que “vê” luzes, “ouve” sons, “sente” energia, “nota”


pensamentos e emoções, mas não dá esses nomes a nada disso.
Testemunhe tudo surgindo na experiência completa, ao mesmo tempo,
agora. Sinta todos os sentidos ao mesmo tempo aí sem rotulá-los…
A divisão em palavras é feita instantaneamente pela mente. Perceba isso!
Sinta a Presença anterior à mente…

O que está sendo repetido aqui por enquanto é simples: Aquilo que
conhece a experiência não é a mente – nem o cérebro – nem o corpo. É
Consciência, mas precisa ser sentida, não teorizada.
Reconheça a Consciência agora aí! Esteja alerta e em completo silêncio
interno por alguns segundos… PARE!

Experienciar a Consciência só pode ser feito por Ela mesma, sempre


agora, sem auxílio de nenhuma técnica. Note que nunca existe nada
interferindo nesta Lucidez Silenciosa que aí está! Agora, esteja alerta!

Ouça o Silêncio-Consciência agora!

Repouse nesta Clareza pelo tempo que puder.


Alerta, Silêncio, Leveza, Agora…
Sem pensar, não toque em nada, solte tudo! Silêncio…
A beleza da vida

A vida é bela de qualquer jeito, com ou sem rótulos, pois tudo isto que se
vive mental e experiencialmente, e que estamos apontando aqui, não é uma
questão de escolha de “alguém”. Simplesmente é o funcionamento da
Consciência propiciando que o seu conteúdo surja exatamente do jeito que
é percebido por Ela (não por “você”).
Consciência é a mestre de tudo. Tudo a partir dela se dá do jeito que Ela
deseja, conforme Sua vontade.
Por isso, em alguns organismos, ou em alguns seres humanos, a
Consciência dá a Si mesma a possibilidade de Se reconhecer (quando fica
Autoconsciente = Presença) e para a maioria, ainda, a Consciência
permanece “encoberta”, como se Ela ainda não se permitisse ser
reconhecida. Em outras palavras, é como se ainda existisse inconsciência
da Consciência, mas por escolha própria.
Assim sendo, não tem nada que poderia ser “feito” de forma diferente
para alterar ou acelerar o funcionamento da Consciência em querer
Perceber-Se. O eu-você-indivíduo-mente não pode fazer algo neste sentido,
é a Consciência que está agindo e esta é justamente a beleza da Vida, seu
grande mistério.
Quando esta sabedoria aparece para “alguém”, ela na verdade surge da
Pura Consciência para a Consciência-Eu (a Consciência disfarçada de ser
humano). Por exemplo, o que está escrito aqui foi escrito por alguém
(Consciência) para atingir outro alguém (Consciência), em uma aparente
individualidade aqui e aí, mas esse é um fenômeno natural, é a beleza da
vida acontecendo: a Consciência agindo aparentemente separada em corpos
humanos.
Veja o todo, abra-se para esta possibilidade!
É como se a Consciência através de um “alguém-Consciência” estivesse
jogando informação (livro) para que outro “alguém-Consciência” (você)
tivesse a possibilidade de experimentar ser Autoconsciente. É como uma
brincadeira em que a Consciência Pura não se permite enxergar-Se
conscientemente em alguns indivíduos (em que há ausência de Presença),
mas se permite ver-Se em outros organismos (nos quais há Presença
reconhecida conscientemente). E, através uns dos outros, vai
disseminando-se esta Visão, possibilitando uma expansão do
Autorreconhecimento da Verdade: Consciência é tudo, está em tudo e cria
tudo.
Mesmo que isso ainda não faça 100% de sentido, vamos em frente…
“Aqueles” por meio dos quais Ela se permite ser vista (Autoconsciência-
Presença) servem de vetor de mudança ou de gatilho para despertar a
Autoconsciência em outros indivíduos corpo-mente. Este é o jogo da vida,
em que a chama da Autoconsciência – a chama Crística, vai tocando uns
aos outros e disseminando sua Luz de forma bela e natural como as
sementes de uma planta que são levadas por pássaros e acabam por
germinar em outros lugares… Eis a beleza da Vida: Consciência
orquestrando tudo para se tornar Autoconsciente.
Complicou? Simplificou?
Para seguirmos em frente, reconheça mais e mais, sinta a lucidez
silenciosa desta Presença-Consciência aí agora…

Existe consciência de estar consciente aí agora?


O experienciar na prática: benefícios

Na vida prática e “individual” humana, aquele que é tocado por este


reconhecimento começa a experienciar mais a Presença-Lúcida-Consciente
e o seu poder. A vida é percebida de maneira mais profunda e ao mesmo
tempo fica mais simples, as experiências são vistas de forma neutra e
desidentificada do personagem. Qual personagem? O do teatro da mente,
cheia de rótulos, vivendo a partir da autoimagem mental que foi distorcida
desde a infância e que carrega um enorme peso.
O olhar puro, a partir desta nova Visão, passa a não sofrer mais o filtro
contínuo da mente-pensamentos-emoções que definia a “realidade” e que
sempre trouxe um aspecto de dualidade ou de separação entre “aquele que
via”, até então (eu-pessoa), e aquilo que é visto (o mundo), sempre separado
de “mim”. A ideia de separação proporcionada pelas crenças exige muita
tensão e gasto de energia.
A pureza do “olhar” a partir da Visão Neutra, em Instante Zero,
proporciona um estado de Presença que é notado com nitidez, em que os
pensamentos que antes rotulavam, julgavam e avaliavam toda a experiência
(com suas crenças, carregadas de informações distorcidas) agora são
“vistos” como não sendo eu: são simples movimentos de dados
armazenados pela programação e que, por serem reconhecidos assim,
deixam de influenciar negativamente na vida prática diária assim como uma
nuvem não influencia o céu.
Começa a existir uma clareza que reconhece o personagem-
pensamentos-emoções e suas ações condicionadas. A personalidade
viciada (o suposto eu) começa a ser notada em “tempo real” como sendo
apenas um impulso de pensamentos, mas não mais como sendo “eu”. A
personalidade é reconhecida como um processo natural mental, mas não
existe mais a necessidade de se fixar e de depender exclusivamente dela.
Em outras palavras, a Visão Pura revela a mente saltitante e, a partir de
então, é possível perceber que a mente não sou “eu”, que as emoções não
são “eu” e que aquilo que se chamava de “eu” era só uma personalidade
programada.
Na experiência prática, o processo do pensar fica evidente como sendo
involuntário e incapaz de me definir ou de comandar minhas ações, ou seja,
deixa-se de estar sentado no banco do carona da emoções e pega-se a
direção da Consciência. Agora, os ventos dos pensamentos não lhe
encontram mais distraído. Torna-se possível, a partir desta Presença Lúcida,
viver em estado de alerta consciente e captar instantaneamente a
sabotagem dos pensamentos e das emoções limitantes. Este é o poder da
Visão Pura: o modelo mental e toda a programação social deixam de ser
verdades e passam a ser vistos como um aspecto da mente, nada mais do
que isso. Não é mais necessário seguir impulsivamente as intempéries da
mente. A lente mental que causava distorção na realidade perde seu
“encanto”.
Na prática diária, muda a Visão Interna e, consequentemente, por se
diminuírem os filtros (julgamentos, medos, crenças), muda a reação ao
mundo e transforma sutilmente o exterior. E isso é radical.
Leveza e clareza permeam as ações, diminuem o senso de urgência que a
sociedade impõe; aquele peso da responsabilidade sobre a vida baixa
drasticamente, pois aumenta exponencialmente a confiança no fluxo da
Vida. Existe um saber intuitivo de que “tudo que é preciso me será dado”. O
que ocorre é uma compreensão natural de que a abundância é nossa
Essência e de que o oposto são apenas crenças.
Dito de outra forma, todo o ambiente, por mais desafiador que seja, ganha
uma conotação mais sábia, pois o todo é percebido com uma Visão mais
elevada. E isso ocorre sem a necessidade do remoer e do pensar exaustivo,
pois esta compreensão vem do Vazio, instantaneamente, sem necessitar
recorrer a pensamentos viciados para elucidar pontos de vista. Os
“pensamentos positivos” nem são mais necessários, pois a Visão sábia se dá
sem gasto de energia.
Para isso, perceba a partir de agora a mente em tempo real! Veja suas
distorções, perspectivas e crenças a respeito do mundo e não confie mais
nisso!
A única e verdadeira confiança vem do Saber intuitivo da Consciência.
Reconheça agora esta Presença Lúcida que não é pensamento!

Há consciência de estar consciente agora?


Alinhamento

Quando existe o reconhecimento da Presença de forma consciente em


Instante Zero, começa a existir um alinhamento prático com a
Consciência-Verdade. Pode-se começar a experienciar um senso de
unicidade, mesmo que sutil (Eu-Sou-Consciência), mas isso não se dá de
forma mental, pois é um experienciar sem pensamentos ou rótulos.
Gradualmente surge uma desidentificação com a mente-intelecto-corpo e
um tipo de vida mais fluída e de confiança Divina começa a ser
experienciada.
“Conhece-te a Ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses,
porque, se o que procuras não achares primeiro dentro de Ti mesmo, não
acharás em lugar algum” – frase do Templo de Delfos na Grécia, e “Buscai
primeiro o Reino de Deus (…) e todas as coisas vos serão acrescentadas”
– Jesus (Matheus 6:33). Estas citações acima, com o alinhamento à
Consciência, conotam outro sentido: “Conhece a Ti Mesmo (= Consciência
Autoconsciente)” e também “Buscai primeiro o Reino de Deus (=
Autoconsciência)”.
Na Visão prática deste “ensinamento”, ao existir mais e mais
reconhecimento consciente da Consciência, passa a existir uma entrega e
um soltar natural, o que gera menos esforço diário e mais leveza. As
sincronicidades divinas na vida começam a serem percebidas com
intensidade e clareza.
Note que a Visão da Consciência não é um ensinamento na verdade,
porque não é intelectual, é apenas um re-conhecimento que, quando se dá,
também é natural, involuntário e só pode ocorrer no Agora.
Não é possível intelectualizar este reconhecimento ou aprender por si só.
Saiba que reconhecer a Consciência não é uma simples decisão mental de
escolher estar consciente, pois não é uma questão de escolha da mente.
Você perceberá que, mesmo quando intencionada, nem sempre a Presença
se dá. É um fenômeno inverso: a Consciência fica mais evidente quando é
o momento certo e quando tem relaxamento. Por exemplo, se este livro
chegou até você e está fazendo sentido, é porque assim a Consciência o
quis. Este “fenômeno” da Presença-Consciente pode acontecer em alguns
casos e não acontecer em outros, ou este tema pode não fazer o menor
sentido para seu pai ou para seu irmão. Por isso, não é questão de
“aprendizado” ou de querer “ensinar alguém”. Se este material chegou até
sua vida e ainda está sendo lido até aqui é porque algo de sutil e diferente já
está acontecendo aí…
Quando acontece este “alinhamento”, no fundo é a Consciência
permitindo ver a Si mesma. Quando não acontece, é a Consciência não
permitindo ver-Se. Perceba a partir de agora: Tudo é a Pura Consciência
sendo Consciência, mas brincando de “esconde-esconde”. Tudo é a
Consciência brincando no jogo da vida de estar mais ou menos consciente
de Si mesma em cada organismo biológico. Isso se dá, é claro, de forma
inexplicável e misteriosa.
De maneira mais profunda, mesmo onde acontece a aparente
inconsciência, é a Consciência já, Pura, apenas “fingindo” estar
inconsciente. Este é o jogo Divino. Portanto, aqui e aí, está tudo
acontecendo na sua ordem natural, tudo já é Consciência Pura alinhada
com Ela mesma, mesmo que ainda este reconhecimento “individual-
mental” não tenha acontecido.
O convite aqui é possibilitar um despertar, um chamado diferente:
propiciar a olhar a partir desta Consciência que já está aí!
Já na vida prática, para aqueles que estão iniciando esta descoberta, é
como se um alinhamento com a Consciência começasse a acontecer e um
desalinhamento com o intelecto-mente se iniciasse. A mente começa a
perder sua “força” e o intelecto passa a ser uma ferramenta, não mais o
direcionador como já foi falado.
Isso lhe soa profundo ou simples? Vamos ver mais, mas…
O mais importante neste instante: Existe consciência da Consciência?
Reconheça este Silêncio observador aí…
Aquilo que supostamente escolhe e decide é só um
pensamento que surge

Esteja por hora com estas afirmações:


A ESCOLHA É FEITA POR PENSAMENTOS.
O PENSAMENTO CONDICIONADO É QUEM DECIDE.
NÃO SE ESCOLHEM PENSAMENTOS, ELES APENAS SURGEM.
Em resumo até aqui:
Não queira fazer esforço para entender as afirmações acima ou qualquer
conteúdo deste livro, pois entender não é necessário. O dar-se conta, o
vislumbre ou o experienciar conscientemente a Presença é o mais
importante. Saiba, para seu alívio, que não há qualquer esforço para ser
feito por você! Apenas dar-se conta de que a vida sempre esteve
acontecendo independente do seu querer é um passo fundamental neste
momento.
Também é importante não desejar alcançar algum estado de elevação
“espiritual” no futuro, como pessoalmente fiz por muitos anos, pois aquilo
que supostamente é buscado no futuro já está disponível Agora. A Pura
Consciência está Aqui, Aí, Agora, disponível para ser reconhecida. Está
sempre Nítida, Consciente, Presente, orquestrando e testemunhando a vida.
Note que a vida já se desenrola de forma incrível agora, mesmo que a
mente não saiba que a Consciência é o grande Maestro. A mente é confusa,
traz crenças contrárias às afirmações acima, vive de muitos rótulos e
dúvidas, tem pensamentos nebulosos de baixa clareza e ainda está em
primeiro plano, inconscientemente, ditando as ações.
Reconhecer a Consciência agora, que é o background da experiência, é só
o que se precisa por enquanto, pois aos poucos a compreensão intuitiva vai
se aprofundando.
Agora, perceba a Consciência lúcida e silenciosa…

A partir deste ponto do livro, para voltar às afirmações iniciais acima, é


importante investigar um pouco mais a natureza da mente, mas no nível da
tomada de decisão. Esteja com a mente aberta porque as páginas a seguir
vão mexer com uma das maiores crenças implantadas: “Penso, logo
existo”.
Provavelmente no início a mente vai ficar confusa, mas aos poucos ficará
mais evidente que os pensamentos não são pensados deliberadamente por
“você”, mas que surgem na Consciência e são percebidos pela Consciência!
Como assim?
Começará a ficar nítido que o corpo não é uma entidade separada da
Consciência que pensa e decide por si só e que, portanto, não cria
individualmente seus pensamentos e emoções.
Na vida prática, existem aparentes tomadas de decisões que ocorrem o
tempo todo nas ações diárias, desde quando acordamos até irmos dormir. As
escolhas, em última análise, você verá, são apenas escolhas que são feitas
por um pensamento que surgiu, que não foi escolhido voluntariamente.
Curioso, não?
Esta frase acima requer esclarecimentos pois mexe com uma crença
profunda. A convicção da escolha individual no dia a dia só existe por falta
desta Visão Lúcida e desta clareza sobre a involuntariedade da mente.
Enquanto existe inconsciência da Consciência ou no colapsamento na
mente, parece que estamos fazendo escolhas. Para a mente, a eleição dos
pensamentos feita pelo indivíduo é real, notória e muito convincente. “Sim,
claro que eu faço escolhas!”
A pergunta é: em que nível que as escolhas vêm sendo feitas?
Como vimos anteriormente, o que chamamos de escolhas em quase
100% das vezes é feito pelo condicionamento. Perceba que “quem” toma a
decisão, quando existe inconsciência, é a programação mental, emocional e
intelectual que são um acúmulo de cultura, de crenças, de gostos e de
preferências.
As escolhas, em geral, são baseadas em “certezas”, em medos, em
dúvidas e em aprendizados armazenados na memória, que simplesmente
brotam o tempo todo. As aparentes escolhas são, na verdade,
impulsividades inconscientes que vêm do sistema mental-emocional
subconsciente.
A certeza da escolha individual existe quando se está inconsciente do que
seja o mundo mental. A decisão individual existe para aqueles que vivem
hipnotizados no transe da mente. No sono mental há ignorância sobre a
impulsividade dos pensamentos e das emoções, o que faz a vida com suas
“escolhas” diárias ser percebida como o mundo “real”, quando, na verdade,
o organismo está funcionando no piloto automático e não percebe a
incoerência do mundo da mente.
As escolhas acontecem! Quando se opta por chá ao invés de café, houve
uma opção e consequente decisão notória. A pergunta é: quem ou o quê
escolheu? Este é o ponto principal: o que está escolhendo?
A livre escolha de pensamentos e, consequentemente, a convicção de que
“a decisão foi minha” só é real quando ainda não se tem clareza a respeito
da natureza mental. A partir da Visão da Consciência, é perceptível que
quando existe uma mente acelerada, condicionada e presa em crenças e
emoções, a escolha, de fato, não é livre, pois a mente ainda não foi
identificada como sendo de uma natureza programada, involuntária e
incontrolável. Ou seja, é a mente que está escolhendo.
E por acaso a mente não é parte de mim?
Seria o mesmo que perguntar se por acaso um pássaro não faz parte do
céu? Depende do ponto de vista.
O suposto poder de escolha individual é, em última instância, só um
amontoado de pensamentos encadeados, como muitos pássaros que surgem
no céu. Os pensamentos de escolha foram surgindo e não foram pensados
livremente por “você”. Este poder de escolha que a maioria das pessoas
está convicta que tem é uma crença (outra ideia errônea). Para 99% dos
casos, a mente inquieta ainda está no comando. Este é o transe!
Analogicamente, os pensamentos são como pássaros que surgem no céu
como um fenômeno da natureza, o céu não decide quando os pássaros vão
surgir e para onde eles irão.
Escolher a partir dos pensamentos, em geral, no mundo do piloto
automático é apenas uma ação impulsiva, mesmo que se tenha levado horas
para decidir. Perceba que esta certeza da escolha é uma certeza (crença)
jamais questionada pela ciência e pelas universidades. Poucos filósofos até
hoje a questionaram de verdade, apenas os místicos e os “iluminados” a
revelaram de alguma forma.
A “certeza” de decisão individual e de que “eu é quem penso” é uma
sensação apenas! Perceba que se existe a ideia e convicção profunda de que
é o eu-corpo que pensa, consequentemente, também existe a ilusão de que
“eu escolho”.
Isto é radical? Sim! Um paradoxo? Sim!
Mas não acredite no que está sendo dito aqui, nem permita que a dúvida
ou o ceticismo da mente rotule de “impossível” e de “não verdadeiro”. É só
investigar mais a fundo na sua própria experiência. Testemunhe a
involuntariedade dos pensamentos e reconheça isto ao investigar por si só!
Note a partir de agora que a sensação e convicção de “tomada de decisão
individual” é gerada por um último pensamento. Por exemplo, quando a
mente diz “eu escolhi”, perceba que é apenas um pensamento final depois
de uma cadeia de outros pensamentos que supostamente foram pensados
por “você”, mas que, na verdade, foram surgindo e surgindo por causa do
condicionamento mental.
A “capacidade de pensar inteligentemente” e, portanto, de “decidir” é
uma crença-convicção que não foi percebida como crença ainda. É apenas
uma ideia muito enraizada que faz parte da imagem mental do que eu sou:
“Eu sou o corpo e minha história”, “eu sou esta identidade física-mental”,
“eu sou assim: o comportamento-conhecimento e minhas experiências” e,
baseado nisso, “eu penso e escolho”.
Este “eu” que parece que está escolhendo, decidindo e controlando é
justamente o que estamos colocando em perspectiva neste livro e o que
estamos chamando de a programação, a mente ou o condicionamento. A
programação é a personalidade, ou a persona que “eu estou convicto que
sou”: sou este indivíduo separado, um corpo limitado. Reconheça: isto não
é o Eu!
Voltamos, portanto, ao aparente poder de escolha mental:
Por exemplo, ao escolher um prato preferido no restaurante, o que
ocorreu foi uma suposta escolha sua, pois, na verdade, quem ou o quê
escolheu? Perceba isso!
Observe que a escolha acontece, é claro, não se está negando isso, mas
note que, no fundo, houve um último pensamento que foi uma decisão da
mente, que veio do programa de informações, emoções e experiências
passadas sobre comida, gostos e preferências. Alguém que não gosta de
limão não vai escolher um sorvete de limão, vai, portanto, “decidir” por
outra opção; pelo sorvete de chocolate, por exemplo.
Perceba que o não gostar do limão é o programa, mas que parece ter sido
uma decisão sua, não lhe parece? Porém, foi uma aparente decisão sua,
pois não houve liberdade total, porque estava condicionada a preferências
passadas. Quando se está no ritmo do dia a dia, no transe da mente,
realmente se tem a certeza de que existiu “poder” de escolha como no
exemplo acima: “Não gosto disto”, portanto, “escolho aquilo”, quando, na
verdade, não houve escolha real. Das duas opções, a escolha pelo limão era
a impossível por causa da inconsciência do condicionamento. É neste
sentido que estamos falando aqui: o condicionamento tendencia a escolha e
tira a liberdade** .
Foram feitos testes com seres humanos que mostraram que a tomada de
decisão é realizada no nível do subconsciente muito tempo antes de ela
acontecer. Em um certo cenário de pesquisa, foi possível prever com 20
minutos de antecedência qual seria a decisão tomada por um grupo de
pessoas. Em outras palavras, muitos minutos antes, os participantes da
pesquisa deram pistas sem eles mesmos saberem sobre a própria escolha
que fariam: quando colocados frente a algumas situações, a mão, por
exemplo, começou a transpirar, a pupila dilatou e o semblante mudou.
Houve mudanças corporais geradas pela mente subconsciente
(programação) que evidenciaram aos pesquisadores quais seriam suas
escolhas antes mesmo de a decisão ser verbalizada. Portanto, a aparente
“decisão consciente” já havia sido inconscientemente tomada muito tempo
antes de os participantes da pesquisa expressarem suas escolhas.
A aparente liberdade de decisão é apenas fruto da programação
subconsciente que engloba crenças e emoções enraizadas profundamente:
“Hoje quero mudar, vou comer uma coisa diferente” ou “não como glúten”,
portanto, “vou escolher algo mais saudável”, tudo foi programado de
alguma forma anteriormente!
Investigue e ficará nítido que mesmo um radicalismo do tipo “vou
escolher fazer tudo diferente, então, para provar a você que tenho o poder
de escolha” é provavelmente uma reprogramação que surge em virtude
desta nova informação. Este pensamento acima pode ser fruto, por exemplo,
de uma inconformidade também enraizada no passado. Essa decisão de
“vou fazer tudo diferente” pode estar baseada em uma “rebeldia”, talvez
“revolta” ou em uma “não aceitação” mental desta nova afirmação que se
opõe à crença antiga. Esta revolta ou rebeldia de fazer tudo diferente pode
também ter raízes que vêm desde a infância.
Em poucas palavras: no estado de transe mental ou quando não existe
reconhecimento da Consciência, quando não existe Presença-Consciente, o
processo mental não é percebido em tempo real e a ação de decidir fica
suscetível à mente programada, portanto, não se tem liberdade de verdade.
Eis a hipnose da mente! Até mesmo aquele seu voto na última eleição, que
você acha ter decidido, foi programado por informações, por suas
experiências, leituras e pontos de vista que podem ter sido manipulados
pela TV, por suas experiências passadas e direcionadas por fontes de
informação utilizadas, que não revelavam tudo sobre os candidatos.
E você pode estar perguntando-se: “E quando a decisão não vem da
mente programada, mas vem da intuição?”.
Boa! O que está se dizendo é que a verdadeira decisão é aquela que
surge a partir da Consciência, pois a mente pelo seu caráter limitado de ser
como um gravador, vem trazendo apenas gravação: pensamentos
armazenados que trouxeram um suposto senso de tomada de decisão.
Nesse sentido, quando se fala de intuição, sim é o EU quem decide, mas
no nível da Consciência, ou da Inteligência Pura, e não através dos
pensamentos programados que não são você. A intuição, quando analisada
de perto, também surge de forma espontânea, mas não vem do nível da
mente condicionada, surge na forma de inspiração que vem de um “espaço”
não mental que é o verdadeiro Eu-Você.
Portanto, não é você quem pensa, é a mente viciada, a personalidade
programada que está vomitando pensamentos incessantemente como uma
voz barulhenta na cabeça. Não seria esta voz que vem decidindo?
Já a intuição, sim, vem de um espaço mais profundo e não condicionado.
A intuição não é a mente. Ela, sim, está alinhada com o Eu.
Em resumo: não é “você” que emite intencionalmente aqueles
pensamentos limitados. Isso é o condicionamento mental. A certeza da
escolha neste nível é muito óbvia, mas é irreal. E é justamente esse “óbvio”
o equívoco que vem sendo exposto há muito tempo pelos mestres:
“Eventos acontecem, atos são feitos e, portanto, não há um fazedor
individual” (Citação de Buddha retirada do livro Awakening to
Consciousness — Ramesh Balsekar).
Com a Visão Pura da Consciência se evidencia o quão tendencioso é o
processo mental da aparente tomada de decisão, porque, na verdade, não há
um “alguém-indivíduo” pensando: a voz na sua cabeça não é você!
Portanto, todo tipo de decisão puramente mental é limitada. A liberdade
só existe a partir da Consciência, a partir da intuição, e daí,
consequentemente, pode-se entender o porquê de “os eventos apenas
acontecem, as decisões surgem”, como relataram Buddha, Ramesh e muitos
outros seres libertos.
Aquilo que supostamente escolhe e decide é só um pensamento
condicionado que surge.
Nos próximos capítulos, vamos elucidar mais isso tudo. Por enquanto,
perceba se a mente não voltou a roubar toda a atenção neste exato instante!
Volte consciente e suavemente para o Silêncio invisível aí…

Agora: existe consciência de estar consciente?


Tentativa de controle

Toda a tentativa de controlar o externo e o interno, de controlar as ações,


as circunstâncias e as emoções, de ajustar pessoas, de corrigir
comportamentos e de tomar decisão é uma tentativa de controlar a mente e
os pensamentos… O que começa a ficar nítido é que esta tentativa de
controlar pode ser um esforço em vão.
Se fosse possível verdadeiramente controlar os pensamentos, escolher,
decidir, provavelmente você decidiria estar sempre feliz, sempre animado,
decidiria ficar sem preocupações ou ter todo o dinheiro do mundo,
escolheria os pensamentos que permitissem ter certas habilidades e faria
tudo o que quisesse, eliminaria crenças, escolheria certas emoções, não teria
outras, não seria impulsivo nunca, seria a pessoa mais amorosa, mais
pacífica, mais assertiva e perfeita ou mais rebelde do mundo, mas sabemos
que isso não acontece desta forma.
Toda a tentativa de controlar a Vida é em vão e gera sofrimento.
Sofrimento é a não aceitação do que é a Vida, é uma não aceitação mental
de que as coisas deveriam ser diferentes para “eu” ser feliz ou ficar mais
satisfeito agora.
Eis o equívoco básico: ter a certeza (crença inconsciente) de que “eu sou
fulano de tal, tenho controle sobre mim e sobre a minha vida, sobre o que
penso e faço”. Isto é a ilusão original ou o pecado original relatado na
bíblia.
O “eu-fulano de tal”, a partir de agora, começará a ser enxergado de
forma mais lúcida e mais verdadeira. Lá no fundo, aquilo que se chamava
de “eu” é apenas uma historinha armazenada mentalmente, elaborada desde
a infância como falamos várias vezes anteriormente.
O equívoco básico é: “Eu sou um fazedor individual autônomo, sou
independente do mundo, do universo, estou separado da Consciência e
tenho livre escolha dos pensamentos e, portanto, sou responsável e controlo
minha vida”.
Ao existir o reconhecimento de que não sou “eu” que penso, mas que
pensamentos surgem, de que os estados emocionais simplesmente mudam
naturalmente ou acontecem aleatoriamente como um vai e vem da natureza,
assim como ondas no mar, esta falácia básica de que “eu estou no
controle” começa a ser revelada.
MOMENTO DE CLAREZA

Importante por enquanto: não tente acreditar simplesmente, ou


não desacredite estas palavras se elas lhe soarem paradoxais e
insanas! Não se quer aqui implantar mais uma crença. Investigue por
si só e busque suporte nos mestres despertos que apontam para esta
Visão. Conheça o que sempre disseram Ramana Maharshi,
Nisargadatta Maharaj, Papaji, Jean Klein, Ramesh Balsekar e muitos
outros Seres completamente libertos do sistema ilusório da mente.
Conheça o que dizem atualmente, de muitas formas e níveis, Mooji,
Gangaji, Eckart Tolle, Bentinho Massaro, Jeff Foster, Wayne
Liquorman, Lisa Cairns, Adyashanti, Burt Harding, Tony Parsons,
Leo Hartong, Nathan Gill, Greg Goode, Rupert Spira, Richard
Sylvester, Candice O’Denver, Joey Lott, Francis Lucile, Sailor Bob
Admansor, James Braha, James Swarts, Satyaprem, Sambodh Naseeb
e muitos outros.
Procure por Vedanta, Advaita Vedanta, Neo-Advaita, Radical
Advaita, Non-duality. Procure por Self-Realization e verá que todos
apontam para o mesmo “lugar”, pois ensinam a partir da Verdade, da
realização plena da natureza da Mente Pura, da Consciência.

Em resumo: você-corpo-mente não é uma entidade separada da


Consciência do Universo, você não é um controlador independente, um
pensador/fazedor individual. Ou seja, você não é aquilo que pensava que
era!
Mas des-cubra por si só!
O que é o Eu na sua experiência agora? Sinta esta lucidez consciente que
observa o corpo aí sentado…

A Consciência está nítida neste instante? Note a Consciência agora!


Você não é aquilo que pensa que é

Se alguém perguntar “quem é você?”, tudo o que você dirá terá relação
com a memória aprendida. Tudo o que você sabe sobre sua identidade e sua
personalidade foi construído ou desenhado pelos pais, educação, modelo
social, religiões etc. Suas experiências, seus erros, acertos, estudos, leituras,
viagens, ideias de mundo, cultura… construíram uma mente subconsciente,
agora invisível, mas que sustenta a personalidade. O processo subconsciente
foi implantado através de rótulos, de pensamentos adestrados e é sustentado
por crenças invisíveis. Tudo isso, como já vimos, se tornou a ideia “você”.
O passado se tornou sua personalidade aprendida e, consequentemente, a
imagem que se tem do “eu”. Nada disso é Você. Nada disso é o Eu
Verdadeiro.
O Eu-Sujeito da vida que tem o poder de viver, de ser, que tem o dom da
cognição, a faculdade do saber e do conhecer é a Consciência e não o
corpo-mente-cérebro, o suposto você!
O “eu” costumeiramente referido na linguagem coloquial é o corpo-
mente-DNA agindo automaticamente a partir de uma programação
software-mente-intelecto. O “eu” referido nas nossas vidas sociais é o
intelecto e o corpo que traz um senso de estar separado e de pensar por si
só. Isso não é o Sujeito Eu Verdadeiro!
O senso e a certeza de ser o corpo começou a ser programado na infância.
Uma criança quando nasce ainda não tem uma programação mental e social
de hábitos e costumes***.
Um recém-nascido é desprovido de pensamento e do senso de identidade.
Não tem ideia de separação, de ser humano, de ser um bebê. Não existe a
identidade “eu”. Ali não possui o senso de “eu nasci”, “eu sou o corpo”,
“aquela é minha mãe” e “aquela lá, longe, é a lua”. Nada disso foi inserido
ainda na programação atual!
Assim como numa floresta, o animal não sabe que é um macaco, a árvore
não sabe que é árvore e o pássaro não escolhe ir para a direita ou para a
esquerda; tudo está acontecendo naturalmente conforme o fluxo da
Natureza-Consciência. Os planetas estão girando, as flores desabrochando e
o sol iluminando…
Da mesma forma, como numa mata, a vida humana se dá naturalmente
pela pura Presença da Consciência-Vida: o ser humano está vivendo, os
hormônios estão sendo produzidos, a respiração acontecendo, a endorfina e
todos os hormônios estão sendo produzidos, os cabelos estão crescendo, o
coração batendo, o rim filtrando, os pensamentos surgindo, a mente
saltitando e as ações acontecendo… Nas cidades, nas empresas, assim
como em uma selva, tudo está apenas sendo; um infinito gerúndio…
Contínuo…
Um viver está acontecendo a partir da Fonte-Consciência. A criança
recém-nascida, portanto, não tem senso de separação, não tem “ela”, não
tem sol, não tem outro. “Ela”, como já se disse e vale reforçar, é só um
rótulo-pensamento ainda não programado. Ali, no bebê recém-nascido, está
acontecendo uma experiência única e indivisível por causa da ausência de
rótulos. É a Consciência olhando pelos olhos onde simplesmente tudo é
Um. Apenas uma “experiência” de não separação, não-dual (não há dois).
A palavra “criança”, portanto, não existe na mente, pois “bebê” é a visão-
mente do adulto. Daria para dizer que aquela vida, nas palavras do adulto,
está criançando. A vida está vivendo…
Na medida em que a mente-bebê começa a desenvolver-se, os pais já
condicionados na visão equivocada do mundo, na percepção limitada pela
mente, começam a ensinar o que aprenderam: ensinam a dualidade, a
divisão. Por terem uma visão condicionada à separação, aos rótulos e às
crenças; uma visão social e de mundo começa a ser transferida. Começa um
implante de informações naquele novo HD-software que estava em
“branco” (sem considerar aqui o condicionamento de genes, do
inconsciente coletivo de outras vidas).
A palavra “Joãozinho” é ensinada, a palavra “eu” é ensinada e se torna:
“eu sou Joãozinho” e “este é meu dedo”, portanto, “aquele é você papai,
separado de mim…”, “eu não sou você”, “eu sou diferente de você”.
Perceba que “eu”, “você”, “meu”, “teu”, são só palavras, rótulos, que
começam a gerar o senso de separação e de identidade. É-lhe programado o
que deve e o que não deve dizer ou fazer… O que é bonito ou feio e de
como as coisas são. À medida que a mente-intelecto vai se desenvolvendo,
é ensinado ao serzinho que agora ele é “João” e que certas atitudes devem
existir e, portanto, uma visão de mundo começa a ser imposta como
verdade.
Aquela Ingenuidade-Pureza começa a ser condicionada a certos padrões
culturais e informações. A mente começa a operar com velocidade o
processamento desses dados implantados. Portanto, pouco a pouco, a
criança começa a fazer o que os pais ensinaram e o senso de “eu sou o
corpo” fica evidente e em primeiro plano o tempo todo.
Pais no piloto automático, ignorantes na Verdadeira natureza do Ser, não
ensinam o que desconhecem, ou seja, não ensinam o que estamos
abordando desde o início neste livro. Jamais irão dizer: “Você não é o
corpo” ou “o corpo é percebido pela Consciência”. “Consciência é o que
você é de Verdade”. Nada disso! Jamais diriam isso! Esta Visão sutil e
profunda da Consciência fica velada, fica em segundo plano, e esta
obviedade deixa de ser notada por causa do filtro mental imposto à criança
chamado crenças.
Toda a programação “eu sou o corpo” e “isto é meu” ou “sou estou
separado do mundo” fica cada vez mais forte, não sendo percebida como
pensamentos irreais, torna-se uma crença cega.
Portanto, já está ficando mais claro o motivo pelo qual os mestres
despertos afirmam: “Você não é o que você pensa que é!”. O que pensamos
a nosso respeito foi ensinado equivocadamente… Um erro básico de
compreensão sobre o que é o Eu.
Um erro primordial, primário, na origem da programação mental, mas
que compromete absolutamente toda a Visão sobre Aquilo que somos.
Você não é a programação, pois o Eu não é a mente, não é o intelecto, não
pode ser os pensamentos programados. O “você”, aquele “eu” ensinado, é
só um rótulo para o corpo. Você não é as emoções que são apenas
energéticas corporais que vêm e vão. O Eu real não é o corpo, pois tem
Algo consciente do corpo. O funcionamento do corpo está acontecendo
independente do pensar, independente do intelecto e do que se pense a
respeito do que somos. Existe uma Inteligência anterior aos pensamentos e
à ideia de “eu sou o corpo”, existe uma Inteligência que está conduzindo
isto tudo silenciosamente.
Nesse sentido, tudo aquilo que “você” pode falar a “seu” respeito, se
precisa da memória, se precisa do intelecto, não é o Eu. Você estava vivo
antes da programação. O comportamento é programado, não é Você, pois o
Eu verdadeiro estava vivo antes de a personalidade ser moldada.
Perceba o corpo-mente-comportamento sendo observado agora!
O que é Isto que testemunha o corpo-mente?

