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DOI: h p://dx.doi.org/10.20435/mul .v23i55.

1606

Risco nutricional em pacientes hospitalizados:


comparação de três protocolos de triagem nutricional
NutriƟonal risk in hospitalized paƟents:
results of three nutriƟonal screening protocols
Riesgo nutricional en pacientes hospitalizados:
comparación de tres protocolos de clasificación nutricional

TaƟana Ferreira1
Rita de Cássia Avellaneda Guimarães2
Fabiane La Flor Ziegler Sanches3

1
Especialização em Residência Mul profissional em Saúde - Atenção ao
paciente crí co pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS),
Campo Grande, Brasil. E-mail: ferreirata @live.com
2
Doutora em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste/UFMS e
Professora Adjunta do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.
E-mail: [email protected]
3
Doutora em Alimentos e Nutrição/UNICAMP e Professora Adjunta do Curso
de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]

Recebido em 17/05/2017; aprovado para publicação em 23/06/2017


Ta ana FERREIRA; Rita de Cássia Avellaneda GUIMARÃES; Fabiane La Flor Ziegler SANCHES

Resumo: O obje vo do estudo foi avaliar a prevalência de risco nutricional entre adultos e
idosos hospitalizados por meio de três protocolos de triagem nutricional. Estudo de caráter
transversal com 111 pacientes admi dos em um hospital universitário. Os instrumentos
u lizados foram: Nutri onal Risk Screening-NRS, Malnutri on Universal Screening Tool-
MUST, Mini Nutri on Assessment Short Form®-MNA_SF. Do total de pacientes avaliados,
55% (n=61) eram adultos. O risco nutricional esteve presente em 73,0% dos pacientes de
acordo com a NRS-2002, 70,3% pela MUST e 76,6% pela MNA-SF. Foi evidente a importância
da triagem nutricional, pois houve uma prevalência acima de 70% em risco nutricional de
acordo com os três protocolos. Ressalta-se que os protocolos correlacionaram-se fortemen-
te entre si (R= 0,795), apresentando pouca variabilidade entre os métodos. Independente do
protocolo u lizado foi possível observar que os pacientes em risco têm maior permanência
hospitalar, pior desfecho clínico e consequentemente são mais onerosos para a ins tuição.
Palavras-chave: hospitalização; triagem nutricional; tempo de internação.

Abstract: The objec ve of the study was to evaluate the prevalence of nutri onal risk
among adults and hospitalized adults through three nutri onal screening protocols. A
cross-sec onal study with 111 pa ents admi ed to a university hospital. The instruments
used were: Nutri onal Risk Screening, Malnutri on Universal Screening Tool, Mini Nutri on
Assessment Short Form. The total number of pa ents was 55% (n = 61) were adults. The
nutri onal risk was present in 73.0% of pa ents according to NRS-2002, 70.3% for MUST
and 76.6% for MNA-SF. The importance of nutri onal screening was evident, as there was
a prevalence above 70% at nutri onal risk according to the three protocols. It should be
emphasized that the protocols correlated strongly with each other (R = 0.795), presen ng
li le variability among the methods. Regardless of the protocol used, it was possible
to observe that pa ents at risk have a longer hospital stay, worse clinical outcome and
consequently are more expensive for the ins tu on.
Keywords: hospitaliza on; nutri onal screenin; length of hospital stay.

Resumen: El obje vo delestudiofueevaluarlaprevalencia de riesgo nutricional entre adultos


y ancianos hospitalizados por medio de tres protocolos de clasificación nutricional. Estudio
de carácter transversal con 111 pacientes enun hospital universitario. Los instrumentos
u lizados fueron: Nutri onal Risk Screening, Malnutri on Universal Screening Tool, Mini
Nutri on Assessment Short Form®. El total de pacientes es 55% (n = 61) era adulto. El
riesgo nutricional estuvo presente enel 73,0% de los pacientes de acuerdoconla NRS-2002,
70,3% por MUST y 76,6% por MNA-SF. Es evidente laimportanciadeltamizaje nutricional,
pueshubo una prevalencia por encima de 70% enriesgo nutricional de acuerdoconlostres
protocolos. Se resalta que los protocolos se correlacionaronfuertemente entre sí (R = 0,795),
presentando pocavariabilidad entre los métodos. Independiente del protocolo u lizado
fueposible observar que los pacientes enriesgo enenmayorpermanenciahospitalaria, peor
desenlace clínico y consecuentementeson más costosos para lains tución.
Palabras clave: hospitalización; clasificación nutricional; empo de internación.

