Book M-Learning
Book M-Learning
Tecnologias e Aprendizado
em Dispositivos Móveis
(M-learning)
São Paulo
2016
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL
A663t
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-8456-162-9
Artigos: Ademir Cenati, Carlos Fernando de Araujo Jr., Eduardo Jesus Dias e Marcos Andrei Ota
Revisão textual: Claudio Brites e Márcia Ota (conteúdo didático) e Selma Aparecida Cesarin (artigos)
SUMÁRIO
CONTEÚDO DIDÁTICO
27 Unidade II
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem
para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
49 Unidade III
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis
na Educação
67 Unidade IV
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis
na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
LEITURA COMPLEMENTAR
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na
sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Determine,
por exemplo, um dia e horário fixos. Conserve também seu material e local de estudos
sempre organizados.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação
saudável pode proporcionar um melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade há leituras indicadas, dentre elas: artigos científicos, livros,
vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso,
você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que
ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço
de troca de ideias e aprendizagem.
ine
Determ io
ár
um hor
a
fixo par
.
estudar
Seja
Nun origina
ca p l!
trab lagie
alho
m p re as al s.
se ri
roveite de Mate
Ap ações
c ar.
indi lement
p
Com
4
Objetivos de aprendizagem
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
Unidade I
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
Unidade II
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
Unidade IV
» Apresentar um case de uso dos dispositivos móveis na educação, especificamente na área de Biologia;
» Estudar o detalhamento do processo e resultados apresentados;
» Discorrer sobre o resultado do trabalho de Doutorado de Almeida (2016).
5
I
Análise da evolução do Mobile Learning
(M - learning) aspectos históricos,
tecnológicos e culturais
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Introdução ao tema
Nesta unidade, discutiremos a evolução da tecnologia e seu uso para o aprendizado.
Para isso, consideraremos os aspectos históricos, sociais e culturais. Enfocaremos, em
mais detalhe, o movimento do mobile learning (aprendizado por meio de dispositivos
móveis), considerando que o m-learning está presente em grande parte da sociedade
atual e, em decorrência disso, tem transformado nossos hábitos diários, nossas relações
sociais, as atividades de trabalho e, principalmente, as atividades que envolvem o ensinar
e o aprender.
Assim, é importante para todos aqueles que atuam na educação (professores, diretores
e estudiosos do assunto) conhecer e compreender:
· o potencial das tecnologias móveis para promover o ensino e aprendizagem;
· o desenvolvimento do potencial tecnológico ao longo do tempo; e
· as tendências tecnológicas e suas implicações sociais e culturais.
Vale destacar que esta unidade está dividida em quatro partes, conforme apresentado
esquematicamente na Figura 1:
Conceitos de Evolução
M-learning Tecnológica
Unidade 1
Análise da evolução do mobile
learning (m-learning): aspectos
históricos, tecnológicos e culturais
Aspectos Tendências do
Tecnológicos, uso das tecnologias
Sociais e Culturais na Educação
8
Na primeira seção, trataremos de alguns conceitos emergentes do m-learning.
Buscaremos responder a questões como: “O que quer dizer m-learning?”, “Quais os
conceitos contemporâneos do m-learning?”.
Conceito 1
9
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Conceito 2
Conceito 3
Conceito 4
Conceito 5
[...] o aprendizado por meio de múltiplos contextos, com interações com conteúdo e
sociais, usando dispositivos eletrônicos de uso pessoal”. (CROMPTON, 2013)
10
A Evolução Tecnológica
Nesta evolução tecnológica, observamos que desde 1972 havia registros do desejo de
termos um dispositivo computacional nas dimensões de um caderno ou uma folha (veja a
ideia do Dynabook). O avanço da tecnologia permitiu velocidade de processamento cada
vez maior e interfaces humano-computador gradativamente mais simples e amigáveis.
No paralelo desse desenvolvimento, os educadores sempre se interessaram por aplicações
diretas dessas tecnologias na Educação (microwrites in infant schools, Projeto ACOT,
PDAs in Classroom, etc), além de estudos e pesquisas específicos.
11
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Em tempos mais recentes, em 2011, nosso grupo de pesquisa da Universidade Cruzeiro
do Sul (Programa de Mestrado e Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática) iniciou
o que chamamos de Projeto Tablets na Educação Básica (PTEB). Esse projeto tem tido
grande sucesso e desdobrou-se em pesquisas no âmbito de mestrado e doutorado no
Brasil/exterior. Dado o sucesso, seu objetivo inicial foi ampliado para abarcar além da
educação fundamental, o ensino médio, a educação profissional e mais recentemente a
educação de jovens e adultos. Além disso, foi institucionalizado e hoje faz parte das escolas
que compõem a Cruzeiro do Sul Educacional.
Com os resultados obtidos nestas diferentes iniciativas que compõem esta linha do tempo,
foi possível termos mais conhecimento e experiência para irmos em direção do futuro.
12 Prim
IAD
94 2002 2004
uso de Primeiro ambiente Primeiros projetos Primeiro jogo
Primeira conferência
dores de aprendizagem de aprendizagem de realidade
WMUTE.
s na de projetos. móvel Europeus. aumentada virtual.
aula.
Surgimento da
Primeiro livro de
realidade aumentada Primeira conferência
autoria de
01 baseada em jogos de
aprendizagem móvel.
mLearn.
aprendizagem móvel.
o de PDAs
locais. 2005 2007 2008
acordo
dores de
óveis. Primeiro livro IAmLearn é fundada. Primeiros aplicativos
editado em de aprendizagem
aprendizagem móvel. Maior projeto móvel.
de aprendizagem
Primeira conferência móvel até agora.
IADIS aprendizagem
móvel. Primeira emissão
do IJMLO.
13
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Um marco nesta linha do tempo é o ano de 1972, com o Dynabook, concebido por
Alan Kay do grupo de pesquisa em aprendizagem do Laboratório de Palo Alto – Centro
de pesquisas da Xerox, que propôs um computador no formato de livro (Figura 3) para
ser usado em simulações para aprendizagem. (PARSONS, 2014).
14
Com a evolução da tecnologia ou de
seu potencial, temos os primeiros tra-
balhos indicando o uso dos dispositivos
móveis para educação pessoal, com
vistas ao aprendizado ao longo da vida.
(SHARPLES, 2000).
15
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
16
Uma nova fronteira que se desponta é a das
tecnologias vestíveis – weareble technologies –
dentre as quais podemos destacar o Google
Glass (Figura 9), e os “relógios” do tipo Galaxy
Gear e Apple Watch. Esta tendência aponta
para que os dispositivos façam parte integrante
de nosso corpo, como uma roupa, um óculos ou
um “relógio”. Os avanços neste seguimento
parecem levar os recursos da computação ubíqua
para todos os itens do nosso corpo, integrando
a interface com o homem.
Figura 9: Imagem ilustrativa do Google Glass
Fonte: iStock/Getty Images A linha de tempo dado por Parsons (2014)
apresenta diversos marcos do desenvolvimento
do m-learning. Por isso, indicamos aos interes-
sados em se aprofundar no assunto que leiam o
artigo de Parsons (2014).
Para atuarmos de forma prospectiva, devemos ter uma visão da direção dos possíveis
usos das tecnologias no futuro. Os relatórios do NM Horizon Report são de grande
importância neste contexto (JOHNSON et al., 2015). Com isso, apresentamos abaixo
uma figura adaptada (Figura 10) que traz uma síntese da evolução da tecnologia na
educação (em especial, a educação superior) para os próximos cinco anos.
17
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
18
Em um esquema mais geral, considerando tecnologias e contextos também mais
amplos, tais como a educação básica, fazemos uma síntese das tecnologias atuais e
emergentes no contexto da educação por meio da Figura 11.
Assim, a gamificação pode ser considerada como uma abordagem, tratando as ativi-
dades educacionais com base nesta perspectiva, ou mesmo usando recursos de jogos e
desenvolvimento de jogos educativos.
19
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Aspectos Tecnológicos, Sociais e Culturais
A sociedade atual está imersa na tecnologia. Os dispositivos móveis (smartphones,
tablets, netbooks, entre outros) permitem processamento e conectividade em
praticamente qualquer tempo (anytime) e local (anywhere). Vivemos o momento da
computação ubíqua e pervasiva. Considerando que o aprendizado pode se dar formal
e informalmente, em ambientes escolares e outros ambientes, o conceito de u-learning
(ubiquos learning) ganha cada vez mais potencialidade nos dias de hoje.
Na Figura 12, apresentamos um panorama desta realidade que encontramos nas ruas,
nas famílias, na educação e no trabalho. A redução das dimensões, interfaces amigáveis e
poder de processamento crescente associado à conexão de alta velocidade tem feito com
que os dispositivos móveis tenham um papel essencial na vida cotidiana da sociedade atual.
Sendo os dispositivos e os recursos tão presentes nas vidas das pessoas, eles permitem
acesso virtual a recursos que, muitas vezes, não existem presencialmente em todas as
localidades. Um grande exemplo é o acesso a livros.
O próprio relatório da Unesco destaca que a média de bibliotecas por população nos
países da África como a Nigéria pode chegar a uma biblioteca para cada 1,3 milhão de
habitantes, enquanto nos países do Reino Unido é de cerca uma biblioteca para cada
15.000 habitantes. Essa desigualdade pode ser equilibrada pelo acesso virtual a livros,
jornais e revistas por meio dos dispositivos móveis.
20
Figura 13: Alguns dados sobre o uso de Celulares no Mundo
(Fonte: Unesco (2016))
21
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
O estudo da Unesco indica também que os dispositivos móveis cumprem um importante
papel no acesso à informação dos países da África e Oriente Médio estudados (WEST e
EL, 2014). Os dados apontam que o maior uso dos dispositivos móveis é realizado pelas
mulheres (207 minutos por mês), os homens fazem uso em 33 minutos por mês. Um terço
das mulheres utilizam os dispositivos móveis para lerem histórias para seus filhos.
Essas questões poderão ser respondidas pela leitura do material teórico, assistindo às
videoaulas e pelo acesso ao material complementar (vale a pena acessar e ver os vídeos
e textos indicados!!!) e também pelas referências bibliográficas da Unidade.
22
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Bridging Our Future Intel
Através da conexão entre educação com tecnologias inteligentes, a Intel concede um
vislumbre do futuro do ensino fundamental e ensino médio.
https://youtu.be/Aclw-_y5fUc
Conheça o Aluno Multimídia
Vídeo da Blackboard sobre o perfil de uma nova geração de jovens que aprende usando
a tecnologia.
https://youtu.be/O15QPW9Iu-0
Projeto Tablets
Projeto do Colégio Alto Padrão e da Cruzeiro do Sul Virtual, com a proposta de integrar
tablets à sala de aula.
http://www.kaltura.com/tiny/vzi6t
Escolas debatem se usar tecnologia em sala de aula ajuda ou atrapalha alunos
Matéria do Fantástico sobre o uso das novas tecnologias nas escolas.
http://goo.gl/0U8Aeb
23
Análise da evolução do Mobile Learning (M - learning) aspectos históricos, tecnológicos e culturais
UNIDADE
I
Referências
ARAUJO JR, C.F. e SILVEIRA, I.F. (Org.). Tablets no Ensino Fundamental e Médio:
princípios e aplicações. São Paulo: Editora Terracota, 2014 (edição digital).
ARAUJO JR., C.F., SILVEIRA, I.F., CERRI, M.S.A. Os Tablets no Ensino Fundamental
e Médio: estudos e análises na direção de novas metodologias e estratégias de ensino e
aprendizagem. In: ARAUJO JR, C.F. SILVEIRA, I.F. Tablets no Ensino Fundamental
e Médio: princípios e aplicações. São Paulo: Ed. Terracota, 2014 (edição Digital).
CROMPTON, H. Mobile learning: new approach, new theory. In: BERGE, Z. L.;
MUILENBURG, L. Y. (Ed.). Handbook of mobile learning. New York: Taylor &
Francis, 2013.
JOHNSON, L., ADAMS BECKER, S., ESTRADA, V., and FREEMAN, A. NMC
Horizon Report: 2015 Higher Education Edition. Austin, Texas: The New Media
Consortium, 2015.
RIEGER, Robert; GAY, Geraldine. Using mobile computing to enhance field study. In:
Proceedings of the 2nd international conference on Computer support for
collaborative learning. International Society of the Learning Sciences, 1997.
p. 218-226.
24
UNESCO. Infográfico. Reding in the Mobile Era. Disponível em: <http://www.
unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/ED/pdf/infographic-FINAL.pdf>
Acesso em 18.04.2016.
WEST, Mark; EI, Chew Han. Reading in the mobile era: a study of mobile reading
in developing countries. UNESCO, 2014. Disponível em:<http://www.unesco.org/
new/en/unesco/themes/icts/m4ed/mobile-reading/reading-in-the-mobile-era/>
Acessível em 18.04.2016.
25
II
Estudo e Análise das Teorias de Ensino
e de Aprendizagem para Suporte ao uso
dos Dispositivos Móveis
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Visão Geral da Unidade
Os principais assuntos desta unidade estão representados no esquema abaixo:
Aprendizagem
Situacional (Situada)
Suporte para o Ensino
e Aprendizado
Aprendizagem
Colaborativa
Figura 1 – Representação sintética dos temas tratados nesta Unidade e de sua organização
28
Leitura Obrigatória
A Integração do Ensino, Conhecimentos Específicos, Tecnologia
e Aprendizagem
Uma das primeiras perguntas realizadas pelos professores iniciantes nos cursos
de formação para uso das tecnologias digitais na educação é: “Como posso utilizar
as tecnologias na aprendizagem de forma adequada – eficaz e eficientemente?” Os
professores mais seniores ou experientes, mas que ainda não têm experiência com
as tecnologias digitais, algumas vezes olham tal tecnologia com alguma desconfiança,
certamente, como uma forma de prevenção à tecnofilia, muito comum em nossos
dias. Há, ainda, aqueles que dizem que a tecnologia é uma mera “ferramenta” e que o
importante, o fundamental, são os objetivos educacionais.
Assim, não se trata de tecnofilismo ou tecnofobia, mas do uso das tecnologias digitais
de forma consciente, contextualizada e alinhada com os objetivos de conteúdo específico
e com aspectos pedagógicos adequados ao contexto.
