A interpretação na Clínica
winnicottiana
Jessica Marques - CRP 06/177467
"O que se espera do tratamento
analítico é que a interpretação
feita pelo analista do sentido
Interpretação
latente dos conflitos, no momento
em que estes são revividos na
relação transferencial, traga à
consciência os conflitos e as
defesas inconscientes,
"Centro da teoria e do desmanchando, assim, as soluções
de compromisso que constituem os
trabalho psicanalítico"
distúrbios psíquicos."
"Trazer a luz os conflitos
defensivos"
introdução
O que se espera do tratamento analítico é que a
interpretação feita pelo analista do sentido latente dos
conflitos, no momento em que estes são revividos na relação
transferencial, traga à consciência os conflitos e as
defesas inconscientes, desmanchando, assim, as soluções de
compromisso que constituem os distúrbios psíquicos.
O que o texto traz
Significado de interpretação como centro da teoria
interpretação como tarefa analitico
As categorias de freud das neuroses não servem a teoria do amadurecimento de Winnicott
conflitos inconscientes,
desejo recalcado, censura, angústia de castração – serem entendidas por ele
como formações estruturais, constitutivas do psiquismo humano; assim
sendo, elas servem, levando apenas em conta as variações disfuncionais,
para tornar inteligíveis não apenas as neuroses, mas todos os outros
distúrbios psíquicos.
Como pensar, então, o uso da interpretação, no sentido tradicional, quando se parte da concepção que nem todo paciente chegou a
algo tão sofisticado como um inconsciente reprimido?
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA O USO OU NÃO USO DA INTERPRETAÇÃO NA CLÍNICA WINNICOTTIANA DO
AMADURECIMENTO
Winnicott acredita que a tarefa analitica é o contexto de
confiabilidade da análise e o manejo das condições
ambientais do setting, e mesmo das condições ambientais
gerais do paciente, o que deve ser primordialmente levado em
conta. As interpretações podem reproduzir o padrão ambiental
invasivo de origem. Ele acredita num uso limitado da
interpretação.
Ideias gerais de diferença entre clínica do amadurecimento
e clínica psicanalítica tradicional
1. O período inicial da vida de um bebê não pode ser
categorizada pela categorias conceituais de freud, pois
trata-se de um período pré-objetal, pré-representacional
e pré-simbólico. Ele ainda não tem maturidade para ser um
unicidade, não sabe de sua existência é afetado pela
qualidade do cuidados ambientais e de ser capaz ou não de
estabelecer contato com a mãe e a mãe com o bebê.
Ideias gerais de diferença entre clínica do amadurecimento
e clínica psicanalítica tradicional
2. Winnicott não é regido pelo princípio do prazer, mas pela
necessidade de ser e de ter preservada a continuidade de
ser. A mãe ficaria responsável por esse engate com a vida,
através do contato com ela e as experiências que estão
acontecendo. Existir, existir no mundo e se sentir real,
estabelecer relações não são coisas dadas e sim
consequências de um amadurecimento e na ausência de
condições, podem fracassar.
PAres de distinção winnicottiana - primitivo e profundo
O que se passa com o bebê no começo da vida é primitivo, não recalcou, nem
armazenou experiências, não tem passado. O bebê é raso, sem profundidade.
O profundo envolve a mente e imaginação do paciente, a fantasia inconsciente e
a realidade psíquica.
Dei-me conta, repentinamente – em Paris ou em outro lugar – que inicial não é
profundo, que um bebê precisa de tempo e de desenvolvimento antes que a
profundidade apareça, de maneira que, quando se está retornando às coisas mais
profundas, não se vai até o início. Vai- se até algo como três, dois ou um ano
e meio, e isto foi muito importante para mim, porque alguns mecanismos, que
têm a ver com as formações esquizóides, parecem ser pertinentes ao primitivo e
não ao profundo, enquanto a depressão pertence ao profundo e não ao inicial.
(1989f[1967]/1994, p. 442)
Primitivo x profundo
Um dos aspectos que caracteriza o “primitivo”, portanto, é a situação de
dependência absoluta do bebê com relação aos cuidados maternos. Em Winnicott,
a experiência da dependência faz parte da identidade que está sendo
constituída. O primitivo não é reprimido e sim esquecido.É no profundo que se
analisa o conflitos das neuroses, já no primitivo, o das psicoses.
É essa a questão que fundamenta a importância atribuída por Winnicott ao
diagnóstico. Correlata à distinção entre primitivo e profundo, a distinção
entre psicose e neurose é essencial, pois o que está em questão, num e noutro
patamar, são coisas de naturezas diversas, exigindo conceituação e abordagem
clínica diversas
Um bom analista nem sempre faz boas interpretações.
Não podemos encontrar o paciente sem ele ter se encontrado. Se não vira um mau
analista fazendo uma boa interpretação.
Psique x Mente
Existe a distinção entre mente e corpo, mas no caso
winnicott prefere usar soma e psique. A mente seria a
capacidade intelectual da psique
A mente é um aspecto da psique, um modo de funcionamento do
psique-soma,especializado nas funções intelectuais.
As formas iniciais da mente, são a catalogação (registrar
informações), o cotejamento (comparar analisar informações)
e classificar (distribuir em grupos as informações).
a psique é mais antiga que a mente e é bom que não aconteça, pois se acontecer, é porque houve
algum risco para o bebê, houve alguma invasão ambiental
Winicott comenta de um caso que fez uma interpretação, mas que essa interpretação não era válida
quando ele a fez, sendo que a paciente precisou varias vezes fazer uma regressão profunda
Durante a regressão profunda alcançada nesta nova análise foi lançada uma luz sobre o
sentido dessas quedas. Ao longo dos dois anos de análise comigo, a paciente regrediu várias
vezes para um estágio muito inicial, que era com certeza pré-natal. O processo do nascimento
teria que ser revivido, e em certo momento compreendi que era a necessidade inconsciente de
reviver o nascimento que subjazia às suas quedas do divã. (1954a[1949]/2000, p. 339)
personalidade
Ora, que existam indivíduos que se tenham tornado cínicos e folgados, isso
certamente pode acontecer, mas, embora essa condição deva ser uma hipótese de
fundo em alguns diagnósticos, aquilo que primariamente orienta a construção de
hipóteses do analista winnicottiano é a possível imaturidade – central à
personalidade, ou às vezes regional – do paciente. Todas as outras coisas
mencionadas – cinismo, folga, busca de prazer etc. – requerem uma maturidade
que nem sempre está presente, ou são formações secundárias, relacionadas ao
falseamento da personalidade, que escondem a precariedade básica. É importante
ter em mente que o par infantilismo/destrutividade pode ser útil e eficazmente
substituído por imaturidade/incompadecimento.
Regressao a dependencia - aprofundamento aos estagios iniciais de vida
Isso certamente, diz o
autor, poria o analista na trilha errada e, de fato, poderia estar errado, pois o
paciente não necessariamente quer que o analista desista de seu fim de
semana; ele quer apenas que o desamparo ou desconforto de não ter
sustentação seja reconhecido e, de algum modo, legitimado, para não ser
uma esquisitice, o que não significa que deva ser satisfeito. Note-se, pelo
exemplo, que o analista compreende e aceita, ou seja, recebe como
plausível a necessidade, mesmo que não vá atendê-la. Talvez o paciente
também precise saber que há alguma mutualidade nesse desconforto; por
exemplo, saber que o analista, também ele, se preocupa com o estado do
paciente durante o afastamento temporário.