0% acharam este documento útil (0 voto)
181 visualizações24 páginas

Catálogo Trampolim - Publicação

Este catálogo apresenta a exposição Trampolim, resultado de 6 anos de atuação focada em curadoria e agenciamento artístico. Na segunda edição, onze artistas foram convidados, indicados por participantes da primeira edição de 2018, reforçando as conexões entre diferentes gerações e linguagens artísticas.

Enviado por

Malu da Cunha
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
181 visualizações24 páginas

Catálogo Trampolim - Publicação

Este catálogo apresenta a exposição Trampolim, resultado de 6 anos de atuação focada em curadoria e agenciamento artístico. Na segunda edição, onze artistas foram convidados, indicados por participantes da primeira edição de 2018, reforçando as conexões entre diferentes gerações e linguagens artísticas.

Enviado por

Malu da Cunha
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 24

trampolim: mergulho para jovens artistas 2018 - 2024

PROGRAMA TRAMPOLIM:
Mergulho para jovens artistas

1a edição 2018
MAC | GO

2a edição 2024
Centro Cultural Octo Marques

Goiânia - Goiás
1a edição

Artistas

Ana Flávia Marú


Benedito Ferreira
Carlos Mota Morais
Carlos Monaretta
Estêvão Parreiras
Hariel Revignet
Hélio Tafner
Lina Cruvinel
Manuela Costa Silva
Talles Lopes
Von Wander 2a edição

Curadoria Artistas
Raphael Fonseca
Âmbar Pictórica
Arthur Monteiro
Badu
Emiliano Freitas
Isabella Brito
Rafael Vaz
M. Clara Curti
Rafaela Pires e Adriano
Monteiro
Zex1000
Walter Pimentel.

Curadoria
Lastro Arte
Ana Rocha
Beatriz Lemos
Gilson Plano
4 5

texto de
apresent a ção
O programa Trampolim se dedica ao fomento uma dobra importante do programa de incentivo
de estratégias de profissionalização e à prática de pesquisa e o lugar editorial como
agenciamento de jovens artistas residentes espaço de criação. Além disso, a participação
em Goiás. Nos últimos anos, vem atuando a da organização Lastro amplia mais essa
partir de metodologias que agregam processos rede de relações. Por meio de encontros que
de criação, incentivo a ações em redes e visavam o acompanhamento curatorial do
maior difusão da produção recente em arte grupo, os curadores Ana Rocha, Beatriz Lemos
contemporânea no Estado. e Gison Plano compartilharam suas experiências
práticas e teóricas, entre os meios institucionais
Com atenção aos movimentos de continuidade, e autônomos, para que a exposição chegasse
Trampolim apresenta a exposição que dá até aqui. São esses os fluxos de referência que
seguimento a um processo de 6 anos de interessam ao Trampolim, quando as trocas
atuação, focado em acompanhamentos de indicações possibilitam oportunidades de
curatoriais e agenciamento do circuito de arte agrupamentos e coletividades.
através de conexões relacionais entre artistas.
Nesta atual versão do programa, onze artistas
foram convidados a expor obras de diversas
linguagens e múltiplos campos de pesquisa,
e suas presenças indicadas por outros onze
artistas participantes da edição anterior, ocorrida
no ano de 2018.
Acompanhamento curatorial
Por esses motivos e no intuito de fortalecer
o caráter de formação do programa, essa
Lastro Arte
etapa Trampolim conta com duas importantes
participações. Os artistas das duas edições
Ana Rocha
anteriores, convocados para conversas que Beatriz Lemos
serão publicadas no catálogo, consolidando Gilson Plano
6 7

âmbar Assentamentos e apontamentos


As obras apresentadas na exposição coletiva
mas eu já sabia por um sonho que eu tive quem
é que eu devia chamar.
pictórica Trampolim são testemunhos deste novo tempo
A maneira como materializamos nossos
hariel e de obras produzidas anteriormente.
A Assemblagem Pictórica, traz a sobreposição trabalhos e as mensagens são diferentes, mas
havignet de elementos, carregados pelo cavalete que traz
uma relação entre a arte e um altar de si.A Obra
existem confluências simbólicas, entre aquilo
que nos é permitido revelar das vivências no
Terreiro.
Instalação com a terra da sua cidade, refere-se
ao seu território de origem mas também atesta O universo simbólico de pessoas de Axé, que
Âmbar é uma alquimia manifestada. apresentar seu portifólio e sua pesquisa, para os lugares onde ela chegou e ainda vai chegar. trabalham com corpo e performance, e se
como disse “ sua mais velha”. Pontuando a voltam para a pesquisa figurativa ou abstrata
A natureza em estados líquidos e sólidos, artista como uma referência para seu trabalho O Toten, produzido neste novo momento, com fortes elementos ancestrais, que ativam
forma-se da madeira , do o ar e a água de seu artístico, mas também como a possibilidade materializa um apontamento entre símbolos, tons de dourado, com as colagens, costuras
interior. Substâncias orgânicas se polimerizam, de vislumbrar uma Ancestralidade Travesti viva materiais e texturas que da terra apontam para e sobreposições trazendo imagens de as
formando assim uma beleza endurecida, e e prospera, com legados abundantes na arte o alto, em uma conexão entre o fazer macumba corporeidades femininas negras, que são além
ao mesmo tempo translucida, dourada, que é contemporânea. e o fazer arte, que se expande, se complexifica do gênero, relações ancestrais de compreensão
resistente e ao mesmo tempo frágil resina. Uma A partir disto ela me fala da sua relação com a e atinge o apuramento do início. Assim como as da Matripotência.
pedra preciosa. arte neste novo momento, é também de partilha gravuras, que visceralmente marcam o processo
Âmbar Pictórica é esta artista que em diversas e mudança. As novas técnicas que aprendeu no de repetição do movimento e do conhecimento Há também além destas relações nos nossos
dimensões navega, codificando mensagens de Sertão, também manifestam em um desejo de de uma nova técnica que é antiga, e ressignifica- trabalhos, a importância social e política deste
simbolismos profundos com tintas, fotografias, crescimento na sua produção. se na sua produção tão contemporânea como momento do Trampolim na arte contemporânea
colagens, performances e agora com a gravura Neste momento ela reivindica o direito de cultuar “gravadeira de histórias”. do centro-oeste. A presença de uma única
e argila. Variedade de técnicas e abundância de sua espiritualidade a partir dos simbolismos artista trans e negra na exposição, fala muito
criações, seu nome tem seu poder. que evoca na arte, selando um processo entre Das águas se Faz tempestade sobre hierarquias coloniais ainda operantes nos
proteção, mistério e o que emerge no oculto das espaços institucionais e como projetos como
O universo de riqueza simbólica se manifesta águas. Conheci mais atentamente o trabalho de Âmbar este estão aqui para contrapor, movimentar e
entre o intimo e pessoal, mas imantado pelas Com isto seus novos trabalhos apontam para o quando fiz parte da curadoria coletiva da abrir novos caminhos, que transbordem
relações coletivas que são imbuídas entre o inicio de uma pesquisa artística que traz mais exposição Das aguas se faz tempestade (2019)
mistério, a magia e o político. evidência para a estética de terreiro, a partir do que foi um projeto pensado juntamente com
conceito de “ macumba pictórica”. a Curadora Nutielly Cena e o coletivo Aláfia,
Sentadas no jardim do Sertão Negro, onde ela para ser uma atividade do levante nacional de
é atualmente residente, conversamos sobra as Um limiar entre a arte sacra que atravessa a exposições do coletivo TROVOA.
confluências dos nossos trabalhos, olhares e arte contemporânea, criando obras que não são
perspectivas artisticas. religiosas mas contêm a partilha de um sagrado Uma das obras que ela levou foi fascinante,
pessoal. uma colagem em metal dourado embrulhadas
Tempo de Nutrição na saia de Oxum com um laço rosa. Desde
Reconhecendo na profundidade do seu então acompanho e observo sua produção
Âmbar afirmou que o tempo se dilatou no Sertão, trabalho mensagens do além, seja um além abundante, constante e insurgente. Entre obras
caminhos se abriram, caminhos do barro, da da dissociação, do inconsciente coletivo, do e performances, muitas águas já correram
desde então.
gravura, e novos laços de afeto germinaram em universo incontrolável das emoções. Que rege
terreno fértil e nutridor. tudo, que não tem forma, não tem cor. E ao Quando surgiu o Trampolim 2 com a proposta dos
Falou do momento simbólico da sua chegada mesmo tempo possui todas as cores e formas. participantes do primeiro projeto convidarem
na residência, que também acolhia a artista Engole tudo e transforma. É todo o movimento. artistas, algumas pessoas me vieram em mente
Jota Mombaça. E ela teve a oportunidade de Laroyê!
8 9

Trampolim 1ª edição 2018 | Fotografia: Paulo Rezende


10 11

estevão e: quais são seus planos para o futuro?

