Disciplina: Arte – História da arte _____Professora: Veridiana A.
Rengel_______1º ano do ensino médio
Arte Rupestre
A Arte de cada civilização se desenvolve segundo características próprias do pensamento
dominante da sociedade a que pertence. Muitas descobertas históricas, biológicas, antropológicas, deram-se,
ou até modificaram-se, graças à análise de objetos artísticos.
Dessa forma, ao estudarmos a Arte Rupestre, buscaremos compreender primeiramente um pouco
da sociedade paleolítica e neolítica.
A Arte Rupestre pertence a um período da humanidade denominado de Pré-História. Esse termo
não é propriamente adequado, pois pode nos dar a impressão de que se trata de um tempo menos avançado, o
que não é verdade. Muitas descobertas importantes foram realizadas nesse período pelo homo
sapiens, tais como a domesticação de animais e de plantas, desenvolvimento da
cerâmica e do tecido, elementos que permitiram que o Homem pudesse se fixar em um território,
abandonando ou diminuindo práticas nômades. Porém, a escrita ainda não tinha sido desenvolvida, pelo que
sabemos até hoje. A escrita viria a ser desenvolvida pelas civilizações egípcias, chinesas e outras vizinhas, e
corresponde ao marco inicial do período classificado como História da Humanidade, dado confirmado
principalmente pelas descobertas da Arte Egípcia datada aproximadamente do ano de 4000. a.C.
Didaticamente, dividimos a Pré-história em dois períodos: Paleolítico, ou velha pedra, (30.000 a.C
a 10.000 a.C) e Neolítico, nova pedra, (10.000 a.C a
4.00 a.C). Assim, vemos que o que chamamos de Pré-história, corresponde ao período mais
longo da História da Humanidade.
A Arte Rupestre é conhecida a partir da descoberta de sítios arqueológicos espalhados pelo mundo.
Curiosamente, o maior de todos está localizado no
Brasil, denominado Parque da Capivara, com mais de 30.000 obras. Outros sítios importantes são
a Grota de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha.
A datação das obras é realizada através da análise do Carbono 14 retirado de carvão e ossos
encontrados nesses locais. Como se trata de um registro muito antigo, algumas informações podem ser
confirmadas e outras conjecturadas. Confirmadas ora pela ciência exata, ora por estudos das relações humanas,
antropológicas. Conjecturadas baseadas em informações deduzidas a partir dos dados existentes até hoje.
De que forma surgiu a Arte Rupestre? Qual o significado dessa Arte? O homem pré-histórico tinha
algum conceito para Arte? Essas questões assombram os pesquisadores até hoje. Algumas hipóteses quanto a
esses questionamentos surgiram e fazem bastante sentido. Assim, iremos estudar a arte do período paleolítico,
na qual predominavam figuras animais. Quanto a arte do período neolítico, é importante saber que esta era
principalmente abstrata, geométrica e o ser humano já se encontrava em uma situação onde havia criado a
cerâmica e o tecido, além de ter desenvolvido técnicas de domesticação de plantas e animais, podendo fixar -
se por longos tempos nos lugares.
As principais representações encontradas no Paleolítico são impressões de mãos, representações
realistas de animais, esculturas pequenas da deusa da fertilidade.
Quanto às técnicas empregadas destacam-se:
• suporte da pintura rupestre eram as paredes calcárias das paredes das cavernas, geralmente na região
mais interior;
• criação de pincéis de vários tamanhos e formatos feitos com ossos e pelos de animais;
• desenvolvimentos de pigmentos extraídos principalmente do carvão (pigmento preto) e minerais
(pigmentos ocres – amarelo ao vermelho);
• técnica do sopro, na qual ele assoprava pigmento utilizando um canudo;
• utilização de água e gordura animal como aglutinantes;
• utilização do relevo das paredes como forma de criar volume e tridimensionalidade para suas figuras
animais;
• uso de sombreamento;
• impressão das imagens nas paredes calcárias utilizando objetos duros e pontiagudos, tais como o
sílex e chifres de cervos;
• utilização dos dedos.
Basicamente, o artista rupestre dividia seu trabalho em três etapas:
• observação minuciosa do animal a ser representado, com conhecimento profundo de sua anatomia;
• marcação do desenho na parede utilizando sílex ou chifres de cervos;
• preenchimento desses desenhos utilizando os pigmentos preto e ocre (variação de cores que vai do
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• amarelo ao vermelho), utilizando pincéis, sombreamento, técnica do sopro;
As pinturas, no geral, tinham as seguintes características:
• policromia ou bicromia, com o uso das cores predominantes preta e ocre;
• figuras isoladas sem comunicação, portanto, sem a preocupação com a composição dentro da cena;
• presença de sensação de movimento das imagens;
• animais com personalidade;
• naturalismo.
Pode-se afirmar que o artista rupestre possuía técnicas complexas, usadas até hoje, as quais
deveriam ser aprendidas e desenvolvidas, necessitando, para isso, treinamento e disciplina.
