Catálogo Trampolim - Publicação
Catálogo Trampolim - Publicação
PROGRAMA TRAMPOLIM:
Mergulho para jovens artistas
1a edição 2018
MAC | GO
2a edição 2024
Centro Cultural Octo Marques
Goiânia - Goiás
1a edição
Artistas
Curadoria Artistas
Raphael Fonseca
Âmbar Pictórica
Arthur Monteiro
Badu
Emiliano Freitas
Isabella Brito
Rafael Vaz
M. Clara Curti
Rafaela Pires e Adriano
Monteiro
Zex1000
Walter Pimentel.
Curadoria
Lastro Arte
Ana Rocha
Beatriz Lemos
Gilson Plano
4 5
texto de
apresent a ção
O programa Trampolim se dedica ao fomento uma dobra importante do programa de incentivo
de estratégias de profissionalização e à prática de pesquisa e o lugar editorial como
agenciamento de jovens artistas residentes espaço de criação. Além disso, a participação
em Goiás. Nos últimos anos, vem atuando a da organização Lastro amplia mais essa
partir de metodologias que agregam processos rede de relações. Por meio de encontros que
de criação, incentivo a ações em redes e visavam o acompanhamento curatorial do
maior difusão da produção recente em arte grupo, os curadores Ana Rocha, Beatriz Lemos
contemporânea no Estado. e Gison Plano compartilharam suas experiências
práticas e teóricas, entre os meios institucionais
Com atenção aos movimentos de continuidade, e autônomos, para que a exposição chegasse
Trampolim apresenta a exposição que dá até aqui. São esses os fluxos de referência que
seguimento a um processo de 6 anos de interessam ao Trampolim, quando as trocas
atuação, focado em acompanhamentos de indicações possibilitam oportunidades de
curatoriais e agenciamento do circuito de arte agrupamentos e coletividades.
através de conexões relacionais entre artistas.
Nesta atual versão do programa, onze artistas
foram convidados a expor obras de diversas
linguagens e múltiplos campos de pesquisa,
e suas presenças indicadas por outros onze
artistas participantes da edição anterior, ocorrida
no ano de 2018.
Acompanhamento curatorial
Por esses motivos e no intuito de fortalecer
o caráter de formação do programa, essa
Lastro Arte
etapa Trampolim conta com duas importantes
participações. Os artistas das duas edições
Ana Rocha
anteriores, convocados para conversas que Beatriz Lemos
serão publicadas no catálogo, consolidando Gilson Plano
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parreira a: seguir cultivando esse trabalho e encontrar contextos para exercê-lo com saúde. entender as
necessidades dele, também as minhas. expandir o repertório de atitudes que posso ter em relação
arthur à minha expressão artística, refiná-la. expandir o repertório de atitudes que posso ter em relação ao
monteiro circuito de arte. entender as forças que me comovem e me revigoram e as forças que me esgotam. me
habitar profundamente. conseguir caminhar muitos quilômetros sem parar. crescer maior que meus
medos. ter um corte de cabelo bonito. amar mais as pessoas. é isso que peço, essa resposta é uma
prece, estêvão.
estêvão: como se deu seu primeiro encontro exposta ali na imagem. acredito que os desenhos
com a arte? também façam coisas semelhantes às frases:
apontam, sugerem, comentam, por vezes pra
arthur: na infância conheço o que as crianças mesma coisa e por vezes pra coisas distintas. aí
fazem e chamam de arte, que pode ser diferente tem um jogo que acho prazeroso. em geral gosto
do que a gente tá chamando de arte aqui. desses trabalhos que faço meio sem perceber,
aprendo a brincar com lápis, a fantasiar, inventar parece que o mundo vai me presenteando com
narrativas junto de brinquedos, ouço música, frases nas quais reconheço força. ou parece que
assisto filmes. lá tenho os primeiros impulsos às vezes a vida adquire uma densidade especial
de expressão criativa, todos têm, num contexto que faz meu corpo produzir um texto.
muito mediado pela televisão, pelas locadoras,
por gibis e pela escola. um dia almoçando em e: qual a sua relação com o desenho?
casa vi a notícia de que um artista gerava alguma
polêmica por expor urubus dentro da bienal de a: desenho desde sempre, era algo que
são paulo. aí talvez tenha sido o meu primeiro compunha minha identidade para mim e para os
contato com arte contemporânea, e passo a ter outros essa coisa de ser a pessoa que desenha.
a vaga noção de que existem instituições como quando ingresso na faculdade de artes visuais
galerias, museus, bienais. lugares que só acesso em 2019 eu tava de mal com o desenho já tinha
mais tarde. mais velho descubro que o artista um tempo e meus interesses iam em direção da
era nuno ramos, na 29a bienal. música e da fotografia. fiz as primeiras disciplinas
de desenho contrariado, com alguma resistência
e: me fale sobre seu trabalho e como ele se que nem em retrospectiva compreendo
relaciona com o mundo? exatamente qual era. até que em 2020, no
contexto de isolamento social, volto a desenhar
a: acredito que desde a adolescência meu corpo com mais gosto e disciplina e isso volta a crescer
vai construindo um certo costume de criar. e de em mim. desde então reconheço o desenho
tempos em tempos ele vai se demorando em como um lugar de investigação, de descoberta,
alguns lugares, em músicas, em fotografias, em um jeito de perceber melhor as coisas em volta,
textos, em desenhos. nesses últimos tempos ele de entender meu próprio olho, entender como
têm se demorado mais em frases, que me vêm apreendo e como posso apreender o mundo,
observando as coisas, ouvindo os outros, lendo, de visitar a memória, de entender o que existe
ou nas primeiras instâncias do sono: são amplos na minha experiência de realidade imediata.