parreira a: seguir cultivando esse trabalho e encontrar contextos para exercê-lo com saúde. entender as
necessidades dele, também as minhas. expandir o repertório de atitudes que posso ter em relação
arthur à minha expressão artística, refiná-la. expandir o repertório de atitudes que posso ter em relação ao
monteiro circuito de arte. entender as forças que me comovem e me revigoram e as forças que me esgotam. me
habitar profundamente. conseguir caminhar muitos quilômetros sem parar. crescer maior que meus
medos. ter um corte de cabelo bonito. amar mais as pessoas. é isso que peço, essa resposta é uma
prece, estêvão.
estêvão: como se deu seu primeiro encontro exposta ali na imagem. acredito que os desenhos
com a arte? também façam coisas semelhantes às frases:
apontam, sugerem, comentam, por vezes pra
arthur: na infância conheço o que as crianças mesma coisa e por vezes pra coisas distintas. aí
fazem e chamam de arte, que pode ser diferente tem um jogo que acho prazeroso. em geral gosto
do que a gente tá chamando de arte aqui. desses trabalhos que faço meio sem perceber,
aprendo a brincar com lápis, a fantasiar, inventar parece que o mundo vai me presenteando com
narrativas junto de brinquedos, ouço música, frases nas quais reconheço força. ou parece que
assisto filmes. lá tenho os primeiros impulsos às vezes a vida adquire uma densidade especial
de expressão criativa, todos têm, num contexto que faz meu corpo produzir um texto.
muito mediado pela televisão, pelas locadoras,
por gibis e pela escola. um dia almoçando em e: qual a sua relação com o desenho?
casa vi a notícia de que um artista gerava alguma
polêmica por expor urubus dentro da bienal de a: desenho desde sempre, era algo que
são paulo. aí talvez tenha sido o meu primeiro compunha minha identidade para mim e para os
contato com arte contemporânea, e passo a ter outros essa coisa de ser a pessoa que desenha.
a vaga noção de que existem instituições como quando ingresso na faculdade de artes visuais
galerias, museus, bienais. lugares que só acesso em 2019 eu tava de mal com o desenho já tinha
mais tarde. mais velho descubro que o artista um tempo e meus interesses iam em direção da
era nuno ramos, na 29a bienal. música e da fotografia. fiz as primeiras disciplinas
de desenho contrariado, com alguma resistência
e: me fale sobre seu trabalho e como ele se que nem em retrospectiva compreendo
relaciona com o mundo? exatamente qual era. até que em 2020, no
contexto de isolamento social, volto a desenhar
a: acredito que desde a adolescência meu corpo com mais gosto e disciplina e isso volta a crescer
vai construindo um certo costume de criar. e de em mim. desde então reconheço o desenho
tempos em tempos ele vai se demorando em como um lugar de investigação, de descoberta,
alguns lugares, em músicas, em fotografias, em um jeito de perceber melhor as coisas em volta,
textos, em desenhos. nesses últimos tempos ele de entender meu próprio olho, entender como
têm se demorado mais em frases, que me vêm apreendo e como posso apreender o mundo,
observando as coisas, ouvindo os outros, lendo, de visitar a memória, de entender o que existe
ou nas primeiras instâncias do sono: são amplos na minha experiência de realidade imediata.
os modos de descobrí-las. e o trabalho que acredito que isso foi o que centrou minha prática
mostro no trampolim vem muito desse lugar de artística no desenho nesses últimos anos - junto
frases que coleciono, frases que recorto de seus do prazer de por essas imagens no mundo,
contextos e amplio pra outras leituras, frases de me aproximar e distanciar delas, de me
ambíguas, frases que apontam pra alguma reconhecer e me estranhar nelas.
coisa que me toca e que não tá completamente

Trampolim 1ª edição 2018 | Fotografia: Paulo Rezende


12 13

bad u difícil de ouvir. Acredito que ainda nem toquei essa forma de delírio vivo, mas penso muito a respeito,
tentando realizar aos poucos essas propostas.
Tecer Carnavais, costurar devoções - Bordando a felicidade Para conseguir atingir esse resultado é um processo que me coloco tal como um devoto pagando
promessas, afinal colar milhares de paetês envolve devoção, remissão e lidar com dores físicas e
O tambor me chamou
emocionais que às vezes ser devoto impõe, mas crente num ideal. Para conseguir executar trabalhos
Pra firmar no terreiro
nessa linha preciso entrar quase como em uma sintonia mântrica com aquilo que está sendo feito.
Em cada verso
Para cronometrar o tempo de cada ação sob o tecido uso uma metodologia de criação com base nas
Sentimento verdadeiro
transmissões dos desfiles das escolas de samba. O espetáculo que chega pela televisão é composto
Bordei um país de felicidade
de vários padrões temporais que me utilizo deles para conseguir entender quanto e como gastar o
Na voz da minha Mocidade
tempo sobre o trabalho . Sendo assim, por exemplo, do início da transmissão até o abre alas devo
executar x coisas, na duração de um desfile do Carnaval paulistano tenho que fazer tanto bordado, ao
G.R.C.E.S. Mocidade Alegre 2024
ponto que no tempo de um desfile do Rio é uma outra quantidade.
Brasiléia Desvairada: A Busca De Mário De Andrade Por Um País
Essa unidade métrica carnavalesca torna possível a execução de trabalhos em grande escala para a
minha atual realidade, principalmente considerando que tais inserções são realizadas no meu quarto
pequeno de 3X3m, repleto de móveis e outras tranquilas em que encontro pequenos espaços para
criar. E isso é um outro dado relevante na minha posição enquanto artista atualmente, visto que parto
Ainda hoje me questiono os caminhos que Trampolim representa grandemente isso. Ao de uma realidade nada favorável em que inventou soluções para continuar criando.
me levaram a ser fiel à folia do jeito e modo tratar meu Santo Expedito, ao qual sou devoto, É ao observar essas situações que me pego pensando nessas teceduras carnavalescas que bordam
que sou. O Carnaval na minha vida é religião, de maneira carnavalesca é estar vestindo o a felicidade dessa festa na minha existência. O Carnaval, a folia e a festa nascem como formas e
cultivada para além dos limites de fevereiro sagrado com aquilo que é mais divino para estratégias de sobrevivências há realidade que por vezes é difícil. É messa peleja que me encontro
e que estabelece um contínuo impacto na minha pessoa. Meu santinho, que pouco aparece e faço valer dela para fazer a folia como uma forma de sobrevivência. O brilho é a sobrevivência á
amálgama chamada Badu. Foram e são alguns nas artes, tem uma história marcada pelo que vida opaca. A cor é a sobrevivência à monotonia do cotidiano urbano. O excesso é a sobrevivência à
anos de estudos acadêmicos nas Artes Visuais não se sabe. Dizem que Expedito nem era o seu escassez. E a felicidade é a sobrevivência da festa.
para que depois de ser apresentado ao mundo, nome, e na existência de tantas dúvidas sobre
retorno o olhar para a festa pois é nela que esse ser, opto pelo tratamento alegórico que
resguarda o princípio, o agora e o sempre. Sem o Carnaval ofertas e assim criar um Expedito
a festa perco meu Norte, meu centro e a razão mágico e sublime na forma de atuar.
de caminhar. São essas festanças as principais No momento da abertura da exposição muitos
formadoras do meu imaginário poético que foram os comentários de quanto tempo leva
carrego entre sinapses no coração. É incrível, para executar um trabalho como aquele. A você
mas independente do assunto que ocorra no que me lê revelo: foram cerca de 3 semanas. Mas
meu cotidiano, o Carnaval funciona como um o esforço em si não é por conta das dimensões
primeiro filtro referencial para a compreensão. espaciais, que chamo de macro espetáculo,
É a base do conhecimento que me organizo, e mas pelo completo oposto, que intitulo como
todo e qualquer raciocínio perpassa antes por micro espetáculos. É uma ambição minha
este festejar. enquanto artista criar situações que o olho não
Para você que me lê pode parecer um pouco dê conta de captar de uma vez só, assim como
desesperador ou até mesmo um hiperfoco, mas o Carnaval. Um desfile de Carnaval é composto
é somente uma escolha que fiz por viver assim, por àquilo que se vê de longe e o que é feito
‘vivendo a vida feito um Carnaval’ como canta para ser visto no detalhes. Contudo são muitas
o samba de 2024 da Imperatriz Leopoldinense. informações em um pequeno frame de tempo-
Carnaval na minha vida é uma retina, uma linha espaço. O olho humano por mais que queria não
que costura meu destino, uma verdade possível consegue registrar tudo tamanha a quantidade
de acreditar. de nuances. Acho isso tão interessante, como
O trabalho presente na segunda edição da uma música que por ter tantas camadas fica

Trampolim 1ª edição 2018 | Fotografia: Paulo Rezende


14 15

benedito BF: O que a sua mãe disse quando viu a


primeira pintura com esmaltes?
BF: Você acha que os esmaltes estão também
ligados ao fato de você ter trabalhado como
ferreira palhaço durante mais de 10 anos? Existe
emiliano EF: Minha mãe sempre acompanhou meu
trabalho e é uma entusiasta dele. Faz questão
alguma ligação?

