UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
Faculdade de Direito
Direitos Fundamentais
Grupo VI
Discentes:
HUO, Nelson
MACOVELA, Plinio
MOIO, Tafadwza Docentes
NAIENE, Charmila Prof.Dr. Antonio
NHAVENE, Héldio Chipanga
PAULO, Joaquim Dra. Zaida Maria
PAULO, Rahema Sultanegy
PINTO, Carvalho Dr. Cuamba
ROMEU, Ana
RAÚL, Selma
SIQUE, Míchel
WADE, José
ZUNDI, Nossipho
Maputo
2023
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
Faculdade de Direito
Direitos Fundamentais
PROVEDOR DE JUSTIÇA
Trabalho a ser apresentado à Faculdade de Direito da Universidade
Eduardo Mondlane como objecto de avaliação na disciplina de
Direitos Fundamentais
Docentes
Prof.Dr. Antônio Chipanga
Dra. Zaida Maria Sultanegy
Dr. Cuamba
Discentes
HUO, Nelson
MACOVELA, Plinio
MOIO, Tafadwza
NAIENE, Charmila
NHAVENE, Héldio
PAULO, Joaquim
PAULO, Rahema
PINTO, Carvalho
ROMEU, Ana
RAÚL, Selma
SIQUE, Míchel
WADE, José
ZUNDI, Nossipho
Maputo, 2023
INTRODUÇÃO
Existem na Republica de Moçambique diversos órgãos com atribuições e funções especificas.
Um órgão do Estado ainda em processo de consolidação é a figura do Provedor de justiça,
uma consagração recente no ordenamento jurídico moçambicano introduzido pela
constituição da República de 2004, tendo a sua operacionalização iniciado em 2012 com a
eleição do primeiro Provedor de justiça em Moçambique.
Objectivos gerais
— Definir o conceito da figura do Provedor de justiça;
— Integrar e definir de acordo com a Constituição vigente a figura do Provedor de justiça;
Objectivos específicos
— Compreender as noções doutrinarias sobre a figura do Provedor de justiça;
— Identificar as funções, competências, âmbitos de actuação e os procedimentos do Provedor
de justiça no contexto moçambicano;
Origem/Surgimento do Provedor da Justiça
A figura do Provedor da Justiça, que tem a principal função de defender os direitos e
interesses legítimos do cidadão1, remonta a figura do Ombudsman que nasceu na Suécia em
1890 e com o passar do tempo foi se espalhando pelo mundo inteiro recebendo várias
designações, tendo em Espanha recebido o nome de «Defensor del Pueblo» ; em França
«Médiateur de la Republique» ; em Itália « Difensore Civico» ; em Inglaterra «
«Fiscal General». Esta designação também chegou à Israel, aos Paises Baixos, à Áustria, à
Zâmbia, à Índia, à Austrália, à Hong Kong ou ao Papua-Nova Guiné. 2 Assim corresponde a
figura do Provedor da Justiça,
O órgão do Estado de titularidade singular, eleito pela Assembleia da
República, por maioria de dois terços dos votos, que tem como função
a garantia dos direitos, liberdades dos cidadãos, a defesa da legalidade
e da justiça dos cidadãos na atuação da Administração Publica.
(GOUVEIA, 2015, P.577).3
O surgimento desta figura em 1809 na Suécia sinalizou o término do regime absolutista,
dando lugar para o florescimento do constitucionalismo guiado pelo princípio da separação
de poderes e o princípio da legalidade.
O princípio da legalidade do Estado de Direito é de extrema relevância visto que orienta a
existência, a organização e o funcionamento dos órgãos e instituições do Estado e de outras
pessoas colectivas do Direito Público, sem o qual, na perspectiva formal, a premissa do
Estado de Direito seria uma mera inutilidade.
