UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
CURSO DE ODONTOLOGIA
Aluno(a): Clara Vitória Oliveira de Paiva
ESTOMATOLOGIA EM ODONTOPEDIATRIA
Assim como os idosos, as crianças debilitam muito rápido.
Para que seja possível fazer um correto diagnóstico, é preciso primeiro saber
diferenciar o normal do patológico, para isso deve-se fazer uma boa anamnese e
exame clínico.
ANAMNESE
Na odontopediatria, a anamnese inclui muitos fatores: características
sociodemográficas da família; saúde geral; higiene bucal diária; hábitos de sucção
(chupeta ou dedo); bruxismo do sono ou vigília.
EXAME CLÍNICO
Alterações observadas devem ser registradas e anexadas as demais informações na
ficha (prontuário).
ALTERAÇÕES NO RECÉM-NASCIDO
As mais comuns são: epúlide congênita; pérolas de Epstein; nódulos de Bohn; cisto
mucoso do recém-nascido; doença de Riga Fede.
ALTERAÇÕES NÃO PATOLÓGICAS DA LINGUA/LÁBIO
As principais são: língua geográfica; freio teto lábio persistente.
1. Língua Geográfica
Apresenta etiologia desconhecida.
É caracterizada pelo aparecimento e desaparecimento de áreas despapiladas (papilas
filiformes) com limites definidos por halos.
O paciente pode relatar ardor na região – lembrando que a criança não verbaliza tão
bem a sintomatologia quanto adultos.
O tratamento consiste na higienização (pelos pais ou com supervisão).
Quando necessário, pode ser feito o uso de corticoides para alivio dos sintomas.
Betametasona – elixir/tópica/0,5mg/5ml. Bochechar 15 ml durante 2 minutos de 2
a 3 vezes por dia, por 15 dias.
OBS: Crianças menores podem não saber bochechar, por isso deve-se sempre perguntar
aos pais se a criança sabe bochechar antes de receitar. Nesses casos, se recomenta que se
utiliza cotonete ou gaze com medicamento para passar no local.
2. Freio Teto Labial Persistente
Consiste na inserção do freio labial superior na papila incisiva após o desenvolvimento
do osso alveolar e erupção dos incisivos.
Tratamento cirúrgico – após a erupção dos incisivos e caninos superiores permanentes
ou quando está fortemente fixado impedindo (gerando grandes diastemas e
diminuindo o espaço para os dentes sucessores) ou dificultando a amamentação.
Porém, para o tratamento cirúrgico ser possível é necessário a colaboração do
paciente.
ALTERAÇÕES CONGÊNITAS
As mais comuns são: anquiloglossia; fissura labiopalatina.
1. Anquiloglosssia
É uma alteração congênita.
Consiste no encurtamento do freio lingual devido à inserção próxima à sua ponta
(aspecto fibroso muscular).
O tratamento deve ser multiprofissional, consiste na realização da frenectomia ou
frenotomia, acompanhada de terapia fonoaudiológica para reposicionamento lingual e
melhora na dicção.
OBS: A frenotomia é apenas uma incisão, só pode ser realizado em bebês muito pequenos.
A frenectomia é o reposicionamento do freio, indicado em casos de indivíduos maiores (a
partir dos 6 anos) que não foram tratados quando bebês devido à grande número de fibras.
2. Fenda Labiopalatina
É uma alteração congênita de origem hereditária, podendo ser uni ou bilateral,
completa ou incompleta, labial palatina ou labiopalatina.
O tratamento é sempre cirúrgico, por meio de uma equipe multifatorial.
OBS: Normalmente, o tratamento cirúrgico é realizado bem precocemente (quando a
criança apresenta no mínimo 10kg).
OBS: O manejo dos pacientes fissurados requer mais atenção e qualquer tratamento
odontológico necessário deve ser feito antes da cirurgia.
LESÕES COM RETENÇÃO DE LÍQUIDO
Os mais comuns são: cisto/hematoma de erupção; mucocele.
1. Cisto/Hematoma de Erupção
Pode ter líquido no seu interior ou possuir coloração azulada e costumam regredir
espontaneamente.
A regressão pode ainda ser estimulada por meio de microtraumas mecânicos (pedir
para o paciente morder o sugador).
A indicação de remoção cirúrgica ocorre principalmente quando o dente já apresenta
2/3 de raiz formada.
A radiografia pode ou não ser indicada, geralmente a indicação é em casos mais
demorados.
2. Mucocele
Lesão cística benigna (pseudocisto – a cavidade não é revestida por epitélio).
Preveniente de glândulas salivares menores.
Consiste em uma vesícula circunscrita, de consistência mole, azulada, translucida e
assintomática.
O tratamento pode ser feito por meio da excisão cirúrgica da lesão (associada ou não a
remoção da glândula envolvida), marsupialização, criocirurgia, laserterapia.