freitas de ir nas minhas exposições, saber o que estou EF: Não há ligação direta. No entanto, se a gente
quiser forçar um pouco a associação, podemos
produzindo, com a mesma energia que tinha
pensar no fato do palhaço usar uma máscara
quando ia nas minhas apresentações da escola
que revela nossa verdadeira identidade. Talvez
primária. Ela gostou muito quando viu que eu isso reflita meu desejo de infância em mexer
A CÂMERA NO JARDIM relações entre público e privado se confundem, estava trabalhando com esmaltes e me deu
essa demanda me pareceu fundamental para na caixa de esmaltes da minha mãe, e, agora,
vários tubos novos. Agora a gente fica trocando posso ter minhas próprias caixas de esmaltes de
Esta entrevista foi realizada em duas ocasiões perguntas tanto da pesquisa de doutorado,
distintas: primeiro, em 18 de março de 2024, esmaltes sempre que se encontra. unha para fazer o que eu bem entender.
quanto para minha existência. A partir daí, a
seguida por uma segunda sessão em 21 de cada visita a Tupaciguara/MG, minha cidade
abril do mesmo ano. Antecipei dois conjuntos BF: Uma pergunta para saciar minha BF: Adoraria ver o palhaço na sua pintura.
natal, comecei a futricar em arquivos guardados curiosidade: quantos vidrinhos de esmalte Posso esperar sentado?
de perguntas por e-mail ao artista Emilliano
Freitas. O intervalo proposital possibilitou que na casa dos meus pais, e conversar com eles você costuma usar numa pintura grande?
eu conferisse suas obras expostas no Centro sobre aquelas imagens, vindo à tona discussões EF: Não! [Risos] Tem uma pintura da série
Cultural Octo Marques, como parte do Programa impossíveis de se ter há 20 anos, quando a gente EF: Varia conforme a complexidade da pintura. “Cavalinhos do Mutirama” onde me apresento
Trampolim. Durante nosso diálogo, exploramos provavelmente tinha visto aqueles registros Por exemplo, em “Jardim 1”, da série “Cultivar criança com uma roupa de palhaço. Mas
temas como a pintura, suas influências artísticas juntos pela última vez. Os primeiros trabalhos jardins como quem mantém a mãe viva”, uma independente da iconografia do palhaço, ele
e a relação com a produção artística em Goiás. dessa pesquisa foram reunidos na exposição pintura de 75 x 58 cm, contabilizei 57 vidros de está sempre em minha pintura. Meu trabalho
Destaco, ainda, que as fotos utilizadas nesta “Esse menino chora demais”, aberta em 13 de esmalte utilizados por inteiro (e mais um monte tem a ver com revelações e intimidade, o que
entrevista são de autoria de Paulo Rezende. março de 2020 em Uberlândia/MG, e fechada mexido pela metade). São muitas camadas de está diretamente ligado à palhaçaria.
logo em seguida por conta da pandemia da esmalte na pintura, um material muito particular,
Benedito Ferreira: Gostaria de começar pelo encontrado no mercado em embalagens com
covid-19. Até então, os trabalhos eram realizados
mais recente, que é a parte em que a maioria no máximo 8ml.
com técnicas como pintura em acrílico e óleo,
das pessoas reconhece o seu trabalho: a
escolha do material. Como você chegou aos além de desenhos em nanquim e grafite.
esmaltes e ao interesse pelas fotografias de Insatisfeito com o resultado dessa pesquisa,
sua infância? começo a investigar em 2021 o uso do esmalte
de unha em minhas pinturas, em referência
Emilliano Freitas: Há duas questões que se à profissão de minha mãe que é manicure.
cruzam nesse meu interesse nos esmaltes e Ela sempre trabalhou em casa, conciliando a
nos arquivos de minha família, que vão além das criação dos filhos com sua profissão, e os seus
fotografias da infância. No segundo semestre esmaltes, que eram guardados em uma caixa
de 2018 comecei a cursar o doutorado em Arte grande, numa organização cromática impecável,
e Cultura Visual (UFG) e um dos problemas reunindo um universo de possibilidades que
da minha pesquisa consistia na construção a gente não podia chegar perto. Lembro de
da memória coletiva e como essas narrativas ficar observando as clientes abrindo a caixa
eram construídas, me levando a questionar para escolher as cores e me impressionava
a importância das memórias individuais. Até a variedade de vermelhos, rosas, marrons e
então, eu nunca tinha parado para pensar brancos. Experimentar então agora, depois de
na importância das minhas vivências para a muitos anos esse material como possibilidade
construção do eu, e, depois de muitos anos, poética, além de aproximar os ofícios de
voltar a morar em uma cidade pequena como manicure e artista, é também uma forma de
Goiás, mais próximo à natureza e onde as pensar na criação a partir das autorizações.
16 17

BF: Uma vez você comentou que o fato de ser uma associação X, ou pertence a algum grupo pro centro da discussão, acredito ser um pelo suporte em VHS, na pintura?
mineiro, nascido em uma pequena cidade do específico, ou está na lista dos artistas plásticos desejo de aprofundar mais no fazer poético da
interior, e baseado na Cidade de Goiás, talvez de Goiás do Jornal O Popular? Geralmente o que pintura. No último ano, dentre o repertório de EF: O vídeo feito pela minha mãe no final dos
dificultasse a sua leitura como “um artista me impressiona em artistas são suas obsessões, imagens que trabalhei, pintei muitos cavalinhos anos 90 em VHS e depois transferido para o DVD
goiano”. Você se sente “um artista goiano” criação de imagens e as dúvidas que me geram, de diferentes cores e escalas no intuito de sofreu um processo de transformação de cores,
hoje? e não necessariamente por uma proximidade experimentar pictoricamente principalmente fragmentação das imagens e passou por um
com o meu trabalho, seja ela temática, formal princípios de composição e cores. Por mais que tratamento do próprio tempo, ganhando pátinas
EF: O que ocorre é que, muitas vezes, em ou técnica. O Eduardo Berliner é um desses houvesse auto-ficcionalização no meu processo e chuviscos por conta de fungos e desgaste do
momentos de editais, seleção e/ou curadoria, artistas que quando eu vejo uma obra me tira do artístico a partir das fotografias, ainda existia um material. Além disso, a forma como minha mãe
onde uma certa representatividade regional é prumo. Aqui de Goiás me perturbam as cirandas certo respeito às convenções de uma imagem filmou, explorando freneticamente, em muito
importante, o fato de ser mineiro me faz parecer do Poteiro e as criaturas da Ana Maria Pacheco. parada, o que procurei subverter ao máximo pouco tempo, os recursos que a filmadora
um estrangeiro aqui no estado de Goiás. Morar no na brincadeira com cavalinhos. Isso trouxe um caseira possuía, como zooms e focos, me fez
interior do Estado dificulta mais ainda o acesso BF: Não é a primeira vez que você cita o amadurecimento na construção de cenas que querer investigar a produção dessas imagens
Berliner. O que realmente você destacaria na me permitiu olhar sem medo para os arquivos na pintura com esmalte. É uma pintura menos
a determinados lugares. Isso é uma questão,
obra dele? audiovisuais de minha família como fontes para planejada e mais aberta a experimentações.
mas não um problema. Por exemplo, após 8 pinturas.
anos residindo em Goiás e tendo consolidado EF: Na Bienal de São Paulo de 2012 eu levei
meu trabalho nas artes aqui, em muitos um choque quando vi o trabalho dele exposto. BF: Surge o interesse em encontrar essa
espaços de Minas Gerais não sou reconhecido Desde então sou fascinado com a forma como imagem em movimento, bastante fragmentada Trampolim 2ª edição 2024 | Foto Paulo Rezende
como um “artista mineiro”. É um estado de ele conduz a criação de narrativas através de
deslocamento comum em minha vida desde suas pinturas. Berliner tem um domínio absurdo
quando comecei a trabalhar artisticamente com da linguagem, utilizando a técnica a favor de sua
teatro, mas estudando arquitetura e urbanismo, poética. Cada pintura dele é uma aula.
não conseguindo encontrar um lugar de
pertencimento puro. As sobreposições de BF: Prove que você está muito goiano nos
indicando três coisas para conhecer na Cidade
categorias e atividades causam certa confusão
de Goiás que em geral os turistas não dão
nos circuitos culturais tradicionais. muita moral.
BF: Existe uma “arte goiana”? Quem são os EF: O que é ser muito goiano? Pode ser muito
artistas, goianos ou não, que dialogam com a goiano alguém com medo de roer pequi e que
sua produção? não gosta das músicas da Marília Mendonça?
Não tenho moral para provar nada [Risos].
EF: Pensar em uma “arte goiana” como uma
definição para determinadas expressões culturais BF: Absurdo você não gostar das músicas da
soa limitador para mim, como se estivéssemos no Marília. Mas, vou voltar outra vez para o final.
início do século XX e precisássemos categorizar Mais recentemente você acena para um novo
repertório na pintura. Trata-se do jardim de
o que é produzido em um território como forma
sua mãe, com um conjunto expressivo de rosas
de afirmação de uma identidade. Além disso, filmadas por ela. É um desejo de abstração?
essas classificações podem ser segregativas,
pois quem determina o que é arte goiana ou não? EF: Eu não disse que não gosto da Marília,
A arte goiana seria definida por características fiz apenas uma pergunta. Apesar de não me
formais ou seria produzida apenas por quem identificar em nada como trabalho dela [Risos].
estudou em determinada escola, ou faz parte de Mas sobre os novos trabalhos, trazendo jardins
18 19

manuela como menina, você conhece primeiro as dores


de possuir esse corpo que é alvo, e entendo
o trabalho com as bonecas me permite fazê-
lo. Assim como também é possível obter bons
costa silva que essa agressividade também possui uma
roupagem delicada, à qual vamos introjetando
resultados com um material, mas com outro
pode-se abrir tantos desdobramentos preciosos.
gabriela em nós e normalizando o que nos fere. Com
30 dias de nascida, o meu coto umbilical não
Cada material é um universo.