Quanto ao significado das imagens, seguem algumas hipóteses:
• atribuição de poderes mágicos às imagens, acreditando que a imagem reproduzida significava a
própria ação da caça, e consequentemente domínio da natureza;
• crença numa vida espiritual dos animais, o que poderia motivar a representação da caça em forma
de imagens buscando preservar a alma dos animais abatidos em sinal de respeito;
• preservação da fertilidade, no sentido de que as obras eram realizadas no interior mais interior da
caverna, atribuindo a esse local o significado de centro da fertilidade da natureza (útero), ou seja,
representando as figuras ali, garantiam a reprodução contínua desses animais dos quais dependiam
para sobreviver;
A seguir, observaremos algumas imagens.
As duas imagens a seguir correspondem à impressão de mãos
sobre as paredes das cavernas. Estão localizadas na “Cueva de las
manos”, na região da Patagônia argentina. Não se sabe ao certo o
significado dessa prática de imprimir as mãos nas paredes das
cavernas. Esse tipo de representação pode vir isolada, ou na
presença de animais. No primeiro caso, pode ser aleatória, no
segundo caso pode ser uma forma de dominação da caça.
Figura 1: Cueva de las Manos, na Patagônia argentina (foto: Instituto
Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano/Divulgação)
Figura 2: Cueva de las Manos, na Patagônia argentina (foto: Instituto Nacional de
Antropología y Pensamiento Latinoamericano/Divulgação)
Iremos analisar agora algumas imagens que estão localizadas na
“Sala dos policromos”, no interior da “Cueva de Altamira”, na
Espanha. Apelidada por ‘capela sistina da pré-história, os
desenhos foram criados no teto da caverna e versam sobre bisões
vermelhos, preto, cervas, cavalos e javalis. A predominância das
cores é preta e ocre, o que leva alguns historiadores de denominá-
la como sala da bicromia.
A figura abaixo é conhecida como Bisão retorcido. Provavelmente
trata- se de um animal contorcendo-se sobre a morte. O suposto respeito pela vida desses animais pode ser
inferido pela posição fetal na qual o animal adulto foi representado, bem como sua localização no interior mais
interior da caverna, indicando a suposta continuação da vida espiritual desse animal, bem como a garantia da
continua reprodução dessa espécie pela natureza.
Figura 3: Bisão retorcido, Altamira, Espanha.
A próxima figura é de um bisão vermelho, e podemos notar, além do
naturalismo, o relevo
causado pela saliência na
pedra, bem como a
presença de personalidade
viva nesse animal.
Figura 4: Bisão, Altamira, Espanha.
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“Grande Cerva”, com aproximadamente 2 metros de comprimento, é a
maior figura encontrada nesse recinto.
Figura 5: Grande Cerva, Altamira, Espanha.
Nossa próxima viagem será para a “Caverna de Lascaux”, na França.
Essa caverna possui uma particularidade na constituição de suas
paredes, as quais são formadas por calcita (uma espécie de argila
fossilizada, sobre a qual não é possível realizar incisão com materiais
duros). Dessa forma, nessa caverna encontraremos pinturas sem incisão.
A primeira figura corresponde a dois bisões, provavelmente preparando- se para uma luta por acasalamento. O
detalhe interessante é a sensação de profundidade criada pela diminuição das patas traseiras de ambos, bem
como pelo detalhe da diferença de coloração nos pêlos do animal
à esquerda, indicando sua troca natural. Outra característica, é o
profundo conhecimento da anatomia, bem como sua
representação realista e naturalista.
Figura 6: Bisão trocando de pêlo, Lascaux, França.
A figura abaixo podemos observar, além das características
representativas da arte rupestre, o fato de o animal aparecer com
as pernas atrofiadas e o ventre aumentado, aludindo à fertilidade
da natureza.
Figura 7: Animal com ventre aumentado, Lascaux, França.
Finalizando, iremos observar uma escultura da deusa da fertilidade,
conhecida como Vênus do Paleolítico. Nela
percebemos a representação do ventre e dos
seios de forma bem aumentada, o que fez com
que essa imagem fosse assim classificada.
Figura 8: Vênus do Paleolítico.
A seguir, uma imagem para apreciação de um
vaso em cerâmica do período Neolítico, demonstrando a presença de desenhos
abstratos e geométricos nesse período.
Figura 9: vaso do período Neolítico
Finalizando, mostramos uma representação de arte
rupestre encontrada na Serra da Capivara. A
descoberta desse sítio arqueológico causou uma
grande revolução na ciência quando se descobriu
que os vestígios mais antigos da humanidade na
América datavam de 48.000 anos, e não 12.000
anos, como era afirmado antes de se encontrar essa
grande riqueza da humanidade e
se analisar restos de fogueira por
meio do Carbono 14.
Figura 10: Parque Serra da Capivara, Piauí, Brasil
Referências:
GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro:
LTC Livros Técnicos e Científicos, 1995.