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2023 Revisao Unifesp Portugues

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REVISAO_UNIFESP_PORTUGUES_Carlos_2023.

qxp 05/12/2023 15:20 Página I

PORTUGUÊS
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II –
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REVISÃO 2023

PORTUGUÊS
1. (UNIFESP) – Pode-se afirmar que, com a ida à

Módulo 1 exposição dos czares russos, o narrador teve a


oportunidade de
a) discutir seus problemas pessoais com pessoas des-
Texto para as questões de 1 a 3. conhecidas, em especial as idosas, que têm mais expe-
Juventude além dos Anos riência de vida.
b) ratificar as ideias sobre a velhice com as quais fora
Fui à exposição dos czares russos, recentemente criado, vendo-a relacionada à aposentadoria e aos
encerrada. Em plena quinta-feira à tarde, notei dois lamentos.
grupos distintos: adolescentes e idosos. Ambos c) vivenciar a nova forma de vida dos velhos, que o
animadíssimos. Uma senhora à minha frente indignou por mostrar uma disposição artificial, que
comentou, diante de uma vestimenta de veludo, toda não condiz com a idade deles.
bordada: d) entender a nova relação estabelecida entre jovens e
— Já tive um vestido parecido! idosos, que têm interesses e comportamentos comuns,
Observei-a. Deve ter ficado parecida com um mesmo lamentando o que não podem fazer.
tapete! Outras se encantavam com bules, saleiros, e) rever seus conceitos sobre a velhice, já que a situação
ícones. Puxei conversa: vivenciada na exposição acabou por negá-los.
— Está gostando? – perguntei a uma delas. RESOLUÇÃO:
— Ah, sempre é bom conhecer coisas novas! O narrador confessa que a disposição da senhora idosa
Surpreendi-me. Fui criado com a ideia de que as para “conhecer coisas novas” fê-lo “rever seus conceitos
pessoas se aposentam e se lamentam por tudo que não sobre a velhice”, fundados nos estereótipos “de que as
fizeram. Diante de mim estava uma senhora cheia de pessoas se aposentam e se lamentam por tudo que não
vida, disposta a aprender, apesar dos cabelos fizeram”.
grisalhos. Resposta: E
Lembrei-me da mãe de um amigo que, ao ficar
viúva, mudou completamente. Deu todos os móveis.
E também os porta-retratos, medalhas, jogos de
louça, faqueiros, copos. Até presentes que guardava
da época do casamento! Alugou seu apartamento de
classe média. Foi para um bem menor, mais fácil de
cuidar. Com a renda, passou a viajar em excursões.
Encontrei-a há pouco tempo. Rejuvenescida.
Cabelinhos curtos, roupas práticas e alegres.
— Agora que meus filhos estão criados, quero
aproveitar!
Resultado: seus netos a adoram!
(Walcyr Carrasco, Veja)

–1
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3. (UNIFESP) – Considere os trechos:


Diante de mim estava uma senhora cheia de vida,
disposta a aprender, apesar dos cabelos grisalhos. Observei-a.
Encontrei-a há pouco tempo.
2. (UNIFESP) – Na frase, apesar dos cabelos grisalhos — Agora que meus filhos estão criados...
significa que
a) os mais velhos têm, normalmente, muito mais No texto de Walcyr Carrasco, os pronomes em destaque
PORTUGUÊS

disposição para aprender. referem- se, respectivamente,


b) a busca por novas experiências é uma forma de os
mais velhos sublimarem suas frustrações. a) a uma senhora, a uma senhora cheia de vida, à mãe de
c) os velhos deveriam reconhecer sua condição e deixar um amigo.
para os jovens a busca pelo saber. b) à vestimenta de veludo, a uma senhora cheia de vida,
d) não é porque uma pessoa está velha que não tem mais ao narrador.
condições para aprender. c) a uma senhora, à mãe de um amigo, à mãe de um
e) é inaceitável que uma pessoa velha queira aprender, amigo.
dadas as limitações próprias da idade. d) à vestimenta de veludo, à mãe de um amigo, ao
RESOLUÇÃO: narrador.
A cláusula concessiva “apesar dos cabelos brancos”, que e) a uma senhora, à mãe de um amigo, a uma senhora
se segue à referência a “uma senhora cheia de vida, cheia de vida.
disposta a aprender”, deixa patente a conclusão do autor RESOLUÇÃO:
de que a velhice não é incompatível com a curiosidade Em observei-a, o pronome pessoal oblíquo a refere-se a
intelectual e o aprendizado. uma senhora, mencionada no primeiro parágrafo. Em
Resposta: D encontrei-a e meus filhos, os pronomes retomam a mãe
de um amigo.
Resposta: C

2–
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As questões de números 4 e 5 baseiam-se na tirinha. 5. (UNIFESP) – No último quadrinho, observando-se a


expressão de Liberdade e o que ela diz — seja pela
pontuação (???), seja pela reiteração do verbo (sabe) —,
sua atitude revela
a) medo e desespero.
b) ironia e melancolia.
c) indignação e agressividade.

PORTUGUÊS
d) humor e surpresa.
e) espanto e tristeza.
RESOLUÇÃO:
O último quadrinho vale-se do recurso da repetição –
tanto do sinal de pontuação quanto do verbo – para
indicar a indignação e agressividade da personagem
Liberdade diante dos efeitos do tempo.
Resposta: C

Texto para a questão 6.

Quando se quer chamar atenção para o Objeto


4. (UNIFESP) – Considerando-se o texto de Walcyr Direto que precede o verbo, costuma-se repeti-lo. É o
Carrasco e observando-se o comentário que a que se chama Objeto Direto Pleonástico, em cuja
personagem Liberdade faz na tirinha, é certo afirmar que constituição entra sempre um pronome pessoal átono.
(Celso Cunha e Lindley Cintra.
ela se revoltará contra uma velhice que seja
Nova gramática do português contemporâneo, 2000.)
a) semelhante àquela que o narrador concebera a partir
de sua educação, contrária ao que se viu na exposição.
b) oposta à vivida pelas pessoas que se aposentam e 6. (UNIFESP) – Verifica-se a ocorrência de objeto direto
passam a lamentar pelo que não fizeram. pleonástico em:
c) do mesmo tipo daquela vivenciada pela mãe de um a) “As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos,
amigo do narrador, depois de enviuvar. ou – apenas – os desencantados”
d) animada, como a da senhora na exposição, que b) “Esses dez anos esvoaram-se-me como dez meses.”
comentou sobre o vestido de veludo bordado. c) “Por tudo isso, independentemente do belo discurso
e) cheia de ocupações e tarefas, como a da senhora de de defesa, o júri concedeu-me circunstâncias
cabelos grisalhos, disposta ainda a aprender. atenuantes.”
RESOLUÇÃO: d) “Simplesmente, este momento culminante raras são as
A personagem Liberdade almeja uma velhice que seja criaturas que o vivem.”
semelhante àquela constatada nos idosos da exposição e e) “Atingido o sofrimento máximo, nada já nos faz
contrária àquela a que o narrador do texto estava sofrer.”
habituado. RESOLUÇÃO:
Resposta: A “Este momento culminante” é objeto direto do verbo
viver, assim como o pronome oblíquo o, que é objeto
direto pleonástico do mesmo verbo.
Resposta: D

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Texto para as questão 7.

Cruz na porta da tabacaria!


Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.


PORTUGUÊS

Todos os dias o via. Estou


Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.

Ele era o dono da tabacaria.


Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.

Desde ontem a cidade mudou.


Meu coração tem pouca alegria, Texto para as questões 8 e 9.
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria! A palavra falada é um fenômeno natural: a palavra
Desde ontem a cidade mudou. escrita é um fenômeno cultural. O homem natural
pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o
Mas ao menos a ele alguém o via, pode o homem a que chamamos civilizado: por isso,
Ele era fixo, eu, o que vou,
como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
não da natureza mas da civilização, da qual a cultura
Desde ontem a cidade mudou.
é a essência e o esteio.
(Fernando Pessoa, Obra poética, 1997.)
Pertencendo, pois, a mundos (mentais)
7. (UNIFESP) – Sempre que haja necessidade expressiva essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra
de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir repetido. obedecem forçosamente a leis ou regras
Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico. essencialmente diferentes. A palavra falada é um caso,
(Adriano da Gama Kury.
por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que
Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)
obedecer à lei do maior número, sob pena de ou não
sermos compreendidos ou sermos inutilmente
O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra,
a) “Todos os dias o via. Estou” (2.a estrofe) temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma
b) “E isto diz que é morte aquilo onde estou.” (4.a estrofe) construção gramatical errada, da mesma construção
c) “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5.a estrofe) teremos que usar. Se a maioria caiu em usar estrangei-
d) “Mas ao menos a ele alguém o via,” (5.a estrofe) rismos ou outras irregularidades verbais, assim temos
e) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1.a estrofe) que fazer. Os termos ou expressões que na linguagem
RESOLUÇÃO: escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se em
Há dois pronomes pessoais com a função sintática de estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato
objeto direto do verbo ver. O primeiro objeto direto é o verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito
pronome “ele”, antecedido pela preposição “a”. O fundamental da civilidade é que nos conformemos o
segundo complemento verbal reiterativo é o pronome mais possível com as maneiras, os hábitos, e a
pessoal do caso oblíquo “o”. Esses pronomes têm como educação da pessoa com quem falamos, ainda que
referente o dono da tabacaria, o falecido Alves. nisso faltemos às boas-maneiras ou à etiqueta, que são
Resposta: D a cultura exterior.
(Fernando Pessoa, A língua portuguesa. 1999. Adaptado.)

4–
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8. (UNIFESP) – Em sua argumentação, o autor 9. (UNIFESP) – De acordo com o autor, “ao falar, temos
estabelece que que obedecer à lei do maior número”. Atendendo a esse
a) a palavra escrita se espelha na palavra falada. Desta princípio, para o português oral contemporâneo, está
forma, a boa comunicação implica reconhecer que fala adequado o enunciado:
e escrita são de mesma natureza. a) Olvidei-me de trazer seu livro. Assistia a um filme
b) as diferenças entre fala e escrita são muitas. Dessa deveras interessante. Você não se sente chateado por
forma, a boa comunicação está relacionada ao valor isso, não é mesmo?

