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Ruína Perfeita - Lana Silva - Nodrm

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LANA SILVA

Copyright 2024©
1° edição – julho 2024

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A LANA SILVA

Capa: Alessandra Gomes


Revisão: Leticia Lopes e Bárbara Pinheiro
Ilustração: Tácyla Priscila e Ursula Gomes
Assessoria: Julia Falcão Zamboni, Silvia Morais e Maria Eduarda
Lima (JDS Assessoria)
Betas: Flávia Rodrigues, Amanda Santana, Mariana Di Fuccio, Érica
Silva
Sumário
Sinopse
Notas
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Epílogo
Agradecimentos
Redes Sociais
De dia, Travis Scott é o quarterback popular do time da faculdade,
de noite, ele é o temido piloto da Night Crows, uma equipe de corrida
ilegal. Seu passado traumático o transformou em alguém capaz de fazer
qualquer coisa para conseguir o que quer. E ele tem um novo objetivo,
conquistar a insuportável Sophie, sua rival nas pistas, quebrar o coração
dela e destruí-la.
Sophie Mackenzie faz parte da Speed Demons, uma das principais
equipes de corridas ilegais, seguir regras não pertence ao seu dicionário e
ela é capaz de tudo para vencer, inclusive, prometer seduzir o seu principal
rival, o idiota Travis Scott.
Um duelo de gigantes, uma briga além das pistas, uma atração
irresistível e dois rivais que não conseguem manter as mãos longe um do
outro.
O plano é posto em jogo, a batalha está prestes a iniciar, quem irá
ceder primeiro? Quem irá vencer? E o que eles irão perder? Ego? Poder?
Amor?
Muito mais do que eles imaginam…
Oi, gente!
Antes de iniciarem a leitura eu queria conversar com vocês sobre o
livro um pouquinho. É uma história com alguns gatilhos, não há nenhuma
cena detalhada, mas nos capítulos 29 e 31 existe a menção dos passados dos
protagonistas, então pode causar algum desconforto durante a leitura.
Os gatilhos são: Abuso verbal, abuso físico, abuso sexual, violência,
relacionamento familiares conturbados, tráfico humano e drogas.
Uma última observação sobre a revisão, eu fui alertada pelas duas
profissionais que estiveram envolvidas no processo do livro sobre a forma
correta da utilização do travessão nos diálogos, mas por uma decisão minha
eu decidi mantê-los da forma que será apresentado ao longo do livro.
Você pode encontrar a playlist no código abaixo, ou clicando aqui.
A-B-C-D-E, foda-se você
E sua mãe
E sua irmã, e seu trabalho
E seu carro quebrado
E essa merda que você chama de arte”
ABCDEFU (Gayle)

Sophie
Piso no acelerador quando estou perto do meu destino, as janelas
estão fechadas e, mesmo assim, é como se sentisse o vento batendo em meu
rosto. A adrenalina corre pelo meu sangue, deixando-me animada, ansiosa
por mais, eu me sinto no topo do mundo e o sentimento adquire ainda mais
intensidade conforme o carro ganha velocidade. Deus, isso nunca perde a
graça!
Não demoro para chegar ao meu destino e o local já está lotado, os
carros e as equipes estão posicionados na lateral e logo atrás do ponto de
partida, muitas pessoas estão aqui apenas para assistir. A maioria finge
odiar os eventos durante o dia, mas, quando a noite chega, estão sempre
aqui, apostando e torcendo, hipócritas do caralho!
Eu procuro pelos caras e os encontro rapidamente, eles se destacam
em meio à multidão, os três estão na lateral da pista e apoiados no carro de
Jace. Reduzo a velocidade, mas não muito, levo minha mão até o freio de
mão, controlo a direção e faço com que o carro deslize pela pista em 180
graus, ficando de lado e perto o suficiente dos meninos.
Talvez fique a marca dos pneus no asfalto e o barulho chama a
atenção de todos ao meu redor. Uma ótima maneira de chegar!
Saio do carro e olho na direção de Jace, Sebastian e Dominic, eles
estão sorrindo e posso sentir olhares alheios sobre mim. E aqui, eu nem me
importo de chamar atenção, pelo contrário, amo, principalmente, por estar
causando alguma irritação em meus adversários.
— É para chamar a atenção que chegou atrasada, Van?
Sebastian soa debochado, sorrio e dou de ombros.
— Faz parte do meu charme. — Pisco para ele. — E é sempre uma
boa estratégia.
— Eu posso ver algumas pessoas espumando de raiva.
Jace faz um sinal com a cabeça, olho para o lado e Hailey está me
encarando com a testa franzida e um olhar mortal. Objetivo atingido com
sucesso. Eu faço questão de sorrir, mas não é um sorriso amigável e ela
sabe disso. É tão bom vê-la perder sua pose de garota mimada que tem tudo
o que quer na hora que quer!
— Acho que a Taffyta Caramelo não está muito feliz comigo.
Volto a olhar para meus amigos e faço um biquinho com meus
lábios.
— Principalmente porque você irá correr hoje e é contra ela.
Dominic aponta o cigarro que tem em mãos em minha direção e,
assim que conclui a frase, leva-o até sua boca. A informação de Dom me
deixa em êxtase, volto a olhar para Hailey, sorrio debochada e ela dá um
passo à frente, se ela vier até mim, não vou fugir, será divertidíssimo.
Brigas não são toleráveis, mas boas discussões são livres para
acontecer. Continuo sorrindo e espero por ela. Torço para que Hailey venha
em minha direção, é isso que eu desejo, porém nada irá acontecer porque
um dos irmãos de Hailey segura seu pulso e impede que ela continue.
— A bebezinha precisa dos irmãos protegendo-a.
Faço questão de falar alto e pausadamente, assim, se ela não ouvir,
vai poder ler os meus lábios. Pela sua expressão de raiva sei que entendeu o
que eu falei, ela tenta se desvencilhar do irmão, mas Travis segue
segurando-a. Ele olha em minha direção e me encara de um jeito nada
amigável, sorrio.
Travis Scott acredita ser o centro do universo, só porque é o
quarterback do time de Dartmouth, um bom piloto e tem a maioria das
garotas aos seus pés. De dia, o incrível quarterback, de noite, o perigoso
piloto dos Night Crows.
Arrogante, babaca e idiota!
— Ela só quer te provocar.
Escuto-o falar para irmã enquanto continua me encarando.
— Vadia.
Hailey fala alto o suficiente para eu ouvir, ela não me incomoda.
Suas provocações não me atingem, sua única maneira de me desestabilizar
é me vencendo e isso não acontece com frequência.
— Você é uma maldita provocadora.
Sebastian sussurra e volto a encará-lo.
— Só existe algo melhor do que irritá-la. — Sebastian ergue suas
sobrancelhas e eu sorrio. — Vencê-la.
— Quando você ficou tão confiante assim, Vanellope?
Dominic continua me provocando, eu cruzo meus braços abaixo dos
meus seios e me viro para ele.
— Desde que eu a venci quatro vezes consecutivas. — Sorrio
vitoriosa e Dominic leva o cigarro mais uma vez até a sua boca. — Você vai
morrer antes dos quarenta se continuar fumando assim.
Substituo meu sorriso por uma careta. Não sou contra o cigarro, às
vezes até fumo, mas Dominic está fumando demais ultimamente e isso não
é um bom sinal. Meu amigo afasta o cigarro da boca e me encara com
deboche.
— Se eu chegar aos trinta e cinco...
Ele está zombando, porém estreito os olhos e o sigo analisando. De
nós quatro, Dominic é o mais fodido e, levando em consideração que todos
somos muito fodidos, Dominic está em um nível preocupante.
— Deprimente.
Falo com desdém.
— Ele está no modo deprimido hoje.
Jace resmunga enquanto empurra o ombro de Dominic com o seu.
— Não estou deprimido.
Dominic se defende e dá mais um trago em seu cigarro. Olho para
Sebastian, que dá de ombros, ele também não sabe o que está acontecendo
com o irmão, espero que seja apenas um dia ruim!
— Você irá correr hoje?
Uma parte de mim torce para que sim, eu sei o quanto estar correndo
pode ajudar no controle dos nossos demônios. Ele balança a cabeça
negando e aponta o seu cigarro para Sebastian.
— Apenas você e esse idiota.
Assinto e olho para Sebastian que tem um sorrisinho idiota em seu
rosto.
— Pronta para arrasar?
— Eu nasci pronta, grandão.
Ele ri, se afasta do carro e se aproxima de mim, passa o braço pelos
meus ombros.
— Van, espero que você vença para que possamos comemorar.
Soa confiante.
— Isso quer dizer que você irá vencer?
Ele ri, um sorriso que entrega com quem ele irá competir, sei que
será contra um dos garotos da Track Predators antes que ele abra a boca.
— Vou correr contra Remy.
Ele confirma a minha suspeita, além de correr contra a pior equipe,
ele correrá contra o mais medíocre.
— Isso é muito fácil, até a minha corrida será um pouco mais difícil.
Nós dois sabemos que será extremamente difícil, eu posso ser a
melhor, mas Hailey corre bem, o que torna tudo mais excitante, eu odiaria
que fosse fácil, quanto mais difícil mais emocionante.
— Espero que Hailey esteja a fim de complicar sua vida.
Jace me provoca, viro-me para ele e suspiro de forma dramática.
— Você está do lado de quem?
Ele sorri e eu mordo meu lábio inferior para não rir.
— Eu estou do lado do entretenimento, já que não vou correr,
espero, pelo menos, presenciar uma boa corrida. E sabemos que essa
corrida não será a de Sebastian.
— Se quiser, eu posso fingir que o merdinha sabe correr.
Sebastian propõe com deboche e Jace faz um gesto de desdém com
as mãos.
— Obrigado, mas não, você teria que se esforçar muito para isso
acontecer, uma toupeira dirige melhor do que ele.
Dominic e Jace olham para frente encarando os membros da Track
Predators, Sebastian e eu nos viramos e fazemos o mesmo. Lá estão os
quatro, bebendo, fumando, rindo e encarando a todos com um olhar
arrogante. Eles adoram se comportar como se realmente fossem bons, o que
os tornam ainda mais insuportáveis.
Não é porque eles fazem parte de uma equipe que são bons!
— Deploráveis.
Resmungo enquanto faço uma careta. Eles sabem que os estamos
encarando e, mesmo assim, seguem agindo como se não existíssemos.
— Retiro minha oferta, Jace, vou fazer esse otário comer poeira.
Sorrio.
— É assim que se fala.
Dou uma leve cotovelada em Sebastian e posso ouvir a sua risada.
— É, Van, vamos arrasar e ganhar mais uns pontinhos.
Sebastian e eu continuamos encarando os idiotas, eles seguem rindo
e reviro os olhos.
— Massacre o idiota, Sebs.
— Pode deixar, Van. — Sebastian beija a lateral da minha cabeça e
desvencilha-se de mim. — E nosso momento chegou.
Olho para ele com minhas sobrancelhas erguidas e ele faz um gesto
com a cabeça. Viro-me para o lado e Elijah está caminhando no meio da
pista em direção ao local determinado como ponto de partida, ou seja, a
corrida irá começar.
Elijah é o organizador das corridas de Hanover, ninguém sabe de
onde veio, o que esconde e como começou, o que sabemos é que ele
comanda os negócios noturnos e ilegais da cidade. Ele está todo vestido de
preto, como sempre, e seu olhar é rude, ninguém ousa desafiá-lo.
— Boa sorte.
Jace soa animado e Sebastian e eu nos encaramos.
— Nós não precisamos de sorte.
Sebastian e eu dizemos ao mesmo tempo e a gargalhada de Jace ecoa
pela noite.
— Façam minha noite valer a pena.
Dominic soa mal-humorado, eu olho para ele com desdém.
— Sempre.
Viro-me para frente e caminho até meu carro, ocupo o lugar atrás da
direção, aceno para meus amigos e dirijo até a largada. Sebastian me segue
e paramos um ao lado do outro, os membros das outras equipes estacionam
ao nosso lado.
Elijah está à nossa frente, então nós seis saímos dos carros e
esperamos pelas suas coordenadas. O barulho cessa ao nosso redor e todos
esperam ansiosos por suas ordens.
— Primeiro: Travis e Kaden.
Não precisamos de mais instruções, sabemos o que isso significa e o
que devemos fazer a partir de agora, nós iremos aguardar a nossa vez.
Elijah não diz o restante da ordem, mas provavelmente Hailey e eu seremos
as últimas, porque será a melhor e a corrida mais esperada. Travis e Kaden
entram em seus carros, se posicionam e nós os observamos.
Uma das garotas de Elijah ergue a bandeira e eu mantenho meu
olhar fixo em Travis. O quarterback é um idiota arrogante, mas ele sabe o
que faz, o que me deixa ainda mais irritada. Popular, jogador de futebol
americano, gostoso e participa de corridas, ele não deveria ser tão perfeito.
E como bônus ele não é como a maioria de nós, ele, inclusive, é
diferente dos seus irmãos, apesar da aura obscura ao seu redor, ele sorri e
age como se isso aqui fosse um passeio no parque, como se sua vida fosse
tranquila e o mundo girasse em torno dele, como se ele fosse um maldito
deus.
A garota abaixa a bandeira quadriculada e os carros ganham
velocidade, eles arrancam com tudo, marcando o asfalto e causando um
estrondo. Não demoram a atingir as velocidades máximas de seus carros, é
alucinante acompanhá-los, pelos primeiros segundos é acirrado, mas tenho
certeza de que não será assim por muito tempo, Kaden é o menos pior da
Track Predators, mesmo assim não tem chance de vencer, só se Travis
deixá-lo ganhar e duvido que vá fazer isso.
Eu sigo acompanhando Travis, consigo prever cada ação dele,
inclusive, quando ultrapassa Kaden, preciso me controlar para não
comemorar, mas não consigo conter o frio em minha barriga.
Mesmo sabendo que Kaden não irá ultrapassar Travis, continuo
ansiosa até o fim da corrida. Se alguém me perguntar, jamais vou assumir
que essa é a minha reação ao ver Travis correndo.
Os dois somem por alguns segundos, é o trecho que fica escondido,
e reaparecem cinco segundos depois, é claro que Travis está na frente, há
gritos ao meu redor, o que torna tudo ainda mais eletrizante, seria ainda
mais perfeito se fosse uma corrida acirrada.
Meu coração bate acelerado e adrenalina aquece meu sangue,
mesmo não sendo eu na pista. Por fim, Travis aciona o nitro e ultrapassa a
chegada, os gritos ecoam pela noite e ele é ovacionado.
Travis para o carro de maneira brusca, do outro lado e bem no fim da
volta, os pneus deslizam pelo asfalto e ele deixa seu carro, sorrindo.
Algumas garotas se aproximam dele e reviro os olhos.
— Você parecia estar torcendo para o Scott número 3.
Sebastian me provoca, eu simplesmente ergo meu dedo do meio em
sua direção. Ele ri, mas para quando Elijah chama por ele e Remy, me viro
para meu amigo e sorrio.
— Acabe com ele, grandão.
Ele sorri e entra em seu carro, desta vez, eu mantenho os olhos sobre
Sebastian. Ele não tem nenhuma dificuldade em sair na frente e se mantém
assim durante toda corrida, ele sequer usa o nitro. Eu grito algumas vezes,
mesmo que ele não escute, e, em outros momentos, olho para Jace e
Dominic e grito para eles, Dominic apenas ri e balança a cabeça de um lado
para o outro, Jace grita de volta.
Sebastian vence com muitos segundos à frente, ele sai do carro e
faço questão de gritar.
— Arrasou, seu gostoso.
— Agora é a sua vez, garota.
Ele grita de volta.
— Sophie, Hailey.
A voz de Elijah chega até mim. O sorriso instantaneamente deixa
meu rosto, faço um sinal para Sebastian e olho para o lado, encaro Hailey e
ela me encara de volta. Nós somos as duas únicas garotas nas três equipes
de Hanover e Elijah adora nos colocar para correr uma contra a outra, os
caras que estão apostando adoram, eu deveria me sentir ofendida? No
submundo das corridas não há espaço para ofensas.
Hailey está me olhando com raiva e sorrio debochada, seu rosto
ganha um tom de vermelho e satisfação vibra em meu peito.
— Boa sorte, bonequinha, você vai precisar.
Não espero por uma resposta, assumo meu lugar atrás do volante,
me concentro na bandeira e, assim que a garota a coloca para baixo, meu pé
deixa a embreagem enquanto o outro pisa forte no acelerador. Posso escutar
o som do atrito do pneu com o asfalto.
Adrenalina ocupa boa parte de mim, eu me sinto como se estivesse
na porra do topo do mundo. Eu olho para o lado e Hailey está paralela a
mim, sorrio e continuo pressionando o acelerador.
Deus, eu amo isso!
Amo o sentimento que ecoa em meu peito, amo me esquecer de
tudo, amo a liberdade que pilotar em alta velocidade me causa. E amo
ganhar!
Essa pista é perfeita, porque é uma rodovia desativada, não temos
chance de encontrar outros carros por aqui e Elijah tem um combinado com
a polícia, eles não aparecem por aqui em dias de corrida.
Mais uma vez, olho para o lado e Hailey está colada em mim, nossos
carros quase se tocam. Olho em frente, sorrio, piso no acelerador até o
fundo e escuto o som do motor, é música para os meus ouvidos.
Ainda não consigo ultrapassá-la, mas nos aproximamos de uma
curva, ultrapassagens não são recomendadas em curvas, porém odeio seguir
regras. Hailey é uma boa menina, freia e reduz a velocidade antes de entrar,
eu não me arrisco a ponto de continuar acelerando, mas não freio, eu faço a
curva com a mesma velocidade e acelero assim que estou saindo dela.
Consigo ultrapassar Hailey, ela tenta me alcançar, mas injeto o nitro
no motor e a deixo para trás. Ótimo! Meu sorrio amplia e me sinto a porra
da dona do mundo. Caralho, ninguém me segura! Acelero e ultrapasso a
chegada.
— Porra.
Grito, comemorando. Eu venci! Consegui mais uma vez! É disso que
eu precisava. Piso no freio, puxo o freio de mão e paro o carro, então abro a
porta e saio para fora. Escuto meu nome e a adrenalina continua
percorrendo meu sangue.
Hailey cruza a chegada segundos depois de mim, foi por muito
pouco, ela não para e dirige para longe.
— Chora, bonequinha.
Grito, mesmo que ela não possa me escutar, o restante dos presentes
escutou e seus irmãos que ainda estão aqui também, faço questão de olhar
para eles e Travis está me encarando com a testa franzida. Ele não aprova a
minha atitude.
Foda-se, eu não me importo nem um pouco com que pensa sobre
mim!
Olhe nos meus olhos
É onde meus demônios se escondem
É onde meus demônios se escondem
Não se aproxime muito
É escuro aqui dentro”
Demons (Imagine Dragons)

Travis
Hailey dirige para longe e não é preciso ser um gênio para descobrir
que ela está indo embora.
— Chora, bonequinha.
Sophie grita, ela não está mais provocando Hailey, ela está nos
provocando e fazendo um show para quem está assistindo às corridas. Ela é
uma maldita provocadora, ela, assim como todos da Speed Demons, é
adepta à provocação, eles não querem apenas correr e ganhar, eles querem o
pior dos adversários.
Idiotas!
Como parte do seu show, se vira e nos encara. Ela não pode atingir
Hailey, mas sabe que pode nos atingir. Cruzo os braços à frente do meu
corpo e franzo a testa. Desaprovo sua atitude e isso é tudo que ela terá de
mim, não caio em seus joguinhos, no joguinho de nenhum deles, tudo que
eles querem é mexer com nosso psicológico.
— Cadela.
Trevor é mais fácil de se irritar do que eu.
— Você sabe que é isso que ela quer, não é?
— Foda-se.
Viro-me e a expressão em seu rosto não é nada agradável. Além
disso, está segurando a garrafa de cerveja em suas mãos com força o
suficiente para os nós de seus dedos ficarem vermelhos. Porra, ele está
pronto para uma briga!
— Vá atrás de Hailey, provavelmente, ela foi para casa.
Eu preciso ficar para receber o dinheiro, mas Trevor não. É melhor
que ele saia daqui antes que aja precipitadamente e Hailey, realmente,
precisa de um de nós dois.
— E você?
Sorrio, debochado.
— Sou grandinho o suficiente para conseguir resolver minhas
questões sem meu irmão mais velho.
Trevor sabe que sou plenamente capaz, eu não preciso dele, mesmo
assim está lutando com seu instinto protetor. Ele demora um pouco, mas por
fim concorda.
— Ok, e não se meta em nenhuma confusão.
Ergo as sobrancelhas.
— Quem gosta de confusões é você.
Acuso-o e Trevor dá de ombros.
— Eu não gosto de confusões.
Encaro-o com deboche.
— Só não consegue se manter longe delas.
Meu irmão sabe que estou falando a verdade.
— Foda-se.
É óbvio que não tem nenhum argumento!
— Se eu arrumar alguma garota, talvez.
Trevor revira os olhos ao me ouvir e entra em seu carro. Ele acena
em minha direção, aceno de volta e ele dirige para longe. Eu fico sozinho,
Damon, o quarto integrante da nossa equipe não está aqui hoje, o idiota do
melhor amigo do meu irmão tinha outro compromisso, aposto que envolve
alguma garota.
Apoio-me contra meu carro e observo ao redor, as pessoas ainda
estão por aqui bebendo, comemorando as vitórias e com som alto em seus
carros, algumas estão indo até Elijah recolher o dinheiro das suas apostas,
hoje não estava tão difícil, a única disputa realmente razoável era Hailey e
Sophie, era óbvio que Sebastian e eu íamos vencer, Track Predators só
servem para quantidade, eles são péssimos.
Minha irmã não está contente com a derrota, ela pode disputar contra
os caras e vencer, mas uma derrota contra Sophie é o suficiente para deixá-
la descontrolada, e ela não vence há quatro corridas. Porra, ela deve estar
furiosa!
Olho para o lado e Sophie está com sua equipe, eles estão bebendo e
olhando ao redor como se estivessem prestes a matar alguém, boa parte dos
alunos de Dartmouth se sente intimidada diante deles, mas eu não. É
preciso de bem mais do que quatro universitários para me intimidar.
Sophie está vestindo uma calça de couro que parece fazer parte do
seu corpo, marca suas coxas torneadas e sua bunda, a blusa também é
apertada e seus seios parecem estar prestes a pular para fora do tecido.
Porra, ela é gostosa!
Com certeza é alguém que eu levaria para cama, porém ela é a
Sophie, um pequeno demônio. Geniosa, uma cadela com seus adversários,
insuportável. Uma parte minha adoraria domá-la na cama, fazê-la implorar
e gritar meu nome, mas isso não vai acontecer, o preço é alto demais,
porque seria um inferno estar com ela.
Além disso, garotas gostosas é o que não falta em Dartmouth.
Meu olhar encontra o seu e ela me encara como se fosse a rainha do
mundo, para seu azar no meu mundo ela não passa de um bobo da corte.
Esse seu ar de superior não irá durar por muito tempo, provavelmente, na
próxima corrida seremos eu e ela e vou fazer questão de derrotá-la.
Ninguém nos humilha e fica sem retaliação.
Continuo encarando-a e ela não desvia os olhos dos meus. Ergue
suas sobrancelhas e sorrio. Não é esse tipo de joguinho que ela gosta de
jogar? Sophie dá um passo à frente e meu sorriso amplia, desta vez quem
venceu fui eu.
A expressão em seu rosto não é nada amigável e ela me encara como
se estivesse prestes a me matar. Não desvio meus olhos dos seus e continuo
provocando-a. Prove do seu próprio veneno, garota!
Ela dá mais um passo em minha direção e balança sua cabeça
negando, provavelmente alguns dos seus amigos disse algo, os encaro e
Dominic está movimentando seus lábios, não consigo escutar e nem
decifrar o que disse. Volto minha atenção para Sophie e ela está vindo até
mim. Ignoro tudo ao meu redor e mantenho os olhos sobre ela.
A cada passo ela parece mais furiosa e isso me deixa ainda mais
satisfeito, porra! Eu entendo o motivo de Sophie gostar tanto de provocar, é
muito satisfatório, quase tanto quanto correr. A diferença entre nós é que
Sophie gosta de irritar seus adversários com o olhar, eu faço isso com
deboche e sorrindo, as pessoas odeiam sorrisos.
Sophie se aproxima como se estivesse prestes a me matar, quase
consigo acreditar que ela é alguma ameaça.
— Boa noite, Sophia.
Erro seu nome de propósito.
— Você é o Travis ou o Trevor?
Pergunta com deboche, usando a mesma jogada que eu, mas não me
importo.
— Não importa.
Não estou mais sorrindo, mas também não entrego nenhuma
expressão, encaro-a friamente.
— Por que você está me encarando? — Cruza os braços abaixo do
seu seio, o que faz com que eles fiquem mais evidentes. — Meus olhos
estão aqui em cima, babaca.
Sorrio e continuo olhando para baixo.
— Eles são mais bonitos do que os seus olhos.
— Eu não posso te machucar, Travis, mas saiba que se pudesse,
deixaria você incapaz de ter filhos.
Diz entre dentes.
— Devo agradecer a Elijah pela regra que proíbe agressão entre os
participantes?
E ela está me olhando com tanto ódio que suas bochechas estão
vermelhas. Ótimo!
— O que aconteceu com a sua irmãzinha? Não aguentou a pressão?
— A expressão em seu rosto se transforma e soa debochada. — Tão mau
perdedora.
É óbvio que ela não ficaria em silêncio ouvindo minhas provocações
sem me provocar de volta.
— Esse é o seu melhor? — Ergue suas sobrancelhas. — Me
provocar usando a minha irmã?
Sophie sorri, um sorriso sarcástico.
— Não é uma provocação, é a realidade. — Olha em volta com um
olhar falso de inocência. — Ela sequer conseguiu ficar aqui, fugiu para casa
para chorar? O Scott número 2 foi atrás do bebê chorão?
Volta a me encarar e faz um beicinho com seus lábios. Por alguns
segundos, apenas mantenho os olhos sobre ela. Sophie acredita ser
imbatível, a dona da porra toda, a rainha do universo, deusa suprema, age
como uma vadia, não tem nenhum escrúpulo e nem caráter.
— Você acredita ser incrível, não é?
O seu sorriso se torna uma curva em seus lábios.
— Usando a tática de responder uma pergunta com outra pergunta
para não a responder e mudar de assunto? Achei que você fosse melhor,
Scott.
Usa minhas próprias palavras contra mim, faz um barulho de estalo
com sua língua e balança sua cabeça de um lado para o outro. Eu preciso
me controlar para não deixar minhas emoções aparentes, porque lá no fundo
ela está conseguindo me atingir. Porra, ela está falando dos meus irmãos e
ninguém fala deles, eles são a minha família!
Eu me forço a parecer indiferente e dou de ombros.
— O que meus irmãos e eu fazemos não é problema seu.
Volta a sorrir como se algo fosse realmente muito engraçado. Sigo
firme em meu propósito de não transparecer meus sentimentos, por mais
difícil que seja.
— Talvez devêssemos pedir a criação de um prêmio de consolação
para a princesinha, será que ela ficaria mais felizinha?
Deixa seus braços livres ao lado do seu corpo, dá um passo para trás
e, mesmo assim, nós continuamos a nos encarar.
— Talvez deva existir um prêmio de consolação para sua equipe,
não é? — Seu sorriso morre no instante que as palavras deixam minha boca
e me fuzila com seu olhar. — Nós vencemos no ano passado e somos a
equipe na frente.
Relembro-a e amo a sua expressão de desgosto. Acho que desta vez
quem venceu fui eu. Sophie revira os olhos e bufa irritada.
— Vocês venceram na sorte e é por esse mesmo motivo que ainda
estão na frente.
Faço uma careta enquanto o sorriso debochado segue em meus
lábios.
— Essa é a desculpa que vocês contam a si mesmos? — O
argumento perfeito surge em minha mente e animação vibra em meu peito.
— Acho que não é Hailey que é uma péssima perdedora.
Seu rosto fica vermelho e o som da minha risada ecoa pela noite. É
nítido que ela não sabe como me responder. A espertinha da língua afiada
está sem palavras.
— Um gato comeu sua língua, princesa?
Desvio os olhos dos seus e posso ver as suas mãos fechadas em
punhos.
— Um dia eu vou acabar com vocês, Scott.
— Está me ameaçando?
Volto a encarar seus olhos e há tanta raiva neles que não duvido que
ela tentaria me agredir se não estivéssemos aqui, aqui é proibido! Eu
gostaria de vê-la tentar.
— Não. — Um sorriso irônico surge em seus lábios. — É um aviso.
Eu me afasto e dou alguns passos à frente até estar a um palmo de
Sophie. Seguimos com os olhos fixos um no outro. O vento noturno faz
com que seu perfume me atinja e, porra, ela é cheirosa, apesar disso não me
desconcentro. Eu tenho um objetivo!
— Você pode tentar, princesa, mas não irá conseguir, não será uma
garota como você que conseguirá. — Toco seu cabelo. — Nós já
enfrentamos monstros muito piores.
Minhas palavras não a assustam, Sophie não recua. Ergue seu rosto,
eu abaixo o meu levemente e meu nariz quase toca o seu.
— Monstro? — Não se intimida, pelo contrário diminui ainda mais a
distância, o espaço entre nós é mínimo. — Os monstros desaparecem depois
de um tempo, baby, eu sou um pesadelo que sempre volta para atormentar.
Não recuamos, ficamos desafiando um ao outro até que alguém se
aproxima e chama nossa atenção.
— Espero que vocês não estejam prestes a se matar. — Elijah soa
debochado. — Seria péssimo perder meus melhores corredores.
Olho para o lado e o organizador da corrida está aqui, com um
sorriso em seus lábios.
— Não bato em garotas.
Ele me encara com os olhos frios, eu posso ser bom em esconder o
que estou sentindo, mas Elijah é um mestre, é impossível sequer chutar o
que ele está pensando.
— Espero que você também não bata em garotos, Sophie.
Olha diretamente para Sophie e, apesar dos seus olhos inexpressivos,
a entonação de sua voz entrega que está sendo debochado.
— Eu não tenho essa regra. — Volto a olhar para Sophie, ela dá um
passo para trás, me encara e sorri debochada. — Mas não se preocupe, vou
me manter longe do principezinho.
Não esconde o desdém ao deixar a última palavra sair da sua boca.
— Aqui está o pagamento de vocês.
Elijah não alimenta nossa provocação e nos encara com tédio.
Ótimo, nós o deixamos entediado! Ele pega dois maços de dinheiro, me
entrega um e outro para Sophie. O de Sophie é visivelmente maior,
provavelmente, ocorreram mais apostas na sua corrida com Hailey e isso
era o esperado. Correr contra os Predators é sempre péssimo, além de ser
óbvio que eles irão perder, não há tanta emoção ao correr e ainda lucramos
menos.
Não conto a quantia e a levo até o bolso das minhas calças, Sophie
faz o mesmo.
— Você deveria arrumar uma equipe à nossa altura.
Resmungo.
— Não chore, baby.
Sophie me provoca. Desta vez, não consigo esconder minha irritação
e ela ri satisfeita. Lá no fundo, quero bufar irritado, gritar e socar algo, mas
não é isso que eu faço. Busco meu controle e mantenho minhas emoções
acorrentadas dentro de mim.
— Não se preocupe, Travis, sua próxima corrida é contra Sophie.
É claro que ele está fazendo isso de propósito, mas quem se
importa? O importante é que vou correr contra Sophie e vou vencê-la.
— Ótimo, apesar de não gostar da princesinha, ela sabe correr.
É com ele que estou falando, mas mantenho meus olhos fixos em
Sophie. Ela é péssima em esconder o que está pensando e é óbvio que ela
tenta. Não é legal para uma garota durona demonstrar seus sentimentos,
talvez eu devesse lhe dar algumas aulas.
— Prepare meu dinheiro, porque eu vou vencer, Elijah.
Sophie soa tão confiante, será uma pena derrotá-la... ou não.
— Vocês dois correram bem hoje, continuem assim. — Ergo minhas
sobrancelhas e espero por suas próximas palavras, Elijah nunca nos elogia
sem uma intenção. — E façam ainda melhor, porque as apostas serão altas,
façam o dinheiro alheio valer a pena.
— Eu nunca decepciono.
Pisco para ele.
— Eu vou ganhar.
Sophie segue confiante.
— Foda-se, só estejam preparados e façam o show que o público
espera ver de vocês dois.
Sem se despedir, Elijah se afasta.
— Tão educado ele, não é? — Sophie não me responde, ela gira e
fica de costas para mim. — Ser mal-educado é um requisito? Esqueceram
de me avisar.
Ela segue em frente, espero-a dar mais alguns passos para gritar.
— Vai ser um prazer ganhar de você, princesinha.
Ela ergue sua mão e, ainda de costas, me aponta o seu dedo do meio.
Eu estou com você, irmão
Se eu estivesse morrendo de joelhos
Você seria aquele que me salvaria
E se você estivesse afogado no mar
Eu te daria meus pulmões, para que você pudesse respirar
Brother (Kodaline)

Travis
Seu gesto faz com que um sorriso surja em meu rosto, desta vez eu
venci, é rindo que entro em meu carro e dirijo para casa. Acelero meu Civic
Type R pela rodovia desativada e não me contenho.
Caralho!
Amo a sensação de pisar fundo no acelerador, de ver o velocímetro
do carro marcar o máximo possível, a sensação de liberdade que corre pelo
meu corpo e domina cada parte minha, fazendo com que me esqueça de
tudo, até mesmo de quem eu sou. Eu me sinto imbatível, capaz de qualquer
coisa, nada irá me parar.
O futebol americano é uma parte de mim, é o que me faz feliz, é no
campo onde eu me sinto completo, mas é na pista, correndo, que eu
encontro minha paz, que silencia o caos que habita dentro de mim.
Desacelero ao sair da rodovia, não quero ter problemas com a
polícia, isso me prejudicaria no time. Eu sou do tipo que precisa manter
minhas duas paixões alinhadas, o quarterback irrepreensível e, ao mesmo
tempo, o piloto de corrida ilegais.
É madrugada de um sábado e não há ninguém pelas ruas, apesar de
não estar em alta velocidade e me sentir como um vovô dirigindo, não
demoro a chegar em casa. Estaciono na garagem ao lado dos carros dos
meus irmãos e sigo para a sala. Hailey e Trevor estão sentados no sofá, um
ao lado do outro, bebendo e encarando a televisão desligada. Os dois estão
em silêncio e o barulho de uma agulha caindo no chão poderia ecoar pelo
cômodo.
— Vocês estão tão animados.
Nenhum deles me responde e continuam encarando a televisão como
se fossem duas estátuas. O clima é pesado e os dois estão agindo como se
estivessem de luto.
Eu me aproximo do nosso sofá que tem um formato de L e ocupo a
ponta, de modo que consigo encarar os dois. Hailey tem uma sombra em
seu olhar, uma mistura de frustração, raiva e tristeza.
Consigo entender minha irmã, perder é horrível!
Trevor simplesmente está com maxilar travado como se estivesse
prestes a matar alguém, mas essa é a expressão mais comum do meu irmão.
— Ótima corrida.
Hailey, finalmente, desvia os olhos da televisão e a expressão em seu
rosto muda. Ela estreita os olhos e é como se estivesse tramando a melhor
forma de me matar.
— Eu não ganhei.
Soa com desdém e dou de ombros.
— Mas você foi bem.
Hailey balança a cabeça e bufa irritada.
— Não adianta ir bem e ver aquela cadela chegando primeiro que
eu.
Seus olhos brilham de raiva.
— Ela deu sorte.
Tranquilizo-a enquanto Hailey leva a cerveja até sua boca e bebe um
gole generoso da bebida, em seguida, volta a olhar em frente e fica em
silêncio. Eu apoio minhas costas completamente sobre o estofado e encaro
o teto.
Não é assim que normalmente terminamos a transição de sexta para
sábado. Na maioria das noites pós-corrida não voltamos para casa,
procuramos alguma festa que esteja ocorrendo em outro lugar e, algumas
vezes, raramente, Elijah organiza algum after, e se voltamos para casa,
organizamos nossa própria festa.
Esse clima de enterro não é o nosso habitual, engulo em seco, lá no
fundo eu sei que merda está acontecendo, sei a razão pela qual meus irmãos
estão assim. É essa maldita data. Eu posso fingir que não significa nada,
empurrar as lembranças para o mais longe possível, ignorá-las, manter
meus fantasmas trancafiados no abismo da minha alma, mas meus irmãos
não são assim.
— Então, é isso? Vamos terminar nossa noite de sexta-feira assim?
É a minha tentativa de animá-los, de fazê-los esquecer, esse é o meu
papel, sempre foi.
— Não estamos mais na sexta-feira, é sábado.
Trevor está certo, a última vez que conferi o horário eram duas horas
da manhã, mas não é porque ele está certo que olho em sua direção, e sim
porque estou preocupado.
Trevor me respondeu com rispidez. Encaro-o, ele continua com o
olhar fixo na televisão desligada, há uma ruga em sua testa, ele parece
atormentado, ele está atormentado. Não preciso ler mentes para saber que
as lembranças daquela noite estão ocupando sua cabeça e, droga, não
consigo pensar em algo para fazer meu irmão se desligar do passado e
voltar para o presente.
— Eu sei, mas a minha noite de sexta-feira ainda não terminou.
Sigo fingindo não saber o que está acontecendo, forço um sorriso,
mas nenhum dos meus irmãos me acompanha.
— Eu vou beber até esquecer meu maldito nome.
Hailey declara e bebe o restante da bebida que há na garrafa que está
segurando.
— Ok, vou acompanhar os dois.
É a única coisa que eu posso fazer no momento. Não restam
alternativas, nada do que eu faça irá ajudá-los, eles estão perdidos demais,
não há como resgatá-los. Eu vou até a cozinha, pego uma garrafa de cerveja
e, quando volto, Trevor está de cabeça baixa, digitando algo em seu celular.
Sento-me no mesmo lugar de antes e, ao observar meu irmão, vejo que por
breves segundos as sombras em seus olhos somem.
— Você está conversando com Margot, não é?
Margot é a única a tirar Trevor da sua mente, ela tem uma parte do
meu irmão que nem Hailey e eu temos, sempre foi assim, desde o momento
em que a conhecemos. Trevor não me responde e continua com os olhos no
aparelho.
— Com quem mais ele estaria conversando? — Hailey debocha e
sorri, mas é um sorriso rápido, em seguida ele some do seu rosto e olha para
Trevor, pensativa. — Margot é a âncora de Trevor.
Ela não está mais debochando e soa como se estivesse com inveja do
que nosso irmão tem com Margot. Eu entendo o que ela está querendo dizer
e também entendo seu sentimento. Margot mantém Trevor lúcido, é um
refúgio, como se ela fosse o ar enquanto ele está se afogando.
— Nisso você tem sorte, Trevor, você tem alguém.
Aponto a garrafa em sua direção e a trago até meus lábios, a bebida
desce pela minha garganta e as cenas daquela noite tomam conta da minha
mente.
Não consigo mantê-las longe!
Elas me atormentam, meu estômago embrulha, minha mente se
transforma em um caos e tenho vontade de gritar. De repente, eu sou aquele
garoto de novo! O pior é que não é apenas uma noite, foi só o início do
pesadelo.
— Você não está sozinha, Hailey, você tem a nós.
Escuto a voz do meu irmão e me concentro nela até estar aqui de
volta e não naquele lugar. Respiro fundo, bebo mais um gole da bebida e
recobro o controle.
— Eu sei, mas é diferente do que você tem com Margot, nós
estávamos no inferno juntos.
Hailey sorri, um sorriso triste. Caralho, nenhum de nós merecia essa
merda!
— Porra — a palavra sai da minha boca antes que consiga me
conter. Eu termino de beber o restante da cerveja e fico em pé. — Eu
preciso de algo mais forte.
Preciso de algo que me faça esquecer, roube o controle do meu
corpo e da minha mente, melhor ser o álcool a tê-los do que o meu passado.
Sigo para a cozinha, abaixo-me e abro as portas do armário onde guardamos
as bebidas mais fortes, eu pego uma garrafa de uísque e volto a ficar em pé,
no mesmo instante meus irmãos entram no cômodo.
— Travis, não surte.
Trevor diz entre dentes, eu largo a garrafa sobre o balcão, espalmo
minhas mãos sobre o mármore, curvo-me para frente e encaro o chão.
Ele está certo, respiro fundo, faço as porras dos métodos sugeridos
pelos psicólogos, de respiração e relembro momentos felizes que ocorreram
depois de tudo, em meus pais, no que eu amo fazer, o futebol, as corridas,
os carros… consigo me conter, não me afundar em memórias destrutivas,
mas não significa que esteja bem, estou longe de estar bem.
Pego o uísque e, sem olhar para meus irmãos, atravesso a porta que
liga a cozinha ao jardim, eu vou até as espreguiçadeiras, sento-me de frente
para a piscina e fito a água azul, por alguns segundos me mantenho assim,
as lembranças se foram, mas o caos continua aqui em meu peito.
Trevor e Hailey se juntam a mim, ocupam as espreguiçadeiras ao
meu lado e fico entre os dois. Nós três ficamos em silêncio, cada um
perdido em sua bagunça.
Não conversamos sobre o que aconteceu, evitamos o assunto e
lidamos sozinhos, porque se lidarmos juntos será bem pior. Fingimos que
acreditamos que o outro está bem, que já superou, nenhum de nós quer
encarar a dor do outro, porque sabemos que será ainda mais assustador.
Abro a garrafa e bebo da bebida, queima minha garganta e, porra, é
disso que eu preciso. Uma anestesia!
— Deveríamos ter ido fazer algo, talvez ainda tenha alguma festa
rolando.
Trevor sugere, porque se sente culpado. Droga, ele sempre se sente
culpado! Meu irmão não é responsável por nós, mesmo assim, se sente
responsável por Hailey e eu, sempre se sentiu e, quando sente que falhou,
ele não se perdoa.
— Está tudo bem.
Não está, mas vai ficar, é nisso que eu tenho que acreditar. Voltamos
a ficar em silêncio, bebo mais um pouco e ofereço a bebida para Trevor, ele
aceita e depois entrega a garrafa para Hailey. Bebemos como se fosse a
solução para nosso caos!
Água da piscina reflete o céu, a lua é cheia e há muitas estrelas,
apesar de existir uma brisa, não está frio. Uma noite bonita e agradável. A
perfeição diante da escuridão.
Não demoramos a acabar com o uísque e minha visão já está turva.
Ótimo! A minha mente está confusa, misturando presente e passado. Não
sei distinguir o que é real do que é surto. As árvores do jardim são duas e
sorrio.
— Porra, isso é tão legal.
Grito enquanto uma parte minha se sente feliz, a outra quer se deitar
em uma posição fetal e chorar, no momento ignoro o choro e deixo as
lágrimas presas em meus olhos.
— O que é tãooo legal?
Hailey pergunta com palavras arrastadas e prolongadas. Não sou o
único bêbado.
— As árvores dançando.
Aponto para as árvores à minha frente, a gargalhada de Hailey ecoa
pela noite, ela está rindo e não são seus gritos, isso me deixa tão aliviado e
tão feliz. É isso que minha irmãzinha deve ser, feliz, é isso que ela sempre
deveria ter sido. Ela não deveria conhecer a escuridão.
— Vamos dançar iguais a elas?
Viro-me em sua direção e ela está me encarando animada, no mesmo
instante, assinto e fico em pé. Estendo minha mão, ela deixa seus dedos
sobre o meu e a ajudo a ficar de pé, então nós dois começamos a dançar
sem música, nossas risadas ecoam pelo jardim. Estamos péssimos de
equilíbrio e quase caímos muitas vezes.
— Vocês são patéticos.
Trevor nos critica, olhamos para ele e há uma carranca em seu rosto.
— Você não está bêbado? — Afasto-me de Hailey alguns
centímetros e espalmo a mão sobre meu coração. — Você deveria tentar
diminuir a dor.
Trevor balança a cabeça negando.
— Não.
Dou de ombros e Hailey e eu continuamos dançando. Cantamos
algumas músicas, somos totalmente desafinados. Com o passar dos
minutos, nossas risadas diminuem até restar apenas o silêncio, então eu
puxo minha irmã para um abraço. Beijo o topo da sua cabeça e deixo que
uma lágrima escorra pelo meu rosto.
— Eu sinto muito, Sky.
Minha irmã fica em silêncio e permanecemos assim por um tempo, é
Hailey a se desvencilhar de mim, ela se senta em seu lugar e ocupo a
espreguiçadeira ao seu lado. Nós três fitamos a piscina. O álcool não
conseguiu me anestesiar por completo!
— Hoje é o seu dia de pedir o que quiser, Hailey.
Trevor lembra a Hailey que esse é o dia em que ela pode nos pedir
qualquer coisa. O dia do sim, o dia que não importa o que ela nos peça,
iremos concordar. Não é uma forma de recompensá-la pelo que passou, mas
foi uma maneira que encontramos de seguir em frente, uma forma de tornar
um pouco mais suportável.
Nós dois olhamos para Hailey, ela continua olhando em frente e
demora a nos responder.
— Eu quero que um de vocês conquiste Sophie.
Trevor e eu nos olhamos sem entender. Conquistar Sophie? Do que
merda ela está falando?
— Do que você está falando, Hailey?
Hailey nos encara e reconheço seu olhar. É o olhar maldoso de quem
está prestes a vencer de uma maneira nada honesta.
— Eu quero que um de vocês conquiste Sophie. — Sorri enquanto
eu estreito os olhos. O que diabos ela está nos propondo?! — Faça ela se
apaixonar e, então, revelará que não passou de uma brincadeira, de um
joguinho.
Não, não, você vai entrar no jogo
Deixe que ela te guie, continue, continue
Você vai estar dizendo: Não, não
Depois dirá: Sim, sim, sim
Porque ela está mexendo com sua cabeça
Sweet but Psycho (Ava Max)

Travis
Caralho! Engulo seco, hoje é o dia do sim, não podemos negar, esse
é o nosso combinado.
— Essa é a minha vingança — complementa. — Aquela vadia
acredita ser imbatível, mas ela não é, é apenas uma garota normal e eu irei
vencê-la.
Hailey sorri empolgada e nos encara, esperando qual de nós dois vai
fazer o que ela está pedindo. Ela sabe que tem tudo de mim e de Trevor, nós
sempre fizemos suas vontades, principalmente, nessa data, é a nossa forma
de aplacar um pouco a culpa que nos corrói.
Olho para Trevor e sei que ele está prestes a dizer que irá conquistar
a Sophie, eu sei o que isso custaria ao meu irmão e, lá no fundo, quero ser
eu a conquistá-la.
Balanço a cabeça e, antes que ele proteste, abro minha boca e deixo
as palavras que jamais imaginei dizer saírem da minha boca:
— Eu vou conquistá-la.
Selo meu destino. Hailey está bêbada, mas ela está falando sério, não
irá voltar atrás e nem eu.
— Ótimo, mostre àquela vagabunda que ninguém mexe com os
Scotts.
Hailey sorri, um sorriso maldoso, e eu faço o mesmo. Não deveria
me sentir bem, nem estar animado, porém, Hailey está certa, Sophie mexeu
com as pessoas erradas, não é ela que gosta de joguinhos?
— Isso será algo interessante de presenciar. — Trevor me encara
aliviado e, por fim, sorri. — Como você pretende conquistá-la?
Dou de ombros.
— Não sei, mas não será difícil. — Sorrio convencido. — Eu nunca
tive problema com garotas, aliás, elas me amam, é eu estalar os dedos que
tenho a garota que eu quiser.
— Você é um idiota.
Trevor declara e sigo sorrindo, é a verdade, as garotas da faculdade
se jogam aos meus pés, tenho uma lista gigante de contatos salvos em meu
celular, uma mensagem e elas estão batendo em minha porta, fora as outras
que nunca tiveram suas chances, mas dariam tudo por uma. Eu posso ter a
garota que eu quiser e não será diferente com Sophie, ela até pode tentar
resistir, mas não conseguirá, não por muito tempo.
— Já estou contando os dias para presenciar Sophie arruinada.
Hailey realmente parece estar ansiosa e eu também. Eu volto a olhar
em frente e, desta vez, ergo a cabeça e encaro o céu. Sophie ocupa meus
pensamentos, imagens dela mais cedo, tão perto de mim, aquela maldita
roupa...
Ela é insuportável, será horrível me submeter a estar perto dela e
para ganhar sua confiança a ponto de conquistá-la terei que ser gentil,
preciso que ela goste de mim, porém, não será tão ruim tocar seu corpo, tê-
la embaixo de mim, gritando meu nome e implorando por mais, essa parte
será divertida.
Sophie, Sophie, você está fodida!
Sigo com ela em minha cabeça, como um alucinado, um milhão de
possibilidades ecoam em minha mente, qual será o gosto dos seus lábios?
Como será beijá-la? Será que existem mais tatuagens pelo seu corpo
escondidas embaixo das suas roupas? Como ela é sem roupa alguma?
Caralho! Não consigo empurrá-la para o fundo da minha mente e,
mesmo sendo um tormento, uma parte de mim se sente aliviado, é melhor
ser atormentado pela Sophie do que pelos fantasmas do meu passado.
Trevor, Hailey e eu não trocamos mais nenhuma palavra, não faço
nenhuma ideia de quais são seus pensamentos e não tenho vontade de
perguntar sobre eles, nem de compartilhar que estou pensando na maldita
garota problema.
A fase do álcool de empolgação está passando e estou começando a
ficar cansado, mesmo com os olhos pesados permaneço aqui, dormir não
será algo fácil, com certeza terei pesadelos. Talvez devesse beber mais!
A noite cede lugar à luz do dia e vemos o sol nascer. É algo bonito,
mas não me causa nenhum sentimento, nenhum conforto.
— Eu vou entrar. — Viro-me para Hailey ao ouvir sua voz, é nítido
que está com medo de dormir. — Vou me deitar no sofá.
— Qualquer coisa nos chame.
Ela assente para Trevor, fica em pé, respira fundo e depois de alguns
segundos se vira, ficando de costas e caminha para dentro da nossa casa.
Nós a observamos atravessar a porta da cozinha e sumir de nossa vista.
— Odeio essa porra.
Trevor soa frustrado e eu compartilho do sentimento, talvez não tão
intensamente quanto ele, mas é o mesmo sentimento.
— Eu só queria que não fosse tão insuportável. — confesso
enquanto apoio os cotovelos em minhas pernas. — É como se a cada
maldito ano eu revivesse aquela noite outra vez.
Sorrio, mas não há um humor em mim, é um sorriso triste. Curvo o
corpo para frente e deixo meu rosto entre minhas mãos enquanto fito o chão
abaixo de mim.
— Todo ano prometo que será diferente, que de alguma forma
manterei minha mente sã, que farei com que Hailey esqueça, mas não
consigo, por mais que tente, as malditas lembranças tomam conta dos meus
pensamentos
Trevor desabafa e os fantasmas são soltos da caixinha de
esquecimento, eles tomam o lugar de Sophie em minha mente, o sentimento
de culpa se alastra pelo meu coração e tudo que consigo pensar é: e se tudo
fosse diferente?
— Não vá por esse caminho, Travis.
Escuto a voz do meu irmão, mas as perguntas seguem ecoando em
minha mente. E se eu tivesse agido diferente? E se eu a tivesse protegido?
— Você era só uma criança.
Ele está certo, nós três éramos apenas crianças, não deveríamos
manter um ao outro seguro, não deveríamos ter passado pelo que passamos.
Eu volto a ficar com minhas costas eretas e encaro meu irmão, Trevor está
olhando em frente como se estivesse perdido. Ele pode estar dizendo que
não devo me culpar, mas ele mesmo está se culpando.
— Você também era apenas uma criança, Trevor.
Ele passa as mãos pelos fios do seu cabelo.
— Eu sei… — Faz uma pausa e fico apenas observando-o, eu sei o
que ele irá falar. — Mas eu era o mais velho.
Essa é a sua forma de argumentar que eu não posso me sentir
culpado, mas que ele deve se sentir culpado.
— Você não tinha que nos proteger e você nos protegeu, Trevor,
você fez o que podia.
— Eu os protegi até aquele dia. — A frustração é evidente em sua
voz. — Eu falhei uma única vez e foi o suficiente para nos destruir.
Uma parte minha gostaria de animá-lo, de fazê-lo rir, ou de
simplesmente conseguir com que ele esqueça, mesmo sabendo que não
existe nada que eu possa dizer ou fazer, minha mente continua procurando
maneiras de tornar o seu fardo mais leve.
— Eu não o culpo, Trevor, muito menos a Hailey. É o melhor que
posso falar nesse instante, Trevor fica em silêncio e, porra, eu me sinto um
inútil.
Nossos pais dizem que eu sou o alívio cômico da família, e talvez
seja, porém tudo que eu tento fazer é tornar o fardo mais leve, mais
suportável, menos dolorido.
Trevor fica em pé e caminha de um lado para o outro.
— Eu preciso de um cigarro. — Leva as mãos até seu bolso. —
Caralho.
Grita frustrado ao não encontrar nada.
— Cadê seus cigarros?
Olha para o céu e encara o sol.
— Eu prometi a Margot que tentarei parar de fumar. — Suspira e
volta a baixar sua cabeça. — Porém, só por hoje, eu preciso quebrar a
minha promessa.
Meu irmão faria de tudo por essa garota e é algo que jamais irei
entender. Ele dá um passo à frente, mas para e balança a cabeça de um lado
para o outro.
— Não, eu consigo me conter.
Sorrio e o encaro com deboche.
— Ela tem você amarrado pelas bolas.
Ele dá de ombros como se isso não fosse nada de mais e volta a se
sentar ao meu lado.
— Você sabe que Hailey não irá desistir dessa ideia de você
conquistar Sophie.
Assinto e sorrio.
— E nem eu, será divertido.
Meu irmão sorri e seus olhos ganham um brilho diabólico.
— Pessoas normais não concordariam com isso, achariam a ideia de
brincar com alguém assim: desumano.
Trevor está certo, aproximar-se de alguém para quebrar seu coração
é extremamente cruel. Nós dois continuamos sorrindo.
— Perdemos a noção do que é ou não cruel há muito tempo, Trevor.
Ambos paramos de rir, isso não é engraçado, e se pudéssemos não
teríamos feito essa escolha.
— Na maioria dos dias, eu diria que você é apenas um idiota
mimado que acredita que o mundo gira em torno de si.
Não é um elogio, nem uma crítica, é apenas Trevor me dizendo que
aparento ser alguém normal. Um garoto que não passou pelo que nós três
passamos, soa quase como se ele estivesse com inveja.
— Eu gosto de quem eu me tornei, Trevor.
— Eu sonho com a normalidade, mas não consigo ignorar o que
aconteceu, o que tivemos que fazer, de onde viemos… eu não consigo
esquecer.
Eu me deito na espreguiçadeira e encaro o céu.
— Isso não nos define, Trevor. — É difícil acreditar que você
pertence a um lugar depois de passar pelo inferno, porque você se acostuma
com as trevas. — E uma parte minha não consegue abandonar a escuridão.
Confesso.
— Eu amo ser o quarterback popular, mas amo ser temido nas pistas
de corrida à noite.
Concluo e ficamos quietos por alguns segundos.
— Eu não consigo decidir o que eu quero ou quem eu quero ser, sou
uma bagunça.
— Você sabe, Trevor, só não se acha merecedor do futuro que você
almeja.
É óbvio para Hailey, nossos pais e eu o que Trevor realmente quer,
ele só não se acha digno.
— É muito mais complicado do que isso.
Eu demoro para formular a próxima frase, nunca conversamos sobre
o assunto e, possivelmente, essa será a primeira e última vez.
— Ela não iria julgá-lo pelo que aconteceu e ela não espera que seja
outra pessoa, nenhum de nós espera isso.
— O irmão mais velho sou eu.
Escuto o som da sua risada, mas é falsa, ele apenas está tentando
mudar de assunto.
— Dois anos não fazem de você um ancião.
— Não importa, eu me sinto responsável por vocês.
E aqui está o que causa os maiores traumas e receios em meu irmão.
Ele ainda soa como se estivesse rindo, mas continua fingindo.
— Não esperamos que você assuma o lugar do nosso pai, Trevor.
Insisto, por mais que ele tente esconder isso, nós sabemos que essa é
a sua preocupação, é mais uma responsabilidade que ele assumiu sem
ninguém a colocar sobre ele.
— Eu sei.
É tudo que ele me diz, cruzo os braços e espero por algo mais, mas
Trevor fica em silêncio.
Existe mais a ser dito, nós dois sabemos disso, porém, simplesmente,
não falamos. Eu olho em sua direção e ele tem os cotovelos apoiados em
sua perna, o rosto em suas mãos e encara o chão. Ele parece muito mais
velho do que seus vinte e três anos, parece carregar o peso do mundo em
suas costas.
— Você tem alguma ideia de como irá conquistar a maldita da
Sophie?
Aqui está meu irmão mais uma vez mudando de assunto. Ele ergue
seu rosto, fixa seus olhos em mim e pela maneira como me encara, implora
para que não volte ao assunto anterior.
— Nenhuma, mas não pode ser algo tão difícil, eu tenho as garotas
que eu quero.
Sorrio e Trevor revira os olhos.
— Convencido.
— É apenas a verdade, aposto que não será tão complicado.
Ele balança a cabeça e, de repente, a expressão em seu rosto muda,
ele está sério outra vez.
— Obrigado, Travis. — Ele está me agradecendo por ter assumido o
papel de conquistar Sophie. — Isso a magoaria horrores.
Ele está falando de Margot.
— E magoá-la te machucaria.
Passa as mãos pelos fios do seu cabelo, assente e, por fim, suspira.
— Isso me destruiria.
Olha para o lado e encara a piscina. Eu o observo por alguns
segundos e, porra, meu irmão deveria se permitir ser feliz.
— Espero que um dia você decida contar a verdade a ela.
Ele fica em silêncio e não o pressiono. Permanecemos assim até um
grito chegar até nós. Um grito de desespero que pertence a Hailey, no
mesmo instante ficamos em pé e corremos para dentro da nossa casa.
Encontramos Hailey no sofá, ela está se debatendo e gritando.
Algumas palavras são impossíveis de entender, outras entendemos
perfeitamente. Para, socorro, não me toque… porra, é como viver tudo
aquilo outra vez.
Meu estômago embrulha, mas não tenho tempo para vomitar ou para
me preocupar comigo, pelo menos, desta vez, é apenas um sonho e
podemos acordá-la do seu pesadelo.
Trevor e eu a acordamos, Hailey desperta com lágrimas descendo
pelo seu rosto, ela está péssima. Seus soluços ecoam pela sala enquanto
Trevor a segura como se fosse um bebê.
Ficamos os três no sofá, Hailey chora e eu e Trevor tentamos
acalmá-la. Eu só me levanto quando alguém aperta a campainha, vou até a
porta e suspiro aliviado quando me deparo com nossos pais. Minha mãe me
puxa para um abraço e deixo que ela me abrace.
São apenas segundos, mas é o suficiente para que eu me sinta
melhor. Não faço perguntas, eu sei o porquê estão aqui, eles jamais nos
deixariam sozinhos em um dia como esse.
Assim que minha mãe se desvencilha de mim, meu pai passa o braço
pelo meu ombro, eu me apoio nele e nós três seguimos para a sala. Minha
mãe vai até Hailey e Trevor e abraça-os.
Ninguém adotaria três adolescentes ferrados, seria muito para lidar,
mas meus pais nos escolheram exatamente por isso, eles nos entendiam,
eles já estiveram no inferno.
Não é um sábado normal, porra, não é um dia normal. Apenas
existimos, agimos no automático e nos forçamos a continuar vivendo. Pelo
menos, temos uns aos outros!
Você é tão vaidoso
Você provavelmente pensa que essa música é sobre você
Você é tão vaidoso
Eu aposto que você pensa que essa música é sobre você
Não pensa? Não pensa? Não pensa?”
You're so Vain - Carly Simon

