Inclusão Escolar de Autistas
Inclusão Escolar de Autistas
contexto escolar
JOÃO PESSOA
2012
1
contexto escolar
JOÃO PESSOA
2012
2
escolar
Banca Examinadora
_________________________________________________
(Orientadora)
_________________________________________________
(Membro interno)
_________________________________________________
(Membro externo)
3
deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus cujo amor infinito me encoraja e enche sempre de esperanças. Agradeço a Ele
Aos meus pais, Rosangela e Marcio, pelo amor e incentivo dedicados em toda minha
Aos meus filhos, Mel e João Pedro, pela aparente compreensão do tempo de convívio
Ao meu esposo Bruno que, com seu amor, dedicação e compreensão, me tranquilizou
com a divisão das atribuições domésticas e das inúmeras madrugadas em claro com os nossos
filhos, além do marcante apoio ao trabalho que realizo com crianças autistas desde os tempos
de faculdade.
À família do meu esposo que me acolheu como uma verdadeira filha, em especial Dr.
Nelson e Tatjana, os quais dispensaram cuidados aos meus filhos em todas as ocasiões que
Aos meus irmãos Tárcyla e Marcio Filho e aos amigos e demais familiares pelo apoio
no decorrer deste curso. Em especial a minha avó Lourdes e minha tia Rejane, mulheres
A Lucilene, Maria e Euda por me ajudarem sempre e cuidarem com tanto amor dos
meus filhos.
face da dedicação ao presente trabalho, bem como aos novos amigos que entraram em minha
vida sem pedir licença, invadindo minhas horas de estudo permitindo que eu desfrutasse de
À Prof. Dra. Nádia Salomão, minha orientadora, pela confiança e pelas horas de
Também à professora Dra. Penha Coutinho, pela maneira carinhosa com que recebeu
meu convite para ser leitora deste trabalho e pelas contribuições importantíssimas dadas ao
mesmo.
À professora Fabíola Braz Aquino pelas valiosas orientações ao longo de minha vida
ética e competência. Pelo incentivo à realização do mestrado, sem ela nada disso seria
possível.
6
pesquisadores.
como também pelos livros e materiais disponibilizados gentilmente para que eu aprimorasse
meus conhecimentos.
maneiras, em especial a Professora Dra. Eunice Simões que através de valiosas palavras, sem
A Clara Calixto pelas inúmeras supervisões a qualquer hora do dia ou da noite, pela
respeito.
orientações para o trabalho com as crianças autistas. Mas, principalmente, pela referência de
humildade, sabedoria, paciência e meiguice que a tornam tão especial quanto o trabalho que
realiza.
7
Às crianças autistas por serem responsáveis pela minha revisão de valores e de postura
práticas.
Às famílias das crianças autistas que estão sob meus cuidados terapêuticos, por me
confiarem uma das coisas mais importantes de suas vidas, seus filhos. E, sobretudo, por
Karla, Cibele, Janaína, Carol, Ana Flávia, Déborah, Fátima, Ellis e Zoraide, que me
redimensionar determinados conceitos, muitos dos quais foram fundamentais para inserção e
A Luana Veloso, minha amiga e sócia, e Ives, seu esposo, por assumirem as
RESUMO
O espectro autista envolve desvios no desenvolvimento desde os primeiros anos de vida nas
áreas de interação social, comunicação e imaginação. Inúmeras pesquisas são realizadas e
muitos aspectos permanecem inconcludentes, sobretudo em relação à etiologia, possibilidades
terapêuticas e inserção em escolas regulares. Considerando a importância da interação social
no desenvolvimento infantil e a influência das concepções dos pais e profissionais na prática
inclusiva, o presente estudo tem como objetivo analisar as interações sociais entre as crianças
com espectro autista e as demais crianças, nos contextos de escolas regulares da cidade de
João Pessoa – PB, considerando a mediação das professoras, suas concepções e as dos pais
acerca da criança e do seu processo de inclusão escolar. Participaram deste estudo 42 crianças
e 4 professoras de duas escolas regulares particulares, como também 4 crianças com
diagnóstico de espectro autista, entre 3 e 5 anos de idade, de classe socioeconômica média e
seus respectivos pais. Para a coleta dos dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas
registradas através de um minigravador. Também, foram realizadas duas filmagens em cada
turma contemplando 20 minutos em cada uma das situações de pátio e sala de aula, dos quais
foram transcritos e analisados 10 minutos. Com o objetivo de caracterizar as crianças deste
estudo foi utilizada a escala de avaliação CARS. Em relação à análise dos dados, as
entrevistas foram transcritas e analisadas a partir da técnica de análise de conteúdo. As
filmagens foram transcritas e analisadas a partir de categorias comportamentais das
professoras e das crianças autistas descritas em termos qualitativos, a partir de estudos de
caso, e quantitativos, a partir das frequencias. Os resultados demonstram que os pais estão
satisfeitos com a inclusão escolar realizada com seus filhos. Estes pais partem de
características positivas ao referirem-se aos seus filhos, embora identifiquem as dificuldades
inerentes ao autismo. Quanto às professoras observou-se que estão reformulando suas
concepções partindo das possibilidades dessas crianças e entendendo a inclusão como uma
prática que vai além da inserção na escola. Sobre os comportamentos das mesmas tanto em
sala de aula quanto no pátio houve uma maior frequência no uso de diretivos e apoio físico.
No que se refere à criança autista foram observadas maiores frequências de comportamentos
de olhar pessoas, iniciativa dirigida à ação, resposta adequada e sorriso revelando a
participação da criança autista em termos interacionais. Tendo em vista que os
comportamentos dessas crianças podem ser influenciados considerando os contextos
interativos, a mediação do adulto e, sobretudo, as particularidades de cada criança pretende-se
com este estudo subsidiar orientações a pais e profissionais principalmente no que se refere à
inclusão escolar de crianças autistas.
ABSTRACT
The autism spectrum involves deviations in development since the early years of life in areas
of social interaction, communication and imagination. Numerous researches are performed
and many aspects remain inconclusive, especially regarding to the etiology, treatment
possibilities and integration in regular schools. Considering the importance of social
interaction in children's development and the influence of parent´s and professionals concepts
about inclusive practices, the present study aims to analyze the social interactions between
children with autism and other children in the context of regular schools in João Pessoa,
Brazil, considering the mediation of teachers, parents and their conceptions about the child
and school inclusion. A group of 42 children and four teachers from two regular private
schools, as well as four children diagnosed with autism spectrum between 3 and 5 years of
age and their parents. To collect the data, semi-structured interviews recorded, through a mini
tape recorder, were used. Also, two videotapes of 20 minutes were made at each of the
situations of courtyard and classrooms, of which 10 minutes were transcribed and analyzed.
With the objective to characterize the children in this study we used the CARS rating scale.
Regarding data analysis, interviews were transcribed and analyzed using the technique of
content analysis. The recordings were transcribed and analyzed using behavioral categories of
teachers and children with autism described in qualitative terms, from case studies, and
quantitative, from the frequencies. The results show that parents are satisfied with the
educational inclusion held with their children. These parents point positive characteristics of
their children, while identifying the difficulties inherent in autism. As for the teachers
observed those are reformulating their conceptions of the possibilities of these children and
understand inclusion as a practice that goes beyond the inclusion in school. In relation to the
behaviors in both the classroom and in the courtyard there was a higher frequency in the use
of directives and physical support. With regard to the autistic child there was a greater
frequency of behaviors to look at people, led initiative to action, appropriate response and
smile revealing the participation of autistic children in interactional terms. Considering that
the behaviors of these children can be influenced by the interactive contexts, the mediation of
adult and, especially, the particularities of each child this study aims to support guidelines for
parents and professionals mainly regarding the inclusion of autistic children in regular
schools.
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados das crianças com espectro autista participantes do estudo ____________ 85
Tabela 5 – Categorias comportamentais das crianças com espectro autista ____________ 110
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 17
IMPLICAÇÕES __________________________________________________________ 24
4 MÉTODO _____________________________________________________________ 85
PARTICIPANTES ___________________________________________________ 85
INSTRUMENTOS ___________________________________________________ 86
PROCEDIMENTO ___________________________________________________ 88
5 RESULTADOS _________________________________________________________ 91
ANEXOS
ESPECTRO AUTISTA
Desde a primeira descrição feita por Kanner em 1943, inúmeras pesquisas sobre o
autismo nas mais diferentes áreas do conhecimento foram realizadas. Contudo, muitos
Em meio aos diferentes estudos, muitas perspectivas são adotadas, cada uma com sua
caracterizado por prejuízos biológicos primários acarretando déficits nas interações sociais
Sobre a inclusão escolar dessas crianças, embora haja vasta literatura, alguns autores
(Bosa, 2002; Lago, 2007; Höher Camargo, 2009) apontam que a ênfase dada aos prejuízos e
historicamente estas características têm sido utilizadas como justificativa para a não inserção
escolar destas crianças. Por outro lado, em concordância com autores (Bosa & Baptista, 2002;
Lira, 2004; Sereno, 2006; Lago, 2007; Orrú, 2007; Höher Camargo, 2009; Fiaes & Bichara,
2009) parte-se da ideia de que, embora seja uma prática difícil, é também realizável e
realizadas na área de autismo, que se utilizam de grupos comparativos entre crianças com
diagnóstico de autismo e grupo controle, ou seja, crianças com outros diagnósticos ou mesmo
crianças com desenvolvimento típico. Nestes estudos geralmente são consideradas as crianças
com autismo com o dobro da idade das crianças com desenvolvimento típico (Napoli & Bosa,
2005). A este respeito diferentes autores (Silva, 2010; Höher Camargo, 2009; Sanini, Ferreira,
Souza & Bosa, 2008) afirmam que tais procedimentos parecem enfatizar os limites
apresentados pelas crianças autistas, ao invés de explorar suas possibilidades. De acordo com
Hobson (2004) não há melhor maneira de começar a entender as pessoas, seja "normal" ou
com deficiência, seja adulto ou criança, do que observar e analisar alguns indivíduos muito de
perto.
apenas pela contribuição em termos metodológicos, mas principalmente pela relevância social
haja vista a importância da interação social para o desenvolvimento humano e para o processo
interação entre as crianças e as professoras nestes contextos interativos? Será que crianças
com autismo nos contextos escolares têm demonstrado comportamentos de interação social
que, muitas vezes, não são percebidos como tal pelos seus colegas e professores? Quais os
podem exercer nas diferentes pessoas do espectro autista, este trabalho se propõe a analisar as
interações sociais entre as crianças com espectro autista e as demais crianças nos contextos de
escolar.
19
refere-se à Interação social nele encontra-se uma revisão na literatura acerca dos estudos
realizados na área, assim como das definições necessárias a compreensão deste trabalho, na
capítulo trata sobre o Espectro autista e contempla subcaptítulos que versam sobre histórico,
resultados da pesquisa à luz das teorias e estudos citados ao longo do trabalho. A descrição
dos resultados é realizada a partir da sequência da coleta e análise dos dados, considerando a
importância de estudar as interações não apenas a partir frequências, mas também aspectos
análise qualitativa. Posto isso, é realizada uma discussão geral dos resultados articulando, em
literatura.
Neste capítulo são abordados, a partir de uma revisão na literatura, estudos realizados
sujeito como um ser ativo em suas interações sociais desde a mais tenra idade, inserido em um
espécie humana.
concorda-se com o referido autor ao defender o papel que a interação social pode
Camargo (2007) afirma que parece haver um consenso entre eles “no sentido de que o sucesso
(p. 15). Autores como Garton (1992), Seidl de Moura (2009) e Salomão (2010) afirmam que
Nessa direção, Piccinini, Seidl de Moura, Ribas, Bosa, Oliveira, Pinto, Schermann e
Chahon (2001) evidenciam que embora a definição de interação social não seja consensual, há
coconstrução e da bidirecionalidade.
e linguagem quanto pela atenção dedicada ao estudo de pessoas com necessidades especiais,
nesta área são abordadas no capítulo que trata de maneira mais específica a inclusão escolar.
Em sua teoria, Vygotsky (2007) concebe que homens e animais são constituídos por
superiores, formadas por meio das relações sociais e experiências historicamente acumuladas
(2007), a partir das interações que estabelece com o meio social no qual está inserido.
Os estudos realizados por Vygotsky (2000) têm como objetivo principal a análise da
gênese e das relações entre pensamento e linguagem, considerando que a transmissão racional
aborda a função social da fala aparente durante o primeiro ano de vida na fase pré-linguística
estruturas da fala dominadas pela criança tornam-se estruturas básicas de seu pensamento,
referido autor pensamento e linguagem são parte de um amplo espectro de habilidades que
organização cultural humana, tendo em vista que cada ser possui uma capacidade
tempo e neste curso o autor salienta que a principal aquisição se dá aos 9 meses de idade com
a compreensão dos outros como seres intencionais, ocasião também em que emergem os
comportamentos de atenção conjunta, cujas relações com entidades externas podem ser
Tomasello (2003), em seu livro, argumenta que não haveria tempo, do ponto de vista
evolutivo, para que os processos normais de evolução biológica envolvendo seleção natural e
variação genética criassem todas as habilidades cognitivas humanas, isto se daria pela
transmissão social e cultural, que funcionaria em escalas de tempo de magnitudes bem mais
Dito de outra forma, por meio das interações sociais ocorrem diferentes aprendizagens
das quais a espécie humana se apropria devido à cognição social, esta que refere-se à
com vidas mentais e intencionais iguais às dele” (Tomasello, 2003, p. 7). Assim, os
indivíduos aprendem não apenas do outro, mas através do outro, isto é exemplificado pelo uso
Fazendo um recorte no que foi abordado acima por Tomasello (2003) evidenciam-se,
dos aspectos sociais, linguísticos e cognitivos, assim como, de acordo com linha de pesquisa,
mais especificamente em relação à temática deste trabalho, tendo implicações não apenas para
presente trabalho, defende que os problemas de interação social decorrem de uma falha muito
2007). Desse modo, a referida autora menciona que esta perspectiva traz uma forma de
Ainda sob uma perspectiva desenvolvimentista, Hobson (2004) afirma que o contato
humano é vital para o desenvolvimento do pensamento, este que se dá não apenas no contexto
das interações pessoais, mas sim através delas. Conforme o referido autor, na relação
estabelecida entre o cuidador e o bebê, o que acontece quando eles agem e sentem em
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conjunto consiste em uma força motriz para o desenvolvimento, de modo que, quando
relações. Outras crianças autistas podem demonstrar interesse, mas falham na compreensão de
dificuldades na reciprocidade social e emocional (Gómez, Torres & Ares, 2009; Nogueira,
2009).
Nesse sentido, são abordadas pesquisas na área que evidenciam não apenas as
dificuldades das crianças autistas nessas capacidades, mas também pesquisas que revelam
IMPLICAÇÕES
seu caminho habitual. Nesse processo, o referido autor lança questionamentos no seguinte
sentido: como pensam indivíduos que enfrentaram sérias dificuldades emocionais ou sociais
Nesse sentido, o subcapítulo que ora se inicia discorre a respeito das implicações que
estabelecidas com pessoas com autismo, mais especificamente no que se refere aos
Concorda-se com autores como Seidl de Moura (2009) e Salomão (2010) que
com Menezes e Perissinoto (2008) esta habilidade aparece no desenvolvimento típico de uma
comunicativo com a intenção de dividir uma situação. Mais uma vez, destaca-se a importância
do adulto, que aproveitará as pistas da criança para introduzir referências sobre o mundo,
atenção.
Vários autores (Bosa, 2002b; Tomasello, 2003; Bosa & Souza, 2007; Lampreia, 2009)
triádica em que os bebês começam a olhar para onde os adultos estão olhando, a se envolver
com eles em sessões mais longas de interação mediada por um objeto, a agir sobre os objetos
de maneira como os adultos estão agindo sobre eles, a apontar para um objeto ou segurá-lo
para mostrar a alguém. Antes disso, durante a fase diádica, os bebês interagem diadicamente
Estudos atuais (Bosa & Souza, 2007) destacam que a noção de que crianças com
autismo apresentam dificuldades para fixar o olhar da mãe nos primeiros meses de vida tem
sido desafiada. A exemplo disto cita-se Nogueira e Seidl de Moura (2007) em seu estudo
Outro aspecto importante refere-se à maneira como as mães se comunicam com seus
demonstraram que as mães que usavam a língua na tentativa de acompanhar a atenção dos
seus filhos tinham filhos com vocabulários mais amplos em relação àquelas que usavam a
que a partir das situações de interação propostas, foi possível verificar que estes sujeitos
compartilhada, tendo em vista que, apesar de esta habilidade estar severamente comprometida
e servir como marcador precoce nos sujeitos do espectro autista, ela não está totalmente
ausente.
A pesquisa realizada por Toth, Munson, Meltzoff e Dawson (2006) avaliou sessenta
compartilhada, imitação e brincar com objeto, tendo como objetivo investigar a contribuição
linguagem na idade de 3-4 anos, enquanto brincar com objeto e imitação diferida foram os
5 meses.
elaboração de metas específicas para programas de intervenção precoce, uma vez que as
histórica como embasamento teórico para uma pesquisa acerca da interação social em sujeitos
com autismo, afirmam que a interação social é uma relação complexa construída a partir dos
sujeitos e de todo contexto sociocultural a que pertencem. Nesse processo, evidencia-se o uso
sujeitos durante a interação e pelas significações atribuídas a todos esses elementos pelos
autoras discutem acerca das interações sociais estabelecidas pelos sujeitos autistas a partir de
categorias estudadas por Wing (1998), quais sejam: isolamento social, interação passiva,
interação ativa porém estranha e interação hiperformal. Sobre a interação passiva, as autoras
mencionam um sujeito de pesquisa, que ao longo da sessão, embora não tenha participado da
sessão de bate-papo, ficou lendo as mensagens postadas pelos colegas, agindo como se não
soubesse se inserir na conversa e, quando o fazia, deslocava com relação ao assunto discutido
pelos demais. Outro resultado interessante diz respeito aos indícios observados de que a
ecolalia dos sujeitos com espectro autista, embora “estranha”, pode ser uma tentativa de
na área da sociopragmática, Salomão (2010) destaca que a relevância dos aspectos sociais da
uma vez que, sensível às necessidades conversacionais da criança, é capaz de adequar suas
Nesta mesma linha de pesquisa são estudados aspectos facilitadores da fala dirigida à
criança, os estilos de fala materna (diretivos, informações e feedbacks, por exemplo), os quais
podem expressar uma ampla variedade de intenções comunicativas e funções nas trocas
linguísticas. Estes estilos linguísticos foram estudados por diferentes autores, sendo
criança.
da linguagem ao afirmar que a criança forma meios de se comunicar desde o início e tem a
intenção de envolver a outra pessoa. Assim, a mãe e o bebê são mutuamente envolvidos em
uma atividade e ambos nesse intercâmbio, modificam as suas ações de acordo com o feedback
que recebem dos seus parceiros. Conforme o autor mencionado, as crianças têm a capacidade
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atípicas (Síndrome de Down, autismo, deficiência visual, auditiva e mental, por exemplo).
