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Psicologia Da Educação 2024.2

Aulas de psicologia
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UNEAL / CAMPUS III

DISCIPLINA: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO


PERÍODO 2024.2

PROFESSOR: FRANCISCO MÁRIO DE A. E. DOS SANTOS

01 – INTRODUÇÃO
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PSICOLOGIA

Hoje definimos psicologia como o estudo dos processos mentais e do comportamento humano e suas
relações com o meio físico e social. Mas nem sempre houve consenso sobre essa área do saber.

A psicologia é uma ciência tanto das áreas sociais (ou humanas) quando, por exemplo, faz pesquisas em
Psicologia Social, como também da área das ciências naturais, quando faz experimentos em laboratório sobre
memória, inteligência, percepção, etc. Porém a psicologia, em certos momentos, se afasta da ciência
tradicional “que exige evidências” como por exemplo, quando trata das teorias da personalidade ou da prática
da psicoterapia. A palavra psicologia tem origem grega psykhologuía, termo derivado das palavras psykhé,
"alma", e lógos, "razão", "estudo", “discurso”.

As principais áreas de trabalho de um psicólogo são: Psicologia Clínica, Psicologia Comunitária,


Psicologia do Trabalho, Psicologia Escolar, Psicologia Esportiva, Psicologia Experimental, Psicologia
Hospitalar, Psicologia Jurídica, Psicologia do Trânsito, Neuropsicologia, Sexologia, Psicometria.

A NATUREZA E O HOMEM

O comportamento dos animais irracionais é determinado basicamente pelo código genético e


caracterizado pelos instintos, que não variam entre os indivíduos de cada espécie.

O homem também é um animal integrante da natureza, mas se diferencia de outros animais pela relação
que estabelece com ela. Nesta relação, suas necessidades não se reduzem à satisfação imediata. O ato humano
possui intenção, ultrapassando o “aqui e agora”, sua ação pode se dirigir ao futuro. Além disso, a transmissão
de conhecimentos e experiências ocorre principalmente pela educação e cultura. O homem é um ser social
com sua sobrevivência diretamente vinculada a de outros, não podendo existir isoladamente, uma vez que se
faz homem no grupo e com o grupo social.

Podemos dizer que a “humanidade assinala um nível evolutivo qualitativamente novo (...). As novas
formas de existência social criam também novas formas da psique (...) distintas da psique animal: nasce a
consciência humana” (Rubinstein, s/d, p, 115). É a autoconsciência (consciência da própria existência).

Alterando a natureza, o homem altera a si próprio, e produz ideias. É uma mudança qualitativa que
levou ao pensamento racional-filosófico, já que o homem começa a analisar os fatos da natureza como o
nascimento, a morte, as relações sociais e outros aspectos da vida.

Segundo Marilena Chauí (1995), filosofia seria "não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as
ideias, (,,,) os valores, os comportamentos (...) sem antes havê-los investigado e compreendido". O
desenvolvimento do pensamento passa pela atitude de filosofar: responder racionalmente aos problemas. Esse
debruçar sobre o pensamento e o conhecimento faz com que o homem passe a ter como referência ele próprio,
abordando questões humanas subjetivas, como sonhos, memória, percepção, etc. Com a filosofia, enquanto
conhecimento racional e sistemático, nascem também as ideias psicológicas.

O estudo da natureza humana é realizado desde a Antiguidade por pensadores, filósofos e teólogos. Eles
tratavam de questões que hoje ocupam os psicólogos: memória, aprendizagem, motivação, percepção,
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atividade onírica, psicopatologias etc, utilizando especulação e generalização. A psicologia desliga-se da


filosofia apenas no século XIX, quando começaram a aplicar os instrumentos que eram bem-sucedidos nas
ciências físicas e biológicas: observação e experimentação controladas para estudar a mente humana. Daí a
psicologia começou a alcançar uma identidade científica que a distinguia de suas raízes filosóficas.

Para que surja uma nova ciência é preciso que haja um objeto de estudo e métodos próprios. Neste
aspecto a psicologia leva desvantagem por sua diversidade teórico-metodológica. É difícil definir exatamente
qual seu principal objeto de estudo: o inconsciente, o comportamento explícito, a subjetividade, os processos
neuropsicológicos, todas estas noções fazem parte do que chamamos fenômeno psicológico.

A SUBJETIVIDADE

A subjetividade refere-se ao que “é válido para um só sujeito e que só a ele pertence, pois integra o
domínio das atividades psíquicas (...) deste sujeito” (“Dicionário Aurélio” on line). É o que é próprio de cada
um, as características psicológicas específicas. É o “mundo interno psíquico” de qualquer pessoa.

A psicologia trata da subjetividade. Para isso foi necessário o homem se perceber ao mesmo tempo
experimentando ideias e sentimentos únicos: isso lhe dá a sensação de possuir uma subjetividade privada.

“(...) todos sentem que parte de suas experiências são íntimas, que mais
ninguém tem acesso a elas. (...) temos a sensação de que aquilo que estamos
vivendo nunca foi vivido antes por ninguém (...) de que o que sentimos e
pensamos é totalmente original e quase incomunicável.” (Figueiredo, 1991)

Foi nos séculos XVI a XVIII, com a ascensão da classe burguesa ao poder na Europa, que a ciência pôde
assumir uma posição de destaque, e a noção de subjetividade privada se instalou.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

No século XVIII, a Revolução Industrial reforçou o poder dos saberes científicos e técnicos, além do
enriquecimento desenfreado da classe burguesa. A euforia diante desses novos saberes levou a uma postura
cientificista: a ciência foi considerada o único conhecimento possível e o estudo da natureza passou a ser o
único válido. O movimento filosófico chamado Iluminismo enfatizava a ideia de progresso: um dia o
desenvolvimento científico seria tanto que a ciência solucionaria todos os problemas humanos e o homem
desfrutaria de felicidade.

NASCIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

A psicologia como ciência surgiu na Alemanha, no século XIX, relacionada ao desenvolvimento das
pesquisas em fisiologia. Seus principais representantes (Weber, Fechner, Helmholtz e Wundt) eram médicos
estudiosos da percepção.

Em 1879, na cidade de Leipzig, Alemanha, Wilhelm Wundt ( 1852-1920 ) funda o primeiro laboratório
de psicologia experimental. Surgia a psicologia cientítica.
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PARADIGMAS

Paradigmas são as ideias que formam a base de uma disciplina científica e fornecem, por algum tempo,
as perguntas e respostas essenciais aos seus pesquisadores. O estágio mais avançado do desenvolvimento de
uma ciência é alcançado quando ela já não se caracteriza por diferentes sistemas de pensamento, ou seja,
quando a maioria dos cientistas chega a um acordo acerca das questões teóricas e metodológicas. Então os
paradigmas são aceitos pelos adeptos daquela ciência. Dizemos que a ciência possui unificação de paradigmas.

A psicologia ainda não atingiu o estágio paradigmático, nenhum sistema ou ponto de vista individual
conseguiu unificar as diversas teorias. Cada grupo adere à sua própria orientação teórica e metodológica,
abordando o estudo da natureza humana sob enfoques específicos.

As primeiras escolas (sistemas) de pensamento no campo da psicologia foram movimentos de protesto,


até revolucionários, contra a posição dominante. Cada escola assinalou o que considerava as limitações e
falhas do sistema mais antigo e ofereceu novas definições, conceitos e estratégias de pesquisa.

02 – AS PRINCIPAIS ESCOLAS DE PENSAMENTO EM PSICOLOGIA

02.1 - O BEHAVIORISMO

ANTECEDENTE FILOSÓFICO: O POSITIVISMO

O Positivismo surgiu no século 19, na França. Defende a ideia de que o conhecimento científico é a
única forma de conhecimento verdadeiro. Auguste Comte (1798-1857), principal representante do
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positivismo, considerava que um conhecimento só poderia ser chamado científico se pudesse ser reproduzido
em laboratório, sob o controle das variáveis. A metodologia positivista (observação e experimentação) deveria
ser também usada no estudo dos fenômenos sociais, segundo os princípios adotados nas Ciências Naturais.
Comte não acreditava que a psicologia deveria ser ciência, pois o homem não pode ser um sujeito que conhece
e um objeto a ser conhecido. Descartou o uso do conceito de consciência (mente) humana como um dado
científico.

Os positivistas diziam que o mundo pode ser compreendido objetivamente, desde que o observador
conseguisse se tornar uma pessoa neutra (neutralidade científica), apenas relatar o que está observando, sem
“contaminar” o objeto de estudo com emoções, sentimentos e crenças pessoais.

O BEHAVIORISMO

O behaviorismo (de behaviour/behavior, “comportamento”) tem o comportamento como objeto de


estudo (desprezando o conceito de mente) e se refere a toda ação que se pode observar ou registrar
(diretamente ou através de instrumentos). Os behavioristas aceitam os seguintes princípios:

. os psicólogos devem estudar os estímulos ambientais e o comportamento resultante (respostas);


. a experiência é mais determinante do comportamento do que a hereditariedade;
. a metodologia de trabalho precisa ser objetiva (experimentação, observação);
. os psicólogos tem por objetivo a descrição, a predição e o controle do comportamento;
. os pesquisadores behavioristas buscam a neutralidade científica.

O americano John Watson (1878-1958) ficou conhecido como o pai do behaviorismo, movimento que
dominou a psicologia norte-americana durante anos e que estudava apenas o comportamento. Ele ficou
conhecido por ter se dedicado ao estudo da aprendizagem por condicionamento respondente (ou
condicionamento clássico). É um tipo de aprendizagem simples baseada em respostas aos estímulos
ambientais (são reguladas pelo sistema nervoso autônomo – SNA).

Como ocorrem os condicionamentos respondentes:

1. Um estímulo incondicionado provoca automaticamente uma resposta incondicionada do


organismo. Exemplo: quando se está faminto, o cheiro de comida provoca salivação nas pessoas e animais.

2. O estímulo neutro é aquele que não produz a mesma resposta que o estímulo incondicionado em
determinada situação. Exemplo: o som de uma campainha não provoca salivação nas pessoas famintas.

3. O estímulo neutro passa a vir emparelhado com o estímulo incondicionado. Ex: suponha que o som
de uma campainha (estímulo neutro) ocorra todos os dias quando uma pessoa vai almoçar.

4. Após o estímulo neutro ter sido associado ao estímulo incondicionado, pode vir a provocar, sozinho,
uma reação semelhante à resposta incondicionada (no exemplo citado, provocar a salivação) .
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5. Então, dizemos que o estímulo neutro tornou-se um estímulo condicionado, e este passou a eliciar
uma resposta condicionada.

A aprendizagem por condicionamento respondente é, na verdade, uma espécie de aprendizagem muito


primitiva, na qual os comportamentos “aprendidos” são novos reflexos que o organismo “aprende”.

Porém o mais importante psicólogo


behaviorista foi B. F. Skinner (1904-1990) que,
no final dos anos 20 do século passado, treinava
pombos e ratos privados de alimento para
movimentar uma barra (Gaiola de Skinner).
Cada vez que o animal faminto realizava a ação,

uma pá com comida era despejada em sua tigela.