Embora o tema possa parecer trivial, de fato não o é. Inúmeros trabalhos e pesquisas
procuram aplicar as tecnologias específicas em áreas e domínios também específicos.
Tal fenômeno, necessário, promove a diversidade e a geração de conhecimento,
contudo, não possibilita um framework, ou uma referência conceitual para docentes que
queiram utilizar a tecnologia na educação, ou mesmo para os programas de formação
de professores nas diversas áreas do conhecimento.
29
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Na verdade, o modelo TPCK procura conceituar os elementos que compõem o
trinômio, componentes do cenário e sua relação entre seus conhecimentos: tecnológico,
pedagógico e do conteúdo. A Figura 2 apresenta graficamente tal concepção do modelo:
Conhecimento Conhecimento
do Conteúdo Pedagógico
Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo
C P
Conhecimento Conhecimento
Tecnológico do Conteúdo Pedagógico da Tecnologia
T
Conhecimento
Pedagógico, Tecnológico
e de Conteúdo
Conhecimento
Tecnológico
30
Em linhas mais práticas, mas ainda gerais, Harris e Hofer (2009) identificaram que as
atividades docentes para o planejamento – proposta – de disciplina/curso/conteúdo devem:
· Conter a escolha dos objetivos de aprendizagem;
· Apresentar decisões pedagógicas relacionadas à natureza da experiência
de aprendizagem;
· Apresentar a seleção, o sequenciamento e a composição de tipos de atividades
para promover os objetivos de aprendizagem;
· Selecionar estratégias de avaliação formativa e somativa que revelem “como”
e “o que” os estudantes estão aprendendo;
· Selecionar ferramentas e recursos que poderão melhor ajudar os estudantes
a se beneficiarem da experiência de aprendizagem.
Observa-se que, embora essa linha de atuação possa ser utilizada sequencialmente,
pode também ser interativa para tirar melhor proveito das inter-relações da tecnologia
com a formulação das atividades e avaliações, por exemplo.
Praticar
Investigar
Aplicar
Criar
Dispositivos Móveis Objetivos de Aprendizagem
Computar Resolver Problemas
Comunicar e Colaborar
Criar
Figura 3 – Integração entre características dos dispositivos móveis, atividades e objetivos de aprendizagem
Fonte: adaptada de Sawaya e Putnam (2015).
31
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Nessa figura observamos a distribuição das principais etapas apresentadas no
texto para a escolha e inserção da tecnologia no currículo. Observe que o esquema
apresentado na Figura 3 destaca os objetivos de aprendizagem, os tipos de atividades,
nesse caso bastante genéricas, e as características dos dispositivos móveis destacadas
como: computar, consumir – informações, conteúdos etc. –, capturar, comunicar e
colaborar e criar. Cada uma dessas características, se utilizadas de forma isolada ou
combinadamente, podem ser relevantes na composição das atividades para se atingir os
objetivos de aprendizagem.
Ativitades que
promovem o Ativitades em que os Ativitades que
aprendizado estudantes ativamente promovem o
quando mudam o constroem novas ideias e aprendizado por
comportamento conceitos baseados em meio de interações
dos estudantes em conceitos prévios e novos sociais
determinadas ações
Informal Colaborativa
Suporte/
(Aprendizagem ao
Recurso
longo da vida)
32
Na abordagem comportamentalista o aprendizado está ligado a ações de reforço e de
associação entre um estímulo particular e uma resposta. No caso do uso da tecnologia
na educação, as tecnologias e seus recursos podem ser utilizados como estímulos
e contribuir para auxiliar o aprendiz na resposta. Em geral, os sistemas baseados
em respostas ou o envio de conteúdos por meio de mensagens de texto podem ser
considerados, analisados isoladamente, como sistemas que se utilizam de abordagem
comportamentalista, visando, a partir de um estímulo e da consequente resposta do
aluno – por meio de uma programação específica –, definir mecanismos de reforço e
associação. Muitos cursos de língua estrangeira apresentam esse tipo de abordagem.
No enfoque construtivista a aprendizagem é um processo ativo, onde os aprendizes
constroem novas ideias ou conceitos baseados no próprio conhecimento discente, passado
e presente, de modo que os aprendizes são encorajados a construir o conhecimento
ativamente. Exemplos de uso construtivista são jogos e simulações.
Um grande destaque no contexto dos dispositivos móveis é dado à abordagem
de aprendizado situado ou contextualizado, inicialmente apresentada por Lave
e colaboradores (1991). Nessa abordagem o aprendizado não é meramente a aquisição
de conhecimento por indivíduos, mas o processo de participação social. Há três outras
metodologias que no contexto do aprendizado situado e contextualizado são utilizadas no
âmbito do aprendizado com dispositivos móveis: aprendizagem baseada em problemas
(JOFRE; CONTRERAS, 2013; BOROCHOVICIUS; TORTELLA, 2014), aprendizagem
baseada em casos (MONTANHER, 2012) e aprendizagem contextualizada (YANG,
2006; FESTAS, 2015).
Outra abordagem que tem ganhado cada vez mais espaço em tempos modernos,
principalmente como o movimento das tecnologias digitais, é a aprendizagem colaborativa,
a qual pode se dar por meio de projetos gerais e específicos em sala de aula e fora desta.
As tecnologias possibilitam diversos recursos à aprendizagem colaborativa: editores de
textos colaborativos, planilhas eletrônicas colaborativas, wikis, blogs, entre outros.
A aprendizagem ao longo da vida – ou lifelong – é cada vez mais uma nova realidade;
além disso, a ubiquidade e pervasividade da tecnologia permitem que sempre aprendamos
além dos espaços formais. Desse modo, a abordagem de aprendizagem informal se
mostra cada vez mais importante. Com o uso das tecnologias digitais, espaço e tempo
de aprendizagem foram alterados, de modo que atualmente a aprendizagem se dá em
contextos mais variados e informais.
A concepção das tecnologias digitais como um suporte ou recurso para apoiar as
atividades acadêmicas e de aprendizagem são significativamente importantes. As
tecnologias digitais possibilitam uma série de recursos de produtividade para a área
acadêmica e de suporte para atividades de ensino do professor – programas e aplicativos
de apresentação, mapas mentais e conceituais, ambientes virtuais de aprendizagem,
portfólios, recursos para avaliação – e de aprendizagem para o aluno – mapas conceituais,
mapas mentais, portfólios, laboratórios virtuais, entre outros. Embora essa abordagem
seja importante, a integração da tecnologia dentro de um contexto de aprendizagem
e apoiando ou promovendo objetivos específicos de aprendizagem é uma perspectiva de
melhor qualidade para o uso de tecnologias digitais na educação.
33
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Teoria da Atividade
A discussão sobre a TA está presente no livro Tablets no Ensino Fundamental
e Ensino Médio: princípios e aplicações, de Araujo Jr. e Silveira (2014).
A TA tem suas origens no início do século XX, com os teóricos Vygotsky (2002),
Leontiev (1978) e Engeström (1987). O aspecto principal na TA é a mediação. Segundo
a qual, as atividades humanas são sempre mediadas por um artefato e nunca são
diretamente relacionadas à realidade. Um artefato pode ser considerado como uma
tecnologia: computadores, notebooks ou tablets são definidos como artefatos.
34
A TA é utilizada em diversos trabalhos e propostas de uso educativo do M-learning
(BATISTA; BEHAR; PASSERINO, 2011; CROMPTON, 2013a, 2013b).
A Terceira Geração da TA
Essa geração, que possui Engeströn (1987) como um de seus expoentes, busca uma
representação que consiste em uma rede de sistemas que se influenciam mutuamente.
A principal característica da terceira geração da TA consiste no estabelecimento de redes
de sistemas de atividade, como apresenta Daniels (2003). O inter-relacionamento entre
os diferentes elementos com um ou vários outros sistemas de atividade é representado
como uma rede de sistemas, a partir de Tavares (2004). O objeto e o motivo de uma
atividade coletiva são algo como um constante mosaico em evolução, um padrão que
nunca está inteiramente acabado, de acordo com Engeströn (1999).
Objeto1 Objeto1
Sujeito Sujeito
Figura 6 – Dois sistemas de interação de atividades como modelos mínimos para a terceira geração da TA
Fonte: Engeströn (2001).
35
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Além do aspecto citado no papel da TA na pesquisa dos dispositivos móveis na
educação, entende-se que a TA contribui para a prática docente ao permitir que o
professor, por meio do modelo e da teoria, elabore situações de aprendizagem que
considerem todos os elementos propostos na teoria. Desse modo, a TA se destaca como
uma ferramenta importante à pesquisa e à prática docente.
Análise de situações-problemas
Estudantes em Geometria analítica
Resolução da atividade em
107 alunos da 1ª Série do
grupo e apresentação dos Grupo estabelece a
Ensino Médio, professor e
resultados, debate do grupo resolução de cada item
equipe técnica do Colégio
em sala.
36
MePlot é um aplicativo livre que possui as seguintes funcionalidades: gráfico
de funções, calculadora, solução algébrica de equações, além da possibilidade de
compartilhar os resultados. A Figura 8 apresenta um screenshot da interface (a),
da interface para inserção das funções (b) e da interface de apresentação do gráfico
das equações (c):
A atividade foi desenvolvida em trinta minutos, sendo que, nos outros vinte minutos,
em relação às primeiras aplicações, foi solicitado aos alunos que relatassem os pontos
positivos e negativos da aula. Os resultados da pesquisa foram positivos, dado que os
estudantes identificaram os artefatos – tablet e aplicativo – como fatores que tornaram
a aula mais interativa e que facilitaram as atividades em sala. Na Figura 9 observamos
um dos resultados desse estudo, onde 87% dos estudantes identificaram o tablet como
importante para o desenvolvimento da aula na resolução dos exercícios:
37
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Como o trabalho realizado por Dias (2014) se iniciou em 2011, a cultura de uso
dos tablets na escola ainda era incipiente, não fazia parte do contexto dos alunos ou
dos professores. Esse fato teve reflexos nas escolhas de atividades realizadas pelos
professores – considerando os aspectos apresentados nesta Unidade – e também na
percepção de alguns estudantes sobre a nova tecnologia. Vejamos duas manifestações
discentes sobre os temas aqui discutidos:
Esta aula, junto com o tablet, foi uma aula muito mais interessante e interativa.
O auxílio dos tablets ajuda a entender a aula, a teoria muito melhor, de uma maneira
muito mais legal e prática. Tivemos algumas dificuldades quanto ao baixar os aplicativos
e ao conectar à internet, mas creio que isso é um pouco falta de costume, logo iremos
acostumar (Aluno A).
Com o uso dos tablets há uma certa facilidade e agilidade na visualização do tema
da aula, porém o aluno não exercita o tema sozinho já que é uma máquina que realiza
tudo sozinha. Por isso, o uso desta máquina deveria só ser aplicada quando os alunos já
tivessem uma base da aula, para não se tornarem seres presos à tecnologia (Aluno B).
38
Na manifestação do Aluno B, observa-se certa apreensão no uso do recurso
tecnológico para substituir atividades antes realizadas de forma convencional. Tal
opinião emergiu devido à novidade do recurso, ao tipo de atividade realizada e à cultura
ainda inicial, à época, no uso de recursos tecnológicos em sala de aula.
Artefato ou recurso de
mediação: tablet/aplicativo
Construção de Consolidação
Alunos mapas conceituais da aprendizagem
39
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
SONDAGEM DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS
Apresentação das
Formação de grupos para
considerações do grupo pelo
a reflexão sobre a pesquisa
líder aos demais colegas e à
(em sala de aula)
professora-pesquisadora.
DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO
40
Os resultados obtidos com a atividade mostraram, igualmente nesse caso, que os
estudantes compreenderam a importância do dispositivo móvel como um recurso
utilizável dentro e fora da sala de aula para atividades de estudo e organização do
conhecimento. Vejamos na Figura 13 um mapa conceitual desenvolvido por um dos
estudantes envolvidos na referida pesquisa. Observe, pela análise dos mapas conceituais
apresentados por Borges (2014), que foram destacadas características descritivas e
conceituais dos elementos estudados:
Conectivismo
O conectivismo tem sua origem nas ideias de Siemens (2004) e Downes (2007)
e pretende ser, não uma teoria, mas uma abordagem epistemológica alternativa às
teorias clássicas do comportamentalismo, cognitivismo e construtivismo (SIEMENS,
2004). Assenta-se no fenômeno das redes de computadores, internet, redes sociais,
com contribuições advindas da teoria do caos, sistemas complexos e auto-organizados.
41
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
A Figura 14 apresenta uma síntese das principais bases do conectivismo, frisando a
ideia que o caracteriza, além de alguns exemplos gerais:
Conectismo
42
As respostas a tais questões fogem do escopo deste estudo inicial. Contudo, as
perguntas apontadas são de grande importância para a nossa reflexão e devem ser
revistas em nosso dia a dia, a fim de que possamos encontrar alternativas viáveis ao
aprendizado no contexto da tecnologia, em especial, da tecnologia móvel.
43
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
O uso das tecnologias móveis na Sala de Aula – Infográfico
http://goo.gl/D0LxIz
Como será a sala de aula do futuro – Infográfico
http://goo.gl/qkZ6Sl
Vídeos
Engestrom´s Activity Theory
Video de 3:31 minutos sobre a Teoria da Atividade.
https://goo.gl/Lk3gns
George Siemens – Entrevista
Video de 7:42 minutos (legendas em espanhol).
https://goo.gl/j9qflH
44
Referências
ARAUJO JUNIOR, C. F.; SILVEIRA, I. F. (Org.). Tablets no Ensino Fundamental e
Médio: princípios e aplicações. São Paulo: Terracota, 2014.
CROMPTON, H. A. Mobile learning: new approach, new theory. In: BERGE, Z. L.;
MUILENBURG, L. Y. (Ed.). Handbook of mobile learning. New York: Taylor &
Francis, 2013a.
DIAS, E. J. O uso dos tablets nas aulas de Matemática no Ensino Médio. 2014. 116
f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro
do Sul, São Paulo, 2014.
45
Estudo e Análise das Teorias de Ensino e de Aprendizagem para Suporte ao uso dos Dispositivos Móveis
UNIDADE
II
________. Learning by expanding: an activity-theoretical approach to developmental
research. Helsinki, Finland: Orienta-Konsultit Oy, 1987.