Elucidando esta questão Gallaway e Woll (1994) e Conti-Ramsden (1994), citados por Borges
e Salomão (2003), ressaltam que crianças com Síndrome de Down e com distúrbios
específicos de linguagem são menos ativas e menos comunicadoras espontâneas o que leva os
Diversos autores (Piccinini, 2001; Braz & Salomão, 2002; Borges & Salomão, 2003)
afirmam que o uso de diretivos tem sido alvo de debates e investigações quanto a sua função
Salomão (2002) consideram a realização de estudos que verificaram uma relação negativa
entre as formas de diretividade materna e algumas medidas no avanço linguístico infantil. Não
obstante, as autoras mencionam estudos que observaram que a fala diretiva pode ser benéfica
através dos quais os enunciados diretivos surgem durante as interações podem variar em
função das características individuais da criança, tais como seu nível de desenvolvimento
realizado por Sanini et al. (2008) destaca que, apesar dos déficits em quase todos os aspectos
contestando a crença inicial de que não desenvolviam apego diferencial aos seus cuidadores.
mais com a mãe do que com um estranho e seus comportamentos caracterizaram-se muito
De acordo com os autores a implicação destes estudos para intervenções com pais se
que de forma não convencional, não se equacionam à ausência deste comportamento. Outro
aspecto importante ressaltado pelos autores refere-se ao fato de que estes resultados só se
estudo, quais sejam: preenchimento dos critérios diagnósticos nos três domínios (social,
programas de intervenção, interessa citar o estudo realizado por Colombi, Liebal, Tomasello,
Young, Warneken e Rogers (2009) cujo objetivo foi analisar a contribuição das habilidades
sobre as ações em objetos para a capacidade de cooperar com outros em crianças com
autismo. Sua relevância é admitida na medida em que não há evidências de estudos anteriores
autismo. Os resultados do estudo ora mencionado indicam que as crianças com esta condição
apresentaram pior desempenho na imitação e nas medidas de atenção conjunta, mas não na
tarefa intencionalidade. Também foi observado que estas áreas parecem contribuir de forma
Outro resultado original da pesquisa realizada por Colombi el al. (2009) refere-se à
social no autismo, uma vez que são consideradas competências que emergem no início do
desenvolvimento humano.
tratamentos mais eficazes, cujas habilidades sociais específicas podem ser melhoradas, tendo
em vista que os resultados demonstram uma capacidade parcial de realização social por parte
específico para seus pontos fortes e fracos, de maneira que, não é que eles estejam atrasados
ou deficientes em todas as tarefas e nos desafios diários que necessitam de inteligência, mas
apenas em alguns deles. Segundo o autor, o autismo refere-se a uma contraposição do que as
experiências sociais contribuem para a vida intelectual. Assim, o que a pessoa com autismo
Dentre os estudos sobre contato face a face, cita-se uma pesquisa realizada por Orsati,
Mecca, Schwartzman e Macedo (2009) que teve como objetivo comparar crianças com
percepção de faces humanas por meio da análise do rastreamento visual. Entretanto, de acordo
com os autores os resultados não corroboram os dados da literatura que descrevem que
participantes com TID evitam a região do olhar, ou preferem faces invertidas. Os achados
exploração de faces diferente dos participantes com desenvolvimento normal, tal diferença se
caracteriza por apresentarem menos tempo de fixação nas faces, acarretando a obtenção de
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dos olhos, quando estes estão ausentes, indicando dificuldade na percepção global de faces
estímulos sociais não eficaz pode gerar dificuldade na compreensão de situações sociais o
que, por consequência, pode gerar comportamentos socialmente inadequados. Além disso,
hipotetiza-se que crianças e jovens com TID despendem menos tempo do que seus pares na
exploração de rostos humanos não obtendo informações necessárias para uma boa
fazem propositadamente, assim como o significado que elas atribuem aquilo que fazem e o
fato de estarem conscientes do que fazem. Nesse sentido, os autores destacam que as crianças
podem não dizer esses significados, cabendo ao adulto, portanto, inferir a intencionalidade
dessas ações.
em crianças com autismo, os autores supracitados encontraram que estas mães avaliavam os
comportamentos estereotipados iniciais como sendo intencional (Sperry & Symons, 2003).
se à criança compartilhando seu foco de atenção. De acordo com Bosa (2002b) existe
for possível perceber o outro como um agente intencional. Este último se caracterizaria por:
possuir metas; agir ativamente para atingi-las; é capaz de compreender as metas das ações do
importante papel é o autorreconhecimento que, segundo Napoli e Bosa (2005), diz respeito à
imagem que o indivíduo tem de si que ocorre em torno dos 9 meses quando a criança começa
a demonstrar sinais de que se reconhece e inicia esse processo através dos toques no próprio
corpo enquanto olha sua imagem refletida no espelho, por exemplo. Os autores mencionados
Os resultados desse estudo demonstraram que, no grupo com autismo, apenas 50% das
estereotipias. Outro dado interessante discutido pelos autores foi o fato de que algumas
materno, uma vez que as crianças que se reconheceram no espelho apresentaram um número
maior de episódios de atenção compartilhada. Nessa direção, os autores afirmam que tanto as
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mães das crianças com desenvolvimento típico quanto as das crianças autistas tentaram
compartilhar com a criança os objetos e eventos ao redor, muito embora as segundas fossem
menos correspondidas dificultando tanto o estabelecimento das trocas na interação quanto sua
manutenção. A esse respeito, Bosa (2001) diz que é comum o retraimento da interação; este se
das interações sociais, destaca-se que as interações sociais em crianças atípicas precisa ser
complexo, sobre o qual muitas vezes não são encontradas respostas conclusivas.
36
envolvidos com a questão. O crescente volume de artigos, livros e trabalhos sobre esse tema
reflete não apenas o interesse, mas, sobretudo, a ignorância sobre vários aspectos que ainda
permanecem obscuros (Choto, 2007; Bosa, 2002; Gómez et al., 2009). Tal realidade incide
nas concepções adotadas sobre os indivíduos autistas, bem como sobre as diversas indagações
O artigo de revisão na literatura publicado por Gómez et al. (2009) destaca que o
autismo é considerado como uma síndrome complexa, com múltiplas causas e manifestações
como um único transtorno com expressões fixas e sintomas rígidos. Os referidos autores
de vida e outras somente após um ou dois anos de suposta normalidade; crianças que falam e
outras que são mudas; crianças que apresentam déficit intelectual, enquanto outras não
Segundo Höher Camargo (2007) a noção de uma criança não comunicativa, isolada e
Concorda-se com autores como Nogueira (2009), Bosa (2008), Orrú, (2007) quando destacam
estudos, bem como sobre o termo “espectro” atualmente utilizado na literatura, parte-se para
acordo com Orrú (2007) na história do autismo, há vários pesquisadores que dão importantes
foi utilizado pela primeira vez no princípio do século XX, pelo psiquiatra Bleuler, para
caracterizar um tipo de sintoma que ele julgou ser secundário das esquizofrenias (Borges,
atípicos, que podem relacionar-se ao autismo. Ao longo dos séculos XVIII e XIX
capacidades de interação e contato afetivo. Nos últimos anos do século XVIII houve um
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enorme interesse no caso de Vítor, uma “criança selvagem” encontrada nos bosques de
Bassine e que foi examinada por um dos criadores da psiquiatria, Pinel, e educada por um
empregaram diversos nomes para designarem certos casos de síndromes psicóticas precoces e
pelo psiquiatra infantil Leo Kanner, em 1943, no artigo intitulado “Alterações autísticas no
contato afetivo”, no qual descrevia o caso de onze crianças que apresentavam um quadro de
dificuldade em adotar uma atitude antecipatória que assinale ao adulto a vontade de ser pego
como outro teórico importante. Este último realizou um estudo em 1944 sobre crianças com
teórico foram mais amplas e envolveram: fatores orgânicos; dificuldade em fixar o olhar
39
social e a dificuldade dos pais em constatar tais comprometimentos nos três primeiros anos de
vida.
Entretanto, Kanner e Asperger “[...] empregaram o termo para chamar a atenção sobre
manter contato afetivo com os outros de modo espontâneo e recíproco” (Bosa, 2002, p. 26). A
De acordo com Ortega (2009), dos anos 1940 a 1960, predominaram explicações
relações objetais precoces do indivíduo, especialmente com os pais. Embora atualmente ainda
existam defensores desta linha, desde os anos 60 vem se produzindo um deslocamento para
Verifica-se na história uma controvérsia com relação à distinção entre autismo, psicose
infantil, defende a ideia de que deveria ser separado da mesma, definindo-o como psicose em
não fazem qualquer menção ao autismo. Já a oitava edição o traz como forma de
Rett e Síndrome de Asperger. Tanto a CID-10 quanto o DSM-IV estabelecem como critério
restritos, estereotipados e repetitivos (Assumpção Jr., 1995 citado por Bosa, 2002).
autismo fosse uma psicose foi Ritvo, que o defendia como sendo um déficit cognitivo, que
sob a influência de muitos autores (Rutter, Wing, Ornitz, Ritvo), o psiquiatra Gauderer deixou
de conceber o autismo como um tipo específico de psicose e passou a considerá-lo como uma
como ouvir, ver, tocar, sentir, equilibrar e degustar; estabelecimento não usual de relações
combinadas com outros prejuízos observados na criança”. Esta concepção tem refletido uma
modificação importante ao longo dos anos, em que o autismo deixa de ser considerado como
um quadro único e específico, para ser visto como uma síndrome que comporta subtipos
De acordo com Nogueira (2009) a etiologia pode ser considerada de modos diversos a
partir dos autores e perspectivas, sendo ora privilegiados fatores afetivos, ora cognitivos ou
biológicos. Tal variabilidade tem contribuído, conforme a autora, para promover um contínuo
Nesta direção Silva e Mulick (2009) afirmam que existe certo consenso entre os
presente momento, não foi possível determinar qualquer aspecto biológico, ambiental, ou da
interação de ambos, que pareça contribuir de forma decisiva para a manifestação desse
Como já foi mencionado anteriormente, não há um consenso acerca das causas para
esta condição; diversos fatores são estudados, tais como: problemas ocorridos durante a
Atualmente também estão sendo estudadas teorias que apontam carências nutricionais
afetam a digestão e a absorção de certos alimentos como glúten e caseína, por exemplo; ou
grande maioria dos pesquisadores dessa área discorde de tal proposição (Schwartzman, 2003;
Considerando estas questões, parte-se para uma breve descrição das teorias
desenvolvimentista e cognitivista a partir dos estudos realizados por Lampreia (2004, 2007),
ressaltando que não pretende-se esgotar o assunto, mas sim pontuá-lo de modo que seja
contrapartida, a teoria cognitivista defende que o prejuízo primário no autismo deve ser
encontrado em um dos diversos módulos da mente. Essa proposição adere a uma visão
racionalista do sujeito, de acordo com a mesma, o sujeito é um ser natural dotado de certas
Outro estudo realizado por Lampreia (2009) aborda como enfoques teóricos
desenvolvimentista, de cunho socioafetivo. Embora não seja objetivo deste trabalho abordar
mencionadas.
no lugar de outra pessoa, de imaginar seus pensamentos e sentimentos de modo a ser capaz de
dar sentido e prever seus comportamentos. Conforme o autor, as pessoas usam a teoria da
mente para identificar as intenções das pessoas por trás de seus gestos e falas.
Exemplificando, o autor cita uma pessoa que vê outra olhar através da janela: a
primeira tipicamente infere que a segunda deve ter visto algo de seu interesse e que ela pode
saber sobre algo que não pode ser visto neste momento. De acordo com o autor, a pessoa vai
articulam na mente da outra pessoa dando sentido ao seu comportamento, mas também pode
prever o que ela poderia fazer a seguir. Assim, conforme a perspectiva da teoria da mente
desenvolvimento desta área, ficando confusas com as ações de outras pessoas ou ansiosas
não podem usar a teoria da mente para interpretar ou antecipar o que os outros estão fazendo
ou vão fazer.
Nesta direção, uma pesquisa realizada por Fiaes e Bichara (2009) aborda a brincadeira
de faz de conta em crianças autistas a partir da teoria da mente, sustentando que sua ausência
tem sido utilizada para justificar o empobrecimento das brincadeiras de faz de conta nessas
questão controversa.
base no envolvimento emocional da criança com outras pessoas. Dessa maneira, a criança
autista carece de conexão emocional com os outros, e tal fato parece ter implicações bastante
idiossincrasias parecem cair como suspeita da fonte dos prejuízos provocados pelo autismo –
eventos adversos no início da vida, efeitos das vacinas, colisões inevitáveis sobre a cabeça,
por exemplo. Entretanto, mesmo quando os estudos observacionais são dirigidos a um grupo
de indivíduos para que se possa ver o que é característico entre os indivíduos em particular,
ainda não é possível ter certeza se é um determinado aspecto do quadro clínico subjacente ou
se é o resultado de outra. Além disso, a essência da condição pode ser obscurecida pela
variedade de anomalias presentes. Por exemplo, não é tarefa fácil destilar o que é
verdadeiramente único para o autismo e o que é mais um reflexo do atraso mental que muitas
comunicativas e suas relações com o contexto interacional no qual a criança está inserida.
conhecer esses modelos com vistas a lançar mão de diferentes formas de apreender as
são melhor abordadas por um modelo ou por outro, dependendo das áreas de maior
comprometimento na criança.
autista, segue uma breve revisão de trabalhos que versam sobre a epidemiologia. Dessa forma,
Klin (2006) afirma que são afetados 1 em cada 200 indivíduos; de acordo com Goodman e
Scott (2003) não existe relação do autismo com o nível socioeconômico ou cultural, e as
45
ligações com um padrão socioeconômico alto relatadas pelos primeiros estudos deviam-se
casos de autismo serem mais raros em meninas, estes tendem a ser acompanhados por maior
confusa, dada a falta de exatidão dos diagnósticos, a falta de precisão nas definições e a
modo, Baron-Cohen (2008) trata sobre o número de casos abordando os estudos de Wing,
afirmando que tal dado não é rígido e que nas duas últimas décadas o número passou de 4 a
cada 10.000 para 1 a cada 100. O mesmo é colocado por Pereira, Riesgo e Wagner (2008),
que acrescentam ainda que o autismo ocupa o terceiro lugar entre os distúrbios do
que, nos EUA, de cada 1.000 crianças nascidas, pelo menos uma irá, em algum momento do
Este aumento é discutido pelos autores a partir de alguns fatores, a saber: a adoção da
concepção de espectro admite a inclusão não apenas de casos extremos, mas também de casos
mais leves; além disso, os profissionais estão melhor preparados em termos de treinamento e
formação e há melhores serviços oferecidos. Estudando esta questão, Silva e Mulick (2009)
pontuam que apesar de muitas pesquisas e debates, até o momento, não se sabe ao certo se
afirmam que esse aumento se deve, pelo menos em parte, a fatores como a recente ampliação
A revisão sobre a definição de autismo, seu percurso histórico, suas possíveis causas e
mais diferentes áreas estarem preparados não só para lidar com a questão, mas também de
uma vez que, quanto mais precoce o estabelecimento de intervenções, melhor será a evolução
do quadro.
Segundo Gómez et al. (2009), na literatura, há certa confusão em relação aos critérios
paradigmas de investigação.
De acordo com Choto (2007) o diagnóstico torna-se difícil por várias razões, quais
frequentemente encontrados também em outras doenças e tem geralmente graus diferentes nas
mental, com início antes dos três anos de idade, que se manifesta com alterações qualitativas
nas habilidades sociais, nas habilidades comunicativas (verbais e não verbais) e com presença
diferentes níveis de severidade (Schwartzman, 2003; Klin, 2006; Silva & Mulick, 2009;
47
Gómez et al., 2009). De acordo com Silva e Mulick (2009) quadros de transtornos
Nesse sentido Rivière (1996, p. 276) afirma que “os sintomas do autismo não se
manifestam por igual, nem têm o mesmo significado em diferentes fases da vida das pessoas
autistas”, acrescentando ainda que existem importantes diferenças entre uns autistas e outros
De modo geral, pode-se dizer que as crianças com espectro autista, em diferentes
novas, cujo limiar de tolerância à frustração é baixo - a criança joga-se no chão, grita, chora,
bate com a cabeça, se morde ou bate nos outros, por exemplo). Outros comportamentos
determinados sons, olfato, tato ou paladar, por exemplo. Há também, em alguns casos,
A questão dos déficits sociais é abordada por Silva e Mulick (2009) como a marca
central do autismo, sendo também os sintomas que se manifestam mais precocemente (até
visual, bem como em compartilhar interesses e estados emocionais com outros (atenção
primeiros anos de vida, quais sejam: a falta de balbucio aos 12 meses, de produção de
comunicar com outros aos 24 meses, bem como a ausência de brincadeiras de faz de conta aos
18 meses.
Quanto à interação social destas crianças, Nogueira (2009) menciona que, embora elas
respondam a outros que com elas iniciam interações sociais, não esboçam por si mesmas
comportamentos de iniciativa para ocorrência de trocas desta natureza com seus parceiros,
parecendo estar pouco interessadas ou mal equipadas para iniciar contatos sociais. Ainda de
acordo com a referida autora, apesar de considerar que crianças com autismo tendem a evitar
contatos visuais com outros parceiros, o estabelecimento deste contato é possível, mesmo que
de forma breve.
pelo autismo, é possível voltar-se para seus comportamentos com interpretações distintas,
várias habilidades imbricadas nesse processo e que as dificuldades apresentadas por estes
incapazes, mas sim que o fazem de forma distinta, de acordo com suas características.
Nessa direção, Capps e Mundy (1994, citados por Napoli & Bosa, 2005) afirmam que
na interação social, o que não significa que não se engajem e respondam a interações sociais.
Inúmeros fatores podem alterar a interação social da criança com autismo, como por exemplo,
manifestação dos sintomas, mas também sua variabilidade a partir de dados de pesquisas
recentes, importa adentrar no que diz respeito à avaliação das pessoas do espectro autista.