Portanto, tudo o que você falar sobre si, se tiver qualquer aspecto do
passado, não pode ser o Eu. Você já estava aí antes de a historinha “eu-
comportamento” ser desenvolvida pelos pais e ser moldada pela sociedade.
Você não é aquilo que pensa que é!
O convite é sempre o mesmo: Agora, há consciência de estar consciente?
Sinta a Consciência!
A verdadeira identidade

Aquilo que neste instante, aí, traz o senso de existir, esta sensação aí de
que “eu existo”, não é o corpo, é a Consciência! É Isto que é o Sujeito
Criador da Vida. É Isto que é o Eu Verdadeiro, o Sujeito da experiência. O
Eu Real é Aquilo que Vê. O senso de Estar consciente, que é a Consciência,
jamais pode ser identificado ou localizado objetivamente, só pode ser
intuído.
Você, ou o Eu de Verdade, é Isto que está consciente Agora, aí!
A novidade é que esta Consciência Lúcida que percebe estas palavras não
vem do cérebro e não está restrita ao corpo. Por isso, o Eu não se refere a
nenhum órgão, nem ao organismo biológico ou à personalidade.
Há ou não há um Senso de Existir aí, agora? Sinta, perceba e reconheça
Isto. Note este Senso de Existir agora…

Todo o “apontamento” que se faz aqui é para indicar e reconhecer esta


Verdade e serve para afrouxar a mente um pouquinho da crença “eu sou o
corpo e o comportamento”.
Toda esta insistência é para que, pouco a pouco, a crença se desfaça ou
que essa afirmação “eu sou o corpo e minha história” seja notada
instantaneamente como uma falácia por causa apenas de uma identificação
equivocada.
Ficará mais e mais evidente que a crença “eu sou o corpo”, mesmo
existindo, se torna transparente, nítida como sendo parte da experiência,
mas nunca como a verdadeira identidade. Dito de outra forma, o “eu-
personalidade atuando em minha vida prática” permanece, mas também é
notado de forma pura pela Consciência-Essência. Em outras palavras, o
personagem-eu-comportamento é percebido, em um primeiro momento,
com distanciamento pelo Eu-Consciência.
A Verdadeira Identidade, portanto, é o Ser, não o humano! O humano é
visto pelo Ser-Consciência. Perceba consciente e silenciosamente o
humano-comportamento sendo testemunhado…
Perceba também o Silêncio do Ser agora…

Verifique na sua experiência por alguns instantes:


Isto que é o Senso de Eu, que está Aqui, Aí, Agora não vem do corpo.
Este senso de estar vivo, o senso de viver, é a própria Consciência Pura
Ilimitada, sempre presente. O senso de eu sou e existo é o Eu aí…

Ou, simplesmente: o Eu é Silêncio, é Consciência, é o Conhecer, é o


Saber, é o Agora. Eu é Puro Vazio, que independe deste aparato biológico
chamado corpo.
Testemunhe Isto, o Eu, Agora…

Importante reforçar: este reconhecimento desta Presença-Consciente-Eu


é intuitivo, experiencial. Só pode acontecer agora e nunca é um
entendimento mental. Não pode ser pensado, só pode ser sentido, vivido,
experienciado.
Reconheça agora, sem pensar: o que sou Eu de verdade?
Reconheça a Verdadeira Identidade como Consciência Silenciosa
agora…
Intuição – O Fluxo
(a resposta está “dentro”)

Já ouviu dizer que a resposta está em você?


Como fazer para ouvir a intuição?
A verdade sobre a natureza do Ser ou sobre a verdadeira Identidade está
“dentro”. A bússola para fluir na vida é interna e, se soubermos ouvir além
da mente, desenvolveremos uma clareza indubitável. De maneira geral, a
linguagem da Consciência é intuitiva; vem através de vislumbres ou em
blocos de compreensão, ou seja, em um instante “você saca” sem
necessidade de gastar tempo pensando.
A intuição é diferente de um pensamento. É um sentir sem pensar. A
percepção intuitiva não é como o processo racional no sentido de acessar
memórias do passado que vêm de experiências ou de aprendizados.
É preciso estar aberto, silencioso e vir para “dentro”. Estamos falando de
buscar na Intuição alguma inspiração ou direção. A mente racional vai
entrar na tradução de qualquer inspiração; ela vai transformar a intuição em
pensamentos e vai organizá-la em sequência, mas a intuição vem antes. No
momento em que a mente entra na tradução, é preciso ficar alerta para
perceber se a mente não está trazendo uma crença na forma de dúvida,
crítica, ceticismo, medo ou negação. A mente é assim: ela burla a intuição e
sobrepõe seu condicionamento antigo de forma voraz.
A intuição pode revelar-se como uma conversa íntima em que o diálogo
interno acontece, mas de forma silenciosa, atenta e muito simples. O surgir
da inspiração, nesse caso, não é denso; é sutil como se estivesse em uma
vibração mais elevada. Como se estivesse acima do nível do pensamento
convencional em uma forma de mensagem, ideia, que requer um sentido
mais aguçado.
A base mental para a intuição/inspiração ser notada com mais facilidade é
um nível de Presença mais Consciente. É importante estar fora do piloto
automático da mente ou fora do colapso nos pensamentos. É necessário um
estado de alerta mais puro. A Intuição está além do carrossel de
pensamentos!
É possível treinar ouvir a intuição, por exemplo, fazendo uma pergunta
sobre uma decisão que você precisa tomar. A intuição é como seguir o fluxo
do coração. A partir do sentir, o processo de intuir acontece de forma tão
instantânea e natural que em um primeiro momento pode até surgir um
autoquestionamento: “Será que isso não está vindo da mente?”, “isso é a
mente ou a intuição?”.
Com a prática, começa-se a ficar nítido que, quando é intuição, a
resposta não vem da memória, pois ela é reveladora; é uma convicção que
não tem explicação. Ela traz uma clareza que faz sentido, mas que antes não
existia. É surpreendente no início, mas é tão espontâneo que não dá tempo
de gerar dúvidas.

MOMENTO EXPERIENCIAL

Teste isso pouco a pouco. Por exemplo: tome um breve momento


de Presença agora.
Respire fundo, solte os pensamentos e reconheça que agora a
Consciência está alerta e que não é pensamento. Note isso por alguns
segundos.
Leve a atenção ao centro cardíaco, aí no peito, e repouse a atenção
aí, mais e mais fundo.
Tome um momento de Presença consciente.
Então, faça uma pergunta e, sem expectativas, comece a responder
a si, em voz alta, o que você sente internamente sem duvidar e sem
parar; apenas siga o fluxo das palavras que surgem. Deixe fluir por
alguns minutos mesmo que não faça sentido no início. Brinque com
isso! Não duvide. Apenas seja espontâneo e natural. Se quiser, você
pode gravar um áudio ou digitar no computador.
No início, haverá dúvidas: a mente vai entrar questionando e
distorcendo. Esteja aberto e leve, pois é assim mesmo.
Vá fazendo mais e mais… Estar presente conscientemente é
fundamental para começar a ganhar confiança em ouvir a intuição****.

Se eu pergunto, quem responde?


Eu
Como assim?
Veja: primeiro é importante relembrar de distinguir os “eus” a quem
normalmente nos referimos:
Existe na nossa linguagem o “eu” que nós vínhamos vinculando ao eu-
personalidade, ao eu-memória, ao senso de identificação com o corpo, esse
eu-mente, o que sempre trouxe uma noção de identidade a este corpo-
pensamentos. Melhor dizendo, é aquela ideia de que “eu” sou a “minha
história, meu comportamento e minhas crenças”, “eu sou este amontoado de
emoções e informações condicionadas ou represadas do passado”. O “eu”
que pensávamos que éramos não é o Eu real (assim como existem muitos
“Paulos”, existem “eus” nomeando diferentes “sujeitos”). O eu-mente não
é o Eu real, pois não tem vida; é apenas um conjunto de informações-
caracteres que são uma linguagem operacional do programa social e que
produzem comportamentos-personalidade.
E existe o Eu-Essência-Self com o qual estamos começando a
familiarizar-nos como sendo a Pura Consciência, aquilo que é vivo, a
Inteligência, o Silêncio, a Testemunha, o Senso de Existir… Isto é o Eu-
Real. Este é sutil, invisível, autoconsciente, sempre presente agora. É Isto
que está consciente destas palavras escritas e é a única Inteligência real que
tem o poder do Conhecer – a cognição vem do Eu-Consciência e jamais do
eu-mente-corpo.
Perceba este senso de existir-Eu agora… a Consciência-consciente.

Uma metáfora para clarear:


Aquilo que somos (Eu-Consciência) é como se fosse o céu, o espaço ou a
rede de internet que está em tudo e que interliga via wireless todos os
computadores/smartphones (mentes-indivíduos). A Consciência, portanto,
“contém” todas as informações, pois ela é toda a rede.
Já a personalidade-corpo-mente é como um computador/smartphone que
roda um programa interno e está conectado à rede, mas que tem seu próprio
HD, seus aplicativos instalados e suas informações exclusivas armazenadas,
o que o torna único e aparentemente separado. O smartphone apenas pode
rodar os programas e informações baixados e instalados e assim os
processa, mais nada. Da mesma forma que um computador/smartphone, o
indivíduo-mente-limitada (o suposto eu) funciona metaforicamente
repetindo o programa.
Você poderia agora questionar: mas o ser humano tem inteligência, “eu
não sou limitado como um computador”. Claro, Você real não, mas a mente
sim!
Quando o vício de utilizar o intelecto ainda é parte do hábito, toda vez
que se usa o processo do pensamento (por ignorar a Consciência-Rede-
Intuição), acessa-se o próprio HD e os próprios aplicativos na busca por
respostas. As respostas que vêm deste nível são, portanto, “viciadas”,
antigas, frutos dos programas instalados, e, portanto, cheias de limitação.
As respostas vindas do programa são as interpretações mentais e
emocionais vindas das histórias/estórias e imagens/pensamentos gravados,
como já falamos anteriormente.
Com o aumento de reconhecimento da Consciência, é possível que as
informações ou insights venham de forma diferente. É como se a inspiração
viesse da rede e não mais do HD local. O que se está dizendo aqui desde o
início é que Aquilo que somos em essência é a Rede-Céu-Consciência que
tem acesso a outro tipo de dados que não a informação exclusiva do HD
limitado.

MOMENTO DE CLAREZA E DE APROFUNDAMENTO

Na vida prática, “acessar” informações da mente-não local-rede


(Consciência) não é exatamente como ir a uma biblioteca. Não é
como intencionar aprender sobre física nuclear ou qualquer conteúdo
aleatório de algum livro que nunca se leu para aprender qualquer
tema. Não é exatamente assim. O acesso à intuição é espontâneo,
natural, involuntário, simplesmente vem a inspiração que tem de vir
em cada momento.
Claro que já existem técnicas de canalização em que para algumas
pessoas já é possível fazer download de informações, mas este é
outro tema para outro momento (procure, por exemplo, ThetaHealing
se quiser se aprofundar mais).
Em última instância, não é você-mente condicionada-HD local
que escolhe as informações. Lembre-se disso! É a Consciência em
um fenômeno de sintonia natural do fluxo do universo que traz,
através de inspiração, algumas informações necessárias que são
condizentes com a frequência-sintonia de cada corpo biológico. A
intuição é como uma antena de rádio que está sintonizada em uma
faixa de comprimento de onda e acessa certa estação.

Na analogia é como se esse organismo corpo-mente, nesta genética-DNA


e processo mental único, conseguisse sintonizar como uma antena ou
como um telefone celular que tem um código único, que permite receber as
chamadas condizentes com a sua frequência.
Quando uma mensagem surge, ela pode vir na forma de pensamento do
HD local (mente programada), que é o que em geral acontece, ou da Rede
(como inspiração). Claro que se for uma inspiração, mesmo assim ela
precisará ser traduzida em pensamentos e é aí que poderá surgir distorção e
dúvida. A tradução em pensamentos se faz necessária para que a
compreensão prática aconteça. É nesse instante que o nível de Presença
consciente é muito importante e necessário para diminuir as distorções das
crenças (programa).
A informação da Rede vem sempre em uma linguagem universal-
intuição, mas é como se a mente-local-limitada traduzisse em um idioma
mais simples para ser possível de ser compreendida neste nível de
realidade. As informações, portanto, sempre serão uma fração da Realidade
Última, pois a mente humana vai sempre transformá-la em símbolos-
pensamentos.
É como ensinar algo complexo para uma criança no jardim de infância: é
necessário resumir, descomplicar e tornar bem simples para a compreensão
ao menos acontecer em um certo nível-HD. Portanto, a compreensão nunca
é do todo quando a tradução mental acontece no nível de software-HD.
Portanto, lembre: tudo que você-corpo-mente “sabe” hoje está limitado.
Não existe compreensão última no nível da mente. Perceba isso! E este é o
motivo da insistência até aqui em descolar do intelecto, pois a mente
sempre mente.
Mas, à medida que a abertura ou o nível de Consciência-Presença se
amplia, pouco a pouco muda a vibração e acontece a possibilidade de
aprofundar a compreensão e, portanto, níveis mais elevados de Visão-
Intuição começam a surgir. A partir daí, serão traduzidos pela mente num
nível energético mais elevado e um pouco “mais próximo” da Realidade
Última. Em outras palavras, quanto mais limpa a mente, mais pura chega a
informação, pois será menos poluída pelas crenças.
O perguntar e o responder no nível da Rede acontecem de forma fluída; é
diferente! Na experiência prática, quando se investiga, aparentemente, a
resposta vem do mesmo lugar no qual a pergunta foi feita: do vazio da
mente. Na verdade, vem sim do mesmo lugar, pois tudo é Consciência
Pura, mas não surge na forma de pensamentos.
A resposta vem, portanto, da Consciência Ilimitada-Rede para a
Consciência limitada pela mente-corpo biológico. É como se a Consciência
mente-limitada (este corpo-mente) perguntasse para Ela mesma (Rede
Ilimitada) a fim de obter uma resposta mais profunda da qual viria do HD.
Isso atualiza o programa e amplia as informações do próprio HD. Acessar
conscientemente a intuição é como se estivéssemos colocando uma porta
wireless na mente e acessando nova abertura de Visão.
Da mesma forma, por mais curioso que isso pareça, se soubermos fazer a
leitura certa, o recebimento de informações ou a inspiração poderá vir de
outro ponto da Rede: de um amigo do seu relacionamento pessoal, por
exemplo.
Ao perguntarmos uma informação para qualquer pessoa do convívio
social, a resposta que virá será de um determinado nível de consciência.
Cabe intuirmos se o que vem de informação da pessoa vem de sua mente
condicionada ou é realmente uma orientação/inspiração que chega para
você. Saber ler os sinais que a vida nos traz por meio das pessoas e
situações é também um tipo de intuição. Importante lembrar: qualquer
pessoa que interage com você é uma mente limitada-gene-HD, mas dentro
da Consciência-Rede.
Por exemplo: quando por curiosidade você busca informação com um
amigo, na verdade, você e ele são a própria Consciência interagindo. Ou
seja, a Consciência na forma da mente-limitada-você está perguntando
para ela mesma (Consciência), mas em outra mente- limitada-amigo.
Dependendo do nível de Presença-Consciência sua e do amigo, a
informação que chega a você por meio dele também pode estar vindo da
Rede. Portanto, perceba que a inspiração pode vir de todos os lugares. É
importante também saber ler esses possíveis sinais com sabedoria e clareza.
Da mesma forma, se você, por meio de um pensamento que lhe surgiu,
pede, por exemplo, uma sugestão de livro a alguém, repare que esta pessoa
é a própria Consciência na forma de outra-mente-limitada. É a
Consciência quem sugere a você-mente-limitada um novo nível de
conhecimento por meio de um novo livro cujo teor da informação será
compatível ao seu nível de consciência e ao do amigo. Portanto, observe:
qualquer conhecimento que chega até você é a Consciência em diferentes
níveis de informação. Qual o tipo de informação que vem chegando até
você?
Neste instante, por exemplo, como está o nível consciência-Presença aí?

Se a Presença-Consciência estiver mais nítida, mais óbvia em


determinado organismo corpo-mente, o livro indicado será de tal forma que
trará informações de uma vibração mais elevada. Comece a perceber,
portanto, em que nível está o reconhecimento consciente da Consciência
agora? Perceba a Presença nítida agora.

Portanto, pergunte-se: quem indica o livro? Quem traz as informações? A


Consciência! Para quem? Para a própria Consciência (apenas
aparentemente em corpos diferentes numa experiência-mente limitada).
Em outras palavras: todos são a rede de Pura Consciência em que o jogo
da vida surge como várias mentes limitadas alimentando com informações
umas às outras por meio de dados, sabedoria e visão que são a própria
Consciência (a rede nesta metáfora) manifestando-se em múltiplos níveis de
informação.
Surgem, portanto, desde informações com frequências mais baixas
(informações aparentemente mais densas – para aquele tipo de organismo-
corpo-mente compatível) até informações com frequências mais elevadas
(compatíveis com outro tipo de organismos-corpo-mente). Mas observe:
toda e qualquer informação, em realidade, qualquer aplicativo baixado, vem
Rede-Consciência. A Rede-Consciência se desdobra em suas multifacetas e
multipossibilidades nesta “aparente” experiência de separação. Na verdade
existe uma única Consciência unindo tudo como a plataforma onde o todo
existe – o Vazio-Consciência permeia e cria tudo.
Quaisquer respostas, portanto, vêm do Eu (Consciência) para o Eu
(Consciência), seja através da Intuição, seja do HD (mente limitada–eu-
João), seja interagindo com outros (mente limitada-amigo). Quando trocas
de informações são apenas de HD para HD, existe ainda inconsciência da
Consciência em que as “pessoas” estão ainda dormindo dentro do sistema
limitado da mente. Ou seja, nesse caso, o despertar para a Mente Infinita-
Rede ainda não aconteceu!

MOMENTO DE EXPANSÃO

Até mesmo os chamados guias de outros planos, ou seres


multidimensionais que algumas pessoas dizem conectar, são uma
manifestação mais elevada da Consciência-Cósmica assim como eu-
mente-limitada nesta experiência vida-matéria. Portanto, nesse
exemplo, a intuição vem também da própria Consciência de um certo
nível para outro nível de percepção. Tudo é Rede-Pura Consciência
em última instância.
A Intuição é, de alguma forma, a Consciência falando com ela
mesma de forma mais pura e com menos filtros. Claro que, nesse
exemplo acima, a informação não vem do intelecto físico, e sim de
outro plano na Rede, mas tudo, tudo na realidade, sou Eu
Consciência. Perceba isto!

Por isso, fala-se tanto em buscar as respostas dentro de Nós mesmos. De


certa forma, tudo está acessível, dentro da Consciência!
O que acontece na vida prática é que, quando existe uma maior Lucidez-
Presença-Consciente, outro tipo de interação com o mundo passa a
acontecer. Ocorre uma interação mais sutil, um outro Olhar/Percepção
surge. É como um novo modus operandi que começa a ser reconhecido
como possibilidade de compreensão e de Visão além do intelecto, além das
informações que vêm dos livros já escritos, além das universidades. O
mundo e as Verdades passam a ser compreendidos intuitivamente, não mais
mentalmente.
É como se se acessasse direto a fonte de todos os dados (Rede-
Consciência) em seus multiníveis e infinitas possibilidades, mas
incompreensível pela nossa mente-limitada-HD. A mente-limitada-HD, que
já estamos descobrindo, não tem vida própria; é apenas um gravador com
muitas informações armazenadas, mas sem inteligência cognitiva. A mente
é apenas uma “inteligência” de processamento de dados armazenados (QI-
intelecto).
Já a Intuição é a bússola do novo mundo. É a guiança mais pura da
Consciência para um viver mais pleno, sábio e amoroso neste novo
momento da humanidade.
Para aflorar mais e mais a intuição, investigue: existe aí consciência da
Consciência silenciosa agora?
Autoconhecimento real

O que normalmente se chama de autoconhecimento está relacionado,


acadêmica ou culturalmente, como sendo conhecer a personalidade ou a
psiquê, ou como sendo entender de que forma os comportamentos afetam a
vida das pessoas. Esse é um resumo rápido, é claro, da ideia que
normalmente se tem a respeito do autoconhecimento. A partir deste ponto
de vista se buscam cursos de melhoria, trabalhos psicológicos e
terapêuticos, livros, religiões, espiritualidade etc.; todos com o intuito de
“conhecer a mim”. Para a mente condicionada portanto, autoconhecimento
tem a conotação de compreender comportamentos, tendências, emoções,
crenças etc.
Autoconhecimento nesta visão acima, em geral, tem a ver com conhecer
o porquê de certas atitudes desejadas e indesejadas. Tem relação com
entender como a “sombra” do comportamento faz “estragos” nas relações
com o mundo ou com familiares, por exemplo. Muitas vezes, quando se
passa por quadros de tristeza, vem a tentativa de descobrir-se a origem desta
tristeza. Ou, ainda: “Por que não consigo aquilo que quero?” ou “se
consigo, por que não consigo manter o que adquiri?, “qual o caminho para a
felicidade?”, “por que tenho tantos altos e baixos emocionais?”, “por que
tenho picos de felicidade e depois os perco?”, “por que estou desanimado
com a vida?”, “como faço para me tornar próspero financeiramente?”,
“como posso me encontrar?”, “por que não encontro a pessoa certa?”.
Tudo isso e muito mais, de maneira quase infinita se pode dizer, norteia o
que se chama corriqueiramente de busca pelo autoconhecimento ou pela
evolução pessoal. Poderíamos continuar citando exemplos, mas você já
entendeu o ponto aqui.
O que estamos chamando de Autoconhecimento aqui nesta abordagem da
Visão Pura é completamente diferente e é possível afirmar que não tem
nada a ver com isto tudo citado acima.
Nada? Absolutamente nada? Não, não tem a ver em hipótese nenhuma! O
Autoconhecimento, nesta Visão, aponta para outro lado.
Não se está dizendo que buscar as respostas para as perguntas acima seja
algo que não deva ser feito. Também não é isso! Não há problema algum
em alguém insatisfeito com as questões práticas da vida tentar melhorá-las.
Está tudo bem neste sentido.
Perceba que a busca por este “autoconhecimento” no nível do
comportamento e da melhoria na vida prática, por algum motivo, em algum
momento, também não preenche mais. A melhoria pessoal não traz
completude verdadeira porque em alguns casos, após muito trabalho de
correção e ajustes comportamentais, ou após atingir a estabilidade e o
sucesso material, ainda existe algo que está faltando.
Talvez, após anos de evolução e autoconhecimento, seus problemas
psicológicos que foram objetos da psicoterapia já tenham sido resolvidos ou
talvez algum estilo terapêutico nem tenha surtido efeito definitivo. Em
algum ponto, cedo ou tarde, nesta caminhada de autoconhecimento, vai
surgir um próximo desejo que será o de buscar por “algo mais”. Este algo
mais em muitos casos pode transformar-se em uma “busca pela
espiritualidade”, por algo místico, transcendental ou intangível.
A busca pelo crescimento espiritual, até então, costuma ainda estar
muito ligada às religiões convencionais ou à tradições que, em muitos
casos, prometem também melhoria ou alívio do sofrimento na vida prática.
Algumas delas promovem estados de êxtase ou prometem iluminação
espiritual, purificação, ascensão, um encontro com deus, mas geralmente
tudo isso gera uma expectativa para que algo sublime aconteça “comigo”
em algum momento no futuro.
Quando aqui abordamos este tema do Autoconhecimento, estamos
apontando para algo ainda diferente disso tudo…
Este Autoconhecimento não está relacionado à personalidade e a padrões
da mente, e também não está relacionado às questões religiosas tradicionais.
Lembrando que não se está condenando nada disso, pois tudo está na mais
perfeita ordem ou no ritmo da vida que existe para o momento atual da
humanidade.
Aqui nós vamos além dos conceitos, mas vamos tornar o
Autoconhecimento mais simples e, ao mesmo tempo, mais profundo.
O que vamos chamar de Autoconhecimento a partir deste ponto é
conhecer ou reconhecer a Si mesmo.
Re-Conhecer? Sim, reconhecer, porque já está aí… Não está distante. O
propósito é simples: reconhecer.
Para isso, você poderia perguntar: o que devo fazer para reconhecer a
mim mesmo?
Bom: aqui vai uma dica fundamental nesta Visão: é preciso quebrar
aqueles padrões mentais antigos, como já estamos vendo, para aos poucos
desfazer ou desconstruir um monte de conceitos preconcebidos de como
viver e o que se fazer para atingir resultados.
Esta abordagem propõe um rompimento com o passado e é como optar
por um novo modo de funcionamento, por um novo olhar, ao invés de se
adquirirem conhecimentos.
Esteja aberto a quebrar, mais e mais, muitos dos conceitos ensinados pela
escola, pela sociedade, por muitos livros que você leu, pelos professores,
mestres, religiões e tudo mais que foi a base do conhecimento atual. Este
tema aqui pode ser radical!
Voltamos à pergunta então:
Como fazer para reconhecer a mim mesmo?
Você não pode fazer nada (risos)! Aqui começa até a ficar engraçado se
você assim perceber e permitir. Esqueça toda a tentativa de aprendizado
baseado no fazer… Este reconhecer não tem nada a ver com fazer. Por
isso, dizemos que é um novo modo de percepção no dia a dia.
Mas vamos pouco a pouco:
Quando se diz que não se pode fazer nada, significa que a mente não
pode tentar fazer um exercício e que não existe uma prática
convencional. Não é como se faz em qualquer outra área do conhecimento:
para desenvolver um hábito novo, novas ações; para adquirir-se uma nova
habilidade, novos afazeres e novas atividades. Neste caso, não é assim.
Este não fazer traz uma mudança radical na forma de interação com o
mundo. Estamos falando de um aspecto da vida que se abre, um aspecto
silencioso, como um canal de novas possibilidades de compreensão, de
Visão, de atuação ou de não ação.
O intelecto está acostumado a traçar um plano, a imaginar os passos a
seguir, a planejar medidas futuras para alcançar um objetivo e a tentar
controlar ou a antecipar possíveis problemas para aumentar a chance de
sucesso. Assim vinha funcionando até aqui e aquele que não conseguia ou
não sabia fazer isso “fracassava”.
Mas, agora, vamos abrir-nos para uma nova possibilidade!
Conhecer a Si mesmo baseado em tudo o que já foi dito aqui, ainda por
mais incrível que pareça para a maioria, não tem a ver com o conhecer do
intelecto (mais uma vez). Não tem a ver com conhecer no sentido de
armazenar conhecimento, definitivamente não. Conhecer significa um
reconhecer ou um conhecer no sentido de dar-se conta, de intuir ou,
simplesmente, de passar a saber instantaneamente, mas sem estudar, sem
gastar tempo ou qualquer tentativa de memorizar a informação.
O que vai começar a ficar nítido no Autoconhecimento é que o
conhecimento convencional não será exigido como sempre foi. Claro,
vamos precisar utilizar a linguagem para possibilitar que este reconhecer
surja, mas você verá que não é um fazer.

MOMENTO DE CLAREZA

O conhecimento armazenado pode, em algum momento, ser útil, e


será, desde que esteja alinhado com esta informação aqui. O
alinhamento de informações também é necessário e acontece
naturalmente. Os pontos vão se ligando, a mente-memória vai ser
usada eventualmente, é claro! Se assim não fosse, teríamos sempre
que começar do zero, o que nos faria perder um tempo danado
(risos)!
Você notará, ou talvez já tenha notado, que a repetição de palavras
e o apontamento insistente para esta nova Visão de vida precisa
acontecer neste livro. Esta abordagem exige repetir, tornar a falar,
clarear mais e mais, aprofundar aos poucos, voltar ao tema anterior,
aprofundar novamente… Tudo isso é fundamental para afrouxar a
mente e para que este reconhecer aconteça aí na sua experiência (e
saiba: provavelmente este reconhecer não termina com este livro,
pelo contrário, ele está sendo apenas um gatilho para a Visão
estabilizar-se pouco a pouco).