PORTUGUÊS
cultural da linguagem. b) Caso assistisse a um filme e esquecesse teu livro...
c) o fenômeno cultural está contido no natural. Dessa Sentir-te-ias magoado com esse meu comportamento?
forma, a boa comunicação diz respeito ao uso que c) Cara, @#$&*...! Demorô!!! O fdm nem tchum... E
cada pessoa faz, de acordo com as necessidades pá... ☺ E o livro... Nem...  Que m***a!!!
cotidianas. d) Me esqueci de trazer seu livro, porque fiquei
d) os fenômenos naturais precedem o culturais. Dessa assistindo um filme. Cê não tá chateado por causa
forma, a boa comunicação depende de ajustar aqueles disso, né?
às especificidades destes. e) Nóis ia lê o livro na aula, mais fiquei veno TV, sistino
e) fala e escrita são domínios distintos. Dessa forma, a um firme e isquici dele. Ocê tá chateado cumigu não
boa comunicação implica conhecer e emprega os né?
recursos específicos de cada um deles. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: No português oral contemporâneo, o falante inicia a frase
A resposta encontra-se no 2.º parágrafo, em que o autor com pronome oblíquo átono (“me”), não respeita a
condiciona a “boa comunicação” à adaptação do falante regência do verbo assistir (assistir a), abrevia o pronome
ao contexto. de tratamento você (“cê”) e a forma verbal está (“tá”),
Resposta: E além de empregar o marcador conversacional “né”.
Resposta: D

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10. (UNIFESP) – Assinale a alternativa cujo enunciado


atende à norma-padrão da língua portuguesa.
a) Durante a leitura do livro, surgiram várias dúvidas. O
Módulo 2
enredo e a temática abordada, que causou muita polê-
mica, mostraram a atualidade da obra. Vislumbraram- Para responder às questões de 1 a 5, leia o trecho inicial
se vieses interessantes na construção das personagens. de uma crônica de Machado de Assis, publicada
b) Durante a leitura do livro, ficou várias dúvidas. O originalmente em 17.07.1892.
PORTUGUÊS

enredo e a temática abordados, que causou muita


Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios,
polêmica, mostrou a atualidade da obra. Vislumbrou-
boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se des-
se vieses interessantes na construção das personagens.
compõem os homens, acionistas e diretores, importadores
c) Durante a leitura do livro, houve várias dúvidas. O
e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto
enredo e a temática abordada, que causou muita
sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma
polêmica, mostraram a atualidade da obra.
página de anúncios, e disse comigo:
Vislumbrou-se vieses interessantes na construção das
— Eia, passemos em revista as procuras e ofertas,
personagens.
caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes,
d) Durante a leitura do livro, ficaram várias dúvidas. O
oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas de leite,
enredo e a temática abordados, que causou muita polê-
cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses
mica, mostraram a atualidade da obra. Vislumbrou-se
crônicas...
vieses interessantes na construção das personagens.
E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os
e) Durante a leitura do livro, houveram várias dúvidas. O
braços, como fazem os nadadores, que caem do alto,
enredo e a temática abordada, que causou muita polê-
mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona,
mica, mostrou a atualidade da obra. Vislumbraram-se
trazia entre os dedos esta pérola:
vieses interessantes na construção das personagens.
“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e
RESOLUÇÃO:
independente de meios, deseja encontrar por esposo um
A forma verbal surgiram concorda com o sujeito “várias
homem de meia-idade, sério, instruído, e também com
dúvidas”; causou concorda com o sujeito que, o qual
meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só;
retoma “temática abordada”; mostraram concorda com o
resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais
sujeito composto “o enredo e a temática”; vislumbraram-se
M.R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”
está na voz passiva sintética e concorda com o sujeito
Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas
paciente “visões interessantes”.
desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato,
Resposta: A
porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa
mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só!
dizem as sagradas letras, mas não foi a religião que te
inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem
metafísico. Positivo também não, porque o positivismo
é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a
triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar;
estás cansada de viver só.
E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de
solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar
ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os
que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião
de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes
um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula
da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde
as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno.

6–
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2. (UNIFESP-2022) – No sexto parágrafo, por


Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de “náufrago, à espera de uma tábua de salvação” deve-se
salvação, pois que exiges que também possua. E há de entender um homem
ser instruído, para encher com as coisas do espírito as a) pobre.
longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) b) preguiçoso.
a tomada de Constantinopla. c) religioso.
Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes d) melancólico.

PORTUGUÊS
tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão e) egoísta.
da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, RESOLUÇÃO:
como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, A palavra “náufrago” conota, nesse período alegórico, um
perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que homem que perdeu os bens materiais, tornou-se
sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade empobrecido e espera conseguir um casamento que lhe dê
que me aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que boa condição econômica.
tu queres realmente, não é um marido, é um remédio Resposta: A
contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa —
porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito
anos —, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas
de um preparado para matar esse mal cruel e
indefinível. Não te contentas com o remédio de 3. (UNIFESP-2022)
Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada,
em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já “e disse comigo:
provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; — Eia, passemos em revista as procuras e ofertas,
mas queres menos um companheiro que uma caixeiros desempregados, pianos, magnésias,
companhia. sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar,
(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.) amas de leite, cobradores, coqueluche, hipotecas,
professores, tosses crônicas...” (1.o e 2.o parágrafos)
1. (UNIFESP-2022) – Para o cronista, a viúva
a) ainda não se mostra preparada para um novo Nesse trecho, observa-se um diálogo interior do cronista.
relacionamento amoroso. Se a fala do cronista fosse dirigida a um outro perso-
b) revela, sobretudo, receio de se mostrar uma mulher nagem, o termo sublinhado assumiria, na transposição do
vulnerável. trecho para o discurso indireto, a forma:
c) revela, sobretudo, receio de passar o restante da vida a) passe.
sozinha. b) passasse.
d) procura um novo companheiro que a faça perder o c) passaria.
medo de amar. d) passou.
e) ainda não encontrou, ao longo da vida, um amor e) passara.
verdadeiro. RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: O monólogo interior do personagem, ou seja, a fala dele
O cronista destaca do anúncio da viúva que procura um consigo mesmo, se fosse dita para um interlocutor em
marido a seguinte passagem: “desejo encontrar por esposo discurso indireto apresentaria o verbo no pretérito
um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com imperfeito do subjuntivo (passasse), já que a forma
meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só.” verbal usada pelo narrador encontra-se no presente do
Nota-se, portanto, o desejo da viúva em ter, sobretudo, um subjuntivo (passemos): Ele disse que passasse em revista
homem que queira deixar de viver sozinho, esteja “farto da as procuras e ofertas (...).
solidão”. Resposta: B
Resposta: C

–7
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4. (UNIFESP-2022) – Em “perguntando-lhe como se Leia o trecho do texto “A invenção das crenças”, de


havia de curar do tédio que sentia” (7.o parágrafo), os Adauto Novaes, para responder às questões de 6 a 10.
termos sublinhados referem-se, respectivamente,
a) a Sêneca e a Nero. Nos três últimos livros publicados na série “Muta-
b) a Nero e ao capitão da guarda de Nero. ções”, procuramos analisar as principais questões
c) ao capitão da guarda de Nero e a Sêneca. postas pelas grandes transformações por que passa o
d) a Nero e a Sêneca. Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica,
PORTUGUÊS

e) a Sêneca e ao capitão da guarda de Nero. biotecnológica e da informática. Os três livros foram:


RESOLUÇÃO: • Mutações — Novas configurações do mundo. Este
O pronome oblíquo “lhe” refere-se a Sêneca (“Escreveu primeiro livro mostra de que maneira a ciência e a
um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe”); o pronome técnica estão produzindo transformações sem
reflexivo “se” refere-se a “certo capitão da guarda de precedentes na história, em todas as áreas da atividade
Nero”, que queria livrar-se do tédio e para tanto consultou humana.
Sêneca. • Mutações — A condição humana. No segundo
Resposta: E livro, os ensaios respondem à questão: o que é viver
neste novo mundo?
• Mutações — A experiência do pensamento. Este
terceiro livro procurou analisar um problema muito
específico dessa mutação: posto que ela se origina da
revolução tecnocientífica e praticamente sem a ação
dos pressupostos das ciências humanas, tendemos a
5. (UNIFESP-2022) – O prefixo “in-” que compõe a dizer que ela é feita no vazio do pensamento. Ou
palavra “indefinível” (7.o parágrafo) tem o mesmo sentido melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente nova
do prefixo da palavra: que nem mesmo os velhos conceitos conseguem
a) contramão. explicar o que acontece. Como escreveu, portanto,
b) interconectado. Montaigne: quando a razão falha, voltemos à
c) metafísico. experiência. O que há de peculiar na mutação hoje é
d) anormal. que ela não recorre às “duas maiores invenções da
e) transnacional. humanidade, o passado e o futuro”. Tomemos como
RESOLUÇÃO: exemplo outra prodigiosa mutação que foi o
O prefixo “in-” tem sentido negativo, assim como o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo para o
prefixo “a-” presente na palavra “anormal”. Em futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo novo
“indefinível”, o prefixo dá ao termo o sentido de “aquilo e paixão pelo antigo. Seus eruditos, escreve o filósofo
que não pode ser definido”; em “anormal”, o prefixo dá Alexandre Koyré, “exumaram todos os textos
ao termo o sentido de “aquilo que não é normal, que foge esquecidos em velhas bibliotecas monásticas: leram
à normalidade”. tudo, estudaram tudo, tudo editaram. Fizeram
Na alternativa a, o prefixo “contra-”, de origem latina, renascer todas as doutrinas esquecidas dos velhos
tem sentido de “inversão, oposição”. Em b, o prefixo filósofos da Grécia e do Oriente: Platão, Plotino, o
“inter-” já tem o sentido de “no interior de dois, entre, no estoicismo, o epicurismo e pitagorismo, o hermetismo
espaço de”. Em c, o prefixo “meta-” tem o sentido de e a cabala. Seus sábios tentaram fundar uma nova
“entre, atrás, segundo, durante”, sendo o termo ciência, uma nova física, uma nova astronomia;
“metafísica” utilizado para representar o “estudo de ampliação sem precedente da imagem histórica,
realidades que transcendem a experiência sensível”. Por geográfica, científica do homem e do mundo.
fim, na alternativa e, o prefixo “trans” tem o sentido de Efervescência confusa e fecunda de ideias novas e
“além de, para lá de, depois de”. ideias renovadas. Renascimento de um mundo
Resposta: D esquecido e nascimento de um mundo novo. Mas

8–
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7. (UNIFESP-2022) – Em relação ao Renascimento, o


ambém: crítica, abalo e, enfim, destruição e morte autor ressalta, sobretudo, seu caráter
progressiva das antigas crenças, das antigas concepções, a) ambivalente.
das antigas verdades tradicionais, que davam ao homem b) conservador.
a certeza do saber e a segurança da ação”. Nada disso c) ingênuo.
vemos hoje na mutação tecnocientífica, a não ser o s) dogmático.
elogio dos fatos e dos acontecimentos técnicos e, e) visionário.