os modos de descobrí-las. e o trabalho que acredito que isso foi o que centrou minha prática
mostro no trampolim vem muito desse lugar de artística no desenho nesses últimos anos - junto
frases que coleciono, frases que recorto de seus do prazer de por essas imagens no mundo,
contextos e amplio pra outras leituras, frases de me aproximar e distanciar delas, de me
ambíguas, frases que apontam pra alguma reconhecer e me estranhar nelas.
coisa que me toca e que não tá completamente
bad u difícil de ouvir. Acredito que ainda nem toquei essa forma de delírio vivo, mas penso muito a respeito,
tentando realizar aos poucos essas propostas.
Tecer Carnavais, costurar devoções - Bordando a felicidade Para conseguir atingir esse resultado é um processo que me coloco tal como um devoto pagando
promessas, afinal colar milhares de paetês envolve devoção, remissão e lidar com dores físicas e
O tambor me chamou
emocionais que às vezes ser devoto impõe, mas crente num ideal. Para conseguir executar trabalhos
Pra firmar no terreiro
nessa linha preciso entrar quase como em uma sintonia mântrica com aquilo que está sendo feito.
Em cada verso
Para cronometrar o tempo de cada ação sob o tecido uso uma metodologia de criação com base nas
Sentimento verdadeiro
transmissões dos desfiles das escolas de samba. O espetáculo que chega pela televisão é composto
Bordei um país de felicidade
de vários padrões temporais que me utilizo deles para conseguir entender quanto e como gastar o
Na voz da minha Mocidade
tempo sobre o trabalho . Sendo assim, por exemplo, do início da transmissão até o abre alas devo
executar x coisas, na duração de um desfile do Carnaval paulistano tenho que fazer tanto bordado, ao
G.R.C.E.S. Mocidade Alegre 2024
ponto que no tempo de um desfile do Rio é uma outra quantidade.
Brasiléia Desvairada: A Busca De Mário De Andrade Por Um País
Essa unidade métrica carnavalesca torna possível a execução de trabalhos em grande escala para a
minha atual realidade, principalmente considerando que tais inserções são realizadas no meu quarto
pequeno de 3X3m, repleto de móveis e outras tranquilas em que encontro pequenos espaços para
criar. E isso é um outro dado relevante na minha posição enquanto artista atualmente, visto que parto
Ainda hoje me questiono os caminhos que Trampolim representa grandemente isso. Ao de uma realidade nada favorável em que inventou soluções para continuar criando.
me levaram a ser fiel à folia do jeito e modo tratar meu Santo Expedito, ao qual sou devoto, É ao observar essas situações que me pego pensando nessas teceduras carnavalescas que bordam
que sou. O Carnaval na minha vida é religião, de maneira carnavalesca é estar vestindo o a felicidade dessa festa na minha existência. O Carnaval, a folia e a festa nascem como formas e
cultivada para além dos limites de fevereiro sagrado com aquilo que é mais divino para estratégias de sobrevivências há realidade que por vezes é difícil. É messa peleja que me encontro
e que estabelece um contínuo impacto na minha pessoa. Meu santinho, que pouco aparece e faço valer dela para fazer a folia como uma forma de sobrevivência. O brilho é a sobrevivência á
amálgama chamada Badu. Foram e são alguns nas artes, tem uma história marcada pelo que vida opaca. A cor é a sobrevivência à monotonia do cotidiano urbano. O excesso é a sobrevivência à
anos de estudos acadêmicos nas Artes Visuais não se sabe. Dizem que Expedito nem era o seu escassez. E a felicidade é a sobrevivência da festa.
para que depois de ser apresentado ao mundo, nome, e na existência de tantas dúvidas sobre
retorno o olhar para a festa pois é nela que esse ser, opto pelo tratamento alegórico que
resguarda o princípio, o agora e o sempre. Sem o Carnaval ofertas e assim criar um Expedito
a festa perco meu Norte, meu centro e a razão mágico e sublime na forma de atuar.