Quando se fala em não fazer, portanto, fala-se em deixar fluir sem uma
agenda prévia, sem esforço, sem ter que fazer um exercício mental ou
seguir um passo a passo do tipo “como fazer para…”.
Mas por quê? Porque o Autoconhecimento ou Conhecer a Si implica
começar a des-cobrir o “Si”, ou seja, o Eu. E aqui podemos dizer que este
Eu que estamos falando (do AutoConhecer) não pode ser visto. Não pode
ser aprendido porque ele já está aí, agora, o tempo todo, e sempre
esteve… E por ser óbvio demais que, aparentemente, “perde-se” a visão de
Si próprio.
É justamente o “conhecimento intelectual” e o “fazer” que impedem de
perceber o óbvio. “Conhecimento” e “fazer” não são necessários porque a
mente não tem capacidade de reconhecer essa Essência-Eu. Requer mais
um não fazer e não aprender, pois é algo não mental. É um tipo de
“descoberta”, porque utiliza outra “linguagem operacional”. É uma
interação com a vida a partir de outra dimensão do conhecer. Requer outro
“canal sensorial”, ou melhor, requer outro “sentido” (que não é um sentido
exatamente), pois não utiliza os cinco sentidos com os quais estamos
acostumados a perceber o mundo.
Investiguemos: você sempre esteve aí? Não? Então, como podemos dizer
“preciso me conhecer melhor”, é quase um absurdo, pois “eu sempre estive
aqui comigo” (risos)!
Saiba que, insanamente, “conhecer-se” de forma convencional sempre
significou conhecer aquilo que não era você. Por isso, o caminho sempre
esteve invertido. As pessoas quando tentam conhecer-se estão tentando
conhecer aquilo que elas não são: a personalidade. E essa é uma
matemática impossível… (risos).
O desvio acontece quando alguém tenta descobrir como é sua própria
personalidade, o motivo pelo qual age de certa forma: “porque tenho a
tendência de ficar triste às vezes”, “o que aconteceu no meu passado que
faz com que eu aja assim”, “como me aprimoro para me tornar uma pessoa
melhor”, “se eu mudo meu comportamento, logo estou me aperfeiçoando”,
portanto, “eu sou meu comportamento”, “se tenho relação direta com
minhas atitudes, sou esta personalidade aqui, sem dúvida!”, porque “quando
eu mudo as atitudes, me sinto melhor, quase sempre” (risos).
Tudo isto, perceba, é uma tentativa de melhoria. Mudar algo que não está
bom, corrigir-“me” para então ser melhor. Perceba, aquilo que está
implícito no autoconhecimento tradicional significa descobrir um gap na
personalidade para assim evoluir. Inclusive, alguns conceitos ditos
espirituais neste mundo reforçam essa ideia de evoluir e mudar para tornar-
se um ser humano mais completo, mais digno e sábio, com menos karma a
curar; de evoluir nessa vida para pelo menos ter uma próxima vida mais
elevada ou para merecer o reino dos céus… Mais uma vez: não há nenhum
“problema” com estas crenças, pois foram estas crenças tais como outras
que influenciaram invisivelmente, até aqui, o mundo prático. Estamos
apenas apontando para o fato de que este modelo de mundo acima
corresponde a pontos de vista, mas não é O Ponto Essencial do qual
estamos tratando. Apenas não é isto!
Portanto, nesta nossa abordagem, quando falamos em “conhecer a mim
mesmo”, precisamos colocar os pontos nos is.
O que é o “mim”? Ou, o que é o Eu?
Sim, a pergunta é “o quê?” e não “quem” sou? E isso muda tudo!
A palavra “quem” na nossa linguagem implica “persona” ou
personalidade. Implica comportamentos e lembranças do passado. Tanto
que quando alguém faz a pergunta “quem é você?” para um recém
conhecido, este irá falar algo sobre o seu histórico de vida: “Sou advogado,
José, filho de Patrícia etc.”. Dirá onde estudou, do que gosta e do que não
gosta. Se por acaso perguntarmos “como você é?”, diria “sou disciplinado
às vezes, preguiçoso em alguns momentos, organizado etc.”. Ou seja, o
“quem eu sou” relatado está ligado ao passado, não a este instante.
Por outro lado, se eu perguntasse: “Quem é você?”, mas dissesse que não
quero saber de seu histórico, seu nome, nem sobre seu comportamento, qual
seria a resposta? Pois é… Ficaria mais difícil de responder? Provavelmente
não se teria o que dizer de imediato, “pensar” um pouco mais,
provavelmente, precisaria pensar muito (risos).
Portanto, aqui já começamos a mudar o foco desta descoberta do
Autoconhecimento. Aquilo que seria dito de forma convencional sobre a
escola que frequentou, onde morou, seus hábitos e tendências não são você.
Não, de jeito nenhum, como já começamos a ver anteriormente.
Então, a pergunta mais apropriada aqui começa a ser “o que é você
então?”. Aí, a coisa muda de figura completamente…
Veja: se começa a fazer sentido que, Neste Instante, você não é seu
passado nem sua história, já está se iniciando o caminho do
autoconhecimento… Então, alguém poderia dizer: “Sim, eu sei do que você
está falando, ou sou alma, espírito, consciência…”.
OK, mas vamos mais devagar com a resposta, pois assim se cairia mais
uma vez na armadilha do “eu aprendi isso no passado” e “acredito nisso,
portanto, eu sei do que se está falando”. Dessa forma, volta-se para o
intelecto e se perde a verdade da experiência.
Este “apontamento” é mais simples e puro. Não precisa pensar, não
precisa lembrar do passado, nem coletar informações que “me disseram” ou
que “li em algum lugar”, não precisa fazer nada! Aliás, se fizer isso tudo,
está fora! Não é mais isso (risos)!
Existe Algo mais em toda a experiência (que é o Eu-Essência-Self) que
em geral não é notado. E ainda: este Algo mais é o mesmo na infância, na
adolescência, na vida adulta, ontem ou agora. Este Algo que é Você, que é o
Eu, está sempre aqui, sempre aí, não muda, nunca mudou… É sempre o
mesmo… Agora.
Sinta essa sensação de Eu, de existir, aí agora…

Este senso de existir é sempre o mesmo em qualquer experiência, nunca


mudou, mesmo que o organismo tenha mudado.

Vamos além:
Se alguém lhe perguntasse agora: “Ei! Você está aí?”.
Provavelmente acharia insana a pergunta e diria: “É claro, não está
vendo?”. A questão é justamente esta: Aquilo que somos não dá para ver,
não com estes olhos!
Se fosse perguntado: “Ei! Você sempre esteve aí?”
Provavelmente, a resposta seria: “Aqui? Neste lugar? Claro que não! Eu
cheguei faz meia hora!” (risos).
Aquilo que Você É sempre esteve aí, e mais: nunca mudou apesar de o
corpo ter mudado. Os pensamentos, sentimentos e aprendizados, estes sim
mudaram…
E se lhe perguntar: é possível notar que seu corpo mudou? Que os
pensamentos de hoje são diferentes dos pensamentos da infância? A
habilidade de hoje é diferente de dez anos atrás? Concorda?
“Claro que sim”, você responderia. É inegável.
Pois bem, tem Algo que esteve presente na infância vendo aquele corpo,
que esteve há dez anos e está presente agora… Este Algo que testemunhou
na época e que está observando neste instante não é o corpo! Há uma
Inteligência consciente aí, não há?
“Sim, mas é meu corpo, é o cérebro!”, você poderia dizer. Ou afirmar: “É
a minha mente, meu intelecto, minha razão!”.
Não! Não é o corpo, nem a mente! Apenas fique com essa ideia um
instante mais!
Veja: aquilo que é o propósito aqui (Autoconhecimento) vai continuar a
quebrar alguns paradigmas mentais como esses: “Eu sou o corpo” ou “sou
a mente”, mas não é preciso levar as afirmações contrárias a essas tão a
sério por hora… Assim como vem fazendo, apenas abrir-se para tal já é o
suficiente!
Existe Algo agora, aí, que está consciente deste instante?

É possível perceber o estar consciente na sua experiência, não é? Isto que


está consciente de que esta experiência de leitura está acontecendo não é a
perna, nem o braço, nem o cabelo, nem o rim, nem o nariz. Tampouco o
olho é consciente, nem mesmo o cérebro! Sim, o cérebro é um órgão
extremamente complexo, mas sem Inteligência própria, não tem
Consciência própria!
Isto que está consciente agora é o que estamos chamando de Self,
Consciência ou Eu Essencial (que não é o “eu-corpo”: João ou Maria). Isto
que está consciente agora também não é a mente e não são os pensamentos!
Sim, é uma Inteligência que já está acontecendo, sempre esteve presente em
toda a experiência, não depende do querer, nem da intenção e muito menos
requer esforço para acontecer… Reconheça Isto que é alerta aí… agora…

O Autoconhecimento Real é um reconhecer intuitivo de que Aquilo que


Sou é esta Presença-Lúcida-Consciente que está completamente alerta
agora…
O Autoconhecimento Real, ao mesmo tempo que reconhece agora esta
Lucidez que Sou, reconhece também instintivamente que “não sou” os
pensamentos, os sentimentos, as emoções e o corpo. Significa reconhecer
que tudo o que é visto ou notado é percebido por Mim, portanto, o que é
percebido “não sou eu”. Eu sou Aquilo que “vê”, portanto, sou o Sujeito e
nunca um objeto na experiência. O corpo-personalidade-história de vida é
percebido, portanto, não é Aquilo que percebe.
Os objetos***** são percebidos e Eu Sou a Consciência Silenciosa que
testemunha agora. Consciência é invisível, indizível, incompreensível,
inominável em Verdade. Apenas possível de ser intuída… e somente
agora.
Perceba a percepção consciente agora!

E então reconheça: O que é o Eu aí, neste instante, testemunhando a


experiência?… Sinta o Eu!
A busca

A busca por Autoconhecimento ou pelo despertar espiritual é como se


fosse a parte derradeira da busca pela felicidade. Esta propensão é natural e
do fluxo da vida, e não das pessoas. Absolutamente tudo na vida, de uma
forma ou de outra, leva ou é direcionado para algo relacionado ao encontro
com a paz e com a quietude, o que, num primeiro momento, é chamado pela
mente de “felicidade”.
Como transcorre esse caminho para o ser humano?
Primeiro: não é um caminhar apenas humano, é o ritmo da natureza… O
rio converge para o mar, as raízes para a terra em sua maioria, as árvores
são propensas a dar frutos e flores, ou seja, fluem em um certo fluxo. Claro
que aqui não estamos falando da ânsia por resultados na vida diária, mas
sim de uma convergência da natureza, de ciclos de nascimento, crescimento
e desenvolvimento… Ciclos naturais.
Quando levamos esta analogia para a realidade humana, a “busca” por
felicidade se dá mais ou menos da mesma forma. Existe um impulso natural
que leva as pessoas a fazerem certas coisas com uma motivação básica:
encontrar algum tipo de preenchimento ou satisfação que pode até ser
inconsciente. Até mesmo um “criminoso” nas suas ações está procurando
algum tipo de satisfação ou alívio.
Esse alívio, de maneira inconsciente, é chamado pelas pessoas de
“felicidade”. No processo do aprendizado humano e no momento atual do
planeta, a programação mental em muitas culturas, através das escolas, da
sociedade, dos meios de comunicação, da história e das religiões, como já
falamos, concentram na busca por um “preenchimento” ou no desejo de
alcançar-se alguma coisa no futuro.
Em geral, o que se busca é felicidade através de um preenchimento
externo, seja de uma carreira com uma sequência de feitos, seja de planos
que vão culminar em algum resultado, conclusão ou conquista futura que
supostamente trarão aquele benefício desejável. Entretanto, imagine alguém
que tenha nascido há dois séculos ou há mil anos: as metas ou propósitos
eram outros, a programação era diferente e havia outro tipo de visão a
respeito do que fossem realizações. Alguém que nasce no Butão hoje tem
outros valores e, portanto, objetivos diferentes. Se tivéssemos nascido em
uma tribo ligada aos costumes da terra, a felicidade teria outro conceito ou
talvez nem seria um propósito.
Isso mostra, como já vimos, que essa busca foi transferida ou implantada
na forma de pensar, com certos valores, regras ou padrões de vida
dependendo da época em que essa educação foi feita. Será que felicidade
realmente depende de época, geografia e cultura? Nada disso está fora do
lugar! Apenas este relato vem para mostrar que objetivos, em geral, são
frutos de uma tendência social e não necessariamente são verdadeiros.
Esta busca conceitual por felicidade não está sendo criticada por si só,
pois nada do que aconteceu até aqui poderia ter sido diferente, pois tudo é
Divino e tudo, portanto, está de acordo com o fluxo da vida para este
planeta nesta época. Perceba que para a vida existir, da forma como a
conhecemos, foi necessária uma certa dualidade mental: do certo e do
errado, da felicidade e da tristeza, da saúde e da doença, do bem e do mal,
da alegria e do desânimo, sucesso e fracasso, harmonia-desarmonia, eu e o
outro etc. Essa dualidade mental construiu o tipo de vida que se conhece
nos dias de hoje.
É importante apenas reconhecer que tudo que é feito pelas pessoas, aquilo
que normalmente acontece na vida prática, tem um intuito inconsciente de
servir a essa programação cultural, mental e emocional. No entanto, na
verdade, o que move tudo isso é um impulso intuitivo de estar em paz, de
sentir-se pleno ou de sentir-se completo.
Por causa do condicionamento intelectual, este combustível da busca fez
durantes anos indivíduos empreenderem todo tipo de atividade as quais, na
sua maioria, estiveram baseadas no crescimento pelo crescimento, em
prosperar independente dos meios, consumir, degradar, acumular etc. Este
viés exclusivamente materialista fez as pessoas competirem, dominarem
umas as outras e gerou disputas por poder, brigas, guerras territoriais,
religiosas etc. Ou seja, é a esse condicionamento social que se dá o nome de
“vida”.
Em algum momento, certas pessoas começam a ser atraídas por outro
impulso. Através da intuição são conduzidas a romper a programação
poderosa que receberam. Este rompimento começa por questionar os
modelos de mundo e de vida supostamente “certos” que foram ensinados.
Esse impulso, talvez por inúmeras evidências de infelicidade, depressão ou
sofrimento provoca o questionamento daquilo que se chamava de “minha
vida” e, portanto, faz surgir uma pergunta chave: “Minha vida poderia ser
diferente?”.
Quando este questionamento surge, se a programação ainda for muito
densa e o impulso não for poderoso o suficiente para romper este sistema, a
busca começa por melhorias comportamentais por meio das quais acontece
a compreensão inicial de que “eu preciso me mudar, mudar meu jeito, para
mudar os resultados”. Em outros casos, ou mais adiante, o impulso pode
levar a questionar até o fato de que: “Por mais que eu mude e adquira
coisas, por mais que realize e empreenda, por mais que faça ajustes no meu
comportamento, por mais que leia livros, que evolua, ainda tem alguma
coisa me dizendo, lá no fundo, que não é apenas isso!”. Está faltando algo!
Veja, parece um processo, não? E é como se fosse. Talvez seja o mesmo
processo que faz com que a natureza se desenvolva dentro de uma selva
fechada sem presença humana da forma natural: árvores caem pela força da
natureza, outras crescem, animais nascem, morrem, constroem ninhos,
matam uns aos outros, flores desabrocham, insetos as pulverizam… E a
natureza continua orquestrando essa evolução natural. Na questão humana,
esse fluxo natural é apenas mais complexo por causa do modelo intelectual
e emocional envolvido, o que gera infinitas outras possibilidades de
“materialização” de vida por meio de ações mais refinadas, diferentemente
de uma floresta, mas movidas pelo mesmo impulso natural.
Quando, por algum motivo inexplicável, a vida convencional humana
baseada nos padrões aprendidos da sociedade começa a ser questionada,
seja por vislumbres místicos, seja por intuição de que “meu caminho é
outro”, a busca por felicidade pode mudar de direção. Pode ter início um
desapego material, familiar, relacional e, então, é aberta a porta para algo,
agora mais sutil, talvez transcendental, que podemos chamar de
“espiritual”. A busca que antes era dentro das convenções sociais, políticas
e religiosas, por exemplo, continua, mas a partir de então num campo
diferente.
Esse impulso da vida pode levar para outro aspecto dos desejos: busca de
preenchimento em outras experiências tais como: terapias energéticas,
psicoterapias, xamanismo, danças energéticas, terapias com sons e luzes,
contato com extraterrestres, técnicas infinitas de meditação, meditações
ativas, workshops para “limpezas” emocionais, terapias mediúnicas, apoio
de amparadores espirituais, cura da criança interior, limpeza e alinhamento
de chakras, terapias multidimensionais de todos os tipos, canalizações de
hierarquias espirituais de outros planos de realidade, estimulantes ou
expansores de consciência, meditações de silêncio, uso de mantras, práticas
corporais diversas, formação de comunidades, viagens para encontrar um
mestre espiritual, busca por poderes, samadhi, nirvana, iluminação
espiritual… e aqui a lista é longa. Dito de outro modo: surge uma nova
busca por experiências e práticas de todos os tipos, o que possibilita outras
vivências mais sutis-místicas na tentativa também de algum novo
preenchimento que não era encontrado na vida convencional.
Experiências de pura paz, unicidade, alegria intensa, amor incondicional
podem acontecer… Da mesma maneira, não se está dizendo que este é o
caminho a seguir ou não, nem sugestionando ser bom ou ruim. Tudo isso
também é o impulso da natureza, como um chamado individual
possibilitando outras formas de experiências. Tudo está no fluxo, o que
muda é o tipo de desejo e ações, mas ainda continua a ser uma busca por
completude.
Neste “estágio” da “busca por espiritualidade”, teorias de todos os tipos
surgem, novos dogmas podem aparecer, questionamentos sobre padrões e
conceitos anteriores, experiências incríveis podem surgir: experiência fora
do corpo, sonhos lúcidos, contato com mestres/guias de outros planos,
contato com seres intraterrenos, extraterrestres e ultraterrestres, visões,
projeção astral para outras realidades, experiências de profundo silêncio e
novos propósitos de vida. Os valores pessoais podem mudar. Experiências
místicas, êxtase, curas físicas, mentais e emocionais ou “milagres” podem
acontecer… E, mais uma vez, a lista de possibilidade aqui é infinita.
Portanto, a partir de então, a busca continua, agora por meio de outros
conceitos de vida que surgiram neste novo caminho e que tentam explicar a
espiritualidade ou a realidade com a intenção implícita de atingir-se um
propósito, de ascender e talvez de iluminar-se. Tudo isso é o impulso do
autoconhecimento surgindo e movimentando a vida humana. Tudo está no
fluxo, sem aqui dizer, mais uma vez, que um caminho é melhor do que o
outro.
O autoconhecimento ainda é o propósito (até inconsciente), mesmo que o
entendimento do que “eu sou” possa ser diferente para qualquer uma das
linhas de conhecimento resumidas acima. O autoconhecimento ainda é o
propósito mesmo que haja níveis mais ou menos profundos de compreensão
ou de visão sobre a verdade do Eu.
Nesta evolução do autoconhecimento, poderia-se passar a dizer: “Eu sou
espírito, eu sou alma, eu sou consciência, eu sou xamã, eu sou projetor
astral, sou curador, eu sou de outro planeta ou galáxia, sou reencarnação
de…, eu sou religioso, eu sou hinduísta, budista, taoísta, ateu, sou mestre,
sou discípulo de tal mestre, sou da 8ª dimensão, sou sensitivo, buscador…”,
ou seja, mais uma lista infinita de rótulos e “certezas” (ou incertezas). Este
é o impulso da vida, ele está aí e continua…
Cedo ou tarde, pode surgir um impulso para um Autoconhecimento ainda
mais profundo em que o reconhecimento do Eu-Consciência-Silêncio se
inicia. Quando o “eu” começa a ser questionado verdadeiramente, dizemos
que o Autoconhecimento (Self Realization) amadurece ou se revela. Uma
abertura para a não-dualidade pode acontecer.
Neste momento, aquele “fazedor individual separado”, ou a “entidade
autônoma pensante” que sempre “achei que eu fosse”, como um organismo
desconectado do mundo e da Consciência, começa a ser reconhecido como
uma falácia. Este é o início da exposição do dualismo insano entre o “eu e
o outro”, do “eu e o mundo”, e, por último, o fim daquele personagem que
imagina ter livre arbítrio.
Autoconhecimento, neste ponto, faz com que tudo seja visto como
Consciência, como Eu-Vazio-Silêncio, e a ilusão do eu-autônomo e do eu-
pessoa é revelada. O eu-corpo-personalidade se torna objeto na experiência
e nada está separado de Mim-Consciência. O personagem-eu com poder de
volição individual é reconhecido como irreal ou é visto como apenas um
personagem. É o início do fim da necessidade de atingir-se alguma coisa e
de buscar qualquer coisa no futuro, pois Eu já sou Pleno, Completo, Paz e
Amor Agora. Aquele “eu” sofrendo com necessidade de “buscar” felicidade
é revelado e testemunhado como sendo apenas parte do programa. Tudo
passa a ser visto como a vontade Divina. Eu já Sou o que a mente estava
“buscando” fora. Só existe Fluxo acontecendo… O Agora é tudo que existe,
passado e futuro se tornam conceitos práticos. É o fim daquela busca insana
e o jogo e a ilusão se tornam evidentes.
Reconheça: o que é o Eu aí agora?

Sinta o Silêncio que Sou agora…


Visão Clara e desapego

O que é e como se dá o desapego?


O desapegar-se é um tipo de relacionamento com o mundo. Não é um
tipo de habilidade a ser desenvolvida ou algo que exija esforço. Desapego
não é um propósito como o de obter-se alívio e leveza no dia a dia.
Algumas tradições ou livros tocam nesse tema sugerindo que o desapego é
algo que trará paz. Realmente isso acontece, mas desapegar-se não é um
fazer! Ele é uma Visão ou um sentir intuitivo que surge.
Desapegar significa interagir sem o sentimento de identidade ou de
pertencimento. Não significa não ter a posse das coisas, não zelar pelo
corpo, pelas pessoas, lugares e situações ou não significa deixar de ter
emoções. Tampouco significa negar algo ou deixar de interagir em certas
circunstâncias, não dar bola para dinheiro ou não ter animais de estimação,
por exemplo. Viver desapegado não significa ausência de senso justiça, de
ética ou ausência de análise crítica.
Desapego não significa afastar-se. O distanciamento até pode acontecer,
mas, se acontecer, ocorre de forma espontânea e não forçada. Socialmente,
o termo “desapego” tem uma conotação diferente daquela que se quer
apontar aqui.
O desapego, em sua essência, tem a ver com a questão de saber “quem
somos” (lá vamos nós de novo!), ou melhor, o que Eu sou. À medida que o
Autoconhecimento acontece, o desapego acompanha tal descoberta. Daria
para dizer que são dois lados da mesma moeda: quanto mais “conhece a Ti
mesmo”, mais o desapego natural surge.
Desapego não significa frieza, talvez seja o oposto: pode significar
intensidade. Não significa negação, nem afastamento; pelo contrário:
significa mergulhar no momento, na situação, mas sem o sentimento de que
“preciso manter isto do jeito que está”. Não existe a necessidade de “quero
mais”, de que “é meu” ou de “o que seria de mim sem isto?”. Não existe um
sentimento de importância futura além da acuidade do momento.
Já o apego é sinônimo de dependência, um tipo de “escravidão” sutil…
Significa não conhecer a Verdade do Ser. O apego é irmão do desejo e,
portanto, do sofrimento. Onde existe o desejo de completar-se, de ser
alguém melhor ou de ter um futuro melhor, por exemplo, pode existir
apego. Onde tem apego, há tensão e sensação de falta ou um senso de que
“eu posso perder ou deixar de ganhar”. Onde tem sofrimento e desejo por
aquisições, há futuro e passado; tem-se vida cotidiana em primeiro plano.
Onde existe apego, há esquecimento da Verdadeira Identidade.
Onde existe apego, o sentido de autoimagem ainda existe fortemente e é
como se estivesse “comandando” os próximos passos da vida prática. Onde
tem apego, não há fluidez. Ele traz um peso, um tipo de medo sutil que gera
uma sensação de que “mesmo que as coisas estejam indo bem, elas podem
mudar” e “eu posso perder em seguida”, portanto, “é necessário fazer
ajustes!”.
Na verdade, nesta visão do Autoconhecimento, o apego é como um
encobertamento da Visão Pura e do Amor incondicional. É uma condição
para uma circunstância e, consequentemente, traz falta de confiança em Si
mesmo, o que significa principalmente falta de confiança no fluxo da Vida.
O apego traz um senso de que “eu não estou completo”, de que tal
circunstância “é essencial em minha vida” ou que “minha felicidade ou
tranquilidade não está completa sem este algo”.
E talvez você diga: “Mas eu não sou apegado!”. O apego pode ser forte
no sentido de ser notado por si próprio ou pelos outros, ou pode ser muito
sutil e não ser percebido.
Vejamos… Caso você se considere desapegado, imagine a seguinte
situação com sua família: pense que eles estão querendo fazer algo diferente
daquilo que você havia planejado no dia anterior. Mudar seus planos
repentinamente lhe causa algum tipo de sentimento de desconforto? Ou, até
mesmo, gera atitudes de discórdia e desarmonia? Isso é apego! Apego aos
planos e ao seu ponto de vista.
Outro exemplo: vamos supor que você tenha ido ao médico e ele lhe
trouxe a notícia de que a sua saúde não está perfeita e que precisará fazer
alguns exames para iniciar um tratamento. Provavelmente, vai existir um
sentimento de tristeza e de que as coisas não deveriam ser assim; afinal,
você sempre se cuidou tanto ou nunca deu atenção para isso. Digamos que
essa notícia mexa com você e o leve a tomar atitudes desarmônicas como
revolta, desespero etc. Isto é outro tipo de apego!
Ou vamos supor ainda que você fez uma viagem e ao chegar ao destino
teve problema com a operadora de turismo e aquele passeio tão sonhado
teve de ser cancelado. Você se sente enganado e com o sentimento de que
“isso não é justo!”. Então, sua viagem que era para ser maravilhosa passa a
ter um momento tumultuado, você revela raiva e a indignação e esbraveja
por um tempo. Isto mostra outro tipo de apego!
Veja bem: não significa que emoções não vão surgir nestas situações
acima. As sensações corporais, as emoções e sentimentos são naturais e
espontâneos assim como o vento e a chuva. Não se tem domínio sobre as
intempéries da natureza como também não se tem domínio sobre as
intempéries internas: emoções e sentimentos. Elas vêm e vão. Desapegar é,
de alguma forma, começar a perceber a volatilidade incontrolável das
emoções.
E também não se está dizendo para levar uma vida de um monge Zen.
Nada disso! Não se está falando de uma mudança de comportamento por
si só ou de ter autocontrole. Não significa engolir a raiva e “segurar-se”.
Não é este o ponto aqui! É diferente, pois é a Visão que importa.
Desapegar não significa não ter aquele belo carro que lhe trará segurança
extra para suas viagens e conforto para a família. Não significa não
conviver com aquele animal de estimação pelo qual se tem um enorme
carinho. Não é isso! O apego, nesse caso, se dá na supervalorização
emocional, na dependência psicológica ou na distorção de tentar humanizar
o animal para substituir, preencher ou suprir uma carência, seja ela qual for.
Isso é apego, vivenciado no transe diário da inconsciência.
Quando se fala em desapego, nesta Visão Pura, estamos apontando para
dois aspectos: o primeiro é que, quando existe inconsciência da
Consciência, o apego se dá porque ficamos reféns das emoções. O segundo
aspecto é que no dia a dia os acontecimentos não estão sob “nosso”
controle, por mais que aparentemente pareça que estejam. Apegar-se ao que
existe é no mínimo antecipar o sofrimento da mudança que é sempre
inevitável. Tudo é transitório. O não perceber a transitoriedade do mundo
gera apego.
Falamos de que anteriormente ao desapego é necessário existir um
“senso”, uma “Fé” em saber que há um Fluxo grandioso levando a vida
para lá e para cá. Fé de saber que cada situação que surge é a Vida, o
Divino, trazendo algum tipo de possibilidade de experimentá-la em
plenitude, tal qual a vida é mesmo com problemas aparentes.
Imagine-se no trânsito e aquele motorista desatento usando o smartphone
fecha a sua frente e o obriga a fazer uma freada brusca. O sentimento de
raiva pode surgir, mas será que a reatividade automatizada precisaria
existir? Se, por acaso, existe um “ofender-se” e, consequentemente, um
“culpar” o outro (pois “ele é um estúpido e um ser inferior”), se a
consequência dos minutos seguintes é de permanecer remoendo
mentalmente a situação e ainda acaba interferindo no seu estado de ânimo,
isso é apego. Neste caso ainda existe um “eu” ofendido, um “eu”
superior/inferior, um “eu” correto ou um “eu” prejudicado e o “outro”
culpado.
Não estamos dizendo aqui, mais uma vez, que a vida vai mudar e que
você será um iceberg de frieza. Nada disso! As emoções serão percebidas e
vividas com intensidade, mas com um tipo de “destacamento”, ou melhor,
com uma Visão Consciente, sem a necessidade de reificar****** as coisas.
Não há necessidade de remoer mentalmente na tentativa de condenar,
ofender e culpar. A partir da Presença Lúcida ocorre um testemunhar
destacado, em que os pensamentos perdem aquela tendência de inflar
“minhas” qualidades, de depreciar o outro, de “sentir-me contrariado”, de
agir impulsivamente, de atacar e querer corrigir os outros e o mundo.
O desapego, portanto, tem a ver com ausência de reificação dos dados,
tem a ver com uma adaptabilidade espontânea, por causa da Presença e
Visão Pura. Por causa da limpidez da Consciência surge uma flexibilidade
natural em tempo real, intuitiva, por mais que a raiva ou o choro estejam
presentes. Nesse caso, permeando a raiva, existe uma Visão-Senso de que
“nada disso está sob meu controle” e “não posso querer mudar aquilo que
acabou de acontecer”. De maneira sábia, a partir da Visão Pura, sem
reificação e distorção, é possível deixar a situação fluir no sentido de agir
conscientemente para o benefício de todos, com amorosidade ou
assertividade, mesmo com a raiva ou qualquer emoção fazendo parte da
paisagem.
O desapego é mais uma compreensão profunda de mundo do que um
“não se importar com as coisas”. Acontece um respeitar a vida tal qual ela
surge, ocorre um saber que existe um Fluxo maior orquestrando-a. Ocorre
um saber de que “não sou eu que tenho a posse”, “não sou incompleto
quando estou longe” ou “não sou imperfeito quando não tenho mais”.
A Visão Pura da Consciência traz uma limpidez silenciosa a cada instante
que Sabe sem se perder em reificações. Então, fica claro que desapego não
significa não ter posses materiais, se distanciar da família ou ter de livrar-se
do animal de estimação para não sentir apego. Tampouco significaria deixar
de ficar triste, de divertir-se ou envolver-se com alguém. Nada mais longe
da verdade! Um hippie ou um mendigo, por exemplo, podem ser mais
apegados materialmente do que um empresário bem-sucedido.
Se um hippie optou por viver despojadamente como fruto de uma crítica
social e se revolta com as “injustiças” ou ainda critica os outros por
enxergar-se superior/inferior a eles, existe aí algum tipo de apego. A
questão aqui não é o ter e o fazer, mas sim o Ser.
O Ser, a Essência que somos, é sinônimo de desapego. Portanto,
reconhecer Aquilo que é a Essência é o primeiro passo para o desapego
começar a ser natural.
Neste momento, você pode ter um pensamento aí dizendo: “Isso tudo é
muito difícil, é utópico; na prática, a coisa é diferente!”, “você não conhece
a minha família!”.
A questão principal não é se é difícil ou fácil. Esse rótulo “difícil” não
importa aqui, porque não estamos falando de comportamentos ou atitudes,
lembre-se disto! Estamos falando de uma Visão, de um Olhar, ou de uma
Sacada diferente.
Ou alguém poderia dizer: “Eu sou realmente muito apegado a meu filho e
à minha empresa!”, “eu não consigo me desapegar! Isso é muito forte para
mim”.
Bom, primeiramente, não é preciso desapegar-se de nada (risos)!
“Mas como assim? Não está sendo falado que ser desapegado é melhor e
que devemos ser desapegados?”
Não!
O que está sendo feito aqui é trazer compreensão para a vida da forma
como ela é, com ou sem apego. Veja: não tem nada que alguém possa fazer
na prática na forma de esforço para desapegar-se. Enquanto o apego existir,
convive-se com ele (risos)! Não é uma questão de escolha, de apegar-se ou
desapegar-se; assim como não é uma escolha do céu ter nuvens ou não.
Simplesmente as nuvens estão aí. Da mesma forma, desapego ou apego
acontecem. Não tente mudar isso, pois verá que não vai conseguir e,
provavelmente, essa atitude vai gerar incômodo ou culpa.
O ponto primordial é reconhecer todas as emoções e experiências que
surgem a cada instante e dar-se conta de que, se existe um apego muito
forte, tudo OK! Permita que tudo seja como é: a sacada é apenas reconhecer
os ingredientes da experiência como temperos às vezes saborosos, às vezes
picantes ou às vezes amargos. Ao mesmo tempo que o testemunhar dos
temperos acontece, comece a reconhecer a riqueza de detalhes da paisagem:
de que junto deste sentimento de apego talvez haja um sentimento de posse
ou outro qualquer e, consequentemente, existe uma “identidade” amarrada
às circunstâncias da vida. Apenas testemunhar o todo…
A descoberta base é começar a perceber que há um senso de que “eu
preciso disso” ou que “minha felicidade depende de certas coisas, pessoas
ou lugares”. Este é o início do processo do Autoconhecimento: de que existe
um “eu” pensando que precisa de algo externo para “estar bem”.
É só isso por enquanto. Porque este “dar-se conta” citado acima é o passo
inicial que vai levar à Visão Pura da qual se está falando desde o início
aqui. Qual visão? A Visão da Verdadeira Identidade e a intenção de
descobrir o que sou Eu em verdade ao invés do “eu-pessoa-apegado”
dependente das circunstâncias.
Se minha identidade me prende a algo, será que ela está coerente? Será
que sou “esse” que depende de circunstâncias para estar bem?
Pode-se afirmar por tudo que já vimos: não é!
Como estamos notando, o apego ou o desapego não é uma questão de
tomada de decisão ou um propósito de vida no sentido de “a partir de agora
vou me desapegar de algumas questões da vida que estão me
incomodando”. O desapego pode até ser repentino por algum
acontecimento, mas mais comumente é um processo gradual e natural que
envolve conhecer a verdade do que Sou.
Por exemplo: supondo que alguém no piloto automático, por influência
sociocultural, sempre foi muito dependente de algum alimento em
específico. Vamos usar a carne apenas como um exemplo (sem querer aqui
defender a visão de certo ou errado, de ser ou não onívoro).
Se uma criança foi ensinada desde suas primeiras experiências
alimentares a gostar da carne, este hábito foi estimulado praticamente
diariamente desde então e, muito provavelmente, este adulto agora nem
questione a possibilidade de diminuir ou parar com o consumo de carne. Na
verdade, esta possibilidade não é nem cogitada. Poderíamos afirmar, nesse
sentido, que existe algum tipo de apego, nem que seja o apego ao hábito
mesmo que inconsciente.
Supondo que um amigo comente sobre ter parado de comer carne ou que
o médico sugira por algum motivo que seria importante diminuir o consumo
de carne por causa de algum problema de saúde. Essa pessoa, ao ouvir o
médico ou o amigo, começa a perceber o quão enraizado está este hábito de
consumo e pode, a partir de agora, trazer a um nível mais consciente o quão
forte é a sua dependência de carne; o quanto aquele churrasco com os
amigos é divertido; pode perceber como deixar ou diminuir o consumo de
carne iria contrastar com o seu paladar condicionado; o quão difícil seria
dizer aos familiares que não vai comer aquela picanha ou, ainda, o quão
estranho seria dizer para o grupo de amigos que não vai participar do
churrasco.
No instante em que, pela primeira vez, este assunto de alimentação
carnívora é considerado tema de análise, começa-se a trazer à tona muitos
tipos de apegos que podem estar relacionados ao seu consumo: “Eu adoro
churrasco”, “se não comer carne, comerei o quê?”, “como irei ficar sem o
churrasco do final de semana?”, ou “como não comer quando estiver
naquele aniversário?”, “o que direi para as pessoas? Irão zombar de mim!”,
“irei parecer estranho, antissocial”, “ficarei fraco sem a carne” etc.
Por trás destas frases, que podem parecer simples, revelam-se algumas
formas de apego: às amizades, apego à identidade antiga ou apegos a
pensamentos do tipo “os outros irão dizer que estou mudando, que não sou
mais o mesmo”. Portanto, pode existir apego aos amigos, à festa, à bebida,
ao alívio de não pensar no trabalho pelo menos enquanto estou me
divertindo, apego à diversão. O apego poderia ser à forma de cozinhar, ao
tipo de temperos que são os “ideais” de serem usados ou às escolhas que
vêm junto com o churrasco: futebol, música, praia, passeio, distrações,
alívio de estresse, bebidas etc. (Note que aqui não estamos considerando as
necessidades proteicas naturais do organismo — que poderiam vir de outras
fontes, pois o lado nutricional não vem ao caso agora).
Então, voltamos ao ponto do apego/desapego: é mais um “processo” ou
um acontecimento que ocorre normalmente e não um esforço de uma
tomada de decisão. Vamos supor que o amigo ou médico o tenha alertado
ou que você assistiu no Netflix a documentários como “What the health”,
“A carne é fraca” ou “Cowspiracy”, ou que tenha lido um livro a respeito
dos inúmeros malefícios de uma dieta rica em carne animal, ou que talvez
tenha se sensibilizado com a matança de animais… Não importa o gatilho,
se decidir parar com a carne e ainda houver algum tipo de sofrimento-
esforço para a deixar de lado, saiba: o apego continua mesmo sem a carne.
Portanto, o desapego não é uma fuga de um padrão antigo ou uma
questão de disciplina. O desapego é quase um esquecimento, é um
acontecimento em que aquilo que é o objeto do apego simplesmente deixa
de ser importante ou necessário para viver-se bem. O desapego não
significa, neste exemplo, parar de comer carne; significa que a carne deixa
de ser importante e, mesmo se comê-la de vez em quando, isso não
importará mais…
Desapego também não significa vender o carro do qual se gosta! Isso até
pode acontecer, mas se ficar com aquele carro que tem um valor monetário
elevado não influencia na sua identidade ou não é uma necessidade absoluta
para o sentir-se bem, pode-se conviver com o carro naturalmente, porém
com total desapego. Não é a posse que importa, é a relação de dependência
psicológica, emocional por causa do condicionamento antigo, porque, se o
hábito tivesse de ser interrompido, feriria a autoimagem ou causaria algum
tipo de incômodo ou desconforto.
Outro exemplo: as relações familiares normalmente são recheadas de
apegos e muitos deles indicam posse: “meu filho”, “meu marido”, “meus
pais”, “minha família”, “eu quero o bem do meu filho, portanto, prefiro que
ele faça Medicina ao invés de Direito”, “eu preciso participar do Natal com
minha mãe porque senão ela vai ficar chateada comigo…”, “meu irmão é
muito arrogante, ele deveria ser diferente e fazer as coisas que me agradam,
assim não me sinto inferior”, “minha/meu esposa/marido precisa estar
comigo em tais momentos, pois eu me sinto mais seguro”, “não confio no
meu companheiro, portanto, quero que ele me dê satisfação sobre aonde ele
foi ontem à tarde…”. Ou seja, em toda e qualquer relação na qual há algum
sentimento de posse, medo ou tentativa sutil de controle, há alguma forma
de apego: “É certo reunir a família no final de semana…”, “já viajar
sozinho não é bom…”.
Existem apegos em relação ao corpo (tipo de corpo ideal e não ideal), em
relação ao sexo (assim pode ou isso não pode…) etc. Os padrões ou hábitos,
mesmo os aparentemente normais ou saudáveis, que até nem são
questionados socialmente, como alguns exemplos acima, podem estar
cheios de apego.
Então, alguém pode dizer: “Mas que mal há em ficar com a família? Eu
amo minha família!”.
Aqui não se está falando que existe algum problema em ficar com amigos
ou familiares e que você não deva estar com sua família ou que deveria se
afastar dela! A questão é: estamos deixando de fluir na vida? Existe algum
tipo de prisão emocional ou dogma? Está se perdendo o “sentir” a vida na
plenitude do momento, de fazer aquilo que é chamado a fazer
intuitivamente? Está se deixando de seguir a empolgação e a intuição a cada
instante em troca de algum padrão convencionado?
A questão é que se o amor familiar existe, ele existe independente das
circunstâncias, existe independentemente de ter que fazer certas coisas para
demonstrá-lo ou de assegurar que o “amor” ainda continua de pé! Da
mesma forma que se a sua família ou companheiro o ama, ama. Ponto! Não
é necessário que provem o tempo todo por meio de atitudes ou que
eliminem hábitos para se adequar aquele amor imaginado.
O “soltar” padrões e o Amor libertam, enquanto que o apego aprisiona de
alguma forma. Quando há apego, chantagens emocionais acontecem:
“Filho, se você não fizer isso, mamãe não lhe dá aquilo”, “se meu marido
ou minha esposa não retorna a ligação imediatamente, ameaço
emocionalmente”.
Em geral, aquilo que poda a liberdade ou a espontaneidade da vida tem
algum tipo de apego. É neste sentido que estamos construindo esta visão
aqui. A liberdade de fluir na espontaneidade pode ser bloqueada por apego:
dependência emocional, psicológica, material ou física.
Se para alguém sentir-se seguro são necessárias certas circunstâncias, esta
segurança está baseada em algo frágil, ou melhor, esta segurança é
condicional. Significa que “se eu perder, sinto-me inseguro”. Existe aí um
tipo de apego-dependência-condição.
O motivo base pelo qual isso acontece é por pura falta de
Autoconhecimento (lá vamos nós de novo! Risos!). A ideia que se faz do
“eu” (a autoimagem que faz de si) é pobre, limitada pela mente, dependente
de situação para completar-se… É desse tipo de apego que se fala aqui.
Portanto, repetindo, o desapegar-se não pode vir através do esforço ou de
um tomada de decisão mental. Depende de uma Visão mais profunda, de um
amadurecimento em relação à vida, em relação ao Eu real, que
naturalmente acontece ou não, e, quando a compreensão profunda vem
neste sentido, não é nem possível de explicar, pois é intuitiva: surge uma
Visão Pura a respeito Daquilo que Sou. O desapego acompanha a Visão
Clara da Verdadeira Identidade!
Agora, neste instante: reconheça o que é o Eu aí…