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

1 INTRODUÇÃO
A desnutrição ainda é considerada um problema nutricional frequente,
principalmente quando se relaciona ao âmbito hospitalar. Mesmo em países
desenvolvidos, as taxas de desnutrição intra-hospitalares são altas, como
na Inglaterra (20%) e na Austrália (36%). Em países em desenvolvimento,
como os da América La na, inclusive no Brasil, a prevalência de desnutrição
em pacientes hospitalizados ocorre em torno de 50%.
É incontestável que a deterioração do estado nutricional interfere na
evolução clínica do paciente, morbimortalidade, custo da hospitalização,
piora da qualidade de vida e contribui para internações prolongadas, dimi-
nuindo a rota vidade dentro dos hospitais, reduzindo ainda mais as vagas
disponíveis.
Assim, há muito interesse na iden ficação precoce do risco nutri-
cional, pois possibilita que as equipes assistenciais ins tuam a terapêu ca
nutricional mais apropriada, visando minimizar o sinergismo entre a des-
nutrição e as complicações clínicas. Diante disso, em 2005, o Ministério da
Saúde ins tuiu através da Portaria n. 343 , a obrigatoriedade de protocolos
de triagem nutricional nos hospitais, para a avaliação do risco nutricional,
porém essa prá ca muitas vezes ainda é negligenciada nas ins tuições de
saúde.
A triagem nutricional permite uma avaliação rápida e de qualida-
de, que o miza e direciona o nutricionista aos pacientes que poderiam
beneficiar-se da terapia nutricional, sendo que diversas ferramentas foram
desenvolvidas para a triagem. Entretanto ainda não há consenso sobre qual
é a mais recomendada, tornando-se di cil a escolha daquela mais adequada
para ser inserida em um protocolo nutricional hospitalar.
Dentre os diversos protocolos validados na literatura científica,
existem alguns que se destacam por serem amplamente u lizados por
profissionais de saúde e recomendados por sociedades internacionais de
nutrição possuindo maior relevância técnico-cien fica, tais como: Nutri onal
Risk Screening (NRS-2002 [Triagem de Risco Nutricional]); Malnutri on
Universal Screening Tool (MUST [Instrumento Universal de Triagem de
Desnutrição]); Mini Nutri on Assessment Short Form® (MNA-SF® [Mini
Avaliação Nutricional Simplificada®]).

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Em consonância às recomendações do Ministério da Saúde, o presente


estudo teve como obje vo avaliar a prevalência de risco nutricional entre
adultos e idosos hospitalizados e a possível concordância do risco através
de três protocolos de triagem nutricional.

2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo prospec vo de caráter transversal que foi
realizado no Pronto Atendimento Médico do Hospital Universitário Maria
Aparecida Pedrossian, localizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
no período de março a julho de 2016. O estudo foi aprovado pelo Comitê
de É ca e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS), protocolo de número 1.442.664.
U lizou-se a amostragem não probabilís ca por conveniência, que
cons tuiu 111 pacientes. Os par cipantes incluídos no estudo foram adultos
(18 a 59 anos) e idosos (maiores de 60 anos), de ambos os sexos, admi dos
há no máximo 72 horas, lúcidos para responderem aos ques onamentos ou
com acompanhantes aptos para tanto. Os critérios de exclusão estabelecidos
foram: pacientes menores de 18 anos, admissão por mo vos obstétricos
ou psiquiátricos, negação para par cipar da pesquisa, impossibilidade em
se aferir ou es mar peso e estatura. Após a aprovação, os pacientes ou
responsáveis que concordaram em par cipar do estudo assinaram o Termo
de Consen mento Livre e Esclarecido (TCLE).
As ferramentas de triagem nutricional para aplicação no estudo foram
selecionadas após uma prévia busca na literatura. Os instrumentos u lizados
foram: NRS-2002, MUST, MNA-SF® (RUBENSTEIN et al., 2001; KONDRUP et
al., 2003; STRATTON et al., 2004). Ressalta-se que a MNA-SF® foi desenvol-
vida a par r da MNA original, voltada para idosos, mas, nos úl mos anos,
vem sendo amplamente u lizada também entre adultos.
Na tenta va de padronizar os resultados da triagem nutricional,
realizou-se uma adaptação da classificação original para os instrumentos
MUST e MNA-SF®. Para a MUST, os pacientes com baixo risco na classificação
original foram considerados como sendo pacientes sem risco nutricional,
uma vez que estes possuíam escore zero. Os pacientes considerados com
médio e alto risco na classificação original foram classificados como pos-