HARRIS, J.; HOFER, M. Instructional planning activity types as vehicles for curriculum-
based TPACK development. In: MADDUX, C. D. (Ed.). Research highlights in
technology and teacher education. Chesapeake, VA: Society for Information
Technology in Teacher Education, 2009. p. 99-108.
SIEMENS, G. Connectivism: a learning theory for the Digital Age. 2004. Disponível em:
<http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm>. Acesso em: 12 maio 2016.
46
SIMPLE Mind Free mind mapping: model maker tools. 2014. Disponível em: <https://
play.google.com/store/apps/details?id=com.modelmakertools.simplemindfree&hl=pt_
BR>. Acesso em: 12 maio 2016.
47
III
Análise e Aplicação dos
Dispositivos Móveis na Educação
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
Introdução ao Tema
“A educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas e são as
pessoas que transformam o mundo.” (Paulo Freire)
50
O objetivo não é exaurir o assunto – amplo demais –, mas dar algumas indicações. Entenda
que toda categorização é limitada, de modo que fazemos esta por questões didáticas.
51
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
A Inclusão e a Força de Trabalho
Um dos papéis mais importantes da educação é a formação – ou a transformação
– de pessoas que, por sua vez, alterarão o mundo, parafraseando Paulo Freire (1921-
-1997). Como educadores, precisamos estar atentos a dar aos nossos estudantes
os meios necessários – conhecimento, competências e habilidades – para garantir
tal transformação.
Em 2011, o Instituto para o Futuro (IF) realizou um estudo buscando identificar quais
seriam as competências do trabalhador de 2020. Tal estudo constatou seis tendências
fundamentais que direcionarão e remodelarão a força de trabalho e dez competências
derivadas e inter-relacionadas. A Figura 1 representa, de forma esquemática e sintética,
o resultado do estudo do IF:
52
· Longevidade extrema – extreme longevity: as pessoas vivem mais e
atuarão em diferentes áreas do conhecimento. Assim, a aprendizagem ao
longo da vida – life long learning – será essencial para se adaptarem às
novas demandas das posições assumidas;
· Mundo computacional – computational world: a computação ubíqua e
pervasiva faz com que o mundo atue de modo computacional. Os dados
direcionam as ações dos sistemas e, desta forma, muito do que existe em
nosso meio e do que fazemos pode ser programável;
· Organizações superestruturadas – superstructed organizations:
tecnologias sociais permitem a existência de organizações superestruturadas,
as quais baseadas na colaboração;
· Mundo globalmente conectado – globally connected world: em um
mundo cada vez mais integrado pela comunicação, compreender e atuar
considerando a diversidade e adaptabilidade tornam-se características de
grande importância;
· Ecologia de novas mídias – new media ecology: novas mídias e formas de
representar o conhecimento necessitam de uma literacia digital que vá além
da atuação e conhecimento do texto.
Entre as competências derivadas das seis tendências apresentadas acima e que serão
relevantes para a força de trabalho de 2020, segundo o mesmo estudo, destacam-se,
da Figura 1:
· Transdisciplinaridade – transdisciplinarity: competência necessária,
já que existe um inter-relacionamento entre as áreas de saber e entre as
competências. Reconhecer tais conhecimentos vai além do disciplinar,
passando pelo interdisciplinar e atingindo o transdisciplinar, tornando-se cada
vez mais relevantes. Para melhor compreensão sobre a transdisciplinaridade,
leia os trabalhos de Fazenda (2009, 2012);
· Planejamento mental – design mindset: reunir os recursos cognitivos e
afetivos necessários para atuar de forma mais plena nas situações, condição
essa que possibilita melhores resultados. Atualmente, entende-se design
thinking como a materialização desta nova competência de articulação da
capacidade criativa em ação (BROWN, 2010);
· Colaboração virtual – virtual collaboration: com o uso intenso da tecnologia,
as organizações superestruturadas e mundialmente estabelecidas necessitam
da colaboração virtual como meio de inter-relação e de geração de resultados;
· Competências interculturais – cross cultural competences: o mundo
altamente conectado associado a organizações superestruturadas necessitarão
de profissionais com competências interculturais;
· Gestão da carga cognitiva – cognitive load management: a quantidade de
conhecimento gerado a cada momento, na mesma área do conhecimento, é
cada vez maior. Assim, há necessidade de se fazer a gestão desse conhecimento
e balancear o que é relevante;
· Pensamento computacional – computational thinking: o mundo cada vez
mais computacional necessita que as pessoas compreendam como funciona
53
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
a lógica computacional para melhor tirar vantagens competitivas. O trabalho
de França, Silva e Amaral (2012) poderá lhe orientar sobre como utilizar essa
abordagem na Educação Básica;
· Literacias em novas mídias – new media literacies: recursos de
representação da informação e do conhecimento são cada vez mais
importantes: mapas mentais, mapas conceituais, diagramas, imagens, vídeos,
esquemas específicos etc. Todos são importantes e devem ser aprendidos
e usados. Vários autores têm estudado as literacias no âmbito da leitura,
da escrita, da numerácia e também da literacia informacional e digital
(AZEVEDO, 2011; LOUREIRO; ROCHA, 2012; RAMOS; FARIA, 2012);
· Pensamento novo e adaptativo – novel and adaptive thinking: como
muitas vezes é dito, devemos nos adaptar às novas realidades. Sabemos cada
vez mais que a mudança é constante e se adaptar é fator fundamental nos
tempos modernos;
· Inteligência social – social intelligence: a inteligência emocional é considerada
um fator relevante, já que as tendências relacionadas às organizações complexas
necessitam de competências além das cartesianas tradicionais;
· Sentido – sense making: dar sentido e significado a tudo é fundamental,
uma vez que sem este fator não conseguiremos chegar aos objetivos. Assim,
é necessário compreender, interpretar e reinterpretar a realidade para que
esta faça sentido e que tal sentido possa ser também comunicado.
54
Alguns bons motivos e recomendações
No documento intitulado Policy guidelines for mobile learning, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) apresenta alguns
indicadores de políticas para orientar as ações no âmbito do mobile learning (UNITED
NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION, 2013).
O documento indica treze motivos considerados favoráveis para o uso do mobile lear-
ning e dez recomendações, estas que estão sintetizadas no infográfico apresentado
na Figura 2.
55
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
Figura 2 – Síntese das orientações e recomendações do documento Policy guidelines for mobile learning
Fonte: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (2013)
56
Exemplos de Aplicativos para uso dentro e
fora da sala de aula
A experiência e análise dos usos de tablets na educação têm mostrado que,
inicialmente, a nova tecnologia é utilizada ou proposta para promover algumas
melhorias. No caso dos tablets, os primeiros usos propostos estavam relacionados à
aplicação do dispositivo para acesso a bibliotecas, repositórios e à leitura de textos e
materiais. Logo depois, iniciou-se o uso de leitores com possibilidade de integração a
dicionários, marcação de páginas, acesso à marcação de páginas coletivas, entre outras
opções, de modo que se viu o tablet como substituição ao caderno convencional.
Com o avanço das tecnologias, os dispositivos móveis começaram a ser utilizados para a
integração de conteúdos multimidiáticos – imagens, sons, vídeos –, permitindo a produção de
conteúdo com alto nível de qualidade. Mais recentemente, o uso de QR-Codes, de propostas
de gamificação, geolocalização e ferramentas colaborativas para a criação e distribuição de
conteúdos transformaram as possibilidades de uso do m-learning na educação.
Essas etapas de evolução do uso das tecnologias são resumidas na Figura 3, onde
há o modelo SAMR, de Puentedura (2012). Nesse modelo, o autor sintetiza a evolução
do uso da tecnologia que foi, inicialmente, da Substituição (S) tecnológica e recursos
existentes à sua completa Redefinição (R), passando pelas etapas de Ampliação (A) e
Modificação (M). A proposta desse modelo permite que façamos uma análise crítica
sobre as indicações de uso dos recursos digitais na educação.
57
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
Os recursos disponíveis para uso educacional em dispositivos móveis tais como
tablets e smartphones são muito variados. Há diversos sites especializados que
apresentam listas de aplicativos para cada área e seguimento. Os usos educacionais
encontrados na literatura seguem diversas propostas, em geral, dentro do modelo
SAMR, ou seja, há propostas básicas de uso e propostas que parecem transformar o
contexto dentro e fora da sala de aula.
Para efeito didático, dividiremos os aplicativos segundo alguns padrões de uso mais
comuns, contudo, sabemos que se trata de uma simplificação, afinal, o potencial dos
aplicativos e formas de uso podem variar bastante. Na Figura 4 apresentamos uma
síntese dos principais usos identificados para os aplicativos em contextos educacionais,
de modo que classificamos esses usos nas seguintes categorias: produção de livros;
avaliação; História em Quadrinhos (HQ); captura de telas; edição de vídeos; mapas
mentais; organização e produtividade; aplicativos específicos.
58
Se se interessar por algum dos aplicativos, há breves descrições a seguir, a fim de que você
possa procurá-lo para download em smartphone e/ou tablet.
Aplicativos para o sistema operacional Android, da Google: https://play.google.com/store
Aplicativos para o sistema operacional iOS, da Apple: https://itunes.apple.com
História em Quadrinhos
59
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
seleção de ferramentas de edição, mas a versão pro oferece grande variedade de
layout, edição de ferramentas e opções de compartilhamento.
Fábrica de Tirinhas, para Android e iOS. Esse aplicativo permite criar histórias em
quadrinhos usando os personagens da Turma da Mônica, do cartunista Maurício de Souza.
Edição de Vídeos
60
Mapas Mentais
61
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
O MindMeister para Android permite que você crie, edite e compartilhe seus mapas
mentais em dispositivos ou tablets e os sincronize com o premiado serviço grátis e on-
line MindMeister, sozinho(a) ou colaborativamente com outras pessoas.
iThoughts, para iOS. É uma ferramenta de mindmap para iPad, iPhone e iPod
Touch – versão para Mac também disponível. Mapas mentais permitem organizar
visualmente seus pensamentos, ideias e informações.
Mindomo. Liberte o poder de suas ideias com mapas mentais. Capture seus
pensamentos diretamente de mapas mentais, transformando-os em ótimas apresentações
e os compartilhando com outras pessoas. Sincronize seus mapas para a nuvem, a partir
de qualquer dispositivo.
Organização e Produtividade
Evernote, para Android e iOS. Trata-se de uma suíte de aplicativos que permite fazer
anotações – de texto e áudio –, copiar páginas da web, calendário e compartilhamentos
diversos. Muito utilizada e útil.
Google Keep, para Android. Permite fazer listas de atividades a serem realizadas.
Cada lista pode ser compartilhada e atualizada a qualquer momento. É fácil de utilizar
e intuitivo.
62
Aplicativos Específicos
Física
Física na Escola, para Android e iOS. Este aplicativo traz diversas áreas dentro da
Física e apresenta animações para tornar o conteúdo mais compreensível, fazendo com
o que o aluno possa visualizar alguns conceitos que são trabalhados abstratamente na
maioria das aulas convencionais.
Física de Bolso, para Android. Trata-se também de um guia com conceitos, fórmulas
e imagens para auxiliar no estudo e no trabalho do dia a dia estudantil.
Biologia
63
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
Pegada Ecológica. Aplicativo que procura estabelecer sua compreensão sobre
ecologia e sustentabilidade, indicando quantos planetas seriam necessários se
mantivermos nossos hábitos.
Matemática
Math vs Zombies, para Android e iOS. Jogo envolvendo uma temática jovem –
zumbis – e a Matemática. Ou seja, os jogadores precisam fugir dos zumbis usando essa
área do conhecimento! Possui avaliação de quatro pontos – de cinco – no site da Google.
Monkey Math, para Android. Jogo de aventura que tem como personagem um
macaco. Tem avaliação de 3.8 pontos no site da Google.
Círculo Unitário, para Android. Aplicativo para a compreensão visual das funções
trigonométricas: calcular seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cossecante,
função, graus e radianos. Tem avaliação de 4.5 pontos no site da Google
Como dito, a lista aqui discutida tem caráter didático, apenas, com o objetivo de
lhe fazer conhecer as categorias de uso e alguns exemplos de aplicativos. Afinal,
há muitos outros aplicativos interessantes para uso na educação. Para conhecer
mais alguns, acesse o Material Complementar desta Unidade e lá encontrará várias
outras indicações.
64
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
The 88 best iOS apps for mobile learning
DUNN, J. The 88 best iOS apps for mobile learning. 2012.
http://goo.gl/iPJBq4
50 free Android apps being used in education right now
LEPI, K. 50 free Android apps being used in education right now. 2012.
http://goo.gl/tva4CF
Vídeos
MODELO SAMR in 120 seconds
https://goo.gl/Y4JZ0L
NEARPOD
https://goo.gl/wTVgkS
Sites
NEW pedagogy wheel helps you integrate technology using SAMR model.
http://goo.gl/G7mn7O
65
Análise e Aplicação dos Dispositivos Móveis na Educação
UNIDADE
III
Referências
AZEVEDO, F. J. F. de. Educar para a literacia: perspectivas e desafios. 2011. Disponível
em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/12645/1/Educar%20para%20
a%20literacia_FA2011.pdf>. Acesso em: 25 maio 2016.
BROWN, T. et al. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das
velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
DAVIES, A.; FIDLER, D.; GORBIS, M. Future work skills 2020. Institute for the Future
for University of Phoenix Research Institute, v. 540, 2011.
KORN, M. Imagine discovering that your teaching assistant really is a robot. The Wall
Street Journal, 6 may 2016. Disponível em: <http://www.wsj.com/articles/if-your-
teacher-sounds-like-a-robot-you-might-be-on-to-something-1462546621>. Acesso em: 24
maio 2016.
66
IV
Estudo e Análise dos Casos de uso das
Tecnologias Móveis na Educação em
Diferentes Níveis e Modalidades
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
Introdução ao Tema
O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não
simplesmente repetir o que outras gerações fizeram (Jean Piaget).
68
Na Unidade III apresentamos uma perspectiva da importância do uso das tecnologias
digitais na educação para a formação de cidadãos incluídos tecnologicamente e com
literacias digitais relevantes para a formação do perfil da força de trabalhado dos
próximos anos. Para isso, discutimos o estudo realizado pelo Instituto do Futuro
(DAVIES; FIDLER; GORBIS, 2011). A relevância desse estudo aponta à necessidade de
construirmos propostas institucionais e curriculares para o uso das tecnologias digitais
que contribuam para a formação deste novo cidadão. No âmbito da prática e formação
docente, apresentamos e discutimos o estudo da Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (UNITED NATIONS ORGANIZATION
FOR EDUCATION, SCIENCE AND CULTURE, 2013). Tal estudo apresenta motivos
para o uso do m-learning na educação, além de recomendações para a formação de
professores para o uso das tecnologias digitais móveis.