PORTUGUÊS
principalmente, o elogio do presente eterno, sem passado RESOLUÇÃO:
nem futuro. Segundo Adauto Novaes, o Renascimento “apontava ao
(https://artepensamento.ims.com.br. Adaptado.) mesmo tempo para o futuro e para o passado, verdadeira
paixão pelo novo e paixão pelo antigo”, o que comprova
6. (UNIFESP-2022) – De acordo com o autor, a atual o caráter ambivalente renascentista.
mutação tecnocientífica, Resposta: A
a) diferentemente do Renascimento, mostra-se atenta aos
fatos produzidos pela técnica.
b) diferentemente do Renascimento, mostra-se em-
penhada em destruir antigas crenças.
c) a exemplo do Renascimento, mostra-se atenta aos
fatos produzidos pela técnica.
d) a exemplo do Renascimento, mostra-se empenhada
em resgatar antigas crenças.
e) a exemplo do Renascimento, mostra-se preocupada
com as consequências futuras da ciência. 8. (UNIFESP-2022) – Dos seguintes trechos extraídos
RESOLUÇÃO: do texto, aquele cuja formulação pode ser considerada
De acordo com o texto, os sábios do Renascimento mais objetiva e impessoal é:
“tentaram fundar uma nova ciência, uma nova física, a) “Tomemos como exemplo outra prodigiosa mutação
uma nova astronomia”, ampliando a “imagem histórica, que foi o Renascimento: ela apontava ao mesmo tempo
geográfica, científica do homem e do mundo”, assim para o futuro e para o passado, verdadeira paixão pelo
como, hoje, a mutação tecnocientífica parte do “elogio novo e paixão pelo antigo.” (4.o parágrafo)
dos fatos e dos acontecimentos técnicos”. b) “Nos três últimos livros publicados na série
Resposta: C ‘Mutações’, procuramos analisar as principais questões
postas pelas grandes transformações por que passa o
Ocidente a partir das revoluções tecnocientífica,
biotecnológica e da informática.” (1.o parágrafo)
c) “Ou melhor, vivemos uma realidade tão inteiramente
nova que nem mesmo os velhos conceitos conseguem
explicar o que acontece.” (4.o parágrafo)
d) “Este terceiro livro procurou analisar um problema
muito específico dessa mutação: posto que ela se
origina da revolução tecnocientífica e praticamente
sem a ação dos pressupostos das ciências humanas,
tendemos a dizer que ela é feita no vazio do
pensamento.” (4.o parágrafo)
e) “Este primeiro livro mostra de que maneira a ciência e
a técnica estão produzindo transformações sem
precedentes na história, em todas as áreas da atividade
humana.” (2.o parágrafo)

–9
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RESOLUÇÃO:
O emprego dos verbos na primeira pessoa do plural
caracteriza um discurso mais pessoal e subjetivo, como
se pode perceber nas alternativas a, b, c e d. Assim, o
fragmento apresentado na alternativa e é de caráter
objetivo e impessoal porque se empregam verbos na
terceira pessoa.
PORTUGUÊS

Resposta: E

9. (UNIFESP-2022) – “posto que ela se origina da


revolução tecnocientífica e praticamente sem a ação dos
pressupostos das ciências humanas, tendemos a dizer que
ela é feita no vazio do pensamento.” (4.o parágrafo)
Em relação ao trecho que a sucede, a oração sublinhada
expressa ideia de
a) comparação.
b) conclusão.
c) condição.
d) causa.
e) consequência.
RESOLUÇÃO:
A locução conjuntiva “posto que” é classificada pela
gramática normativa como concessiva, porém é
empregada informalmente com valor causal, como é o
caso da locução usada por Adauto Novaes , que pode ser
substituída pelas conjunções porque, já que, uma vez.
Resposta: D

10 –
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para cumprir compromissos que se renovam ao infinito,


Módulo 3 se tão poucos se lembram que sonham pela simples falta
de oportunidade de contemplar a vida interior, quando a
Para responder às questões de 1 a 4, leia o trecho do livro insônia grassa e o bocejo se impõe, chega-se a duvidar da
O oráculo da noite, do neurocientista Sidarta Ribeiro. sobrevivência do sonho.
E, no entanto, sonha-se. Sonha-se muito e a granel,

PORTUGUÊS
A palavra sonho, do latim somnium, significa muitas sonha-se sofregamente apesar das luzes e dos ruídos
coisas diferentes, todas vivenciadas durante a vigília, e da cidade, da incessante faina da vida e da tristeza das
não durante o sono. Realizei “o sonho da minha vida”, perspectivas. Dirá a formiga cética que quem sonha
“meu sonho de consumo” são frases usadas assim tão livre é o artista, cigarra de fábula que vive
cotidianamente pelas pessoas para dizer que pretendem de brisa. [...] Na peça teatral A vida é sonho, o
ou conseguiram alcançar algo. Todo mundo tem um espanhol Pedro Calderón de la Barca dramatizou a
sonho, no sentido de plano futuro. Todo mundo deseja liberdade de construir o próprio destino. O sonho é a
algo que não tem. Por que será que o sonho, fenômeno imaginação sem freio nem controle, solta para temer,
normalmente noturno que tanto pode evocar o prazer criar, perder e achar.
quanto o medo, é justamente a palavra usada para (O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho, 2019.)
designar tudo aquilo que se quer ter?
O repertório publicitário contemporâneo não tem
1. (UNIFESP-2021) – De acordo com o texto,
dúvidas de que o sonho é a força motriz de nossos
a) o mal-estar que acomete a civilização contemporânea
comportamentos. Desejo é o sinônimo mais preciso da
está intimamente ligado à extinção do sonho no
palavra “sonho”. [...] Na área de desembarque de um
mundo industrial.
aeroporto nos Estados Unidos, uma foto enorme de um
b) o entendimento da dinâmica do mundo industrial atual
casal belo e sorridente, velejando num mar caribenho em
implica a compreensão de que a natureza dos sonhos
dia ensolarado, sob a frase enigmática: “Aonde seus
também se transforma historicamente.
sonhos o levarão?”, embaixo o logotipo da empresa de
c) a banalização do sonho mostra-se intimamente
cartão de crédito. Deduz-se do anúncio que os sonhos
relacionada à dinâmica acelerada do mundo industrial
são como veleiros, capazes de levar-nos a lugares
contemporâneo.
idílicos, perfeitos, altamente… desejáveis. As equações
d) o ritmo acelerado do mundo industrial contemporâneo
“sonho é igual a desejo que é igual a dinheiro” têm como
impossibilita a contemplação da vida interior pela via
variável oculta a liberdade de ir, ser e principalmente ter,
do sonho.
liberdade que até os mais miseráveis podem
e) a interrupção da dinâmica perversa do mundo
experimentar no mundo de regras frouxas do sonho
globalizado implica o reconhecimento de que os
noturno, mas que no sonho diurno é privilégio apenas
sonhos acabaram por se tornar irrelevantes.
dos detentores de um mágico cartão plástico. RESOLUÇÃO:
A rotina do trabalho diário e a falta de tempo para O trecho do texto “O oráculo da noite” evidencia que o
dormir e sonhar, que acometem a maioria dos sonho, no contexto contemporâneo, é a força motriz da
trabalhadores, são cruciais para o mal-estar da ação das pessoas, que, em sua grande maioria, acreditam
civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a ser possível viver um “mundo de regras frouxas do sonho
relevância motivacional do sonho e sua banalização no noturno”. A maioria dos trabalhadores, por outro lado,
mundo industrial globalizado. [...] A indústria da saúde entregam-se a uma rotina diária de trabalho e, como
do sono, um setor que cresce aceleradamente, tem valor consequência, não têm tempo para dormir e sonhar.
estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares. Dessa forma, apenas os donos de cartão de crédito, os
Mesmo assim a insônia impera. Se o tempo é sempre ricos, podem alcançar o sonho (desejo), construído e
escasso, se despertamos diariamente com o toque propagandeado pelo mundo industrial contemporâneo.
insistente do despertador, ainda sonolentos e já atrasados Resposta: C

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2. (UNIFESP-2021) – “Mesmo assim a insônia impera.” 4. (UNIFESP-2021) – Pode ser reescrito na voz passiva
(3.o parágrafo) No contexto em que se encontra, a o seguinte trecho do texto:
expressão sublinhada exprime ideia de a) “Pedro Calderón de la Barca dramatizou a liberdade
a) causa. de construir o próprio destino” (4.o parágrafo).
b) condição. b) “É gritante o contraste entre a relevância motivacional
c) oposição. do sonho e sua banalização no mundo industrial
d) conclusão. globalizado” (3.o parágrafo).
PORTUGUÊS

e) consequência. c) “O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta


RESOLUÇÃO: para temer, criar, perder e achar” (4.o parágrafo).
O texto de Sidarta Ribeiro apresenta, no terceiro d) “Mesmo assim a insônia impera” (3.o parágrafo).
parágrafo, a oposição entre o crescimento da indústria do e) “Desejo é o sinônimo mais preciso da palavra
sono, “que cresce aceleradamente e tem valor estimado ‘sonho’” (2.o parágrafo).
entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares” e a persistência RESOLUÇÃO:
da insônia no mundo atual. Essa relação de oposição A oração “Pedro Calderón de la Barca dramatizou a
sintetizada na passagem “mesmo assim a insônia liberdade de construir o próprio destino” é a única que
impera” é apreensível pelo contexto e pela conjunção pode ser reescrita na voz passiva porque apresenta verbo
“mesmo assim”. transitivo direto (“dramatizou”), tendo como objeto
Resposta: C direto “a liberdade de construir o próprio destino”. Na
voz passiva, tem-se: “A liberdade de construir o próprio
destino foi dramatizada por Pedro Calderón de la Barca”.
Em b, c e e, os verbos são de ligação, e em c e d há
verbos intransitivos.
Resposta: A
3. (UNIFESP-2021) – A palavra sublinhada em “Se o
tempo é sempre escasso, se despertamos diariamente” (3.o
parágrafo) pertence à mesma classe gramatical da palavra
sublinhada em
a) “sonha-se sofregamente apesar das luzes e dos ruídos
da cidade” (4.o parágrafo).
b) “se tão poucos se lembram que sonham” (3.o
parágrafo).
c) “quando a insônia grassa e o bocejo se impõe” (3.o
parágrafo).
d) “chega-se a duvidar da sobrevivência do sonho” (3.o
parágrafo).
e) “compromissos que se renovam ao infinito” (3.o
parágrafo).
RESOLUÇÃO:
Os dois “ses” que aparecem no enunciado da questão são
conjunções condicionais, assim como na alternativa b. Na
a, o “se” é índice de indeterminação do sujeito; em c, é
parte integrante do verbo “impor-se”; em d, é índice de
indeterminação do sujeito; e em e, é pronome apassivador.
Resposta: B

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Leia um trecho do artigo “Reflexões sobre o tempo e a 5. (UNIFESP) – “Mas, segundo nossa separação
origem do Universo”, do físico brasileiro Marcelo estrutural, o presente não pode ter duração no tempo, pois
Gleiser, para responder às questões de 5 a 8. nesse caso poderíamos definir um período no seu passado
e no seu futuro.” (2.o parágrafo)
Qualquer discussão sobre o tempo deve começar Os pronomes destacados no texto referem-se a
com uma análise de sua estrutura, que, por falta de a) “separação”.
melhor expressão, devemos chamar de “temporal”. É b) “presente”.

