UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
LICENCIATURA EM DIREITO
FACULDADE DE DIREITO
EVICÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO
NAMPULA
2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
LICENCIATURA EM DIREITO
FACULDADE DE DIREITO
Elementos do 2º Grupo:
Abdulcadre Amisse
Amélia Gigante
Atija Monamela
Aziza Abibo
Belardina Morais
Cremilda Baptista
Esmeralda Sacuar
Efigénia Portugal
Felizarda Filipe
Ivo Matxinhe
Josémia Hawela
Josué Baptista
Lúcio Ramussa
Megue Cecílio
Ricardina Alexandre
Vailet Kutulula
EVICÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO
NAMPULA
2024
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 1
I. Evicção do Direito Estrangeiro ..................................................................................... 2
1. Ordem Pública Internacional ........................................................................................ 2
1.1. Concepção da Ordem pública Internacional ......................................................... 3
1.1.1. Concepção Aposteriorística............................................................................. 4
1.1.2. Concepção Apriorística ................................................................................... 4
1.1.3. Ordem pública em sentido negativo ................................................................ 4
2. Características ............................................................................................................... 5
2.1. Excepcionalidade ................................................................................................... 5
2.2. Imprecisão .............................................................................................................. 5
2.3. Atualidade .............................................................................................................. 5
2.4. Carácter nacional ou relativo a um dado sistema jurídico. .................................... 6
3. Critérios de aplicação da ordem pública internacional ................................................. 6
4. Função proibitiva e permissiva da ordem pública internacional .................................. 6
5. Consequências da intervenção da ordem pública internacional ................................... 7
6. Critérios gerais de delimitação da Ordem Pública ....................................................... 7
6.1. Critério da natureza dos interesses ofendidos ........................................................ 8
6.2. Critério do grau de divergência.............................................................................. 8
6.3. Critério da imperatividade ..................................................................................... 9
7. A ordem pública internacional como um mecanismo de evicção .............................. 10
Conclusão ....................................................................................................................... 12
Referências bibliográficas .............................................................................................. 13
Introdução
O presente trabalho ira abordar acerca da evicção do Direito Estrangeiro.
Ora, o conjunto de normas que apontam o ordenamento jurídico aplicável a um
determinado fato em regra, corresponde ao Direito Internacional Privado, são normas de
sobre direito ou normas indiretas, ou seja, são aquelas que apontam o ordenamento
jurídico que será aplicado a determinada situação.
Um dos mais antigos e conhecidos princípios de direito internacional
privado é o da ordem pública que rejeita a aplicação de normas alienígenas quando
ofensivas aos princípios básicos da ordem jurídica do foro, apesar da indicação de sua
competência pelas regras de conexão do direito internacional privado.
A ordem pública corresponde aos princípios constitucionais, segundo
alguns autores, para outros vai além dos princípios. É o sentimento do que é justo, do que
é adequado, e pode ser, portanto, ainda mais abstrato.
O trabalho apresente como objetivos:
Gerais:
Compreender o âmbito da evicção do Direito Internacional Privado
Específicos:
Qualificar a Ordem Pública ;
Enquadrar no Ordenamento Jurídico Moçambicano;
Descrever os efeitos da Ordem Pública.
No âmbito da elaboração do presente trabalho, fez-se a utilização do
método de pesquisa bibliográfica e qualitativa, no intuito de melhor expor e abordar sobre
a matéria em causa, uma vez que trata-se de um instituto de extrema importância.
1
I. Evicção do Direito Estrangeiro
1. Ordem Pública Internacional
Antes demais é necessário estabelecer uma destrinça entre a Ordem
pública interna e internacional. Ordem pública interna é o conjunto de todas as normas
que, num sistema jurídico dado, revestem natureza imperativa (normas inderrogáveis, ius
cogens). A aplicabilidade em concreto dessas normas supõe ou uma relação puramente
interna, ou uma relação internacional dependente desse ordenamento segundo as
respectivas regras de conflitos de leis ou segundo a respectiva norma de extensão (caso
das normas de aplicação imediata)1.
Frequentemente o legislador recorre a conceitos indeterminados ou a
cláusulas gerais ( boa fé, bons costumes, justa causa, diligência de um bom pai de família,
etc.). Por esta via, permite tomar em conta as circunstâncias particulares do caso (justiça
individualizante, ius aequum), transferindo para o juiz a tarefa de concretizar a disposição
legal no momento da sua aplicação, permitindo adaptar o direito à modificação das
circunstâncias decorrentes da evolução social-histórica tendo em conta regras e valores
extrajurídicos. Os sectores do direito em que vigoram as referidas cláusulas gerais são,
portanto, sectores abertos à consideração das particularidades do caso, abertos à
consideração de valores e máximas extrajurídicos, abertos à evolução das concepções
sociais e da técnica2.