49
Quanto à avaliação Silva e Mulick (2009) declaram que um número cada vez maior de
nuances do quadro clínico da criança e oferecer à família informações detalhadas não apenas
acerca do diagnóstico, mas também do perfil médico, cognitivo e adaptativo da criança, bem
individualizado, haja vista a diversidade de perfis das crianças com espectro autista em termos
interesse na comunidade científica (Pereira, Riesgo & Wagner, 2008). Dito isto, vários
instrumentos tem sido desenvolvidos com o intuito de proporcionar um perfil mais refinado
dos prejuízos e competências da criança com autismo. Nesse sentido, um estudo de revisão da
literatura realizado por Choto (2007) menciona a existência de diferentes formas de realizar o
DSM-IV são muito genéricos, não permitindo a identificação precoce; por isso, vários
saúde e educação mais vigilantes para os possíveis sinais de risco autístico, assim como um
Dessa maneira, a autora cita os diferentes tipos de estudos retrospectivos que visam à
identificação precoce do autismo entre 12 e 24 meses de idade, quais sejam: relatos dos pais,
investigam longitudinalmente bebês irmãos de autistas, uma vez que esses bebês têm maior
probabilidade de apresentar características do espectro do que bebês com irmãos sem esse
diagnóstico.
precoce do autismo, por volta dos dois anos de idade, a saber: CHAT (Checklist for Autism in
and Symbolic Behavior Scales – Developmental Profile), STAT (Screening Tool for Autism
in Twoyear- olds) e DP/SORF (Systematic Observation of Red Flags for ASD), por exemplo,
todos são de fácil e rápida aplicação. Conforme a autora, esses instrumentos incluem, de
maneira geral, categorias como: jogo de faz de conta, seguir o apontar, imitação, interesse
autistas realizado por Jorge (2003) revelou que há poucas escalas com evidências de validação
para o Brasil. Ademais, outro desafio consiste na ação do psicólogo, que requer conhecimento
junto à criança e à família, garantindo o equilíbrio entre limitação e capacidade, assim como
51
uma melhor qualidade de vida para os envolvidos. Para Jorge (2003) uma investigação
avaliativa ideal apresenta em sua coleta de dados além de formas combinadas de uso dos
dirigidas.
estandardizados. Nela, clínicos experientes levam em conta uma gama de fenômenos além
Assim, a autora sugere a utilização dos instrumentos validados aliados a uma análise mais
e fidedigno.
Segundo Gómez et al. (2009) embora o autismo seja amplamente estudado em muitas
efeitos.
52
Elucidando estas questões Silva e Mulick (2009) afirmam que apesar de a etiologia do
profissionais que trabalham com a população infantil, bem como a formação de equipes
diagnóstico seja determinado de forma bastante segura, mesmo em crianças de tenra idade.
Tais práticas, conforme os autores, são de suma importância, visto que a idade em que
de aprendizado e desenvolvimento da criança a tal ponto que ela venha a atingir níveis
consideradas úteis e funcionais para serem utilizadas com pessoas autistas, a educação
especial faz a diferença, assim como o caso em particular e o suporte familiar. Segundo o
mesmo, todos os anos são anunciados novos tratamentos e muitos deles não são mais do que
propagandas, além daqueles que saem caros, não somente em termos de economias familiares,
Diante desta questão, o autor sugere que a família seja cautelosa, pesquise bastante e
não se precipite na escolha. Nesse sentido, são citados os tratamentos, intervenções e métodos
and Related Communication Handicapped Children), um estudo realizado por Panerai et al.
relação à inclusão, opondo-se a opinião de que o referido método não poderia ser
inclusão não estão em contraste, mas parecem reforçar-se mutuamente, se usados juntos.
controvérsias; por outro lado, é um reflexo do esforço das diversas disciplinas. Assim, destaca
da criança.
Este trabalho não pretende descrever as intervenções mencionadas, mas a respeito das
terapias da linguagem cabe fazer as seguintes menções: de acordo com Nogueira (2009) as
mostrado promissoras, e, segundo Baron-Cohen (2008), a terapia da fala é vista como parte
central no tratamento dessas crianças, haja vista o atraso que elas apresentam nesta área. Para
outro), em que a criança e o adulto estabelecem um foco de atenção em comum num objeto.
O estudo realizado por Miilher e Fernandes (2006) sobre a análise das funções
a atuação terapêutica nestes casos deve ser mais intensa e diretiva. Os terapeutas do estudo em
o foco de atenção.
Outro estudo (Delfrate, Santana & Massi, 2009) objetivou analisar longitudinalmente a
período de dois anos e seis meses de intervenção fonoaudiológica e revelou que, nos episódios
criança.
interações que, por sua vez, promovem modificações na participação da criança. Assim,
interativas das crianças que possuem alguma patologia de linguagem, passando a considerar a
criança (com autismo ou não) como um sujeito que está imerso na linguagem e nas práticas
sociais. Dito de outra forma, um terapeuta envolvido com a linguagem deve conceber o
intervenções, ainda a respeito da comunicação, um estudo realizado por Chiang (2009) com
revelou que estas crianças apresentam dificuldades não apenas na comunicação espontânea,
55
mas também na comunicação mediada. Entretanto, tais achados são discutidos a partir de duas
Novamente fazendo alusão aos achados do estudo supracitado, importa citar que
comunicação expressiva, e que assim como crianças com autismo exigem maior atenção dos
professores do que crianças com desenvolvimento típico, crianças com autismo severo
A variedade de serviços disponíveis também foi abordada por Bosa (2006). A autora
com a família. Para esta autora, existem quatro alvos básicos para o tratamento: 1) estimular o
autismo.
habilidades sociais, muito embora seus efeitos apresentem um caráter limitado devido às
estereotipias e dos comportamentos desafiadores dos autistas faz parte do tratamento e deve
56
ser entendida a partir da redução da ansiedade e do sofrimento. Tal prática deve ser realizada
desenvolver suas habilidades são imprescindíveis nesse processo. Dessa forma, tratamentos
crianças, considerando que o autismo se trata de uma condição crônica e que essas
No que se refere à qualidade de vida, Elias e Assumpção Jr. (2006) realizaram uma
pesquisa cujo resultado apontou que crianças autistas de alto funcionamento apresentam
índices de qualidade de vida iguais aos de crianças normais. Em face disso, os autores
afirmam que baixos parâmetros de normalidade não são sinônimos de baixa qualidade de
vida, e, a respeito do tratamento, destacam que para prestar melhor assistência é preciso ouvir,
compreensão da qualidade de vida destas crianças, uma vez que o espectro autista é muito
amplo e os autistas de alto funcionamento apresentam uma situação muito díspar da vivida
pela maioria das crianças autistas, consideradas de baixo funcionamento, com retardo mental
considerado um espectro, não pode ser tratado como uma entidade nosológica fechada,
57
devendo admitir diferentes tipos de tratamento de acordo com o quadro (Elias & Assumpção
A compreensão dos contextos familiares das crianças com espectro autista é de grande
relevância para os estudos e intervenções nesta área, não apenas em termos das concepções
por elas adotadas e pela influência que tais concepções parecem exercer no estabelecimento
estratégias que auxiliem a promover o suporte emocional necessário aos membros da família
nas diferentes etapas de vida da criança autista, até porque, de acordo com Bosa (2006), as
famílias modificam suas expectativas e valores com relação ao tratamento de seus filhos
A família vivencia diferentes situações desde a percepção dos sintomas em seu filho, e
junto a isso experimenta diferentes sentimentos. De acordo com Bosa (2006) os genitores
futuro de seu filho. Além disso, diante do diagnóstico faz-se necessária a reorganização do
decorrentes desta situação (Gomes & Bosa, 2004). De acordo com Sperry e Symons (2003)
muitas vezes, costumam gerar o afastamento com relação ao filho autista (Orrú, 2007).
Porém, a autora ressalta que é justamente no estabelecimento das relações com o outro que o
sujeito se constitui; assim, tais interações preparariam a criança para se relacionar com o
mundo.
Nesse sentido, Borges (2000) afirma que inicialmente a sensação de culpa, vergonha,
desespero e autopiedade podem ser opressivas, levando à rejeição da criança ou até mesmo à
negação de que algo esteja errado em seu desenvolvimento. Dessa maneira, é fundamental
que essas questões sejam identificadas pelos profissionais, para que seja fornecido um suporte
nesse sentido, considerando que o modo como os pais se ajustam à situação é crucial para o
expectativas quanto ao desenvolvimento global infantil as quais, por sua vez, devem ser
De acordo com Borges (2000) e Bosa (2006) outro aspecto importante é a participação
dos pais em grupos de apoio, mas é preciso ter em mente que as famílias variam quanto ao
tipo de suporte e de informação que necessitam. Nesses grupos, são comuns os relatos de
atividades educativas, planos e objetivos para intervenção com a criança, haja vista a
importância de os pais serem esclarecidos sobre as reais possibilidades dos seus filhos,
59
Segundo Bosa (2006), há evidências de que o autismo exerce impacto sobre a família
e que a sobrecarga dos cuidados recai principalmente nas mães, sendo possivelmente, o
motivo pelo qual elas apresentam índices mais elevados de estresse, depressão e de intimidade
marital menor do que mães de crianças com o desenvolvimento típico ou portadoras de outras
síndromes. Muitas vezes, as mães renunciam suas carreiras para cuidar de seus filhos, fato que
2006, realizada por Feltrin (2007), acerca das relações familiares e habilidades sociais de
irmãos de indivíduos com transtornos do espectro autístico revela que os resultados dos
estudos nesta área são inconsistentes, ou seja, o fato de se ter um irmão com uma
dificuldades.
Esses dados corroboram o estudo de Gomes e Bosa (2004) que demonstram que a
evento adverso para os irmãos, desde que haja qualidade nas relações familiares e uma rede
de apoio. Conforme as autoras vários fatores devem ser considerados, dentre eles, a qualidade
Sob outro enfoque, a pesquisa de Sifuentes e Bosa (2010) trata sobre coparentalidade
de pais de crianças pré-escolares com autismo, revelando que as tarefas parentais não são
compartilhadas de forma igualitária entre o casal e que isso ocorre em função das demandas
60
próprias do autismo e da forma como a família se organiza para atender a essas demandas. A
entre pai e mãe são divergências quanto às práticas educativas, em especial a questão de
escolas regulares aborda a importância dos pais na participação da educação dessas crianças.
escolar, participavam ativamente através da exigência junto aos professores e, a partir desse
aconteceram na escola. Assim, os autores afirmam que, quando os pais tomam para si a
concepções de pais e professores nas práticas com as crianças, situados numa dinâmica cujas
práticas e crenças transformarão e serão transformadas pelo ambiente físico e social. Mais
humano e da paternidade influenciam a forma como pais e mães se relacionam com seus
filhos e com crianças de modo geral, e que esses comportamentos, por sua vez, influenciam o
influência significativa na interação entre pais e filhos. A exemplo disso, os autores citam que
os pais, ao acreditarem que os bebês não enxergam ao nascer, acabam por criar poucas
61
autores encontraram certo consenso quanto ao fato de as cognições influenciarem nas práticas
de cuidado e comportamentos parentais que, por sua vez, acabam tendo efeitos diversos sobre
Ainda fazendo referência ao trabalho de Seidl de Moura et al. (2004) que aborda o
idade do bebê nas cognições maternas, de modo que, quanto mais velho o bebê, maiores os
conhecimentos apresentados pela mãe. Estes resultados são discutidos pelos autores
considerando que não é só a mãe que influencia o bebê, mas que pistas do bebê ou
características dele também tendem a afetar processos da mãe. Outro resultado relevante do
Corroborando tal estudo Ribas Jr., Seidl de Moura e Bornstein (2007) identificaram
através de uma pesquisa que mães com maior escolaridade e status econômico apresentaram
mesmas. Os autores identificaram ainda que estas mães também apresentaram autopercepções
oferecida à criança no ambiente doméstico. Assim, mães com escolaridade acima de cinco
parece se relacionar não apenas com a concepção ou tipo de estimulação oferecida à criança,
mas também, com o conhecimento em relação ao autismo. Tomando como base o estudo de
Braga (2004) é possível analisar que as mães, em sua maioria apenas com ensino
Entretanto, é necessário enfatizar que esse resultado pode ser analisado sob dois
o segundo em relação à qualidade dos serviços oferecidos, muitos dos quais com os
diante das situações inerentes ao curso do desenvolvimento da criança com espectro autista,
tal dinâmica deve ser conhecida pelos profissionais que com eles trabalham com vistas a
(2010) movimentar a instituição para uma prática inclusiva parece ser um trabalho de
acordo com Ferreira (2003) o conceito de integração escolar vem sendo considerado por
muitos pesquisadores como ultrapassado, haja vista que a proposta mais moderna e ampla é a
de inclusão, pois esta opção compreende não apenas a inserção do aluno, mas também
integração.
A autora mencionada aponta que a ideia de integração que vem sendo discutida a
social. Inicialmente, essa prática buscou inserir as pessoas com deficiências nos sistemas
sociais de maneira geral, tanto na educação como no trabalho, na família e no lazer; baseada
no “modelo médico da deficiência”, segundo o qual era preciso modificar (habilitar, reabilitar,
educar) a pessoa com deficiência a fim de torná-la apta a satisfazer os padrões aceitos no meio
social.
americana. Para a autora, cada comunidade deve buscar a melhor forma de definir e fazer a
sua própria política de inclusão escolar, respeitando as bases históricas, legais, filosóficas,
sentido de pensar em uma escola que inspire a troca entre os alunos, que confronte as formas
das diversidades de estratégias para uma nova aprendizagem. Nesta definição entende-se que,
De acordo com Ribeiro (2003), no Brasil, durante as primeiras décadas do século XX,
princípios psicológicos. Porém, com as mudanças no cenário mundial acerca dessa temática, a
que não significa tornar o excepcional normal, mas sim oferecer condições de vida idênticas
às que as outras pessoas recebem. Assim, no cenário nacional, ocorreram muitas discussões
Entretanto, esses princípios não foram amplamente aplicados nas escolas que,
(Ribeiro, 2003).
Tal acontecimento é também mencionado por Silva (2003) que afirma que a inclusão
não depende tão somente de documentos que a legitimem, mas também de outras estruturas,
necessidade de formação de professores, por exemplo, é apontada por diversos autores como
ressaltam que só serão obtidos resultados positivos “quando forem revistos e compreendidos,
profissional”. Dessa maneira, se os docentes não julgam ser de sua responsabilidade educar
toda e qualquer pessoa, pouco útil será capacitá-los com os mais avançados conhecimentos
teóricos e práticos.
Essa discussão remete à importância do papel do professor que, de acordo com Batista
e Enumo (2004), é o profissional que lida diretamente com o aluno sendo o agente mais eficaz
sobre como se deve ensinar para que possam proporcionar um ensino de qualidade para todos.
Nessa direção, Castro e Facion (2008) concordam com os autores que defendem a prática
no cotidiano desse profissional e que não constam em nenhum manual técnico, exigindo que
ele aja com criatividade no enfrentamento dessas situações. Outrossim, conforme Silva (2010)
que o professor seja ajudado a refletir sobre sua prática para que compreenda suas crenças em
relação ao processo tornando-se um pesquisador de suas ações. Os dados obtidos pela autora
demonstram que os docentes e diretores parecem crer que a educação inclusiva é uma
66
proposta viável, mas que, para ser efetivada, necessita de profundas transformações na
A partir de Plaisance (2010) entende-se que a inclusão terá futuro somente se for
desde que se entenda a complexidade de tal processo, que requer muito investimento e
proposto pela Conferência Mundial de Educação Para Todos (1990) e pela Declaração de
linguísticas ou outras, encontrando uma forma de educá-las com êxito, inclusive as que
V, Art. 58. que “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar oferecida preferencialmente [itálico nosso] na rede regular de ensino, para
sistemas de ensino deverão assegurar a esses alunos currículos, métodos, técnicas e recursos
específicos para atender às suas necessidades, capacitação dos professores para a integração
Por outro lado, Sekkel et al. (2010) ressaltam que, em 2001, a resolução que institui as
inequívoca a obrigatoriedade das escolas de receberem todos os alunos, tarefa para a qual elas
devem se organizar. Com isso, as autoras destacam que o número de crianças e adolescentes
com NEEs matriculados na escola regular aumentou, assim como as discussões e pesquisas a
Contudo, a inclusão não se dá tão facilmente, é necessário entender que esse processo
tem seu início no âmbito familiar, logo, a criança precisa ser aceita tal como ela é pela sua
realizadas com essas crianças deverão de fato se inclusivas, pois muitas vezes a atenção às
(Canziani, 2002). Elucidando esta questão importa citar Plaisance (2010, p. 38) que afirma
68
sobre as medidas concretas que favorecem um verdadeiro pertencimento, e não uma inclusão
de fachada”.
Lemos (2008) revelou, a partir da análise das concordâncias e discordâncias entre os artigos
uma inclusão escolar mais efetiva, dentre as quais podem ser destacadas: realização de
projetos que enfatizem a integração social e escolar dessas crianças; participação e apoio dos
adequados; experiência prévia dos professores com alunos com NEE; bem como atitudes
positivas frente a inclusão e maior número de pesquisas por parte dos cursos e dos professores
e profissionais que trabalham nessa área. O mesmo estudo elencou as dificuldades indicadas
Ausência de uma equipe formada por especialistas de diferentes áreas que atue em conjunto com docentes e
diretores
Pouca capacitação profissional para atender pedagógica e psicologicamente essa população
Falta de formação especializada, de apoio técnico e de experiência dos professores
Falta de planejamento e inadequação dos métodos
Falta de infraestrutura adequada e condições materiais para o trabalho pedagógico
Problemas de comportamento dos alunos e suas necessidades
Dependência dos alunos em relação aos cuidados práticos (banho, troca de fraldas, etc.)
Preconceito e falta de preparo dos demais alunos, pais e professores
Número elevado de alunos nas salas de aula
Diagnóstico das dificuldades de aprendizagem
Atitudes parentais
Quadro 1: Dificuldades indicadas para a realização da inclusão escolar de alunos com NEE
FONTE: Base de dados LILACS e Scielo no período de 2000 a 2008.
69
O artigo de Batista e Enumo (2004) mostrou que os alunos com deficiência mental são
menos aceitos e mais rejeitados, passando a maior parte do tempo sozinhos. Assim, para os
de inclusão.
que os docentes afirmam não estar capacitados, apresentando atitudes negativas quanto à
política inclusiva promovida no país. Nesta direção, destaca-se o trabalho de Silva (2010),
onde a autora discute acerca da educação inclusiva alguns questionamentos que a princípio
têm sido pouco contemplados, numa tentativa de evidenciar alguns paradoxos que parecem
muito mais aproximar do que afastar a educação inclusiva da lógica clássica da educação
especial.