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

suindo risco nutricional. Para a MNA-SF®, foram considerados pacientes


com risco nutricional, aqueles com risco de desnutrição ou desnutridos na
classificação original; e sem risco nutricional, aqueles considerados bem
nutridos na classificação original.
A coleta de dados foi realizada por um único entrevistador previa-
mente treinado para a aplicação dos protocolos. Inicialmente foi feita a
iden ficação e caracterização da amostra através da ficha de internação
hospitalar. Logo após, foram realizadas entrevistas durante as primeiras
72 horas de admissão para aplicação dos protocolos. Os três protocolos
foram aplicados no momento de cada entrevista com os pacientes, no
mesmo dia e em uma única vez. A informação sobre o tempo de internação
total foi ob da no momento da alta hospitalar e/ou óbito, diretamente
no prontuário dos pacientes. Os protocolos aplicados englobam questões
fechadas referentes a dados nutricionais (avaliação de ape te e alterações
no trato gastrointes nal), dados sobre o consumo alimentar (mudanças
alimentares recentes e descrição da dieta atual) e avaliação de dados
antropométricos.
As medidas antropométricas foram realizadas no momento da entre-
vista numa única coleta, segundo a metodologia proposta pelo Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN, 2004). Situações em que não
foi possível a aferição de peso e estatura estes foram es mados, segundo
Chumlea (1988). A classificação e diagnós co antropométrico foi realizada
por meio do Índice de Massa Corporal (IMC), u lizando os pontos de corte
para adultos da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1995) e, para idosos,
a classificação segundo Lipschitz (1994).
Na análise descri va, foram u lizadas para as variáveis con nuas,
média e desvio padrão e para as variáveis categóricas, a frequência abso-
luta e a rela va. Foi realizado o teste do qui-quadrado para inferência das
variáveis categóricas e o teste t de student para as numéricas, adotando-
-se nível de significância inferior a 5% (p<0,05). Foi realizado o teste não
paramétrico de correlação de Sperman’s. As análises foram realizadas no
programa Sta s calPackage for the Social Sciences (SPSS), na versão 18.0.

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3 RESULTADOS

A caracterização dos pacientes avaliados neste estudo está descrita


na Tabela 01. Dos 111 pacientes, 61 (55%) eram adultos e 50 (45%) idosos,
com idade média de 57 ± 19 (18-95) anos, sendo a maioria (60,4%) do sexo
masculino, da raça branca e com ensino fundamental. Quanto ao perfil clí-
nico dos pacientes, as especialidades médicas mais solicitadas foram, Geral
(21,6%; n=24), Doenças Infecto-parasitárias (19,8%; n=22), Pneumologia
(15,3%; n=17), Cardiologia (12,6%; n=14), Clínica Cirúrgica (8,1%; n=9).

Tabela 1 - Caracterização de pacientes hospitalizados, conforme idade


Total Adultos Idoso
Variáveis
n % n % n %
Sexo
Masculino 67 60,4 40 65,5 27 54
Feminino 44 39,6 21 34,5 23 46
Estado Civil
Solteiro 21 18,9 20 32,8 1 2
Casado 49 44,1 28 45,9 21 42
Viúvo 24 21,6 3 4,9 21 42
Divorciado 17 15,3 10 16,4 7 14
Raça
Branca 89 80,2 49 80,3 40 80
Negra 12 10,8 6 9,8 6 12
Parda 10 9 6 9,8 4 8
Escolaridade
Analfabeto 11 9,9 0 0 11 50
EF incompleto 32 28,8 13 21,3 19 38
EF completo 21 18,9 9 14,8 12 24
EM incompleto 15 13,5 12 19,7 3 6
EM completo 23 20,7 18 29,5 5 10
ES incompleto 3 2,7 3 4,9 0 0
ES completo 5 4,5 5 8,2 0 0
Pós graduação 1 0,9 1 1,6 0 0
Profissão
Aposentado 47 42,3 6 9,8 41 82
Desempregado 14 12,6 13 21,3 1 2

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
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Total Adultos Idoso


Variáveis
n % n % n %
Pensionista 4 3,6 2 3,3 2 4
Interrogado 20 18 16 26,2 4 8
Autônomo 8 7,2 8 13,1 0 0
Serviços gerais 11 9,9 9 14,8 2 4
Motorista 2 1,8 2 3,3 0 0
Costureira 2 1,8 2 3,3 0 0
Secretária 3 2,7 3 4,9 0 0
Condições clínicas crônicas
Nenhum 12 10,8 7 11,5 5 10
DM 4 3,6 2 3,3 2 4
HAS 17 15,3 9 14,8 8 16
≥ 2 DCNT 37 33,3 13 21,3 24 48
HIV 18 16,2 17 27,9 1 2
Outros 5 4,5 4 6,5 1 2
IRC 3 2,7 2 3,3 1 2
Interrogado* 15 13,5 7 11,5 8 16
Desfecho clínico
Alta 76 68,5 48 78,7 28 56
Óbito 35 31,5 13 21,3 22 44
*Interrogado: Hipóteses diagnós cas interrogadas na admissão hospitalar e/ou não
confirmadas. Abreviaturas: EF = Ensino Fundamental; EM = Ensino Médio; ES = Ensino
Superior; DM = Diabetes Mellitus; HAS = Hipertensão Arterial Sistêmica; DCNT = Doença
Crônica não Transmissível; HIV = Vírus da Imunodeficiência Humana; IRC = Insuficiência
Renal Crônica.
Fonte: Autoria própria.