de caminhar. São essas festanças as principais No momento da abertura da exposição muitos
formadoras do meu imaginário poético que foram os comentários de quanto tempo leva
carrego entre sinapses no coração. É incrível, para executar um trabalho como aquele. A você
mas independente do assunto que ocorra no que me lê revelo: foram cerca de 3 semanas. Mas
meu cotidiano, o Carnaval funciona como um o esforço em si não é por conta das dimensões
primeiro filtro referencial para a compreensão. espaciais, que chamo de macro espetáculo,
É a base do conhecimento que me organizo, e mas pelo completo oposto, que intitulo como
todo e qualquer raciocínio perpassa antes por micro espetáculos. É uma ambição minha
este festejar. enquanto artista criar situações que o olho não
Para você que me lê pode parecer um pouco dê conta de captar de uma vez só, assim como
desesperador ou até mesmo um hiperfoco, mas o Carnaval. Um desfile de Carnaval é composto
é somente uma escolha que fiz por viver assim, por àquilo que se vê de longe e o que é feito
‘vivendo a vida feito um Carnaval’ como canta para ser visto no detalhes. Contudo são muitas
o samba de 2024 da Imperatriz Leopoldinense. informações em um pequeno frame de tempo-
Carnaval na minha vida é uma retina, uma linha espaço. O olho humano por mais que queria não
que costura meu destino, uma verdade possível consegue registrar tudo tamanha a quantidade
de acreditar. de nuances. Acho isso tão interessante, como
O trabalho presente na segunda edição da uma música que por ter tantas camadas fica
freitas de ir nas minhas exposições, saber o que estou EF: Não há ligação direta. No entanto, se a gente
quiser forçar um pouco a associação, podemos
produzindo, com a mesma energia que tinha
pensar no fato do palhaço usar uma máscara
quando ia nas minhas apresentações da escola
que revela nossa verdadeira identidade. Talvez
primária. Ela gostou muito quando viu que eu isso reflita meu desejo de infância em mexer
A CÂMERA NO JARDIM relações entre público e privado se confundem, estava trabalhando com esmaltes e me deu
essa demanda me pareceu fundamental para na caixa de esmaltes da minha mãe, e, agora,
vários tubos novos. Agora a gente fica trocando posso ter minhas próprias caixas de esmaltes de
Esta entrevista foi realizada em duas ocasiões perguntas tanto da pesquisa de doutorado,
distintas: primeiro, em 18 de março de 2024, esmaltes sempre que se encontra. unha para fazer o que eu bem entender.
quanto para minha existência. A partir daí, a
seguida por uma segunda sessão em 21 de cada visita a Tupaciguara/MG, minha cidade
abril do mesmo ano. Antecipei dois conjuntos BF: Uma pergunta para saciar minha BF: Adoraria ver o palhaço na sua pintura.
natal, comecei a futricar em arquivos guardados curiosidade: quantos vidrinhos de esmalte Posso esperar sentado?
de perguntas por e-mail ao artista Emilliano
Freitas. O intervalo proposital possibilitou que na casa dos meus pais, e conversar com eles você costuma usar numa pintura grande?
eu conferisse suas obras expostas no Centro sobre aquelas imagens, vindo à tona discussões EF: Não! [Risos] Tem uma pintura da série
Cultural Octo Marques, como parte do Programa impossíveis de se ter há 20 anos, quando a gente EF: Varia conforme a complexidade da pintura. “Cavalinhos do Mutirama” onde me apresento
Trampolim. Durante nosso diálogo, exploramos provavelmente tinha visto aqueles registros Por exemplo, em “Jardim 1”, da série “Cultivar criança com uma roupa de palhaço. Mas
temas como a pintura, suas influências artísticas juntos pela última vez. Os primeiros trabalhos jardins como quem mantém a mãe viva”, uma independente da iconografia do palhaço, ele
e a relação com a produção artística em Goiás. dessa pesquisa foram reunidos na exposição pintura de 75 x 58 cm, contabilizei 57 vidros de está sempre em minha pintura. Meu trabalho
Destaco, ainda, que as fotos utilizadas nesta “Esse menino chora demais”, aberta em 13 de esmalte utilizados por inteiro (e mais um monte tem a ver com revelações e intimidade, o que
entrevista são de autoria de Paulo Rezende. março de 2020 em Uberlândia/MG, e fechada mexido pela metade). São muitas camadas de está diretamente ligado à palhaçaria.
logo em seguida por conta da pandemia da esmalte na pintura, um material muito particular,
Benedito Ferreira: Gostaria de começar pelo encontrado no mercado em embalagens com
covid-19. Até então, os trabalhos eram realizados
mais recente, que é a parte em que a maioria no máximo 8ml.
com técnicas como pintura em acrílico e óleo,
das pessoas reconhece o seu trabalho: a
escolha do material. Como você chegou aos além de desenhos em nanquim e grafite.
esmaltes e ao interesse pelas fotografias de Insatisfeito com o resultado dessa pesquisa,
sua infância? começo a investigar em 2021 o uso do esmalte
de unha em minhas pinturas, em referência
Emilliano Freitas: Há duas questões que se à profissão de minha mãe que é manicure.
cruzam nesse meu interesse nos esmaltes e Ela sempre trabalhou em casa, conciliando a
nos arquivos de minha família, que vão além das criação dos filhos com sua profissão, e os seus
fotografias da infância. No segundo semestre esmaltes, que eram guardados em uma caixa
de 2018 comecei a cursar o doutorado em Arte grande, numa organização cromática impecável,
e Cultura Visual (UFG) e um dos problemas reunindo um universo de possibilidades que
da minha pesquisa consistia na construção a gente não podia chegar perto. Lembro de
da memória coletiva e como essas narrativas ficar observando as clientes abrindo a caixa
eram construídas, me levando a questionar para escolher as cores e me impressionava
a importância das memórias individuais. Até a variedade de vermelhos, rosas, marrons e
então, eu nunca tinha parado para pensar brancos. Experimentar então agora, depois de
na importância das minhas vivências para a muitos anos esse material como possibilidade
construção do eu, e, depois de muitos anos, poética, além de aproximar os ofícios de
voltar a morar em uma cidade pequena como manicure e artista, é também uma forma de
Goiás, mais próximo à natureza e onde as pensar na criação a partir das autorizações.