LESÕES ULCERATIVAS
As mais comuns são: úlcera traumática; ulceração aftosa recorrente.
1. Úlcera Traumática
Pode correr por diferentes agentes: mordida, dente mal posicionado, aparelhos
ortodônticos e escovação.
Se apresenta como uma lesão ovoide, com centro esbranquiçado, circundado por um
halo eritematoso e com dor local.
Gera dificuldade na alimentação.
O tratamento consiste na remoção do agente causador e utilização de anestésico
tópico.
Em geral, cicatrizam de 10 a 14 dias.
2. Ulceração Aftosa Recorrente (UAR)
De etiologia desconhecida (fatores pré-disponentes: estresse, condições endócrinas e
alérgicas, baixa imunológica).
Carcaterizada por uma lesão ulcerativa de fundo necrótico, delimitada por um halo
eritematoso inflamatório bem definido, com tamanho de 2 a 5 mm.
Nos casos assintomáticos, a UAR tente a regredir de 12 a 14 dias.
Nos casos sintomáticos pode fazer uso de algumas intervenções terapêuticas:
Solução VASA (manipulada), 3x ao dia antes das refeições
o V – Violeta de genciana a 2% (3ml);
o A – Anestésico (lidocaína 2%) (1,5ml);
o S – Sacarina (edulcorante) (0,5ml);
o A – Água destilada (25%).
Corticoides
o Acetonil-triancilona (Oncilon-A em orabase) – pomada tópica 1mg/g 2 a 3x
por dia, dê preferência após as refeições nos 7 dias;
o Admuc (Extrato fluido de Chamomilla recutila) – pomada tópica 100mg/g,
massagear com a pomada, 2x ao dia, até o desaparecimento dos sintomas.
DOENÇAS INFECCIOSAS BACTERIANAS
As mais comuns são escarbatina, abcesso dentoalveolar e impetigo.
1. Escarlatina
Acomete com mais frequência crianças em idade escolar.
A transmissão se dá por meio da saliva ou secreção nasal, passando por um período de
incubação de 1 a 10 dias.
É provocada pela toxina eritrogênica produzida pelo estreptococo beta-hemofilico do
grupo A.
Se apresenta na forma de uma febre alta repentina, calafrios, dor de garganta, vômitos,
mialgias, debilidade geral, exantema maculopulpar pequeno e difuso que desaparece
sob pressão.
Na região oral, apresenta como sinal patognomônico a língua com aspecto de
framboesa esbranquiçada. Apresenta ainda pápulas eritematosas, maculas
avermelhadas no palato duro, mole e na úvula, tonsilofaringite com amidalas
aumentadas, eritematosas e com secreção purulenta.
O tratamento consiste em antibioticoterapia – Amoxicilina, Azitromicina (para
pacientes alérgicos), Penicilina G Benzatina (IM 600.000UI), Penicilina V (Pen-Ve-
Oral) – associada a analgésico e antitérmico, além de colutórios e complexo B.
2. Abscesso Dentoalveolar
Infecção de origem bacteriana que pode ou não se externalizar.
Muito comum em crianças, devido apresentarem ossos porosos.
3. Impetigo
É uma infecção cutânea superficial, acomete crianças de 2 a 6 anos.
Lesão altamente contagiosa, transmitida por contato direto.
Pode ter presença de crosta amarronzadas.
Classificado como contagioso ou bolhoso.
O diagnóstico é feito por meio de testes microbiológicos do exsudato das lesões.
O tratamento consiste no uso de antibióticos – quadro generalizado (Mupirocina,
Cefalexina, Eritromicina) por 7 dias e antissépticos tópicos e sistêmicos.
DOENÇAS INFECCIOSAS VIRAIS
As mais comuns são sarampo, gengivoestomatite herpética aguda, doença de mão-pé-
e-boca, herpes simples e varicela.
1. Sarampo
É causada pelo vírus de RNA Pertencente à família Paramyxoviridae, e transmitida
por contato direto com gotículas respiratórias.
As manifestações clinicas são febre, conjuntivite, fotofobia, corrimento nasal, mialgia,
mal-estar, dor de garganta e tosse seca, exantema maculopapular confluente que
começa após 4 a 7 dias.
Na região oral, apresenta como sinal patognomônico as manchas de kaplic (manchas
brancas com halos eritematosos na mucosa vestibular próximo a região dos dentes pré-
molares) que precedem os sinais e sintomas clínicos da doença.
2. Gengivoestomatite Herpética
É uma infecção primaria pelo vírus Herpes simplex tipo 1.
As manifestações clínicas são mais vistas em crianças de 1 a 3 anos, porém, em alguns
casos, pode passar despercebida.
As manifestações clinicas incluem: pequenas vesículas agrupadas na região peribucal,
que se rompem e ulceram tornando-se muito doloridas, linfadenopatia, febre,
ulcerações, halitose e rejeição na ingestão.