69
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
Leitura Obrigatória
Detalhamento do Case
O case que apresentaremos nesta Unidade trata do estudo e aplicação dos dispositivos
móveis – tablets – em alunos do terceiro ano do Ensino Médio de um colégio particular
da Cidade de São Paulo. A área de conhecimento onde a proposta foi desenvolvida foi
a de Biologia, mais especificamente o contexto da Genética. O projeto envolveu 34
estudantes, dois professores e dois técnicos de informática. O objetivo era estudar a
perspectiva da introdução do dispositivo móvel na educação formal, percepção discente,
aprendizagem de conhecimentos específicos com o uso do recurso das tecnologias
digitais, além de “[...] identificar as contribuições do uso do tablet no Ensino Médio”
(ALMEIDA, 2016). A pesquisa junto aos alunos e professores teve como período de
desenvolvimento cerca de dois meses e meio.
Recursos
70
Apresentação geral dos Elaboração do primeiro
conteúdos de genética mapa mental
Sujeito Objeto
Estudantes das 3ª série Elaboração de MMD
do Ensino Médio sobre genética
71
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
A Figura 3 representa o esquema da atividade 1, a qual realizada em tarefas na sala
de aula e em outras utilizando recursos virtuais tais como: Blackboard e a ferramenta
de comunicação WhatsApp. Os estudantes foram divididos em grupos para atuarem no
ambiente Blackboard e para se aprofundarem no desenvolvimento do mapa mental.
Equipes Temas
1 O código genético
2 Mutações gênicas
3 Reprodução celular
4 Primeira Lei de Mendel
5 Alelos múltiplos
6 Herança e sexo
7 Segunda Lei de Mendel
8 Interação gênica
9 Engenharia genética
Fonte: adaptado de Almeida (2016)
72
Em uma atividade em sala de aula, os participantes foram convidados a
apresentarem cada mapa mental e os recursos encontrados. Buscou-se relacionar os
conceitos ilustrados nos mapas e os objetos de aprendizagem encontrados na internet.
Nessa ocasião as professoras tiveram oportunidade de sugerir ajustes nos mapas e,
principalmente, compreender as relações entre conceitos e recursos e discutir tais
relações com os estudantes.
Com base no encontro entre docentes e discentes, onde estes apresentaram o segundo
mapa e os objetos de aprendizagem, foram orientados a elaborarem um terceiro mapa
mental. A ideia desta atividade foi providenciar um registro da evolução dos conceitos
sobre o tema estudado, considerando uma análise entre o primeiro e o terceiro mapa.
Tal etapa foi considerada como uma segunda atividade, cuja organização esquemática,
em termos de teoria da atividade, está sintetizada na Figura 4:
Artefatos Mediadores
Tablet, Recursos Explorados, MMD,
discussões sobre os assuntos pesquisados
Sujeito Objeto
Estudantes das 3ª série Apresentação dos
do Ensino Médio temas pesquisados
Resultados
O case aqui apresentado é, na verdade, uma tese de Doutorado que possui diversos
resultados, os quais ainda não foram publicados em toda sua extensão. Todavia,
destacaremos aqui alguns, relevantes e referentes às atividades realizadas no que
concerne ao ensino e aprendizagem do conteúdo específico e que, com as adaptações
necessárias, são utilizáveis em diversas áreas do conhecimento.
73
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
O uso do recurso de representação gráfica de ideias e conceitos do aplicativo
SchematchMind teve o importante papel de engajar os estudantes na realização de uma
proposta de ensino e aprendizagem de Biologia, a qual associada a uma ideia de flipped
classroom (BISHOP; VERLEGER, 2013). Os alunos tinham orientação em sala de aula
e fora dessa, de modo que poderiam utilizar um ambiente virtual – Blackboard – com
vários recursos e, ainda, uma ferramenta comunicacional como o WhatsApp.
Os recursos de representação de mapas conceituais são importantes para a
assimilação gráfica de conceitos. No período do desenvolvimento dessa pesquisa – entre
2012 e 2013 – não havia ainda um aplicativo para o sistema Android que fosse gratuito
– free – e apresentasse todos os recursos para desenvolvimento de mapas conceituais,
tais como ligação cruzada entre conceitos. Desse modo, a autora da pesquisa buscou
recursos alternativos, escolhendo, assim, o SchematchMind como uma ferramenta
para a elaboração de mapas mentais, adaptada à representação de conceitos. Foi nessa
perspectiva que o aplicativo foi utilizado.
Um aspecto relevante na elaboração dos mapas mentais ou conceituais, considerando-
se a abordagem de representação de conceitos e aplicações, é o número de conceitos
representados no mapa. Tal número pode, indiretamente, representar uma ampliação
do conhecimento na evolução dos mapas elaborados. Assim, o Quadro 2 representa a
evolução no número de conceitos representados pelos estudantes deste case:
74
Quadro 3 – Evolução do número de exemplos apresentados nos mapas
75
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
Observamos ainda que várias propostas apresentadas e discutidas nesta Disciplina
podem ser realizadas com os dispositivos móveis e também com notebooks e
computadores de uso pessoal. Os dispositivos móveis foram aqui escolhidos por serem
recursos de convergência de tecnologias, tornando-os ferramentas excepcionais de
mobilidade e de portabilidade.
Esperamos que esta Disciplina tenha cumprido o papel de lhe despertar o interesse
em explorar os dispositivos móveis na educação.
76
Anexo 2 – Destaques para Alguns Resultados da Pesquisa
de Almeida (2016)
discordo totalmente 0
discordo parcialmente 5
concordo parcialmente 26
concordo totalmente 3
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Número de alunos
discordo totalmente 0
discordo 5
concordo 22
concordo totalmente 7
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Número de alunos
Figura 6 – Percepção dos alunos acerca do auxílio dos MMD na expressão dos conteúdos aprendidos
Fonte: (ALMEIDA, 2016)
77
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
A elaboração dos mapas conceituais facilitou
a montagem da sua apresentação?
discordo totalmente 1
discordo 3
concordo 21
concordo totalmente 9
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Número de alunos
discordo totalmente 1
discordo parcialmente 5
concordo parcialmente 22
concordo totalmente 6
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Número de alunos
78
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Apresentamos nesta seção materiais importantes para aprofundar e ampliar seus conhecimentos
sobre os assuntos tratados nesta Unidade:
Sites
IPAD for learning
Site de uma universidade australiana, que apresenta uma série de casos de estudo do uso
de iPads na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. 20--.
http://goo.gl/vPZc1O
IPADS in the classroom
Site com orientação e recursos para usar o iPad na educação. BBC Active. [2010].
http://goo.gl/bTfsRA
KATHY Schrock´s iPads4Teaching
Site com várias dicas sobre o uso de iPads e tablets na educação, nos diversos níveis de
ensino. 2016.
http://goo.gl/c0D6It
Vídeos
Google Home Demo - Google IO 2016
GOOGLE Home. Google IO 2016 [um exemplo de tecnologia que transformará nossas
atividades]. 18 maio 2016.
https://goo.gl/Y5SutB
Microsoft HoloLens - Transform your world with holograms
MICROSOFT HoloLens – transform your world with holograms [transforma seu mundo
em hologramas]. 21 jan. 2015.
https://goo.gl/2bCFWI
SCiO: Your Sixth Sense
SCIO: your sixth sense [dispositivo que escaneia materiais e objetos e identifica
a composição dos materiais, além de outras informações quando conectado a
smartphones]. 29 abr. 2014.
https://goo.gl/WtcUsq
79
Estudo e Análise dos Casos de uso das Tecnologias Móveis na Educação em Diferentes Níveis e Modalidades
UNIDADE
IV
Referências
ALMEIDA, R. R. Mobile learning no processo de ensino e aprendizagem de
conteúdos de Genética: proposta e análise com base na teoria da atividade. 2016.
210 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro
do Sul, São Paulo, 2016.
DAVIES, A.; FIDLER, D.; GORBIS, M. Future Work Skills 2020, v. 540, 2011.
DIAS, E. J. O uso dos tablets nas aulas de Matemática no Ensino Médio. 2014. 116
f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro
do Sul, São Paulo, 2014.
PUENTEDURA, R. R. The SAMR model: six exemplars, v. 14, p. 2012, aug. 2012.
80
Leitura Complementar
Responsável
Autoria dos
peloArtigos
Conteúdo
Prof. Dr.Prof.
Carlos
Ms.Fernando
Ademir Cenati
de Araújo Jr.
Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.
Prof.Revisão Textual
Ms. Eduardo Jesus Dias
xxxxxxxxxxxx
Prof. Ms. Marcos Andrei Ota
Revisão Textual
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens
e Adultos
Marcos Andrei Ota
Carlos Fernando de Araujo Jr.
Resumo
Este artigo apresenta algumas estratégias desenvolvidas para ajudar os professores nas aulas de temas
transversais, utilizando m-learning. O uso de dispositivos móveis e a escolha de alguns aplicativos revelaram
dados importantes, indicando que a expansão e a intensificação do uso desses dispositivos em sala de aula é
possível. No Programa de Educação Básica para Jovens e Adultos, a situação emerge como uma oportunida-
de para compensar o tempo e espaço na restituição dos estudos, bem como promover o avanço no ensino,
em si. Competente prática do m-learning cresce para situações que vão além do conceito de recursos
tecnológicos. Elas imbuem ensino com características intrínsecas que facilitam e motivam situações de ensino
e aprendizagem em benefício de todos os participantes. Como resultado, este trabalho demonstra alguns fins
didáticos e também descreve aplicações úteis categorizados como Guias de Aprendizagem. Portanto, essas
contribuições podem ajudar a aplicação em outras áreas do conhecimento.
Palavras-chave: M-learning, Educação para Jovens e Adultos, Temas transversais, Sustentabilidade, EJA,
Mobilidade, Aprendizagem significativa, Educação Básica brasileira.
Introdução
A crise na Educação ocasionada por uma ques- educação básica na tentativa de superar a competitivi-
tão global, vem recebendo grande atenção não só dade de mercado.
política, mas social. Formar cidadãos críticos que
É indiscutível que o papel da escola é o de formar
conhecem seus direitos e deveres, por meio de uma
cidadãos, dar aos alunos condições para viver e tra-
postura ética, perseverante e transformadora é o
balhar nesse mundo de evolução, bem como orientá-
sonho de toda sociedade. Entretanto, tal aspecto -los para a vida. Embora estejamos em um cenário
acaba se tornando algo distante na medida em que no qual a escola vive momentos de turbulências ao
as famílias são obrigadas a priorizar o trabalho na assumir inúmeras responsabilidades e funções, ocupa
tentativa de garantirem a própria sobrevivência e, ainda uma posição significativa em nossa sociedade.
em muitos casos, o orçamento familiar mal garante
a alimentação. Diante dessa perspectiva, os alunos matriculados
na modalidade de Educação de Jovens e Adultos1
As mudanças ocorridas no mercado de trabalho, (EJA) veem, no espaço escolar, uma oportunidade
de ascensão social ou motivação (BÖCK, 2008;
no entanto, passam a exigir maior conhecimento dos
indivíduos, a busca pela qualificação profissional auto- 1. Este modelo de curso (EJA) refere-se ao programa adotado em São Paulo – Brasil,
destinado aos alunos com idade superior a 18 anos. O tempo do curso é de 18 meses
maticamente leva os mesmos indivíduos retornarem à e ocorre no período noturno.
82
BUROCHOVITCH et al, 2010) de retomar o estudo
que fora interrompido.
Desafios do M-Learning na Educação
Oliveira (2002) considera que os indivíduos do
de Jovens e Adultos
modelo EJA apresentam uma trajetória de exclusão
da escola, trajetória esta, muitas vezes, marcada por A UNESCO (2015) na publicação: Educação
reprovações, evasões (aspectos motivacionais, ques- para cidadania global: preparando alunos para os
tões familiares e deslocamento), ou seja, são produtos desafios do século XXI — traz apontamentos que
vistos como fruto do fracasso do sistema escolar, se colaboram para uma reflexão sobre algumas mudan-
considerarmos que o modelo atual não possibilita um ças diante das práticas educativas e da necessidade
acolhimento e um trabalho efetivo para propor situa- de resolver questões globais.
ções de aprendizagem significativa (AUSUBEL,1968; Espera-se que a educação facilite a coope-
SANTOS, 2008; MOREIRA, 2006) que despertem ração internacional e promova a transfor-
nesses alunos o interesse em prosseguir nos estudos.
mação social de uma forma inovadora em
Novas estratégias para ensinar em um mundo direção a um mundo mais justo, pacífico,
cada vez mais “tecnologizado” surgem como prá- tolerante, inclusivo, seguro e sustentável. Em
ticas necessárias, não apenas por uma questão de um mundo cada vez mais interconectado e
utilização ou adoção de artefatos tecnológicos, mas interdependente, é preciso uma pedagogia
também como desafio de recolocar esses alunos transformadora, que capacite os alunos a
no mundo do trabalho e reiterar o exercício pleno solucionar desafios persistentes que envol-
da cidadania. vem toda a humanidade, relacionados ao
desenvolvimento sustentável e à paz […]
Com a evolução das tecnologias móveis e as
(UNESCO, 2015, p.7).
possibilidades de interação, a aprendizagem móvel
(mobile learning ou m-learning) possibilita cone- Nesse contexto, os tópicos apontados desse
xões que tornam o ensino não-linear, colaborativo, documento só intensificam estudos para explorar
favorecendo novas formas de produzir conteúdos, e experimentar práticas educativas inovadoras e
distribuídos no tempo e espaço (TAPSCOTT, 2009). transformadoras. Conectados à essa realidade, as
A relevância desse estudo justifica-se pelos inúmeros novas tecnologias nos espaços escolares, em espe-
benefícios que o m-learning (ML) pode oportunizar cial aquelas que possibilitam a aprendizagem móvel
nos espaços escolares (BARBOSA et al, 2011; ou com mobilidade, suscitam ideias para direcionar
ARAUJO JR. C. F. e SILVEIRA, I. F, 2014) e, de a aprendizagem do aluno acerca dos desafios do
forma extensora, promover ações de aprendizagem século atual.
não-formal e ubíqua (KOOLE, 2010; SANTAELLA,
2013; CASTELLS,1999). Crompton (2013) definiu m-learning como
o aprendizado por meio de múltiplos contextos,
A partir desse contexto, este trabalho tem por com interações com conteúdo e sociais, usando
objetivo apresentar uma proposta de atividade para dispositivos eletrônicos de uso pessoal. O conceito
auxiliar os docentes no ensino de temas transver- e definições do m-learning têm evoluído com o
sais, utilizando dispositivos móveis. Tomaremos tempo, ultrapassando os limites da polarização
como ponto de partida os temas transversais, mais entre os aspectos educacional e tecnológico para
especificamente, as discussões acerca do tema: incluir ainda características relacionadas à intera-
Sustentabilidade, envolvendo 27 alunos ingressan- ção, contexto, além da questão do espaço e tempo
tes do 1º ano da EJA - Ensino Médio. da aprendizagem (ubíqua, síncrona e assíncrona,
entre outros).