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BF: Uma vez você comentou que o fato de ser uma associação X, ou pertence a algum grupo pro centro da discussão, acredito ser um pelo suporte em VHS, na pintura?
mineiro, nascido em uma pequena cidade do específico, ou está na lista dos artistas plásticos desejo de aprofundar mais no fazer poético da
interior, e baseado na Cidade de Goiás, talvez de Goiás do Jornal O Popular? Geralmente o que pintura. No último ano, dentre o repertório de EF: O vídeo feito pela minha mãe no final dos
dificultasse a sua leitura como “um artista me impressiona em artistas são suas obsessões, imagens que trabalhei, pintei muitos cavalinhos anos 90 em VHS e depois transferido para o DVD
goiano”. Você se sente “um artista goiano” criação de imagens e as dúvidas que me geram, de diferentes cores e escalas no intuito de sofreu um processo de transformação de cores,
hoje? e não necessariamente por uma proximidade experimentar pictoricamente principalmente fragmentação das imagens e passou por um
com o meu trabalho, seja ela temática, formal princípios de composição e cores. Por mais que tratamento do próprio tempo, ganhando pátinas
EF: O que ocorre é que, muitas vezes, em ou técnica. O Eduardo Berliner é um desses houvesse auto-ficcionalização no meu processo e chuviscos por conta de fungos e desgaste do
momentos de editais, seleção e/ou curadoria, artistas que quando eu vejo uma obra me tira do artístico a partir das fotografias, ainda existia um material. Além disso, a forma como minha mãe
onde uma certa representatividade regional é prumo. Aqui de Goiás me perturbam as cirandas certo respeito às convenções de uma imagem filmou, explorando freneticamente, em muito
importante, o fato de ser mineiro me faz parecer do Poteiro e as criaturas da Ana Maria Pacheco. parada, o que procurei subverter ao máximo pouco tempo, os recursos que a filmadora
um estrangeiro aqui no estado de Goiás. Morar no na brincadeira com cavalinhos. Isso trouxe um caseira possuía, como zooms e focos, me fez
interior do Estado dificulta mais ainda o acesso BF: Não é a primeira vez que você cita o amadurecimento na construção de cenas que querer investigar a produção dessas imagens
Berliner. O que realmente você destacaria na me permitiu olhar sem medo para os arquivos na pintura com esmalte. É uma pintura menos
a determinados lugares. Isso é uma questão,
obra dele? audiovisuais de minha família como fontes para planejada e mais aberta a experimentações.
mas não um problema. Por exemplo, após 8 pinturas.
anos residindo em Goiás e tendo consolidado EF: Na Bienal de São Paulo de 2012 eu levei
meu trabalho nas artes aqui, em muitos um choque quando vi o trabalho dele exposto. BF: Surge o interesse em encontrar essa
espaços de Minas Gerais não sou reconhecido Desde então sou fascinado com a forma como imagem em movimento, bastante fragmentada Trampolim 2ª edição 2024 | Foto Paulo Rezende
como um “artista mineiro”. É um estado de ele conduz a criação de narrativas através de
deslocamento comum em minha vida desde suas pinturas. Berliner tem um domínio absurdo
quando comecei a trabalhar artisticamente com da linguagem, utilizando a técnica a favor de sua
teatro, mas estudando arquitetura e urbanismo, poética. Cada pintura dele é uma aula.
não conseguindo encontrar um lugar de
pertencimento puro. As sobreposições de BF: Prove que você está muito goiano nos
indicando três coisas para conhecer na Cidade
categorias e atividades causam certa confusão
de Goiás que em geral os turistas não dão
nos circuitos culturais tradicionais. muita moral.
BF: Existe uma “arte goiana”? Quem são os EF: O que é ser muito goiano? Pode ser muito
artistas, goianos ou não, que dialogam com a goiano alguém com medo de roer pequi e que
sua produção? não gosta das músicas da Marília Mendonça?
Não tenho moral para provar nada [Risos].
EF: Pensar em uma “arte goiana” como uma
definição para determinadas expressões culturais BF: Absurdo você não gostar das músicas da
soa limitador para mim, como se estivéssemos no Marília. Mas, vou voltar outra vez para o final.
início do século XX e precisássemos categorizar Mais recentemente você acena para um novo
repertório na pintura. Trata-se do jardim de
o que é produzido em um território como forma
sua mãe, com um conjunto expressivo de rosas
de afirmação de uma identidade. Além disso, filmadas por ela. É um desejo de abstração?
essas classificações podem ser segregativas,
pois quem determina o que é arte goiana ou não? EF: Eu não disse que não gosto da Marília,
A arte goiana seria definida por características fiz apenas uma pergunta. Apesar de não me
formais ou seria produzida apenas por quem identificar em nada como trabalho dela [Risos].
estudou em determinada escola, ou faz parte de Mas sobre os novos trabalhos, trazendo jardins
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sido uma referência em termos de construção G. Quais eram suas expectativas como artista na época do Trampolim 1? E quais têm sido suas
G. Quais artistas você tem tido como referência de pesquisa, composição, organização e metas atualmente?
atualmente? apresentação do trabalho. Esses diálogos M. — Na época do Trampolim eu não tinha noção dos caminhos e circunstâncias do sistema das artes,
M. — Encontrei muita ressonância com Tunga, envolvem provocações, resoluções poéticas e ainda estava muito ligada ao processo de pesquisa acadêmica. Ainda hoje eu não projeto muitas
Maria Martins e Ana Mendieta. Esses artistas materiais, além do discurso que construímos expectativas pois as coisas vão encontrando seu próprio caminho. Mas naturalmente sempre espero
trabalham assuntos a partir de um prisma sobre toda a pesquisa. conseguir construir uma carreira sólida, em crescimento, com caminhos que sejam éis a mim, com o
que me aproximo muito, nas linguagens de reconhecimento de um percurso honesto e siga alcançando as pessoas, anal acredito que esse seja o
ordenações e reordenações simbólicas, nas G. Quem são as mulheres que comparecem objetivo da arte.
