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Aula 04 - Max Weber e A Sociologia Compreensiva II

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Aula 4: MAX WEBER E A SOCIOLOGIA

COMPREENSIVA (parte 2)
AS RACIONALIDADES • Cada um devia acreditar ter sido escolhido por Deus, uma vez
que quem não crê em si mesmo não pode acreditar que Deus
• Weber trata da racionalidade principalmente nos dois capítulos creia nele.
iniciais da parte I de Economia e sociedade. • Acreditando em si, cada um devia dedicar-se ao máximo ao
• Ali ele distingue a racionalidade formal da substantiva e define a trabalho, o meio para adquirir a independência e o sucesso na
diferença entre a racionalidade meio finalística e a racionalidade vida terrestre, que não é, certamente, garantia de salvação, mas
quanto aos valores. um signo promissor da mercê celeste.
• Segundo a denominação de Weber, a racionalidade formal é • O fim do esforço disciplinado e honesto como fonte de valor e
constituída pela calculabilidade e predicabilidade dos sistemas dever moral determinou, em um processo de auto alimentação, a
jurídico e econômico. decadência da ética do trabalho, na medida em que os poderes
• No campo das organizações, a racionalidade formal está valorativos a ela atribuídos se tornaram externos e estranhos ao
presente em aparelhos como o contábil e o burocrático. Implica trabalhador.
regras, hierarquias, especialização, treinamento. • Na formação do capitalismo moderno, o trabalho serviu para dar
• A racionalidade substantiva é relativa ao conteúdo dos fins sentido espiritual a um mundo que, segundo a doutrina calvinista
operacionais dos sistemas legal, econômico e administrativo. da predestinação, é essencialmente sem sentido.
• Difere da formal por ter uma lógica estabelecida em função dos • O trabalhador não visava outra coisa além de reproduzir a vida,
objetivos e não dos processos. mas como a vida consome os frutos do trabalho, tratou então de
• Valor para Weber é a imaginação de uma validade que se torna acumular, de conter o consumo, de economizar vida e trabalho.
motivo de uma ação. • O entesouramento produziu o sentimento de que o trabalho é
• O termo validade tendo o sentido tanto de norma de validade produtivo;
quanto de pretensão de validade. • A sabedoria da cigarra imprevidente e da formiga ascética. No
• Não há somente uma alternativa entre valores, mas uma luta capitalismo primitivo, o trabalho era um meio para a vida e para a
inconciliável, da qual não tomamos consciência. previdência. No capitalismo moderno, graças ao ascetismo
• Quem quer conduzir sua vida de forma consciente é forçado a protestante, o trabalho se tornou um fim em si mesmo, um dever;
afirmar certos valores e a negar outros. não uma disposição prática.
• Weber define a racionalidade quanto aos valores da constatação • Há muito a ética protestante do trabalho desapareceu. O que
de que a vida é inevitavelmente perpassada pelo irracionalismo restou foram as suas sequelas: a instrumentalização de tudo, a
do mundo, com o qual deve constantemente lidar. dessacralização da vida, a redução do social a sistemas e
estruturas institucionalizadas, mediante a tecnificação, a
O DIAGNÓSTICO WEBERIANO DA MODERNIDADE: CAPITALISMO, rotinização, o declínio do próprio trabalho enquanto instrumento
TRABALHO E DESENCANTAMENTO
para alcançar objetivos considerados desejáveis (status, poder,
• Weber concebeu o desencanto religioso e o cientificismo como riqueza...).
causa eficiente do processo de racionalização no Ocidente. Mas • Paradoxalmente o ascetismo religioso do trabalho, que deveria
o efeito sobre a vida econômica foi involuntário. Não foi o servir à maior glória de Deus, ao não consumo, ao
protestantismo que causou o capitalismo. As consequências da reinvestimento, deu a condição de possibilidade da abundância.
Reforma eram imprevistas: o que ocorreu foi uma dupla • Sob a égide do protestantismo, o trabalho se especializou,
implicação, uma coincidência espaço-temporal entre a cultura do renunciou à universalidade, limitou-se à vida funcional.
ascetismo religioso e as condições objetivas das transformações • Tornou-se um dever moral estrito, cada trabalhador devendo se
do capitalismo. comportar como um monge, com uma vida regulada, sem a
• O efeito da dupla implicação sobre o trabalho é evidente no ethos ambição de gozar do fruto do seu esforço.
da empresa burguesa racional e da organização do trabalho, que • Com o aburguesamento, a vida de trabalho perdeu a memória de
são puritanos na origem. vocação: deixou de ser um mandamento divino.
