PUC - SP
TEOLOGIA I
PSICOLOGIA - VF1
PROFESSOR: SOLANGE
ALUNOS: LAURA HERNANDES RODRIGUES, LEONARDO K. UONO, NICHOLAS
B. I. BALTRAMAVICIUS e SOFIA SOUZA OLIVEIRA
RESUMO CRÍTICO
TEXTO: O que é e de quem é a verdade
Autor do texto: Anderson de Alencar Menezes
A busca pela verdade é um tema debatido e estudado desde a antiguidade,
através dela foram divididas pessoas, e consequentemente, opiniões. A
intensificação por essa busca fomentou os campos de estudo e empoderou aqueles
que tinham sede de conhecimento. Um exemplo de grupo que surgiu a partir dessa
consequência foram os Céticos. O ceticismo como filosofia compreende que o
espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, de forma
a colocar em dúvida tudo aquilo que não for comprovado indubitavelmente pelas
vias científicas. Como exemplo temos os fatos noticiados a respeito do zika vírus e
da microcefalia, em que os céticos cobraram provas de que o vírus é o responsável
pela microcefalia, pois o jornal noticiou que somente 41 dos 462 casos foram
associados à Zika. Há trabalhos que confirmam o vírus no cérebro de bebês com
microcefalia, contudo, será que ele é o responsável pela má-formação? Segundo o
filósofo Karl Popper, o cerne da questão está na relação entre a certeza e a
verdade, e só será considerada uma certeza científica quando for possível não
admitir erro nessa relação. Ademais, para ele, a certeza faz parte do mundo
psicológico e a relação (zika vírus x microcefalia) pode ser compreendida como uma
verdade. Seu pensamento revolucionou o pensar científico ao romper com a ideia
de uma ciência positivista que se fundava na certeza de algo absoluto, irrefutável de
forma a possibilitar uma releitura e uma reconstrução da ciência no âmbito do
espaço público contemporâneo.
Platão em sua obra Apologia de Sócrates, contrapunha-se aos sofistas que
acreditavam que a melhor via para formar bons cidadãos era ensinando-os a
através da maneira que eles viam o mundo, a perspectiva socrática tinha um
compromisso com a verdade, sem fins lucrativos ou utilitários, seu objetivo era de
perseguir e encontrar a verdade. Para tal, Sócrates acreditava que essa verdade
estaria no interior da pessoa, e assim, estabeleceu um método para os
interlocutores irem ao encontro com a verdade, defendendo a ideia da verdade em
oposição à ideia retórica. Seus aspectos centrais através do diálogo eram a ironia e
a maiêutica, onde a primeira tinha a ideia de perguntar até desmontar a ideia pré-
estabelecida de seu interlocutor fazendo-o assim reconhecer sua própria ignorância,
e a segunda, responsável por conduzi-lo a encontrar a verdade, destruir o saber
opinativo e buscar o real conceito encontrado dentro de si.
Diferentemente dos gregos, os pensadores modernistas procuraram
estabelecer as categorias do conhecimento a partir da ciência. Um deles foi René
Descartes, seu método para encontrar a verdade indubitável consistia em três
verdades evidentes: Deus, o homem e a natureza. A partir dessas verdades,
estabeleciam quatro regras do método: Evidência, colher somente o que é claro e
distinto; Análise, dividir as dificuldades em parcelas menores para facilitar suas
resoluções; Ordem, ordenar os pensamentos iniciando pelos objetos mais simples e
fáceis de conhecer para depois lançar-se aos mais compostos; Enumeração, revisar
tudo para que se tenha a certeza de que nada foi omitido. Nessa perspectiva, pode-
se perceber a preocupação no mundo moderno com a verdade a partir
exclusivamente da razão.
No mundo contemporâneo, a verdade sofreu com alguns fatores, entre eles
o fundamentalismo e o relativismo, referentes à religião, política, cultura etc. O
fundamentalismo é um movimento que prega obediência literal e rigorosa a um
conjunto de princípios fundamentais, provocando e estimulando intolerantes em
todos os setores e cenários. Já o relativismo, impulsiona formas de compreensão de
modo que nada é formado de maneira absoluta, de maneira sólida, tudo é fluido.
Alguns pensadores defendem a ideia de tentar combater o relativismo a partir de
algumas regras assumidas em nossos atos de fala, tais como clareza, veracidade,
autenticidade e normatividade. Assim, distanciamos a ideia da manipulação ou
constrangimento pela fala, possibilitando aos sujeitos a busca pelas pretensões de
validade em seus proferimentos e falas.
Os seres humanos são considerados seres complexos pois somos
constituídos por nosso ambiente e por nossos relacionamentos, e essa
complexidade inclui nossa espiritualidade. A espiritualidade tem sua importância na
sociedade pois indica caminhos de beleza, verdade e gratuidade.
Não é possível entender o homem como um ser apenas biológico, psíquico,
cultural ou social, considerar o lado transcendente e religioso também é de extrema
importância para compreender nossa natureza.