Dentre as cláusulas gerais merece especial destaque, pela sua
proeminência, aquela que se refere à ordem pública no art. 280, nº 2, do nosso Código
Civil: " É nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos bons costumes ".
Para o DIP, encontramos o art. 22, n° 1, do mesmo Código dispondo o
seguinte:
" Não são aplicáveis os preceitos da lei estrangeira indicados
pela norma de conflitos, quando essa aplicação envolva ofensa
dos princípios fundamentais da ordem pública internacional do
Estado Moçambicano ".
1
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado, ALMEDINA, 2014, Pag 405.
2
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 253.
2
Em direito interno qualifica-se como ordem pública, aquelas normas e
princípios jurídicos absolutamente imperativos que formam os quadros fundamentais do
sistema, sobre eles se alicerçando a ordem económico-social, pelo que são, como tais,
inderrogáveis pela vontade dos indivíduos3. Seriam, assim, de ordem pública, entre
outras, aquelas normas que estabelecem as regras fundamentais da organização
económica, as que visam garantir a segurança do comércio jurídico e proteger terceiros,
as que tutelam a integridade dos indivíduos e a independência da pessoa humana e
protegem os fracos e incapazes, as que respeitam à organização da família e ao estado das
pessoas, visando satisfazer um interesse geral da coletividade.
Em suma, A ordem pública internacional de um determinado Estado é
constituída pelos princípios ético-jurídicos fundamentais que regem a vida social desse
Estado, de forma tal que não é tolerável a aplicação de normas de direito material
estrangeiro que violem esses princípios, mesmo que resultem competentes da aplicação
das normas de conflito4.
Diferente o conceito de ordem pública internacional. Se a ordem pública
interna restringe a liberdade individual, a ordem pública internacional ou externa limita a
aplicabilidade das leis estrangeiras, a titulo de exemplo temos: a norma de direito
interno segundo a qual a maioridade se alcança aos 21 anos, no entanto um egípcio
muçulmano será categoricamente considerado maior em Portugal desde a idade de
18 anos, porque assim o estabelece a respectiva legislação nacional Portuguesa.
1.1. Concepção da Ordem pública Internacional
Para abordar acerca deste temática, a doutrina traz algumas teorias que
defendem a natureza da ordem pública internacional, nomeadamente:
a) concepção aposteriorística;
b) concepção apriorística;
c) Ordem pública em sentido negativo;
d) Ordem pública positiva.
3
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 254.
4
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, ALMEDINA,
2009, Pag 59.
3
1.1.1. Concepção Aposteriorística
De acordo com esta doutrina, a ordem pública reveste a natureza a de uma
excepção ou limite à aplicação da lei normalmente competente. A ordem pública
internacional impede a aplicação a determinada relação da vida dos preceitos que, no
sistema jurídico definido por competente pelo DIP do foro, são chamados a reger as
questões daquela categoria5. E isto porque a aplicação desses preceitos daria em resultado
o surgir de uma situação manifestamente intolerada pelas concepções ético-jurídicas
reinantes na colectividade, ou lesiva de interesses fundamentais do Estado, ou seja, trata-
se de uma cláusula ou princípio geral, equiparável às fórmulas da boa-fé e do abuso de
direito na ordem jurídica material interna, e é comum a todos os ordenamentos jurídicos.
1.1.2. Concepção Apriorística
Para esta teoria, a ordem púbica internacional consubstancia-se numa
qualidade inerente a determinadas normas materiais do foro, que postularia a extensão do
domínio de aplicação destas mesmo a hipóteses ligadas por certos elementos de conexão
a ordenamentos estrangeiros, em derrogação a normas de conflitos gerais porventura
existentes no sistema6. Ordem pública é o conceito que engloba as leis pertencentes a
determinada categoria, as leis territoriais. A ordem pública deixa de funcionar como
excepção à aplicação de uma lei previamente definida como competente, mas a lei de
ordem pública, quando se aplica e se se aplica, é por ser a lei de competência normal para
regular o caso.
