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TORTO ARADO ROTEIRO J 3° Ano E - M

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Cauã Santos
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TORTO ARADO - FIO DE CORTE

PARTE 01 – APRESENTAÇÃO DA OBRA


(Fundo musical: Rubel – Torto Arado)
Bibiana e Belonísia entram no palco segurando uma falsa faca e uma espada de ogum.
(Luzes apagam e todos saem do palco em direção aos bastidores para iniciar a
apresentação da obra.)

PARTE 02 – ENCENAÇÃO, PERDA DA LÍNGUA


(Narração em 1° pessoa da Bibiana do presente)
(Fundo musical/instrumental suave, baixo, sem interferir nas falas)
BIBIANA PRESENTE: Houve um tempo em que o arado preparava o solo para receber
a semente que um dia germinará, e cujo um incidente me uniria imensuravelmente à
minha irmã.
• Bibiana e Belonísia entram no palco brincando com suas bonecas de milho
BIBIANA PRESENTE: Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um
pedaço de tecido antigo e encardido, tinha pouco mais de sete anos. Minha irmã,
Belonísia, era mais nova um ano.
• Bibiana e Belonísia exploram todo o palco (que seria o quintal) e finalizam se
sentando ao lado da mala da qual estaria a faca (já estariam dentro do quarto).
BIBIANA PRESENTE: Notávamos um brilho incomum, que provinha daquela mala.
Éramos despertadas por uma curiosidade tão grande, que mal sabíamos que a relíquia de
nossa avó, promoverá a desgraça que acorrerá a uma de nós.
• Bibiana e Belonísia pegam a faca e levam a boca, cada uma.
BIBIANA PRESENTE: Levei o metal afiado a boca, minha irmã também seguiu meus
passos, o gosto do sangue se fazia presente, mal sabíamos que ali preveniria um órgão
mutilado, órgão esse cuja função primordial seria a fala, órgão esse que me uniria da
forma mais fraternal que existe.
• Donana entra no quarto, percebe o que havia ocorrido e diz:
DONANA: Sua pestinhas, o que estão fazendo?
• (Silêncio)
Donana: FALEM! Antes que eu arranque a língua de vocês. — Ameaça Donana
• Os pais chegam da roça e encontram Donana desorientada, nisso Donana já havia
percebido que uma das meninas perderá a língua o que a deixa mais agitada.
• Ela gritou:
Donana: Ela perdeu a língua, ela cortou a língua! (Repete)
• (Bibiana e Belonísia choram abraçadas)
• O Capataz (Sutério) chega com uma Ford Rural para levá-las ao hospital. Salu
pega colchas e toalhas e o Zeca chapéu grande colheu algumas ervas.
Salu: Vamo Zeca! Que o carro já tá pronto!
• Zeca estava colhendo ervas e logo levantou-se e correu logo no entrando no
carro.
Sutério: Todas as crianças são iguais a gatos, que cegam, uma hora estão num lugar outra
hora em outro, quase sempre aprontando algo para dar dor de cabeça aos pais. Eu tenho
filhos e sei.
• Eles saem do carro e entram no hospital.
BIBIANA PRESENTE: No hospital, demoramos de sermos atendidas. Meus pais
estavam encolhidos em um canto ao nosso lado. Dava pra notar as calças sujas de meu
pai, que não teve tempo de trocar. Minha mãe estava com seu lenço colorido amarrado na
cabeça, limpando o nosso rosto e envolta na mesma camisa, meu pai ainda segurava a
língua. O médico os levou para a sala e viu a língua como uma flor Murcha entre as mãos
de meu pai.
• O médico balança a cabeça em negação.
MÉDICO: Avaliando a situação das duas sinto em dizer que a garotinha que perdeu a
língua nunca mais poderá falar, terá problemas para comer e não terá como reimplantar
sua Língua. Enquanto a outra – médico aponta para Bibiana - feriu gravemente o órgão,
porém continuará a falar.
• Salu fica angustiada
SALU: Oh céus! Que podemos fazer doutor?
Médico: Recomendo que deixem as meninas em descanso, que comam apenas comidas
fáceis de engolir, tomem remédios para a dor e é claro, que as mantenham longe de
qualquer objeto cortante.
SULTÉRIO: Desgraça! Adiantou nada ter vindo então, já que a menina vai ficar sem a
língua, gastei gasolina para nada.
• O Médico ignora a fala bruta do Capataz e se direciona aos pais entregando uma
receita médica pra eles.
MÉDICO: Sigam as prescrições e tudo dará certo, esse acontecimento com certeza irá
fortalecer o laço fraternal entre elas.
ZECA: Que (algum Deus da religião deles) te abençoe doutor!
• Bibiana e Belonísia chegam em casa e se sentam envolta da mesa junto com Zezé,
Domingas, Salu e Zeca.
BIBIANA PRESENTE: Cheguei em casa e só havia Zezé e Domingas esperando
ansiosas. Com toda situação ocorrida minha avó decidiu levar a faca até a beira do rio e
“enterrar o mal” de todo acontecimento lá. Depois disso ela nunca mais foi a mesma,
entrou em um profundo estado de melancolia e em uma determinada manhã saiu e nunca
mais voltou. Eu, após tanto procurar acabei encontrando-a emborcada dentro do rio.
Após alguns anos do acidente que mudará a minha vida e a de minha irmã, meu pai,
incentivado por Sutério convida meu tio, Salu, para morar e trabalhar na fazenda.
BIBIANA PRESENTE: Minha mãe resolve fazer um grande almoço, nos apresenta
meus tios e primos, e um, em especial, roubá-lo-ia toda a minha atenção.
• Entram os tios e primos na cena e se juntam à mesa.
TIO SERVO: Esse aqui eu guardei para você batizar Salu
SALU: Mas deixou o menino tanto tempo pagão, Servo?
• Bibiana, Belonísia e os primos saem para o terreiro e brincam entre si.
BIBIANA PRESENTE: Depois do almoço eu e meus primos ficamos espalhados pelo
terreiro, eu não conseguia tirar meus olhos de Severo, no entanto eu não era a única que
tinha tido tamanha afeição. Nos aproximamos cada vez mais na medida em que nos
divertirmos. A casa em que eles iriam ficar estava mais próxima do rio Santo Antônio do
lado oposto de nossa casa.
• Severo brinca com as meninas e Zezé com as outras meninas.
BIBIANA PRESENTE: Eu e Belonísia estranhamente estávamos cada vez mais
próximas. Domingas e Zezé se ocupavam com brincadeiras com os menores, enquanto
nós, quase adolescentes, descobrimos aos poucos o interesse que um menino poderia
despertar em duas moças, duas moças que se descobriam vaidosas. Severo superava a
timidez e passou a se comunicar de forma incessante conosco. Severo começou a entender
melhor os sinais que Belonísia fazia....
• Severo sai às escondidas com Belonísia enquanto Bibiana acompanhava ambos
os dois com olhares.
• (Fundo musical dramático para a cena do beijo: Itachi Uchiha - Original
Soundtrack Extended) - Telão desce e rola a cena da sombra com o falso beijo de
Severo e Belonísia.
• Bibiana sai indignada de seu esconderijo, Severo a vê e corre para falar com ela.