Sobre as condições clínicas observadas no estudo, 24 (48%) idosos


apresentaram pelo menos duas doenças crônicas instaladas no momento
da internação em detrimento de 13 (21,3%) nos adultos. Na avaliação do
desfecho clínico, a idade foi um fator que influenciou nega vamente, visto
que as taxas de óbitos entre os idosos foram de 44%, já nos adultos o va-
lor encontrado foi de 21,3% (Tabela 1). O tempo médio de internação da
amostra foi de 21 ± 18,4 dias.
Sobre o perfil antropométrico (Tabela 2), foi realizada a classificação
da população geral e comparada por faixa etária com obje vo de se verificar

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possíveis diferenças entre adultos e idosos. O IMC médio geral dos pacien-
tes foi de 24,6 ± 5,7 Kg/m². Em relação à classificação do IMC, a maioria
(44,1%) estava eutrófica, seguida pela classificação de desnutrição (25,2%),
obesidade (17,1%) e, por fim, sobrepeso (13,5%). Os idosos apresentaram
um percentual maior de desnutrição em relação aos adultos, 32% versus
19,7%. No que se refere às classificações de excesso de peso (sobrepeso e
obesidade), os adultos apresentaram percentual de 34,5% em comparação
aos idosos, nos quais obteve-se 26%.

Tabela 2 - Perfil antropométrico de pacientes hospitalizados, conforme idade


Total Adultos Idoso p-value*
Parâmetros avaliados
Média ± DP Média ± DP Média ± DP
Peso (Kg) 66,8± 17,3 66,66±18,57 66,99±15,90 0,921
Estatura (m) 1,6 ± 0,09 1,67±0,088 1,60±0,095 0,0001
IMC (kg/m²) 24,6 ± 5,7 23,73±5,82 25,88±5,55 0,051

Classificação IMC n % n % n % p-value**


Desnutrição 28 25,2 12 19,7 16 32
Eutrofia 49 44,1 28 45,9 21 42
Sobrepeso 15 13,5 9 14,8 6 12 **0,490
Obesidade 19 17,1 12 19,7 7 14
*Valor de p na comparação das variáveis numéricas, segundo teste t de student;
** Comparação das variáveis categóricas segundo o teste do qui-quadrado;
Abreviaturas: IMC = Índice de Massa Corporal
Fonte: Autoria própria.

Os pacientes foram avaliados quanto à presença do risco nutricional


pelas três ferramentas de triagem. De acordo com a NRS-2002, 81 (73%)
pacientes estavam em risco nutricional e quando a população foi dividida
por faixa etária, 39 (63,9%) adultos apresentavam risco nutricional, entre
idosos o número foi de 42 (84%) (p=0,018). Com base na MUST, 78 (70,3%)
nham risco nutricional, entre os adultos 40 (65,5%) pacientes contra 38
(76%) idosos. A MNA-SF® foi o protocolo com maior prevalência de risco
nutricional, tanto na população geral 85 (76,6%), quanto entre adultos
(68,9%) e idosos (86%) (p=0,034). De acordo com os resultados ob dos na
Tabela 3, representando a população avaliada e comparada por faixa etária,

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

observou-se que, independente do protocolo aplicado, a população idosa


apresentou maior prevalência de risco em comparação com os adultos,
conforme esperado.

Tabela 3- Comparação do risco nutricional segundo os protocolos NRS-2002,


MUST, MAN-SF, de pacientes hospitalizados, conforme idade
Protocolos TOTAL Adultos Idoso p-value*
n % n % n %
NRS-2002
Risco 81 73 39 63,9 42 84
0,018
Sem risco 30 27 22 36,1 8 16
MUST
Risco 78 70,3 40 65,6 38 76
0,231
Sem risco 33 29,7 21 34,4 12 24
MNA-SF
Risco 85 76,6 42 68,9 43 86
0,034
Sem risco 26 23,4 19 31,1 7 14
*Comparação das variáveis categóricas segundo o teste do qui-quadrado;
Abreviaturas: NRS-2002 = Nutri onal Risk Screening; MUST = Malnutri on
Universal Screening Tool; MNA-SF = Mini Nutri on Assessment Short Form.
Fonte: Autoria própria

