100% acharam este documento útil (2 votos)
1K visualizações15 páginas

TEII Educacao Tradicional em Mocambique

Educação tradicional em Moçambique
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
100% acharam este documento útil (2 votos)
1K visualizações15 páginas

TEII Educacao Tradicional em Mocambique

Educação tradicional em Moçambique
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato DOC, PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 15

1

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Faculdade de educação

Educação tradicional em Moçambique

Licenciatura em Ciências da Educação

I GRUPO

Ruth Marcia Chuva da Costa

Valdimiro Orlando

Chimoio

Agosto,2024

I Grupo

Ruth Marcia Chuva da Costa


2

Valdimiro Orlando

Educação tradicional em Moçambique

Trabalho de pesquisa da cadeira de Teoria da


educação II, a ser apresentado no Departamento de
Pedagogia e Psicologia, no curso de licenciatura em
Ciência de Educação, sob a orientação do docente:
Edson Evaristo Magande

Chimoio

Agosto, 2024

Índice
CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO......................................................................................................4
3

1.1. Objectivos.................................................................................................................................5

1.1.1. Objectivo Geral......................................................................................................................5

1.1.2. Objectivos Gerais...................................................................................................................5

1.2. Metodologia..............................................................................................................................5

CAPÍTULO II- REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................6

2.1. Educação tradicional em Moçambique....................................................................................6

2.1.1. Aspectos Fundamentais da Educação Tradicional em Moçambique....................................7

2.1.2. Característica da educação tradicional em Moçambique.......................................................8

2.1.3. O Papel da educação tradicional............................................................................................8

2.1.4. Objectivo da educação tradicional.........................................................................................8

2.2. Ritos de iniciação......................................................................................................................9

2.2.1. Impacto dos Ritos de Iniciação no Sistema Educacional em Moçambique..........................9

2.3. Vantagens e desvantagens da educacao tradicional em Mocambique....................................10

2.3.1. Vantagens da educação tradicional em Moçambique..........................................................10

2.3.2. Desvantagens da educação tradicional em Moçambique....................................................11

2.4.Educação tradicional em Moçambique Hoje: necessária ou desnecessária.............................11

2.4.1. Necessidade da educação tradicional...................................................................................11

2.4.2. Desnecessidade da educação tradicional.............................................................................12

CAPÍTULO III-CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................14

3.0. Conclusão...............................................................................................................................14

3.1. Referências Bibliográficas......................................................................................................15

CAPÍTULO I- INTRODUÇÃO
4

A educação tradicional em Moçambique constitui um alicerce fundamental na formação


de indivíduos e na transmissão de saberes que sustentam a vida comunitária, cultural e espiritual
do país. Este sistema educativo, que remonta a épocas pré-coloniais, é caracterizado pela
oralidade, pela aprendizagem prática e pela profunda ligação com o ambiente e as tradições
locais. Durante séculos, a educação tradicional foi o principal meio de socialização e preparação
para a vida adulta, transmitindo não apenas conhecimentos práticos, como técnicas de agricultura
e medicina tradicional, mas também valores morais, normas de conduta e a cosmologia própria
de cada comunidade.

Com a chegada do colonialismo, e posteriormente com a independência, a introdução e


expansão da educação formal ocidental em Moçambique criou uma dicotomia entre os sistemas
de ensino, levantando questões sobre a relevância e a continuidade da educação tradicional. No
contexto atual, onde o país busca equilibrar o desenvolvimento econômico, a globalização e a
preservação cultural, a educação tradicional enfrenta desafios significativos. Esses desafios
incluem a necessidade de adaptar-se às novas realidades e a convivência com a educação formal,
que muitas vezes privilegia conhecimentos ocidentais e tecnologias modernas.

O presente trabalho com o tema educação tradicional em Mocambique, tem como


objectivo compreender a educação tradicional em Mocambique e está estruturado em capítulos,
onde no primeiro capítulo é referente a introdução, objectivos e metodologias. No segundo
capítulo faz parte do desenvolvimento do trabalho e por fim, no terceiro capítulo é referente a
conclusão e referências bibliográficas.

1.1. Objectivos
5

1.1.1. Objectivo Geral


 Compreender a educação tradicional em Moçambique.

1.1.2. Objectivos Gerais


 Conceituar a educação tradicional em Mocambique

 Descrever a educação tradicional em Mocambique;

 Caracterizar o funcionamento da educação tradicional .