narrativas que se enraízam em um solo em nas suas obras? Onde você busca essas
comum daquilo que narra os planos etéreos da referências?
matéria, dos materiais, cenários, dispositivos, M. — Essas mulheres são eu mesma e todas nós
posições e justaposições. O discurso de gênero ao mesmo tempo, em um ponto tão uno quanto
em meu trabalho vem de uma articulação entre coletivo. No modo de sentir si mesma e pelas
as visualidades de Maria Martins com as matérias dores, perder-se, encontrar-se, matar-se, parir-
e a linguagem do corpo de Ana Mendieta. Tunga se,
Trampolim 1ª edição 2018 | Foto Paulo Rezende
em seu discurso que tensiona o orgânico com curar-se. A partir das visualidades, matérias e
matérias da natureza me inuenciam a pensar entes da natureza que acionam passagens de
nas matérias e elementos que fazem sentido ser outra em si mesma, e vice -versa.
usar como recurso, tanto na carga simbólica das
pedras, ou nas aproximações de um discurso M. Qual o raciocínio conceitual e poético que
alquímico que também perpassa meu trabalho, conduz a performance do corpo em sua obra?
por exemplo. Quais recursos e soluções você utiliza nas
diversas mídias de seu trabalho?
M. Quais são suas principais referências G. — O processo tem sido muito generoso
artísticas? Como seu trabalho apresenta esses comigo. É um fato que quanto mais você se
tais diálogos? entrega ao trabalho, mais ele te responde.
G. — Frida Kahlo foi uma das minhas primeiras Trabalhar em um ateliê de noivas ampliou
referências artísticas, abrindo um horizonte não somente o meu repertório técnico, mas,
de possibilidades no fazer artístico e, sobretudo, o poético. Entendi o corpo como
principalmente, na experiência de ser mulher algo que se corta e costura, assim como um
e artista. Visitei uma exposição dela em Brasília vestido, uma espécie de Frankenstein mesmo,
em 2016, e ver pessoalmente o trabalho de um que carrega essa ambiguidade de uma
artista muda completamente a relação com toda costura reparadora, mas que também aponta
a sua produção. Frida me ensinou que é possível para as violências. A partir dessa noção, os
ser meio mulher e meio bicho, abrir um corpo desdobramentos são possíveis. Encaro como
e costurar; foi algo que realmente ampliou os uma brincadeira de combinar e descombinar os
meus horizontes visuais. demais elementos que compõem o imaginário
Outras referências que carrego comigo incluem: que tenho construído. A utilização dos recursos
Ana Mendieta, Adriana Varejão, Farnese de e soluções tem muito a ver com o que cada
Andrade, Regina José Galindo, Rosana Paulino, trabalho pede. Como também sou muito
entre outros. Inevitavelmente, também são perfeccionista, tento perceber qual material
referências as pessoas que me cercam e com corresponde melhor à ideia e que, com as
as quais compartilho o ateliê diariamente, como minhas habilidades e limitações, será possível
você, Lucélia Maciel, William Maia e o próprio desenvolver.
Dalton Paula. Além de me orientar, Dalton tem
22 23
isabella morais vários frangos juntos, em um supermercado. enxergar nos símbolos e objetos, e dentre essas
pessoas estão os membros da minha família. A
Carlos - Percebo que em seu trabalho, a colisão reação dos meus familiares ao que tenho feito
brito entre assunto e linguagem resulta na estranheza.
A partir do cotidiano rural extrair angústia da como artista é de muito suporte, desde me
ajudar a recolher objetos ou me permitir contar
delicadeza ou o grotesco do familiar exige um
tato especial. Como você lida com isso? histórias ou fragmentos de memórias. Às vezes
eles acham engraçado eu me interessar por
Isabella - Esse processo exige um tempo de essas histórias, mas também sei que se sentem
Sonhos intranquilos
Dormir digestão. Eu passo muito tempo “pensando valorizados por esse interesse e pesquisa.
Ouvindo o jacaré na morte da bezerra” e vendo pra onde as
Embaixo da casa referências me levam, até entender que consigo Carlos - Quais as fontes ativas no contexto de
Embaixo da cama fazer uma síntese de tudo isso em um trabalho. sua pesquisa artística?
Embaixo do travesseiro Com as fotografias isso também ocorre; se algo
Roncando captou meu olhar hoje, talvez eu só consiga Isabella - A memória oral e acervos de objetos
entender o por que daqui vários meses ou anos. das pessoas que viveram nesse contexto rural,
Eu vou perseguindo uma sensação até sentir acervos de livros, receitas e outros fazeres
Carlos - Qual sua memória mais antiga? que fiquei satisfeita com a parte conceitual, e tradicionais. Gosto muito de tecer de significado
só após essa sensação vira desenho, projeto ou os lugares onde a memória falha e o registro se
Isabella - Tem algumas, não sei qual é a mais antiga de todas. lembro do gosto de leite misturado com texto. perdeu.
açúcar e plástico que tomava na mamadeira
E escutar esse som dentro da minha cabeça. Carlos - Sentimentos e narrativas antagônicas Carlos - Como o “outro”, sendo agente de
convivem no seu trabalho em uma espécie de estranheza, pode se esgueirar e penetrar nessa
E a sua? busca pela suspensão de uma realidade próxima premissa da reclusão em pesquisas particulares
o suficiente a ponto de evocar memórias quase e/ou em andamento?