Esta escolha não se restringe a essa questão,
como irá demonstrar o uso de estratégias que Na tentativa de conceituar m-learning, Barbosa
podem ser adotadas em outras áreas do conheci- et al (2011) identificaram várias práticas distintas
mento. Outro elemento importante é justificado relacionadas a esse conceito: e-learning portátil,
pela escolha do tema, porque ele é tratado tradicio- aprendizagem em sala de aula apoiada por tec-
nalmente na educação pública de uma forma muito nologias móveis e sem fio, capacitação móvel e
superficial, longe da realidade dos alunos. Portanto, inclusão e diversidade. Os autores acrescentam que
o uso adequado dos recursos móveis pode ampliar a característica fundamental está na mobilidade
as possibilidades de ensino e aprendizagem, mesmo dos aprendizes, que podem estar distantes uns dos
em ações nas quais o conteúdo não gera motivação outros e, também, de espaços formais de educação,
para tornar a aprendizagem mais significativa. a sala de aula, por exemplo.
83
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
Pode-se perceber, portanto, cinco características Embora não sendo uma unanimidade, dispositi-
específicas dos dispositivos móveis para fins educati- vos móveis de comunicação com acesso à Internet
vos: Portabilidade, Interação social, Sensibilidade ao (como smartphones ou tablets) são comuns em
contexto, Conectividade e Individualidade (VALEN- salas de aula, principalmente entre estudantes de
TIM, 2009, p. 51). Ensino Médio. Normalmente, esses dispositivos
são utilizados para acesso à redes sociais ou para
Esse cenário torna-se favorável para o cresci- informações de cunho pessoal ou social do aluno.
mento de projetos relacionados a m-learning a fim Em determinados momentos, é possível orientar a
de promover o acesso à educação e grupos sociais utilização desses equipamentos como recursos sig-
menos favorecidos (BARBOSA et al, 2011).
nificativos de acesso às informações pertinentes ao
Tapscott (2009) aponta que uma sociedade universo escolar.
fornece elementos para repensarmos a educação e
Frente ao potencial dos recursos tecnológicos
as relações que movem o indivíduo a buscar conhe-
dentro e fora da sala de aula, o professor tem a
cimento. Se considerarmos os alunos oriundos da
possibilidade de organizar os materiais que utilizará
“geração digital” mediante as novas possibilidades
durante suas aulas, tendo autonomia de identificar
tecnológicas, talvez os obstáculos sejam menores, se
qual recurso tecnológico pode ser utilizado de acor-
os compararmos aos alunos da modalidade EJA que
do com as necessidades apresentadas pela turma,
nasceram numa época em que os computadores
levando o aluno a perceber que não se trata apenas
estavam, ainda, nos primeiros protótipos: Tablet ou
de um novo recurso, mas sim de uma dinâmica que
smartphone com Internet 3G/4G são exemplos de
possibilitará relacionar conhecimento e aprendizado
artefatos que foram introduzidos recentemente no
de forma mais significativa, com potencial de trans-
cotidiano esses desses aprendizes.
formar o espaço escolar no que é conceitualmente
No Brasil, algumas instituições no âmbito do Ensino proposto como na flipped classroom (BERGMAN
Fundamental e Superior têm adotado os tablets, pelo & SAMS, 2012). Para essa peculiaridade estudantil,
menos em projetos-piloto. Em geral, as primeiras soma-se ainda uma oportunidade de ter subsídios
iniciativas do uso do tablet no Brasil vieram como para estudar no percurso entre local de trabalho e
possibilidade de utilizá-lo como suporte à leitura de escola. Em regiões periféricas da zona leste de São
materiais didáticos que antes eram impressos. Embora Paulo, o deslocamento de ida e volta para o centro
seja uma utilização legítima, considerando-se a questão da cidade chega atingir no total de 4 horas entre
da sustentabilidade envolvida na produção de materiais ônibus , trem e metrô.
impressos, esse recurso, quando utilizado apenas por
mera transposição, não traz mudanças significativas na Boruchovitch et al. (2010) acrescentam que
relação de ensino e aprendizagem. haverá motivação por uma atividade se a estratégia
motivacional mostrar esse valor instrumental, o que
Os desafios para esta modalidade concentram- pode ser demonstrado de diversas maneiras. Em
-se na forma de aprendizagem, pois requer um ma- outras palavras, “um objetivo motivacional viável dos
terial potencialmente significativo, tendo em vista professores para o dia a dia das classes é buscar o
o perfil de alunos matriculados na EJA em São desenvolvimento e a manutenção da motivação para
Paulo, ao considerar fatores como: dificuldades aprender as atividades” (BROPHY, 1999, p.13).
de aprendizagem, dedicação de tempo de estudo, Isto é, devem proporcionar aos alunos satisfação e
faixa etária, condições socioculturais e ocupação. interesse no envolvimento das atividades.
Tais fatores são considerados desafio, pois são rea-
lidades que se distinguem dos programas regulares Mesmo a passos tímidos, identificamos nos
do Ensino Médio. alunos da EJA possibilidades desafiadoras para
reverter o histórico de exclusão escolar, motivar a
A construção efetiva de uma estrutura de conhe- aprendizagem, traçar novos caminhos para ascensão
cimento não se sustenta unilateralmente, por simples social e convívio em sociedade. O m-learning surge,
recepção; e sim uma interação entre a ideia proposta então, como ponto de partida para subsidiar esses
(estratégias e situações didáticas) com quem lhe é caminhos, na medida em que as práticas educativas
exposto, sendo fundamental a disposição a aprender suscitadas oportunizem situações facilitadoras de uma
o mecanismo que possa motivar esses estudantes a aprendizagem significativa que extrapolem os muros
equacionar fragilidades e ampliar habilidades para da escola e ocorra em qualquer tempo e espaço.
desenvolver a aprendizagem. Para tanto, novos
conceitos devem ser potencialmente significativos, Santos e Weber (2013) consideram a mobilidade
possuindo uma sequência lógica, não arbitrária e que no contexto educacional como práticas pedagógicas
façam parte da capacidade intelectual do estudante. que promovem a imersão na cultura contemporânea,
84
transformada por uma nova relação com o espaço Segundo Santos (2008), a aprendizagem somente
e com o tempo, promovendo uma nova forma de ocorre se quatro condições básicas forem atendidas:
estar e de se movimentar em sociedade. a motivação, o interesse, a habilidade de compar-
tilhar experiências e a habilidade de interagir com
A proposição de aulas envolvendo temas trans- os diferentes contextos. O autor reitera, ainda, que
versais podem incluir práticas oriundas da aprendi- essas condições, uma vez atendidas, tornam possível
zagem móvel, na tentativa de apoiar a aprendizagem o ato de aprender de forma significativa.
do aluno para assimilação de conceitos, teorias,
práticas e até mesmo fatores motivacionais, para que Com intuito de alavancar novas possibilidades,
este vivencie ativamente o processo de cidadania e m-learning encaixa-se como uma das diversas estra-
o convívio em sociedade. Os temas transversais são, tégias e práticas pedagógicas para transmissão de
nesse sentido, um ponto de partida para as apren- informação, sobretudo por contribuir com a moti-
dizagens, encaixando-se nos planos de ensino como vação dos alunos na criação de propostas de aula,
desencadeadores da aprendizagem com significativo configurando-se como instrumentos desafiadores
(KAMURA, 2009). para o ensino e a aprendizagem.
Em sintonia com o exposto, nota-se que os Desse modo, nas seções seguintes, são propos-
alunos da modalidade EJA podem se beneficiar tas algumas estratégias para que esse desafio seja
do contexto de aprendizagem proporcionado pelo alcançado, não de forma presunçosa, apenas com
m-learning para intensificar a aprendizagem de te- intuito de abrir caminhos para novas contribuições e
mas transversais dentro e fora dos espaços escolares. compartilhamento de experiências positivas em prol
Dito de outra maneira: da Educação.
85
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
adequadas para aprendizagem focada no aprendiz, Na tentativa de buscar novas possibilidades, o
proporcionando maior motivação e significado. conteúdo gerado foi baseado nos mesmos conteú-
dos adotados na etapa anterior. A intencionalidade
dessa escolha refere-se estritamente às estratégias
Caracterização dos sujeitos (Primeira Etapa) pedagógicas que tomam como base os desafios do
• Turma: 1º termo – 1º semestre (ingressantes) m-learning suportados, também, sobre as condições
|Modalidade – Ensino Médio (EJA); da aprendizagem ativa e significativa (ARAUJO JR.
C. F. & SILVEIRA, I. F, 2014; SANTOS,2008).
• Participantes: 27 alunos, 80% todos possuíam Segundo Totti et al (2011, p. 5), o m-learning serve
smartphone / Sistema Android; de referência para um ponto base inicial e permite
incorporar outras funcionalidades dos dispositivos
• Faixa etária: 19 a 47 anos; móveis (a mobilidade do aprendente e do conteú-
• Fragilidades: leitura e interpretação, longo do, o acesso a qualquer hora e em qualquer lugar,
a localização e o contexto do usuário, além da
período sem estudar e dificuldade para dedi-
possibilidade de mesclar cenários reais e virtuais e,
cação de estudo fora do espaço escolar.
ainda, como suporte para maximizar experiências de
Na segunda etapa, objetivou-se analisar o con- aprendizagem presenciais.
texto de aprendizagem. Os alunos realizaram uma
Os mesmos alunos da etapa 2 receberam o
atividade durante as aulas de Projeto (refere-se ao conteúdo teórico sobre o tema sustentabilidade e
Projeto Apoio à Aprendizagem nas escolas estadu- fizeram a instalação dos aplicativos previamente em
ais de São Paulo - Resolução SE 68, de 27-9-2013) seus dispositivos móveis e/ou nos tablets que foram
no formato tradicional, sem a utilização de recur- concedidos por empréstimo aos alunos que não
sos tecnológicos, apenas o conteúdo impresso. O possuíam recurso móvel com sistema Android.
contexto da aprendizagem requeria dos alunos a
leitura e interpretação textual para realização de Nesta etapa, a aula prática teve a mesma duração
da segunda etapa (2 aulas / 1h30min) para realiza-
dois exercícios (disponível para download em:
ção de exercícios gerados a partir dos aplicativos que
https://goo.gl/l2AhEf) O primeiro exercício (caça-palavra)
serão detalhados no tópico a seguir.
exigia dos alunos o reconhecimento dos principais
tópicos abordados no texto. Para o segundo exercício
(completar as lacunas), era preciso uma interpretação Potencialidades e limitações
acerca do conteúdo lido (Sustentabilidade e Respon-
sabilidade Social). Essa atividade teve duração de
dos aplicativos
2 aulas (1h30min.) e foi realizada individualmente.
Diante das limitações e dificuldades para tratar
A terceira etapa foi desenvolvida como estraté- de temas transversais, em especial sobre sustenta-
gia e proposição de atividade utilizando artefatos bilidade por intermédio de aplicativos, este tópico
móveis, com o apoio e suporte de aplicativos apresenta as estratégias utilizadas para a elaboração
gratuitos para dispositivos móveis que utilizam a do conteúdo durante a etapa 3 e uma análise das
plataforma Android. A saber, nessa fase, buscou- potencialidades e limitações dos aplicativos utiliza-
-se desenvolver uma proposta de atividade para dos. A escolha dos aplicativos justifica-se, pelo fato
o ensino de temas transversais com os mesmos de possibilitarem a reutilização para outros contextos
participantes da etapa 2. de aula/tema em consonância às especificidades do
perfil dos alunos da EJA.
Numa pesquisa anterior, foram identificados no
repositório do Google Play aproximadamente 100 É importante ressaltar que os recursos desenvolvi-
dos levaram em consideração o fato de que os alunos
aplicativos para tratar sobre o tema sustentabilidade.
puderam utilizar os seus próprios smartphones para
O resultado da busca, embora seja expressivo, não
a realização das atividades. Os demais estudantes
foi satisfatório, pois para os alunos da modalidade da
(20%) que não possuíam smartphone ou não tinham
EJA o conteúdo era irrelevante e descontextualizado.
como obter acesso à Internet puderam utilizar tablets
Em sua maioria, os aplicativos traziam consigo cam-
disponibilizados pela instituição de ensino na qual os
panhas de iniciativas privadas, divulgação de evento
autores deste estudo desenvolvem linhas de pesqui-
ou vendas de produto com o conceito “Sustentável”, sas com o ensino de m-learning.
revistas, livros e jogos infantis, dificultando o reuso e
adequação para o contexto de aprendizagem avalia- A utilização de recursos tecnológicos com alunos
do na etapa anterior. na modalidade EJA, em especial quando se trata do
86
uso de dispositivos móveis, indispensavelmente há a inclusão digital e ampliar o tempo e os espaços de
necessidade de desenvolver estratégias de uso que se aprendizagem/interação desses educandos.
aproximem do perfil dos alunos, no sentido em que
o contexto de aprendizagem faça sentido para eles. Ao seguir, o modelo de análise na Figura 1, mo
qual foi possível identificar como estratégia duas
Neste trabalho, antes de escolher quais aplicativos aplicações para ensinar o tema proposto (Temas
seriam adotados para ensinar Temas Transversais, Transversais - Sustentabilidade): Application for
consideraram-se três aspectos importantes: des-
content sharing, com objetivo de fornecer conteú-
crição do Recurso, Contexto de Aprendizagem e
do para que os alunos possam estudar o conteúdo
Limitação de Uso (Figura 1).
durante o trajeto para escola ou em qualquer hora e
lugar, ancorando-se nos príncipios do m-learning,
u-learning (BARBOSA et al, 2011). A segunda estra-
tégia (Application to assess and motivate learning
in the classroom) relaciona-se com pressupostos
da flipped classroom (BERGMAN & SAMS, 2012;
Hwang et al, 2015) e da aprendizagem significativa,
ao considerar que os estudantes podem aprofundar o
conteúdo em sala e ainda ter momentos de efetivo uso
de tecnologias digitais para mediar o conhecimento e
desenvolver a aprendizagem. Nesta situação, professo-
res e alunos podem romper a barreira na modalidade
EJA para explorar novas formas de ensinar e aprender.