1.2. Metodologia
Para a materialização do trabalho, apropriou-se da pesquisa bibliográfica, que na
expectativa de Gil (2008:34), este tipo de pesquisa é desenvolvido a partir de material já
elaborado por outros pesquisadores, tais como:
Livros – obras literárias ou obras de divulgação, dicionários, enciclopédias;
Publicações periódicas – artigos científicos de revistas ou jornais científicos, disponíveis
em bibliotecas ou internet.
6

CAPÍTULO II- REVISÃO DA LITERATURA


2.1. Educação tradicional em Moçambique
Segundo Rachide, (2015), em Moçambique muito antes da chegada dos portugueses as
comunidades nativas tinham o seu sistema de educação dos seus filhos, designada de educação
tradicional. Todos os membros das comunidades tradicionais eram responsáveis pela boa
conduta das novas gerações, devendo por isso reprimir qualquer comportamento incorreto de
qualquer criança, independentemente de ser parente ou não.

O sistema educacional em Moçambique na era Pré-colonial era cooperativo e não


individual, o conceito de qualidade e responsabilidade condizia com qualquer habilidade, seja ela
agro-pecuária ou ligada a actividade económica. No período pré-colonial, a educação tinha por
objectivo formar o Homem de modo a aderir e valorizar a cultura moçambicana. Não existiam
escolas, mesmo assim as crianças eram educadas, elas aprendiam fazendo e vindo em contacto
com os mais velhos. “Ouvindo as histórias dos mais velhos, aprendiam histórias tribais e o
relacionamento de suas tribos com outras” (Idem, 2015)

A educação tradicional é uma educação sem sistematização científica, ensinada através


de ritos ou cerimônias de iniciação. Esta educação está a cargo dos anciões (e anciãs) para a sua
organização e ministração e através dela os jovens são ensinados a organizar as suas vidas na
aldeia ou na sociedade, sendo que meninos e meninas recebem esta educação separadamente,
respeitada a diferença de gênero. (Quimuenhe, 2018)

É aquela que ocorre nos meios sociais ou comunidades de modo informal, caracterizada
pela ausência pré -determinada dos objetivos, conteúdos e das formas de organização específicas,
pelo que não reúne o padrão de educação formal (Idem)

Existem vários tipos de educação tradicional de acordo com as comunidades, variando


segundo o género (masculina e feminina), momento (ritos de passagem ou iniciação por exemplo
a circuncisão),desempenhando as funções: informativa, instrutiva e formativa.

Segundo Quimuenhe 2018), a educação tradicional tem carácter pragmático, pois destina-se
essencialmente, a ensinar a saber fazer coisas concretas como:

 Praticar as actividades sócio económicas, como cultivar, praticar a caça, construir as suas
casas, montar armadilhas para os animais, aves, peixe;
7

 Actividades culturais como: a dança, a arte, os ritos de passagem e de iniciação a vida


adulta; assistência e o comportamento perante a mulher, durante a gravidez, o nascimento
de bebés, a realização de cerimónias fúnebres e outras importantes naquelas comunidades
como o coroamento do régulo ou assistência às cerimónias religiosas (Quimuenhe, 2018).

 Técnicas de auto-defesa perante o perigo de pessoas ou animais ferozes e tratamento de


casos de mordedura de cobras venenosas;

 Noção de medicina tradicional para o tratamento de doenças mais comuns nas sociedades
em causa (Idem).

Educação tradicional é aquela em que qualquer pessoa obtém fora das escolas, com
professores particulares e, aulas individuais, ou mesmo pela experiencia da vida e auto-didáctica.
A educação informal decorre de processos espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de
valores e representações, como é o caso da educação familiar, a educação informal ocorre nos
espaços de possibilidades educativas no decurso da vida dos indivíduos, como a família e no seu
meio envolvente (Afonso,1992).

A educação tradicional transmite às crianças saberes, normas de comportamento, regras


que são conhecimentos estabelecidos pela tradição sob duas formas principais: O espontâneo,
quando o individuo conhece o padrão sócio-cultural do seu meio envolvente através da
observação e interacção com todos os membros da sua família/comunidade, e a forma dirigida
que ocorre quando o individuo aprende através de certas pessoas a quem a comunidade confia
esta tarefa, como por exemplo por ocasião das cerimónias dos ritos de iniciação. Assim, um
individuo não se torna membro da comunidade só pelo facto de ter nascido numa determinada
sociedade, mas sim precisa de ser formalmente aceite nela, essa aceitação é feita recorrendo-se a
ritos educativos que normalmente obedecem três etapas: separação, começo da cerimónia e
integração (Afonso, 1992).