A “existência humano-divina” nos revela a importância de reconhecer que
existe uma Revelação Divina na história humana. Em textos clássicos cristãos é
apontada a aparição de Deus em sua forma humana. Neste sentido, percebemos
que há algo muito além de nós, algo que nos provoca a sermos mais humanos,
mais ternos, mais compreensivos e solidários com outras pessoas.
A discussão sobre a verdade: na modernidade o mais importante é o
estabelecimento de um método que possa aferir e provar as verdades científicas, já
na contemporaneidade, aparecem as perspectivas do fundamentalismo e do
relativismo. O fundamentalismo procura sustentar suas verdades sem uma base
racional, e enxerga o mundo de forma desmedida> O relativismo, por sua vez,
contém uma visão generalizada e cética do mundo.
A ciência tem sua importância pois pretende ser uma voz integral e plena na
vida humana, mas a partir da antropologia, podemos concluir que a verdade da
experiência de todos nós nunca terá uma certeza absoluta, por mais que a ciência
tente alcançá-la.
TEXTO: A FÉ CONFERE SENTIDO PARA VIDA?
Autor do texto: Luiz Fabiano dos Santos
Introdução
No estudo A fé confere sentido para vida?, de Luís Fabiano dos Santos
Barbosa, o teólogo identifica que, seguindo os conceitos de Bauman (2010),
sociólogo e filósofo, em relação a modernidade líquida, a sociedade se encontra
cada vez mais superficial e fragilizada. Assim, acarretando na “frustração
existencial”, conceito de Viktor Frankl (1989), importante pensador para essa
análise, ele foi um neuro psiquiatra austríaco e importante nome na Logoterapia,
uma abordagem da psicologia que tem como foco a busca pelo sentido, sustentada
pelos princípios de liberdade de vontade, a vontade de sentido e o sentido da vida.
Essa frustração da qual fala representa exatamente a dificuldade de encontrar um
sentido para a própria vida, por conta das características da modernidade, de modo
que é fácil que nessa jornada o homem pense estar se deparando com o nada,
dada a falta de constantes sólidas nas quais se apoiar. Portanto, nessa obra, o
teólogo explora se essa busca por sentido poderia encontrar na fé um guia para a
resolução dessas questões.
Desenvolvimento
O ser humano e a responsabilidade do buscar
Desde os primórdios da filosofia uma das principais reflexões do homem se
tornou sua própria existência, esses questionamentos introspectivos levam a
humanidade a um estado constante de busca, sendo um impulso natural, chamado
de “vontade de sentido” por Viktor Frankl. Essa vontade então se torna motivadora
do processo de autotranscendência, no qual o indivíduo consegue finalmente tornar-
se si próprio, se baseando nessas indagações para direcioná-lo durante o caminho.
Assim, esse fenômeno de busca e encontro não só caracteriza os homens, como
também é a possibilidade individual de autêntica realização.
Ainda, todo esse desenvolvimento requer responsabilidade, de maneira que
não é apenas “viver” mas sim “saber-se vivo”, como afirma o autor. Assim, os
homens precisam, por sua livre vontade, se tornar responsáveis pela realização das
tarefas vitais da vida, ressaltando que a experiência não ocorre de maneira uniforme
e padronizada, sendo uma experiência distinta para cada um, de modo que não
existem respostas universais e absolutas a serem descobertas.
O sentido da vida
Então, nessa busca, o homem tenta chegar a conclusão de qual seria o
sentido da vida, descoberta orientadora em relação aos questionamentos “de onde
viemos, para onde vamos e quem somos?”. Além disso, o sentido da vida se revela
com um desenvolvimento paradoxal, as perguntas que guiam o homem para esse
caminho “fora de si” se consolidam por meio das respostas, porém, essas
conclusões também são indagações as quais é preciso tomar responsabilidade
sobre, de modo que o sentido não é dado, mas sim encontrado. Portanto, aquele
que o encontra concretiza sua existência particular e única, de forma que, somente
descobrindo quem ele deve ser é que ele se torna capaz de se transformar em seu
maior potencial. Como pontua Frankl (1989) em sua obra Sede de sentido:
Não é possível dar sentido, mas somente encontrar o sentido.
O sentido de uma pessoa, coisa ou situação, não pode ser
dado. Tem que ser encontrado pela própria pessoa –
mas não dentro dela, porque isto iria contra a lei da
autotranscendência do existir humano. [...] Só se pode encontrar
o sentido porque ele é objetivo; não podemos atribuí-lo ao nosso
bel-prazer (FRANKL, 1989)
Para a logoterapia todo esse processo ocorre na consciência, e para o
cristianismo essa área é o local mais sagrado e íntimo do homem, sendo lá onde ele
consegue se encontrar a sós com Deus, fazendo que essas mensagens a ele
ressoem em todo seu ser. Observando então que “quanto mais claro e consciente
for o conhecimento da lei divina, tanto mais reto e fácil será o juízo da consciência.
Daí a necessidade de formá-la bem”. FRANKL (1989). Sede de sentido.