87
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
b) Lensoo Create Limitação: Na versão gratuita, permite gravar
apenas 15 minutos de aula, restringe algumas fun-
Descritivo: transformar qualquer dispositivo em cionalidades (gravação HD, destacar/realçar termos,
uma lousa digital, com a possibilidade de escrever formas geométricas)
ou digitar, inserir imagens na tela e gravar aulas.
O recurso permite, ainda, publicar e compartilhar
conteúdo (Youtube) e importar documentos (Google
Estratégia 2: Aplicativo para avaliar e motivar
Sheets, Google Slides, PDF). a aprendizagem em sala de aula
Contexto de aprendizagem: o aluno, previamen- a) Socrative Student
te, pode acessar e/ou rever o conteúdo explicado na Descritivo: permite criar, importar, avaliar os
aula anterior. O professor poderá utilizar o recurso alunos em tempo real com questões. O aplicativo
para criação de aulas com base na metodologia de exibe um relatório do desempenho dos participan-
sala de aula invertida (Flipped Classroom) e compar- tes. Possui modo colaborativo, no qual é o possível
tilhar com os alunos a explicação/revisão/resolução dividir os participantes em grupos e desafiá-los
de um determinado conteúdo. (Conceito de Gamificação).
88
Contexto de aprendizagem: professor e aluno os alunos desenvolveram de forma colaborativa um
podem obter o resultado do desempenho na atividade. mapa mental sobre o tema Sustentabilidade.
Aplicável para todas as áreas do conhecimento. Os Limitação: Necessário estar conectado para
dados emitidos no relatório possibilitam ao educador criação.
rever os conteúdos/tópicos e subsidiar aprendizagem
dos participantes com materiais complementares. Além dos aplicativos utilizados nos itens I e II, há
algumas ações facilitadoras para otimizar o acesso e
Limitação: necessário estar conectado para acesso. o tempo para visualizar um determinado conteúdo.
Não funciona em todas as versões do Android. Tratando-se do tempo restrito destinado a cada
aula, as questões técnicas, geralmente, roubam
b) MindMup a cena durante a aplicação de uma atividade,
Descritivo: permite criar e compartilhar mapas envolvendo dispositivos móveis. A utilização de
mentais. QR-codes, encurtadores de link, mensagens instan-
tâneas (WhatsApp, por exemplo), Bluetooth, blogs
Contexto de aprendizagem: os alunos podem e outras redes sociais apresentam-se como boas
representar o conteúdo/síntese de um determinado práticas para fornecer o conteúdo aos educandos
tema por meio de uma representação/esquema grá- previamente, evitando que a utilização imediata do
fico, facilitando a hierarquização das informações e recurso se apresente como apenas uma substituição
a ampliação da memorização de uma grande quan- de artefato. Afinal, o preparo prévio contribui para
tidade de conteúdo/informação. Na aula prática, o engajamento ativo dos participantes na tarefa.
89
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
Análise dos Resultados
Com intuito de perceber as contribuições que 5,0), tendo em vista 22 alunos (81%) de um total de
o presente estudo pode oportunizar para práticas 27 participantes.
de uso do m-learning, a análise das etapas fora
organizada da seguinte forma: instrumentos, No Gráfico 2 é possível perceber um aproveita-
desempenho, feedback e direcionadores. Como mento satisfatório dos alunos com a relação à avaliação
suporte, a fundamentação teve por base os princí- realizada com o aplicativo Socrative durante a aplica-
pios da aprendizagem significativa e ativa. ção da atividade, utilizando os dispositivos móveis.
90
Figura 6 – Captura de Tela - Socrative (Exercício com baixo aproveitamento)
Na Figura 6, pode-se perceber a necessidade de reais da vida contemporânea. Tal percepção também
retomar um aspecto específico do conteúdo: “Susten- foi percebida no feedback dos alunos:
tabilidade” (os benefícios obtidos com a reciclagem)
que, de forma geral, não foi assimilado pelo grupo. [1] Para mim, a aula usando celular e tablet
ajuda melhor entender. Foi muito legal a ativida-
de que fizemos, testando nossos conhecimentos,
c) Feedback dos alunos acerca da atividade
nos divertimos ao mesmo tempo. Espero que
Nos minutos finais (etapa 3), os alunos rece- continue assim.
beram uma folha para que pudessem expressar
uma opinião acerca da experiência de realizar [2] Bom, gostaria que repetisse mais vezes é
atividades por meio de dispositivos móveis. Numa muito legal aprendemos coisas também, inclusive
abordagem qualitativa, o feedback dos alunos hoje aprendi as cores que indicam o plástico, vidro,
forneceu elementos importantes para avaliar as papel e metal eu não prestava atenção.
etapas da pesquisa. [3] Espero que com a aula possamos por em
Nove (9) registros produzidos pelos alunos (indi- prática cada lição que aprendemos.
vidualmente e em grupo) foram escolhidos aleato- [4] Achava que sustentabilidade era reciclar
riamente a fim de que fosse possível correlacionar o coisas, mas depois de velho, vi que muito mais do
objetivo proposto nesse estudo no que se refere às que isso. Gostei também da atividade em grupo
possibilidades permitidas pela aprendizagem móvel. para fazer o mapa mental.
Destacadamente, todos os discursos demonstraram-se
favoráveis à prática de aulas com apoio de dispositivos [5] Ter a matéria no celular antes da aula é
móveis, reconhecendo os benefícios que esses artefa- muito bom, estudei no caminho do trabalho, a
tos podem proporcionar aos processos relacionados gente não tem tempo para estudar em casa por-
ao ato de ensinar e, consequentemente, direcionar os que só chegamos para dormir.
alunos para uma aprendizagem ativa e significativa.
[6] Achei que essa aula foi muito produtiva e
Para Moreira (2006), um dos maiores desafios interessante. Parabéns pela inovação.
do professor consiste em auxiliar o aluno a assimilar
a estrutura das matérias de ensino e a reorganizar [7] Achei a aula super interessante porque
sua própria estrutura cognitiva, diante da aquisição serve como um teste de empresa para conseguir
de novos significados que podem gerar conceitos e um emprego.
princípios. O autor ressalta, ainda, que o problema [8] O grupo achou bom, melhor do que ficar
da aprendizagem em sala de aula está na utilização escrevendo, sem entender nada. Essa aula foi
de recursos que facilitem a captação da estrutura boa porque já aprendemos com nossos erros,
conceitual do conteúdo (m-learning, por exemplo) ajudou também em pensarmos em equipe e todos
e sua integração à estrutura cognitiva do aluno, deram palpite.
tornando o material significativo.
[9] A aula de qualidade gostamos de todas as
Sob o aspecto motivacional em aprender conteúdos etapas e que venha mais aula assim.
transversais, como, por exemplo, a sustentabilidade,
relaciona-se ao fato de que os alunos da EJA podem Para efeito didático, os dados foram categoriza-
transferir o conhecimento adquirido para situações dos como: “Direcionadores da aprendizagem”.
91
Aprendizagem Móvel e a Educação de Jovens e Adultos
ARTIGO
I
Direcionadores da aprendizagem - A Figura 7 ações educativas. A escola que atende a modalidade
representa os direcionadores da aprendizagem no EJA deve estar atenta aos interesses e necessidades
que concerne à categorização realizada na análise dos desses educandos, favorecendo a inclusão e práticas
registros (feedback) dos alunos. Ademais, é possível de novas tecnologias ao contexto escolar, como por
perceber que os apontamentos dos alunos foram exemplo: m-learning.
identificados em mais de uma categoria, colaborando
para intensificar a adoção de estratégias de ensino Os resultados obtidos nesse estudo permitiram
que contemplam o uso de dispositivos móveis. Num perceber que a aprendizagem móvel contribuiu
sentido mais amplo, enriquece práticas pedagógicas e significativamente para reverter o baixo desem-
direciona o contexto da aprendizagem dentro e fora penho dos alunos na proposição da aula sobre
dos espaços escolares. temas transversais (Sustentabilidade), não apenas
quantitativamente, mas também qualitativamente,
se forem consideradas as questões motivacionais
percebidas nos discursos dos participantes.
Um ponto especial está nas especificidades dos AUSUBEL, D. P. Educational psychology: a cogni-
alunos da EJA no que se refere à utilização de tecno- tive view. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968.
logias móveis (m-learning) em sala de aula, pois não BARBOSA, J., SACCOL, A. Z; SCHLEMMER, E.
basta teclar “aplicativo sobre sustentabilidade“ e pro- M-Learning e U-Learning: Novas Perspectivas da
por que os alunos interajam com o recurso, faz-se, Aprendiazgem Movel e Ubiqua. São Paulo: Pearson
portanto, necessário gerar estratégias que possam Prentice Hall, 2011.
inserir e direcioná-los no contexto tecnológico em
prol da aprendizagem significativa e emancipadora. BERGMANN, J.; SAMS, A. Flip your classroom:
Reach every student in every class every day. Inter-
national Society for Technology in Education, 2012.
Conclusão
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Cur-
riculares Nacionais (PCNs) – terceiro e quarto
Diante das mudanças ocorridas no âmbito escolar, ciclos: introdução. Brasília: Secretaria da Educação
torna-se necessário repensar e redefinir o papel do Fundamental, 1998.
educador. Considerando-se que aluno e professor têm
a informação disponível em tempo real e que a inclu- BÖCK, V. R. Motivação para aprender e motiva-
são tecnológica já não é mais um fator que limita as ção para ensinar. Porto Alegre: CAPE, 2008.
92
BORUCHOVITCH, E., BZUNECK, J. A; Guimarães, OLIVEIRA, M. K. Jovens e adultos como sujeitos de
S. E. R. Motivação para aprender: aplicações no aprendizagem. In: RIBEIRO, V. M., Educação de
contexto educativo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. jovens e adultos-novos leitores, novas leituras.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002.
BROPHY, J. Research on motivation in education:
Past, present, and future. In T. C. Urdan (Ed.), Advan- SANTAELLA, L. A aprendizagem ubíqua subs-
ces in motivation and achievement: The role of titui a educação formal? Disponível em: <http://
context. Vol. 11. Connecticut: Greenwich, JAI, 1999. revistas.pucsp.br/index.php/ReCET/article/
view/3852/2515>. Acessado em 2010.
CARNEIRO, R. et al. Transversalidade e inclu-
são: desafios para educador. Rio de Janeiro: Senac SANTOS, E.; WEBER, A. Educação e cibercultura:
Nacional, 2005. aprendizagem ubíqua no currículo da disciplina didá-
tica. Revista Diálogo Educacional, v. 13, n. 334,
CASTELLS, M. A sociedade em rede – A Era da 2013, p. 285.
Informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo:
Paz e Terra, 1999. SANTOS, J. C. F. Aprendizagem Significativa:
modalidades de aprendizagem e o papel do professor.
CROMPTON, H. Mobile learning: New approach, 2.ed. Porto Alegre: Editora Mediação Distribuidora
new theory. Handbook of mobile learning, 2013, e Livraria, 2008.
47-57.
TAPSCOTT, D. Grown Up Digital: How the Net
DEMO, P. Desafios modernos da Educação, 4.ed. Generation is Changing Your World. McGraw Hill,
Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001. New York, 2009.
HWANG, G. J., WANG, S. Y.; LAI, C.L. Seamless TOTTI, A.R, GOMES, C.A.S, MOREIRA, S.P.T;
flipped learning - a mobile technology-enhanced SOUZA, W.G. M-Learning: Possibilidades para a
flipped classroom with effective learning strategies. Educação a Distância. ABED Conference, disponí-
Journal of Computers in Education, 2015, 2(4), vel em: http://www.abed.org.br/congresso2011/
449-473. cd/181.pdf. Acessado em 2011.
HWANG, G. J.; WU, P. H. Applications, impacts and UNESCO. Educação para cidadania global: prepa-
trends of mobile learning - a review of 2008-2012 rando alunos para os desafios do século XXI. Brasília:
publications in selected journals. International Ministério da Educação, 2015.
Journal of Mobile Learning and Organisation,
2014, 8(2), 83-95. VALENTIM, H. D. Para uma compreensão do
Mobile Learning: Reflexão sobre a utilidade das
JOHNSON, L. et al. Technology outlook for brazi- tecnologias móveis na aprendizagem informal e
lian Primary and Secondary Education. In: NMC para a construção de ambientes pessoais de apren-
Horizon Project Sector Analysis. Austin, Texas: dizagem, disponível em: http://run.unl.pt/bitstre-
The New Media Consortium, 2012. am/10362/3123/1/Hugo_Valentim_M-Learning.
pdf. Acessado em 2009.
KAWAMURA, E. M. Temas Transversais: contribui-
ções para o ensino e aprendizagem de Matemática.
Dissertação de Mestrado – Universidade Bandeirante
de São Paulo, SP, 2009.
93
O Uso do Blackboard Mobile no Ensino Médio: uma possibilidade de avaliar a aprendizagem na Matemática
ARTIGO
II
O Uso do Blackboard Mobile no Ensino Médio:
uma possibilidade de avaliar a aprendizagem na Matemática
Eduardo Jesus Dias
Marcos Andrei Ota
Ademir Cenati
Carlos Fernando de Araujo Jr.