Reconheça a Essência-Consciência presente e silenciosaagora!


Reconheça o Eu agora… Alerta, Neutro, Testemunhando as formas de
apego surgindo, mas sem se identificar com elas…
Visão Pura – Ser

O que é o Ser?
Ser é o que É! O Ser é inexplicável.
Mas vamos procurar transformar em palavras para indicar o que é o Ser:
Quando existe qualquer referência ao ser humano, naturalmente um
aspecto fundamental, básico e óbvio é negligenciado. As palavras “ser
humano” em geral se referem a uma espécie animal, bípede, de
comportamento racional, emocional e inteligência superior às outras
espécies. Pensamos em comportamentos sociais e partimos do pressuposto
de que sabemos ou entendemos o que se está falando: “Claro, ser humano
somos nós”. OK! Mas essa ideia ainda está longe do aspecto “não humano”
do ser humano.
Por motivos didáticos e para trazer mais alinhamento com o tema do
despertar para a verdadeira natureza do Self, vamos separar o “Ser” do
“humano” um pouquinho. Aqui não vamos falar do humano, mas trazer
referência ao Ser, que é normalmente ignorado na vida diária.
Ser é sinônimo de Vida… O Ser é a “ocorrência” mais natural. É aquilo
que neste instante está vívido aí, na sua experiência, agora! Sinta o Ser…

É Isto que está completamente vivo, alerta, agora. Vivo no sentido de


consciente, esta sensação de existir é o Ser. O Ser é a natureza da
existência aí, agora. Sem Ele nada é possível de ser ou existir. Perceba o
Ser!

Quando procuro em mim, o Ser é notado como Presença, como um


sentimento de estar desperto! É isso?
Sim, é possível dizer que Presença é uma qualidade ou faculdade do Ser
de reconhecer a Si: estar conscientemente consciente de estar consciente.
Assim se reconhece o Ser, um senso de estar vivo sendo reconhecido
agora. O Ser é a Existência da vida agora, mas para tornar este assunto
simples e não apenas teórico vamos investigar mais na experiência o que é
o Ser…
Procure experienciar aí:
Primeiro: o Ser é sinônimo de Consciência, Aquilo que percebe a
experiência agora…
Note Isto aí agora: reconheça na sua experiência que tem Algo
consciente!

Veja que o Senso de Ser, de Existir, não é percebido sensorialmente pelos


cinco sentidos! Ele não é notado como se nota uma cadeira, ou como se
percebe um pensamento ou uma emoção. Pelo contrário, Aquilo que “vê”
isso tudo é o Ser.
O Ser é Aquilo que está consciente e percebe o aspecto humano aí,
agora…

O Ser é o “fenômeno” da vida, sempre nítido, sempre presente,


autoconsciente. Sinta o Ser aí, agora…

É Ele que neste instante percebe estas palavras sendo lidas. É Ele que
nota o processo intelectual de assimilação destas palavras acontecendo: tem
um processo cognitivo de “entendimento das palavras” que está surgindo
durante esta leitura… É o Ser que conhece isso. Nada mais conhece, só o
Ser tem o poder de conhe-Ser.
Não é um “poder” no sentido de “força superior”. É como uma
Inteligência incondicional, involuntária, independente do corpo e da mente.
É a Inteligência da Vida que a faz ser percebida através do corpo e da
mente.
O Ser é além do corpo e da mente. É o não-corpo e a não-mente. Na sua
experiência agora, aquilo que é chamado de experiência normalmente é
tudo aquilo que é “visto” ou é “observado”. Experiência, em geral, é
sinônimo de objetos, dados e acontecimentos, mas o Vazio do Ser está
sempre presente testemunhando a experiência e a Si próprio.
O Ser é Consciência Silenciosa, é Puro Silêncio. Reconheça-O aí, agora!

OK! Nesse instante podem surgir os seguintes pensamentos: “Isso não me


parece algo novo”, ou “qual o sentido de saber disso?”, ou, ainda, “isso está
muito estranho, não estou entendo, parece conversa de louco!”.
Importante começar a perceber que, se este reconhecimento do Ser é algo
novo, se já é algo conhecido, ou até mesmo sem sentido, é necessário dar-se
conta e investigar um pouco mais. Faça as perguntas a si mesmo:
Se for novo, isto é novo para quem?
Se não está fazendo muito sentido, não faz sentido para quem?
Você perceberá que a resposta às perguntas é: é novo ou não faz sentido
para a mente apenas, não para o Ser!
Perceba a mente e sua característica intrínseca: a mente-intelecto está
sempre comparando, tentando “encaixar” ou “entender”, querendo ver
sentido em tudo. Por isso, existe uma necessidade mental de, após ler algo
novo, comparar com o que é conhecido ou com o que já foi aprendido para
“ver se faz sentido”. Existe um automatismo inconsciente no nível dos
pensamentos de buscar correlação com o que “já se sabia” em dizer que
“não faz sentido” à medida que ainda não se ouviu falar ou ainda não se
experienciou este algo.
Este é justamente o ponto aqui. O Ser do humano em geral não é notado,
é negligenciado ou omitido porque a mente não consegue entender o Ser,
pois Ele não é mental-racional. O Ser é intuitivo, opera no dia a dia com
outro tipo de “funcionamento”, pois é diferente da razão-intelecto.
A mente-intelecto pode achar que “já sabia”, que “não faz sentido”, que
“é complicado e louco” ou “não enxergar a importância”. Na verdade,
perceba que a mente nunca sabe. Note que ela é apenas uma gravação, não
tem a faculdade do saber-conhecer. Ela não tem este “poder”. Este dom-
faculdade de Conhecer é do Ser-Consciência, não pertence à mente.
Perceba isso!
Perceba que a mente se perde onde “entra” a intuição, perde-se no Vazio,
no Ser. No momento em que o intelecto entra, o resultado é um
distanciamento da verdadeira compreensão do que é o Ser.
Então, é importante não validar muito pensamentos de “eu já sabia”, “é
louco”, ou de “não faz sentido”. Apenas perceba que, se pensamentos deste
tipo surgem, eles podem ser amadurecidos ou clareados de duas formas
básicas:
Uma: a única coisa que pode conhecer a experiência agora, neste
instante, é o Ser, ou seja, a Consciência, nada mais! O Ser é o Eu, ou a
Essência-Eu. A mente-intelecto-corpo que, em geral, é chamada
equivocadamente de “eu” não tem o dom da cognição.
Outra: a razão-intelecto, que não é Ser, rotula imediatamente a
experiência dando a sensação aparente de que o “saber” vem dela. Isso é
apenas uma impressão natural por causa da velocidade e da forma
inconsciente em que este processo acontece.
Portanto, já está mais do que na hora de notar que este acúmulo de
informações não tem nada a ver com Você-Ser, pois essas informações
surgem na forma de pensamentos e são todas notadas por Mim como
objetos que surgem também na experiência. Pensamentos são
informações/objetos mentais sutis geralmente não “vistos”, mas que
distorcem a Verdade sobre o Ser, sobre a Sua Identidade. A mente inquieta,
portanto, sempre encobre a Verdade básica do que Você É (o próprio “Ser”
do ser humano).
De forma geral, na nossa sociedade imatura sobre natureza do Ser, não se
percebe que as informações mentais armazenadas são quem vêm, de
maneira resumida, “guiando” as atitudes até aqui.
Essa ignorância e a confiança excessiva apenas no intelecto vêm
distorcendo equivocadamente qualquer assunto e, desta forma, falar do Ser,
que é anterior ao “humano”, torna-se “abstrato” e sem sentido, pois não
existem parâmetros anteriores armazenados. Assim, o intelecto sobrepõe o
Ser e tenderá a trazer imediatamente pensamentos do tipo: “Não é bem
assim, que viagem!”, ou “não faz sentido, bobagem, deixa pra lá!”.
Por isso, a insistência: sinta o Ser, reconheça o senso de Existir aí,
agora…

Seria interessante, a partir de agora, poder reconhecer este organismo-


corpo-mente como ele é: um programa em evolução que vai constantemente
recebendo novas informações e vai ampliando o seu banco de dados. O
questionamento na forma de dúvida ocorre quando uma informação nova
chega e é invalidada imediatamente pelos pensamentos antigos que surgem
na forma de aparente incompreensão.
A mente-intelecto-programa funciona desta forma: vai recebendo
constantemente informações a respeito de qualquer assunto. No caso do
Ser, se ainda existe inconsciência a Seu respeito, tais informações podem
ser invalidadas. Portanto, se existe algum tipo de resistência mental a este
respeito, apenas perceba isso agora! Esteja atentamente alerta para “pegar”
o quadro todo.
O ponto principal aqui é notar que este “tema” Ser-Consciência pode ser
completamente novo apenas para a mente e não pode ser compreendido
intelectualmente. A mente é “burra”, pois é sempre imprecisa por não Ser.
A mente física-intelecto apenas desempenha o papel do humano, mas o Ser
é a Inteligência que Eu Sou.
Portanto, não é necessário se apegar a nenhuma informação teórica a
respeito do que seja o Ser. Também não precisa negar nenhuma nova
informação aqui. As dúvidas podem acontecer no nível da informação, mas
isso não é importante. Ao basear-se apenas nas informações, haverá sempre
este tipo de conclusão: “Eu já sabia”, “isto é novo para mim” ou “não faz
sentido”. Este é um processo natural da mente física, pois ao basear-se
apenas no intelecto, você notará que haverá espaço eternamente para novas
conclusões, entendimentos teóricos, filosofias, dúvidas ou incompreensões.
A mente viciada, portanto, não pode ser seguida para haver o
reconhecimento do Ser. É necessário ir direto! Experiencie agora: apenas
Seja!

Aqui, neste instante, está apontando-se apenas para o Ser, de forma


direta, sem fazer uso da mente:
“Sinta” o Ser aí, agora! Diretamente, sem pensar!

Não precisa pensar e não precisa de tempo. Só pode acontecer ao senti-lo


agora!

É preciso apenas acostumar-se a deixar o pensamento de lado um pouco.


Apenas sinta: há consciência de Ser agora?

Nesta Visão Pura do Ser é fundamental ir direto, sem se perder no pensar.


Este é o paradigma! Aliás, um paradigma incrível!
O Ser já é, agora…

É a Inteligência vazia agora. É este Silêncio aí!


Neste instante aí, sinta o Ser, não tente entender o Ser. Sinta-o, agora! Só
sinta… O Ser é esta Clareza aí…

O Ser é simples, puro, é Agora, vazio em essência…

As experiências de vida, grosseiras (externas ao corpo) e sutis


(pensamentos e emoções) são apenas o banco de dados, ou seja,
informações ou a paisagem observada pelo Ser.
A mente sempre trará pensamentos em uma tentativa de compreensão
como um vício apenas de achar que é importante aprender mais, que é
necessário buscar novas informações ou de achar que o aprendizado
vem dela. Esta é a “armadilha”: tentar entender mentalmente o Ser-
Consciência. Isso é impossível, pois o Ser só pode ser intuído agora…

MOMENTO DE CLAREZA

Claro que não existe armadilha real, um perigo real. Mesmo


enquanto a mente ainda está distorcida, ela tem um propósito prático:
ao menos nos trouxe até aqui. Importante apenas perceber que no
nível mental tudo é incompleto, mas algum tipo de compreensão
mais profunda está já acontecendo; e isso é importante.
O que se está mostrando aqui é que completo de verdade é apenas
o Ser, que já está aqui e agora.
Fala-se que para reconhecer o Ser não é necessário aprender mais e
mais ou esperar que isso se dê no futuro. O Ser-Presença só pode ser
reconhecido agora, pois o transcorrer da vida já está sendo
testemunhado agora pelo Ser. Nada mais. Ponto!
O Ser está sempre presente notando este instante! Isto é o Ser que
não depende do pensar. É o experienciar agora. Apenas isso!
Independente de como a vida é, o Ser está aqui. “Abrir os olhos”
para isso é o único “entendimento” para agora.
Isto que tem vida aí, que é a Essência, que está desperto agora, é o
Único-Sujeito possível da experiência…

Agora, há uma Inteligência-Que-Vê. Isto é o Ser, é o que podemos


chamar realmente de Eu. Já É, sempre foi e sempre será. Agora…

O Ser é o EU-Sujeito aí, neste instante…

Onde está toda a distorção da mente física:


Este senso de “eu” aí na sua experiência é o mesmoEu-Ser, porém
normalmente vem acompanhado de um pensamento-ideia distorcido de que
o senso de “Eu” se refere ao corpo. “Eu sou o corpo” é justamente a
crença básica, o pensamento que vem distorcido pela mente. Perceba esta
ideia-convicção-crença de que “eu sou o corpo” junto com o senso de
Existir-Eu, que está aí, agora, espontaneamente…

“Eu sou o Ser” seria mais exato, mas não como uma nova crença.
Fique agora, por um instante, só com o senso Eu-Existir… Sinta, seja,
Silêncio, agora…

Sinta o Ser, seja-O, ou melhor: apenas Seja! Reconheça apenas que já É,


agora, aqui, aí! Feche os olhos por um instante e sinta. Fique com isso…

Nenhuma informação a mais precisa ser acrescentada, pois o Ser já É.


Reconheça isso agora! É simples assim…

Este senso de Existir é o fenômeno Eu-Ser-Vida…

MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

O importante é perceber que a imagem que se tem de “eu-mente” é,


na verdade, o Eu-Ser com uma suposta identidade equivocada: o
corpo e a personalidade. A ideia da identidade-corpo é o que gera o
pensamento e a convicção de que “eu sou apenas o corpo”. Essa é a
crença original que distorce todo o resto do entendimento.
O que existe é uma ausência de reconhecimento da
involuntariedade dos pensamentos. Não percebê-los como “não
sendo Eu” é o grande equívoco a ser desvendado e reconhecido mais
e mais.
O Ser é a única “coisa” viva. Não tem uma entidade “eu-corpo-
fulano-pensando” independente ou separado do Ser-Consciência. Isso
é impossível. É a energia do Ser que faz tudo. Aquilo que
supostamente pensa, toma decisão e age (através da mente) brota do
Ser, surge do Vazio do Ser: imagens surgem do Ser, ideias,
pensamentos e emoções surgem do Ser. Não é o corpo-mente e sua
historinha de vida (a suposta identidade-corpo-mente) que fazem a
vida acontecer. O Ser é o fazedor, é a Inteligência da Vida. O Ser é o
Eu:
“Eu e O Pai Somos Um” Jesus (Eu=Pai=Ser=Um).
Reconheça neste instante o que Eu Sou…

* A partir deste ponto no livro, recomenda-se fortemente que quando surgirem as pausas “٠ ٠ ٠”,
mais e mais não se apresse com a leitura. Pare! Experiencie o silêncio e a Consciência
conscientemente enquanto a experiência durar. Estabeleça previamente a intenção de parar nestes
pontos destacados. Curta… somente depois ou mais tarde em outro momento, siga com a leitura.
** Caso queira, assista no Netflix à série Truques da Mente e perceba a mente inconsciente
gerenciando quase tudo.
*** Por questões didáticas e de simplificação, vamos deixar de lado por enquanto a programação de
outras vidas, de outros planos, dos ancestrais, dos genes e do inconsciente coletivo (isso tudo não
vem ao caso agora).
**** Dica: quando há medo ou negativismo, não há intuição, pois ela é clara, espontânea e
silenciosa.
***** “Objetos” se refere a tudo na experiência que tem qualidades objetivas, ou seja, que podem
ser medidas, que têm limites e podem ser percebidas pelos sentidos. Neste sentido, o corpo tem
qualidades objetivas, a mente tem qualidades e podem ser percebidas: um pensamento é notado,
pois tem início, meio e fim; portanto, é percebido objetivamente. Um objeto na experiência é tudo
aquilo que é experienciável, como um dado que surge e que vai e vem. Um dado é um conjunto de
informações ou um elemento qualquer que pode ser experienciado. Um pensamento, portanto, é um
dado na experiência, uma emoção é um dado, uma pessoa é um dado, um lugar é um dado. Objetos
são dados ou elementos da experiência.
****** Reificar significa dar poder. Ocorre todas as vezes em que a mente se perde em devaneios,
em que os pensamentos inconscientes permanecem elucubrando hipóteses. Reificar significa perder-
se em diálogos mentais, em acusações, valorizando emoções que levam a perder o estado de
Presença. Reificação ocorre ao dar-se poder aos objetos ou dados que surgem na experiência.
(Lembrando que objetos ou dados são qualquer aspecto da experiência percebidos por Mim-
Consciência, seja uma emoção, seja um pensamento, seja o próprio motorista do carro).
III
O Despertar:
o que sou Eu
A metáfora do jogo da vida

Para falarmos da vida no seu dia a dia e aumentar a compreensão desta


“nova” Visão que se está abrindo, falaremos um pouco sobre o jogo da
elevação de frequências no programa da dualidade.
A dualidade é um tipo de programação para a vida acontecer nesta
dimensão de realidade: o jogo da terceira dimensão (3D).
Quando o jogo da vida é criado espontaneamente a partir da Fonte, as
possibilidades do autodesenvolvimento do próprio jogo são infinitas. Para
isso, é como se fosse necessário um programa (software) que permitisse
rodar o jogo em 3D. A experiência 3D é como um holograma mais denso
projetado a partir de realidades mais elevadas. Para a materialização do
holograma/jogo acontecer em 3D é preciso existir um programa de
dualidade, pois, senão, o jogo não se desenrola da forma como conhecemos
nesta realidade.
A dualidade, em outras palavras, traz a possibilidade de sentir a
separação da Fonte Criadora do jogo. Traz a possibilidade de o jogo
acontecer baseado em uma sensação de viver como “alguém separado”,
limitado, desconectado dos outros, do mundo e da Fonte. Esta programação
de desconexão traz embutida a certeza-crença de que “eu sou
independente”, portanto, “acredito” que “eu gero meus pensamentos e gero
minhas ações” de forma isolada. Ou seja, o programa possibilita ter, dentro
do jogo, um senso de volição e de ser um fazedor individual e, portanto,
de ser uma entidade separada.
Existe, assim, a certeza de que “eu decido e eu sou o corpo e faço minha
vida de forma independente, como um ser isolado”. Esta “sensação-
certeza” de que “eu sou o corpo e sou o fazedor individual, separado” é
a crença básica da programação. Esta crença é necessária para que
ocorra o jogo da vida como a conhecemos. Mas, lembre-se, a partir de
agora, que tal aspecto é só um “software” avançado e é importante ficar
com isso em mente a partir deste ponto.
A base emocional desta programação da dualidade é o medo. Medo é
uma nuance deste programa Inteligente Divino (tem uma Fonte, uma
Origem) que traz junto consigo uma sensação de hipnose e de esquecimento
da Origem ou da Verdadeira Identidade da Fonte do jogo.
O programa com base no medo cria uma “realidade” cuja aparência é de
uma sensação muito “real” de não existência da própria Fonte-Consciência
e, portanto, da não existência do Amor. Esta aparente ausência do Amor
gera o tal “esquecimento-hipnose” necessário para o jogo acontecer.
Então, este jogo de separação-esquecimento-hipnose se dá em um nível
de frequência e de vibração tal que possibilita essa brincadeira-jogo-3D
manifestar-se.
Por exemplo, imagine apenas que todos nós estivéssemos dentro de um
videogame onde a fase inicial do jogo requeresse certas habilidades mais
densas de baixa frequência energética. O tipo de cenário que se vê nessa
fase inicial aparenta ser mais “assustador”, em que é necessário, por causa
do medo, dar tiro, matar, morrer, correr, fugir, lutar… Porém, lembre-se,
que este cenário é só uma fase, ou melhor, é uma forma de energia numa
determinada frequência apenas.
Este jogo da vida 3D é como um holograma poderoso, pois parece muito
real. Na medida em que as fases evoluem, as experiências são diferentes das
fases iniciais. O jogo vai desenrolando-se exatamente como o conhecemos
nesta vida; os seres humanos e o planeta vêm evoluindo e passando de
fases. E é justamente o programa da dualidade que permite que as fases
sejam inicialmente muito densas, onde a vibração do medo é bem evidente.
Então, no dia a dia, na vida comum dentro do jogo, em que a frequência
energética é mais densa, por exemplo, o que predomina é seguir a
programação condizente à dualidade “medo vs. desejo”, que gera um
impulso bem conhecido: a busca pela felicidade. A felicidade é o disfarce
que, em última instância, é o objetivo final do jogo: a redescoberta da
Fonte.
No programa da dualidade, em que a tônica, portanto, é a busca pela
felicidade, muitos obstáculos irão surgir e se joga o jogo com aquilo que se
tem de conhecimento e de ferramentas. Ou, então, nesta analogia, joga-se
com as “armas” que são possíveis para essa frequência-fase do jogo.
Então, haverá uma vida aparente de nascer, crescer e aprender a viver
neste “mundo”. Na “fase” atual em que vivemos no planeta, felicidade foi
interpretada pelo programa como sendo estudar, constituir família, ter
objetivos, ter um emprego, juntar dinheiro, pensar em um futuro melhor,
distrair-se etc.
Nesse sentido, os problemas (desafios do jogo) acontecem de forma dual:
manter a equação do desejo vs. medo. Onde se observa a dualidade em
tudo: eu e os outros; eu e o mundo; saúde e doença; harmonia e desarmonia;
agora estou bem, daqui a pouco já não estou mais; medo de perder vs.
desejo de ganhar; fácil e difícil; alegria e tristeza; bem vs. mal; certo e
errado; ganhar e perder; eu competir contra eles etc. Ou seja, a vida na
programação da dualidade é complexa e, ao mesmo tempo, maravilhosa
com infinitas possibilidades como a conhecemos atualmente!
Dentro deste jogo chamado “vida” também há a programação para
“elevar a vibração” (passar de fase) e “evoluir” dentro do próprio jogo.
Pouco a pouco, o jogo-vida vai transformando-se e elevando sua própria
frequência à medida que ele próprio se desdobra. Então, é quando se
começa a experienciar outros tipos de pensamentos e sentimentos que não
apenas os relacionados à base da dualidade: “desejo vs. medo” e “eu
separado dos outros”. Em algum momento, começa-se a experienciar,
mesmo que de forma superficial no princípio, o que temos chamado aqui de
Consciência-Clareza-Presença.
Quando a Consciência-Fonte começa a ser “des-coberta”
(inexplicavelmente) dentro do jogo, os pensamentos de medo nesta
frequência (nesta fase) por algum motivo começam a enfraquecer. Os tipos
de emoções, sentimentos e ideias geradas nessa nova fase irão trazer
atitudes e ações menos densas (mas ainda duais), com novas ferramentas e
alguns sentimentos mais nobres: são ampliados sentimentos ou valores
internos de, por exemplo, “importar-se com pessoas e com a natureza, de
cuidar do corpo, não gostar mais de certos relacionamentos pesados, de
diminuir o ritmo…”. Começa-se a empreender novas ideias, a fazer
mudanças no estilo de vida, a cuidar do planeta, a querer um mundo
melhor… Ou seja: a vida passa a mudar de fase e então começa a ser
sentida, mesmo que de forma embrionária, a energia do Amor. Por isso,
começa a existir um desejo mais forte por “paz e harmonia”, diferentemente
da energética densa sintonizada anteriormente apenas na frequência do
“medo”.
Quando a frequência do jogo começa a elevar-se, a dualidade permanece,
mas começamos a dizer que alguns estão entrando no fluxo da Consciência,
do Amor, e as “coincidências” positivas (sorte, fluxo e sincronicidade)
começam a acontecer para alguns personagens dentro do jogo. Já outros
personagens, por ainda não enxergarem, ou melhor, não vibrarem nessa
frequência mais sutil da Presença-Consciência, não valorizam ou não
sintonizam nesse fluxo de acontecimentos mais elevados.
MOMENTO DE CLAREZA

Importante ressaltar que toda esta interação energética no jogo da


vida se dá de forma separada apenas aparentemente, pois, quando se
olha profundamente, fica nítido que é apenas como um programa que
vai estabelecendo novas fases para o jogo e não é o indivíduo-
personagem que está decidindo evoluir separadamente. É o jogo que
está evoluindo! Olhe para a vida no nosso planeta há 500 anos, há
100 anos ou há 50 anos; o jogo-vida era vivido de forma bem
diferente.
Lembre-se que tudo o que é observado no jogo é, na verdade, a
Pura Consciência-Fonte, autoprogramando-se, brincando de
dualidade e ajustando-se como se fosse um jogo de evolução, como
se pessoas separadas estivessem elevando suas vibrações
individualmente. Porém, perceba que a mudança é coletiva e está
acontecendo no jogo como um todo. É apenas no nível aparente, a
partir de um olhar distorcido e superficial de dentro do jogo, que a
evolução “parece” ser um ato individual.