A realidade da fé
“A fé procura compreender” (FRANKL, 1998). Isso significa que o ato de fé
não é um entregar-se à irracionalidade; ele está sintonizado com a natureza de se
questionar do ser humano.
De acordo com o autor não é inútil se perguntar sobre a realidade da fé neste
contexto propriamente dito, pois a busca pelo sentido da vida circunda plenamente
sua realidade como sujeito, de forma consciente ou não.
Ao mesmo tempo que a fé é uma graça e um ato humano, ela é um dom
divino recebido gratuitamente; sugere o autor. Ele nomeia a fé como uma resposta,
uma mensagem recebida e ao mesmo tempo vivida. Entre as diversas definições de
fé e credo, claramente expõe o ato de “crer” como algo de “livre vontade”, pois é
algo totalmente humano, logo, a fé é um “ato pessoal” concebido, como uma dádiva.
O autor enfatiza, que a fé surge coletivamente, de maneira eclesiástica; para
que ela aconteça outras pessoas também devem crer (como uma transmissão de
dons). Ao citar Tomás de Aquino (2004) “ter fé explícita não é igualmente necessário
a todos para a salvação”, o autor da obra infere que: implícita ou explicitamente, a
realidade da fé sempre constituirá, segundo Frankl (2007), um elemento da
existência humana consciente ou inconsciente.
Apreciação
O homem e o vazio, um espaço em branco no real sentido da sua existência
como ser. Não é algo inédito. Há milhares de anos, pensadores se questionam
sobre a mesma pergunta sem chegar, de fato, a algum lugar. Na era moderna, essa
frustração persiste, mesmo com toda a tecnologia existente, e isso, de modo
consciente e inconsciente, move e perturba as pessoas, de maneira que as faça
acreditar em uma religião, em um propósito ou até de negar veementemente
qualquer tipo de ligação a uma entidade ou um Deus.
A correlação do sentido da vida e a fé pode ser um caminho que faça sentido
para alguns, no excerto seguinte:
No fundo do inconsciente todos nós temos fé, pelo menos no
sentido amplo da palavra, por mais reprimida e soterrada que
essa fé possa estar. E, se Freud uma vez disse que o
ser humano não é apenas mais imoral do que acredita, mas
também mais moral do que pensa, nós poderíamos
acrescentar que, por vezes, o ser humano pode ser muito
mais religioso do que quer admitir. Essa onipresença da fé,
mesmo que seja apenas no inconsciente e na acepção de
uma fé no sentido último, parece tornar claro porque, conforme
foi provado empiricamente, os ateístas declarados não são
menos capazes de encontrar um sentido na sua vida do que
as pessoas que conscientemente se consideram religiosas
(FRANKL, 2007, p. 113-114).
Podemos dizer que no campo das ciências humanas e principalmente da
psicologia, que é nossa área de estudo em questão, o tema inconsciente é bastante
abordado. Se na nossa parte do pensamento inconsciente todos temos fé, como
afirma Frankl (2007) e que Freud constava que o ser humano é dotado tanto da
moralidade quanto de imoralidade, existe uma consonância em se afirmar que,
mesmo as pessoas que não acreditem em algum tipo de fé ou religião possuam
algum tipo de sentido para sua vida, por motivos múltiplos, que podem ser de
fatores sociais, pessoais e de forte relação com a sua própria experiência de vida
como sujeito.
Conclusão
A obra visa questionar os diferentes caminhos pelos quais percorremos para
encontrar o “sentido da vida”. Expondo fé, religião e religiosidade, o texto conclui
que “crer” e “buscar um sentido para a própria vida” são realidades próximas. Ainda,
o autor exprime a ideia de que a primeira não constitui empecilho à segunda. Logo,
o sentido da vida, de alguma maneira, está impresso no ato de fé. Se muitas vezes
a vida nos apresenta o nada como indagação, a fé nos questiona sobre o sentido.
Nesta análise conclusiva, concordamos em parte na relação feita entre o
sentido da vida e o ato de fé. Acreditamos que algumas pessoas, de fato, se
apegam à religião e ao que creem, e isso lhes dá um objetivo para continuar
compreendendo a razão de se estar vivo e todo o seu processo. Por outro lado,
acreditamos que o significado dado para o “sentido de se viver” é algo muito amplo
e vai além da fé. Também, reconhecemos que todo o processo humano é
constituído por inúmeros fatores, compostos pelas vivências pessoais, pressupostos
sobre a sua compreensão pessoal do mundo, além do momento atual e lugar em
que se insere na sociedade.
O texto possui embasamento e se fundamenta em teorias de autores que
corroboram com os argumentos, todavia, este é um assunto de extrema
complexidade, que, de certo, está longe de ser solucionado. Uma vez que a vida é
uma constante, seu sentido também é.
Referências Bibliográficas
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v. 5. São Paulo: Loyola, 2004.
RATZINZER. Introdução ao Cristianismo, p. 56.
32 Ibid. , p. 55.