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A Fluência em Leitura - Elo para A Compreensão Leitora

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CAPACITAÇÃO PARA O

ALINHAMENTO DA AVALIAÇÃO
DA FLUÊNCIA EM LEITURA

Josiane Toledo (Analista de Educação do CAEd/UFJF)

A fluência em leitura: elo para


a compreensão leitora

Olá! Meu nome é Josiane Toledo, sou professora, e, neste vídeo, nós vamos falar sobre a importância
da fluência em leitura para o desenvolvimento da compreensão de textos. E quando falamos aqui de
compreensão de textos, estamos nos referindo à capacidade de se extrair sentido daquilo que se lê, ou
seja, de articular as informações presentes no texto com o conhecimento de mundo, construindo o sentido
da leitura. E esse é o objetivo do processo educacional, é aquilo que visamos atingir quando estamos
alfabetizando nossos estudantes: que eles sejam capazes de ler e entender os textos que leem.

A importância da fluência em leitura para o desenvolvimento da compreensão


leitora

Bem, a respeito da compreensão de textos, pelo menos nos últimos cinquenta anos, pesquisadores e
professores têm se debruçado sobre o tema, buscando entender quais os processos cognitivos e as
habilidades envolvidas para a construção da compreensão de textos. E nessa caminhada, nessa trajetória,
buscaram também desenvolver modelos, portanto, que expliquem o desenvolvimento da compreensão de
textos. E um desses modelos é a visão simplificada da leitura. Esse modelo traz uma seguinte fórmula,
dizendo que a compreensão leitora (a compreensão de textos) é o resultado da decodificação de palavras
escritas vezes [x] a linguagem oral, ou seja, a questão da construção do próprio vocabulário receptivo e
produtivo.

1
“Simple View of Reading”
Visão simplificada da leitura

COMPREENSÃO
LEITORA
= IDENTIFICAÇÃO
DE PALAVRAS
ESCRITAS
X LINGUAGEM
ORAL

(GOUGH & TUNMER, 1986)

Esse modelo, um modelo multiplicativo, aponta para o fato de que, para que possamos ter uma leitura
fluente, é preciso compreender a linguagem oral e precisamos identificar sem qualquer esforço as palavras
escritas.

Nós temos, portanto, um modelo multiplicativo. E o que significa ser um modelo multiplicativo? Significa
que a compreensão leitora é o resultado da multiplicação de dois fatores. Nesse caso, os fatores são: a
identificação de palavras escritas e a linguagem oral.

Significa, portanto, que, se um desses fatores multiplicativos for igual a zero, o resultado será zero.

Assim, se um dos fatores multiplicativos


for igual a zero, o resultado será zero:

COMPREENSÃO
LEITORA
= IDENTIFICAÇÃO
DE PALAVRAS
ESCRITAS
X LINGUAGEM
ORAL

0 = 1 X 0

Isso quer dizer que, se um desses fatores, a decodificação de palavras escritas ou a linguagem oral, for igual
a zero, vai ser muito difícil, praticamente impossível, de se construir a compreensão, o sentido daquilo que se
lê. De um modo semelhante inverso, quanto maior for um dos fatores multiplicativos, maior será o resultado
desse processo, ou seja, mais hábil se torna a leitura do texto escrito.

Bom, quando falamos aqui nesse modelo, ele traz a decodificação de palavras escritas, nós estamos nos
referindo a um processo que não ocorra de forma silabada, ou seja, que ele não exija um grande esforço
cognitivo para o desenvolvimento dessa tarefa, desviando a energia que deveria ser empregada para a
compreensão dos textos. Nesse sentido, o processo de automatização da decodificação é essencial
para a compreensão dos textos escritos. Vamos, portanto, caminhando para o conceito de fluência e sua
importância no processo do desenvolvimento de leitores hábeis.