Na cavidade oral pode ser visto lesões vesiculares que formam crostas, glossite,
gengivite, ulceras com secreção fétida de coloração esbranquiçada e purulenta,
gengivite eritematosa e edemaciada, sangrando com facilidade.
O tratamento consiste na remissão da sintomatologia por meio aplicação local de
anestésico, solução VASA, higiene (soluções crorexidina a 0,12% sem álcool ou
solução fraca de bicarbonato de sódio). Pode ser necessário agentes antivirais,
antitérmicos e analgésicos.
3. Varicela/Catapora
Manifestação inicial do vírus Varicela Zoster.
A contaminação ocorre por contato direto com lesões infecciosas, transmitida a partir
de 2 dias antes do início dos sintomas.
As manifestações clinicas são: temperatura elevada, fadiga lev, exantema
caracterizado pela presença inicial de manchas seguidas por pápulas,
papulovesículadas, vesículas, pústulas e crostas.
Na cavidade oral, o paciente pode apresentar exantema na mucosa bucal e vesículas
dolorosas.
O tratamento consiste em anti-histamínico, aciclovir por via oral, 20 mg/kg, 4x ao dia
por 5 dias).
4. Doença da Mão-Pé-e-Boca
Coxsackie da família Picornaviridae e do gênero Enterovírus.
A transmissão ocorre via fecal-oral, gotícula ou contato material contagioso, e comete
principalmente crianças menores de 5 anos.
Tem inicio abrupto, com febre, perda de apetite, dor de garganta, dor abdominal,
exantema com dimensão de 2 a 8mm, ovais, com vesículas acinzentadas e circundadas
por halo vermelho na mão e pé.
As manifestações orais mais comuns são: exantema caracterizados por erosões aftosas
nas mucosas do palato, língua e jugal, podendo se localizar intraoral ou peribucal.
5. Herpes Simples
Causada pelo Herpes simplex tipo 1.
Nas crianças, é mais comum em menores de 5 anos.
As manifestações clinicas incluem pápulas eritematosas, prurido seguido por vesículas
localizadas no lábio, podendo ocorrer no palato dura e gengiva inserida.
A melhora até a cura dura de 10 a 14 dias.
O tratamento é feito por meio do aciclovir tópico ou sistêmico (atenção as
quantidades), antitérmico, analgésico e pomadas anestésicas (xilocaína viscosa a 2%).
Pode ser indicado ainda a laserterapia.
A dose do aciclovir para crianças menores de 2 anos deve ser de 200mg
(15mg/kg), 4/5 vezes ao dia não excedendo 800mg/dia, durante 5 dias.
DOENÇAS INFECCIOSAS FÚNGICAS
São as mais comuns em crianças. Podendo ser desencadeada por quadros de estresse,
imunossupressão, desnutrição, diabetes e uso prolongado de medicamentos.
As mais comuns são: candidíase e queilite angular.
1. Candidíase
São placas esbranquiçadas, removíveis ou não, leucoplasicas ou hiperplásicas.
Risco de septicemia.
Tratamento consiste em nistatina em suspenção de 500mil a 1 milhão de UI, 3 a 5
vezes ao dia – bochecho associado a uma adequada higienização oral.
A nistatina pode ser usado ainda na forma de gel oral:
Bebês de 6 a 24 meses: aplicar ¼ de colher de chá de gel, 4x ao dia, após a
refeições;
2 anos ou mais: aplicar ½ colher de chá de gel, 4x ao dia, após as refeições.
A nistatina na forma de suspensão é indicada para:
Lactantes: 1 a 2 ml, 4x ao dia;
Crianças e adultos: varia de 1 a 6 ml, 4x ao dia.
Já a nistatina em creme 100.000UI/g, é indicada para aplicação nos mamilos 4x ao dia,
após as mamadas e continuar usando por 7 dias após a remissão.
2. Queilite Angular
Também conhecida como “boqueira”, é caracterizada por inflamação, fissuração e
maceração da comissura labial.
Desencadeada por fatores predisponentes como imunossupressão, acumulo de saliva,
ação irritante de medicamentos, deficiência nutricional, ausência dentaria, doenças
dermatológicas.
Tratamento consiste em higiene e remoção dos fatores predisponentes.
SÍNDROME FEBRIL
Duração de alguns dias intervalados por períodos assintomáticos. Sem sequelas a
longo prazo.
Manifestações clínicas: período febril de 3 a 6 dias, calafrios e suores, dor de cabeça,
muscular e óssea, ausência de infecção respiratória, estomatite aftosa e faringite.
As manifestações bucais consistem em: úlceras arredondadas, pequenas e rasas, com
bordas eritematosas, lesões na língua semelhantes a ulcera aftosa menor, amidalites.
Tratamento consiste em anti-histamínico e antibiótico.