1.1.3. Ordem pública em sentido negativo
A solução referida em primeiro lugar, ou seja, a teoria aposterioristica é a
mais correcta. O problema a que chamamos da ordem pública internacional não é senão
o de evitar a situação que se produziria com a aplicação da norma estrangeira aos factos
a regular. Não se trata, pois, ao menos em princípio, de excluir genericamente a
intervenção de quaisquer leis estrangeiras em determinado sector do direito privado local,
mas apenas de recusar a aplicação a certos factos concretos de certos preceitos jurídico
materiais em razão do seu conteúdo concreto, portanto, a ordem pública funciona, como
5
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado, ALMEDINA, 2014, Pag 406.
6
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 257.
4
um impedimento à aplicação da lei competente como excepção às regras de conflitos da
lex fori.
2. Características
As características da ordem pública internacional são as que abaixo se
seguem:
a) Excepcionalidade;
b) Imprecisão;
c) Atualidade;
d) Carácter nacional ou relativo a um dado sistema jurídico.
2.1. Excepcionalidade
A intervenção da ordem pública internacional só ocorre quando no caso
concreto se verifica que a conexão da norma de conflitos aponta para uma ou mais normas
de direito material cuja aplicação se mostra intolerável. Ora, só se deve concluir por essa
intolerabilidade em casos de extrema incompatibilidade dessas normas com os princípios
ético-jurídicos fundamentais do Estado do foro7.
2.2. Imprecisão
A ordem pública internacional é um princípio que não se exprime em
regras, é, pelo contrário, mutável, alterando-se de acordo com as concepções básicas e as
referências éticas vigentes em cada sociedade, independentemente da alteração do direito
positivo. Cabe ao intérprete concluir em cada situação se a aplicação de uma norma de
direito material estrangeiro é susceptível de ofender a ordem pública internacional8.
2.3. Atualidade
O que num dado momento se considera ofensivo da ordem pública
internacional poderá não o ser num momento posterior. Tal decorre essencialmente da
própria evolução social e das concepções vigentes numa determinada sociedade. Em
momentos de convulsão social, tais concepções tendem a evoluir mais rapidamente.
7
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, ALMEDINA,
2009, Pag 59.
8
Idem
5
2.4. Carácter nacional ou relativo a um dado sistema jurídico.
Cada sociedade tem as suas referências éticas. Cada Estado tem a sua
ordem pública internacional, não sendo possível proceder a extrapolações. Mesmo em
sociedades próximas, o que ofende a respectiva ordem pública numa poderá não ofender
a ordem pública da outra9.
3. Critérios de aplicação da ordem pública internacional
O renomado dr. Ferrer Correia enuncia alguns critérios de aplicação da
ordem pública internacional, nomeadamente:
a) Não se trata de ajuizar da justiça da lei estrangeira, mas apenas da sua
conformidade com os princípios ético-jurídicos da lex fori;
b) Exige-se um nexo suficientemente forte entre a factualidade sub-judice e o
ordenamento do foro, embora, em casos extremos, a ordem pública internacional
possa funcionar mesmo sem esse nexo;
c) Há que distinguir entre um simples efeito isolado de uma relação constituída no
estrangeiro e a relação jurídica que lhe dá origem 10. Ex: Casamento entre
padrasto e enteada celebrado nos Estados Unidos, a celebração não seria
possível em Porugal, mas pode-se reconhecer o direito a alimentos resultante.
d) Distinção entre o momento da criação, ou constituição, e do reconhecimento das
relações jurídicas. Ex: O reconhecimento da paternidade ilegítima, de um
estado que não permite. Se tivesse sido reconhecida a paternidade por
sentença de tribunal estrangeiro, essa sentença poderia ser reconhecida nesse
tal estado.
4. Função proibitiva e permissiva da ordem pública internacional
A ordem pública internacional tanto pode ter um efeito proibitivo,
impedindo um acto ou o reconhecimento de uma situação jurídica em Moçambique, como
um efeito permissivo, permitindo entre nós algo que um ordenamento jurídico estrangeiro
proíbe.
9
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, ALMEDINA,
2009, Pag 60.
10
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, ALMEDINA,
2009, Pag 61.
6
Exemplos de função proibitiva da ordem pública internacional:
a) Celebração de um casamento com idade inferior a 18 abos. A ordem pública
internacional proíbe o casamento com esse fundamento.
b) Divórcio com fundamento inadmissível.
c) Casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Exemplos de função permissiva:
a) Casamento entre pessoas de raça diferente.
De qualquer modo, o efeito directo da ordem pública internacional é
sempre impeditivo, no sentido em que impede a aplicação de uma disposição estrangeira.