Quer isto significar que, cada órgão com existência legal estrutura-se e funciona dentro de um
parâmetro pré-estabelecido por normas-comando, que informam os demais órgãos a não
exercerem simultaneamente as atribuições e competências incumbidas expressamente a um
determinado órgão “incompatibilidades”.
1
MIRANDA, Jorge(1993), Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais, Tomo IV, 2ª Edição,
Coimbra Editora, Lisboa, p.254.
2
NAIFE, Helder Manuel. O Provedor de Justiça em Moçambique, In Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862,
Teresa, ano 27, n. 6839, 23 mar.2022. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/96908. Acesso em 21 set. 2023.
3
MIRANDA, Jorge(2000). Direitos Fundamentais. [s.n] 3ª ed. Coimbra Editora. [s.n]. P. 282
Conceito de Provedor de Justiça
Segundo o Professor Jorge Bacelar Gouveia, o Provedor de Justiça tem como
características fundamentais, nomeadamente, o facto de ser um órgão do estado, o facto de
ser um órgão constitucional e o facto de ser um órgão independente.4 Não obstante, a
Constituição da Republica de 2004, no seu artigo 255, estabelece que “o provedor de justiça
é um órgão que tem como função a garantia dos direitos dos cidadãos, a defesa da
legalidade e da justiça na actuação da administração pública.”5
Contextualização Histórica e analítica do surgimento do Provedor da Justiça no
Ordenamento Jurídico moçambicano
A Constituição da Republica de Moçambique de 2004, constitui a última revisão
constitucional ocorrida em Moçambique. Fora aprovada no dia 16 de Novembro de 2004.
Não se verifica com esta nova Constituição uma ruptura com o regime da CRM de 1990, mas
sim, disposições que procuram reforçar e solidificar o regime de Estado de Direito e
democrático trazido em 1990. A figura ou o órgão Provedor de Justiça não surgiu logo na 1ª
República (CRPM/75) e nem na transição Constitucional (CRM/90). Esta figura tomou vida
no nosso ordenamento jurídico com a consolidação constitucional na CRM de 2004 em que
houve um aprofundamento no texto constitucional, organizou-se todo o texto constitucional
numa nova sistemática, aprofundou-se os princípios constitucionais e aumentou se o leque de
direitos fundamentais. Desta feita integrou-se um novo órgão designado Provedor da Justiça
no Título XII: Administração Publica, polícia e provedor da Justiça, Capítulo III nos
Artigos 255, 257, 258, 259, e 260 da CRM de 2004.6 Mais tarde foi disposta a LJP (Lei do
Provedor da Justiça) com a Lei n. 7/2006 de 16 de Agosto7 onde conseguimos ver o seu
estatuto, procedimentos, organização e funções, num diploma com 39 artigos, repartidos,
sequencialmente, em: Capitulo I– Disposições Gerais; Capitulo II– Estatuto; Capitulo III–
Competências; Capitulo IV– Processo; e Capitulo V– Gabinete do Provedor da Justiça.
Funções do Provedor da Justiça
4
GOUVEIA, Jorge Bacelar(2015), Direito Constitucional de Moçambique, 1 ª edição, Lisboa/Maputo, p. 577-
5778.
5
CF., artigo 255 da CRM de 2004, BR nº 51, Série I, 22 de Dezembro de 2004.
6
Cfr. Os artigos acima da CRM de 2004, BR nº 51, série I, 22 de Dezembro de 2004.
7
Cfr. Lei n 7/2006 de 16 de Agosto (LPJ).
A Constituição da Republica, concebe o Provedor da Justiça como órgão cuja função é de
garantir os direitos, liberdades dos cidadãos, bem como a função de garantir a defesa da
legalidade e da justiça na actuação da administração pública.8
Âmbito da actuação do Provedor de Justiça
De acordo com o artigo 2 da LPJ de 2006 estabelece que “as funções de justiça exercem-se
no âmbito da actividade da administração pública a nível central, provincial, distrital e
local, bem como municipal, das forças de defesa e segurança, institutos, das empresas
públicas e concessionárias de serviços públicos, das sociedades de exploração de bens e de
domínio público”.