Na Tabela 4, os pacientes foram divididos quanto à presença de risco


nutricional pelos três protocolos e po do desfecho clínico. De acordo com
a NRS-2002, todos os pacientes classificados como “sem risco nutricional”
veram alta hospitalar, sendo esta s camente significante (p=0,0001). Sobre
as taxas de óbito hospitalar, os três protocolos apresentaram um percentual
semelhante, chegando até 44% de óbitos em pacientes classificados com
risco nutricional.
Em relação ao tempo de internação, a média de dias de permanên-
cia hospitalar foi maior nos pacientes que apresentaram risco nutricional,
com uma diferença de 15 dias entre os grupos com risco e sem risco pelo
protocolo da NRS-2002, os demais apresentaram resultados semelhantes.

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Ta ana FERREIRA; Rita de Cássia Avellaneda GUIMARÃES; Fabiane La Flor Ziegler SANCHES

Tabela 4 - Comparação do risco nutricional, desfecho clínico e tempo de


internação de pacientes de hospitalizados
Média tempo
Protocolos Total Alta Óbito p-value
de internação
n % n % n %
NRS-2002
Risco
81 73 46 57 35 43 25,07
nutricional
0,0001
S/ risco
30 27 30 100 0 0 9,73
nutricional
MNA-SF
Risco
85 76,6 51 60 34 40 22,7
nutricional
0,001
S/ risco
26 23,4 25 96 1 4 14,81
nutricional
MUST
Risco
78 70,3 44 58 34 44 24,75
nutricional
S/ risco 0,0001
33 29,7 32 97 1 3 11,87
nutricional
Abreviaturas: NRS-2002 = Nutri onal Risk Screening; MUST = Malnutri on Universal
Screening Tool; MNA-SF = Mini Nutri on Assessment Short Form; s/ = sem.
Fonte: Autoria própria.

Os resultados da correlação da NRS-2002, MNA-SF®, MUST, desfecho


clínico e dias de internação estão apresentados na Tabela 05. Verificou-se
que os três protocolos correlacionam-se fortemente (R=0,795) entre si,
apresentando pouca variabilidade entre os métodos.

Tabela 5 - Correlação entre diferentes protocolos de triagem, dias de


internação e desfecho clínico
Variáveis p-value R*
NRS-2002
xDesfecho clínico 0,0001 -0,413
xDias de internação 0,0001 -0,413
xMUST 0,001 0,795
xMAN-SF 0,0001 0,765
*R = coeficiente de correlação de Sperman’s.
Fonte: Autoria própria

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

4 DISCUSSÃO
A desnutrição ainda passa despercebida em muitos hospitais, com
consequências visíveis na qualidade de vida dos pacientes (RASLAN et al.,
2010; SCHULTZ et al., 2014). Em geral, a desnutrição grave é de simples per-
cepção no momento da admissão hospitalar, por outro lado, a desnutrição
leve ou o risco nutricional não são facilmente percep veis, tendo, por esse
mo vo, sua prevalência subes mada em muitas ocasiões (LI et al., 2016).
Na presente pesquisa, ao se avaliar o diagnós co nutricional em re-
lação à classificação do IMC, quase metade dos pacientes (44%) apresenta-
ram-se em eutrofia, não tendo diferença significa va quando os pacientes
foram divididos entre adulto e idosos (p=0,001). Esse resultado mostra-se
conflitante quando comparado à alta presença do risco nutricional encon-
trada no estudo. Embora já seja um consenso de que o IMC isolado não
define risco nutricional, Elia e Stra on (2012), em sua revisão bibliográfica,
observaram que a escolha dos pontos de corte de IMC nos protocolos de
triagem diverge entre eles e que isso pode ter uma grande influência sobre
sua aplicabilidade, tornando os resultados conflitantes.
Em um estudo mul cêntrico na Grécia sobre aplicação de protocolos
de triagem, os autores destacam que, antes de ins tuir um protocolo de
triagem, deve-se analisar a confiabilidade do método u lizado (POULIA et
al., 2017). Além disso, a aplicação de uma ferramenta não deve ser vista
pela equipe de maneira simplista, pois a precisão do método depende da
capacidade do observador em detectar as alterações nutricionais significa-
vas através da avaliação subje va (ALLARD et al., 2016).
O resultado do presente estudo revelou que a taxa de risco nutricio-
nal na admissão foi elevada de acordo com as três ferramentas u lizadas,
a ngindo percentuais de risco acima do visto em outros estudos publi-
cados internacionalmente (ELIA; STRATTON, 2012; ALLARD et al., 2016;
KOREN-HAKIM et al., 2016; LI et al., 2016). Entretanto encontrar diferenças
na prevalência de risco nutricional entre um hospital público brasileiro e
hospitais europeus parece esperado, considerando-se que as condições
socioeconômicas da população estão relacionadas ao risco nutricional na
internação. Esse fato também pode ser atribuído ao po de metodologia
realizada neste trabalho, em que os pacientes foram divididos em duas ca-