PORTUGUÊS
comum dividirmos o tempo em passado, presente e c) “caso”.
futuro. O passado é o que vem antes do presente e o d) “tempo”.
futuro é o que vem depois. Já o presente é o “agora”, e) “período”.
o instante atual. RESOLUÇÃO:
Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para As duas ocorrências do pronome possessivo “seu”
definirmos passado e futuro, precisamos definir o referem-se ao termo “presente”, que se encontra no início
presente. Mas, segundo nossa separação estrutural, o do período.
presente não pode ter duração no tempo, pois nesse Resposta: B
caso poderíamos definir um período no seu passado e
no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em
nossas definições, o presente não pode ter duração no
tempo. Ou seja, o presente não existe!
A discussão acima nos leva a outra questão, a da
origem do tempo. Se o tempo teve uma origem, então
existiu um momento no passado em que ele passou a
existir. Segundo nossas modernas teorias
cosmogônicas, que visam explicar a origem do 6. (UNIFESP) – “Em sua teoria da relatividade geral, ele
Universo, esse momento especial é o momento da mostrou que a presença de massa (ou de energia)
origem do Universo “clássico”. A expressão também influencia a passagem do tempo, embora esse
“clássico” é usada em contraste com “quântico”, a efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.” (4.o parágrafo)
área da física que lida com fenômenos atômicos e Ao se converter o trecho destacado para a voz passiva, o
subatômicos. verbo “influencia” assume a seguinte forma:
[...] a) é influenciada.
As descobertas de Einstein mudaram b) foi influenciada.
profundamente nossa concepção do tempo. Em sua c) era influenciada.
teoria da relatividade geral, ele mostrou que a d) seria influenciada.
presença de massa (ou de energia) também influencia e) será influenciada.
a passagem do tempo, embora esse efeito seja RESOLUÇÃO:
irrelevante em nosso dia a dia. O tempo relativístico O verbo da oração na voz ativa está no presente do
adquire uma plasticidade definida pela realidade física indicativo (“influencia”). Ao se passar a frase para a voz
à sua volta. A coisa se complica quando usamos a passiva, deve-se colocar o verbo auxiliar também no
relatividade geral para descrever a origem do presente do indicativo (“é”), seguido do verbo
Universo. influenciar no particípio (“influenciada”).
(Folha de S.Paulo, 07.06.1998.) Resposta: A

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7. (UNIFESP) – Em “[Einstein] mostrou que a presença 9. (UNIFESP) – Examine a tira do cartunista argentino
de massa (ou de energia) também influencia a passagem Quino (1932- ).
do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso "VICTOR VÊ A UVA DA VINHA.
dia a dia.” (4.o parágrafo), a conjunção destacada pode ser - ESTA UVA É BOA, SR. BRÁULIO."

substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por: "SIM, VICTOR, ESTA UVA É BOA.
a) visto que. - SR. BRÁULIO, VEJA OS BARRIS
DE BOM VINHO!"
b) a menos que.
PORTUGUÊS

ACHO QUE DEVERIAM CONSTRUIR


c) ainda que.
UM MONUMENTO A ESSES AUTORES
d) a fim de que. SACRIFICADOS QUE EM VEZ DE
ESCREVEREM COISAS INTELIGENTES
e) desde que. PREFEREM NOS ENSINAR A LER.
RESOLUÇÃO:
A conjunção “embora” pode ser substituída por “ainda
que”, uma vez que ambas estabelecem relação de
concessão ou ressalva da oração com a anterior.
Resposta: C

(Quino. A pequena filosofia da Mafalda, 2015.)

As frases citadas pela personagem Mafalda no início de


sua fala foram extraídas de
a) um anúncio publicitário.
b) um livro sobre culinária.
8. (UNIFESP) – O processo de formação de palavras c) uma peça de teatro.
verificado em “estrutural” (2.o parágrafo) também está d) uma cartilha escolar.
presente em e) um guia turístico.
a) “futuro” (1.o parágrafo). RESOLUÇÃO:
b) “portanto” (2.o parágrafo). Fica evidente que é uma cartilha, porque cada uma das
frases entre aspas contém uma mesma consoante que se
c) “momento” (3.o parágrafo).
repete em várias palavras. Trata-se, pois, de exercícios de
d) “plasticidade” (4.o parágrafo).
fixação da fase de alfabetização infantil.
e) “origem” (3.o parágrafo). Resposta: D
RESOLUÇÃO:
A palavra “estrutural” é um adjetivo formado pelo
processo de derivação sufixal, assim como o substantivo
“plasticidade”.
Resposta: D

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10. (UNIFESP) – Examine a tira.

Módulo 4
Leia o conto de Carlos Drummond de Andrade para
responder às questões de 1 a 5.
(http://adao.blog.uol.com.br)

PORTUGUÊS
O ENTENDIMENTO DOS CONTOS

Bastante comum na fala coloquial, o modo de se empregar — Agora você vai me contar uma história de amor
o pronome na fala da personagem – Maneiro encontrar tu! — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história
– também ocorre em: de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e
a) Aquele livro era para nós uma joia, pois tinha sido de satélites artificiais.
nosso avô e de nosso pai. — Pois não — respondeu a moça, que acabara de
b) Era uma situação embaraçosa e para eu me livrar dela concluir o mestrado de contador de histórias, e estava
seria bastante difícil mesmo. com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez
c) Todos tinham certeza de que ela ofereceria para mim um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e
o primeiro pedaço de bolo. o governo como tudo mais se fazia em embarcações
d) Quando o pessoal chegou na frente do prédio, viu ali atracadas ou em movimento, conforme o tempo.
ele com a namorada nova. Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas
e) A todos volto a afirmar que entre mim e ti não existem não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se
mais rancores nem tristezas. recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um
RESOLUÇÃO: belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria
Na tirinha, a fala em linguagem coloquial “Maneiro uma frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
encontrar tu” apresenta o pronome pessoal reto em Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo
função objetiva. O mesmo ocorre em “viu ali ele com a de embarcação há muito fora de uso. Osmundo
namorada nova”. Corrigindo-se ambos, tem-se: apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou,
“Maneiro te encontrar” e “viu-o ali com a namorada”. enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas,
Resposta: D que de latinas não tinham um centavo. Osmundo,
desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem
êxito, pois desceu no fundo das águas e lá encontrou
um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis,
diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona
para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto.
Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me
em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda
não tinham sido inventados. Continuou humilde
satélite de Sertória, que ultimamente passeava de uma
lancha para outra, levando-o preso a um cordão de
seda, com a inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço,
insatisfeito.
— Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos
devem ser contados, e não entendidos; exatamente
como a vida.
(Contos plausíveis, 2012.)

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1. (UNIFESP-2021) – No texto, a moça 3. (UNIFESP-2021) – O título do conto antecipa seu


a) finge não entender o próprio conto para perturbar o caráter
rapaz. a) melancólico.
b) sugere que a vida, como a maioria dos contos, b) fantástico.
dificilmente termina bem. c) ambíguo.
c) sugere que dificilmente o sentido da vida possa caber d) satírico.
em um conto.
PORTUGUÊS

e) metalinguístico.
d) acredita que a vida precisa ser decifrada, como a RESOLUÇÃO:
maioria dos contos. A metalinguagem é a linguagem que descreve sobre ela
e) acredita que os contos, como a vida, prescindem de mesma. Ou seja, ela utiliza o próprio código para
explicação. explicá-lo. Assim, o título “O entendimento dos contos”
RESOLUÇÃO: antecipa tal caráter, já que ele contém menção ao gênero
No texto “O entendimento dos contos”, há dois planos do texto de Drummond (o conto).
narrativos: um, da moça que conta uma história ao rapaz, Resposta: E
e o outro, da história contada, em que figuram Osmundo
e Sertória, personagens do conto. “A moça do primeiro
plano”, mestre em contar histórias, ao terminar sua
narração, explica que “os contos devem ser contados, e
não entendidos; exatamente como a vida.” Dessa forma,
na visão da moça, os contos devem prescindir de
explicação.
Resposta: E
4. (UNIFESP-2021) – Observa-se o emprego de
expressão própria da linguagem coloquial no trecho
a) “Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para
seus familiares” (2.o parágrafo).
2. (UNIFESP-2021) – Em sua história, a moça incorre
b) “Sertória não aceitou, enumerando os defeitos, a
em contradição ao tratar
começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham
a) das caravelas. um centavo” (3.o parágrafo).
b) da recusa de Sertória em se casar. c) “Era uma vez um país onde só havia água, eram águas
c) da tentativa de suicídio de Osmundo. e mais águas” (2.o parágrafo).
d) dos satélites artificiais. d) “Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos,
e) das pedras preciosas. mas não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus
RESOLUÇÃO: sonhos, se recusava a casar com ele” (2.o parágrafo).
No conto, a narradora identificada apenas como “a e) “Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que
moça” conta ao seu interlocutor, “o moço”, uma história fez sem êxito” (3.o parágrafo).
sobre como Osmundo tentou agradar sem sucesso RESOLUÇÃO:
Sertória, com quem desejava casar-se. Após várias A linguagem coloquial refere-se ao registro informal da
tentativas malsucedidas, ele decide transformar-se em língua, correspondendo, por exemplo, aos seus usos
“satélite artificial”. No entanto, a narradora afirma que cotidianos e expressões populares. Na alternativa b,
estes “ainda não haviam sido inventados”. verifica-se um caso de coloquialidade no segmento “que
Resposta: D de latinas não tinham um centavo”. A expressão
destacada expõe uma avaliação negativa das caravelas
ofertadas pelo pretendente, pois nem se aproximavam do
ideal almejado.
Resposta: B

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4. (UNIFESP-2021) – “— Agora você vai me contar Para responder às questões 6 e 7, leia o trecho de uma
uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero carta de Charles Darwin ao biólogo Joseph Hooker em
ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, 11.01.1844.
pedras preciosas e satélites artificiais.” (1.o parágrafo)
Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, os Além de um interesse geral pelas terras
termos sublinhados assumem, respectivamente, as meridionais, desde que retornei tenho me dedicado a
seguintes formas: um trabalho muito ambicioso que nenhum indivíduo

PORTUGUÊS
que conheço deixaria de considerar muito bobo.
a) “quis” e “entravam”.
Fiquei tão impressionado com a distribuição dos
b) “queria” e “entravam”.
organismos nas Galápagos e com a natureza dos
c) “quis” e “entrassem”. fósseis de mamíferos americanos, que resolvi recolher
d) “queria” e “entrassem”. todo tipo de coisa que pudesse ter alguma relação com
e) “quisera” e “entraram”. alguma espécie. Li montanhas de livros sobre
RESOLUÇÃO: agricultura e horticultura e não paro de coletar
Ao transpor os verbos “quero”, presente do indicativo, e informações. Por fim surgiu uma luz, e estou quase
“entrem”, presente do subjuntivo, para o discurso convencido (ao contrário do que achava inicialmente)
indireto, obtém-se: “queria”, pretérito imperfeito do de que as espécies (é como confessar um homicídio)
indicativo, e “entrassem”, pretérito imperfeito do não são imutáveis. Deus me livre das bobagens de
subjuntivo. A passagem completa transposta para o Lamarck como “tendência ao progresso”, “adaptações
discurso indireto fica: “O rapaz disse à moça que, a partir do esforço dos animais”, — porém minhas
naquele momento, ela iria lhe contar uma história de conclusões não diferem muito das dele — embora a
amor. E aduz dizendo-lhe que queria ouvir uma história forma da mudança difira inteiramente — creio que
de amor em que entrassem caravelas, pedras preciosas e descobri (que presunção!) a maneira simples pela qual
satélites artificiais.” as espécies se adaptam a várias finalidades.
Resposta: D (Shaun Usher (org.). Cartas extraordinárias, 2014.)