Skinner dedicou-se ao estudo da aprendizagem
por condicionamento operante (ou
instrumental) É uma aprendizagem mais
complexa baseada em nossos comportamentos
voluntários (associados ao sistema nervoso
central (SNC).

As ações voluntárias abrangem uma quantidade maior de atividades humanas (como cantar, dançar,
tomar cerveja, fofocar, e milhares de outros atos da vida cotidiana). O condicionamento operante ocorre
sempre que as consequências resultantes de uma ação aumentam ou diminuem a probabilidade de que essa
ação seja realizada em situação semelhante. Este condicionamento se processa de três modos:

Reforço positivo: é um estímulo que, quando surge, fortalece o comportamento que o precede. Como
exemplo, temos presentes, permissões ou elogios que uma criança recebe por ter se comportado bem. Isto
fará com que ela se esforce para repetir seu bom desempenho.

Reforço negativo: é algo que se elimina para que determinado sujeito continue a executar certa tarefa,
pois alguns estímulos fortalecem a resposta desejada quando são removidos. Por exemplo, quando um
operário tira o sapato porque está com pedrinhas dentro dele - nesse caso, o que o reforça é ficar livre de uma
estimulação desagradável.

Punição é a apresentação de um estímulo aversivo (desagradável) que faz com que a resposta diminua
de frequência. Aplica-se uma punição para que o sujeito deixe de realizar certa ação.

O uso de punições é desaconselhado pelos behavioristas. Em primeiro lugar, porque o comportamento


volta à frequência inicial na ausência do agente punitivo. Em segundo lugar, o indivíduo associa o estímulo
punitivo a outros estímulos que acontecem simultaneamente. Exemplo: se uma criança é diariamente
espancada em seu quarto, desenvolverá aversão ao local, sob a forma de medo ou ódio.

Em relação à educação escolar, Skinner pregou o uso do reforço positivo. Daí houve mudanças nas
escolas para eliminar punições, tanto físicas quanto morais.
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O behaviorismo está presente na educação tecnicista, cuja proposta consiste em: planejamento e
organização racional da atividade pedagógica; operacionalização dos objetivos; especialização das funções;
ensino por computador, tele-ensino, tentando tornar a aprendizagem mais objetiva. Muitos softwares
"educativos”' nada mais são que atividades baseadas em reforços positivos.

Entre os anos 40 e 60, o behaviorismo teve grande influência na psicologia.

02.2 - A PSICOLOGIA DA GESTALT

ANTECEDENTE FILOSÓFICO: A FENOMENOLOGIA

Desenvolvido por Edmund Husserl (1859-1938), esta filosofia surgiu como crítica ao positivismo. A
fenomenologia afirma que não existem fatos observados com a objetividade desejada pelos positivistas (a
neutralidade científica seria um mito), e os positivistas dependiam dos órgãos dos sentidos (que são falhos)
para investigar o mundo. Porém o mundo é preenchido por significados pessoais: é um mundo para mim, e
um objeto só pode ser definido em sua relação com uma consciência, ele é sempre objeto-para-um-sujeito.
As coisas não podem ser compreendidas como são de fato, é a consciência humana que atribui sentido a elas.
E um fenômeno é “algo que se destaca diante de uma consciência”. A realidade é construída por cada
pessoa.

A PSICOLOGIA DA GESTALT

A Gestalt (palavra que pode ser entendida como “forma” ou “configuração”) surgiu no início do século
XX (Alemanha) para se opor ao behaviorismo. Foi desenvolvida principalmente por Max Wertheimer
(1880-1943) que, em 1912, realizou um experimento sobre a percepção do movimento (movimento
aparente). Essa percepção não dependeria dos estímulos isolados, e sim da organização perceptiva. Desse
modo, os gestaltistas criticaram os behavioristas, afirmando a não confiabilidade dos órgãos dos sentidos para
a identificação/avaliação dos estímulos ambientais. Nós nos confundimos sobre o que percebemos pois
nossos sentidos são incapazes de captar o mundo exatamente como ele é; apenas podemos interpretá-lo.

A análise das partes não proporciona uma compreensão do todo, uma vez que o todo é definido pelas
interações e interdependências de suas partes. Portanto, o comportamento e a mente humana não devem
ser estudados separadamente.

A psicologia da Gestalt destaca a importância da percepção no processo de aprendizagem.


Para os gestaltistas, aprender é mais do que perceber as partes constituintes de um todo. O importante é
entender as interações entre os elementos a fim de formar uma totalidade significativa. A aprendizagem é
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explicada como um insight, uma “revelação”, uma compreensão repentina da relação das partes em um
todo,

Principalmente nos anos 20, 30 e 40 do século XX a Gestalt foi aplicada ao estudo da aprendizagem,
motivação, psicologia social, psicologia empresarial, psicologia da personalidade.

02.3 - A PSICANÁLISE

Sigmund Freud (1856-1939), neurologista e criador da psicanálise, foi um dos teóricos mais influentes
no pensamento ocidental no século XX, afetando o modo como o homem passou a se enxergar.

Freud entendia a mente humana como uma organização onde ocorrem processos bem diferentes.
O consciente inclui apenas o que lembramos e percebemos em um dado momento. Os fatos que podemos
lembrar com facilidade e os fatos que não recordamos mas, se recordássemos não produziriam traumas,
estariam no pré-consciente, uma região psíquica que funcionaria como um arquivo simplesmente porque
nosso consciente não suportaria lidar com o excesso de informações de toda uma vida.