LUZES APAGAM.
PARTE 03 – CENA DA “VALSA”
• Belonísia sai de cena, Bibiana e Severo ficam cada um em um lado do palco.
• (Fundo Musical da Valsa: Interestelar instrumental)
• Luzes acendem, Bibiana e Severo se encontram no meio do palco, ao toque da
música, Severo se curva e beija sua mão, ambos começam a dançar no ritmo da
melodia - (1min de dança)
• Luzes apagam, Severo sai do palco e Bibiana volta para o presente.
• (Fundo dramático)
• Bibiana do passado entra no palco já com uma pequena barriga, Belonísia a
acompanha e elas se juntam a mesa com a família.
BIBIANA PRESENTE: Em determinada manhã acordei, um enjoo matinal me possuía,
levantei-me da mesa, saí de casa e fui encontrar com Severo. Encontrei-o sentado ao lado
de um pé de Jaca. Me aproximei e me sentei ao seu lado.
• Bibiana se levanta e vai encontrar Severo ao lado do pé de jaca.
BIBIANA PRESENTE: Boba e atordoada falei baixo no pé do seu ouvido: - Acredito
estar grávida, Severo! – Falei a ele
• Severo pula de alegria abre um longo sorriso, eufórico, sobe no pé de Jaca e
colhe a fruta, abre-a e oferece a Bibiana, ela come, no entanto, tem um refluxo.
SEVERO: Vamos fugir Bibiana, vamos para bem longe daqui! Vamos construir nosso
futuro e ter o nosso filho longe de Água Negra, que tanto nos oprime, esse sistema de
exploração já está me sufocando!!!
BIBIANA PRESENTE: Enquanto comia a jaca, conversei com Severo sobre ficar em
Água Negra, montaríamos nosso pequeno lar, perto da casa de meus pais, teríamos o
apoio deles e daria a criança para Belonísia batizar, e assim quem sabe nossos laços
voltariam a ser íntimos. Mas Severo se opôs.
• Eles saem de cena
• Bibiana se senta na cadeira e alisa a barriga, Belonísia a observava.
BIBIANA PRESENTE: conforme o passar dos dias, minha barriga crescia cada vez
mais, por estar magra, ninguém notou. Eu notava a Belonísia cada vez mais triste, mais
solitária, mais quieta. Eu sentia que nosso laço estava cada vez mais longe de ser reatado.
Eu também me sentia sozinha e perdida.