Sophie
Acordo com meu despertador tocando pela quarta vez. Meu desejo é
continuar dormindo, mas não tenho essa opção, se continuar na cama vou
me atrasar e meu professor não tolera atrasos.
Levo minha mão até embaixo do travesseiro enquanto abro os olhos,
pego meu celular e desligo o alarme. Uma vozinha em minha mente
sussurra para que eu volte a dormir, mas não posso fazer isso, não tenho
mais margem para falta, posso reprovar, e Deus me livre ter que fazer essa
matéria outra vez.
Sem alternativa, sento-me na cama, olho ao redor do meu quarto e
suspiro. Eu odeio segundas-feiras! Mal-humorada, eu me levanto e me
arrasto para o banheiro, encaro meu reflexo no espelho acima da pia e meu
cabelo está um caos, apesar do seu estado, eu dormi demais e não tenho
tempo para lavá-lo, então prendo os fios escuros em um coque, tiro minha
roupa e vou para o chuveiro.
Tomo um banho rápido, enrolo uma toalha ao redor do meu corpo,
escovo os dentes e volto para o quarto. Não perco meu tempo escolhendo o
que vestir, eu estou indo para faculdade, não para um desfile de moda,
visto a primeira roupa que encontro. Legging, uma camiseta que cobre
minha bunda e tênis, amarro meu cabelo em um rabo de cavalo, pego meu
celular, as chaves e jogo minha mochila sobre o ombro.
Deixo meu quarto e sigo para a cozinha, assim que entro no cômodo,
me deparo com os caras. Dominic e Sebs estão sentados nos bancos de
frente para a ilha enquanto Jace está com a geladeira aberta e bebendo leite
direto da garrafa. Os três olham em minha direção, mas eu encaro Jace.
— Existe um copo para isso, sabia? — Ele abaixa a garrafa e sorri
com um bigode de leite acima da sua boca. — Nojento.
Desvio os olhos deles e vou até a ilha, largo minha mochila no chão
e me sento de frente para Dominic e Sebastian. Dominic está tomando café
e Sebs me encara com deboche.
— Você está tão bonita hoje. — Seus olhos têm um brilho divertido.
— Sexy pra caralho, parecendo uma professora de pilates.
Escuto a risada de Jace enquanto se aproxima e se senta no banco ao
meu lado.
— Alguém pediu sua opinião, Sebastian?
Estreito os olhos em sua direção e o idiota segue rindo.
— Estou apenas elogiando uma amiga, ela está tão...
Finge estar procurando a palavra certa.
— Tão desleixada.
Jace completa a frase de Sebastian. Ergo meu dedo do meio e mostro
para os dois babacas.
— Nem parece aquela garota que veste roupa de couro e deixa todo
mundo babando na pista de corrida.
Sebastian continua.
— Fodam-se vocês dois.
— Que fofa! — Dominic decide me atormentar também e faço uma
careta. — Essa hora da manhã e você já está de mau humor, Van?
Encaro Sebs e Dominic com uma imensa vontade de jogar algum
objeto na cabeça deles.
— Vocês são uns idiotas, o que eu tinha na cabeça quando decidi
morar com três caras?
Olho para o balcão à procura de algo que possa acertá-los sem
causar sérios danos.
— Melhor que morar com três garotas.
Jace me responde no mesmo instante que fixo meu olhar em um
garfo, não preciso acertá-los, só um susto já basta.
— Vamos fazer uma noite de garotas.
Sebastian imita uma voz feminina.
— Onde estão as minhas maquiagens.
Jace faz o mesmo. Ergo os olhos e encaro os dois com minha testa
franzida, que merda eles estão fazendo?
— Oh, você viu a mensagem daquele garoto?
Ao mesmo tempo em que está falando, Sebastian ergue as mãos e
faz um gesto com elas como se estivesse imitando uma patricinha. Meu
Deus, eles são ridículos.
— Você não aguentaria um dia morando com garotas, Van.
Dominic se manifesta.
— Eu poderia muito bem ter amigas.
Os três sorriem e me encaram com deboche, reviro os olhos e decido
ignorá-los. Eles continuam imitando garotas e fazendo piadinhas, mas eu
decido me concentrar na comida. Pelos menos os idiotas prepararam o meu
café da manhã!
Em algum momento, os três cansam de rir de mim e mudam de
assunto. Conversamos sobre a corrida de sábado, e sobre a próxima,
enquanto terminamos de comer; após terminarmos, limpamos o que
sujamos e deixamos a cozinha.
Seguimos para Dartmouth em carros separados, pelo simples fato de
que apostamos quem chegaria primeiro à faculdade. É divertido tentar
cortar caminho e driblar o trânsito. É algo que melhora meu humor.
Sou a segunda a chegar, Sebs é o primeiro, então estaciono ao seu
lado e deixamos nossos carros. O estacionamento está movimentado e
chamamos a atenção, os outros alunos nos encaram, alguns com desprezo,
outros com admiração, e isso nos diverte.
— Muito bom, Van.
— Muito bom, grandão.
Eu me aproximo dele e batemos nossas mãos uma na outra, Dominic
e Jace são os próximos a chegarem, estacionam ao nosso lado e provocamos
os dois assim que deixam os carros.
— Eu peguei dois sinais fechados.
Dominic tenta se justificar enquanto seguimos em frente.
— Você que foi burro pegando o caminho mais complicado.
Assinto, concordando com Sebastian, e Dominic suspira irritado.
Dominic odeia perder até mesmo para nós. Continuamos nossas
provocações até nos depararmos com uma aglomeração de alunos na
entrada do prédio.
— Que merda está acontecendo?
Pergunto enquanto fico na ponta dos pés e tento descobrir o que está
me impedindo de seguir em frente.
— Hoje é a entrega do jornal de Dartmouth.
Jace nos lembra e encaro as pessoas à minha frente com desdém.
— Tudo isso por causa de um jornal de baixa qualidade?
Olho ao redor com desprezo. Pode haver informações importantes
no jornal entregue semanalmente por estudantes na entrada de cada prédio
da faculdade, mas todos no campus sabem que ele só faz sucesso por conta
da coluna de fofocas.
— Ridículo.
Dominic resmunga e parte para a lateral do prédio, nós o seguimos e
adentramos o local por outra entrada. Nenhum de nós está interessado nesse
maldito jornal, muito menos nas fofocas.
Caminho ao lado de Dominic. Jace e Sebs estão logo atrás de nós.
Faz dois anos que estamos em Dartmouth e, mesmo assim, ainda chamamos
a atenção, recebemos olhares curiosos e por onde passamos há sussurros.
Alguns acham que os três me dividem, outros afirmam que fazemos orgias
e todos se pegam. Não fazemos questão de desmenti-los, nem de nos
explicarmos, porque foda-se o que esse bando de idiotas acredita.
— Seria divertido se andássemos de mãos dadas.
Faço uma careta para Jace.
— Não seria.
— Eu gosto de enganar os trouxas.
Ele se gaba.
— Nós sabemos e você sempre nos mete em confusão por causa
disso.
Dominic o repreende e Jace dá de ombros.
— Sempre, é um pouco forte.
Ele ainda tenta se defender, mas não existe argumento que inocente
Jace.
— Nós fomos ameaçados de morte porque você roubou no pôquer
em um cassino.
Aponto e Jace segue rindo, ele realmente passa dos limites algumas
vezes. Reviro os olhos e continuo em frente.
Não trocamos mais nenhuma palavra até estarmos em frente à sala
de aula, o professor ainda não chegou e permanecemos no corredor. Há
alguns outros alunos por aqui, mas nenhum se aproxima de nós quatro.
— Eu preciso fumar.
Dominic declara e caminha para longe.
— Ele parece estar um pouco mais alegre.
Sebs assente concordando comigo.
— Dominic e alegre na mesma frase é tão estranho.
Jace debocha e empurro seu ombro com o meu.
— Você entendeu o que quis dizer.
— Sim, eu entendi, Van. — Jace para de rir. — Ele está melhor.
Durante o fim de semana, Dominic se isolou no quarto e é claro que
ficamos preocupados com ele. Na maioria dos dias, ele é apenas um garoto
mal-humorado e rebelde, mas, às vezes, ele é um garoto quebrado.
— Foram apenas alguns dias ruins.
Sebastian resume meus pensamentos em palavras. Eu me apoio na
parede, Jace faz o mesmo e Sebastian fica à nossa frente e encaramos o
lugar pelo qual Dominic usou para sair para a parte externa do prédio. Isso
faz com que nos deparamos com os Scotts quando eles surgem no corredor.
Eles caminham como se fossem os reis do universo. Faço uma careta e meu
olhar está repleto de desdém.
— Eles são tão idiotas.
As palavras deixam minha boca no automático.
— Sempre que os vejo andando assim, um ao lado do outro, me
lembro daquela cena de Crepúsculo em que a Bela vê os Cullen entrando no
refeitório da escola pela primeira vez.
Sebastian e eu olhamos incrédulos para Jace. Ter assistido a
Crepúsculo? Ok. Mas ter decorado as cenas é um pouco demais.
— Você com essa aura de garoto problema admitindo ter assistido a
Crepúsculo é um pouco demais.
Encaro-o com deboche e Jace sorri.
— Você já assistiu.
Ele me acusa e dou de ombros.
— Eu sou uma garota, eu posso assistir a filmes de garotas.
Ergue as sobrancelhas.
— Você não é uma garota comum.
— Eu deveria ficar ofendida com essa sua frase.
Jace me encara nem um pouco culpado.
— Mas você não ficará ofendida, porque sabe que estou falando a
verdade.
E droga, Jace, está certo, eu não me sinto ofendida. Realmente, não
sou uma garota que aparenta assistir a comédias românticas, ainda mais
com vampiros que brilham no sol.
— Ter assistido a Crepúsculo é o meu desvio de caráter.
Jace tem um olhar debochado em seu rosto.
— É o meu também.
Ele se defende.
— Eu ainda acredito que você tem um pinto no meio das pernas.
Sebastian se intromete em nossa conversa, eu olho para ele e sorrio.
— Eu adoraria ter um pinto no meio das pernas, a vida de vocês é
muito mais fácil, não sangram e não têm uma legião de hormônios
desregulando a vida de vocês.
Sebastian está prestes a falar algo, mas os Scotts se aproximam,
então os encaramos com desprezo, eles nos olham da mesma forma,
poderíamos iniciar uma guerra nesse exato momento.
Idiotas!
Travis fixa os olhos em mim e ergo as sobrancelhas. O que o babaca
quer? Ele desce o olhar pelo meu corpo e me analisa. Afasto-me da parede
e dou um passo em frente. Não avanço, porém o encaro como se estivesse
prestes a matá-lo.
Ele volta a olhar para o meu rosto e sorri. O que ele quer? Um nariz
quebrado? Uma joelhada no meio das pernas? É esse sorrisinho idiota que
o ajuda a conquistar garotas? Elas estão precisando de aulas de bom gosto,
porque minha única vontade é fazê-lo engolir todos os seus dentes.
Finalmente, Trevor e Travis seguem para a sala ao lado. A melhor
parte de Hailey não fazer o mesmo curso que os irmãos é que não preciso
ver a sua cara logo cedo.
— Ele gostou do seu look.
Sebastian me provoca.
— Cala a boca.
Respondo-o e me viro, ficando de costas para Sebs, não ligo para o
que Travis está pensando, não me importo com que estou vestindo ou se
alguém está julgando-me por isso. Sigo em frente, entro na sala e os idiotas
me seguem, ocupamos os lugares o mais longe possível do quadro.
— Ele está querendo transar com você.
Sebastian soa sério, ele está ao meu lado e olho para ele totalmente
incrédula.
— Você está usando drogas?
Ele ri, apoia seus braços na madeira e se inclina em minha direção.
— Estou falando sério, eu sorrio assim para garotas com quem quero
transar.
Sebastian explica e eu balanço a cabeça negando. Ele está maluco!
— É por isso que você não transa.
Aponto meu dedo em sua direção.
— Eu transo, muito mais do que você, pelo menos.
Ele ainda está sorrindo e reviro os olhos.
— Concordo com Sebastian, ele quer transar com você, isso se
chama flerte.
Jace pontua e eu balanço a cabeça.
— Vocês estão malucos e, mesmo que fosse verdade, eu prefiro
nunca mais transar na vida do que transar com Travis.
Não estou exagerando e olha que eu amo sexo.
— O que está acontecendo?
Dominic pergunta enquanto se aproxima e se senta à nossa frente,
ele se vira para poder nos encarar e entender sobre o que estamos
conversando. Eu me recuso a falar sobre o assunto e Sebastian o responde,
o babaca segue dizendo que Travis quer transar comigo.
Dominic olha em minha direção e a expressão em seu rosto deixa
claro que seus pensamentos são maldosos. Há um brilho de diversão em
seus olhos e um sorriso de quem está prestes a aprontar em seus lábios.
Posso não saber quais são seus pensamentos, mas com certeza não são
inocentes.
— Sabe o que você deveria fazer? — Ergo as sobrancelhas. — Você
deveria conquistá-lo, Van, e em seguida quebrar o coração do quarterback.
Eu não preciso de um homem, eu preciso de um cachorrinho
Alérgico a você, toda vez que você me toca
Maturidade emocional é para bobos
Eu não tenho tempo para fingir que você é engraçado
Deal With It (Ashnikko)

Sophie
Sorrio, porque Dominic não está falando sério, não é possível que
esteja.
— Isso seria horrível, uma espécie de tortura.
O sorriso some do rosto de Dominic ao ouvir as minhas palavras,
mas seus olhos seguem com um brilho cruel.
— Eu estou falando sério.
Paro de rir e analiso a expressão em seu rosto, Dominic realmente
não está brincando.
— Você quer que eu me proponha a conquistar o idiota do Travis?
As palavras ditas por mim em voz alta tornam tudo ainda mais
bizarro. Impossível!
— Seria uma ideia incrível, adoraria ver o idiota destruído.
Jace incentiva Dominic.
— Ele acredita ser o centro do universo — Sebastian entra na onda
de Dom e Jace e soa empolgado. — Você acabaria com o ego dele, Van.
Que drogas eles andaram fumando?
— Preferia que fosse o Trevor, mas ele tem aquela garota da
patinação.
Dominic resmunga, eu olho para os três, procurando algum sinal de
que estão zombando de mim, mas todos têm um olhar letal. Porra!
— Eu não acredito que vocês querem que eu transe com o
principezinho.
Uso o apelido pelo qual o chamamos para que eles percebam o
quanto isso é a coisa mais insana que eles já me sugeriram e eu tenho uma
tatuagem de um desenho animado por conta deles.
— Você não precisa transar com ele.
Olho para Jace e ergo as sobrancelhas.
— Você está dizendo que posso conquistar um idiota sem sexo?
Como que viemos parar nesse assunto mesmo? Pelo amor de Deus,
hoje é segunda-feira, eu só queria um pouco de paz.
— Eu confio em seu potencial.
Bufo e reviro os olhos.
— Sexo é a base de tudo, aliás, eu nem acredito no amor.
Dominic aponta seu dedo em minha direção, como se tivesse
acabado de provar seu ponto.
— Por isso, você é perfeita para quebrar o coração do babaca.
Faço o mesmo que ele e aponto meu dedo em sua direção.
— Ou seja, grandão, eu não acredito que ele possa se apaixonar por
mim, a ponto de quebrar o coração dele.
Sorri de lado e estreita os olhos.
— O que você tem a perder? Você não acredita ser capaz disso,
Sophie? — Aqui está ele me desafiando. E Dominic sabe o quanto eu sou
competitiva. — Eu acho que você está apenas criando desculpas.
Sussurra a última parte e meu coração acelera. Ele está duvidando de
mim e da minha capacidade.
— Não é uma desculpa, é um fato, o amor não existe, ele é um
sentimento inventado pelos seres humanos para manipulação.
— Então, use esse sentimento para manipular Travis Scott.
Dominic me provoca e me encara como se eu estivesse fugindo de
um desafio, como se eu estivesse perdendo e, droga, odeio perder.
— O amor não existe, Van, mas a paixão sim, é ela que nos cega e
que nos manipula.
Sebastian resmunga, ele está inerte em suas próprias lembranças e as
suas palavras despertam minhas próprias recordações. Ele está certo, o
amor bonito de livros, romances e filmes não existe, apenas o egoísmo, a
manipulação e o sofrimento.
Nada de bom surge do amor, eu sei disso, vi acontecer de perto.
— Além do fato de que desestabilizá-lo vai afetar a equipe inteira,
será muito mais divertido vencê-los e mais fácil.
Sebastian debocha.
— Isso parece trapaça.
Digo como se isso significasse algo, mas não significa. Só queremos
vencer, custe o que custar!
— Van, nós adoramos trapacear, é o nosso dom.
Jace fala com um sorriso em seus lábios e eu balanço a cabeça.
— Eu não vou conquistar Travis. — Olho para os três. — Parem de
tentar me manipular.
Usar a palavra manipular com eles é o golpe final, não tentamos
manipular uns aos outros, não é assim que nossa relação funciona.
— Ok, ok, Vanellope. — Dominic ergue as mãos. — Foi apenas uma
sugestão.
Assinto.
— Não era uma manipulação, estávamos apenas discutindo nossas
estratégias.
Jace se justifica e preciso me conter para não rir. É bom que eles se
sintam um pouquinho culpados.
— Da próxima vez, vamos discutir sobre um de vocês tentar seduzir
a Hailey. — Uma série de palavrões deixa a boca dos três. — Com certeza
seria uma ótima estratégia.
Os três ficam em silêncio e me sinto vitoriosa.
O professor entra na sala e não voltamos a conversar. Eu me
concentro na aula, mas é entediante depois de alguns minutos, porra, ele
está apenas falando do mesmo assunto. Faço algumas anotações, porém,
não é o suficiente para manter minha mente ocupada.
Apesar de encarar o quadro à minha frente e de escrever em meu
caderno, a ideia de seduzir Travis ganha espaço em meus pensamentos. É
uma péssima ideia, eu nem sou boa fingindo, como simularia gostar dele? E
eu teria que suportá-lo, meu Deus, isso seria terrível.
Mas, lá no fundo, gosto de pensar nele destruído, a mágoa em seu
olhar, seria como pisoteá-lo. Posso sentir a adrenalina pelo meu corpo, a
satisfação e a vitória.
Hailey e Trevor ficariam com tanto ódio, as corridas seriam muito
mais emocionantes, eu venceria duas vezes, dentro e fora das pistas. Os
sorrisinhos idiotas deixariam seus rostos.
Não sou uma boa garota, porque as imagens do sofrimento alheio
que ecoam em minha mente me agradam. E foda-se, faz muito tempo que
não sou uma boa garota! E é como dizem: boas garotas vão para o céu, as
más fazem o inferno na Terra.
Merda, eu não vou fazer isso! Eu poderia, eu o faria pagar por cada
risadinha debochada, eu o destruiria e, por consequência, seus irmãos,
entretanto, não vou fazer isso.
Empurro a ideia para longe e me concentro em resolver alguns
exercícios da apostila, é isso que faço no restante da aula e, assim que chega
ao fim, guardo minhas coisas na mochila, Jace, Dominic e Sebastian fazem
o mesmo, então ficamos de pé e deixamos a sala, seguimos para a próxima
sessão de tédio e, quando estamos quase na porta, lembro que estou sem um
dos livros da matéria.
— Preciso pegar um livro no armário. — Eles fazem menção de me
acompanhar, mas balanço a cabeça negando. — Eu já volto.
Eles seguem para a sala e eu dou meia-volta, parto em direção aos
armários que ficam no início do corredor. Vou até o meu, ele fica na terceira
fileira, o que facilita, porque não preciso nem me abaixar, ou ficar na ponta
dos pés.
Abro-o e ele está repleto de coisas, droga! Preciso procurar o livro.
Há casacos, outros livros, algumas maquiagens e me deparo até com um
casaco de Jace. Que caos!
Alguém se aproxima, continuo com o rosto dentro do armário,
porém estou em alerta. Não há nenhum perigo, mas meu corpo reage no
automático. Há uma sombra me cobrindo e tenho certeza de que alguém
parou ao meu lado. Sei que não é um dos meninos, entretanto, não é como
se fosse alguém desconhecido, não me sinto tensa como me sinto perto de
estranhos. Quem será? Não são muitas pessoas que me deixam confortável
em Dartmouth.
Eu me obrigo a continuar onde estou até achar o livro e, assim que o
tenho em mãos, fecho o armário, olho para o lado e estreito meus olhos
quando me deparo com Travis. Ele está com o ombro apoiado no armário
do lado e está rindo. O sorrisinho em seus lábios me irrita!
— O que caralhos você está fazendo aqui?
Digo entre dentes.
— Eu estudo aqui, lembra, princesa!?
Por um segundo, seu sorriso bonzinho cede lugar ao deboche. A
máscara não dura muito tempo. Seguro o livro com força enquanto o
encaro com raiva. Ele me incomoda só de estar perto de mim, só de
dividirmos o mesmo espaço eu já me sinto irritada.
— Então, você parou ao lado do meu armário por uma simples
coincidência?
Levanto as sobrancelhas e Travis balança a cabeça negando.
— Na verdade, eu a vi aqui e decidi me aproximar.
Dá um passo em frente e diminui a distância entre nós dois.
— E por qual motivo você achou que poderia se aproximar de mim?
Encara-me com diversão.
— O espaço é público, princesa, eu posso ir e vir.
Reviro os olhos e me viro com a intenção de me afastar dele, mas o
babaca toca minha cintura e me impede, olho para ele e dou um passo para
o lado.
— Não me toque.
Ele sorri e sua mão continua em mim. Eu seguro o livro com uma
mão e com a outra dou um tapa em seu braço. Travis não faz nenhuma
menção de se afastar. Porra!
— O que você vai fazer, princesa? — Mais uma vez, eu tento me
desvencilhar, ele dá alguns passos em frente e me imprensa contra os
armários. — Você está me encarando como se estivesse prestes a rosnar,
você irá me morder?
Sua mão finalmente deixa meu corpo e a espalma atrás de mim.
— Essa posição é tão boa para meu joelho encontrar seu pau. — Eu
dobro meu joelho e o corpo do quarterback à minha frente fica tenso. —
Com medinho, quarterback?
Curva-se para frente até seu rosto estar a centímetros do meu.
— Não.
Aperto o livro com força, ergo minha mão e toco seu peito com as
pontas dos meus dedos.
— Não é o que seu corpo está indicando. — Novamente, faço
menção de acertar o meio das suas pernas, seu pomo de adão sobe e desce
em sua garganta enquanto seus olhos continuam presos no meu. — Com
medo de uma garota inocente como eu, Travis Scott?
Curva seus lábios em um sorriso de lado.
— Você não é nem um pouco inocente, Sophie.
Faço um beicinho e subo e desço minhas unhas pretas pela sua
camiseta.
— Não sou.
Desta vez, eu não fico na tentativa, ergo meu joelho e acerto o meio
das suas pernas. No mesmo instante, Travis dá um passo para trás, curva-se
e cobre seu pau com as mãos.
— Você é maluca — ele grita, eu sorrio e aprecio a cena à minha
frente. A dor está estampada em seu rosto. — Caralho.
Continua gritando e se senta no chão.
— Vadia maldita.
Berra enquanto morde seu lábio inferior para conter a dor. Meu
Deus, isso é tão satisfatório.
— Tão fraquinho. — Dou um passo em frente e olho para baixo. —
Seu lugar é esse mesmo, Travis, no chão.
— Filha da puta.
Diz entre dentes e dou de ombros.
— Concordo com você, minha mãe é uma puta.
Viro-me e sigo em frente enquanto Travis segue me xingando e
gemendo de dor.
— Que merda você fez?
Escuto o grito de Trevor, sorrio e olho para trás. Ele está socorrendo
o irmão.
— Eu vou acabar com você.
Travis grita e me encara com uma expressão de dor. O irmão o está
ajudando a ficar em pé. Patético!
— Um fraco que precisa da ajuda do irmão.
Provoco-o e ele me encara como se estivesse prestes a me matar, eu
simplesmente volto a olhar em frente e sigo andando.
Escuto risos e sussurros, e satisfação vibra em meu peito, estão
falando sobre Travis, rindo do quarterback, porque foi atingido por uma
garota. Opa, acho que não atingi apenas seu pau, eu atingi seu ego.
Dominic, Jace e Sebastian saem da sala, observam Travis caído no
chão e me esperam na porta.
— O que você fez?
Sebastian pergunta assim que estou perto o suficiente.
— Escutamos que você chutou o Travis.
Dominic explica antes que eu responda. Olho para os três, continuo
sorrindo e prossigo, passo pela porta e entro na sala, eles me seguem e,
então, respondo-os:
— Eu acertei meu joelho no meio das suas pernas.
Não escondo a minha satisfação e é possível perceber pela entonação
da minha voz. Caralho! Eu deveria acertar uma joelhada todos os dias em
Travis.
— Nós queríamos que você mirasse no pau do idiota, mas não dessa
forma, Van.
Jace zomba.
— Foi sem querer.
Soo falsamente e os encaro com uma expressão falsa de inocência
enquanto ocupamos os lugares mais ao fundo da sala.
— Você é uma ótima atriz, Van — Dominic me fala e se senta ao
meu lado. — É uma pena que eu te conheço.
Debocha e nós três rimos. E ainda estamos rindo quando a
professora entra em sala e, assim que ela ocupa o lugar à frente do quadro,
ficamos em silêncio.
Estou de bom humor e nem ouvir a professora por quase duas horas
me desanima.
Após o fim da aula, Jace, Sebastian, Dominic e eu vamos almoçar
em um restaurante que fica no prédio e só nos separamos no início da tarde.
Eu tenho uma reunião com a professora que está me orientando em uma
pesquisa acadêmica.
Sigo para sua sala, bato na porta e ela grita para que espere alguns
minutos no corredor. Reviro os olhos, me afasto, deixo minha mochila no
chão e apoio minhas costas na parede logo atrás de mim. Nem isso irá
acabar com meu humor, não hoje!
Levo a mão até minha mochila para pegar meu celular, mas me
detenho quando escuto passos. Preparo-me para entrar em alerta, para o
alarme que sempre soa em minha mente despertar, porém isso não acontece.
Será que é um dos caras? Eu esqueci algo? Com uma ruga em minha
testa viro-me para o lado e, no mesmo instante, meu bom humor se esvai e a
raiva vibra em meu peito.
O que merda ele está fazendo aqui? Travis está me encarando,
comprimo os lábios um no outro e cruzo meus braços à frente do meu
corpo. O idiota ri e mantém os olhos sobre mim. E se eu furar seus olhos
escuros?
Não desvio meus olhos dos seus e nem pulo em seu pescoço, embora
minha vontade seja essa. Travis segue caminhando e só para quando está a
alguns passos de mim.
— Foi difícil encontrar você sem aqueles cães de guarda por perto.
Que caralho! Estreito os olhos.
— Você está me seguindo?
Talvez, eu vá presa outra vez e, desta vez, por homicídio.
— Não. — Sorri, um sorriso de lado. — Eu só estive procurando por
você.
Ele só pode estar zombando de mim! O que me deixa ainda mais
irritada é a forma como ele está me olhando, como se estivesse falando
sério.
— Você estava procurando por mim?! — Soo debochada para que
ele não tenha noção do quanto me irrita. — Por qual motivo você esteve me
procurando, principezinho?
Chamo-o pelo apelido idiota e com muito desdém.
— Sim. — Apoia a mão na parede e se inclina em minha direção. —
Eu estive pensando e essa nossa briga é péssima.
Eu demoro a processar as palavras que acabei de ouvir. O que as
pessoas desta faculdade andaram fumando?
— Qual seu maldito problema, Travis?
— Eu quero uma trégua, princesa.
O diabo não negocia
Ele só vai quebrar seu coração novamente
Não vale a pena, querida
Ele nunca vai mudar
Ele nunca será o príncipe encantado
Devil Doesn't Bargain (Alec Benjamin)

Sophie
Mais uma vez, demoro a processar as palavras de Travis.
Trégua? O significado da palavra ecoa em minha mente e, no mesmo
instante, um sorriso surge em meus lábios. Ele está propondo que paremos
de ser hostis um com o outro? Meu Deus, eu estou vivendo em um mundo
paralelo? Um pesadelo? O mundo terminou e não percebi? Já sei, eu morri
e estou no inferno.
— Eu não sei que droga você está usando, mas ela é forte.
Ainda estou sorrindo, mas seus olhos escuros como a noite
continuam presos ao meu.
— Pense comigo, Sophie, nós dois somos parecidos — sussurra
como se estivesse me contando um segredo. — É um desperdício que
passemos nosso tempo brigando, quando poderíamos estar fazendo outra
coisa.
Sua voz é rouca, seu olhar desce pelo meu corpo, eu me arrepio e,
por um momento, esqueço quem ele é, mas não por muito tempo! E no
mesmo instante que volto a mim, reconheço o que ele está tentando fazer.
— É assim que você faz? — é a minha vez de sussurrar e soar sexy,
Travis ergue as sobrancelhas. — Para conquistar as garotas?
Não me responde e sorrio.
— Eu conheço os seus joguinhos, Travis. — Pisco várias vezes
como se fosse uma pobre garota indefesa. — Seja lá o que você esteja
tramando, eu não vou cair.
Ele balança a cabeça negando.
— Estou falando sério.
— Só as Barbies sem cérebro caem nesse seu papinho furado.
Franze a testa e me encara como se estivesse ofendido.
— Não estou jogando com você, Soph.
Porra! O que foi isso? Ele me chamou por uma abreviação fofa do
meu nome? Isso não pode ser real, eu estou surtando.
— Minha joelhada foi tão forte que afetou seu cérebro?
Essa é a segunda explicação possível. Travis sorri, um sorriso de
lado que o deixa ainda mais bonito.
— É preciso bem mais que uma joelhada para me derrubar, Soph.
— Não foi isso que pareceu.
Provoco-o e ele diminui ainda mais a distância entre nós, posso
sentir seu perfume ao meu redor. É uma pena, mas não posso acusá-lo de
cheirar mal, inclusive, é um pecado que um idiota use um perfume tão bom.
Prendo a respiração e desvio meus olhos dos seus, encaro as tatuagens em
seu pescoço.
— Sei só de olhar para você que é tão quebrada quanto eu, Sophie.
— Ergue sua mão e segura alguns fios do meu cabelo com a ponta do seu
dedo. — Somos obstinados da mesma forma, adoramos correr, deixamos
que a adrenalina preencha os nossos vazios, e aprisionamos os nossos
fantasmas em uma parte obscura das nossas almas.
Odeio como ele está certo.
— Você não sabe do que está falando.
Minto. Travis não recua, ele me sufoca, se inclinando ainda mais e
trazendo sua boca até estar a centímetros da minha orelha.
— Somos feitos do mesmo material, Sophie. — É como se suas
palavras fossem concretas, como se, de repente, pudesse tocá-las. — Da
escuridão.
Droga, minha respiração acelera, eu me sinto sem fôlego como se
tivesse acabado de correr uma maratona. Respiro fundo, pisco rapidamente,
levo minhas mãos até seu peito e o empurro.
— Vá se foder, Travis.
Ele se afasta apenas alguns centímetros. Droga, ele continua perto
demais!
— Uma trégua, Soph — insiste. — O que você tem a perder?
Travis consegue acabar com o restante da minha paciência. Faço
uma careta e estou prestes a acertar-lhe pela segunda vez no dia, talvez
desta vez quebre seu nariz, quando as palavras de Dominic ecoam em
minha mente. Você deveria conquistá-lo, Van, e em seguida quebrar o
coração do quarterback.
E se eu fingir aceitar essa trégua? E se usá-la para conquistá-lo? E se
eu fizer o que Dominic sugeriu? Volto a encarar seus olhos. Eu conseguiria
quebrar seu coração? Não acredito nessa besteira de amor, não acredito em
paixão e nos sentimentos que os românticos defendem existir, mas… eu
poderia ferir com seu ego. Jogar com manipulação e ilusão, isso eu sei
fazer, nisso eu sou a melhor.
— Como seria essa trégua exatamente?
As palavras deixam minha boca e posso sentir a adrenalina
percorrendo meu sangue, fazendo com que minha pulsação aumente e me
encontro tensa, ansiosa e empolgada.
— Uma trégua, Soph, nas provocações, na nossa rivalidade, nos
deboches. — Seus dedos voltam a brincar com alguns fios do meu cabelo,
talvez eu precise lavá-lo com um litro de xampu hoje. — Na pista, é claro, é
uma outra história.
— Uma pausa nas provocações? — Assente. Droga, mas como vou
usar isso a meu favor? — E como vamos agir? Como dois desconhecidos?
Seus olhos brilham. Ele acredita que eu estou cedendo. É nisso
mesmo que eu quero que ele acredite. Ele está perdendo e acha que está
ganhando.
— Não sei, é assim que você quer agir?
Ele volta a agir como se estivéssemos flertando. Eu preciso me
segurar para não revirar os olhos.
— Não sei. — Mordo meu lábio inferior por alguns segundos,
espero que seja sexy o suficiente e sei que fui bem-sucedida quando fixa
seus olhos em meus lábios. — Quem está me propondo uma trégua é você,
Travis, faça a sua proposta.
Sussurro as últimas palavras, seu pomo de adão sobe e desce em sua
garganta. Será tão fácil manipulá-lo!
— Nada de joelhadas.
Ergue os olhos e tento me manter o mais centrada possível enquanto
os encaro. É difícil, porque é como se eles estivessem me chamando para eu
me perder em uma noite sombria, não deveria, mas é convidativo.
— Ok, Travis, nada de joelhadas.
Ele sorri.
— Por enquanto, isso é o suficiente, princesinha.
Forço um sorriso quando, na verdade, minha vontade é revirar os
olhos e empurrá-lo para longe. Travis mantém seus olhos nos meus por
alguns segundos e preciso me forçar a ficar em silêncio, fingindo que estou
acreditando nele e nesse seu teatro.
Qual é a sua real intenção? Eu ainda não sei e, no momento, não
importa porque quem irá rir por último serei eu.
Para minha sorte, a porta é aberta e Sarah me chama.
— Sophie, estou te esperando.
Nunca me senti tão feliz em ouvir a sua voz. Ela volta a fechar a
porta e aponto para a sala.
— Eu preciso ir.
Travis assente, dá um passo para trás e se afasta. Eu posso respirar
normalmente outra vez, porque seu perfume não está mais por toda parte.
— Então temos uma trégua?
Pergunta enquanto me estende a sua mão. Eu engulo em seco e em
seguida levo meus dedos até os seus.
— Sim, nós temos uma trégua, Travis.
Sorri vitorioso e continuo fingindo. Fecha sua mão ao redor da
minha e a aperta. Ele me encara e não desvio os olhos. Travis não sabe, mas
eu posso ser pior que o diabo.
Seu toque não é tão repugnante quanto achei que seria e antes que
me acostume, puxo minha mão desvencilhando nossos dedos.
Respiro fundo e me concentro em estar no controle total dos meus
sentimentos, não deixo que nenhum me domine. Eu me pergunto se estou
deixando passar algo, relembro de cada detalhe do que acabamos de
conversar e um alarme soa em minha mente.
— E essa trégua não se estende aos seus irmãos, Travis.
Ele sorri e assente.
— Digo o mesmo em relação aos seus amigos.
— Ótimo.
Ele me olha por mais alguns segundos e volta a se inclinar em minha
direção. O que ele irá fazer? Eu fico imóvel no lugar que estou com meus
braços estendidos ao lado do meu corpo, enquanto ele segue diminuindo a
distância entre nós.
Deveria empurrá-lo para longe, afastá-lo à força, mas não é isso que
eu faço. E preciso me conter para não expressar nenhuma reação quando,
surpreendentemente, ele beija meu pescoço.
Quem ele pensa que é para ultrapassar os limites assim? Travis é
um babaca e eu sou uma idiota, porque não me sinto mal por ter seus lábios
em minha pele. Deveria sentir nojo, repulsa, porém esses não são meus
sentimentos e nem as sensações que percorrem meu corpo.
Patético!
Levo minhas mãos até seus ombros e o empurro.
— Uma trégua não te dá o direito de me tocar.
Ele se afasta e há um sorriso em seus lábios.
— Ainda não, princesa.
Mordo meu lábio inferior para não o mandar se foder. Será tão
insuportável ter que fingir. Jace, Dom e Sebs terão que me pagar muito
bem, será uma tortura passar por isso.
Travis me encara como se estivesse esperando por algo. Eu quero
fazer várias coisas, machucá-lo, xingá-lo, sair daqui, mas só continuo com a
minha expressão de paisagem. Vamos, vá embora de uma vez!
— Até mais, Sophie.
Dá mais um passo para trás. Até que enfim!
— Até mais.
Respondo-o rapidamente. Encara-me uma última vez e, finalmente,
se vira, ficando de costas e se afasta. Esses minutos duraram uma
eternidade.
Continuo observando-o até deixar o corredor e, assim que ele some,
trago minha mão até meu pescoço e esfrego, como se isso fosse capaz de
limpar o lugar em minha pele em que ele encostou seus lábios. Droga, eu
preciso de um banho!
Como isso não vai ser possível, suspiro, abaixo minha mão, pego
minha mochila e entro na sala da minha orientadora. Ela está esperando por
mim, sento-me na cadeira à sua frente e conversamos pelos próximos
minutos sobre meu projeto de pesquisa e seu tema, carros elétricos e
velocidade. Ela me passa algumas diretrizes e marcamos os dias em que
iremos para o laboratório de testes, é o momento para o qual estou ansiosa!
Nossa reunião termina no meio da tarde, eu não tenho mais nenhuma
matéria por hoje e não há nada que precise fazer no campus, então sigo para
o estacionamento, entro em meu carro e dirijo para casa.
É um horário que não me permite correr e demoro uns dez minutos a
mais do que demoraria se não estivesse cumprindo as leis de trânsito. Ao
chegar, deixo o carro na garagem e sigo para a sala.
Deparo-me com Jace, Sebastian e Dominic no sofá. Eles estão com o
videogame ligado e é perfeito tê-los encontrado aqui. Sebastian, que não
está jogando, me encara, os outros dois continuam com os olhos fixos na
televisão, é uma pena que eu esteja prestes a interromper a diversão deles.
Sorrio e Sebastian ergue as sobrancelhas. Ele sabe que estou prestes
a fazer algo. Moramos juntos a tempo suficiente para sabermos quando o
outro irá aprontar alguma coisa, nós nos conhecemos de olhos fechados.
Aproximo-me dos três e paro entre eles e a televisão, impedindo-os
que continuem jogando.
— Porra, Van, eu estou vencendo.
Jace esbraveja. Dominic me encara com a testa franzida.
— Eu não sei se você sabe, Van, mas você não é invisível.
Até fazendo uma piada ele consegue parecer carrancudo. Dou de
ombros enquanto eles me encaram com curiosidade.
— Você tem algo a dizer ou só está nos atormentando mesmo?
Sebastian pergunta, mas pela cara de Jace e Dominic, eles estão
pensando o mesmo. Perturbá-los nunca perde a graça!
— Você é tão doce, Sebs.
Ele encolhe seus ombros.
— Obrigado.
— Se você não sair daí, eu vou te tirar.
Dominic está falando sério, mesmo assim continuo exatamente onde
eu estou.
— Você não é um doce, Dominic.
Ele faz menção de levantar-se do sofá e ergo minhas mãos para
impedi-lo.
— Espere, eu tenho algo a dizer.
Ele volta a se sentar e me encara com curiosidade. Eu faço mais um
pouco de suspense e demoro alguns segundos para falar.
— Eu vou me levantar daqui, Sophie.
Dominic ameaça.
— Travis e eu temos uma trégua.
Eu falo antes que Dominic cumpra com a ameaça e a expressão que
surge no rosto dos três é impagável, será que dá tempo de pegar o celular
em meu bolso e tirar uma foto?
— Eu acho que não estou ouvindo muito bem.
Jace resmunga.
— Você está zombando da gente?
Sebastian soa incrédulo.
— O que você está querendo dizer, Van?
Dominic pergunta.
— Vocês não queriam que eu conquistasse o idiota para quebrar o
coração dele?
Pergunto, eles me encaram pensativos e, finalmente, entendem o que
eu estou querendo dizer com trégua.
— Van, você está falando sério?
Jace pergunta e assinto.
— Então, você decidiu aceitar o desafio?
Sebastian pergunta animado, eu o encaro e sorrio, um sorriso que
deixa evidente o quanto estou sendo maldosa.
— Sim, embora acredite que vocês estão apostando alto demais em
Travis, julgando que ele tenha um coração para que eu possa quebrá-lo…
— Aponto meu dedo na direção deles. — Mas, na falta de um coração, vou
agredir o seu ego, com certeza ele ficará destruído ao saber que o usei. Ele
irá perder o posto de todo poderoso e perder o poder é tão ruim quanto ter o
coração destruído.
Nisso, talvez, nós sejamos parecidos: o poder é importante!
— Por que você mudou de ideia?
Dominic me questiona. Como já obtive meu propósito, chamando a
atenção deles, não há motivos para ficar parada aqui, então eu vou até o
sofá e me sento ao lado de Sebs.
— Porque Travis me procurou e me ofereceu uma trégua.
Uma ruga surge na testa de Dominic e ele fica em silêncio, aposto
que está tentando decifrar o que isso significa.
— Por que ele te ofereceu uma trégua?
Sebastian pergunta e dou de ombros.
— Não faço a mínima ideia.
Respondo sem muita preocupação, Jace faz uma careta e Dominic e
Sebastian me encaram com uma expressão que sugere que estão tentando
descobrir o que esse pedido de trégua significa.
— Ele deve estar querendo algo, é alguma estratégia, algum plano...
— Jace chega à conclusão óbvia. — Ele jamais pediria uma trégua.
Eles aparentam estar preocupados e eu sigo sorridente.
— O que importa é que ele pode estar acreditando que venceu, mas,
na verdade, eu vou derrotá-lo de uma forma que nunca aconteceu antes.
Uma coisa me dominou ultimamente
Não, não me conheço mais
Parece que as paredes estão todas se fechando
E o diabo está batendo na minha porta, uau
Lose Control (Teddy Swims)

Travis
Caralho, é como se eu tivesse acabado de fechar um negócio com o
diabo, aliás, é pior, eu me sentiria melhor se tivesse selado um acordo com
o demônio.
Encaro-a mais uma vez enquanto meus lábios ainda estão
formigando pelo breve beijo que deixei em sua pele, tento desvendar seu
olhar, descobrir o que ela está tramando, mas é em vão.
Sophie aceitou a trégua por algum motivo, ela mudou de opinião
muito rápido e não me engana. Enquanto conversávamos, algumas vezes,
uma sombra tomava seu olhar, ela se recompunha rápido, porém, não o
suficiente para que eu não percebesse.
Espero que ela se entregue mais uma vez, mas continua firme, como
se estivesse ansiosa por nossa trégua. Mentirosa!
— Até mais, Sophie.
Dou um passo para trás. Ela segue imóvel, sorrio e continuo
fingindo que estou acreditando em seu teatrinho. Um mentiroso sempre
reconhece outro, e entre nós dois, eu sou o melhor!
— Até mais.
Força um sorriso, talvez, outra pessoa até acreditasse em Sophie,
mas não estava mentindo quando disse que nós dois somos parecidos, não
foram apenas palavras ditas para impressionar, ela e eu somos iguais, a
escuridão da minha alma reconhece a dela.
Continuo com meus olhos presos aos seus, eles são bonitos, quem eu
quero enganar? Tudo nela é atraente. Sophie é linda. Ela consegue ser sexy
mesmo usando uma camiseta que esconde parte das suas curvas. Eu não
ficaria incomodado em pressioná-la contra a parede e fazê-la implorar por
mais.
Talvez, se eu agisse, despertasse a fera, minhas mãos formigam para
tocá-la, mas devo continuar no personagem, eu preciso que Sophie acredite
em mim e nas minhas intenções.
Eu a encaro uma última vez, então me viro, ficando de costas para
Sophie e sigo em frente. Posso sentir seu olhar sobre mim e meu corpo
tensiona, entro em alerta, espero que ela corra até mim e me acerte. Com
certeza, seria algo que ela faria. Porra, ela chutou o meio das minhas
pernas e estou dolorido até agora.
Sophie deve ter passado tempo suficiente detida para aprender a
lutar, ou os idiotas com que ela anda devem tê-la ensinado. Não é uma
garota indefesa e, se ela me bater, não vou me defender. Eu jamais faria
isso, apesar de tudo, tenho princípios.
É vergonhoso estar com medo de uma garota, mas ela é perigosa,
poderia muito bem estar carregando uma faca ou algo do tipo. Deixo o
corredor sem nenhum dano. Ela realmente está tentando me convencer que
a trégua é real. Sophie pode estar acreditando que irá vencer, mas está
errada e será um prazer derrotá-la.
Sigo para o estacionamento e ao entrar no meu carro confiro o
horário no celular e percebo que estou atrasado. Droga!
Porra!
Suspiro e dirijo para longe do prédio de engenharia. Caralho, eu
demorei muito para encontrar a Sophie. Primeiro, eu fui atrás dela no
intervalo entre as duas aulas e não fui bem-sucedido, tudo que consegui foi
um chute que talvez tenha me deixado incapaz de ter filhos.
Depois, procurei por ela no horário do almoço e descobri que ela
estava acompanhada, almoçando com os idiotas, eles sempre estão por
perto, não sei qual o lance entre eles, mas, porra, está dificultando a minha
vida. Eu fui obrigado a permanecer do lado de fora do restaurante,
escondido e sentado em um banco desconfortável, almocei um pastel,
saindo completamente da minha dieta.
Por fim, mas não menos humilhante, assim que ela deixou o
estabelecimento sozinha, finalmente, eu a segui. Quando que precisei seguir
uma garota? Nunca.
Hoje foi a primeira tentativa nessa loucura de conquistar Sophie e
minha paciência se esgotou. Não faz parte de mim desistir, mas ter que
suportar Sophie faz com que eu queira voltar atrás, porém, eu prometi a
Hailey e não volto atrás, nunca volto! Não desisto e não vou desistir,
mesmo que seja horrível estar perto de Sophie e fingir não estar odiando
cada segundo que eu passo ao seu lado.
Porra, é insuportável estar perto dela, mesmo que seu perfume seja
tentador, ele ainda está impregnado em meu nariz, continuo sentindo-o, eu
preciso de um banho para me livrar de qualquer vestígio dela. E, para
completar a piada do meu dia, beijei seu pescoço, meus lábios tocaram sua
pele, deve ser por isso que seu cheiro não sai da minha mente.
E teria beijado bem mais, teria calado sua boca com a minha, talvez
minha nova obsessão seja fazê-la gritar por mim, será tão incrível quanto
vê-la destruída.
Vê-la rendida, à minha mercê, gozando por minha causa, implorando
por mais. Só de pensar nisso, eu já fico duro. Porra! Seguro o volante com
força e imagens de Sophie nua preenchem a minha mente. Caralho!
Balanço a cabeça e empurro as imagens para longe. Eu estou ficando
maluco, uma vozinha em minha mente diz que estou ficando obcecado, faz
parte da minha personalidade fazer de tudo para conseguir o que eu quero,
não paro até alcançar os meus objetivos.
E, no momento, ter Sophie é o meu objetivo, vê-la destruída é meu
alvo, ganhar dela é a minha obsessão.
Dirijo até o estádio, deixo o carro no estacionamento e sigo para o
vestiário. Droga, estou muito atrasado, o restante do time já está em campo.
Apresso-me, troco de roupa, visto o uniforme de treino e vou para o
campo. O treinador está no meio do campo enquanto meus colegas estão se
aquecendo, correndo em volta do campo, usando a pista de atletismo. Eu
me junto a eles e corro até estar ao lado de Henry, meu amigo olha para
mim e sorri debochado.
— O treinador não está feliz com você.
Reviro os olhos.
— E quando ele está feliz?
Henry segue rindo.
— Você conseguiu deixá-lo ainda mais mal-humorado.
— Isso é impossível.
Resmungo, o sorriso some dos lábios de Henry e ele suspira.
— Ele nos deu um sermão de como precisamos levar o futebol a
sério, de como temos um nome a zelar, não podemos perder a qualidade,
um erro pode nos tirar o título de melhor time da Ivy League.
Faço uma careta e bufo irritado. Eu não brinco, levo o futebol a
sério, como se fosse a parte mais importante da minha vida. E sei o quanto,
Dartmouth Big Green, nosso time, tem prestígio.
Dartmouth é famosa pela equipe de patinação e o time de hóquei,
mas somos o melhor time da conferência formado pelas equipes da Ivy
League. E não será um atraso que irá acabar com esse título.
— Porra, é a primeira vez, eu nunca atraso.
— O que aconteceu?
Henry questiona e balanço a cabeça. Não estou conversando sobre
Sophie com ele, meu amigo sabe o quanto a odeio e, com certeza, não irá
acreditar que há boas intenções na minha proposta de trégua e não estou
contando sobre o pedido de Hailey.
— Eu tive um imprevisto.
É tudo que ele terá de mim, Henry me encara com curiosidade, mas
não tem tempo de me fazer perguntas, porque escutamos a voz do nosso
treinador.
— Mais rápido e sem conversinhas. — Olho para Owens e ele está
me encarando com uma expressão nada amigável. — Vocês não estão aqui
para isso.
Porra! Ele está sendo um babaca mal-humorado. Henry e eu
olhamos em frente e não trocamos mais nenhuma palavra. Não demoramos
correndo, porque o treinador leva o apito até a boca e encerra o
aquecimento. Ele nos chama e nos reunimos ao seu redor no meio do
campo.
Ele me encara com a testa franzida, mas não me direciona nenhuma
palavra, apesar disso, sei que está puto pela maneira com que me encara.
Ele nos passa as instruções do dia e nos separa em equipes de cinco.
Iniciamos o treino com bola e pratico arremessos, corro de um lado a outro
e ele nos segue com a prancheta em mãos, ditando ordens e fazendo
comentários.
É um treino pesado, e ele pega mais pesado que o normal, é óbvio
que está nos punindo. Está punindo o time inteiro por minha causa. Estou
suando, com terra e grama grudados em minha pele quando, enfim,
escutamos o som do seu apito.
— Treino encerrado. — Olho para o céu e suspiro. Deus, eu estou
exausto. — Se aproximem.
Ordena, abaixo a cabeça, Henry caminha em minha direção e juntos
nos aproximamos do círculo que se forma ao redor de Owens. Ele está
sorrindo, um sorriso maquiavélico e seu olhar percorre meus colegas de
time e, por fim, me encara.
— Agradeçam ao capitão do time de vocês pelo treino de hoje.
Engulo em seco, fecho as mãos em punhos, minha vontade é revidar,
gritar com ele, partir para cima, mas não posso, porra, ele é meu treinador,
não posso perder a cabeça. Mantenho a raiva controlada dentro de mim.
— Você é o novo capitão, não se atrase outra vez ou vou revogar a
minha decisão.
Ele continua e, embora esteja borbulhando por dentro, assinto.
— Isso não vai acontecer outra vez.
Prometo.
— Treino encerrado.
Vira-se e se afasta, sem mais nenhuma palavra, nem um ok. Idiota!
Sei que ele confiou em mim ao me escolher após o antigo capitão se formar,
mas sempre tive um bom comportamento, nunca tinha me atrasado, sou
irrepreensível dentro de campo, minha melhor versão é aqui, único lugar
que sigo regras. Sua reação foi exagerada!
Encaro meus colegas e suspiro. É uma merda que eles tenham sido
punidos por minha causa. Essa não é a atribuição de um capitão. Ótimo,
agora eu estou me sentindo um merda.
— Sinto muito, pessoal.
Eles assentem, recebo tapinhas em minhas costas e me garantem que
está tudo bem enquanto voltamos ao vestiário. Apenas Fred está de cara
fechada, o treinador ficou entre ele e eu para ocupar a vaga de capitão, e é
claro que ele acredita que se sairia bem melhor do que eu. Ignoro, porque
não posso mais cometer nenhum deslize, não depois de Owens ter chamado
a minha atenção.
Entro no vestiário e sigo para o chuveiro. Não demoro sob água,
mais tarde eu tomo um banho mais demorado, agora, eu só quero ir embora.
Enrolo uma toalha ao redor da minha cintura e me troco em frente ao meu
armário.
Há conversas ao meu redor, mas não participo de nenhuma, eu não
estou no clima. A maioria das conversas é sobre o treino e estão rindo do
mau humor de Owens, fazendo piadinhas e o imitando.
— Vocês não deveriam estar rindo.
Fred soa amargurado do outro lado do vestiário, apesar de haver uma
parede nos separando, ainda consigo ouvir sua voz irritante.
— E por que não?
Henry pergunta.
— Porque ele nos deu uma bronca.
Até ouvir a voz desse cara me irrita. Eu pego a minha camiseta e a
visto, jogo minha mochila sobre o ombro e seguro a porta do armário para
fechá-lo.
— Acontece. — Henry soa despreocupado. — Isso não é o fim do
mundo.
— Deveria ser quando não tivemos culpa nenhuma e o culpado é o
nosso capitão, ele deveria ser um líder, não um irresponsável.
Seguro o metal com força. Respiro fundo e as imagens que surgem
em minha mente são perturbadoras. O que acontece se eu o socar? Ele está
merecendo perder um dente ou dois.
— Você está sendo um idiota e um exagerado, assim como o
treinador.
Reconheço a voz do tight end do time, mantenho a porta aberta e
minha pele está quase cedendo por conta da força que aplico no metal.
— Owens nunca deveria ter escolhido o Travis Scott. — Fred segue
sendo um idiota. — Não é possível que ele não saiba o quanto ele é um
inconsequente.
Ele estar falando de mim não me incomoda, ele me acusar de ser um
irresponsável, sim.
— Um capitão que participa de corridas ilegais… — Sua voz é
repleta de desdém. Sinto o metal cortar minha mão. Caralho! — Owens
deve estar arrependido e não irá demorar para implorar para que eu
substitua o idiota.
Fecho a porta com força causando um estrondo que ecoa pelo
vestiário e, de repente, nenhuma palavra está sendo pronunciada, o silêncio
prevalece no ambiente.
Sem olhar para ninguém, viro-me e saio do vestiário, antes que eu
não consiga mais me controlar e vá até Fred, no mínimo ele terminaria com
a merda do seu nariz quebrado, não preciso de mais um problema em
minhas costas.
Sigo para o meu carro, largo a mochila no banco ao meu lado e a
raiva ecoa em meu peito. Porra! Saio depressa do estacionamento e é
possível escutar o som do atrito do pneu com o chão, acelero mais do que o
permitido. Foda-se.
Sigo até a rodovia desativada e fico dando voltas, testando o motor
do carro e deixando que a adrenalina se espalhe pelo meu corpo levando
para longe a raiva e o ódio que pulsam dentro de mim.
Diga a todos os seus amigos que eu sou louco e te deixo doido
Que eu sou tão perseguidor, observador, um psicopata
Maniac (Conan Gray)

Travis
Eu só deixo a rodovia quando está escuro e me sinto exausto como
se um caminhão tivesse passado por cima de mim. É assim que a raiva te
deixa, é um sentimento capaz de sugar todas suas energias.
Dirijo para casa com um vazio em minha mente e em meu peito.
Nem a rua calma, cercada de árvores e que costumo amar, faz com que eu
sinta algo. Estaciono na garagem ao lado do carro de Trevor, ele e Hailey
estão em casa.
Permaneço por alguns segundos parado atrás do volante encarando a
parede à minha frente. Pior do que sentir demais é não sentir nada, é a
sensação de estar oco.
Levo as mãos até meu pescoço e respiro fundo. Tudo está sob
controle.
Pego minha mochila, saio do carro e sigo para dentro. Trevor e
Hailey estão na sala e me encaram assim que piso no cômodo, minha
intenção é passar por eles para chegar à escada e subir para o meu quarto.
— Você parece péssimo.
Hailey aponta e paro de andar depois de dar dois passos em direção
à escada. Passo a mão pelo meu cabelo curto e suspiro.
— Eu estou péssimo.
Admito e encaro meus irmãos, os dois estão no sofá, um em cada
ponta.
— Dia ruim?
Hailey questiona enquanto Trevor tem olhos sobre mim, como se
estivesse me analisando e ele provavelmente está.
— Horrível.
Desisto de subir para o meu quarto, eu vou até o sofá e me sento
entre Trevor e Hailey.
— O que aconteceu?
Trevor pergunta.
— Eu e Sophie temos uma trégua.
Respondo-o enquanto apoio minha cabeça contra o estofado e
encaro o teto. O nosso teto é preto, assim como boa parte da nossa casa, ela
reflete nossa personalidade.
— Isso faz parte da sua estratégia de conquistá-la?
Trevor continua questionando-me.
— Não, fiz uma trégua porque estou cansado de ser o cara mau que
persegue uma garota inocente.
Não penso antes de falar e o deboche simplesmente escapa.
— Idiota.
Trevor me xinga e com razão.
— Você está mal-humorado só por conta disso?
Sorrio com a pergunta de Hailey.
— Só por conta disso? — O deboche segue presente em minha voz.
— Sophie é insuportável, alguém que eu desprezo e, primeiro, ela chutou
meu pau, depois eu tive que correr atrás dela, propor por uma trégua, fingir
que realmente estou empenhado em não a odiar e, para completar, cheguei
atrasado no treino, o treinador está puto comigo e um dos caras do meu time
me odeia.
Sento-me com as costas retas e encaro Hailey.
— Então, sim, irmãzinha, eu estou mal-humorado por conta disso.
Ela faz uma careta.
— Sinto muito. — Ela realmente parece estar arrependida. —
Travis, você não precisa continuar com isso…
Balanço a cabeça e a interrompo antes que continue:
— Eu faço questão de continuar, será uma questão de honra vê-la
destruída.
Depois de hoje, minha vontade de vencer Sophie aumentou, ainda
mais sabendo que ela está tramando algo.
— Não precisa continuar com essa ideia de conquistá-la por mim.
Hailey insiste.
— Não é mais por você, é por mim. — Suspiro. — E ela está
planejando algo.
— Como assim?
Trevor volta com suas perguntas.
— Ela está articulando algo.
Viro-me para Trevor e ele ergue as sobrancelhas.
— Como você sabe disso?
Meu irmão estreita os olhos enquanto espera pela minha resposta.
— Sophie aceitou muito fácil a proposta da trégua, primeiro ela
rejeitou, como eu esperava, mas, de repente, mudou de ideia.
— Você tem alguma ideia do que ela está aprontando?
Hailey pergunta, olho para ela e balanço a cabeça negando.
— Não — respondo-a. — E não importa, não preciso saber que tipo
de batalha estou participando, eu só preciso ser mais rápido em vencer.
— Por que sua mão está sangrando?
Olho para minha mão ao ouvir Trevor, realmente, estou sangrando. É
a droga do corte que eu fiz no armário, eu tinha me esquecido do
machucado, adrenalina fez com que ignorasse a ardência e o sangue
escorrendo.
Seguro meu pulso e abro os dedos, o corte atravessa boa parte da
palma da minha mão, segurar a direção com força deve ter feito a pele
rasgar ainda mais. Apesar do sangue estar escorrendo, não é um corte
profundo.
— O que aconteceu?
Hailey pergunta preocupada.
— Eu me cortei no armário do vestiário.
— Eu vou pegar o kit de primeiros socorros.
— Você não tem que fazer isso, Travis.
Meu irmão espera Hailey sair da sala para me dizer isso.
— Eu tenho. — Olho para ele e sorrio, um sorriso sem graça. —
Tenho que fazer a merda do dia de hoje valer a pena.
Trevor me encara e uma expressão de deboche surge em seu rosto.
— Você realmente está chateado.
Não acredito que ele está achando a situação engraçada!
— Ela me fez de chacota na frente de todos, eu precisei correr atrás
dela, almocei um pastel e tenho certeza de que ela está planejando algo…
— Bufo irritado. — É claro que estou chateado.
Trevor ri e passo a mão pelos fios do meu cabelo enquanto a outra
segue sangrando.
— Sabe o que é pior? — Hailey pergunta quando retorna para a sala,
encaro-a e espero pela sua resposta. — Você será mencionado no jornal de
fofoca.
Ela caminha em nossa direção segurando o kit de primeiros
socorros.
— O cara que foi nocauteado por uma garota.
Trevor zomba e reviro os olhos.
— Eu não estou me divertindo.
Trevor dá de ombros, Hailey puxa a mesinha de centro e se senta à
minha frente. Ela abre a maleta, pega algodão, um remédio e faz com que
deixe minha mão sobre sua perna, então começa a limpar o corte.
— Não foi tão profundo, mas também não foi apenas um arranhão.
Analisa-o com cuidado e assinto, concordando com Hailey. Sinto um
pequeno incômodo, mas é tranquilo, é algo superficial. Já tive machucados
muito mais profundos.
— Pronto, só tenha cuidado. — Hailey finaliza o curativo e me
encara com uma expressão severa. — Ou irá demorar para cicatrizar.
Encaro-a com deboche enquanto trago minha mão até meu peito e
seguro o meu pulso, como se realmente estivesse com ela imobilizada.
— Você parece uma mãe. — Aponta o dedo do meio em minha
direção. — E não foi nada de mais.
Dou de ombros.
— Não quer que infeccione, não é?
Ela segue parecendo uma mãe, eu me controlo para não gargalhar,
Trevor não se contém e o som da sua risada ecoa pela sala.
— Idiotas.
Hailey esbraveja enquanto guarda as coisas que usamos na maleta de
primeiros socorros. Apoio minhas costas contra o sofá e sorrio.
— Obrigado, irmãzinha, e prometo que irei tomar todos os cuidados
possíveis para não perder a minha mão por conta de uma infecção.
Ela fica em pé e me encara com desprezo.
— Vocês são horríveis.
Ela deixa a sala, Trevor e eu continuamos rindo, e ainda estamos
rindo quando Hailey retorna. Ela se senta entre nós dois, pega o controle
remoto e escolhe algo para assistirmos. Deixa em um documentário sobre
animais selvagens e nós três ficamos em silêncio, é estranho o quanto
gostamos de assistir a programas aleatórios.
Só deixamos a sala para jantarmos, esquentamos uma parte das
comidas congeladas que nossa mãe deixou no fim de semana e jantamos os
três, ficamos um tempo na cozinha e depois cada um segue para o seu
quarto.
Apesar de não estar tão irritado quanto antes, ainda há vestígios de
raiva em meu interior, ao fechar a porta, me sinto terrivelmente sozinho,
olho ao redor à procura de algo para extravasar meu ódio, preciso me
controlar para não destruir o cômodo.
Engulo em seco e sigo para o banheiro, tiro minha roupa, ligo o
chuveiro e, ao entrar debaixo da água, apoio a testa contra o azulejo. Eu
preciso silenciar todos os monstros que, de repente, querem se libertar.
Caralho!
Demoro no banho e, mesmo assim, ao sair do banheiro ainda estou
tenso, visto uma cueca, uma calça de moletom, desligo a luz e me sento na
cama. Encaro a parede à minha frente por alguns segundos e os
acontecimentos do dia ecoam em minha mente.
Se eu pudesse destruiria alguém neste momento. Suspiro e passo os
dedos pelos fios do meu cabelo. Não posso ser violento, não posso me
tornar igual a eles, não posso deixar a raiva me dominar.
Eu me deito, fecho os olhos e me forço a dormir. Tenho uma péssima
noite de sono, pesadelos me atormentam, neles eu sou um assassino de
sangue-frio, que não sente remorso e não tem coração.