chaves tinha caído — geralmente, cai sozinho com


uma semana —, minha avó cortou e eu demorei
G. Como se deu sua metodologia de trabalho
com o inconsciente?
muito para compreender que essa pequena M. — Meu trabalho com o inconsciente foi
história que eu contava rindo tinha sido uma construído conforme eu o descobria a cada
Do sonhário às costuras violência contra o meu corpo. Não esperaram dúvida que lançava a mim mesma sobre ele, e
o seu tempo, não houve consentimento e no processo de criação de cada trabalho cada
arrancaram uma parte de mim. Semelhante a
Manuela Costa Silva e Gabriela Chaves isso, está a ação de furar as orelhas das meninas vez mais coletava respostas que construíram
recém-nascidas, são atos com toda uma carga minha metodologia. Isso começou pelas
“Manu abriu caminhos para um lugar que coube a mim tecer, entretanto estive acompanhada de seu simbólica e estrutural da sociedade. Ao mesmo bases teóricas que estruturam as noções e as
olhar generoso, que viu possibilidades de costuras outras. Somos o encontro das águas numa linha que tempo, foi a minha avó quem me apresentou prospecções que sugiro em meu discurso, a
se divide, mas não faz fronteira. Ela faz laço com o inconsciente coletivo, os arquétipos, mitos e magias. a delicadeza das miçangas que ela usava para partir da psicologia analítica de Carl Jung, em
Eu faço um percurso pelos estudos de gênero, um imaginário de costuras incessantes e, o inconsciente bordar alguns vestidos, então me parece que 2017 com o meu TCC realizei o meu objeto/
é aquele estruturado como uma linguagem. A escuta sobrepõe às semelhanças e diferenças, e abre é uma ambiguidade que me acompanha e sujeito de pesquisa que abriu a porta de acesso
caminhos, mais uma vez, pelo que faz (ou desfaz) de sentido, mas segue em movimento. Sempre. compõe o meu trabalho artístico. ao meu inconsciente, os sonhos. A própria
Nossas águas transbordam.” experiência de pesquisa na primeira edição do
G. No seu processo de pesquisa e criação, Trampolim abriram mais minha visão do que
existe algum momento que você considera
Gabriela Chaves | Goiânia, 05 de março de 2024 essencial para que tudo possa uir? seria inconsciente exclusivamente em minha
M. — Cada processo possui um ponto de uência pesquisa, além das bases teóricas. Com isso
próprio, mas a raiz comum a tudo vem para alcancei um entendimento do inconsciente
mim do fogo que alimenta minha paixão por enquanto um ente que é tão natureza quanto
aquilo que me produz encanto, aquilo que me o instinto dos animais, tão orgânico como um
atravessa e pede passagem. Naquilo que me corpo, poesia antes da poesia, arte antes da arte.
comunica e que soma formas de ver e de se Minha pesquisa com meu inconsciente logo
fazer ver. Então acredito que antes mesmo de me trouxe a experiência de sua onipresença
um ato processual, ocorre a concepção de um concreta em minhas práticas artísticas, dessa
encanto e é daí que a alma poética do trabalho
pede passagem para gerar seu próprio corpo ao forma minha metodologia de trabalho com
me atravessar. o inconsciente passou a se dar, não como
metodologia mas como linguagem de criação
M. Como você articula seus materiais na sua
produção? Na adoção do papel, cerâmica, M. Como a psicanálise está presente no o
tecidos, aranhas e bonecas etc? condutor de sua poética de criação?
G. — Tento criar uma relação de intimidade com G. — Tenho feito um percurso pela psicanálise
os materiais, desde as tesouras, agulhas e linhas há cerca de 5 anos, e ela tem me provocado
que compõem o manejo da minha produção. a construir o mapa que compõe o repertório
À medida que esses objetos e materialidades poético das minhas criações, mas como artista
me cercam, desenvolvo signicados por meio de
memórias ou das associações que vou forjando não é do meu interesse utilizá-la teoricamente. A
no processo. Essa intimidade abre muitas psicanálise gera inquietações no meu processo,
M. — Seu trabalho é marcado por uma delicadeza em armação das violências aos corpos e ao me apontar os materiais e questões que
possibilidades de imagens. Sobre a adoção
visualidades atribuídas socialmente ao feminino. Como você construiu essa relação entre a leveza dos diferentes suportes, tenho entendido que tem sido uma constante, e que pela via da arte
e brutalidade enquanto linguagem narrativa e discursiva de suas obras? o próprio trabalho exige essa coreograa, pois tenho a possibilidade de dar corpo e contorno.
G. — Penso que é uma composição do meu percurso desde a infância, que foi para mim um lugar de algumas articulações poéticas e materiais Entendo como percursos diferentes que geram
muitos encantos, mas também onde me deparei com a violência que vinha do mundo. Quando se cresce não consigo resolver na fotograa; entretanto, ecos um no outro.
20 21

sido uma referência em termos de construção G. Quais eram suas expectativas como artista na época do Trampolim 1? E quais têm sido suas
G. Quais artistas você tem tido como referência de pesquisa, composição, organização e metas atualmente?
atualmente? apresentação do trabalho. Esses diálogos M. — Na época do Trampolim eu não tinha noção dos caminhos e circunstâncias do sistema das artes,
M. — Encontrei muita ressonância com Tunga, envolvem provocações, resoluções poéticas e ainda estava muito ligada ao processo de pesquisa acadêmica. Ainda hoje eu não projeto muitas
Maria Martins e Ana Mendieta. Esses artistas materiais, além do discurso que construímos expectativas pois as coisas vão encontrando seu próprio caminho. Mas naturalmente sempre espero
trabalham assuntos a partir de um prisma sobre toda a pesquisa. conseguir construir uma carreira sólida, em crescimento, com caminhos que sejam éis a mim, com o
que me aproximo muito, nas linguagens de reconhecimento de um percurso honesto e siga alcançando as pessoas, anal acredito que esse seja o
ordenações e reordenações simbólicas, nas G. Quem são as mulheres que comparecem objetivo da arte.
narrativas que se enraízam em um solo em nas suas obras? Onde você busca essas
comum daquilo que narra os planos etéreos da referências?
matéria, dos materiais, cenários, dispositivos, M. — Essas mulheres são eu mesma e todas nós
posições e justaposições. O discurso de gênero ao mesmo tempo, em um ponto tão uno quanto
em meu trabalho vem de uma articulação entre coletivo. No modo de sentir si mesma e pelas
as visualidades de Maria Martins com as matérias dores, perder-se, encontrar-se, matar-se, parir-
e a linguagem do corpo de Ana Mendieta. Tunga se,
Trampolim 1ª edição 2018 | Foto Paulo Rezende
em seu discurso que tensiona o orgânico com curar-se. A partir das visualidades, matérias e
matérias da natureza me inuenciam a pensar entes da natureza que acionam passagens de
nas matérias e elementos que fazem sentido ser outra em si mesma, e vice -versa.
usar como recurso, tanto na carga simbólica das
pedras, ou nas aproximações de um discurso M. Qual o raciocínio conceitual e poético que
alquímico que também perpassa meu trabalho, conduz a performance do corpo em sua obra?
por exemplo. Quais recursos e soluções você utiliza nas
diversas mídias de seu trabalho?
M. Quais são suas principais referências G. — O processo tem sido muito generoso
artísticas? Como seu trabalho apresenta esses comigo. É um fato que quanto mais você se
tais diálogos? entrega ao trabalho, mais ele te responde.
G. — Frida Kahlo foi uma das minhas primeiras Trabalhar em um ateliê de noivas ampliou
referências artísticas, abrindo um horizonte não somente o meu repertório técnico, mas,
de possibilidades no fazer artístico e, sobretudo, o poético. Entendi o corpo como
principalmente, na experiência de ser mulher algo que se corta e costura, assim como um
e artista. Visitei uma exposição dela em Brasília vestido, uma espécie de Frankenstein mesmo,
em 2016, e ver pessoalmente o trabalho de um que carrega essa ambiguidade de uma
artista muda completamente a relação com toda costura reparadora, mas que também aponta
a sua produção. Frida me ensinou que é possível para as violências. A partir dessa noção, os
ser meio mulher e meio bicho, abrir um corpo desdobramentos são possíveis. Encaro como
e costurar; foi algo que realmente ampliou os uma brincadeira de combinar e descombinar os
meus horizontes visuais. demais elementos que compõem o imaginário
Outras referências que carrego comigo incluem: que tenho construído. A utilização dos recursos
Ana Mendieta, Adriana Varejão, Farnese de e soluções tem muito a ver com o que cada
Andrade, Regina José Galindo, Rosana Paulino, trabalho pede. Como também sou muito
entre outros. Inevitavelmente, também são perfeccionista, tento perceber qual material
referências as pessoas que me cercam e com corresponde melhor à ideia e que, com as
as quais compartilho o ateliê diariamente, como minhas habilidades e limitações, será possível
você, Lucélia Maciel, William Maia e o próprio desenvolver.
Dalton Paula. Além de me orientar, Dalton tem
22 23

carlos mota o abate de um animal para consumo e acharem


tranquilo verem uma bandeja com coxas de
Pra mim é muito importante que eu consiga
mostrar essa pesquisa para quem consegue se