O interesse maior de Freud era sobre os processos mentais não percebidos conscientemente, e que
determinavam o rumo de nossas ações e destinos. Ele denominou esses processos como o Inconsciente, que
contêm impulsos primitivos (sexuais e agressivos) e também material excluído da consciência e recalcado. São
lembranças que sofreram recalque porque provocaram uma dor psíquica demasiadamente grande. Essas
lembranças se manifestam apenas de forma deformada nos sonhos, sintomas patológicos e atos falhos.

FALO: seria aquela parte do “eu” que foi perdida durante o nascimento e que poderia devolver à
criança a integridade psicofísica, restaurando-lhe a totalidade que possuía no útero de sua mãe. Durante a
infância, o pênis adquire um valor mágico de poder cujo simbolismo se encontra em muitos mitos e lendas. Na
verdade, o pênis torna-se o principal representante fálico. Mas por que o órgão genital masculino adquire este
valor tão grande? Para a psicanálise é porque o pênis proporciona ao menino um grande prazer quando é
manuseado e também por causa da constatação das diferenças sexuais biológicas (órgãos genitais diferentes no
menino e na menina).

Para Freud, a sexualidade desperta logo após o nascimento. A criança busca prazeres que as zonas
erógenas poderiam proporcionar. Os chamados “primeiros objetos de amor infantis” costumam ser os pais da
criança (principalmente a mãe, pois é ela quem geralmente dedica-se aos cuidados com o recém-nascido). É
com essas primeiras figuras significativas (pois o bebê precisa delas para sobreviver), que uma criança exercita
seus intensos sentimentos de amor, ódio, gratidão, ciúme, inveja, etc, como também são essas pessoas que
ativam a sensibilidade das zonas erógenas do infante, através de carícias, atos de higiene e castigos físicos.

A depender da relação que os pais estabeleçam com seu filho (rejeição, superproteção, indiferença,
amor, estímulo à independência, etc) uma pessoa terá melhores ou piores possibilidades de transferir seus
desejos eróticos e amorosos para outras pessoas (esposa, amigos). Se o relacionamento pais-criança é doentio,
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esta terá sérias dificuldades em estabelecer relações amorosas na vida adulta, pois estará presa ao seu passado
e se relacionará com as pessoas de modo semelhante àquele pelo qual se relacionara com seus familiares.

O SUPEREGO

Superego é o aspecto da personalidade originado pela incorporação dos padrões morais, éticos e das
proibições de nossos familiares e, consequentemente, do grupo social em que se vive. É o que costumamos
chamar de consciência moral. Antes do surgimento do superego, o que freava nossa conduta era a repreensão
dos pais e o temor de perder seu amor e proteção. Na medida em que as proibições são absorvidas pela criança
(entre 4 e 6 anos de idade, aproximadamente), o superego surge como censura interna, que contribui para
nosso bem-estar mas também pode nos castigar com violentos sentimentos de culpa.

O superego também possui a função de produzir modelos idealizados de conduta. Quando realizamos
alguma ação que nosso superego aprova, somos premiados com uma elevação da autoestima. Ao contrário,
quando executamos um ato condenável, somos castigados com remorsos e diminuição da autoestima.

PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO

Para Freud, a educação se define como uma ação repressiva e necessária do adulto sobre a criança, na
passagem da busca infantil pelo prazer à aceitação da realidade, ou seja, do desejo bruto ao
desejo integrado a uma sociedade com regras. Não seria uma extinção da busca pelo prazer, e sim um caminho
até uma autorregulação do mesmo.

Estudiosos da Educação extraíram da obra de Freud conceitos muito úteis para a compreensão da
relação entre professores e alunos. O mecanismo da IDENTIFICAÇÃO é um fenômeno importante no
ambiente escolar. Professores cumprem, sem saber, os papéis de “pais substitutos” de crianças e adolescentes,
pois estes estão construindo uma identidade própria e assimilam, em maior ou menor grau, comportamentos,
atitudes e valores dos “modelos identificatórios”. Daí a grande responsabilidade dos docentes em transmitir
aos seus alunos um modelo de conduta saudável, humano e ético.

Porém o conceito mais valioso para a compreensão das relações professor-aluno é o de


TRANSFERÊNCIA, na qual o estudante transfere para seu professor as situações emocionais mal resolvidas
com seus primeiros objetos de amor, ódio e desejo, podendo (re)criar na escola um quadro perverso e doentio,
semelhante ao ocorrido em seu lar. Os professores ocupam o papel sócio-culturalmente “oficializado” de “pais
substitutos”, e sobre estes os alunos descarregarão seus sentimentos e frustrações.
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A dinâmica transferencial permite, assim, certas relações (que podem ir desde um amor apaixonado até
um desprezo e ódio cruéis) não claramente perceptíveis, mas tão profundas ao ponto de facilitar ou não o
processo de aprendizagem. Se um aluno não se sente à vontade com um professor, não consegue assumir seu
papel de aprendiz, terá dificuldades na compreensão dos conteúdos ministrados por esse professor.

Por sua vez, o professor também transfere suas situações mal resolvidas para seus alunos: é a
contratransferência. As influências dos alunos sobre os conflitos inconscientes do professor são frequentes e
resultam em várias reações por parte de quem ensina.

Conhecer-se melhor ainda é uma boa escolha para que os professores possam entender a dinâmica
transferencial na qual estão envolvidos e utilizá-la favoravelmente no desempenho de suas funções. Quanto
mais um professor buscar se reconhecer como professor no processo pedagógico, mais facilmente ele poderá
lidar com as manifestações transferenciais e contratransferenciais.

02.4 - A PSICOLOGIA HUMANISTA

ANTECEDENTES FILOSÓFICOS

As psicologias humanistas possuem como influências filosóficas a Fenomenologia e também o


Existencialismo de Jean-Paul Sartre (1905-1980), que destaca os conceitos de liberdade individual e
responsabilidade.