Carlos - Também não sei qual das minhas memórias distantes teria sido a primeira, mas uma dessas tangíveis, mas distantes o suficiente a ponto de
que mais marcou foi de um acidente doméstico em que levei um choque elétrico. me lembro de não causar uma estranheza embaçada. Isabella - O “outro” entra sem ser convidado,
encontrar palavras para descrever o ocorrido, acredito que na época eu não conhecia muitas palavras, Esses conceitos por vezes trazem contradições como um lembrete da nossa impotência
mas ainda hoje não sei bem descrever o sentimento do choque. familiares na ascendência caipira, sertaneja, perante a passagem do tempo, o esquecimento
Como você organiza suas memórias? do trabalho braçal, do suor e da exaustão que e a ruína.
convive no seio recluso de contextos isolados, meu corpo. Não esperaram o seu tempo, não
Isabella - De forma não-verbal, minhas memórias estão ligadas a disparadores sensoriais. Não sei muito em famílias tradicionalmente guiadas pela houve consentimento e arrancaram uma parte
bem como isso acontece, mas, digamos que exista um repertório imagético interior conectado a cada convenção de procedimentos perpassados de mim. Semelhante a isso, está a ação de furar
estímulo, criando uma teia que conecta fatos, memórias e sensações. de oralidades fragmentadas, de histórias as orelhas das meninas recém-nascidas, são
hereditárias, contadas e recontadas, lembradas atos com toda uma carga simbólica e estrutural
Carlos - Quais Lugares você anseia que seu trabalho de arte habite? e relembradas, uma confiança consanguínea da sociedade. Ao mesmo tempo, foi a minha avó
transmitida por gerações. quem me apresentou a delicadeza das miçangas
Isabela - Quando eu cheguei em Goiânia pra estudar, as pessoas me zoavam por causa do meu Como sua família se relaciona com seu trabalho que ela usava para bordar alguns vestidos, então
sotaque. Eu nem sabia que tinha sotaque, as pessoas do meu convívio todas falavam do mesmo jeito. e como seu trabalho se relaciona com sua me parece que é uma ambiguidade que me
Com o tempo fui subindo barreiras entre minhas referências e o jeito “correto” de falar, sentar, comer família? acompanha e compõe o meu trabalho artístico.
um prato de comida. Eu ficava com vergonha de demonstrar que eu vinha de uma cultura da “roça”,
mesmo tendo nascido na cidade. Acaba que perdendo essa referência, se perde tudo. Hoje eu procuro Isabella - Essa é uma questão importante, que
aprender e guardar os modos e conhecimentos dos mais velhos porque é a tarefa mais importante que também tem a ver com o alcance e dispersão
existe. Eu queria muito que meu trabalho como artista pudesse comunicar a outras pessoas que em da arte contemporânea aqui no Centro
algum momento também tiveram vergonha de suas raízes que essa cultura é bonita, real e válida. Oeste. Em Anápolis existe hoje em dia uma
movimentação institucional e de ateliês de
Carlos - Transitando por ambientes do meio rural e um centro urbano, quais proximidades você captura artistas que produzem arte contemporânea,
desses lugares? com a Galeria Antônio Sibasolly, o Museu de
Isabella - A violência é constante, a maldade também. É só que na cidade fazemos isso uns com os outros Artes Plásticas de Anápolis e o Barranco Ateliê.
e na roça isso é mais entre as pessoas e a natureza. Eu acho engraçado as pessoas se chocarem com
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talles
lopes
zex1000
Talles Lopes: Seu trabalho tem o ruído - o de imagem atual, pela velocidade que se é
erro, como ferramenta de investigação; Você produzida e pelo esvaziamento do sentido
tem pesquisado sobre os próximos “bugs” dessas imagens.
tecnológicos globais. Isso nos leva a refletir
sobre um colapso de esgotamento político e zex1000: É um trabalho que demonstro a
ambiental, de incerteza ao futuro. Como você dualidade dos registros. De um lado são
percebe as pontes entre esse esgotamento e ao registros cotidianos milenares do povo Fremont
seu trabalho? (Utah, EUA) e do outro é uma transmissão em
tempo real do espectador. São imagens geradas
zex1000: A correlação do meu trabalho com o por um mixer de vídeo que nos escapam
esgotamento, principalmente o de dados, vem a compreensão, pela condição efêmera e
por meio de uma provocação intencional e progressiva. Assumo o esgotamento da super
consciente do erro. Uso o aspecto de incerteza produção de imagem como aliado a minha
na imagem como ferramenta de criação. própria produção de imagem.
Indiretamente é um convite a redescobrir nossos
desejos e intenções fora do campo virtual.
Trampolim 2ª edição 2018 | Fotografia: Paulo Rezende Trampolim 2ª edição 2024 | Fotografia: Paulo Rezende
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Legenda: M. Clara Curti. Registros processuais da videoperformance “Estrelinha”. 2022. Acervo pessoal da artista.