LUZES APAGAM.
PARTE 04 - CENA DO JARÊ

• Pessoal dos bastidores removem o cenário anterior, monta os cenários do Jarê e


levam até instrumentos até o palco, Bibiana e Belonísia se retiram.
(Barulho de tambor enquanto as luzes estão apagadas)
Luzes acendem – luzes vermelhas
• ZECA CHAPÉU GRANDE, começam a tocar os instrumentos (Atabaque, agogo,
tamburim), no ritmo do Jarê.
• O prefeito se fazia presente.
• Antes de todos os outros encantados chegarem, Santa Bárbara começa a girar e
gritar, e para com uma espada apontada para o prefeito, e ele começa a fazer
referências a ela.
SANTA BÁRBARA: Prefeito! Lembra-te da promessa que fizeste a estes trabalhadores?
De construir a escola em Água Negra? Está na hora de cumpri-la.
• O prefeito sem jeito, esboçou um sorriso concordando.
• Eles se afastam e Zeca começa a tocar o tambor novamente.
• Santa Rica Pescadeira se incorpora na Dona Miúda, ela começa a rodar e faz
suspense pegando uma pessoa de cada, até chegar na 3° pessoa que seria a
Bibiana... e fala:
• Enquanto Santa Rita Rodopia de pessoa a pessoa o pessoal começam a cantar:
“Santa rica Pescadeira, cadê meu anzol”...
• Dona miúda estaria com um véu cinza.
DONA MIÚDA: Vai de filho, você ainda correrá o mundo a cavalo, tudo irá mudar e de
seu movimento vira sua força e sua derrota.
Quem está no atabaque dá um grito, (ei), então a pessoa que está rodando cai no chão,
indicando que o santo saiu.
Jarê acaba.

LUZES APAGAM.
PARTE 05 – FUGA DE BIBIANA
Bibiana P: eu estava dobrando minhas roupas no quarto, Belonísia me olhava num ar de
julgamento e daí do quarto. Com toda aquela pressão, eu desabo chorando.
• Na manhã seguinte Sutério aparece na casa de Zeca
Sutério: Zeca! Você ainda não terminou o barramento do riacho? Isso era coisa para
terminar semana passada, Homi! Você ainda precisa organizar os trabalhadores e deixar
a terra limpa para quando a chuva chegar.
• Sutério entra na cozinha e ver algumas batatas.
SUTÉRIO: onde diabos vocês compraram essas batatas doces?
ZECA: Na feira, meu senhor!
SUTÉRIO: Com que dinheiro?
ZECA: Vendemos o resto de azeite de dendê que tínhamos fabricado
• Sutério pega a maior parte das batatas e as põe no saco junto com as garrafas
de dendê.
Sutério: Não se esqueça que parte do que vocês produzem, é da fazenda.
ZECA: Mas as batatas não são produção do quintal nem o azeite, eu plantei em uma terra
seca, cuidei e esperei crescerem para poder vender.
Sutério: Não importa! Ponha-se no seu lugar você não passa de um empregado qualquer
nessa fazenda. Você nasceu escravo e morrerá escravo dessa maldita terra.
• Zeca fica envergonhado e abaixa a cabeça, Sutério vai embora com as batatas e
azeites e a Salu conforta o Zeca.
• Bibiana se ajeita na esteira, vira de um lado para o outro, e começa a refletir.
BIBIANA PRESENTE: Nestas terras, nossas vidas são marcadas pela submissão
constante, pelas humilhações diárias, e pela constante ameaça à nossa comida. Sofremos
com a incerteza de nossa próxima refeição, como se estivessem pilhando nosso alimento
a qualquer momento.
Sem falar daquele fatídico acidente. O acidente que deixou Belonisia sem a língua. Desde
então, a fala lhe foi tirada, e o silêncio tornou-se sua sentença. Sua inocência se
transformou em um fardo, mas é por ela, que enfrentou essa tragédia, que nossa luta pela
liberdade e dignidade é mais feroz.
Minha família depositou suas esperanças em mim para alcançarmos uma vida melhor e
digna. Creio que podemos conquistar nossa liberdade e comprar nossa própria terra, um
lugar onde finalmente seremos senhores de nossos destinos. É esse sonho que nos mantém
fortes, e é esse sonho que um dia nos guiará para longe da servidão.

PARTE 06 – DANÇA
Música: RUBEL, TORTO ARADO

FIM DA PEÇA.

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