• Não no sentido de que uma e outra sejam exclusivas do • Não há uma estrutura racional preexistente, natural. O
capitalismo moderno, mas no de que são as suas condições de trabalhador é forçado a uma escolha que, no mundo
possibilidade. desencantado, nem a religião nem a ciência podem informar.
• A desumanidade extrema da doutrina protestante levou a um • A responsabilidade deriva da consciência sobre a necessidade da
individualismo religioso. escolha entre valores últimos e da própria possibilidade de
• O crente estava só: nem a Igreja, simples congregação, nem a escolha entre meios alternativos para os fins perseguidos,
comunidade religiosa, em que os pares concorriam pelos poucos consideradas suas consequências.
lugares no céu, podiam socorrê-lo. Ele não podia esperar nada, • No texto sobre a política como vocação e a ciência como
nenhum auxílio, nem mesmo de Deus, uma divindade oculta e vocação, Weber procurou demonstrar que os atributos que uma
enigmática (absconditus). pessoa deve ter para exercer a política e a ciência como ofício
derivam da coerência entre o trabalho, a personalidade e o modo
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de vida em que “cada um acha o demônio que tem na mão e os sobreviver aos requisitos e pressões do capitalismo
fios de sua vida e a ele obedece”. moderno.
• Ele entendia o trabalho moderno como ofício, “a especificação, a • O trabalho moderno, que começou como disciplina moral
especialização e a combinação de prestações que permitem a voluntária, continuou a dominar as vidas humanas, mas agora
uma pessoa assegurar-se chances de abastecimentos e pelo mecanismo, não mais pelo sentido.
aquisições”. • A organização do trabalho e a tecnologia contemporânea
• O trabalho burguês já não oferece condições para a realização de encorajam a secularização e o desencantamento do mundo, pois
uma vocação; apenas os meios necessários para viver. Permite a elas expõem cada vez mais campos da sociedade às normas da
sobrevivência, mas não dá o sentido da vida. sociedade técnico-instrumental.
• A combinação da ética protestante com as circunstâncias • O capitalismo se tornou inimigo do trabalho. Não só porque o
histórico-econômicas trouxe à sociedade um novo geist, o espírito explora, mas porque o descarta.
do capitalismo moderno. • Primeiro espiritualmente, com o desencanto, depois
• Com a racionalização da vida social, a ética fundada na materialmente, com a tecnologia.
religiosidade se transferiu à lógica produtivista do trabalho, que • A racionalização nos levou à servidão da máquina, ao sem
desemboca no estilo, ou na falta de estilo, do modo de vida sentido do esforço produtivo ao fim da inclinação para o trabalho
burguês. que deve ser determinada tanto por um forte auto interesse no
• Uma nova combinação, entre a lógica do ganho econômico e a resultado, quanto por coação direta ou indireta.
da forma de viver da classe economicamente mais bem colocada, • A motivação baseada em valores abstratos (religiosos) se perdeu
traz à renúncia do trabalho gratificante. quando não mais se pode identificar o trabalho com o seu
• O trabalhador comum busca status (a posição do indivíduo ou do resultado material ou espiritual.
grupo aos olhos dos demais), emulando o estilo de vida da classe • Por desencantamento do mundo, Weber entende o longo
imediatamente superior. processo de abandono do pensamento mágico, a
• Ao contrário da “consciência de classe” a consciência de status dessacralização, a racionalização promovida pelo cristianismo e
se move de cima para baixo. levada a termo pela ciência.
• A ostentação da riqueza e a possibilidade de desperdício são • O desencantamento corresponde a uma regulação da vida
mais valorizadas do que a produção honesta. cotidiana fundada no compromisso dos indivíduos com seus
• Ao mesmo tempo o sistema força para o ascetismo da renúncia e valores.
o do trabalho, do “dever” que substitui o ascetismo religioso, da • Desemboca em uma tensão entre a perda da liberdade da
necessidade de consumir e de manter o mecanismo funcionando. submissão aos valores mundanos e os valores últimos da
• Os indivíduos trabalham por diferentes razões. Weber distingue moralidade.
quatro motivações analiticamente diferentes para o trabalho: a da • Fragmentada, a vida consciente, presa entre a responsabilidade
ética econômica tradicional; a da ética econômica carismática; a e a convicção, entre o justo e o sagrado, perde sentido, torna-se
da ética prática racional; e a da ética econômica racional. paradoxal.