Uma questão que merece destaque nas discussões acerca da inclusão refere-se à
aquelas ditas normais, juntamente com uma equipe envolvida no trabalho da escola, ter um
70
(2007), o mesmo teórico pode ser considerado como um dos pioneiros na proposição de
práticas inclusivas. Vygotsky (1983), em sua obra sobre “defectologia”, realizou estudos
especiais tendo como premissa a tese de que as leis que regem o desenvolvimento destas
surdas, cegas e com deficiência física e mental, partindo do pressuposto de que é no âmbito
Esta questão remete a colocações feitas por Vygotsky (1997, citado por Momberger,
2007) já em 1920, afirmando que os esforços nesta área mantinham-se centrados nos déficits
das crianças, e que as práticas se davam a partir de comparações com crianças cujo
segregação dos cegos em escolas especiais, embora reconhecesse seu importante papel, visto
que, neste tipo de educação, toda a atenção era voltada para a deficiência não proporcionando
outras orientações, o que acabava por criar um mundo artificial, estreito e fechado, diferente
do mundo lá fora.
71
Elucidando esta questão, Vygotsky afirma que no caso de crianças com deficiência
mental sua inserção em grupos homogêneos priva as mesmas dos benefícios das relações com
(Momberger, 2007).
desempenha um papel fundamental, onde as trocas que a criança exerce com outras crianças e
Proximal (ZDP) e Zona de Desenvolvimento Real (ZDR). O primeiro refere-se àquilo que a
criança consegue fazer mediante o auxílio externo, e o segundo, àquilo que a criança
conceitos, o mediador deverá propor atividades que estejam sempre um passo à frente
ferramentas e signos. As primeiras são dirigidas para fora, são orientadas para modificar a
são orientados para dentro, são instrumentos da atividade psicológica. Um exemplo deste
conceito em face da educação especial refere-se ao alfabeto em braille, onde troca-se o signo
aula, assim como dos instrumentos utilizados, pois, muitas vezes, eles necessitam de recursos
a mais para favorecer a linguagem e a aprendizagem, como o uso de figuras ou apoios visuais,
por exemplo.
72
surge da necessidade de comunicação da criança com as pessoas com quem convive, sendo
distinto, fomentam bases para ações nos dias atuais. Destaca-se que, apesar das dificuldades
são conclusivos. Segundo Bosa (2006) não há uma resposta final para a questão da
características pessoais dos professores; características dos demais alunos inseridos na sala de
73
socialização. Tudo isso de maneira geral, uma vez que também são admitidas as variações
pessoas com autismo fazem com que muitos não vejam a inclusão escolar como uma prática
competências sociais através da convivência com outras crianças da mesma faixa etária.
Dessa maneira, a escola possui um papel fundamental nos esforços para ultrapassar os déficits
sociais favorecendo seu desenvolvimento, assim como o das demais crianças, na medida em
que convivem e aprendem com as diferenças. Silva e Facion (2008) afirmam que os demais
criança com dificuldades encontra modelos mais avançados de comportamentos para seguir.
A escolarização dessas crianças é abordada por Bosa e Baptista (2002) como um desafio que
Nesse sentido, Sereno (2006) sustenta a premissa de que a escola para crianças com
autismo é importante tanto pela socialização quanto pela aprendizagem, uma vez que a
74
inclusão favorece a mais básica das aprendizagens: o aprender a conviver, que junto com as
outras três aprendizagens (aprender a ser, aprender a fazer, aprender a aprender) constituem os
crianças que frequentam escolas regulares, mesmo com algumas especificidades, e que
relatadas também queixas em relação à falta de formação adequada para trabalhar com estes
supervisões que promovam conhecimentos sobre como atuar com esses alunos, e quais as
que afirma ter pesquisado bastante a respeito, mas a literatura é repetitiva e pouco traz de
vista estes aspectos, Lira (2004) ressalta que o desafio é criar táticas que promovam
transformações, uma vez que a escolaridade de pessoas com autismo propõe desafios
constantes ao professor, pois requer que o mesmo avalie constantemente sua forma de ensinar,
Dando força a tais estudos, cita-se a pesquisa realizada por Orrú (2007), em que se
autista, o qual por sua vez, enquanto profissional, deve procurar compreender quais são e
como se dão os sinais de afeto e competência dessas crianças, os quais precisarão ser
75
sustentados na relação com ela. A não percepção destes sinais pelo professor implica,
comunicação com seus alunos levando-os a um isolamento ainda maior. Para ela, tanto o
A autora menciona ainda que uma das razões pelas quais os alunos com autismo têm
contribuições do estudo de Sanini et al. (2007) que argumenta a existência de poucos estudos
de apego, por exemplo, assim como o tipo de resposta da criança à interação proposta, que
diretas envolvendo uma criança do espectro autista e crianças com desenvolvimento típico
realizada por Höher Camargo (2007) revelou que o contexto de pátio favoreceu maiores
respostas quando solicitado pelo grupo consiste em um aspecto importante. Assim, em relação
ao perfil da criança nas situações de pátio e de sala de aula, no pátio a criança é mais
solicitada pelo grupo, age com mais independência e expressa melhor suas intenções.
demonstração de afeto (beijar, abraçar), este dado corrobora com estudos que apontam que
nem sempre essas crianças apresentam aversão ao toque físico (Klin, 2006).
desenvolvimento típico proposto por Kasari, Locke Gulsrud e Rotheram-Fuller (2010) com
vistas a analisar as redes sociais e amizades na escola nas situações de parque e sala de aula,
pobres, menor reciprocidade, menos redes sociais em sala de aula, caracterizando-se como
parque. E, no que se refere à situação de parque os autores sustentam que, se por um lado
parece ser mais difícil para criança autista, por ser muitas vezes caótico e lotado, por outro
refere-se a uma boa configuração para intervenções de competências sociais, sendo que o
uma vez que dados desta natureza parecem acentuar as dificuldades das crianças autistas e
também, por ser um estudo quantitativo, não permite a análise minuciosa do contexto
interativo e das respostas da criança autista. Estes aspectos parecem ser admitidos pelos
autores na medida em que eles expõem que a obtenção de dados suficientes sobre cada
criança se torna um desafio quando os tamanhos de amostra são muito grandes (no caso em
crianças no parque rendeu dados consistentes para nível de envolvimento das crianças com
iniciações e respostas aos pares, chegando a designar o parque como um importante alvo de
77
as dificuldades das crianças do espectro autista observadas no contexto de sala de aula, tendo
adaptativos.
dificuldades destas crianças, uma vez que foram observadas maiores frequências de reações
pátio, uma vez que as brincadeiras no parque e na piscina foram essenciais para que as
relações sociais se construíssem na própria prática social dos alunos, onde os sorrisos e a
expressão de afeto foram observadas, além de habilidades peculiares por meio de brinquedos
escolhidos.
algum tipo de brincadeira simbólica, ainda que não façam uso de metarrepresentação. Sendo
vocalizações, gritos, risos, movimentos e gestos, sendo estes dois últimos um meio mais
Ademais, foi observado que apesar do isolamento social típico e da forma do brincar,
outros objetos usados como se fossem carrinhos. Já a única menina presente neste estudo
práticas de inclusão escolar de crianças autistas, que muitas vezes contam com o apoio de um
terapêutico (at) trata-se da pessoa que divide a tarefa de apoiar a escola, favorecendo a
inclusão e permanência da criança na escola, atuando juntamente com a equipe escolar a partir
traduzindo a ambiência, o movimento geral, nomeando e dando sentido às situações que vão
se sozinha.
Sob outra ótica, Kasari et al. (2010) observaram em seu estudo que as crianças autistas
com assessores foram menos propensas a se envolver tanto com eles quanto com seus colegas
no parque/recreio. Estes resultados são discutidos pelos autores de modo que os assessores
não foram capazes de facilitar o envolvimento das crianças no parque, o que sugere realçar a
necessidade para a formação auxiliar, de modo que os assessores devem aprender a melhor
forma de facilitar a interação entre as crianças, e tomar cuidado para não estigmatizar e isolar
poderiam ter assessores por apresentarem níveis mais elevados de autismo e, por conseguinte
interagirem menos. Por essa razão, importa utilizar-se de parâmetros para avaliar o grau de
autismo das crianças participantes do estudo, dado que ele exerce influência na análise e
discussão dos resultados. Nessa direção, a pesquisa realizada por Gomes e Mendes (2010)
composta por crianças que, em sua maioria, apresentava autismo grave, de acordo com a
escala CARS, demonstrou evidências de que esses alunos participavam pouco das atividades
pedagógicos.
primeiro consiste no tempo que vai da entrada na escola à aquisição algum repertório escolar
para a entrada na classe, onde o ritmo de cada criança é respeitado, assim como o ritmo com
habilidades de crianças com autismo e diminuir seus comportamentos mal adaptados, apenas
a inclusão em escolas regulares não é suficiente. A escola precisa despender esforços para
adotar um ensino estruturado com o objetivo de criar condições apropriadas para otimizar o
desenvolvimento dessas crianças. A referida pesquisa visa suscitar novos estudos na área,
de serviços e atividades dirigidas a pessoas com autismo e suas famílias, com foco particular
triagem e avaliação por uma equipe multidisciplinar nas escolas, também com vistas a
para estas crianças, uma vez que o trabalho da equipe não se limita apenas à avaliação, mas
essencial neste trabalho diz respeito à distinção entre o diagnóstico educacional de autismo e
primeiro não exclui o segundo; ao contrário, os pais são informados de que podem procurar
relatos dos profissionais que se utilizaram deste serviço indicando ter sido benéfico e de
inestimável importância, além do fato de que os professores que trabalham com o aluno
identificado com espectro autista manifestaram satisfação com o novo apoio consultivo.
administração. Diante disso, os autores certificam a importância de realizar outros estudos que
Diante dos aspectos que envolvem as práticas de inclusão escolar, destaca-se o papel
do diretor, que segundo Horrocks, White e Roberts (2008) é o profissional responsável por
dar o tom a toda a comunidade escolar, cujas atitudes são tidas como pré-requisitos essenciais
para a inclusão bem sucedida. Um estudo realizado pelos referidos autores analisou variáveis
como gênero, tempo como diretor, formação, experiência com o autismo e crença de que
pessoas com autismo poderiam ser incluídas em escolas regulares e concluiu que os diretores
que acreditam que as crianças com autismo poderiam ser incluídas em salas de aula do ensino
regular eram mais propensos a recomendar níveis mais elevados de inclusão. Assim como
aqueles que tinham experiência profissional, formação ou supervisão de crianças com autismo
diretores entrevistados não tivesse treinamento em educação especial, a maioria afirmou ter
em maioria a inclusão como uma experiência positiva e que eles acreditavam que as crianças
diagnosticadas com autismo podem ser incluídas em salas de aula, no ensino regular, e com
Ainda abordando práticas inclusivas, o estudo realizado por Hess, Morrier, Heflin e
Ivey (2008) é de grande relevância, muito embora seja realizado em escolas públicas de outro
país, e por assim dizer, de cultura e realidade educacional distintas. Nesse sentido, foram
resultados desse estudo demonstram que os professores têm pouco apoio nas escolhas de
estratégias; menos de 10% das estratégias utilizadas baseiam-se em práticas com base
82
científica, cuja seleção varia de acordo com o nível da série e o tipo de colocação em sala de
de revisão crítica da literatura sobre autismo e inclusão escolar realizado por Höher Camargo
(2009) revela que há poucos estudos nesta área utilizando-se de observações diretas dessas
crianças nos contextos escolares a fim de avaliar a qualidade de suas interações, indicando a
com autismo e a possibilidade de sua inclusão no ensino regular, desde a educação infantil,
realizada por Sanini et al. (2008), sobre comportamentos indicativos de apego em crianças
com autismo, revelou que a análise direcionada às condutas de iniciativa da criança autista
concepções dos professores sobre a inclusão escolar de crianças autistas, importa fazer
referência ao estudo de Kristen, Brandt e Connie (2003, citados por Höher Camargo, 2007)
que analisaram o relacionamento entre professores de escolas comuns e alunos com autismo e
com os alunos com autismo, o índice de problemas de comportamento destas crianças foi
Ainda sobre as concepções dos profissionais que trabalham com essas crianças, o
estudo de Lira (2004), embora envolvesse classes especiais de pessoas com autismo em
83
interação social, ao espectro autista e suas peculiaridades, quanto em relação à inclusão dessas
e professores sobre a criança autista e seu processo de inclusão escolar, como também analisar
autista.
relatadas por pais em relação às crianças autistas propostas pelos manuais diagnósticos e seus
que e com que frequência ocorrem e, sobretudo, em que contextos e com quem ocorrem.
implicações nas práticas e nas interações estabelecidas com a criança com espectro autista.
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL:
crianças, nos contextos de escolas regulares da cidade de João Pessoa – PB, considerando a
mediação das professoras, suas concepções e as dos pais/mães acerca da criança e do processo
de inclusão escolar.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Analisar as interações sociais entre crianças autistas e demais crianças, com idades
Verificar a participação das crianças autistas nas interações com as professoras e com
as demais crianças;
regulares particulares da cidade de João Pessoa – PB, sendo analisadas duas turmas de uma
escola e duas de outra, como também 4 crianças com diagnóstico do espectro autista, com
pais/mães.
população mais acessíveis (Richardson et al., 1985). Já no que se refere à idade das crianças,
pesquisas sobre inclusão em crianças pré-escolares, tendo em vista que esta época caracteriza-
se pelas primeiras experiências com outras crianças fora do contexto familiar. Abaixo são
que já foi enfatizado por (Bosa, 2006), optou-se pela realização das entrevistas apenas com
elas. Entretanto, duas das quatro mães contatadas solicitaram a participação dos pais na
sintomas. Destarte, optou-se por atender à solicitação dessas mães com o objetivo de
assegurar a participação das mesmas no presente estudo, como também de obter dados a partir
de favorecer maior apreensão das informações relatadas pelas pessoas entrevistadas. Para
as observações das situações de pátio e sala de aula, foram utilizadas filmagens através de
uma câmera de vídeo digital, uma vez que este recurso possibilita o registro em detalhes da
espectro autista em diferentes áreas, também foi utilizada a escala de avaliação CARS
(Childhood Autism Rating Scale) com o objetivo de caracterizar as crianças deste estudo
87
(conforme Anexo G). Cabe ressaltar que foram encontradas evidências de validação da CARS
para uso no Brasil a partir do estudo realizado por Pereira (2007), os resultados indicaram que
A CARS consiste em uma escala de avaliação cujo objetivo é identificar crianças com
autismo, distinguir casos de autismo leve, moderado e grave, além de discriminar as que
apresentam atraso no desenvolvimento sem autismo. Autores como Lampreia (2003), Pereira,
Riesgo e Wagner (2008) afirmam que a aplicação pode ser feita por profissionais de qualquer
de aula) e registros (relatos dos pais, registros históricos) através de pontuações nas seguintes
áreas: imitação, resposta emocional, uso do corpo, uso de objetos, adaptação a mudança,
resposta visual, resposta auditiva, resposta e uso do paladar, cheiro e tato; medo ou
(sintomas autistas graves). A pontuação varia de 15 a 60, e o ponto de corte para autismo é 30
(Schopler; Reichler; Vellis, & Daly, 1980; Pereira et al., 2008). De acordo com Rapin e
Godman (2008) a CARS é o instrumento mais usado e mais bem documentado desde sua
assim como a autorização prévia para a realização no estudo. Desses, apenas dois consentiram
permissão para a participação das crianças do espectro autista no referido estudo. Em seguida,
análise dos dados, além do esclarecimento dos compromissos éticos adotados e dos termos de
Após a obtenção dos consentimentos das escolas e das famílias, foi iniciada a etapa de
de interação social nas escolas regulares. Para tanto, foram realizadas duas filmagens em cada
sala que estas deveriam comportar-se de forma mais natural possível, agindo como
habitualmente fazem na rotina escolar, tanto na sala de aula quanto no pátio. Em seguida, as
três etapas sendo a primeira voltada para as entrevistas dos pais e professores, a segunda para
da técnica de Análise de conteúdo temática proposta por Bardin (1977). Os resultados foram
situação de pátio e sala de aula, foram transcritos de forma integral 10 minutos de cada
situação. Posteriormente, foram elaboradas, a partir da análise dos dados, dos objetivos do
estudo e da literatura, categorias dos comportamentos das crianças do espectro autista, das
situações propostas. Destaca-se que a análise dos sistemas de categorias baseou-se em uma
nos contextos de pátio e sala de aula. Após as análises das categorias comportamentais das
professoras, como também das crianças com espectro autista, são apresentados os episódios
90
caso das quatro crianças com espectro autista participantes do estudo nos contextos de sala de
aula e pátio. Para tanto, são consideradas as análises das categorias comportamentais
supracitadas, bem como dos episódios interacionais, tanto em termos de frequência, quanto
em termos qualitativos.
Tendo em vista as etapas mencionadas, segue uma discussão geral dos dados,
etapa de análise dos dados, a partir dos objetivos do estudo e da literatura na área.
91
Em relação à concepção sobre o filho foi possível observar que a maioria dos
pais/mães concebe seus filhos como crianças carinhosas, afetuosas e cativantes. São exemplos
“Ele é carinhoso demais, afetuoso, apesar de não vir abraçar e beijar as pessoas desconhecidas, mas a
família, com a família ele faz muito, recebe a gente bem quando a gente chega em casa, a gente se beija”
Também foram observadas categorias de respostas que revelam o fato de que as mães
exemplo. Também são destacadas pelas mães características como ser curioso/esperto, bem
Estes dados corroboram as ideias de Höher Camargo (2007) que afirma que a noção de
uma criança não comunicativa, isolada e incapaz de demonstrar afeto não corresponde às
autismo é considerado um espectro, não pode ser tratado como uma entidade nosológica
fechada (Ortega, 2009; Elias & Assumpção Jr., 2006). De maneira que, em relação ao contato
físico, por exemplo, nem sempre estas crianças apresentam aversão ao toque (Klin, 2006).
92
“Não dizer o que quer, eu acho assim uma parte muito ruim até para quem convive com eles... às vezes,
eles falam muito, eles falam tudo, mas não comunicam, não explicam, não conversam” (Mãe,
participante 4).
isolamento. Assim, embora a criança apresente dificuldades em interagir, ela não busca ficar
sozinha. É importante ressaltar que uma das mães entrevistadas apresentou uma definição
relacionada à tendência da criança a viver em um mundo particular, muito embora aborde seu
filho como uma criança carinhosa e que interage bem. A dificuldade em definir o autismo
também foi mencionada, sobretudo, ao considerar os casos mais leves. Abaixo exemplos de
“Uma criança assim, mais arredia, que não gosta de, não é nem de ficar sozinha, é de ficar com suas
coisas... Ele gosta de estar comigo junto, mas não compartilha muito comigo as coisas que está
“É uma criança que tem um déficit de interação social e tende a viver o mundo dele... alguns com um
déficit motor associado, outros têm um déficit de aprendizado maior, outros meno,r e isso é a grande
Nesse sentido, destaca-se que os pais/mães ao referirem-se aos seus filhos adotam
filho. Assim, esses mesmos pais/mães quando questionados em relação ao espectro autista, de
uma maneira geral, demonstraram adotar concepções menos rígidas e mais positivas, embora
típico de uma criança é caracterizada por relatos que envolvem aprendizagens acadêmicas,
como também o simples fato de a criança vivenciar experiências de crianças da mesma faixa
etária.