Legenda: Ana Flávia Marú. Frames de vídeos em processo: desenho em lápis de cor s/ papel levado para as formigas;
formiga em pastilha piezoelétrica (microfone de contato). 2024. Acervo pessoal da artista
Legenda: Ana Flávia Marú. Frames de vídeos em processo: desenho em lápis de cor s/ papel levado para as formigas;
formiga em pastilha piezoelétrica (microfone de contato). 2024. Acervo pessoal da artista
adriano claro hélio 6- Você tem algum ritual ou processo antes de 9- Quais são seus projetos futuros?
Hélio responde: Pretendo pesquisar artes no
monteiro tafner
começar a criar?
Hélio responde: Nenhum em específico. doutorado. Gostaria de estudar no exterior, e
ficar um período fora trabalhando e vivenciando
e rafaela 7- Quais foram os desafios mais significativos
outro continente/cultura. Futuramente gostaria
de trabalhar com arteterapia/pedagogia com
blanch pires que enfrentou como artista? crianças/idosos. Produzir uma exposição
individual minha, e por fim, trabalhar com
Hélio responde: Em primeiro plano, os estudos
para criação/difusão dos meus trabalhos. O local mentoria para outros artistas. Amo trocar
experiências com pessoas da área e fora dela
onde estagiei, Centro Cultural UFG, em Goiânia também.
Para início da nossa entrevista, Rafaela pergunta os meus pensamentos e fazem parte da minha - GO, também me auxiliou muito, pois lá pude
para Hélio, via Goggle Meet: pesquisa poética/artística, desde a graduação aprender sobre produção e gestão de projetos, 10- Qual conselho você daria para artistas
na Faculdade de Artes Visuais na Universidade eventos culturais, exposições de arte, além do emergentes?
1- Qual é a inspiração por trás do seu trabalho Federal de Goiás. incrível acervo com mais de 900 itens de arte Hélio responde: Para buscar novos desafios,
mais recente? experienciar vários formatos/projetos/lugares
Hélio responde: Busco inspiração na cidade contemporânea, e contato com a equipe, artistas, que envolvem arte. Participar de residências
onde moro atualmente que é Santa Helena 4- Quais são suas técnicas ou materiais colecionadores, curadores, produtores culturais. artísticas, projetos outros para trabalhar demais
de Goiás - GO, no sudoeste goiano. Tenho favoritos para trabalhar? Aprendi muito no período que estive por lá. O áreas de conhecimento. Retribuir minimamente
observado alguns fenômenos político-sociais Hélio responde: Ultimamente venho e socialmente o mundo com a arte.
segundo maior desafio foi conciliar meus estudos
na região, levando a uma crise/especulação experimentando técnica mista em pinturas e
desenhos, permitindo um universo totalmente acadêmicos com a minha produção artística.
imobiliária. Temos muitas casas à venda, poucas A partir dessas perguntas respondidas, Hélio
para alugar e outras em estado de “abandono”, novo na minha produção. Estava muito apegado Por fim, acredito que a circulação dos trabalhos Tafner faz as seguintes para Adriano Monteiro e
portanto a conta não fecha. Coleciono algumas somente à criações envolvendo a arte da pelos variados circuitos das esferas artísticas, Rafaela Pires:
imagens fotográficas desses locais, e na performance, e a videoarte enquanto linguagens seja por instituições hegemônicas institucionais
sequência produzo desenhos com técnica mista prioritárias nos últimos anos. Isso gerava certa ou espaços improváveis. Experimentar variados 1- Como foi a adaptação do trabalho
sobre papel. Em outros casos tenho realizado zona de conforto e restrição para pensar/fazer lugares/formas de expor, e pensar arte é de “Dissolução do ser”, para o espaço
algumas pinturas também com técnica mista institucional/cubo branco? Quais foram os
sobre tela. Mudança na paisagem é algo que me arte. Gosto de ir mudando as séries e linguagens grande importância para lapidação e adquirir
na minha pesquisa. Após a conclusão do meu desafios?
interessa, sobretudo o olhar mais fortuito sobre a experiência na área. O atual desafio tem sido
arquitetura, a cidade e fenômenos sociais. mestrado no ano de 2018, decidi buscar novos escoar a minha produção pelas plataformas
desafios/ares na minha carreira. Daí surgiu o Adriano responde: A ideia de produzir uma
sociais, algumas questões de marketing digital
2- Como você descreveria seu estilo artístico? interesse em desenhar e pintar. Logo menos instalação já estava concebida há um bom tempo,
e vendas vem surgindo. Particularmente gosto
Hélio responde: Atualmente tenho feito quero trabalhar com esculturas, instalações e mas a gente não tinha perspectiva de concretizar
alguns estudos sobre pintura abstrata, cores e colagens. muito dessa emancipação de produção e venda
por questões práticas. Nosso trânsito maior é
composição. Acho que tenho caminhado por dos meus próprios trabalhos.
pela performance. Ela acontece há algum tempo,
esse estilo, mas sem muito apego. Estou mais 5- Como você lida com o bloqueio criativo?