2
Como eu disse anteriormente, nos últimos cinquenta anos, diversos pesquisadores vêm discutindo o papel
da fluência na aprendizagem da leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental. E esses pesquisadores
apontam para alguns aspectos que estão envolvidos nesse processo: a velocidade com o que se lê; a
precisão, a exatidão com que se lê — então, se associarmos a ideia de velocidade e precisão caminhamos
para o sentido de automaticidade da decodificação —; e a prosódia, que envolve os processos relacionados,
por exemplo, à entonação da leitura, à pontuação e às pausas de sentido que são dadas quando se lê.

Nesse sentido, é fundamental compreender o papel da fluência nos processos de alfabetização como o
efetivo elo entre a decodificação e a compreensão. Isso significa que nós não podemos confundir fluência
com decodificação, mas isso é primordial, ou seja, é essencial que a decodificação esteja consolidada
para que se possa avançar no desenvolvimento de uma leitura fluente e hábil, isto é, uma leitura que não
exija esforço cognitivo nos processos de reconhecimento de palavras, mas sim um esforço voltado para as
estratégias de construção dos sentidos do texto e no texto.

Um outro pesquisador, Rasinski, da ênfase para a leitura nesses processos de alfabetização dizendo, portanto,
que ela é realmente esse elo entre a decodificação e a compreensão de textos. Repetindo novamente:
nós não podemos confundir fluência com decodificação. A fluência é o elo entre esse processo inicial das
aprendizagens da alfabetização com aquilo que buscamos atingir, que é a compreensão, a construção de
sentido dos textos escritos.

E, pensando nisso, podemos colocar uma pergunta: o que os bons leitores fazem?

E diante dessa pergunta, para entendermos um pouco melhor o que esses bons leitores fazem, vamos ver o
exemplo de um texto que começou a circular na internet no ano de 2003 e surpreendeu pesquisadores do
Departamento de Ciência Cognitiva, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, citada como autora do
estudo presente.

De aorcdo com uma psqueisa da


Unvireisadde de Cmabrigde, não ipmrota a
odrem em que as lteras em uma plavara
etsão, a úcina cisoa ipmotratne é que a
piremira e a útimla ltreas etseajm no lguar
ctreo. O rseto pdoe etasr uma ttaol
bnauguça e vcoê adnia pdoreá ler sem
perolbmea. Itso pruqoe a mtene haunma
não lê cdaa lreta idnvidailuemtne, mas a
pvrlaaa cmoo um tdoo.

Com certeza vocês conhecem, já viram circulando esse texto. Isso é interessante, porque, na verdade, não
era resultado de uma pesquisa, porque os pesquisadores da Universidade de Cambridge desconheciam
isso, mas, de uma certa maneira, aponta sim para algo que é essencial. Ao nos depararmos com esse texto,
cada um de nós é capaz de ler e compreender o que está posto aqui.

3
Por que isso é possível? Porque nós somos leitores experientes, nós somos leitores que já vencemos a
etapa de decodificação e reconhecimento das palavras. Nós pulamos, portanto, essa etapa da leitura dos
fonemas. Nós identificamos a silhueta da palavra. Isso não tem a ver, como está colocado no texto, com
a primeira ou a última letra. Isso significa que, mesmo com as letras embaralhadas, o nosso cérebro sabe
reconhecer qual a palavra conhecida mais próxima daquela bagunça. Então, nós somos capazes de ler e
avançar nesse processo e construir o sentido desse texto.

Essa discussão agora nos encaminha para outro modelo, desenvolvido em 2001, conhecido como modelo
ou gráfico de cordas, o qual nós vemos na ilustração a seguir:

Modelo ou gráfico de cordas


Compreensão
da linguagem
Conhecimento prévio
(fatos, conceitos, etc.)
Vocabulário
(extensão, precisão, links, etc.)
Estruturas da língua cada vez mais estratégico
(sintaxe, semântica, etc.) Leitura hábil: execução fluente e coordenação
do reconhecimento de palavras e
Raciocínio verbal compreensão de textos
(Inferência, metáfora, etc.)
Conhecimento de letramento
(conceitos do impresso, gêneros, etc.)

cada vez mais automático


Reconhecimento
das palavras
Consciência fonológica
(sílabas, fonemas, etc.)
Decodificação
(princípio alfabético, correspondência fonema-grafema)
(SCARBOROUGH, 2001)
Reconhecimento visual
(de palavras familiares)

Esse gráfico traz, portanto, as habilidades essenciais relacionadas ao reconhecimento de palavras e à


compreensão da linguagem, o que já havia sido apresentado lá no modelo da visão simplificada de leitura.
Mas, nesse caso, acontece um detalhamento das habilidades relacionadas a essas duas dimensões:
reconhecimento de palavras e compreensão da linguagem. Portanto, traz os muitos elementos que
contribuem para uma leitura qualificada.