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Ta ana FERREIRA; Rita de Cássia Avellaneda GUIMARÃES; Fabiane La Flor Ziegler SANCHES

tegoriais, com risco e sem risco nutricional. Esse po de método também


foi u lizado por Raslan et al. (2010), que jus ficam essa padronização para
facilitar a análise dos resultados e para permi r a comparação entre as
outras ferramentas aplicadas.
Em um estudo semelhante, aplicando as mesmas ferramentas u li-
zadas no presente trabalho, com 215 idosos com fratura de quadril, Koren-
Hakim et al. (2016) u lizaram, em sua metodologia, a classificação original
das ferramentas, classificando os pacientes em até três grupos (eutrofia,
risco nutricional e desnutrição). Eles observaram que, de acordo com o
MNA-SF®, 44,2% pacientes estavam em risco de desnutrição, e 11,6% eram
desnutridos. Com base na MUST, 14,4% estavam em risco médio, e 6% de
alto risco. De acordo com o NRS-2002, 32,5% pacientes estavam em risco
médio, e 5,1% eram de alto risco.
Neste estudo, a MNA-SF® foi a ferramenta com maior percentual
de risco nutricional (76,6%) em relação aos outros protocolos aplicados,
resultado semelhante ao encontrado por outros estudos (RASLAN et al.,
2010; KOREN-HAKIM et al., 2016). Os trabalhos ressaltam que, embora o
maior número de pacientes em risco nutricional seja encontrado usando
MNA-SF®, essa ferramenta teve o mesmo desempenho que NRS-2002, em
previsão de resultados clínicos desfavoráveis, indicando que a MNA-SF®
pode superes mar o risco nutricional em relação à NRS-2002 ou MUST.
Os autores dos estudos supracitados sugeriram que a MNA-SF® deve ser
u lizada para triagem de desnutrição e não de risco, e apenas em idosos no
ambiente da comunidade ou ins tucionalizados, uma vez que foi validado
nesse cenário.
Dados divergentes são encontrados por Donini et al. (2016) que, na
Itália, concluíram que a MNA-SF® é mais predi va a desfechos clínicos, uma
vez que é aparentemente mais adaptada para os idosos, pois inclui função
cogni va, status funcional e também uma ampla gama de classificações
nutricionais. Cabe ressaltar que o estudo u lizou idosos ins tucionalizados,
e esse fato pode contribuir para conclusões diferentes sobre a aplicabilidade
das ferramentas.
A MNA-SF® foi originalmente desenvolvida para uso em idosos, as
elevadas taxas de risco nutricional indicados por essa ferramenta potencial-

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

mente poderiam ser devidas ao seu sistema de pontuação, que é basea-


do em seis perguntas, cujas respostas são classificadas como 0, 1, 2 ou 3
pontos. O risco nutricional é indicado quando a soma total é menor que 11
pontos; portanto o paciente é considerado sem risco nutricional quando a
pontuação final é maior ou igual a 12 pontos. Para chegar a uma pontuação
de 12, cinco respostas devem ser favoráveis em termos de condição nutricio-
nal do paciente. Além disso, a MNA-SF® foi concebida para prever a nutrição
inadequada. Ao contrário da MUST e NRS 2002, a MNA-SF® não considera
o efeito da doença aguda. Assim, acredita-se que a MNA-SF superes ma a
contribuição de fatores psicológicos e mudanças no peso corporal com o
estado nutricional (KOREN-HAKIM et al., 2016).
Em relação à MUST e NRS-2002, um estudo mul cêntrico com 1146
pacientes adultos e idosos encontrou taxas de risco nutricional de 14,9 e
27,9%, respec vamente. Nesse estudo, os autores sugerem que as duas
ferramentas têm boa aplicabilidade e confiabilidade, mas a MUST foi a
que melhor se correlacionou com os novos critérios da European Society
for Parenteral and Enteral Nutri on (ESPEN) para a desnutrição, levando à
conclusão de que ela pode iden ficar, de forma mais eficiente, os pacientes
desnutridos durante o processo de triagem (ALLARD et al., 2016).
Dentre os protocolos u lizados nesse estudo, pode-se destacar que
a MNA-SF® e a MUST, não se aprofundam no mo vo da internação hospi-
talar, bem como na doença apresentada, tratamento clínico ou cirúrgico.
Raslan et al. (2011) destacam que, idealmente, as ferramentas para rastrear
mudanças no estado nutricional devem inves gar modificações na ingestão
de alimentos e estresse metabólico da doença, a fim de detectar alterações
do estado nutricional agudas e que o estresse metabólico da doença é um
fator importante a ser considerado.
Diferentemente, a NRS-2002 considera a gravidade das doenças,
além de perguntas que indicam uma mudança mais recente ou aguda no
estado nutricional, como porcentagem da perda de peso nos úl mos três
meses e idade maior ou igual a 70 anos. Esse método foi desenvolvido com
base no pressuposto de que as indicações para terapia nutricional devem
incluir fatores relacionados à gravidade da desnutrição e ao aumento das
necessidades nutricionais resultantes da doença instalada (KONDRUP et al.,