A) -A ética econômica tradicional santificava os meios habituais • A maneira de racionalizar os negócios e o trabalho no que Weber
de satisfazer as necessidades humanas. Os trabalhadores denominou de “capitalismo vitorioso” é baseada em quatro
imbuídos do espírito tradicional tendem a ver o trabalho categorias institucionais:
como um mal necessário. Por isso, tão logo as • PRIMEIRA CONDIÇÃO: A separação entre a economia
necessidades básicas são satisfeitas, desaparece a doméstica e a empresarial. Esta separação é essencial para se
motivação para o trabalho. Nenhum incentivo material afeta raciocinar em termos metódicos. O capitalismo surgiu quando o
essa situação. Na perspectiva tradicional, menos trabalho empresário aprendeu a fazer esta distinção.
vale mais do que ganhos maiores, isto é, dado um aumento • SEGUNDA CONDIÇÃO: Trabalho livre. Durante muitos séculos
na remuneração o trabalhador se dedicará utilizou-se a mão de obra escrava, o que tonava difícil saber ao
proporcionalmente menos ao trabalho. certo quanto custava essa força de produção. Com a implantação
B) - Na visão da ética carismática, dos “capitalistas do sistema capitalista, o patrão passou a equacionar quanto
aventureiros”, dos “empresários heroicos”, o trabalho é exatamente lhe custa o trabalho de cada um de seus operários.
autônomo. A racionalidade é a do fim colimado: em geral o • TERCEIRA CONDIÇÃO: Contabilidade racional. O registro de
lucro e o poder. Tão logo o fim seja alcançado, a motivação todos os custos e todas as receitas que uma empresa tem, de
desaparece ou se dirige para um fim diverso. modo poder saber o lucro obtido. Passa-se a dar importância à
C) - A ética tradicional justifica o trabalho em que prevalece o contabilidade da empresa.
cálculo das vantagens pessoais. O esforço que se volta para • QUARTA CONDIÇÃO: Racionalidade burocrática ou sistema
a autossatisfação, para a satisfação dos interesses organizado de colaboração entre pessoas que dividem e
individuais. coordenam o trabalho. Valoriza-se a administração coordenada e
D) A ética econômica racional, correspondente ao “espírito do racionalizada da empresa, para dar mais interface entre a chefia
capitalismo” moderno, toma o trabalho como um dever, uma e os empregados e entre os setores produtivos da empresa.
obrigação positivamente valorada como um fim em si • Para Weber, somente quando essas condições são reunidas é
mesmo. Derivada do protestantismo, a sua motivação reside que uma empresa está metodicamente organizada e pode-se
na intensidade e na estabilidade do esforço suficiente para assim, falar de capitalismo.

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OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA “eleição”, sendo este um funcionário eleito pelos “súditos”
• Para Weber, poder, ou dominação, é a possibilidade de por vontade livre. Weber desconfia do carisma, teme que
encontrar obediência a uma ordem determinada. elementos emocionais predominem na política, para ele,
• A submissão pode estar condicionada por interesses, ou seja, a “massa” pensa apenas em curto prazo, estando sujeita
das vantagens e desvantagens de quem obedece; por mero a influências emocionais e irracionais.
costume, quando a ação torna-se um hábito cego; ou ainda
por puro afeto, advinda da tendência pessoal.
• A dominação embasada apenas nesses fundamentos seria UMA TIPOLOGIA DAS CIDADES
instável. • Com sua peculiar sistematicidade, Max Weber elabora, no âmbito
da sua sociologia da dominação, uma tipologia das cidades,
• Assim, para Weber, nos governantes e nos governados, o
procurando mostrar como o desenvolvimento urbano no Ocidente
poder funda-se internamente em bases jurídicas, nas quais se
moderno está intimamente vinculado à emergência e
assenta a “legitimidade”.
consolidação do capitalismo e ocorre de forma distinta do que
• As “bases de legitimidade”, na forma totalmente pura de
aconteceu com as cidades orientais.
dominação são apenas três, cada uma com lógicas e
mecanismos de administrações próprias. • A análise weberiana inicia com um esclarecimento acerca do
1) -A dominação legal dá-se em virtude do estatuto, seu conceito de cidade e com uma categorização ideal-típica por
tipo mais puro é a dominação burocrática. Seu princípio é meio de uma classificação funcional.
que qualquer direito pode ser criado e modificado • Nesse sentido, cada cidade teria uma função predominante que
mediante um estatuto sancionado desde que seu se sobrepõe a outras, conferindo-lhe uma identidade específica.