Nós podemos, portanto, observar, nesse gráfico, que nós temos a importância da automatização. Então,
no sentido logo abaixo, vamos começar pelo campo de baixo, que é o reconhecimento das palavras,
que diz respeito à dimensão da consciência fonológica, à capacidade de decodificar e de reconhecer
visualmente as palavras. Essas habilidades têm que ser cada vez mais automáticas, ou seja, não devem
exigir esforço do leitor para realizar a tarefa envolvida no reconhecimento de palavras. Portanto, a energia
cognitiva ela deve voltar para a dimensão da compreensão da linguagem, que envolve o conhecimento
prévio (de fatos, de conceitos); do vocabulário (que diz respeito à extensão desse vocabulário, à precisão do
vocabulário, à capacidade de estabelecer links desse vocabulário); no sentido das palavras, da estrutura da
língua (no que diz respeito à sintaxe, à semântica, à morfologia); ao raciocínio verbal (que é extremamente
importante a capacidade de fazer inferências, reconhecer e construir sentido de metáforas, por exemplo);
além de essencial, porque nós estamos falando aqui da leitura, da compreensão de textos escritos, que é
o conhecimento de letramento, ou seja, os conceitos de impresso no que diz respeito aos gêneros e às
tipologias textuais que circulam em sociedade.

4
E essa dimensão tem que ser cada vez mais estratégica, porque o esforço, como eu disse desde o início de
todo o processo de compreensão, deve ser voltado para a estratégia de extrair sentidos do texto. Então,
automatizando-se os processos de reconhecimento de palavras, caminhamos no sentido de direcionamento
de energia para os processos cognitivos envolvidos na compreensão do texto. Isso significa que o resultado
que nós teremos é uma leitura fluente, coordenada, com reconhecimento de palavras e compreensão
daquele texto sem exigir esforço do sujeito leitor.

Destacamos, assim, o papel fundamental da automatização dos processos de decodificação. Por isso, a
importância da fluência em leitura, pois alguns leitores podem até ser capazes de decodificar, mas não
terem uma leitura fluente, porque ainda não fazem de modo automático, exigindo, como eu disse, um esforço
realizando uma leitura silabada, comprometendo a construção do sentido daquilo que é lido, porque a
energia está toda voltada para processos que deveriam ser automáticos, impedindo, portanto, que os
processos cognitivos, a extração de sentido — que é muito mais importante — ela fique prejudicada, fique
comprometida. Assim, pouca fluência resulta em uma leitura com baixa compreensão ou mesmo sem
qualquer compreensão daquilo que se lê.

Vejamos, por exemplo, o fragmento de texto a seguir para que possamos compreender o que significa isso
na prática. Bom, vou fazer aqui uma leitura de um trechinho de um texto como simulando, como se fosse a
leitura de alguns estudantes. Imaginemos o seguinte:

O leão do lago

Certa vez, um leão que caminhava pelas montanhas sentiu muita sede.
Encontrou, então, um lago de águas espelhadas e se aproximou.
Quando se abaixou para beber, deu um salto para trás ao ver seu reflexo
nas águas. Então disse para si mesmo: “ Esse lago tem um dono! Vou ter
que tomar muito cuidado com ele.”
A sede aumentava e o leão resolveu se aproximar de novo do lago,
acreditando que o dono teria ido embora. Mas quando olhou nas águas, viu
o animal e saiu correndo para as montanhas. Lá se escondeu em uma
caverna para pensar no que faria.
O sol estava quente, não havia outras fontes de água naquele lugar e o
leão não aguentava tanta sede. Resolveu então dar a volta no lago e beber
na outra margem.