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Ta ana FERREIRA; Rita de Cássia Avellaneda GUIMARÃES; Fabiane La Flor Ziegler SANCHES

2003). O conceito de se relacionar o estado nutricional com a gravidade da


doença é bem reconhecido, e observa-se a necessidade de se prevenir ou
melhorar o comprome mento do estado nutricional durante o curso clínico
da doença (ALLARD et al., 2016).
Em relação à faixa etária, neste estudo a idade foi um fator que in-
fluenciou no desfecho clínico dos pacientes, independente do protocolo
u lizado. Os idosos são par cularmente vulneráveis às consequências ad-
versas da desnutrição, além disso, a idade é considerada um fator de risco
não modificável (RASLAN et al., 2011). Uma revisão sistemá ca recente,
que analisou a validade predi va de ferramentas de rastreamento nutri-
cional em adultos e idosos, aponta que a idade por si só pode predizer a
mortalidade e o tempo de permanência hospitalar mais eficazmente do que
as próprias ferramentas de triagem (DE VAN DER SCHUEREN et al., 2014).
Sobre o período de internação, sabe-se que reduzir o tempo é uma
prioridade para hospitais e sistemas de saúde devido a aumentos significa-
vos nos custos. A duração da internação pode ser nega vamente afetada
pela desnutrição ou por um declínio do estado nutricional (GOMES; EMERY;
WEEKES, 2016). Neste estudo, os pacientes classificados em risco veram
uma média de tempo de internação maior do que os pacientes classificados
sem risco nutricional. De acordo com a NRS-2002, a média de internação
dos pacientes sem risco foi de 9,7 dias contra 25 dias dos pacientes em
risco nutricional, ou seja, uma diferença de 15,3 dias a mais de internação.
Em relação à MUST, o tempo de internação dos pacientes em risco foi de
24,7 dias contra 11,8 dias do grupo sem risco. A média dos dias de inter-
nação dos pacientes com e sem risco pela MNA-SF foi de 22,7 e 14,8 dias,
respec vamente.
Sabe-se que existem vários fatores não nutricionais que também
podem influenciar no tempo de internação como gravidade da doença,
comorbidade, idade, sexo, étnica e classe social (DE VAN DER SCHUEREN
et al., 2014). Entretanto a desnutrição parece ser um fator de risco em
destaque quando comparado a outros fatores. Lim et al. (2012) em pes-
quisa realizada em Cingapura, considerando os fatores não nutricionais
demonstraram que a desnutrição é um fator de risco independente para o
maior tempo de internação. Um estudo de coorte mul cêntrico coordenado

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

por Allard et al. (2016) observou que a perda de peso maior ou igual a 5%,
foi associada com longa permanência hospitalar, independentemente de
fatores não nutricionais.
A longa permanência hospitalar, por conseguinte acarreta aumento
do custo da hospitalização. Não obstante o seu impacto sobre a saúde, o
impacto econômico da desnutrição hospitalar tem sido pouco estudado.
Na Europa, es ma-se que 20 milhões de pacientes estão em risco de des-
nutrição, com um custo anual de até 120 milhões de Euros (FREIJER et al.,
2013). Em uma revisão bibliográfica que avaliou o impacto da desnutrição
hospitalar nos custos e tempo de internação, os autores indicam que a des-
nutrição carrega um fardo econômico considerável, com um custo adicional
que varia entre 1640 e 5829 Euros por paciente internado (KHALATBARI-
SOLTANI; MARQUES-VIDAL, 2015).
No Brasil, sob nosso conhecimento não foram encontrados dados rela-
cionando os custos hospitalares da desnutrição. Em um estudo na Noruega
que analisou o risco nutricional e tempo de internação de 3279 pacientes,
observou-se que o custo hospitalar foi 60% maior para os pacientes em
risco em comparação com pacientes sem risco (TANGVIK et al., 2014). Em
um período em que a contenção dos custos de saúde é uma necessidade,
uma melhor iden ficação dos fatores associados com o aumento dos custos
de hospitalização é fundamental para o mizar o fornecimento de cuidados
de saúde (GOMES; EMERY; WEEKES, 2016).
Os resultados desse trabalho reforçam os resultados de estudos que
sugerem que piores desfechos clínicos são mais frequentes em pacientes
com algum comprome mento do estado nutricional (ALLARD et al., 2016;
POULIA et al., 2017). No presente estudo, 43% dos pacientes que foram a
óbito apresentavam risco nutricional pela NRS-2002. Esses resultados são
similares ao de Jansen et al. (2013) e Tangvik et al. (2014). No primeiro es-
tudo, 87,9% dos pacientes que foram a óbito ou transferidos para a Unidade
de Cuidados Palia vos apresentavam risco nutricional. No segundo, foi
observada uma taxa de 37% de mortalidade entre os pacientes em risco
nutricional em comparação com 11% entre os que não apresentaram risco.
O aumento do risco de pior desfecho clínico também foi mostrado
por Lim et al. (2012) em estudo mul cêntrico, em que a desnutrição foi as-