Para Sartre "O homem é condenado a ser livre", ou seja, não perdemos nossa liberdade até quando
parecemos impossibilitados de exercê-la. O homem se angustia porque a liberdade implica na necessidade de
se fazer escolhas que poderão trazer más consequências, não temos garantias de que tomaremos a melhor
decisão. A liberdade traz consigo a responsabilidade pela escolha, nossas ações sempre afetarão o mundo.

Obviamente as pessoas estão sujeitas a limitações e circunstâncias. Ela não pode escolher que a partir de
agora poderá voar. Sartre explica que isso não diminui a liberdade. São as limitações que tornam a liberdade
possível, pois se pudéssemos realizar qualquer coisa que quiséssemos, nós estaríamos no universo do sonho. A
liberdade não é realizar tudo, mas de eleger objetivos.
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Sartre não defendeu o abandono da moral, mas a colocou em seu devido lugar: na responsabilidade
individual de cada pessoa. O existencialismo prega uma moral laica em que nossas escolhas não são
determinadas pelo medo da punição divina, mas pela consciência de nossa responsabilidade.

A PSICOLOGIA HUMANISTA: A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

Carl Rogers (1902-1987) foi o criador da “Abordagem Centrada Na Pessoa”. Para ele, o ser humano é
originalmente “bom”, ou seja, temos uma tendência espontânea para o crescimento pessoal, auto-realização e
autoatualização, uma capacidade de descobrir o que nos torna infelizes e de provocar mudanças na vida.

Rogers supunha que nós lutamos para manter uma coerência entre as experiências e a autoimagem. As
experiências que entram em choque com nossa autoimagem tendem a ser impedidas de entrar na consciência e
são percebidas confusamente.

A aplicação da Abordagem Centrada Na Pessoa em escolas, empresas, igrejas, presídios, etc, teve seu
auge nos anos 60 e 70 do século passado.

CARL ROGERS E A EDUCAÇÃO

Rogers criticou um sistema de educação familiar e escolar que rotula as crianças e apenas as aceita
quando se comportam como os adultos esperam. Chamou de aceitação condicional ao modo como pais e
professores ameaçam as crianças de não serem amadas/aceitas caso não correspondam às suas expectativas. Já
a aceitação incondicional seria a atitude mais saudável que os adultos podem ter para com as crianças: seria
uma aceitação do outro pelo que ele é, um reconhecimento do outro como pessoa integral.

Na área educativa, Rogers afirmava que um bom facilitador (professor) deveria possuir algumas
características, tais como: autenticidade (ser uma pessoa verdadeira, aceitando e comunicando aos alunos seus
sentimentos) e empatia (colocar-se no lugar do outro).

Rogers não teorizou sobre como ocorre a aprendizagem na mente do aluno. Sua teoria é relacional,
enfocando as interações humanas que facilitam o processo de aprendizagem, e não o processo em si.

A adoção de uma abordagem rogeriana na educação implicaria em uma mudança revolucionária na


escola, devido ao incentivo que se dá ao aluno para orientar seu próprio processo de aprendizagem.
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02.5 – A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

Inteligência (do latim “intelligentia”) tem sido definida ao longo do tempo de modos diferentes, por
exemplo: em termos da capacidade para raciocinar, interpretar, planejar, abstrair, resolver problemas e
aprender.

O psicólogo W. Stern definiu inteligência como: “Capacidade de se adaptar às situações novas


mediante o consciente emprego de meios ideativos.”

A inteligência interage com outras funções psíquicas, confundindo-se com elas. Uma pessoa com uma
memória excelente pode ser confundida com uma pessoa inteligente.

JEAN PIAGET

Jean PIAGET (1896-1980) foi o primeiro a descrever o desenvolvimento intelectual de forma coerente
e completa. Como naturalista, ele se propôs a estudar a evolução da inteligência e a construção do
conhecimento, desde o pensamento infantil mais elementar até o raciocínio adulto, utilizando-se do
evolucionismo darwiniano para construir seu sistema teórico. Assim, constatou que a adaptação das espécies
animais ao meio natural é originária de sua evolução biológica, enquanto que a adaptação do ser humano ao
seu meio social é o resultado de um desenvolvimento baseado principalmente na cultura. Por isso, ao contrário
dos outros animais (cujas condutas seguem padrões hereditariamente programados) a conduta humana
organiza-se em esquemas adquiridos e elaborados pelo indivíduo a partir de sua experiência única.

Piaget tentava entender como a própria mente em estado bruto conseguia criar e desenvolver o
raciocínio lógico tipicamente humano. Ele afirmava que o pensamento lógico não é inato nem externo ao
organismo, e sim construído na interação homem-objeto. É o próprio indivíduo que elabora seu conhecimento,
numa permanente interação com o ambiente. A inteligência nada mais é do que um caso particular de
adaptação ao meio ambiente.

Para Piaget, o esquema cognitivo constitui a unidade básica de pensamento e ação adquirido na
interação criança-ambiente, visando à adaptação (exemplo: a coordenação olho-mão). A estrutura cognitiva é
composta de uma série de esquemas cognitivos disponíveis em cada etapa do desenvolvimento.

O organismo (corpo e mente) tem por meta o equilíbrio mas, paradoxalmente, nunca o mantém pois, no
processo de interação indivíduo-meio, ocorrem desajustes que rompem o equilíbrio, exigindo esforços para
que a adaptação se restabeleça. A busca por novo equilíbrio envolve dois mecanismos - a assimilação e a
acomodação – que são modos de aquisição de conhecimentos e que constituem a própria aprendizagem.