Este resultado pode ser entendido a partir de Bosa (2006) ao afirmar que em relação às
destaca-se que no presente estudo, as crianças com espectro autista apresentam níveis entre
leve e moderado, de acordo com a escala CARS. Neste sentido, os níveis de autismo
pais.
em suas verbalizações as diferentes habilidades adquiridas pelos seus filhos após a entrada na
comportamentos de independência.
94
“Foi mais assim, para socializa,r né, não era nem tanto assim para aprender nada... como ele é uma
criança muito hiperativa, eu achava muito difícil alguém conseguir ensinar alguma coisa para ele”
“Eu queria que ele experimentasse as coisas que uma criança normal experimenta, tanto que eu não fiz
filho a maioria demonstra satisfação, sendo que uma das mães destaca o investimento em uma
comportamentos de receptividade dos outros pais com seu filho; além de outras duas que
do seu papel para que a inclusão escolar dos seus filhos se efetive. De acordo com Canziani
(2002) o processo de inclusão tem seu início no âmbito familiar, logo, a criança precisa ser
aceita tal como ela é pela sua família, para posteriormente ser integrada na sociedade/escola.
Interessa ressaltar que uma das mães coloca a sua importância não só em termos do seu filho,
mas também no sentido de ajudar mães de crianças que estão na fase inicial, muitas vezes sem
o diagnóstico. Outra mãe relata que, embora estimule seu filho, prefere não interferir nas
questões pedagógicas.
“O papel da família é grande, é bem grande (...) achar que incluir é somente colocar na escola é estar
se omitindo, né? (...) Eu acho interessante realmente a gente abrir a mente dessas pessoas, explicar
como e treinar mesmo para poder lidar com nossos filhos” (Mãe, participante 4).
foram mencionados: psicopedagoga (3); fonoaudióloga (3); psicóloga (2); educador físico (2)
95
filho, todos destacaram mudanças positivas em seus filhos, sobretudo em relação aos avanços
“Ele vai para a escola feliz, não joga mais a roupa fora (...,) ele melhorou bastante, a socialização (...),
ele tenta participar (...), não prestar atenção nas coisas, hoje ele melhorou muito (...), a gente chamava
e ele ignorava totalmente e hoje ele atende (...), não era carinhoso (...), hoje, quando a gente sai ele
“Ele gosta de estar lá (...), o brincar naquele pátio com ele melhorou, ele não queria, ia lá pro
cantinho; ainda hoje ele chega e fica lá no cantinho, mas ele chega, ela puxa, ele fica lá sentadinho
com os colegas (...), ela bota ele pra sentar, no lanche ele está comendo sozinho (...)” (Mãe,
participante 3).
Destaca-se que, embora seja um grupo pequeno, os pais/mães tem em comum uma
percepção positiva acerca do seu filho, o que vem a refletir nas concepções adotadas por eles
em relação à sua criança, como também em relação ao autismo. Outro aspecto em comum
refere-se à satisfação com o processo de inclusão escolar dos seus filhos, o que é justificado a
partir dos relatos das aquisições obtidas pelas crianças após a entrada na escola.
Como pode ser observado, não houve grande diferenciação entre as mães; considera-se
que todas trouxeram informações relevantes sobre como concebem seus filhos e a inclusão
escolar dos mesmos. A esse respeito vale ressaltar que, embora as crianças apresentem
Dando seguimento à apresentação dos resultados, são descritas abaixo as análises das
maneira geral, foram mencionadas pelas referidas profissionais como sendo crianças agitadas,
crianças de sua turma, destacando o aluno com espectro autista como sendo mais “adiantado”,
atribuindo essa característica aos estímulos precoces oferecidos pelas terapias que realiza.
tesouras; aprendizagem da escrita do primeiro nome, antes mesmo das demais crianças de sua
faixa etária; além de comportamentos como vestir-se, despir-se e agir com autonomia nas
diferentes atividades da rotina escolar. A esse respeito destaca-se Silva e Mulick (2009)
quando afirmam que, em muitos casos, o diagnóstico em crianças de tenra idade, seguidos da
desenvolvimento da criança a tal ponto que ela venha a atingir níveis apropriados para a sua
faixa etária.
reformulando suas concepções a partir das experiências estabelecidas com estas crianças no
“A gente só escutava falar assim que o autista era uma pessoa que era só ele, só vivia ele e quando eu
cheguei aqui eu vi que não era nada disso (...,) a gente começa a entender que eles não são tão
individualistas, porque ele chega abraça, são carinhosos, entendeu? Mas claro que eles têm o momento
De acordo com Lago (2007) atualmente há, por parte dos professores, relatos de
experiências bem sucedidas de crianças com espectro autista que frequentam escolas regulares
relatadas também queixas em relação à falta de formação adequada para trabalhar com estes
autista, a partir de suas experiências em sala de aula, quais sejam: dificuldade em interagir
também que a maioria das profissionais caracteriza a criança autista como carinhosa e, apenas
das professoras relata com sendo um desafio. Entretanto, as respostas se diferenciam, pois três
adquiridas pela criança e, uma delas no sentido negativo, destacando que a formação não
oferece o suporte necessário para lidar com as questões da criança e a dificuldade em entender
o que ela pensa e deseja naquele momento para poder ajudá-la, além dos próprios
salientar que embora esta profissional tenha mencionado tais desafios, ela se descreve como
uma pessoa realizada. Por outro lado, também foi abordada pelas professoras a oportunidade
escolar.
“Foi um desafio, foi a minha primeira experiência, mas, assim, eu encarei esse desafio como uma
possibilidade para crescer pessoal e profissionalmente e, assim... (olhos enchem de lágrimas, risos,
silencia...) e foi muito bom porque, assim, eu cresci mesmo como pessoa e como profissional... então, é
um desafio, mas é um desafio que para mim está sendo muito prazeroso” (Professora, participante 1).
Sobre a concepção de inclusão escolar a maioria demonstra ideias que vão além da
inseridas naquele espaço físico, mas também desfrutando da vivência com diferentes pessoas
e situações sociais e também aprendendo. Além disso, foram destacados outros aspectos que
“Bom, para mim, inclusão é eles estarem aqui na escola, na escola dita normal e interagindo com as
outras crianças, mas o importante para mim é que eles estejam no ambiente e estejam interagindo com
os outros, vendo a rotina de uma escola, participando e também tendo apoio da família e do pessoal do
envolvem a socialização e a integração das crianças com espectro autista às demais crianças.
Também foi relatada a utilização de músicas, imagens, jogos e materiais concretos, como
de comportamento.
“As estratégias, é mais assim, envolver ele com algum objeto, aí ele manuseia o objeto, aí eu jogo para
ele, ele joga para mim, naquela dificuldade, mas ele faz... boto ele no chão, de frente para mim, e fico
jogando, pego na mão dele e fico correndo, aí depois que eu vou para o lápis, para ver se consigo
“Muitas coisas que a gente vai adaptando a ele também, vai tirando algumas coisas para ele ir
interagindo mais com os outros. Não é? Porque, se deixar, ele fica com a revista a manhã inteira, a
gente que tem que tirar essa revista, chamar ele para o grupo para participar, para brincar, tem hora
que ele se dispersa mesmo, mas aí tem os momentos dele seguir igual aos outros, brinca, e eu tento
tratar ele igual aos outros também que tem hora que eles se dispersam” (Professora, Participante 2).
Destaca-se nas verbalizações dessas profissionais certa ênfase nas dificuldades que
surgem durante a rotina escolar em face da falta de informações sobre como lidar nas
diferentes situações com essas crianças. Segundo Hess et al. (2008) menos de 10% das
estratégias utilizadas pelos professores baseiam-se em práticas com base científica. De acordo
com Lira (2004) o desconhecimento por parte dos professores de ações específicas para esta
área, cursos e supervisões que promovam conhecimentos sobre como atuar com estes alunos,
processo de inclusão (Sant’Ana, 2005; Ferreira, 2003; Ribeiro, 2003; Silva, 2003; Borges,
2000).
processo de inclusão escolar do filho com espectro autista. Uma das professoras refere-se ao
“Bom a família dele é bem participativa, eles realizam sempre as tarefas de casa, sempre dão atenção a
tudo que é pedido na agenda, sempre dão retorno. Quando eu estou mostrando as tarefas de casa,
na correção eu sempre mostro a dele, olha como ficou linda a tarefa de V, aí as crianças também
percebem que ele segue tudo, ele faz a tarefa de casa, também, ele tá no desfile, na festinha, tudo ele
está lá socialmente interagindo, tudo a família que manda” (Professora, participante 4).
Nesse sentido, autores como Panerai et al. (2009) afirmam que, ao tomarem para si a
responsabilidade da educação de seus filhos, os pais são capazes de promover muitos aspectos
caracterização dos participantes deste estudo, as crianças são bem assistidas, todas estão
inseridas na escola há pelo menos 9 meses, dependendo da idade. Além de recebem desde
métodos específicos para crianças com espectro autista através das associações AMA ou
ASAS, por exemplo), tudo isso relaciona-se de maneira positiva com o desenvolvimento
prática inclusiva destacam aspectos positivos, assim como os êxitos obtidos pelas crianças,
101
instruções, interação com as crianças, imitação, contato visual, tempo de atenção, maior
como Silva (2003), Batista e Enumo (2004) e Ferreira (2007) ao considerar os docentes como
atores fundamentais para o processo de inclusão escolar. Os docentes lidam diretamente com os
alunos sendo, portanto, os agentes mais eficazes na inclusão, onde muitas vezes o sucesso ou
PROFESSORAS
professoras nessas interações, como também a participação da criança autista. Nesse sentido,
(Salomão, 1996; Braz & Salomão, 2002; Borges & Salomão, 2003).
102
Categorias Definições
Observar Professora observa a atividade da (s) criança (s).
Apontar/mostrar Comportamentos não verbais de mostrar ou apontar, com a finalidade de chamar atenção da criança
para um objeto, pessoa ou ação no processo de interação.
Gesticular Comportamentos não verbais com a finalidade de comunicar algo à criança no processo de interação.
Apoio físico Comportamentos que promovem ajuda/auxílio físicos à criança, como: tocar, conduzir, fazer uma
determinada ação junto com a criança.
Modelo Comportamento destinado a ser reproduzido por imitação.
Demonst. de afeto Comportamentos não verbais que expressam afeto, como: beijar, abraçar, sorrir, fazer cócegas.
Comando ou ordem possuindo um componente imperativo interpretável que dirige o comportamento
ou verbalizações da criança.
Diretivos - Diretivos de instrução: verbalização explícita do que se deseja da criança, usualmente,
relacionada aos objetos que estão utilizando.
- Diretivo de atenção: indica chamar a atenção da criança, usualmente, pelo seu nome, pedindo
que ela se aproxime ou olhe para algo.
Informação Nomeação de um objeto e suas características ou descrição de uma ação para promover informações.
Feedback Enunciados que expressam aprovação ou desaprovação em relação a um comportamento da criança.
verbais nos contextos de sala de aula e pátio das quatro professoras participantes deste estudo.
autista
observar, todas as professoras os fazem em maiores frequências nos contextos de pátio, dado
contexto de sala de aula, onde estavam sempre dirigindo atenção às crianças individualmente
adulto em situações mais livres (pátio e brinquedo livre, por exemplo) e corroboram o estudo
realizado por Rocha (2006), ao destacar que o adulto torna-se menos diretivo nesses
atenção ao que a criança está fazendo, bem como no que ela consegue ou não fazer nesses
habilidade de atenção conjunta durante a fase diádica, os bebês interagem diadicamente com
Nessa direção, de acordo com Nogueira e Seidl de Moura (2007) há evidências de que
bebês, mais tarde diagnosticados como autistas, não apresentam comprometimentos nessa
fase. Com efeito, mostrar ou apontar, sobretudo, objetos para essas crianças são ações que
(2008) afirmam que a partir da interferência de um interlocutor, sujeitos com autismo são
ausente.
linguagem.
Quanto ao apoio físico, não foram observadas grandes variações em termos dos
contextos de sala de aula e pátio. Não obstante, destaca-se a importância da utilização desse
Silva (2010) evidenciou que aproximadamente 90% das mães se utilizaram da combinação de
uma ação motora com uma verbalização para chamar atenção da criança autista para o objeto
professoras, dado que a maioria das profissionais não dirigiu esses comportamentos às
crianças autistas. Assim, ao analisar este resultado, é importante ressaltar que há um consenso
na literatura no que diz respeito às dificuldades por parte das crianças autistas em realizar
comportamentos de imitação (Colombi et al., 2009). Nessa direção, uma vez que as
Jr., Seidl de Moura & Bornstein, 2007), entende-se a baixa frequência de ocorrência desses
comportamentos.
Por outro lado, é preciso mencionar a relevância dos modelos para a aquisição de
novos repertórios comportamentais por parte da criança autista. Autores como Lampreia
(2007) e Colombi et al. (2009) defendem a relevância dos modelos de desenvolvimento para
orientar a realização de tratamentos mais eficazes para as crianças com autismo, cujas
habilidades sociais específicas, dentre elas a imitação, podem ser melhoradas, tendo em vista
que essas crianças demonstram uma capacidade parcial de realização social. Dessa maneira,
interpessoal para aquisição de habilidades ressaltando o suporte do adulto, uma vez que,
desta última.
distinção em termos de frequência nos contextos analisados. De maneira geral, poucos foram
de pátio, dirigiram às crianças autistas comportamentos como sorrir, beijar, abraçar e fazer
cócegas, por exemplo. Esses resultados corroboram os achados de Höher Camargo (2007) e
Orrú (2007) que afirmam que, no pátio, as relações sociais se constroem na própria prática
106
social dos alunos, onde são mais frequentes os comportamentos de sorrisos e demonstração de
afeto.
parte dos professores, tendo em vista que os comportamentos de apego das crianças com
autismo caracterizaram-se muito mais pelas respostas às solicitações do que pela iniciativa
(Sanini et al., 2008). Esses dados reforçam as ideias de que as peculiaridades dos
comportamentais analisadas. Também foi observado na maioria das profissionais que o uso de
diretivos ocorreu em maiores frequências no contexto de sala de aula. De acordo com Borges
e Salomão (2002) o uso de diretivos tem sido alvo de debates e investigações quanto a sua
de estudos que verificaram uma relação negativa entre as formas de diretividade materna e
algumas medidas no avanço linguístico infantil. Não obstante, as autoras mencionam estudos
que observaram que a fala diretiva pode ser benéfica para o desenvolvimento linguístico de
crianças pequenas, considerando também que o modo através do qual os enunciados diretivos
surgem durante as interações pode variar em função das características individuais da criança,
tais como seu nível de desenvolvimento linguístico, sua faixa etária e as diferenças entre as
crianças.
Não há consenso na literatura quanto ao uso de diretivos. Autores como Tomasello (2003)
mais amplos em relação àquelas têm sua atenção direcionada para algo novo. Por outro lado, mais
especificamente em relação a crianças com espectro autista, autores como Miilher e Fernandes
(2006) arguem nestes casos uma atuação mais intensa e diretiva. Os resultados da pesquisa de
107
Sigolo (2000) evidenciam que a diretividade pode ser uma variável que promove o
não deve ser a única dimensão determinadora da qualidade do estilo interativo materno.
demonstram dificuldades em utilizar prompts verbais (dicas ou feedbacks, por exemplo) que
(2004) afirma que o adulto e a criança são mutuamente envolvidos em uma atividade e
ambos, nesse intercâmbio, modificam as suas ações de acordo com o feedback que recebem
concorda-se com autores como Menezes e Perissinoto (2008) que demonstraram que a
realizada por Chiang (2009) com vistas a analisar a comunicação expressiva apresentada por
crianças autistas a partir das instruções do professor verificou-se que este último se utiliza,
mais comumente, de estratégias como dicas verbais e uma combinação de dicas verbais e
a partir desta última estratégia e, uma minoria, a partir de apenas apoio físico, por exemplo.
Estes resultados reforçam a ideia de que os professores precisam ser melhor instruídos
quanto à utilização de estratégias referentes à comunicação tanto verbal e quanto não verbal
utilizavam poucos modelos e, menos ainda, associados às dicas verbais, o que de acordo com
Uma vez que foram expostas as análises das categorias comportamentais das
professoras, serão apresentadas as análises das categorias comportamentais das crianças com
espectro autista, elaboradas a partir dos objetivos do estudo e da literatura (Miilher &
Fernandes, 2006; Sanini, et al., 2007; Menezes & Perissinoto, 2008; Chiang, 2009; Silva,
2010), considerado o fluxo das interações estabelecidas nos contextos escolares de sala de
aula e pátio.
Categorias Definições
A criança vira a cabeça e/ou os olhos em direção a pessoas, ações ou objetos. São exceções os olhares nas
situações em que a criança está dispersa ou sem um foco específico observado pelo pesquisador.
- Olhar pessoas: A criança vira a cabeça e/ou os olhos em direção à pessoa, ao rosto da pessoa ou às
pessoas que se encontram em seu campo visual.
- Olhar ações: A criança não olha diretamente a pessoa, mas sim o que ela está fazendo. Vira a cabeça
Olhar e/ou os olhos em direção às mãos de uma pessoa que manipula algum objeto; ou em direção às mãos da
professora que está estendida para recebê-la; ou ainda alternando olhares entre as mãos da pessoa, o que ela
109
A tabela a seguir exibe os resultados obtidos a partir da análise das filmagens realizadas
nas escolas nos contextos de sala de aula e pátio. Estão dispostas as frequências de
comportamentos das quatro crianças com diagnóstico de espectro autista participantes desse
estudo.