6. (UNIFESP-2020) – Em termos figurados, a dimensão


transgressora de sua teoria é reforçada por Darwin no
seguinte trecho
a) “Deus me livre das bobagens de Lamarck”.
b) “um trabalho muito ambicioso”.
c) “é como confessar um homicídio”.
d) “nenhum indivíduo que conheço deixaria de
considerar muito bobo”.
e) “ao contrário do que achava inicialmente”.
RESOLUÇÃO:
Nessa carta, a referência que Darwin faz sobre a mutabi-
lidade das espécies tem um efeito tão transgressor que é
comparado à confissão de um homicídio, pois o cientista
tinha consciência de que essa teoria se opunha a
concepções religiosas e dogmáticas.
Resposta: C

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7. (UNIFESP-2020) – “Deus me livre das bobagens de 8. (UNIFESP) – A moral mais apropriada para fechar a
Lamarck como ‘tendência ao progresso’, ‘adaptações a fábula seria:
partir do esforço dos animais’, — porém minhas a) Esta fábula pode ser dita a propósito de homens
conclusões não diferem muito das dele — embora a desventurados que, quando estão em situações
forma da mudança difira inteiramente — creio que embaraçosas, rezam para encontrar uma saída, mas
descobri (que presunção!) a maneira simples pela qual as assim que encontram procuram evitá-las.
espécies se adaptam a várias finalidades.” b) Desta fábula pode servir-se uma pessoa a propósito
PORTUGUÊS

No contexto em que se insere, o trecho sublinhado daqueles homens que nitidamente proclamam ações
expressa ideia de nobres, mas na prática realizam atos vis.
a) comparação. c) Esta fábula mostra que os homens desatentos prestam
b) causa. atenção nas coisas de que esperam tirar proveito, mas
permanecem apáticos em relação àquelas que não lhes
c) conclusão.
agradam.
d) consequência.
d) Assim, alguns homens se entregam a tarefas
e) concessão. arriscadas, na esperança de obter ganhos, mas se
RESOLUÇÃO:
arruínam antes mesmo de chegar perto do que
A oração introduzida pela conjunção “embora” é almejam.
subordinada adverbial concessiva em relação à anterior.
e) Desta fábula pode servir-se uma pessoa a propósito de
Esse conectivo pode ser substituído por “ainda que”,
um homem frouxo que reclama de ínfimas desgraças,
“mesmo que”, “se bem que”. enquanto ela própria suporta, sem dificuldade,
Resposta: E desgraças enormes.
RESOLUÇÃO:
É nítida, na fábula “A raposa e o lenhador”, de Esopo, o
ensinamento moral acerca de pessoas que, com
hipocrisia, escondem suas práticas vis, mascarando-as
por meio de um discurso em que buscam apresentar
nobreza de caráter.
Leia a fábula “A raposa e o lenhador”, do escritor grego Resposta: B
Esopo (620 a.C.?-564 a.C.?), para responder às questões
de 8 a 10.

Enquanto fugia de caçadores, uma raposa viu um


lenhador e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu
que ela entrasse em sua cabana e se ocultasse lá
dentro. Não muito tempo depois, vieram os caçadores
e perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma
raposa passar por ali. Em voz alta ele negou tê-la
visto, mas com a mão fez gestos indicando onde ela
estava escondida. Entretanto, como eles não
prestaram atenção nos seus gestos, deram crédito às
suas palavras. Ao constatar que eles já estavam longe,
a raposa saiu em silêncio e foi indo embora. E o
lenhador se pôs a repreendê-la, pois ela, salva por ele,
não lhe dera nem uma palavra de gratidão. A raposa
respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua
mão fossem condizentes com suas palavras.”
(Fábulas completas, 2013.)

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9. (UNIFESP) – “Entretanto, como eles não prestaram


atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras.”
Em relação à oração que a sucede, a oração destacada tem
sentido de
a) causa.
b) conclusão.

PORTUGUÊS
c) proporção.
d) consequência.
e) comparação.
RESOLUÇÃO:
A oração destacada estabelece relação de causa com a
oração posterior, que é a sua consequência.
Resposta: A

10. (UNIFESP) – Os trechos “Ele sugeriu que ela


entrasse em sua cabana” e “vieram os caçadores e
perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma raposa”
foram construídos em discurso indireto. Ao se transpor
tais trechos para o discurso direto, o verbo “entrasse” e a
locução verbal “tinha visto” assumem, respectivamente,
as seguintes formas:
a) “entrai” e “vira”.
b) “entrou” e “viu”.
c) “entre” e “vira”.
d) “entre” e “viu”.
e) “entrai” e “viu”.
RESOLUÇÃO:
No discurso indireto, a forma verbal “entrasse”, no
imperfeito do subjuntivo, passa, no discurso direto, para
o imperativo: “entre”. O pretérito mais-que-perfeito
composto “tinha visto”, no discurso indireto, passa para
o pretérito perfeito no discurso direto: “viu”.
Resposta: D

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RESOLUÇÃO:

Módulo 5 Os dois versos finais da segunda estrofe evidenciam o


logro que foi aplicado ao genro. Labão, tanto nesse
poema como no texto bíblico em que esses versos se
Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580) baseiam, usa de ardil e entrega Lia, sua filha
para responder aos testes 1 e 2: primogênita, a Jacob, que, enganado, consuma o
Sete anos de pastor Jacob servia casamento.
PORTUGUÊS

Labão, pai de Raquel, serrana bela; Resposta: A


mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


passava, contentando-se com vê-la; 2. (UNIFESP) – Do ponto de vista formal, o tipo de
porém o pai, usando de cautela, verso e o esquema de rimas que caracterizam esse soneto
em lugar de Raquel lhe dava Lia. camoniano são, respectivamente,
a) dodecassílabo e ABAB ABAB ABC ABC.
Vendo o triste pastor que com enganos b) decassílabo e ABAB ABAB CDC DCD.
lhe fora assi negada a sua pastora, c) heptassílabo e ABBA ABBA CDE CDE.
como se a não tivera merecida, d) decassílabo e ABBA ABBA CDE CDE.
e) dodecassílabo e ABBA ABBA CDE CDE.
começa de servir outros sete anos, RESOLUÇÃO:
dizendo: “Mais servira, se não fora Os versos são decassílabos, conforme se confirma na
para tão longo amor tão curta a vida”. escansão:
(Luís Vaz de Camões, Sonetos, 2001.)
Se / te a / nos / de / pas / tor / Ja / cob / ser / vi (a)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
La / bão, / pai / de / Ra / quel / se / rra / na / be / (la)
1. (UNIFESP) – De acordo com a história narrada pelo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
soneto,
a) Labão engana Jacob, entregando-lhe a filha Lia, em Trata-se da medida nova, que é característica da poesia
vez de Raquel. clássica de Camões. A disposição de rima é interpolada
b) Labão aceita ceder Lia a Jacob, se este lhe entregar nos quartetos (ABBA, ABBA) e intercalada nos tercetos
Raquel. (CDE, CDE).
c) Labão obriga Jacob a trabalhar mais sete anos para Resposta: D
obter o amor de Lia.
d) Jacob descumpre o acordo feito com Labão, negando-lhe
a filha Raquel.
e) Jacob morre antes de completar os sete anos de
trabalho, não obtendo o amor de Raquel.

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Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, 4. (UNIFESP) – A sinestesia consiste em transferir
do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para percepções de um sentido para as de outro, resultando
responder aos testes 3 e 4: um cruzamento de sensações (Celso Cunha, Gramática
Essencial, 2013). Verifica-se a ocorrência desse recurso
À margem de uma fonte, que corria, no seguinte verso:
Lira doce dos pássaros cantores a) “Flores canoras, pássaros fragrantes” (3.a estrofe)
A bela ocasião das minhas dores b) “À margem de uma fonte, que corria” (1.a estrofe)

PORTUGUÊS
Dormindo estava ao despertar do dia. c) “Porém abrindo Sílvia os dois diamantes” (4.a estrofe)
d) “Dominava o silêncio entre as flores” (2.a estrofe)
Mas como dorme Sílvia, não vestia e) “O céu seus horizontes de mil cores” (2.a estrofe)
O céu seus horizontes de mil cores; RESOLUÇÃO:
Dominava o silêncio entre as flores, Em “flores canoras, pássaros fragrantes”, mesclam-se as
Calava o mar, e rio não se ouvia. sensações auditiva (“canoras” = cantantes) e olfativa
(“fragrantes” = perfumados). É como se o atributo dos
Não dão o parabém à nova Aurora pássaros fosse transferido às flores e vice-versa.
Flores canoras, pássaros fragrantes, Resposta: A
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,


Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.
(Poemas Escolhidos)

Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos Peixes”,


3. (UNIFESP) – No soneto, a seguinte expressão é de Antônio Vieira (1608-1697), para responder aos testes
empregada pelo eu lírico em lugar de sua musa Sílvia: 5 e 6:
a) “Flores canoras, pássaros fragrantes”.
b) “À margem de uma fonte, que corria”. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós,
c) “O céu seus horizontes de mil cores”. é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é
d) “A bela ocasião das minhas dores”. este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só
e) “Aves cheirosas, flores ressonantes”. vos comeis uns aos outros, senão que os grandes
RESOLUÇÃO: comem os pequenos. (...) Santo Agostinho, que
A musa Sílvia, no soneto, é referida por meio da perífrase pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste
ou circunlóquio (quando uma palavra é substituída por escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos
uma expressão cujo significado é o mesmo da palavra peixes, para que vejais quão feio e abominável é,
substituída): “A bela ocasião das minhas dores” (= Sílvia). quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do
Resposta: D mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo.
Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para
cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar.
Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros,
muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem
os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo
aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e
cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas,
vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego?
Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens
como hão de comer, e como se hão de comer.
(...)

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Leia o poema de Leonor de Almeida Portugal Lorena e


Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, Lencastre, também conhecida como Marquesa de Alorna,
senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, para responder aos testes 7 e 8:
porque a plebe e os plebeus, que são os mais
pequenos, os que menos podem, e os que menos Retratar a tristeza em vão procura
avultam na república, estes são os comidos. E não só Quem na vida um só pesar não sente,
diz que os comem de qualquer modo, senão que os Porque sempre vestígios de contente
PORTUGUÊS

engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os Hão de apar’cer por baixo da pintura:
grandes que têm o mando das cidades e das
províncias, não se contenta a sua fome de comer os Porém eu, infeliz, que a desventura
pequenos um por um, poucos a poucos, senão que O mínimo prazer me não consente,
devoram e engolem os povos inteiros (...). Em dizendo o que sinto, a mim somente,
(Antônio Vieira, Essencial, 2011.) Parece que compete esta figura.