interessado em borrar de forma heterogênea o e a concepção veio de um processo de três
Hélio responde: Costumo assistir filmes, passear 8- Como você vê o papel da arte na sociedade? anos. O núcleo do projeto é o desenvolvimento
exercício da criação, mesclar técnicas e estudos, Hélio responde: Vejo de grande importância
pela natureza, ouvir músicas, ler poesias, de um software que gera imagens e sons e no
e não cair em alguns rótulos. observar a cidade/arquitetura, visitar museus para a construção/manutenção/transformação qual as decisões estéticas definem a concepção
históricos/antiquários, viajar. Busco novas da sociedade. Gostaria muito que um maior de um código computacional. Entendemos as
3- Quais são os temas recorrentes em sua referências e momentos praticando várias número de pessoas pudessem ser despertas performances e essa instalação apresentada
obra? atividades na minha vida, para me preencher de para a vida através da arte, seja pelo ensino no Trampolim II como instanciações de um
Hélio responde: Os temas recorrentes que pensamentos outros que necessariamente não recebido na escola ou durante a vida. Queria processo criativo contínuo. Entendemos que
apresento nas minhas obras atuais são; a seja a criação de algo artístico. Com o tempo que as pessoas pudessem frequentar mais
museus, galerias, teatros, centros culturais e se haverão outras formas ou variações por vir. A
utilização do corpo como ferramenta política, e a contaminação imagética diária somada às performance surge enquanto apresentação ao
sentissem mais pertencentes a estes espaços, e
seja ele por meio de ações ou escolhas que experiências, a criação flui e os trabalhos surgem sobretudo a arte. Noto que não somos instruídos vivo e performada do algoritmo desenvolvido
tomo no meu cotidiano. Conceitos de guerra, dor, naturalmente ou de acordo com as demandas e sobre o que é público e privado, por exemplo, para o trabalho. Enquanto músico isso surge
violência, mídia sensacionalista, cultura visual, editais. e a importância de cuidar de acervos públicos naturalmente e foi o primeiro formato pensado.
história da arte ocidenal e oriental, penetram para resguardar a nossa história. A instalação veio como ideia subsequente, de
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carlos nada...discutir pontos...sobre as pequenas percepções de como você enrola o seu fumo...forma poética...
TRAVEssia...matéria do desenho...substância pensante...adequação...intuição pura...materialização...em
monaretta pleno século XXI...lembrado muitas vezes...o que fica acentuado...a técnica pode registrar...identidade...
rafael olhar e reconhecer...estética...mapear todos juntos a mim...visualidades próprias...E você, já tossiu ao ver
vaz um quadro?
Vou descrever para você o que é uma bela sentimento que cada um carrega...Mesmo que
composição...trabalho coletivo...ao centro na morte, existem marcos que são datados a Trampolim 1ª edição 2018 | Fotografia: Rafaela Pessoa
da mesa um prato fundo e largo...a cidade todo momento, desenhamos a cidade até com
era grande e permitia viver...Dar vazão a sua nossas pegadas...o impacto do encontro...a única
poética que consiste, em linhas gerais, em forma de impor ampla participação popular...
fazer de tudo com o nada...imagens reveladas... você é quem faz...acompanhar esse vai e vem
Propõe objetos e instalações que promovem do texto, ajuda a entrar neste pensamento...no
a experiência do riso...olhares atônitos dos centro do mundo...Mas ele disse que era melhor
artistas...A experiência de deixar marcas até não escolher...e o que está no papel, muitas
então na cidade é transposta para o espaço vezes não é feito...O óleo sobre o asfalto é uma
do museu...sociedade...Sobre como se utiliza despintura?...nossas abordagens educativas
da criatividade em um processo de solução... ultrapassadas não funcionam em uma geração
formada por pessoas...mandioca e montada... que aprende na troca...Performance é aquela
mão...arroz...tijolo...materiais empregados... fagulha que se acende quando tranço as
ocupação...sobrepostos...poesia...amarrados...o pernas...possibilitar olhares mais sensíveis
poesia...vinagrete...inteiramente ligada à vida... para artes mais contemporâneas...Desenvolvo
encaixados...diálogos...para se tornar algo uma metodologia de trabalho onde interessa
para abrigar o que já nos é inútil...morada e o descumprimento de ordens, significados e
prática...Instalação composta por três garrafas valores...quais são as ideias centrais...Vou colar
de cachaça, dois copos, cigarros e um sonho, aqui para depois destrinchar... a arquitetura das
chapisco...encontro...E, de novo, recomeçamos casas dos bairros...tem a ver com o que algumas
nossa busca...uma grande encruzilhada... pessoas chamam de gesto...o design das
TRANSEunte...vários lugares...Ao interpretar o placas dos estabelecimentos...tem algo de não
mundo...vivências...coloca em xeque tudo o que escolha nisso...propagandas...fui escrevendo
era tido como norma... caminhos que trouxeram aos poucos...formas visuais urbanas...migro
cada um para esse momento...Aproximando-os todos os dias, eixo de travessia que me
da contemporaneidade para refletir...palavras... atravessa e deixa marcas...histórias orais...Iniciei
ditas sem gosto e nenhum cheiro...modos de as minhas experimentações artísticas no meio
viver...através de objetos que toquem nossos do ano de 1995...criadas no cotidiano...a passos
sentidos...transformam...analisam...esbarram... largos para um futuro...formas necessárias...
ideologicamente firmados...comprimentam...era Um dos principais interesses é o de registrar
apenas uma questão de raciocínio...caminham... a multiplicidade de soluções que são criadas
feijão Tropeiro...a vida inteiramente ligada à para se conseguir realizar os problemas...abrir
poesia...Nerópolis já pareceu-me um lugar muito discussões...O exercício de construção da série
distante, de lá vêm coisas que não vejo aqui...o tem como base a catalogação e registro do
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EXPOSIÇÃO EXPOSIÇÃO
Trampolim
Trampolim