Acordo com o alarme e ainda estou péssimo. Deixo a cama, vou até
o banheiro e ao voltar para o quarto, troco de roupa, pego minhas coisas e
desço para a cozinha. Encontro com Trevor e Hailey, eles me fazem
perguntas, respondo-os com palavras monossilábicas, eles percebem que
não estou bem e me deixam em paz.
Odeio ser o mal-humorado, não suporto ser assim, mas hoje, só não
consigo fingir, inclusive se a aula não fosse tão importante ficaria em casa,
dormindo o dia inteiro, ou dentro de um carro, correndo por aí.
Eu sou o primeiro a deixar a cozinha, sigo para a garagem, entro no
carro e dirijo para Dartmouth. É uma pena não poder pisar no acelerador, é
tudo que eu precisava.
Deixo o carro no estacionamento, entro no prédio e cumprimento
quem conheço com um gesto com a cabeça, nada de mais, normalmente eu
iria sorrir e acenar, parar para conversar, mas não tenho paciência para
socializar.
O professor ainda não está na sala, mesmo assim, entro no local e
me sento no último lugar, o mais longe possível de todos. Coloco meus
fones de ouvido e ignoro tudo ao meu redor.
Trevor chega, senta-se ao meu lado e não trocamos nenhuma
palavra.
Assim que a aula inicia, tiro meus fones de ouvido e me concentro,
faço as anotações e escuto atentamente cada palavra dita pelo professor. Ao
terminar guardo minhas coisas, Trevor fica em pé primeiro e sinto-o me
encarando.
— Você está um cuzão hoje.
Fecho minha mochila, fico em pé, olho para ele e sorrio.
— Pelo menos não sou um cuzão diariamente.
Ele revira os olhos.
— Eu vou almoçar com Margot.
— Bom almoço.
Ele estreita os olhos.
— Você vai para casa?
Balanço a cabeça negando.
— Eu tenho uma aula à tarde, então vou almoçar por aqui mesmo.
Ele assente e seguimos para fora da sala. Ele e eu seguimos
caminhos diferentes, ele segue para o estacionamento e eu vou até o
restaurante que fica do outro lado da rua.
Almoço sozinho e volto para o prédio, eu me sento em um banco de
pedra de frente para uma mesa do mesmo material que fica na parte externa
do pátio, apesar de estar quente e o sol estar forte, há árvores ao redor que
proporcionam uma boa sombra.
Abro uma apostila em meu iPad, coloco meu fone de ouvido e
decido estudar até o horário da minha próxima aula. Espero que seja sinal
suficiente para ninguém se aproximar.
Estou resolvendo alguns exercícios quando me dou conta de que
alguém está ocupando o banco vazio à minha frente. Caralho! Ergo a
cabeça e me deparo com Sophie. O que merda ela está fazendo aqui?
— Eu não sabia que bad boys estudavam.
Ela soa inocente, mas posso ver em seus olhos o deboche. Sophie
está tentando e, talvez, outra pessoa até acredite em suas boas intenções.
Tiro os fones do meu ouvido, apoio os braços na mesa e me inclino em sua
direção.
— Eu preciso ser um bom aluno.
Respondo-a como responderia outra pessoa, entrando em seu
joguinho, mesmo que minha vontade seja ser sarcástico.
— Por conta do futebol?
Não há nenhum pingo de curiosidade em suas palavras, ela apenas
está interpretando.
— Sim, para me manter no time, eu preciso ter boas notas.
O brilho dos seus olhos se torna mais intenso, ela não conseguirá
fingir por muito tempo.
— E um bom comportamento.
Sophie tenta soar como se fosse um simples comentário, mas nós
dois sabemos que ela está me provocando.
— Você está querendo dizer algo, princesinha?
Tenho impressão de que a pálpebra do seu olho treme ao ouvir o
apelido e preciso me segurar para não rir.
— Óbvio que não, só estou tentando entendê-lo. — Ela pisca
inocentemente e me contenho para não revirar os olhos. — Entender como
funciona ser o quarterback comportado e o piloto de corridas ilegais.
Faz um biquinho com seus lábios.
— Parece um pouco difícil.
Se alguém passar por nós dois, irá jurar que estamos em uma
conversa amigável.
— Na verdade, é bem fácil, princesa. — Inclino-me ainda mais em
sua direção. — De dia, o melhor quarterback da liga e, à noite, o piloto mais
temido das pistas.
Seus lábios se curvam em um sorriso debochado.
— O mais temido?
Não consegue manter o sarcasmo longe da sua voz e sorrio,
vitorioso.
— Sim, você não concorda com isso?
Morde seu lábio inferior e, por alguns segundos, apenas nos
encaramos.
— Temido é um pouco exagerado, não é?
Balanço minha cabeça.
— Não, realmente sou o melhor.
Estreita os olhos.
— Eu sou a melhor, principezinho.
Esquecemos completamente a trégua.
— Vamos resolver isso, Sophie.
Ergue as sobrancelhas.
— Sexta-feira?
Sorrio.
— Agora.
— Em plena luz do dia?
Não há receio em sua voz, nem medo, pelo contrário, o brilho em
seus olhos reflete o quanto a ideia a deixa animada.
— Com medo, Sophie?
Pergunto, mesmo sabendo sua resposta, ela sorri.
— Jamais. — Faz um biquinho sexy com seus lábios. — Mas você
sabe, sempre há maiores chances de sermos pegos à luz do dia.
Isso me deixa ainda mais extasiado. Foda-se minha aula, foda-se a
trégua, eu só preciso vencê-la.
— Medo de fazer uma visitinha à cadeia, princesa?
Seu olhar é ardiloso.
— Não seria a primeira vez.
Inclino-me para trás e sorrio.
— Ótimo. — Fico em pé. — Vamos?
Com seus olhos presos ao meu, Sophie se levanta.
— Você irá comer poeira, Travis.
Corra garoto, corra!
Este mundo não foi feito para você
Corra garoto, corra!
Run Boy Run (Yoann Lemoine)

Sophie
Antes que Travis possa falar algo, me viro, fico de costas para ele e
sigo para o estacionamento. É uma corrida que ele quer? É uma corrida
que ele terá.
Encontrei Travis por acaso. Almocei em casa, dirigi para Dartmouth
e, quando estava a caminho da aula, me deparei com ele sentado em uma
mesa, sozinho, compenetrado e com uma expressão nada agradável em seu
rosto.
Normalmente, ele está rindo, fazendo piadinhas, cercado de pessoas,
sendo o quarterback popular e amado, mas não hoje, indicando que algo
estava acontecendo.
Deveria ignorá-lo e seguir em frente, porém, não podia perder a
chance de provocá-lo. O anseio por irritá-lo foi maior e precisei me
aproximar. Conforme os centímetros entre nós dois diminuíam a expressão
em seu rosto se tornava mais nítida e ele parecia prestes a socar alguém.
Precisei morder meu lábio inferior para não rir. Ele nem ia poder ser
rude comigo porque estamos em uma trégua! Dei os passos finais em sua
direção apenas com um objetivo em mente, forçá-lo a lembrar da trégua.
Travis, com certeza, fingiria e seu dia se tornaria ainda mais miserável.
Um pouco maldoso da minha parte, mas é assim que jogamos.
E ele se comportou conforme o esperado, pelo menos por alguns
minutos, mas não conseguimos manter o personagem por muito tempo.
Nem ele e nem eu!
E agora iremos correr, não esperava por isso, entretanto, desde que
ouvi o desafio, meu coração começou a bater acelerado, a adrenalina ecoou
pelo meu sangue e meu peito vibrou com a expectativa de vencê-lo. Eu
tenho aula, mas, no momento, é mais importante derrotar Travis, porque eu
vou vencê-lo.
Apoio-me contra o meu carro e espero por ele. Travis surge no
estacionamento, seu olhar passeia pelo local até me encontrar, então sorri e
caminha em minha direção.
— Achei que você iria fugir.
Para à minha frente. Eu sorrio e balanço a cabeça.
— Jamais, Travis. — Afasto-me do carro. — Eu não perderia a
chance de vencê-lo.
O sorriso segue em seu rosto, o que me irrita. Tudo que ele faz me
irrita. Forço-me a ficar inexpressiva, a não demonstrar o quanto ele
consegue me perturbar.
— Você não irá vencer, princesa.
Ele fala com convicção e eu amo que realmente acredite nisso, será
ainda melhor vencê-lo.
— Você não vai. — Balanço minha cabeça. — Eu sou a melhor,
Travis, e vou te provar isso.
Sei do que sou capaz e tenho certeza de que posso derrotá-lo. Ele ri e
dá um passo para trás.
— Rodovia?
Ele está falando da rodovia abandonada, então assinto e ele se vira
ficando de costas.
— Encontro você no local de sempre, princesinha.
— Ok.
Digo entre dentes e observo-o ir até seu carro, assim que ele está
atrás do volante, dou a volta e ocupo o meu lugar. Ele deixa a sua vaga,
então faço o mesmo. Nós nos encontramos um ao lado do outro na saída do
estacionamento, abaixo o meu vidro, ele faz o mesmo e nos encaramos por
alguns segundos.
Ele tem um sorrisinho idiota e vitorioso em seus lábios e, Deus, eu
estou pronta para acabar com Travis. Será tão divertido! Encaro-o com
deboche e escuto o som do motor do seu carro, então piso no acelerador,
assim como ele.
Ele ergue as sobrancelhas ao escutar o som do motor do meu carro, é
a minha vez de sorrir. Eu olho em frente e ainda sinto seu olhar sobre mim.
Levo minha mão até o freio de mão, empurro e dirijo para longe do
estacionamento.
Travis deixa que eu saia primeiro, mas segue colado logo atrás de
mim. Eu tento acelerar, mas estamos em vias urbanas e é um pouco difícil,
amo a complexidade, mas não quero chamar a atenção da polícia, posso não
me importar em ser presa, isso não quer dizer que pretendo ser.
Apesar das restrições, Travis tenta me ultrapassar em toda brecha
que encontra, e eu sou obrigada a bloquear todas as suas tentativas, levando
o meu carro para o lado. Não vou deixá-lo passar por mim!
Alguns outros motoristas apertam as buzinas, porém, não é nada
grave o suficiente para nos colocar em apuros, apenas despertamos o ódio
alheio. Foda-se!
A merda de um sinal está no vermelho e somos obrigados a parar.
Porra! Olho para o lado e Travis está ali. A janela segue aberta e posso ver
o sorrisinho idiota em seu rosto.
Babaca!
Ficamos a ponto de arrancar, olhamos um para o outro nos
desafiando. E, assim que o sinal fica verde, arrancamos, saímos ao mesmo
tempo, mas Travis consegue jogar o carro para o lado e toma a minha
frente.
— Porra!
Grito e soco a direção. Eu tento ultrapassá-lo, mas é impossível, é
claro que ele não abre espaço e não posso ser imprudente a ponto de subir a
calçada ou invadir a outra pista.
A distância entre nossos carros é menor que a recomendada pelas
leis de trânsito, estamos acima da velocidade permitida e, no momento que
saímos da cidade, aceleramos, não tanto quanto gostaríamos, porque ainda
estamos no perímetro urbano e essa rodovia é ativa.
Eu me sinto tomada pela adrenalina, não consigo pensar em mais
nada. Ignoramos os cones que demarcam o limite da pista e entramos na
rodovia desativada. A estrada está deteriorada, mas não o suficiente para
nos fazer parar.
Seguimos até o local seguro, é longe o suficiente da estrada
principal, aqui ninguém nos verá, é sempre a localização usada para inícios
de corrida. Paramos um ao lado do outro, os carros seguem ligados e nos
encaramos.
— Até alguns metros depois curva antes do bloqueio final, o
carvalho demarcando a chegada — sugiro o caminho mais longo. — Ok,
principezinho?
Travis sorri.
— Ótima escolha, princesa.
Reviro os olhos, ele segue rindo e seguro o volante com força.
— No três?
Travis assente, então olho em frente, deixo meus dedos sobre o freio
de mão e juntos contamos até três. Assim que o último número deixa minha
boca, empurro o freio de mão e piso no acelerador.
O carro entra em movimento, o vento entra pela janela ainda aberta,
fecho-a e não olho para o lado, eu me concentro em fazer a minha parte.
Posso ouvir o som do motor e do atrito do pneu com o asfalto e isso faz
meu coração acelerar.
Porra, é disso que eu gosto, sou movida por essas sensações. Os
sentimentos que ocupam meu peito são indescritíveis.
Consigo estabelecer a velocidade e ter controle total sobre a direção
e o carro, então olho para o lado e Travis e eu estamos alinhados, acelero e
ele faz o mesmo.
Olho para frente e acelero, ele faz o mesmo e tenta me ultrapassar,
não dou passagem e seu carro encosta no meu, não ligo e tomo o cuidado
para não sair da pista.
A primeira curva se aproxima e ainda estamos um ao lado do outro,
não aperto o freio, mas tiro meu pé do acelerador. Fizemos o contorno ao
mesmo tempo, eu estou do lado do pequeno morro e Travis até tenta me
pressionar contra as pedras, ou melhor, dá a impressão de que fará isso, não
me assusto, apesar da emoção vibrar em meu peito, e continuo dirigindo
normalmente.
Finalizamos a curva e volto a acelerar, Travis segue na minha cola.
Porra! Olho de relance para o lado e ele novamente está jogando o carro
em minha direção.
Caralho!
Mantenho o aperto firme ao redor da direção. Piso no acelerador,
vejo o velocímetro subir e sorrio, satisfeita. Travis encosta o carro no meu,
mas nada acontece.
— Você não irá conseguir, principezinho.
A minha voz ecoa pelo carro assim como o rugido do motor. Olho
para o lado e estou a alguns centímetros à sua frente. Sigo sorrindo e me
viro em frente.
Meu corpo inteiro vibra, eu posso sentir a adrenalina correndo em
minhas veias, ocupando cada espaço vazio da minha alma, nada mais
importa!
A segunda curva se aproxima e, mais uma vez, tiro o pé do
acelerador; viro a direção e escuto o som do pneu contra o asfalto. É música
para meus ouvidos. Mantenho a velocidade, faço a curva perfeita e, no
momento certo, corrijo o volante, acelero na saída da curva, o movimento
joga meu corpo para trás e sinto o banco contra minhas costas.
O prazer inunda meu ser, porém, olho para o lado e não encontro o
carro de Travis. Encaro o retrovisor e nada, que merda ele fez? Não vejo
sinal dele e não preciso ser um gênio para saber o que aconteceu.
Ele usou o desvio antes da curva, o que encurta o caminho, um
atalho. Porra! Maldito trapaceador.
Raiva pulsa em meu interior, me domina e muda totalmente meu
humor. Não acertamos nada sobre usar ou não o atalho, mas é óbvio que
não deveríamos usar. É uma forma de trapaça.
E eu deveria ter sido mais esperta. Caralho, como não me lembrei do
desvio? Se tivesse recordado, eu teria seguido por ele também. Porra!
Como pude ser tão idiota?
Ele tem a merda de uma vantagem, uma vantagem imensa. Soco o
volante, mordo meu lábio inferior a ponto de sentir dor.
— Burra!
Grito enquanto acelero. Eu acelero o máximo que consigo, atinjo a
maior velocidade que consigo, faço a terceira curva e, então, aperto o botão
do nitro. É uma explosão de potência que faz o motor rugir ainda mais alto,
o carro dispara como um canhão.
Faço o possível e, mesmo assim, não é o suficiente. Travis surge do
cruzamento, seu carro é um trovão. Mal o vejo assumir o lugar à minha
frente e, em segundos, passa pelo carvalho vermelho.
Porra! Maldito! Eu quero matá-lo, uma morte lenta e dolorosa.
Como ele ousa trapacear? É a história de trégua?
Eu diminuo a velocidade ao mesmo tempo em que Travis faz um
giro de 180 graus, a derrapagem faz com que suba poeira do chão, ele para
o carro de lado e me obriga a ter que pisar no freio. Eu paro a centímetros
do idiota, respiro fundo e bufo irritada, enquanto ele sai do seu Civic,
sorrindo.
Um sorriso vitorioso. Meu único desejo no momento é acabar com
Travis. Abro minha porta, tiro a chave da ignição e saio do meu carro. O
ódio e a raiva ecoam dentro de mim. Eu não podia ter perdido para esse
idiota.
— Quem comeu poeira, princesa?
Fecho a porta com força como se isso fosse acalmar o alvoroço que
há em meu peito. Travis simplesmente se apoia contra seu carro como se
estivesse relaxado.
— Você trapaceou, seu idiota.
Ele segue rindo. Imagens do meu punho acertando seu nariz ecoam
em minha mente.
— Não seja hipócrita, se tivesse lembrado, teria usado, não finja que
é uma boa menina, você não é.
Zomba enquanto caminho em sua direção. Fecho as mãos em punho,
aperto o chaveiro contra minha pele, e as deixo ao lado do meu corpo.
— Você é um perdedor que precisa trapacear para vencer.
Forço um sorriso. Minha intenção é que seja debochado, mas sei,
pela sua expressão, que a única coisa que consegui foi que ele tenha a
certeza de que estou morrendo de raiva.
— Você está sendo uma péssima perdedora, princesinha.
Cada palavra sua que sai da sua boca é repleta de desdém e deboche.
Fúria cresce em meu peito, eu enxergo tudo desfocado ao meu redor e
Travis é o meu alvo.
— Não combinamos as regras.
Continua rindo tranquilamente, como se eu fosse uma piada. Cravo
as unhas em minha pele. Eu, definitivamente, vou matá-lo.
— Que regras? Não há regras em nosso mundo, Soph.
Saber que ele está certo aumenta a pressão em meu peito e a raiva,
que no fundo não é só destinada a ele, eu errei, fui burra, esqueci e ele fez o
que eu deveria ter feito. Ele ganhou de mim e isso é inadmissível.
— É proibido usar o desvio no circuito.
Ele dá de ombros enquanto seus olhos procuram pelos meus.
— Não estamos no circuito, princesa, somos só você e eu.
Sussurra as últimas palavras. Eu dou os últimos passos em sua
direção e paro a centímetros dele. Meu peito sobe e desce rapidamente
enquanto ele me encara como se estivesse se divertindo às minhas custas.
— Você se acha o melhor, mas precisou trapacear para me vencer.
Acuso-o e ele segue rindo. Insuportável, arrogante, idiota. Abro
minha mão e, mesmo sem olhar para baixo, toco meu chaveiro que tem o
formato de uma chave, empurro-o para o lado, abro-o até que a minha faca
esteja exposta.
— Eu usei as armas que eu tinha, princesa.
Sorrio e, desta vez, não estou forçando. Dou mais um passo em
frente e a distância entre nós dois se torna mínima. Posso sentir seu perfume
e quando ele curva sua cabeça, sinto sua respiração em meu rosto. De
repente, tenho meus olhos nos seus, somos nós dois e nada mais.
— Estamos em uma estrada desativada, se eu te matar ninguém irá
encontrar o seu corpo.
— A gata tem garras.
Ele debocha. Travis acredita que ganhou!
— Você é um jogador e não sabe?
Ergue as sobrancelhas e me encara sem entender.
— Do que você está falando?
Mantenho meus olhos nos seus. Minha respiração falha, meu
coração bate acelerado e respiro fundo.
— O jogo só termina no apito final.
Não dou chance para que tente entender, ergo minha mão e
mantenho a faca contra seu pescoço. Travis não demora a perceber o que
estou fazendo e, mesmo assim, seus olhos seguem brilhando. Ele está se
divertindo!
— Não estou flertando com você, Travis.
— Foi assim que você foi presa, princesa?
Segue com os olhos nos meus. Nossas respirações se misturam e,
porra, uma excitação toma conta de mim.
— Como você sabe?
Dá de ombros.
— Tenho meus contatos.
Travis leva sua mão até meu cabelo e toca algumas de minhas
mechas. Estreito meus olhos e dou uma leve pressionada na sua pele com a
faca.
— Você deveria estar com medo.
Continua me tocando e se torna difícil respirar. Porra, o que está
acontecendo comigo? Seguro firmemente, o cabo da faca que tem o formato
de uma chave.
— Use a faca, Sophie.
Ele me desafia. Não tenho coragem, lá no fundo algo me impede.
Talvez sejam seus olhos nos meus, ou a tensão que vibra em mim.
— Posso ver em seus olhos que você não tem coragem.
Há um sussurro em minha mente dizendo para que eu faça algo, um
pequeno corte, não irá machucá-lo, porém, Travis segue encarando-me e me
perco em sua escuridão. Há uma força ao nosso redor, algo que me tira de
órbita. Seu pomo de adão sobe e desce em sua garganta enquanto ergue sua
mão e abaixa meu braço, poderia afastá-lo e machucá-lo, mas continuo
imóvel.
Travis dá um passo em frente, nossas respirações se misturam e ele
desperta algo em mim, algo insano e perturbador, mas não no nível que
estou acostumada, é além, como uma necessidade absurda.
— Eu também não teria coragem de te machucar, princesa.
Em um momento, eu estou de frente para ele, no próximo, ele segura
minha cintura, me gira e tenho as costas contra o carro. E, antes que
processe o que merda está acontecendo, sua boca encontra a minha.
Você ainda não sabe meu nome
E eu morreria ou ficaria
Querida, agora
Mas você ainda não sabe meu nome
Still Don't Know My Name (Labrinth)

Travis
Eu só queria provar um ponto, mostrar para Sophie que ela não iria
me machucar, meu alvo era vencer, mas, assim que meus lábios encostam
nos seus, me perco. Esqueço o meu objetivo e, uma necessidade absurda
por mais, ecoa em mim, preciso explorar sua boca e obter dela o máximo
que eu posso.
Não é um simples beijo, cada célula do meu corpo reage, desejo e
excitação assumem o controle. Ela não me afasta, eu me aproximo,
tornando mínimo o espaço entre nós dois, uma de suas pernas está entre as
minhas e sinto seus seios contra meu peito.
Minha língua pede passagem enquanto levo minha mão até sua nuca,
meus dedos tocam sua pele e a mantenho presa a mim, à minha disposição.
Não encontro resistência alguma e invado sua boca, exploro-a e ela faz o
mesmo comigo, nossas línguas duelam.
Não pego leve, não dou tempo para ela se afastar, eu ajo como um
viciado usando a sua droga. Luxúria me domina, pressiono-me contra ela,
sinto-a em cada parte do meu corpo, levo meus dedos até sua coxa, subo-os
pela lateral do seu corpo e a temperatura aumenta à nossa volta.
Minha mão encontra sua bunda e aperto-a com força. Porra! Sophie
se impulsiona para frente, se segura em meus ombros e posso sentir toda
tensão descendo para o meu pau. Enrolo os fios do seu cabelo ao redor dos
meus dedos e a beijo, pela forma como meus lábios atacam os seus, ela
pode perceber como a foderia. Uma pequena amostra da explosão que
seríamos juntos.
Aperto novamente sua bunda e um gemido escapa do fundo da sua
garganta. Um som que ressoa diretamente no meu pau, eu me sinto como
um animal. Eu poderia curvá-la sobre esse carro e tê-la aqui mesmo. A
imagem vibra em minha mente e eu daria tudo para torná-la real. Caralho!
Razão me abandona, sou controlado pela necessidade que pulsa em
meu interior. Beijo-a com mais força, seguro seu cabelo e a mantenho da
maneira que eu quero.
Sophie é dona de si, ama o controle, mas, no momento, eu que o
tenho, nesse instante sou eu quem manda. Isso me deixa ainda mais
alucinado, subo minha mão pelo seu corpo, toco sua barriga e meus dedos
param logo abaixo do seu seio, um milímetro e posso tocá-lo.
Minha alma clama por tomar tudo de Sophie. Eu quero tudo dela,
cada suspiro, gemido, cada parte do seu corpo. Levo minha mão até seu
mamilo e, porra, ela não está usando sutiã, posso senti-lo contra minha pele,
mesmo existindo o fino tecido da sua blusa entre nós. Eles são perfeitos,
cabem perfeitamente em minha mão.
Sophie ocupa minha mente, só consigo pensar nela, em tê-la, não há
mais nenhum outro pensamento. Eu acreditei estar no controle, mas é ela
que está no controle e, no momento, não me importo, foda-se, só preciso
continuar a beijando.
Minha mão deixa sua nuca e a levo até seu rosto, toco sua bochecha
e sua pele é macia. Minha língua abandona sua boca, abro os olhos e ela
está com os seus fechados, seus lábios estão inchados e, caralho, ela está tão
entregue. É como encarar uma deusa, uma imagem que com certeza ficará
gravada em minhas lembranças.
Mordo seu lábio inferior, em seguida, chupo-o e beijo a lateral da
sua boca. Sophie suspira e observo, de camarote, a expressão em seu rosto
mudar. Deus, ela é tão linda!
Desço meus lábios até seu pescoço, distribuindo beijo, sentindo seu
perfume tão de perto, meus dentes encontram sua pele e marco-a. Ela terá
uma marca minha, algo que fui eu que fiz, satisfação vibra em meu peito.
Algo primitivo, beirando a posse.
Seu corpo reage ao meu, posso sentir na forma como se entrega, na
forma como segura meu ombro. E eu me encontro delirando, cada segundo
mais excitado.
— Porra, você é perfeita, princesa.
as palavras saem da minha boca antes que possa pensar sobre elas e
um choque de realidade me atinge. Não estou com uma garota qualquer, eu
estou com a Sophie. Com a Sophie.
Por alguns segundos, há uma batalha dentro de mim. Eu paro de
beijá-la, embora continue com meu rosto em seu pescoço. Minhas mãos
paralisam, uma sobre seu seio e a outra, em sua bunda. Continuo ou não?
Eu a odeio, mas, porra, ela está tão bem em meus braços, meu pau está
animado e eu estou me divertindo.
Não tenho tempo de tomar uma decisão, porque Sophie cai em si.
Ela me empurra e, no mesmo instante, dou um passo para trás e a encaro.
Ainda há luxúria em seus olhos, mas a raiva está ali também.
— Caralho. — Estreita os olhos. — O que você pensa que está
fazendo?
Grita, aterrorizada. Eu me recomponho, dou um passo para trás e
cruzo os braços.
— Reclamando, princesinha? — provoco-a. — Você não parecia
estar descontente alguns segundos atrás, na verdade, você parecia estar
gostando bastante.
Sophie bufa irritada, deixa suas mãos ao lado do corpo e me encara
como se estivesse prestes a me matar.
— Você é um idiota.
Ela não tem argumentos e isso a deixa ainda mais furiosa. Ela segura
o chaveiro que vira uma faca com força. Sorrio com deboche.
— Você ainda acredita que pode me machucar, princesinha? Ou
precisa de mais um beijo?
Comprime os lábios com raiva. Caralho, eu realmente venci e não
foi apenas na corrida que disputamos.
— Você acha que venceu, não é?
Sua voz é repleta de desdém. Continuo olhando em seus olhos e
sorrindo.
— Eu venci, princesa, e você precisa aprender a perder.
Faço uma careta. Ela dá um passo para frente enquanto continua
com o olhar mortal sobre mim, ela não me intimida e não tenho medo
algum, Sophie é pequena, talvez saiba algum golpe, ou seja rápida, mas eu
cresci no meio de pessoas perigosas, eu saberia desarmá-la em um segundo.
Dá mais um passo, sigo imóvel, ergue as sobrancelhas e dou de
ombros. Isso a irrita tanto e fica visível na expressão em seu rosto. Eu amo
ser capaz de deixá-la com raiva.
— Qual é o seu maldito problema, Travis?
— Eu não tenho problema nenhum. — Afasto meus braços do meu
peito e aponto o dedo em sua direção. — Você tem algum?
— Eu tenho, você é meu problema.
— Eu sou seu problema? Por quê? — Continuo com o deboche e a
raiva está cada vez mais presente em seus olhos. — Porque não vai
conseguir me esquecer depois de hoje? Ou porque eu a beijei como
ninguém nunca a beijou?
Seus lábios se curvam em um sorriso.
— Você realmente acredita ser incrível, não é? — A ironia e o
desprezo são visíveis em sua fala. — Mas quem estava perdido era você:
porra, você é perfeita, princesa.
Imita a minha voz, o sorriso em meus lábios se desfaz e engulo em
seco. Seus olhos brilham. Droga, agora ela está acreditando que venceu!
— Você teria continuado se eu não tivesse te empurrado, não é,
Travis?
Raiva ecoa em meu interior, porque ela tem razão. Eu teria
continuado. Odeio que ela esteja certa.
— Eu teria falado isso para qualquer vadia. — Volto a ter controle
da situação e me sinto eufórico. — Só tinha um objetivo, que abrisse as
pernas para mim.
O seu sorriso se desfaz e a animação em meu peito aumenta. Sophie
dá um passo em frente, eu espero que ela simplesmente fuja para seu carro.
Espero que dirija frustrada, perdida e derrotada para casa.
Não estou esperando ser atingido pelo seu punho e só percebo o que
ela está fazendo quando sua mão está a centímetros do meu rosto. Caralho!
Não tenho tempo para segurar seu pulso, nem desviar, o máximo que
consigo é inclinar meu rosto para trás, então ela não acerta meu nariz e sim,
minha boca.
Dor se alastra pelos meus lábios. Merda, merda! Sinto o gosto de
sangue e a ferida aberta. Ela está usando um anel e me cortou.
— Filha da puta.
Esbravejo. Apesar da dor, sigo encarando-a e, desta vez, eu
mantenho a atenção sobre o pequeno demônio à minha frente. Espero que
ela me golpeie outra vez, estou pronto para segurar seu pulso, é o máximo
que farei, porque é óbvio que não irei revidar.
Sophie dá um passo para trás e me encara com deboche. Maldita!
— Realmente, sou filha de uma puta. — Sorri vitoriosa. — Você
achou mesmo que tinha vencido não é, principezinho?
O gosto de sangue inunda minha boca, sou obrigado a me curvar
para o lado e cuspir no chão, o que torna tudo ainda mais humilhante.
Sophie ri ainda mais alto.
Endireito-me e trago minha mão até minha boca. É uma tentativa de
aliviar a dor e estancar o sangue. Provavelmente, não é um corte fundo, mas
a boca é um lugar sensível.
Não acredito que ela teve coragem de me acertar e, apesar de ter sido
atingido por uma garota e da dor que sinto, a raiva não é o que predomina
em meu peito. Eu ainda sinto que venci, afinal, fiz com que Sophie se
descontrolasse, e não preciso ser um gênio para saber que ela é alguém que
preza em estar no controle.
— Eu venci, princesa.
Falar dói um pouco e me forço a manter uma expressão debochada.
Sophie ter presenciado a minha agonia com aquela pavorosa joelhada foi o
suficiente.
— Venceu? — fala com desdém e ergue as sobrancelhas. — Você
está sangrando.
Dou de ombros. Sorrio e, porra, dói.
— É só um machucadinho, já enfrentei coisas muito piores, não será
um soquinho de uma garotinha que irá me derrubar.
Posso ver uma rápida sombra em seus olhos, quase perdeu a pose de
vencedora.
— Pode continuar fingindo, Travis, não me importo. — Dá um
passo e volta a se aproximar de mim. — Aposto que está morrendo de
vontade de chorar.
Ela me provoca e sigo sorrindo.
— Você não sabe, princesa, mas realmente não é qualquer corte ou
qualquer golpe que me derruba, depois de um certo tempo, o nível de dor
que você suporta aumenta.
Sophie ergue as sobrancelhas de uma forma irônica.
— Apenas uma joelhada no seu pau, não é?
— A porra de um chute no meio das pernas, derrubaria um mafioso.
Sophie bufa como se estivesse entediada.
— O que importa é que o recado está dado. — Ergo as sobrancelhas.
— Tome cuidado comigo.
Ela está me ameaçando. Sophie está me ameaçando! Encaro a garota
à minha frente, ela bate no meu ombro, apesar do olhar intimidador, da
postura rebelde e de estar vestindo algo longe de ser angelical, ela parece
inofensiva, principalmente, em relação a mim.
— Se eu quisesse, Sophie, eu destruiria você.
Sorrio e ela dá mais um passo em frente.
— Se eu quisesse, eu destruiria você, Travis.
Desta vez, percebo quando ela ergue a mão, a mão em que está a
faca. Permaneço onde estou, apenas me preparo para caso precise
imobilizá-la.
Aproxima a lâmina do meu pescoço outra vez, mantém seu olhar no
meu e continuo com meus lábios curvados para cima. Eu amo provocá-la.
Amo brincar com fogo e, neste caso, eu nem me importo de sair queimado,
ou melhor, de ser eu a queimá-la.
Ela estreita os olhos e, por um momento, acredito que terei que
intervir, mas Sophie dá um passo para trás.
— Da próxima vez, eu vou cortar bem mais que seus lábios.
Permaneço olhando para ela, ela está me encarando como se
estivesse prestes a me matar. Travamos uma batalha, Sophie ergue suas
sobrancelhas e dou de ombros.
— Você é um idiota.
Sigo encarando-a, então ela suspira, revira os olhos e se afasta.
— Chega de perder o meu tempo com você, principezinho.
Pressiona a faca levemente contra meu pescoço, engulo em seco, ela
sorri satisfeita e se afasta. Sophie fica de costas para mim e eu observo-a
caminhar até seu carro. Ela não volta a olhar em minha direção e eu sorrio.
Seu motor ruge, a poeira sobe do chão e, assim que sai em disparada,
seus pneus marcam o chão.
Eu mal posso esperar para vencer Sophie mais uma vez na sexta-
feira.
Em seu coração há um buraco
Há uma marca negra em sua alma
Nas mãos dela está meu coração
E ela não vai desistir até ficar com cicatrizes
Horns (Bryce Fox)

Sophie
Será que a Guerra Fria foi assim? Porque, definitivamente, Travis e
eu estamos fingindo uma trégua quando, na verdade, nossa vontade é
derrotar um ao outro. E isso ficou claro na terça-feira. Deus, eu coloquei a
faca em seu pescoço, mas o idiota mereceu, aliás, ele merecia que eu a
tivesse usado, um corte em seu lábio foi pouco.
O babaca me beijou. Eu fui muito boazinha com ele. Levanto-me do
sofá e caminho pela sala. Como eu pude deixá-lo chegar tão perto? Fui tola
e meu corpo, um traidor. É claro que ele se sentiu vitorioso, eu não tive
coragem de machucá-lo e permiti que encostasse seus lábios nos meus.
Travis me beijou!
Passo as mãos pelos fios do meu cabelo, como eu pude deixar isso
acontecer? Eu não sou o tipo de garota que caí em conversinha de garotos
feito o Travis, como pude deixá-lo me beijar? Logo ele? Essa é a pergunta
que não para de ecoar em minha mente desde terça-feira, faz três dias e
ainda não superei. Jamais vou superar!
Estou morrendo de raiva dele e de mim. Fui uma idiota, uma boba,
me deixei ser guiada pelo desejo e perdi, porque posso ter cortado o seu
lábio, mas ele ganhou a corrida, ele ganhou quando não o machuquei com a
faca ou com o maldito beijo.
Eu odeio perder!
Assim que me dei conta da merda que tinha acontecido, soube que
estava perdida, porque tinha correspondido com veemência, não posso
negar para mim mesma que não gostei do beijo. Porra, não deveria ter
gostado, deveria ter sido o pior beijo da minha vida e não foi, muito pelo
contrário, foi um dos melhores.
Admitir isso faz com que algo dentro de mim se contorça, eu poderia
muito bem bater em mim mesma, mas é a verdade, por mais horrível que
seja admitir.
Fecho minhas mãos em punhos enquanto caminho pela sala. Durante
esses três dias que passaram, sempre que esbarrava com Travis nos
corredores da faculdade, não trocávamos nenhuma palavra, apenas nos
encarávamos, ele sorria e eu me forçava a fazer o mesmo.
É claro que longe das pistas nossa trégua está de volta, esse é o
combinado. Faço uma careta. Meu Deus, o que eu tinha na cabeça quando
aceitei o desafio de seduzi-lo?
E se eu voltar atrás? Mas deixar Travis vencer? Ele já venceu
demais. Derrotá-lo se transformou em um dos meus objetivos de vida, ainda
mais depois de terça.
E hoje, eu preciso vencer. Posso ter perdido na terça, mas hoje à
noite Travis irá ficar para trás, afinal, ele não tem como trapacear. Sorrio
animada com a ideia de vencer na frente de todos, ninguém me viu perder,
mas todos irão me ver derrotá-lo, ainda vou ganhar dinheiro por isso e
muito dinheiro, com certeza as apostas em torno de nós dois serão altas.
E como na terça Travis me derrotou, não posso, de maneira
nenhuma, perder, não é uma opção!
— Por que você está tão ansiosa?
Viro-me e me deparo com Jace entrando na sala.
— Não estou ansiosa.
Paro de caminhar e meu amigo ergue as sobrancelhas enquanto se
aproxima do sofá.
— É pela corrida de mais tarde? Ou pelo fato de que irá encontrar o
principezinho?
Senta-se e me encara com deboche. Ergo meu dedo do meio e o
aponto em sua direção.
— Vá se foder, Jace.
— Talvez mais tarde, depois da corrida, eu encontre uma garota.
Reviro os olhos e ele ri alto.
— E você irá foder com o principezinho?
Meu Deus, eu vou matá-lo.
— Cala a boca, seu idiota.
Ele está me provocando porque eu tive a péssima ideia de contar
para os idiotas que Travis me beijou. Não escondemos nada uns dos outros,
mas estou começando a acreditar que deveria ter escondido isso, eles não
param de me provocar com essa merda.
Jace ergue as mãos para o alto.
— Ok, ok, Van. — O sorriso some do seu rosto. — Então, está
ansiosa com a corrida?
Soa preocupado. Suspiro e vou até ele, sento-me ao seu lado e Jace
passa seu braço pelo meu ombro.
— Não, eu sei que irei vencer. — Apoio minha cabeça em seu
ombro. — O que não sai da minha cabeça é ter perdido para aquele idiota.
Faço um som de descontentamento com meus lábios.
— Como pude ser tão idiota a ponto de esquecer o atalho?
— Não foi muito esperto da sua parte mesmo, Van.
É claro que ele não irá passar a mão na minha cabeça. Custava ele
dizer que isso acontece?
— Eu deveria ter feito bem mais que cortar o seu lábio.
Resmungo e escuto Jace rir.
— Realmente, você deveria ter aproveitado para matá-lo e esconder
o corpo.
— E, se fosse descoberta, seria presa.
— Pense, o sacrifício valeria a pena, alguns anos na cadeia para
livrar o mundo de Travis Scott, na real, deveria ser vista como uma heroína.
Sorrio e fico em silêncio. Apesar da frase de Jace, nós dois sabemos
que é brincadeira, podemos ser sem escrúpulos, mas matar alguém já é
demais.
— O que você pretende fazer até a hora da corrida?
Jace pergunta, quebrando o silêncio.
— Vou jogar alguma coisa, algo bem sangrento em que eu possa
matar sem remorso.
— Essa é a minha garota.
Deixa um beijo no topo da minha cabeça e eu me levanto. Eu ligo o
videogame, pego os controles e volto a me sentar ao seu lado.
Jace e eu ficamos o restante da tarde na sala, os caras chegam
quando o sol está se pondo, então vamos para a cozinha, preparamos algo
para comer e eu subo para meu quarto. Vou para o banheiro, tomo um
banho e escolho a roupa que irei usar para participar da corrida.
Escolho uma calça jeans, botas, uma blusa fina de alcinhas e jogo
uma jaqueta de couro por cima. Faço uma maquiagem leve e escovo meu
cabelo. Ao olhar no espelho, encaro meu reflexo e me sinto pronta para
vencer.
Com minha chave e celular em mãos, deixo meu quarto e encontro
Jace, Sebastian e Dominic na sala, eles estão sentados no sofá, encarando a
televisão, mas olham em minha direção assim que eu entro no cômodo.
Eu me apoio no batente da porta, Sebastian sorri e, para completar o
deboche, desce o olhar, analisando a roupa que eu estou vestindo. Idiota!
Ergo as sobrancelhas assim que ele volta a encarar o meu rosto.
— Tão arrumada… será que ela está tentando seduzir um certo
principezinho?
Olha para Jace e os dois começam a rir como duas crianças.
— Calem a boca, seus idiotas. — Os dois seguem rindo. Encaro
Dominic, esperando ele fazer algo, porém ele só dá de ombros. — Fodam-
se vocês.
Afasto-me da porta, giro, deixo a sala e sigo na direção da garagem.
— Espere, Vanellope, nós estamos indo.
Escuto o grito de Jace e os passos apressados dos três, eles estão
correndo atrás de mim. Eles me alcançam quando estou cruzando a porta
que liga o interior da nossa casa à garagem.
— Vocês são uns idiotas.
Xingo-os enquanto entro no Nissan Skyline GT-R branco. Acaricio a
direção e sorrio.
— Pronta para arrasar, garota?
Nossa garagem é aberta, sem portão, e isso é ótimo, porque tudo que
tenho que fazer é ligar o carro e sair em disparada. Os três imbecis me
seguem.
Como moramos em um lugar afastado, então não precisamos nos
conter, nossa casa fica no meio da floresta praticamente, o local é quase
deserto, podemos pisar no acelerador. Eu ligo e desligo os faróis e eles
sabem o que isso significa, apostamos uma breve corrida até chegarmos à
cidade, eu sou a primeira e sorrio, animada. Hoje nada irá me parar.
Na cidade somos obrigados a nos conter, porém, ao chegarmos à
estrada, não há movimento e voltamos a correr, faço novamente o sinal e
apostamos quem chega primeiro até a rodovia desativada.
Eu sigo na frente e me empenho em continuar em primeiro lugar,
eles me irritaram antes de sairmos e mereço vencê-los. Jace e Dominic
tentam me passar, mas não permito, jogo meu carro para o lado,
impossibilitando que me ultrapassem.
Piso no acelerador e sorrio ao ser a primeira a chegar. Há muitas
pessoas ocupando a lateral da pista e não me contenho, faço meu
showzinho, parando abruptamente e fazendo o carro girar noventa graus.
Um friozinho instala-se em minha barriga enquanto controlo o volante,
escuto o som do motor e dos pneus no asfalto.
Deus, eu amo isso!
Eu saio do carro e posso ver os olhares sobre mim, não encaro
ninguém, apenas me sento sobre o capô, e, nesse momento, os caras param
logo atrás do meu carro, formando uma fila.
Observo-os deixar o carro, eles fazem isso de forma sincronizada
quase como se fosse de propósito. Se eles não fossem como meus irmãos,
eu iria achar isso muito sexy, porém, acho um tanto engraçado e
vergonhoso.
Eles se aproximam de mim, caminhando um ao lado do outro como
se fossem os donos do planeta.
— Vocês são tão ridículos.
Eu digo assim que eles estão perto o suficiente para ouvir.
— Posso saber o motivo do insulto?
Jace pergunta enquanto se senta ao meu lado. Dominic e Sebastian
apenas se apoiam no carro.
— Essa pose de trio maravilha.
Aponto para os três.
— Nós somos incríveis, Van.
Sebastian se explica, olho para ele que sorri e pisca em minha
direção, eu reviro os olhos.
— Eu sinto vergonha por vocês.
— Você deveria sentir orgulho por andar com a gente...
Jace continua a sua defesa, porém paro de ouvi-lo, porque escuto o
som de uma risada e sinto um arrepio subir pelo corpo. Procuro por Travis e
ele está do outro lado da pista com seus irmãos e o quarto integrante da
equipe deles.
Ele está segurando uma cerveja, com a cabeça inclinada para trás e
rindo. Desço meu olhar pelo seu corpo, ele está usando calça preta, coturno
e uma camiseta branca colada ao corpo, deixando seus músculos e
tatuagens à mostra.
Porra, por que ele tem que ser tão gostoso? E, sem que consiga me
controlar, eu relembro do maldito beijo. Volto a me arrepiar ao recordar das
suas mãos em minha bunda.
Caralho!
Respiro fundo, volto a olhar para o seu rosto e me deparo com seu
olhar sobre mim. Ele não está mais rindo, sinto um formigamento estranho
e me seguro para não pular do carro e ir até ele.
O que eu faria? Talvez eu o ameaçasse com minha faca outra vez, ou
talvez eu o matasse. Eu o odeio tanto e preciso vencê-lo!
Travis ergue a cerveja que tem em mãos em minha direção, como se
estivesse me cumprimentando, eu ergo a minha mão e mostro meu dedo do
meio. O imbecil ri alto e estou prestes a pular do carro e ir até ele quando
escuto a voz de Elijah.
— Tentem não se matar antes da corrida, por favor.
Olho em frente e ele está parado e nos encarando com os braços
cruzados. Não há nenhum traço de humor na expressão em seu rosto, aliás,
sua expressão não indica absolutamente nada. Esse cara parece não sentir
nada.
— É uma tarefa um pouco difícil.
As palavras saem estridentes, Elijah me ignora e olha para Dom.
— Dominic, você irá correr com o Kade. — Encara-me e meu
coração acelera, espero que ele não tenha voltado atrás. — Sophie, você irá
correr contra o Travis.
Uma mistura de alívio e ansiedade se misturam em meu peito.
— Ok.
Dom e eu dizemos ao mesmo tempo, então ele simplesmente vira-se
e caminha até o outro lado. Ele vai até os Crows, encaro Travis e o observo
enquanto Elijah informa contra quem eles irão correr.
Travis sorri e olha em minha direção, eu sorrio de volta, porque eu
vou derrotá-lo. Só desvio o olhar de Travis quando sinto alguém me
observando, viro-me para o lado e é Hailey. Ela está me encarando com
uma expressão estranha, como se estivesse prestes a rosnar. A vira-lata está
se achando um rottweiler.
Eu deixo a vadia de lado e volto minha atenção para meus amigos.
Preciso estar concentrada e calma para a corrida.
Dominic tira um cigarro do bolso e fuma, Jace vai atrás de uma
cerveja, eu me mantenho em silêncio. Conforme os minutos passam, me
encontro mais ansiosa.
Porra!
E assim que Elijah caminha na direção da linha de largada, eu pulo,
fico em pé e entro no carro enquanto meus amigos me desejam boa sorte.
Eu olho para o lado rapidamente e vejo Travis assumindo seu carro.
Não mantenho meu olhar sobre ele, foco em dirigir até a linha de
largada. Não demoro a chegar ao meu destino, eu fico entre Dominic e
Travis. Os outros competidores são Trevor, Kaden e Owen.
Elijah está posicionado à nossa frente, deixamos os carros e
esperamos as suas instruções. Elijah faz um sinal e todos ficam em silêncio,
concentrados no que ele irá dizer.
— Primeiro Dominic e Kaden.
Elijah se afasta, olho para o lado e Dominic está entrando em seu
carro.
— Boa sorte, grandão.
Grito para o meu amigo.
— Boa sorte, Van.
Grita de volta. Dominic se estabelece atrás da direção e todos
encaramos a garota que está segurando a bandeira, esperamos que ela a
abaixe e, assim que ela o faz, Kaden e Dominic disparam.
Eles seguem alinhados por alguns segundos, mas não demora para
Dominic ganhar uma vantagem, é pequena, mas aumenta com o passar do
tempo. As pessoas ao redor gritam, principalmente o nome de Dominic. Eu
grito também e até esqueço que Travis está ao meu lado.
A vantagem de Dominic aumenta e ele está bem mais à frente
quando entra na primeira curva e desaparece. O circuito de hoje é longo, o
que faz com que não possamos ver parte da corrida. Devemos correr até o
início da terceira volta, então devemos fazer a volta e retornar pelo mesmo
caminho. A linha de chegada, desta vez, é alguns metros depois da linha de
largada e está marcada com tinta no chão.
Ficamos tensos esperando eles voltarem e vibramos quando Dominic
surge à frente, então ele liga o nitro e cruza a linha de chegada. Ele faz o
carro girar, marca o asfalto com seus pneus, Dominic é ovacionado. Kaden
demora e, ao cruzar a linha de chegada, não faz nenhuma gracinha, apenas
dirige até seus amigos.
Dominic não deixa seu carro. Recebemos as regras da corrida um dia
antes por e-mail e a ordem, desta vez, é não ficarmos na linha de chegada,
devemos deixá-la imediatamente após ultrapassarmos.
Dominic, então, gira o carro mais uma vez e se junta aos nossos
amigos do outro lado. Elijah se aproxima mais uma vez e encaro-o, ansiosa.
— Trevor e Owen.
Merda, é claro que Travis e eu seremos os últimos, é a corrida mais
aguardada. Porra!
— Ansiosa para perder outra vez, princesinha?
— Desta vez, não há como você trapacear.
Respondo-o, sorrindo, sem olhar em sua direção e ele permanece em
silêncio, provavelmente porque a corrida do seu irmão iniciou.
Sou obrigada a ver Trevor correr, ele sai na frente e não é nenhum
pouco surpreendente quando ele vence. E após os dois deixarem a pista,
finalmente, Elijah se aproxima e nos chama.
— Boa sorte, princesa.
Travis soa debochado enquanto Elijah se afasta.
— Vá se foder, Travis.
Viro-me e entro no carro.
— Só se for com você.
Grita.
Ergo meu dedo do meio e rapidamente verifico os indicadores no
painel, tudo está correto. Coloco o cinto e encaro a bandeira quadriculada.
Porra, é como se meu coração fosse explodir em meu peito.
Deixe todo o seu amor e sua saudade para trás
Você não pode carregá-los com você se quer sobreviver
Dog Days Are Over (Florence + The Machine)

Sophie
Seguro firme a direção, giro a chave na ignição, solto o freio de mão,
mantenho o pé sobre o freio e levo minha mão até o câmbio. E quando,
enfim, a bandeira é abaixada, solto o freio e piso no acelerador. O som do
motor ecoa pela noite, ganho velocidade e sinto a adrenalina me dominar.
Olho rapidamente para o lado, Travis e eu estamos um ao lado do
outro. Piso no acelerador até o fundo e ganho uma pequena vantagem. Não
o suficiente para avançar totalmente à sua frente e bloqueá-lo. Tento
avançar ainda mais, mas não consigo.
Ficamos quase empatados e é assim que entramos na primeira curva.
E, merda, ele passa na minha frente depois que saímos dela, mas não o
suficiente para me bloquear. Encosto-me o máximo que posso nele, até meu
carro bater no seu e o empurro levemente para o lado, ele perde o controle
alguns segundos, mas isso é o suficiente para que eu volte a assumir a
liderança.
Travis se recupera rápido demais e fica na minha cola, ainda não
consigo bloqueá-lo. Droga! A tensão aumenta quando iniciamos a segunda
curva e faço-a por dentro para ganhar vantagem, dá certo, consigo uma boa
distância, sorrio e então faço a volta o mais rápido que consigo e me lanço
de volta na curva.
Travis tenta me ultrapassar e eu o bloqueio. Ele bate na minha
traseira, mas eu tenho controle absoluto sobre o carro, então nada acontece.
Assim que deixo a segunda curva, aciono o nitro e um grito escapa da
minha garganta quando cruzo a linha de chegada.
Freio de forma bruta, puxo o freio de mão e o carro gira 360º.
Satisfação ecoa em meu peito e todo meu corpo está tremendo. Travis passa
por mim, ele ainda continua em alta velocidade, o que merda ele irá fazer?
Vejo-o passar por seus irmãos, ele irá embora? Não mesmo!
Acelero e vou atrás dele. Não demoro estar colada nele e há apenas
alguns centímetros entre nós dois. O idiota não dirige na direção da estrada,
ou seja, não está indo para casa. Ele entra em uma rua sem asfalto, uma que
leva à outra parte da rodovia, uma construção que nunca foi adiante, não há
nada a não ser terra e partes desmatadas.
Está tudo escuro, não há nenhuma iluminação, nada além dos faróis
dos nossos carros, a poeira ergue-se ao nosso redor enquanto seguimos em
frente.
O que Travis pretende? O que ele está fazendo aqui? Sempre foi seu
plano me trazer aqui? Raiva vibra em meu peito ao notar que tenho chances
de estar fazendo exatamente o que ele quer. Uma parte minha quer dar a
volta e retornar para a pista, porém, eu quero descobrir o que pretende, além
disso, quero olhar em seus olhos e dizer que eu venci a corrida.
Não importa qual seja o seu plano, no final, eu vou vencer!
A escuridão nos cerca, não há nada, nem sequer árvores, eles tiraram
a vegetação, há apenas um chão coberto de terra, é como se estivéssemos
em um deserto. Talvez uma outra garota ficasse com medo, mas não eu. A
escuridão mais me fascina do que me assombra.
Olho no velocímetro e estamos em 200 km/h, Travis é quem está
ditando o ritmo e é claro que o sigo de perto, de repente, seu carro está
girando pela pista, terra ergue-se à minha frente, levo meu pé ao freio e o
aperto até o fim, meu corpo é impulsionado para frente e o cinto me segura,
pressionando meu peito e, caralho, dói!
Seu carro para atravessado na pista, em um ângulo de 180º, eu paro a
alguns centímetros dele, se meu freio não fosse tão bom, teria colidido no
seu carro.
Apoio minhas costas contra o banco e respiro fundo. Droga, parar
bruscamente me deixou dolorida. Espero que não fique marcada. Tudo por
causa do idiota, olho em frente e estreito os olhos. Qual é o plano do
imbecil?
Ele deixa o carro, dá a volta e se senta no capô do carro. Que porra!
Abro a porta ao meu lado e pulo para fora. Há marcas dos nossos pneus
pela terra, denunciando o quanto usamos o freio de forma agressiva.
Não encaro o chão por muito tempo, porque meus olhos encontram
Travis, ele tem os braços cruzados e olha em frente. Agindo como se não
estivesse abalado. A cada passo em sua direção meu coração bate acelerado
em meu peito em uma mistura de raiva, expectativa e êxtase pela vitória.
Travis vira-se e olha em minha direção conforme me aproximo e,
pela luz que vem do seu farol, posso ver que está sorrindo.
— Eu sabia que você viria atrás de mim. — Soa arrogante.
— Lendo mentes, principezinho?
Deixo que o desdém escorra pela minha voz.
— Não, você que é previsível, princesa.
Provoca-me e a raiva em meu peito se intensifica. Mordo minha
bochecha e mantenho o meu semblante o mais inexpressivo possível, o
idiota não precisa saber que conseguiu me atingir.
— Como foi perder, Travis?
Ele não para de rir e seus olhos seguem desprovidos de emoção.
Odeio que seja impossível saber o que Travis está pensando. É sempre
como se tudo estivesse ok, como se nada fosse capaz de atingi-lo.
— Eu deixei você ganhar.
Eu paro na metade do caminho e sorrio com deboche.
— Essa é a desculpa que você está dando a si mesmo,
principezinho?
Ele dá de ombros.
— Essa é a verdade, Sophie, eu poderia tê-la ultrapassado se
quisesse.
Eu sei o que ele está tentando fazer. Travis está tentando me
desestabilizar, mas não irá conseguir. Sei exatamente do meu desempenho,
eu corro há cinco anos, entendo de corridas, é o meu mundo.
— Não, Travis, e nós dois sabemos disso. — Faço um biquinho com
meus lábios. — Você só está sendo um péssimo perdedor.
Travis e eu nos encaramos como se estivéssemos disputando uma
batalha, lutando por algo como dois leões e nenhum dos dois está disposto a
perder. O que ele irá ganhar se vencer? Não sei, mas não importa, desde que
no final a vitória seja minha.
— Eu deixei a garota vencer, não é isso que os bons garotos fazem?
— Nós dois sabemos que você não é um bom garoto, Travis.
Deus, eu amo provocá-lo, a raiva cedeu lugar à satisfação e um outro
sentimento, algo que não sei como explicar, uma mistura de êxtase, com
adrenalina e prazer.
— Eu me acho um ótimo garoto.
Por alguns segundos, ele baixa a guarda e seus olhos ganham um
brilho diferente, e eu reconheço os mesmos sentimentos que ocupam meu
interior.
— Você é tudo, menos um bom garoto, Travis.
— E você é só uma vadia, Sophie.
Mais uma vez, está tentando me provocar. Travis não cansa de usar
as mesmas artimanhas? Ele é quem está se tornando previsível! Eu olho ao
nosso redor com deboche.
— Aqui é um ótimo lugar para esconder um corpo.
Volto a encará-lo e caminho em sua direção, como um caçador
caminha na direção da sua presa.
— Ameaças e mais ameaças.
Zomba. É inacreditável como Travis consegue tirar o pior de mim!
Ele faz com que eu queira, realmente, cumprir tudo o que proponho.
— Você não deveria me provocar.
As palavras deixam minha boca, apesar de saber que são falsas
ameaças, lá no fundo, eu sei que não serei capaz de cumpri-las. Eu sou uma
farsa!
— Por que, princesa, o que você irá fazer?
Sussurra, mas somos apenas nós dois aqui, então parece que ele está
gritando. A cada passo meu, o espaço entre nós se torna menor e eu me
sinto mais presa a ele. Não há nada acontecendo ao nosso redor, mas,
mesmo se estivesse acontecendo algo, não seria capaz de me distrair.
— Não sei. — Finjo estar em dúvida, eu continuo me aproximando e
seu olhar me acompanha. — Talvez eu use a minha faca para arrancar seu
pau.
Eu o alcanço e agora estou à sua frente, os seus faróis nos iluminam
e, caralho, Travis fica tão bonito em meio à escuridão, ele parece tão
perigoso, com seus braços cruzados na frente do seu corpo, as tatuagens à
mostra, os músculos salientes, o olhar escuro e corte de cabelo militar.
Eu não tenho medo algum, pelo contrário, essa sua versão me
fascina, ele me atrai como um ímã. Continuo caminhando em frente e
centímetros nos separam. Não é mais a raiva que predomina em mim, a
luxúria duela com os sentimentos que ocupam o meu interior.
— Que cruel da sua parte, princesinha, é a melhor parte de mim.
Apenas nos encaramos por alguns segundos, como se um estivesse
prestes a sugar a alma do outro. Ele faz com que todo meu corpo entre em
alerta, a merda daquele beijo volta a me atormentar e posso sentir cada
célula do meu corpo despertando. Porra!
Não paro de dar passos em frente, não paro quando ele precisa
abaixar o rosto nem quando sinto a sua respiração contra meu rosto.
Nenhum dos dois está sorrindo mais.
— A melhor? — Soo debochada e seus olhos ficam ainda mais
escuros. — Tenho certeza que é a menor parte do seu corpo.
A tensão que ganha meu corpo é irritante, a ponto de eu esquecer do
que merda estamos falando e dos motivos pelos quais isso é uma péssima
ideia.
— Querendo conhecer meu pau, Sophie?
Sua voz é ainda mais grave do que o normal e rouca, como se ele
estivesse no seu limite.
— Essa é a desculpa que você irá usar?
Minha voz também não é nada normal. Eu nem quero entender o que
está acontecendo, nem quero pensar sobre. A razão não é o que me controla
no momento.
— Para quê?
Escutá-lo faz algo se contorcer dentro de mim, ao mesmo tempo que
um calor sobe pelo meu corpo. Lascívia me domina e assume o controle.
— Para me beijar.
Assim que a última palavra deixa minha boca, tenho as suas mãos
em minha cintura e seus lábios cobrindo os meus. Não há carinho, não há
delicadeza, é pura devassidão, erotismo. Sua língua pede passagem e eu
cedo, então tomamos a boca um do outro. É como se estivéssemos fodendo
em um beijo. Como isso é possível? Não faço nem ideia.
Deus, é melhor que o beijo anterior. É um beijo que me tira do eixo,
resultando em uma pontada direto na minha boceta, e tudo piora quando
suas mãos descem até minha bunda. Ele é bruto, aperta minha carne com
força, me esfrego contra Travis, procurando por mais.
Foda-se!
Levo as minhas mãos até seu ombro, passo-as em torno do seu
pescoço e me seguro nele. Minhas unhas arranham sua nuca e não me
importo de marcá-lo, aliás, algo em meu peito se sente realizado em deixá-
lo marcado.
Travis maldito Scott terá minhas marcas por todo seu corpo. Existe
maior vitória do que essa?! Essa é a mentira que eu conto para minha
consciência, para continuar beijando-o como se fosse o último beijo da
minha vida.
Sua boca se afasta apenas alguns centímetros, morde meu lábio
inferior, chupa-o e, caralho, uma onda de prazer ecoa até minha boceta, ela
pulsa, contraio meus músculos e aperto minhas pernas uma contra a outra.
Porra! Como meu corpo pode se sentir assim tão rápido? Eu estou
pronta para arrancar suas roupas, as minhas e obrigá-lo a me dar prazer.
Suas mãos sobem até o cós da minha calça, seus lábios se afastam
alguns centímetros, abro os olhos, eu nem lembro quando os fechei, e
encontro os seus, escuros e dilatados.
Mantenho-o encarando quando sugo seus lábios, vejo o prazer em
seu olhar enquanto sinto o gosto de cerveja. Excitação percorre meu corpo,
resultando em pontadas em minha boceta e em meus seios.
Caralho!
Travis segura minha cintura, sinto seus dedos mesmo através dos
tecidos. Seus olhos me consomem. Ele gira nossos corpos e me pressiona
contra seu carro. Ainda somos os mesmos, ainda nos odiamos, mas, no
momento, o que importa é acabar com o fogo que nos incendeia.
Sobe suas mãos levando o tecido da minha blusa junto, toca-me e
meu corpo se arrepia com o contato pele a pele. Continuamos nos
encarando e, a cada segundo, é mais insuportável.
Travis perde a paciência e o controle, puxa minha blusa, ergo minhas
mãos para o alto e ele joga a peça de roupa ao nosso lado, nenhum de nós se
importa onde ela foi parar.
Respiro fundo enquanto vejo seu pomo de adão descer e subir em
sua garganta. Ele abaixa seus olhos e se depara com meus seios sustentados
pelo sutiã. A peça íntima é rendada e preta, minha respiração está
totalmente irregular e ele encara os meus mamilos como se estivesse
encarando uma obra de arte.
Eu me sinto a porra de uma deusa! Linda! Uma rainha.
Eu não o paro quando ele traz suas mãos até o meio das minhas
costas e abre meu sutiã. Mantenho meus olhos nos seus enquanto abaixa as
alças da peça íntima e a tira do meu corpo.
Anseio por ver sua reação e ele não me desaponta. Ergue seus olhos
ao se deparar com meus piercings na ponta dos bicos dos meus seios, ele
não os sentiu da outra vez e agora me encara surpreso. Aos poucos, a
surpresa cede para algo mais poderoso, mais erótico. Travis me encara
como se eu estivesse deixando-o maluco.
— Lindos acessórios, princesa.
A sua voz segue me deixando excitada. Suas mãos voltam a tocar
minha cintura, coloca-me sentada sobre o carro e seus dedos se arrastam
para cima. Seu olhar continua me devorando, sorri triunfante, ergo as
sobrancelhas e, então, seus dedos encontram meus piercings e puxa-os,
fazendo com que fique totalmente estremecida.
Merda, merda, merda! Suspiro, mas não grito, nem deixo que o
gemido que está preso em minha garganta escape dos meus lábios. Não vou
dar essa vitória para Travis.
— Você quer gritar, princesa?
Belisca meus seios e mordo minha bochecha. Travis sorri travesso,
abaixa seu rosto e encosta seus lábios na lateral da minha mandíbula.
— Você pode se segurar o quanto quiser, mas eu sei o que o seu
corpo quer… do que ele precisa. — Volta a torcer a ponta dos meus
mamilos. — E eu sei o que eu estou causando em você.
Sussurra contra minha pele. Sua mão esquerda aperta por completo
meu seio enquanto com a direita segue brincando com o meu piercing.
Espalmo minhas mãos no carro. Travis não para, ele não me dá sossego, a
tensão aumenta, é como se, a cada segundo, recebesse uma carga de
eletricidade.
— Porra, Travis.
Fecho os olhos e deixo que o desejo vença a batalha.
— Porra, Travis, continua? — Ele para por alguns segundos e é uma
droga. — Porra, Travis, está doendo?
— Porra, Travis, continua!
Assim que a última palavra deixa meus lábios, sua boca encontra
meu seio. Merda! Ele o chupa com vontade, seus dentes arranham minha
pele, causando pontadas diretamente no meio das minhas pernas. Contraio
minha boceta, mas não é o suficiente.
É como se eu estivesse prestes a entrar em combustão, inclino-me
para trás e facilito o seu acesso ao meu corpo. Sua boca me leva a um
estado em que é difícil de respirar ou me concentrar em qualquer outra
coisa. Tudo que consigo pensar é no prazer que invade meu corpo.
Sua língua toca minha pele enquanto leva suas mãos até minhas
pernas, desce-as até tirar minhas botas, então volta a subir os seus dedos
pelas minhas pernas e seus lábios pela minha pele. Distribui beijos pela
minha barriga, seios, clavícula, e só para quando tem sua boca a centímetros
da minha orelha.
— O que você quer, princesa?
Sussurra, o que me deixa arrepiada e, como se não bastasse, sua mão
abre o zíper da minha calça. Caralho, eu estou prestes a entrar em
combustão. Preciso que ele extermine com a dor que está me causando,
com a necessidade que vibra entre minhas pernas.
Não importa quem está me fazendo a pergunta, não importa quem
ele é, nem os sentimentos que temos um pelo outro, tudo que eu sei é que
preciso dele dentro de mim, possuindo cada parte de mim.
— Eu quero você.
Amor, você não percebe que estou chamando?
Um cara como você deveria usar um aviso
É perigoso
Toxic (Britney Spears)