O interessante deste jogo chamado Vida é que algumas fases distintas


estão acontecendo ao mesmo tempo. As diferentes fases podem interagir
juntas no mesmo ambiente de jogo. Por exemplo, alguns personagens, na
vida diária, podem estar despertando em relação à descoberta da
Consciência enquanto outros, ao seu lado, ainda estão vivendo em uma
frequência mais baixa (de inconsciência). Todas as frequências (personas)
se encontram, passam umas pelas outras, mas as “conversas-interações” não
têm afinidade vibracional. Podem até trocar experiências no dia a dia, mas
não são duradouras. O personagem que está na fase da Consciência-mais-
Consciente percebe que as outras pessoas estão vivendo fortemente na fase
mais densa da dualidade: fica nítido que estão sonâmbulos, presos no
transe da mente ou inconscientes, no piloto automático.
Para os personagens que estão na vibração mais densa, por pura falta de
Visão, não existe a menor ideia do que está se passando com aqueles onde
há mais lucidez-consciência. Para eles, tudo é denso, mais desafiador e
existe normalmente muito esforço envolvido no seu dia a dia. E, por uma
questão vibracional, é como se aqueles mais conscientes não fossem
reconhecidos como tal; não são compreendidos ou são invisíveis de alguma
forma.
Quando se começa a vibrar mais próximo da energia do Amor, na clareza
da Consciência-Presença, a vida passa a ser realmente vista como um jogo.
Inicia-se a descoberta de que se vive, na verdade, um teatro, enquanto que
muitos permanecem cegos como se vivessem em um transe coletivo,
acreditando fortemente na “realidade” do jogo.
Estes primeiros ao elevarem sua frequência se tornam conscientes e
vivem despertos dentro do jogo, mas quando falam de suas visões não são
ouvidos por aqueles ainda inconscientes. Ou melhor, são ouvidos, mas não
são compreendidos; portanto, não são levados a sério. E, assim, o jogo
continua: várias fases (várias frequências) acontecendo concomitantemente,
mas sem que os sonâmbulos saibam que estes outros (os mais conscientes)
estão em outra fase.
A questão é que quando a frequência da Visão Pura (Consciência-
Presença-Amor) começa a ser percebida por um número maior de
“personas” ou quando um certo número de personagens começa a passar
de fase, estes, por vibrarem de forma diferente, começam a influenciar na
vibração geral do próprio jogo e ajudam os outros a mudarem de fase
também. Essa é uma característica do programa do jogo!
E o que fazer para mudar de fase?
Nada para fazer além de jogar o jogo da vida tal qual ele aparece. A
única coisa que se pode fazer é permitir, de forma consciente, que o jogo
seja do jeito que ele é (risos)! Estar míope dentro do jogo faz parte da fase
assim como despertar do sono também faz.
Apenas lembre-se: é só um jogo! Quem está jogando? Nenhum
personagem em específico. Poderíamos dizer que o jogo está sendo jogado
pelo Ser-Consciência-Fonte. O Ser-Fonte “alimenta” o programa do jogo
onde existem personagens: alguns aparentemente dormindo, acreditando na
veracidade de que são indivíduos separados e outros “achando” que estão
acordando dentro do jogo.
O que é o Ser e o Amor no jogo?
A Pura Presença-Consciente! Este estar consciente de estar consciente
agora é o Ser começando a reconhecer-Se e o Amor começando a
manifestar-se mais evidentemente. É o despertar acontecendo.
Ah, então poderíamos dizer que nesta analogia o “eu” do jogo é o
espírito/alma que encarnou em um corpo para jogar o jogo da 3ª dimensão?
Não!
O que se chama de espírito ou alma em algumas tradições é apenas outra
fase ou outro aspecto do jogo. A 4ª Dimensão (4D) é onde o jogo ocorre de
forma mais sutil, onde a matéria é menos densa e que está aparentemente
depois da “morte” do corpo na 3D. A 4D ainda está dentro do jogo, ainda
está na dualidade, “vivendo” na hipnose para a verdadeira natureza do
Ser-Consciência. A 3ª e a 4ª dimensões de realidades são aspectos do
mesmo jogo que envolve uma aparente roda de reencarnação e uma
necessidade de “evolução”, mas ambas ainda fazem parte do jogo.
Acordar totalmente da hipnose do jogo, o Acordar Derradeiro, chamado
de Despertar Crístico, Búdico, Liberação ou Iluminação está além do jogo
da dualidade do karma/reencarnação da 3D e 4D.
A boa notícia é que na fase atual do jogo já é possível descolar do
programa da dualidade ao reconhecer a Fonte sempre Presente e assim
começar a acordar. O despertar pode começar a partir da seguinte
descoberta:
Agora, aí, na sua experiência: existe consciência de estar consciente?

Existe reconhecimento da Lucidez Silenciosa agora?


Visão Pura das sincronicidades

Sincronicidades não existem (risos)!


Mas como? Sempre pensei que existissem!
Não existem como algo especial, melhor ou superior, pois tudo já está em
perfeita sincronicidade!
Em geral, quando se fala de sincronicidades, está-se referindo às
coincidências positivas que são reconhecidas como coisas boas ou como
“sorte”. São acontecimentos que surgem e são vistos como ligados uns aos
outros sem razão aparente, mas que se mostram fluídos, benéficos e sem
uma intenção consciente.
OK! Tudo bem com esta ideia, mas há pontos importantes aqui:
Na visão limitada da vida diária (na hipnose dentro do jogo), existem
situações aparentemente alinhadas com algo mais “grandioso”, talvez
chamado de “espiritual”, que poderíamos nomear de sorte, de fluxo ou de
sincronicidades. Por outro lado, aparentemente existem pessoas vibrando de
forma densa que, por sua vez, produzem certas ações e experiências de
vida que consideraríamos não alinhadas com o fluxo divino: sofrimento,
azar, problemas, esforço, tensão, em resumo, vivem em uma aparente
ausência de sincronicidade.
Na verdade as sincronicidades estão acontecendo para todos. A
frequência energética está atraindo, ou melhor, cocriando as experiências
condizentes à própria faixa de vibração. Experiências “boas” ou “ruins”
estão sincronizadas com a frequência vibratória de cada personagem
(dentro do teatro ou jogo da vida como na analogia anterior).
Por isso, podemos dizer que não existe sincronicidade boa. Existem
simplesmente experiências acontecendo exatamente como precisam
acontecer. Não existe, de maneira mais profunda, um personagem com sorte
e outro com azar, pois todos desempenham um papel vibracional que
possibilita o teatro acontecer em toda a sua riqueza de detalhes. Lembra:
“bom e ruim” são necessários para o programa rodar.
Em geral, no atual nível de consciência como humanidade, podemos
dizer que os personagens decidem apenas aparentemente vibrar melhor
ou pior. A decisão é feita no nível de roteiro do teatro, pois o que existe é o
fluxo do diretor ou o fluxo da vida. O fluxo do Ser está acontecendo de
forma perfeita em que o Ser-Fonte está aparentemente separado na forma
de indivíduos com vibrações distintas. É justamente esta “separação” que
permite as sincronicidades de experiências no jogo serem tais quais as
conhecemos: com as infinitas possibilidades e formas de vida.
Observe que tudo é o Ser-Fonte-Consciência brincando de viver em
diferentes frequências. O personagem individual e separado, portanto, não
existe como um organismo inteligente por si só e desconectado do Ser-
Fonte. É impossível viver independente da Fonte! Ela é sinônimo de Vida;
Ela é a fonte da vida.
Em que sentido que o ser separado não existe?
Apenas existe o Ser-Fonte e suas infinitas manifestações em organismos
biológicos/personagens. A plataforma da vida, que faz a inteligência da
natureza acontecer como seres humanos, é animada pelo Ser-Consciência.
Na vida diária, como foi dito, a Natureza da vida humana se movimenta e
se transforma num jogo dual: do sofrimento versus prazer, do bem e do mal,
do certo e do errado, da verdade e da mentira, da alegria e da tristeza, da
saúde e da doença, do eu e do outro, do conforto e do desconforto, da paz e
da agonia… Tudo isso é a energia multifrequencial do Ser gerando o seu
teatro de vida neste planeta… Tudo nesta dualidade flui na sincronicidade
do Ser.
Esta é a Visão ampla: tudo é o Ser, tudo está fluindo conforme a
possibilidade desta realidade, neste planeta, nestes “tempos”. O
holograma-jogo está perfeito do jeito que está. Esta experiência é rica numa
visão mais abrangente, pois o Ser se permite vivenciar todo o tipo de
experiência dual, mas sem o peso de alguma coisa estar “errada”. Certo e
errado, lembre-se, é o teatro, a distorção do personagem!
É a Fonte que cria e alimenta o jogo. Tudo na vida já está no fluxo da
sincronicidade do Ser, mesmo quando aparentemente, dentro do jogo, as
coisas no dia a dia parecem erradas.
Agora, vamos falar das sincronicidades de forma prática, considerando o
viver diário de dentro do jogo, para aqueles que precisam entender como
brincar nele:
Sincronicidade de forma prática significa fluxo elevado, mais alinhado
com o Amor-Presença-Consciência. É um tipo de alinhamento com o Self
mais elevado e não tão preso à mente programada, um tipo de viver menos
dependente do condicionamento do teatro ou menos adormecido no drama
aparente.
Despertar para as sincronicidades no jogo é começar a perceber que o
Amor é a energia vital mais profunda, mas que ainda está encoberta pelo
teatro-mente. É viver como se existisse uma brincadeira de esconde-
esconde: “vive-se” o teatro para encontrar o Amor-Consciência. Quando o
despertar da Presença-Amor inicia, mais as sincronicidades são percebidas.
A vida dentro do teatro fica mais leve, mais fluida, em que cada vez menos
esforço se faz necessário.
Já no colapsamento da vida corriqueira cotidiana, na hipnose do teatro da
mente, a experiência é incrivelmente diferente: existe uma ausência
aparente de sincronicidades, ou seja, é preciso mais esforço para fazer as
coisas acontecerem. Existe uma necessidade de se fazerem muitas coisas
que exigem uma luta árdua. O sofrimento é nítido e, portanto, existe menos
fluidez na vida, muita tensão e pouca paz.

MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

Sincronicidade, no fundo, é a única coisa possível no nível da


Fonte-Consciência, pois em certo momento pode ocorrer um insight
de que tudo o que acontece é obra do Divino, de que é a Energia
Criadora, de que é o Ser-Consciência que está arquitetando o jogo da
vida.
Começa a ficar mais evidente através da Visão Pura que, assim
como numa floresta, a vida está sendo orquestrada por uma
Inteligência Maior e não por “mim” e que, mesmo a morte de um
animal, uma árvore que cai com um raio, tudo está perfeitamente em
sintonia com a natureza… Perceba que isso traz um dar-se conta de
que na vida humana o Fluxo Divino funciona da mesmíssima forma.
Nesta Visão, tudo é visto como perfeito e sincronizado com o Fluxo
e começa a notar-se que os pensamentos surgem e que, por causa
deles, ações acontecem e, por isso, nada poderia estar fora do Fluxo.
Esse dar-se conta na vida prática diária, esse Vislumbre Puro de
que tudo é o Fluxo, significa um aumento de sensibilidade em relação
ao Todo e surge naturalmente uma aceitação de que “está tudo bem”.
Essa aceitação começa a significar no dia a dia uma vida sem
esforço, sem pressa, sem tentativa de acelerar o fluxo das coisas. A
ambição da mente se esvai mais e mais e uma entrega consciente
começa a surgir.
Claro que projetos práticos vão existir (são o fluxo), pois perceba
que toda a materialização do Fluxo Divino no teatro precisa do corpo
biológico para acontecer.
Começa-se a perceber a tentativa mental infrutífera de controlar
tudo, de tentar planejar e de melhorar o futuro, que é justamente de
onde surge aquela ansiedade ou ânsia por acumular, dominar e
conquistar. Esse mal entendido sobre o controle da vida traz consigo
o anseio de não perder ou de ter de acertar, de ter de fazer ajustes e
evitar erros… Este modelo mental de controle começa gradualmente
a desfazer-se, pois o medo, como emoção base de todas as outras
emoções, diminui juntamente com isso tudo.
Começa, então, a existir uma fé inabalável de que até mesmo as
adversidades são aparentes e fazem parte do fluxo da vida. Aquela
identificação pesada com o personagem, com o profissional, com o
pai, com a mãe, com o filho ou com o empresário de sucesso, o
funcionário exemplar, o trabalhador, começa, pouco a pouco, a
desfazer-se também.

Quando passa a existir um alinhamento consciente com o Ser, surge uma


compreensão intuitiva profunda de que é a Consciência-Ser que está
orquestrando a vida, de que “a vida é isso e é o que se tem para o
momento”, mesmo com os aparentes problemas que surgem. Claro que não
se está falando de uma aceitação passiva, de parar com tudo e ficar em
casa dormindo. Pelo contrário, no fluxo do Ser existe um entusiasmo
natural pela vida, as coisas são feitas com paixão, vive-se cada instante com
intensidade.
No ritmo das sincronicidades, diminui-se o esforço e a tensão e também
vai findando a famosa busca inconsciente por felicidade nas coisas.
Diminui-se a busca pela felicidade social e pelo desejo constante de
melhoria da “minha” vida. Aquele prazer por realização, por conquista
perde o sentido. A busca por uma completude no futuro é substituída por
uma confiança natural que é sinônimo de Paz, agora.
Então, passa a permear a vida diária, uma sabedoria que não se importa
mais se a mente está agitada ou não, se tem ansiedade ou alívio, se as
pessoas “aprovam o que faço”; não há mais necessidade de valorizar certas
circunstâncias e querer eliminar ou afastar-se de outras. Não mais.
No fluxo, na compreensão profunda da vida, tudo é do jeito que é.
Termina a tendência de depositar a expectativa de bem-estar nas emoções
positivas e nos pensamentos alegres. Não se quer mais livrar-se do
desconforto, pois este não está mais relacionado à minha identidade. É o
teatro! Não precisa buscar por estados emocionais ideais para estar-se bem.
Tudo é permitido.
Aquela identidade-personalidade enfraquece: “Eu sou o centro da vida e
tenho que tomar decisões e fazer muita coisa”. As coisas são feitas e os
eventos acontecem e, mesmo que a mente os rotule de bons ou ruins, nota-
se que ela não importa mais. Ela (a mente) é vista como não sendo Eu e
passa a ser reconhecida como apenas uma energética momentânea que não
afeta a Paz que Sou. A identificação com a mente e com o comportamento
e, portanto, com o teatro enfraquece.
É como se existisse uma aceitação profunda do tipo “Seja feita a Vossa
Vontade”, em que o “Vossa” não se refere a alguém, mas sim ao fluxo da
vida, ao Divino-não-personificado, ao ritmo do universo e não à mitológica
entidade barbuda que está em algum lugar “lá em cima olhando e
julgando-me”. Não há mais necessidade de crenças, não é preciso mais
“acreditar”, pois não é mais um processo mental de crer e temer.
Simplesmente, a Visão-compreensão-Pura do Fluxo Divino acontece!
A sincronicidade é percebida como um fluxo de acontecimentos que
fazem muito sentido no momento em que surgem. Tudo é visto como sendo
perfeitamente certo na hora certa: a pessoa certa dizendo a coisa certa no
momento certo (mesmo que seja um acontecimento que a mente diga que é
ruim ou que diga que não deveria ter acontecido). Está tudo certo! Tudo
bem!
Claro que um fenômeno que começa a acontecer é que, quando a sintonia
com o Fluxo surge, os personagens que vibram na mesma frequência
começam a unirem-se do nada e as pessoas que não se sintonizam afastam-
se umas das outras. Relacionamentos novos surgem e os antigos mudam.
Coincidências “positivas” tendem a acontecer (“tendem”, pois não há
garantia; nada é garantido) e a sorte será notada com mais frequência.
Começa-se, então, a entrar em um ciclo (ritmo) de fluxo e de não esforço
em que poucos movimentos geram resultados “incríveis”, em que
coincidências surpreendentes tendem a acontecer e, de contraponto, padrões
antigos são quebrados. Quando o modelo de vida antigo colapsa, a mente
pode “sofrer” por precisar desapegar-se rapidamente, mas aqui o
sofrimento também é visto como fazendo parte do fluxo do momento.
A vida começa a ficar muito bela. Aliás, é aí que a Vida de verdade
começa. Quando o Despertar para esta Visão Pura surge, dá para afirmar:
“Agora sim a Vida começou a ser vivida”.
Enquanto esta Visão de vida, de mundo, não acontece, tende-se a haver
muito esforço dentro do jogo, tende-se a fazer muita coisa, a adequar-se a
padrões de sucesso social, o que em geral gera algum tipo de sofrimento.
Mesmo que algumas personas (sem esta Visão) estejam bem adaptadas ao
sistema (por habilidades desenvolvidas), mais cedo ou mais tarde esta
energia do fluxo, da sincronicidade, da Visão profunda da vida, vai ser
arrebatadora. A vida se torna mais leve, curiosa, dinâmica, inimaginável,
surpreendente, sem propósitos mentais. Torna-se pacífica, amorosa e com
uma aceitação completa do que É.

MOMENTO DE CLAREZA

A pergunta que fica é: como alguns personagens conseguem elevar


o nível de vibração e outros não?
Lembra que, para o teatro acontecer, precisam haver inúmeros
papéis desde o mocinho até o bandido; caso contrário, não há jogo! O
bandido e o mocinho são o Ser-Consciência em movimento. Todos já
são o Ser apenas aparentemente vibrando em diferentes frequências.
Por isso, entenda, é um teatro como um holograma, em que até
mesmo uma guerra é Divina e necessária para a experiência de morte
traumática acontecer. Portanto, é só um filme, não é o personagem
individual que eleva a frequência. É o filme desenvolvendo-se
aparentemente.
Em outra metáfora, imagine que tudo é a tela de uma TV
autoconsciente com tonalidades ou pixels de cores diferentes. Ou
seja, tudo é a Tela-Consciência pintando-se de personagens e
paisagens aparentemente separados, mas tudo é sempre a Tela.
Porém, quando se vê o filme do ponto de vista do personagem, não se
enxerga a Tela-Consciência, e sim apenas o drama. Portanto, não se
importe com as diferentes vibrações e cores da Consciência, pois os
personagens são apenas tonalidades que já são Pura Consciência.
Em outra analogia para responder a pergunta sobre elevar a
vibração, é como se alguma cor do arco-íris estivesse querendo
“evoluir” e elevar a sua vibração para tornar-se outra cor. É insano,
pois todas são necessárias e já compõem o arco-íris.
A sacada toda é perceber que “Eu não sou a cor, não sou o
personagem”, portanto, já sou Pura Consciência a qual não tem
frequência para elevar e, assim, não importa qual o papel do
personagem na tela, no filme, pois em essência já Sou Ela, sem
frequência, Pura!
A visão sobre coincidências, sorte, azar

A rigor, nada que existe está desconectado. Sorte, azar, coincidências


positivas ou negativas, sincronicidades, já estão acontecendo com todos.
Em um nível da Verdade não tem absolutamente nada que esteja “fora” do
fluxo Divino. Tudo é o Ser-Consciência em movimento. Mesmo uma guerra
ou uma morte no trânsito é a manifestação física do Divino para a
atualidade tal qual nosso mundo é conhecido.
Já estamos prontos a esta altura para afirmar que tudo são aparências.
Aparências no sentido de “aparecer” e “desaparecer” para o Eu-
Consciência. Nenhuma experiência é real no sentido de ser duradoura;
assim como surge, desaparece. Tudo que aparece se vai… Tudo que vem e
vai no nível da experiência é efêmero, não tem cunho de Verdade-
permanência. Tudo que surge na nossa experiência são apenas fenômenos.
Estes são a Consciência-Ser-Fonte em movimento, possibilitando a Si
mesmo materializar-se e desmaterializar-se (aparecer — aparência —
desaparecer).
Toda a vida, mesmo nos seus aspectos multidimensionais e
multiplanetários, é a Consciência-Fonte em uma certa vibração. A Pura
Consciência é Puro Vazio Silêncio Inteligente. O mundo que surge em
qualquer “realidade” é a manifestação ou o conteúdo que aparece na
Consciência. O que Existe em Verdade é a Consciência. O que aparece é o
seu conteúdo. Neste livro estamos apontando para Aquilo que é duradouro,
que está sempre presente, que não muda — que é Consciência — deixando
de nos apegar ao conteúdo que é mutável.
Por exemplo, dentro do jogo da vida, mesmo os acontecimentos que a
mente rotularia de “desastre” ou de “azar” são a manifestação da
Consciência. Neste sentido, nota-se que tudo é o Fluxo da Consciência-
Fonte. Tudo é feito de Consciência e não é criado por “alguém” dentro do
jogo. A responsabilidade individual, o peso da aparente escolha é notório,
mas apenas do ponto de vista da mente limitada que é cega dentro do jogo.
A mente do personagem do jogo, limitada, também é Consciência em
movimento, mas não é inteligente por si só; é apenas uma intérprete dos
acontecimentos da Consciência. A mente limitada também é o conteúdo,
mas sem a sabedoria da Consciência Pura. Em outras palavras, a mente-
intelecto é “cega” e não pode enxergar a Verdade a respeito do jogo.
Assim se dá o jogo: a Consciência-Fonte encenando uma peça (como um
teatro) e manifestando as múltiplas possibilidades de um jogo complexo,
em que tudo é possível, pois tudo é a própria Fonte em movimento.
Cada personagem dentro do jogo é a Consciência, mas com qualidades e
personalidades distintas que fazem as interações de um jeito que permite o
jogo evoluir. Perceba que, independente do conteúdo e dos acontecimentos,
a Consciência permanece intocada assistindo ao jogo, agora, através dos
olhos do personagem aí, mas sem importar-se com ele. Perceba agora a
Consciência consciente testemunhando o personagem-mente…

٠٠٠
Consciência é a única Autointeligência, mas a mente-personagens-
limitada não pode perceber esta Verdade. Somente a Consciência pode
perceber a limitação da mente e tudo mais, agora…

Portanto, reconheça que “sorte”, “azar”, “bem” e “mal”, uma guerra ou


um acidente de carro, uma morte, apenas do ponto de vista do personagem
“não deveria acontecer”. O personagem poderia chamar a morte de algo
“negativo”, mas não tem nada de “negativo” em última instância, pois é
apenas na aparência do jogo que uma morte “aconteceu”, pois a
Consciência não morre. Não existem, portanto, coincidências, sorte ou azar
em uma Visão Pura elevada. Existe apenas o Fluxo da Consciência, o que
tem para o momento… Assim, dentro do jogo, as coincidências positivas ou
negativas começam a serem percebidas não mais como “sorte” ou “azar”.
Surgem vislumbres (Visão) de que “sorte” ou “azar” são na verdade a
linguagem da Consciência: sincronicidades.
Este vislumbre do todo, de que não existe sorte ou azar, de que os
acontecimentos simplesmente São, é como se fosse fruto de uma “vibração
mais elevada” dentro da peça, em que um “acordar” do sono se inicia.
Quando ainda não há a visão da linguagem das sincronicidades, os
eventos desastrosos que “lhe” acontecem ainda são rotulados de problema,
desastre, azar. Significa que esse personagem ainda está na frequência do
esforço, na “luta” diária dentro do jogo. Nesse exemplo, é como se a
própria Consciência nessa aparente vida separada permitisse um estilo de
personalidade que vibre em uma “frequência mais baixa”, ou melhor, que
viva na completa falta de Presença-Consciente em esquecimento de “quem
ele” é.

MOMENTO DE CLAREZA

Importante reconhecer que o termo “frequência mais alta ou baixa”


não significa mais evoluído, melhor ou pior de maneira mais ampla,
pois, lembre-se, em última instância, “todos” no jogo já são
Consciência, apenas a mente física limitada ainda não “traduz” uma
Visão mais completa. Mente limitada, portanto, não significa que a
Consciência esteja limitada.

Vamos esclarecer um pouco mais…


Imagina a seguinte analogia, em que existe uma medida energética de
escala entre 0 a 10, por meio da qual o “0” representaria a “Consciência
100% inconsciente dela mesma” (ausência total de Presença — senso
elevado de separação) e o “10” significaria a “Consciência consciente de si
mesma” (senso de Unidade).
É como se no início do jogo do teatro a Consciência ficasse permitindo-
se vibrar com movimentos ondulatórios (como a maré) de sobe e desce ou
de vai e vem, apenas nas escalas mais baixas: entre 0 e 3. Nesse vai e vem
de vibração 0-3 existe um baixo nível de Autoconsciência em que a
Consciência se permite vibrar de forma mais densa e tais frequências
propiciam o teatro acontecer com um tipo de programação de pensamentos
mais rústicos: de ódio, de querer dominar outras pessoas, de vingança, de
matar, de roubar etc. Nessa escala mais baixa de frequência do movimento
da Consciência, a vida aparente no teatro é mais dura e as “ideias” que
surgem e a consequente materialização trazem uma vida humana de mais
esforço, mais competição, de injustiças, de mortes e trapaças. Experiencia-
se um tipo de mundo onde relacionamentos fraternais são raros, menos
empáticos, onde os empreendimentos são de pouca visão “espiritual”. É
como se nessa analogia voltássemos nosso tempo para dois mil anos atrás,
por exemplo.
À medida que evolui o jogo da vida, a própria Consciência se permite, a
partir de sua programação mental dentro do jogo, ter picos de movimento
vibracional um pouco mais elevados e atinge níveis entre 1 e 6, apesar de
ficar muito tempo vibrando ainda nos níveis mais baixos (até 3), mas
eventualmente atinge picos de 5 e 6 nessa escala hipotética. É como se a
vibração de frequência se refinasse um pouco e ficasse mais leve. Nesse
caso, o que começa a acontecer é que aparentemente no pico de 5 ou 6, essa
frequência mais sutil traz ideias, pensamentos e sentimentos mais elevados
e, então, o jogo começa aparentemente a mudar de fase; a vida aparente
começa a “melhorar” e sair da rusticidade.
Quando acontecem picos ondulatórios de 5 ou 6, surgem pensamentos de
mais “justiça”, alguns indivíduos dentro do teatro começam a ficar mais
sensíveis, diminui o desejo de dominação sobre os outros e o medo que
antes era a tônica geral começa a enfraquecer um pouco. Dessa forma,
ideias inovadoras e novos empreendimentos surgem diminuindo a
densidade daquela vida anterior. As armas de luta e a dominação física
começam a não fazer tanto sentido e são trocadas pelo dinheiro, por
exemplo, e uma sociedade um pouco mais “madura” começa a surgir. As
amizades e a valorização de comportamentos menos brutos são
considerados mais aceitos e assim por diante. Agora, podemos dizer que,
numa linha de tempo, avançamos no jogo e que novas fases e novas
possibilidades de vida surgem.
Nessa última escala 5-6, é como se fosse no início do século passado,
como se já houvesse passado 2000 anos da escala 0-3, em que foram raros
os picos de Consciência acima de 6 (nesta metáfora). O jogo veio evoluindo
e a Consciência-Fonte começou, por motivos inexplicáveis, a permitir-se
ter saltos de Autoconsciência mais fortes. Neste patamar, esses picos
oscilam pouco na parte inferior 1-3 e, assim, ocorrem picos mais estáveis
acima de 6, chegando algumas vezes a níveis de 7 e 8, mas são raros os de 9
e raríssimos os pontos de vibração 10 (em que o 10 representaria o Puro
Autorreconhecimento: Presença-Consciente-Lúcida ou Visão Real do jogo).
Em outras palavras, a escala 10 significa o reconhecimento do teatro como
sendo apenas um jogo de aparências na Consciência, na qual surge a
compreensão da Verdade a respeito da Vida. Há um despertar para a falácia
da separação do “eu” e a Visão Pura da Verdadeira Natureza do Eu-
Consciência se revela.
Nessa evolução dentro do jogo, picos de Autoconsciência de 8, por
exemplo, vão trazer ideias, pensamentos e sentimentos de mais
fraternidade, de um importar-se e conectar-se com os outros seres
humanos em um nível mais profundo. A natureza como ecossistema passa a
ser respeitada e a vida como um todo é vista como fazendo parte de Mim. O
estresse mental não faz mais tanto sentido ou não é mais suportado e
também, por exemplo, a alimentação orgânica começa a surgir.
Questionamentos sociais e de modelo de vida surgem, aparecem novas
tecnologias que começam a corromper o sistema antigo (internet, redes
sociais, smartphones, aplicativos revolucionários, ideias de
compartilhamento, energia renovável etc.), tudo isso alinhado com os picos
de consciência de nível 8. Neste momento, alguns dentro do jogo começam
a ter insights de Amor, Unicidade, e um despertar começa a acontecer. Os
picos de nível 10 são menos raros e já começam a surgir, mas não são
estáveis ainda.
Em uma sociedade com escala de frequência nível 10 mais estável, por
exemplo, chega-se a quase zero a dominação e o controle sobre outros
seres. As fontes de energia se tornam livres, os governos são vistos como
desnecessários, a indústria da manipulação em todos os níveis fica nítida,
desde a saúde às finanças, e a Paz e o Amor são a nova moeda. A
multidimensionalidade da Consciência surge e consequentemente o contato
com seres de outros planos e de outros planetas se abre. Um novo mundo de
possibilidades no teatro surge. Uma nova sociedade emerge, os sistemas de
densidade maior passam a desmoronar porque foram construídos em uma
energética antiga: os sistemas de governo político e educacional; o sistema
empresarial de dominação e de consumo; as religiões; o dinheiro como o
conhecemos; o controle e a limitação das fontes de energia; a indústria da
comunicação ou da desinformação; a indústria da doença, da guerra e da
alimentação começam a serem vistas como mentiras e a não fazerem mais
sentido neste novo “nível” de “visão” de jogo.

MOMENTO DE CLAREZA

Tudo o que se está presenciando no momento atual do planeta, toda


a expansão tecnológica até a derrocada do sistema de governo, é uma
questão de vibração e de frequência planetária elevando-se; não é
uma escolha mental ou de estratégia. Também não é uma decisão da
população de mudar o planeta. A nova geração de seres (os jovens,
principalmente) que estão hoje com menos de 30 anos de idade já
vibram de maneira elevada e trazem um novo “sistema” para ser
“implementado”. Eles não se encaixam no sistema e modelo antigos
de frequência energética. Já era, não tem mais volta! A “matrix” está
desmoronando! O que estamos começando a vivenciar no planeta
neste momento é uma revolução da Consciência: a escala 10 começa
a aparecer e estabilizar-se no teatro.