Resumo
O ensino da Matemática tem vivenciado uma série de transformações, seja pela necessidade de propor novas
formas de ensinar, seja pelas discussões geradas para suprir as dificuldades de aprendizagem enfrentadas
pelos estudantes. A utilização de tecnologias educacionais apresenta-se como elemento importante para
a educação matemática, pois permite desenvolver mecanismos para apoiar a aprendizagem independen-
temente da modalidade de ensino: presencial, híbrido ou online. O objetivo deste trabalho é mostrar o
desenvolvimento de uma atividade de Matemática com 26 alunos do 2º ano do Ensino Médio, em um colégio
localizado em São Paulo. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (Blackboard) foi utilizado como recurso
para mediar e avaliar o estudo da Trigonometria por meio de tablets em sala de aula. A Teoria da Atividade
ofereceu subsídios para compreender o contexto e o funcionamento do trabalho colaborativo e a análise dos
elementos descritos por essa teoria. O resultado é apresentado com base numa análise de dados coletados
a partir das atividades realizadas no Blackboard. As possibilidades discutidas neste estudo intensificam ainda
mais as contribuições tecnológicas para subsidiar a educação matemática.
Considerações Iniciais
Novas estratégias para ensinar em um mundo Com a evolução das tecnologias móveis e as
cada vez mais “tecnologizado” surgem como prá- possibilidades de interação, a aprendizagem móvel
ticas necessárias, não apenas por uma questão de (mobile learning ou m-learning) possibilita cone-
utilização ou adoção de artefatos tecnológicos, mas xões que tornam o ensino não linear, colaborativo,
também como desafio de proporcionar elementos favorecendo novas formas de produzir conteúdo
para uma formação continuada dos educadores, em distribuído no tempo e espaço (TAPSCOTT, 2009).
especial àqueles que se aventuram a ensinar Mate- Outro aspecto importante está na possibilidade
mática na contemporaneidade. de auxiliar estudantes e professores a desempe-
nharem os seus respectivos papéis em sala de aula,
A utilização das tecnologias digitais tem trazido
centrada na utilização de dispositivos móveis, como,
grandes transformações para a nossa Sociedade,
por exemplo, o tablet, além de uma variedade de
pois está baseada nas características de facilidades de aplicativos para dar suporte às estratégias de ensino
uso, de agilidade e de interatividade da informação. (BOTTENTUIT J. et al. 2012; MOURA, 2010).
Essa logística tecnológica está alterando e criando Conectadas a essa realidade, as novas tecnologias,
novas estruturas de comunicação entre os sujeitos, nos espaços escolares, em especial aquelas que pos-
ou seja, há um novo contexto de mudanças com- sibilitam a aprendizagem móvel ou com mobilidade,
portamentais e sociais entre os indivíduos de uma suscitam ideias para direcionar a aprendizagem do
comunidade, seja ela profissional ou educacional. aluno acerca dos desafios do século atual.
94
O uso de artefatos tecnológicos, como o Black-
board Mobile1, possibilita desenvolver estratégias
Percurso teórico-metodológico
de ensino para potencializar e dinamizar a apren-
dizagem nas mais diversas áreas do conhecimento. Nos próximos tópicos, apresentaremos breve defi-
nição das teorias e metodologias que serão abordadas.
Neste estudo, traremos à tona estratégias utili-
zadas para avaliar a aprendizagem na Matemática,
mais especificamente no estudo da Trigonometria. Teoria da Atividade
Nesse formato de Ambientes Virtuais de Aprendi- A Teoria da Atividade (TA) tem sido utilizada em
zagem, baseamos a prática desenvolvida com uma
diversos trabalhos relacionados ao uso da tecnologia
turma do Ensino Médio, estruturada na utilização
na Educação (BATISTA et al., 2011).
de tablets como instrumentos mediadores e auxilia-
dores no desenvolvimento de ações pedagógicas, Ramos (2010) apresentou a TA no contexto dos
objetivando mostrar o desenvolvimento de uma ati- processos colaborativos mediados por computador.
vidade com 26 alunos do 2º ano do Ensino Médio A TA tem suas origens no final do século, com os
de um colégio paulistano (São Paulo). teóricos Vygotsky (1978), Leontiev (1978) e Enges-
Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) trom (1987).
e suas respectivas versões mobile permitem, por O aspecto principal na TA é a mediação, pois
meio das comunidades virtuais de prática, a troca as atividades humanas são sempre mediadas por
de significados entre os estudantes e entre estudan- um artefato e nunca são diretamente relacionadas
tes e professor, de forma mais fácil do que ocorre à realidade.
em uma aula tradicional em laboratório, na qual o
tempo pode ser mais bem aproveitado para ativida- Um artefato pode ser considerado uma tecno-
des mais específicas (BARBOSA, 2005). logia: computadores, notebooks, smartphones ou
tablets. Eles são utilizados no processo de transfor-
Num contexto mais tecnológico em relação às
mação do objetivo sobre o objeto em questão ou para
aulas ditas tradicionais, destacaremos como o uso
atingir uma meta desejada (ENGESTRÖM, 1987) –
do Blackboard Mobile e do tablet favorecem a
Figura 1.
motivação dos alunos nas aulas de Matemática no
momento de aplicar atividades, provas e exercícios.
Instrumentos
(ferramentos e signos)
A relevância do trabalho justifica-se pelos
inúmeros benefícios que o m-learning pode opor-
tunizar nos espaços escolares (BARBOSA et al.,
2011; ARAUJO JR., C. F.; SILVEIRA, I. F, 2014)
e, de forma extensora, promover ações de apren-
dizagem não formal e ubíqua (SANTAELLA, 2010;
Sujeito Objeto ⇒ Produto
CASTELLS,1999).
95
O Uso do Blackboard Mobile no Ensino Médio: uma possibilidade de avaliar a aprendizagem na Matemática
ARTIGO
II
Tablets, Smartphones, Blackboard, Internet
Nessa estrutura, observa-se que todos os elemen- também outros recursos midiáticos para apoiar a
tos da atividade se correlacionam e se comunicam aprendizagem do conceito disponibilizado no AVA,
com base na proposta mediadora facilitada pelos que tratavam de questões pertinentes ao conteúdo
artefatos tecnológicos. trabalhado em sala de aula.
O professor de Matemática poderá explorar a A execução do trabalho diante do referencial
Teoria da Atividade (TA) na proposição de aulas teórico de Leontiev (1978) aponta que o objeto é
que estabeleçam os passos de análise do compor- considerado como centro da atividade; nesse caso,
tamento gráfico. o objetivo era analisar as questões respondidas
pelos alunos no que se refere às atividades de Tri-
O artefato mediador (tablet e aplicativos) pro-
gonometria básica no ciclo trigonométrico. Tal ação
porcionará ao docente um dinamismo gráfico que
possibilita-nos conectar ações individuais à atividade
servirá como instrumento avaliativo para subsidiar o
coletiva. A finalização ocorre a partir das regras
ensino de um determinado conteúdo e se pode dizer,
estabelecidas que norteiam as ações e as interações
também, que os postulados da TA fornecem elemen-
em um Sistema de Atividade (TA).
tos essenciais para o educador no entendimento e
no desenvolvimento de sua prática.
A atividade proposta, objeto do presente estudo, O presente estudo baseou-se nos métodos qua-
foi um questionário disponibilizado no ambiente litativos e quantitativos por considerar relevantes as
virtual de aprendizagem (Blackboard) e debatido contribuições que os dados podem fornecer à Educa-
durante as aulas de Matemática, no Colégio. ção, assegurando melhor interpretação do problema
pesquisado.
Os alunos deveriam responder questões sobre
alguns conceitos básicos de Trigonometria, que A execução do trabalho mostrou que, segundo o
estavam previstos no plano anual do professor referencial teórico de Leontiev (1978), o objeto é consi-
pesquisador. Na oportunidade, o pesquisador inseriu derado o centro da atividade. Nesse caso, o objeto era
96
voltado para a análise das questões de Trigonometria dúvidas no momento em que elas ocorrem, com a
elaboradas pelo professor e observadas nas telas dos ajuda de seus pares e do professor, o que propor-
dispositivos usados pelos alunos no momento em que cionará um ambiente colaborativo de aprendizagem
entravam no Ambiente Virtual (AVA). (TECHSMITH, 2013).
97
O Uso do Blackboard Mobile no Ensino Médio: uma possibilidade de avaliar a aprendizagem na Matemática
ARTIGO
II
de teste compatível com dispositivos móveis. essa nova tecnologia mediadora do conhecimento,
Esse teste foi disponibilizado na aula do professor que poderá propiciar uma dinâmica satisfatória no
(Figura 4), e como alguns alunos não conseguiram processo de ensino e aprendizagem.
responder durante o tempo regular da aula, o teste
ficou disponibilizado até o final do dia da execução A atividade teve caráter coletivo e individual, isto
da atividade. é, os próprios alunos compartilharam suas dúvidas e
argumentações sobre as teorias discutidas anterior-
Segundo Lehner e Nosekabel (2002), a tecnologia mente nas aulas e responderam individualmente às
m-learning é um serviço ou uma facilidade que supre questões estabelecidas para a análise da aprendiza-
um aprendiz com informação eletrônica em geral e gem. A seguir, veremos os resultados obtidos com a
conteúdo educacional, e que auxilia na aquisição de aplicação da avaliação.
conhecimento, independente de espaço e tempo.
Resultados
A partir da elaboração do questionário e das aulas
desenvolvidas, buscamos identificar como o Black-
board Mobile, o aplicativo e os dispositivos móveis
(tablets e smartphones) puderam contribuir para uma
efetiva e significativa aprendizagem da Disciplina.
Figura 4: Captura de Tela – Blackboard Mobile Nas questões 1, 5, 7 e 10, nas quais o aluno
Fonte: autores da pesquisa deveria observar e identificar as imagens de seno e
cosseno no ciclo trigonométrico, projetar esse racio-
O estudante foi o ponto de partida da análise na cínio para o plano cartesiano e, consequentemente,
atividade, ou seja, a partir dele, estabelecemos con- esclarecer seus valores na tabela trigonométrica t.,
tato para verificação da evolução ou não da apren- os dados apontam que os discentes conseguiram um
dizagem, mas também como se dá sua reação com índice bem elevado de acertos:
98
Diante desse percentual positivo de acertos, a ção conduz a uma reflexão sobre o significado dessa
Teoria da Atividade baseada por Engeströn (1999) variável numa expressão da forma geral de um ou
mostra-nos que essa relação de mediação com mais arcos.
as ferramentas (aplicativo, Blackboard, tablet)
ajudou os alunos na resolução e na análise dos Avaliamos que houve problema de interpretação
exercícios propostos. por parte dos alunos e o Blackboard Mobile foi
fundamental para uma análise docente mais apurada
Destacamos a fala dos alunos A e B: da aprendizagem matemática prevista.
[...] professor, achei muito legal as aulas de As relações estabelecidas entre o aplicativo, o
Matemática serem assim, fica mais dinâmico AVA, o tablet e o aluno potencializaram o processo
(Aluno A). de discussão e orientação do conteúdo matemático
abordado no momento da aula.
[...] ter conteúdos extras, como vídeos, ativi-
dades, aplicativos, é bom para compreender A qualidade percebida pode ser parametrizada
mais rapidamente o conteúdo (Aluno B). com base na relação entre a primeira (tradicional)
e a segunda atividade com as ações mediadas pelos
Muito embora na questão de número 6, que recursos (Blackboard Mobile, tablets e smartpho-
se refere ao quadro geral de acertos, tenhamos a nes). De forma geral, o feedback dos estudantes nos
indicação de que 96% dos alunos não reconheceram permitiu gerar algumas possibilidades de avaliar a
a forma algébrica trigonométrica (Quadro 1), pois aprendizagem e suscitar novas estratégias no ensino
essa estrutura Matemática abstrai e relaciona con- da matemática.
ceitos iniciais de funções estudadas no 1º ano do
Ensino Médio. Algumas possibilidades de avaliação
Os recursos de análise do Blackboard Mobile As ferramentas nativas do AVA (Blackboard)
forneceram-nos dados para a percepção de que a oferecem várias possibilidades para análise dos
referida questão de baixo aproveitamento requeria dados, que não se restringem apenas à educação
uma mediação e intervenção para suprir a dificul- matemática, e sim a todas as áreas do conhecimento
dade apresentada pela maioria dos estudantes. e modalidades de ensino, pois fornecem elementos
Diante dessa realidade, ao adotar os princípios do importantes para avaliar os processos de ensino e
m-learning, foi possível adicionar um material com- aprendizagem, permitindo reconhecê-los por meio
plementar no ambiente virtual para dar suporte às dos dados, potencialidades e fragilidades do percurso
dificuldades apresentadas no exercício. da aprendizagem adotado.
99
O Uso do Blackboard Mobile no Ensino Médio: uma possibilidade de avaliar a aprendizagem na Matemática
ARTIGO
II
Matemática, não apenas quantitativamente, mas CASTELLS, M. A sociedade em rede. A Era da
também qualitativamente, se forem consideradas Informação: economia, sociedade e cultura. v. 1.
as questões motivacionais percebidas nos discursos São Paulo: Paz e Terra, 1999.
dos participantes.
ENGESTRÖN, Y. Learning by expanding: an
Destarte, a utilização e a combinação adequada activity–theoretical approach to Developmental
dos artefatos tecnológicos suportados pela fundamen- Research. Helsinki: Orienta Konsultit, 1987.
tação teórica da TA, possibilitou criar estratégias de
ensino aplicáveis a todas as áreas do conhecimento. _______________. Activy theory and individual
transformation. Cambridge: Cambridge Univer-
Salienta-se que essa prática não se limita a subs- sity, 1999.
tituir um artefato ou a tornar a aula mais atraente;
o desafio está na intencionalidade do uso, isto é, LEONTIEV, A. N. Atividade, consciência e
gerar novas práticas para transmitir conhecimento, personalidade. 1978.
conectando o aluno ao mundo e disseminando a LEHNER, F.; NOSEKABEL, H. The role of mobile
aprendizagem emancipadora e ativa dentro e fora devices in e-learning: first experiences with a wireless-
do contexto escolar. learning environment. In: IEEE – International
Entre as possibilidades futuras de investigações, Workshop on Wireless and Mobile Technologies
pode-se destacar a necessidade de intensificar os In Education, 2002. Anais... Vaxjo, Sweden, 2002.
estudos para proposição de atividades para as MOURA, A. M. C. Apropriação do telemóvel como
demais áreas do conhecimento e a aplicação de ofi- ferramenta de mediação em mobile learning:
cinas/cursos que possam preparar novos docentes estudos de caso em contexto educativo. 2010.
em face do uso efetivo de dispositivos móveis em 601f. Tese (Tese de Doutoramento em Ciências da
sala de aula. Educação) - Instituto de Educação, Universidade do
Minho, Lisboa, Portugal, 2010.