Travis
Suas palavras são como música para os meus ouvidos, tudo que eu
precisava escutar e não tem nada a ver com nossa rivalidade, tem tudo a ver
com a minha necessidade, eu preciso tê-la, tomar dela o máximo que eu
conseguir.
Ela é o que eu preciso! Eu me sinto a porra de um viciado!
É uma mistura de tesão e adrenalina, se eu não a tiver, algo em mim
irá surtar, perder a direção e o sentido.
Eu me sinto totalmente descontrolado. Levo minha boca até a sua e
possuo seus lábios. Devoro-os, tomo-os para mim, uso-os como se fossem
minha cura, um antídoto para acalmar a explosão que está acontecendo em
meu interior.
Minhas mãos sobem pela sua barriga, toco seus seios. Deus, eu estou
viciado neles. Essas porcarias de piercings são a coisa mais sexy que eu já
vi na vida. São perfeitos e do tamanho exato das minhas mãos, é como se
eles tivessem sido feitos para mim!
Não preciso de delicadeza, Sophie é como eu, ela ama a intensidade,
a dor, ela é selvagem. Ela está me deixando alucinado, maluco. Ainda com
minha boca na sua, tiro-a do meu carro e a deixo em pé à minha frente.
Desço minhas mãos até o cós da sua calça e a empurro para baixo.
Um gemido escapa dos seus lábios assim que afasto minha boca da
sua. Sorrio, abro meus olhos e me abaixo rapidamente para tirar a calça
preta do seu corpo, jogo-a para longe e me curvo para frente até estar com
meu rosto a centímetros da sua calcinha.
Ela está tão molhada que há uma mancha no tecido. Encharcada,
porque eu a deixei assim. Toco-a com meu nariz e deixo um beijo na lateral
da sua coxa.
— Travis.
O meu nome sai da sua boca, sua voz totalmente alterada afeta
diretamente a minha ereção. Eu poderia fazê-la gritar a noite inteira. Ergo
minha mão, acaricio sua cintura, mordo sua pele e ela volta a gemer. Meu
pau pulsa em minha cueca.
Enrolo o tecido ao redor dos meus dedos e o rasgo, então descarto-o
no chão ao meu lado e ergo sua perna até estar em meu ombro, facilitando o
caminho entre a minha boca e a sua boceta.
Toco-a com minha língua, sentindo seu gosto e acariciando de leve.
Porra! Eu estou de joelhos para Sophie e me sentindo a porra de um deus.
Um deus adorando a sua deusa.
Meus dedos se juntam com a minha boca, abro-a e a deixo à minha
mercê. Encontro seu clitóris e o chupo como se fosse meu doce preferido.
Os gemidos que saem pela sua boca se intensificam e ecoam pela noite.
Caralho!
Eu a fodo como se estivesse com meu pau, ela traz sua mão até
minha cabeça e me pressiona contra ela, além de rebolar em meus lábios.
Aperto sua coxa e não ligo se a deixarei marcada.
— Porra, Travis.
Como é excitante ouvi-la me chamando, nunca fiquei tão excitado
com garotas gritando meu nome, mas com Sophie é diferente, porque ela
me odeia e, mesmo assim, sou capaz de fazer com que ela esqueça de tudo,
inclusive do quanto me despreza.
É ainda mais arrebatador saber que estamos fazendo isso no meio do
nada, ao ar livre, poderíamos passar a noite inteira aqui e não seríamos
pegos por ninguém.
O mundo é inteiro nosso!
Chupo seu clitóris, penetro-a com meus dedos, ela puxa meus
cabelos, seus gritos ecoam pela noite e posso senti-la contraindo sua boceta.
Ela não irá demorar a gozar e é por esse motivo que afasto a sua perna do
meu ombro e fico em pé.
— Que merda você pensa que está fazendo, Travis?
Inclino-me em sua direção e meus lábios ficam a centímetros dos
seus.
— Você não irá gozar na minha boca, princesa, vai gozar no meu
pau.
Seus olhos estão mais escuros que o normal, nublados pela luxúria e,
quando a encaro, vejo que ela está quase implorando para que a foda. Prazer
se espalha em meu peito e eu me sinto como um adolescente prestes a
perder o rumo.
Sophie ajeita-se ficando com as costas completamente eretas e suas
mãos descem até a barra da minha camiseta, seus olhos continuam presos
aos meus enquanto puxa o tecido para cima e o joga no chão.
Sorrio quando ela encara meu abdômen e seus olhos brilham, é claro
que ela gostou do que encontrou. Meus músculos salientes por conta do
futebol e da academia.
— Ser um atleta tem suas vantagens.
Provoco-a e ela sorri, é um sorriso debochado, mas é totalmente
diferente de todos os seus sorrisos que já recebi. E, caralho, ela fica linda
sorrindo assim, mais iluminada, e eles são tão raros que quero gravá-los em
minha memória.
— Você calado é um poeta. — Toca meus ombros e desce suas mãos
até meus mamilos, ela os belisca e prendo a respiração. — Ou melhor, você
usa sua língua de maneiras mais prazerosas, então fica caladinho."
Sussurra, uma corrente de prazer vibra pelo meu corpo e sinto meu
pau pulsando cada vez mais. Suas mãos em minha pele fazem o calor
aumentar, além disso, me sinto formigando.
Eu preciso dessa garota!
— Vou me lembrar disso, princesa.
Mantenho meu olhar fixo no seu, mesmo quando ela torce meu
mamilo de novo. Por alguns segundos, perco minha mente, esqueço-me de
onde estou e preciso me segurar para simplesmente não baixar minhas
calças e preenchê-la como um animal.
Sophie continua descendo suas mãos até tê-las no cós da minha
calça, prendo minha respiração enquanto ela abre o botão e desce o zíper.
Curvo-me em sua direção e aproximo minha boca da sua orelha.
— Seus piercings combinam com o meu prince albert.
Sinto a surpresa na sua postura, sorrio e mordo o lóbulo da sua
orelha.
— Você tem um… piercing no pau?
A voz dela falha e meu sorriso amplia.
— Consegui te surpreender, princesinha?
Leva suas mãos até minha bunda, aperta-a e empurra a calça para
baixo.
— Colocou um piercing para compensar o tamanho pequeno?
É claro que ela precisaria me provocar, então mordo seu pescoço a
ponto dela se inclinar para o lado e tentar se esquivar, embora ela faça isso,
consigo ver seu corpo se arrepiar.
— Porra, Travis.
— Não finja que você não gostou.
Dou um passo para trás e meu olhar percorre o seu corpo. Ela está
nua, seus seios intumescidos, seu cabelo solto e uma bagunça, e inclinada
no meu carro.
A puta de uma visão!
Tiro meu tênis, levo minha mão até o bolso traseiro, pego minha
carteira e puxo a camisinha, entrego-a para Sophie, tiro a minha calça e a
cueca. Ela encara meu pau, eu o toco, desço e subo meus dedos pela minha
ereção.
A excitação, a luxúria e o prazer dominam cada célula do meu
corpo. Nada importa! Não existe porra de ódio nenhum, nem raiva, nem
trégua… nada me fará parar.
Volto a me aproximar, não trocamos palavra nenhuma, ela abre a
embalagem da camisinha e traz seus dedos até meu pau. É o suficiente para
que eu fique ainda mais duro, estou sentindo dor e quero gozar. Eu estou
pronto!
Beijo seu pescoço e ela coloca a camisinha ao redor do meu pau.
Seguro sua coxa, continuo distribuindo beijos pela sua pele. É como se
existisse uma fogueira em meu peito e ela estivesse me queimando por
completo.
Espalmo minhas mãos no carro, encaro-a e deixo meus lábios a
centímetros dos seus.
— Você irá me foder ou não, principezinho?
Ela está me desafiando! E aqui está o vestígio do nosso ódio e da
nossa raiva. Eu ainda a odeio, ela me odeia, mas vamos descontar todo o
desprezo que sentimos um pelo outro no sexo.
— Você é uma vadia.
Ela ri e enlaça suas pernas ao redor da minha cintura.
— E você, um idiota perdedor.
Levo minha mão até meu pau.
— Um idiota que irá te comer, princesa.
Guio-o até a sua boceta, continuamos com o olhar fixo um no outro
e a penetro. Nós dois suspiramos quando a preencho por completo. Porra,
sua boceta me aperta e não me seguro.
Minhas mãos apertam sua coxa, meu pau entra e sai da sua boceta.
As ondas de prazer percorrem meu corpo, ganhando espaço e me tomando
por completo. Eu me sinto na porra de um paraíso!
Meus dedos marcam sua pele, reclino-me e cubro seu pescoço com
meus lábios. Arrasto meus dentes pela sua pele. Ela continua gemendo e os
meus próprios gemidos deixam a minha boca, misturando-se aos dela e
ganhando a noite escura e silenciosa como espectadora.
Desço minha boca até seus peitos, puxo e brinco com os piercings
enquanto continuo a fodendo e sua boceta me aperta cada vez mais. Marco
sua pele com chupões e me recordo da maneira que nos odiamos.
— Vou marcar sua pele, Sophie. — Mordo com mais força e ela se
segura em meus ombros. — Você vai se olhar no espelho e irá relembrar
que eu te fodi.
Fodo-a com força, penetro-a com um ritmo ainda mais acelerado e
dou um tapa na lateral da sua coxa. O prazer que vibra dentro de mim ao ter
noção de que eu a estou fodendo é sensacional, eu que estou dentro da sua
boceta, é o meu pau que ela está engolindo.
— Cala a boca, Travis.
Grita e em seguida um gemido escapa dos seus lábios. Sophie rebola
e se impulsiona na minha direção. Ela está tão faminta quanto eu. Arranha
meus ombros, minha nuca, minhas costas. Faz com que os arranhões doam,
mas isso aumenta ainda mais o prazer.
Intensifico o ritmo, preencho-a por completo, não paro de beijá-la,
continuo chupando, mordendo, dando tapas na lateral das suas pernas,
marcando seu corpo e tomando o máximo possível de Sophie.
Mesmo com a camisinha, meu piercing toca em partes da sua boceta
que faz nós dois gritarmos, misturamos o ódio e a nossa intensidade,
deixamos isso nos dominar, é como se estivéssemos consumindo um ao
outro.
Tudo some da minha mente, só me resta o desejo e ansiedade por
fazê-la gozar para que eu possa gozar. Eu preciso tanto, ela é a minha droga,
o meu vício.
Não paro, ela pede por mais, vê-la implorar me deixa ainda mais
alucinado. Eu continuo acelerando, a cada estocada nos levo ao limite e sei
exatamente o momento que o orgasmo se apossa do seu corpo, inclina-se
para trás, contrai sua boceta, grita e, quando olho para cima, tem uma
expressão de prazer em seu rosto.
Porra, espero que eu consiga me lembrar dessa cena. Eu registro
cada detalhe em minha mente, repasso-a inúmeras vezes na minha cabeça.
Continuo penetrando-a até sentir o prazer regendo meu corpo,
dominando cada célula minha, fazendo com que tudo que eu sinta seja
satisfação, então é como se uma explosão acontecesse em meu interior.
Fecho os olhos e espalmo as mãos em meu carro enquanto espasmos
dominam o meu corpo.
Esse, com certeza, foi um dos melhores sexos da minha vida e foi
com a garota que eu mais odeio. Porra, por que a vida tem que ser tão
irônica?
Aos poucos, volto a mim, recobro meu controle, então respiro fundo
e sigo de olhos fechados, eu sei que quando abri-los tudo será um caos.
— Eu que fiz você gozar, princesa.
É claro que eu inicio o caos e, no mesmo instante, suas pernas
deixam minha cintura e Sophie me empurra. Abro os olhos e dou um passo
para trás. Sophie está com a aparência de quem foi fodida, muito bem
fodida, há marcas por todo seu corpo, o que, é claro, me faz sorrir.
— Você não será capaz de esquecer o que nós fizemos tão cedo,
Sophie. — Ela me encara com raiva. — Você tem marcas por todo seu
corpo.
— Você é um péssimo perdedor.
Pula do carro.
— Você acha que eu te trouxe aqui por isso?
Ela ri.
— Não foi? Você queria vencer de alguma forma e essa foi a
maneira que encontrou de se vangloriar.
Aponta seu dedo em minha direção e eu dou de ombros, embora essa
não seja a verdade, eu a trouxe aqui apenas para provar que ela iria me
seguir, esse era o ponto, mas gosto que ela pense que meu plano sempre
tenha sido transar com ela. Talvez isso me ajude a conquistá-la de alguma
forma.
Eu fico em silêncio e ela bufa irritada. Ela está linda, nua, com raiva
e com as marcas que eu fiz em seu corpo
— Isso nunca deveria ter acontecido.
Esbraveja enquanto abaixa-se e pega suas roupas no chão.
— Mas aconteceu… — Ela volta a ficar em pé, eu me aproximo até
estar com meu peito contra suas costas. — E aposto que você ficará dias
relembrando o quanto te fodi em cima do meu carro.
— Espero que toda vez que você olhe para ele se recorde que nunca
mais me terá.
Resmunga e se vira, ficando de frente para mim. Ela está sorrindo e
ergo as sobrancelhas, o que a fez ficar tão alegre de repente? Sei qual é a
resposta quando sinto a sua maldita faca contra meu pau. — Eu deveria
cortar seu pau e deixá-lo em exposição.
Engulo em seco diante da imagem que surge em minha mente. A
sorte é que ela não tem coragem, pelo menos, espero que não tenha.
— Querendo roubá-lo porque se apaixonou por ele?
É óbvio que não ficaria calado para a princesinha marrenta.
— É a única coisa que presta em você, Travis. — Sinto a lâmina
gelada e prendo a respiração, mesmo sabendo que ela é inofensiva, meu
corpo reage no automático. — Mas o que ele sabe fazer, qualquer vibrador
faz.
Sophie dá um passo para trás, leva junto consigo a faca e volto a
respirar. Encara-me uma última vez e, ainda sorrindo, vira-se, caminhando
na direção do seu carro. Ela está nua e segurando as suas roupas. Rebola e
me concentro na sua bunda. Gostosa pra caralho!
— Quem venceu fui eu, Travis.
Grita enquanto entra em seu carro.
De que merda ela está falando? Sophie dá a ré, faz a volta e,
enquanto dirige para longe, abre a janela e balança algo de um lado para o
outro, um tecido, uma peça de roupa e a reconheço. Droga, é a minha
cueca! Olho para o chão e, merda, ela levou minhas roupas com ela.
Tô tentando te deixar no pior mau humor possível, ah
Uma P1 mais limpa que seu sapato de ir à igreja, ah
Um milhão e duzentos mil dólares só pra te machucar, ah
Lamborghini toda vermelha só pra te provocar, ah
Nenhum desses brinquedos foram pagos com empréstimo, ah
Starboy - feat. Daft Punk (The Weeknd)

Travis
O pior é que ela levou consigo minha chave, meu celular e minha
carteira. Porra!
— Maldita. — Dou a volta no carro, abro a porta e me sento atrás da
direção. — Vadia, filha de puta, escrota do caralho…
Uso todos os palavrões que eu conheço para me referir à Sophie.
Apesar dos acontecimentos, a raiva não predomina meus sentimentos, eu
nem consigo odiá-la como deveria.
— Porra.
Isso é culpa do meu maldito pau, da sua boceta e daqueles malditos
piercings. A imagem dela nua sobre meu carro não sai da minha mente e é
claro que resulta diretamente no meu pau.
Droga, não é o momento de ter uma ereção! Preciso focar que ela
levou minhas coisas embora e me deixou aqui sem nada. Mesmo tentando,
a cena não deixa a minha cabeça, fica se repetindo a todo instante, como se
estivesse em um loop infinito.
— Merda!
Curvo-me para o lado e pego a chave reserva no porta-luvas.
Endireito-me e ligo o carro. É muito vergonhoso dirigir pelado, minha sorte
são as películas serem escuras, mesmo assim, eu sei que estou sem
nenhuma roupa e não é uma experiência que pretendia viver na vida.
Eu deveria querer matar Sophie, colocando-a na listinha de pessoas
que mais odeio no mundo, porém, não consigo e isso está me deixando com
raiva de mim mesmo. Caralho!
Dou a volta e dirijo para longe da pista abandonada, a falta de asfalto
faz com que a poeira se erga ao redor carro, droga, ele ficará extremamente
sujo.
Não há nenhum tipo de iluminação além da lua, então desligo os
faróis. Eu fico em um breu por completo. Sorrio e piso no acelerador. Sinto
a adrenalina pulsar em minhas veias. Não existe nenhum perigo, mas posso
fingir que sim.
A euforia se mistura com as minhas emoções e criam uma tensão
estranha, um sentimento novo. É como se eu estivesse alucinado, como se
eu tivesse realmente usado alguma droga.
Vejo o velocímetro atingir seu máximo, empolgação vibra em meu
peito e as imagens da noite ainda ecoam em minha mente. O gosto dos seus
lábios, a expressão em seu rosto, a maneira como seu corpo reagiu ao meu.
Eu nem tento esquecê-la, porque não conseguiria, seria apenas um
tempo perdido. Permito que Sophie ocupe cada espaço da minha mente, por
alguns segundos eu deixo que ela me domine.
A culpa por estar pensando nela me corrói, mas, porra, eu vou fazer
o quê? Não há nada que eu possa fazer, então, enquanto acelero, não
consigo esquecê-la e uma parte em mim deseja fodê-la outra vez. Eu estou
fodido, porque isso, definitivamente, não irá ocorrer outra vez!
O que aconteceu hoje é o tipo de fenômeno que só ocorre uma vez
na vida e fica para sempre na memória… minha consciência acusa. Merda!
Acelero, voo pela pista de chão batido, faço a poeira tomar conta da
noite e só paro quando adentro na rodovia principal e ativa. Aqui não posso
continuar correndo e nem ficar com os faróis desligados.
Sou obrigado a afastar meu pé do acelerador e me obrigo a empurrar
Sophie para o fundo da minha mente. Ela não pode continuar me
perturbando! Foi apenas sexo e sexo eu posso ter com qualquer garota.
Como não posso voltar para o local da corrida, dirijo para casa. É de
madrugada e não preciso respeitar o limite da via, mesmo assim, estou
longe de estar acelerando como gostaria.
Conforme avanço, a excitação aos poucos vai me deixando, o caos
em meu interior se normaliza, o mais normal possível, restam apenas minha
consciência e razão, chega de ser dominado pela emoção e pelo meu pau.
O que eu estava pensando quando decidi me enfiar no meio do nada
com Sophie?
Parecia uma ideia incrível, ela foi melhor do que eu na corrida,
chegou em primeiro lugar, mas eu não precisava perder, não totalmente. Eu
sabia que ela iria me seguir e iria provar um ponto, que ela é previsível e
manipulável. Provaria que sou capaz de manipulá-la.
Sophie me seguiu como planejei e os próximos passos era provocá-
la. Eu sabia que ela tentaria zombar de mim e meu objetivo era respondê-la
com piadinhas, era fingir que não me importava com a derrota, talvez ela
me ameaçasse com sua faca e eu a beijasse outra vez, quem sabe teria, de
novo, minhas mãos em seu corpo e a faria implorar por mais, mas não iria
adiante, nós dois trocaríamos ofensas e ela iria embora furiosa.
Meu plano era fazê-la perder o controle, porém, quem perdeu o
controle fui eu.
Eu não consegui parar nem consegui me afastar. Como faria isso?
Sophie é como uma deusa, ainda mais com aqueles malditos piercings.
Foda-se. Qualquer um perderia o controle se estivesse diante dela, eu
precisaria ser um santo para não ir adiante, e sou tudo, menos um santo.
Quantas vezes eu perdi em uma única noite? Não consigo nem
chegar a um número. Caralho!
Eu queria derrotá-la, mas acabei sem controle e totalmente
entregue… em certo momento, me perdi, esqueci do meu ódio por Sophie.
Puta que pariu, eu não lembrava nem dos motivos de odiá-la. E, em certo
momento, precisei me forçar a lembrar de quem ela é e o que realmente
representamos um para o outro.
Finalizei a noite sem controle, sem roupa, sem celular e sem
dinheiro.
E agora eu preciso me vingar, além de cumprir a promessa que fiz a
minha irmã, preciso conquistá-la, fazê-la se apaixonar por mim e quebrar
seu coração. É questão de honra!
Meu estado é deplorável e não acredito que deixei uma garota fazer
isso comigo, pior, não consigo assimilar que deixei Sophie fazer comigo.
Além de tudo, é horrível dirigir sem roupa, amo meu pau, mas é
estranho esbarrar com ele toda vez que preciso trocar de marcha.
Vou fazer Sophie me pagar, custe o que custar!
E como tudo que está ruim, pode piorar, estou quase chegando à
cidade quando encaro o painel e me dou conta de algo. Minha gasolina está
acabando, nunca deixo o carro na reserva, hoje foi uma exceção, deixei para
passar em um posto depois da corrida e eu tinha me esquecido
completamente disso.
Faço as contas mentalmente e não vou conseguir chegar até em casa.
Porra, eu preciso abastecer. Eu estou sem dinheiro, sem telefone e pelado.
O que eu vou fazer? Merda, não acredito que isso está acontecendo.
Caralho!
Saio da rodovia, entro, de fato, na cidade e dirijo em direção ao
centro. Até onde será que eu chego? Não muito longe, então paro no
acostamento e olho ao redor, como se uma solução fosse surgir do nada.
Nada acontece, nenhum galão com gasolina brota na minha frente.
Passo as mãos pelo cabelo, irritado.
— Vadia infernal.
Uma vadia que amei foder — minha consciência acusa e soco o
painel do carro. Eu nem fumo, mas preciso de um cigarro, ou de uma
bebida muito forte.
O que eu preciso é resolver essa maldita situação. E se abandonar
meu carro aqui e simplesmente seguir a pé para casa? Péssima ideia, estou
longe, Hanover pode ser uma cidade pequena, mas é uma cidade
universitária, sempre há jovens pelas ruas, existe a possibilidade de
encontrar alguém e eu amo demais meu carro para deixá-lo aqui, é uma
cidade segura, mas não é bom arriscar.
E se encontrar alguém, abaixar o vidro e pedir o celular emprestado?
Poderei ligar para um dos meus irmãos. Provavelmente, a essa hora, a
pessoa irá acreditar que estou querendo assaltá-la.
Apoio a cabeça contra o banco e continuo procurando uma saída.
Existe um posto de gasolina logo no quarteirão seguinte e eu consigo
chegar até lá, só tenho alguns problemas, eu preciso descer para abastecer,
mas eu estou pelado e sem dinheiro, como vou fazer isso?
Há uma conveniência 24 horas no posto, eu posso ir até o
estabelecimento e pedir o celular emprestado para o atendente, então posso
ligar para Trevor ou Hailey. É uma péssima saída, mas não há outra.
Procuro dentro do carro alguma peça de roupa e não encontro
nenhuma. Eu tirei todas as roupas que estavam no carro hoje depois do
treino, nunca pensei que poderia precisar delas.
Viro-me e tento encontrar alguma coisa para que possa, pelo menos,
cobrir meu pau, tudo que encontro é um caderno. Não é possível! Um
caderno que não é meu, ele é de Hailey, rosa, brilhoso e com coração
enorme na capa.
Olho para o teto e passo os dedos pelos meus cabelos mais uma vez.
O que eu fiz para deixar o universo furioso dessa forma? Ok, nem sempre
fui um bom menino… Droga, eu nunca sou um bom garoto, mas eu tenho
minhas razões.
Volto a encarar o caderno e suspiro. Realmente, não há outra
alternativa? Penso alguns segundos e chego à conclusão que não. Eu vou
precisar me humilhar dessa forma, então viro-me e pego o caderno que
Hailey esqueceu semana passada quando lhe dei uma carona para
faculdade no banco de trás, em seguida, volto ao meu lugar e escondo meu
pau.
Cubro o meu pau com um caderno rosa, com glitter e um coração
enorme. Porra, isso é um vexame!
Eu consigo chegar ao posto, estaciono e respiro fundo. Não acredito
que estou prestes a fazer isso! Pelo menos não há nenhum outro carro e o
lugar está praticamente vazio.
Crio coragem e abro a porta. Merda, merda! Eu saio do carro, seguro
o caderno na frente do meu pau e olho ao redor, não há ninguém por perto,
então corro na direção da conveniência.
Sinto o vento contra minha bunda e não é algo confortável, acabei de
transar ao ar livre? Acabei, mas eu estava concentrado em outras coisas
para perceber o vento na minha bunda, além disso, minhas bolas e meu pau
estão batendo contra minha pele.
Eu me sinto humilhado!
Empurro a porta de vidro e entro rapidamente na conveniência. O
atendente é, na realidade, uma garota que abre a boca e me encara
assustada.
— Não grite, eu juro que não sou um tarado. — Ela fecha a boca,
mas continua me encarando com medo. — Eu perdi minha carteira, meu
celular e meu carro está sem gasolina, eu preciso de um celular ou de um
telefone fixo para ligar para os meus irmãos.
Sorrio, o sorriso que sei que é capaz de deixar a maioria das garotas
da faculdade aos meus pés e vejo a expressão em seu rosto suavizar. Sou
um miserável? Sim, mas um miserável gostoso.
— Sou inofensivo, juro. — Pisco em sua direção e ela cora. Sou
mesmo incrível. — Apenas aconteceu um imprevisto.
Ela desce seu olhar pelo meu corpo, seu rosto fica ainda mais
vermelho, mas sei pelo brilho em seus olhos que gosta do que está vendo.
— Qual seu nome?
— Elena.
Eu me aproximo do balcão.
— Prazer, Elena, eu sou Travis, você irá me ajudar?
Ela assente e, rapidamente, pega seu celular e me entrega. Respiro
aliviado enquanto disco o número de Hailey, minha irmã não atende.
Droga, qual o problema do universo comigo hoje?
Eu tento outra vez e nada, então ligo para Trevor e meu irmão
finalmente aceita a chamada.
— Quem é?
Meu irmão é sempre tão educado.
— Trevor.
— Travis?
— Até que enfim.
Comemoro.
— Por que você está me ligando de um número que nunca me ligou
antes? Você se meteu em alguma encrenca?
Apesar de ser a primeira vez que eu ligo para Trevor de um número
desconhecido, não é a primeira vez que ele precisa me resgatar de alguma
encrenca, assim como eu já o salvei algumas vezes.
— Encrenca não é exatamente a palavra certa...
— Merda, o que você precisa?
É claro que irá me socorrer!
— Eu preciso que você venha me salvar, eu estou no posto da rua
12.
— Ok, eu estou indo.
Ele encerra a ligação. Finalmente, a minha má sorte da noite foi
embora. Entrego o celular para Elena e converso com ela por alguns
segundos. Ela não está mais vermelha, inclusive passa a me seguir nas redes
sociais e, quando me despeço dela, recebo um guardanapo com seu número.
Abro a porta da conveniência, dou um passo para fora e é quando me
dou conta de que não estou mais sozinho no local. Dois caras estão
caminhando em direção à entrada do estabelecimento, ou seja, na minha
direção e os reconheço, eles são jogadores de basquete do time de
Dartmouth.
Porra, minha má sorte ainda não chegou ao fim!
Não dá tempo de correr de volta para dentro e me esconder. Eu vou
precisar encará-los, seguro o caderno com mais força, como se isso fosse
me proteger e sigo em frente. Talvez eles não me reconheçam, já sei, vou
fingir que não os conheço.
— Hey, QB?
Escuto a voz do mais baixo quando cruzo por eles. É claro que eles
me reconhecem! Forço um sorriso, dou um passo para trás e fico de frente
para os garotos.
— Hey.
Ergo minha mão livre e aceno. Eles descem o olhar pelo meu corpo,
analisando-me e preciso me segurar para não me encolher, nem sair
correndo. Isso só pode ser praga da Sophie!
— Aconteceu algo com você?
O mais alto pergunta preocupado enquanto volta a encarar o meu
rosto.
— Está tudo bem? Você foi assaltado?
O mais baixo questiona e engulo em seco, como vou dizer que a
garota que eu odeio roubou minhas roupas depois que nós fizemos sexo?
Não vou dizer, é claro.
— Um pequeno imprevisto.
Forço um sorriso.
— Você precisa de algo?
O mais alto continua soando preocupado. Devo estar mesmo
deplorável!
— Não, obrigado, tudo já se resolveu, está tudo bem.
Eles assentem e aponto para o meu carro.
— Preciso ir.
— Claro, foi ótimo encontrar você.
O mais alto soa simpático.
— Conversamos uma outra hora.
Respondo-o com uma falsa empolgação e dou um passo à frente,
eles acenam para mim e, o mais depressa possível, caminho para o meu
carro. Droga, eu nem sei o nome deles e eles estão vendo a minha bunda.
Abro a porta, mas não entro, porque Trevor para o carro ao meu
lado, volto a fechá-la e suspiro aliviado. Viro-me e me apoio contra ela.
Trevor e Hailey deixam o carro e os dois me encaram com curiosidade.
— Esse é o meu caderno.
Hailey não se controla e seus lábios se curvam em um sorriso.
— Eu achei que iria encontrá-lo em uma briga, machucado ou algo
do tipo, mas te encontro nu, com um caderno rosa e cheio de glitter na
frente do seu pau.
Trevor zomba e reviro os olhos.
— Idiota, pare de rir e me ajude. — Ergue as sobrancelhas. —
Abasteça a porra do meu carro, porque estou sem dinheiro, sem celular, sem
roupa e sem gasolina.
— Você foi assaltado?
Trevor pergunta enquanto dá a volta e liga a mangueira da gasolina
no meu carro.
— Não, mas estou começando a achar que era melhor ter sido
assaltado.
Hailey me encara com curiosidade.
— Para onde você foi depois da corrida? Você não nos respondeu…
— Uma ruga surge em sua testa. — Sophie te seguiu, ela estava com você?
É claro que minha irmã ligou os pontos.
— Sim, ela estava.
— E ela te deixou assim?
Trevor pergunta com deboche e eu aceno que sim.
— E o que você irá fazer?
Hailey me questiona com malícia e eu sorrio.
— Eu vou me vingar.
Talvez eu seja o melhor erro que você já teve
Você fica tão linda quando diz meu nome
Estou orando a um Deus, um Deus que não acredito
Quanto mais eu escondo minhas cicatrizes, mais fácil eu sangro
@ my worst (blackbear)

Sophie
Entro no meu carro, jogo minhas coisas e as de Travis no banco ao
lado, e dirijo para longe. Eu me encontro agitada, com meu corpo inteiro
desperto e excitado. É como se uma corrente elétrica estivesse passando por
mim.
Preciso urgentemente de distância dele e do que acabou de
acontecer. Isso nunca deveria ter ocorrido. Porra! Eu fui fraca e uma tola!
Apesar de tudo, não consigo sentir raiva, nem de mim e nem de Travis.
Estou no automático.
Eu saio da estrada de chão e chego à rodovia. Não há nenhum
movimento, então paro no acostamento, apoio-me contra o banco e respiro
fundo. O que merda acabou de acontecer? Como me permiti perder o
controle dessa forma?
Não existem explicações. Porra! Olho para baixo e estou nua, as
lâmpadas nos postes e meus faróis ligados são a única iluminação, porém é
o suficiente para que eu veja as marcas em minha pele.
— Puta merda!
Preciso me cobrir! Fingir que nada aconteceu ou pelo menos tentar.
Olho para o lado e encaro as minhas e as suas roupas, vestir minha calça
será péssimo e estou sem calcinha para vestir apenas a minha blusa. A
camisa de Travis chama minha atenção, ela é grande o suficiente para tapar
a minha bunda. Não penso sobre o que estou fazendo, simplesmente pego a
camisa e visto-a, realmente, ela me cobre o suficiente.
Foda-se!
Seu maldito cheiro me cerca e suspiro. Por que ele tem que ser
gostoso, bonito e cheiroso? Nunca deveria ter vestido uma roupa sua, é uma
péssima ideia, mas é o que eu tenho no momento, não fico pensando muito
sobre isso e volto a ligar o carro.
Dirijo para casa, tento clarear minha mente, esquecer da merda que
fizemos, tento fingir que nada aconteceu, porém é impossível, eu falho
miseravelmente. Os últimos acontecimentos seguem ecoando em minha
cabeça e causando um caos em meu interior, meus sentimentos e minhas
emoções são uma bagunça.
Eu transei com o idiota do Travis Scott. Como pude deixar isso
acontecer? Meu Deus, o que eu tenho na cabeça? Deveria zombar, rir da
cara dele, provocá-lo, não acabar sendo fodida por ele.
Não deveria ter ido atrás dele, por que fui trouxa o suficiente para
segui-lo? Eu caí na sua armadilha, no seu joguinho… se arrependimento
matasse, eu estaria morta. Caralho, eu sou uma otária.
O pior? Meu corpo está dolorido e encontra-se formigando, em
êxtase. Eu o sinto por toda parte e não posso fingir que não gostei, eu amei
tudo que fizemos, adorei como ele fez eu me sentir, porra, foi um dos
melhores sexos da minha vida, se não, o melhor, e eu já estive com vários
caras.
Esta noite eu deveria brilhar, humilhá-lo de todas as formas
possíveis, não terminar sendo fodida contra o capô do seu carro. As vitórias
deveriam ser todas minhas.
Gosto de estar sentindo raiva e arrependimento, pelo menos são
sentimentos que posso controlar, mas eles não perduram muito tempo,
porque as cenas de Travis sobre mim naquele maldito capô voltam a me
perturbar. Suas mãos em mim, seus beijos, a expressão em seu rosto, uma
mistura de desejo, luxúria e posse, e aquele maldito piercing. Como se não
bastasse, ele tem um piercing no pau, nunca transei com alguém que tivesse
um e, porra, é incrível, um tormento.
Como vou me esquecer disso? É impossível, minha vontade é chorar
de raiva de mim, de Travis, de não conseguir sentir raiva dele, nem de mim,
entretanto, é claro que nenhuma lágrima deixa meus olhos, estou apenas
sendo exagerada.
Merda, Sophie, você errou feio!
Mas não fui a única que perdeu o controle, Travis me odeia tanto
quanto eu o odeio, ele poderia ter parado, porém, não fez, não se afastou,
ele também perdeu o controle e isso é reconfortante. Nesse quesito, nós dois
empatamos e nos outros, eu venci.
Eu venci a corrida e eu estou com as suas roupas, o idiota terá que
dirigir pelado e espero que tenha que explicar os motivos de estar sem
roupa para os seus irmãos.
Imagino-o dirigindo nu e não é uma imagem ruim, pelo contrário,
adoraria estar no banco ao seu lado para me curvar e tomá-lo em minha
boca, adoraria deixar minha língua brincar com seu piercing.
Suspiro, derrotada, eu desisto de tentar mandar em minha mente e
nos meus pensamentos. É péssimo, porque Travis os domina, as imagens
ainda são vívidas em minha mente e capazes de fazer todo meu corpo se
arrepiar.
Mas, talvez, isso me ajude a conquistá-lo e a chegar ao seu coração
ou ao seu ego, e conseguirei destruí-lo. Sorrio animada e despreocupada.
Tudo está conforme o esperado, eu ainda tenho o controle sobre tudo!
Chego em casa, estaciono na minha vaga e um suspiro de alívio
escapa dos meus lábios quando não encontro os carros dos caras. Eles ainda
não chegaram e isso é ótimo, não quero encontrá-los, eles farão perguntas e
não estou pronta para me explicar, ainda não! E não mentimos, nem
escondemos nada uns dos outros.
Tiro a chave da ignição, apoio a cabeça contra o banco e respiro
fundo. Apesar de tudo, não estou cansada, pelo contrário, eu poderia correr
uma maratona.
Olho para o lado e encaro as roupas de Travis. Um sorriso surge em
meus lábios, ele deve estar furioso por estar sem carteira, roupas e celular.
Espero que ele passe por algum momento constrangedor por causa disso.
Pego as minhas roupas e as suas. Saio do carro e me pergunto o que
diabos farei com as suas coisas. Colocar fogo? Cortar e enviar os restos
para sua casa? Ainda não sei, mas vou pensar em algo.
Entro em casa e sigo direto para o meu quarto, largo tudo sobre a
minha cômoda, apoio as mãos sobre minha cintura e mordo meu lábio
inferior. Sigo sem saber o que fazer com as coisas de Travis, talvez faça-o
implorar por elas.
Dou um passo em frente e pego o seu celular, é claro que está
bloqueado e a imagem da tela é uma foto do seu carro. Não vou julgá-lo,
porque a minha tela de bloqueio é parecida. Eu mexo no bolso da sua calça
e só encontro a sua carteira, então abro-a e bisbilhoto o que ele carrega nela.
Dinheiro, cartões, encontro mais duas camisinhas e sua carteira de
motorista. Vou ficar com seu dinheiro, e ele está muito feio na foto da
habilitação, mais novo, mais magro e muito estranho, nem parece a mesma
pessoa. Pego o meu celular no bolso da minha calça e tiro uma foto do
documento, talvez mande imprimir e espalhe pelo campus.
Seria uma ideia incrível!
Largo a carteira sobre suas roupas e me afasto da cômoda com meu
celular em mãos. Há algumas mensagens no grupo que estou com os
meninos. Eles estão procurando por mim, respondo-os e peço para que
peguem o meu dinheiro com Elijah. Eles fazem alguma piadinha sobre meu
sumiço e sobre eu ter ido atrás de Travis, ignoro-os e jogo o celular sobre a
cama.
Eles ainda estão na pista e espero que demorem por lá, com certeza,
se chegarem e julgarem que estou acordada, virão aqui me atormentar.
Sigo para o banheiro, tiro a camiseta de Travis e a deixo sobre o
balcão ao lado da pia. Dou um passo para trás e encaro meu reflexo no
espelho. Meus cabelos estão um caos, meu corpo inteiro tem marcas,
mordidas, chupões e rastros dos seus dedos.
Levo as pontas dos meus dedos até os vestígios do que fizemos.
Caralho! Ficarão dias por aqui, me lembrando do que fizemos e fazendo
com que queira repetir tudo.
Balanço a cabeça como se isso fosse capaz de me trazer a razão,
engulo em seco e vou para o boxe, ligo o chuveiro e deixo que a água caia
sobre meu corpo. Eu me lavo como se isso fosse capaz de me livrar dele.
Não é! E, para piorar, após deixar o chuveiro, eu me seco e visto sua
camiseta. Por quê? Não faço ideia, simplesmente faço, talvez seja uma
forma de tortura, ou só queira me lembrar que essa porra não vai acontecer
de novo.
Escovo os dentes, seco meu cabelo rapidamente e estou saindo do
banheiro quando escuto batidas na minha porta. Porra, eles chegaram e nem
os ouvi por conta do secador. Ótimo, eles devem ter ouvido barulho e visto
a luz ligada, nem posso fingir que não os ouvi e, se não falar com eles, os
idiotas podem arrombar o meu quarto.
Mal-humorada, com uma empolgação de milhões, eu sigo até a porta
e abro-a. Deparo-me com Jace, Sebastian e Dominic e eles me encaram
com preocupação. Droga, eles estão preocupados!
— Onde você estava?
Dominic soa preocupado e suspiro.
— Resolvendo algumas coisas.
Espero que seja convincente e o necessário para que eles se
tranquilizem, mas não é. Os três descem seus olhos pelo meu corpo à
procura de algo, conferindo se não estou machucada e a expressão de
preocupação é substituída por deboche. É claro que eles notam as marcas
em meu corpo.
— E esse chupão no pescoço?
Jace questiona com seu sorrisinho irônico. O que acontece se eu o
socar?
— Meu Deus, você transou com o idiota.
Sebastian grita e reviro os olhos.
— Aposto que ele tem o pau pequeno — Dominic fala com desdém,
eu cruzo os braços na frente do meu corpo e encaro os três com tédio.
— Aposto que deve ter gozado em dois segundos.
Jace ergue as sobrancelhas enquanto as palavras deixam a sua boca,
ele espera que confirme ou fale algo. Não estou falando absolutamente
nada sobre isso!
— Você não irá falar nada? — Sebastian pergunta e me mantenho
em silêncio. — Meu Deus, você gostou de transar com o idiota.
Soa incrédulo. Eu afasto minhas mãos do meu corpo e mostro o
dedo do meio para Sebastian.
— Eu odeio vocês.
Declaro enquanto seguro a minha porta com força.
— Ela deve ter gostado mesmo, até está vestindo a camiseta do
idiota.
Deus, eu odeio o quanto Dominic é atento aos detalhes.
— Caralho, caralho… — É a vez de Jace soar incrédulo. — Você se
contenta com tão pouco, Van?
Ele realmente parece estar curioso, aliás, os três estão me encarando
com curiosidade, agindo como velhas fofoqueiras. Suspiro e dou um passo
para trás.
— Vão se foder vocês.
Fecho a porta na cara deles e escuto as gargalhadas dos três, também
escuto seus passos e eles estão se afastando do meu quarto. Suspiro
aliviada. Sei que as piadinhas não chegaram ao fim, mas, pelo menos por
hoje, não terei que suportá-los.
De repente, a exaustão me atinge com força. Eu me sinto tão cansada
e meu corpo está pesado. Bocejo e olho ao redor do meu quarto, não há
mais nada para fazer, então desligo a luz e vou para minha cama.
Apesar de estar cansada e com sono, quando fecho os olhos as
imagens da noite ecoam em minha mente. Da corrida, da minha vitória e do
tempo com Travis.
Merda!
Forço-me a pensar em outras coisas, eu tento até contar carneirinhos,
mas é em vão. E durmo pensando nele.
Acordo disposta a fingir que nada aconteceu e eu até consigo por
alguns minutos, porém é só olhar no espelho para que seja atingida pelas
lembranças, além disso, os imbecis dos meus amigos não me deixam
esquecer, eles fazem questão de fazer piadinhas infames a cada instante
possível, e eu me pergunto, várias vezes, como seria acabar com os três.
Meu humor está péssimo, mesmo assim, eles não param de me
provocar e de tentar obter informações. Eu só me animo quando vamos para
uma festa sábado à noite e eu descubro que a fofoca do momento é Travis
pelado em um posto de gasolina, inclusive, há fotos dele com um caderno
rosa e com glitter. Uma parte minha anseia para que segunda-feira chegue
logo e eu possa provocá-lo com a informação.
Não é a melhor festa da minha vida, não encontro ninguém com
quem queira passar a noite, mas vale a pena por ter descoberto sobre Travis.
Domingo é dia de estudar, limpar a casa e descansar, os três patetas
cansam das piadinhas e, finalmente, tenho paz. E eu consigo me concentrar
em outras coisas e não tenho a mente ocupada pelo idiota.
Na segunda-feira, eu acordo, sento-me na cama e encaro as coisas de
Travis sobre a minha cômoda, não sei o que fazer com as suas roupas, uma
parte minha acreditou que ele viria atrás delas e o faria implorar.
Eu me levanto e me arrumo para ir para a faculdade. Estou pronta e
deixo o quarto com a mochila em meus ombros quando paro e volto a
encarar suas coisas.
Caminho até a cômoda, pego seu celular e a carteira, olho para os
objetos e sorrio. Talvez deva usá-los para relembrá-lo que temos uma
trégua.
Nós ainda temos uma trégua, não é? Continuo sorrindo debochada.
E eu, um objetivo.
Quebrar seu coração!
Guardo a carteira e o celular em minha mochila, e saio do quarto. Eu
desço para a cozinha, tomo café com Jace, Sebastian e Dominic, e vamos
para o campus. Apostamos quem chega primeiro e, desta vez, Jace vence.
A merda daquele jornal está sendo entregue, mas não o ignoro como
das outras vezes, eu tenho esperança de que a foto de Travis esteja
estampada nele e não sou decepcionada. Travis está sendo mencionado no
jornal de fofocas.
“Nosso quarterback fica ótimo de rosa e, convenhamos, ele malha
bastante, inclusive, que bunda…”
É uma porcaria? É, mas amo que Travis está sendo exposto dessa
maneira. Meu dia mal começou e já está incrível.
Sigo para minha primeira aula e, no intervalo para a segunda,
encontro Travis no corredor, ele me encara com uma expressão nada
agradável. Forço um sorriso e uma veia surge em sua testa, ele está com
tanta raiva de mim, e isso me deixa tão satisfeita.
Deveria provocá-lo dessa forma quando quero conquistá-lo? Não
sei, mas algumas coisas são impossíveis de controlar.
Nós não trocamos nenhuma palavra e cada um segue para a sua sala.
Após minha segunda aula, eu vou almoçar com Jace e Dominic, Sebastian
tem um compromisso e não nos acompanha.
À tarde, encontro com a minha orientadora e, depois, eu vou para o
estacionamento. Entro em meu carro e dirijo para o estádio. Sei que hoje o
time de futebol americano está treinando, logo, é lá que Travis está.
E é um ótimo momento para provocá-lo e acabar com a sua paz.
Passei por tanta coisa ruim, eu deveria ser uma vadia triste
Quem diria que, ao invés disso, me tornaria feroz?
Prefiro estar presa por algemas do que por compromissos
7 rings (Ariana Grande)

Sophie
Chego ao estádio e, como sou aluna de Dartmouth, tenho acesso
livre, inclusive, posso assistir ao treino do gramado, nem preciso estar na
arquibancada.
Meu Deus, eu vou infernizar tanto o Travis.
Meu coração está acelerado e eu me sinto em êxtase. Porra! É como
se eu estivesse indo fazer algo incrível.
Adentro o local e caminho em direção ao campo, ando pela beirada
do gramado, na pista de atletismo. E não sou a única assistindo ao treino, há
mais pessoas, principalmente garotas, elas parecem cadelas no cio e eu
preciso me conter para não revirar os olhos.
O time já está em campo e treinando, eles estão usando uniforme de
treino e de capacete, mesmo assim, não demoro a encontrar Travis, então
escolho um lugar estratégico, um que fique no seu campo de visão. Fico
parada com meus braços cruzados abaixo do meu seio e faço questão de
encará-lo.
Eu me destaco das outras garotas, não estou sorrindo e sou a única
com tatuagens expostas, não aparento ser uma Barbie como elas e chamo a
atenção dos jogadores em campo. Só há um jogador que eu quero chamar a
atenção e não demoro a ter seus olhos sobre mim.
Ele está de capacete, eu mal consigo ver seu rosto, mas sei que está
me olhando. Eu sinto seus olhos sobre mim. Posso sentir um frio na barriga
e um arrepio percorre o meu corpo.
Forço um sorriso e ele se vira completamente, ficando de frente para
mim, há meio campo de distância entre nós, mesmo assim, é como se o
espaço fosse mínimo.
Posso sentir a sua energia, sua raiva ao me ver aqui, vejo a tensão
em seu corpo e imagino a expressão hostil em seu rosto. Meu sorriso se
torna mais largo e o sentimento de satisfação se intensifica em meu peito.
— Scott, o que você está fazendo?
O treinador chama sua atenção e preciso me conter para não
gargalhar. Travis se vira e posso jurar que o ouvi rosnando. Eu continuo
sorrindo e assistindo ao treino, mantenho meus olhos sobre ele e, caralho,
ele é um ótimo jogador, é sexy assisti-lo jogar.
É vergonhoso, mas engulo em seco, preciso respirar fundo várias
vezes e tenho inveja de uma bola, porque ela está sendo tocada por ele.
Realmente, deplorável!
Em alguns momentos, vejo-o e o sinto me encarando, eu tento sorrir
debochadamente, mas falho, porque há uma tensão ao meu redor que antes
não existia, e é como se existisse uma espécie de força me puxando em sua
direção. É como se todos ao nosso redor não tivessem importância, como se
fossem simples coadjuvantes.
Passo as mãos em meus braços, como se isso fosse capaz de me
ajudar, como se estivesse com frio, mas é o contrário, estou com calor,
muito calor.
O treinador usa o apito, chama os jogadores e eles se aglomeram ao
seu redor. Tiram os capacetes e escutam-no com atenção, não sei sobre o
que estão falando, apenas continuo observando Travis.
O quarterback olha em minha direção por alguns segundos e
mantenho minha pose debochada, mesmo que por dentro não esteja
exatamente assim. Não sei nem explicar o que está ocupando o meu peito
neste momento, é uma sensação de excitação, com ansiedade e luxúria.
Travis volta a encarar o treinador, respiro fundo e continuo
aguardando-o. Os minutos parecem estar se arrastando e quase comemoro
quando o treinador dispensa os jogadores, porém, Travis ainda não caminha
em minha direção, ele está conversando com seus colegas. Droga, eu já
estou ficando impaciente!
Quem ele acha que é para me fazer esperar? Se demorar, eu irei até
lá. Não há mais nenhum sorriso em meu rosto e há uma ruga em minha
testa. É nítido para qualquer pessoa que cruze por mim que não estou feliz.
Os jogadores tiram suas camisetas ainda em campo e Travis faz o
mesmo. Desço meu olhar até seu abdômen e engulo em seco. Eu o vi sem
nada, mas foi no escuro e agora, à luz do dia, posso ver as suas tatuagens
nitidamente, elas são intimidadoras e gritam garoto problema, mas isso não
é um problema, não para mim.
E a tatuagem mais impressionante é o corvo na lateral da sua costela.
É perfeita, assustadora e fascinante. Eu tenho vontade de tocá-la com as
pontas dos meus dedos. Posso sentir minhas bochechas queimando, não
acredito que estou corando por conta do Travis.
Apesar de saber que é uma péssima ideia, não consigo desviar meus
olhos dele. Caralho, para piorar ele ainda está suando! Não deveria ficar
excitada por causa disso, mas, porra, é impossível me reprimir.
Respiro fundo mais uma vez e me forço a olhar para cima e encará-
lo. Travis está sorrindo, fala algo com o cara que está à sua frente, então, os
dois se viram e caminham em minha direção.
Apesar de continuar conversando com seu amigo, seus olhos estão
em mim. Sorrio debochada e surge um sorrisinho em seus lábios. Eu fico
ainda mais eufórica conforme ele se aproxima e meu coração está batendo
rápido em meu peito quando se despede do seu amigo, o cara segue em
frente e ele para diante de mim.
Ergo meu queixo e ele me analisa como se estivesse tentando me
desvendar. Travis gosta de estar no controle, de descobrir o que estão
pensando e o que estão planejando. Ele acha que pode fazer isso comigo,
tão bobinho.
Nenhum de nós dois está sorrindo mais e nos encaramos como se
estivéssemos prestes a lutar um com o outro.
— O que você está fazendo aqui?
Soa rude e faço um beicinho com meus lábios, fingindo estar
desapontada.
— Nossa, você não está feliz em me ver aqui?
Ergue as sobrancelhas daquele jeito que deixa seu rosto sombrio.
— Sophie.
Diz meu nome entre dentes e eu continuo fingindo estar
desapontada.
— Eu achei que quisesse suas coisas de volta.
Finjo uma falsa inocência e uma veia surge em sua testa. Ops, acho
que ele está ficando com raiva.
— Não, pode ficar para você.
Dou um passo à frente e diminuo ainda mais a distância entre nós.
— Nós temos uma trégua, lembra?
Abaixa sua cabeça e sinto sua respiração contra o meu rosto.
— Nós temos? — Sorri, um sorriso irônico. — Achei que a trégua
tivesse terminado quando você me deixou nu no meio do nada.
Suspiro.
— Sinto muito — minto. — Eu fiquei sabendo do que aconteceu, do
imprevisto com o caderno.
Encara-me como se seus olhos tivessem sido injetados com raiva,
mas ele não me dá medo, pelo contrário, ele me faz querer continuar
provocando-o. Uma parte minha lembra como é tê-lo sem controle e anseia
em tê-lo assim outra vez.
— Você ainda não aprendeu que não deve me provocar, princesinha?
Ele abaixa seu rosto até sua testa estar quase encostada na minha.
Rouba meu fôlego, minha respiração falha e ofego quando sua mão sobe
pelas minhas costas e enrola seus dedos nos fios do meu cabelo.
— E o que você fará, Travis? — continuo provocando-o,
esquecendo-me do que merda eu vim fazer aqui e qual era a porra do meu
objetivo. — Estamos cercados de pessoas.
Desafio-o e ele sorri vitorioso, o que deveria me deixar em pânico,
me excita. De repente, sua mão se afasta, Travis se abaixa, ergo as
sobrancelhas e o encaro tentando entender que merda ele irá fazer, tarde
demais, eu percebo o que ele está fazendo.
Travis passa os braços pelas minhas pernas e me joga sobre seu
ombro. Estou encarando a sua bunda e, ao olhar para o lado, vejo tudo de
ponta-cabeça. Não acredito que ele fez isso comigo!
— Porra, me coloque no chão, Travis.
Grito e soco suas costas. Ele segura minhas pernas com um dos seus
braços, como se eu não pesasse nada, e com o outro braço está segurando
seu capacete.
— Eu avisei para você não me provocar, Sophie.
Sua voz é rouca, ele não está mais rindo e não há mais nenhum
indício de que esteja se divertindo.
— Travis. — Raiva volta borbulhar em meu peito, quem ele pensa
que é? — Travis, pare agora!
Ele continua andando comigo sobre seus ombros e até apressa o
passo. Eu tento pegar a faca em meu bolso, mas não consigo. Soco suas
costas, tento me desvencilhar. Ele ri, uma risada sem humor, sombria e me
leva em direção ao vestiário do estádio.
— O que porra você está fazendo?
Ele não me responde, simplesmente invade o vestiário como se fosse
o dono do lugar, apesar da posição que me encontro, consigo ver seus
colegas pararem o que estão fazendo e encararem-no com curiosidade.
Para minha sorte, e meu azar, não há ninguém pelado, no máximo
sem camisa, droga, eles acabaram de chegar aqui.
— Saiam — grita e todos continuam parados. — Eu mandei vocês
saírem, porra.
Volta a gritar, desta vez com mais raiva e autoridade, inclusive,
causando um alvoroço dentro de mim, resultando em pontadas abaixo do
meu ventre.
Desta vez, todos se mexem, pegam suas coisas rapidamente e
deixam o vestiário. E, assim que o último sai do local e fecha a porta, Travis
me coloca no chão e atira seu capacete para longe.
Ele me encara e seus olhos estão escuros. É uma mistura de raiva,
com lascívia, possessividade e necessidade. É como se ele fosse um animal
prestes a sair da jaula e eu sou o seu alvo.
— Você se acha muito esperta, não é?
Sorrio.
— Eu sou muito esperta.
Ele ri e dá um passo para frente, e no automático, eu vou para trás.
— Eu poderia acabar com você bem aqui. — Sua mão encontra a
minha nuca e ele me obriga a ficar parada, encarando-o. — Você não sabe,
Sophie, mas eu presenciei assassinatos, eu sei fazer coisas que até o diabo
nunca fez.
Nada do que ele fala me assusta. Segue dando passos em frente,
obrigando-me ir para trás até que eu tenha as costas contra uma parede,
então acaricia a pele do meu pescoço com a ponta dos seus dedos.
— Eu tinha dez anos quando tive uma aula de como matar alguém
somente quebrando seu pescoço.
Desta vez, há mais em seu olhar, uma certa fragilidade, dura apenas
alguns segundos, mas é o suficiente para eu perceber. Sua mão inteira se
fecha contra meu pescoço, mas não o aperta. Abaixa seu rosto e fixa seus
olhos nos meus.
— Você não está com medo? — s
Sussurra contra minha boca enquanto continua me encarando.
— Não.
Sou sincera, não há um único vestígio de medo em meu corpo.
— Por quê?
Não é porque seus colegas acabaram de me ver com ele, não é
porque ele já confessou que não me machucaria, não é nada disso!
— Porque, assim como você sabia que eu não o machucaria com a
faca, eu sei que você não irá me machucar.
Leva sua mão até a parte de trás do meu pescoço, seus lábios tocam
a lateral do meu rosto e ele ri contra minha pele.
— Você é uma diaba. — Beija o canto da minha boca e sua outra
mão sobe pela minha perna. — Uma tentação, uma maldita provocadora…
Seus lábios pairam sobre os meus, todo meu corpo encontra-se
tenso, esperando por algo, implorando por mais, desejando ardentemente
que ele tome posse de cada parte de mim.
— Capaz de acabar com minha paz. — Morde meu lábio inferior e
eu ofego. — E de exterminar com meu controle.
Os segundos são intermináveis enquanto continuamos nos
encarando, a excitação que se constrói em meu interior faz com que eu me
sinta prestes a entrar em combustão.
Tornamos o espaço entre nós mínimo e, quando finalmente sua boca
encontra a minha e ele me beija, é como se tudo fizesse sentido, como se o
mundo fosse composto por apenas nós dois.
Seus lábios tomam os meus, ele é afoito, correspondo-o da mesma
forma, não há delicadeza nenhuma na forma como nos entregamos um ao
outro, como nos reivindicamos. É o encaixe perfeito!
É como se estivesse ansiando por isso desde o primeiro instante em
que eu pisei naquele gramado.
Leva sua mão até minha bunda e a aperta fazendo com que meu
clitóris vibre. Meus seios pesam e pressionam o piercing contra o sutiã, o
que me causa dor, mas não é ruim, pelo contrário, me deixa ainda mais em
alerta.
Travis afasta sua boca da minha e desce seus lábios até meu pescoço,
inclino-me para trás facilitando o seu acesso à minha pele.
— Era isso que você queria ao me provocar, princesinha?
Morde meu pescoço e aperta minha bunda com mais força, um grito
de dor e prazer escapa dos meus lábios. Ele ri contra o meu pescoço e, até
mesmo isso, faz com que meu corpo reaja. Sua boca continua passeando
pela minha pele e morde o lóbulo da minha orelha.
— Eu acho que era exatamente isso que você queria.
Enrola os fios do meu cabelo ao redor dos seus dedos e me obriga a
encará-lo. Seus olhos são escuros, da cor da noite, ele mantém o olhar fixo
no meu, como se eu fosse tudo que ele precisa.
Espalmo minhas mãos em seu peito, toco seu abdômen, sinto o calor
da sua pele contra a minha e posso senti-lo ficando cada vez mais tenso.
Travis pode acreditar que está no controle, porém, ele está enganado.
— E não é isso que você quer, Travis? — É lógico que não vou
admitir o quanto estou queimando por ele, e ele apenas segue me encarando
e segurando com força meu cabelo. — Vamos, Travis, se afaste.
Desafio-o e ele não se move um centímetro sequer. Sorrio vitoriosa
enquanto desço minhas mãos pelo seu corpo até o cós da sua calça.
— Você não consegue, não é?
Continuo debochando e, quando faço menção de me abaixar,
diminui a pressão em meu cabelo. Ele dá um passo para trás e eu me
ajoelho à sua frente.
Quero saber como é tê-lo em minha boca, brincar com minha língua
em seu piercing, sanar minha curiosidade, uma maré de desejo invade meu
corpo com a perspectiva do que estou prestes a fazer.
Olho para cima e seu pomo de adão sobe e desce em sua garganta.
Sua mão segue em meus cabelos, mas apenas encostada. Sorrio enquanto
abro o botão da sua calça e junto com a sua cueca empurro-as para baixo.
Travis me encara e respiro fundo com a intensidade do seu olhar. A
tensão ao nosso redor é insuportável, é como se estivéssemos ligados por
um fio invisível, como se existisse um ímã nos atraindo.
Ele chuta os tênis e as roupas para longe com a minha ajuda e, então,
olho para o seu pau, encaro as veias saltadas, a argolinha na ponta e engulo
em seco.
Caralho!
Ergo minha mão e o toco, fecho os dedos ao seu redor e percorro o
comprimento, escuto o som da sua respiração ficar irregular e ele volta a
pressionar os dedos em meu cabelo.
Quem é que tem o controle?
Toco o piercing, brinco com ele e Travis estremece. Eu me sinto uma
garota muito má, de joelhos no chão do vestiário, com o pau do quarterback
em minhas mãos enquanto todos os outros jogadores sabem que estamos
aqui. Giro a argolinha e Travis puxa os fios do meu cabelo.
— Porra, Sophie.
Amo ouvi-lo gritando meu nome. Satisfação vibra em meu peito
enquanto excitação resulta em fisgadas na minha boceta.
Curvo-me e, com a ajuda da minha mão, o tomo em minha boca, seu
gosto explode em meus lábios e é um pouco estranho ter o piercing em
minha boca, mesmo assim, não me afasto, não demoro a me acostumar com
a joia e levo-o até o fundo da minha garganta.
Travis segue com a mão em minha cabeça e dita o ritmo com que
fode minha boca. Palavrões e gemidos deixam seus lábios e eu continuo
chupando-o, minhas mãos passeiam pelas suas coxas e pelas suas bolas.
Ele está cada vez mais tenso, ergo os olhos e ele tem os olhos
fechados, as veias saltadas e está suando. É sexy pra caralho, abre sua boca
e gemidos escapam dos seus lábios.
E ainda o estou encarando quando grita, chama pelo meu nome, ele
está tão perto, mas não se permite gozar. Abre seus olhos, puxa meu cabelo,
afasta-me e me levanta.
Travis não dosa sua força e a dor me agrada, espalha-se pelo meu
corpo e termina no meio das minhas pernas. Meu clitóris está vibrando e
contraio minha boceta na procura por um alívio.
Fico em pé à sua frente, então ele me encara com um olhar sombrio
e intenso. Porra! Como um animal, arranca minhas roupas, rasga mais uma
das minhas calcinhas e sua boca ataca meu pescoço.
Eu tenho cuidado para manter minhas costas contra a parede e longe
do seu olhar.
Seus lábios percorrem minha pele e suas mãos brincam com meus
seios. De repente, ele para, e merda, por que ele parou?
— Porra, Travis.
Resmungo enquanto subo minhas mãos pelas suas costas.
— Caralho, eu estou sem camisinha.
Apesar da declaração, ele não se afasta.
— Eu estou com a sua carteira no bolso.
No mesmo instante, ele se afasta e busca a sua carteira, pega a
embalagem da camisinha e a joga no chão. Rapidamente, a coloca enquanto
nós dois nos encaramos, estamos ambos ofegantes e, merda, os segundos se
arrastam, é um tormento.
Assim que tem o látex ao redor do seu pau, aproxima-se, segura-me
e enrolo minhas pernas ao redor da cintura e ele me preenche. Nós dois
gritamos, ele não se segura, nem eu, rebolo contra ele enquanto ele se
impulsiona para frente e para trás.
Minhas costas estão contra a parede e não me importo. Nós nos
beijamos, mordemos os lábios um do outro, minhas unhas arranham seus
ombros e ele aperta minha coxa, não se importando se ela ficará marcada ou
não.
É como se fôssemos dois animais fodendo. Como se fôssemos a
droga um do outro. Foda-se que o odeio, que ele é um idiota, não importa o
que vim fazer aqui ou qual é o meu objetivo. Só importa as emoções que
me dominam, só importa a necessidade que vibra por todo meu corpo e
quando, enfim, consigo o que tanto preciso, grito seu nome e é como se o
caralho de uma explosão acontecesse em meu interior.
Ele cantou uma música quando ele fez
Ele era frio e era implacável
Agora ela dança ao som da música
Sim, o tempo todo, o tempo todo
Ela fica fraca quando a escuta
In The Night (The Weeknd)

Travis
Essa garota será a minha morte!
É tudo que consigo pensar enquanto contrai sua boceta ao redor do
meu pau. Não me contenho, não sou delicado e Sophie não reclama, pelo
contrário, ela parece prestes a explodir.
Meus dedos apertam sua pele e a perspectiva de deixá-la com mais
marcas me excita, faz com que meu pau pulse dentro dela. Brinco com o
seu piercing, puxo-o, e o gemido que deixa sua boca é uma mistura de
prazer e dor.
Sophie gosta de um pouco de dor, é perfeito, é um tormento. Como
vou esquecê-la? Mas isso não importa no momento, tudo que importa é o
prazer, tanto o dela quanto o meu.
Continuo me impulsionando para dentro dela, ela rebola contra o
meu pau. Porra, nosso encaixe é perfeito. Meus lábios passeiam em sua pele
e posso sentir seu corpo se enrijecer cada vez mais, aumento o nosso ritmo,
nossos gemidos ecoam pelo vestiário e quando seu orgasmo domina seu
corpo, Sophie grita o meu nome.
Caralho, ela chama por mim! Ela diz a porra do meu nome e isso
me deixa ainda mais alucinado, como um animal no cio, então a preencho
sem me importar com mais nada. Só paro quando o tesão toma conta de
mim, espalha-se pelo meu corpo e é como se milhões de fogos de artifício
explodissem dentro de mim.
Espalmo minha mão na parede enquanto a outra continua em sua
coxa. Derramo-me na camisinha e suspiro. Porra, isso é tão bom, eu me
sinto tão bem. Eu poderia ficar aqui para sempre!
Encontro-me em um estado de prazer e calma e, por alguns
segundos, eu me mantenho de olhos fechados. Posso sentir o seu cheiro que
agora se mistura ao meu cheiro e ao de sexo. Somos uma bagunça!
Meu rosto ainda está entre seu pescoço e suas mãos sobre meus
ombros. Como podemos ser tão bons juntos? É inexplicável e não quero
uma explicação.
Eu detesto a ideia de me afastar, mas não posso ficar aqui para
sempre, a posição não é nada confortável. Nem para mim e muito menos
para Sophie, suas costas devem estar doendo e vermelhas. Não tivemos
nenhum cuidado e várias vezes bateu seu corpo contra a parede, eu deveria
ter tido mais cuidado. Merda, eu perdi completamente a cabeça!
Suspiro, abro os olhos e saio de dentro dela. Eu a coloco no chão e
Sophie abre os olhos e apoia-se contra a parede. Continuo encarando-a
enquanto tiro a camisinha e amarro a ponta. Seu cabelo é uma bagunça,
seus lábios estão inchados, seus olhos estão brilhando e ela emana uma
energia pós-foda.
— Você está bem?
Sorri, um sorriso preguiçoso, que a deixa ainda mais bonita. Caralho,
ela é linda, gostosa e uma tentação.
— Por que não estaria?
Pergunta com deboche e sorrio.
— Suas costas, não pegamos leve. — O sorriso deixa meus lábios.
— Não queria machucá-la.
Ela dá de ombros.
— Se eu quisesse que tivesse pegado mais leve, eu teria avisado.
Assinto e nos encaramos. Era isso que eu planejava? Com certeza,
não! Mas, porra, essa garota me tira do sério, faz com que eu perca a razão.
Vou me foder pelo que fiz? Sim. Eu me arrependo? Nenhum um pouco.
— Ok, ok, princesinha.
Volto a sorrir e ela revira os olhos.
— Esse apelido é horrível.
Encaro-a com deboche.
— Você acha? Eu acho que combina perfeitamente com você, afinal,
você é tão doce quanto uma princesa deve ser.
Eu estou me referindo a sua personalidade, mas é em seu gosto que
estou pensando. Será que tudo que remeter a Sophie irei levar para o lado
sexual?
— Cala a boca, principezinho.
Deus, eu amo tirá-la do sério.
— Eu gosto quando me chama de principezinho.
Na verdade, não sinto nada em relação ao apelido e estou, apenas,
fazendo questão de irritá-la.
— Claro que gosta. — Ela sorri, um sorriso debochado. — Você se
acha um príncipe.
Ela fala com desdém, eu dou de ombros e viro-me, ficando de costas
para ela.
— Não, mas muitas garotas me imaginam como o príncipe perfeito.
Escuto Sophie bufar e um contentamento ressoa em meu peito.
Ótimo, objetivo, atingido com sucesso. Eu vou até uma das lixeiras que
ficam espalhadas pelo vestiário e descarto a camisinha. E, assim que eu dou
meia-volta e Sophie fica em meu campo de visão, vejo-a vestindo sua
roupa. Ela está de blusa e está colocando sua calça.
— Me espere.
— Não preciso de seguranças.
Resmunga. Eu me aproximo e pego as minhas peças de roupa no
chão, inclusive a camiseta que atirei junto com meu capacete.
— Os caras devem estar lá fora e não pegam leve nas brincadeiras.
— Eu não me importo.
É claro que ela não se importa.
— Eu me importo.
Jamais deixaria uma garota enfrentar as consequências do que
fizemos sozinha, mesmo que essa garota seja Sophie.
— O problema é seu.
Como eu conheço a fera à minha frente, visto as minhas roupas
rapidamente, antes que ela deixe o vestiário sozinha. Minhas roupas estão
fedendo, eu estou fedendo, mas duvido que Sophie vá me esperar tomar um
banho. Ela, com certeza, não irá!
Terminamos de nos vestir juntos, olho para Sophie e ela está
amarrando seu cabelo em um coque, então pego o capacete e corro até o
meu armário para guardá-lo, faço isso rapidamente e, quando estou
voltando, ela está caminhando na direção da porta.
— Pensando que irá fugir?
Apresso-me e a alcanço antes que tenha a mão sobre a maçaneta.
— Não estou pensando e nem fugindo, estou indo embora e me
livrando de você.
Sorrio enquanto ela abre a porta.
— Agora, você está se livrando de mim… não era isso que você
estava falando alguns minutos atrás.
— Você é um idiota, Travis.
Continuo sorrindo enquanto nós dois deixamos o vestiário e fecho a
porta.
— Não fechamos nem a porta, qualquer um poderia ter entrado.
Qualquer um poderia ter pegado Sophie e eu fazendo sexo!
Seguimos pelo corredor que nos levará até uma das saídas do estádio,
Sophie está alguns passos à minha frente.
— Isso teria te impedido?
Ela me provoca, dou um passo mais longo e paro logo atrás dela de
modo que quase encosto em suas costas e na sua bunda. Sophie não se
afasta.
— Não, provavelmente, alguém teria presenciado um showzinho. —
Abaixo minha cabeça até ter meus lábios quase tocando a sua orelha. —
Porque você também não iria parar, não é?
Posso ver os pelos da sua nuca se eriçando e sorrio.
— Não.
Responde rapidamente. Eu amo que a minha proximidade mexa com
ela, que a deixe afetada, é quase tão perfeito quanto irritá-la.
Nós dobramos o corredor e nos deparamos com alguns dos meus
colegas deixando o segundo vestiário, que é usado pelos adversários quando
temos jogo em casa, é claro que eles iriam utilizá-lo.
Eles sorriem em nossa direção e nos encaram com malícia, eu
continuo logo atrás de Sophie. Eu não estou sorrindo e balanço a cabeça.
— Calados — aviso antes que eles tenham tempo de falar algo. —
Não quero ouvir nenhuma gracinha.
Nenhum deles ousa dizer nada, engolem em seco e assentem. Amo
ser temido por ser o capitão do time, além disso, a maioria sabe que eu
corro à noite, isso ajuda a ser respeitado.
Sophie e eu andamos em frente, eu sigo colado nela, Henry se
aproxima de nós e para ao meu lado, então eu paro e o escuto.
— Fred está furioso com você e ele já te entregou para o treinador.
Assinto agradecido e volto a caminhar. Atravessamos o corredor, eu
coloco as mãos nas costas de Sophie e a guio para fora do estádio por uma
das portas de emergência.
— Então, o principezinho está com problemas?
Soa debochada enquanto vamos para o estacionamento.
— Não, eu nunca estou com problemas.
Minto e soo tão debochado quanto ela. Sophie não precisa saber que
estou muito encrencado.
— Eu acho que você está encrencado.
Minhas mãos seguem em suas costas, porque é um absurdo eu estar
tão perto dela e não a estar tocando.
— Você quer que eu esteja encrencado, é diferente.
Dá de ombros e posso escutar o som da sua risada.
— Isso é verdade… — Não estou vendo seu rosto, mas posso jurar
que seus lábios estão formando um beicinho debochado. — Eu sempre
quero te ver metido em problemas, principezinho.
Mudo de posição e me coloco ao seu lado, de forma que agora eu
possa ver seu rosto. Sophie realmente tem uma expressão de deboche em
seu rosto e, porra, combina tão bem com ela, ela está ainda mais bonita.
Ergo meu braço e deixo ao redor dos seus ombros. Posso sentir seu corpo
ficar tenso, mas ela não me afasta e segue sorrindo.
— Eu não esqueci do episódio de sexta-feira.
— Ohhh… você está falando do caderno rosa? Eu acho que
combinou tanto com seu pau, tão delicado. — Faço uma careta. — Você
estava adorável.
Os idiotas dos jogadores de basquete tiraram a porra de uma foto,
não se pode confiar em mais ninguém. Inclino-me e sussurro:
— Você sabe que meu pau não tem nada de delicado, princesa.
O sorriso debochado segue em seu rosto, mas seu corpo entrega que
ela sabe do que está falando. Sorrio satisfeito.
— Eu não me esqueci do que você fez, Sophie, e vou me vingar.
— Nós não temos uma trégua?
Finge estar indignada e decepcionada.
— É claro que nós temos. — É a minha vez de ser descarado. —
Perdão, eu não vou me revidar.
Nós dois sabemos que estou mentindo e que essa trégua só serve
para nos provocarmos. O fato é que não conseguimos ser cordiais um com
outro.
— Mentiroso.
Sophie me acusa e se desvencilha de mim, eu fico alguns segundos
em silêncio.
— Existe algo em você, Sophie, que faz com que seja impossível
não a provocar, você é um ímã para problemas e não sai da porra do meu
caminho.
Ela me encara e seu olhar encontra o meu. Ela me desafia e eu faço o
mesmo. Nem sabemos mais que porra de jogo estamos jogando. Estamos
misturando absolutamente tudo. Sophie volta a olhar em frente, eu faço o
mesmo e seguimos até o seu carro.
Paramos ao lado do veículo, eu encaro o Nissan Skyline GT-R
branco e uma ideia surge em minha mente, eu sei exatamente como irei me
vingar, ela irá querer me matar e é exatamente esse o objetivo. Antes que
ela perceba que estou planejando algo, volto a fitar o seu rosto.
— Meu celular.
Cruza os braços abaixo dos seus seios.
— O quê?
Finge que não sabe do que eu estou falando. Descarada!
— Entregue-me.
A minha carteira, eu resgatei, mas ainda estou sem o meu celular.
— Não sei… pensando em talvez vendê-lo.
Dou um passo à frente e abaixo minha cabeça até estar com minha
testa quase tocando a sua.
— Não foi isso que você veio fazer aqui? Ou irá confessar que só
queria ser fodida por mim?
Seus olhos brilham e suas bochechas ganham um tom de vermelho.
— Eu vim entregar suas coisas em uma oferta de paz, mas você não
parece muito a fim.
Mais uma vez, faz um beicinho com seus lábios.
— Você quer fazer um acordo, Sophie?
Ela assente, eu dou mais um passo à frente e Sophie ofega diante da
nossa proximidade.
— Eu devolvo suas coisas e voltamos a ter uma trégua.
Ela está tentando se livrar da vingança. Eu sorrio e, antes que
perceba, levo minha mão até seu bolso e pego meu celular. A expressão em
seu rosto muda no exato momento em que percebe o que aconteceu.
— Sem acordo, não faço acordo com o diabo, Sophie.
Ela me encara com raiva e tenta pegar o celular da minha mão de
volta, mas ergo meu braço e, como sou mais alto, Sophie não chega nem
perto de conseguir recuperar o aparelho.
— Você é um desgraçado, Travis.
Sophie está furiosa e isso faz com que o meu sorriso se amplie. Se
ela está com raiva, eu estou feliz! Eu dou um passo para trás, ergo minha
mão e aceno para ela.
— Tchau, Soph.
Ela bufa ao ouvir a forma como a chamei, ergue sua mão e aponta o
seu dedo do meio para mim. Ainda sorrindo, viro-me, fico de costas e
caminho em direção ao meu carro, pelo menos, desta vez, ela não me
ameaçou com a faca.
Sigo até meu carro, sento-me atrás do volante, pego minha carteira e
meu celular para conferir se Sophie não aprontou nada. Foi um inferno ficar
sem celular e, caralho, meus documentos estavam na carteira, mas não ia
implorar para tê-los de volta, não ia dar essa vitória para Sophie, chega de
perder!
Meu celular está ok, mas ao abrir a carteira sinto falta de algo, a
maldita roubou meu dinheiro, além de tudo, é uma ladra.
— Ah… Sophie. — Sorrio maliciosamente. — Quem ri por último ri
melhor.
Acabei de fazer um teste de DNA, parece que sou 100% fodona
Mesmo quando choro loucamente
Sim, eu tenho problemas com garotos, essa é a humana em mim
Prontinho, aí eu resolvo, essa é a deusa em mim
Truth Hurts (Lizzo)