isabella morais vários frangos juntos, em um supermercado. enxergar nos símbolos e objetos, e dentre essas
pessoas estão os membros da minha família. A
Carlos - Percebo que em seu trabalho, a colisão reação dos meus familiares ao que tenho feito
brito entre assunto e linguagem resulta na estranheza.
A partir do cotidiano rural extrair angústia da como artista é de muito suporte, desde me
ajudar a recolher objetos ou me permitir contar
delicadeza ou o grotesco do familiar exige um
tato especial. Como você lida com isso? histórias ou fragmentos de memórias. Às vezes
eles acham engraçado eu me interessar por
Isabella - Esse processo exige um tempo de essas histórias, mas também sei que se sentem
Sonhos intranquilos
Dormir digestão. Eu passo muito tempo “pensando valorizados por esse interesse e pesquisa.
Ouvindo o jacaré na morte da bezerra” e vendo pra onde as
Embaixo da casa referências me levam, até entender que consigo Carlos - Quais as fontes ativas no contexto de
Embaixo da cama fazer uma síntese de tudo isso em um trabalho. sua pesquisa artística?
Embaixo do travesseiro Com as fotografias isso também ocorre; se algo
Roncando captou meu olhar hoje, talvez eu só consiga Isabella - A memória oral e acervos de objetos
entender o por que daqui vários meses ou anos. das pessoas que viveram nesse contexto rural,
Eu vou perseguindo uma sensação até sentir acervos de livros, receitas e outros fazeres
Carlos - Qual sua memória mais antiga? que fiquei satisfeita com a parte conceitual, e tradicionais. Gosto muito de tecer de significado
só após essa sensação vira desenho, projeto ou os lugares onde a memória falha e o registro se
Isabella - Tem algumas, não sei qual é a mais antiga de todas. lembro do gosto de leite misturado com texto. perdeu.
açúcar e plástico que tomava na mamadeira
E escutar esse som dentro da minha cabeça. Carlos - Sentimentos e narrativas antagônicas Carlos - Como o “outro”, sendo agente de
convivem no seu trabalho em uma espécie de estranheza, pode se esgueirar e penetrar nessa
E a sua? busca pela suspensão de uma realidade próxima premissa da reclusão em pesquisas particulares
o suficiente a ponto de evocar memórias quase e/ou em andamento?
Carlos - Também não sei qual das minhas memórias distantes teria sido a primeira, mas uma dessas tangíveis, mas distantes o suficiente a ponto de
que mais marcou foi de um acidente doméstico em que levei um choque elétrico. me lembro de não causar uma estranheza embaçada. Isabella - O “outro” entra sem ser convidado,
encontrar palavras para descrever o ocorrido, acredito que na época eu não conhecia muitas palavras, Esses conceitos por vezes trazem contradições como um lembrete da nossa impotência
mas ainda hoje não sei bem descrever o sentimento do choque. familiares na ascendência caipira, sertaneja, perante a passagem do tempo, o esquecimento
Como você organiza suas memórias? do trabalho braçal, do suor e da exaustão que e a ruína.
convive no seio recluso de contextos isolados, meu corpo. Não esperaram o seu tempo, não
Isabella - De forma não-verbal, minhas memórias estão ligadas a disparadores sensoriais. Não sei muito em famílias tradicionalmente guiadas pela houve consentimento e arrancaram uma parte
bem como isso acontece, mas, digamos que exista um repertório imagético interior conectado a cada convenção de procedimentos perpassados de mim. Semelhante a isso, está a ação de furar
estímulo, criando uma teia que conecta fatos, memórias e sensações. de oralidades fragmentadas, de histórias as orelhas das meninas recém-nascidas, são
hereditárias, contadas e recontadas, lembradas atos com toda uma carga simbólica e estrutural
Carlos - Quais Lugares você anseia que seu trabalho de arte habite? e relembradas, uma confiança consanguínea da sociedade. Ao mesmo tempo, foi a minha avó
transmitida por gerações. quem me apresentou a delicadeza das miçangas
Isabela - Quando eu cheguei em Goiânia pra estudar, as pessoas me zoavam por causa do meu Como sua família se relaciona com seu trabalho que ela usava para bordar alguns vestidos, então
sotaque. Eu nem sabia que tinha sotaque, as pessoas do meu convívio todas falavam do mesmo jeito. e como seu trabalho se relaciona com sua me parece que é uma ambiguidade que me
Com o tempo fui subindo barreiras entre minhas referências e o jeito “correto” de falar, sentar, comer família? acompanha e compõe o meu trabalho artístico.
um prato de comida. Eu ficava com vergonha de demonstrar que eu vinha de uma cultura da “roça”,
mesmo tendo nascido na cidade. Acaba que perdendo essa referência, se perde tudo. Hoje eu procuro Isabella - Essa é uma questão importante, que
aprender e guardar os modos e conhecimentos dos mais velhos porque é a tarefa mais importante que também tem a ver com o alcance e dispersão
existe. Eu queria muito que meu trabalho como artista pudesse comunicar a outras pessoas que em da arte contemporânea aqui no Centro
algum momento também tiveram vergonha de suas raízes que essa cultura é bonita, real e válida. Oeste. Em Anápolis existe hoje em dia uma
movimentação institucional e de ateliês de
Carlos - Transitando por ambientes do meio rural e um centro urbano, quais proximidades você captura artistas que produzem arte contemporânea,
desses lugares? com a Galeria Antônio Sibasolly, o Museu de
Isabella - A violência é constante, a maldade também. É só que na cidade fazemos isso uns com os outros Artes Plásticas de Anápolis e o Barranco Ateliê.
e na roça isso é mais entre as pessoas e a natureza. Eu acho engraçado as pessoas se chocarem com
24 25

Trampolim 2ª edição 2024 | Fotografia: Paulo Rezende


26 27

talles
lopes
zex1000

Talles Lopes: Seu trabalho tem o ruído - o de imagem atual, pela velocidade que se é
erro, como ferramenta de investigação; Você produzida e pelo esvaziamento do sentido
tem pesquisado sobre os próximos “bugs” dessas imagens.
tecnológicos globais. Isso nos leva a refletir
sobre um colapso de esgotamento político e zex1000: É um trabalho que demonstro a
ambiental, de incerteza ao futuro. Como você dualidade dos registros. De um lado são
percebe as pontes entre esse esgotamento e ao registros cotidianos milenares do povo Fremont
seu trabalho? (Utah, EUA) e do outro é uma transmissão em
tempo real do espectador. São imagens geradas
zex1000: A correlação do meu trabalho com o por um mixer de vídeo que nos escapam
esgotamento, principalmente o de dados, vem a compreensão, pela condição efêmera e
por meio de uma provocação intencional e progressiva. Assumo o esgotamento da super
consciente do erro. Uso o aspecto de incerteza produção de imagem como aliado a minha
na imagem como ferramenta de criação. própria produção de imagem.
Indiretamente é um convite a redescobrir nossos
desejos e intenções fora do campo virtual.

Talles Lopes: Pensando em tecnologia, sempre


me remete a um imaginário de previsibilidade; a
uma ideia positivista, de certa perfeição do que
espera da performance das máquinas. Como
você explora esse universo a partir de uma ideia
de “errância”, penso na destituição do status quo
ao qual a história da tecnologia está relacionada.

zex1000: O declínio dessa ideia de perfeição


é cada vez mais evidente pra mim. E é nessa
evidência que meu processo explora e
experimenta. Afim de corromper a ideia da
fetichização da tecnologia, uso a corrupção
de dados e erros de transmissão para exaltar
o indesejado e previsível. É preciso se permitir
imaginar num mundo pós-digital!

Talles Lopes: Quando você mescla as imagens


dos petroglifos milenares com a transmissão
da filmadora em tempo real através do mixer,
penso na fragilidade da condição de produção

Trampolim 2ª edição 2018 | Fotografia: Paulo Rezende Trampolim 2ª edição 2024 | Fotografia: Paulo Rezende
28 29

ana flávia olhando as coisas e volto. Vejo as fotografias


antigas que tem um outro significado hoje,
que você tem pra descrever meu trabalho?
Não tem outra forma de falar sobre ele?
marú aí eu vejo algum desenho que fiz, encontro
um texto que escrevi com 14 anos de idade
-O formigueiro é feito só de formigas
fêmeas, não sei se elas se dizem feministas. O
m. clara no meu word, daí eu vou e vejo, então tudo macho só nasce na época do acasalamento
curti isso vai me ativando. [...] como as coisas vão
se construindo nessa intimidade [...]
e ele morre assim que acasala. [...] às vezes
é uma violência de gênero colocar a gente
nesse lugar.

*Barulho de carro e moto;


-Estariam dizendo X coisa sobre o meu
Dar estrelas e formigas
-Formigueiro é um lugar onde tudo converge. trabalho se eu fosse um homem? É uma
Reescrita e montagem
Ir juntas no formigueiro. [...] se formos pensar preocupação que eu tenho que talvez eu não
poeticamente sobre, o formigueiro é uma deveria ter, mas eu tenho. Porque eu sinto
Goiânia, março de 2024.
coisa construída junto né? [...] elas fazem que dá uma diminuída no que a gente faz no
as coisas, é muito solitário fazer as coisas geral.
sozinhas.
Sugestão de leitura: Acesse o QR code abaixo para acessar o áudio enquanto você lê o texto.

*Uma formiga apareceu no chão da sala. Talvez
*Uma formiga cai no meu cabelo; ela tenha se infiltrado nas nossas roupas e
nos acompanhou desde o formigueiro. Andou
desconfiada pelo piso. Levei ela até a sacada
-Adorno, adorno, adorno, adorno. [...] não para que ela pudesse achar o caminho de volta
estava conseguindo dormir, escrevi e dormi. ao formigueiro.
-Você acha que depois que você escreve
você esquece? **Conforto desconfortável; Um saber sem saber;
-Acho que fica comigo no sentido de fazer Um personagem que sou e não sou eu; Falar,
alguma coisa com aquilo. Fico pensando o não falar, deixar de falar; Virar a chave, dar a
- Não tem muito estudo das formigas na cidade, tem mais no campo.
que posso fazer com isso. Porque essa coisa estrelinha;
- Tô impressionada com a quantidade que tem ali. Opa, não sobe dentro da minha bota.
de ser um trabalho muito íntimo e as pessoas
- Se você for picada por uma formiga talvez você vire um pouco formiga.
acharem que eu exponho simplesmente
tudo que eu faço, tudo que eu vivo, tudo o
que eu sinto. Não é, não tem como. [...] Porque
também sempre tento falar, escrever ou
-Teria um lugar que você me levaria para essa conversa?
expressar sem falar muita coisa, deixar pros
-Fiquei pensando, será que o ateliê? Eu acho que fosse fazer alguma coisa seria mais uma
outros. Jogar no colo. Sei que algumas coisas
caminhada, passando em algum lugar, ou uma caminhada despretensiosa. Pra mim não faz muito
são muito literais e está tudo bem. Porque
sentido porque talvez não tenha muito apego às coisas em Goiânia. [...] Se eu fosse te levar para um
trabalhar com a escrita é muito isso, é muito
espaço físico eu ia te levar para todos os quartos de infância que eu tive, não tem como voltar neles.
você ficar entre ser um “print”, ser decorativo
-E você conseguiria me descrever um desses quartos?
e ter profundidade. [...] Já que o meu inferno
-Acho que o quarto que mais me pegou foi o que eu tive na casa que eu morei no Santa Genoveva,
pessoal é supor, deixa pros outros também
quando eu estava com 18 anos, 18 aos 22. Ele era muito icônico pra mim porque ele tinha uma
supor [...]
sacada. Na sacada, como era uma casa mais alta, a sacada dava pra rua e conseguia olhar dentro
- Já não é você, é um fragmento.
da casa das pessoas. Daí eu conseguia ver, por exemplo, o que eles estavam vendo na TV. Passei
- “Nossa seu trabalho é tão sensível”, eu
muito tempo nessa sacada, passava mais tempo do que o normal. Parecia aquelas namoradeiras.
sei de onde vem esse sensível, meu trabalho
Não era um quarto especialmente bonito. [...] Tinha um espelho, eu tinha o hábito de escrever em
pode ser sensível sim, mas de onde está
espelhos, hoje não tenho mais. [...] “sinto que preciso sempre preservar meu espaço pessoal” [...]
vindo essa palavra? Essa é a única palavra
Acho que é um pouco isso, tinha que ser uma viagem no tempo. Eu sempre estou voltando, estou
30 31