Referências RAMOS, D. K. Processos colaborativos mediados pelo
computador e as contribuições da teoria da atividade.
Revista Brasileira de Informática na Educação,
ARAUJO JR, C. F.; SILVEIRA, I. F. (Orgs.) Tablets
Porto Alegre, RS, v.18, n. 3, p. 34-45, 2010.
no Ensino Fundamental e Médio: princípios e
aplicações. São Paulo: TerraCota, 2014. v. 1. 176p. SANTAELLA, L. A aprendizagem ubíqua substitui
a educação formal? 2010. Disponível em: <http://
BARBOSA, Jorge. SACCOL, Amarolinda Zanela,
revistas.pucsp.br/index.php/ReCET/article/
SCHLEMMER, Eliane. M-Learning e U-Learning:
view/3852/2515>.
Novas Perspectivas da Aprendizagem Móvel e Ubiqua.
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. VYGOTSKY.L. S. Mind and society: The
development of higher mental processes, 1978.
BARBOSA, Rommel M. Ambientes virtuais de
aprendizagem. Artmed, 2005. TAPSCOTT, D. Grown Up Digital: How the Net
Generation is Changing Your World. New York:
BATISTA, F. C. S.; Behar, P. A.; Passerino, L. McGraw Hill, 2009.
M. (2011) M-learn Mat: Aplicação de um Modelo
Pedagógico para Atividades de M-learning em TECHSMITH. Teachers Use Technology to Flip
Matemática. In: Simpósio Brasileiro de Informática Their Classrooms. Disponível em http://www.
na Educação, 22, Aracaju, SBC. p.978-987. techsmith.com/flipped-classroom.html, 2013.
BOTTENTUIT J. J; COUTINHO, P. C;
ALEXANDRE, S. D. M-Learning e Webquests:
As novas tecnologias como recurso pedagógico.
Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.
pt/bitstream/1822/6454/1/SIIEWebquests
20Final.pdf, 2012.
100
Tablets e Aplicativos para Contar a História
da Matemática no Ensino Médio
Eduardo Jesus Dias
Carlos Fernando de Araujo Jr.
Resumo
Neste artigo, sugerimos que a história na Educação Matemática aliada à tecnologia mobile, poderá
proporcionar análises de conceitos, teorias e estruturas lógicas significativas no processo de ensino e
aprendizagem da Matemática, pois o objetivo central deste trabalho será analisar a motivação e a aprendi-
zagem dos alunos na utilização dos tablets em sala de aula. A partir de um trabalho colaborativo, alunos do
Ensino Médio criaram aplicativos que contaram um pouco a história da Matemática. Essa experiência foi
desenvolvida em um colégio particular situado na zona leste da cidade de São Paulo. Com a participação
de 4 professores e 107 alunos da 1ª série do Ensino Médio, observamos que o tablet gerou um ambiente
estimulador e desafiador na busca de elementos históricos matemáticos para explicar conceitos e teorias
até então não questionadas pelos alunos em aulas convencionais. Os resultados apresentados na pesquisa
apontam que o uso dos tablets no desenvolvimento do trabalho foi de suma importância não só na questão
motivacional, mas também na obtenção de conhecimento sobre algumas teorias matemáticas que estão
postas em sua história.
Introdução
No processo de ensino e aprendizagem de Ma- mediador possa contribuir na construção de conceitos
temática, a história é um recurso que poderá trazer matemáticos por meio da criação de aplicativos que
para o ambiente educacional vantagens didáticas ofereçam questões de ordem social, histórica e cultural
significativas para a Disciplina. Segundo Miorim e Mi- no ensino da Matemática, por meio do estudo de
guel (2004), existem argumentos que potencializam o cinco civilizações (babilônica, chinesa, grega, egípcia e
uso pedagógico da história na Educação Matemática, indiana) que influenciaram a Matemática atual.
ou seja, a história acaba participando da construção
tanto de natureza epistemológica como também da As novas tecnologias de informação e comu-
natureza ética do conhecimento matemático. nicação tornam-se, hoje, parte de um vasto
instrumental historicamente mobilizado para
D’Ambrosio (2008, p.29) argumenta que “a histó- a educação e aprendizagem. Cabe a cada
ria da Matemática é um elemento fundamental para se sociedade decidir que composição, do con-
perceber como teorias e práticas matemáticas foram junto de tecnologias educacionais, mobilizar
criadas”. Diante disso, podemos destacar que o fator para atingir suas metas de desenvolvimento
histórico contextualiza a Matemática dentro da sala de (WERTHEIN, 2000, p.77).
aula e serve como parâmetro para dar vida a fatos e a
necessidades humanas. Nesse artigo temos a proposta A associação entre o potencial do recurso tecno-
de discorrer sobre a utilização do tablet em sala de lógico com a área de conhecimento e uma estratégia
aula num trabalho colaborativo, e como um objeto de ensino e aprendizagem significativa que atenda às
101
Tablets e Aplicativos para Contar a História da Matemática no Ensino Médio
ARTIGO
III
características do estudante atual, em um contexto os rios Eufrates, Tigre e o Nilo, pois naquela região
de aprendizagem mais interativa e dinâmica, pois a agricultura era a base de sustentação das pessoas
segundo Teixeira e Brandão (2003) poderão aconte- que ali habitavam e cultivavam a terra. Diante disso,
cer quando a proposta pedagógica for planejada de acredita-se que a história na Educação Matemática
forma que os professores visualizem e reconheçam vem ao encontro das transformações sociais e
as suas potencialidades. culturais de cada época, pautada na necessidade
individual e coletiva da sociedade. A Matemática foi
A questão deste artigo será que com um trabalho construída por meio da necessidade de contar, de
interdisciplinar envolvendo algumas áreas do conhe- organizar, de desenhar e de estabelecer parâmetros
cimento e o uso da tecnologia mobile poderemos lógicos que geraram formas de comunicação entre
despertar a curiosidade entre os alunos do Ensino a escrita e o pensamento. Gomes (2000) diz que os
Médio pela Matemática e torná-la significativa? signos são instrumentos importantes para que pos-
Podemos questionar que os conceitos primitivos da samos compreender a realidade humana nos seus
Matemática possam favorecer a continuidade dos valores, nas suas condutas e nas suas expectativas
estudos da Matemática atual? E qual seria a verda- geradas por suas experiências cotidianas.
deira contribuição de um projeto em que participa
um grupo de professores e alunos para construir Com a utilização do tablet na sala de aula, o
aplicativos que possibilitem o desenvolvimento do professor poderá explorar os conceitos sobre a
pensamento histórico e cultural na questão do ensino história da Matemática, utilizando-se de imagens
da Matemática com o uso do tablet? que retratam gravuras históricas do contexto
matemático, textos diversos que contam a história
Olhando sob esses aspectos, percebemos que desses povos, vídeos que narram historicamente o
poderíamos usar esses artefatos (tablets e aplica- desenvolvimento dessa Ciência.
tivos) em nossa pesquisa para tentar responder
essas questões, pois pretendemos utilizar o tablet
como um instrumento básico no alcance dos obje- Revisão da Literatura
tivos propostos.
102
indivíduos, no interior do contexto cultural que os cada situação existem múltiplas variáveis interferindo
envolve” e o conhecimento matemático em particu- simultaneamente” (RUIZ; BELLINI, 1998, p. 55).
lar, como uma “ manifestação simbólica de certas
sensibilidades desenvolvidas pelos membro de uma A visão interdisciplinar desses autores deixa claro
cultura através de experiências compartilhadas e a que esse campo de estudo é muito mais abrangente
partir das quais o significado dos produtos é produ- e complexo do que se imagina. Podemos dizer que o
zidos” (RADFORD,1997, p.30, citado por MIORIN; contexto histórico social da realidade interdisciplinar
MIGUEL, 2004, p. 125). promoverá uma atitude intelectual coerente às ne-
cessidades humanas, mas também o enriquecimento
Assim, percebemos que um projeto colabora- da articulação do trabalho conjunto das ciências
tivo e que envolva pessoas para uma investigação específicas, promovendo um avanço intelectual do
sociocultural possibilitará contribuições históricas conhecimento como um todo.
importantes no contexto matemático apoiado no
uso do tablet e em suas ferramentas auxiliares, entre
as quais podemos citar, por exemplo, a internet e Metodologia
o aplicativo.
103
Tablets e Aplicativos para Contar a História da Matemática no Ensino Médio
ARTIGO
III
104
A Pesquisa podemos dizer que as observações dos alunos em
relação ao sistema de numeração antigo, provocam
neles momentos de curiosidades e indagações nas
investigações feitas pelos grupos, percebe-se isso na
Dados e Análises fala do aluno:
Focam-se as construções dos aplicativos desen-
[...] fiquei intrigado e ao mesmo tempo sur-
volvidos pelos alunos que contavam sobre a história
preso quando vi os números chineses, achei
das civilizações antigas e como elas influenciam a
muito interessante (Aluno A).
Matemática até os nossos dias e suas contribuições
na aprendizagem da Matemática elementar. Parti- Acredita-se que quando os alunos fizeram suas
mos do princípio que é por esse contexto histórico pesquisas e construíram o aplicativo falando sobre
matemático vivenciado pelos alunos que poderemos o sistema numérico, concordamos que o elo entre o
alicerçar os conteúdos ensinados na sala de aula. passado e o futuro, segundo comenta D’Ambrosio
Por meio de um questionário com perguntas fechadas, (2008), provoca no discente algumas descobertas e
observação, relatos e análise dos aplicativos construí- conceitos para o seu presente, de uma Matemática
dos, foi possível verificarmos o grau de aprendizagem viva e mutável, conforme as necessidades de cada
do conceitos históricos matemáticos básicos, e sua civilização. O conteúdo administrado de forma que
satisfação e aceitação do trabalho colaborativo inter- a história da Matemática venha a contextualizar
disciplinar envolvendo as Disciplinas de português, melhor o seu ensino com atividades que promovam
história, matemática e informática. Acompanhou-se a uma dinâmica diferenciada em sala para que não
construção dos aplicativos e se constatou que tanto se torne mais um conteúdo desnecessário para os
os professores como os alunos envolvidos no projeto aluno; nós acreditamos que a história e o uso dos
trouxeram importantes contribuições no processo de recursos da tecnologia utilizadas nessa pesquisa fa-
identificação histórica matemática utilizando o tablet voreceram a aprendizagem de tópicos dos quais até
e os aplicativos produzidos em trabalho colaborativo, então os alunos não tinham conhecimento. Como
que gerou e viabilizou a discussão sobre a história da o projeto interdisciplinar envolvendo as Disciplinas
Matemática. No Quadro 2 temos as respostas dos de Português, História, Matemática e Informática,
alunos referente à questão que fala sobre a descoberta constatamos em nosso questionário que os alunos
mais importante dos povos antigos pesquisados: avaliaram muito positivamente o trabalho desenvol-
vido com o tablet e o apoio dos professores.
Quadro 2: Avaliação sobre o grau de Observamos, ainda, que a atividade interdisci-
interesse nas descobertas matemáticas. plinar poderá não só promover uma autonomia
colaborativa entre eles, mas também promoverá
O que mais lhe chamou a atenção na sua atitudes e ações de forma inovadora em rela-
pesquisa, referente às descobertas matemáticas? ção à aprendizagem de matemática, criando
Respostas Porcentagens relações concretas da realidade em que ela vive
A construção do sistema 39% (FAZENDA, 1994).
de numeração A interação tecnológica promovida pelo tablet e
Geometria 15% seus aplicativos foram essenciais para que os outros
Problemas curiosos 17% alunos fizessem suas colocações e sugestões de for-
ma a contribuir com a continuidade desse trabalho.
Os desenhos e imagens utilizados 17%
para a contagem e a resolução [...] no tablet a história e a animaçãoficou
de problemas muito interessante assim como as atividades
Aritmética e a álgebra 8% do aplicativo. A estrutura do aplicativo em
Nenhum fato 3% geral ficou legal e de fácil entendimento do
Fonte: O autor da pesquisa, Eduardo J. Dias conteúdo (Aluno B).
105
Tablets e Aplicativos para Contar a História da Matemática no Ensino Médio
ARTIGO
III
Precisamos também desmistificar a ideia de que colaboradores nesse projeto potencializou a eficácia
o ensino de Matemática se faz apenas de forma dos resultados alcançados nesta pesquisa.
unilateral (professor – aluno), ou seja, existem ma-
neiras diferentes de acontecer a aprendizagem e não
somente uma. Referências
ARAUJO JR, C.F.; SILVEIRA, I. F. (Org.), Tablets no
Considerações finais Ensino Fundamental e Médio: princípios e aplica-
ções. São Paulo: EditoraTerracota, 2012.
Observamos que a maioria dos aplicativos cons-
truídos mostra uma Matemática voltada à teoria e D’AMBROSIO, U. Uma história concisa da Ma-
a tópicos que os alunos já ouviram falar na sala de temática no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2008.
aula. Já um outro fato é o relato da sua importância FAZENDA, I. C.A. Interdisciplinaridade história,
social e cultural em relação à civilização em que teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1994.
está inserida.
GOLDMAN, L. Dialética e cultura. Rio de Janeiro:
Julgamos que conseguimos responder algumas Paz e Terra, 1979.
das questões e objetivos estabelecidos no trabalho,
pois os conceitos históricos matemáticos foram GOMES, H. F. O ambiente informacional e
objetos de debate entre os alunos envolvidos, e suas tecnologias na construção dos sentidos e
percebemos que os percebemos que eles argu- significados. Ciência da informação, Brasília, v.29,
mentavam sobre textos e curiosidades matemáticas n.1, jan/abril. 2000. Disponível em: <http://revista.
estabelecidas pelos grupos de mesmo tema. ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/issue/archive>.
Acesso em: 04 set. 2012.
As equipes posicionaram-se por meio de argu-
mentações e escritas compartilhadas entre eles, MIORIN, M. A.; MIGUEL. A. História na Edu-
gerando assim momentos de reflexão sobre alguns cação Matemática: Propostas e desafios. Belo
tópicos históricos do conteúdo matemático. Horizonte: Autêntica, 2004.
106
Anotações
São Paulo
2016