5. (UNIFESP) – No sermão, Vieira critica Sinto o bárbaro efeito das mudanças,


a) a preguiça desmesurada dos miseráveis. Dos prazeres o mais cruel pesar,
b) a falta de ambição dos miseráveis. Sinto do que perdi tristes lembranças;
c) a ganância excessiva dos poderosos.
d) o excesso de humildade dos miseráveis. Condenam-me a chorar, e a não chorar,
e) o excesso de vaidade dos poderosos. Sinto a perda total das esperanças,
RESOLUÇÃO: E sinto-me morrer sem acabar.
(Marquesa de Alorna, Sonetos)
Padre Antônio Vieira critica “a ganância excessiva dos
poderosos”. Essa crítica pode ser notada nesta passagem,
entre outras: “Porque os grandes que têm o mando das 7. (UNIFESP) – Na primeira estrofe, o eu lírico explora,
cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de sobretudo, a seguinte oposição:
comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão a) razão x loucura.
que devoram e engolem os povos inteiros”. b) abstração x concretude.
Resposta: C c) essência x aparência.
d) determinação x hesitação.
e) consideração x indiferença.
6. (UNIFESP) – Em “Cuidais que só os tapuias se comem RESOLUÇÃO:
uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais Há a oposição entre a essência, a felicidade interior, e a
se comem os brancos.” (1.º parágrafo), os termos em aparência, a manifestação um tanto inconvincente do
destaque foram empregados, respectivamente, em sentido pesar, da tristeza.
a) literal, figurado e figurado. Resposta: C
b) figurado, figurado e literal.
c) literal, literal e figurado.
d) figurado, literal e figurado.
e) literal, figurado e literal.
RESOLUÇÃO:
Havia entre algumas tribos indígenas brasileiras o hábito
de comer a carne dos inimigos: antropofagia. Portanto, o
sentido é literal. “Açougue” foi empregado em sentido
figurado, referindo-se à matança generalizada promovida
pelos “brancos”, que “mais se comem”, ou seja, mais se
destroem.
Resposta: A

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8. (UNIFESP) – Uma característica do poema que Texto para o teste 10.


antecipa a estética romântica é
a) a predileção pela forma fixa. Caracterizou-o sempre um sincero amor pelas
b) o tom socialmente engajado. coisas de sua terra, pela sua gente, e se existe obra que
c) o ideal da impessoalidade. possa ser chamada de brasileira, é a dele. Se seus
d) a ênfase na expressão subjetiva. assuntos eram o homem e a terra do Brasil, apanhados
e) o retrato bucólico da paisagem. no Norte, no Sul, no Centro, a forma por que os

PORTUGUÊS
RESOLUÇÃO: explorava era também brasileira, pela sintaxe que
Nesse soneto, a expressão subjetiva é recorrente. Há a empregava e pelos modismos que introduzia. O Brasil
reiteração do pronome de primeira pessoa do singular do campo e o das cidades está presente em sua obra,
[“eu”, “me”, “me”, “(eu) sinto”]. assim como o homem da sociedade, o homem da rua
Resposta: D e o trabalhador rural. Abarcou os aspectos mais
variados da nossa sensibilidade e da nossa formação,
Leia o poema de Almeida Garrett: constituindo sua obra um painel a que nada falta,
inclusive o índio, que nela tem participação
SEUS OLHOS considerável.
(José Paulo Paes e Massaud Moisés (orgs),
Seus olhos — se eu sei pintar Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, 1980. Adaptado.)
O que os meus olhos cegou —
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar; 10. (UNIFESP) – Tal comentário refere-se ao escritor
E o fogo que a ateou a) Machado de Assis.
Vivaz, eterno, divino, b) Manuel Antônio de Almeida.
Como facho do Destino. c) José de Alencar.
d) Aluísio Azevedo.
Divino, eterno! — e suave e) Guimarães Rosa.
Ao mesmo tempo: mas grave RESOLUÇÃO:
E de tão fatal poder, O comentário feito por José Paulo Paes e Massaud Moisés
Que, um só momento que a vi, refere-se a José de Alencar, autor de destaque do
Queimar toda a alma senti... Romantismo brasileiro. Alencar é considerado pela crítica
Nem ficou mais de meu ser, “fundador da literatura brasileira”, por ter realizado uma
Senão a cinza em que ardi. vasta obra a respeito dos tipos humanos do Brasil, suas
regiões e diferentes momentos históricos, criando assim
9. (UNIFESP) – Da leitura do poema, depreende-se que um vasto panorama da formação nacional.
se trata de obra do Resposta: C
a) Barroco, no qual se identifica o escapismo psicológico.
b) Arcadismo, no qual se identifica a contenção do
sentimento.
c) Romantismo, no qual se identifica a idealização da mulher.
d) Realismo, no qual se identifica o pessimismo extremo.
e) Modernismo, no qual se identifica a busca pela liberdade.
RESOLUÇÃO:
O texto é caracteristicamente romântico, seja na
idealização da figura feminina, seja na expressão intensa,
exacerbada da paixão amorosa. O autor é considerado o
iniciador do Romantismo em Portugal.
Resposta: C

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RESOLUÇÃO:

Módulo 6 Castro Alves vincula-se à terceira geração de poetas


românticos brasileiros, influenciada pelo escritor francês
Victor Hugo. Tomado por forte desejo de liberdade, o poeta
Texto para os testes 1 e 2. aborda questões sociais e desenvolve, no texto, tema de
Ontem a Serra Leoa, teor abolicionista, em linguagem grandiloquente, dirigida a
A guerra, a caça ao leão, um grande público, empregando recursos sonoros, como a
PORTUGUÊS

O sono dormido à toa repetição de sons sibilantes, lembrando o som do chicote a


Sob as tendas d’amplidão! cortar o ar, em “Ao som do açoite... Irrisão!...”
Hoje... o porão negro, fundo, Resposta: E
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado 2. (UNIFESP) – Nesse fragmento do poema,
Pelo arranco de um finado, a) o poeta se vale do recurso ao paralelismo de construção
E o baque de um corpo ao mar... apenas na primeira estrofe.
b) o eu poemático aborda o problema da escravidão
Ontem plena liberdade, segundo um jogo de intensas oposições.
A vontade por poder... c) os animais evocados — leão, jaguar e serpente — têm,
Hoje... cúm’lo de maldade, respectivamente, sentidos denotativo, denotativo e
Nem são livres pra morrer... metafórico.
Prende-os a mesma corrente d) o tom geral assumido pelo poeta revela um misto de
— Férrea, lúgubre serpente — emoção, vigor e resignação diante da escravidão.
Nas roscas da escravidão. e) os versos são constituídos alternadamente por sete e
E assim roubados à morte, oito sílabas poéticas.
Dança a lúgubre coorte RESOLUÇÃO:
Ao som do açoite... Irrisão!... a) Incorreta. O paralelismo mantém-se na segunda estrofe,
(Castro Alves, fragmento de
pois o texto continua estruturado em oposições que
O Navio Negreiro – tragédia no mar)
envolvem o passado e o presente dos africanos trazidos
para o Brasil.
1. (UNIFESP) – Considere as seguintes afirmações. b) Correta.
I. O texto é um exemplo de poesia carregada de c) Incorreta. Em “caça ao leão”, temos sentido denotativo,
dramaticidade, própria de um poeta-condor, que pois o substantivo leão refere-se ao animal; em “tendo
mostra conhecer bem as lições do “mestre” Victor a peste por jaguar”, há metáfora que associa a peste ao
Hugo. felino; em “lúgubre serpente”, também há metáfora,
II. Trata-se de um poema típico da terceira fase pois se associa a uma serpente a corrente que prende os
romântica, voltado para auditórios numerosos, em que escravos.
se destacam a preocupação social e o tom hiperbólico. d) Incorreta. Não há resignação, mas sim indignação do
III. É possível reconhecer neste fragmento, de um poeta, notadamente em vocábulos de teor semântico
longo poema de teor abolicionista, o gosto negativo, como lúgubre, infecto, imundo etc.
romântico por uma poesia de recursos sonoros. e) Incorreta. Todos os versos são constituídos por sete
sílabas métricas.
Está correto o que se afirma em Resposta: B
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.

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Texto para os testes 3 e 4. RESOLUÇÃO:


O texto representa de forma corrosivamente crítica o
(...) Um poeta dizia que o menino é o pai do contexto escravista da época em que se passa a história, e
homem. Se isto é verdade, vejamos alguns mesmo da época de sua publicação (1881).
lineamentos do menino. Resposta: B
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de
“menino diabo”; e verdadeiramente não era outra

PORTUGUÊS
coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto,
indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um
dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me
negara uma colher do doce de coco que estava
fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um 4. (UNIFESP) – Compare o trecho de Memórias Póstu-
punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da mas de Brás Cubas, de Machado de Assis, com o
travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que fragmento do poema O Navio Negreiro – tragédia no
estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis mar, de Castro Alves. Indique a alternativa que apresenta
anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu aspectos observáveis nos dois textos.
cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, a) Tema da escravidão, contenção expressional,
recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu exploração do ritmo da frase, visão crítica da realidade.
trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, b) Ironia, exploração do ritmo da frase, intertextualidade
fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele explícita, denúncia de problemas sociais.
obedecia — algumas vezes gemendo —, mas obede- c) Tema da escravidão, visão crítica da realidade,
cia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, exploração do ritmo da frase, representação do homem
nhonhô!” —, ao que eu retorquia: “Cala a boca, como objeto do homem.
besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitar d) Estilo apurado, visão crítica da realidade,
rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho representação do homem como objeto do homem,
das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas intertextualidade explícita.
e outras muitas façanhas deste jaez eram mostras de e) Tema da escravidão, tom arrebatado, visão crítica da
um gênio indócil, mas devo crer que eram também realidade, estilo apurado.
expressões de um espírito robusto, porque meu pai RESOLUÇÃO:
tinha-me em grande admiração; e se às vezes me Além de os dois textos abordarem o tema da escravidão,
repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples com visão crítica da realidade, e representarem o homem
formalidade: em particular dava-me beijos. como vítima do homem, há, no poema, exploração do
(Machado de Assis,
ritmo da frase, versos redondilhos maiores e, na prosa de
Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Machado, sequência de orações curtas, que imprimem
velocidade ao texto na enumeração das atitudes de Brás
Cubas em relação a Prudêncio, e, também, frases que
3. (UNIFESP) – É correto afirmar que alternam sílabas tônicas e átonas, como “ai, nhonhô!” e
a) se trata basicamente de um texto naturalista, fundado “Cala a boca, besta!”.
no Determinismo. Resposta: C
b) o texto revela um juízo crítico do contexto escravista
da época.
c) o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem
ao gosto machadiano.
d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos das
personagens em foco.
e) os comportamentos desumanos do narrador são
sutilmente desnudados.

– 25
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O trecho a seguir é o início do penúltimo capítulo de RESOLUÇÃO:


A Cidade e as Serras: O trecho transcrito pertence à segunda parte de A Cidade
e as Serras, em que Jacinto se reconcilia com o campo e
E agora, entre roseiras que rebentam e vinhas que abandona o estilo de vida que levava em Paris.
se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e Resposta: A
a serra. O meu príncipe já não é o último Jacinto,
Jacinto ponto final — porque, naquele solar que
PORTUGUÊS

decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e


vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho,
senhor muito da minha amizade. E, pai de família,
principiara a fazer-se monótono, pela perfeição da
beleza moral, aquele homem tão pitoresco pela
inquietação filosófica e pelos variados tormentos da
fantasia insaciada. Quando ele agora, bom sabedor
das coisas da lavoura, percorria comigo a quinta, em
sólidas palestras agrícolas, prudentes e sem quimeras
—, eu quase lamentava esse outro Jacinto que colhia
uma teoria em cada ramo de árvore e, riscando o ar
com a bengala, planeava queijeiras de cristal e
porcelana, para fabricar queijinhos que custariam mil
réis cada um!

5. (UNIFESP) – Pelas considerações de Zé Fernandes Considere o trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo:


apresentadas no trecho, é correto afirmar que Jacinto
a) assumiu um estilo de vida que diverge daquele Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais
concebido em Paris. Malgrado algum senão de Zé tentara explicar e que até ali jaziam esquecidas nos
Fernandes, o amigo via com bons olhos esse novo meandros do seu passado, apresentavam-se agora
Jacinto. nítidas e transparentes. Compreendeu como era que
b) formou uma família e se transformou, sem, contudo, certos velhos respeitáveis, cujas fotografias Léonie lhe
abandonar seus preceitos filosóficos tão bem mostrara no dia que passaram juntas, deixavam-se
estruturados em Paris, ainda na companhia de Zé vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos,
Fernandes. pagando a escravidão com a honra, os bens e até com
c) teve seu entusiasmo pela modernidade retirado pela a própria vida, se a prostituta, depois de os ter
família, razão pela qual sofre, o que faz com que Zé esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou a sorrir,
Fernandes lamente a situação degradante do antigo desvanecida na sua superioridade sobre esse outro
amigo. sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que,
d) resolveu dedicar-se à vida junto à natureza, o que, no entanto, fora posto no mundo simplesmente para
conforme deixa claro Zé Fernandes, não entra em servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar
choque com os ideais intelectuais que os jovens um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão a
conceberam em Paris. substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a
e) optou por formar uma família longe da cidade e da senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o
modernidade. Fica evidente que Zé Fernandes seu império, endeusada e querida, prodigalizando
condena com veemência essa opção, que afasta a martírios que os miseráveis aceitavam contritos, a
ambos da intelectualidade. beijar os pés que os deprimiam e as implacáveis mãos
que os estrangulavam.
— Ah! homens! homens!... sussurrou ela de envolta
com um suspiro.