5. Consequências da intervenção da ordem pública internacional
Caso se verifique uma intervenção da ordem pública internacional que
impeça a aplicação de uma norma de direito material, dever-se-á proceder nos termos do
art. 22, n.° 2 do Código Civil, isto é:
a) Se da intervenção da ordem pública internacional resultar uma lacuna, aplica-se a
lex fori;
b) Se se tratar de uma norma especial aplica-se a norma geral11.
Destacar que é sempre preferível aplicar, ainda que parcialmente, a lei
estrangeira considerada competente.
6. Critérios gerais de delimitação da Ordem Pública
Está fora de causa a necessidade da reserva de ordem pública, mas também
é patente a necessidade de indicar critérios juridicamente fundamentados, que sejam aptos
a conter dentro dos limites convenientes a corrente livre do sentimento jurídico do juiz.
Com efeito, o perigo inerente à excepção de ordem pública reside na sua indeterminação
e na consequente possibilidade de se fazer dela um uso excessivo12.
11
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª Edição, ALMEDINA,
2009, Pag 62.
12
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 259.
7
O problema não se resolve com uma definição, pois a ordem pública é
indefinível conceitualmente, como indefinível é o estilo ou a alma de uma ordem jurídica.
Por isso a noção de ordem pública não é unívoca, se bem que o seja a sua função. Por
outro lado, todos os conceitos substitutivos valem o mesmo em última análise: eles apenas
nos darão, como diz KAHN, «no melhor dos casos, valores aproximados para a grande
incógnita: sentido e espírito de uma determinada ordem jurídica».
A ordem pública escapa aos maiores refinamentos da análise, porque
transcende sempre, em último termo, as coordenadas analíticas com que a tentamos
apreender. É que não se trata de um valor jurídico entre muitos outros, mas do lugar
geométrico de todos os valores jurídicos.
Por isso é que, quando se trata de fixar o conteúdo da reserva ou excepção
de ordem pública, de determinar conceitualmente, isto é, por via geral, as hipóteses em
que tal excepção deve intervir, todos os critérios propostos pelos tratadistas falham ou se
revelam insatisfatórios. Vários têm sido esses critérios, todos contendo uma parcela de
verdade, nenhum sendo, porém, decisivo13.
6.1. Critério da natureza dos interesses ofendidos
A ordem pública intervém sempre que a aplicação da norma estrangeira
possa envolver ofensa dos interesses superiores do Estado ou da comunidade local. Mas
ela não resolve o problema; pois restaria apurar quais são esses interesses superiores
intangíveis, como podem ser lesados e qual o grau de lesão que ainda consentem em nome
do princípio da justiça do DIP14.
6.2. Critério do grau de divergência
A aplicação do direito estrangeiro será precludida sempre que, entre as
disposições aplicáveis desse direito e as disposições correspondentes da lex fori, exista
divergência essencial. Este critério também se revela insatisfatório15.
13
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 259.
14
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 260.
15
Idem
8
É claro que somente quando essa divergência for na verdade essencial
deverá intervir a excepção de ordem pública. Casos há, porém, em que existe tal
divergência e, todavia, o problema da ordem pública não se põe.
6.3. Critério da imperatividade
Serão de ordem pública as disposições rigorosamente imperativas do
sistema jurídico local. Para evidenciar o defeito deste critério, bastará dizer que nem todas
as normas da lex fori absolutamente imperativas são normas de ordem pública
internacional. Característica das normas de ordem pública é serem imperativas, mas essa
nota não basta16.
Obter-se-a uma maior aproximação da verdade fazendo uma síntese de
todos estes critérios. Diríamos então, será recusada a aplicação da lei estrangeira
competente sempre que ela contenha uma regulamentação essencialmente divergente da
consagrada em disposições correspondentes da lex fori, quando estas disposições sejam
inspiradas pelos interesses gerais da comunidade e sejam, por isso mesmo, rigorosamente
imperativas.
Essas características, porém, convêm não só às leis de ordem pública
internacional como às de ordem públicas interna. Ora nem todas as normas de ordem
pública interna são normas de ordem pública internacional. Exemplo: as normas que
exigem para a validade de certos negócios jurídicos a forma autêntica, visando garantir a
segurança do tráfico jurídico e sendo, pois, de ordem pública interna, não impedem que
se aplique em DIP, na generalidade dos casos, a regra locus regit actum.
Aproveitando este critério misto, haveria que completá-lo, pois, com
outros elementos. Salientar-se-ia então que, para que possa ou deva intervir a excepção
de ordem pública internacional, será necessário que as disposições de direito privado da
lex fori divergentes das da lei estrangeira normalmente aplicável sejam fundadas em
razões de ordem económica, ético-religiosa ou política17.