Competências do Provedor da Justiça
No contexto jurídico moçambicano, conforme estabelecido pela constituição, o Provedor da
Justiça no exercício das suas funções goza da independência, imparcialidade, estando apenas
alienado a constituição e as leis que vinculam o Estado Moçambicano.
Objecto do legislador ordinário pela lei n. 7/2006 de 16 de Agosto e com assento
constitucional nos artigos 255 a 260, ambos da CRM 2004, o provedor de justiça em
Moçambique possui as seguintes competências:
1. Endereçar recomendações aos órgãos competentes, com vista a correcção dos actos
ilegais ou injustos dos poderes públicos ou melhoria dos procedimentos;
2. Assinalar as deficiências da lei, emitindo recomendações para alteração ou revogação,
assim como sugestões para elaboração de uma nova constituição, ao Presidente da
República, Assembleia da República e ao Governo;
3. Emitir pareceres a pedido da Assembleia da República, sobre quaisquer matérias
relacionada com a sua actividade;
4. Requerer ao Conselho Constitucional a declaração de inconstitucionalidade ou
ilegalidade de normas, ao abrigo da alínea f) do nº 2 do artigo 255 da CRM;
5. Promover a divulgação da legislação relativa aos Direitos, Deveres, liberdades
fundamentais dos cidadãos, bem como, intervir, nos termos da lei aplicável, na tutela
dos interesses difusos, quando estiver em causa as autoridades públicas;
8
Cfr., artigo 255 da CRM de 2004, BR nº 51, série I, 22 de Dezembro de 2004 e art.1 da Lei n 7/ 2006 de 16 de
Agosto (LPJ)
Valor das recomendações do Provedor de justiça
O regime adoptado pelo legislador moçambicano em matérias das competências do Provedor
de Justiça exclui a obrigatoriedade de acatamento de recomendações deste órgão, resultando
por conseguinte, nas recomendações emitidas pelo Provedor de justiça não imporem
vinculações, tratando-se de meras recomendações de cumprimento facultativo, distintamente
com o que ocorre com as decisões judiciais.
PROCEDIMENTOS
De acordo com o articulado da lei nº7/2006, de 16 de Agosto, o processo da submissão da
queixa ao provedor de justiça, observa as seguintes fases:
I. Iniciativa: na qual advém do cidadão queixoso ou do Provedor de justiça;
II. Apreciação preliminar: traduz se na avaliação das queixas que devem prosseguir ou
que devem logo ser indeferidas;
III. A instrução: fase em que os serviços do Provedor de justiça pedem os elementos que
consideram necessários para a decisão, estendendo se até a outros procedimentos
como visitas inspeções ou perquirições, havendo sempre o dever de cooperação por
parte de todas entidades públicas, militares e civis;
IV. Audiência Previa: antes de omitir a sua recomendação, o provedor de justiça ouve o
ponto de vista de entidade objecto da queixa;
V. Decisão: se houver motivo, o Provedor de justiça formula uma recomendação no
sentido de ser evitada ou reparada a injustiça ou a ilegalidade. Mas também, o
procedimento da queixa pode ter o seu termino com o arquivamento, ou pelo
encaminhamento para mecanismos da tutela apropriado, ou por uma mera advertência
nos casos de pouca gravidade;
No decurso do procedimento de queixa, estabelece-se um dever geral de colaboração
com o Provedor de justiça, como ficou evidenciado pelo artigo 259 da CRM
conjugado com o artigo 26 da lei nº 7/2006, de 16 de Agosto. No caso de se verificar
o contrário, “devendo o não acatamento da recomendação ser fundamentado, no qual
resultara em duas respostas por parte do Provedor de justiça”. (NAIFE, 2022, p.3)9
9
NAIFE, Helder Manuel (2022). O Provedor de justiça em Moçambique. Maputo. P.3
— dirigir se ao superior hierárquico do órgão visado, podendo chegar a própria Assembleia
da República.