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Ta ana FERREIRA; Rita de Cássia Avellaneda GUIMARÃES; Fabiane La Flor Ziegler SANCHES

sociada com longa internação (6,9 contra 4,6 dias) e um risco 4 vezes maior
de morte em 1 ano. Em pesquisa conduzida em hospital público brasileiro,
Raslan et al. (2011) apuraram, em pacientes em risco nutricional, segundo
NRS 2002, risco rela vo para mortalidade de 3,9 (1,2 a 13,1).
Os resultados do presente estudo salientam a importância de se
reduzir o impacto nega vo da desnutrição hospitalar. Tal situação só pode
ser alcançada se os indivíduos em risco nutricional são prontamente iden-
ficados e que, após esse processo, as intervenções nutricionais devem ser
oportunas e efe vas (SCHULTZ et al., 2014; DONINI et al., 2016).
Entretanto a intervenção nutricional em pacientes com risco nem
sempre evita a piora do estado nutricional. Os mecanismos envolvidos para
responder essa questão sobre a eficácia da intervenção nutricional devem
ser mais estudados, de fato existe uma discrepância entre a prescrição nu-
tricional e a oferta/ingestão do paciente (SCHULTZ et al., 2014).
Contrariamente às expecta vas, a maioria dos estudos revistos não
relatam qualquer intervenção nutricional, por razões é cas é provável que
os pacientes iden ficados em risco devam ter recebido apoio nutricional,
mesmo não sendo relatados pelos autores quais foram os mecanismos
realizados e se houve sua recuperação ou mesmo manutenção do seu
estado nutricional (RASLAN et al., 2010; KOREN-HAKIM et al., 2016; LIM et
al., 2012; POULIA et al., 2017).
Em um ensaio clínico randomizado realizado na Austrália, os resultados
sugerem que o envolvimento da equipe mul profissional pode ser o cami-
nho para uma intervenção nutricional eficiente e ressaltam a importância
da equipe mul profissional nesse processo (SCHULTZ et al., 2014).
Ao contrário de alguns estudos, os resultados do presente trabalho
demonstraram uma forte correlação entre os resultados de risco nutricional
dos três protocolos aplicados. Porém, as diferenças metodológicas impe-
dem comparações mais minuciosas. Há uma variedade de estudos à nossa
disposição, aplicando todos os pos de ferramentas em todos os pos de
populações, com diferentes resultados (DE VAN DER SCHUEREN et al, 2014).
No geral a NRS-2002 parece ser o método mais preferido na literatura e
preconizado pela ESPEN (2003), sendo u lizada em toda a Europa como
ferramenta padrão (KONDRUP et al., 2003).

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Risco nutricional em pacientes hospitalizados: comparação de três protocolos de triagem
nutricional

5 CONCLUSÃO
Nesta pesquisa ficou clara a importância da triagem nutricional em
pacientes hospitalizados, pois houve uma prevalência acima de 70% em
risco nutricional de acordo com os três protocolos u lizados.
Ressalta-se que todas as ferramentas de triagem foram consideradas
adequadas para avaliar o risco nutricional em pacientes hospitalizados, pois
elas apresentaram boa correlação entre si. Independente do protocolo u -
lizado, foi possível observar que os pacientes em risco veram uma longa
permanência hospitalar e pior desfecho clínico em relação aos indivíduos
sem risco.
Diante do exposto, são necessários mais estudos nacionais para o
mapeamento da atual situação do risco nutricional e o seu impacto na
evolução do paciente, durante a sua estadia no ambiente hospitalar, e seu
reflexo no desfecho clínico e financeiro das ins tuições e do próprio sistema
de saúde brasileiro.

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