2.1.1. Aspectos Fundamentais da Educação Tradicional em Moçambique


 Físico – O Homem era treinado de modo que o seu organismo se ajustasse as condições
do ambiente (Golias, 1993).

 Moral – Visava formar qualidades exigidas pela sociedade como: honestidade,


hospitalidades, integridade, respeito pelos outros e pelos bens da sociedade (Idem);
8

 Intelectual – visava treinar de modo a desenvolver capacidade de assimilação e


reprodução do que constitui valor ou bem para a sociedade (Golias, 1993).

2.1.2. Característica da educação tradicional em Moçambique


Carácter social – a educação reflectia aos objectivos da sociedade (Golias, 1993);

Carácter colectivo – é uma ocupação de todos os indivíduos (Idem);

Carácter informal – não obedecia regras estruturadas e reconhecidas e Carácter;

Funcional – baseava-se no princípio “Aprender fazendo" (Golias, 1993).

2.1.3. O Papel da educação tradicional


Viver em comunidade pressupõe dentre outras condições, uma interacção entre os
homens, partilhando valores, crenças, ou seja uma determinada maneira de conceber o mundo.
Neste contexto, para uma convivência harmoniosa, a comunidade estabelece normas de
comportamento cuja legitimidade é reconhecida pelos membros do grupo.

Segundo Golias (1993), a educação tradicional visa a tripla integração do individuo na


sociedade que são: pessoal, social e cultural. A integração pessoal visa reunir, num todo unitário,
as múltiplas influências sobre o individuo que é integrado na maneira de pensar, de agir, de
andar, de comer, de vestir, de falar e de se comportar entanto que ser humano individual
conforme seu carácter à nascença. Por sua vez, a integração social leva o individuo a participar
activamente nas actividades da comunidade onde ele se insere, na vida do grupo a que pertence.

Finalmente, a integração cultural faz da personalidade um modelo, um padrão na maneira


de pensar e de ser, própria dos membros do grupo. Por meio da educação tradicional responde-se
a tripla finalidade já referida. A educação tradicional preocupa-se em transmitir a criança
elementos que ajudam a formar a sua personalidade segundo o grupo onde ele esta inserido,
(Golias, 1993).

2.1.4. Objectivo da educação tradicional


De acordo com Rachid (2015) a educação tradicional tem como objectivo fazer os jovens
se tornarem membros da sociedade com status activo, reconhecidos como adultos e responsáveis.
Para as meninas, esta educação tem como objetivo ensinar-lhes a respeitar e obedecer os mais
velhos e o marido, por outro lado, para os meninos não é só necessário ensinar-lhes a respeitar e
9

obedecer, mas também a ser responsáveis como homens e aprender como ser pai ou chefe de
família e aplicar a lei à esposa. Vale ressaltar que, no momento atual, esta educação é de grande
importância na vida de algumas pessoas, principalmente as que vivem nas zonas rurais e que não
têm a oportunidade de ter outra educação, mas também esta educação tem grande valor nas zonas
urbanas e na vida das pessoas alfabetizadas.

2.2. Ritos de iniciação


Segundo Rachid (2015) “são rituais que celebram a passagem de um individuo para a
maturidade jurídica, para a fraternidade ou sociedade reservada”. Os ritos de iniciação partem
dos “sistemas de educação tradicional”, com o objectivo de transmitir normas e valores de uma
sociedade, preparando a criança para a vida adulta.

Rachid (2005), os ritos de iniciação é uma fase que acompanha a passagem de um


indivíduo de um estado social para o outro no decorrer da sua vida e, estes ritos fazem parte da
cultura do povo moçambicano e, é o principal veículo de transmissão de valores morais, cívicos
e culturais para cada nova geração. O comportamento de um indivíduo pertencente a região da
origem dos pais interessa a todos os membros da sua família e da comunidade, fazendo com que
o abandono do sistema educativo seja frequente. Nesta óptica, os ritos de iniciação são um outro
factor cultural de conflito ente a escola e as tradições culturais, dada a diferença entre cultura
tradicional e a veiculada pela escola.