Sophie
A tela do meu celular liga, o aparelho está sobre a mesa ao lado do
meu iPad, encaro-o e é uma nova notificação de mensagem, Jace enviou
uma mensagem em nosso grupo.
Com certeza, é alguma gracinha. Deveria o ignorar, afinal, não é
algo importante e estamos no meio da aula, mas eu estou entediada, o
professor está falando do mesmo assunto há uma hora e já entendi o que ele
está explicando. Pego o celular, desbloqueio e abro a mensagem.
Jace: Você deveria ter passado mais base, ainda está com as marcas
aparentes.
Reviro os olhos, deveria tê-lo ignorado mesmo. Antes que desligue a
tela, chega uma mensagem de Sebastian.
Sebastian: É porque as marcas foram reforçadas ontem.
Eles estavam em casa ontem quando cheguei depois do treino de
Travis. Tentei subir direto para o quarto, mas os idiotas estavam na sala e
perguntaram onde eu tinha me metido, menti que tinha ficado na faculdade,
mas eles não acreditaram e o idiota do Jace perguntou por que eu usava a
blusa no avesso, eu caí na sua estratégia e olhei para baixo, conferindo-me,
mas não estava virada e, com isso, eu entreguei que não era na faculdade
que eu estava.
Jace: E ainda não sabemos o que aconteceu… inadmissível você
estar escondendo coisas da gente, Van.
Mandei os três irem se foder e subi para o meu quarto, mas, durante
a janta, eles enxergaram novas marcas. O filho da puta do Travis tem
alguma obsessão doentia pelo meu pescoço. Estou ouvindo piadinhas desde
então, além dos idiotas estarem tentando descobrir o que aconteceu.
Dominic: Sophie levou a sério a história de dormir com o inimigo.
Desligo o celular e deixo-o virado para baixo sobre a mesa. Escuto
Jace rir ao meu lado. Palhaço! Eu deveria matar Travis por me deixar
marcada. Minha consciência acusa que poderia tê-lo mandado parar,
poderia tê-lo afastado, mas não fiz nada disso, pelo contrário, só incentivei
e gostei de cada maldita mordida e chupão. Só de pensar sobre isso um
arrepio sobe pelo meu corpo!
Droga, foco, Sophie!
Forço-me a concentrar-me na aula e empurro os pensamentos sobre
Travis para longe. Ele é um idiota, mesmo que seja um idiota que saiba
transar, não é grande coisa, existem muitos outros caras no mundo, muitos
que sabem usar o pau que tem no meio das pernas e sempre vão existir os
vibradores.
Caralho!
Abaixo e escrevo no iPad tudo que o professor está falando para
conseguir me manter no foco e Travis longe da minha mente. Meu humor
despencou depois dessa maldita aula, e a culpa nem é do professor ou da
matéria, meus amigos têm boa parte de culpa e estou péssima desde ontem.
Porra, eu transei outra vez com Travis, no vestiário, com todos seus colegas
sabendo o que estávamos fazendo.
Não era o que eu tinha planejado, não era o meu objetivo e nem
consegui a merda do acordo. Agora preciso esperar sua vingança e planejar
o que fazer depois, porque é claro que eu não vou deixá-lo vencer. Eu vou
até o fim.
Saímos da sala e os caras não conversam comigo, eles sabem que
não estou bem e não tentam me pressionar, nem me irritar. E é ótimo,
porque, talvez, eu acabasse os socando, eles mesmos que me ensinaram a
quebrar o nariz dos outros.
Eles conversam entre si e vamos para o estacionamento. Eu vou
respirando fundo, tentando me acalmar e melhorar meu humor.
Assim que deixamos o prédio e pisamos no estacionamento nos
deparamos com muitas pessoas, aglomeradas no mesmo lugar, rindo e
encarando algo.
— Que merda está acontecendo?
Dominic dá de ombros. Jace e Sebastian também não sabem.
Seguimos e, porra, estão ao redor do meu carro.
— O que vocês fizeram?
Meu mau humor está querendo voltar.
— Hey, Van, não fizemos nada.
Jace me responde e nos aproximamos, as pessoas abrem espaço e
todo autocontrole que eu busquei nos últimos minutos se esvai quando eu
me deparo com meu carro.
— Que merda é essa?
Minha voz sai entre dentes enquanto meu coração acelera em meu
peito, raiva ecoa em meu interior e juro que estou enxergando vermelho.
Existe um pau desenhado no capô do meu Nissan Skyline GT-R. Um pau
cor-de-rosa, eu nem gosto de rosa.
— Não acredito que esse maldito teve a capacidade de fazer isso…
eu vou matá-lo.
Meu precioso carro. Deus, eu realmente vou matá-lo. Imagens das
minhas mãos ao redor do seu pescoço ecoam em minha mente. Como ele
ousa me desafiar assim? Eu vou acabar com ele.
Olho ao redor e não demoro a encontrá-lo. Ele está apoiado contra
seu carro, está rindo e com o celular em mãos, tirando foto. É claro que ele
está achando engraçado!
As pessoas estão rindo e me encarando com deboche. Estou sendo
alvo de chacota. Isso eu não admito.
— Saiam fora.
Soo controlada quando, na verdade, estou prestes a explodir, porém,
ninguém me verá descontrolada, provavelmente, é isso que o idiota quer.
Travis deve estar ansioso para me ver ser humilhada, como ele foi
humilhado, mas não irá conseguir.
— Se continuarem na minha frente, eu vou atropelá-los.
Sorrio friamente. Vejo alguns me encarem assustados e, aos poucos,
eles se afastam. Espero estar apenas nós quatro e volto a encarar o imbecil.
Ele tem a cara de pau de erguer as sobrancelhas. Porra! Dou um passo à
frente e miro meu olhar nele, antes que possa continuar, Sebastian segura
meu pulso.
— Hey, Van, calma.
— Calma? Eu vou matar aquele idiota. — Sorrio, um sorriso irônico
e sem humor. — Cortá-lo em pedacinhos e jogá-lo para os jacarés, aliás,
vou jogar ele vivo para a morte ser mais lenta e dolorosa.
— Vocês parecem dois adolescentes brigando.
Dominic resmunga e olho para ele, indignada.
— Ele acabou de pichar meu carro com um pau.
— Vamos para casa, Van, depois você resolve isso e precisamos tirar
essa porra do seu carro — Jace tenta me convencer a desistir da ideia de ir
até Travis, por que ele está sendo sensato? Jace nunca é sensato. — Você
precisa pensar com calma em como irá se vingar.
Agora sim, ele está sendo o Jace de sempre e tem razão.
— Eu vou me vingar.
Falo alto o suficiente para Travis ouvir e, se não ouvir, espero que
consiga decifrar o que estou falando por leitura labial. Viro-me e entro em
meu carro, sento-me atrás do volante e dirijo para longe do estacionamento.
Faço questão de fazer barulho ao sair.
Porra, não acredito que ele teve a cara de pau de fazer isso. O
desenho do pau em meu capô continua em minha mente e, merda, eu estou
dirigindo um carro com um pinto desenhado. Humilhante!
É claro que isso não ficará assim! Amanhã mesmo, isso terá
retaliação.
Estaciono na garagem, desço e pego o que preciso para limpá-lo.
Jace, Sebastian e Dominic chegam, saem dos seus carros e se aproximam
para me ajudar. Nós quatro nos concentramos em apagar o desenho,
esfregamos a lataria do veículo com força e, ainda assim, falhamos, a tinta é
super-resistente e mesmo depois de alguns bons minutos, não obtemos
sucesso.
— Você terá que mandar alguém limpá-lo, algum profissional.
Jace diz por fim, cansado. Eu suspiro, afasto alguns fios do meu
cabelo que estão grudando em minha testa e continuo a minha tarefa,
determinada a tirar a porra dessa tinta do meu carro.
— Eu vou fazer o almoço.
Dominic desiste e entra em nossa casa. Sebastian, Jace e eu
continuamos. Eu odeio desistir, mas não há o que fazer.
— Chega, não vai sair.
Sebastian e Jace assentem e me encaram, aliviados. Largo a esponja,
desligo a mangueira e deixo a garagem. Subo as escadas, entro em meu
quarto e chuto a porra da porta, como se isso fosse amenizar a raiva que
estou sentindo.
Preciso me vingar, porém, não consigo pensar em nada. Todas as
possibilidades que ecoam em minha mente são bobinhas. Caminho pelo
meu quarto tentando pensar em algo.
Droga, Travis é o meu tormento, meu pesadelo. Ele consegue deixar
a minha vida tão pior. Estou suada e andando de um lado para o outro como
uma maluca. De repente, uma ideia ecoa em minha mente, paro e sorrio.
Estou profundamente satisfeita comigo, é criativo? Não, mas é
perfeito, deixará Travis irado e esse é o meu objetivo. Eu mal posso esperar
para ver sua reação.
Eu me sinto aliviada e posso respirar normalmente. Vou para o
banheiro me sentindo em paz, descobrir o que farei com Travis era tudo que
eu precisava para me sentir no controle outra vez.
Tomo um banho, saio do banheiro, visto uma roupa e começo a
colocar o plano para me vingar de Travis em prática. Pego meu notebook,
me sento sobre a cama com as costas apoiadas na cabeceira e abro o
Photoshop. Ainda bem que sou ótima em manipular e a forjar imagens. Eu
crio um print de uma conversa com o anexo de um exame e a foto de um
pau pequeno.
Ativo uma conta antiga do Twitter, uma que uso um nome falso e
uma foto da Viúva Negra, passo a seguir alguns perfis de alguns estudantes
de Dartmouth, salvo o post em rascunhos e deixo tudo pronto. É claro que
vou esperar o melhor horário para postar, quero muitos compartilhamentos.
À noite, todos ficarão sabendo que Travis Scott, o quarterback do time, o
temido piloto de corridas ilegais, tem sífilis, além disso, que tem um pau
pequeno. Sorrio, animada.
É mentira? Com certeza, talvez a maior mentira que já tenha
contado. Aquele maldito pau não é pequeno, mas, pelo menos, boa parte da
faculdade irá acreditar que ele tem o pau pequeno e sofre de ejaculação
precoce. Tadinho!
Desço para almoçar e os garotos estranham a minha animação. Eu
conto o que estou aprontando e eles riem. Será realmente incrível!
Nada é capaz de acabar com a minha felicidade, nem ter que dirigir
um carro com um pinto até o lava-jato, nem ter que pegar carona com Jace
para a faculdade, já que temos aula à tarde.
Ao fim da tarde, Jace me deixa no lava-jato e sorrio aliviada ao
encontrar meu carro limpo e sem nenhum pinto no capô. Eu sigo para casa,
é a minha vez de preparar o jantar, então vou para cozinha e, perto das nove
horas, finalmente, solto o post. Um print falso, é como se uma garota
estivesse contando para amiga sobre a noite com o Travis, ela deixa claro
que ele sofre de ejaculação precoce, não sabe usar o pau, além dele ser
pequeno, há até uma foto, uma foto qualquer que peguei na internet, e, para
finalizar, a pobre da garota está com sífilis.
Porra, até eu acreditaria, se não fosse eu quem tivesse forjado o print
e se não tivesse visto seu pau pessoalmente. Não demora para a postagem
viralizar, algumas garotas comentam que é mentira sobre o pau pequeno,
mas até elas acreditam na IST.
Jantamos rindo e debochando do principezinho. É uma noite incrível
e, quando acordo, estou ansiosa para encontrar com Travis. Até visto uma
roupa bonita, saia, botas, um top e jaqueta de couro. O dia merece uma
produção à altura.
Eu vou mais cedo para a faculdade, chego antes de todos e termino
de organizar a minha vingança. Então, vou até o corredor de engenharia
mecânica e fico esperando por Travis.
Não o encontro antes da primeira aula, mas estou saindo da sala para
ir para a segunda aula do dia quando me deparo com Travis entrando no
corredor. A expressão em seu rosto deixa claro o quanto ele está puto da
vida.
Meu Deus, é tão satisfatório!
Há sussurros ao seu redor, as pessoas se afastam dele, como se ele
estivesse com uma doença contagiosa, e, quando seu olhar encontra o meu,
sei que ele sabe que a responsável pela fake news, sou eu.
— Ele parece prestes a te matar.
Sebastian sussurra logo atrás de mim.
— Era exatamente isso que eu queria.
Dou um passo para frente enquanto mantenho meu olhar sobre
Travis.
— Aonde você vai?
Jace pergunta.
— Eu? Eu vou provocá-lo.
Deixo meus amigos para trás e sigo na direção do quarterback, ele
está olhando ao redor, furioso, enquanto segue até seu armário. É nítida a
tensão do seu corpo, ele parece prestes a explodir, encara todos com raiva e
tem os dentes trincados. Opa, ele parece um leãozinho raivoso!
Por que ele não está rindo agora?
Ele para em frente ao seu armário e eu me aproximo até estar ao seu
lado.
— Tudo bem, principezinho? — Finjo estar preocupada, ele segura o
cadeado do armário e posso ver que está fazendo força. — Só para constar,
eu não acredito nem um pouco na mentira que estão contando sobre você.
Ele rosna, preciso me conter para não rir e sair do meu personagem.
— Eu vou matá-la.
— Mas eu não fiz nada.
Vejo o exato momento que abre o cadeado, a porta e uma série de
purpurinas e confetes caem do seu armário. As veias saltam em seu pescoço
e seu rosto ganha um tom de vermelho.
Não consigo mais me conter e sorrio. Travis olha em minha direção,
fecha a porta do armário com um soco, então sua mão encontra a minha,
entrelaça seus dedos nos meus e me puxa.
— O que você está fazendo?
Digo entre dentes, ele não me responde e segue me puxando. Eu
tento me desvencilhar, mas não consigo, ele é bem mais forte.
— Não me faça jogá-la sobre meu ombro outra vez.
Porra, não vou causar a merda de uma cena e o acompanho. Ele me
leva até o último corredor do prédio, o antigo corredor de salas, elas não são
mais utilizadas, e, então, ele me empurra para dentro de uma delas e gira a
chave, nos trancando.
Cale a boca, querido, e mostre a que veio
Mãos santas, elas me tornarão uma pecadora?
Como um rio, como um rio
Cale a boca e me percorra como um rio
Sufoque esse amor até as veias começarem a estremecer
River (Bishop Briggs)

Sophie
Eu me apoio contra a mesa do professor que fica na parte da frente
da sala, enquanto Travis caminha de um lado para o outro. Ele está
transtornado, muito irritado. E eu me sinto como se tivesse acabado de
ganhar uma corrida.
— Aquela merda que você postou ultrapassou um milhão de
visualizações, Sophie — esbraveja. — Todos estão acreditando que eu
tenho pau pequeno, ejaculação precoce e uma IST.
Passa a mão pelo seu cabelo, é uma pena que ele seja curto, ou
estaria uma bagunça.
— Eu sou uma piada, jogadores de outras faculdades estão fazendo
piadas sobre mim. — Ele para e me encara. — Você foi longe demais.
— Eu fui longe demais? — Cruzo os braços abaixo dos meus seios.
— Você desenhou um pinto gigante no meu carro.
Tensão emana do seu corpo. Seu rosto segue vermelho, as veias
saltadas, ele está todo de preto, as tatuagens visíveis, ele parece um bad
boy, alguém realmente perigoso. E isso é um tormento, porque é uma
distração, faz com que eu esqueça do motivo de estarmos aqui, faz com que
eu não me lembre de estar com raiva dele e que deveria continuar irritada.
Mas é extremamente difícil, ele é lindo, sexy, além disso, eu sei do
que ele é capaz e sei o que existe embaixo da sua camiseta. Um abdômen
perfeito e cheio de gominhos. Eu desejo sentir suas mãos em mim, anseio
para que ele perca o controle e eu seja o seu alvo.
Merda, merda! Engulo em seco, respiro fundo e me obrigo a não
pensar sobre isso. Eu preciso me estabilizar e não ficar afetada.
— Você acabou com a minha moral, Sophie, você me destruiu.
Concentro-me em provocá-lo, ignorando que estamos em uma sala,
trancados e só nós dois. Finjo que não existe algo que me puxa em sua
direção e me faz querer esquecer qualquer rivalidade.
— Você parece um bebê chorão.
Faço um beicinho de choro enquanto inclino minha cabeça para o
lado e o encaro como se estivesse com pena dele. Travis fecha as mãos em
punho e dá um passo em minha direção.
— Você é realmente meu tormento, Sophie.
Volto a deixar minha cabeça reta e faço um barulho de estalo com
minha língua.
— Você está ficando tão repetitivo.
— Minha vontade era explodir o mundo depois daquele post.
Há faíscas de raiva deixando seus olhos, mas não é só isso. É como
se ele estivesse pegando fogo e eu estivesse prestes a me queimar.
— Sinto muito que alguém tenha feito um post de tão mau gosto.
Sorrio e ele segue caminhando até estar de frente para mim. Espalma
suas mãos ao lado da minha cabeça.
— Eu queria explodir o mundo por sua causa e você está
debochando de mim, princesa.
Mordo meu lábio inferior enquanto ele abaixa sua cabeça. Sua testa
quase toca a minha e fixa seus olhos nos meus.
— Eu debochando? Realmente, sinto muito, uma pena que alguém
tenha feito essa maldade com você.
É difícil respirar com ele tão perto de mim. Eu sinto sua respiração
contra o meu rosto e seu perfume me cerca.
— Deboche não combina com você, princesa.
Seus olhos brilham, um brilho sombrio que me deixa fascinada,
querendo desesperadamente me perder na sua escuridão.
— Eu acho que combina perfeitamente comigo.
Curva seus lábios e balança a cabeça.
— Você foi longe demais.
Ele repete como um disco arranhado. Ergo minhas mãos e deixo-as
sobre seus ombros.
— Toda ação tem uma consequência. — Faço um biquinho com
meus lábios. — E desenhar a porra de um pinto no meu carro desencadeou
esse resultado.
Desce sua mão e aperta a minha cintura.
— Você começou com tudo isso, você me deixou sem roupa, sem
celular e sem carteira no meio de uma estrada abandonada.
— Principezinho… — Soo sarcástica. — Você decidiu se vingar
porque quis.
Sua mão continua descendo pelo meu corpo até tocar minha coxa.
— Adorei a saia.
Seus dedos tocam a barra do tecido.
— Tudo era para prestigiar a sua queda.
Seus olhos seguem presos aos meus e nos encaramos com uma sede
por algo que nem sabemos explicar o que é.
— Você realmente acha que eu caí, não é?
Para de brincar com minha saia, traz sua mão até minha bunda e a
acaricia, mesmo existindo um tecido entre nós, um arrepio se eleva pelo
meu corpo.
— Você acha que irá me vencer tão fácil, princesinha?
Seus olhos deixam os meus, porque abaixa sua cabeça e seus lábios
tocam meu pescoço. Prendo a respiração e subo minhas mãos até sua nuca.
— Não, eu sei que não vou perder, Travis — consigo com que as
palavras deixem minha boca perfeitamente. — Não importa quantas
batalhas teremos que lutar.
Eu sinto quando Travis pega algo em meu bolso, no mesmo instante,
se afasta alguns centímetros. Desço minhas mãos, olho para baixo e ele tem
o meu chaveiro nas mãos. Fico o observando manusear até abrir e ter a
lâmina da faca visível.
— Eu poderia fazer tanta coisa com essa faca.
Ergo meu olhar, Travis está sorrindo, seus olhos estão brilhando e
ele me encara como se estivesse prestes a me consumir.
— E o que você irá fazer?
Dá um passo à frente, volta a se aproximar até que eu tenha que me
impulsionar para cima e me sentar na mesa. Ele não me responde, somente
sorri e ergue a sua mão, aproxima a faca do tecido da minha blusa.
— Você ficará muito melhor sem ela.
Desliza a lâmina para baixo e divide o tecido em dois. Não tenho
tempo de ficar com raiva, porque logo ele faz o mesmo com meu sutiã,
então tenho meus seios à sua disposição.
Travis não esconde o quanto gosta do que vê, seus olhos me
devoram enquanto toca meu mamilo com sua mão livre e brinca com o
piercing, apoio minhas mãos na mesa, inclino-me para trás e ofego quando
aproxima a faca dos meus seios, é um contato simples do metal contra
minha pele, mas que faz com que uma corrente de prazer percorra meu
corpo e termine no meio das minhas pernas.
Porra!
É apenas a ponta da faca pressionando levemente a minha pele, mas
é o suficiente para que eu me sinta prestes a entrar em combustão. Caralho!
Eu mordo meu lábio inferior e Travis desliza a lâmina para baixo, sua mão
deixa meus seios e desce até minha saia, enrola o tecido em minha cintura e
a faca segue descendo. Abro as pernas, ele sorri e abaixa o seu olhar.
— Você é mesmo uma garota muito má.
Afasta a faca da minha pele, gira-a em sua mão e aproxima o cabo
do meu clitóris. Minha respiração está totalmente irregular e preciso me
segurar para não fechar as pernas.
Sinto o cabo gelado contra minha pele quente mesmo através do
tecido e a sensação causa mais espasmos pelo meu corpo. Eu me encontro
em um estado deplorável. Para piorar minha situação, Travis pressiona meu
clitóris e gemidos escapam dos meus lábios, é impossível me conter.
Seguro-me para não fechar os olhos e o estou encarando quando
afasta a faca e volta girá-la, então, aproxima-a da lateral da minha calcinha
e a rasga, em seguida, rasga o outro lado e me deixa nua diante dele.
Ele deixa que a faca caia no chão, fica de joelhos diante de mim e
sua boca cobre a minha boceta. Não consigo mais e preciso fechar os olhos.
Travis me fode com a língua, seus dentes mordiscam lugares estratégicos e
palavrões deixam minha boca enquanto tenho minhas mãos em sua cabeça.
Travis não para até que eu esteja gozando em sua boca. É como se
um colapso acontecesse em meu interior, fico desorientada por alguns
segundos e, quando consigo abrir os olhos, Travis está em pé, calças
abaixadas, camisinha ao redor do seu pau e suas mãos em minha cintura.
Seu olhar encontra o meu, segura minha perna direita ao redor da
sua cintura e guia seu pau para dentro de mim. Ofego quando o sinto por
completo, continuamos nos encarando, mesmo quando ele retira alguns
centímetros e depois volta a se impulsionar em minha direção.
Não é tão cru quanto das outras duas vezes, é mais devagar, é um
outro ritmo, o prazer se constrói aos poucos, é lento e, porra, quando me
dou conta, me encontro ardendo outra vez, buscando algo como se minha
vida dependesse disso.
Nós dois estamos suando e, apesar da tensão, não dizemos nenhuma
palavra, os sons são silenciosos. Eu me encontro em êxtase, as sensações
dominam meu corpo, me controlam e, desta vez, é um orgasmo avassalador.
Algo que toma conta do meu corpo e da minha alma. Eu o vejo
vindo junto comigo e fecho os olhos. Nada mais importa.
É como se fosse teletransportada para outro lugar, para um outro
mundo, como se estivesse flutuando… Porra, não sou capaz de explicar a
forma como eu me sinto, é muito além do que eu senti outras vezes.
Não sei quanto tempo se passa, mas, de repente, Travis beija meu
ombro e se afasta, no mesmo instante, é como se a magia se perdesse, então
respiro fundo e abro os olhos.
Caralho, fizemos isso mais uma vez, é a terceira! Não há mais como
fingir que foi um único erro, um pequeno deslize que não voltará a se
repetir, porque a verdade é que poderíamos ter evitado, ter parado quando
percebemos o que, de fato, iria acontecer, porém não fizemos nada disso,
pelo contrário, é como se tivéssemos buscado uma desculpa para
transarmos.
Não é mais um descontrole, talvez seja um vício, e não consigo nem
me sentir arrependida. Encaro-o e, merda, se o pecado tivesse uma forma
humana, ele seria representado por Travis.
Meu pecado, que eu quero manter oculto e que não quero admitir
nem a mim mesma que o cometo.
Travis joga a camisinha no lixo, puxa sua cueca e calça para cima,
então pega um cigarro e um isqueiro no seu bolso, senta-se em uma das
mesas, apoia suas costas contra a parede e acende o cigarro.
— Você fuma.
O comentário deixa minha boca enquanto pulo da mesa, Travis dá de
ombros enquanto gira o cigarro em seus dedos.
— Eu não fumo, só às vezes quando estou muito tranquilo.
— Isso faz total sentido.
Ironizo enquanto ele leva o cigarro até seus lábios, eu olho para
baixo. Deus, eu sou uma bagunça. Blusa cortada, sutiã em pedaços, saia
enrolada ao redor da minha cintura.
— A vida não faz sentido, princesa.
Odeio concordar com Travis. Empurro minha saia para baixo,
rapidamente me livro dos retalhos dos tecidos e fecho a minha jaqueta para
cobrir meus seios.
Eu vou até Travis, me posiciono entre suas pernas, seu olhar
encontra o meu, nós dois nos encaramos e ele solta a fumaça do cigarro em
minha boca.
Ele me fita como se estivesse desvendando a minha alma e eu faço o
mesmo com ele. Travis tem um olhar sombrio e impenetrável, não sei o que
ele está pensando, nem o que está sentindo, mas lá no fundo, sei que é tão
ferrado da mente quanto eu.
Ele está certo, dividimos a mesma escuridão.
— Como você teve coragem de mentir sobre o tamanho do meu
pau?
Ergue sua mão e coloca alguns fios do meu cabelo para trás da
minha orelha. Seus lábios estão curvados em um sorriso, mas não há apenas
diversão em seus olhos, existe algo mais que faz com que a tensão ao nosso
redor aumente.
— Para vencer vale tudo, principezinho.
Sorrio e meu coração bate acelerado.
— Confesse que é mentira e prometo que não irei me vingar,
princesa.
O sorriso em meu rosto amplia.
— Querendo um acordo?
Ele traz o cigarro até minha boca e é a sua vez de receber a fumaça
que deixa meus lábios.
— É um acordo justo, Soph.
A abreviação do meu nome ecoa em meus ouvidos e faz com que eu
precise engolir em seco, por que isso mexe tanto comigo? Não faço a
mínima ideia.
— Eu não tenho medo de como você irá se vingar.
Travis leva o cigarro de volta até sua boca.
— Eu sei. — Joga a fumaça para cima. — Mas se não dermos um
fim agora, ficaremos o restante das nossas vidas nesse joguinho.
Ele está sendo exagerado.
— Eu acho que você está com medo, Travis.
Provoco-o e ele ri. Travis pode estar com raiva do que eu fiz, mas,
com certeza, não está com medo, ele não se assusta fácil.
— Você não irá desistir, não é? — pergunta com seus olhos fixos nos
meus e assinto. — Nem eu
Travis confessa. A forma como nos encaramos é tão íntima que me
assusta, é como se ele realmente estivesse conseguindo enxergar a minha
alma.
— Faça um post admitindo ser uma mentira e terminamos
empatados, princesa. — Empatados? Ergo minhas sobrancelhas e ele ri. —
Pelo menos essa batalha.
Estreito os olhos em busca de algum sinal de que ele esteja querendo
me enganar. Travis não se importa em trapacear e nem eu!
— Como vou ter certeza de que você cumprirá sua parte no acordo?
— Você terá que confiar em mim.
Balanço a cabeça, ele não pode estar falando sério.
— Eu prefiro ter que confiar em uma serpente.
Ele suspira e finge estar decepcionado.
— Vamos lá, é a melhor alternativa, Soph, ou ficaremos nessa guerra
eternamente. — Desce sua mão até minha perna e acaricia a minha pele. —
Você não tem nada a perder, ninguém ficará sabendo que foi você que
contou a mentira, eu não vou voltar atrás, mas, caso descumpra o acordo,
você sempre poderá se vingar de mim.
Ele não está errado.
— E você precisa de uma prova? — Travis me afasta, pula da mesa,
apaga o cigarro, joga no lixo e pega minha faca. — Eu vou te dar uma
prova.
Cruzo os braços na frente do meu corpo, apoio-me contra a mesa e o
observo.
— Um acordo de sangue.
Ele faz um corte superficial na palma da sua mão.
— Você está maluco.
Dá de ombros e sorri, um sorriso sombrio. Uma gota de sangue
brilha em sua pele, oferece-me a faca, eu suspiro e a pego, então faço uma
careta e deixo que a lâmina rasgue minha pele.
Droga, o corte arde!
Travis se aproxima e selamos o acordo com um aperto de mão com
nossos sangues se misturando. A forma como nos encaramos não é nada
inocente e sei que cumpriremos com o combinado.
Não é nada de mais, mas eu sinto como se estivesse selando meu
destino. Um arrepio percorre meu corpo, um formigamento toma conta de
mim e desvencilho nossas mãos rapidamente.
— Eu vou esperar você cumprir a sua parte no acordo.
Travis volta a se sentar na mesa, então eu ocupo a mesa ao seu lado
e faço o prometido. Crio um post, confesso que estava me vingando, minto
que ele não me ligou no dia seguinte e fiquei irritada com isso, anexo prints
do exame e pau falso, além disso, mostro como fiz o print falso.
Ao fim, Travis, sorri satisfeito, segura meu pulso e o leva até seus
lábios. Ele está me encarando quando deposita um beijo na palma da minha
mão sobre o corte.
Continuamos nos encarando por alguns segundos e sou eu quem
desvia o olhar. Olho para frente enquanto me desvencilho de Travis e pulo
da mesa.
— Não tente trapacear, Travis, ou irei acabar com você.
— Ok, princesinha, recado anotado.
Caminho na direção da porta, mas antes que toque a maçaneta,
Travis se aproxima e traz suas mãos até minha cintura, vira-me até que eu o
esteja encarando.
— Um beijo de despedida, princesinha?
Ele não espera por minha resposta, simplesmente, cobre minha boca
com a sua e rouba o maldito do meu fôlego.
Querida, poderíamos ser Bonnie e Clyde
Querida, poderíamos sair com estilo
Dois amantes fora da lei
Fique disfarçado
Bonnie & Clyde (Rosenfeld)

Travis
Seguro seu rosto com minhas mãos enquanto a beijo. Seus lábios são
perfeitos e seu gosto mistura-se com o de cigarro. Caralho, é viciante e eu a
beijaria o dia todo, mas isso não é possível.
Eu me afasto, toco a lateral do seu rosto com meus dedos e a encaro,
seus lábios estão inchados, molhados e seus olhos contêm um brilho de
malícia. Tão perdida quanto eu!
Encosto meus lábios mais uma vez nos seus, um rápido contato, e
dou um passo para trás. Ela e eu nos encaramos uma última vez e, porra, é
muito mais intenso do que deveria ser.
É difícil, mas deixo que ela vá. Espero alguns segundos, respiro
fundo, então, pego a mochila que joguei no chão assim que entramos e
também saio da sala.
Estou atrasado demais para a aula, então vou para casa. Sophie não
sai da minha cabeça, mesmo quando me esforço para mantê-la longe.
Merda, é como se a garota estivesse sob minha pele.
Assim que eu chego, deixo o carro na garagem e sigo para o meu
quarto. Tiro minha roupa e vou para o banheiro. Entro embaixo do chuveiro
e a água cai pelo meu corpo.
Eu vi o post ontem à noite e não foi preciso ser um gênio para saber
que era a vingança de Sophie, mesmo usando um perfil fake, e ela
conseguiu me deixar furioso. Ela espalhou pela internet que tenho o pau
pequeno, IST e ejaculação precoce, algo que não ficou somente em
Hanover, ganhou uma proporção gigante.
Virei a chacota de Dartmouth. Estou sendo alvo de piadas dos meus
colegas de time e de jogadores de outras universidades. Inclusive, recebi um
e-mail do treinador, ele está me acusando de estar envolvido em mais uma
polêmica. Marcamos uma reunião para antes do treino de hoje e espero que
consiga convencê-lo a não me expulsar do time.
Minha vontade era explodir a porra do mundo, precisei me segurar
para não destruir meu quarto, jogar tudo contra a parede e permitir que meu
temperamento explosivo vencesse.
Fazia muito tempo que eu não sentia tanta raiva. E, para piorar,
quando cheguei à faculdade hoje pela manhã, escutei cochichos sobre mim
e todos estavam se afastando como se fossem pegar a porra da doença que
ela me acusou de ter apenas por respirar perto de mim.
Eu demorei para construir minha reputação, para ser respeitado e, de
repente, ela destruiu tudo. Talvez para outras pessoas não seja importante,
mas para mim, é. É muito mais que apenas popularidade.
Como se não bastasse, ela se aproximou para me provocar e encheu
a porra do meu armário de purpurina. Naquele momento, tudo que eu queria
era acabar com ela de alguma forma, de puni-la, porém, bastou olhar em
seus olhos para esquecer o que merda estava acontecendo.
Sophie é meu tormento, meu pesadelo e meu descontrole. O controle
que tanto lutei para ter, eu perco em questão de segundos quando ela está
por perto.
E, caralho, na merda daquela sala, em algum momento, algo mudou.
O ódio deixou de ser o sentimento predominante, ele se transformou, como
se nossas escuridões, de repente, se reconhecessem e se entrelaçassem.
Porra!
Odeio admitir, mas preciso mantê-la longe. Não vou me vingar, não
pelo acordo, mas porque não posso continuar. Isso tira minha paz, odeio
perder, porém, o que eu vou fazer? Perder o maldito controle toda vez que
ela está por perto? Perder algo que lutei tanto para ter?
Foda-se!
Finalizo meu banho e estou irritado, não é comigo, não é com a
Sophie, é com a vida.
Desço para a cozinha, descongelo algo para comer e almoço
sozinho. Amo meus irmãos, mas é um alívio não os ter por perto. Não quero
encontrar ninguém.
Sento-me de frente para o balcão e confiro o novo post de Sophie,
ele funcionou, há muitas visualizações e comentários. Para minha sorte,
estão acreditando na minha inocência e atacando o perfil fake de Sophie,
eles a estão chamando de recalcada, dizendo que bem desconfiaram e que
era óbvio que era mentira. Ainda bem que eles nunca descobrirão que é ela
por trás de tudo isso ou sua vida seria um inferno.
Eu almoço, limpo o que sujei e vou para a sala. Sento-me no sofá e
ergo minha mão, giro-a e observo o corte. Sophie e eu fizemos um pacto de
sangue, o quão insanos nós somos?
Sorrio, abaixo minha mão e ligo a televisão. Eu fico assistindo a um
jogo até o horário de ir encontrar Owens.
Ansioso, dirijo para o estádio, meu carro fica no estacionamento e
sigo para a sua sala. Bato na porta, ele manda que eu entre e, assim que
entro, sei que estou encrencado.
Sento-me de frente para Owens e ele chama minha atenção. Recebo
um sermão por conta de ontem, segundo ele, é inadmissível que eu leve
uma garota para o vestiário e, como se não fosse o suficiente, ele me destrói
por conta da polêmica de mais cedo.
Preciso respirar fundo e encontrar argumentos bons o suficiente para
que ele não me ponha no banco. Preciso de vinte minutos para convencê-lo
a me dar uma chance. A última chance, não posso me envolver em mais
nenhuma polêmica.
Após a conversa, deixo sua sala e sigo para o campo. É um ótimo
treino, com exceção de Fred, ele me provoca o tempo inteiro e preciso me
conter para não partir para cima dele.
Há piadinhas por conta do post de Sophie, mas levo tudo na
brincadeira. E, assim que o treinador finaliza o treino, vou para o vestiário,
tomo um banho rápido e sigo para casa.
Meus irmãos estão em casa, na sala, e a primeira coisa que me
perguntam quando me encontram é o que eu fiz para Sophie voltar atrás, é
claro que eles sabem que foi ela. Eu falo sobre o acordo, escondo a parte
que transamos e do pacto de sangue, eles não precisam saber de tudo.
Eles aceitam a explicação, encerro a noite com meus irmãos e subo
para o meu quarto.

Minha primeira aula na quinta-feira é no segundo horário da manhã


e, assim que eu piso no corredor, eu a vejo. Sophie está apoiada na parede
conversando com os idiotas que sempre estão com ela.
Ela olha em minha direção e nossos olhares se encontram. Porra, é
como se existisse uma força invisível que me puxasse até ela. Trevor fala
algo ao meu lado e apenas concordo, não faço a mínima ideia do que ele
está falando.
Engulo em seco e desço o olhar pelo seu corpo. Ela está usando uma
camiseta de uma banda de rock e shorts. Shorts curtos, é impossível não
desejar ter minhas mãos em sua pele e suas pernas ao meu redor.
— Você está precisando de um babador?
Trevor me provoca.
— Cala a boca.
Desvio minha atenção para Trevor e meu irmão balança a cabeça,
mas não ri. Volto a olhar para frente e ela ainda está me encarando. Sigo
adiante e só desvio meu olhar quando entro na sala.
Não volto a ver Sophie e minha quinta-feira é tão entediante quanto
todas as outras, principalmente, porque à tarde sou obrigado a participar do
clube de leitura, por que eu achei que essa era uma ótima maneira de obter
horas?!
É fim de tarde quando deixo o prédio de linguagens e o celular no
meu bolso vibra assim que entro no carro. Ocupo meu lugar atrás da
direção, pego o aparelho e é uma mensagem de Elijah.
Ele está informando qual será o circuito que faremos amanhã, é claro
que conheço o local, não preciso fazer um reconhecimento, mas o sol está
se pondo e eu amo correr ao pôr do sol. E eu amo o lugar em que a corrida
terminará, é um dos meus lugares preferidos em Hanover.
Sorrio, largo o celular no banco ao meu lado e dirijo para longe do
estacionamento.
Ao chegar à rodovia abandonada, piso no acelerador e sinto a
adrenalina circulando em meu sangue e a emoção de estar fazendo o que
amo vibra em meu peito.
Porra! Aqui eu tenho controle. Controlo o carro, a velocidade. É a
minha melhor versão, é o que faz meu coração acelerar e tranquiliza a
minha mente.
O céu é uma mistura de cor, do laranja profundo ao rosa suave. A
iluminação que se espalha ao meu redor é quente. São tons acolhedores e
aconchegantes.
Eu me sinto no paraíso!
Correr é meu vício, é o que me mantém inteiro, o que mantém meus
pedaços quebrados colados. Avanço até onde será a corrida, depois da
terceira curva.
Desta vez, o circuito é invertido e bem depois do começo da rodovia.
É o mais longo e inicia-se em um cruzamento A pista à esquerda leva até
uma estrada ativa, é a pista de ligação, mais um quilômetro até lá. E à
direita termina em um túnel, essa parte é a parte proibida por Elijah,
ninguém deve ultrapassá-lo e se fizer, será expulso da liga. O túnel fica a
cinco quilômetros, longe o suficiente para ajudar Elijah a manter os
curiosos longe.
Eu sei o porquê Elijah proibiu o acesso ao túnel, eu sei o que existe
depois dele, já estive lá. Não sou bom em cumprir regras.
Paro no meio da pista, saio do carro e me sento no capô do meu
Honda Civic Type R. A paisagem à minha frente é uma clareira e no
horizonte há algumas árvores, normalmente, não é algo de tirar o fôlego,
mas as cores do sol se pondo se misturam com o verde, infiltram-se pelas
copas das árvores, refletem na grama e eu me sinto em um filme da Disney.
Não há barulho nenhum, com exceção do som de alguns
passarinhos, se tivesse que definir a paz seria assim.
Pego um cigarro e o giro em meus dedos. Não menti para Sophie,
não fumo, mas gosto de fumar quando estou muito calmo, por quê? Não sei,
mas tenho essa mania.
Levo minha mão ao bolso outra vez para pegar o isqueiro, mas paro
quando escuto o motor de um carro. Olho para trás e vejo um Nissan
Skyline GT-R branco se aproximando, o carro de Sophie.
Sorrio, guardo o cigarro e a observo se aproximar, frear, girar o
veículo e parar ao meu lado. Ela sai do carro e me encara com as suas
sobrancelhas erguidas, ela claramente não esperava me encontrar aqui.
Eu também não esperava vê-la. É claro que ela levará minha paz
para longe, mas isso não me irrita.
— Hey, princesinha.
Continua caminhando em minha direção.
— O que você está fazendo aqui?
É óbvio que ela não pegará leve e isso faz com que o sorriso em
meus lábios amplie. Deus, provocá-la é tão bom.
— Até onde eu sei, essa é uma via pública — as palavras saem
minha boca repletas de sarcasmo. — Ou era, agora ela está interditada e nós
dois estamos fazendo algo proibido.
Ela revira seus olhos, mas posso ver que está se segurando para não
rir. Sophie se aproxima e se senta ao meu lado, tão perto que nossas pernas
se tocam.
— Recebi a mensagem de Elijah com o circuito de amanhã, eu
estava entediado e decidi vir até aqui — confesso. — E gosto de ver o sol se
pondo daqui.
— Eu estava dirigindo para casa quando recebi a mensagem de
Elijah — admite. — E vir até aqui pareceu uma ótima ideia.
— E se arrependeu quando me encontrou aqui.
Ela ri e o som ecoa pelo lugar. Não lembro de tê-la visto rir assim e,
porra, é bonito pra caralho. Engulo em seco e me obrigo a olhar para frente.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e prendo a respiração, só volta ao
normal quando escuto a sua voz outra vez.
— Nunca vi o sol se pôr daqui.
— Às vezes, eu venho até aqui e fico observando o pôr do sol —
revelo. — É um dos meus lugares preferidos.
— Um lugar tão sereno e calmo combina perfeitamente com você.
Ela está me provocando, mas não é só isso, ela realmente está
curiosa.
— Algumas vezes precisamos do silêncio.
— E eu acabei com seu silêncio.
Olho para o lado e ela está me encarando com um beicinho em seus
lábios, eu me contenho para não me inclinar e beijá-la.
— Sim, você trouxe o seu caos para perto de mim.
Concordo e nós dois estamos sorrindo debochados, entretanto, não é
apenas isso, não é somente a provocação. Podemos fingir que não, mas
estamos curiosos em relação ao outro, talvez seja o fato de funcionarmos
tão bem no sexo.
— Sinto muito acabar com a sua paz, principezinho.
Mantenho meus olhos fixos nos seus.
— Mentirosa.
Morde seu lábio inferior, o sorriso deixa seus lábios, mas o brilho de
diversão segue em seus olhos.
— Não estou mentindo.
Ergo minha mão e coloco alguns fios do seu cabelo para trás da sua
orelha.
— Um mentiroso reconhece o outro.
Pisco para ela e Sophie volta a rir. Ainda é a Sophie com ar de garota
má, mas existe algo diferente, como se ela estivesse com a guarda baixa.
Talvez devesse usar o momento para tirar proveito, porém, não quero. Não
hoje!
— Então, está assumindo que é um mentiroso, principezinho?
Enquanto a estou encarando, esqueço do que estamos falando. Qual
é mesmo o assunto? Não sei, não faço a mínima ideia. Preciso me
concentrar e olhar para baixo para me lembrar da conversa.
— Jamais, jamais!
Meu olhar volta a encontrar o seu e a força que está sempre nos
puxando na direção um do outro fica ainda mais intensa. Porra! Por alguns
segundos, ficamos apenas nos encarando e é Sophie quem desvia o olhar.
— O que será que há depois do túnel?
Olho na mesma direção que ela e encaro o vislumbre, que
conseguimos ter daqui, do túnel que foi aberto entre as rochas.
— Eu sei o que há depois do túnel.
— Descumprindo as regras, principezinho?
Sorrio e pulo do capô do carro.
— Não sou bom em cumprir regras. — Paro à sua frente, espalmo
minhas mãos ao lado da sua cintura e me inclino em sua direção. — E você
é boa em cumprir regras, princesa?
Eu a estou provocando e ela sabe disso.
— Nunca encontrei um motivo para descumprir essa regra.
— Sempre com um bom argumento.
— Não são argumentos, são fatos, Travis. — Dou um passo para trás
e ofereço minha mão. — O quê?
Pergunta sem entender e sorrio.
— Venha, deixa eu te mostrar o porquê de ultrapassar o túnel é algo
proibido.
Um sorriso surge em seus lábios. Ela não hesita e coloca sua mão
sobre a minha.
Tantas manhãs eu acordei confusa
Nos meus sonhos eu faço tudo que quero com você
Minhas emoções estão à mostra
Elas estão me deixando louca
Shameless (Camila Cabello)

Travis
Sophie desce do capô do carro, nós dois estamos sorrindo e nos
encaramos como se estivéssemos prestes a conquistarmos o mundo. A
sensação deve ser a mesma!
Não trocamos mais nenhuma palavra, ela segue para o seu carro e eu
entro no meu. Dirijo em frente, avanço pelo túnel e ela me segue.
Aceleramos e observo o velocímetro girar até o máximo.
Dentro do túnel é escuro apenas iluminado pelos faróis do carro.
Pelo retrovisor, eu vejo Sophie. Existe uma excitação diferente vibrando
dentro de mim, não é a mesma de quando estou correndo, nem a mesma de
quando estou disputando algo. Não estou em busca de vencer, mesmo assim
meu coração está acelerado e ansioso, como se estivesse prestes a encontrar
algo.
Saímos diante de uma outra via, uma que termina em um penhasco,
e, ao lado, há um mirante para a cidade e do outro um parque de diversão
desativado.
Eu piso no freio, Sophie faz o mesmo e paramos no meio da rua.
Saio do carro e ela faz o mesmo. Eu a encaro e ela está olhando ao redor,
observando cada detalhe.
O sol está quase se pondo, o céu está ficando cada vez mais escuro e
podemos ver a transição do dia para noite. No momento, o céu é uma
mistura de rosa, vermelho e roxo, podemos ver a lua nitidamente e não
demorará para tudo estar escuro, conseguiremos ver as estrelas. Além disso,
as luzes da cidade lá embaixo estão começando a ficar visíveis.
— É incrível.
Soa atordoada. Caminha em frente e eu a sigo. O local está
totalmente abandonado, o arco de entrada do parque está caído, os
brinquedos estão enferrujados e são apenas destroços do que já foram um
dia, as grades do mirante são velhas e estão faltando pedaços, os
paralelepípedos estão saindo do chão, não há nada no lugar, é sombrio,
desses que usariam para gravarem filmes de terror, porém, existe algo que
me cativa e me atrai, tornando-o incrível.
Sophie se aproxima das grades que ficam na beira do penhasco e eu
a acompanho. Ela tem um olhar de admiração, o mesmo que há em meus
olhos. É tão fascinante para ela quanto é para mim.
Talvez seja o fato de ser proibido, talvez seja o penhasco à nossa
frente, a visão deslumbrante da cidade, o silêncio, ou o fato de saber que
ninguém aparecerá aqui, quem sabe o ar sombrio. Não sei, é simplesmente
reconfortante.
— Você sabe por que este lugar foi abandonado?
Ela me pergunta enquanto para a centímetros das grandes. Eu paro
ao seu lado e encaro a cidade abaixo de nós dois.
— Alguns dizem que essa rodovia foi desativada porque caiu em
desuso com a inauguração da outra e, como consequência, este lugar foi
esquecido.
— Como se esquece de algo assim?
Sorrio.
— É um lugar longe da cidade e outros espaços surgiram, as pessoas
tendem a descartar o que acreditam não ser mais útil.
Olho para o lado e é fascinante o brilho que há em seus olhos.
— É por isso que eu odeio os seres humanos.
Ela soa divertida e, por fim, curva seus lábios em um sorriso.
— Não gosto de concordar com você, princesinha… — Inclino-me e
aproximo meus lábios da sua orelha. — Mas tenho a mesma opinião que
você.
Vira-se e seu nariz quase toca o meu.
— Com algumas exceções, é claro.
— É claro.
Concordo com ela, então, ela volta a olhar para frente e eu mudo de
posição, ficando com as minhas costas totalmente eretas.
— Deveria ser muito incrível quando tudo estava ativo.
Assim que escuto suas palavras, olho ao redor e posso imaginar as
pessoas, os brinquedos, os casais passeando por aqui, o lugar repleto de
gente, risadas e conversas.
— Eu gosto mais de como está agora.
Ela ri e volta a me encarar.
— Eu sei do que você está falando, principezinho.
Ergo as sobrancelhas e cruzo os braços à frente do meu corpo.
— E do que eu estou falando, Soph?
Dá um passo para frente e diminui a distância entre nós. Eu abaixo
meu rosto e fixo meus olhos nos seus.
— Da beleza da escuridão, da perfeição do caos, do quanto a ruína
pode ser perfeita.
Ergo minha mão e acaricio a lateral do seu rosto, ela não se afasta e
nem me afasta.
— Você está certa. — Aproximo meus lábios dos seus. — A ruína
perfeita.
Cubro seus lábios com os meus. Porra, é o que eu queria ter feito
desde que a vi de manhã na faculdade, é o que eu deveria ter feito desde o
momento que a encontrei aqui.
Seus lábios se encaixam perfeitamente nos meus, é como se uma
explosão acontecesse quando nos beijamos. Espalma suas mãos em meu
peito e levo as minhas até sua cintura, puxo-a para ainda mais perto e torno
o espaço entre nós o mínimo possível, sinto todo meu corpo tocando-a.
Minha língua explora a sua boca e ela faz o mesmo comigo, é uma
entrega total. A luxúria me controla e ondas de desejo reverberam pelo meu
corpo. Por segundos, eu a beijo como se nossas vidas dependessem disso.
É perfeito!
São segundos perdidos um no outro, como se o tempo tivesse
congelado, como se estivéssemos em outro lugar, um mundo só nosso.
Seguramos o máximo que conseguimos, mas precisamos respirar, de mais
fôlego, então levo minhas mãos até seu rosto, seguro-o, abro meus olhos e
mordo seu lábio inferior, quando ela abre os seus olhos, encontra os meus e
eles estão escuros.
O dia cedeu lugar à noite e a escuridão nos cercou. A única
iluminação vem da cidade lá embaixo e do céu.
Abaixo minhas mãos, ergo meu rosto e respiro fundo. Não há o que
ser dito, não existem palavras que eu possa usar. Não há justificativas!
Sophie dá um passo para trás, vira-se e fica de costas.
Eu passo a mão pelo meu cabelo e olho ao redor. Meu coração
parece prestes a pular do meu peito e me sinto ansioso, querendo,
desesperadamente, algo que eu possa usar como desculpa para trazê-la para
os meus braços outra vez.
— Você já entrou no parque?
Ela chama minha atenção, volto a encará-la e assinto. Sophie sorri e
olha para frente.
— Você deveria me levar para um passeio.
Ela não precisa me dizer mais nada, entrelaço minha mão na sua e
avançamos até a entrada do parque. Ajudo Sophie a passar pelos destroços
e, em seguida, adentro o local.
Os restos dos brinquedos ainda estão aqui, descascados, quebrados e
enferrujados. Há também alguns ursinhos de pelúcia e embalagens de
pipocas jogadas pelos chãos.
Os detritos impedem que a iluminação da cidade chegue até aqui e o
lugar é ainda mais escuro. Pego o celular em meu bolso e ligo a lanterna.
Andamos pelo espaço de mãos dadas e eu vou iluminando os espaços à
nossa frente.
— Espero que você não tenha medo de ratos, baratas e aranhas,
princesa.
Ela ri.
— São bichinhos inofensivos, Travis.
Continuamos explorando o lugar, não há muito o que fazer, mesmo
assim, é algo que faz uma dose de adrenalina circular pelo sangue.
Precisamos ter cuidado para não tropeçarmos em nada e nem tocar em nada
que possa nos cortar.
Sophie e eu seguimos em silêncio, palavras não são necessárias, e,
apesar de não estarmos conversando, é diferente das outras vezes em que
estive aqui, porque não estou sozinho.
— Com certeza algum universitário idiota faria alguma merda se
Elijah liberasse o túnel.
Sophie finalmente chega à conclusão do porquê o túnel ser algo
proibido.
— Ou se jogaria do penhasco bêbado, ou invadiria o parque e
terminaria com o corpo perfurado por alguma lata velha.
Complemento a sua linha de pensamento e ela ri.
— E, obviamente, seria um problemão para Elijah.
Assinto.
— A polícia se envolveria, porque, sobre isso, não é possível fazer
vista grossa.
— Como fazem com as corridas.
Acrescenta.
— Exato.
Concordo mais uma vez com ela e Sophie olha ao redor.
— Estou feliz que ninguém saiba deste lugar.
— Sabe, princesinha… — Ela volta a me encarar. — Odeio
concordar com você e fiz isso muitas vezes hoje.
Sorri, um sorriso vitorioso que causa uma comoção em meu interior.
— Espero que você sobreviva a isso.
Sorrio, apago a lanterna e o escuro nos cerca. A iluminação só é
suficiente para conseguirmos ver a nossa sombra. Paramos e ficamos um de
frente para o outro.
— Eu conheço este lugar, sei onde posso ou não pisar. E o que não te
contei, Sophie, é que este parque foi projetado para parecer um labirinto.
Olha ao redor e ela deve estar percebendo que não estou mentindo.
Nós andamos, caminhamos e contornamos vários brinquedos, porque é um
labirinto.
— Poderia deixá-la aqui sozinha e você não saberia como sair. —
Dou um passo para frente. — Ficaria aqui, sozinha, por horas.
Ela ri, o sorriso de quem não tem medo nenhum.
— E eu não ficaria com medo.
— É claro que você não ficaria com medo.
Seus olhos brilham, morde seu lábio inferior e dá um passo para trás.
— Irá me deixar aqui, Travis?
Balanço a cabeça negando, estendo minha mão, seguro seu pulso e a
puxo em minha direção.
— Não.
Faz um beicinho no mesmo instante em que volto a ligar a lanterna.
— É uma pena, eu adoraria brincar de esconde-esconde.
Ergo minha mão e acaricio seu rosto.
— Você poderia se machucar. — Levo minha mão até sua nuca,
enrolo meus dedos nos fios do seu cabelo, puxo seu cabelo para trás e deixo
seu pescoço exposto. — E eu odiaria vê-la machucada.
Minha boca encontra a sua e nos beijamos. Não temos pressa, é um
beijo mais calmo, calmo para nossos padrões, porque ainda assim é um caos
e seus lábios estão inchados quando nos separamos.
Mantenho minha mão em seu cabelo, impedindo-a de se afastar.
Encaro-a por alguns segundos, ela ainda me desafia, ainda me provoca, mas
é diferente, o ódio não é a emoção predominante.
São apenas segundos, mas parecem uma eternidade, então a libero e
passo meu braço pelos seus ombros, ela se apoia em mim e seguimos
caminhando pelo parque.
Apesar dos resíduos, não encontramos nenhum animal, nem vivo e
nem morto.
O último brinquedo era um trem-fantasma, os carrinhos ainda estão
ali, parados, como se ainda estivessem esperando alguém ocupá-los. Sophie
me encara e sorri com malícia, ela não precisa me dizer nada para que eu
entenda o que irá fazer.
Desvencilha-se de mim e ocupa um dos carrinhos, ela olha em
minha direção e ergue suas sobrancelhas. Sorrio e pulo no brinquedo,
sentando-me ao seu lado.
Eu passo o braço ao seu redor, ela se apoia em mim, olha para cima
e fita o céu estrelado.
— É muito mais fácil ver as estrelas aqui.
Sophie soa admirada. Sei do que ela está falando, as estrelas ficam
mais visíveis, muitos pontinhos brilhantes e é incrível, mas, no momento,
ficar olhando para ela é mais vantajoso. É uma visão muito melhor!
— Sim, eu gosto de me deitar no capô do carro e ficar tentando
identificar as constelações.
Confesso e ela volta a me encarar.
— E você consegue?
Sorrio e balanço a cabeça negando.
— Não faço a mínima ideia de onde elas estão, mas gosto de fingir
que posso achá-las.
— Tentando enganar a si mesmo, principezinho, que feio.
Provoca-me, eu apenas sorrio e dou de ombros e ela volta a olhar
para o céu. Desta vez, eu também encaro as estrelas e ficamos por um
tempo somente observando-as, sem trocarmos nenhuma palavra.
— Você realmente vem muito aqui?
Ela pergunta, eu abaixo meu rosto e ela está me observando.
— Sim.
Ela sorri e minha respiração falha, ela está linda pra caralho. A
pouca iluminação combina com ela, é como se ela pertencesse a este lugar.
— À noite, este lugar combina bem com você.
As suas palavras não me surpreendem e as recebo como um elogio.
— Você está me chamando de sombrio?
Ela sorri, um sorriso malicioso que faz com que meu pau lateje
contra minha calça. Sophie muda de posição, senta-se em meu colo, dobra
seus joelhos, deixa-os apoiados no banco ao lado da minha cintura e
espalma as mãos em meu peito.
— O deus da escuridão.
Minhas mãos sobem pelas suas costas.
— E você, Sophie, combina com a escuridão?
Pressiono meus dedos contra sua nuca.
— Eu amo me perder na escuridão, Travis.
Beijo-a e não demoro para tê-la se esfregando em mim. O meio das
suas pernas contra minha ereção. Minhas mãos passeiam pelo seu corpo e a
aperto sem medo de machucá-la.
Desço meus beijos pelo seu pescoço, eu adoro o seu perfume, amo
como ela reage a mim. Sophie leva seus dedos até a barra da minha camisa
e me afasto para vê-la jogar a peça de roupa longe.
Aproveito a sua posição para tirar sua blusa, o sutiã e chupar seus
seios. Seus gemidos ecoam pelo parque abandonado e são a motivação para
que eu siga em frente. Enquanto tenho a boca em um, brinco com o piercing
do outro.
Ela continua friccionando a sua boceta contra o meu pau e odeio o
maldito do tecido entre nós. Eu preciso estar dentro dela! Eu não tinha a
intenção de transar com ela, mas, caralho, é simplesmente impossível parar.
Deixo seus seios de lado por alguns segundos e a encaro. Sophie está
tão entregue, não precisamos trocar nenhuma palavra, ela fica em pé, tira o
restante da sua roupa e joga sua calcinha em minha direção.
— Porra, Sophie.
Pego o tecido, amasso e o trago até meu nariz. Ela sorri, um sorriso
que acaba com o restante do meu juízo. Jogo a peça íntima de lado e, com
pressa, tiro meu tênis, calça, e cueca, pego uma camisinha na carteira e o
celular cai em algum lugar.
Sophie se senta sobre mim, coloca a camisinha ao redor do meu pau
e o guia para dentro dela. Porra, é o paraíso! Ela dita o ritmo, eu apenas
seguro sua cintura e deixo que ela esteja no controle.
Sophie não para até que esteja gritando meu nome, eu não demoro a
segui-la e me derramo na porra da camisinha. Fecho os olhos e jogo minha
cabeça para trás, nem me importo em apoiar minha cabeça na lataria
enferrujada.
Eu realmente me sinto um deus!
Só abro os olhos quando ela se afasta. Eu a observo se vestir com
um sorriso em meus lábios, ela também está rindo.
— Vamos, principezinho.
Aponta o dedo em minha direção quando está vestida.
— Vamos, princesa.
Eu me visto, uno nossas mãos e deixamos o parque. Eu a levo até
seu carro e nos despedimos com um beijo. Sophie ocupa o banco atrás da
direção e eu vou para o meu carro, assumo meu lugar e dirigimos para
longe dali.
A adrenalina ainda segue em meu corpo, mas começo a pensar
racionalmente e um questionamento persiste em minha mente.
O que foi isso?
E respirar no seu pescoço faz seu corpo gritar
E você pensou que você que seria a chefe esta noite, mas eu eu sei
revidar
Eu mudo os papéis assim como aguento uma surra
Heaven In Hiding (Halsey)