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6. (UNIFESP) – No texto, os pensamentos da Texto para o teste 7.


personagem
a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que Essa poesia não logrou estabelecer-se em Portugal.
condena os assuntos repulsivos e bestiais — sem De origem francesa, suas primeiras manifestações
amparo em teorias científicas — ligados ao homem, datam de 1866, quando um editor parisiense publica
que põe em primeiro plano seus instintos animalescos. uma coletânea de poemas; em 1871 e 1876, saem
b) elucidam o princípio do determinismo presente na outras duas coletâneas. Os poetas desse movimento

PORTUGUÊS
prosa naturalista, revelando os homens e as mulheres literário pregam o princípio da Arte pela Arte, isto é,
conscientes dos seus instintos em função do meio em defendem uma arte que não sirva a nada e a ninguém,
que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los. uma arte inútil, uma arte voltada para si própria. A Arte
c) trazem uma crítica aos aspectos animalescos próprios procuraria a Beleza e a Verdade que existiriam nos
dos homens, mas, por outro lado, revelam uma forma seres concretos, e não no sentimento do artista. Por
de Pombinha submeter-se a muitos deles para obter isso, o belo se confundiria com a forma que o reveste,
vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado e não com algo que existiria dentro dele. Daí vem que
no Naturalismo. esses poetas sejam formalistas e preguem o cuidado da
d) constroem uma visão de mundo e do homem forma artística como exigência preliminar. Para
idealizada, o que, em certa medida, afronta o consegui-lo, defendem uma atitude de impassibilidade
referencial em que se baseia a prosa naturalista, que diante das coisas: não se emocionar jamais; antes,
define o homem como fruto do meio, marcado pelo impessoalizar-se tanto quanto possível pela descrição
apelo dos seus sentidos. dos objetos, via de regra inertes ou obedientes aos
e) consubstanciam a concepção naturalista de que o movimentos próprios da Natureza (o fluxo e refluxo
homem é um animal, preso aos instintos, e, no que diz das ondas do mar, o voo dos pássaros, etc.).
respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha considera Esteticistas, anseiam uma arte universalista.
a mulher superior ao homem; para ela, ter consciência Em Portugal, tentou-se introduzir esse movimento;
dessa superioridade é uma forma de obter vantagens. certamente, impregnou alguns poetas, exerceu
RESOLUÇÃO: influência, mas não passou de prurido, que pouco
A alternativa e interpreta corretamente os pensamentos da alterou o ritmo literário do tempo. Na verdade, o modo
personagem Pombinha, que reconhece no sexo uma força fortuito como alguns se deixaram contaminar da nova
degradante, como é próprio do Naturalismo, capaz de moda poética revelava apenas veleidade francófila, em
subjugar “velhos respeitáveis”. decorrência de razões de gosto pessoal ou de grupos
Resposta: E restritos: faltou-lhes intuito comum.
(Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa. Adaptado.)

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7. (UNIFESP) – As informações apresentadas no texto 8. (UNIFESP) – O Simbolismo é, antes de tudo,


referem-se à literatura antipositivista, antinaturalista e anticientificista. Com
a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a liberdade esse movimento, nota-se o despontar de uma poesia
na expressão dos sentimentos. O texto deixa claro que nova, que ressuscitava o culto do vago em substituição
essa literatura alcançou notável aceitação entre os ao culto da forma e do descritivo.
poetas da época. (Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa. Adaptado.)
b) simbolista, cuja preocupação com a expressão do
PORTUGUÊS

sentimento filia-se à tradição poética do Considerando essa breve caracterização, assinale a


Renascimento. O texto deixa claro que essa literatura alternativa em que se verifica o trecho de um poema
teve um desenvolvimento tímido na cena literária simbolista.
portuguesa. a) É um velho paredão, todo gretado,
c) parnasiana, cuja preocupação com a objetividade a Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
opõe ao subjetivismo romântico. O texto deixa claro Deixou num cacto em flor ensanguentado
que essa literatura não se impôs na cena literária E num pouco de musgo em cada fenda.
portuguesa.
d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e cujo b) Erguido em negro mármor luzidio,
compromisso social permitem fundamentar a Arte Portas fechadas, num mistério enorme,
pela Arte. O texto deixa claro que essa literatura teve Numa terra de reis, mudo e sombrio,
pouco espaço na cena literária portuguesa. Sono de lendas um palácio dorme.
e) realista, cuja influência da tradição clássica é
fundamental para se chegar à perfeição. O texto deixa c) Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
claro que essa literatura teve uma disseminação Casualmente, uma vez, de um perfumado
irregular na cena literária portuguesa. Contador sobre o mármor luzidio,
RESOLUÇÃO: Entre um leque e o começo de um bordado.
O texto deixa claro que o crítico literário se refere ao
Parnasianismo, pois menciona o formalismo excessivo d) Sobre um trono de mármore sombrio,
desse movimento, bem como sua impassibilidade e Num templo escuro e ermo e abandonado,
impessoalismo nas descrições da natureza. Fica evidente Triste como o silêncio e inda mais frio,
também, conforme explicitado na abertura do texto, que o Um ídolo de gesso está sentado.
Parnasianismo “não logrou estabelecer-se em Portugal”.
Resposta: C e) Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
RESOLUÇÃO:
Nesses versos que iniciam o poema “Antífona”, de Cruz e
Sousa, há a linguagem sugestiva, vaga, o elemento místico
(“Incensos dos turíbulos das aras...”) e a maiúscula
alegorizante, buscando-se, assim, atingir o metafísico e o
transcendente. É uma linguagem que se opõe à precisão do
período realista.
Resposta: E

28 –
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Texto para os testes 9 e 10. RESOLUÇÃO:


São bem conhecidas as fontes cientificistas da poesia de
APÓSTROFE À CARNE Augusto dos Anjos e é fato que diversos de seus poemas
são construídos em torno de conceitos oriundos dessas
Quando eu pego nas carnes do meu rosto, fontes. Observe-se, porém, que o soneto transcrito, embora
Pressinto o fim da orgânica batalha: contenha expressões provindas do cientificismo (“alva
— Olhos que o húmus necrófago estraçalha, flama psíquica”, “feixe de mônadas”), pode ser entendido

PORTUGUÊS
Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto. sem o recurso a conceitos cientificistas, pois se trata de
uma meditação em torno da fragilidade da carne e da
E o Homem — negro e heteróclito composto, inexorabilidade da morte, temas obsessivos do poeta.
Onde a alva flama psíquica trabalha, Resposta: E
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tato, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!

Carne, feixe de mônadas bastardas,


Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,

Dói-me ver, muito embora a alma te acenda, 10. (UNIFESP) – No plano formal, o poema é marcado
Em tua podridão a herança horrenda, por
Que eu tenho de deixar para os meus filhos! a) versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas.
(Augusto dos Anjos, in Obra Completa)
b) vocabulário seleto, rimas raras, aliterações.
c) vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias.
9. (UNIFESP) – No soneto de Augusto dos Anjos, é d) assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas.
evidente e) versos livres, rimas intercaladas, inversões sintáticas.
a) a visão pessimista de um “eu” cindido, que desiste de RESOLUÇÃO:
conhecer-se, pelo medo de constatar o já sabido de sua No poema, a seleção rigorosa do vocabulário pode ser
condição humana transitória. comprovada pela escolha de palavras como “alva”,
b) o transcendentalismo, uma vez que o “eu” “flama”, “desagrega-se”, “flâmeo”, “efêmero”,
desintegrado objetiva alçar voos e romper com um “dardejar”, “relampejantes”. O exemplo mais significativo
projeto de vida marcado pelo pessimismo e pela de rima rara constrói-se com as palavras “rosto” e “sol-
tortura existencial. posto”. Há também diversos exemplos de rimas ditas
c) a recorrência a ideias deterministas que impulsionam ricas, ou seja, rimas entre palavras de classes gramaticais
o “eu” a superar seus conflitos, rompendo um ciclo diferentes. Exemplos: “batalha” (substantivo) /
que naturalmente lhe é imposto. “estraçalha” (verbo); trabalha (verbo) / mortalha
d) a vontade de se conhecer e mudar o mundo em que se (substantivo). Há uma profusão de aliterações, por
vive, o que só pode ser alcançado quando se abandona exemplo: “Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas”;
a desintegração psíquica e se parte para o equilíbrio do “Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.”
“eu”. Resposta: B
e) o uso de conceitos advindos do cientificismo do
século XIX, por meio dos quais o poeta mergulha no
“eu”, buscando assim explorar seu ser biológico e
destino metafísico.

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c)

Módulo 7
Texto para o teste 1.

O mundo dessa pintura, como o dos sonhos, é ao


mesmo tempo familiar e desconhecido: familiar, em
PORTUGUÊS

razão do estilo minuciosamente realista, que permite


ao espectador o reconhecimento de uma figura ou de
um objeto pintados; desconhecido, por causa da
estranheza dos contextos em que eles aparecem, como
num sonho.
(Fiona Bradley, Surrealismo – adaptado)

1. (UNIFESP) – O comentário da historiadora de arte


aplica-se à pintura reproduzida em:
d)
a)

b)

e)

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RESOLUÇÃO: Texto para o teste 3.