Legenda: M. Clara Curti. Registros processuais da videoperformance “Estrelinha”. 2022. Acervo pessoal da artista.
Legenda: Ana Flávia Marú. Frames de vídeos em processo: desenho em lápis de cor s/ papel levado para as formigas;
formiga em pastilha piezoelétrica (microfone de contato). 2024. Acervo pessoal da artista
Legenda: Ana Flávia Marú. Frames de vídeos em processo: desenho em lápis de cor s/ papel levado para as formigas;
formiga em pastilha piezoelétrica (microfone de contato). 2024. Acervo pessoal da artista

Trampolim 1ª edição 2018 - Programa Educativo | Fotografia: Paulo Rezende


32 33

adriano claro hélio 6- Você tem algum ritual ou processo antes de 9- Quais são seus projetos futuros?
Hélio responde: Pretendo pesquisar artes no
monteiro tafner
começar a criar?
Hélio responde: Nenhum em específico. doutorado. Gostaria de estudar no exterior, e
ficar um período fora trabalhando e vivenciando
e rafaela 7- Quais foram os desafios mais significativos
outro continente/cultura. Futuramente gostaria
de trabalhar com arteterapia/pedagogia com
blanch pires que enfrentou como artista? crianças/idosos. Produzir uma exposição
individual minha, e por fim, trabalhar com
Hélio responde: Em primeiro plano, os estudos
para criação/difusão dos meus trabalhos. O local mentoria para outros artistas. Amo trocar
experiências com pessoas da área e fora dela
onde estagiei, Centro Cultural UFG, em Goiânia também.
Para início da nossa entrevista, Rafaela pergunta os meus pensamentos e fazem parte da minha - GO, também me auxiliou muito, pois lá pude
para Hélio, via Goggle Meet: pesquisa poética/artística, desde a graduação aprender sobre produção e gestão de projetos, 10- Qual conselho você daria para artistas
na Faculdade de Artes Visuais na Universidade eventos culturais, exposições de arte, além do emergentes?
1- Qual é a inspiração por trás do seu trabalho Federal de Goiás. incrível acervo com mais de 900 itens de arte Hélio responde: Para buscar novos desafios,
mais recente? experienciar vários formatos/projetos/lugares
Hélio responde: Busco inspiração na cidade contemporânea, e contato com a equipe, artistas, que envolvem arte. Participar de residências
onde moro atualmente que é Santa Helena 4- Quais são suas técnicas ou materiais colecionadores, curadores, produtores culturais. artísticas, projetos outros para trabalhar demais
de Goiás - GO, no sudoeste goiano. Tenho favoritos para trabalhar? Aprendi muito no período que estive por lá. O áreas de conhecimento. Retribuir minimamente
observado alguns fenômenos político-sociais Hélio responde: Ultimamente venho e socialmente o mundo com a arte.
segundo maior desafio foi conciliar meus estudos
na região, levando a uma crise/especulação experimentando técnica mista em pinturas e
desenhos, permitindo um universo totalmente acadêmicos com a minha produção artística.
imobiliária. Temos muitas casas à venda, poucas A partir dessas perguntas respondidas, Hélio
para alugar e outras em estado de “abandono”, novo na minha produção. Estava muito apegado Por fim, acredito que a circulação dos trabalhos Tafner faz as seguintes para Adriano Monteiro e
portanto a conta não fecha. Coleciono algumas somente à criações envolvendo a arte da pelos variados circuitos das esferas artísticas, Rafaela Pires:
imagens fotográficas desses locais, e na performance, e a videoarte enquanto linguagens seja por instituições hegemônicas institucionais
sequência produzo desenhos com técnica mista prioritárias nos últimos anos. Isso gerava certa ou espaços improváveis. Experimentar variados 1- Como foi a adaptação do trabalho
sobre papel. Em outros casos tenho realizado zona de conforto e restrição para pensar/fazer lugares/formas de expor, e pensar arte é de “Dissolução do ser”, para o espaço
algumas pinturas também com técnica mista institucional/cubo branco? Quais foram os
sobre tela. Mudança na paisagem é algo que me arte. Gosto de ir mudando as séries e linguagens grande importância para lapidação e adquirir
na minha pesquisa. Após a conclusão do meu desafios?
interessa, sobretudo o olhar mais fortuito sobre a experiência na área. O atual desafio tem sido
arquitetura, a cidade e fenômenos sociais. mestrado no ano de 2018, decidi buscar novos escoar a minha produção pelas plataformas
desafios/ares na minha carreira. Daí surgiu o Adriano responde: A ideia de produzir uma
sociais, algumas questões de marketing digital
2- Como você descreveria seu estilo artístico? interesse em desenhar e pintar. Logo menos instalação já estava concebida há um bom tempo,
e vendas vem surgindo. Particularmente gosto
Hélio responde: Atualmente tenho feito quero trabalhar com esculturas, instalações e mas a gente não tinha perspectiva de concretizar
alguns estudos sobre pintura abstrata, cores e colagens. muito dessa emancipação de produção e venda
por questões práticas. Nosso trânsito maior é
composição. Acho que tenho caminhado por dos meus próprios trabalhos.
pela performance. Ela acontece há algum tempo,
esse estilo, mas sem muito apego. Estou mais 5- Como você lida com o bloqueio criativo?
interessado em borrar de forma heterogênea o e a concepção veio de um processo de três
Hélio responde: Costumo assistir filmes, passear 8- Como você vê o papel da arte na sociedade? anos. O núcleo do projeto é o desenvolvimento
exercício da criação, mesclar técnicas e estudos, Hélio responde: Vejo de grande importância
pela natureza, ouvir músicas, ler poesias, de um software que gera imagens e sons e no
e não cair em alguns rótulos. observar a cidade/arquitetura, visitar museus para a construção/manutenção/transformação qual as decisões estéticas definem a concepção
históricos/antiquários, viajar. Busco novas da sociedade. Gostaria muito que um maior de um código computacional. Entendemos as
3- Quais são os temas recorrentes em sua referências e momentos praticando várias número de pessoas pudessem ser despertas performances e essa instalação apresentada
obra? atividades na minha vida, para me preencher de para a vida através da arte, seja pelo ensino no Trampolim II como instanciações de um
Hélio responde: Os temas recorrentes que pensamentos outros que necessariamente não recebido na escola ou durante a vida. Queria processo criativo contínuo. Entendemos que
apresento nas minhas obras atuais são; a seja a criação de algo artístico. Com o tempo que as pessoas pudessem frequentar mais
museus, galerias, teatros, centros culturais e se haverão outras formas ou variações por vir. A
utilização do corpo como ferramenta política, e a contaminação imagética diária somada às performance surge enquanto apresentação ao
sentissem mais pertencentes a estes espaços, e
seja ele por meio de ações ou escolhas que experiências, a criação flui e os trabalhos surgem sobretudo a arte. Noto que não somos instruídos vivo e performada do algoritmo desenvolvido
tomo no meu cotidiano. Conceitos de guerra, dor, naturalmente ou de acordo com as demandas e sobre o que é público e privado, por exemplo, para o trabalho. Enquanto músico isso surge
violência, mídia sensacionalista, cultura visual, editais. e a importância de cuidar de acervos públicos naturalmente e foi o primeiro formato pensado.
história da arte ocidenal e oriental, penetram para resguardar a nossa história. A instalação veio como ideia subsequente, de
34 35

5- Como a pesquisa de vocês é recebida em ambientes acadêmicos?