Sophie
Não tenho aula na sexta-feira e acordo apenas no horário do almoço.
Não fui dormir tarde ontem à noite, cheguei, tomei um banho, jantei com
Dominic e Sebastian e subi para o meu quarto, era relativamente cedo
quando me deitei, mas não consegui dormir.
Eu fiquei girando de um lado para o outro, não conseguia parar de
pensar no que tinha acontecido. Travis e eu em um parque abandonado,
conversando como dois amigos, nos provocando como se não nos
odiássemos. Não tinha nenhuma explicação para o que aconteceu e ainda
não tenho.
Levanto-me disposta a esquecer o que aconteceu, a fingir que não foi
nada de mais, nenhuma mudança ocorreu e tudo continua exatamente igual.
Mas é só entrar no banheiro, encarar meu reflexo no espelho e ver as
marcas em meu pescoço que eu me recordo de ontem.
Porra!
Fecho os olhos, empurro tudo para o fundo da minha mente e me
concentro, então eu volto a abri-los e escovo os dentes. Foco meus
pensamentos no que farei hoje, vou estudar à tarde e à noite, tem corrida,
faço uma careta ao concluir que, como corri nas últimas corridas,
provavelmente, desta vez, ficarei apenas assistindo.
Desço para a cozinha e encontro Jace, ele está me esperando, porque
é o nosso dia de preparar o almoço. Eu como algo rapidamente enquanto
conversamos e, em seguida, começamos a cozinhar.
Eu amo ser a dupla de Jace na cozinha, ele é engraçado, debochado e
fofoqueiro. Posso odiar o jornal de fofoca de Dartmouth, mas amo fofocar
com ele.
Dominic e Sebastian não estão em casa, mas chegam para almoçar e
almoçamos os quatro juntos. Meus amigos são ótimas distrações e consigo
não pensar no assunto proibido, apenas tenho alguns lapsos, mas consigo
me conter rapidamente.
No meio da tarde, eu subo para o meu quarto, pego meu iPad, a
garrafa com água que trouxe da cozinha e me sento de frente para a minha
mesa de estudo.
Abro a primeira apostila, faço algumas anotações, resolvo alguns
exercícios. E enquanto estou pensando no cálculo que preciso fazer para
resolver a questão da vez, um pensamento invade minha mente, na verdade,
é uma lembrança de ontem.
Travis me encarando enquanto estávamos sentados no carrinho do
trem-fantasma. A forma como seus olhos estavam em mim, a intensidade, o
brilho. Como se eu fosse a garota mais bonita do mundo.
Eu me senti a porra de uma deusa!
Deixo o exercício de lado, giro a caneta do iPad em meus dedos e
me pergunto o que mudou? Por que foi tão diferente? Por que não consigo
odiá-lo?
Ontem, em nenhum momento, eu olhei para ele e senti raiva. Eu
ainda o odeio, não é? Por que agora quando penso em Travis, não tenho
vontade de matá-lo?
Ele ainda é o cara arrogante, ainda sorri como se fosse o rei do
universo, ele ainda age como um maldito deus. Continua sendo meu
inimigo na pista, se comportando como se fosse superior a todos, ainda é o
quarterback estúpido, meu rival, faz parte da equipe de corrida que odeio,
ele segue sendo irmão da Hailey…
E tem mais motivos, por que não consigo listá-los? Eu não posso tê-
los esquecido de repente.
Minha consciência acusa que os motivos não são mais suficientes
para odiá-lo.
Largo a caneta na mesa e encaro a parede à minha frente. Por que eu
estou me sentindo assim? Por que ontem eu me senti à vontade com ele? Eu
nem gosto de compartilhar meu tempo com pessoas, além de Jace, Dominic
e Sebastian, não é possível que exista algo em Travis que me chame a
atenção, além do sexo.
Que merda é essa?
A merda é que eu gosto de estar com ele, porque Travis não se
importa com quem eu sou, ele não espera nada de mim, aliás, eu sou
exatamente o que ele espera que eu seja.
Eu supro todas suas expectativas porque somos iguais. Ele sabe que
não sou uma garota como as outras, ele enxerga a parte obscura da minha
alma e, mesmo assim, não liga, porque se reconhece em mim, assim como
eu me reconheço nele. Entendemos um ao outro.
É diferente de quando estou com Jace, Dominic e Sebastian, porque
eles são meus amigos, sempre foram, antes mesmo de eu ser quem eu sou,
eles me conheceram antes.
Nunca tento me encaixar e não ligo de não me encaixar, mas é como
se eu soubesse onde pertenço quando estamos juntos, como se fôssemos
peças do mesmo quebra-cabeça.
Caralho, por que eu estou pensando nisso? Não é importante e não
importa.
Eu sinto meu rosto ficando vermelho, ninguém está me vendo e,
mesmo assim, estou envergonhada com o rumo dos meus pensamentos.
Respiro fundo, volto a pegar minha caneta e a encarar meu iPad.
Balanço a cabeça e me lembro de que não perco meu tempo com
emoções e sentimentos. Não preciso desse tipo de problema.
Por mais que tente, não consigo me concentrar, não cem porcento.
Os minutos se arrastam e demoro bem mais do que demoraria em um único
exercício, a todo instante, minha mente quer vagar para outro lugar.
Pela janela eu vejo o dia ceder lugar à noite. Em algumas horas,
estarei na pista e, mesmo que não vá correr, Travis estará lá, eu o verei, a
simples ideia de estar no mesmo lugar que ele me deixa ansiosa, nervosa e
animada.
Droga, eu não posso continuar aqui!
De repente, eu fico em pé. Desço para o primeiro andar, procuro por
um dos meus amigos e, por sorte, encontro Sebastian na garagem, ele está
mexendo em seu carro, eu me junto a ele e o ajudo a fazer alguns reparos.
É uma ótima distração e consigo manter meus pensamentos
controlados.
Assim que terminamos, vamos para a cozinha e Sebastian prepara
algo para comermos, escuto-o falar sobre suas últimas conquistas e
reclamar sobre como as garotas são emocionadas. Ele me faz rir!
Dominic e Jace surgem para jantar. Enquanto jantamos, eu finjo que
não há nada me incomodando, até para mim mesma, porém, lá no fundo,
meu coração está acelerado e estou ansiosa.
Que droga é essa?!
Eu odeio as malditas sensações e, caralho, elas insistem em me
atormentar, mesmo eu fazendo de tudo para esquecê-las.
No fim da noite, subo para meu quarto e troco de roupa. Respiro
fundo várias vezes e, uma parte minha se recusa a assumir que estou
ansiosa por conta de Travis. Puta que pariu, eu não sou assim.
É claro que não escolho o que vestir pensando nele, é claro que
escolho uma saia, porque não vou correr e não preciso estar confortável,
hoje posso estar apenas bonita e isso não tem nada a ver em querer
impressionar Travis.
Não faço nada de mais no cabelo, deixo-o caindo em ondas pelas
minhas costas, não aplico muita maquiagem, mas passo um batom
vermelho nos meus lábios, que, com certeza, chamará a atenção.
Eu gosto do resultado, amo o reflexo que eu vejo no espelho. Pego
celular, documento e as chaves do carro, e deixo meu quarto, os caras estão
me esperando em pé no fim da escada.
— Demorou, Van.
Dominic resmunga e reviro os olhos enquanto passo por ele.
Seguimos para a garagem, Jace e eu à frente, um ao lado do outro, e Dom e
Sebs atrás.
— Às vezes uma plebeia, às vezes uma rainha.
Jace me provoca e dou um tapa em sua nuca.
— Cala a boca, Jace.
É claro que ele não me obedece e continua falando.
— É um elogio, Van, você está estressadinha por quê?
Ignoro, entro na garagem e vou direto para o meu carro. Assim que
eu toco a direção, posso sentir a adrenalina querendo se libertar, sorrio e
coloco a chave na ignição.
Sebastian é o primeiro a sair e saio logo depois dele, Jace e Dominic
também deixam a garagem. Brincamos pela rua, ultrapassamos um ao
outro, ligamos e desligamos os faróis, é ótimo morar afastado da cidade,
porque podemos fazer esse tipo de coisa.
Nós paramos e nos comportamos quando chegamos à rodovia,
mesmo que não haja movimento, só voltamos a nos divertir quando estamos
na estrada desativada. Aceleramos e o som dos motores ruge pela noite.
Adrenalina finalmente pode circular livremente pelo meu sangue, o
sentimento que ecoa em meu peito é incrível e me sinto feliz. Isso para mim
é o auge! Aqui eu me sinto em casa!
A concentração não será no mesmo lugar de sempre, é um circuito
invertido e iniciará em outro ponto. Onde Travis e eu nos encontramos
ontem, lembrar disso faz com que um arrepio suba pelo meu corpo e respiro
fundo.
Foco, Sophie!
Continuo dirigindo e só diminuo a velocidade quando adentro o
espaço definido para a concentração e os bastidores. Meu coração acelera e
engulo em seco. Finjo que não sei por que estou me sentindo assim, finjo
que é absolutamente normal, que são as emoções que sempre vibram dentro
de mim.
Nada de anormal e tudo sob controle!
Dominic está à nossa frente e define o lugar em que iremos ficar, ele
para, então, giro pela pista e estaciono logo atrás dele, Sebastian e Jace se
aproximam e nos alinhamos na lateral da pista.
É óbvio que chamamos a atenção e, enquanto estamos saindo dos
nossos carros, somos alvo da maioria dos olhares. Não ligamos e nos
reunimos ao redor do carro de Sebs.
Apoio-me contra a porta e olho ao redor, há muitas pessoas
esperando o início da corrida, mas não é por elas que estou procurando.
Meu olhar não demora a encontrá-lo. Travis está do outro lado da
pista com seus irmãos e o outro garoto que corre com eles. Ele está com
uma camisa branca, calça preta e coturnos, tão sexy como sempre. Um
pecado.
O meu pecado!
Ele me encara, fixamos nosso olhar um no outro. Um sorrisinho
surge em seus lábios, sempre tão debochado. Eu me forço a desviar o olhar
e encaro Jace que está fazendo contas, se vencermos as duas corridas esta
noite, assumiremos a liderança.
— E, para o azar de vocês, a melhor da equipe provavelmente não
irá correr.
Provoco-os e Dominic me encara com deboche.
— Van, bem menos, você aprendeu a correr com a gente.
Dominic tem razão, porém, encaro-o como se esse fato não tivesse
importância.
— A aluna ultrapassou os professores.
— Ela está se achando porque venceu as duas últimas corridas.
Jace zomba. A verdade é que somos bons no mesmo nível, tão bons
que é por isso que estamos aqui, provavelmente uma das melhores equipes
do estado e do país.
Alguns escolhem as faculdades pelo desempenho acadêmico, outros
pelos esportes e bolsas oferecidas, nós escolhemos Dartmouth porque
sabíamos da fama das corridas ilegais, antes de enviarmos nossas cartas
para a faculdade, entramos em contato com Elijah. Estar aqui e fazer parte
de uma equipe de corridas ilegais sempre foi nosso plano.
Elijah se aproxima e ficamos em silêncio aguardando pelas suas
ordens. Jace e Dominic correrão, e Jace irá correr contra Travis. Engulo em
seco ao ouvir seu nome e luto para não deixar transparecer nenhuma
emoção em minha expressão.
Olho de relance em sua direção e ele está me encarando como se
estivesse tentando desvendar o que estou pensando. Rapidamente, olho em
frente e o ignoro.
Elijah se afasta e Jace e Dominic conversam sobre as melhores
estratégias para vencer os adversários. Dominic não terá muito trabalho, já
que irá correr contra Gary dos Track Predators.
Eu observo pelo canto do meu olho Elijah indo conversar com
Travis e seus irmãos, vejo o sorrisinho de Travis quando descobre que irá
correr e preciso me segurar para não revirar os olhos.
O momento da corrida se aproxima, desejamos boa sorte para Jace e
Dominic, eles entram em seus carros e saem em disparada. Olho para o lado
e Travis faz o mesmo. Agora eu entendo de o porquê existirem várias
garotas assistindo às corridas e tentando flertar com os pilotos, existe uma
tensão, uma excitação, uma malícia…
— Você está mesmo empenhada na aposta.
Escuto a voz de Sebastian e meus pensamentos se dissipam. O que
ele quis dizer? De que aposta ele está falando? Viro-me e o encaro sem
entender.
— De que aposta você está falando?
Ele ri como se eu estivesse soando sarcástica.
— De conquistar o Travis.
Engulo em seco, ele reparou que estava com os olhos fixos em
Travis.
— Claro. — Sorrio. — Tudo pela aposta.
Uma grande mentira. Eu nem lembrava dessa porra! Olhamos
ambos para a linha de partida, Hailey também irá correr e será a primeira,
ela e Remy se prepararam e sorrio. Torço para que Remy ganhe, mesmo que
seja impossível.
O óbvio acontece e Hailey sai na frente, perdemos os dois de vista
após a primeira curva e não há tensão nenhuma, porque só um milagre
colocaria Remy em primeiro.
O milagre não acontece e Hailey cruza a linha de chegada primeiro.
Há alguns gritos de entusiasmo, mas são mais fracos que o normal. Hailey
mal comemora a vitória, nem posso julgar a vadia porque faria o mesmo.
— Uma equipe melhor deveria substituir a Track Predators.
Resmungo e Sebastian concorda comigo. Eles tornam as corridas
muito menos interessantes. Os próximos são Dominic e Gary, mais uma
corrida sem nenhuma emoção. Dominic vence com folga.
E é a próxima que faz meu coração acelerar. Há muitos barulhos ao
redor e, mesmo assim, não escuto nenhum. Eu tenho foco total em Jace e
Travis. Nem quando Dominic chega e se aproxima, eu desvio minha
atenção dos dois.
A garota abaixa a bandeira e eles aceleram. É acirrado, Travis e Jace
estão alinhados. Um ao lado do outro, é impossível dizer quem está na
frente. É tenso! Meu coração está acelerado e minhas mãos estão suando.
Eles entram na curva juntos e faço uma careta, os dois parecem
prestes a bater. Porra! Eles somem das nossas vistas e somos obrigados a
ficar apreensivos, esperando.
Eu estou nervosa, ansiosa, Dominic e Sebastian conversam, sigo em
silêncio, atenta e esperando ver quem deixará a curva primeiro. Meu
coração bate ainda mais rápido quando Travis é o primeiro.
Caralho!
Jace está logo atrás, os dois ligam o nitro ao mesmo tempo e, em um
piscar de olhos, Travis cruza a linha de chegada. Travis deixa o carro para
comemorar, Jace dirige em nossa direção.
Travis está pedindo aplausos e é claro que é ovacionado. Ridículo!
As corridas da noite acabaram e algumas garotas invadem a pista e vão até
ele. Vagabundas!
Seguro minha vontade de ir até lá e me concentro em Jace que
acabou de estacionar, ele deixa seu carro e chuta o pneu.
— Não acredito que perdi para aquele idiota.
Jace está transtornado.
— Foi uma boa corrida.
Eu tento tranquilizá-lo, mas ele não escuta.
— Não importa, eu perdi e por minha causa perdemos a chance de
ultrapassarmos os imbecis.
Chuta o pneu mais uma vez. Sebastian se aproxima de Jace e tenta
acalmá-lo. Eu olho em frente e Travis está descendo do seu carro,
comemora com os irmãos e me encara. Há um brilho em seus olhos, ergo as
sobrancelhas e ele sorri.
Babaca!
Reviro os olhos e volto a encarar os meus amigos. Nós tentamos
convencer Jace de que ele é ótimo, que uma corrida não o define. Porra,
por que ele tem que ser tão dramático?
Ele ainda está se lamentando quando Elijah surge para entregar o
pagamento de Dominic e para comunicar que o after será no famoso galpão.
Um galpão abandonado que ele ama usar para fazer festas. Ele não espera
confirmarmos se iremos ou não para se afastar.
— Vamos?
Dominic pergunta assim que Elijah está longe o suficiente, eu dou de
ombros.
— Porra, vamos, eu preciso de uma festa, de álcool para esquecer a
porra dessa derrota.
Nenhum de nós três ousa discutir com Jace, se essa boceta dramática
precisa de uma festa, é uma festa que ele terá. Entramos em nossos carros e
dirigimos até o galpão.
O local fica a apenas alguns quilômetros. Na beira de uma das pistas
que fazem parte da rodovia desativada. Este lugar é tão incrível que
deveríamos canonizar quem teve a ideia de abandoná-la.
Os postes não funcionam mais, tudo está escuro, iluminado apenas
pelos faróis dos carros. Estacionamos ao lado da construção e seguimos
para o galpão.
Um gerador é responsável pelas luzes amarelas e pelo som. Um rock
dos anos 90 toca e somos um dos primeiros a chegar. O espaço mais parece
um bar dos anos 90 do que um lugar abandonado. Vamos até o balcão em
que os caras de Elijah estão servindo bebidas e pegamos cervejas.
Bebemos enquanto Jace segue se lamentando. Ouvir meu amigo já
está ficando insuportável. Aos poucos, as pessoas chegam e o lugar não
demora a ficar lotado.
Muitos universitários bebendo e se achando incríveis por estarem em
uma festa clandestina. O responsável pelas músicas muda o ritmo, elas se
tornam mais dançantes, as luzes ficam mais escuras.
No escuro tudo acontece, drogas, sexo e tudo que nunca aconteceria
à luz do dia. Continuamos bebendo e Dominic acende um cigarro que
dividimos.
Um grupo de garotas se aproxima e sei o que elas querem, então
roubo o cigarro de Dominic e os deixo com as vadias da noite. Eu me afasto
e estou indo até o bar, mas no meio do caminho Kaden surge à minha
frente.
— Hey, gata. — Ele soa tão prepotente, como se fosse uma grande
coisa estar falando comigo. — Senti falta de vê-la correndo.
Sei muito bem o que ele quer: sexo. Não é a primeira vez que ele
tenta algo comigo, imbecil insistente, como se eu fosse ceder, o que ele está
achando? Que sou dessas garotas que fica brincando de se fazer de difícil?
Se eu quisesse transar com ele, já teria acontecido.
Estou prestes a mandá-lo se foder quando sinto que estou sendo
observada, olho ao redor e me deparo com Travis me encarando. Sorrio e
volto a olhar para Kaden.
— Hey, Kaden. — Sorrio, um sorriso forçado. — Bela corrida.
Sorri vitorioso, como ele pode acreditar em uma mentira dessas? Eu
me contenho para não revirar os olhos.
— É tão difícil encontrá-la sem seus guarda-costas.
Idiota! Não suporto nem ouvir a sua voz. Porra, o plano é provocar
Travis, não acabar beijando Kaden.
Ergo o cigarro e levo-o até sua boca, ele o traga e sopra a fumaça
para cima, então dá um passo para frente e sua mão encontra minha cintura.
Seu toque não me causa nada, o que faz com que uma excitação percorra o
meu corpo é sentir o olhar de Travis sobre mim. E eu o sinto cada vez mais
perto, ele está se aproximando e uma satisfação vibra em meu peito.
Abaixo minha mão e ele, o seu rosto, seus lábios se aproximam dos
meus, espalmo minha mão em seu peito, se Travis falhar terei que empurrá-
lo.
Kaden diminui ainda mais a distância entre nós dois, posso sentir a
sua respiração contra meu rosto. Merda, ele se inclina, olha-me como se
estivesse prestes a ter o que sempre quis. Caralho, prendo minha respiração,
mas seus lábios não têm a chance de encostar nos meus, porque alguém
surge entre nós e o empurra para trás.
— Por que você está com as mãos na minha garota?
Em certo sentido, eu sou uma bagunça observando você
O ar é frio, tão difícil respirar
Mas ainda assim sua respiração é tudo que eu vejo
Tonight You Are Mine (The Technicolors)

Sophie
Kaden dá um passo para trás, mas sorri debochado. Travis não está
sorrindo, há uma ruga em sua testa e encara Kaden como se estivesse
prestes a iniciar uma briga.
— Sua garota? — Kaden o provoca e Travis dá um passo para
frente. — Eu não vi nenhum sinal de que ela é sua garota, Sophie estava
sozinha e todos sabem que ela te odeia.
Kaden olha em minha direção como se esperasse uma confirmação
minha. Essa é minha chance de humilhar Travis e dizer que Kaden está
certo. Dou de ombros e sorrio.
— As coisas mudam, Kaden.
São as únicas palavras que eu consigo dizer e, pela forma como
Travis respira, ele está aliviado com a minha resposta. Kaden me encara
com raiva, mas a expressão não permanece por muito tempo em seu rosto,
porque volta a olhar para Travis e, outra vez, sorri com deboche.
— Você deveria cuidar melhor da sua vadia, Travis.
Porra! Ele me chamou de vadia? Eu vou matá-lo. Dou um passo à
frente, mas eu me detenho ao ver Elijah caminhando em nossa direção.
Merda, brigas geram punições nas corridas, desde suspensão até expulsão.
Eu paro onde estou, foda-se Kaden!
— Do que você a chamou? — Travis esbraveja e, apesar da música
alta, quem está ao nosso redor escuta e nos encara. — Eu vou te matar.
Travis avança sobre ele e fecha suas mãos em punhos, porra, ele está
prestes a socar Kaden. Uma vozinha em minha mente diz que deveria
deixar Travis e Kaden brigarem, isso faria com que fossem punidos e seria
uma vantagem para minha equipe, mas não posso fazer isso. Não com
Travis.
Eu me aproximo, entrelaço minha mão com a sua e espalmo a outra
em seu peito enquanto procuro pelos seus olhos, ele olha para baixo e seu
olhar encontra o meu.
— Elijah está vindo até aqui.
Ele sabe o que isso significa e assente, então desvia os olhos dos
meus, encara Kaden e sorri, não é um sorriso engraçado, pelo contrário, é
um tanto assustador.
— Minha garota. — Aperta meus dedos com os seus. — Agora você
e todos os idiotas aqui presentes sabem disso.
Kaden não está mais sorrindo, ele está furioso e não consigo fingir
que não estou adorando vê-lo assim. De certa forma, é ele quem está sendo
humilhado na frente de todos.
— Não vou tolerar que ninguém se aproxime dela.
Kaden é um imbecil, mas não é um tolo, ele não tem nada a perder, a
porra da sua equipe é uma merda, uma punição não os prejudicaria, não
tanto quanto nos prejudicaria, então antes que ele parta para cima, empurro
Travis.
— Vamos sair daqui.
Ele olha uma última vez para Kaden, então assente, vira-se, minha
mão ainda segue presa à sua e ele nos guia na direção da saída do galpão.
Encontro Dominic que me encara com a testa franzida, droga! Faço um
gesto com a cabeça para que ele saiba que tudo está bem ou que, pelo
menos, saiba que estou no controle da situação.
Minha intenção não era envolver mais pessoas, era apenas para
Travis ficar com ciúme, tudo bem que usei Kaden, mas ele é um idiota.
Agora, a maioria dos presentes ouviu Travis dizer que eu sou a sua garota.
O que eu estava pensando? Como deixei que os acontecimentos
fugissem assim do meu controle? No fim, quem foi uma tola fui eu.
Travis me puxa para fora do galpão, ele caminha apressado e é
possível ver a tensão em seu corpo enrijecido. Ele está irradiando tensão.
Ele nos leva até a lateral do prédio e me prensa contra a parede.
— Você não cansa de me provocar?
Encara-me furioso. Um arrepio percorre meu corpo e termina no
meio das minhas pernas. Por que ele me deixa em alerta assim? Como
consegue que eu reaja assim a ele?
— Eu não estava te provocando.
Minto e ele estreita os olhos enquanto espalma as mãos ao lado da
minha cabeça.
— Você estava.
Ele tem um olhar cru, selvagem e isso me fascina, me deixa
alucinada, querendo me perder na sua escuridão. Abaixa sua mão, a leva até
minha perna e seus dedos acariciam a minha pele exposta pela saia curta,
preciso respirar fundo. Travis causa um alvoroço dentro de mim.
Ele é capaz de me incendiar com um simples toque.
Seus dedos seguem subindo pela minha perna, ele se infiltra por
debaixo do tecido da minha saia. Seus olhos estão presos aos meus e ele não
para, empurra minha calcinha para o lado e engulo em seco quando me
acaricia levemente.
— Você iria deixá-lo te tocar?
Travis empurra a ponta do seu dedo para dentro de mim e suspiro.
Como posso estar excitada tão facilmente? Ele espera pela minha resposta,
mas mordo meu lábio inferior, ele ri e se inclina em minha direção quase
encostando seus lábios nos meus.
— Vamos, me responda, princesa.
Mais um dedo se junta ao primeiro, ele os mantém parados,
torturando-me.
— Não.
Seus olhos descem pelo meu rosto, encara minha boca, meu coração
acelera enquanto o desejo corre solto em meu interior, dominando cada
parte de mim. Então, morde meu lábio inferior e o afasta dos meus dentes.
— O que você queria, Sophie?
Sigo em silêncio, por mais que minha vontade seja dizer tudo e
implorar para que ele acabe com a tortura. Ele ri, roça seus lábios na lateral
da minha boca e segue assim até minha orelha.
— O que você queria, princesa?
Repete a pergunta ao mesmo tempo em que me penetra com seus
dedos, causando uma pressão abaixo do meu ventre, insuportável. Caralho!
Jogo minha cabeça para trás, apoio-a completamente contra a parede e
deixo que as palavras saiam da minha boca.
— Eu queria que você se corroesse de ciúme — confesso. — Eu
queria que você perdesse o controle.
— Você sempre me faz perder o controle, Sophie. — Sua voz é
rouca, como se ele estivesse se segurando. — Sempre.
Abaixa seu rosto, morde a curva entre meu pescoço e ombro, e seus
dedos seguem trabalhando dentro de mim. Impulsiono-me em sua direção,
rebolando contra sua mão. Travis não para até me ter gozando em seus
dedos.
Porra!
Por alguns segundos, eu permaneço de olhos fechados e quando os
abro, encontro-o me encarando com seus olhos escuros e repletos de
luxúria.
— Você causou a porra de uma cena, Sophie.
A luxúria se dissipa dos seus olhos e cede lugar à raiva, não de mim,
da cena que presenciou, isso fica claro e me agrada. Desde quando amo
causar ciúme em alguém? Desde quando quero ver a possessividade sobre
mim no olhar de outra pessoa?
— Só queria te provocar. — Faço um beicinho inocente e toco a
ruga que surge em sua testa. — Quem perdeu o controle foi você.
Ergue as sobrancelhas.
— Eu?
Assinto e continuo fingindo ser uma vítima.
— Você partiu para cima de Kaden e fez aquela maldita cena de
homem das cavernas.
Ele ri e me encara com diversão.
— E você gostou. — Balanço a cabeça negando e preciso me
segurar para não rir. — Não minta, Soph, nós já chegamos à conclusão de
que somos dois mentirosos e que sabemos reconhecer quando o outro está
mentindo.
— Talvez eu tenha gostado um pouquinho.
Confesso e o sorriso em seu rosto amplia. Ele me encara por alguns
segundos, subo minhas mãos até sua nuca e puxo-o em minha direção, ele
não hesita e seus lábios cobrem os meus.
Como sempre, é explosivo, rouba meu fôlego, meu controle e faz
com que tudo perca a importância.
Travis se afasta, morde meu lábio e seu olhar encontra o meu. Porra,
a forma como ele me encara faz com queira implorar para que ele me foda,
mesmo que tenha acabado de ter um orgasmo. Quero mais!
— A partir de hoje, ninguém te toca.
Ele soa determinado, como se não existisse margem para ser
contrariado.
— Ou o quê?
Sorri, um sorriso sem humor nenhum, maquiavélico.
— Ou talvez eu precise acabar com alguém.
Travis não parece estar brincando, ele soa como se fosse alguém
capaz disso, o que ele me disse no vestiário sobre ter presenciado
assassinatos volta a ecoar em minha mente. Ele realmente acabaria com
alguém se precisasse!
Isso não me assusta, muito pelo contrário!
Subo minhas mãos até seus ombros, fico na ponta dos pés, ele me
encara com curiosidade enquanto deixo um beijo em seu queixo.
— O mesmo vale para você, principezinho. — Meu olhar encontra o
seu e sorrio diabolicamente. — Ninguém te toca.
Ele sorri, traz suas mãos até minha cintura e afasta minhas costas da
parede.
— Ou o quê?
Travis faz a mesma pergunta que eu fiz, espalmo minhas mãos em
seu peito e continuamos nos encarando. Porra, é como se existisse apenas
nós dois no mundo, até o barulho da festa está ao fundo e sem importância.
— Ou talvez precise usar minha faca em alguma vagabunda. — Ele
ri e seus olhos brilham como se a ideia o agradasse. — Você é um idiota.
Abaixa seu rosto e morde meu lábio inferior.
— Eu gosto de quando você está no seu modo vadia com raiva.
Confessa enquanto caminha em frente e me obriga a acompanhá-lo.
— Bom saber. — Pisco para ele e levo minhas mãos até os fios do
seu cabelo, mesmo sendo curtos, enrolo-os ao redor dos meus dedos e
puxo-os. — E deveria ter ativado meu modo vadia do mal quando deixou
que aquelas garotas te tocassem.
Ergue as sobrancelhas e me encara como se não estivesse
entendendo.
— Não finja que não sabe do que eu estou falando.
Seus olhos contêm um brilho divertido.
— Você está falando das garotas que vieram até mim depois da
corrida? — Não o respondo e o sorriso em seus lábios amplia. — Então
você estava prestando atenção em mim?
Reviro os olhos.
— É óbvio que não, acabei vendo essa cena sem querer.
Continua nos guiando em frente, a falta de iluminação deixa tudo
por conta da lua e das estrelas.
— Seu amigo perdeu e você estava prestando atenção em mim? —
ele me provoca. — Péssima amiga você.
— Eu não estava prestando atenção em você.
Balança a cabeça enquanto continua nos levando em frente e não o
questiono, deixo que ele me leve. Não hesito e, quando percebo, tenho
minhas costas contra o seu carro.
— Você estava. — Aproxima seus lábios dos meus. — E eu também
estava prestando atenção em você, havia várias garotas ao meu redor, mas
meus olhos estavam sobre você.
Engulo em seco e prendo minha respiração.
— Eu queria você.
Confessa e sua boca encontra a minha. Esqueço-me de tudo, não sei
nem do que estávamos falando. Sua boca me reivindica e, sim, ninguém irá
mais me tocar, não enquanto ele estiver me tocando assim.
Não enquanto ele estiver me marcando como sua!
Entregamos tudo em um beijo, é uma prévia do que irá acontecer e
que me faz arder. Suas mãos passeiam pelo meu corpo enquanto tenho
minhas unhas arranhando sua nuca.
Desde a primeira vez em que ele me beijou, foi como se uma
explosão estivesse prestes a acontecer e agora não é diferente, a sensação é
a mesma, a excitação que percorre meu corpo não diminuiu, pelo contrário,
é ainda mais forte e arrebatadora.
Travis nos afasta do carro, interrompe o beijo e nos encaramos. Há
luxúria em seus olhos e seus lábios estão inchados. Prendo meus lábios em
meus dentes, ele ergue sua mão e seus dedos o libertam.
Caralho, ele me encara como se estivesse prestes a me tomar para
si.
É como se existisse um ímã nos unindo e sinto um vazio quando
afasta suas mãos de mim. Travis dá um passo para o lado e abre a porta do
carro, ele faz um gesto com a cabeça para que eu entre e ergo as
sobrancelhas.
— Aonde nós vamos?
— Dar uma volta.
Sorri misterioso e me encara com malícia, então eu entro no seu
carro, ele fecha a porta, dá a volta e assume o lugar atrás do volante. Olho
ao redor e observo cada detalhe, é fascinante, incrível, e é algo que sempre
temos curiosidade, como é o veículo do outro.
— Incrível, não é?
Faço um gesto de desdém com minha mão.
— Não muito.
— Tão mentirosa.
Travis liga o carro e acelera. Poeira se levanta ao nosso redor, já que
está estacionado em um lugar sem asfalto, e dirige para a pista. Ele acelera
e vejo o ponteiro do velocímetro girar. Eu sinto a velocidade, olho para o
lado e pelo vidro da janela vejo tudo se tornando um borrão, é diferente
estar correndo e não estar atrás do volante.
Volto a encarar Travis, ele está sorrindo, seus olhos estão brilhando e
ele parece tão leve, como se aqui fosse seu lugar. Ele traz sua mão até
minha perna e acaricia minha pele, é um simples toque que me incendeia,
que faz com que o desejo me domine.
— Você colocou essa saia por minha causa, não é?
Não o respondo e, movida pelo desejo, me inclino em sua direção.
Levo minhas mãos até o zíper da sua calça e puxo seu pau para fora.
— O que você irá fazer, princesinha?
Mais uma vez, deixo-o sem resposta e o tomo em minha boca. Desço
e subo pela sua ereção levando-o até o fundo da minha garganta. Meus
dedos me ajudam e posso senti-lo pulsando cada vez mais.
Amo como seu corpo reage ao meu, amo como sei fazê-lo perder o
controle.
— Porra, Soph.
Enquanto Travis pisa no acelerador e faz seu carro disparar pela
pista, eu tenho seu pau em minha boca, levo-o ao seu limite e me sinto a
porra da garota mais poderosa do mundo. Minha boceta pulsa e meus seios
estão pesados.
Arranho-o levemente com meus dentes e o carro desliza para o lado.
Opa, acho que Travis perdeu o domínio.
— Caralho.
O palavrão sai entre dentes e eu não paro. De repente, ele pisa no
freio. Para o carro de qualquer maneira na pista, somos apenas nós dois,
ninguém virá até aqui. Eu olho para cima e ele está me encarando com os
olhos dilatados.
Sorrio, afasto-me por poucos segundos, porque me sento em seu
colo. Suas mãos encontram minhas coxas, seus dedos sobem por elas e
enrola a saia ao redor da minha cintura.
Estou ofegante, meu corpo encontra-se totalmente tenso e aquela
maldita força parece nos puxar cada vez mais na direção um do outro. Seus
olhos seguem fixos nos meus, a tensão ao nosso redor é insuportável, um
tormento.
Travis ergue sua mão, segura os fios do meu cabelo e puxa minha
cabeça para trás.
— Você é minha?
Minha respiração falha e meu coração acelera.
— Eu sou sua.
Minha boca encontra a sua e nos transformamos em um caos.
Praticamente, arrancamos a roupa um do outro, nossas mãos estão por toda
parte e quando ele me preenche, perdemos a razão, os sentidos, somos
comandados pelo desejo.
É tão forte quanto das outras vezes, é como um maldito vício, e, lá
no fundo, eu sinto que não sou capaz de viver sem isso mais.
O orgasmo se constrói e, de repente, é como se uma explosão
acontecesse, chamamos o nome um do outro ao mesmo tempo. É
arrebatador e ficamos alguns minutos em silêncio, perdidos em sensações.
Não é estranho quando me jogo no banco ao lado, não há
constrangimento nenhum enquanto nos vestimos. Não nos falta palavras e
nem provocações.
Travis acende um cigarro enquanto estamos ambos sentados cada
um em um banco e encaramos as estrelas pelo vidro.
— Então, temos um acordo?
Ele me entrega o cigarro.
— Que tipo de acordo?
— Você é minha, princesa.
Sorrio.
— Assim como você me pertence, Travis.
Trago o cigarro até minha boca e sopro a fumaça para cima. Não
precisamos de palavras, entendemos o sim de ambos, está explícito em
nossos olhos. Então entrego o cigarro para ele, nós nos encaramos, sorrimos
e selamos o acordo com um beijo. Assim que nos afastamos, terminamos
com o cigarro e Travis me leva de volta.
Ele e eu nos despedimos com um beijo, então saio do seu carro e
entro no meu, sabendo que não há mais volta, fiz um acordo com alguém
tão sombrio quanto eu, é como se eu tivesse vendido minha alma ao diabo.
Me conte lindas mentiras
Olhe no meu rosto
Diga que me ama
Ainda que seja mentira
Porque eu tô pouco me fodendo, de verdade
Idfc (blackbear)

Travis
Observo Sophie caminhar até seu carro e sei que não há mais volta.
Foda-se qualquer aposta, fodam-se as reais intenções, não temos nenhuma
chance contra a atração que nos une ou o vício que temos um pelo outro.
Espero-a ir embora e a sigo. Assim que chegamos à cidade, nos
separamos, vamos para lados diferentes. Não me arrependo de nada, mesmo
sabendo que arriscamos tudo. Prometemos exclusividade, lealdade, e de
onde nós viemos, isso é tudo. Eu posso não saber quais são os demônios
presos em sua alma e ela não sabe dos meus, mas eles se reconhecem, eles
vieram da mesma escuridão.
Não há ninguém em casa, meus irmãos ainda estão no galpão, eu
entro e vou até a cozinha, encho um copo de água e bebo o líquido
encarando à noite pela janela.
O que tudo significa? Não faço a mínima ideia, mas eu não ligo.
Subo para o meu quarto, tomo um banho e me jogo na cama, estou
exausto e não demoro a dormir. É sábado e acordo tarde, pego o celular
embaixo do travesseiro e é uma hora da tarde.
Eu simplesmente apaguei, não dormia tão bem assim há dias. Posso
não ter pesadelos tão recorrentes quanto Trevor e Hailey, mas meu sono é
leve, mesmo depois de anos, ainda espero que algo aconteça, ainda estou
alerta. Mas hoje foi diferente.
Finjo que não sei o motivo. Ignoro meus pensamentos, porque eles
querem me levar até ela. Sento-me, passo a mão pelo meu cabelo e fico em
pé, vou até o banheiro e desço para a cozinha.
Trevor e Hailey estão almoçando, eles olham em minha direção e
sorriem debochados. Ergo as sobrancelhas e vou até o fogão.
— A Bela adormecida acordou?
Trevor debocha.
— Será que foi despertado por um beijo do príncipe?
Hailey segue a provocação, eu deixo os dois idiotas rindo e confiro o
que eles fizeram de almoço. Ensopado de carne.
— Vocês deveriam cuidar da própria vida.
Respondo-os enquanto vou até um armário e pego um prato.
— Por que, se podemos cuidar da sua vida?
Hailey zomba e não a estou olhando, mas sei que está sorrindo.
Volto ao fogão, coloco a comida no prato e vou até eles, eu me sento ao
lado de Hailey e de frente para Trevor. Os dois já terminaram de comer, os
pratos estão vazios e apenas me observam.
— Você foi embora cedo.
Hailey faz essa observação e sei que essa é a sua maneira de tentar
descobrir algo.
— Sim.
É tudo que terá de mim. Concentro-me em comer, mas eles
continuam me encarando. Trevor e Hailey trocam alguns olhares, o que
diabos está acontecendo? E estou levando a última garfada de comida até
minha boca quando meu irmão decide acabar com o suspense.
— Você está se saindo muito bem.
Mastigo, engulo a comida e o encaro sem entender.
— Do que você está falando?
— Nós vimos você saindo com Sophie ontem à noite.
Claro que esse é o motivo da pergunta de Hailey e das trocas de
olhares.
— E?
Finjo que não estou entendendo aonde ele quer chegar.
— A aposta.
É Hailey a responder, olho para o lado e encaro a minha irmã. A
expressão em seu rosto deixa claro a sua expectativa, ela está se contendo
para não rir.
Porra, eu preciso contar que nada faz parte da aposta, que faz alguns
dias que ignoro essa maldita promessa. Muitas coisas se passam pela minha
cabeça, mas quebrar o coração de Sophie não é uma delas.
Eu vou confessar, mas não será hoje, ainda não. Eles exigirão
explicações que não estou a fim de dar, talvez nunca dê, afinal, a porra da
vida é minha, e eles não ficarão felizes. Meus irmãos fazem parte do seleto
grupo de pessoas que eu amo e priorizo, não estou pronto para brigar com
eles.
— Sim, eu vou cumprir com o combinado. — Forço um sorriso. —
Você terá a sua vingança.
Hailey ri animada e eu me sinto o pior irmão do mundo. Levanto-me
e já que eles cozinharam, eu vou limpar a bagunça que fizeram, estou
colocando as louças na máquina quando minha irmã deixa a cozinha e
ficamos apenas Trevor e eu.
— Eu vi a cena que você e Sophie protagonizaram, Hailey não
percebeu, apenas viu você e ela deixando o lugar, mas eu vi.
Engulo em seco, o que ele está querendo dizer? Por que ele está
tocando no assunto? Trevor não acredita que estou cumprindo a aposta?
Sigo sem encará-lo mesmo sentindo seu olhar sobre mim, e permaneço em
silêncio.
— Espero que você saiba o que está fazendo.
Droga, Trevor sabe que é muito além de uma aposta. Deixo a lava-
louça de lado, espalmo minhas mãos sobre o balcão e o encaro.
— É claro que eu sei.
Trevor fica em pé e assente. Ele não diz mais nenhuma palavra e sai
da cozinha. Caralho! Eu não consigo nem me arrepender da maldita aposta,
porque sei que foi isso que me aproximou de Sophie.
O restante do meu sábado é um tédio, passo boa parte estudando e à
noite vou para uma festa com Hailey e Trevor, na casa dos jogadores de
hóquei. Hailey e eu recebemos os convites, eu por ser o popular quarterback
e Hailey por ser a melhor amiga da namorada de um dos jogadores.
Trevor odeia as festas, mas, como sempre, ele vai por conta da
Margot. Eu amo festas, entretanto, não estou tão empolgado, Sophie não
frequenta esse tipo de festa. Uma parte minha tem a esperança de que ela
apareça, porém, isso não acontece, é óbvio que ela não estaria aqui e minha
noite é um tormento.
Eu bebo, converso com outros jogadores, forço sorrisos, mas não
estou feliz. Garotas se aproximam, elas tentam flertar e as afasto e não é
apenas pelo acordo, é pelo fato que nenhuma delas é Sophie.
Deixo a festa bem mais cedo que o normal, entro em meu carro e
uma série de palavrões deixa minha boca. Só uma coisa poderia melhorar a
minha noite, encontrá-la, mas isso não é possível, eu não tenho a porra do
seu número e estou bloqueado em suas redes sociais. Essa merda precisa
mudar!
Vou para casa e, desta vez, minha noite é péssima, acordo várias
vezes e estou destruído no domingo e mal-humorado. Passo boa parte do
dia trancado no meu quarto, só saio para comer, Hailey e Trevor tentam
falar comigo, mas eles só obtêm palavras monossilábicas de mim.
Acordo ansioso na segunda e tudo isso porque sei que irei vê-la.
Porra! Eu não consigo nem fingir e nem agir naturalmente. Saio antes de
Hailey e Trevor, ignoro o jornal que está sendo distribuído na entrada do
prédio e sigo para o corredor das salas de engenharia mecânica.
Eu me apoio na parede e fico esperando por ela. Meu coração está
acelerado e posso sentir minhas mãos suando. Os minutos parecem se
arrastar, mas, finalmente, a vejo entrar.
Sophie está rindo de algo que um dos idiotas disse em seu ouvido.
Fecho as mãos em punhos. Ele está com a boca quase em sua orelha e o
braço ao redor dos seus ombros. Por que ele tem a mão sobre ela?
O imbecil olha em minha direção e sorri. Eu preciso me conter para
não ir até eles e afastá-la deles. Sophie fala algo, então, se desvencilha deles
e caminha em direção. Os três me encaram como se estivessem prestes a me
matar e sorrio, um sorriso sem humor.
Eu tenho certeza de que conseguiria acabar com todos eles de uma
única vez.
— Cuidado, Van.
Ela ri e continua vindo até mim. Os idiotas não merecem que
continue desperdiçando minha atenção com eles, então desvio os olhos para
Sophie, encaro-a e parte da raiva e da tensão que ocuparam meu peito
durante boa parte do fim semana se dissipam.
— Esperando por mim?
Ela espalma as mãos em meu peito e seus olhos têm um brilho
divertido. Eu estar aqui esperando por ela, à sua disposição, a diverte.
Diaba!
— Eu não te vi durante o fim de semana.
Deixo minhas mãos em sua cintura e a seguro com força.
— Dois dias e sentiu minha falta, principezinho?
Abaixo a cabeça, meus olhos seguem nos seus e aproximo minha
boca da sua.
— Não finja que ficou imune.
Dá de ombros e não estamos sozinhos, estamos em um corredor
repleto de alunos e, mesmo assim, é como se fôssemos apenas nós dois.
— Tudo foi absolutamente normal.
Ela está mentindo, sorrio e mordo seu lábio inferior enquanto minha
mão sobe pelas suas costas até a sua nuca.
— Você precisa me desbloquear das suas redes sociais e eu preciso
do seu número.
Sophie não diz nada, mas seus olhos dizem tudo o que eu preciso
saber. Seu fim de semana não foi melhor que o meu, ela queria que eu a
encontrasse de alguma forma. Inclino-me para o lado e deixo minha boca a
centímetros da sua orelha.
— Talvez, da próxima vez, eu descubra como invadir a sua casa.
Um arrepio toma conta do seu corpo, sorrio e levo minha boca até a
sua. Fechamos nossos olhos e meus lábios encontram os seus e eu a beijo
como queria ter feito durante a porra do fim de semana. Não ligo se alguém
está vendo ou se estamos causando a porra de uma cena.
Caralho, minha vontade é arrastá-la até a sala que usamos da última
vez e me enterrar dentro dela outra vez, mas não temos tempo e tenho uma
prova no primeiro período.
Afasto minha boca da sua, abro os olhos e encontro-a com os seus
fechados, os lábios molhados do beijo e seu rosto corado, não resisto e volto
a beijá-la.
Precisamos ir para aula e sou obrigado a pôr um fim ao nosso beijo.
Desta vez, quando a encaro ela tem os olhos abertos e dá um passo para
trás. Rapidamente, procuro por um tempo que possamos usar para ficarmos
juntos. Tenho duas aulas seguidas, uma reunião com o treinador durante o
almoço e treino à tarde.
— Vá me ver treinar hoje.
Podemos fazer algo depois do treino. Sophie me encara e ergue as
sobrancelhas.
— Por que eu iria vê-lo treinar?
É claro que ela não poderia, simplesmente, aparecer no treino sem
me questionar.
— Porque eu quero.
Cruza os braços à frente do seu corpo, suspira e me encara com um
olhar insolente.
— Você acha mesmo que farei isso só porque me pediu?
Ela estará lá.
— Sim.
Eu ainda tenho minhas mãos em sua cintura, então dou um passo em
sua direção, tornando o espaço entre nós mínimo.
— Você estará lá.
Antes que ela possa negar, eu a beijo, Sophie não me afasta e me
corresponde com a mesma intensidade, segura minha camiseta e fica na
ponta dos pés procurando por mais.
Caralho, eu poderia beijá-la durante o dia inteiro, mas não podemos,
então nos afastamos, nos despedimos com um selinho e cada um segue para
a sua aula.
Sigo para a sala e encontro Trevor ocupando um dos últimos lugares,
assim que adentro o espaço ele me encara com um olhar reprovador, eu me
sento ao seu lado, mas mantenho meu olhar para frente e não trocamos
nenhuma palavra.
Demoro para finalizar a prova e quando deixo a sala, o próximo
período já iniciou, não há mais ninguém pelo corredor, isso significa que
não encontro Sophie.
Eu e a maior parte dos meus colegas chegamos atrasados para a
segunda aula do dia, mas a professora entende que é porque estávamos
fazendo prova.
Estou distraído, a aula é entediante, eu não consigo me concentrar,
então pego meu celular e há uma notificação. Uma solicitação de amizade,
é Sophie, sorrio e, no mesmo instante, aceito e abro o seu perfil, fico parte
da aula conferindo seu perfil e curtindo as suas fotos.
Assim que a professora dá a aula por encerrada, pego minhas coisas
e espero por Trevor, porém ele está de cara fechada. Mesmo assim, sigo ao
seu lado, pergunto como ele foi na prova e o idiota não me responde.
Meu irmão está sendo um cuzão. Não perco meu tempo tentando
entendê-lo, nem criando justificativas para o seu comportamento. Eu
sempre tentei entendê-lo e agora ele está agindo como se eu tivesse
cometido um crime?
Idiota!
Eu o deixo sem me despedir, sigo para o estacionamento e entro em
meu carro ainda com raiva. Sempre estive ao seu lado e quando preciso que
ele fique do meu, ele age assim?
Dirijo para o estádio e aos poucos a minha raiva se dissipa, se
transforma em preocupação, eu tenho uma reunião com Owens e espero que
ele não me tire do time.
Para o meu alívio, Owens só quer conversar sobre a estratégia para o
jogo de sábado contra os Crimson, como sou o capitão, ele quer a minha
opinião e quer que eu motive os meus colegas de time.
É um jogo difícil e que pode definir muita coisa, se eles ganharem,
ficam na nossa cola, se ganharmos, aumentamos a vantagem e ficará difícil
tirar o título de nós.
Após a reunião com o treinador, vou para o restaurante do estádio,
encontro alguns dos meus colegas e, assim que terminamos de almoçar,
vamos para o vestiário, trocamos de roupa e vamos para o campo.
Iniciamos o aquecimento antes mesmo da chegada do treinador e do
restante dos jogadores, trocamos alguns passes e faço o que Owens me
pediu, motivo-os e incentivo a cada um dar o seu melhor no jogo de sábado.
O treino se inicia de fato com a chegada de toda equipe, Owens nos
faz correr. Eu e Henry corremos um ao lado do outro. E eu sei quando
Sophie chega, não a vejo, mas sei que ela está aqui, então olho ao redor,
procurando-a, e a encontro sentada na arquibancada.
— Qual o lance entre vocês dois?
Henry me pergunta, mas continuo com meus olhos sobre ela. Sophie
não está sorrindo, tem os braços cruzados abaixo dos seus seios e está
olhando ao redor com um olhar de quem está julgando tudo e todos.
Mal-humorada como sempre!
— Acho que você está fodido, QB.
Olho em frente e balanço a cabeça.
— Cala a boca, Henry.
Ele ri e seguimos correndo. Corremos até ouvirmos o apito de
Owens, ele nos chama e nos reunimos ao seu redor, ele nos passa as
informações sobre o próximo jogo e as instruções do treino de hoje.
Mais troca de passes e treino com a bola do que aquecimento.
Assentimos, ele volta a soprar o apito e nos espalhamos pelo gramado.
Owens não pega leve e cobra o nosso máximo, porque só temos
mais um treino antes do jogo, que será na quarta, já que não haverá treino
na sexta para nos poupar para o jogo.
Eu dou o meu melhor, porque sou o capitão, porque sou o melhor
jogador e porque ela está aqui. Posso sentir seu olhar sobre mim o tempo
todo e quando olho em sua direção, Sophie morde seu lábio inferior para
não rir e manter sua pose de durona.
Essa é a minha garota!
Ao fim do treino, corro para o vestiário, tomo um banho rápido e
subo até as arquibancadas. Sophie está me esperando, mexendo no celular, e
fica em pé ao me ver.
— Você até que se saiu bem.
Sorri e eu sorrio também.
— Eu fui incrível.
Aproximo-me e enrolo seu cabelo em meus dedos.
— Você se acha tanto…
As palavras morrem porque cubro seus lábios com os meus. Eu
nunca me canso de beijá-la. Porra, eu me sinto pronto para deixá-la nua
com apenas um beijo.
Puxo seu cabelo, fazendo com que incline sua cabeça para trás ao
mesmo tempo em que desço meus lábios pelo seu pescoço, ela espalma as
mãos em meu peito e suspira.
— O que nós vamos fazer?
Pergunta enquanto tenho minha boca sobre sua pele. Sorrio e ergo
meu rosto até meu olhar encontrar o seu.
— O que você quer fazer, princesa?
— Parque.
— Você gostou daquele lugar, não é?
Dá de ombros.
— Ele tem o seu charme.
Adoro que ela tenha gostado de lá tanto quanto eu gosto. Entrelaço
minha mão na sua e vamos para o estacionamento. Ela segue para o seu
carro e eu, para o meu.
Sorrimos e saímos do estacionamento fazendo barulho. Sophie e eu
nos mantemos no limite da velocidade na cidade. Ela está logo atrás de mim
e eu vou encarando-a pelo espelho retrovisor, há um sorriso em meu rosto o
tempo inteiro e meu coração bate diferente, como nunca bateu antes.
Ao entrarmos na rodovia, pisamos no acelerador, ela tenta me
ultrapassar e eu não deixo. Adrenalina domina minhas emoções e estar na
pista com Sophie é ainda mais eletrizante.
Porra!
Atravesso o túnel primeiro, então paro entre o parque e o mirante.
Sophie estaciona logo atrás de mim. Saio do carro, sento-me no capô do
carro e espero por ela.
— Ótima corrida.
Eu a provoco enquanto avança em minha direção.
— Não foi uma corrida, você sempre esteve em vantagem por sair
primeiro.
Revira os olhos, então levo minhas mãos até sua cintura assim que
está a poucos centímetros de mim e a puxo para perto.
— Você poderia ter me ultrapassado.
— Você sabe que não é bem assim.
Resmunga, eu a ignoro e beijo seu queixo, ela tenta se esquivar,
sorrio e continuo beijando-a, até que ela não consegue mais resistir, puxa
minha cabeça e cobre meus lábios com os seus.
Nós nos beijamos por um tempo, um longo tempo que faz com que
tenhamos os lábios inchados quando nos separamos. Eu olho para ela,
acaricio a lateral do seu rosto e coloco alguns fios do seu cabelo para trás da
sua orelha.
O sol está começando a se pôr e a luz a ilumina de uma forma única.
Encaro-a por alguns segundos e me dou conta de algo. Eu a quero na
arquibancada sábado.
— Haverá um jogo sábado.
Seus olhos possuem um brilho malicioso e travesso.
— Boa sorte.
— Eu quero você lá usando a minha camisa.
Ela ri e nega.
— Nem pensar, eu não sou esse tipo de garota.
— Vamos apostar uma corrida.
Ergue as sobrancelhas e me encara, pronta para um desafio.
— Se eu vencer, você estará lá torcendo por mim e usando a minha
camisa.
— E se eu vencer?
— Você pode pedir o que quiser.
Eu vou ganhar, tenho certeza. Sophie se desvencilha de mim e dá
um passo para trás.
— Fechado, quarterback.
Muitas outras pessoas me chamam assim, mas, caralho, é diferente,
porque é a primeira vez que ela me chama assim. Preciso respirar fundo e
só então me afasto do meu carro.
Nós trocamos um último olhar, ela sorri travessa e vira-se, ficando
de costas.
— Até a segunda curva, princesa.
— Prepare-se para perder, principezinho.
Entra em seu carro, eu faço o mesmo, alinhamos os carros, abrimos
as janelas, contamos e, no três, aceleramos.
Eu dou o meu máximo, posso sentir a adrenalina pulsando em cada
célula do meu corpo e minha respiração só volta ao normal quando eu
venço.
Mal posso esperar para vê-la na arquibancada vestindo a minha
camiseta, com meu número e meu nome.
Ele está fora de si, eu estou enlouquecendo
Nós temos esse amor, do tipo maluco
Eu sou dele e ele é meu
No final, somos ele e eu
Him & I - feat. Halsey (G-Eazy)

Sophie
Criamos situações para podermos nos ver durante o restante da
semana. Não evitamos espaços públicos e nos tocamos em qualquer lugar, o
que faz com que boatos se espalhem pela faculdade.
Garotas me encaram como se quisessem me matar e especulam que
merda eu fiz, algumas dizem que foi bruxaria. Os garotos fazem algumas
piadinhas. Muitos querem saber como paramos de nos odiar, porque o ódio
que sentíamos um pelo outro era algo que todos sabiam e a minoria se
pergunta como Travis foi capaz de me domar. Idiotas, imbecis e ignoro
todos, Travis que quer ser popular e amado por todos que atura as
conversinhas e os responde de maneira educada, por mim, ele poderia
mandar todos se foderem, mas ele não me escuta e é político.
Jace e Sebastian acreditam que ainda estou cumprindo com a merda
da aposta, seguem com as suas gracinhas, já Dominic não me falou nada,
mas sei, pela forma como tem me encarado, que desconfia de algo.
Travis não me fala sobre seus irmãos, mas sinto os olhares deles
sobre mim, os dois são hostis e, honestamente, não ligo. Não quero amizade
de nenhum deles. Os caras tratam Travis da mesma forma e Travis se corrói
de ciúme deles, o que, lá no fundo, me deixa excitada. Nunca pensei que
gostaria de ver em alguém o olhar de possessividade e ciúme em relação a
mim, mas eu gosto.
A verdade é que não conversamos sobre a nossa antiga rivalidade e
nem sobre o fato de sermos de equipes adversárias, ignoramos
completamente o assunto quando estamos juntos e, quando estou sozinha,
chego à conclusão de que iremos nos enfrentar em algum momento e que
seus irmãos seguem sendo uns idiotas, que eu odeio e são meus inimigos.
Hailey ainda é uma vadia mimada e Trevor, um babaca arrogante.
E, provavelmente, Travis se sente da mesma forma em relação aos
meus amigos.
Então, não vamos à casa um do outro, seria como invadir o território
do inimigo. Nossos lugares de encontro são o prédio de engenharia
mecânica, o estádio e a pista de corrida.
Na segunda, após ele me vencer, transamos contra seu carro, como
da primeira vez. Na terça, eu estava estudando em uma das mesinhas que
ficam espalhadas pelo prédio de engenharia quando ele se sentou ao meu
lado, ele fez perguntas sobre a matéria, eu o provoquei por estar dois
períodos à frente e ele revidou zombando do fato de eu ser um ano mais
velha. Não transamos, mal nos beijamos, mas meu coração acelerou da
mesma forma e eu me senti como uma garota boba rindo e me sentindo bem
por estar com o garoto mais popular da faculdade.
Deveria me sentir patética, mas não me sinto assim!
Na quarta, eu fui assistir ao seu treino e depois ele me levou para
assistir a um filme em um drive-in. Nem um de nós tinha feito isso antes.
Era nossa tentativa de parecermos normais, como se isso fosse possível!
Um péssimo filme de terror, conversamos durante a primeira metade
e, durante a última parte, nos desafiamos a fazer sexo sem ninguém ver, o
que não foi difícil, já que o lugar estava praticamente vazio.
Na quinta, ele me fodeu em uma das salas desocupadas do corredor
desativado do prédio.
E na sexta, nos encontramos apenas na pista. Assim que deixo meu
carro, sinto seu olhar sobre mim. Eu procuro por ele, encontro-o do outro
lado e Travis está diferente. O que está acontecendo?
Desço meu olhar pelo seu corpo, buscando algo que indique o que
houve e aproveito para dar uma boa olhada nele. Travis está com uma calça
jeans, camiseta preta e seus coturnos de sempre.
Volto a encará-lo e ele está me olhando de volta, aparentemente tudo
está normal, seu olhar não entrega nada, mas então, eu percebo, seu sorriso
é forçado e sua postura denuncia que está tenso.
Ele está preocupado com o jogo de amanhã!
Mordo meu lábio inferior enquanto travo uma luta interna. Ir até lá?
Ou ignorá-lo? Posso enviar uma mensagem, tranquilizá-lo com palavras,
um texto bonitinho, engraçado e finalizar com alguma provocação.
É uma boa saída, mas iria odiar se ele fizesse isso comigo. Engulo
em seco, dou um passo à frente, afasto-me dos meus amigos, da minha
equipe e vou até ele.
Por breves segundos, seu olhar indecifrável cede lugar à surpresa e
alívio, mas não dura muito tempo, Travis está sempre tentando ocultar os
sentimentos e emoções do seu olhar.
Eu me aproximo e, assim que estou perto o suficiente, ele toca
minha cintura, o que faz com que um formigamento percorra meu corpo e
todas minhas células entrem em alerta.
Como ele pode fazer isso com apenas um toque?
Meus olhos seguem presos aos seus e deixo minhas mãos ao redor
do seu pescoço.
— Hey, princesa.
— Hey, principezinho.
Baixa seu rosto e seus lábios cobrem os meus. Faz somente um dia
que eu não o vejo e, mesmo assim, é como se fizesse mais. Porra, eu
realmente senti sua falta!
Estar em seus braços outra vez faz com que meu coração bata
diferente, faz com que eu experimente um sentimento que nunca senti antes
na vida. É algo totalmente novo.
Travis apoia sua testa na minha no momento em que o beijo chega
ao fim e desço minhas mãos até tê-las espalmadas em seu peito.
— Você está preocupado.
Afirmo, porque com certeza irá negar.
— Não estou preocupado.
Tão previsível.
— Um mentiroso reconhece outro, lembra? — Revira os olhos,
sorrio e beijo seu queixo. — Não se preocupe, vou guardar seu segredo
comigo.
— Não estou preocupado, não vou correr hoje.
Isso significa que Elijah já esteve aqui e informou qual deles irá
correr e contra quem.
— Eu sei, eu fiz as contas e seria bem improvável que corresse.
Ele ergue as sobrancelhas.
— E por que eu estaria preocupado?
Travis continua sem admitir que está preocupado.
— Você está tentando me enganar ou se enganar? — Ele ainda está
me encarando, mas a expressão em seu rosto é totalmente fechada. — Você
está preocupado com o jogo amanhã, não é?
Suspira e olha para o lado, verificando se alguém está nos escutando,
é claro que não deixará ninguém perceber que ele não é tão impenetrável
quanto aparenta.
— Um pouco, é um jogo importante, eu sou o capitão e nada pode
dar errado.
Confessa.
— Nada dará errado, você é Travis Scott, não é?
Volta a sorrir e malícia toma conta do seu olhar.
— Adoro como meu nome soa em sua boca.
— Travis Scott.
Repito e ele me beija mais uma vez, um beijo mais demorado que o
primeiro e que nos deixa ofegantes. Eu tenho os lábios formigando quando
nos separamos, Travis me encara por alguns segundos, seu olhar é intenso,
como se estivesse desvendando todos os meus segredos, isso deveria me
deixar com medo, mas não é o que acontece. Ele se afasta alguns
centímetros e entrelaça nossas mãos.
— Eu tenho algo para você.
Ele faz um gesto com a cabeça na direção do seu carro, eu assinto e
ele me leva até o veículo. Travis larga a minha mão, abre a porta do lado do
passageiro, curva-se e pega algo sobre o banco. E quando volta a ficar
ereto, me entrega uma sacola de papel, encaro a embalagem, espio o que há
dentro dela e me deparo com um tecido verde e branco. Eu sei o que é!
— Sua camiseta.
Ergo o rosto e nossos olhares se encontram mais uma vez.
— Para você usar amanhã.
É quase imperceptível, mas eu percebo, ele está me encarando com
um olhar repleto de expectativas. Travis me quer na arquibancada, torcendo
por ele, usando a sua camisa.
— Você vai mesmo me fazer usar a sua camisa?
Eu não sou esse tipo de garota, ou não era, porque estou ansiosa. De
repente, quero estar por ele. Quero que todos saibam que pertencemos um
ao outro.
— Claro. — Dá um passo à frente e o espaço entre nós dois volta a
ser mínimo. — Minha garota usando o meu número, com meu nome.
Caralho, por que é tão excitante quando ele fala que eu sou sua?
Travis abaixa seu rosto, mas sua boca não cobre a minha como eu
quero que ele faça. Ele me deixa ansiosa e estou prestes a levar minhas
mãos até sua nuca quando faz um sinal com a cabeça na direção do outro
lado da pista.
— Elijah está conversando com seus amiguinhos.
Reviro os olhos ao ouvir o desdém na sua voz.
— Eu tenho que ir até lá.
Ele assente e beija meu pescoço.
— Você irá correr contra Trevor, boa sorte.
Sorrio.
— Eu vou vencer.
Travis somente ri, então beijo seus lábios rapidamente e me afasto.
Posso sentir alguém me observando enquanto caminho até o outro lado da
pista, olho para trás e é Hailey, ela sorri e sorrio de volta, vadia!
Eu me aproximo dos meus amigos, Elijah confirma que irei correr
contra Trevor e, assim que se afasta, Dominic me encara com um olhar
questionador, ignoro-o e converso com Sebs e Jace, os dois continuam
acreditando que estou apenas cumprindo com a aposta.
Jace e eu nos preparamos quando Elijah se posiciona no meio da
pista, vamos até nossos carros e dirigimos até a linha de partida. Hailey está
aqui, irá correr contra Kaden, eles serão os primeiros, e eu torço para o
idiota, mas, como sempre, ele perde.
Trevor e eu somos os próximos, ele me encara com desprezo antes
de partirmos e sorrio, debochada. Eu vou fazê-lo comer poeira. Acelero
quando a garota abaixa a bandeira, saímos praticamente juntos, porém,
Trevor consegue me ultrapassar na primeira curva. Eu quase consigo
ultrapassá-lo, mas ele joga o carro na minha frente e me bloqueia, eu
preciso frear para não bater em sua traseira e fazer nós dois girarmos pela
pista.
Caralho!
Sigo tentando, mas falho e, porra, ele cruza a linha de chegada.
Estou com raiva de mim mesma. Furiosa, dirijo até onde Dominic e Sebs
estão. Os dois me parabenizam pela corrida, eu só consigo mentalizar que
perdi a porra da corrida.
Sou obrigada a olhar para frente e encontrar Trevor sorrindo. Damon
está falando com ele, mas Travis está me encarando. Suspiro e pego meu
celular.
“Você deve comemorar com a sua equipe e com seu irmão. Eu estou bem.”
Envio uma mensagem para Travis. Uma parte egoísta queria que ele
estivesse aqui, mas ainda somos adversários. Odeio sua equipe, odeio seus
irmãos, porém, é com eles que ele deve estar.
É difícil não ser uma cadela!
Vejo quando ele pega o celular no bolso, lê a mensagem e volta a me
encarar. Ergue as sobrancelhas, ele quer ter certeza de que está tudo bem e
assinto. Ele deve ficar com seus irmãos.
Desvio minha atenção de Travis e me concentro na corrida de Jace.
Ele vence e temos motivos para comemorar. Esperamos Elijah pagar Jace e
vamos para casa, não há nenhuma festinha pós-corrida por hoje.
Travis e eu nos despedimos apenas com um aceno sem graça, mas,
assim que estou deitada em minha cama, abro meu aplicativo de
mensagens.
“Espero que você esteja em casa descansando para o jogo de amanhã.”
Ele me responde no mesmo instante:
“Com medo de eu estar com outra garota?”
Sei que ele não está com outra garota, foi apenas uma desculpa, um
motivo para falar com ele. Mas a simples ideia de imaginá-lo com outra
garota faz com que uma sensação ruim se estabeleça em meu peito. Pela
primeira vez na vida, eu tenho ciúme de alguém.
“Não, mas eu o mataria se estivesse com outra garota.”
Respondo-o e espero por uma nova mensagem sua, porém, o que
aparece na tela do meu celular é uma chamada de vídeo. Não hesito e aceito
a ligação. O rosto de Travis preenche a tela do meu celular e ele está
deitado em sua cama.
— A única garota que eu queria aqui comigo é você, princesa.
Respiro fundo e tento não agir como uma garota boba, mas não
consigo, meu coração acelera e é como se existissem borboletas batendo
suas asas em minha barriga.
— Você não precisava ter me ligado.
Travis não precisava, mas gosto que ele tenha ligado.
— Eu sei. — Sorri, um sorriso que destrói com as minhas últimas
barreiras. — Mas eu queria ver o seu rosto.
Porra, porra, porra!
— Você não deveria me dizer coisas assim.
— Por quê? — Não o respondo e o sorriso some do seu rosto, ele me
encara com uma intensidade que me faz prender a respiração. — Porque
você está se apaixonando por mim, não é?
Ele fica em silêncio, há uma tensão ao nosso redor, é como se a tela
entre nós não existisse e estivéssemos no mesmo lugar.
— E se for isso?
As palavras simplesmente saem da minha boca e Travis volta a
sorrir, mas é um sorriso de quem está envergonhado.
— Então, eu vou me sentir aliviado. — Ele cora e anseio pelas suas
palavras, como se elas fossem capazes de me salvar. — Porque eu também
estou apaixonado por você.
Caralho, abro e fecho a boca, mas não consigo falar, sinto meu rosto
corando e não me importo de estar assim, sem nenhuma proteção, deixando
todas as minhas emoções livres. Não me contenho e não me martirizo, eu
me permito sentir.
— Ninguém nunca esteve apaixonado por mim.
Confesso, ele se senta na cama com as costas apoiadas na cabeceira
e eu faço o mesmo.
— Eu devo agradecer ao universo por isso!?
Não estamos usando nenhuma máscara, é a nossa versão mais crua
possível.
— Talvez.
Dobro as pernas e apoio o celular em meus joelhos.
— Você nunca pertenceu à outra pessoa, Soph, porque sempre esteve
destinada a ser minha.
— E você, Travis?
Ele ri e apoia sua cabeça
— Eu sempre estive esperando por você.
Segredos que tenho mantido em meu coração
São mais difíceis de esconder do que pensei
Talvez eu só queira ser seu
Eu quero ser seu, eu quero ser seu
I Wanna Be Yours (Arctic Monkeys)