— Ou, publicar o conteúdo da recomendação.
Procedimento relativo a informação do Provedor de Justiça
O Provedor de justiça presta uma informação anual sobre as suas actividades a Assembleia da
República, devendo deposita-la até dia 30 de marco de cada ano.
Quanto ao conteúdo, a informação anual do Provedor de justiça deve abordar ainda que for
numa sumária, o estado geral da aplicação do direito de petição, baseado nas seguintes
matérias (nº 3 do artigo 27 do Regimento da Assembleia da Republica).
Aspectos específicos sobre petições, queixas e reclamações bem como
diligências e recomendações feitas;
Organização interna e evolução da actividade do Provedor de justiça;
Evolução das condições do acesso ao Direito de petições e reclamações ao
Provedor de justiça em todo o país;
Perspectivas para melhor desenvolvimento das actividades do Provedor de
justiça;
Formulação de propostas e recomendação relativas às matérias tratadas nas
petições, queixas e reclamações.
CONCLUSÃO
A Republica de Moçambique é um Estado de Direito Democrático. Portanto, um dos traços
principais do Estado de Direito Democrático é que ele está em primeiro lugar centrado na
salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos. Isto é, coloca a
pessoa humana no centro das suas atenções, defendendo a dignidade da pessoa humana sem
qualquer discriminação em razão da cor, raça, sexo, etc. o Estado de Direito Democrático
implica necessariamente a existência de uma esfera de liberdades individuais, a violação
dessa esfera de direitos, pode levar o Estado a ser condenado consequentemente a indemnizar
os cidadãos pelos danos causados por si ou pelos seus agentes. Por outro lado, caracteriza o
Estado de Direito Democrático, a existência de efetiva separação e independências de
poderes entre o executivo, legislativo e judicial. Assim, no Estado de Direito Democrático, o
Provedor de justiça concretiza o seu dever constitucional de garantir os direitos e deveres dos
cidadãos, a defesa da legalidade de justiça na actuação da administração pública, através da
recessão de queixas, obtenções dos cidadãos quando estes se sentem lesados por acção ou
omissão da administração pública. Como também, ajuda a construir uma administração
pública assertiva, sensível aos problemas dos cidadãos, contribuindo para uma actuação mas
eficiente e eficaz na prossecução do interesse público. Reforça o princípio de separação de
poderes, quando intervê na fiscalização sucessiva da constitucionalidade das leis e dos atos
normativos do governo, servindo de contra peso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OBRAS DE REFERÊNCIA
GOUVEIA, Jorge Bacelar (2015), Direito Constitucional de Moçambique, 1ª Edição,
Lisboa/Maputo.
MIRANDA, Jorge (1993), Manual de Direito Constitucional: Direitos
Fundamentais, Tomo IV 2 ª Edição, Coimbra Editora, Lisboa.
MACIE, Albano, Direito do Processo Parlamentar Moçambicano, páginas 131, 132,
editora escolar.
MACIE, Albano, lições de Direito Administrativo, paginas 314-315
LEGISLAÇÃO
CRM, 1ª Edição, Colecção Legislação 2, Plural Editores, 2004, Maputo.
Lei n. 7/2006 de 16 de Agosto: Lei do Provedor de Justiça.
PUBLICAÇÕES PERÍODICAS
NAIFE, Helder Manuel. O Provedor de justiça em Moçambique, In Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 27, n. 6839, 23 mar.2022.
SITES DE INTERNET
https/jus.com.br/artigos/96908. Acesso em 21 set. 2023.
https//run.unl.pt/bitstream/10362/121496/1/
Direito_Constitucional_de_Mo_ambique_2015.pdf
Relatório do Trabalho
Todos os membros integrantes do grupo participaram intensivamente na elaboração do
trabalho.