“O le-le-le... o le-le-ão d-d-do le-é-é... la-la-la-lajo... lajo... lago. Cer...cer... certa vez, um leão que ca-ca-
caminha... caminha... caminhava pe-pe-pelas mon... z...z...zen... sentiu muita zede”.

Vamos ver agora uma outra leitura:

“O leão do lago. Certa vez, um leão que caminhava pelas montanhas sentiu muita sede. Encontrou, então,
um lago de águas espelhadas e se aproximou”.

5
Pensemos nessas duas leituras. A primeira leitura é hesitante, silabada, sem observar as pausas, entonação
das frases do texto, sem precisão na pronúncia de alguns fonemas no contexto em que eles aparecem.
Já a segunda leitura é fluída, firme, sem qualquer hesitação, obedecendo às pausas de sentido do texto e
a entonação. Se considerarmos, hipoteticamente, que se trata da leitura de dois alunos distintos, o aluno
que faz a primeira leitura, exemplo de uma leitura que exige muito esforço de decodificação, não há uma
automatização nesse processo, o que vai comprometer a compreensão do texto, pois há toda uma carga da
energia cognitiva voltada para o reconhecimento das palavras, voltada para o reconhecimento das letras e
dos sons das letras, ou seja, está focada nos fonemas e, quando muito, nas palavras, no conceito de palavras.

Considerando a segunda leitura, o aluno que a realizou já automatizou o processo de reconhecimento de


palavras, o que libera energia cognitiva para os processos de compreensão textual, que, como vimos no
gráfico de cordas, são mais estratégicos e mais complexos. Portanto, um aluno que fizesse uma leitura de
modo semelhante à segunda que ouvimos agora revelaria que é um leitor fluente, no sentido de que ele
demonstra precisão na decodificação, automaticidade no reconhecimento das palavras e a prosódia.

Ao nos depararmos com estudantes que realizam uma leitura como essa hipotética segunda leitura,
observamos que teremos conseguido atingir o objetivo do trabalho com a leitura, que é extrair os sentidos
do texto, então estaremos diante de um leitor hábil.

Após essa discussão dos modelos que buscam explicar o desenvolvimento da compreensão leitora,
apontando as habilidades envolvidas nesse processo, poderíamos nos perguntar: que estratégias podem
ser empregadas para o desenvolvimento da fluência em leitura?

O primeiro ponto que devemos considerar é que os alunos precisam de um modelo de leitor, um modelo de
leitura oral, ou seja, de leitura em voz alta. E esse papel modelar deve ser assumido pelo professor, pela
professora. Além disso, é fundamental que atividades de leitura oral ou em voz alta pelos alunos sejam
realizadas de diversas maneiras, como: leitura em coro, leitura em duplas. Isso é extremamente importante
nessa construção desse sentido oral. Deve-se, também, promover atividades de leitura silenciosa, orientada e
apoiada pelo professor/professora, assim também como a execução de atividades de leituras dramatizadas,
ou seja, em resumo, é fundamental que sejam oferecidas muitas oportunidades para a leitura em sala de aula.

Para encerrar, coloco em destaque um outro ponto extremamente importante em todo esse processo,
pois podemos ter um leitor modelar, atividades variadas, mas um ponto crucial em todo esse processo é a
necessidade de se promover sempre uma relação positiva com a leitura.

Pensar em fluência e leitura não se limita apenas a uma questão de velocidade, mas sim a relação que essa
velocidade ou, melhor dizendo, que o impacto que a automaticidade dos processos de reconhecimento de
palavras na capacidade do sujeito empregar energia para compreender o que está lendo. Isso significa que
devemos sim pensar na fluência e leitura, retomando o que eu já disse um pouco mais atrás, como o elo
efetivo entre esses os processos de decodificação com a compreensão de textos.

Nessa perspectiva, novamente, devemos pensar o impacto que essa automaticidade tem. E novamente
devemos entender que todo o esforço deve-se voltar para que o sujeito, para que o aluno seja capaz de
extrair sentido daquilo que lê.

Desejo a todos um excelente trabalho!

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