O Surrealismo explora o mundo onírico e níveis do
subconsciente, reproduzindo uma livre associação entre o Uma análise mais atenta do livro mostra que ele foi
mundo real e o irreal, aproximando-se do fantástico. No construído a partir da combinação de uma infinidade
quadro Le Blanc-Seing, de René Magritte, verifica-se a de textos preexistentes, elaborados pela tradição oral
intersecção entre a paisagem e o cavalo e a dama, numa ou escrita, popular ou erudita, europeia ou brasileira.
sobreposição em que a imagem aparece e desaparece A originalidade estrutural deriva, deste modo, do fato

PORTUGUÊS
como se reproduzisse a passagem do animal através das de o livro não se basear na mímesis, isto é, na
árvores, provocando um estranhamento tipicamente dependência constante que a arte estabelece entre o
surrealista. mundo objetivo e a ficção; mas em ligar-se quase
Resposta: C sempre a outros mundos imaginários, a sistemas
fechados de sinais, já regidos por significação
autônoma. Esse processo, parasitário na aparência, é
no entanto curiosamente inventivo; pois, em vez de
recortar com neutralidade nos entrechos originais as
partes de que necessita para reagrupá-las, intactas,
Texto para o teste 2. numa ordem nova, atua quase sempre sobre cada
fragmento, alterando-o em profundidade.
Este movimento foi complexo e contraditório, com (Gilda de Mello e Souza, O Tupi e o Alaúde, 1979. Adaptado.)
linhas centrais e linhas secundárias, mas iniciou uma
era de transformações essenciais. Depois de ter sido 3. (UNIFESP) – Tal comentário aplica-se ao livro
considerado excentricidade e afronta ao bom gosto, a) A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós.
acabou tornando-se um grande fator de renovação e o b) Macunaíma, de Mário de Andrade.
ponto de referência da atividade artística e literária. c) Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel
De certo modo, abriu a fase mais fecunda da literatura Antônio de Almeida.
brasileira, que já havia adquirido maturidade d) Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
suficiente para assimilar com originalidade as Assis.
sugestões das matrizes culturais, produzindo em larga e) Iracema, de José de Alencar.
escala uma literatura própria. RESOLUÇÃO:
(Antônio Cândido, Iniciação à Literatura Brasileira. Adaptado.)
Macunaíma, de Mário de Andrade, é uma rapsódia em que
há mistura de estilos, elementos lendários, textos
2. (UNIFESP) – O movimento a que o texto se refere é o tradicionais reelaborados, configurando a originalidade do
a) Modernismo. livro, a releitura de mitos e a ruptura com a
b) Romantismo. verossimilhança, evidenciando, assim, a liberdade criativa
c) Arcadismo. do autor, o qual “atua quase sempre sobre cada fragmento,
d) Realismo. alterando-o em profundidade”.
e) Naturalismo. Resposta: B
RESOLUÇÃO:
Segundo Antônio Cândido, o Modernismo foi o
movimento responsável pelo princípio de transformações
artísticas e, embora tenha sido considerado excêntrico e de
mau gosto pelos seguidores da arte acadêmica, conseguiu
abrir “a fase mais fecunda da literatura brasileira”.
Resposta: A

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Texto para o teste 4. 4. (UNIFESP) – O eu lírico, ao mostrar as variedades do


diálogo, revela que este
O CONSTANTE DIÁLOGO a) é uma forma que, na verdade, dissimula um monólogo.
b) é uma realidade inerente à condição humana.
Há tantos diálogos c) implica necessariamente um outro, distinto do eu.
d) constrói a ideia de que comunicar exige afinidade.
Diálogo com o ser amado e) concebe o presente desprovido das marcas do passado.
PORTUGUÊS

o semelhante RESOLUÇÃO:
o diferente As enumerações do texto sugerem que o diálogo é uma
o indiferente condição universal e permanente da vida. Em outras
o oposto palavras, trata-se de “uma realidade inerente à condição
o adversário humana”.
o surdo-mudo Resposta: B
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral Os testes de números 5 e 6 tomam por base o seguinte
o inominado fragmento:

Diálogo consigo mesmo [Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acari-
com a noite nhasse, alguém que com muito amor o fizesse
os astros esquecer o defeito físico e os muitos anos (talvez
os mortos tivessem sido apenas meses ou semanas, mas para ele
as ideias seriam sempre longos anos) que vivera sozinho nas
o sonho ruas da cidade, hostilizado pelos homens que
o passado passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos
o mais que futuro moleques maiores. Nunca tivera família. Vivera na
casa de um padeiro a quem chamava “meu padrinho”
Escolhe teu diálogo e que o surrava. Fugiu logo que pôde compreender que
e a fuga o libertaria. Sofreu fome, um dia levaram-no
tua melhor palavra preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe sobre
ou os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer
teu melhor silêncio daquela noite na cadeia, quando os soldados bêbados
Mesmo no silêncio e com o silêncio o fizeram correr com sua perna coxa em volta de uma
dialogamos. saleta. Em cada canto estava um com uma borracha
(Carlos Drummond de Andrade, comprida. As marcas que ficaram nas suas costas
in Discurso de Primavera & Algumas Sombras) desapareceram. Mas de dentro dele nunca
desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como
um animal perseguido por outros mais fortes. A perna
coxa se recusava a ajudá-lo. E a borracha zunia nas
suas costas quando o cansaço o fazia parar. A
princípio chorou muito, depois, não sabe como, as
lágrimas secaram. Certa hora não resistiu mais,
abateu-se no chão. Sangrava. Ainda hoje ouve como
os soldados riam e como riu aquele homem de colete
cinzento que fumava um charuto.
(Jorge Amado, Capitães da Areia)

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5. (UNIFESP) – Considere as afirmações seguintes: 6. (UNIFESP) – O emprego da figura de linguagem


I. O fragmento do romance, ambientado na cidade de conhecida como prosopopeia (ou personificação) põe
Salvador das primeiras décadas do século passado, mais em evidência a principal razão pela qual Sem-Pernas
aborda a vida de uma criança em situação de é estigmatizado. O trecho que contém essa figura é
absoluta exclusão social e violência, o que destoa a) “A perna coxa se recusava a ajudá-lo.”
do projeto literário e ideológico dos escritores b) “Em cada canto estava um com uma borracha comprida.”
brasileiros que compõem a “Geração de 30”. c) “(...) depois, não sabe como, as lágrimas secaram.”

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II. Valendo-se das conquistas do Modernismo, o d) “E a borracha zunia nas suas costas (...)”
romance apresenta linguagem fluente e acessível e) “Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor daquela
ao grande público, utilizando-se de um português hora.”
coloquial, simples, próximo a um modo natural de RESOLUÇÃO:
falar, com o largo emprego da frase curta e O motivo pelo qual Sem-Pernas é estigmatizado aparece
econômica. na passagem em que se personifica a parte inerte de seu
III. Sem-Pernas é uma personagem que, embora corpo: a perna.
encarne um tipo social claramente delimitado, o Resposta: A
do menino “pobre, abandonado, aleijado e
discriminado”, adquire alguma profundidade
psicológica, à medida que seu passado e suas
experiências dolorosas vêm à tona.

Conforme o texto, está correto o que se afirma apenas em


a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
RESOLUÇÃO:
Sobre I: a abordagem da vida marginalizada de um grupo
juvenil não destoa do projeto literário e ideológico da
“Geração de 30”. O enfoque de Capitães da Areia vai ao
encontro da proposta do neorrealismo voltado para a
denúncia das mazelas sociais.
Resposta: E

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7. (UNIFESP) – A verve social da poesia de João Cabral Minha memória cheia de palavras
de Melo Neto mostra-se mais evidente nos versos: meus pensamentos procurando fantasmas
meus pesadelos atrasados de muitas noites.
a) A cana cortada é uma foice. RESOLUÇÃO:
Cortada num ângulo agudo, Os versos constantes em “Menino de Engenho”
ganha o gume afiado da foice evidenciam o duro ciclo do cultivo da cana-de-açúcar,
que a corta em foice, um dar-se mútuo. pois a cicatriz deixada pelo “gume de uma cana” vai
PORTUGUÊS

além de uma marca física, refere-se a um registro


Menino, o gume de uma cana simbólico no corpo: as cruéis condições de trabalho
cortou-me ao quase de cegar-me, vividas pelos lavradores rurais.
e uma cicatriz, que não guardo, Resposta: A
soube dentro de mim guardar-se.

b) Formas primitivas fecham os olhos


escafandros ocultam luzes frias;
invisíveis na superfície pálpebras
não batem.

Friorentos corremos ao sol gelado


de teu país de mina onde guardas
o alimento a química o enxofre
da noite. 8. (UNIFESP) – Leia os textos a seguir e responda ao
que se pede:
c) No espaço jornal
a sombra come a laranja, Texto 1
a laranja se atira no rio,
não é um rio, é o mar
que transborda de meu olho.

No espaço jornal
nascendo do relógio
(Disponível em: www.custodio.net. Adaptado.)
vejo mãos, não palavras,
sonho alta noite a mulher
tenho a mulher e o peixe. Texto 2
ra terra ter
d) Os sonhos cobrem-se de pó. rat erra ter
Um último esforço de concentração rate rra ter
morre no meu peito de homem enforcado. rater ra ter
Tenho no meu quarto manequins corcundas raterr a ter
onde me reproduzo raterra terr
e me contemplo em silêncio. araterra ter
raraterra te
e) O mar soprava sinos rraraterra t
os sinos secavam as flores erraraterra
as flores eram cabeças de santos. terraraterra
(Décio Pignatari)

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I. A graça do texto 1 decorre da ambiguidade que Texto para os testes 9 e 10.


assume o termo concreta na situação apresentada.
II. O texto 2 é exemplo de poesia concreta, MAU DESPERTAR
relacionada ao experimentalismo poético, no qual
o poema rompe com o verso tradicional e Saio do sono como
transforma-se em objeto visual. de uma batalha
III. Para a interpretação do texto 2, pode-se prescindir travada em

PORTUGUÊS
dos signos verbais. lugar algum

Está correto o que se afirma em Não sei na madrugada


a) I, apenas. se estou ferido
b) III, apenas. se o corpo
c) I e II, apenas. tenho
d) I e III, apenas. riscado
e) I, II e III. de hematomas
RESOLUÇÃO:
O humor da tirinha decorre da ambiguidade que se Zonzo lavo
estabelece entre o sentido do adjetivo na expressão na pia
“poesia concreta” (isto é, concretista) e na imagem de os olhos donde
um projétil concreto (isto é, sólido) que atinge a cabeça ainda escorre
da personagem que exprime seus gostos (ou desgostos...) uns restos de treva.
(Ferreira Gullar, Muitas Vozes)
poéticos. O texto 2 é um célebre exemplo de poesia
concreta: trata-se do poema “terra”, de Décio Pignatari,
para cuja interpretação é absolutamente impossível 9. (UNIFESP) – A leitura do poema permite inferir que
prescindir dos signos verbais, ao contrário do que se a) o despertar do eu lírico apaga as más lembranças da
afirma em III. Com efeito, o poema é todo construído madrugada.
com jogos entre a palavra terra e outras que “brotam” da b) a noite é problema para o eu lírico, perturbado mais
simples repetição “sulcada” dessa palavra: erra, ara, física que mentalmente.
rara. c) o eu lírico atribui o seu mau despertar a uma noite de
Resposta: C difícil sono.
d) o eu lírico encontra na noite difícil uma forma de
enfrentar seus medos.
e) o mau despertar acentua as feridas e as dores que
perturbam o eu lírico.
RESOLUÇÃO:
O “mau despertar” decorre de uma noite de sono difícil,
comparado a “uma batalha/travada em/lugar algum”.
Mesmo recém-desperto, o eu lírico ainda não se vê
totalmente livre dos “restos de treva” que,
sinestesicamente, fluem dos olhos.
Resposta: C

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10. (UNIFESP) – Analisando-se as três estrofes do


poema, atribui-se a cada uma os seguintes sentidos,
respectivamente,
a) a lembrança do sono – as consequências do mau sono
– a libertação da noite mal dormida.
b) a consciência do despertar – as hipóteses acerca do
sono – a tentativa de se restaurar.
PORTUGUÊS

c) a expectativa com o despertar – a certeza da noite mal


dormida – a certeza de um dia ruim.
d) a causa do sono conturbado – a possibilidade de
recuperação – a ansiedade pela melhora.
e) a renovação ao despertar – a possibilidade de enfrentar
o mau sono – a busca por um dia melhor.
RESOLUÇÃO:
Na primeira estrofe, os versos destacam a certeza de um
mau despertar, realçando o título do poema; na segunda
estrofe, o eu lírico elenca as possibilidades do sono
perturbador e, na terceira estrofe, há uma tentativa de
restauração do mal-estar ao se lavar os olhos de onde
ainda saem “uns restos de treva”.
Resposta: B

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Anotações

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Anotações
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