Documentos psicológicos: entenda os critérios para a
elaboração
No âmbito da saúde, é comum haver a necessidade de que médicos emitam documentos
sobre seus pacientes para finalidades diversas, como trabalho, concursos,
encaminhamentos a outros profissionais etc. No entanto, quando o assunto é saúde
mental, é a vez dos documentos psicológicos. Nesse caso, a elaboração destes é feita por
profissionais da psicologia e obedece a uma série de princípios regulamentadores que
existem não apenas para padronizar essa prática como também para garantir a solidez
teórica e a técnica necessária, bem como a consideração do impacto que laudos,
pareceres e avaliações têm no cotidiano.
Contudo, embora produzir esses documentos não seja novidade para os profissionais, a
norma que rege a prática foi atualizada em 2019, uma mudança recente.
Neste artigo, descubra por que esse regulamento é importante e como elaborar
documentos variados com mais assertividade.
O que é a Resolução CFP nº 06/2019 e quais são os critérios gerais
propostos por ela
A Resolução nº 06/2019 foi instaurada em março daquele ano pelo Conselho Federal de
Psicologia (CFP) e versa sobre as regras para a elaboração de documentos psicológicos.
Essa norma substitui uma série de regulamentos anteriores, inclusive a Resolução CFP
nº 15/1996.
Além da emissão, essa norma trata também da guarda, do destino e do envio desses
documentos escritos no contexto da prestação de serviço psicológico. A resolução está
estruturada em 7 aspectos fundamentais (dispostos abaixo) e recomenda-se a leitura
integral do regulamento.
I – Princípios fundamentais na elaboração de documentos psicológicos
II – Modalidades de documentos
III – Conceito, finalidade e estrutura
IV – Guarda dos documentos e condições de guarda
V – Destino e envio de documentos
VI – Prazo de validade do conteúdo dos documentos
VII – Entrevista devolutiva
Caracterizando o não respeito a essa regulamentação, como falta de ética e disciplina, a
resolução dispõe que a redação dos documentos psicológicos está condicionada à
adoção de:
técnicas da linguagem escrita formal
princípios éticos, técnicos e científicos da profissão
O que deve ser avaliado ao elaborar documentos psicológicos?
A Resolução CFP nº 06/2019 define o documento psicológico como “instrumento de
comunicação que tem como objetivo registrar o serviço prestado pela(o) psicóloga(o)”.
Em linhas gerais, eles são resultado da prestação em serviço no âmbito da psicologia,
servem para registrar o que foi concluído de um processo de avaliação psicológica e/ou
intervenção, para atender a solicitações de autoridades legais ou ainda usuários,
profissionais específicos e equipes de profissionais diversos.
Pode-se resumir em três itens o que deve ser avaliado para a escrita dos documentos:
1. A que e a quem se destina
A finalidade, o contexto e o destinatário do documento são determinantes para verificar
a coerência da emissão, assim como a adequação da modalidade e do conteúdo a ser
informado.
2. A qualidade técnica
Há documentos que descrevem procedimentos e intervenções, outros que atestam
informações, outros que relatam uma série de tópicos, e o psicólogo deve ser capaz de
sustentar tudo o que escrever do ponto de vista científico, ético e legal.
3. Sigilo
Além disso, é imprescindível considerar os princípios de sigilo e as relações
profissionais nesse contexto, orientando-se pelo que está disposto no Código de Ética de
Psicologia. Também é importante não perder de vista o fato de que o fenômeno
psicológico caracteriza-se por ser dinâmico, não definitivo e relacionado a
condicionantes sociais. Havendo necessidade, o psicólogo pode, de maneira
fundamentada, intervir na demanda e produzir um trabalho de reformulação dos
condicionantes causadores de sofrimento psíquico e violação dos direitos humanos.
Pontos fundamentais de atenção sobre os documentos psicológicos
A resolução dispõe sobre vários aspectos que requerem atenção na redação dos
documentos psicológicos. Confira abaixo uma lista com alguns dos principais itens.