processo esteja previamente estabelecido. A associação • Sobre o conceito, Weber parte da definição básica de cidade
de poder é escolhida ou imposta, ele e todas suas partes como um assentamento fechado com casas próximas umas das
são empresas, formadas por funcionários nomeados por outras, cujos fundamentos principais são a existência de uma
um “senhor”. Obedece-se a regra estatuída e não a sede senhorial-territorial como centro e o comércio constante de
pessoa em virtude de seu direito próprio. Para Weber, o bens e serviços entre seus habitantes, ou seja, a existência de
Estado Moderno e a empresa capitalista são estruturas um mercado.
correspondentes da dominação legal, pois são • Na tipologia de Weber, destacam-se a cidade principesca, cuja
associações com fins utilitários. Importante lembrar que função primordial é a de ser uma localidade administrativa, sede
não há domínio legal que seja exclusivamente do governo, como são, por exemplo, as capitais federais; a
burocrático, uma vez que uma empresa não é formada só cidade de consumidores, que não possui uma base produtiva,
por funcionários contratados, sempre existem os que como, por exemplo, aquelas localidades cuja parcela significativa
ocupam cargos mais altos. de moradores ainda não ingressou no mundo do trabalho, como
estudantes, ou que já saiu dele, como aposentados e
2) -A dominação tradicional é em virtude na crença da pensionistas; a cidade de produtores, caracterizada por suas
santidade dos ordenamentos e poderes senhoriais desde indústrias, fábricas, manufaturas, ou seja, um centro produtor de
sempre existentes, sendo seu tipo mais puro a diversos tipos de mercadorias; e, por fim, a cidade mercantil,
dominação patriarcal na qual o “senhor” manda e os cuja função predominante é a negociação constante de
“súditos” obedecem. Neste caso, obedece-se a pessoa mercadorias, seja vendendo os produtos locais para estrangeiros
em virtude de sua dignidade própria, por fidelidade e o ou vendendo produtos estrangeiros no comércio local.
conteúdo das ordens existe pela tradição. Seus princípios • Como a classificação weberiana parte da formulação de tipos
são os da equidade ética e material, da justiça ou da ideais, o autor explica que, empiricamente, as cidades acumulam
utilidade prática. A dominação tradicional é um exemplo funções distintas embora possuam uma administração e uma
de influência de valores morais e éticos existentes desde burocracia próprias do capitalismo.
a antiguidade, que aos poucos, a partir da Idade Moderna • Segundo o autor, a particularidade do processo de formação das
foi sendo substituído pela forma de dominação legal. cidades ocidentais na modernidade deve-se ao fato de que estas
foram surgindo como resultado de uma postura subversiva de
uma classe social que estava se formando, a burguesia.
3) - A dominação carismática, em virtude da devoção • Assim, no princípio, trata-se de um modo de organização social
afetiva ao “senhor” e aos seus dons gratuitos (carisma), transgressor, portanto, não legítimo, adquirindo legitimidade
vinda de capacidades mágicas, heroísmo, poder do apenas posteriormente com a aceitação tácita da nova ordem.
espírito e do discurso. A associação de domínio é de Além da não legitimidade inicial, estas cidades se constituem,
caráter comunitário, sendo aquele que ordena o “chefe”. conforme Weber, com uma organização político administrativa
Não existe aqui o conceito racional de competência, nem autônoma que possui sistemas legal e tributário próprios.
o conceito de estado e de privilégio, sendo o “chefe” • Ademais, sua força econômica é urbana, com mercados
seguido pelos seus “discípulos” segundo o carisma e especializados, ou seja, não tem mais como cerne a produção
vocações pessoais. A autoridade carismática é dita por agrícola, embora esta ainda fosse importante.
Weber como uma das grandes forças revolucionárias da
• Na concepção processual de Weber, a gênese da moderna
História, em sua forma pura tem caráter eminentemente
cidade ocidental encontra-se na cidade medieval.
autoritário e dominador. O dominador carismático é
reconhecido pela legitimidade democrática por forma de

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• A lei da propriedade de terra, que permite a negociação do solo,
base do feudalismo, forneceu o precedente necessário para a
autonomia territorial das cidades.
• Outro fator, não menos importante, foi o surgimento de um grupo
de indivíduos economicamente independentes, a pequena
burguesia.
• Com o tempo esse novo grupo se fortalece a ponto de conseguir
usurpar o poder dos senhores feudais.

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