Este critério, porém, não vale por uma definição, não tem senão um valor
de aproximação e não pretende mais que fornecer uma orientação ao juiz. A este
competirá, em face de cada caso concreto e socorrendo-se do seu senso jurídico, apurar
16
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, ALMEDINA, 1972,
Pag 260.
17
Idem
9
se a aplicação da lei estrangeira considerada competente importaria na hipótese um
resultado intolerável , quer do ponto de vista do comum do sentimento ético-jurídico
(bons costumes), quer do ponto de vista dos princípios fundamentais do direito interno:
algo de inconciliável com as concepções jurídicas que alicerçam o sistema.
Não é possível estabelecer um catálogo completo dos princípios de 0rdem
pública , mediante uma indagação abstracta, isto porque, além de ser impossível prever
as flutuações da consciência colectiva e do conteúdo do direito, o carácter de ordem
pública de certo princípio muitas vezes só se revela através da experiência, isto é, da
prática judicial.
7. A ordem pública internacional como um mecanismo de evicção
A ordem pública internacional é o mecanismo de evicção ou repulsa do
Direito estrangeiro, cuja actuação é a de rejeitar a aplicação da lei que a regra de conflitos
toma por competente, ou seja, actua quando o resultado da sua aplicação seja
manifestamente chocante ou intolerável com os princípios fundamentais vigentes no
nosso foro18.
A ordem pública internacional ao abrigo do art.º 22 cc. Não são aplicáveis
os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando essa aplicação
envolva ofensa dos princípios fundamentais da ordem pública internacional do Estado,
opera por manifesta incompatibilidade da aplicação de lei estrangeira com os valores mais
fundamentais do nosso ordenamento jurídico tal como supracitamos quanto as teorias da
Escola Italiana e de Savigny. Nesse artigo não diz explicitamente que a norma estrangeira
ofende a nossa ordem pública internacional, diz que a aplicação da norma estrangeira
envolve ofensa de princípios da ordem pública internacional do nosso Estado19.
Nesse sentido, o nosso perceber sobre este mecanismo é que através dele
o órgão de aplicação do direito controla o resultado material. Tendo como uma das
principais causas dépeçage, ou seja, o problema de aplicar leis diferentes e de recorrer a
ordens jurídicas diferentes pode gerar antinomias (soluções incoerentes), pois as normas
18
GIL, Joaquim Nolasco, Direito internacional privado, Apontamentos (Licenciatura em Direito),
Faculdade de Direito-Universidade de Coimbra, 2019, Pag 66.
19
VINAGRE, Vitória, Aula Teórica-Direito Internacional Privado, Aula Teórica (Licenciatura em
Direito)-Universidade de Coimbra, 2021, Pag 47.
10
aplicáveis podem não se ajustar entre si, implicando na situação em que o juiz tem de
proceder à adaptação, sem lesar certos princípios.
11
Conclusão
Chegando a este ponto, conclui-se que a ordem Pública de um determinado ordenamento
jurídico, limita a aplicação do direito estrangeiro quando transferida a competência para
esse ordenamento.
A ordem pública é relativa no tempo e no espaço. Ex.: o divórcio era ofensa
à ordem pública há 50 anos e não é hoje; a bigamia ofende a ordem pública aqui, mas não
fora em Estados muçulmanos.
As normas que ofendem a ordem pública não tem eficácia no direito
moçambicano, são válidos, mas não são aplicáveis. Se o juiz não pode aplicar o direito
estrangeiro, este será afastado e será aplicado o direito interno moçambicano. Para estar
configurada a ofensa à ordem pública, deve haver muito mais que a simples divergência
do ordenamento moçambicano.
12
Referências bibliográficas
Legislação:
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Decreto - Lei n.° 47344, de 25 de Novembro
de 1966.
Doutrina:
CORREIA, A. Ferrer, Lições de Direito Internacional Privado, ALMEDINA,
2014.
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição,
ALMEDINA, 1972.
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução ao Direito Internacional Privado, 2ª
Edição, ALMEDINA, 2009.
Manuais via internet:
GIL, Joaquim Nolasco, Direito internacional privado, Apontamentos
(Licenciatura em Direito), Faculdade de Direito-Universidade de Coimbra, 2019.
VINAGRE, Vitória, Aula Teórica-Direito Internacional Privado, Aula Teórica
(Licenciatura em Direito)-Universidade de Coimbra, 2021.
13