instanciar o trabalho em outro formato partindo 4- Como foi pensada a pesquisa conciliando
Adriano responde: Tem sido bem recebida. Também apresentamos a performance audiovisual em
dos mesmos processos algorítmicos. música experimental com imagem?
eventos nacionais e internacionais nas áreas da música eletroacústica, experimental e de artes
Rafaela complementa: Para a instalação Rafaela responde: Hoje em dia isso que temos
sonoras, e sempre tivemos uma boa receptividade.
partimos da ideia de tridimensionalizar frames feito leva várias nomenclaturas a depender do
das imagens de vídeos que se aproximam dos meio/circuito em que está sendo vinculado,
tocados durante a performance. por exemplo, visual music, audiovisual ao
vivo, cinema expandido. A imagem pode estar
2- Teve alguma improvisação no ato da sincronizada ao som ou não, depende da
abordagem de cada artista ou trabalho. Tem
performance na abertura da exposição?
outro estilo similar ainda de audiovisual ao vivo
Adriano responde: Sempre há improvisação que é o live coding, no qual os sons e as imagens
em cada apresentação. Buscamos fazer são criadas por codificações ao vivo e o resultado
a performance de forma diferente a cada dos gráficos não necessariamente se encaixam
apresentação. Ensaiamos previamente e nos com o som. No nosso caso, essa sincronia existe
ensaios definimos as alterações que vamos no trabalho. Paramos para pensar qual som se
Trampolim 2ª edição 2024 | Fotografia: Paulo Rezende
executar no dia. A Rafaela controla a execução encaixa naquela imagem e vice-versa. Nosso
do vídeo e eu fico com a parte do áudio, percurso tem sido feito dessa forma.
e essa relação tem que estar em sintonia. Adriano complementa: O trabalho passou
Além das diferenças mais significativas que por várias etapas. O formato de performance
são previamente ensaiadas, há um nível de audiovisual foi definido como concepção
primeira do projeto. Inicialmente focamos na
variação/improvisação que surge nas micro
criação dos algoritmos de processamento
temporalidades que o instrumento nos fornece visual, por haver menor familiaridade com as
no momento da performance. técnicas, o que tornava evidente a necessidade
de mais tempo dedicado a isso. Essa etapa
3- Como vocês pensam em questões levou meses entre estudos e a programação
comerciais para venda deste trabalho? do algoritmo para chegarmos ao resultado
Rafaela responde: Até o momento não atual. A composição musical veio depois e fluiu
pensamos na comercialização. Nosso enfoque de forma mais rápida, visto que é uma área
esteve em fazer o trabalho circular. Mas é claro que eu me dedico há alguns anos e conheço
que esta possibilidade não está descartada. melhor o métier. Para ela houveram momentos
Temos nossos trabalhos enquanto docentes de experimentação técnica com base em
universitários, o que nos permitiu adotar essa procedimentos algorítmicos semelhantes aos
postura até então. Aliás, existe uma forte relação usados para obter as imagens, ou momentos
entre a nossa pesquisa em artes e a atividade de
em que me sentava na frente do computador,
ensino. Por exemplo, as imagens dos rostos que
são transformadas pelo algoritmo e derivam assistia aos vídeos gerados e procurava imaginar
nas máscaras criadas para as esculturas foram que tipo de sonoridade poderia ser interessante
desenvolvidas a partir do molde dos rostos e com qual procedimento poderia alcançá-
dos alunos de alguns cursos que oferecemos la. Evidentemente o meio pode gerar alguma
na Escola de Música e Artes Cênicas da resistência e resultados inesperados a essa
Universidade Federal de Goiás. O uso das tentativa de ação linear. Alguns desses também
imagens que utilizamos foram autorizadas por foram incorporados. Todos esses processos se
estes alunos. somaram para o resultado final.
36 37

carlos nada...discutir pontos...sobre as pequenas percepções de como você enrola o seu fumo...forma poética...
TRAVEssia...matéria do desenho...substância pensante...adequação...intuição pura...materialização...em
monaretta pleno século XXI...lembrado muitas vezes...o que fica acentuado...a técnica pode registrar...identidade...
rafael olhar e reconhecer...estética...mapear todos juntos a mim...visualidades próprias...E você, já tossiu ao ver

vaz um quadro?

Vou descrever para você o que é uma bela sentimento que cada um carrega...Mesmo que
composição...trabalho coletivo...ao centro na morte, existem marcos que são datados a Trampolim 1ª edição 2018 | Fotografia: Rafaela Pessoa
da mesa um prato fundo e largo...a cidade todo momento, desenhamos a cidade até com
era grande e permitia viver...Dar vazão a sua nossas pegadas...o impacto do encontro...a única
poética que consiste, em linhas gerais, em forma de impor ampla participação popular...
fazer de tudo com o nada...imagens reveladas... você é quem faz...acompanhar esse vai e vem
Propõe objetos e instalações que promovem do texto, ajuda a entrar neste pensamento...no
a experiência do riso...olhares atônitos dos centro do mundo...Mas ele disse que era melhor
artistas...A experiência de deixar marcas até não escolher...e o que está no papel, muitas
então na cidade é transposta para o espaço vezes não é feito...O óleo sobre o asfalto é uma
do museu...sociedade...Sobre como se utiliza despintura?...nossas abordagens educativas
da criatividade em um processo de solução... ultrapassadas não funcionam em uma geração
formada por pessoas...mandioca e montada... que aprende na troca...Performance é aquela
mão...arroz...tijolo...materiais empregados... fagulha que se acende quando tranço as
ocupação...sobrepostos...poesia...amarrados...o pernas...possibilitar olhares mais sensíveis
poesia...vinagrete...inteiramente ligada à vida... para artes mais contemporâneas...Desenvolvo
encaixados...diálogos...para se tornar algo uma metodologia de trabalho onde interessa
para abrigar o que já nos é inútil...morada e o descumprimento de ordens, significados e
prática...Instalação composta por três garrafas valores...quais são as ideias centrais...Vou colar
de cachaça, dois copos, cigarros e um sonho, aqui para depois destrinchar... a arquitetura das
chapisco...encontro...E, de novo, recomeçamos casas dos bairros...tem a ver com o que algumas
nossa busca...uma grande encruzilhada... pessoas chamam de gesto...o design das
TRANSEunte...vários lugares...Ao interpretar o placas dos estabelecimentos...tem algo de não
mundo...vivências...coloca em xeque tudo o que escolha nisso...propagandas...fui escrevendo
era tido como norma... caminhos que trouxeram aos poucos...formas visuais urbanas...migro
cada um para esse momento...Aproximando-os todos os dias, eixo de travessia que me
da contemporaneidade para refletir...palavras... atravessa e deixa marcas...histórias orais...Iniciei
ditas sem gosto e nenhum cheiro...modos de as minhas experimentações artísticas no meio
viver...através de objetos que toquem nossos do ano de 1995...criadas no cotidiano...a passos
sentidos...transformam...analisam...esbarram... largos para um futuro...formas necessárias...
ideologicamente firmados...comprimentam...era Um dos principais interesses é o de registrar
apenas uma questão de raciocínio...caminham... a multiplicidade de soluções que são criadas
feijão Tropeiro...a vida inteiramente ligada à para se conseguir realizar os problemas...abrir
poesia...Nerópolis já pareceu-me um lugar muito discussões...O exercício de construção da série
distante, de lá vêm coisas que não vejo aqui...o tem como base a catalogação e registro do
38 39

lina cruvinel que a imagem está te olhando. Então, de fato,


há um olhar do outro. Você sabe o que os seus
Eu me pergunto muito onde elas estão. Mas,
antes de tudo, o que mobilizou você a retratar
retratos olham e o que eles buscam com esse pessoas?
walter olhar?
WP
pimentel WP
É um pouco difícil. Eu também não sei. Poderia
Eu penso que foi a experiência de descobrir
esses retratos de família. Deixa eu pensar
falar que elas estão me olhando primeiro mas um pouquinho. Na verdade, esses retratos
eu acho que a coisa começa a vir em outra conseguiram dar objetividade ao meu trabalho,
LINA CRUVINEL LC dimensão. Parece que, como eu gosto de fazer que antes era abstrato.
Walter, pra gente iniciar essa entrevista, pensei É interessante isso que você falou: o rosto como se elas tivessem consciência, eu penso A experiência de descoberta desses retratos
em uma pergunta que surgiu quando a gente retratado te olhar de volta. Pensar que esse olhar que às vezes elas estão... Não sei. Essa pergunta foi muito forte, foi marcante na minha vida. Sem
começou a conversar sobre o seu trabalho. Ao desse outro está te observando enquanto você o é bem difícil. eles, eu só conseguia fazer pintura abstrata. A
observar suas pinturas, eu fiquei curiosa para observa e o constrói. pintura abstrata tinha toda aquela experiência,
entender como a feição das pessoas que você O que elas estão olhando? De repente, esse olhar só que ficava contida ali, retida. Ninguém
retrata surge. WP delas é uma construção de um pensamento conseguia acessar.
Isso. Eu gosto de pensar que sou um observador pictórico que às vezes até para mim fica difícil
Eu entendo que você utiliza um grande acervo que é observado. Eu gosto de saber que a figura de explicar porque nem eu sei. Enquanto estou E o abstrato já remetia a outras coisas que
de fotografias familiares, como referências está ali e sabe o que está acontecendo. E aí eu pintando, não sei definir algumas soluções. não tinham nada a ver com o que eu estava
imagéticas, para capturar o assunto das suas vou montando relações com ela. Não é uma pensando. E descobrir o retrato me faz refletir,
pinturas. Mas, como uma vez você me colocou, coisa unilateral, é algo construído dos dois lados. A pintura começa a caminhar em um rumo que me instigou mais, acabou se tornando uma
não necessariamente você está retratando eu desconheço. Em determinado momento as forma de dar corpo para as minhas questões
a pessoa fotografada. Desse modo, eu me LC coisas estão indo do jeito certo, só que a pintura subjetivas.
pergunto, quem são essas pessoas que você Você estabelece um diálogo com a sua pintura? ganha vida própria e começa a me apontar para
retrata? A sua pintura tem uma voz? outros lugares. Eu penso que o olhar dessas LC
figuras segue um ritmo que foge do meu É interessante observar como você constrói
Eu falo assim porque, ao olhar para os seus WP controle. Eu não sei, mas a pintura parece saber. as cores das suas pinturas. Eu sinto que
quadros, eu sinto que estou diante de alguém. Em certa medida, não. Na verdade, ela é mútica. Parece esquizofrênico dizer que a pintura tem essas pessoas retratadas são colocadas nas
Mútico é uma pessoa que se recusa a falar. Mas vida própria mas não é. profundezas dos pretos e cinzas cromáticos que
WALTER PIMENTEL ela sabe o que está acontecendo. você cria. Elas habitam um lugar que o espectador
No princípio, elas começam muito parecidas A pintura é um centro cognitivo. É um lugar não consegue identificar muito bem. Ou seja, o
com as imagens das fotografias, só que com o LC onde os pensamentos são processados. Não é fundo das suas pinturas é mais abstrato. E essas
tempo elas começam a se distanciar. Não sei Só que ela não responde. exagero falar que ela tem uma vida própria. Não pessoas, essas imagens retratadas, elas surgem
explicar, parece que elas adquirem uma feição é que ela tenha consciência, mas ali as coisas vão desse lugar profundo e aparecem com uma aura
própria. Às vezes eu uso outras imagens de WP e são processadas. Eu penso que esse processo inebriante e até mesmo fantasmagórica. Elas
outras pessoas para determinar a feição delas, Isso. Pintura para mim é silêncio. é da esfera intuitiva. Por isso, na consciência fica aparecem brilhando intensamente com cores
misturo os rostos. um pouco nebuloso. muito saturadas que você traz. E esse contraste
LC brusco, de certo modo, permite enxergar a
Só que, conforme a pintura vai avançando, vou É impossível ao espectador deixar de notar os LC presença desse alguém que habita esse espaço
colocando coisas minhas, minhas impressões, olhos nas suas pinturas. Parece que as pessoas Há muito mistério na sua pintura. O que é muito pictórico.
para fazer a figura parecer que está me olhando. retratadas possuem um olhar vago e distante. provocativo e gera perguntas: quem são essas
Também para a pintura ficar mais forte. É um É como se elas enxergassem algo em quem as pessoas, o que elas observam, o que elas WP
processo de construção, para tentar montar um olha, causando um certo desconforto. E você já pensam, de onde elas vêm e onde elas estão. Lembrei de uma reflexão que eu tive há
rosto ali. falou sobre seu processo de pintar, considerando
40 41

