1 2000 anos antes de Stonehenge: o recinto megalítico dos Almendres
O maior monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos monumentos da Humanidade.
Foi construído há cerca de 7000 anos, nos alvores do Neolítico, a época em que surgiram, na Europa ocidental,
as primeiras comunidades de pastores e agricultores, no contexto de profundas transformações culturais.
O recinto dos Almendres cuja planta original era, muito provavelmente, em forma de ferradura, aberta a
nascente, parece ter sofrido acrescentos e remodelações: a forma actual do monumento, relativamente
complexa, resulta, por um lado, dessas intervenções antigas e, por outro, de amputações e perturbações muito
recentes. Actualmente, conta com cerca de uma centena de monólito, alguns deles decorados.
A escolha dos lugares em que estes monumentos foram erigidos, teve seguramente em conta a estrutura física
da paisagem, nomeadamente a rede hidrográfica, mas também os fenómenos astronómicos mais notórios,
relacionados com os movimentos anuais do Sol e da Lua, no horizonte.
Nos arredores de Évora, numa área restrita a Oeste da cidade, localizam-se outros dois recintos do mesmo tipo -
Portela de Mogos e Vale Maria do Meio. Este conjunto constitui a maior concentração de menires da
Península, demonstrando o papel especial que esta região desempenhou na génese do megalitismo europeu.
2 As pedras solitárias: o menir do Monte dos Almendres
Como na maioria das regiões megalíticas europeias, existe, na região, um número elevado de menires isolados,
alguns deles em aparente articulação espacial com os recintos e genericamente contemporâneos.
O menir do Monte dos Almendres é um exemplar de forma ovóide alongada, característica dos menires da área
de Évora e exibe um báculo, gravado em baixo-relevo, na parte superior.
O báculo é o tema mais frequente nos menires alentejanos (e igualmente muito bem representado, nos
menires bretões); trata-se de um tema que evoca certamente a economia neolítica, em que a pastorícia
desempenhou um papel central; reflecte igualmente os fundamentos da ideologia neolítica, em que o domínio
da natureza, a domesticação de animais e plantas, constituiu um dos temas dominantes.
Alguns dos menires foram decorados com motivos que reforçam, de um modo geral, o respectivo carácter
antropomórfico: estamos, na verdade, perante as primeiras estátuas representações tridimensionais e em
grande escala, da figura humana. O nascimento da estatuária.
A localização do monumento relaciona-se claramente com a do recinto dos Almendres, uma vez que
corresponde a uma direcção astronómica elementar: o menir, visto a partir do recinto, indica a posição do
nascer do Sol, no dia maior do ano, o dia do Solstício de Verão.
A catedral megalítica: anta Grande do Zambujeiro
3 As antas são monumentos funerários colectivos que correspondem, de uma forma geral, a uma segunda fase
do megalitismo regional; foram construídas, na sua maioria, nos finais do Neolítico, há menos de seis mil anos.
Os monumentos megalíticos funerários mais antigos eram formalmente semelhantes, embora de pequenas
dimensões e sem corredor, correspondendo geralmente a enterramentos individuais.
A Anta Grande do Zambujeiro é, provavelmente, a mais alta do mundo, com grandes esteios de granito que
atingem cerca de 6 m de altura. A estrutura pétrea do monumento é constituída por uma câmara definida por
sete esteios (mais uma pedra de fecho, por cima da entrada da câmara) e um corredor longo. O conjunto era
coberto com tampas monolíticas; a laje de cobertura da câmara jaz actualmente sobre a mamoa, no lado
poente.
O monumento conserva ainda uma boa parte da mamoa, o montículo de terra e pedras que cobria e ocultava
originalmente, pelo exterior, a estrutura pétrea. Na periferia da mamoa, foi construído um anel de contenção,
com esteios fincados.
O estado actual do monumento, relativamente periclitante, resultou de uma intervenção antiga que, por ter
retirado parte da mamoa, reduziu drasticamente a estabilidade do conjunto; foi, por isso, necessário, construir
uma cobertura provisória e estabilizar alguns pontos mais sensíveis da estrutura, enquanto não é possível uma
recuperação mais definitiva do monumento.