110
Imitação 2 1 2 0 1 1 3 3
Sorriso 17 24 11 2 27 21 0 1
Carinho 0 4 0 0 0 0 0 0
Interação Passiva 11 26 7 1 11 3 5 1
Esquiva 4 2 8 6 3 1 11 1
Isolamento 0 1 11 5 1 11 4 0
de maneira distinta, considerando os focos de olhar pessoas, olhar objetos e olhar ações. De
crianças autistas, apesar de demonstrarem tendências a evitar contatos visuais com outros
parceiros, o estabelecimento deste contato é possível, mesmo que de forma breve. Nesse
muito embora, na maioria das vezes, por intervalos muito curtos, considerando em termos de
segundos. Posto isto, destaca-se a importância de realizar estudos que verifiquem não apenas
em vista que esses olhares da criança autista são, muitas vezes, desconsiderados pelos adultos
olhar objetos (149), que ocorreram em maiores frequências no contexto de sala de aula.
vezes diretamente à criança autista. Nessa direção, destaca-se a participação da criança autista
nas interações estabelecidas em sala de aula, dado que olhavam os objetos manipulados
Outrossim, Baron-Cohen (2008) afirma que devem ser trabalhadas com as crianças
autistas, além das palavras e habilidades verbais, habilidades sociais como atenção conjunta
atenção em comum num objeto. Nesse espeque, Nogueira e Seidl de Moura (2007) enfatizam
que as crianças autistas ao olharem objetos mostrados pelos adultos, demonstram pré-
pátio. Esse resultado corrobora Kasari et al. (2010) ao afirmar que, nas situações de sala de
participação da criança autista deve ser considerado por seus parceiros interacionais, tendo em
comunicação e na interação social, o que não significa que não se engajem e respondam a
interações sociais (Capps & Mundy, 1994, citados por Napoli & Bosa, 2005). Dito de outro
ações.
entendida a partir de Nogueira (2009) ao mencionar que, embora, elas respondam a outros que
com elas iniciam interações, não esboçam por si mesmas, em muitas das vezes,
comportamentos de iniciativa para ocorrência de trocas desta natureza com seus parceiros,
parecendo estarem pouco interessadas ou mal equipadas para iniciar contatos sociais.
al. (2008) pontuam que a análise direcionada às condutas de iniciativa da criança autista
pátio contaram com pouca participação da professora, de maneira que apresentaram maiores
frequências de respostas adequadas no contexto de sala de aula, tendo em vista que nesse
contexto elas ocorrem e quais estímulos as antecedem, por exemplo. Posto isto, são obtidas
em ambos os contextos analisados. Destaca-se que esse resultado, de certa maneira, era
113
esperado tendo em vista a dificuldade por parte da criança autista em realizar esses
comportamentos. Por outro lado, havia uma expectativa também de que estes comportamentos
fossem um pouco mais frequentes considerando o que foi dito nesse sentido pelos pais/mães e
momento em que foi realizada a coleta dos dados. Dessa maneira, é importante ressaltar a
contexto, dado que algumas crianças apresentaram mais comportamentos de sorriso em sala
de sorriso (103) apresentados pelas crianças autistas do presente estudo com as verbalizações
dos seus respectivos pais/mães, ao mencionarem as mudanças positivas em seus filhos após a
entrada na escola, sobretudo em relação aos avanços nas áreas de socialização, comunicação,
Nessa direção, destaca-se que a maioria das crianças não demonstrou comportamentos
de carinho em nenhum dos contextos. Não obstante, alguns desses comportamentos foram
observados no momento em que a pesquisadora desligou a câmera. Dessa maneira, não foram
estudos de caso descritos no subcapítulo seguinte. De maneira geral, importa ressaltar que
nem sempre essas crianças demonstram aversão ao toque (Klin, 2006). Ademais, ao relacionar
interessante notar que essas crianças demonstravam suas características interacionais a partir
maneira como ela participa das interações. Nesse sentido, cabe ao professor que lida
diariamente com a criança verificar o que ela demonstra quando está junto às demais crianças:
se, por vezes, olham, perceber para onde olham; se iniciam comportamentos, verificar a que
são dirigidos ou; se sorriem, observar a partir de qual estímulo, por exemplo.
de aula, destaca-se Lira (2004) ao afirmar que os comportamentos desadaptativos das crianças
autistas nesse contexto ocorrem notadamente como esquiva à tarefa solicitada. Ou mesmo os
que são intensas para essas crianças; em outras palavras, é uma forma de protesto contra a
adequada e sorriso. Não obstante, é necessário dispensar auxílio ou atenção, dado que esses
isolamentos podem ter como função escapar de situações ou atividades que causam
sofrimento, obter objetos desejados ou obter estimulação, por exemplo (Bosa, 2006).
(2006) no sentido de que um olhar mais cuidadoso e uma escuta atenta permitem a descoberta
e a valorização do grande esforço que essas crianças parecem desprender para lançar mão de
quais contextos ocorrem é de grande relevância para as práticas dos professores no cotidiano
do educador que trabalha com a criança autista, no sentido de procurar compreender quais são
e como se dão as competências dessas crianças, que precisarão ser sustentadas na relação com
115
elas. Conforme a autora, não perceber tais aspectos implica a diminuição das oportunidades
ainda maior.
completos ou incompletos.
caracterizadas pela presença de um contexto (pátio ou sala de aula), uma ação do sujeito 1,
uma reação do sujeito 2 e novamente uma ação do sujeito 1, esta que denota
professora, como das crianças típicas ou das crianças autistas, tendo sempre estas últimas
como sujeito 1 ou 2 considerando que é a ênfase desse estudo. Nesse sentido, novas ações e
reações podem acontecer desde que seja mantida a atenção em comum, ou seja, o episódio
Hugo: No mesmo instante, olha em direção ao papel/atividade, levanta os braços, sorri e diz: “É, ê!”.
Professora: Imita o comportamento da criança, olha em direção à mesma sorrindo, levanta os braços e
diz: “Já também, Hugo? Muito bem!”, ao mesmo tempo em que pega o papel e ergue em direção às
Hugo: Sorrindo, olha para baixo, em seguida direciona o olhar para o papel/atividade da criança à sua
frente.
interacional completo visto que, neste último, além da resposta da criança autista ao
medida em que não há novos comportamentos por parte de quem iniciou a interação.
sejam termos distintos, considera-se que neste último há presença de pelo menos uma
pelos participantes.
comportamento de olhar, por exemplo, pode ser considerado resposta adequada, se ocorre
117
em um contexto em que a professora chama a criança pelo nome e ela olha; ou como olhar
demais crianças, quais sejam: olhar dirigido à criança autista; convite, sendo este com ou sem
por ações que demonstram a intenção em interromper uma dada situação com a criança com
espectro autista, sejam elas sair, virar o rosto, dirigir-se a outro lugar ou afastar-se. Entretanto,
embora tais comportamentos não tenham sido contabilizados nos protocolos em termos de
maior de episódios interacionais que não se completam. Este resultado corrobora a literatura
(2010) aborda em seus estudos como evento de desengajamento, em que um parceiro tenta
chamar a atenção do outro e não é capaz de captar a sua atenção. É interessante notar que,
conforme a autora, muitas das vezes, o adulto consegue chamar atenção da criança autista,
118
entretanto, tende a não dar continuidade às ações que foram foco inicial da troca diádica.
Muitas das vezes, essa característica foi observada nos comportamentos das professoras
bem como as várias habilidades imbricadas nesse processo, sobretudo, por tratar do espectro
autista em face da variabilidade na manifestação dos sintomas nas diferentes fases da vida das
social dessas crianças no que diz respeito ao tipo de contexto no qual a interação ocorre, à
linguístico e simbólico, temperamento e gravidade dos sintomas (Rivière, 1996; Napoli &
que os episódios parecem se completar na medida em que ocorrem mais vezes, ou seja, no
Esses resultados corroboram Kasari et al. (2010), na medida em que não foram
afirmarem que o pátio, embora apresente uma boa configuração para intervenções de
competências sociais, parece ser mais difícil para a criança autista por ser, muitas vezes,
caótico e lotado.
119
apenas das professoras e crianças da turma analisada. Mesmo com um número reduzido de
crianças, foi possível observar que a maioria das crianças autistas, quanto mais livres, mais
comportamentos de iniciativa.
homem se desenvolve, tais trocas remetem ao conceito de mediação, que segundo o referido
autor desempenha um papel fundamental, onde as trocas que a criança exerce com outras
destaca-se que há em comum entre eles a utilização de objetos como instrumentos nas
interações. Este refere-se a um dado importante na medida em que fornece pistas para os
profissionais em termos de intervenção. Nesse sentido, Silva (2010) em seu estudo considera
criaça autista. Segundo a autora, a criança e a mãe ao se engajarem em trocas de ações que
seguintes questões de pesquisa: O que ocorre em comum nesses episódios interacionais? Com
quem são estabelecidas essas trocas? Como se caracteriza a mediação das professoras?
Como se dão as participações das crianças autistas? Nessa direção, dentre os episódios
120
autista e das demais crianças estabelecidas nos contextos de sala de aula e pátio.
Como subsídios para análise dos dados supracitados foram utilizados estudos de casos,
expostos a partir das análises de cada criança, a partir das situações de sala de aula e pátio.
Esse subsídio fornece maior aprofundamento sobre as estratégias utilizadas pelas professoras
para interagirem com os alunos, mantendo-os engajados nas atividades propostas, bem como
acordo com o autor, as ideias sugeridas por estudos de caso podem levar pesquisadores a
desenvolver hipóteses que poderão ser testadas por meio de outros métodos. Nessa direção,
Hobson (2008) destaca que não há melhor maneira de começar a entender as pessoas, seja
"normal" ou com deficiência, seja adulto ou criança, do que observar e analisar alguns indivíduos
muito de perto.
A filmagem no contexto de sala de aula registra uma situação de atividade dirigida que
refere-se a uma pintura em folha de papel utilizando tintas guache e conta-gotas. Nesse
momento as crianças estavam sentadas em suas cadeiras, a auxiliar sentada próximo a elas e a
professora de pé, caminhando pela sala de aula, enquanto falava, dando instruções para a
realização da tarefa e chamando atenção, através de gestos e diretivos, para que as crianças a
121
olhassem ao falar ou mostrar algo relacionado à tarefa, como também olhassem a tarefa e os
materiais utilizados.
crianças, de uma maneira geral, maiores frequências no uso de informações (11), diretivos
de instrução (12) e de atenção (12), bem como dos comportamentos de apontar (11). Estes
comportamentos não verbais e estilos linguísticos são utilizados dados a faixa etária das
criança autista, foi observado em maior frequência o uso de apontar (6), apoio físico (7),
diretivos de instrução (8) e de atenção (6). Entretanto, sempre que a professora demonstrou
apoio físico, ela o fez dando continuidade aos comportamentos já iniciados pela criança
autista, ou mesmo fazendo junto com ela. O mesmo acontece com os diretivos, muitas das
vezes a professora dirigia uma instrução à criança autista quando esta já estava realizando a
ação mencionada pela professora. Ainda sobre o uso de diretivos, houve momentos em que a
olhar os objetos (8) que dispõe, demonstrando iniciativa em direção aos mesmos (12).
olhar ações (28) e interação passiva (11). Assim, embora a criança autista demonstrasse
pouca iniciativa dirigida às demais crianças, ela ficava próxima, olhava em direção às ações
esta criança feedbacks de aprovação ao invés de diretivos, uma vez que a criança já
consegue realizar as ações que estão sendo mediadas pela professora através do apoio físico e
das instruções.
autista ficava próxima às demais olhando-as e olhando as ações das mesmas, como também
considerados completos (6) deles. A partir de uma análise qualitativa desses episódios,
Em relação aos comportamentos das crianças típicas dirigidos à criança autista na sala
de aula houve olhares (2) e convite sem mediação da professora (1). Nessa direção, vale
ressaltar o tipo de atividade que estava sendo realizada nesse contexto pois, de uma maneira
geral, as crianças interagiram pouco entre si e com a professora, permanecendo a maior parte
de aula aguardando o momento para iniciar a filmagem da situação de pátio. Durante esse
período as crianças lavaram as mãos, ficaram sem atividades dirigidas e, logo em seguida,
comportamentos de convite para brincar das demais crianças em relação à criança autista,
acontecem. Tais brincadeiras ora são iniciadas pelas crianças, ora são iniciadas pelas
professoras.
os seguintes: observar (10), apoio físico (13), diretivo de instrução (12) e demonstração de
afeto (8), dirigidos tanto às crianças com desenvolvimento típico quanto à criança autista.
Elucidando esses dados, destaca-se que a professora, na maioria das vezes, observava as
tinham como função geralmente tentar inserir a criança autista na brincadeira, solicitando, por
exemplo, que a criança típica repetisse um comportamento que a criança autista tinha
frequências, por parte da professora comportamentos de observar (5), gesticular (5), apoio
124
iniciativa dirigida à ação (38), resposta adequada (11), sorriso (24) e interação passiva
entre a professora e a criança autista indica a reciprocidade entre as ações das mesmas. Assim,
sua compreensão em relação ao meio e aos comportamentos não verbais presentes no mesmo.
A professora, por sua vez, percebia tais comportamentos da criança autista e realizava gestos
e apoios físicos, ambos notadamente a partir do interesse e dos comportamentos emitidos pela
criança autista.
Outro aspecto relevante refere-se aos comportamentos das crianças típicas dirigidos à
criança autista, tendo sido frequentes: olhar (19), convite sem mediação (18) e
vezes e por mais tempo à criança com espectro autista. Esta, por sua vez, conforme foi
brincar das crianças típicas em relação às crianças autistas tenham ocorrido todas as vezes
corroboram os resultados do estudo realizado por Höher Camargo (2007), no qual considera-
se que a criança autista é mais solicitada pelo grupo, age com mais independência e expressa
125
melhor suas intenções, além de haver com maior frequência comportamentos de sorriso e
demonstração de afeto.
desses episódios completos revela que eles ocorrem em momentos que envolvem a
maiores frequências de trocas visuais, mais iniciativas por parte da criança autista, bem como
entrevista com sua atual professora, ela o destaca como sendo mais “adiantado”, atribuindo
essa característica aos estímulos precoces oferecidos pelas terapias que realiza. De maneira
linguagem verbal, interage bem, na medida em que olha pessoas, responde adequadamente,
que refere-se à apresentação de sons (chocalho, relógio, por exemplo) e músicas para que
materiais escolares (agendas, lancheiras, por exemplo) e a criança autista caminhando pela
sala manipulando diferentes objetos que encontrava ao seu alcance (carrinho, cartazes, cola,
por exemplo).
uma maneira geral, maiores frequências no uso dos estilos linguísticos diretivos de atenção
(18), diretivos de instrução (37), informação (33) e feedback de aprovação (15). Para
explicitações verbais que indicavam chamar a atenção da criança para que esta identificasse o
som. As explicitações verbais por parte da professora também tinham como função nomear
relação ao uso dos estilos linguísticos. Entretanto, como dirigiu-se a esta criança trazendo-a
para o grupo apenas no momento em que era sua vez na realização da atividade, as
maneira geral. Portanto, foram observados diretivos de atenção (8), diretivos de instrução
crianças dirigindo-se para outros ambientes na sala de aula ou deitando-se no chão afastado
das demais crianças, por exemplo, quando havia mediação por parte das professoras a referida
(13) e iniciativa dirigida a ações (13) por parte da criança autista. Essa tríade de
criança autista na maioria dos seus episódios interacionais completos (7), uma vez que essa
criança interessava-se por objetos, demonstrando isso através do olhar e mesmo de suas
condutas de isolamento, que muitas das vezes tinham como função dirigir-se e manipular
sala de aula, a criança, ao observar um objeto que estava sendo manipulado por uma pessoa,
embora não demonstrasse iniciativa dirigida à pessoa que manipulava o objeto de seu
aproxima-se, pega o chocalho, sorri e começa a movê-lo para cima e para baixo.
de aula aguardando o momento para iniciar a filmagem da situação de pátio. Durante esse
som ligado na sala de aula, manipulando os chocalhos e dançando. Durante esse momento, a
professora auxiliar segurou as duas mãos da criança autista, movendo seus braços ao som da
música junto às demais crianças, em seguida colocou os braços da criança autista no pescoço
de outra criança. Embora a criança autista tenha retirado o braço, ambas as crianças sorriram e
O pátio onde ocorreu a filmagem é pequeno, com apenas um brinquedo que tem um
escorrego, uma plataforma com obstáculos em sua superfície e um túnel na parte de baixo.
escorrego e outras brincam com a professora auxiliar, enquanto a criança com espectro autista
caminha de um lado para o outro, dirige-se ao portão, sobe e desce o escorrego sem, contudo,
uma maneira geral, dirigiu comportamentos de observar (9), diretivos de atenção (12) e
diretivos de instrução (9), sendo que desses comportamentos, (10) dos diretivos de atenção
e (5) dos diretivos de instrução foram dirigidas especificamente à criança autista. Esta que
comportou-se com maiores frequências de olhar pessoas (13), olhar objetos (28), iniciativa
dirigida à ação (16), iniciativa dirigida ao objeto (16) e resposta adequada (8).