ASSIMILAÇÃO: é a incorporação de uma experiência nova a esquemas de ação e compreensão


(esquemas cognitivos) já existentes. Diante da nova experiência, primeiro tenta-se assimilá-la, ou seja, fazer
com que uma experiência nova assemelhe-se a algo conhecido (modificação do objeto). Exemplos: o bebê
suga seu dedo polegar da maneira como suga o seio da mãe e o bico da mamadeira; ao usar o lápis, a criança
agarra-o como o fazia com os objetos em seus primeiros meses de vida (utiliza a palma da mão); tendo um
gato em casa uma criança pode chamar todos os animais de quatro patas de gato.
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ACOMODAÇÃO: é a criação de novos esquemas cognitivos necessária para a incorporação das


experiências novas que não podem ser assimiladas (modificação do sujeito). Exemplo: a criança percebe que,
para aprender a escrever, necessita segurar o lápis de maneira inteiramente diferente das formas com que
segura outros objetos. A estrutura cognitiva é alterada, pois a criança precisa de uma forma nova de raciocinar
para interpretar o novo desafio. Após as acomodações necessárias, a criança poderá finalmente assimilar a
nova experiência.

Um exemplo: nós já possuímos esquemas cognitivos para a compreensão dos animais considerados
mamíferos e dos animais chamados de aves. Porém, ao ver pela primeira vez o animal ornitorrinco nos
confundimos, pois é um animal que tem pelos e mama porém ele também possui bico e pés semelhantes a um
pato, além de pôr ovos. À primeira vista ele não se encaixa em nossos esquemas cognitivos de ave ou
mamífero (daí assimilações não podem ser feitas), sendo necessário haver uma mudança em nossos esquemas
cognitivos. O novo conhecimento passará a ser: mamíferos são animais que possuem glândulas mamárias,
APESAR DE haver alguns representantes que também põem ovos. Assim, foi feita uma acomodação
(modificação no sujeito) para a assimilação do novo objeto observado.

CONSTRUTIVISMO

Piaget não tinha como objetivo propor uma teoria de aprendizagem. Porém o modelo piagetiano
aplicado à Educação (CONSTRUTIVISMO) tornou-se uma importante diretriz no campo da aprendizagem
escolar nos EUA, na Europa e no Brasil, inclusive. Os construtivistas afirmam que:

- A ação é indispensável ao processo de conhecimento. Por isso os processos educativos deveriam


incentivar os intercâmbios do indivíduo com o meio físico e psicossocial que o rodeia;

- O progresso educacional requer um conflito cognitivo que exige novas acomodações do aluno, por isso
a função do professor deveria ser provocar na criança desequilíbrios cognitivos;

- Os erros do aluno são considerados como estratégias de aprendizagem (valorização dos erros).

As tentativas de aplicação da teoria piagetiana no campo da aprendizagem são numerosas e variadas, no


entanto os resultados obtidos não são tão frutíferos. Alguns motivos:

- O difícil entendimento dos conceitos piagetianos;

- A ideia de que o indivíduo aprende de acordo com o desenvolvimento das suas estruturas cognitivas
estabelece o desafio da descoberta do "grau ótimo de desequilíbrio", ou seja, o objeto a conhecer não deve
estar nem além nem aquém da capacidade do aprendiz;

- A predominância do "como" ensinar sobre "o quê" ensinar é contrário à tradição escolar, por ser esta de
caráter predominantemente autoritário, político e esmagador das potencialidades individuais.

02.6 - A PSICOLOGIA COGNITIVA


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Surgiu no final da década de 1950 e estuda as cognições (inteligência, memória, atenção, percepção,
representações, raciocínio, criatividade, formação de crenças, resolução de problemas), processos mentais
causadores de comportamentos inteligentes. Seu principal representante foi Ulrich Neisser (1928–2012).

Apesar de algumas semelhanças básicas com o behaviorismo, como a adoção do método científico
positivista em suas pesquisas, a psicologia cognitiva diverge da outra teoria porque seus postulados e
pesquisas incluem os estados mentais internos, tais como as crenças e as motivações.

Esta psicologia recebeu muita influência do avanço tecnológico no século 20: teoria dos sistemas,
ciência da computação, cibernética, teorias da informação e robótica. O objetivo é compreender as estratégias
mentais usadas na resolução de problemas. Algumas áreas relacionadas à psicologia cognitiva são: a
inteligência artificial, a construção de conceitos, a linguagem, o reconhecimento de modelos, entre outras.

Para Neisser a Psicologia Cognitiva se refere a todos os processos pelos quais um input (entrada)
sensorial é transformado, reduzido, armazenado, recuperado e usado. O paradigma dominante na área é o
processamento de informação. Considera-se que a mente tem similaridades com o computador em alguns
aspectos, tais como a memória e sua organização. Ambos representam informações internamente, recebem
informações de fora de uma forma e colocam na memória de outra forma. Ambos utilizam as informações para
resolver problemas. Os processos cognitivos tornam-se o equivalente aos programas computacionais.

Áreas de investigação em psicologia cognitiva:

PERCEPÇÃO: refere-se às funções que permitem captar os estímulos do ambiente, que podem ser de
natureza visual, olfativa, táctil, gustativa, auditiva e cinestésica (equilíbrio e movimento do corpo). Existem
muitas pesquisas sobre os processos perceptivos na psicologia cognitiva. Um exemplo são os estudos sobre as
ilusões, especialmente as ilusões de óptica.

ATENÇÃO: necessária para a mente selecionar os estímulos recebidos, priorizando alguns e minimizando ou
excluindo outros do processamento. Exemplos de estudos sobre a atenção incluem os estímulos subliminares.