Sophie
Apoio a cabeça contra a cabeceira da cama e suspiro.
— É algo que nunca pensei sentir.
Não há mais nenhum receio, não existe nada que eu não contaria a
ele.
— Por quê?
— Porque não acreditava que fosse um sentimento real. — Dou de
ombros. — Para mim, era só um sentimento usado por outras pessoas para
manipulação.
— Eu não estou te manipulando.
Meus olhos estão fixos nos seus, não há mais nenhuma armadura em
seu olhar, seus sentimentos estão todos ali e ele nunca me pareceu tão sério.
Tudo isso é real!
— Eu espero que não.
Apesar de ver o sentimento refletido em seus olhos, lá no fundo, há
um medinho, um receio de estar me deixando ser guiada por algo que só
existe na minha mente.
— Não estou. — Ele balança sua cabeça e ri. — Eu estou tão ferrado
quanto você, aliás, eu estou mais ferrado que você, eu faria qualquer coisa
por você.
A frase ecoa em minha mente e um sorriso surge em meu rosto, o
que faz com que eu fique vermelha. Deus, totalmente, uma idiota
apaixonada. Travis também está com os lábios curvados, ele está sorrindo
satisfeito, como se tivesse ganhado um prêmio.
— Eu fiz a garota má, a bad girl, a rainha do gelo sem sentimentos,
se apaixonar por mim…
Reviro os olhos.
— Não seja um idiota.
— Faz parte de quem eu sou. — Aponta seu dedo para mim. — E
você se apaixonou por mim exatamente assim.
Encaro-o com deboche.
— Eu ainda não disse que estou apaixonada por você. — Sorrio. —
Não diretamente, pelo menos.
Ergue as sobrancelhas e faz sinal para que eu fale, mas balanço a
cabeça negando.
— Eu vou ficar aqui esperando você se declarar, princesa.
— Não vou falar.
— Eu vou fazer você falar. — Comprimo meus lábios um no outro
enquanto desligo a luz e ligo a luminária. — Você está encerrando nossa
conversa assim?
Soa indignado, não me detenho e sorrio.
— Não estou encerrando a conversa, você pode continuar tentando
me persuadir.
Volto a deitar, apoio o celular no travesseiro à minha frente e cubro
minha cabeça com o meu cobertor.
— Amanhã, eu tenho um jogo importante e, talvez, jogue mal por
sua causa.
— Por minha causa?
Finjo não entender o que ele está fazendo.
— Vou estar preocupado e ansioso, porque você não foi capaz de
dizer que está apaixonada por mim.
Suspira como se estivesse sofrendo.
— Você é mais forte que isso, Travis.
Ele continua inventando motivos pelos quais eu deveria dizer,
péssimos motivos e eu sigo me recusando a falar. Parecemos dois
adolescentes discutindo.
— Você está sendo tóxico, não respeitando o meu espaço.
— E você está sendo uma vadia teimosa, Soph, porra, você está
usando a minha camisa.
É claro que ele a reconheceria.
— Não é a sua camisa, é apenas uma parecida.
Travis diz ter a certeza de que é a sua camisa, eu nego, nenhum de
nós cede, então prosseguimos nos provocando e rindo. Em certo momento,
Travis apaga a luz do seu quarto e se deita, é como se estivéssemos um de
frente para o outro.
O sono vai me dominando, mas eu não encerro a chamada e nem
Travis, às vezes eu cochilo e vou me perdendo no assunto, nem sei sobre o
que estamos conversando, mas o celular segue ligado.
E ele ainda está ligado quando acordo. Porra, nós dormimos na
chamada. Travis ainda está dormindo, ele parece tão sereno e calmo, muito
diferente do que é no dia a dia.
Eu o observo por alguns segundos e um sentimento de plenitude
ocupa meu peito, de um jeito que me faz suspirar. Viro-me, ficando de
barriga para cima e encaro o teto. Nunca pensei que me apaixonar fosse
capaz de me trazer algo que nunca tive: paz!
Um alerta de bateria descarregando ecoa pelo quarto, então viro-me,
encerro a chamada e fico em pé. Depois de uma passada no banheiro, sigo
para a cozinha.
Ainda é cedo e me surpreendo ao encontrar Dominic sentando-se de
frente para o balcão da ilha, com uma xícara em mãos. Ele está vestindo a
mesma roupa de ontem e está com o olhar fixo em frente.
— Você está bem?
Pergunto enquanto entro no cômodo. Ele se vira e me encara. Dom
tem olheiras e um olhar sombrio.
— Sim.
Ele não parece bem, está mentindo.
— Você saiu ontem à noite? — Ele assente. — Ainda não dormiu?
— Não.
Eu me movo pela cozinha, preparo meu café e Dom segue em
silêncio, ele só volta falar quando eu me sento à sua frente:
— O que você pretende?
— Do que você está falando?
— Do Scott.
Engulo em seco. Eu ainda não descobri como contar para meus
amigos que minha aproximação com Travis não tem absolutamente nada a
ver com a aposta que fizemos.
— Nós temos uma aposta, lembra?
Forço um sorriso e Dom balança a cabeça.
— Você não me engana, Van.
— Grandão…
Ele não me deixa terminar de falar e me interrompe:
— Eu conheço você o suficiente, Sophie, e nunca vi você agir como
está agindo, apesar de ser uma boa mentirosa, não é tão boa para me
enganar. — Não sei como reagir e fico em silêncio, como se tivesse sido
pega por ter feito algo errado. — E nem pense em negar, eu já vi o maldito
do Scott mais novo com essa camiseta.
Aponta para o meu corpo. Droga, eu ainda estou vestindo a camiseta
de Travis, aquela que eu trouxe comigo quando roubei suas coisas, eu a
tenho usado para dormir.
— Não foi proposital — confesso. — Tudo saiu do controle.
Ele suspira.
— Eu achei que você fosse mais esperta que isso, Sophie.
Dom me repreende e sorrio, mas não é um sorriso amigável.
— A culpa é sua, você que inventou essa porra.
Deixa sua xícara vazia e me encara com um olhar de decepção.
— Exato, porque eu acreditei que fosse mais esperta.
Porra, sua frase me machuca, além disso, me deixa com raiva. Eu
seguro a minha xícara com força e respiro fundo.
— Jace e Sebastian irão ficar furiosos.
Fica em pé.
— E você?
Apesar de estar sendo um idiota, é meu amigo, ele esteve ao meu
lado desde sempre. Dominic dá de ombros e ri.
— Eu vou superar.
Vira-se, deixa a xícara sobre a pia e sai da cozinha. Droga! Encaro
meu café e me pergunto como Travis e eu vamos resolver essa merda? É
algo que, com certeza, nos dará uma dor de cabeça se pretendemos ter um
futuro juntos. Caralho!
Hoje é um dia importante para Travis e não vou deixar que isso me
atormente, empurro a breve conversa que tive com Dominic para o fundo da
minha mente.
Eu termino meu café e subo para o meu quarto. Envio uma
mensagem para Travis e me sento de frente para minha mesa de estudos,
ligo o notebook e resolvo algumas questões da minha pesquisa sobre carros
elétricos.
Minha mente está ocupada, ou deveria estar, mesmo assim, só
consigo pensar que mais tarde assistirei ao Travis jogar, nunca assisti a um
jogo em um estádio, gosto do esporte, mas não do espaço lotado de idiotas,
prefiro assistir pela televisão, mas hoje será uma exceção.
E é a exceção!
É importante para ele e é importante para mim.
Perto do fim da manhã, Travis me responde e trocamos algumas
mensagens. Desde que temos o número um do outro, conversamos o dia
inteiro, como há tanto assunto entre nós? Eu também não entendo, é
normal, como se ele sempre tivesse sido parte da minha vida. Sabemos
sempre o que o outro está fazendo, nos provocamos e eu até o ajudei com
algumas dúvidas sobre matérias que já fiz.
Travis assume que está nervoso, eu o tranquilizo e, mesmo quando
desço para almoçar, continuamos conversando. É estranho acompanhar
Travis nervoso, na pista de corrida ele é tão seguro de si, e é claro que eu o
provoco por causa disso.
Após almoçar, limpo a cozinha e estou saindo do cômodo quando
esbarro com Jace e Sebs, trocamos rápidas palavras, digo que deixei comida
para eles na geladeira e sigo para o meu quarto. Uma parte minha está
aliviada com nosso breve encontro, não sei se hoje, depois da minha
conversa de mais cedo com o Dom, eu conseguiria agir normalmente.
Durante a tarde continuo trabalhando na minha pesquisa e, Travis e
eu seguimos conversando. E só deixo meu quarto quando o sol está se
pondo, para comer algo. Jace, Sebastian e Dominic estão na sala jogando,
apenas aceno para eles e sigo para cozinha. Faço um lanche rápido e volto
para o meu quarto.
Vou direto para o banheiro, tiro minha roupa e, enquanto faço isso,
um alarme soa em minha mente, então assim que eu estou completamente
nua, viro-me, olho para trás e encaro meu reflexo no espelho e fixo os olhos
em minhas costas. Em algum momento, eu vou ter que falar sobre isso com
Travis, mas isso não me assusta. Eu não tenho medo de falar sobre o meu
passado com ele.
Sigo para debaixo do chuveiro e tomo um banho demorado. Ao sair,
enrolo uma toalha ao redor do meu corpo e volto para o meu quarto. Visto a
sua camiseta, um short que fica escondido embaixo do tecido, uma bota e
um boné.
E, ao conferir o horário, vejo que estou pronta com muita
antecedência! Caralho, eu estou mesmo ansiosa!
Sento-me na cama e abro a última mensagem que Travis me enviou.
Ele está saindo de casa para ir ao estádio. Desejo-lhe sorte e ele não me
responde, provavelmente, está dirigindo.
Bato o pé no chão, balanço a perna. Meu Deus, como é difícil ter
que esperar por algo. Meu celular vibra em minha mão, olho para baixo e
leio a mensagem que Travis acabou de me enviar.
“Obrigado, a minha sorte vai estar na arquibancada.”
Não consigo me conter e minha gargalhada ecoa pelo quarto, preciso
respirar fundo até conseguir parar de rir, então volto a encarar o aparelho e
digito minha resposta.
“Meu Deus, como você é brega, Travis.”
“Isso é porque eu estou apaixonado… (viu, não é tão difícil dizer isso)”
Mais uma vez, gargalho e ainda estou rindo quando ele me envia
mais uma mensagem.
“Eu preciso ir, princesa, beijos e depois do jogo me espere no
estacionamento.”
“Ok, estarei lá, e, Travis, sei que você será o melhor em campo. P.S: faça
um bom jogo e talvez eu confesse que estou apaixonada por você.”
Ele nem visualiza a mensagem. Ainda está cedo para ir para o
estádio, então confiro minhas redes sociais, mas fico entediada rapidamente
e, logo, estou de pé caminhando de um lado para o outro.
Verifico o horário e os minutos parecem estar se arrastando quando,
enfim, vejo que está na hora, saio depressa do meu quarto, vou para a
garagem e respiro aliviada por não ter encontrado com nenhum dos meus
amigos.
Dirijo para o estádio com um frio na barriga e meu nervosismo não
passa quando eu chego, nem quando deixo o estacionamento, nem quando
passo pela bilheteria e nem quando estou na arquibancada encarando o
campo lá embaixo.
É um nervosismo excitante, que me acelera e é quase semelhante à
adrenalina.
O local está cheio, muitas pessoas de vermelho, mas a maioria está
de verde. Eu recebo alguns olhares, mas não ligo, foda-se. Não estou aqui
por eles.
Meu coração acelera quando os times entram em campo e meus
olhos se fixam instantaneamente em Travis. Ele está com a parte de cima
verde, ostentando seu número 16, e calças brancas, está sem o capacete e o
segura com sua mão direita, nunca achei jogadores de futebol americano
atraentes, mas ele é. A porra de um gostoso!
Vejo-o procurando por algo e, de repente, ele está olhando em minha
direção.
Sorrio e ele mantém os olhos em mim por alguns segundos, não por
muito tempo porque ele é o capitão e logo está motivando o time, eles
fazem o grito de guerra, colocam os capacetes e o jogo tem início. O locutor
nos informa que Dartmouth foi sorteado e iniciará o jogo no primeiro
tempo, os jogadores assumem suas posições, um time na frente do outro e a
tensão se espalha pelo estádio.
Estou inquieta e agitada, eu quero vê-lo vencer!
Acompanho todos os seus movimentos. Prendo a respiração várias
vezes, o jogo é emocionante, Travis é muito marcado e, mesmo assim,
consegue fazer jogadas incríveis. Ele repassa a bola para seus companheiros
de diferentes formas e sempre perfeito. Ele é estratégico, sempre pensando
nas melhores jogadas e planejando-as. Inclusive, corre com a bola quando
precisa.
É uma batalha acirrada. Eu grito e comemoro quando Dartmouth
marca, principalmente pela reação de Travis. É nítido o quanto ele ama o
futebol, o quanto ele é feliz em campo.
O tempo passa depressa, estou apreensiva. O quarto tempo inicia e o
jogo está 12 a 16 para Dartmouth, estamos vencendo, mas eles ainda podem
virar.
É um momento delicado e minha apreensão está no ápice. E todo
estádio fica em silêncio. Os jogadores mais uma vez estão uns de frente
para os outros.
Travis está em sua posição, concentrado e analisando os adversários.
Então, o jogo inicia quando o center entrega a bola para Travis, Travis dá
alguns passos para trás, olha ao redor, procura pela melhor jogada, enquanto
isso os jogadores da defesa do time adversário rompem o bloqueio e saem
em sua direção na intenção de derrubá-lo.
Prendo a respiração e só volto a respirar quando Travis faz um passe
para o seu companheiro que recebe a bola, um passe perfeito, ele é
realmente incrível. O outro jogador corre com a bola e sei que ele
conseguiu cruzar a linha e marcar um touchdown porque o estádio rompe
em gritos, porque tenho os olhos fixos em Travis, ele comemora, grita e
abraça os colegas ao ver que eles marcaram.
O restante do jogo Dartmouth domina e terminamos em 22 a 12.
Travis tira o capacete ao fim e ele está sorrindo, abraça seus colegas e
comemora, mas termina me encarando e apontando seu dedo em minha
direção.
Eu apareço no telão, porém continuo encarando-o. Um idiota, mas o
meu idiota!
Assim que os jogadores deixam o campo e se encaminham para o
vestiário, saio da arquibancada e vou para o estacionamento, procuro pelo
carro de Travis e me apoio contra ele assim que o encontro.
Estou ansiosa para vê-lo, ele ocupa meus pensamentos e meus
sentimentos. O tempo novamente parece estar contra a minha pessoa e
encaro o céu, na tentativa de me distrair. É uma noite bonita e estrelada.
De repente, sinto algo diferente, uma sensação que me aquece, que
me completa, sei que ele está por perto, então abaixo meu olhar e vejo-o
caminhando em minha direção.
Eu não espero que ele se aproxime, corro até ele e me jogo em seus
braços. Travis me segura, passo as pernas ao redor da sua cintura e minha
boca encontra a sua.
É um beijo de comemoração. Um beijo que tira tudo de nós, faz
nosso mundo girar e nos completa. É o encaixe perfeito!
Travis caminha comigo em seu colo e me leva até eu estar com
minhas costas contra o seu carro, então, nossos lábios se afastam e seu olhar
encontra o meu.
— Ótimo jogo, quarterback.
Seus olhos brilham.
— Então…
Encara-me com expectativas e sorrio enquanto meus dedos
acariciam a sua nuca.
— Eu estou apaixonada por você, principezinho.
Deus, a forma como ele me olha faz com que cada célula do meu
corpo desperte. Ele volta a me beijar e esse é ainda mais insano que o
anterior. Ele me consome completamente, ocupa a minha mente, meu
coração e minha alma.
Um gemido escapa dos meus lábios quando ele desce sua boca pelo
meu pescoço e suas mãos apertam a minha pele.
— Vamos antes que eu te foda aqui.
— Com medo de ser pego?
Ele ri enquanto me coloca no chão.
— Não, com medo de ser preso antes de ter meu pau em sua boceta.
As palavras sujas resultam em meu clitóris pulsando.
— Porra, Travis, vamos.
Soo tão desesperada quanto ele, no mesmo instante, Travis abre a
porta do carro.
— E o meu carro?
— Podemos pegá-lo amanhã, o estacionamento aqui não fecha.
Isso é o suficiente e entro no carro. Travis fecha a porta, dá a volta e
ocupa o lugar ao meu lado.
— Para onde você está me levando?
Sorri malicioso enquanto coloca a chave na ignição.
— Para a minha casa.
Liga o carro e, em meu interior, razão e desejo duelam.
— E seus irmãos?
— Fodam-se eles.
Foda-se a razão. Travis dirige bem acima do limite de velocidade e
é a minha vez de sorrir com malícia.
— Com pressa, principezinho?
— Não me provoque, Soph. — Traz sua mão até minha perna e seus
dedos acariciam a minha pele. — Não me faça parar no meio do caminho,
porque hoje eu a quero na minha cama, usando a minha camiseta e gritando
pelo meu nome.
É isso que eu quero!
Travis pisa no acelerador e não demoramos a estar em sua casa, uma
casa cinza, imponente, grande e que grita dinheiro. Não me atento aos
detalhes, porque não é isso que vim fazer aqui. Ele estaciona na garagem,
deixamos o carro, sua mão entrelaça e ele me guia para o interior do lugar.
Entramos por uma porta na lateral, saímos em uma sala imensa e
tudo está escuro. As luzes acendem ao captarem movimentos e Travis
continua em frente, subimos as escadas e ele nos leva até a segunda porta
do corredor, abre-a, puxa-me para dentro, volta a fechá-la e me pressiona
contra a madeira. Seu olhar encontra o meu e minha respiração falha.
— Pronta, princesa?
Soa como se estivesse prestes a reivindicar minha alma.
— Para quê?
— Para ser completamente minha.
Sorrio.
— Eu já sou sua, Travis.
— Completamente, Soph. — Paira com sua boca a centímetros da
minha. — Não há mais volta, não há mais arrependimento, é um acordo
eterno.
Ele não quer reivindicar minha alma, ele quer o meu coração.
Era tudo o que precisávamos
Você desenhou estrelas ao redor das minhas cicatrizes
Mas agora estou sangrando
Cardigan (Taylor Swift)

Travis
Mantenho meu olhar no seu e ela não desvia os olhos nem por um
segundo, encara-me com a mesma intensidade. Eu não sei como os
sentimentos surgiram e ocuparam os espaços vazios em minha alma, mas
eles estão aqui, fazendo meu coração acelerar e me fazendo dizer coisas que
nunca imaginei dizer a ninguém.
É uma loucura e insano, mas é assim que nós dois somos, nada
poderia ser diferente quando se trata de Sophie e eu. Não sentimos pouco,
seja no ódio ou na paixão.
— Então me faça sua, Travis.
Suas palavras preenchem a minha mente, meu coração e minha
alma. É isso, é um acordo eterno, sem volta, porque não sentimos da mesma
forma que a maioria das pessoas, não somos comuns nem normais.
Quando você vive na escuridão, as emoções e os sentimentos
funcionam de forma diferente, eles são mais impetuosos, mais duradouros,
sabemos o que é realmente perder, e, por isso, não vivemos pelo futuro,
vivemos pelo presente. Somos leais e nossas relações não são superficiais.
Não há mais palavras a serem ditas, nós sabemos exatamente o que
está acontecendo, que tipo de acordo estamos fazendo. Enrolo os fios do
seu cabelo ao redor dos meus dedos e levo minha boca até a sua.
Quando meus lábios encontram os seus é como se uma explosão
acontecesse. Como se algo dentro de mim se libertasse. Não tenho controle
nenhum e ela domina todas minhas emoções, pensamentos, tudo que
importa é estar o mais próximo possível dela, é tê-la por completo.
Suas mãos descem pelos meus ombros e deixa-as espalmadas sobre
meu peito, eu dito o ritmo do beijo e nossas línguas duelam, um duelo
erótico. Levo meus dedos por baixo da camisa e toco a pele da sua barriga.
Seu corpo reage, eu a sinto mais tensa e ela se inclina em minha
direção. Sophie perde o controle tanto quanto eu. Cedemos um para o outro
tudo o que mais importa.
Seria fácil se ela tivesse meu coração, assim como seria fácil ter o
seu, nossas apostas são mais altas. Apostamos tudo que nos impulsiona, que
nos mantêm vivos… o controle!
Mordo seu lábio inferior sem medo de machucá-la e sinto o gosto do
seu sangue. Sophie abre os olhos e posso ver neles o quanto isso a agrada,
continuamos nos encarando enquanto é a sua vez de puxar meus lábios com
seus dentes e pressioná-los até sentir o gosto do meu sangue.
Essa é a minha garota!
Sorrio quando ela solta meus lábios, então desço minhas mãos até
sua bunda e Sophie entrelaça suas pernas ao redor da minha cintura, seguro-
a e a levo para minha cama enquanto beijo seu pescoço.
Eu a deposito sobre o colchão, tiro as botas dos seus pés, ligo a luz e
fico em pé, admirando-a. Seus cabelos estão espalhados pelo lençol, a
camisa subiu e o short curto permite que eu veja suas pernas.
— Linda e minha.
Ela sorri enquanto eu me ajoelho na cama e me curvo em sua
direção. Arrasto a camisa para cima e beijo a sua barriga.
— Minha deusa.
Sigo beijando-a enquanto meus dedos trabalham no botão do seu
short e, assim que ele está livre, puxo o jeans para baixo junto com sua
calcinha e arrasto meus lábios pela sua pele.
Jogo as peças de roupa para longe, volto a subir pelo seu corpo e
acariciar sua pele com meus lábios, paro quando tenho minha boca a
centímetros da sua boceta molhada. Toco-a com meus dedos e a escuto
suspirar.
Até os seus sons me deixam excitado.
Cubro sua boceta com minha boca e uso minha língua como se a
estivesse fodendo. Sophie deixa suas mãos sobre minha cabeça e se
impulsiona em minha direção.
— Caralho, Travis.
Ela grita e chupo-a até tê-la gozando em minha boca, continuo com
os lábios sobre ela como um viciado, absorvendo tudo que ela tem a me dar
e somente me distancio quando a sinto mais calma abaixo de mim.
Volto a ficar em pé e Sophie tem os olhos fechados, seu rosto está
vermelho e ela está brilhando. Ela está usando a minha camisa e o tecido
continuará em seu corpo, sou alucinado pelos seus seios e pelos seus
piercings, mas hoje a quero com a minha camisa enquanto eu estiver dentro
dela.
Eu a encaro, memorizando cada detalhe da cena em minha mente e
com meus olhos sobre ela, pego a camisinha na carteira, jogo a embalagem
sobre a cama e tiro a minha roupa.
Estou completamente nu quando Sophie abre os olhos, então seu
olhar encontra o meu, fica de joelhos e vem até mim. Suas mãos tocam meu
pau e seus lábios, o meu pescoço.
Aperto sua cintura e fecho os olhos. Ela desce sua boca pela minha
pele, morde meus mamilos e segue subindo e descendo os dedos pela minha
ereção. Engulo em seco e respiro fundo.
— Princesa.
Digo entre dentes e ela continua com a tortura. Ondas de desejo
circulam pelo meu corpo e terminam em minha ereção, a pressão se
intensifica e o prazer parece querer me dominar.
Antes que goze em suas mãos, abro os olhos, enrolo meus dedos ao
redor dos fios do seu cabelo e puxo sua cabeça para trás.
— Vou gozar dentro de você enquanto usa a porra da minha
camiseta.
Inclino-me, tomo seus lábios nos meus e é um beijo carnal,
selvagem, duro e bruto. A luxúria nos governa. Tensão se acumula ao nosso
redor e em nosso interior.
Finalizo o beijo e a giro até ela estar de costas para mim. Caralho,
ali está meu número e meu nome.
Sophie não hesita, fica de joelhos, então seguro seu cabelo e guio
meu pau até sua boceta. Preencho-a e nossos gemidos ecoam pelo quarto.
Eu vou até o fundo, bato em sua bunda, deixo sua pele vermelha, meu
piercing acerta os pontos certos, ela contrai sua boceta e mói meu pau.
Não consigo pensar em mais nada e o prazer me rege. Só consigo
senti-la ao meu redor, rebolando em meu pau enquanto entro e saio de
dentro dela. Tesão me consome e a fodo olhando a porra do meu número e
do meu nome em suas costas.
Posso sentir o seu orgasmo chegando, então levo meus dedos até
seus seios e, mesmo por cima do tecido, aperto-os fazendo com que ela
grite, sua boceta aperta meu pau e ela se entrega.
Meu nome deixa seus lábios, fecho os olhos e só preciso de mais
algumas estocadas para acompanhá-la.
Caralho! Porra!
A melhor sensação do mundo ocupa meu corpo, me leva a um
estado de plenitude que nunca experimentei antes, tira-me de órbita ao
mesmo tempo em que parece que meu mundo finalmente está em ordem.
Abro os olhos quando Sophie se afasta, ela cai exausta em minha
cama. Sorrio satisfeito, jogo a camisinha fora, visto uma calça e me deito ao
seu lado, trago-a para os meus braços e Sophie apoia a lateral do seu rosto
em meu peito.
Subo e desço meus dedos pelas suas costas e eu me sinto em casa,
completo, segurando o meu mundo.
Eu não sei em que momento adormecemos, mas, de repente, acordo
e Sophie não está mais em meus braços. Abro os olhos e ela não está na
cama, olho ao redor do quarto e a luz do banheiro está acesa, então eu me
levanto e vou até lá.
Abro a porta e espero encontrar Sophie no chuveiro, a ideia me
deixa animado e me empolgo com a possibilidade de fodê-la contra os
azulejos. Sorrio e adentro o banheiro.
E, em um segundo, tudo muda. Que merda é essa?
Sophie não está no chuveiro, ela está se secando, de costas para a
porta e quando se dá conta que eu entrei, pega meu roupão e o veste
rapidamente. Ela não é rápida o suficiente e eu vejo o que ela está tentando
esconder.
Fúria toma conta de mim enquanto dou passos para frente e me
aproximo de Sophie.
— O que você está escondendo?
Minha voz está alterada, milhões de possibilidades se passam em
minha cabeça e odeio cada uma delas. Sophie se vira, ficando de frente para
mim e balança a cabeça negando.
— Não estou escondendo nada.
Sorrio, mas não é um sorriso feliz, muito pelo contrário.
— Eu vi as suas costas, não minta.
Posso ver o pânico em seu olhar. Deus, o que aconteceu? Quem fez
isso com ela? Quem eu vou ter que matar? Eu me aproximo e acaricio seu
rosto com delicadeza.
— Sophie, vire-se.
Ela hesita por alguns segundos, mas, por fim, confia em mim e fica
de costas. Nós dois estamos de frente para o espelho e mantenho meu olhar
preso ao seu enquanto coloco seu cabelo para o lado e empurro uma parte
do roupão para baixo, deixando um pedaço das suas costas descobertas.
Seu peito desce e sobe acelerado, denunciando o quanto ela está
apreensiva. Eu vi as cicatrizes de relance quando entrei no banheiro e sei
que meu ódio irá triplicar quando as ver por completo.
Respiro fundo, tento me controlar e olho pra baixo, parte de suas
costas está exposta e ali estão cicatrizes espalhadas pela sua pele. E não é
preciso tirar todo seu roupão para saber que elas vão até o fim das suas
costas. Encaro-as enquanto raiva, ódio, revolta e ira se misturam em meu
peito.
São marcas de quem teve a pele aberta por fivelas de cinto. É óbvio
que alguém fez isso com ela. Minha visão está nublada, sinto raiva pulsar
dentro de mim e tudo que eu quero é encontrar quem fez isso com ela.
— Quem fez isso com você?
Digo entre dentes enquanto minha vontade é socar o espelho.
Preciso descontar minha raiva em algo.
— Não importa.
Ergo meu rosto e meu olhar volta a encontrar o seu pelo espelho.
Não sei quando isso aconteceu, eu não estava lá, provavelmente, não
conhecia Sophie, mas não importa, vou exterminar quem ousou tocá-la.
Sophie balança a cabeça negando, desvencilha-se de mim e deixa o
banheiro, ela volta para o quarto e eu vou atrás dela. Caminha de um lado
para o outro, seguro seu pulso e faço-a me encarar.
— Eu preciso saber quem é, Sophie, então vou caçá-lo e matá-lo.
Ela ri, mas não é um sorriso que alcança seus olhos.
— Não interessa, Travis, ele está morto.
— Então eu vou até o inferno e vou matá-lo outra vez.
Posso ver o passado em seus olhos, seus fantasmas, seus monstros,
aqueles que estão trancafiados no fundo da sua alma.
— Não valeria a pena. — Ela ri, um sorriso diferente do anterior,
não contém humor, mas é ácido, o sorriso de quem esconde a escuridão
dentro de si. — Ele não vale o esforço.
— Mas você vale.
— Na maior parte das vezes, eu esqueço do que aconteceu.
Seus olhos seguem fixos nos meus e exibem uma firmeza inabalável,
como se estivesse desafiando o mundo inteiro a enfrentá-la.
— Eu não posso fingir que ninguém a machucou.
Solto seu pulso, ergo minha mão e acaricio a lateral do seu rosto.
— Você não pode mudar o passado, Travis — ela diz algo que
martela na minha mente todos os malditos dias. — Essas cicatrizes são
parte de quem eu sou.
Mesmo na sua versão mais frágil, Sophie não recua. Ela dá um passo
para trás. Vira-se e vai até a porta de vidro que separa meu quarto da
sacada, abre-a e sai. Eu a sigo, ela apoia seus braços contra o guarda-corpo
e encara a floresta à nossa frente, eu paro ao seu lado com meu quadril
apoiado na grade.
— Preparado para conhecer a escuridão da minha alma, Travis?
Pega leve comigo, querido!
Eu ainda era uma criança
Não tive a oportunidade de
Sentir o mundo ao meu redor
Não tive tempo para escolher o que escolhi fazer
Easy On Me (Adele)

Sophie
Meu coração acelera enquanto a pergunta deixa meus lábios. Meu
passado é a parte mais obscura da minha alma, é o que me levou à
escuridão e faz parte de quem eu sou.
— Nada do que você me diga irá me assustar, Sophie.
Sorrio e encaro as árvores à minha frente. Será mesmo que ele não
ficará assustado? Qualquer outra pessoa ficaria, mas, lá no fundo, eu sei que
Travis não irá me julgar, nem se assustar, porque seu passado é tão fodido
quanto o meu.
— Minhas primeiras lembranças são de quando tinha sete anos, são
flashes, alguns momentos com funcionárias e babás, outros são olhares de
desprezo de quem eu chamava de pai, há também recordações de vê-lo de
terno, logo após chegar do trabalho, agachado à minha frente, encarando-
me e me chamando de aberração.
Deixo que as palavras saiam da minha boca enquanto as memórias
ecoam em minha mente.
— Lembro das babás me levando até a mulher que eu chamava de
mãe, eu gritava por ela, mas ela me ignorava e ordenava que me levassem
para longe, o mais longe possível. — Eu finjo que não é a minha história e,
sim, a história de outra pessoa para que ele não perceba o quanto as
memórias me atormentam. — E sei que, em algumas noites, eu ouvia gritos,
brigas e, no dia seguinte, ela estava com o olho roxo ou algum outro
hematoma.
— A partir dos oito anos, as memórias são nítidas, meus pais me
odiavam, eles me desprezavam com olhares e palavras, ele dizia que era
uma aberração, alguém que ele deveria se livrar, uma cópia da puta da
minha mãe e ela dizia que eu era um erro, um acidente estúpido e que
deveria ter feito um aborto, às vezes eles me diziam isso, outras, escutava-
os sussurrando.
Não consigo me manter controlada e minha voz falha. Porra! Eu
vejo pelo canto do olho que Travis dá um passo para frente e balanço a
cabeça negando. Se ele vir até mim, eu não vou suportar.
— E entendi o que acontecia à noite, ele bebia, chegava bêbado em
casa, então procurava por ela, eles brigavam, discutiam e ele batia nela. Se
fechar meus olhos e forçar minha mente, consigo ouvir as vozes dos dois,
consigo ouvi-la acusando-o de ser infértil, dele chamando-a de vagabunda,
posso ouvi-lo dizendo que deveria matar ela e eu, e posso ouvi-la dizendo
que não importaria se eu morresse.
Não deveria doer tanto reviver o passado, mas, porra, ainda me
machuca.
— Quando eu tinha dez anos, Alexa fugiu com o amante, causou um
escândalo para Leon, todos ficaram sabendo, ela se livrou dele, destruiu a
sua reputação e me deixou com o demônio.
Sorrio, um sorriso tão escuro quanto a noite à minha frente. Alexa
nunca foi uma mãe, Leon nunca foi um pai. Nunca foram minha família!
— Sendo sincera, não tenho lembranças dos meus primeiros sete
anos e não há ninguém para me contar, tanto os pais de Leon quanto os de
Alexa morreram quando eu ainda era uma criança e, mesmo se estivessem
vivos, aposto que teriam me ignorado, então não sei se algum dia eles foram
pais, se existe alguma memória feliz perdida em minha mente, mas sendo
sincera? Duvido.
Olho para o lado e ele tem os punhos fechados como se estivesse
prestes a socar alguém.
— Você quer o resto da história ou já está assustado?
Ele não está assustado, ele está com raiva.
— Continue.
Volto a olhar para frente, porque não posso encará-lo, não enquanto
os flashes inundam a minha mente.
— Alexa foi embora e ele tinha prazer em me punir, em descontar
toda a raiva que sentia dela em mim, afinal, eu era a filha dela, não é? —
Sorrio com desdém. — Então, era para o meu quarto que ele ia quando
chegava bêbado, era eu que escutava seus lamentos enquanto ele acertava
minhas costas com sua cinta, ele não tinha dó, não se importava com meus
gritos nem com minhas lágrimas.
É um horror relembrar as dores físicas e as emocionais, porque é
como senti-las outra vez.
— Ele demitiu minhas babás e as funcionárias que ousaram olhar
torto para ele, os que restaram foram apenas os confiáveis, os que venderam
a alma ao diabo, uma cozinheira, um jardineiro, um motorista e, a cada
quinze dias, ele me trancava no quarto para que uma equipe limpasse a
mansão.
Meus lábios tremem e preciso me lembrar de que não choro.
— Leon me tirou da escola, pagou professores, professores que ele
pôde pagar para se manterem calados e eu me tornei sua prisioneira, o alvo
da sua cinta, dos seus xingamentos e dos seus desabafos, foi por tê-lo
escutado enquanto me batia que eu, enfim, juntei todas as peças e entendi
qual, de fato, era a minha história.
Uma parte minha ficou aliviada quando tudo se encaixou e a outra,
ainda mais destruída.
— Eu deveria ser a herdeira perfeita, fruto de um casamento
arranjado em que os dois tinham um único intuito, a união de duas famílias
influentes para produzir alguém para manter o legado das famílias. — Tudo
pelo poder e aparência. — Eu nasci, mas quando eu tinha cerca de seis
anos, o homem que acreditava ser meu pai descobriu que eu não era sua
filha e, sim, de um amante da sua esposa, além disso, descobriu que era
infértil, é óbvio que isso era inaceitável para Leon Mackenzie, mas é claro
que não admitiria a ninguém que havia sido enganado, ele se manteve em
silêncio. Nunca descobri por que Alexa não fugiu com o amante assim que
Leon ficou sabendo de tudo e não faço questão de saber, ela é uma puta que
me desprezou e não tem importância nenhuma em minha vida, não mais.
Eu me senti aliviada porque Leon não era meu pai, e destruída
porque meu pai biológico também tinha me abandonado. Na época, eu me
perguntei o que tinha de errado comigo!
— Onde ele está, Sophie?
Travis esbraveja.
— Espero que no inferno. — Ele parece prestes a perder o controle e
ainda nem terminei. — E eu não acabei ainda, principezinho.
Tento soar debochada, mas falho.
— Essa porra piora?
— Sempre pode piorar.
Sorrio, mas é bem longe de ser um sorriso real.
— Conforme o tempo passava, mais os castigos se intensificavam,
ele parecia gostar cada vez mais de me torturar, eram surras de cintas que
abriam as minhas costas e precisava pagar algum médico para cuidar das
minhas feridas, era me deixar sem comer por dias, ou me trancar em algum
armário.
Lembro-me do sentimento do medo, do sangue escorrendo das
minhas costas, do tecido grudando na minha pele, dos pontos feitos sem
anestesia, dos pedidos de socorro que nunca foram atendidos.
— Quando tinha doze anos, conheci Dominic e Sebastian, eles eram
os filhos do motorista, um homem tão terrível quanto Leon, eles iam
trabalhar, às vezes, com o pai e eram as únicas crianças com quem tinha
contato, e apesar de termos apenas doze anos, não éramos crianças comuns,
nós entendemos muito rápido o que acontecia uns com os outros, nos
defendíamos como podíamos e conseguíamos, é claro, nós sabíamos que
uma denúncia não iria bastar, não quando Leon era o único juiz da cidade.
Dominic, Sebastian e eu fomos o porto seguro uns dos outros, nós
nos encontramos e formamos um trio quebrado, ansiosos por liberdade e
vingança.
— Crianças normais brincam, nós planejávamos como iríamos
alcançar a nossa liberdade. Sempre soubemos que teríamos que fazer algo,
mas teríamos que esperar o momento certo, a ocasião perfeita. Eu aguentei
até os dezesseis anos, que é quando poderia me emancipar, caso algo
acontecesse ao meu representante legal; eu aguentei, mas carrego as
cicatrizes disso.
E as cicatrizes nas minhas costas são as menos profundas, elas ficam
lá, escondidas, eu até consigo esquecê-las.
— Surras, dias sem comer, trancada em armários, no escuro, as
lágrimas e gritos simplesmente não saíam mais, eu perdi qualquer vestígio
de luz que poderia ter, nenhum grito saiu da minha boca quando ele
arrancou minha virgindade aos quinze.
Preciso respirar fundo, preciso controlar para que os sentimentos
passados se libertem. Foi horrível estar lá, vê-lo em cima de mim,
arrancando mais de mim, destruindo qualquer vestígio de inocência que
ainda existia em meu interior.
— Eu vou matá-lo.
Grita e soca a grade. Balanço a cabeça e olho para ele. Travis está
transtornado, furioso, como se realmente fosse capaz de matar Leon se ele
ainda estivesse vivo.
— Você não vai, porque eu já fiz isso.
Confesso e ele não vacila, não se assusta, não me encara como se eu
fosse um monstro ou uma assassina.
— Como?
É a única palavra que deixa sua boca enquanto dá um passo para
frente.
— Dominic aprendeu sobre carros com o cara que chamava de pai,
um monstro tão cruel quanto Leon, e ele ensinou Sebastian e eu, e o plano
perfeito surgiu, um arriscado, mas sendo sincera, acabar na cadeia era o
paraíso perto do que vivíamos.
Qualquer lugar seria melhor.
— Trocamos uma peça do carro quando nenhum deles estava
olhando, uma velha por uma nova, uma peça mínima, e um acidente
aconteceu, Leon e o pai de Dominic morreram.
Não há remorso nenhum, nunca houve, apenas alívio.
— Nunca pegaram vocês?
— Não, foi o crime perfeito, eu me emancipei e herdei todo o
dinheiro dele, porque Alexa nunca contou a ninguém que eu não era filha
dele, por isso ele me manteve; Dominic e Sebs vieram morar comigo e
começamos a correr, dominamos as pistas.
Travis continua me encarando sem nenhum julgamento, pelo
contrário, há admiração, carinho e algo que nunca vi no olhar de alguém,
nem dos meus amigos. Sebs, Dom e Jace estiveram ao meu lado, mas nós
vivemos a mesma tensão, o mesmo medo, o mesmo alívio, nós fomos fortes
juntos, foi preciso nos mantermos fortes.
— Ele mereceu, princesa. — Dá mais um passo em frente. — Ele
merecia bem mais, se eu pudesse, realmente desceria ao inferno e o
torturaria, seria eu a ouvir seus gritos, faria ele implorar para morrer.
Ergue sua mão e acaricia a lateral do meu rosto.
— Como você se sente?
Eu poderia mentir, poderia fingir para ele e para mim, mas não
posso, não quando finalmente posso ceder.
— Doeu, me machucou, durante uma boa parte da minha vida eu
quis ser outra pessoa, ter uma infância normal, ter uma família, pais,
conhecer o amor, mas eu encontrei minha felicidade em meio ao meu caos,
revisitar o passado dói, porque só há tristeza, raiva, dor, sofrimento e
angústia.
Há uma pressão em meu peito, não é um sentimento ruim, é só a
constatação de que é apenas meu passado.
— Em alguns momentos, achei que não sobreviveria, que iria
morrer, mas eu superei, eu sobrevivi. — Lágrimas se acumulam em meus
olhos. — O que eu passei me moldou, acabou com minha inocência, definiu
meus limites, o que é certo e errado, mas não me derrotou, não foi o meu
fim.
— Não foi, princesa.
Ele me puxa para seus braços e eu vou. Deixo que Travis me abrace.
Eu aprendi a não sentir, a engolir minhas lágrimas e ser forte. Não lembro
quando chorei pela última vez ou quando alguém enxugou as minhas
lágrimas por vontade própria.
— Eu nunca choro.
Confesso. Travis aperta seus braços ao meu redor. E eu me sinto em
casa, em paz, tranquila. Agora, em seus braços, eu finalmente posso deixar
as lágrimas rolarem.
— Está tudo bem, você não precisa mais ser forte, Sophie.
E eu choro, mas Travis me segura, ele me mantém em pé, mantém
meu coração batendo.
Mas se o mundo estivesse acabando, você viria, certo?
Você viria e passaria a noite
Você me amaria por isso?
Todos os nossos medos seriam irrelevantes
If The World Was Ending - feat. Julia Michaels (JP Saxe)

Travis
Sophie chora compulsivamente, eu a seguro, mantenho-a em meus
braços. Se eu pudesse, realmente desceria ao inferno, iria encontrá-lo e
torturá-lo.
Ele merecia muito mais que um acidente de carro, mas entendo o
porquê, era a forma mais segura e prática. Minha garota é forte, incrível, e,
realmente, dividimos a mesma escuridão.
Ouvir o que ela passou fez com que eu fosse dominado pela raiva,
por uma vontade incontrolável de explodir com seus miolos. Como ele
ousou tocar nela?
Não tem explicação para o que algumas pessoas são capazes de
fazer. Estou tremendo de raiva e gostaria de descontá-la de alguma forma,
talvez correndo, talvez esmurrando um saco de pancadas, ou cortando
lenha, mas não posso, não quando Sophie precisa de mim.
Se eu pudesse, voltaria ao seu passado e a salvaria, impediria que ela
sofresse, mas isso não é possível, tudo que eu posso fazer é ser quem ela
precisa no presente.
Eu passo meus braços pelas suas pernas e a seguro em meu colo
como se fosse um bebê, então a levo para dentro, sigo até minha cama,
sento-me, apoio minhas costas contra a cabeceira da cama e continuo
segurando-a como se nossas vidas dependessem disso.
Sophie chora, eu beijo o topo da sua cabeça e me mantenho em
silêncio. O que aconteceu com ela segue ecoando em minha mente e tudo
que consigo pensar é que talvez tenha que caçar sua mãe e o amante, ela a
abandonou na mão de um idiota, ela tem a porra de culpa no que aconteceu
e ainda está impune por isso.
Aos poucos, sua respiração se normaliza e seus soluços cessam, eu
continuo imóvel, com meus braços ao redor dela.
Percebo quando ela não está mais chorando, mas não mudo de
posição, vou continuar aqui enquanto ela precisar de mim, ficaria a vida
inteira se fosse necessário.
Sophie então se mexe, levanta-se e eu a observo caminhar pelo
quarto. Ela vai até o armário, abre as portas, mexe nos cabides e pega uma
das minhas camisas. Ela poderia pegar qualquer uma, mas pega uma das
minhas camisetas do futebol. Uma igual à que estava usando mais cedo.
— Esse negócio estava pinicando a minha pele.
Ela explica enquanto tira o roupão, deixa-o sobre a cômoda e coloca
a minha camisa. Eu sorrio e sigo acompanhando seus movimentos. Assim
que está vestida, ela volta para a cama, aproxima-se de mim e se senta sobre
minhas pernas com os joelhos ao redor da minha cintura, espalma as mãos
em meu peito e me encara como se um peso tivesse deixado suas costas.
Seus olhos estão úmidos, mas ela não está mais chorando, há apenas
um rastro de lágrimas em seu rosto. Ergo minhas mãos e, com a ponta dos
meus dedos, limpo seu rosto.
— Obrigada.
Seu rosto ganha um tom de vermelho e sorrio.
— Eu deveria tirar uma foto dessa rara ocasião. — Arqueia as
sobrancelhas. — Você está corando.
Sophie não é do tipo de garota que cora. Ela revira os olhos e bate
em meu peito.
— Você não deveria estar rindo de mim. — Faz um bico de
descontentamento com seus lábios. — Eu estou aqui no meu momento
frágil e você zombando de mim.
Ela não está falando sério, está debochando. Seus olhos entregam
isso, não há mais tristeza, ela não está mais perdida no passado, nem nos
sentimentos que a ferem. Sophie chorou, se entregou às emoções, mas não
são elas que a comandam, ela está no controle e voltou a ser a minha garota
arrogante, dona de si, obstinada e destemida.
— Talvez você devesse voltar a chorar.
Ela faz uma careta.
— Eu odeio chorar.
Ela não está mais zombando e o ar de deboche some ao nosso redor,
voltamos a nos encarar com seriedade.
— Não há problema nenhum em chorar e, sempre que precisar,
estarei aqui para te segurar enquanto chora.
Uma ruga surge em sua testa.
— Você costuma chorar com frequência?
Sorrio, porque entendo seu ponto.
— Não muito.
Ela estreita os olhos.
— Quando foi a última vez que chorou?
Porra, eu não lembro! Ela percebe que não vou saber responder a
sua pergunta e ri, satisfeita. Eu me inclino em sua direção e meus lábios
cobrem os seus.
É um beijo mais calmo do que normalmente são nossos beijos, mas a
intensidade segue a mesma, talvez seja até mais profundo, porque além do
desejo, da malícia e da luxúria, há carinho, compreensão e admiração, uma
conexão inexplicável.
Acaricio o seu rosto quando nos afastamos e sorrio, um sorriso leve,
de quem está apaixonado. Caralho, nunca me imaginei assim! Eu sabia que
o sentimento existia porque eu o via nos meus pais, porém, acreditava ser
imune a ele.
— Você não precisa me agradecer, princesa.
O apelido, que antes era pejorativo, não é mais, é repleto de
significado. Sophie mantém o olhar no meu e morde seu lábio inferior, ergo
minha mão e o afasto dos seus dentes, ela sorri e suspira. Seus olhos são
mistura de sentimentos, gratidão, alívio, admiração, carinho… e amor.
— Eu nunca permiti alguém me ver assim, frágil, sem todas as
camadas que construí ao longo dos anos, você me viu de uma forma que
ninguém nunca viu e você não fugiu, você não foi embora, você não surtou.
— Dá de ombros. — Você, simplesmente, ficou aqui.
Ela soa como se eu fosse um maldito super-herói, mas como eu
surtaria, se ela precisa de mim inteiro?
— Você precisava de mim e eu fiquei, mesmo que minha vontade
fosse de quebrar a porra do meu quarto, de destruir algo, de ir atrás de todos
os monstros que te feriram, nem que precisasse ir até o inferno para
encontrá-los. — Acaricio a lateral do seu rosto. — Mas meus sentimentos,
minha vontade não importa… só você importa.
Continuo descendo minhas mãos até encontrar seus dedos e
entrelaçá-los com os meus.
— Eu tenho Jace, Sebastian e Dominic, mas se eu quebrar perto
deles, eles irão surtar, porque eles têm os seus próprios demônios, eles são
meu porto seguro, mas não são as minhas âncoras.
Abaixo nossas mãos e brinco com seus dedos.
— Eu te entendo perfeitamente, é assim que eu me sinto com Trevor
e Hailey, nós temos nossos demônios, estávamos no inferno juntos, mas não
compartilhamos a maior parte do que sentimos uns com os outros, porque
sabemos que isso só nos faria quebrar ainda mais.
Há compreensão na forma como me encara.
— Somos feitos da mesma escuridão, não é?
Sorrio e assinto.
— Somos.
E ela nem imagina o quanto. Ela está pronta para saber sobre o que
me atormenta e eu estou pronto para contar, mas, antes do clima sombrio
nos rodear outra vez, eu tenho perguntas. Apoio minhas costas
completamente na cabeceira e mantenho meus olhos sobre os seus.
— Você mencionou Dom e Sebs, mas e Jace?
Tento soar normal, esforço-me para não sentir raiva ao mencioná-
los, mas não consigo. Ela mora com eles, que tipo de roupa ela veste? Eles
a veem com roupa de dormir? Qual é o tipo de relação que já tiveram?
Porra, há boatos que os quatro se relacionam entre si, odeio todas as
possibilidades que se passam pela minha cabeça.
— Jace sempre foi o melhor amigo de Dominic, tão fodido quanto
nós três, e quando começamos a correr, chamamos ele para compor a nossa
equipe.
Assinto e abordo a próxima questão.
— Você é rica?
— Um pouco, eu herdei tudo de Leon, investi o que havia de
dinheiro, vendi os seus bens e comprei carros, começamos a correr,
participar de corridas e a ganhar mais dinheiro.
Engulo em seco após ouvir sua resposta, porque a última dúvida que
resta em minha mente, é a que me atormenta, é a que pode acabar com a
minha sanidade.
— Qual é a sua relação com eles?
Prendo a respiração e ela sorri. Ela sabe que estou me corroendo de
ciúme. Sophie demora a me responder de propósito, desvencilho minha
mão da sua e aperto sua cintura.
— Não me provoque, princesa.
O sorriso em seus lábios amplia e me encara com malícia.
— Você está com ciúme? — Não a respondo e ela muda a pergunta:
— Por que você está com ciúme?
O brilho em seus olhos se torna mais escuro e mais intenso. Estreito
os olhos e aperto sua cintura com mais força.
— Porque você é minha e eu não divido o que é meu.
Digo entre dentes e ela me encara com deboche.
— Não sou sua. — Ela está me provocando e um som semelhante a
um rosnado deixa minha boca. — Não sou um objeto para ser propriedade
de alguém.
Ignoro completamente a sua última frase.
— Você está usando a porra da minha camiseta, com meu número e
meu nome, está na minha cama, é óbvio que você é minha.
Subo minhas mãos pelas suas costas, enrolo seus cabelos em meus
dedos, seguro-os com força e aproximo meu rosto do seu, com meus olhos
fixos nos seus, mordo seu lábio até sentir o gosto de sangue em minha boca.
Eu posso ver em seus olhos o quanto ela gosta disso. Realmente,
somos feitos da mesma escuridão. Sophie me empurra, sorri e me olha,
triunfante.
— Somos como irmãos, a família que nunca tivemos.
Suspiro aliviado, mas ainda me encontro tenso.
— Nunca rolou nada entre vocês? Você nunca ficou com nenhum
deles?
Eu preciso ter certeza. Deveria ignorar? Provavelmente, não faz
diferença, eles sempre serão seus amigos, independe da sua resposta, mas
não consigo deixar para lá, eu preciso saber.
— Nem um único beijo.
Finalmente, posso ficar tranquilo, em paz sobre o assunto e Sophie ri
ao perceber o meu alívio.
— Eu gosto desse seu ar possessivo. — Inclina-se para a frente. —
De como você age como se me quisesse só pra você.
— Eu quero você só para mim.
Sophie diminui a distância entre nós dois e é a sua vez de morder o
meu lábio inferior até sentir o gosto de sangue. Eu ainda tenho as mãos em
seus fios de cabelo e não deixo que ela se afaste quando tenta, meus lábios
tomam os seus e a beijo. Sophie não hesita, suas mãos seguram minha
camisa e minha língua duela com a sua.
Impulsiona-se em minha direção e sua boceta se fricciona em minha
ereção. Porra!
Antes que não consiga mais me controlar, afasto meus lábios dos
seus, ainda temos muito o que conversar. Apoio minha testa na sua, ela abre
seus olhos e nos encaramos por alguns segundos enquanto recuperamos o
fôlego e normalizamos nossas respirações.
— É uma porra que terei que agradecer aos idiotas por terem
cuidado de você enquanto eu ainda não estava por perto. — Ela ri. — E
você não precisa mais deles.
Sophie balança a cabeça.
— Primeiro, você não precisa agradecê-los, porque eu prefiro ser
presa outra vez do que agradecer aos seus irmãos, então vamos continuar
nesse ambiente hostil, eu odeio seus irmãos, você odeia meus melhores
amigos e está tudo certo. — A ideia dela não é nem um pouco ruim e
assinto. — E segundo, eu ainda preciso deles, sempre vou precisar, mesmo
tendo você.
Suspiro.
— Ok, era só uma tentativa. — Sorrio. — Vai que funciona.
Ela ri, desço minhas mãos até sua barriga e afasto minha testa da
sua.
— E por que você já foi presa?
— Por ter sido pega em corridas ilegais, você já foi preso?
Balanço a cabeça negando.
— Sempre fui ótimo em não ser pego.
Pisco em sua direção e Sophie revira os olhos.
— Claro, ele é perfeito.
Ela zomba, nós dois rimos e o sorriso só deixa meus lábios quando
Sophie me encara como se estivesse prestes a desvendar todos meus
segredos e talvez ela realmente esteja.
— Você pode dividir seus demônios comigo, assim como eu dividi
os meus com você. — Apoio minha cabeça contra a cabeceira e encaro o
teto. — Você seria mesmo capaz de matá-lo?
Ela está me perguntando se seria mesmo capaz de matar Leon,
Sophie quer saber se estava brincando, mas eu sei que, lá no fundo, ela sabe
qual será a minha resposta. Respiro fundo e então, simplesmente, deixo que
a verdade escape pelos meus lábios.
— Sim, e não seria a primeira vez que eu mataria alguém.
Sua pele, oh, sim, sua pele e ossos
Transformaram-se em algo bonito, você sabe
Você sabe que eu te amo tanto?
Você sabe que eu te amo tanto?
Yellow (Coldplay)

Travis
Crio coragem, baixo meu rosto e meus olhos encontram os seus. Não
há julgamento, surpresa ou medo. Sophie, simplesmente, está esperando
para ouvir sobre o meu passado, para conhecer o que há na parte mais
obscura da minha alma.
— Você não ficará assustada com o que eu te contar, não é?
Eu sei do seu passado e, mesmo assim, ainda há uma insegurança,
pequena, mas está aqui, com medo de ela não gostar do que vai ouvir, de
não aceitar quem eu fui e quem eu sou.
— Nada do que você me disser irá me afastar de você, Travis.
Espalma a sua mão sobre meu coração, engulo em seco, assinto e
visito meu passado enquanto as próximas palavras deixam minha boca:
— Meu passado também se inicia na infância, eu tenho alguns
flashes, memórias misturadas, assim como você, mas não sei dizer a idade
exata. — Respiro fundo ao relembrar tudo que já me machucou um dia, eu
me recordo exatamente do trailer imundo, até o cheiro era podre. — Eu
lembro de um trailer sujo, garrafas de bebidas, drogas, traficantes na porta
vendendo metanfetamina, lembro de Trevor e eu tendo que cozinhar,
limpar, de nos esconder embaixo da cama enquanto nossos pais se
drogavam, da mulher que chamávamos de mãe grávida de Hailey, dos gritos
da bebê, dela passar fome, estar suja e de Trevor cuidando dela, de fugir
quando eles estavam sem dinheiro para comprar drogas, eles ficavam
alucinados, malucos e nos batiam, Trevor sempre me protegia e apanhava
por nós três, ainda posso ouvir os gritos do meu irmão.
Preciso de uma pausa, Sophie entrelaça nossos dedos e aperta sua
mão contra a minha.
— Era horrível não poder fazer nada para salvar meu irmão, eu me
escondia no armário da cozinha enquanto ele apanhava, chorava e rezava
para que terminasse logo.
Sophie me encara e posso ver a raiva em seus olhos, ela odeia os
meus pais, ou melhor, as pessoas que deveriam ser meus pais, assim como
odeio os seus, nossas histórias são semelhantes.
— Um dia, em meio a uma crise de abstinência, eles nos trocaram
por drogas, nos entregaram para a gangue mais perigosa, fodida e
impiedosa da cidade em troca de drogas. — Posso ver seu olhar repleto de
surpresa e sorrio. — Sim, eles foram capazes de vender os próprios filhos.
Desvio os olhos dos seus por alguns segundos e fito o teto. As
memórias são nítidas, me lembro de nós três chamando por eles, gritando,
chorando e sendo arrastados por traficantes enquanto eles simplesmente nos
ignoravam.
— Eu tinha dez anos; Hailey, oito e Trevor, doze quando isso
aconteceu e nosso tormento realmente começou, até então tínhamos vivido
em um paraíso comparado ao inferno que nossa vida se tornou. — Volto a
olhar para Sophie. — Naquela sexta-feira em que você ganhou de Hailey,
foi quando completaram doze anos de tudo que aconteceu, é uma data que
sempre tira o pior de nós três.
Fico em silêncio e espero pela sua pergunta para continuar.
— O que aconteceu depois que foram levados pelos traficantes?
Sophie sussurra.
— Nós fomos levados para a casa que eles usavam como sede da
facção, ficamos em um quarto sem janelas, com uns colchões no chão, tão
úmido que fedia e o compartilhávamos com alguns ratos. — Ela faz uma
careta e é a minha vez de apertar sua mão. — Durante o dia, éramos usados
para contrabandear drogas, Trevor e eu, Hailey era mantida com eles, eles a
usavam para nos chantagear, ela era a garantia de que faríamos o que eles
mandavam.
A imagem de Hailey encolhida em um canto nos encarando com
medo ecoa em minha mente e preciso respirar fundo para conseguir
prosseguir.
— Eles nos vendavam, nos arrastavam para carros e só éramos
liberados para fazer as entregas, se algo desse errado, éramos punidos com
surras ou longos dias sem comer. — Não estou mais naquele lugar, mas é
como se estivesse sentindo o cheiro da imundice. — Nós aprendemos a
atirar e, enquanto estávamos com as armas, eles sempre mantinham uma
contra a cabeça de Hailey, se tentássemos algo, eles a matariam, e Trevor e
eu sabíamos que eles cumpririam com a ameaça.
Há uma pressão em meu peito e está difícil de respirar.
— Meu corpo tremia enquanto apertava o gatilho e tentava acertar o
alvo, minhas mãos suavam e eu tinha medo, pavor do que poderia acontecer
com a minha irmã, eu desejava acabar com eles, porém, não podia arriscar a
vida da minha irmã, ela era mais nova e deveria protegê-la.
O olhar amedrontado de Hailey ocupa minha mente e nem olhar para
Sophie consegue me tirar do passado.
— Era um tormento, chorávamos abraçados, rezávamos,
implorávamos por um milagre e não tínhamos nem ideia de como sair desse
pesadelo. — Os sentimentos que um dia senti, invadem meu peito e sou o
garoto perdido outra vez. — Perdemos a noção dos dias, semanas, meses, o
tempo se arrastava, não tínhamos mais esperança e tudo que fazíamos era
sobreviver, em alguns dias, eu só queria que alguém decidisse nos matar.
De repente, eu estou lá outra vez. Um deles me encarando, sorrindo
e me entregando uma arma.
— Travis. Travis. Travis. — Escuto sua voz e suas mãos estão em
meu rosto, então pisco e volto a encará-la. — Eu não preciso saber de tudo
agora.
Balanço a cabeça e continuo:
— Depois de um tempo, Trevor e eu éramos obrigados a fazer parte
das rondas e das cobranças. Homens foram mortos na minha frente e, uma
vez, eles colocaram um homem de joelhos e me entregaram a arma, eu
precisei apertar o gatilho e vi em seus olhos sua vida chegando ao fim.
Fecho os olhos ao reviver a cena. É difícil não me perder, mas me
concentro no toque de Sophie e abro os olhos.
— Uma vez, Trevor tentou elaborar um plano para fugirmos durante
a noite, era um péssimo plano, arrombar as portas e sair correndo, mas,
naquele momento, parecia ser o bastante, não foi, fomos pegos assim que
arrombamos a primeira porta e deixamos o quarto, como punição, eles
levaram a Hailey para o quarto ao lado e…
Não consigo continuar, as palavras travam.
— Ok, eu entendi, Travis.
— Nós ouvíamos os seus gritos e não podíamos fazer nada e quando
Hailey voltou, não existia mais vida no olhar da minha irmã, nenhum.
Foram três caras e a lição de que não deveríamos se opor a eles.
Não podíamos fazer nada, foi a pior dor da minha vida.
— Trevor se culpa pelo plano, eu me culpo por não ter percebido
que o plano era horrível.
— Vocês eram só crianças.
Sophie sussurra e posso ver o quanto ela sente muito por tudo que
vivemos.
— Éramos e, depois desse dia, eu sabia que precisava tirar meus
irmãos de lá, eu precisava salvá-los, então comecei a observar cada detalhe
e assim que surgiu uma brecha, roubei uma faca. Montei um plano em
minha mente e quando tive oportunidade, o coloquei em prática. Eu sabia
que Trevor e Hailey não aceitariam, não depois da última tentativa, então
precisei agir sozinho.
Lembro-me do medo de tudo dar errado, mas o medo de perder
meus irmãos para sempre era pior e eu os estava perdendo.
— Uma noite, enquanto Trevor e Hailey estavam dormindo,
arrombei a porta e quando fui pego pelo idiota que estava fazenda a guarda,
lutei, Baylor era o nome dele, ele achou que seria igual da outra vez, que
iria me ameaçar e eu voltaria para o quarto, não dessa vez, eu parti para
cima, peguei-o desprevenido e meti a faca no pescoço dele, era um dos
caras daquela noite e eu senti prazer em matá-lo. — Sorrio como sorri
naquela noite. — Eu sorri quando ele deu seu último suspiro, então roubei
sua arma e voltei para o quarto, acordei Trevor e Hailey e, quando os dois
viram o homem morto no chão, eles sabiam que tinham que me ajudar.
Fui movido pela adrenalina, nunca soube explicar como tudo
aconteceu, foi como estar vivendo a vida de outra pessoa.
— Nós conseguimos sair do quarto, fomos até a sala, havia mais
dois caras e eu atirei na cabeça sem medo, sem pestanejar, então corremos
para fora, nessa época eles haviam me ensinado a dirigir para ser o
motorista de fuga, caso precisassem, então entramos em um carro, fiz uma
ligação direta e dirigi sem rumo, não lembro o que Trevor ou Hailey
falaram, apenas continuei e só parei quando chegamos em um mercado,
entramos correndo e pedimos socorro.
Anos depois, ainda sinto o alívio, a esperança renascendo e voltando
a pulsar em meu peito.
— As lembranças são confusas em minha mente, é como se fosse
um filme e não a minha vida, mas chamaram a polícia, fomos interrogados,
eles acharam o lugar, alguns membros foram presos e nós entramos no
programa de proteção a testemunhas, mudamos de estado, de nomes e
fomos para um abrigo.
Sophie segue me encarando e ela compreende o que eu fiz, ela
entende as minhas escolhas.
— Fomos para um abrigo e a história que deveríamos contar era de
que éramos órfãos recentes, nossos pais haviam morrido em um acidente, os
únicos que sabiam da verdade eram os diretores e a polícia, se caso alguém
se interessasse em nos adotar, saberia que estávamos no programa de
proteção e, se continuasse interessado, os detalhes seriam expostos.
Parece que fazem horas que estou falando e, mesmo assim, Sophie
continua com olhos fixos nos meus, esperando por todos os detalhes.
— Não esperávamos ser adotados, sabíamos que éramos muito
fodidos para isso e não ligávamos, só queríamos encontrar a paz, porque
apenas conhecíamos o caos, e estávamos convictos que seríamos nós três
para sempre, mas Valentina e Vicenzo nos encontraram. — Sorrio ao me
lembrar dos meus pais e da primeira vez que os vi. — Tão fodidos quanto
nós, eles nos adotaram mesmo sabendo do nosso passado, e eles poderiam
nos proteger se algo acontecesse.
Finalizo e posso ver milhões de perguntas em seus olhos. Sorrio e
aperto a sua mão.
— Você tem perguntas, não é? — Ela morde seu lábio e assente. —
Eu vou responder cada uma delas.
Solta o seu lábio dos seus dentes.
— Quantos anos vocês ficaram no cativeiro?
— Dois anos.
— E como foi? Como você se sentiu quando saiu? Como foi estar de
volta à sociedade?
Eu volto a apoiar minha cabeça contra a cabeceira e encaro o teto.
— Foi um processo difícil, precisei fazer terapia, estava atrasado na
escola, muito atrasado, já que mesmo antes, eu não ia à escola
regularmente, era explosivo, queria resolver tudo no grito, não conseguia
socializar com outras crianças que não fossem meus irmãos. Eu tinha
pesadelos e ataques de pânico seguidos.
Sophie desvencilha sua mão da minha e a espalma sobre meu peito
junto com a outra.
— E quanto tempo depois vocês foram adotados?
— Dois meses, minha mãe sempre fala que estava procurando por
nós. — Abaixo meu rosto até estar com meus olhos fixos nos seus. —
Crianças quebradas como ela tinha sido um dia, ela queria nos consertar e
conseguiu, pelo menos, eu acho que sim.
Sorrio.
— O que aconteceu com sua mãe?
— Minha mãe foi vendida pelos pais para uma organização de
tráfico de mulheres e crianças, ela tinha doze anos e, por quinze anos, foi
obrigada a se prostituir até que em uma investigação, o lugar em que ela
estava foi invadido pela polícia e ela foi resgatada, depois disso ela foi viver
em Las Vegas e conheceu meu pai.
— E seu pai, ele tem uma história normal?
Balanço a cabeça negando.
— Meu pai viveu o inferno com seus pais, usuários de droga, um
pouco menos terrível porque não o trocaram por drogas, mas horríveis,
então ele cresceu pelas ruas jogando cartas, apostando por dinheiro e,
principalmente, à noite, ele aprendeu a trapacear, era tão bom que chamou a
atenção de dono de cassinos, eles o contrataram para enganar os trouxas, ele
ganhava e o cassino não perdia. E foi em uma mesa de pôquer que ele
conheceu um cara responsável por organizar as corridas clandestinas de Las
Vegas, um negócio muito lucrativo na cidade do pecado.
Sophie sorri ao perceber que foi com meu pai que aprendi a correr.
— Com o dinheiro que ganhou dos cassinos, comprou um carro e
não demorou para competir e ser o melhor piloto de Las Vegas, meu pai
corria, jogava, conhecia as pessoas certas e construiu um império. Ele
comanda a noite da cidade do pecado, ele tem mais de dez cassinos e é ele
quem governa as pistas, ele é o responsável por organizar as melhores
corridas da região.
— Gostei dos seus pais.
Sobe suas mãos até meus ombros e leva-as até minha nuca.
— Eles são incríveis e, como pode perceber, os fodidos se atraem.
Sophie me encara com diversão.
— Eu estou começando a achar isso.
— Com certeza.
Inclino-me em sua direção e tento beijá-la, mas ela se afasta e sorri.
— Eu ainda tenho perguntas. — Volto a me afastar e ergo as
sobrancelhas. — Qual é o seu nome verdadeiro?
— Isaac.
Seu sorriso amplia.
— Um nome bíblico!? — Mesmo que ela não esteja fazendo uma
pergunta, eu assinto. — Tão irônico.
— Muito irônico.
Concordo com ela e Sophie corre seus dedos pelo meu cabelo.
— Você combina bem mais com Travis.
— Muito mais.
Nós dois rimos até que ela volta a me encarar com seriedade.
— Você suportou coisas horríveis, Travis, você salvou seus irmãos e
isso é incrível.
— Não sou uma pessoa incrível.
— Sim, você é e seus irmãos têm sorte de ter você. — Aproxima seu
rosto do meu. — Eu tenho sorte de tê-lo.
Ela me beija e, mais uma vez, é calmo. E quando seus lábios se
afastam dos meus, seguro seu rosto com as minhas mãos enquanto meu
olhar encontra o seu.
— O amor, por muito tempo, foi deturpado para mim, um
sentimento que não acreditava existir, até Valentina e Vicenzo, eles se
amam e isso fica claro na forma como eles se olham, na maneira como eles
se comportam quando estão juntos, eles me fizeram acreditar no amor,
mesmo assim, jurei que seria um sentimento que nunca sentiria. — Prendo
a respiração. — Até você, Sophie, até você.
Eu volto a beijá-la e ela faz meu mundo sair de órbita, faz a paz
reinar no meu coração mesmo em meio ao caos, mesmo sendo meu
descontrole, ela também é a minha paz.
Não aprofundamos o beijo, não é o que precisamos no momento, e
Sophie volta a se aconchegar em meu colo e seguro-a da mesma forma que
a segurei quando estava chorando. Ela apoia a lateral do seu rosto em meu
peito e traça círculos invisíveis em minha pele.
— Seus pais parecem ser incríveis.
— Eles são os melhores pais do mundo.
Falo com convicção porque eles realmente são.
— Não tenho referências, nunca conheci bons pais, então vou ter
que acreditar em você.
Meus dedos brincam com os fios do seu cabelo.
— Um dia, você irá conhecê-los.
Ela sorri, um sorriso nervoso.
— Tenho certeza de que sou o tipo de nora que toda mãe quer.
Soa preocupada e isso faz com que meus lábios se curvem em um
sorriso.
— Meus pais não são convencionais. — Beijo o topo da sua cabeça.
— E minha mãe vai te adorar.
— Eu espero.
— Vão, sim.
— Seus pais não tiveram filhos biológicos?
Sophie segue com seus questionamentos.
— Valentina engravidou algumas vezes enquanto estava no cativeiro
e eles a obrigaram a abortar, isso fez com que ela não pudesse engravidar.
Continuo enrolando as mechas do seu cabelo em meus dedos.
— Você alguma vez procurou pelos seus pais biológicos?
— Não, espero que eles estejam queimando no inferno.
— Eu também, não sei se deixei claro, mas os odeio, principezinho.
— Boceja. — Odeio o que eles fizeram com vocês.
Fecho os olhos.
— Eu também.
Aperto meus braços ao seu redor.
— Talvez eu deva matá-los.
— Talvez eles não tenham um carro para você alterar.
Ficamos em silêncio e estou quase me rendendo ao sono quando
escuto sua voz sonolenta.
— Eu te amo, Travis.
Será que estou sonhando? Se estiver, não quero ser acordado.
— Eu te amo, princesa.
E se nós reescrevermos as estrelas?
Diga que você foi feita pra ser minha
Nada poderia nos manter separados
Você será aquela que eu deveria encontrar
Rewrite The Stars - feat. Anne-Marie (James Arthur)