2.2.1. Impacto dos Ritos de Iniciação no Sistema Educacional em Moçambique


A educação tradicional é uma educação não formal. Ela é dada a criança não lhe
permitindo individualizar-se do grupo, visava a formação da personalidade no sentido de
dependência no grupo através do desenvolvimento da sua consciência. Entre os 7 e os 10 anos
inicia-se a separação de sexos, o rapaz vive ao lado do pai, enquanto a rapariga ao lado da mãe. É
neste período que a criança começa progressivamente a participar nas actividades produtivas da
família. A medida que a criança, a separação conforme sexos torna-se cada vez mais nítida, o
rapaz começa a ser integrado na intimidade dos homens, enquanto a rapariga, se mergulha no
misterioso mundo das mulheres (Dayrell, 2007).

Os ritos de iniciação têm lugar por volta dos 10/15 anos e são marcados por acções
educativas mais conscientes. É nessa altura que a educação dos jovens é confiada a alguns
10

membros designados pela comunidade, compreendendo os fundamentos da vida social, os


valores culturais, costumes e tradições, (Dayrell,2007).

Numa estreita ligação com os adultos, os adolescentes aprendem um ofício, são lhes
comunicado os principais segredos da família e da tribo. Assim, o adolescente forjado na
iniciação é um homem completo, ele tem da sua vida e da sua comunidade uma ideia clara e
corrente, sabre o que ou outros esperam e o que deles pode esperar (Idem).

2.3. Vantagens e desvantagens da educacao tradicional em Mocambique


2.3.1. Vantagens da educação tradicional em Moçambique
Preservação da identidade cultural: a educação tradicional desempenha um papel
crucial na preservação da identidade cultural dos moçambicanos. Ela está intimamente ligada às
práticas culturais, tradições e valores comunitários que são transmitidos oralmente e através de
rituais. Segundo Langa (2014), essa forma de educação assegura que as gerações mais jovens
mantenham uma conexão profunda com as suas raízes culturais, fortalecendo o sentido de
pertença e identidade comunitária.

Ensino de habilidades práticas: A educação tradicional em Moçambique é fortemente


orientada para o ensino de habilidades práticas que são essenciais para a sobrevivência e a vida
quotidiana nas comunidades rurais. Por exemplo, conhecimentos sobre agricultura, caça, pesca e
cura tradicional são passados de pais para filhos. De acordo com Chimbutane (2011), essas
habilidades são fundamentais para a subsistência nas áreas rurais, onde o acesso à educação
formal e ao emprego formal pode ser limitado.

Integração social: A educação tradicional promove uma forte integração social e a


coesão dentro da comunidade. Ela enfatiza o respeito pelos mais velhos, o trabalho comunitário e
a colaboração, elementos que são essenciais para a manutenção da harmonia social nas aldeias.
Como aponta Langa (2014), este sistema educativo cria uma rede de apoio social sólida que
ajuda a comunidade a enfrentar adversidades coletivamente.

Transmissão de valores morais: Um dos principais objetivos da educação tradicional é


a transmissão de valores morais e éticos, tais como o respeito, a honestidade, a solidariedade e a
responsabilidade. Esses valores são considerados essenciais para o bom funcionamento da
11

sociedade e são ensinados desde a infância por meio de histórias, provérbios e exemplos práticos
(Langa, 2014).

2.3.2. Desvantagens da educação tradicional em Moçambique


Limitação ao acesso ao conhecimento global: A educação tradicional, ao estar focada
em práticas e conhecimentos locais, pode limitar o acesso dos indivíduos ao conhecimento global
e às inovações tecnológicas. Isso pode criar uma barreira ao desenvolvimento em um mundo
cada vez mais globalizado. Chimbutane (2011) observa que essa limitação pode perpetuar a
pobreza, especialmente em regiões rurais, onde a modernização é vista como algo distante e
inacessível.

Rigidez e resistência à mudança: A educação tradicional é muitas vezes vista como


rígida e resistente à mudança. Essa característica pode dificultar a adaptação das comunidades às
novas realidades e desafios contemporâneos, como a necessidade de educação formal para
empregos modernos. Langa (2014) menciona que essa resistência pode atrasar o
desenvolvimento social e econômico, pois as comunidades podem não estar preparadas para lidar
com as exigências de um mercado de trabalho cada vez mais complexo e globalizado.

Falta de reconhecimento oficial: Embora a educação tradicional seja altamente


valorizada dentro das comunidades, ela carece de reconhecimento oficial nos sistemas de
educação formal. Isso significa que as habilidades e os conhecimentos adquiridos através deste
sistema não são certificados ou valorizados no mercado de trabalho formal. Como resultado, os
jovens que passam por esse tipo de educação podem ter dificuldades em encontrar emprego fora
de suas comunidades (Chimbutane, 2011).