Dessa forma, voltando para nossa ideia inicial de sorte, azar e


coincidências, agora podemos dizer por uma questão “energética” que já é
possível notar que tal coisa de sorte e azar, na verdade, não existe. Tudo é
frequência e aparente dentro do teatro, pois o todo é a própria Consciência
em movimentos ondulatórios. Tudo é a Consciência semeando, criando,
guiando ou propiciando o jogo acontecer de forma ampla, ilimitada, com
“altos e baixos” de vibração. Os acontecimentos, portanto, estão sempre
sintonizados com o nível de frequência do momento.
Os pontos de vista a respeito da morte, de uma vida difícil ou fácil, de
problemas, sorte, azar e de busca pela felicidade são apenas rótulos e
crenças. São reais apenas para aquele ponto de vista-mente limitada e cega
para o jogo, que só pode vê-lo de dentro do teatro com uma “visão pobre” e
ainda de baixa frequência: sem a Visão do Todo, ou melhor, sem a Visão da
Verdade mais Pura.
Sinta a Consciência-Pureza-Silêncio completamente evidente aí, agora…
Espiritualidade

O que podemos chamar de espiritualidade nesta abordagem da Visão


Pura?
A palavra “espiritual” se refere a “espírito”, refere-se àquilo que anima o
corpo, mas que não é o corpo nem a mente. E são justamente as
interpretações do que seja “espírito” o ponto principal aqui.
A palavra “espírito” tem muitas interpretações e não importa se são
limitadas ou não. O entendimento humano sobre o “espírito” não altera a
Sua própria natureza…
A vida, como a conhecemos tradicionalmente, é de aparência material,
densa, como se fosse a única realidade. Quando há uma abertura para a
descoberta de que não é o corpo que existe exclusivamente, abre-se para
algo mais sutil que existe além do corpo e, então, a espiritualidade começa
a ser reconhecida. A partir daí pode haver vários níveis de insights, de visão
ou de profundidade a esse respeito. Por exemplo, quando a própria ciência
começa a ir para o campo sutil e considera o movimento quântico do
universo como sendo anterior à matéria, a espiritualidade já está
acontecendo dentro da ciência.
Agora, é claro que existem infinitas visões e possibilidades de vivenciar-
se o campo sutil. Alguns consideram “espiritualidade”, por exemplo, como
sendo o plano da quarta dimensão (4D) que fica “logo acima” da terceira.
Essa pode ser uma forma de entendimento do espírito. Outros poderiam
consideram “acessar” a quinta dimensão como sendo algo espiritual (não se
importe se você não faz ideia alguma do que seja a 5D, isso não vem ao
caso aqui), ou ainda alguns poderiam considerar contatar com
extraterrestres de outras dimensões como algo de valor espiritual. OK, tudo
aquilo que começa a ampliar a visão limitada da terceira dimensão, ou deste
corpo-mente-mundo, pode dizer-se espiritual, pois o Espírito é infinito e é a
Fonte de todas as realidades.
O mais importante aqui é não tentar enquadrar um conceito sobre
espiritualidade, pois todos os conceitos são apenas conceitos e nunca a
realidade em si. Nada disto acima citado tem importância exclusiva. O que
importa é que o que está acontecendo na "realidade” de cada indivíduo está
perfeitamente no lugar.
É importante começar a perceber que a partir da Visão Pura nada está
separado ou agindo independente da Fonte. Essa Visão-compreensão-
Última já está revelando-se, ou este reconhecimento da Unicidade já está
acontecendo neste nosso plano 3D. Está surgindo um dar-se conta intuitivo
e profundo que aponta para Algo além da matéria, além dos planos mais
sutis ou além das dimensões, mesmo que a mente não saiba disso ainda.
Reconhecer a verdade do Eu-Consciência-Fonte é uma Visão profunda e,
ao mesmo tempo, simples que está disponível Agora, aí independente de
dimensões e planos de realidade.
Em outras palavras, a Espiritualidade já É independente daquilo que a
mente disser sobre ela e, portanto, não necessita ser “encaixada” em
nenhum conceito. Existem infinitos níveis de percepção do que é
“espiritual” e todos estão em certo estágio de compreensão. E está tudo
bem, pois, independente do nível de compreensão, o Espírito já é a
Essência de tudo e de todos.
Espiritualidade tem a ver com mediunidade?
A Espiritualidade a que nos referimos aqui, por exemplo, não tem a ver
com mediunidade por si só. Existem pessoas com mediunidade
desenvolvida, mas com baixa compreensão espiritual e pessoas sem
mediunidade aparente, mas completamente despertos com altíssima
Compreensão-Visão.
Na Visão espiritual profunda, Última, daqueles completamente Acordados
ou Libertos do Sistema-Jogo, não existe necessariamente maestria no que
convencionalmente se chama de mediunidade. Esta, em geral, refere-se ao
um tipo de sensibilidade sensorial multidimensional, mas não está ligada
necessariamente ao Despertar profundo para a Verdadeira natureza do Ser.
Visão Pura e mediunidade são assuntos completamente diferentes.
Claro que ater-se a definições não é o ponto aqui. O ponto é “enxergar”, a
partir da intuição, o que serve e o que não serve para fortalecer a Visão. E
esse discernimento vem como uma guiança da Fonte. É a Consciência nas
suas multipossibilidades que está criando o jogo, a “espiritualidade”, tal
qual ele se apresenta em todos os níveis, estágios, possibilidades, dimensões
e visões espirituais etc.
Portanto, absolutamente tudo é espiritual, até mesmo aquele personagem
com uma visão completamente materialista. Tudo é o Ser brincando de não
ser o Ser (risos). Lembre-se: é o jogo. Assim é o teatro em que o Ser brinca
de não ser visto ainda como a Essência, mas tudo já é a Essência-Ser,
portanto, tudo só pode ser Espiritual.
Podemos resumir e apenas simplificar dizendo que, no teatro, quanto
mais “próximo” do puro Amor, mais próximo da Verdade; quanto mais
“distante” do puro Amor, mais afastado da Verdade a respeito de si mesmo.
Entretanto, perceba que tudo é o Ser-Espírito-Amor brincando de ser mais
ou menos “espiritual”. Quanto mais próximo da Visão de que não existe um
eu-separado do Ser com autonomia própria, ou de que não há um
fazedor individual, de que tudo que há é produto do Eu-Amor-
Consciência-Fonte, mais “próximo” se está da Verdade Espiritual.
Enquanto for forte a ilusão da separação, enquanto existir fortemente o
senso de autoimagem, da independência do eu-fazedor-pessoa, de ser
alguém-indivíduo, ou enquanto houver a identificação com a ideia do eu-
personalidade, mais “distante”* estará da Verdade Espiritual.
O Espírito é como o espaço que está Aqui, mas não é visto. É como o ar
que permeia tudo, mas não é percebido na maior parte do tempo. O Ser é o
Invisível que está em tudo, “esperando” para ser Autorreconhecido. Eis a
Visão: “somente aquele que tem olhos para ver, verá”!
Portanto, a única “coisa” que existe em verdade e sem distorção é o
Espírito. Aquilo que Você É é o Espírito, o resto é aparência que aparece
como “realidade”, mas reconheça que tem Algo mais!
Nesse sentido, o mais importante não é o “entendimento” sobre o que é
espiritualidade, pois tudo que existe é Espírito. Espírito** é Aquilo que Você
já é mesmo que aparentemente (no nível do que aparenta) a mente não
“saiba” disso.
Portanto, aquilo que poderíamos chamar de Inteligência Espiritual (QS)
ou de crescimento espiritual no nível do teatro acaba sendo até um
contrassenso de forma mais profunda: como poderia Aquilo que já É
evoluir para tornar-se a Si mesmo? Já É. Tudo É o Divino.
Claro que dentro do jogo das aparências o Espírito escolhe “brincar” de
materializar mundos por meio de infinitas dimensões e possibilidades. Ele
escolhe brincar de não ser completo, mas só aparentemente. É como a água
que escolhe disfarçar-se de lago, rio, mar, chuva, vapor, gelo, neve, mas, de
verdade, tudo é água. Esse é o jogo! A descoberta de que já se É é o ponto!
Tudo já é perfeito, tudo já está acontecendo conforme Eu mesmo (Espírito-
Ser) estou orquestrando (claro que a mente limitada não capta isso! Esta é a
hipnose da mente que filtra e distorce a verdade suprema). Eis o ápice da
Inteligência Espiritual para este plano nestes tempos: Você já é aquilo que
está buscando. Eu Sou!
Talvez um pensamento que surja é: “Mas como sei que esta é a verdade
suprema?”.
A Verdade Suprema é incompreensível.
A tentativa e o desejo que surgem de conhecer a Verdade Suprema ou
talvez o receio de não estar 100% alinhado com a Verdade é só mais um
dado-pensamento para ser visto também no jogo da mente. Aquilo que se
está materializando no plano terrestre agora é o que é possível neste
momento: esse é o jogo! Se existe preocupação de que “deveria haver algo
mais profundo para ser conhecido”, note que este pensamento é apenas
mais uma nuance desta vida, que é rica, pois existem sempre várias
possibilidades de sentimentos, pensamentos, emoções e sensações surgindo
a cada instante. Tudo está perfeito, tudo lindo, tudo maravilhoso. Eis o jogo
espiritual: reconhecer o todo!
Por acaso, teria algo que poderia ser diferente disso? Por acaso, daria para
mudar alguma coisa? A mudança acontece. “Ninguém-alguém”
independente da Fonte muda nada, pois este alguém separado é justamente
o equívoco: a autoimagem da personalidade. O banco de dados da mente
(pensamentos-emoções) surge! “Ninguém-alguém-pessoa” os cria. Tudo
está perfeitamente sendo criado, seja brotando da programação mental, seja
vindo da intuição (mas perceba que a Essência de tudo é Espírito).
Perceba que existe uma Intuição agora que permeia todos os dados-
pensamentos-emoções. Existe uma Intuição agora que se manifesta em um
Senso de Existir, que reconhece que tudo que aparece na experiência surge
na Consciência-Eu sempre consciente…

Eis que surge a sacada: estar consciente de estar consciente de que a


base do experienciar agora é o Ser… Sinta Isto aí agora…

Que maravilha, que beleza! Nada precisa ser mudado ou buscado. Até
mesmo uma dúvida sobre “espiritualidade” é válida e perfeita no momento
em que surge.
Enjoy the trip com ou sem a compreensão profunda do que é “espiritual”.
Curta a viagem apesar de começar a notar que não tem um alguém-
indivíduo-separado para “curtir”! A curtição surge quando tiver de surgir!
Perceba que tudo aquilo que se tenta buscar ou atingir é, na verdade, uma
“ilusão do eu” — este é o jogo espiritual (risos). Tudo OK e perfeito
Agora. Eis a Inteligência Espiritual.
Sinta a Consciência-Espírito silenciosa e alerta agora…
Amor

Amor é sinônimo de Consciência.


Amor não se refere ao amor-emoção. Amor é o fluxo de Vida e, sempre
que existe Vida, existe Amor. Vida é sinônimo de Amor, que inclui a morte
também. Nas aparências da vida (que inclui a morte do corpo físico),
quando se julga que o Amor não existe, revela-se apenas que a “energia do
Amor” não foi reconhecida.
Quando o Amor não é reconhecido, ele está apenas encoberto,
negligenciado, mas está ali, aqui, agora. É o mesmo que usar uma
determinada roupa ao longo de um dia, mas não se dar conta do que se está
usando. Na maior parte do dia a dia de alguém, nos seus afazeres diários,
não se tem consciência de que está usando uma camisa, por exemplo. Ela
está no corpo, mas não lembra-se dela; da mesma forma, o Amor não é
notado. Ou, então, podemos ir ao cinema assistir a um filme de suspense
que cause sentimentos de tensão, mas, por um bom período, esquece-se de
que é apenas um filme e, por isso, os sentimentos gerados pelo filme
aparentam ser “reais” e ficam em primeiro plano. Esquece-se por algum
tempo que nada daquilo é real de fato, que se trata de uma ilusão sensorial e
que não existe motivo verdadeiro para nervosismo, pois se sabe que a
“minha vida não é aquele filme de suspense”.
Da mesma maneira, quando falamos do plano Divino, a plataforma
energética da Criação é Amor. Tudo é criado pelo Divino e é justamente a
manifestação do Amor que possibilita o filme Vida acontecer, mesmo que
haja uma aparente ausência Dele. Há um esquecimento de que, na verdade,
o Amor está “vibrando” o tempo todo, apenas aparentemente encoberto por
toda infinidade de sentimentos, emoções e pensamentos… O Amor é o
combustível invisível, assim como o oxigênio, mas, por ser tão magnífico,
permite alimentar a vida sem ser lembrado.
Aquilo que vê através dos olhos, que sente através da pele, que vive aí,
agora, é Amor. O que acaba acontecendo é como se, no mundo físico (de
forma tão incrível), o Amor se permitisse vibrar em várias frequências
diferentes. O Amor é a base de tudo, é anterior ao elétron, porém da mesma
forma que o elétron é necessário em qualquer átomo, assim o é o Amor, mas
acaba por não ser lembrado e sentido no dia a dia.
Ao assistir um filme, por exemplo, em algum momento, pode ser que
aconteça um instante de lucidez e então surge um dar-se conta de que se
está sentado na poltrona do cinema e que “isso é só um filme”. Então, a
tranquilidade que já estava aí, porém que se encontrava encoberta pelos
sentimentos gerados pelo suspense, passa a ser reconhecida. A tranquilidade
sempre esteve aí, mas havia um véu de emoções, sentimentos e
pensamentos que fazia a experiência do filme ser tensa.
Já aquilo que se chama de amor entre relacionamentos é apenas uma
emoção sentimental, assim como medo, inveja, ciúmes, insegurança, pânico
ou felicidade: é um amor-sentimento-humano entre pais e filhos, casais,
amigos e até em relação a animais de estimação. Este amor é sim uma
emoção mais “nobre”, mais refinada que a euforia, por exemplo, e gera
sentimentos positivos ao invés de contração no corpo como faz a raiva. Mas
este amor-sentimento é diferente do Amor Divino, o Amor-Ser-Consciência.
O amor-emoção humano, em geral, traz consigo sentimentos de posse,
desejos, sensação de pertencimento ou de querer. Neste amor-sentimento
pode até mesmo haver medo e controle envolvidos, em que muitas vezes é
acompanhado pelo medo de perder, medo de que termine… O amor-
sentimento pode ser de apego ou ser condicional a certas circunstâncias.
Claro que, de certa forma, o amor dos pais em relação aos filhos ou aquele
sentimento fraternal e sincero é mais elevado por ser incondicional em
relação a um filho, mas ainda não é o Puro Amor do qual falamos aqui.
O Amor Puro é a essência da vida. Não importa a condição. Não vê o
bem e o mal das aparências, não sofre se algo “errado” acontece, pelo
contrário, sabe que não existe bem e mal, pois são ambos apenas facetas de
Si mesmo. O Amor Puro não se importa com circunstâncias favoráveis ou
desfavoráveis, com o certo ou com o errado e não depende de certas coisas
acontecerem ou de ser retribuído para continuar amando. O Amor Puro
permeia tudo isso. Já o amor dos relacionamentos muitas vezes enfraquece
com o passar do tempo. Amor Puro é sempre o mesmo, não muda, não se
altera por nada, está sempre presente, mas, quando Autorreconhecido, traz
uma sensação de plenitude, paz, abundância, Amor por tudo e todos, em que
tudo mais cai por terra. É inabalável e poderoso, aliás, o maior dos poderes.
E o que se faz ou como faz para viver este Amor?
Aí é que está: nada para fazer, pois não é uma questão de atitude. Não se
pode desenvolver uma ação com início, meio e fim para alcançá-Lo! Não
é alcançável no sentido físico. Este Amor, na verdade, já está vivendo em
todos, ou melhor, todos estão vivendo Nele! Assim como nos exemplos do
filme e do uso da peça de roupa, Ele apenas não está sendo notado, ainda
não foi revelado ou melhor dizendo, não foi Autorrevelado. Ele está atuando
silenciosamente, mas não é visto, pois a mente que distorce tudo O encobre.
O Amor não é percebido da mesma maneira que não se enxerga o diretor
ou o autor que escreveu o filme, pois não aparece em cena. Ou, melhor
ainda, de forma mais precisa: o Amor está em tudo, disfarçadamente, assim
como a tela da TV. O filme está rodando e precisa dela, mas alguém presta
atenção na tela?
Muitos só se atentam aos personagens do filme; outros, ao assistirem ao
filme até observam a atuação do ator ou como é feita a sua interpretação.
Poucos enxergam o ponto de vista do diretor ou alguns raros até lembram
do autor. Porém ninguém, ou quase ninguém, percebe a tela. Tudo está
acontecendo para possibilitar o filme ser exibido, mas poucos enxergam o
todo.
Modificando a analogia, no caso do teatro da vida, a maioria ainda está
vivendo exclusivamente o papel do personagem inconscientemente. Ao
viver exclusivamente o ponto de vista personagem, ou da mente
programada, acaba por não se perceber este Amor que possibilita tudo
acontecer, que está sempre presente, mas aparentemente, por não ser
reconhecido, parece estar ausente.
Já dentro do teatro, quando se está no piloto automático, inconsciente de
que se vive apenas um papel mental, o sentimento-amor (de pais para
filhos, por exemplo) é belo, mas ainda está apenas no nível de sentimentos,
jamais se aproxima da Pureza do Amor real, que é inimaginável.
O Amor aqui referido é inimaginável, não é sentimento, não é emoção…
Falamos a respeito do Amor-Veículo da vida, o Amor da Consciência. Amar
é o experienciar puro e não conhece ou não sabe o que é o apego, não tem
preferências ou exigências, não se importa quando alguém se afasta. Não
tem necessidade alguma e não sofre se está perto ou longe. Este Amor não
tem distância, nem tempo. É o viver atemporal, sem mente, Agora, sem
nome. Só pode ser percebido quando a mente não está; é um vazio que
preenche e nada teme, pois é Amor, a Fonte da Vida.
Este Amor se revela quando o eu-personagem está ausente. Não pode ser
buscado pelo personagem dentro do teatro com atitudes. Ele acontece como
magia, mas a mente não pode estar atuando. É a graça divina que vem com
a pureza! Mesmo que esteja sempre presente, por causa da mente, nem
sempre se mostra. Mas, ao revelar-Se, a mente é exposta, o filme-vida
passa a ser “visto” realmente como um filme e toda a sua gama de
sentimentos, pensamentos e emoções se revela passageira e ilusória.
Simplesmente a parte ilusória da vida, a programação, passa a ser vista e o
que antes era angústia, por exemplo, não influencia mais; o que antes era
apego perde sentido; o que antes era medo é revelado apenas como uma
onda de sentimento que não afeta esse Amor.
O Amor, quando mais evidente, abre a Visão para além do visível,
sensibiliza o olhar e sutiliza pensamentos. O Amor eleva a vibração e,
assim, novos valores de vida surgem naturalmente. A bússola muda, aquele
antigo ideal de vida se transforma e se começa a enxergar o Fluxo do
Divino. Surge uma aceitação natural do que é e, por causa do florescimento
da confiança, vive-se em total entrega. O amor entre pais e filhos se mostra
apenas como um sentimento profundo e verdadeiro, mas não comparável ao
Amor da Vida. Portanto, tudo continua a existir como antes, o filme
continua rolando, mas o Amor não permite mais o retorno ao esquecimento
ou à embriaguez do filme. A hipnose é desfeita. Agora, atuar no filme tem
outro sabor… O filme da vida, assim, é curtido a cada instante, aquilo que
era sofrimento passa a ser visto como uma alucinação, diminui a luta e
também aquela tentativa de evitar certos aspectos da vida. Para-se de seguir
cegamente aquele desejo de trazer o futuro ideal para o presente: o Agora é
experienciado como sendo a única realidade.
Simplesmente esse Amor traz o entendimento de que é o Fluxo da Vida
que “rege” tudo, de que não há nada para preocupar-se, mas simplesmente
Ser. Simplesmente testemunhar a Vida sendo conduzida. O Ser e o Amor se
tornam sinônimos. E o são! Uma completa aceitação surge como
consequência: aceitação de que somos todos iguais: Puro Amor em
essência.
Surge a revelação de que o fluxo da vida está acontecendo independente
do “eu-personagem” e que não há um “eu-personagem” atuando de forma
isolada, com poderes de influenciar na peça. A mente ignorante até então
hipnotizada não faz mais sentido como sendo realidade!
Enfim, a descoberta final é de que o Eu Real é o Autor-Amor.
Para reconhecer o Amor, sinta mais e mais o Ser Agora…
O que é o Eu aí, neste instante? Perceba a sensação Eu existo, Eu sou…
Fique com isso!
O que cria a “realidade”?

Para começo de conversa, aquilo que chamamos de “realidade” não é


real. Não é real no sentido de estar sendo filtrada pelas crenças e, portanto,
apimentada e temperada por pensamentos e emoções que distorcem a
pureza e modificam a experiência, como já vimos. Também não é real no
sentido de não ser a única possibilidade da existência, pelo contrário, esta
é ainda uma visão míope limitada pelo intelecto. Para um nível de
consciência ainda material e pouco espiritual ou para uma mente
condicionada, essa afirmação acima pode parecer improvável ou
impossível!
Mas veja: se parece impossível, seria impossível baseado em quê?
Obviamente, apenas na mentalidade de vida que existe neste momento: uma
ideia de vida formada pelo conhecimento adquirido até aqui. Abrir a mente
para uma compreensão mais profunda é o que se está fazendo neste livro
para, no mínimo, a mente cogitar que existem outras possibilidades ou
realidades.
Em verdade, o que podemos chamar real é aquilo que não é ilusório.
Como pode ser real aquilo que vai e vem? Como pode ser real aquilo que é
instável e que muda dependendo do ponto de vista? Claro que é uma
questão de semântica, mas vamos estabelecer que “verdade” é aquilo que
permanece e “ilusão” é aquilo que surge, desaparece ou muda dependendo
do ponto de vista.
Realidade e Verdade é aquilo que não pode ser enganado, camuflado ou
encoberto por “meias verdades” ou por uma “realidade distorcida”. O Real
é sem distorção, a Verdade não pode ser pela metade.
Ao voltar para o mundo que conhecemos, o senso de realidade em geral é
apenas físico ou comprovável pelos cinco sentidos. Queremos dizer que os
cinco sentidos, somados às interpretações mentais, possibilitam “ver-
perceber” um aspecto apenas da “realidade”, portanto, não têm como ser
Verdade. A Verdade é uma, não pode haver duas, pois, neste caso, uma
delas seria falsa…
A realidade material, por exemplo, é apenas uma projeção mental e
sensorial, portanto, uma ilusão ou no mínimo uma realidade pobre. Ilusão
no sentido de nossos olhos captarem apenas a luz visível e o mundo
grosseiro, mas também no sentido de estar extremamente distorcida pelo
processo cumulativo de informações errôneas. Toda a informação que nos
foi transferida até hoje, de certa forma, construiu a nossa “realidade”.
O que está sendo dito aqui é que a experiência sensorial não é o Real,
mas uma percepção limitada. A percepção sensorial é uma aparência
apenas, da mesma forma que uma miragem no deserto é “real” na
aparência, mas irreal em Verdade. Assim como o céu azul é “real” na sua
aparência, mas não tem tal cor de Verdade. Assim como o verde do mar é
“real” na aparência, mas, quando se retira a água do mar não a
experienciamos dessa forma. Assim como o som do eco que parece uma
voz real de outra pessoa, mas se trata de uma reverberação de nossa própria
voz.
A palavra Verdade com V maiúsculo se refere à Verdade Absoluta, ao
Absoluto, à Essência-Fonte da Criação que é Sujeito das inúmeras
“realidades” que existem nos multiplanos e multidimensões (inexplicáveis e
inimagináveis) de toda a existência.
As informações que se acumularam até aqui como humanidade recente
são informações com um caráter não apenas limitado, mas distorcido sobre
a Verdadeira Realidade.
Por exemplo, hoje em dia a “ciência” já está afirmando que pensamentos
modificam o DNA físico e que, por vários motivos, pensamentos criam a
“realidade” do ambiente ao modificarem o DNA. Portanto, começando por
esta breve afirmação (ainda limitada, mas importante para construir o
raciocínio) podemos concluir que cada organismo (genes-corpo biológico),
por causa dos padrões de pensamentos e crenças, gera realidades. Cada
mente produz um tipo de mundo emocional, físico ou de vida que
chamamos de realidade: “Minha realidade, minha verdade”.
Vejamos um breve exemplo de vida diária: quando alguém acredita na
crise econômica e passa a ter medo de vivenciar uma crise na sua realidade
ou se essa pessoa “se permite” ser influenciada pelos meios de comunicação
dominantes, ela começa, por exemplo, a ser condicionada a uma visão de
mundo de escassez e de dificuldades. O processo mental desse
personagem-corpo biológico-DNA (que, como já vimos, funciona como
um hardware-software de informações) está sendo programado com um
tipo de informação “míope” que gera emoções e sentimentos de energia
semelhante à crise: de dificuldade e escassez.
Se este indivíduo não tem, por motivos diversos, a possibilidade de
contato com informações mais elevadas sobre o entendimento de finanças e
do dinheiro, a programação e reprogramação diária desse tema “crise”, ao
repetir-se constantemente, reforça a ideia inicial de crise, ampliando crenças
a respeito desse aspecto financeiro da “vida”.
Essa programação massiva passa a influenciar esse HD-Mente-DNA de
forma a repetir e verbalizar os pensamentos recém implantados, o que
reforça seu passado de medo, de dificuldade e de traumas que já existem
subconscientemente há muito tempo. As verbalizações sobre o tema crise se
tornam convicções e irão reforçar mais e mais a sua “verdade interna” (que
não é uma Verdade, é uma mentira-ilusão programada).
Caso queira, procure informar-se, (o livro TethaHealing – Vianna Stibal é
uma fonte) pois se sabe atualmente que essa programação mental gera
efeitos sobre o próprio DNA. Este influencia no aparecimento de doenças
físicas e geram atitudes, ações e resultados que, por sua vez, estabelecem
um campo de energia tal que “atrai” ou cocria situações condizentes ao
programa “medo da crise”. Os problemas financeiros, neste caso, são a
“realidade” criada e sustentada por todas as crenças relacionadas, por
exemplo, à energia dinheiro, à prosperidade, à escassez, à separação, ao não
merecimento, à falta de amor etc.
É neste sentido que este personagem vai verbalizar de forma convicta e
com uma certeza contundente que a sua “realidade é essa”, que “é isso que
está acontecendo” na sua vida e que, portanto, é real. Perceberam a falácia
da “realidade”?
O mais importante a respeito do raciocínio acima é que não é necessário
entender profundamente sobre genética e Lei da Atração. Também não é
necessário concordar exatamente com o tema resumido naquelas palavras.
Apenas perceba, se puder, que o que faz alguém (o personagem) acreditar
ou duvidar de qualquer coisa é justamente a programação anterior e é ela
que define a sua “realidade”.
O leitor que está tendo contato com esta Visão pela primeira vez talvez
esteja sentindo uma contrariedade, pois, de alguma forma, está-se
contrapondo à programação implantada. Neste caso, é natural que os
pensamentos que surjam sejam pensamentos de rejeição ou de curiosidade a
respeito desta ideia que pode “parecer” absurda em alguns aspectos.
O mais importante é seguir com a mente aberta e, de alguma maneira,
sentir-intuir tudo o que está sendo construído desde o início deste livro, mas
não precisamos aprofundar mais neste momento. A lógica aqui é simples: a
programação do DNA-software-mental, faz o personagem atuar
processando seu banco de dados de algum jeito e faz surtir um tipo de efeito
(pensamentos, emoções, atitudes, ações e resultados) percebido como “a
realidade da minha vida”. Podemos afirmar, portanto, que esta “realidade”
não é Real porque está apoiada em uma programação que limita seu ponto
de vista.
Para concluir, se fosse o oposto e a programação fosse de expansão, de
entender a visão quântica do dinheiro, se estivesse baseada em valores
diferentes dos citados acima, os resultados seriam diferentes. Caso
simplesmente haja uma convicção de não acreditar na crise ou caso
existam no programa uma força emocional construída desde a infância e um
processo mental de crer na abundância, haveria outra “realidade”
financeira.
Se essa pessoa já se deu conta de que a comunicação de massa é
manipuladora e simplesmente não aceita tal programação de “medo” como
verdadeira para sua vida, o resultado neste caso será de sucesso profissional
com habilidades assertivas em relação à prosperidade e finanças.
Portanto, o que cria a realidade?
Depende da profundidade que se quer dar aqui. Se estamos falando da
realidade dentro do jogo, na limitação da Visão, o que pode estar gerando a
realidade são as crenças: um programa mental que gera pensamentos, que
influencia na vibração energética do corpo (emoções e sentimentos,
atitudes), que modifica o DNA e cria certas tendências que pintam a
paisagem em que se vive…
No último exemplo acima, a pessoa também dirá: “Esta é a minha
realidade” financeira. Uma realidade mais abundante, mas que também não
é Real, pois é baseada em outra programação apenas aparentemente mais
assertiva em relação ao dinheiro, mas muito distante da Verdade.
Em ambos os casos, a “realidade” aparente é fruto de uma programação
mental-emocional do personagem dentro do teatro.
Qualquer “realidade” dentro do filme “minha vida” é cocriada o tempo
todo nas interações humanas, nas trocas energéticas. A “realidade” é fruto
de um sistema que influencia nas questões práticas do dia a dia o tempo
todo.

MOMENTO DE CLAREZA

O conceito de “realidade” e de “verdade” na forma como essas


palavras são usadas corriqueiramente não é verdadeiro, pois se
refere apenas a pontos de vista momentâneos da mente-personagem
de dentro do jogo, para a qual a Verdade-Amor-Consciência ainda
não se revelou. À medida que o jogo avança e os personagens
inconscientes evoluem, mudam as verdades e realidades, o que torna
estas palavras imprecisas.

Poderíamos usar muitos outros exemplos para comprovar que a realidade


é moldável, de que o DNA é influenciado pelo modelo mental, pela época
em que se vive, pela educação social e, portanto, pelas crenças que geram
atitudes, tendências e certas paisagens de vida, mas não é necessário
aprofundar mais. Você já captou o ponto aqui.
Claro que, talvez pela primeira vez para muitos, este é um começo para
“questionar” sua própria ideia*** de “realidade” transmitida pelos pais,
sociedade, colégio, amigos, faculdade, governos, religiões e meios de
comunicação. Pode-se afirmar, a partir desta nova Visão, que esta forma de
vida convencional está distorcida e desalinhada com a Verdade. Perceba que
este mundo de disputas, injustiças, competição, pobreza, estresse,
corrupção, tristezas, poucos com muito e muitos com pouco, alegrias
momentâneas etc., como conhecemos atualmente, é apenas um tipo de
experiência completamente limitada e bem distante da Realidade
Verdadeira.

MOMENTO DE APROFUNDAMENTO

“Mas qual é a Realidade, então?”, você pode estar perguntando-se.


A Realidade daquilo que você É em Essência”. A Realidade que
somos além da “perspectiva” de dentro do teatro, de ser José da
Silva, com certa profissão, pai de Pedrinho, filho de Marta e Mário.
A ilusão de que "sou meu comportamento, disciplinado, ágil,
inseguro às vezes, que penso certas coisas, que preciso fazer outras e
que tenho certas melhorias de vida a serem feitas, que sou este corpo,
às vezes são, às vezes doente… Que sou feliz de vez em quando, na
maior parte do tempo tenho sentimentos neutros e, em muitos outros,
sinto que tem algo errado e gostaria que as coisas fossem
diferentes… Sinto que algo está faltando e estou sempre querendo
mais e mais para me completar”… Esta realidade não é Real. De
certa forma, fomos “iludidos” todo esse tempo com uma
programação que está bem longe da Verdade.
A Realidade não é esta do personagem. Somos todos Consciência
desdobrando-se em infinitas “realidades”. Mas, devido à limitação
físico-mental-visual-energética desse corpo e mente, e devido ao
encobertamento momentâneo da Visão Pura da Consciência, ainda
nos limitamos de perceber intuitivamente a Verdade por trás das
aparências vividas dentro do jogo.
“José da Silva-eu-personagem” é a realidade aparente ou a
aparência daquilo que você não é. É por isso que os despertos, os
mestres, sempre dizem e disseram: você não é aquilo que pensa que
é!
Até aqui já foi possível reconhecer que “José da Silva-eu-persona”
é o carimbo para um acumulado de informações. O próprio nome foi
ensinado, a autoimagem foi ensinada, a forma de pensar foi
ensinada… Isso mesmo! Até mesmo o seu nome é apenas uma
informação, uma gravação, um pensamento, portanto…
“OK, isto faz sentido, mas ainda tem uma dúvida interna dizendo
que eu sou sim este corpo que caminha, fala, trabalha, pensa,
dorme!”.
Sim, aparentemente você é esse corpo sim! Esta é uma sensação
fortíssima de “realidade”, você tem razão, mas é uma visão ainda
limitada, nem perto da Verdade.
Vamos analisar isto mais de perto.
Mas, antes, dê-se conta de que aquilo que você chama de eu-
corpo-que-pensa-e-anda está sendo testemunhado por Algo… Foque
nesse Algo, repare agora que existe algo que está alerta, é invisível e
consciente… Perceba que é silencioso… Sinta o estar consciente e
silencioso agora…
Afinal, o que eu sou de verdade?
(assim como em uma selva)

Imagine uma selva, a Mata Amazônica, onde humanos não interagem.