RECONHECIMENTO DE PADRÕES: os estímulos recebidos do ambiente são organizados de maneira a


constituir um "padrão que faça sentido". Assim, muitas vezes aquilo que chamamos de percepção não é o que
os órgãos sensoriais identificaram inicialmente, mas sim uma organização que passa a fazer um sentido para o
indivíduo.

Exemplo: no desenho abaixo identificamos dois conjuntos de cinco pontos distribuídos de forma horizontal.

........
........

Mas se o arranjo de pontos fosse modificado diríamos que são cinco conjuntos de dois pontos distribuídos
de forma vertical.
. . . . .
. . . . .
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A distância entre os pontos acaba gerando uma organização perceptiva diferente, e isto dá um novo
significado àquilo que está sendo percebido.

MEMÓRIA: é a capacidade de registrar, armazenar e evocar as informações recebidas pelo organismo. A


memória pode se apresentar de algumas formas:

1. Memória de longo prazo: é a memória que pode guardar uma informação por décadas ou por toda a vida.

2. Memória de curto prazo: capacidade de reter uma informação em um estado ativo e disponível durante um
curto período de tempo. Acredita-se que a duração da memória de curto prazo seja de alguns segundos.

3. Memória episódica é a memória de eventos autobiográficos (tempo, lugar, emoções associadas),


experiências pessoais que ocorreram em um determinado momento e local. Por exemplo, um indivíduo lembra
com muitos detalhes de uma festa que ocorreu 10 anos atrás.

LINGUAGEM: por exemplo, pesquisas sobre transtornos da linguagem (logorreia, bradifasia, ecolalia,
gagueira, etc).

PENSAMENTO

Aplicam-se teorias cognitivas na psicologia social, psicologia da personalidade, psicopatologia,


psicologia do desenvolvimento, psicologia comparada.

A TERAPIA COGNITIVA

A Terapia Cognitiva (TC) ou Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) surgiu a partir das pesquisas do
psiquiatra norteamericano Aaron Beck (1921 –2021) sobre a depressão. Ele propôs que a depressão resulta de
padrões negativos de processamento de informação, ou seja, é um transtorno de pensamento. A forma negativa
do depressivo pensar não é o resultado, e sim a causa da depressão. Essa visão revolucionou a psicoterapia e a
TC foi reconhecida mundialmente como uma das melhores formas de tratar a depressão.
A TC propõe que nossas emoções e ações não são causadas pelos fatos, e sim pela forma como nós os
processamos mentalmente. Durante a vida, absorvemos a realidade de acordo com o modo como a
percebemos. Daí fabricamos crenças para diferentes tipos de eventos, e essas crenças são ativadas diante de
eventos críticos. A ativação desencadeia pensamentos automáticos que influenciam a qualidade e intensidade
da emoção e do comportamento. Por exemplo: um garoto branco e rico observa que todos os empregados de
sua casa são negros. Daí ele passa a acreditar que os negros devem obedecer aos brancos (crença). Um dia ele
vê um branco dando ordens a um negro e pensa: “é assim que deve ser, o branco manda, o negro obedece”
(pensamento automático). Tudo isso pode conduzir a erros de julgamento e instalar preconceitos.

Durante seu desenvolvimento e devido a certas repetições de fatos, as pessoas podem perder sua
flexibilidade cognitiva, instalando uma rigidez de pensamento, resistindo a reconhecer formas alternativas de
julgamento. Os portadores de transtornos psíquicos apresentam uma maior tendência a distorcer os fatos. Isso
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pode originar comportamentos inadequados. Exemplo: uma criança percebia seu pai como agressor. Daí
passou a julgar como agressores outros homens nas situações que lembravam momentos de sua infância.

A TC também é aplicável aos transtornos de ansiedade e alimentares, dependência química, psicoses,


bem como na terapia familiar e de casal, em contextos institucionais, educacionais e nos esportes.

A TC é colaborativa (terapeuta e paciente têm papéis ativos) e é focal, requerendo uma definição
específica dos problemas do paciente – o foco – e das metas terapêuticas. É também uma terapia breve. O
terapeuta cognitivo promove ativamente a resolução de problemas e o acompanhamento do processo por meio
de tarefas de casa (de natureza cognitiva ou comportamental) estabelecidas de comum acordo com o paciente.
Por isso a TCC não se restringe à situação terapêutica, mas se estende à vida diária do indivíduo, acentuando a
responsabilidade do próprio paciente no processo terapêutico.

O objetivo principal da TC é, portanto, promover uma reestruturação cognitiva – substituição de


sistemas cognitivos inadequados (cognições, crenças) por um sistema mais funcional – que possibilitará ao
paciente processar informações de novas maneiras, desenvolvendo sua flexibilidade cognitiva.

02.7 - NOÇÕES DE PSICOLOGIA SOCIAL

A psicologia social busca compreender o homem em suas interações sociais. É um campo independente
da sociologia. A sociologia estuda os grupos humanos como unidades, os padrões sociais de comportamento
estabelecidos, e a psicologia social estuda as influências dos grupos no indivíduo. É a psicologia do encontro
social (ou até da expectativa desse encontro). É uma área da psicologia associada aos especialistas em
dinâmica de grupo (nas empresas, escolas, presídios, etc) e também é utilizada na clínica (terapias de grupo).

Um postulado básico dessa psicologia é que as pessoas mostram socialmente um comportamento


diferente do que mostrariam se estivessem isoladas, pois quando estão “misturadas” na massa elas adquirem
uma espécie de mente coletiva, que as leva a sentir, pensar e agir diferente de como fariam individualmente.
Esta ideia foi apresentada em 1895 pelo cientista social francês Gustave Le Bon. Esses estudos se
aprofundaram ao longo da Segunda Guerra Mundial, com a contribuição de Kurt Lewin, conhecido como o
criador da Psicologia Social.