Aspectos formais
No regulamento está disposto que, se houver necessidade de referenciar material
teórico e técnico, as notas de rodapé são as mais adequadas para as referências.
Ademais, qualquer uma das modalidades documentais deve ter as páginas
numeradas, com rubricas até a penúltima lauda e assinatura do profissional na
última folha.
Princípios de linguagem técnica
A objetividade da comunicação é fundamental na elaboração; portanto, a
linguagem utilizada precisa estar conforme a norma culta padrão da língua
portuguesa, além de utilizar termos e conceitos próprios da psicologia. É
necessária contextualização adequada, além de encadeamento lógico coerente e
coeso, escrita impessoal e, se transcrições forem incluídas, elas precisam de
justificativa ética e técnica.
Tipos de documentos
Muitos profissionais de psicologia se questionam sobre quais são as
modalidades de documentos psicológicos. Segundo o regulamento são:
1) declaração
2) atestado
3) relatório
4) relatório multiprofissional
5) laudo
6) parecer
Declaração psicológica
A finalidade da declaração é registrar e informar de forma resumida e objetiva dados
sobre uma prestação de serviço de cunho psicológico. Por exemplo: acompanhar
um paciente, grupo etc. (dias e horários).
Atestado psicológico
Ao contrário do que muita gente pensa, o atestado não é o documento para informar o
comparecimento, essa função é da declaração. O atestado tem por fim certificar,
baseado em um diagnóstico, a existência de uma situação, um estado ou
um funcionamento psicológico que seja a justificativa para impedimentos, dispensas,
afastamentos, aptidão ou ausência dela. Por exemplo: um atestado de ansiedade que
solicite afastamento do trabalho por 3 dias.
Relatório psicológico
O relatório psicológico tem um caráter descritivo, de registro documental, e a finalidade
de comunicar a atuação profissional desenvolvida ou em desenvolvimento. A partir da
análise de informações nele contidas podem-se gerar orientações, recomendações,
encaminhamentos e intervenções.
Relatório multiprofissional
O que muda aqui é que o relatório é elaborado em conjunto com outros profissionais de
saúde. Contudo, é necessário que haja preservação da autonomia e ética profissional dos
envolvidos.
Laudo psicológico
Resulta de um processo de avaliação psicológica, tem um caráter analítico e
documental, visando subsidiar decisões relacionadas ao contexto em que surgiu a
demanda. Relatam-se itens como evolução do caso, diagnóstico, orientação e/ou
sugestão de projeto terapêutico.
Parecer psicológico
Este documento é uma resposta a uma questão-problema no âmbito da psicologia e seu
objetivo central é dar respaldo técnico e especializado a uma decisão. É fundamental
que o profissional avalie se está apto e tem o repertório técnico necessário para atender
a essa demanda.
Validade dos conteúdos e guarda dos documentos psicológicos: como
funciona?
Documentos psicológicos têm prazo de validade. Portanto, é preciso que o texto a
informe conforme a legislação vigente para cada caso. Na situação de não haver uma
regulação específica ao contexto da demanda, o profissional deve informar prazo
considerando as características, os dados obtidos e o contexto da demanda.
Os documentos emitidos e todo o material a eles relacionado deve ser mantido em
arquivo por pelo menos 5 anos. A responsabilidade é tanto do psicólogo quanto da
instituição em que ocorreu a prestação de serviço. Esse prazo pode ser maior caso haja
determinação legal ou casos específicos.
Vale lembrar também que qualquer documento elaborado deve ser anexado e registrado
no prontuário.
Conhecimento técnico é fundamental para a elaboração de documentos
psicológicos
Como fica evidente, o profissional precisa de excelente capacitação para ter
assertividade e domínio de todas as práticas referentes aos documentos psicológicos. A
questão, no entanto, não é apenas saber estruturalmente o que é, para que serve e como
funciona cada gênero documental, mas também ter solidez em teorias
psicológicas, instrumentos (entrevistas, testes, dinâmicas de grupo etc.) e todo o
arcabouço técnico para a atuação profissional de excelência científica.