Entende-se a partir dos dados obtidos na filmagem que a professora realizou poucas
mediações entre as crianças na situação de pátio; isso pode ser observado até mesmo pelo
comportou-se nesse contexto de acordo com seus interesses, dirigindo-se aos objetos e
cima da plataforma em que, abaixo, estavam várias crianças brincando. Nesse contexto, a
professora utilizou-se de explicitações verbais que indicavam explicar e chamar atenção para
que a criança autista olhasse, através de pequenas frestas no brinquedo, as crianças que
129
estavam na parte de baixo do mesmo. Destaca-se que, durante esse momento, a criança com
Outrossim, salienta-se que este é o primeiro ano de vida escolar da referida criança,
portanto, a mesma frequenta a escola há apenas 9 meses, tanto que as expectativas de sua
família no que diz respeito à escola são relacionadas ao simples fato da criança vivenciar
experiências de crianças da mesma faixa etária. Dessa maneira, como também é o primeiro
ano de vida escolar de outras crianças da sala, a professora menciona em sua entrevista que
embora adapte algumas estratégias no sentido de favorecer a interação da criança autista com
as demais, admite que em muitos momentos ela se dispersa, assim como as outras.
mesma deixa a criança um pouco mais livre, aproximando-se em momentos em que percebe
que ela está mais “disponível”, como ocorrera na situação de pátio, ou mesmo na sua vez
relacionados ao seu pouco tempo de escolaridade, visto que a criança está iniciando o
referida criança, dado que, apesar de não apresentar linguagem verbal, demonstrou vários
A filmagem no contexto de sala de aula registra uma situação de atividade no livro que
crianças estavam sentadas em suas cadeiras divididas em grupos de quatro ou cinco alunos; a
professora caminha pela sala de aula entre as mesas das crianças e senta-se em cada,
caminha pela sala de aula organizando os materiais escolares (agendas, lancheiras, por
exemplo).
relação às crianças de uma maneira geral categorias comportamentais verbais e não verbais de
refere aos estilos linguísticos dirigidos à criança autista, a professora utilizou diretivos de
atenção (10) e feedbacks (7). Entretanto, como pode-se observar, a maior parte dos
feedbacks emitidos pela professora foram dirigidos à criança autista, assim como todos os
maior frequência de apoio físico (8) dirigido especificamente à criança autista. Quanto aos
comportamentos de apontar (9), observou-se que foi dirigido pela professora apenas à
criança autista, na medida em que explicava a atividade ou chamava atenção da criança para
olhar objetos (28), olhar pessoas (24), iniciativa dirigida a ações (11), resposta adequada
(12), interação passiva (11) e sorriso (27). Tendo em vista os comportamentos mencionados
recebido da professora mais apoio físico e mais dicas verbais e gestuais para realização da
131
atividade, ela permaneceu sentada junto às demais crianças e concluiu a atividade, fazendo as
se que ela não demonstra iniciar ações dirigidas às pessoas e, mesmo tendo linguagem oral,
professora. Por outro lado, a criança demonstra compreender as demandas do meio a partir
feedbacks nesses episódios, demonstrando para a criança, a partir de elogios, por exemplo, os
mencionado, cita-se: a professora, sentada ao lado da criança, fala ao mesmo tempo em que
conduz a mão da criança em direção às bolinhas de papel: “Oh Mário, pega!”. A criança
diz: “Vai!”. A criança passa o papel da mão esquerda para a mão direita e cola a bolinha na
pequeno, com apenas um brinquedo que tem um escorrego, uma plataforma com obstáculos
em sua superfície e um túnel na parte de baixo. Nesse contexto, algumas crianças brincam de
“pega”, outras brincam descendo o escorrego, outras simplesmente correm pelo pátio,
132
enquanto a criança com espectro autista caminha de um lado para o outro, dirige-se ao portão,
sobe e desce o escorrego sem, contudo, engajar-se em alguma brincadeira com as crianças ou
uma maneira geral, dirigiu comportamentos de observar (11), apoio físico (12), diretivos de
atenção (11), diretivos de instrução (44) e informação (17), sendo que, desses
comportamentos, (6) de observar, (9) de apoio físico, (7) dos diretivos de atenção, (31) dos
pela professora, de correr de mãos dadas com a criança, incentivando-a a subir as escadas,
correr pela plataforma e descer pelo escorrego, isso juntamente com as demais crianças. Essa
brincadeira ocorreu repetidas vezes, caracterizando grande parte dos minutos da filmagem de
pátio.
Assim, destaca-se que, durante esse momento, a criança com espectro autista responde
objetos (11), resposta adequada (13) e sorriso (28). Também foram observados
intervalos dados pela professora nessa situação de brincadeira iniciava ações como: subir o
escorrego, correr pela plataforma, descer o escorrego ou mesmo correr novamente em direção
Por outro lado, observa-se que, durante os minutos iniciais da filmagem desse
contexto, momento em que a professora deixou a criança livre, não realizando mediações, a
133
(11), evidenciando sua dificuldade em iniciar ações dirigidas á pessoas, fato esse já
mediações importantes na situação de pátio, e isso pode ser observado pelo número de
episódios interacionais completos (5) e até mesmo pelo tempo de duração desses episódios,
poucas vezes dirigir-se a pessoas, ou mesmo a objetos de seu interesse, embora tenha
linguagem, saiba ler e não demonstre problemas de comportamento. Por outro lado, a mesma
crianças, pois a criança autista, quando solicitada responde e participa das diferentes situações
demais crianças dirigidos à criança autista. Entende-se que, embora a professora tenha
realizado várias mediações, ao mesmo tempo em que emitiu feedbacks, sendo que estes eram
Por exemplo, subir escadas, descer escorrego, pegar bolinhas de papel ou colar no papel.
mediações com vistas aos comportamentos da criança dirigidos às tarefas, objetos, ações ou
favorecendo habilidades de interações social, dado que parece ser uma área emergente na
criança em questão. Leia-se emergente no sentido de que a criança, embora não consiga fazer
134
sozinha, fornece pistas a partir de seu comportamento e características de que, com ajuda, o
fará.
Proximal (ZDP) e Zona de Desenvolvimento Real (ZDR): o primeiro refere-se àquilo que a
criança consegue fazer mediante o auxílio externo, e o segundo, àquilo que a criança
deverá propor atividades que estejam sempre um passo à frente favorecendo novas aquisições
à criança.
A filmagem no contexto de sala de aula registra uma situação de atividade dirigida que
sentadas em suas cadeiras, agrupadas em pequenas mesas, juntamente com outras crianças. A
professora, de pé, caminha pela sala de aula, enquanto chama atenção das crianças através de
autista, seja na mesa de atividades ou nos outros lugares aos quais a criança se dirige.
momentos em que a criança levanta-se e sai de sua cadeira, dirigindo-se ao chão, deitando-se
e lá permanecendo até que alguma das professoras a conduza de volta à mesa de atividades
135
onde estão as demais crianças; ou mesmo dirige-se até a mesa da professora, sentando-se na
uma maneira geral, maiores frequências no uso dos estilos linguísticos diretivos de atenção
(12), diretivos de instrução (9) e informação (35), sendo que, dos estilos linguísticos
(7). A ocorrência desses enunciados foi observada nas situações em que a professora se
aproximou da criança autista para convidá-la a levantar-se do chão e retornar a mesa para
fazer a atividade.
Quanto aos estilos linguísticos de informação (35) que foram dirigidos em sua
maioria às crianças de uma maneira geral, entende-se sua ocorrência a partir do tipo de
atividade que estava sendo realizada com as crianças que, como foi mencionado, trata-se a um
ditado de números. Logo, tanto para as crianças típicas quanto para a criança autista, a
físico (5) apenas com a criança autista. Nesse sentido, é importante considerar a idade das
crianças, seu tempo de escolaridade e o tipo de atividade, uma vez que o ditado é utilizado em
meios educacionais também como uma função avaliativa e como tal, o comportamento da
realização da atividade, foram: olhar pessoas (13), olhar objetos (35), iniciativa dirigida a
atividades, o que denota a importância da mediação da professora. Por outro lado, essa mesma
iniciativas.
a escrever, escrevia fora das margens, desviava a atenção para outros objetos próximos ao seu
alcance.
de aula aguardando o momento para iniciar a filmagem da situação de pátio. Durante esse
período, as crianças ficaram sem atividades dirigidas, algumas guardavam seus materiais em
suas bolsas, outras finalizavam a atividade e outras se agrupavam, formando uma fila para, na
sequência irem ao parque. Nesse momento, a criança autista dirigiu-se às demais crianças que
Diante do exposto, concorda-se com Sereno (2006) ao destacar o papel da escola para
que indicam sua aprendizagem, uma vez que escreve os números a partir da instrução da
habilidades que favoreçam seus comportamentos acadêmicos. Nessa direção, Fiaes e Bichara
137
(2009) pontuam a escola regular como um contexto no qual a criança com dificuldades
A filmagem foi realizada no pátio da escola, área ampla e aberta, com diferentes
caminham pelo pátio observando (4) e aproximando-se das crianças nos momentos em que
precisam subir em algum brinquedo, oferecendo-lhes apoio físico (5), por exemplo.
sentido de realizar mediações que favorecessem as interações sociais entre as crianças de uma
maneira geral.
pessoas (33), iniciativa dirigida a ação (19) e iniciativa dirigida a objetos (18). Destaca-se
que a referida criança demonstrava interesse nos brinquedos de balanço e gangorra. Tal
interesse pode ser analisado a partir de comportamentos de iniciativa dirigidos a esses objetos.
de outra criança e, como pode ser observado, a criança autista, embora olhasse as pessoas, não
tanto.
Com pouca mediação da professora, a criança autista dedica parte do tempo no pátio
brincando no balanço. Porém, ao dirigir-se à gangorra, uma das crianças percebe e realiza um
convite sem mediação das professoras para brincar neste brinquedo. Nesse momento,
138
ocorrem olhares (7) e demonstração de afeto (2) da criança com desenvolvimento típico
“Quer parar?”. Nesse momento, a criança autista a olha e desce da gangorra, dirigindo-se a
outro brinquedo.
Analisando a situação descrita, cita-se Höher Camargo (2007) ao afirmar que inclusão
seu desenvolvimento, assim como o das demais crianças na medida em que convivem e
solicitada pela professora nas situações relacionadas à tarefa, o mesmo pode não acontecer em
situações mais livres como a de pátio. Assim, a professora poderia utilizar-se das situações
mais prazerosas para a criança, no sentido de estabelecer contatos com ela, proporcionando
Este capítulo tem como objetivo principal discutir, em termos gerais, os resultados
professoras, bem como as dos pais/mães acerca da criança e do processo de inclusão escolar.
partindo da importância, em estudos nesta área, de se realizar análises não apenas a partir das
comportamentais das professoras e das crianças autistas, passando pelas descrições mais
crianças autistas nas interações com as professoras e com as demais crianças, a fim de
entender de que maneira elas demonstram interagir e a partir de quais mediações, partindo da
A respeito das concepções dos pais/mães sobre o autismo, verificou-se, que embora
referiram-se aos seus filhos a partir de características positivas, como carinhosos, curiosos e
pais/mães partem de experiências positivas, tanto que todos estão satisfeitos com as escolas e
destacam aquisições dos seus filhos nas áreas de socialização, comunicação, aprendizagem
famílias são relacionadas tanto à socialização dos seus filhos quanto às aprendizagens
acadêmicas.
níveis de escolaridade, haja vista que Andrade et al. (2005) verificaram correlações entre a
precoce, em seus filhos, de características que não eram comuns no desenvolvimento típico de
uma criança, quanto a busca por profissionais especializados na área, que auxiliassem a
apoio, salvaguardando apenas uma destas famílias, que optou por receber apoio e orientações
acordo com Gomes e Bosa (2004) a presença de um membro com espectro autista na família
não representa, obrigatoriamente, um evento adverso desde que haja qualidade nas relações
Portanto, todas as crianças estavam realizando tratamentos há pelo menos seis meses,
além de estarem nas escolas regulares. Embora algumas dessas crianças não tivessem um
diagnóstico fechado, sendo classificadas apenas como “dentro do Espectro Autista”, o uso da
escala CARS na presente pesquisa possibilitou uma caracterização dessas crianças em termos
do presente estudo apresentaram níveis entre leves e moderados, não demonstrando até então
inclusão escolar dos seus filhos, refere-se ao fato de que dois deles apontaram o psicólogo
como um dos profissionais que consideram importantes para a realização da inclusão, mesmo
as duas escolas pesquisadas contando com esses profissionais em seu quadro profissional.
constituem compromisso essencial dos psicólogos com a educação. Estes profissionais podem
atuar não apenas junto à criança autista, mas também junto à família, aos professores e à
equipe escolar, às demais crianças e seus pais, numa perspectiva tanto remediativa quanto
preventiva.
psicologia escolar, considerando que a inclusão escolar dessas crianças envolve uma
Entretanto, de maneira geral, pode-se destacar que, assim como os pais/mães, as professoras
Porém, estão reformulando suas concepções, adotando práticas que partem de aspectos
142
inclusão.
Posto isto, a maioria das professoras, a partir de suas experiências com crianças
pelas crianças, embora também sejam apontados pelas professoras a necessidade de apoio de
outros profissionais e de uma melhor formação profissional, pois esta não oferece o suporte
se que estes profissionais devem estar continuamente em busca do aprendizado sobre como
se deve ensinar para que possam proporcionar um ensino de qualidade para todos (Tessaro et
al., 2005; Castro & Facion, 2008). Tendo em vista que nenhuma graduação contempla todas
as questões que serão encontradas pelos profissionais na prática, cabendo aos mesmos, de
maneira ativa, também pesquisar sobre estratégias que lhes favoreçam nesse sentido. Desta
maneira, rompe-se o ciclo de culpabilizar a escola ou a graduação por não saber como lidar
sobre inclusão escolar, ideias que vão além da inserção na escola, abordando a importância de
as crianças autistas estarem inseridas naquele espaço físico, desfrutando das vivências com
que ocorrem nestes contextos remetem ao conceito de mediação. Esta desempenha um papel
fundamental, onde as trocas que a criança exerce com outras crianças e com os adultos
importância da qualidade das relações estabelecidas entre os indivíduos, e de igual forma para
trabalhando em escolas que apresentam uma proposta de inclusão, de maneira que essas
profissionais, mesmo que não tenham tido experiências anteriores com alunos com
necessidades educacionais especiais em sala de aula, apresentam outros tipos de contato com
filmadora para não apenas registrar, mas também analisar as interações que lá acontecem,
revela disponibilidade e interesse por parte das mesmas. Essa questão pode ser observada a
partir da solicitação dos diretores, de ambas as escolas, para que a pesquisadora retornasse
teórico/prático da equipe escolar. Autores como Horrocks et al. (2008) destacam o papel do
diretor, concebendo-o como o profissional responsável por dar o tom a toda a comunidade
escolar, cujas atitudes são tidas como pré-requisitos essenciais para inclusão bem sucedida.
analisar as interações sociais nesses contextos, verificando a participação das crianças autistas
e considerando a mediação das professoras e das demais crianças, tendo em vista que o
da professora, assim como estes também são influenciados pelos comportamentos da criança
autista. Nesse sentido, são consideradas também as influências dos contextos e do tipo de
atividades realizadas.
144
medida em que, em seus discursos, elas diziam frases como “como eu não tenho só ele...”
objetos para as crianças com espectro autista, ao passo que também se utilizavam de diretivos nas
verbalizações dirigidas a estas crianças. Quanto à importância da fala dirigida à criança, cita-se
pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da
necessidade de intercâmbio. De acordo com Sigolo (2000), a diretividade pode ser uma variável
que promove o desenvolvimento infantil, dependendo do significado que assume na relação, mas
físico em ambos os contextos de sala de aula e pátio. Não obstante, salienta-se que poucos
afeto.
processo de inclusão, cita-se Lira (2004) ao apontar que, muitas vezes, o professor precisa
e compreensão de ações não verbais, por parte da criança autista, dado que esses são algumas
das habilidades que antecedem o desenvolvimento linguístico. Nessa direção, Garton (1992)
seja, o adulto adapta seu comportamento comunicativo para obter respostas das crianças.
concentrar não apenas em palavras e habilidades verbais, mas também em habilidades sociais
Silva (2010) diz que, quando a criança autista demonstra iniciativa em começar as trocas de
ações, o adulto deve aproveitar essa iniciativa de maneira corregulada às ações da criança e
dar continuidade a tais trocas, desenvolvendo uma atividade que envolva as ações da criança e
suas ações. Autores como Menezes e Perissinoto (2008) arguem a importância do adulto, que
das crianças com espectro autista considerando, como já foi mencionado, as interações
146
estabelecidas entre a criança autista e as demais crianças, bem como entre a criança autista e a
professora.
olhar ações. Contudo, há em comum entre as duas crianças que apresentaram as maiores
evidenciando casos mais leves e as idades um pouco mais elevadas. Esse dado também pode
sugerir que os sintomas do autismo podem se tornar mais leves com as intervenções precoces.
por parte dessas crianças. Em segundo lugar, em termos de frequência, foram observadas
iniciativa de crianças com autismo para explorar determinados objetos e utilizar esta iniciativa
como via para estabelecer e manter as trocas de ações com essas crianças pode ser uma
alternativa frutífera para enriquecer o contato social delas com outras pessoas, tanto com
adultos como também com outras crianças. Portanto, para que a criança autista participe mais
ativamente das interações que permeiam a rotina escolar, é preciso que a professora lance mão
criança autista em termos interacionais, dado que suas ocorrências se dão a partir de
comportamentos iniciados pela professora, sejam eles de mostrar objetos ou de solicitar que a
criança realize algum comportamento relacionado à dinâmica que está sendo estabelecida no
comumente mais esperado para essas crianças partindo de concepções mais rígidas sobre o
autismo. A esse respeito, Bosa (2001) diz que é comum o retraimento da interação, e este se
crianças demonstraram estar bem adaptadas ao contexto escolar, fato que pode ser confirmado
Por último, em relação aos comportamentos das crianças autistas, foram observados
poucos comportamentos de carinho, sendo estes registrados manualmente, dado que, durante
a filmagem, não foram apreendidos comportamentos nesse sentido. Esse dado pode ser
questionado a partir dos próprios relatos dos pais/mães e professores, que caracterizaram tais
crianças como sendo carinhosas, a partir de suas vivências com as mesmas. O mesmo ocorre
em relação aos comportamentos de imitação, que praticamente não foram apresentados nas
crianças autistas que, de igual forma, a partir dos relatos dos pais/mães e professores, são
professora, além de muitos comportamentos de carinho. Sobre este último, de acordo com
uma das mães, às vezes, até incomodava um pouco a criança autista, estando hoje bem mais
mesmo estabelecendo como critério a transcrição dos dados após cinco minutos, tempo
observações, inclusive em diferentes períodos, como: um mês após a entrada na escola, seis
em muitas das vezes, o adulto inicia a interação, mas não dá continuidade. Embora estes
episódios sejam melhor explicitados nos estudos de caso, observou-se uma frequência maior
de episódios interacionais que não se completam. É importante mencionar que este dado era
área.
estabelecidas pelas crianças autistas, a partir de suas potencialidades, como também a partir
do que há em comum entre os episódios que se completam e, sobretudo, entre os que não se
intervenções que favoreçam a socialização dessas crianças não apenas no contexto escolar.
autistas, como ocorrem e o que ocorrem nesses momentos. Assim, esses profissionais terão
quais recursos devem ser utilizados no sentido de promover episódios interacionais que se
Dito isto, a compreensão de como são estabelecidas as interações sociais por parte da
criança autista nos episódios interacionais, tanto em termos dos comportamentos emitidos
que ocorrem mais vezes, ou seja, no contexto em que a criança autista é mais solicitada em
de objetos como ferramentas nas interações. A esse respeito, Silva (2010) em seu estudo,
ações que focalizam a exploração de alguma atividade com um ou mais objetos, apresentam
Concorda-se com a referida autora ao abordar o uso de objetos como uma forma de
mediação com essas crianças, considerando que não há melhor maneira de compartilhar
atenção e favorecer aprendizagens do que partindo dos interesses da criança, bem como do
que ela sabe fazer. Diante de tais colocações, cabe ressaltar os conceitos de Zona de
Desenvolvimento Proximal, que refere-se ao que a criança consegue fazer mediante o auxílio
externo e Zona de Desenvolvimento Real, que trata sobre o que a criança consegue fazer
sozinha. Nesse sentido, o mediador deverá propor atividades que estejam sempre um passo à
tanto entre a criança autista e as demais crianças quanto entre a criança autista e a professora.