Os temas de estudo da psicologia social são bastante variados. Exemplos: influência no indivíduo de
fenômenos como linchamento, racismo, violência doméstica, liderança, homofobia, fanatismo (religioso,
político, esportivo), terrorismo, marketing, exclusão social, estereótipos, etc.

Na psicologia social destacam-se dois pólos opostos de pesquisas e elaborações teóricas:

Um deles segue uma linha de argumentação mais EMPIRISTA, valorizando as experiências práticas do
sujeito como fonte primordial do conhecimento. É uma abordagem criada na sociedade norte-americana que
precisava recuperar sua economia no final da Segunda Guerra, valendo-se para isso de recursos teóricos que
lhes permitisse interferir na sociedade e assim intensificar a produção. Houve investimento em pesquisas sobre
processos de persuasão, mudanças nas ações pessoais, etc., tentando moldar os procedimentos individuais à
realidade social. Mantém uma visão simplificada da vida social, reduzida à interação concreta entre
indivíduos, deixando de lado uma totalidade mais complexa das relações humanas que construíram as
sociedades e os indivíduos. Essa forma de pensamento elege o sistema de produção capitalista como o melhor
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e mais bem acabado, tendo na organização social norte-americana o seu modelo. Em outras palavras, estuda
formas de adequação do homem a um sistema existente, e não faz a crítica desse sistema em seu aspecto mais
danoso, aquele aspecto que desumaniza pessoas, que confunde saúde mental com adaptação e produtividade.

O outro pólo adota uma linha marxista e SÓCIO-HISTÓRICA, influenciada pelo bielo-russo
Vygotsky. Quem segue essa abordagem pensa que a economia neoliberal e o Estado que a alimenta criam
mentalidades moldadas segundo seus ideais, ou seja, afetam diretamente a construção das personalidades. Esta
abordagem adota uma postura mais crítica quanto à vida social, e defende uma colaboração mais ativa da
ciência para modificar a sociedade. É uma investigação sobre como o sistema social que constrói os indivíduos
também os aliena e os transforma em objetos. Essa visão dos fatos ganhou mais repercussão em países da
América Latina. Trabalha temas como a exclusão e a inclusão social e é muito aplicada em psicologia
comunitária.

AS ATITUDES

É um dos temas mais pesquisados em psicologia social. As atitudes são tendências pessoais, estáveis e
duradouras, para que ocorram comportamentos/reações seguindo determinados padrões em relação a outras
pessoas, objetos ou situações específicas.

A maioria dos estudiosos afirma que as origens das atitudes são culturais (que prevalecem na cultura em
que nascemos), são familiares (parte das atitudes são adquiridas na família e passam de geração em geração) e
são pessoais (resultantes da nossa própria experiência). Uma atitude apresenta três componentes:

Componente Cognitivo (Ideacional): é uma crença sobre pessoas, objetos ou situações.

Componente Afetivo: são os sentimentos definidos acerca das pessoas, objetos e situações.
Componente Comportamental: uma tendência para agir de determinada forma (resposta prática)

Adquirimos atitudes ao longo da vida, algumas são modificadas de acordo com nossas experiências. Mas
é difícil ocorrer uma mudança de atitude, se ela tiver um grande significado para o sujeito. Uma pessoa muda
uma atitude quando mudam os fatores que a originam e, portanto, a importância que se lhe dá.

A TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA

Essa teoria baseia-se na premissa de que a pessoa se esforça para manter a coerência entre suas cognições
(ideias, opiniões, crenças) e suas ações. Se uma pessoa tem uma crença sobre algo e age diferente do que
acredita, surge uma dissonância cognitiva: uma contradição entre o que se pensa e o que se faz. Exemplo:
alguém acredita que não tem preconceito racial, mas evita sentar próximo de pessoas negras.
A dissonância cognitiva provoca um conflito íntimo e o sujeito adota meios para sair deste desconforto:

a) Mudança do comportamento para adequá-lo às suas crenças/convicções.

b) Mudança das crenças para continuar com o mesmo comportamento.

Caso o indivíduo não consiga mudar as suas crenças ou comportamento, a dissonância permanece,
surgindo uma situação muito incômoda porque a pessoa continua incoerente, podendo acarretar sofrimento.

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
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A teoria das representações sociais foi fundada pelo psicólogo social romeno Serge Moscovici, na década
de 1960. Afirma que os sujeitos criam teorias próprias sobre vários assuntos que despertam a atenção e a
curiosidade e/ou necessitam de compreensão e uso cotidianos. As representações sociais são uma maneira de
colocar sentido nas coisas e introduzir ordem no que se percebe do mundo, para poder absorver o mundo de
forma significativa. Assim, a noção de representação social é entendida como um corpo organizado de
conhecimentos de senso comum (saberes populares) com a finalidade de interpretar o real, e é produzido nas
interações grupais. Criamos as representações sociais para tornar o não familiar em familiar.

As pessoas quando interagem “teorizam” sobre a vida cotidiana, construindo um saber não científico. A
partir das informações que circulam em seu ambiente buscam criar explicações através das representações
sociais. Essas representações contribuem para a construção de uma realidade comum a um grupo social.

Estudar as representações sociais é conhecer o modo como um grupo constrói saberes que expressam a
sua identidade e os códigos culturais que definem, em um momento histórico, as regras de uma comunidade.
Esta teoria mostra um fenômeno do qual muitas vezes não nos damos conta, mas que possui grande poder de
atuar na motivação das pessoas ao fazer determinado tipo de escolha como comprar, votar, etc.

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