Para além da anta propriamente dita, existem, junto ao monumento, dois enigmáticos blocos graníticos, de
grandes dimensões; um deles, de forma paralelepipédica, à entrada do corredor, e outro, nas imediações, com
a face exposta crivada de covinhas.
4 As origens pré-históricas da cidade de Évora: o povoado do Alto de S. Bento
O Alto de S. Bento é o grande miradouro natural sobre a cidade, a nascente, e sobre uma das paisagens melhor
conservadas dos arredores de Évora, a poente.
Em todo o cimo do cabeço, têm sido recolhidas, desde o século XIX, evidências de um povoado pré-histórico,
cuja fase mais antiga remonta aos inícios do Neolítico regional (há cerca de 7000 anos) e cuja ocupação se
prolongou, pelo menos, até aos inícios do Calcolítico (há cerca de 5000 anos).
Trata-se de um verdadeiro povoado “megalítico”, no sentido em que foi ocupado durante todo o período em
que, na região, foram construídos os menires e as antas, e também porque, originalmente, no local, existiam,
muito provavelmente, grandes afloramentos graníticos, entretanto muito reduzidos pela exploração de
pedreiras.
Na verdade, conhecem-se hoje, no Alentejo Central, inúmeros locais de povoamento dessas épocas, em que a
característica mais notória é, precisamente, a presença de grandes rochedos graníticos que evocam,
naturalmente, os verdadeiros monumentos megalíticos.
No caso do Alto de S. Bento podemos, com propriedade, falar nas origens mais antigas da cidade de Évora. Na
verdade, o povoado expandiu-se, sobretudo a partir dos finais do Neolítico, para áreas limítrofes, com destaque
para o povoado de S. Caetano, a Sudoeste, e da Quinta do Chantre, a Nascente; se considerarmos, no seu
conjunto, os vários núcleos conhecidos, estamos, sem dúvida, perante o maior povoado pré-histórico
conhecido no concelho, e um dos maiores da região.
ÉVORA, capital do megalitismo ibérico
Os arredores de Évora, e sobretudo o território a Oeste da cidade, constituem, em
termos peninsulares, a paisagem megalítica mais diversificada e monumental.
A quantidade e as dimensões dos monumentos megalíticos de Évora relacionam-se,
antes de mais, com a posição privilegiada deste território, em termos de
transitabilidade natural: de facto, nos arredores da cidade, encontramos o único
ponto em que as bacias hidrográficas dos três maiores rios do Sul o Tejo, o Sado e o
Guadiana se tocam.
O papel estruturante, nas redes viárias primitivas, desempenhado pelos cursos de
água e pelos festos as linhas divisórias das bacias hidrográficas foi certamente
determinante na excepcionalidade do megalitismo eborense.
Por outro lado, se considerarmos o megalitismo como um fenómeno enraizado nas
práticas culturais das últimas comunidades de caçadores-recolectores, em face de
profundas transformações, vindas do Mediterrâneo oriental, juntamente com o modo
de vida agro-pastoril, o carácter específico da área de Évora parece ser uma
consequência das dinâmicas dessas comunidades que tiveram, nos estuários do Tejo e
do Sado, tal como na Bretanha, dois dos núcleos mais importantes da fachada
atlântica europeia.
Os monumentos/sítios, propostos neste Roteiro, não estão isolados. Só no distrito de
Évora, conhecem-se, actualmente, mais de uma dezena de recintos megalíticos, quase
uma centena de menires isolados (ou associados em pequenos grupos), perto de
oitocentas antas e cerca de quatrocentos e cinquenta povoados “megalíticos”.
Existem ainda alguns raros exemplares de monumentos aparentados, os tholoi, e, na
área da Barragem do Alqueva, foi recentemente descoberto um extraordinário
santuário de arte rupestre, actualmente submerso. Conhecem-se igualmente cerca de
uma centena de pedras com covinhas, monumentos misteriosos certamente
relacionados com o megalitismo; com efeito, as covinhas surgem, frequentemente,
gravadas nos próprios monumentos megalíticos.
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