LC do Trampolim? Houve um fio condutor para a


muito tempo atrás, quando eu ainda estava Quando a pintura estava molhada, eu falava, Fugindo um pouco da abordagem subjetiva escolha desses trabalhos?
começando a pensar nesses retratos. Eu queria beleza, só que quando secava, sumia tudo de seu trabalho, falemos sobre a tinta guache,
pensar em pintar o sentimento de ausência. aquilo. técnica que você utilizou nos trabalhos WP
Mas ausência, para mim, só faria sentido se
apresentados na exposição do Trampolim. Foi o interesse em apresentar os trabalhos
eu sentisse falta de alguma coisa que estava Quando eu uso a tinta muito grossa, parece
ali, senão ficaria algo sem sentido, como uma Sei que a sua técnica principal é a tinta a óleo, realizados com guache. Em quase todas as
que ao secar não dá esse rebaixamento. A cor então foi uma boa surpresa encontrar suas exposições que eu participei, expus muitas
espécie de vão. Se eu pinto só um vazio, às continua falando ali. Eu também gostava muito,
vezes não vai ter sentido para mim, mas se tinha pinturas feitas em outro suporte e com uma tinta pinturas a óleo. A tinta guache é importante
por exemplo, de misturar as cores na paleta, e
alguma coisa, e de repente essa coisa sai de diferente. para o meu processo e eu achei que seria
eu falava, nossa, não consigo botar isso na tela.
cena, aí eu sinto o vazio. Então, eu pensei, se eu interessante mostrar outros resultados da minha
fizer uma presença muito forte, essa ausência Agora eu estou conseguindo, sabe? Deixar uma WP pesquisa, diferentes daqueles que já mostrei
seria sentida depois. Foi o que eu pensei na cor meio suja ali, por exemplo, um branco sujo A tinta guache tem uma diferença muito com as minhas pinturas a óleo.
época, e também pensei “vou botar gente aí”. de rosa, ou sujo de verde, e essa materialidade importante do óleo. O óleo escurece o pigmento,
Mas é engraçado, as cores escuras, elas vêm no densa me dá a possibilidade de colocar essa e você consegue ter uma profundidade. Com o LC
final. Eu começo com as cores claras ali, a cor cor aí. E o volume dá uma sensação mais tátil, guache, não. Como ela não escurece demais Maravilha, Walter! Agradeço pela oportunidade
se inicia até um pouco suave, mas de repente e ele como que soma a dimensão mental que o pigmento, então eu tenho mais ou menos o de acessar um pouco mais do seu processo
aparece um preto, aparece uma cor escura, e a imagem traz. Porque a imagem é um monte
toda aquela cor clara que estava até um pouco aspecto de pigmento seco, né? Como não está artístico e desejo que suas pinturas continuem
de manchas e traços no plano bidimensional, tão escuro, ele permite algum grau maior de reverberando.
apagada, aquela massa clara, parece que ela só que você projeta conteúdos que você já
salta, né? Se destaca na tela. Quando eu coloco leveza. No guache fica uma coisa um pouco
conhece em cima da imagem. Essa projeção
a cor escura, parece que a cor clara sai da tela e mais limpa, principalmente para os pigmentos
mental me interessa muito, e quando a imagem
começa a habitar um outro lugar, e o espaço ali é tátil, você também remete ela ao aqui e agora. especiais, como os iridescentes e perolados que
está só sustentando. no óleo acabam amarelando, e a materialidade
do óleo deixa neles um efeito pesado, mais ou
O contraste, na verdade, quando eu jogo uma LC menos como se fosse terra, uma coisa bem
cor muito escura para essa cor clara saltar, é Como é a sua relação com a pintura? É difícil arenosa. No guache eu posso explorar outras
com esse objetivo. Quando eu estou pintando, pintar? Como são seus encontros diários com a características desses pigmentos. Os outros
há uma sensação muito importante, eu preciso pintura no seu ateliê? pigmentos, no geral, eles acabam funcionando
sentir as coisas enquanto estou pintando.
melhor com o óleo.
WP
LC Para mim, não é nada difícil pintar. Se deixar eu
Me fale um pouco sobre a materialidade que O óleo dá intensidade, porém é mais pesado. Para
pinto o tempo inteiro. O sentimento que a pintura
você coloca na pintura. Qual é o seu interesse os pigmentos especiais, metálicos e perolados,
traz, me parece, é um prazer mesmo. Prazer
em trazer esse material protuberante que eu sei de fazer uma figura forte, de fazer uma pintura o guache acaba sendo mais interessante por
que não é só tinta e que a gente sente muito forte forte. É um prazer de dar forma. Só que tem as conferir mais leveza, evidenciando melhor esses
também esses volumes acentuados ao redor da pigmentos. Eu gosto de ter essa possibilidade e
negociações que eu tenho que fazer. Mas hoje eu
pintura, também um tanto no corpo humano, e também me interessa o aspecto e materialidade
eu acho que muito também nesse fundo. Por sinto que estou com mais precisão. Eu já peguei
um pouco de intimidade com a pintura. Antes seca do guache. A paleta acaba ficando
que trazer esse volume para a pintura? diferente, mas é o mesmo processo, porém com
era difícil. Eu raspava muita tinta, desperdiçava
muito material. Mas hoje eu já peguei um pouco outra articulação de pensamento.
WP
Primeiro, o interesse na cor. No início, quando mais de intimidade. Está menos sofrido, mas às
vezes eu preciso ter paciência. LC
eu pintava com a tinta bem diluída, às vezes O que você pensou quando propôs apresentar
bem ralinha, a pintura ficava só ali na superfície. esse conjunto de pinturas para a exposição
Ficha técnica

EXPOSIÇÃO EXPOSIÇÃO
Trampolim
Trampolim

ESTADO DE GOIÁS Raphael Fonseca


Curador / Trampolim I
Ronaldo Ramos Caiado
Governador do Estado de Goiás Lastro
Ana Rocha
Yara Nunes dos Santos Beatriz Lemos
Secretária de Estado da Cultura Gilson Plano Gabriel Nascimento
Acompanhamento curatorial / Trampolim II
Rodrigo Rodrigues de Oliveira
Chefe de Gabinete Coordenadora
Juliana de Paula Silva
Raissa Coutinho David
Superintendente de Fomento e Gestão Cultural Malu da Cunha
Produção
Dirce Vieira
Gerência de Gestão de Equipamentos Culturais Cleandro Elias Jorge
Montagem
Thaís de Melo Lobo
Chefe de Comunicação Sharmaine Caixeta e Lucas Ywamoto
Programação Visual
Claudia Maria da Silveira
Gerente de Apoio Administrativo e Logística Artistas

Chefe da Equipe de Transporte Primeira edição


José Mário Saraiva de Abreu Carlos Mota Morais, Carlos Monaretta, Benedito
Ferreira, Hélio Tafner, Ana Flávia Marú, Talles
CENTRO CULTURAL OCTO MARQUES Lopes, Von Wander, Hariel Revignet, Manuela
Costa Silva, Estêvão Parreiras e Lina Cruvinel,
Débora Correa Melo
Coordenadora do Centro Cultural Octo Marques Segunda edição
Isabella Brito, Rafael Vazz, Emiliano Freitas,
Fabrícia Campos Freire Rafaela Pires e Adriano Monteiro, M. Clara Curti,
Administrativo do Centro Cultural Octo Marques Zex1000, Badu, Ââmbar Pictórica, Gabriela
Chaves, Arthur Monteiro e Walter Pimentel.
Cleandro Elias Jorge
Produção/Montagem/Expografia

Você também pode gostar