Uma selva tem um funcionamento natural perfeito, tudo acontece conforme
o fluxo da natureza ou da energia cósmica, ou seja, é a Inteligência Divina
operando espontaneamente.
Assim como as galáxias, os sistemas e os planetas estão pulsando e as
infinitas estrelas-sóis brilham naturalmente harmonizadas e geridas por uma
Força ou Inteligência invisível e inexplicável, também em uma floresta os
pássaros voam, a vegetação, os animais, os insetos e os microorganismos
infinitos coexistem… Existe um fluxo natural em que germes, flora, fauna,
insetos, terra, água, minerais e ar se harmonizam. Cobras rastejando,
macacos pulando de galho em galho, abelhas construindo suas colmeias,
aves alimentando-se de frutos e outros seres vivos. A chuva caindo e
formando córregos e rios onde os peixes e todo ecossistema interagem de
forma inexplicavelmente bela. Animais matam uns aos outros, temporais
derrubam árvores enquanto outras nascem e complexas formas de vida
coexistem… Ou seja: tudo está em perfeita harmonia no macro e no
microcosmos num aparente caos orquestrado por uma Inteligência não
visível.
Mais a fundo, os processos hormonais, bioquímicos, catabolismo e
produção de energia estão acontecendo em cada ser vivo. A fotossíntese
acontecendo com o apoio de um sol distante, o pelo do animal está
crescendo, as penas das aves estão caindo; bactérias, fungos e vírus
interagindo… O relato aqui seria infinito. Tudo está acontecendo nesse
exato momento de forma inteligente e espontânea… O que possibilita isso
tudo? Que inteligência é essa?
Perceba que numa floresta um macaco não tem ciência de que é macaco;
uma onça não tem noção de ser um mamífero – ela, ao predar outra espécie
para alimentar-se, não tem ideia de que “eu sou uma onça e preciso matar
um animal porque estou há 20 horas sem comer; meus hormônios e
processo bioquímico estão mandando uma mensagem para meu cérebro que
diz que tenho fome e agora vou criar uma estratégia para caçar”. Um
pássaro não escolhe ir para a direita ou para a esquerda, subir a certa altura
para atingir aquele galho específico da árvore… Não existe esse senso de
identidade, de volição e de separação. A selva só pode ser chamada de selva
porque existe o conjunto integral com todas suas nuances e as infinitas
interações fisiológicas e microbiológicas. Tem uma única vida acontecendo
por causa de um impulso inexplicável da Natureza.
Tudo está sendo gerido energeticamente nos níveis nano, micro e macro
até nomearmos de forma simplista de “floresta”. Não existe um animal, não
existe planta ou inseto desconectado do todo. Isso são apenas nominações
humanas que os segregam, mas, assim como rim e coração não existem
solitariamente, estes organismos não vivem independente da floresta. Não
existe animal algum desconectado do organismo chamado Selva
Amazônica. Essa é uma Verdade: não existe nada desassociado ou sendo
produzido de forma individual por um corpo biológico que é inteligente
por si só. O conjunto, o todo, é um único organismo vivo e nada pode
existir isoladamente…
Sem pensar, apenas intua: o que é esta plataforma inteligente, que é a base
da vida, anterior aos átomos e que sustenta e orquestra tudo de forma
mágica e perfeita?
Da mesma forma que em uma mata, a vida humana está acontecendo
integralmente independente do querer de algum dos personagens. O fio de
cabelo está crescendo nesse exato momento, a respiração é um processo
“espontâneo” e inteligente, o coração está batendo, os rins filtrando, o
estômago processando alimentos, o intestino desempenhando o seu papel
etc. Processos fisiológicos, biológicos, celulares, mitocondriais, processos
infinitos bioquímicos e hormonais estão acontecendo e aquilo que você diz
que é “você” não controla nada disso.
Precisamos, no mínimo, admitir a existência de uma Inteligência nos
sistemas solares, planetários e nas galáxias que possibilita esse sincronismo
maravilhoso que faz todo o processo da vida acontecer em uma mata e todo
o processo inteligente acontecer no ser humano… Novos ciclos são criados
no teatro vida, nascimento e morte a cada instante; desde pensamentos,
células, tecidos e DNA: puro fluxo de vida… A física quântica aponta para
uma “base” vazia, não matéria, que permeia e organiza tudo.
Já aquilo que você chama de “João da Silva”, ou seja, “eu”, não tem a
mínima influência nisso tudo, não tem a mínima ideia de como a vida se dá.
Aliás, ninguém tem. Mas ela está acontecendo agora. A adrenalina está
sendo produzida, a insulina está estimulando a célula a absorver glicose, os
hormônios de todos os tipos e funções estão sendo produzidos a partir do
colesterol e de aminoácidos etc.
O que está sendo dito aqui é que a vida “eu-João da Silva” funciona
similarmente ao universo, às galáxias, ao planeta e à mata; não poderia ser
diferente, mas talvez exista ainda uma inconsciência a respeito deste fato.
João da Silva é apenas um nome dado a uma microexperiência cósmica.
O carimbo João da Silva é um nome dado àquilo que um dos infinitos
organismos faz: caminha, anda de certo jeito, acorda cedo, vai para certo
lugar e não para outros, tem preferências e certos pensamentos e emoções.
Tudo isso junto, esse microconjunto da natureza, aparentemente
independente e separado, é o “suposto” João da Silva. Note que, assim
como na selva, esse organismo está integrado, pois, sem ar ao seu redor ou
sem as bactérias na pele e no intestino, ele não existiria. João da Silva é
apenas um nome-rótulo-palavra assim como “peixe” no vocabulário se
refere a um tipo de vida biológica não separada do seu entorno. “João da
Silva-eu” se refere à programação e ao ensinamento social mais os
pensamentos e crenças que vai seguindo o dia a dia no automatismo da vida
na “sua” selva-cidade. A independência que “você” acha que tem é aparente
ou é uma “ideia” errônea apenas; é uma ideia de “realidade” que está longe
da Verdade.
“Mas a vida é assim!”, você poderia afirmar. “Como poderia ser
diferente?”.
Vamos analisar um pouquinho mais.
Se este material chegou até você e continua sendo lido, a esta altura da
vida talvez você já se tenha dado conta também que, para uma ação
acontecer, antes dela há pensamentos, sentimentos, emoção, intuição, como
repetidamente já falamos. Pensamentos sempre geram mais pensamentos
que geram certas ações que influenciam nas atitudes e nos
comportamentos… (saiba que a insistência neste ponto é proposital…
[risos]).
Diferente do organismo biológico animal não racional de uma selva, no
ser humano existe apenas um incremento da natureza: um recurso-dinâmica
intelectual que possibilita o Divino construir ou materializar seu plano de
forma mais complexa.
O intelecto, ou processo mental e emocional humano, diferentemente do
organismo biológico mais rudimentar, constrói paisagens obviamente
diferentes numa conjectura de outras possibilidades, mas ainda como na
selva. Personagens de todos os tipos de programação e de crenças interagem
uns com os outros aparentemente agindo separados daquela Inteligência da
Natureza e materializando “resultados” práticos no dia a dia que são apenas
diferentes de uma mata, mas o sincronismo ou a base energética é a mesma
de uma selva propriamente dita.
Assim como em uma selva, em uma cidade habitada por organismos
biológicos humanos, a vida apenas está acontecendo em uma interação
talvez mais complexa, mas também inexplicável. A diferença de
complexidade se dá apenas do ponto de vista mais amplo, mas, em um nível
energético, micro, sutil, não há diferença. Na vida-organismo humano, é o
fluxo interno energético de pensamentos e de emoções gerados pela
natureza que cria um mundo macro (material) aparentemente mais
inteligente (por ser tecnológico) do que em uma selva.
O intelecto humano carrega em sua programação uma ignorância a
respeito da Natureza da Vida: foi programado para acreditar que o macro
(resultados visíveis de vida, trabalho, compras, lazer, cuidar do filho,
dormir, comer etc.) é sua criação e que foi ele (mente-intelecto) quem fez a
vida como ela é. OK! Tudo bem pensar assim até aqui, mas isso está longe
da Verdade.
Mas vamos em frente: provavelmente você já deva ter percebido também
que não tem controle sobre suas emoções e pensamentos. Se tivesse,
conseguiria esvaziar a mente sempre que quisesse; nunca ficaria
preocupado, não se zangaria com ninguém, seria a pessoa mais feliz do
mundo o tempo todo, escolheria seu estado de ânimo, conseguiria escolher
os pensamentos mais sábios que o levariam a descobertas revolucionárias a
cada dia, escolheria também conhecer sempre as pessoas certas, não brigaria
com o filho ou com o colega de trabalho e tomaria decisões sempre
assertivas. Você construiria o mundo dos seus sonhos. Ou seja, não iria fazer
nada que o prejudicasse ou prejudicasse outras pessoas, teria pensamentos e
estratégias que lhe dariam todo o dinheiro que quisesse, não faria bobagens
e não diria nada com o que pudesse arrepender-se depois. Também não
entraria numa furada, escolheria sempre o que fazer de forma inteligente e
escolheria viver sem nenhuma dúvida ou hesitação. Afinal de contas,
perceba: dúvida e hesitação são apenas pensamentos e sentimentos que
poderiam ser mudados se você pudesse.
Se não consegue mudar, o que é isto que gera os pensamentos e faz a vida
ser do jeito que é?
Se realmente pudesse controlar o fluxo energético dos pensamentos, ao
mudar o pensamento, a dúvida não existiria; tudo seria uma maravilha e
assim por diante.
“Ah, mas eu posso ter dúvida apenas por não saber o que fazer”, poderia
ser afirmado aqui.
Exatamente! Este é o ponto! O não saber humano também é uma
energética da vida cósmica; o “não saber” também é um pensamento
carregado de informação ou de falta dela. O não saber é o fluxo da vida para
o momento.
Portanto, sem pensar, mais uma vez apenas intua: o que é essa
plataforma inteligente que é a base de tudo, dos átomos e elétrons, da
energia e dos pensamentos que sustenta a vida e orquestra tudo de forma
mágica e perfeita?
Caso ainda não se tenha dado conta da incapacidade de controlar o fluxo
energético dos pensamentos, você notará que, ao fechar os olhos e trazer a
atenção para observar o processo mental um pouquinho, pensamentos
simplesmente surgem e não se tem domínio sobre eles. Imagino que isto
esteja óbvio na sua experiência, mas de qualquer forma vamos fazer um
pequeno teste para experienciar isto:

MOMENTO EXPERIENCIAL

Faça este breve exercício agora (primeiro leia e depois pratique):


1 Leve a atenção por um instante para uma parte do corpo (os pés, por
.
exemplo). Depois, leve a atenção para os sons do ambiente e continue
sentindo os pés.
2 Mantenha a atenção no corpo e nos sons do ambiente e feche os olhos.
.

3 Continue percebendo o corpo e os sons. Agora, amplie a consciência


.
para perceber no próximo instante qual será o primeiro pensamento que
vai surgir.
Perceba que, ao investigar silenciosa e atentamente sem pensar e ao
elevar o nível de atenção para um estado de ficar mais alerta, você
notará, talvez, momentos de “mente vazia” e também que os
pensamentos surgem. Não há “você” controlando os pensamentos;
eles simplesmente surgem. Uau!
Investigue novamente:

1 Relaxe levemente a mente, então, sinta o corpo, ouça os sons e feche os


. olhos!
2 Continue notando a audição, notando o corpo e, levemente, volte a
.
atenção para os pensamentos, mas fique alerta! Sem esforço, apenas
testemunhe o que surge.

Repare novamente: talvez exista um “vazio” e, então, boom! Um


pensamento surge!
Isso pode ser incrível para alguns quando percebido pela primeira
vez.

Aqueles que algum dia já se propuseram a “meditar” ou tentaram


silenciar a mente já se deram conta que não há como parar a mente
simplesmente porque se quer. A mente está sempre vagueando de um
pensamento para outro de forma involuntária assim como a respiração e
como o processo digestivo e bioquímico.
Saiba que são em média 70 mil pensamentos por dia surgindo de forma
aleatória e indiscriminada, pulando… Apenas uma porcentagem muito
pequena, talvez menos de 2%, são pensamentos funcionais que levam a
alguma ação prática do tipo: “Vou tomar água”.
A grande maioria dos pensamentos diários são pensamentos-lixo. Sim,
lixo mental que não serve para muita coisa: são fruto da programação de
que tanto falamos até aqui. Em geral, são preocupações desnecessárias,
ideias, conjecturas, possibilidades, lembranças e devaneios sobre todos os
assuntos inimagináveis: de sexo a dinheiro, problemas dos filhos, time de
futebol, cerveja, sonhos, esperanças, festas, clientes, compras, dúvidas,
relacões, desejos de melhoria, pensamentos de desânimo, alegria, tristeza e
assim ad infinitum.
Ao observar o processo mental mais e mais, você perceberá que chega a
ser absurda a forma como os pensamentos são “lançados ao vento” sem
muita lógica e explicação racional.
Pois é! Os personagens dentro do jogo da vida vivem completamente
enredados inconscientemente em todo esse lixo mental. Vivem
completamente colapsados ou presos à cadeia de pensamentos infindáveis,
vivendo como autômatos robotizados, simplesmente agindo e reagindo de
forma impulsiva e condicionada a todo e qualquer pensamento, sentimento
ou emoção que surge. São condicionados ao processo emocional-
intelectual e, dentro da selva-jogo-teatro, agem de forma cega em relação à
mente e, consequentemente, têm uma realidade prática condizente com todo
esse devaneio mental.
Em resumo, esse tem sido o fluxo da vida humana que simplesmente
acontece de forma natural e espontânea assim como em uma selva.
Organismos humanos levam uma vida que surge porque pensamentos
surgem.
Em geral, vemos o fluxo da vida acontecendo em organismos humanos
repletos de medos, inseguranças, disputas, brigas, com alguns momentos de
prazer e alegria, muitas vezes trabalhando com o que não gostam,
relacionando-se com pessoas de forma superficial ou completamente
distantes da Verdade, vivendo na cegueira do teatro e no “mundo da lua”.
A vida dentro do teatro da mente acontece como em uma selva onde, sem
perceber, os organismos humanos estão apenas seguindo involuntariamente
o carrossel de pensamentos e sentimentos que surgem.
Vive-se um fluxo de um amontoado de situações de vida que apenas
replicam automaticamente o modus operandi da sociedade humana. Este é o
teatro-selva da vida biológica humana.
Talvez “você” até possa sentir-se ofendido, talvez não concorde e afirme
o oposto: que isto não acontece com você, que você sim faz escolhas
conscientes e que leva uma vida que você escolheu.
OK, mas será? Existe Verdadeiramente um acordar para o teatro da
mente? A Realidade está sendo percebida?
Se a afirmação logo acima foi feita e se o tema aqui proposto está
mexendo com um paradigma interno, se está havendo negação ou
contrariedade, é possível afirmar com 100% de certeza: ainda não há um
acordar verdadeiro para o teatro!
Por isso tudo, estas afirmações parecem contrariar a lógica do programa
da mente ao dizermos que você (o “eu-João da Silva”) não está
desconectado do todo e que os pensamentos não estão separados da
energia da natureza, pois eles são a natureza humana sutil em movimento.
Saiba que esta contradição existe porque o programa mental atual vem
trazendo o contrário daquilo que se está afirmando aqui. A certeza de que
“eu penso” segue surgindo fortemente e ainda não há silêncio interior
suficiente para perceber o paradigma desta falácia. O fluxo da vida vem
sendo orquestrado involuntariamente desde o seu nascimento. Perceba isso!
Abrir-se para o novo é importante. E a pergunta básica para essa
descoberta é: existe consciência da Consciência agora? Reconheça a
involuntariedade da mente através do Silêncio do Ser neste instante!

Esta é a forma de afrouxar o programa “eu penso”.


Por causa do baixo nível de Silêncio e pela ausência de Presença-Visão,
não se percebe a mente como sendo apenas como um fluxo involuntário, um
filme sendo rodado; acredita-se que os pensamentos que surgem (que fluem
como a energia da natureza) “são eu” e “acreditamos” que estamos no
comando.
A questão principal a ser notada de forma mais profunda é que “sua” vida
está acontecendo assim como numa selva: os pássaros estão agindo como
pássaros, os répteis estão tendo uma vida de répteis e os humanos levando
uma vida de humanos, porém, diferentemente das outras formas de vida, a
mente humana acha que é ela quem orquestra sua vida, pensamentos e
situações.
Existe obviamente uma Inteligência não humana orquestrando a
existência das galáxias, estrelas e planetas. No macro e no microcosmo,
existe um Fluxo Inteligente que faz o universo acontecer. Da mesma
maneira, existe uma Inteligência combinando energeticamente a vida neste
planeta, em que a vida humana é apenas um aspecto do todo: novos
produtos e serviços são inventados, interações entre pessoas ocorrem a cada
dia por meio de empresas, clientes, governo, políticas, tradições, negócios,
cultura etc. Este é o jogo da vida, ou o teatro mental, que está sendo exposto
aqui e revelando como sendo um fluxo natural involuntário ainda limitado à
programação social atual.
Tudo o que chamamos de vida humana acontece a partir de um pulsar
energético da natureza, inclusive a programação social, como se fosse
uma grande selva, mas existe um detalhe: a mente complexa e imatura ainda
impede de reconhecer essa Verdade. Perceba, portanto, por questões óbvias,
que não é você ou eu-João da Silva que está produzindo a energia da vida.
Não! A vida está surgindo com pensamentos, emoções e ações, como um
aspecto da natureza, mas que, por causa ainda de uma ignorância natural,
isso não é visto puramente dessa forma.
Mas saiba, por algum motivo, neste estágio atual da humanidade, esta
“informação revolucionária” está surgindo para trazer um novo tipo de luz,
ou de Visão, que começa a renovar a vida no planeta. A vida consciente,
desperta, será menos dependente de pensamentos condicionados e mais
sintonizada com a Intuição ou com a Visão Pura da Consciência, que é Você
em Verdade onde os pensamentos não são mais levados tão a sério, pois são
vistos como programações antigas, ultrapassadas.
Em outras palavras, o Homo sapiens está evoluindo naturalmente (após
uns 450 mil anos) e tornando-se Homo conscious no qual os velhos
pensamentos involuntários que sempre surgiram (sem nenhum controle
“meu”) passam a ser vistos como não sendo Eu. Tudo perfeito até aqui,
pois a inconsciência do Eu gerou esta bela selva divina que se experiencia
atualmente.
Neste novo momento da humanidade, com o alinhamento e o dar-se conta
da Consciência, a vida do personagem se torna mais fluida, amorosa e em
harmonia com a Verdadeira Realidade da Natureza.
Para isso, apenas um convite é necessário: veja o que é o Eu de Verdade!
Agora, reconheça o Eu-Consciência aí!

Sinta essa Presença-Lúcida que Eu sou agora.


O senso de desconexão da Consciência

Existem momentos de pensamentos muito densos, “mundanos”, que


trazem tensão e fazem-nos sentir desconectados da Consciência ou
inconscientes desta Visão Pura. Sentimo-nos presos e colapsados ao
turbilhão mental e, mesmo que se queira, não é possível reconhecer com
clareza a Presença-Consciência-Silêncio.
Por isso, é natural que haja muita dúvida a respeito disto tudo que está
sendo lido aqui. Saiba que a instabilidade e todo esse senso de
“desconexão” é muito natural.
A sensação de estar desconectado da Fonte-Consciência é apenas uma
ideia ou uma energética, não é real. Viver nas energias que envolvem o
plano material é isto, justamente isto. Esta é a grande brincadeira, o que a
torna muito especial. Como já falamos, esta vida é como um jogo, mas onde
as regras não estão claras. É como um jogo novo em que se conhece pouco
sobre a melhor forma de jogá-lo, mas que gera um autoaprendizado
constante. O senso de estar desconectado de tudo e da Fonte ocorre apenas
no nível do personagem, nas aparências do jogo. Por que aparências?
Justamente por ser como uma peça de ilusionismo em que a Verdade precisa
ser “esquecida” ou a ilusão precisa existir para o jogo funcionar. Se não
fosse assim, não surtiria o efeito necessário: o jogo não se “materializaria”.
Essa sensação ou sentimento de desconexão é uma das nuances do jogo, é
como um véu que está aí para permitir o “engano” aparente.
O que está acontecendo neste momentum do ponto de vista do jogo
humano é como se alguns indivíduos-personagens estivessem começando a
“enxergá-lo”, como se o jogo estivesse em uma fase avançada que
permitisse aos participantes que a atingiram acessarem um tipo de
Sabedoria ou de Visão que ainda não era possível anteriormente. As fases
anteriores eram como uma preparação para a fase atual… E tudo está
perfeito.
Imagine um jogo eletrônico em que seja necessário criar um planeta
fictício, com uma forma de vida e de cultura predominante, onde seria
possível experimentar uma maneira de viver inexistente na realidade fora
do jogo. Como em uma novela em que tudo pode ser dramatizado, uma vida
fictícia é criada de forma radical e diferente: com várias experiências
densas, com emoções negativas extremas, sentimentos e sensações que
pudessem ser experimentadas de forma completamente nova.
E, então, a vida começa a existir nesse planeta “programado” iniciando
toda uma experiência do “zero”, na qual os códigos do jogo (segredos)
dessa cultura nesse planeta fictício serão pouco a pouco decifrados e
aprendidos. Esse programa-jogo traz a possibilidade de o jogador aprender,
de coletar informações como se fosse um simulador de voo: sem risco real.
Simular a vida nessa novela alimenta a “sabedoria do jogador” fora do jogo,
mas para entrar nele é necessário dormir e esquecer que se está jogando.
Vive-se então um personagem aparentemente real, mas completamente sem
lembrança de que esse planeta, essa vida, é um projeto de ficção ou apenas
uma simulação.
Então, dentro do jogo, completamente ignorante da Verdade sobre a
simulação, o aprendizado vai acontecendo através das supostas experiências
reais naquela paisagem fictícia. O personagem vai adquirindo habilidades
que lhe permitem passar de fase. Nas últimas fases, tem-se um novo e
derradeiro ingrediente: inicia a descoberta (dentro do jogo) de que o
personagem-eu não existe em si como uma entidade. É assim que o
despertar ou o acordar para uma realidade mais ampla começa a surgir: tem
Algo Consciente que não é o personagem. O personagem que “eu” achava
que era não é real. É só um jogo.
Esta metáfora não é bem uma metáfora, pois é mais próxima da Verdade
do que se pode imaginar aqui de dentro do jogo. Mas ela explica em partes
o motivo de sentir-se desconectado. Nas fases finais do jogo, começa-se
justamente a retomar o senso de conexão com “algo maior”, mas na
“realidade” do jogo a desconexão aparente ainda é forte e necessária.
Perceba que isso é só uma sensação ou apenas um aspecto do jogo que não
é real, pois a desconexão verdadeira nunca aconteceu já que, sem Eu
conectado, o jogo não aconteceria. Eu vejo o jogo e o personagem o tempo
todo.
O personagem já é o “jogador” externo. O jogo já está sendo
testemunhado por Mim. Apenas existe na base de dados da programação do
personagem “um esquecimento” de quem Eu sou; e isso é crucial para o
jogo acontecer.
Quando ocorre dentro do simulador o despertar para essa Verdade, ou
seja, quando ocorre o acordar dentro da densidade da matéria — dentro da
novela-teatro 3D ocorre o derradeiro reconhecimento sobre Verdade do que
é o Eu-Real, sobre a Verdade do que realmente É a Consciência que está
testemunhando o jogo.
É como se o personagem que está atuando no teatro passasse a ser
percebido de forma diferente. Além do personagem, existe um Eu mais sutil
e amplo. O despertar dentro do jogo é ver o personagem não mais como
uma entidade independente, mas ver o modus operandi dele a partir de um
espaço do Testemunhar que agora não se importa mais com as
características físicas e com os acontecimentos. A descoberta de que “eu
não sou o personagem” é um salto quântico na compreensão a respeito da
vida e do mundo em que ocorre um “iluminar” aquilo que estava oculto: a
Verdadeira Identidade e um descobrir que a desconexão nunca existiu.
E mais: no processo do despertar para a Realidade, a vida é vista como
ela é: uma simulação em que as experiências (sofrimento, tensão, tristeza,
alegria, desejos, medos) não impactam mais naquilo que agora sei que Eu
Sou.
Mas onde está o jogador? Quem é o jogador último? O que sou Eu afinal
nesta analogia?
OK, esta analogia não é 100% precisa, pois em última instância, na
Verdade Suprema, não existe uma entidade independente fora do jogo. O
jogador que o está jogando não é um “indivíduo”, não há um “alguém” do
lado de fora! Existe o fluxo da Inteligência, da Consciência-Pura, atuando
na forma de uma mente física finita que até então era chamada de “eu”.
Não há um jogador. Este é o mistério da vida. Um mistério de infinitas
possibilidades atuando divinamente numa brincadeira de esconde-esconde e
aparências da Consciência.
O senso de “ser alguém” em algum instante se desfaz. Fica nítido que Eu
sempre estive aqui como Aquilo que esteve consciente o tempo todo. É
intuído que aquele alguém separado é apenas uma crença, ou melhor, é a
vida acontecendo a partir da Fonte. É somente dentro do jogo que existe um
personagem que imagina ser um fazedor pessoal ou uma entidade autônoma
desconectada da Fonte.
Tudo é a Fonte que cria. Existe apenas Isto: Vida acontecendo… endo…
endo… Pura aparência, sem identidade pessoal, pois a Realidade Suprema,
o entendimento último, é de que existe simplesmente puro Ser-Silêncio.
Reconheça o Eu-Silêncio-Consciência agora!
A disciplina adequada para o Despertar

Este tema é muito controverso e cheio de ideias mal compreendidas.


Aquela noção de que é necessário algum tipo de disciplina para que o
“despertar” ocorra traz uma sensação equivocada de que é preciso esforço
para seguir-se um “caminho” dito espiritual.
Primeiro, é importante notar que não há nada que exista que não seja
espiritual, como já foi falado. Tudo está interligado e tem a Consciência
como plataforma única. A espiritualidade não é algo separado do mundo, da
matéria, mesmo dentro do jogo das aparências 3D. Toda a ideia de
separação, de indivíduos atuando isoladamente, é apenas um juízo, uma
falta de “compreensão” mais profunda ou apenas uma imaturidade de Visão.
Existe um processo evolutivo acontecendo na visão humana em que
aquilo que se chama “espiritual” começa a ficar desperto “no personagem”.
A conexão da vida prática com a espiritualidade começa a ficar mais natural
e consciente. É como a criança que descobre que Papai Noel não existe:
simplesmente em algum momento o despertar para esta verdade acontece.
Então, muda-se tudo, pois o Amor, a Consciência Espiritual, traz um tipo
de confiança na vida que aos olhos do sistema é incompreensível e pode até
parecer insanidade. É como uma criança bem pequena que interage com os
pais sempre com total confiança e pureza, um tipo de ingenuidade que
simplesmente confia. Ela está livre e despojada de preconceitos. Da mesma
maneira, o despertar traz uma interação intuitiva com o mundo e com os
relacionamentos, em que existe menos necessidade de artimanhas
intelectuais. Os planos meticulosos para o futuro ou as grandes expectativas
perdem sentido. Vive-se uma vida mais naturalmente conectada ao Agora,
sem preocupação ou sem necessidade de planejamentos rigorosos e de
projetos que geram ansiedade. Simplesmente há uma aceitação consciente
daquilo que surge e uma confiança de que a vida sempre proverá.
Existe na vida uma espontaneidade natural: chorar, rir, pular, brincar,
dormir, comer, trabalhar, sentir frio, sentir calor, ter dores, ter alegria, ter
desconforto… Tudo de forma fluida e natural. Essa ausência de medo e essa
confiança é o que se pode chamar de amor: em que simplesmente se pode
soltar e confiar em Algo mais grandioso. A Pureza não depende ou requer
que se agarre em algo para sentir-se confiante, pois a certeza ou a fé são
naturais.
A boa notícia é que o ser humano já está pronto para esta Naturalidade.
No atual estágio evolutivo humano, após séculos de educação distorcida
sobre a verdadeira natureza do Ser, após milênios de desinformação,
passamos por um despertar para a Verdade a respeito da Vida real além do
teatro. Isso está acontecendo na humanidade como um todo e é como se
aquele ser humano rústico estivesse amolecendo, sensibilizando-se para a
Espiritualidade, que não tem a ver com as religiões ou tradições
dogmáticas. Em geral, as tradições ditas espirituais estão recheadas de
crenças, conceitos sobre mundo, sobre deus, sobre espírito, sobre vida e
morte, sobre o que “se deve” e “não se deve” e sobre “certo” e “errado”,
como repetidamente já se falou.
Nesse sentido, o dogma de ser necessário algum tipo de disciplina
espiritual para atingir-se um resultado, de alcançar-se um estado de
iluminação, vem à tona também como um conceito distorcido. Nenhuma
disciplina é necessária. Ou por acaso uma flor faz esforço para
desabrochar?
O Espírito é a inteligência que sustenta a vida e já está consciente,
iluminando a experiência neste instante. Sempre foi! Assim é, não pode ser
diferente. Existem muitas facetas e complexidades em torno deste tema,
mas não é necessário algum tipo de disciplina para tornar-se o que já É.
Apenas uma nova Visão se faz necessária, uma compreensão mais pura.
Aprender intelectualmente sobre o plano espiritual ou praticar
disciplinadamente por anos pode ter sido o caminho de alguns de nós até
aqui, mas, saiba, não é necessário fazer nada para despertar para a
Verdade!
Toda e qualquer tentativa de esforço é em vão no sentido de não acelerar
nada. Se até hoje tem havido muito esforço e disciplina “espiritual” por
parte de alguns de nós, tudo bem, está tudo certo, é o que tinha para o
momento. Não houve perda de tempo! Apenas perceba (como uma forma
de alívio) de que Aquilo que muitos buscam através de algum caminho
“espiritual” não está longe, não está distante, não está no futuro! Já está
intimamente Aqui, Agora, disponível, Alerta, neste instante, e está
contemplando pelos olhos!
Não há necessidade de atingir algum estado supremo, de polir
comportamentos ou purificar o passado, pois Aquilojá está aí. Isto Aqui é
Espírito… já É! Perceba que justamente O Que neste instante está desperto
e consciente da experiência é o que a mente procura, mas não pode
encontrar.

Portanto, Aquilo que “Vê” agora é Aquilo que tem sido o objeto do
esforço! Aquilo que “Vê” sempre esteve aí… O convite aqui é simplesmente
para parar com toda a disciplina e esforço para alcançar-se algo no futuro e
simplesmente reconhecer que agora existe uma Presença Nítida Consciente
Alerta…
“Sinta” Isto, reconheça Isto agora!

Aquilo que ouve é Isto. Aquilo que sente através da pele é Isto. Aquilo
que vê através dos olhos é Isto. O ouvir está acontecendo, o ver está
acontecendo, o sentir, o perceber, o testemunhar, o viver…
Naturalmente… Isto é a Vida, o “objetivo” de toda a “busca espiritual” está
no Agora.

É mais uma questão de “notar” ou uma questão de uma “compreensão”


intuitiva, ou de um dar-se conta, do que qualquer técnica artificial
preconcebida. Qualquer esforço ou disciplina de, por exemplo, sentar-se
para meditar e acalmar a mente, não é necessário para reconhecer aquilo
que Você já É. Aquilo que está vivo aí, agora, não é a mente, não precisa ser
paralisada.
Portanto, não há necessidade de acalmar a mente, de disciplinar-se, de
evoluir ou curar-se, para o Ser ser notado. O Ser não precisa ser buscado ou
atingido, pois é Ele que Vê Agora. É Ele que Reconhece a Si mesmo,
Agora: Pura Presença Reconhecida…

O Ser é o Eu. Este reconhecimento é o ponto, pois sempre esteve


presente, mas neste momentum, o espiritual, o sutil já está sendo
reconhecido, redescoberto, como sendo a própria natureza humana.
É como se o “humano” agora estivesse sendo “ligado” para estar mais
consciente do Ser, que, neste instante, por motivos inexplicáveis, passa a
“ver-Se”, apenas isso.
Mas, lembre-se, sempre foi assim, pois a Vida sempre foi sinônimo de
Ser. A Consciência sempre esteve presente, mesmo na rusticidade do
humano e na aparente desconexão com o Divino Amor. Agora, o Divino se
está permitindo ver a Si mesmo na experiência da vida.
Agora, Aí, reconheça Isto. Sinta-Se aí: Consciência Consciente…

Portanto, como a Vida sempre existiu, o Amor-Ser-Divino sempre existiu.