Travis
Acordo e Sophie não está na cama, é quase como déjà vu da noite
passada, porém, dessa vez, quando eu me levanto e vou até o banheiro,
realmente Sophie está embaixo do chuveiro.
Ela olha em minha direção, sorri maliciosa, escovo meus dentes e eu
vou até ela. Eu a beijo e assim como eu, sua boca tem gosto de pasta de
dente. Aprofundo o beijo e minhas mãos passeiam pelo seu corpo, Sophie
me corresponde da mesma forma, somos dominados pelo desejo, eu a
pressiono contra os azulejos, ela enrola suas pernas ao redor da minha
cintura e guio o meu pau para dentro dela.
É insano senti-la sem nada, posso sentir todos os músculos da sua
boceta e ela sente profundamente meu piercing. Enquanto a preencho com
meu pau, chupo seus seios e brinco com seus piercings. Porra, eles são
perfeitos!
Gritamos o nome um do outro ao mesmo tempo e é um dos melhores
orgasmos da minha vida, espero nunca mais ter que usar nada ao redor do
meu pau.
Sophie coloca seus pés no chão, apoio minha testa na sua e abro os
olhos, encaro-a e, porra, eu amo essa garota!
— Repita as palavras que disse ontem à noite.
Exijo. Ela espalma as mãos em meu peito, ergue seu queixo, sorri,
um sorriso provocante, e me encara com seus olhos brilhando repletos de
malícia.
— Que palavras?
Finge que não sabe do que estou falando.
— Sophie.
Digo seu nome entre dentes e aperto meus dedos ao redor da sua
cintura. Morde seu lábio inferior e ficamos em silêncio até sua voz ressoar
pelo banheiro.
— Eu amo você.
É impossível me conter e um sorriso surge em meus lábios. Subo
meus dedos pela lateral do seu corpo e seguro seu cabelo.
— E eu amo você.
Volto a beijá-la e a guio para debaixo do chuveiro. Nós dois nos
molhamos, eu afasto meus lábios dos seus e terminamos nosso banho
trocando carícias.
Sophie é a primeira a sair do chuveiro, ela veste o meu roupão e para
em frente ao espelho para pentear o cabelo. Eu fecho o registro, enrolo uma
toalha ao redor da minha cintura e vou até ela, parando logo atrás.
— Ótimo jeito de começar o dia, princesa.
Beijo seu pescoço.
— Até que foi bom.
Força um desdém em sua voz e dou um tapa na sua bunda.
— Não minta, Soph, eu sei quando você está mentindo.
Encaro-a pelo reflexo do espelho e pisco para ela. Ela ri e balança a
cabeça. Eu me apoio contra a pia e fico observando-a terminar de pentear o
cabelo.
— Eu gosto quando você usa o Soph.
Confessa e assinto.
— Eu sei, soube desde a primeira vez em que a chamei assim,
porque seus olhos brilharam.
Sophie morde seu lábio inferior para não rir, larga o pente sobre o
balcão da pia, vira-se e aponta seu dedo em minha direção.
— E você está se achando por causa disso, não é, Travis? — Não
preciso abrir minha boca para ela saber a minha resposta. — Você se acha
demais, quarterback.
Eu sigo sorrindo enquanto ela sai do banheiro e eu vou atrás dela.
— Só para constar, eu gosto quando me chama de quarterback.
Sophie se vira e caminha de costas enquanto me encara com uma
expressão de deboche em seu rosto.
— Eu sei, soube desde a primeira vez em que o chamei assim,
porque seus olhos brilharam.
Ela imita minha voz e faço uma careta.
— Minha voz é muito mais bonita.
Ela revira os olhos e mantemos a provocação mútua à medida que
nos vestimos. Eu me arrumo primeiro e me sento na cama, observo-a e,
caralho, ela é muito gostosa, ainda mais usando a minha camisa.
— Você deveria se vestir sempre assim. — Ergue suas sobrancelhas,
termina de se vestir e vem em minha direção. — Com a minha camisa.
Ela ri e para entre minhas pernas, toco sua cintura e ela traz suas
mãos até minha cabeça.
— Claro, por que não?
Desço minhas mãos pelas suas coxas, mantenho meu olhar no seu e
ela passa seus dedos pelos fios do meu cabelo.
— Eu tenho DIU e não tenho nenhuma IST.
Assinto.
— Ok, eu estou limpo também.
— Não sei, um certo tweet dizia ao contrário.
Zomba e isso faz com que eu me lembre de algo.
— Alguns torcedores de Harvard me chamaram de mosquito de IST,
e outros perguntaram se era precoce no jogo como era na cama.
Sua gargalhada ecoa pelo quarto.
— Você não deveria estar rindo. — Ela não para e reviro os olhos.
— Você pode ter desmentido essa porcaria, mas continuam me zoando.
Sophie finalmente para de rir e me encara com uma falsa inocência.
— Sinto muito. — Ela não sente porra nenhuma. — Pelo menos isso
vai manter as vadias longe de você.
Vê-la com ciúme faz com que um sentimento de satisfação tome
conta do meu peito. Ela é tão possessiva quanto eu, e ela me tem tanto
quanto eu a tenho.
— Isso vai deixá-las curiosa para saber se é ou não verdade.
Provoco-a, ela estreita os olhos e aponta seu dedo em minha direção.
— Se você deixar alguma vadia encostar uma unha em você, eu te
quebro, Travis, ainda arranco a porra do seu pau.
Ergo as mãos para o alto.
— Não se preocupe, a única garota que eu quero que me toque é
você.
Não desfaz a expressão do seu rosto, faz um gesto de desdém com a
mão enquanto desvia o olhar para a porta.
— Vamos que estou morrendo de fome. — Suspira mal-humorada.
— E ainda preciso ir buscar meu carro no estádio.
— Você pode tomar café antes de ir.
Ela se vira para mim e me encara como se eu fosse um maluco,
franzo a testa sem entender.
— Seus irmãos irão surtar ao me ver.
Fico em pé e dou de ombros.
— Eles terão que se acostumar com você.
Pego minha carteira, celular e minhas chaves.
— Nunca nos acostumaremos uns com os outros.
Resmunga, eu vou até ela e passo meu braço pelo seu ombro.
— Ok, mas terão que se suportar. — Faz uma careta. — Faça um
esforço por mim.
Sophie não parece muito disposta a ser cordial.
— Apenas tente não matar meus irmãos.
Eu a encaro até que ela suspira.
— Posso tentar.
Sorrio e a guio para fora do quarto.
— Vamos descer e vou preparar algo para comermos. — Ela não
nega, mas a expressão em seu rosto não é das melhores. — E não se
preocupe, eles estão dormindo, você não encontrará com eles, não hoje.
Eu tenho razão, meus irmãos estão dormindo. A cozinha é nossa e eu
preparo nosso café, Sophie ocupa o banco de frente para o balcão da ilha e
fica apenas me observando e fazendo exigências. Não é estranho tê-la por
perto em minha cozinha, é como se fosse algo rotineiro, Sophie ocupa os
espaços da minha vida como se sempre tivesse feito parte deles.
Eu me sento à sua frente assim que está tudo pronto e ela me fita
com um olhar de admiração e curiosidade.
— O que foi?
Ela bebe um gole do seu café e demora alguns segundos para me
responder.
— Como você consegue ser assim?
Continuo tão perdido quanto antes.
— Assim como?
— Há um ar sombrio à nossa volta. — Sei que ela está falando dos
meus irmãos, dos seus amigos e de si mesma. — Mas você é diferente, você
consegue ser…
Ela tem dificuldade em encontrar uma palavra, então sorrio e ajudo-
a com algumas.
— Radiante? Iluminado?
Revira os olhos.
— Tipo isso.
Mas, por fim, concorda comigo. Eu olho para baixo, fito o prato com
ovos mexidos e sorrio.
— Depois que fomos adotados por Valentina e Vicenzo, demorou
para que eu entendesse que tinha uma família, demorou para aceitá-los
como pais, para perder o medo que tinha deles e de todos, mas, com o
tempo e terapia, eu consegui estabelecer uma boa relação com eles e com as
pessoas em geral, então fui para a escola e me deparei com pessoas sem
traumas e, enquanto olhava para elas, queria experimentar um pouco da
normalidade, sentir um pouco do que eles sentiam.
Tenho dificuldade em conversar sobre o assunto com meus irmãos,
mas com Sophie é algo natural. Ergo os olhos e mantemos a atenção um no
outro.
— Então, eu criei uma máscara, na verdade, ainda sou eu, não é um
personagem, mas é uma outra versão minha, o garoto descontraído, o
popular, o jogador de futebol americano…
— O arrogante, o cafajeste, o senhor pica das galáxias.
Sophie complementa com um sorriso em seus lábios.
— Também. — Nós dois nos encaramos com um brilho em nossos
olhos. — Ainda há uma escuridão dentro de mim, uma que nunca irá me
deixar, mas gosto de brincar na luz do dia.
— De dia, o popular quarterback, de noite, o piloto de corridas
ilegais.
Soa orgulhosa e meu coração acelera.
— Sim, eu ainda tenho pesadelos, meu passado me atormenta e fui
moldado pelo que aconteceu, mas isso não é tudo e transitar pelos dois
mundos faz com que eu sinta que venci.
Esquecemos de continuar comendo, porque estamos envolvidos
como se existisse um campo magnético ao nosso redor, nos puxando na
direção um do outro.
— Por isso o futebol e sua reputação são tão importantes para você?
— Assinto. — Você venceu, da sua maneira.
— Sim.
Finalmente, posso confessar isso para alguém, pois quando estou
diante de Hailey e Trevor, sinto que os estou traindo, porque, de alguma
forma, eles ainda estão presos ao passado.
— Você pretende jogar profissionalmente?
— Meu plano é jogar pelos Raiders, o time de Las Vegas.
Um sorriso surge nos lábios de Sophie, porque ela entende qual é a
minha real intenção.
— Por que Las Vegas?
Pergunta com malícia.
— Meu pai precisa de ajuda.
— O jogador de dia, o cara que comanda o negócio dos pais de
noite.
A expressão em seu rosto entrega que ela consegue imaginar a cena
em sua mente.
— E o que você pretende fazer depois da faculdade, princesa?
Sophie dá de ombros.
— Não sei, não quero correr em nenhuma liga, eu gosto da noite, da
adrenalina de estar fazendo algo ilegal. — Não esconde o desdém da sua
voz. — Eu faço mecânica porque gosto de carros, mas não me vejo
trabalhando com isso.
O sorriso em seus lábios se estende pelo seu rosto.
— Talvez, simplesmente, não faça nada, eu tenho dinheiro suficiente
para viver dos fundos pelo resto da vida.
— Não se preocupe, em Las Vegas há boas equipes e não faltarão
propostas para você correr à noite.
Cruza seus braços sobre o balcão e se inclina em minha direção.
— Supondo que eu irei com você, principezinho!?
Faço o mesmo e me inclino em sua direção.
— Eu tenho certeza de que você irá comigo, princesa.
Balança a cabeça como se eu estivesse enganado.
— Você é muito convencido por achar que, simplesmente, irei
acompanhá-lo.
Endireito minha postura e meus olhos seguem fixos nos seus.
— É claro que você irá comigo, você é minha e foi você que disse eu
te amo primeiro.
Ergue seu dedo e nega.
— Eu estava sonhando.
— Não minta, princesa.
— Isso é horrível.
Eu analiso a sua expressão e tento entender o que ela quis dizer, mas
não consigo.
— O quê?
— Fato de que nunca poderemos mentir um para o outro.
Ela tem razão.
— Ou teremos que aprender a mentir melhor.
Minha sugestão é péssima, é óbvio que nunca conseguiremos mentir
um para o outro. Ela ri, revira os olhos e volta a comer, eu faço o mesmo e
mudamos de assunto, conversamos sobre amenidades, nada que nos
envolva a ponto de deixarmos de comer.
Sophie acaba primeiro, apoia o queixo em suas mãos enquanto eu
termino meu café, e estou trazendo a xícara até minha boca quando
escutamos passos. Porra!
Bebo o restante do líquido depressa e, assim que deposito a xícara
sobre o balcão, Hailey entra na cozinha. Raiva domina o seu rosto assim
que ela nos encara. Caralho! Eu fico em pé no mesmo instante em que ela
desvia seus olhos até Sophie.
— O que essa vadia está fazendo aqui?
Sophie olha para minha irmã com desdém.
— A única vadia aqui é você.
Sophie aponta para Hailey. É claro que elas não seriam civilizadas.
— Cala a boca, você está na minha casa.
Hailey grita.
— V.A.D.I.A.
Sophie soletra a porra da palavra e Hailey avança na direção da
minha garota, eu corro depressa até minha irmã, mas não preciso segurá-la,
porque Trevor entra na cozinha e é mais rápido, ele mantém o braço ao
redor da sua cintura e me encara com raiva.
— É melhor vocês saírem daqui.
Trevor me diz entre dentes, Hailey tenta se desvencilhar e viro-me
para Sophie, antes que o caos piore.
— Vamos, Sophie.
Ela pula do banco.
— Vamos, eu já terminei de comer mesmo. — Sorri debochada,
caminha em minha direção, e eu a guio para fora da cozinha. —
Tchauzinho.
Ela grita para Hailey e Trevor. Meu sangue ferve. Porra, eles não
podiam ser mais civilizados? Eu me mantenho em silêncio, tentando me
controlar enquanto seguimos até meu carro. Ocupo o lugar atrás da direção
e Sophie se senta ao meu lado.
— Você não podia ter pegado leve?
Olho para o lado e Sophie simplesmente dá de ombros.
— Ela me chamou de vadia.
— Sophie.
Suspiro e passo a mão pelo meu cabelo, eu não sei nem o que dizer,
porque nem sei como consertar essa droga.
— Eu não vou pegar leve só porque ela é a sua irmã.
Ligo o carro e dirijo para longe da garagem. Meu ânimo não é dos
melhores e fico em silêncio por alguns segundos.
— Essa é porra da nossa realidade e precisaremos aprender a lidar
com ela.
Sophie está certa, mesmo assim, me mantenho de cara fechada, com
os olhos fixos na estrada. E estamos quase chegando ao estádio quando
enfim estou mais tranquilo.
— Por que seus amigos te chamam de Van?
Sophie demora a me responder e estou prestes a pedir desculpas,
quando a sua voz ecoa pelo carro:
— Por causa do Detona Raph.
Eu não estava esperando por isso.
— Do desenho?
— Sim.
Desvio os olhos rapidamente para o lado e ela está sorrindo.
— É por isso que você tem a tatuagem do desenho?
— Sim, eu a fiz enquanto estava bêbada, e eu os chamo de grandão
por conta do filme.
— Você os chama de grandão? — Ok, para isso eu não estava
preparado. Ela assente e volto a olhar para frente. — Eu vou morrer ou eu
vou matá-los.
Resmungo, ela coloca a sua mão sobre minha coxa e a aperta.
— Não, você não vai.
— Então você precisa parar de provocar a minha irmã.
Uso um golpe baixo, mas precisamos resolver essa merda, não posso
simplesmente correr o risco da minha namorada e minha irmã estarem
arrancando os cabelos uma da outra.
— Travis, conversamos que a relação que eu tenho com seus irmãos
e a que você tem com meus amigos independeria da nossa relação.
Não a respondo imediatamente, entro no estádio, estaciono ao lado
do seu carro e olho para o lado.
— Eu sei, mas isso era antes de sabermos o passado um do outro. —
Aponto em sua direção. — Eles são a minha família, assim como eles são a
sua família e não estou propondo que formemos uma grande família, nem
respeito, só que alguns limites precisam existir.
Cruza os braços abaixo dos seus seios e comprime os lábios um no
outro. Levo minha mão até seu joelho e o aperto.
— E eu posso gostar muito de foder você por aí, mas eu gostei de
usar uma cama, quero você na minha cama e quero conhecer a sua.
Sophie suspira, revira os olhos, mas, por fim, concorda comigo. Não
seremos uma grande família, nem seremos cordiais, mas tentaremos não
provocar, nem responder a provocações.
Selamos o acordo com um beijo, então nos despedimos, ela segue
para o seu carro e eu volto para casa.
Deixo meu carro na garagem e vou até a cozinha. Trevor e Hailey
ainda estão aqui. Eles me encaram assim que eu entro no cômodo. Nenhum
deles parece muito feliz comigo.
— Isso é tudo pela aposta, não é?
Hailey soa amargurada. Eu não posso mais fingir, nem fugir. Eles
estão sentados um ao lado do outro, eu me aproximo e paro na frente deles,
com o balcão nos separando.
— Isso não tem nada a ver com a aposta, não há mais nenhuma
aposta, Hailey. Sophie é a minha garota.
Trevor passa a mão pelo seu cabelo, Hailey balança a cabeça.
— Você não pode estar falando sério.
Hailey soa indignada.
— Estou falando sério, como nunca falei antes.
Minha irmã ri.
— Ótimo, termine com ela.
Olho em seus olhos.
— Sei que sempre fizemos tudo por você, mas não desta vez, Hailey,
não quando se trata da minha garota.
Encara-me com ódio e dói ver o sentimento em seus olhos, mas não
há o que fazer. E espero que um dia ela entenda. Os dois me encaram com
desprezo, então viro-me e deixo a cozinha.
Eles me ignoram durante o fim de semana inteiro, é péssimo,
horrível, mas que merda eu posso fazer? Sophie e eu não nos encontramos,
ela está estudando para uma prova e conversar com ela por mensagens não
é o suficiente. Eu estou com péssimo humor na segunda.
Não tomo café porque não quero encontrar com meus irmãos e vou
mais cedo para faculdade. Eu paro no estacionamento do prédio e, assim
que deixo meu carro, sou alvo de alguns olhares por quem transita pelo
local.
Caminho na direção da entrada do prédio e há burburinhos à minha
volta. Alguns apontam o dedo em minha direção enquanto subo as escadas,
e os olhares que recebo não são dos melhores, estão me encarando como se
eu tivesse cometido um crime.
Que porra é essa?
A última vez que isso aconteceu foi quando Sophie fez aquele post,
mas minha garota não aprontou nada desta vez, então o que foi?
Há uma comoção na entrada e sei que se trata da entrega do maldito
jornal de fofoca. Caralho, será que estou sendo citado nessa porcaria?
Apresso o passo, mas antes de alcançar o entregador, Henry se aproxima de
mim.
Ele tem o maldito jornal em mãos e me encara, preocupado.
— Você leu o jornal? — Balanço a cabeça negando. — Você deveria
ler.
Entrega-me o papel, abaixo minha cabeça e meus olhos percorrem a
página.
E por último, mas não menos importante, um certo quarterback, que
também é conhecido por ser o capitão do time, estava participando de
uma aposta. Uma aposta para conquistar uma garota (como sou uma
pessoa muito boa, não irei dar nenhuma dica sobre a identidade da
garota).
E agradeço a Deus todos os dias
Pela garota que Ele me mandou
Mas sei que as coisas que Ele me dá, ele pode tirar
E eu te abraço todas as noites
Beautiful Things (Benson Boone)

Sophie
Após deixar o carro de Travis, entro no meu e dirijo para casa. Meus
pensamentos são uma desordem, ainda estou processando todas as
informações da última noite.
O passado de Travis, o fato de ele saber do meu, eu contei tudo e não
escondi nada. Quando foi que confiei em alguém assim? A verdade é que
nunca confiei, assim como, nunca tinha dito eu te amo para alguém e nunca
tinha escutado eu te amo de outra pessoa.
Eu e os meninos nos amamos, mas não trocamos esse tipo de
declaração.
Os sentimentos e emoções correm soltos dentro de mim, não os
controlo e, apesar de parecer uma garota boba, não ligo, não quando é tão
libertador.
Uma parte de mim, finalmente, se encontrou! Os vazios que existiam
em minha alma foram preenchidos. Eu me sinto leve e feliz.
Apesar da minha empolgação, ao chegar em casa, estaciono na
garagem e, por alguns segundos, simplesmente fico dentro do carro.
Possivelmente, algum dos meus amigos está acordado e, se eu esbarrar com
um deles, com certeza farão perguntas, preciso ser sincera. Não posso mais
adiar.
E, provavelmente, a reação deles será tão ruim quanto a reação da
vadia da Hailey, faço uma careta e me obrigo a pensar nela de outra forma,
em Hailey, eu fiz um acordo com Travis e preciso cumpri-lo.
Nunca seremos amigas, mas ele está certo, precisamos encontrar um
limite, afinal, ela é irmã dele, estará para sempre na vida de Travis, assim
como eu. Porra, ela é filha dos meus sogros e não posso chegar chamando a
filha caçula deles de vadia.
Um caos, por que eu precisava me apaixonar pelo meu inimigo? Eu
faria de outra forma? De jeito nenhum. Não mudaria absolutamente nada.
Respiro fundo, deixo o carro, entro em casa, atravesso a porta e,
assim que piso no chão da sala, eu me deparo com os três. Sebastian, Jace e
Dominic estão jogados no sofá. Jace e Sebastian estão assistindo à televisão
e Dominic mexendo em seu celular.
Eles me encaram e prendo a respiração. Dominic, que está deitado,
até se senta. Mesmo se tentasse, não conseguiria fugir dos questionamentos.
— Onde você estava, Van? — Jace me pergunta. — Nós estávamos
preocupados.
Ele realmente parece preocupado, eu caminho até eles e me sento na
poltrona, ela fica ao lado da poltrona em que Jace está e de frente para o
sofá em que Sebs e Dom estão.
— Na casa de Travis.
Jace e Sebs me encaram com um olhar que entrega que estão
desconfiados. Dominic está decepcionado, ele já entendeu o que está
acontecendo.
— Você foi ao jogo?
Sebs pergunta e assinto.
— Então, não irá demorar muito para você, enfim, quebrar com o
coração do Travis, não é?
Jace soa esperançoso, mordo meu lábio inferior e balanço a cabeça
negando.
— Não é pela aposta, Jace.
— Como não é pela aposta, Van?
Ele pergunta, incrédulo, assim que as palavras deixam a minha boca.
— Eu me apaixonei de verdade.
Jace balança a cabeça, fica em pé e caminha pela sala. Sebastian
mantém seus olhos em mim, como se a qualquer momento eu fosse falar
que é uma piada. Dominic apoia as costas contra o sofá e puxa um cigarro.
— Ele deve estar te enganando.
Jace resmunga.
— Você irá se deixar ser iludida assim? — Sebastian sorri, um
sorriso amargurado. — Você irá deixá-lo vencer?
Odeio ver a decepção nos olhos dos meus amigos, mas eles precisam
entender.
— Não é nada disso, nós dois estamos apaixonados.
Jace para, fixa seus olhos em mim, passa a mão pelo seu cabelo e
suspira.
— Ele não pode estar apaixonado por você, Van.
Ergo as sobrancelhas e o encaro com raiva.
— Você acha que é impossível alguém se apaixonar por mim?
Jace se mantém em silêncio, travamos o olhar um no outro e é
Sebastian a me responder:
— O problema não é você, Van. — Viro-me para Sebastian e ele está
me olhando com pesar. Porra, ele está com pena de mim! — O problema é
o Travis, é impossível alguém como ele se apaixonar.
Suspiro.
— Você não o conhece.
— Você o está defendendo.
Jace grita, volto-me para ele que está com rosto vermelho, parece
um leão enjaulado, pronto para rugir de frustração.
— É real, Jace.
Inconformado, dá um passo para trás.
— Não acredito que te jogamos nos braços do nosso inimigo. — Ele
parece profundamente magoado e eu odeio que ele se sinta assim. — Tudo
deu errado.
Passa o dedo pelos fios do seu cabelo.
— Nós teríamos nos encontrado de alguma forma, grandão, meu
relacionamento não tem nada a ver com vocês.
Ele suspira, apoia as mãos na cintura e encara o teto.
— Por que você não está indignado?
Sebastian pergunta, viro-me para ele e ele está encarando Dominic.
— Porque eu já estava desconfiado. — Sorri, leva o cigarro até sua
boca e joga a fumaça para cima. — Sophie parecia alguém apaixonada.
Estreito os olhos.
— E desde quando você sabe quando alguém está apaixonado?
Dá de ombros.
— Eu, simplesmente, sei.
— O que você tem a dizer sobre isso?
Sebastian pergunta ao irmão e Dominic me encara.
— Sophie já é uma garota grande.
A pressão em meu peito diminui um pouco, ele não ficará ao meu
lado, mas também não irá acabar comigo. Sebastian geme frustrado ao
ouvir Dominic. Dominic é o mais velho entre nós, sua opinião conta muito,
principalmente para os garotos.
— Nada do que falarmos te fará mudar de ideia, não é? — Volto a
olhar para Jace e assinto. Ele passa a mão pelo seu rosto e dá mais um passo
para trás. — Ok, quando ele te machucar, estarei aqui para te dizer que eu
avisei.
Faço uma careta ao mesmo tempo em que Sebastian se levanta e
aponta seu dedo em minha direção.
— Não vou aceitá-lo aqui.
Sorrio irônica.
— Sempre aceitei todas as vadias que vocês trouxeram para cá.
— Nós sempre aceitamos os idiotas com quem você transa — Jace
se manifesta. — Nosso problema é com esse idiota em específico.
Reviro os olhos.
Porra! Eles estão agindo como duas garotinhas mimadas.
— Foda-se, esta casa é minha e Travis não será impedido de entrar
aqui.
Os dois bufam, irritados.
— Não espere que eu seja cordial com ele.
Jace esbraveja, Sebastian concorda com ele e os dois deixam a sala.
Eu preciso de um cigarro! Suspiro, levanto-me e me jogo ao lado de
Dominic, não preciso nem pedir e ele me entrega o cigarro.
— Não se preocupe, eles irão superar.
Trago o cigarro e jogo a fumaça para o alto.
— E você, como está se sentindo?
Entrego o cigarro de volta para Dominic.
— É a porra de uma ironia, irei continuar o odiando, odiando todos
eles, mas, por você, eu farei um esforço para não o socar.
— Obrigada.
Continuamos assim por um tempo e, antes de subir para o quarto,
beijo a testa de Dominic, ele é o meu irmão mais velho. Eles são a minha
família e saber que eles estão chateados comigo, me deixa irritada.
Espero que eles superem essa porra logo!
O restante do meu fim de semana é péssimo, Sebastian e Jace estão
me evitando, falando apenas o necessário comigo, Dominic age
normalmente, mesmo assim, o clima é horrível.
Preciso estudar para uma prova na terça e não posso ir encontrar
com Travis, o que é ainda mais insuportável, na segunda, eu estou ansiosa
para vê-lo.
Depois de tomar café com os idiotas que não trocam nenhuma
palavra comigo, eu dirijo para a faculdade. Não espero pelos imbecis dos
meus amigos.
Não estou de bom humor, mas saber que irei encontrar com Travis
me deixa empolgada. Eu saio do meu carro e dou alguns passos pelo
estacionamento, quando escuto sua voz irritante.
— Ele já te contou, não é?
Olho para o lado e Hailey está sentada no capô do seu carro. Que
merda ela está fazendo aqui? Ela nem estuda neste prédio.
— O que você quer, Hailey?
Faço um esforço para não usar nenhum termo pejorativo com ela.
Tudo por Travis, realmente, muito apaixonada.
— Vim dar um oi para minha cunhadinha e conferir se ele está
mesmo tão apaixonado assim por você.
Ah, meu Deus, que maldita! É mais forte que eu, então viro-me para
ela e dou alguns passos em sua direção.
— Ele está apaixonado por mim e eu por ele, quanto antes você
aceitar isso, mais fácil e melhor será para você.
Desço do capô e nos encontramos, o espaço entre nós duas é
mínimo.
— Ele deveria me vingar, não estar te levando para dormir na nossa
casa.
A mimada soa magoada. Ela me irrita e, mesmo tentando manter
meu espírito pacífico, não consigo. Hailey seria capaz de irritar um monge.
— Você deveria tentar ser uma cadela um pouco mais dócil, Hailey,
pelo seu irmão. — Dispara faíscas pelo seu olhar, o que me diverte. —
Afinal, terá que conviver comigo a vida inteira.
Provoco-a, é impossível me controlar diante dela.
— Você realmente acredita nele, não é?
Sorri debochada.
— Eu sou a garota que seu irmão escolheu.
Sou tão debochada quanto ela, ela até continua sorrindo, mas posso
ver a fúria em seus olhos.
— Então ele te contou?
Do que ela está falando? Do passado deles? Do que Travis fez para
salvá-los?
— É claro que ele me contou.
Não importa do que esteja falando, se ele não me contou, irá contar.
Nós duas seguimos nos encarando, como se estivéssemos prestes a nos
matar.
— O que você está fazendo aqui, Hailey?
A voz de Travis faz com que nós duas olhemos para o lado, ele está
caminhando em nossa direção e, merda, por que ele está transtornado?
— Eu vim conversar com a minha cunhadinha. — Ela faz um
biquinho cínico com os lábios. — E, claro, ver o meu irmãozinho.
Travis para entre nós duas. Ele parece prestes a explodir. Ele está
atormentado, há uma veia saltada em seu pescoço, sua respiração está
alterada e seu olhar é mortal. Porra, ele é gostoso! Mas não posso apreciar
a sua beleza, porque estou preocupada, algo está errado.
— Foi você.
Acusa a irmã. Eu olho para eles sem entender.
— O que está acontecendo?
Pergunto, mas nenhum dos dois me responde.
— Você não tinha contado, não é?
É possível ver a maldade nos olhos de Hailey enquanto olha para o
irmão. O que ela fez?
— Você não tinha esse direito!
Exclama, e seus olhos não entregam nada, mesmo assim, sei que ele
está decepcionado, apenas pela sua postura.
— Você não está apaixonado? — zomba do irmão e Travis fecha as
mãos em punho. — Se está tão apaixonado, você deveria ter contado a ela.
Hailey sorri e posso não saber o que ela fez, mas percebo qual foi a
sua motivação, ela está se vingando de Travis por ele estar comigo. Travis
dá um passo para trás, ele também entendeu, então ele fica de costas para
mim e se aproxima da irmã.
— Qual é o seu problema? — pergunta para Hailey e sorri, uma
risada fria e desprovida de emoção. Caralho! — Eu sou seu irmão e você
tentou me foder.
Ele é ameaçador, Hailey arregala os olhos e não há mais nenhum
sorriso em seu rosto.
— Tudo que eu fiz foi para te proteger, tudo que eu faço é por você e
você teve coragem de agir pelas minhas costas. — Travis está magoado. —
Você é egoísta, uma garotinha mimada que não pensa em ninguém.
O olhar de Hailey muda, acho que, enfim, a vadia se deu conta de
que fez algo que realmente machucou o irmão, mas o que ela fez para o
Travis estar dessa maneira?
— Travis, eu achei que estivesse confuso, que ela tivesse te
enganado de alguma forma e que você precisasse de coragem ou de alguém
fazendo isso por você. — Ela está falando de mim, o que ela fez tem a ver
comigo? — Eu não queria te magoar, Travis.
Sussurra, e Travis balança a cabeça.
— Você fodeu com tudo, Sky.
Posso ver o choque nos olhos de Hailey e, de repente, eles estão
repletos de lágrimas.
— O que está acontecendo?
Trevor se aproxima gritando e corre para o lado da irmã. Ele para ao
lado de Hailey e encara Travis.
— Ela contou sobre a aposta para o maldito fofoqueiro, ela tentou
me foder.
Aposta? Caralho, do que diabos eles estão falando? Trevor olha
para a irmã, decepcionado, e estou mais perdida do que antes.
— Não quis ser maldosa.
Hailey tenta se justificar e dá um passo na direção de Travis, ele se
afasta, encara-a uma última vez e se vira para mim.
— Venha comigo.
Ele entrelaça nossas mãos e eu o sigo. Ele nos leva para o seu carro,
ocupo o banco ao lado do seu e ele dirige para longe do estacionamento.
— Você pode me explicar o que foi isso?
Encaro-o e ele tem os olhos fixos nas ruas. Sua respiração está
visivelmente alterada e suas mãos seguram a direção com força, a ponto de
os nós dos seus dedos estarem brancos.
— Essa porra foi Hailey me punindo por eu estar com você, ela não
aceitou muito bem.
Acho que esse não é um bom momento para lembrar que sempre
achei sua irmã uma vadia, não é?
— O que ela fez? E o que tem a ver comigo?
Ele suspira.
— Você tem que me prometer que não vai tirar conclusões
precipitadas e que irá me deixar explicar.
Não gosto nem um pouco do seu pedido.
— Caralho, Travis, não vou prometer porra nenhuma.
Não vou prometer, não sei do que se trata, não sei o que merda esses
Scotts aprontaram.
— Prometa, Sophie.
Sua voz ecoa pelo carro e sorrio, um sorriso irônico.
— Não vou prometer nada, Travis.
Trava sua mandíbula. Ele está chateado? Ótimo, eu também estou.
— Prometa, ou vou continuar dirigindo sem rumo por aí sem dizer
uma só palavra. — Ele sai da cidade, entra na rodovia e acelera. — Melhor,
se não prometer, eu vou jogar o carro contra um barranco e nós dois vamos
morrer, assim como Romeu e Julieta.
O quê? Eu preciso morder meu lábio inferior para não rir do seu
exagero. Qualquer outra pessoa ficaria assustada, não eu!
— Deixa de ser dramático, seu idiota.
— Não teremos tempo para pedir perdão pelos nossos pecados e
vamos ambos para o inferno. — A tensão ao nosso redor poderia ser
cortada por uma faca. — E eu vou fazer questão de importuná-la por toda
eternidade.
Reviro os olhos e cruzo os braços. Travis está acabando com a
minha paciência.
— Pare de ser um lunático, Travis, e me fale logo que porra você
fez.
— Prometa, Sophie.
Rosna, meu impulso é continuar negando, mas ele não irá falar, é tão
teimoso quanto eu.
— Dá próxima vez, quem vai ceder será você, seu idiota.
Aponto meu dedo em sua direção.
— Prometa.
Repete, e acho que se escutar essa palavra mais uma vez, eu serei
capaz de estrangulá-lo.
— Eu prometo.
Espero-o falar algo e nada. Entra na rodovia desativada e segue em
silêncio.
— Travis, se você não falar, quem irá causar o caralho de um
acidente será eu.
— Eu fiz uma aposta.
Ele grita enquanto pega um atalho e segue para aquela mesma pista
que estávamos quando transamos pela primeira vez. A sua confissão ecoa
em minha mente e junto todas as peças soltas.
Por isso ele sugeriu a trégua! Por isso, de repente, ele se aproximou,
esse era o motivo. É claro que seria algo assim. Ele tinha o mesmo motivo
que eu, até nisso somos iguais.
Travis faz o carro girar pela pista sem asfalto, um redemoinho de
terra se levanta ao nosso redor, então o carro para e ele não espera a poeira
baixar para sair, bate a porta com força e eu saio logo atrás dele.
Ele está caminhando de um lado para o outro enquanto passa as
mãos pelo cabelo. Eu me aproximo, cruzo meus braços e espero que ele se
acalme para me explicar essa porra direito. Travis está transtornado, uma
série de palavrões deixa a sua boca.
— Travis — grito, porque cansei de esperá-lo, ele finalmente para e
me encara. — Você me deve uma explicação.
— Faz muito tempo que essa aposta perdeu o sentido. — Suspira. —
Primeiro, eu não conseguia ficar perto de você sem brigar, depois era
motivado pelo desejo e, por último, meus sentimentos assumiram o
controle.
Uma parte de mim, a apaixonada, odeia que ele tenha feito uma
aposta; uma outra, a racional, sabe que não posso ficar chateada sendo que
eu também tinha feito uma aposta.
— Qual era a aposta? E com quem você apostou?
Faz uma careta.
— Eu apostei com Trevor e Hailey que eu conseguiria fazer você se
apaixonar por mim e, então, quebraria o seu coração.
Claro que foi com eles, meus queridos e amáveis cunhados! Bufo
irritada e mantenho meu olhar sobre o idiota à minha frente.
— Você achou mesmo que conseguiria?
Dá de ombros e ele até tenta não rir, mas não consegue e seus lábios
se curvam em um sorriso convencido.
— Eu sempre tive todas as garotas que quis aos meus pés, por que
não teria você?
Meu Deus, não posso ter escutado o que acabei de escutar.
— Eu devia ter te matado quando tive a oportunidade.
Dá de ombros e, mais uma vez, sorri convencido.
— Você nunca teve oportunidade, porque nunca teria conseguido.
O pior é que o idiota tem razão.
— Mas, no fim, quem se apaixonou fui eu. — Aproxima-se até estar
a poucos centímetros de mim. — Se você quisesse, você me arruinaria,
porque você roubou meu coração para si.
Ergue sua mão e coloca alguns fios do meu cabelo para trás da
minha orelha. Posso sentir a sua respiração e o seu perfume. Prendo a
respiração e o caos em que nos encontrávamos minutos atrás se silencia.
— Eu também fiz uma aposta — é a minha vez de confessar e ele
ergue as sobrancelhas. — Apostei com os caras que eu conseguiria fazer
você se apaixonar por mim, então, quebraria seu coração, nunca acreditei
que paixão existisse, muito menos que você teria um coração, mas jurei que
quebraria seu ego, o que seria a sua ruína.
Posso vê-lo chegando às mesmas conclusões que eu cheguei.
— Por isso aceitou a trégua? — Assinto e ele sorri. — Sempre soube
que havia um motivo por trás de você ter cedido tão fácil.
Eu me rendo e espalmo minhas mãos em seu peito, preciso tocá-lo
de alguma forma.
— Eu também sempre soube que havia um motivo por trás da sua
proposta repentina. — Estreito os olhos. — Você nunca me enganou,
Travis.
Mantemos o olhar um no outro.
— Você queria me vencer, não é?
Assinto, ele morde meu lábio inferior enquanto continua me
encarando.
— Nenhum de nós ganhou, princesa.
Nego.
— Nenhum de nós perdeu, principezinho.
Travis sorri.
— Você está certa.
Sua boca cobre a minha e quase me esqueço do motivo de estarmos
aqui. Eu afasto meus lábios dos seus e o empurro.
— Se você não levou a aposta adiante, por que estamos aqui? —
Travis dá um passo para trás e hesita. — Travis, não me esconda porra
nenhuma.
Passa a mão pelo seu cabelo, olha para cima, fita o céu azul e, depois
de alguns segundos, volta a me encarar.
— Hailey foi quem sugeriu a aposta.
— Claro que tinha que ser ela.
Resmungo, Travis me ignora e continua:
— E ela não aceitou muito bem o fato de eu não levar a aposta
adiante.
Ele faz uma maldita pausa e me encara, apreensivo.
— O que ela fez?
Seu pomo de adão sobe e desce antes de, enfim, abrir a sua boca.
— Ela contou para o idiota que escreve aquele maldito jornal de
fofocas de Dartmouth sobre a aposta.
— O quê?
Grito. Não acredito que eu estou sendo alvo daquela porcaria por
causa de Hailey.
— Ele não mencionou nossos nomes, mas fica claro que sou eu e
como fomos vistos juntos, não demorará para suporem que é você.
Odeio aquele jornal, eu fico com raiva de estar sendo exposta assim,
tudo porque a Hailey é uma mimada.
— Eu odeio sua irmã e nunca vou perdoá-la. — Travis tem a
decência de não a defender. — Agora, todos vão achar que você é um idiota
e que eu sou uma coitada.
Travis assente e posso ver em seus olhos o quanto isso o incomoda.
— Você não está feliz, não é?
— Odeio que ela tenha feito isso, eu dei duro para ter uma boa
reputação e, porra, o treinador disse que não poderia mais me envolver em
escândalos.
— Sua irmã é uma grande vadia. — Ergo as mãos para o alto. —
Prometi e até tentei, mas ela não colabora, ela te prejudicou por egoísmo.
Isso claramente o machuca. Vou até ele e envolvo minhas mãos em
torno do seu pescoço.
— Sinto muito não ter falado antes sobre a aposta.
Segura minha cintura e assinto.
— Eu também deveria ter te falado.
— E sinto muito estarmos sendo citados naquela merdinha de jornal.
— Suspira e pressiona seus dedos com mais força em minha cintura. — E o
pior é que nem sabemos quem é esse maldito autor para nos vingarmos.
Suas palavras fazem com que uma ideia surja em minha mente.
— Não sabemos, mas podemos brincar com ele.
Sorrio maliciosa.
— O que você está sugerindo, princesa?
— Vamos enganá-lo, mostrar que ninguém pode mexer conosco. —
Seus olhos brilham, porque a ideia lhe agrada. — Vamos fingir que a aposta
é real e espalhar que eu sou uma pobre coitada.
Faço um beicinho.
— E você é o quarterback arrependido, vamos dar o enredo que ele
precisa e, é claro, limpar nossa reputação com todos. — Nós dois sorrimos.
— Além disso, vamos lançar uma caça às bruxas, movido pelo ódio e raiva
por ter sido exposto e perdido a garota que amava, você irá lançar uma
competição para descobrir quem é o autor.
— Você é perfeita, sabia, princesa?
— Sim, eu sei.
Ele ri e apoia sua testa na minha.
— Não podemos fingir para seus amigos, nem para meus irmãos,
não conseguiria ficar tão longe de você assim.
Ele propõe, mas franzo a testa.
— Hailey será um problema.
Travis balança a cabeça negando.
— Não depois de hoje. — Não acredito nem um pouco nele e ele
percebe. — Eu conheço minha irmã.
Dou de ombros.
— Ok, mas se ela acabar com nossa farsa, vou matá-la.
Travis segura meu cabelo e me força a inclinar minha cabeça para
trás.
— Não se preocupe, minha irmã não irá atrapalhar nossa vingança.
— Abaixa seu rosto e paira com seus lábios a centímetros dos meus. — E já
que tudo começou com uma aposta, tudo deverá terminar com uma aposta.
— Qual aposta?
Pergunto, e ele ri contra meus lábios.
— Aposto que você será minha para sempre.
— Essa é uma aposta tão fraca, Travis. — Olho em seus olhos. —
Eu aposto que serei a sua ruína.
Travis puxa mais meus cabelos e sei que ambos estamos fodidos,
porque já perdemos.
— Você já é a minha ruína, Sophie.
Nós éramos vítimas da noite
A kriptonita química e física
Impotente diante a luz baixa e fraca
Oh, estávamos destinados a nos unir
Destinados a nos unir
Shut Up And Dance (Walk The Moon)

Sete anos depois


Travis
— E como você se sente sendo eleito o melhor jogador da
temporada?
O repórter me pergunta e eu sorrio.
— Incrível, mas não pelo título e, sim, por ter conseguido ajudar a
minha equipe, principalmente, por ter proporcionado ótimos momentos para
os torcedores.
Eu o respondo com a resposta que sei que irá agradar aos
patrocinadores, torcedores e colegas de time.
— Quais são os planos para a próxima temporada?
Continua com seus questionamentos e seus olhos estão brilhando. É
óbvio que ele é um fã do Las Vegas Raiders e está em êxtase pelo
desempenho do time.
— Manter o desempenho das últimas temporadas e, finalmente,
levantar a taça do Super Bowl.
Força-se para parecer imparcial quando, na verdade, parece querer
dar pulinhos. Aposto que ele está morrendo de vontade de pedir um
autógrafo, mas é impedido pela ética. Sou o atual ídolo dos Raider Nation,
eu coloquei a equipe no topo outra vez, os fiz se lembrarem do que eram
jogos de verdade desde que cheguei à equipe.
— E quais são seus planos para o recesso? O que o quarterback mais
famoso de Los Angeles pretende fazer em suas férias?
Eu tenho muitos planos, mas tenho certeza de que seria banido da
liga se revelasse a maioria deles, então sorrio e revelo aquele que me
manterá longe de encrencas, sendo ele, o mais importante de todos.
— Venerar a minha esposa.
Desvio os olhos do cara que deve ser alguns anos mais velho do que
eu, e procuro por Sophie. Varro meu olhar pela festa que está acontecendo
até encontrá-la conversando com algumas outras mulheres, as esposas dos
meus colegas de time.
Ela está sorrindo e segurando uma taça, uma taça com água.
Ninguém sabe, mas eu sei que o sorriso não é real, que ela está fingindo
enquanto julga tudo que está sendo conversado ao seu redor, tenho certeza
de que ela está odiando cada segundo. E é melhor eu ir salvá-la.
Volto a encarar o repórter, que está prestes a fazer mais uma
pergunta. Eu balanço a cabeça e sou mais rápido do que ele.
— Falando nela, é melhor eu ir até ela, ou ela virá até nós e não
queremos vê-la chateada, não é?
Ele apenas assente, então nos despedimos e eu caminho em sua
direção. Enquanto me aproximo, deixo meu olhar percorrer seu corpo, ela
está usando um vestido vermelho longo, colado ao seu corpo e às suas
curvas, o decote é generoso e marca seus seios, além disso, há uma maldita
fenda que termina em suas coxas. Seu cabelo está caindo sobre suas costas,
a maquiagem é leve, mas o batom vermelho molda seus lábios, um batom
que estará em meus lábios no final da noite. A sandália de salto está
escondida, mas é sexy e quero que ela a mantenha quando eu a estiver
fodendo mais tarde.
Caralho! Linda, gostosa e minha!
Pego uma taça de espumante de um dos garçons que circula pelo
lugar, trago-a até meus lábios e deixo que o sabor da bebida exploda pela
minha boca.
Seu olhar encontra o meu, é claro que ela percebeu que estou me
aproximando, sempre sabemos quando o outro está por perto, nossa
conexão é inexplicável, algo único, raro e só nosso.
Mesmo depois de anos, Sophie ainda faz com que tudo ao nosso
redor se torne insignificante, os barulhos e conversas são transformados em
apenas burburinhos distantes.
O sorriso em seu rosto se amplia e agora ele é real. Sophie continua
tão mal-humorada, arrogante e poderosa quanto antes, ainda é uma rainha
do gelo e é isso que deixa os outros fascinados. É seu deboche e sarcasmo
que fazem ela ser tão popular quanto eu.
Depois de fingirmos por algum tempo sobre a aposta enquanto
estávamos na faculdade, ela se tornou mais popular e ganhou alguns fãs,
Sophie descobriu como se misturar, como transitar entre os dois mundos
sendo ela mesma e ela faz isso até hoje.
Ela pode não gostar da maioria das pessoas desta festa, mas todos a
admiram, seja por ela ser autêntica, ou por ela ser a minha esposa, eu
também tenho meu valor e é por isso que somos o casal perfeito.
Finalmente, eu estou a poucos centímetros dela e minha mão
encontra suas costas.
— Boa noite — cumprimento as mulheres à minha volta, mas meus
olhos seguem sobre Sophie. Elas me respondem e puxo Sophie para mais
perto. — Se vocês me dão licença, vou roubar minha esposa.
Não espero pelas respostas, guio Sophie para longe. Ela tem um
sorrisinho de canto de boca e um olhar repleto de malícia enquanto me
encara.
— Com pressa, principezinho?
Circulo minha mão pelo seu corpo e aperto meus dedos contra sua
cintura.
— Você já ficou tempo o suficiente longe de mim.
Ela faz um beicinho com seus lábios, nada inocente e que resulta em
uma fisgada no meu pau. Sophie me tem enrolado no seu mindinho e ela
sabe disso.
— Você demorou, eu estava prestes a morrer.
Sorrio enquanto ela continua me encarando como se estivesse
sofrendo.
— Que exagero, princesa.
Morde seu lábio inferior.
— Eu deveria fazer uma greve de sexo por ter me abandonado com
aquelas patricinhas por tanto tempo.
Balanço a cabeça.
— Você jamais conseguiria fazer uma greve de sexo.
Estreita os olhos.
— Não me provoque, Travis, ou seu amiguinho ficará de castigo.
Eu tenho certeza de que Sophie não sustentaria uma greve de sexo,
mas não vou arriscar, essa aposta é muito alta.
— E, para piorar, sequer posso beber — lamenta enquanto olha para
a sua taça de água. — É impossível aguentá-las sem estar bêbada.
Volta a me encarar e faz uma careta.
— Você não deveria estar bebendo, já que eu não estou bebendo.
Para provocá-la, trago a taça até meus lábios e acabo com o líquido
de uma única vez.
— Você é um idiota, Travis.
Sorrio enquanto deixo minha taça sobre a bandeja de um dos
garçons que passa ao nosso lado, Sophie faz o mesmo.
— Sabe, faz sete anos que você me chama assim.
— Para você ver o quanto é um idiota.
Volta a fazer o beicinho em seus lábios e, desta vez, não consigo me
controlar. Eu paro de caminhar, trago-a até ela estar à minha frente. A
expressão em seu rosto muda no mesmo instante, assim como a minha, nos
encaramos intensamente, como se fôssemos o que mantêm um ao outro
respirando.
Ela é o meu vício, assim como eu sou o seu!
Cubro sua boca com a minha e nos entregamos a um beijo repleto de
luxúria, não importa onde estamos, ou as pessoas que estão ao nosso redor,
simplesmente precisamos um do outro.
É uma necessidade que vibra dentro de mim, um desejo insano, um
amor maior que tudo. Abro os olhos, mordisco seus lábios suavemente e me
afasto. Sophie abre os olhos e eles estão brilhando. Trocamos um olhar
repleto de cumplicidade e voltamos a circular pelo salão.
É a festa de encerramento de temporada, os diretores do time, a
comissão técnica, os meus colegas de time, os repórteres e todos envolvidos
com o Las Vegas Raiders de alguma forma estão aqui. Mesmo que nós
estejamos prontos para irmos embora, ainda preciso ficar mais um pouco.
Então, nós dois sorrimos, socializamos, conversamos e chamamos a
atenção. Recebemos muitos olhares, seja porque sempre estamos nos
tocando, ou porque alguma mulher está me observando, ou algum homem
está de olho em Sophie. Ela chama a porra da atenção por onde passa, eu
deveria ter rasgado a porra desse vestido quando tive a oportunidade.
— Você tem percebido olhares sobre você? — sussurro contra seu
ouvido assim que não há ninguém por perto. — Eu deveria prender você em
casa, mantê-la só para mim, à minha disposição.
Ela se vira, sorri e segura a gravata que estou usando, forçando-me a
manter meu olhar sobre o seu, como se eu fosse capaz de olhar para o lado.
— Eu precisei ouvir de algumas vadias casadas o quanto você é
bonito, o quanto deve ser incrível ser casada com você... — Revira os
olhos. — Putas, cobiçando o que é meu.
O diamante que eu coloquei em seu dedo brilha enquanto tem o
tecido em suas mãos, além disso sei que embaixo do anel há o meu nome
tatuado em sua pele, assim como eu tenho seu nome tatuado no meu, e a
visão me deixa satisfeito. Sophie é linda e é minha!
— Vamos embora, princesa, já ficamos aqui o tempo necessário.
Ela suspira aliviada e solta a gravata.
— Graças a Deus, eu já estava prestes a surtar.
— Não seja exagerada. — Ela se vira, apoia suas costas em meu
peito e seguimos para a saída. — Lá no fundo, eu sei que você se diverte
fingindo ser a simples e perfeita esposa do quarterback.
Sophie sorri.
— Às vezes, e às vezes eu só quero matar alguém, principalmente
quando elas estão falando sobre artigos de luxo, bolsas, sapatos, viagens
caras, e competindo para saber quem é a mais rica, a mais bonita ou a mais
incrível.
O sorriso é substituído por uma expressão de desdém.
— Vou recompensá-la por isso, eu prometo.
Volta a sorrir e, desta vez, com malícia.
— Eu estou contando com isso.
Nós dois sorrimos, deixamos o salão e aguardamos na calçada o
manobrista trazer o carro.
— É uma linda noite, você não acha, principezinho?
Realmente, é uma linda noite, o céu está repleto de estrelas, há um
vento quente e algo no ar. Porém não é somente isso que Sophie quer dizer.
Eu a conheço o suficiente para entender suas insinuações.
— Perfeita.
O rapaz surge com meu carro, deixa-o e me entrega a chave. Eu
agradeço e entramos no veículo. Dirijo até nossa casa, um lugar no arredor
de Las Vegas, cercado por árvores, perto da rodovia e isolado da maioria
das pessoas, os únicos por perto é a nossa família.
O lugar que compramos após nos casarmos, há três anos, um
casamento que aconteceu enquanto estávamos bêbados e que foi celebrado
por um cara vestido de Elvis Presley. E foi perfeito!
Eu estaciono na nossa garagem, mas não deixo o carro, Sophie olha
para mim e sorri. Curvo-me e aproximo minha boca da sua.
— Eu vou vencer, princesa.
Balança a cabeça negando.
— Eu vou vencer.
Beijo seus lábios, um beijo cru, selvagem, bruto e, quando ela se
afasta, tem os lábios inchados. Sorrio satisfeito e ela tira o cinto. Sophie
olha para baixo e encara seu vestido com uma careta.
— Essa merda não vai me deixar dirigir. — Franze a testa e, depois
de alguns segundos, sorri. — Foda-se.
Leva as mãos até o tecido e o rasga.
— Muito melhor. — Vira-se e me encara com deboche. — Pronto,
principezinho?
Sorrio.
— Sempre.
— No topo da colina?
Ela pergunta, eu assinto e, então, ela abre a porta, deixa meu carro e
entra no seu. E, porra, é sexy pra caralho vê-la com seu vestido rasgado
pronta para correr.
Ela se ajeita, deixamos os vidros abertos, contamos juntos e, no três,
pisamos no acelerador e corremos pela noite. O fato de morarmos perto da
rodovia facilita o nosso acesso e nos permite andar acima da velocidade.
Não há nenhuma rodovia desativada em Las Vegas, então usamos as
normais mesmo, é mais perigoso e mais excitante. Hoje não há nenhum
movimento e podemos correr. Eu saio na frente, Sophie segue na minha
cola. Ela tenta me ultrapassar, fecho-a, ela não consegue e sorrio.
Ela é a minha garota, minha esposa, meu vício, a pessoa que mais
amo na vida, meu coração fora do peito e é por isso que vencê-la é tão
excitante.
Ainda somos tão intensos quanto éramos quando nos conhecemos,
com exceção de que agora ela trabalha com minha família nos cassinos, eu
jogo futebol profissionalmente e, à noite, organizamos as maiores corridas
ilegais do país. Nós mandamos na porra das ruas de Las Vegas! Mas não
hoje, hoje não há nenhuma corrida acontecendo.
Sophie e eu expandimos o império do meu pai. De dia, somos
pessoas públicas, bem-sucedidas, um casal normal, mas é a noite que tem
nossas melhores versões. Não podemos mais competir, porque estamos na
organização, mas ainda somos os melhores e todos sabem disso.
Ela segue atrás de mim e, depois de uma curva, passa na minha
frente.
— Porra.
Sophie liga o nitro e faço o mesmo, mas é em vão. Ela chega
primeiro, no topo da colina. Paramos de qualquer maneira na pista.
Ninguém virá aqui, não a essa hora. Ela deixa seu carro, faço o mesmo e ela
está sorrindo.
— Ótima corrida.
Balanço a cabeça, frustrado.
— Eu quase ganhei.
— Quase não é ganhar.
Ela zomba. Suspiro e vou até ela. Levo minhas mãos até sua cintura
e ficamos um de frente para o outro. As luzes da cidade lá embaixo nos
iluminam e somos cercados pelo silêncio, algo que não é frequente na
cidade do pecado.
Meu olhar encontra o seu. Eu me sinto em casa e em paz. Minhas
mãos sobem pelas suas costas e enrolo seus fios de cabelo em meus dedos.
— Você acaba com meu controle, Sophie.
Ela ri e seus olhos brilham.
— E é por isso que você me ama.
Ela está certa, um dos motivos de amá-la é o fato de bagunçar meu
mundo, de acabar com o controle que tanto busquei, por ser o meu
descontrole.
— Sim, esse é um dos motivos, mas apenas um, existem muitos
outros motivos pelos quais eu te amo.
Espalma as mãos em meu peito.
— Eu sei e eu também te amo por inúmeros motivos. — De repente,
seu sorriso amplia e me encara com diversão, ergo as sobrancelhas sem
entender a sua reação. — Não serei mais a única a acabar com seu
descontrole.
Agora, eu estou ainda mais confuso.
— O resultado do exame saiu hoje à tarde, principezinho.
Por alguns segundos, eu fico sem reação, enquanto um sentimento
novo ocupa meu coração.
— Uma garotinha?
Sophie assente, eu levo minhas mãos até sua barriga e acaricio-a
com meus dedos. Nós não tínhamos decidido sobre ter filhos, não sabíamos
se iríamos conseguir ser pais depois de tudo que aconteceu com a gente,
mas então o universo decidiu por nós dois. E, agora, a imagem de uma
garotinha como Sophie preenche a minha mente e faz com que meu coração
dobre de tamanho.
— Uma garotinha para acabar com nosso controle, Travis.
Seus olhos brilham com lágrimas.
— Ela, com certeza, irá acabar com nosso controle, principalmente,
se for igual a mãe.
Sophie ri.
— Até porque o pai dela é tão dócil, não é?
Sorrio.
— Um amor de pessoa.
Sussurro contra os seus lábios e minha boca toma a sua. Sophie e eu
não deveríamos e não queríamos amar, mas nós fomos a ruína um do outro,
destruímos todas as barreiras e tomamos para si o coração um do outro.
Ela é a minha ruína perfeita.
Oiii...
Eu amei escrever Sophie e Travis, amei esse universo e espero que
vocês estejam tão empolgadas quanto eu por mais deles. Torço para que
vocês fiquem curiosas com Trevor, Hailey, Dom, Sebs e Jace.
E sim, eu deixei algumas pontas para serem resolvidas nos próximos
livros, falando nisso, qual é a próxima história que vocês desejam ver por
aqui?
Estou esperando vocês lá no insta (lanasilva.sm) para me contarem
tudo que acharam do livro e não esqueçam da avaliação.
Muito obrigada a você que chegou até aqui e realmente, espero que
tenha sido uma leitura prazerosa.
Quero deixar meu agradecimento à minha equipe que esteve comigo
nessa, selecionando quote, vídeos, músicas, ajudando na betagem,
revisando, e estarem envolvidas em vários outros processos. É muito
melhor ter vocês aqui ao meu lado. Julia, Silvia, Maria vocês são incríveis e
amo vocês.
Leticia e Bárbara obrigada por terem se dedicado na revisão (mesmo
eu enviando o arquivo depois do prazo). Minhas betas, Flávia, Amanda,
Mariana Di, Érica vocês foram maravilhosas e amei cada comentário.
Por último, mas não menos importante obrigada a cada leitora,
aquelas que me acompanham no insta, no whats, e a você que chegou
agora. Vocês tornam meus sonhos reais e serei eternamente grata a cada
uma.
Bjs e até a próxima...
Com carinho, Lana.
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