De acordo com Silva (2010) este tipo de análise consiste em uma possibilidade frutífera para
considerando a identificação dos elementos que compõem o sistema de trocas de ações que
favorecem a fluência nas interações. Nessa direção, cita-se Axline (2005) ao afirmar que para
aproximar-se da verdade, cabe ao profissional olhar profundamente cada ser humano para
para interagirem com os alunos e sobre a forma com que estes lhes respondiam, a partir dos
Como já foi mencionado nas discussões acima, de maneira geral, foram comuns entre
aqueles comportamentos em resposta à ação do outro que, mesmo não dando continuidade,
também sociocultural, das quais destacam-se autores como Vygotsky (2000) e Tomasello
(2003).
crianças com desenvolvimento atípico, considerando os benefícios desta prática não apenas
em termos da criança atípica, mas também das demais crianças, que desenvolvem habilidades
Parte-se da ideia de que o professor é um dos principais agentes nesse processo, tendo
em vista que lida diretamente e diariamente com as crianças, sendo o profissional mais
escolar, para assim estabelecer mediações que verdadeiramente atendam às demandas dessas
necessidades.
152
demanda educacional que cada vez mais preconiza a inclusão destas crianças em escolas
regulares e os benefícios que podem ser alcançados através desta prática. Nessa direção,
escolar das crianças autistas, sobretudo ao identificar os aspectos positivos desta prática a
partir dos atores centrais nesse processo: professores, pais, crianças autistas e crianças típicas.
Perceber concepções mais positivas dos pais e professores em relação ao autismo e à criança
com quem lidam diretamente é um aspecto muito interessante, ao considerar que tais
concepções partem das experiências dos mesmos. Assim, tendo em vista essas concepções, se
por um lado, há uma participação e um investimento maior em práticas inclusivas, por outro,
um desafio, pois parte-se de dois aspectos sobre os quais não existem consensos na literatura:
dificuldades, ao passo que outros destacam em seus estudos os prejuízos inerentes à síndrome,
inseridas nas escolas regulares, tendo oportunidades educativas assim como as demais
concepções e práticas, não pretende-se com este trabalho adotar uma visão romântica acerca
153
Ao contrário, assim como foi posto pelas mães e professoras, pretende-se, apesar de
professora, bem como das estratégias por ela utilizadas e também do envolvimento da família.
interpretações verdadeiramente confiáveis sem um contato prévio com pessoas com esta
síndrome. É preciso entender as sutilezas que estão envolvidas nos comportamentos de cada
criança, compreender aspectos que permeiam as ações das mesmas, experienciar a maneira
como elas reagem às diferentes pessoas nos diferentes contextos e sentir o seu ritmo de
consultórios e pesquisas possibilitou à autora do presente estudo realizar uma análise dos
comportamentos demonstrados por estas crianças nas filmagens com maior clareza e
estudo, tanto em termos da criança quanto do outro que com ela interage.
pela questão sejam pais, profissionais e pesquisadores das diferentes áreas. Os resultados têm
estudos futuros que contribuam no sentido de propor intervenções a partir de uma perspectiva
Partindo da premissa de que a baixa expectativa em torno dessas crianças pode fazer
com que os investimentos em educação e interação sejam reduzidos, espera-se que a partir das
descrições realizadas nos estudos de caso, os leitores do presente trabalho, lancem novos
olhares sobre os comportamentos das crianças com autismo, ampliando suas concepções e
das duas partes. Esta experiência permitiu o esclarecimento de que a inclusão necessita não
positiva com estas crianças. Estar aberto à experiência é fundamental, pois, muitas vezes, a
aprendizagens acadêmicas; dois deles acreditando até mesmo que seus filhos chegariam a se
igualar às demais crianças. Sugere-se que essas expectativas se devem ao nível leve-moderado
155
de comprometimento dos seus filhos, da pouca idade das crianças, das respostas que a criança
intervenção, evidencia-se que as estratégias adotadas pelas professoras são, na maioria das
vezes, baseadas na intuição, com pouco respaldo teórico e pouca orientação de profissionais
que são poucas as pesquisas nesta área que investigam diretamente o comportamento social da
criança autista (Höher Camargo, 2007). Entretanto, dada a natureza qualitativa do estudo, não
são possíveis generalizações das conclusões para a população maior de pessoas com autismo.
e, desde então, são submetidas a diferentes intervenções. Assim, este grupo de crianças pode
futuros envolvendo um número maior de crianças por um período maior de tempo. Assim
como foi abordado na discussão geral, alguns comportamentos das crianças autistas como
imitação e carinho, por exemplo, não foram verificados com a frequência esperada, tomando
como base as verbalizações dos pais e professores. O mesmo aconteceu em relação aos
as observações e as verbalizações.
156
não apenas de frequência, considerando que a baixa ocorrência não se equivale a ausência
em instituições particulares. Outro desafio ainda maior foi a obtenção das autorizações das
famílias das demais crianças inseridas na sala de aula. Nos poucos casos em que não foram
participação de sete famílias, porém, uma desistiu no momento em que seria esclarecido o
objetivo da pesquisa aos pais das demais crianças, e as outras duas, não tiveram o
conceber a inclusão como uma prática realizável foram aspectos fundamentais na elaboração
deste trabalho.
Finda-se este trabalho com a certeza de que muitos aspectos ainda devem ser
considerados em relação ao autismo infantil. As discussões aqui propostas são apenas uma
fresta do que pode ser abordado nessa temática. Há muitos estudos e questionamentos a esse
respeito, há muitas famílias desejosas de práticas que se adequem aos seus filhos, há muitas
157
pessoas de autismo que têm o direito de serem mais produtivos, felizes e livres. Não é raro,
mesmo nos dias de hoje, casos de pessoas autistas que são totalmente privadas do convívio
social. É preciso lançar mão de uma prática que atenda a estas questões, sobretudo pelo
Diante do exposto, pode-se dizer que este é um passo para desvelar a temática
abordada e que cabe aos estudantes, pesquisadores e profissionais das mais diversas áreas
lançarem suas contribuições nesse sentido, promovendo mais atendimentos e maior qualidade
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Vygotsky, L. S. (2007). Formação social da mente. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes.
171
professoras sejam gravadas, para que sua interação com as crianças sejam filmadas, como
também sua autorização para apresentar os resultados escritos deste estudo em eventos e
revistas de caráter científico. Por ocasião da publicação dos resultados, os nomes de todos os
participantes do estudo serão mantidos em sigilo.
A pesquisadora estará então a sua disposição para qualquer esclarecimento que
considere necessário em qualquer etapa da pesquisa. Como também a disposição da escola
para contribuir no sentido de apresentar os resultados da pesquisa.
________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa.
________________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável.
________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa.
________________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável.
Assim, solicita-se, a sua permissão para que a entrevista seja gravada, para que a
criança seja filmada, como também sua autorização para apresentar os resultados escritos
deste estudo em eventos e revistas de caráter científico. Por ocasião da publicação dos
resultados, os nomes de todos os participantes do estudo serão mantidos em sigilo.
A pesquisadora estará então a sua disposição para qualquer esclarecimento que
considere necessário em qualquer etapa da pesquisa. Como também a disposição da escola
para contribuir no sentido de apresentar os resultados da pesquisa.
________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa.
________________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável.
________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa (responsável).
________________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável.
2. ROTEIRO DE ENTREVISTA
b) O que você entende por uma criança com espectro autista? Quais são as características
destas crianças de acordo com a sua experiência?
d) Como você descreveria o processo de inclusão que vem sendo realizado pela escola de
seu filho?
h) Além da experiência, onde mais você tem recebido informações sobre autismo?
181
2. ROTEIRO DE ENTREVISTA
b) Como as crianças em sua turma interagem nas diferentes situações da rotina escolar?
182
c) O que você entende por uma criança com espectro autista? Quais são as características
destas crianças de acordo com a sua prática?
Relações pessoais:
adequado à sua idade. Alguma timidez, nervosismo ou aborrecimento podem ser observados quando é dito à
2 Relações levemente anormais: A criança pode evitar olhar o adulto nos olhos, evitar o adulto ou ter uma reação
exagerada se a interação é forçada, ser excessivamente tímida, não responder ao adulto como esperado ou
agarrar-se ao pais um pouco mais que a maioria das crianças da mesma idade;
3 Relações moderadamente anormais: Às vezes, a criança demonstra indiferença (parece ignorar o adulto).
Outras vezes, tentativas persistentes e vigorosas são necessárias para se conseguir a atenção da criança. O
4 Relações gravemente anormais: A criança está constantemente indiferente ou inconsciente ao que o adulto está
fazendo. Ela quase nunca responde ou inicia contato com o adulto. Somente a tentativa mais persistente para
II. Imitação:
1 Imitação adequada: A criança pode imitar sons, palavras e movimentos, os quais são adequados para o seu
nível de habilidade;
184
2 Imitação levemente anormal: Na maior parte do tempo, a criança imita comportamentos simples como bater
palmas ou sons verbais isolados; ocasionalmente imita somente após estimulação ou com atraso;
3 Imitação moderadamente anormal: A criança imita apenas parte do tempo e requer uma grande dose de
persistência ou ajuda do adulto; freqüentemente imita apenas após um tempo (com atraso);
4 Imitação gravemente anormal: A criança raramente ou nunca imita sons, palavras ou movimentos mesmo com
estímulo e assistência.
1 Resposta emocional adequada à situação e à idade: A criança demonstra tipo e grau adequados de resposta
2 Resposta emocional levemente anormal: A criança ocasionalmente apresenta um tipo ou grau inadequados de
resposta emocional. Às vezes, suas reações não estão relacionadas a objetos ou a eventos ao seu redor;
3 Resposta emocional moderadamente anormal: A criança demonstra sinais claros de resposta emocional
inadequada (tipo ou grau). As reações podem ser bastante inibidas ou excessivas e sem relação com a situação;
pode fazer caretas, rir ou tornar-se rígida até mesmo quando não estejam presentes objetos ou eventos produtores
de emoção;
4 Resposta emocional gravemente anormal: As respostas são raramente adequadas à situação. Uma vez que a
criança atinja um determinado humor, é muito difícil alterá-lo.Por outro lado, a criança pode demonstrar
1 Uso corporal adequado à idade: A criança move-se com a mesma facilidade, agilidade e coordenação de uma
2 Uso corporal levemente anormal: Algumas peculiaridades podem estar presentes, tais como falta de jeito,
3 Uso corporal moderadamente anormal:Comportamentos que são claramente estranhos ou incomuns para uma
criança desta idade podem incluir movimentos estranhos com os dedos, postura peculiar dos dedos ou corpo,
olhar fixo, beliscar o corpo, auto-agressão, balanceio, girar ou caminhar nas pontas dos pés;
4 Uso corporal gravemente anormal: Movimentos intensos ou freqüentes do tipo listado acima são sinais de uso
corporal gravemente anormal. Estes comportamentos podem persistir apesar das tentativas de desencorajar as
V. Uso de objetos:
1 Uso e interesse adequados por brinquedos e outros objetos: A criança demonstra interesse normal por
brinquedos e outros objetos adequados para o seu nível de habilidade e os utiliza de maneira adequada;
2 Uso e interesse levemente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode demonstrar um
interesse atípico por um brinquedo ou brincar com ele de forma inadequada, de um modo pueril (exemplo:
3 Uso e interesse moderadamente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode demonstrar
pouco interesse por brinquedos ou outros objetos, ou pode estar preocupada em usá-los de maneira estranha. Ela
pode concentrar-se em alguma parte insignificante do brinquedo, tornar-se fascinada com a luz que reflete do
mesmo, repetitivamente mover alguma parte do objeto ou exclusivamente brincar com ele;
4 Uso e interesse gravemente inadequados por brinquedos e outros objetos: A criança pode engajar-se nos
mesmos comportamentos citados acima, porém com maior freqüência e intensidade. É difícil distrair a criança
1 Respostas à mudança adequadas à idade: Embora a criança possa perceber ou comentar as mudanças na rotina,
2 Respostas à mudança adequadas à idade levemente anormal: Quando um adulto tenta mudar tarefas, a criança
3 Respostas à mudança adequadas à idade moderadamente anormal: A criança resiste ativamente a mudanças na
rotina, tenta continuar sua antiga atividade é difícil de distraí-la. Ela pode tornar-se infeliz e zangada quando uma
4 Respostas à mudança adequadas à idade gravemente anormal: A criança demonstra reações graves às
mudanças. Se uma mudança é forçada, ela pode tornar-se extremamente zangada ou não disposta a ajudar e
1 Resposta visual adequada: O comportamento visual da criança é normal e adequado para sua idade. A visão é
utilizada em conjunto com outros sentidos como forma de explorar um objeto novo;
2 Resposta visual levemente anormal: A criança precisa, ocasionalmente, ser lembrada de olhar para os objetos.
A criança pode estar mais interessada em olhar espelhos ou luzes do que o fazem seus pares, pode
ocasionalmente olhar fixamente para o espaço, ou pode evitar olhar as pessoas nos olhos;
3 Resposta visual moderadamente anormal: A criança deve ser lembrada freqüentemente de olhar para o que está
fazendo, ela pode olhar fixamente para o espaço, evitar olhar as pessoas nos olhos, olhar objetos de um ângulo
4 Resposta visual gravemente anormal: A criança evita constantemente olhar para as pessoas ou para certos
objetos e pode demonstrar formas extremas de outras peculiaridades visuais descritas acima.
1 Respostas auditivas adequadas para a idade: O comportamento auditivo da criança é normal e adequado para
2 Respostas auditivas levemente anormais: Pode haver ausência de resposta ou uma resposta levemente
exagerada a certos sons. Respostas a sons podem ser atrasadas e os sons podem necessitar de repetição para
prender a atenção da criança. A criança pode ser distraída por sons externos;
187
3 Respostas auditivas moderadamente anormais: As respostas da criança aos sons variam. Freqüentemente
ignora o som nas primeiras vezes em que é feito. Pode assustar-se ou cobrir as orelhas ao ouvir alguns sons do
cotidiano;
4 Respostas auditivas gravemente anormais: A criança reage exageradamente e/ou despreza sons num grau
1 Uso e resposta normais do paladar, olfato e tato: A criança explora novos objetos de um modo adequado a sua
idade, geralmente sentindo ou olhando. Paladar ou olfato podem ser usados quando adequados. Ao reagir a
pequenas dores do dia a dia, a criança expressa desconforto, mas não reage exageradamente;
2 Uso e resposta levemente anormais do paladar, olfato e tato: A criança pode persistir em colocar objetos na
boca; pode cheirar ou provar/experimentar objetos não comestíveis. Pode ignorar ou ter reação levemente
exagerada à uma dor mínima, para a qual uma criança normal expressaria somente desconforto;
3 Uso e resposta moderadamente anormais do paladar, olfato e tato: A criança pode estar moderadamente
preocupada em tocar, cheirar ou provar objetos ou pessoas. A criança pode reagir demais ou muito pouco;
4 Uso e resposta gravemente anormais do paladar, olfato e tato: Acriança está preocupada em cheirar, provar e
sentir objetos, mais pela sensação do que pela exploração ou uso normal dos objetos. Acriança pode ignorar
X. Medo ou nervosismo:
1 Medo ou nervosismo normais: O comportamento da criança é adequado tanto à situação quanto à idade;
2 Medo ou nervosismo levemente anormais: A criança ocasionalmente demonstra muito ou pouco medo ou
nervosismo quando comparada às rea-ções de uma criança normal da mesma idade e em situação semelhante;
3 Medo ou nervosismo moderadamente anormais: A criança demonstra bastante mais ou bastante menos medo
do que seria típico para uma criança mais nova ou mais velha em uma situação similar;
188
4 Medo ou nervosismo gravemente anormais: Medos persistem mesmo após experiências repetidas com eventos
ou objetos inofensivos. É extremamente difícil acalmar ou confortar a criança. A criança pode, por outro lado,
falhar em demonstrar consideração adequada aos riscos que outras crianças da mesma idade evitam.
2 Comunicação verbal levemente anormal: A fala demonstra um atraso global. A maior parte do discurso tem
significado; porém, alguma ecolalia ou inversão pronominal podem ocorrer. Algumas palavras peculiares ou
3 Comunicação verbal moderadamente anormal: A fala pode estar ausente. Quando presente, a comunicação
verbal pode ser uma mistura de alguma fala significativa e alguma linguagem peculiar, tais como jargão, ecolalia
4 Comunicação verbal gravemente anormal: Fala significativa não é utilizada. A criança pode emitir gritos
estridentes e infantis, sons animais ou bizarros, barulhos complexos semelhantes à fala, ou pode apresentar o uso
2 Uso da comunicação não-verbal levemente anormal: Uso imaturo da comunicação não-verbal; a criança pode
somente apontar vagamente ou esticar-se para alcançar o que quer, nas mesmas situações nas quais uma criança
da mesma idade pode apontar ou gesticular mais especificamente para indicar o que deseja;
3 Uso da comunicação não-verbal moderadamente anormal: A criança geralmente é incapaz de expressar suas
necessidades ou desejos de forma não verbal, e não consegue compreender a comunicação não-verbal dos
outros;
189
4 Uso da comunicação não-verbal gravemente anormal: A criança utiliza somente gestos bizarros ou peculiares,
sem significado aparente, e não demonstra nenhum conhecimento do significados associados aos gestos ou
1 Nível de atividade normal para idade e circunstâncias: A criança não é nem mais nem menos ativa que uma
2 Nível de atividade levemente anormal: A criança pode tanto ser um pouco irrequieta quanto um pouco
“preguiçosa”, apresentando, algumas vezes, movimentos lentos. O nível de atividade da criança interfere apenas
3 Nível de atividade moderadamente anormal: A criança pode ser bastante ativa e difícil de conter. Ela pode ter
uma energia ilimitada ou pode não ir prontamente para a cama à noite. Por outro lado, a criança pode ser
4 Nível de atividade gravemente anormal: A criança exibe extremos de atividade ou inatividade e pode até
1 A inteligência é normal e razoavelmente consistente em várias áreas: A criança é tão inteligente quanto
crianças típicas da mesma idade e não tem qualquer habilidade intelectual ou problemas incomuns;
2 Funcionamento intelectual levemente anormal: A criança não é tão inteligente quanto crianças típicas da
3 Funcionamento intelectual moderadamente anormal: Em geral, a criança não é tão inteligente quanto uma
típica criança da mesma idade, porém a criança pode funcionar próximo do normal em uma ou mais áreas
intelectuais;
190
4 Funcionamento intelectual gravemente anormal: Embora a criança geralmente não seja tão inteligente quanto
uma criança típica da mesma idade, ela pode funcionar até mesmo melhor que uma criança normal da mesma
1 Sem autismo: a criança não apresenta nenhum dos sintomas característicos do autismo;
2 Autismo leve: A criança apresenta somente um pequeno número de sintomas ou somente um grau leve de
autismo;
Classificação:
Conclusão:
15-30 = sem autismo