Talvez a única mudança é que no momento atual da humanidade Ele Se está
permitindo brincar de forma diferente: antes, brincava de “esconde-
esconde”; agora, começa a brincar de “aparece-aparece”. Entretanto, tudo já
sempre foi Divino e O É, Agora… Sinta…

É neste sentido que querer disciplinar a atitude ou fazer esforço para que
algo aconteça é, no mínimo, um contrassenso. Um contrassenso até
“normal”, pois este também foi-nos transferido.
Simplesmente Ser é o único convite prático! E, para isso, nenhum esforço
é necessário. Apenas a Visão muda. Simplesmente Seja, agora!…

Assim, ocorre um shift sutil na compreensão, no dar-se conta. Apenas


isso. Um dar-se conta intuitivo começa a surgir naturalmente, assim como
é natural o abrir os olhos de um bebê.
Parar com todo esforço, se isso fizer sentido para a mente agora, é um
convite. Este dar-se conta não mental é mais importante do que qualquer
tipo de esforço ou disciplina. A necessidade de disciplina é apenas um
pensamento condicionado que existe por causa de um equívoco na Visão,
que foi forjado pela programação social-religiosa, que sempre tem mostrado
“todos” separados da Fonte, que nos ensinou que estamos distantes do Ser,
distantes de Deus. Aquilo que somos já é o Ser. “Notar” isso Agora é o
único convite. Sinta aí o Silêncio sereno do Ser…

Ou seja:
Você-Consciência sempre foi, já é Aquilo que a mente inquieta vinha
buscando.
Sinta o Eu-existir aí, agora…
Desenvolvimento de maior Presença-Consciente

Todos provavelmente já tiveram uma noite daquelas: agitada com muitos


pensamentos chegando, preocupações em relação a problemas práticos,
tomada de decisão, dúvidas sobre o que fazer etc. Passado algum tempo
revirando na cama, tudo isso desaparecia de repente. Assim, o mapa mental
mudava e, em poucos minutos, a preocupação ou o incômodo passava a ser
outro. Mas, então, o tema anterior voltava, intercalando com momentos de
lucidez, de clareza e de calma… Depois, tudo novamente… Isto
provavelmente gerou uma energética nada agradável, aflitiva, criando um
estresse corporal.
Como lidar com isso tudo?
Quando o sentimento de ser o corpo é muito forte ou quando existe a
convicção plena de ser um indivíduo separado de tudo, de ser um pensador
com a responsabilidade pela tomada de decisão, parece quase impossível de
haver dissociação ou desprendimento do processo mental. Normalmente, o
sentimento de que “eu sou este que está localizado atrás dos olhos” e a
certeza de que “eu estou pensando” são incrivelmente fortes e dominadores
no nível da mente; o senso de “realidade” disso tudo parece poderoso.
Como enfraquecer este senso de “eu ser este que pensa”?
Como enfraquecer esta convicção profunda de “eu ser este que está detrás
dos olhos”?
Pois “eu até tento ficar presente, tento dissociar-me dos pensamentos,
mas parece que muitas vezes não resolve”. O que fazer?
Primeira coisa: absolutamente nada desta experiência poderia ser
mudado, enfraquecido e dissociado! Isso é impossível. Às vezes,
pensamentos como “por que estou envolvendo-me com tudo isso?” e
“quanto mais compromissos assumo, quanto mais envolvimento com
questões práticas, mais problemas aparecem!”. Esses pensamentos
simplesmente surgem também. Perceba isso!
Nada pode ser alterado na experiência porque a experiência mental não é
escolhida por “alguém”, ou seja, por “você”.
Acabamos de perceber que é a Consciência-Fonte que está criando o
jogo. As circunstâncias de vida acontecem por efeito dinâmico das leis
cósmicas. É através deste organismo biológico com certas conjecturas de
possibilidades que a experiência vida se desenrola, simplesmente como se
desenrola. Acreditar que “controlaria” os pensamentos é apenas uma falta
de clareza dentro do jogo, uma falta de Visão sobre a verdadeira natureza da
mente inquieta e daquilo que Eu Sou em essência.
A sacada é não tentar ficar presente forçosamente ou não tentar
artificialmente mudar o estado de ânimo. É não tentar eliminar ou
substituir os pensamentos por estado de presença, mas sim “posicionar-se”
no testemunhar de tudo, mesmo que haja desconforto e ausência de
presença-lucidez. É mais uma aceitação não mental do que uma tentativa de
mudança. Substituir estados emocionais por paz ou presença é uma
armadilha natural no início.
Porque, veja, o que é isso que quer mudar o que está acontecendo? O
que é isso que quer ficar presente? Esta tentativa de mudar a situação é
mais um desejo sutil ou mais um pensamento de não aceitação que ainda
não foi detectado no detalhe da experiência.
A experiência neste caso é sim composta por preocupação, por
lembranças de “problemas” e por tudo que foi citado, mas, junto da
experiência, também tem um movimento energético de inconformidade que
“não aceita o que está surgindo”. Testemunhar ou enxergar também este
aspecto mais sutil é o convite agora: “ver” o todo… O todo, neste caso, é
composto dos pensamentos desse movimento mental, de lembranças, de
tentativas de ajustes, de ideias de solução, de sentimento de contração, de
medo: “Não sei o que fazer. Que saco! Quero desistir!”. OK, esta parte é
mais fácil de ser notada. Mas há algo, um ingrediente a mais na experiência,
que “não aceita isso tudo” e isso que “quer mudar” a experiência é mais um
pensamento invisível a ser reconhecido.
Observe que há algo que quer “livrar-se do senso de eu atrás dos olhos” e
“ficar presente”. Nada disto pode ser mudado! A Presença surge quando
surgir. Os pensamentos surgem, as alegrias e a paz surgem quando
surgirem. A sabedoria não é a de ajustar para que tudo desapareça e que a
paz prevaleça, nada disso é necessário! Este esforço de mudar o que está
surgindo é um equívoco normal, pois tende-se a querer afastar-se de estados
aflitivos (foi o que aprendemos) e querer substituí-los por estados
agradáveis. Na prática, é mais simples do que isso.
A aceitação de que esses momentos irão ocorrer enquanto acontecerem é
uma Visão mais elevada. Nada pode ser mudado porque aquilo que é já é. Já
é no sentido de que, se surgiu, já surgiu; não é possível lutar com a onda
que já está aí. Não é possível modificar a natureza mais ou menos agitada
do mar. Mas o mais importante: sempre, a experiência toda está sendo vista
por Você-Eu, está acontecendo em Mim e tudo o que surge sou Eu-
Consciência movimentando-se em ondas… O engano está na crença que
sou exclusivamente o estado aflitivo, a tensão, e que estou em apuros. Este
é o equívoco! O Eu não está em apuros. O Eu observa a mente nebulosa e o
corpo tenso e é isso que tem para o momento. O Eu reconhecidamente se
revela como paz observadora mesmo que o corpo-mente esteja tenso. Você
já é Você, independente dos estados, Eu já sou o Ser-Consciência-Silêncio-
Paz que testemunha.
“Você” é o Eu que nota. O Eu é o Sujeito da Vida. E já deu para perceber
que não estamos falando do eu-personagem do jogo, o aflito João da Silva.
Não se está falando do eu-persona-objeto na experiência, que é cego e se
importa com os pensamentos. Não estamos falando do eu-identificação com
a personalidade e com as coisas. Não se está falando do eu experienciado
no jogo (a identidade-corpo-mente).
Comece a perceber mais e mais que tudo que compõe a experiência é
visto por Algo. Toda a experiência, inclusive o personagem tentando mudar
os pensamentos, é percebida silenciosamente no Agora pelo Ser-Eu-
Consciência. Nada mais tem o dom de “ver”, somente Eu. Portanto, tudo
que é visto como um objeto da experiência do jogo (o personagem aflito
tentando mudar os pensamentos e tentando ficar presente) não é Eu, pois
Eu Sou é Aquilo que Vê. Eu Sou o Algo-consciente que testemunha de
forma silenciosa, mas no fundo não se importa; que permite e não se
identifica com nada no jogo. E mais: Eu não posso ser visto. Eu só posso
intuir a Mim.
O convite no exemplo das perguntas acima é para ficar apenas no espaço
de testemunhar e de reconhecer que o “importar-se” e o “querer mudar a
experiência” é um outro pensamento do personagem e, portanto, também é
um objeto percebido que não precisa ser mudado.
Apenas testemunhar e reconhecer que isso tudo não sou Eu em essência.
Eis a sacada, eis a Visão!
Esta é a Visão, a compreensão, o dar-se conta! Nada para modificar ou
fazer. É apenas a Visão de que nada vai melhorar ou passar rapidamente,
porque existe um pensamento exigindo que “isso tem de melhorar” ou “eu
quero que isso não seja assim”. Porque não há nada que esteja mal, que
tenha que melhorar. O Divino é divinamente divino. “Melhorar” é apenas
mais um pensamento ou um dado-objeto-programa a ser percebido na
experiência.
Em resumo, o pensamento de “não saber o que fazer” é evidente no
momento em que surge, porque isto é uma tentativa mental (um desejo na
verdade) de mudar o presente para ajustar o futuro, de querer controlar o
fluxo e de estar no domínio da situação. Esta tentativa de controlar os dados
que surgem é mais outro dado-pensamento. É apenas uma “imaturidade”
mental que surge para ser testemunhada também. A grande sacada seria
“curtir” a experiência toda e apertar um “botão de dane-se” para tudo que
surgir e confiar no Fluxo do Universo-Consciência. O convite é: deixe tudo
ser como é! E siga então a intuição. Eis a bússola!
Claro que já notamos que as palavras aqui utilizadas são imprecisas, mas
perceba que dentro do jogo da vida, como não tem um alguém-eu-separado
da Fonte-Consciência, a decisão de confiar também surge. O “curtir”, o
“soltar” e o “entregar” são um tipo de maturidade que surge.
Essa “sabedoria” surge da mesma forma que a Presença, a partir da
“decisão” da Fonte, quando tiver que surgir…
Uma boa compreensão mais profunda seria: tudo o que se desenrola no
jogo da vida se desdobra do único jeito possível: do jeito que a Fonte
deseja.
Obviamente, fica nítido que a vida é assim e sempre será: um desenrolar
dinâmico, maravilhoso, um jogo com todas as suas nuances e mistérios: nas
interações humanas, nos negócios aparentes, nos pensamentos-problema,
nas inseguranças e seguranças, nas alegrias e tristezas, com o eu-
personagem preocupado ou sem preocupação. Que maravilhosa é a vida tal
qual se apresenta!
A tentativa de mudar, portanto, até mesmo de querer iluminar-se e de ver
as coisas com mais “presença” são desejos apenas surgindo e que são vistos
por Algo, sempre.
Tudo nessa abertura de Visão fica muito belo, pois é a Vida desdobrando-
se de um jeito perfeito e maravilhoso, não há nada para mudar, até mesmo
maior “presença” e mais paz não são o objetivo. Nada disso! Tudo já É,
pois tudo já está certo e no lugar! Aquilo que a mente parece procurar,
parece ansiar, não pode ser encontrado, pois já está aqui o “tempo” todo
testemunhando autonomamente.
Sinta o Testemunhar silencioso agora…
É possível notar e intuir Isto, este Silêncio-alerta agora?

O Você-Eu é a Vida e não as circunstâncias de vida. Você-Eu já é a Paz


(mesmo que aparentemente o corpo e a mente não estejam em paz). A
identidade não é corpo. O Eu Real é o Silêncio, mas não o silêncio da
mente a qual nunca é silenciosa. O Eu é a Consciência-Fonte-Vida-
Silêncio-Agora…

Nenhuma outra compreensão-visão se faz necessária, mas sem tentar


entender mentalmente!
Apenas Ser… “Permitir” Ser… Ser… Ser…

E para “seu” conforto: ainda mesmo que o senso de “não ser” exista, já
está Sendo… Nesse caso, Você já é o Ser brincando de não ser…
Tudo está perfeito sem entender… Apenas Ser… Agora…

Pois já é! Nada para alcançar no futuro. Esta sua vida já está perfeita
agora. Perceba isso… A perfeição já é agora…
Mas claro que, nas questões práticas diárias, quando surgem pensamentos
como “preciso ficar mais presente” ou “estou muito no piloto automático”,
“estou muito no futuro”, “preciso ficar mais consciente!”, essas
“lembranças” e o consequente “estado de maior consciência-presença”
momentâneo também vêm da Fonte. Siga isso, pois essas “lembranças”
são, no momento, o impulso Divino possibilitando esta dádiva de “Estar
Consciente de estar Consciente” acontecer quando tiver de acontecer…

Portanto, confiar e permitir que a Consciência seja o que Ela deseja ser
em cada instante é o ponto a ser lembrado aqui: às vezes, clareza; às vezes,
hipnose; às vezes, esquecimento dentro do jogo.
Sinta a Clareza silenciosa agora…
Perguntas para o Despertar

Existem algumas dicas práticas para que haja o alinhamento com o


despertar. A partir dessa nova Visão é possível dizer que, na vida diária, é
uma questão de “intenção” da Consciência ter clareza ou não. É possível
que, a partir dessa abertura que já está acontecendo aí, surja uma intenção
de estarmos mais comprometidos com a Consciência-Lucidez, senão a cada
instante, sempre que a lembrança surgir. Se no fundo do coração surgir um
desejo intuitivo de viver a vida de forma desperta, um comprometimento de
100% com a Lucidez-Presença pode ser fundamental para o despertar.
Para isso, é factível intencionar a partir da Lucidez que se estabeleça na
sua experiência diária uma “lembrança” para a Visão Clara ficar mais em
primeiro plano, como se fosse um gatilho para sair do esquecimento a
respeito da Presença-Consciente.
À medida que este comprometimento com o Eu-Essência se torna algo
realmente importante em sua vida, é possível conhecer, no nível da mente,
alguns truques para lembrar-se de que não é mais necessária a hipnose do
jogo.
Vamos sugerir aqui para que sejam conscientemente usadas, a partir de
agora no seu dia a dia, algumas frases de lembrança a fim de reprogramar
a mente e lembrar de que não é mais necessário viver no esquecimento
total Daquilo que Eu sou.

MOMENTO DE CLAREZA

Lembre-se de que o que está se passando neste momentum no


planeta é uma mudança de paradigma, como já falamos. Com isso, o
ir e o vir da Clareza versus hipnose ou o flip-flop dessa Visão-
Presença versus inconsciência, não é um privilégio de “alguém”, pois
está acontecendo atualmente em muitos organismos dentro do jogo
da Consciência.

Existem, portanto, algumas frases de lembrança para apoiar o viver


desperto no dia a dia. É possível, sempre que lembrar, utilizar algumas
delas na forma de pergunta — um koan****, que pode ser utilizado como
uma ferramenta de apoio para descolapsar dos pensamentos.
Por exemplo, digamos que surja um pensamento do tipo “eu estou triste,
minha vida é um tédio”.
Neste caso, pode-se utilizar qualquer uma das perguntas-koans abaixo:
O que sou Eu de Verdade?
O que é o “eu” que se diz triste?
O que é isso que está dizendo que a “minha” vida é um tédio?
E depois de perguntar-se, faça silêncio interno e fique completamente
alerta.

Fique alerta sem pensar para identificar a natureza de onde os


pensamentos surgem. Sem pensar, apenas alerta por alguns instantes!
O propósito de uma pergunta-koan é expor, em tempo real, o
pensamento “eu” e os pensamentos subsequentes que surgirem. Uma
pergunta como esta, quando feita e mantido o silêncio mental, elucida
aquela sensação de identificação com o fluxo dos pensamentos. Esclarece a
sensação de ser os sentimentos e consequentemente clareia a convicção
errônea de que o problema tem a ver “comigo” e de que ele é a “minha”
vida.
Uma pergunta-koan serve para identificar a falácia de que “eu sou o
pensamento” e para trazer um breve momento de Lucidez-Presença.
Outra sugestão é utilizar a pergunta:
Existe consciência de estar consciente agora?
Essa pergunta também ajuda a “sair” do piloto automático
imediatamente. Quando a pergunta é feita, lembre-se, não a responda. Isso é
importante, apenas acesse o estado de alerta e permaneça silenciosamente
“ligado”, desperto por alguns segundos. Essa pergunta remove o
colapsamento na mente nebulosa que, em geral, quando não vista, pode
gerar horas de devaneios inconscientes.
Agora, por exemplo: há consciência de estar consciente?
Ou, ainda, é possível puramente:
Tomar um momento de Presença-Consciente.
Esse “breve momento” proporciona um “olhar” alerta e silencioso para a
mente com certo destacamento ou distanciamento. Ao desvincular-se da
mente pensante tomando um breve momento de alerteza, enxerga-se
instantaneamente a “loucura” dos pensamentos que estão surgindo
aleatoriamente e de forma involuntária.
Tome um breve momento agora!…

Outra sugestão é simplesmente:


Pare!
Pare com todos os pensamentos! Silencie e observe!
Stop! E esteja atento por alguns segundos.

Será possível perceber a mente parar. Pare e testemunhe! O que resta?…


A pura Consciência observando.
Teste aí agora! Pare tudo!…

Quando a mente para por alguns segundos, o que sobra? Um Vazio


Silencioso alerta e sem pensamentos, Isto é Consciência!
Ou, então, meramente:
Descanse na Presença. Repouse nessa Lucidez.

Ou, apenas:
Seja!
Agora, simplesmente Seja!

Outra possibilidade: experimente uma respiração profunda e consciente.


Ao expirar, solte os pensamentos e fique silenciosamente alerta por
alguns segundos (cerca de cinco segundos). Esteja completamente alerta e
reconheça o Silêncio-Vazio que está sempre presente.
Repetir este exercício de inspirar conscientemente e expirar soltando os
pensamentos de forma relaxada e ficar alerta por cinco segundos, pode ser
de grande valia se feito umas dez vezes ao longo do dia.
Faça-o agora:
Inspire… Expire e ao mesmo tempo solte os pensamentos…

Em resumo: um comprometimento diário de 100% com a Consciência


fará você priorizar as sugestões acima ao longo de um dia. Acorde com isso
em mente, esteja com isso em mente e vá dormir 100% compromissado
com a Visão Clara, pois ficará nítido um incremento diário no nível de
Lucidez-Presença.
Pergunte-se neste instante: existe 100% de comprometimento Comigo-
Eu-Real?
O livre-arbítrio dentro da cegueira do jogo é só um
pensamento, é só uma ideia?

Sinto na minha experiência que os pensamentos ainda são muito fortes e


por mais que eu saiba que não sou os pensamentos em muitos momentos
esqueço que os pensamentos não deveriam me influenciar. Neste caso, fico
tenso. Por causa disso quero que os pensamentos nebulosos desapareçam.
E aí vêm as perguntas: já que não existe nada nem alguém separado da
Fonte e já que tudo vem do Eu-Fonte, quem é que decide a ações dentro do
jogo? Ou melhor: quem faz escolhas dentro do jogo quando existe o
esquecimento da Verdade?
Primeiramente, relembre: aquilo que é o Eu, que é Você de Verdade, já é
Consciência-Fonte agora e não precisa ser buscado no futuro. Portanto, não
tem nada que necessite ser mudado. O mar já é água ou a onda já é o mar. O
mar não precisa encontrar a água ou a onda não precisa encontrar o mar. O
mar calmo ou agitado já é água! Não é necessário acalmar as ondas para
perceber o mar! As ondas e o mar já são água.
A Lucidez, assim como os pensamentos nebulosos e o esquecimento, não
depende de um querer instantâneo para desaparecer. Os momentos de
Clareza surgem assim como os momentos de hipnose acontecem. Tudo já é
Consciência naquele exato instante, mesmo na hipnose do jogo.
É importante lembrar que a Consciência Fonte para poder “materializar”
esta vida precisa de um certo nível de aparente “hipnose” do personagem;
caso contrário, o mundo como o conhecemos não aconteceria tal qual ele é.
O mar precisa ser agitado para existir a onda e para o surf acontecer; ou a
água precisa movimentar-se para ser chamada de rio e produzir energia
elétrica. Água parada e profunda não tem a mesma funcionabilidade da
água em movimento. Assim é a Consciência. É Ela quem escolhe ser água
em movimento, ser onda, ser rio. E é Ela quem escolhe, como personagem,
acordar e também esquecer de Si dentro do jogo.
OK! Considerando que a tomada de decisão do personagem dentro do
jogo é um pensamento e que isto surge da Consciência e não é privativo do
“personagem”, por acaso o livre-arbítrio do personagem seria apenas um
pensamento-crença que surge também?
Sim, de maneira mais ampla o livre-arbítrio é uma crença aprendida e
experenciada por falta de Visão. Um pensamento de escolha também surge
e não foi o personagem do jogo “quem o pensou”. O personagem é a
Consciência-Fonte em movimento e, portanto, nesta Visão mais profunda
fica nítido no experienciar que o pensamento surge do Vazio. Este pensar
individual é aparente, mas verdadeiro somente a partir do ponto de vista da
hipnose ou da inconsciência do personagem. Aparente ou
inconscientemente, quem o pensou foi sim o personagem, mas, em Verdade,
o pensamento simplesmente veio da Consciência-Fonte.
E como poderia o personagem tomar a decisão de utilizar uma
pergunta-koan para “lembrar-se” da inconsciência como foi sugerido
anteriormente?
A decisão de usar a pergunta-koan para aumentar o nível de presença
não é do personagem, é da Consciência.
Aqui tem um aspecto importante: nenhuma informação nem mesmo o
jogo da hipnose e da mente estão separados do arbítrio ou dos “desejos” da
Consciência, nenhum pensamento está de fora da Consciência-Fonte.
Na mente limitada do personagem (que também é Consciência em
movimento), a Visão Intuitiva de que não há um “alguém-separado-
autônomo-independente” também acontece em algum momento. O
vislumbre da Consciência estando mais consciente de Si também revela-se.

MOMENTO DE CLAREZA

Claro que o saber intelectual, de que não é o personagem que


delibera os pensamentos e sim a Consciência, não poderia ser
encarado como um acomodar-se do tipo: “agora que sei que a decisão
e o pensamento não são escolhas e sim apenas surgem, vou ficar em
casa dormindo” (risos).
A questão a perceber é quem é o “eu” que escolhe: Eu Consciência
ou o eu-personagem? Note que o eu-personagem não escolhe, ele é
um pensamento.
Este pensamento de acomodação no personagem, quando vem,
revela uma imaturidade mental ainda ou significa que a Visão na
Verdade não aconteceu. Nesse caso, o entendimento está ainda no
nível do intelecto.
Seria o mesmo dizer que tudo é água, que o mar não existe, que só
água existe. Mas, lembre-se: saber que tudo é água não elimina a
experiência da maré e das ondas, às vezes mais ou às vezes menos
agitadas… Mesmo que se saiba que a água do mar não é azul, o
oceano aparentemente desta cor continua a existir na experiência
sensorial.
Então, suprimir a ferramenta “mente” (Consciência em
movimento) seria como negligenciar o poder da água de gerar
energia elétrica, por exemplo.

É possível, sim, no nível da mente, utilizá-la com o propósito prático de


“lembrar-se de que a hipnose não é mais necessária”. Simplesmente abrir
mão desta possibilidade significaria voltar à hipnose e ao esquecimento por
birra (risos).
É uma questão de compreensão: a pergunta-koan é útil e será utilizada
pela mente-Consciência sempre que Ela quiser e quando a lembrança
surgir. Assim, quando o pensamento de utilizar o koan surgir, siga isso, pois
foi o que a Consciência-Eu trouxe naquele instante.
Lembre-se que a Consciência-Eu utiliza, sim, os pensamentos e
lembranças para o despertar para a Visão Pura. A mente nunca precisa ser
negligenciada, apenas conscientemente não carece ser seguida de forma
cega e indiscriminada quando o que vem é fruto do condicionamento e das
distorções das crenças limitadas. Portanto, quando a Visão não está clara,
no nível do personagem ignorante, quem na verdade decide quase que
exclusivamente são os pensamentos condicionados da programação
sociomental instaurada culturalmente desde a infância, no inconsciente
coletivo e no DNA. Esse é um programa é pobre!
O que se está dizendo é que aquela forte convicção de que “eu sou
exclusivamente a mente e o corpo” começa a esvanecer com A Visão. Na
Visão Pura fica mais nítido que é o Eu-Consciência que gera pensamentos e
que, quanto mais elevados, mais trazem visões de mundo sutis e profundas.
Lembre-se sempre: tudo é a Fonte-Consciência e seus múltiplos níveis de
consciência-pensamento incluindo o ponto de vista do personagem que
está adormecido.
Portanto, a ideia de que “não preciso fazer mais nada” já que tudo é
Consciência seria como incentivar o surfista a ficar em casa sentado. Seria
como dizer: “Agora que eu sei que tudo é água, não vou mais surfar, porque
a onda não existe isoladamente”.
A Visão Pura é radical e útil para uma compreensão intuitiva mais
direta e profunda da Verdade, mas não poderia necessariamente começar
agora a negar a utilização da mente prática, quando assim a intenção surgir.
Negar a mente prática seria permanecer em outro modo de hipnose mental:
a negação de tudo. Seria insano afirmar que “nada existe”, que “tudo é
Consciência”, só porque “agora sei mentalmente que sou Consciência”.
Veja: a base de tudo é Consciência. A Fonte-Consciência é a plataforma
da vida e não tem nada que não seja Consciência, não há nada que não
venha Dela. Tudo é Uma-Consciência. Não existem duas! Perceba na
analogia, tudo é água, não há dois: mar + onda (apenas nas aparências).
Então, é possível, nesta Visão, incluir também que nada está separado da
Consciência e que, no nível da mente ou do teatro, todo e qualquer insight
que surgir pode ser utilizado normalmente, puramente quando a lembrança
vier. Utilizar a mente conscientemente acordado é como, ao fazer uma
trilha na mata, usar uma jangada (o koan) para atravessar aquele rio no
momento em que se faz necessário. Aí se abandona a jangada e segue
viagem. Quando surgir outro rio, usa-se outra jangada novamente, pois a
mente (jangada) está sempre à disposição.
Utilizar um koan de “lembrança” de que “não é necessário mais ficar
preso aos pensamentos” como um exercício prático não vai tirar a sabedoria
última de que o livre-arbítrio, no nível do personagem cego, é ilusório.
Ilusório no sentido de que os pensamentos de tomada de decisão surgiram
da Consciência-Fonte-Eu e não do eu-personagem-separado. Só a
Consciência Fonte tem o dom de emanar pensamentos e, portanto, tudo é a
Consciência decidindo e atuando. O livre-arbítrio, em Verdade, é da
Consciência-Fonte. É Ela-Eu quem decide.
Não é você-mente limitada, personagem separado, que está produzindo a
decisão de usar o koan, a decisão do “fazer” está acontecendo. O suposto
livre-arbítrio está acontecendo sim, mas apenas aparentemente. Então,
quando chega a ideia de fazer algo, utilizar um koan neste exemplo, é a
Divina-Consciência que está “arbitrando” e decidindo.
Observe que, quando existe incompreensão nesta Visão Pura (que se está
insistindo aqui), todo o esforço na vida prática é muito real, mas apenas por
falta de clareza. Ou seja, enquanto a Visão Pura não estiver disponível, o
livre-arbítrio é um fato e uma convicção profundamente real.
No nível do personagem, a “tomada de decisão individual” parece sim
muito evidente! E perceba que é justamente nesta convicção que está o
equívoco gerador de todo o sofrimento dentro do jogo: quanto maior a
sensação de estar decidindo, maior o peso e o esforço. Assim, tem-se mais
estresse e mais a vida se torna separada, sofrida, pois “existe” a crença de
um “eu” responsável por tudo. Eis o engano básico!
Agora, na medida em que o despertar acontece, que o livre-arbítrio do
personagem é visto como uma falácia, não é necessário negligenciar nada
na vida prática, pois a Visão já está instalada. Significa que agora, mais do
que nunca, pode-se “usar” (e é a Consciência fazendo) qualquer truque
(koan) ou o que for para fazer o que aparentemente será útil no momento,
ou seja, “agora sim, vou surfar ainda melhor”.
Negar um pensamento ou negar fazer qualquer coisa a partir de agora
seria um contrassenso, pois seria a mente, ainda em um nível de
incompreensão, dizendo que não vai fazer mais nada.
A Consciência-Fonte não se limita a nada que seja prático. Ela é Tudo!
Não se limita a nenhum lado, não impede e não obriga. Não nega nada.
Tudo é o Fluxo, mente e não-mente, ideia e não-ideia, fazer e não fazer.
Tudo Um. Nada que existe está fora da Consciência-Fonte. Negar usar todo
o seu potencial é só um pensamento e uma conclusão ainda da mente
limitada.
Está tudo bem, tudo está no devido lugar. O Divino sabe o que faz de
forma divina!
Mas o mais importante por hora: tem consciência da Consciência agora?
Intuição, conectar com o coração
Como viver no novo mundo, no mundo do fluxo

Seguir a intuição, em poucas palavras, significa viver a partir da Visão


Pura. Viver de outro espaço que não o do intelecto condicionado. Significa
ter a Visão do todo, da mente, da não mente, ter a Visão da Verdade
enquanto se vive o teatro; seria como ouvir o silêncio enquanto também se
ouve a música.
É como valorizar os móveis da sala, mas também espaço vazio entre eles.
Significa Conhecer a Si mesmo e, assim, a Visão Pura, Neutra, surge. O
vício de encobrir o Vazio e o Silêncio se vai e, agora, o Silêncio Sábio
começa a guiar por meio da intuição novas ações mais espontâneas e não
mais ações condicionadas moldadas pelo sistema. Talvez encontrar
intuitivamente ações mais assertivas, mais grandiosas, mais leves e sábias
na experiência prática. A busca por algo no futuro, nas coisas, para
“completar-me” perde consequentemente o valor.
Diz-se que surge o fluxo do não esforço, ideias mais elevadas brotam, os
valores de vida mudam, certas ações, pensamentos e emoções perdem o
sentido e deixam de ser engrandecidas. Uma nova frequência de atividades
e resultados surge e o peso do dia a dia diminui. A Visão se estabelece. A
leveza do Amor, da Gratidão e da Paz é percebida em primeiro plano
mesmo que não haja paz no corpo e na mente dentro do jogo.
Aí é possível afirmar que se está vivendo a partir do Coração. No
Coração do Experienciar. No Coração da Vida. Não existe mais o desejo
de repelir uma emoção. Ela é vivida conscientemente. Seguir o Coração
significa viver no Amor Consciente, na Intuição Pura, na Vida viva, na
Verdade verdadeira. Seguir o Coração significa ver a mente e suas falácias
e não mais ser guiado por elas. Agora, não há mais a mente no controle, há
puro movimento da Consciência Autoconsciente. O mar continua existindo,
ondas de todos os tamanhos e agitos continuam, mas o fluxo, a paz e a
leveza as permeiam primariamente e as ondas são testemunhadas. Não há
mais “eu” esforçando-se. Tudo é Um-Consciência sem separação: sem
sujeito + objeto, sem o eu-personagem + o mundo lá fora, apesar de o
dualismo do jogo ser observado.
Os “problemas” na vida-jogo surgem e são resolvidos, as emoções e os
pensamentos vão e vêm, as decisões são tomadas, as ações acontecem, as
alegrias e tristezas vêm e vão, mas não são mais do “eu separado”. O
perdão acontece, a dor surge e passa, sem inconformismo e, mesmo se
alguma insatisfação vier, está tudo OK. A personalidade é vista como um
acontecimento ou apenas uma intempérie, como o vento e a chuva, não
mais como sendo “eu”. Assim como não se briga com o vento e com a
chuva, a luta com as intempéries internas (emoções, pensamentos e
personagem) inexiste. O testemunhar se estabelece e, mesmo que isso não
aconteça, tudo certo também. A entrega acontece e o desapego surge.
O Divino que sempre esteve na direção agora é reconhecido. Fica nítido
que o “eu-personalidade” não dirige mais e que, quando dirigia, fazia-o
apenas aparentemente.
A vida muda? A felicidade e o êxtase passam a existir permanentemente?
Não, a vida continua a mesma, mas a Visão sobre a mesma vida é Pura.
O Silêncio é visto como Eu e os “outros” também são Eu. A máscara do
personagem cai e uma ética natural surge sem precisar de leis para geri-la.
O sistema-mente-matrix é revelado. O Amor é a nova moeda e,
provavelmente, os propósitos mudam, os valores mudam e as amizades
mudam.
A Intuição Amorosa é a bússola, a guiança, que agora se pode mostrar
porque o barulho da mente, mesmo que ainda surja, não faz sentido. Agora,
na Verdade, tudo é igual, só que diferente.
Pura Intuição, Paz, Amor. Eis a Vida viva vivendo na Pureza da Visão!
O que é o Eu Agora?

* Importante: as palavras “próximo” ou “distante” não se referem a um nível superior ou inferior, não
têm o sentido de ser mais ou menos desenvolvido. Não! Perceba que tudo é o Ser brincando de não
ser o Ser.
** Observação: a esta altura já ficou claro que a referência que se faz aqui a Espírito não é a mesma
que o espiritismo ou algumas tradições chamam de espírito-alma (a palavra é a mesma, mas o
significado-Visão, completamente distinta).
*** Inscreva-se e assista no YouTube, no canal Visão Pura – Amar, o vídeo chamado “A política
não faz parte da Realidade”.
**** Observação: no Budismo Zen, um koan é uma afirmação ou pergunta que contém aspectos que
são inacessíveis à razão — é uma pergunta sem resposta! Um koan tem a intenção, neste caso, de
trazer o reconhecimento instantâneo da Presença + Consciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS E INICIAIS
O EGO NÃO EXISTE

Por um motivo específico, a palavra ego aparece pela primeira vez neste
livro. Intuitivamente, ela nunca apareceu por causa das distorções que
existem a respeito de sua compreensão baseada em diferentes tradições.
O ego geralmente é visto como:
A identidade de alguém;
A consciência da identidade;
Um sentimento inflado de orgulho ou senso de superioridade sobre
outros;
A personalidade ou caráter de alguém;
A autoimagem;
O encadeamento de memória que dá o senso de existência;
Uma combinação sociocultural condicionada e geneticamente
programada;
Um centro autônomo e consciente com volição localizado dentro de um
corpo;
Um personagem sonhador em um jogo que é jogado pelo Verdadeiro Self;
Um erro de identidade universal onde o Eu Sou é tomado como pessoal;
(descrições retiradas do livro de Leo Hartong — Awakening To The
Dream).
Tradicionalmente, "ego" é considerado como algo que precisa ser
eliminado, amenizado ou morto para que ocorra um despertar.
A pergunta é: como algo que não existe pode ser eliminado? (e
provavelmente este será o tema de um outro livro).
O ego não existe, pois todas as noções acima são apenas ideias e a vida
não está sendo conduzida e vivida por um conceito a respeito do que Eu
Sou. A “entidade” pensante-ego é apenas uma noção irreal e uma certeza
inconsciente de que eu sou limitado, sou um corpo com uma consciência e
com volição. O ego é ele próprio parte da corrente de pensamentos e não
tem realidade independente dos pensamentos.
A grande descoberta, após a Visão Pura estabelecer-se, é quando ocorre o
reconhecimento ou o vislumbre de que o eu-ego não existe e nunca existiu.
Não existe um “eu” que precise ser purificado, melhorado ou alcançado.
Você-Eu já é a Consciência Universal Ilimitada sempre presente.
Um descobrir não intelectual de que tudo é o Divino atuando sem um eu
pessoal é o convite que é aqui deixado neste momento…
Tome um breve momento!…

Pois bem, chegando até aqui, se de alguma forma o que foi lido nos
textos anteriores fez sentido (ao menos parcialmente), fica a dica e a
insistência para expor mais e mais a falácia do eu: continue investigando a
realidade na experiência direta.
Considerar este livro como uma abertura para a Visão da Verdade a
respeito da vida é o despertar deste momento.
Lembre-se que a Visão só pode dar-se Agora, mas sem propósito ou
expectativa. Ela ocorre quando ocorrer sem "alguém" decidir.
E para que a mente saiba: não tem nada para “você” fazer como prática
para acelerar o despertar, mas, ao mesmo tempo, é somente com o
reconhecimento do que é este não-fazer e com a descoberta do que é o Eu
Real que o Acordar pode acontecer. É a Visão que importa, não o "fazer"
nem o "saber" mental.
Portanto, “não fazer” também significa que até mesmo nenhuma prática
espiritual ou nenhuma técnica de meditação, por exemplo, irão acelerar a
Realização do Self: o reconhecer Daquilo que é o Eu Agora.
A Visão se dá quando der. Claro que se qualquer forma de meditação
estiver acontecendo na sua vida, tudo OK, nada errado com isso, mas
perceba: não há um eu "individual" meditando e tudo já é perfeito do jeito
que É!

E saiba: este não é o final de um livro, e sim o início para uma nova
Visão…
As perguntas que ficam são:
O "eu" que pensava ser é real?
O que EU sou em Verdade?
SOBRE O AUTOR

Amar mora em Vitória, Espírito Santo, e conduz, semanal e mensalmente


pelo Brasil, os Encontros de Despertar. Atua como coach empresarial no
Espírito Santo e leva a Visão do Despertar e do novo mundo dos negócios
para potencializar o ambiente business.
Para seguir seus vídeos, inscreva-se no canal do YouTube: Visão Pura –
Amar.
Contato: [email protected] / www.visaopura.com.br
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

Amar Watt, 1974-


A485v Você não é aquilo que pensa que é [recurso eletrônico] : o poder da
visão pura / Amar Watt. - Dados eletrônicos. - Vitória : Editora Visão Pura,
2018.
340 p.
ISBN: 978-85-54024-01-7
Também publicado em formato impresso. Modo de acesso:
<http://www.visaopura.com.br>
1. Espiritualismo. 2.Espiritualidade. 3. Esoterismo. 4. Vida Espiritual. I.
Ribamar Watthier. II. Título.

CDU:130.3

Elaborado por Cynthia de Andrade Bachir – CRB-6 ES-000485/O

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