Desigualdade de gênero: Em algumas comunidades moçambicanas, a educação


tradicional perpetua desigualdades de gênero, uma vez que as práticas educativas podem ser
diferenciadas para meninos e meninas. Em muitos casos, as meninas são preparadas para papéis
domésticos, enquanto os meninos recebem treinamento para atividades consideradas
economicamente produtivas. Segundo Langa (2014), essa divisão pode restringir as
oportunidades das mulheres no futuro e perpetuar a desigualdade de gênero.

2.4.Educação tradicional em Moçambique Hoje: necessária ou desnecessária


2.4.1. Necessidade da educação tradicional
12

Preservação da identidade cultural e histórica: a educação tradicional desempenha um


papel crucial na preservação da identidade cultural e histórica das comunidades moçambicanas.
Em um mundo onde a globalização ameaça diluir culturas locais, a educação tradicional se torna
um baluarte contra a perda de tradições, línguas e práticas culturais que definem as diversas
etnias do país (Chimbutane, 2011). Esta forma de educação promove o fortalecimento das raízes
culturais e a continuidade dos costumes, essenciais para a coesão social e a identidade nacional.

Relevância para a vida cotidiana em comunidades rurais: Em muitas áreas rurais de


Moçambique, a educação tradicional continua a ser a principal fonte de conhecimento prático e
útil para a vida cotidiana. As habilidades transmitidas por meio desta forma de educação, como
técnicas de cultivo, práticas de medicina tradicional e sistemas de governança comunitária, são
essenciais para a sobrevivência e bem-estar das comunidades (Langa, 2014). Portanto, ela
continua a ser uma parte vital da vida de muitas pessoas, particularmente em regiões onde a
educação formal não é facilmente acessível.

Complementaridade com a educação formal: a educação tradicional pode ser vista


como complementar à educação formal. Em vez de ser vista como uma escolha mutuamente
exclusiva, pode haver uma integração benéfica onde ambos os sistemas se reforçam mutuamente.
Como sugere Langa (2014), incorporar elementos da educação tradicional nos currículos
escolares formais pode enriquecer a educação e torná-la mais relevante para as realidades locais,
promovendo assim um desenvolvimento sustentável que respeita as particularidades culturais.

Fortalecimento da coesão social e valores éticos: A educação tradicional em


Moçambique promove a coesão social ao enfatizar valores comunitários e éticos, como respeito
pelos mais velhos, solidariedade e responsabilidade coletiva. Esses valores são essenciais para a
manutenção da harmonia social, especialmente em tempos de mudança e instabilidade (Langa,
2014). A educação tradicional, portanto, continua a ser necessária como uma forma de fortalecer
o tecido social e garantir a continuidade de uma sociedade equilibrada.

2.4.2. Desnecessidade da educação tradicional


Limitações no contexto de um mundo globalizado: Embora a educação tradicional seja
rica em sabedoria local, ela pode ser vista como limitada no contexto de um mundo cada vez
mais globalizado. O conhecimento transmitido por meio deste sistema muitas vezes não inclui
13

competências que são valorizadas na economia global moderna, como a alfabetização digital,
conhecimentos científicos avançados e habilidades linguísticas em línguas internacionais
(Chimbutane, 2011). Isso pode colocar os jovens moçambicanos em desvantagem competitiva no
mercado de trabalho global.

Barreiras ao desenvolvimento tecnológico e científico: A dependência excessiva da


educação tradicional pode criar barreiras ao avanço tecnológico e científico. Num momento em
que Moçambique precisa de inovações para enfrentar desafios como a pobreza, as mudanças
climáticas e o desenvolvimento econômico, a educação tradicional, com seu foco em
conhecimentos locais e práticos, pode ser insuficiente para atender a essas necessidades (Langa,
2014). A insistência nesta forma de educação pode, portanto, limitar o progresso e a
modernização do país.

Desafios de inclusão e igualdade de gênero: Em algumas comunidades, a educação


tradicional perpetua desigualdades, particularmente em relação ao gênero. Práticas que
restringem o acesso das meninas à educação ou que as confinam a papéis domésticos podem
reforçar as disparidades de gênero e impedir a plena participação das mulheres na vida
econômica e social do país (Langa, 2014). Nesse sentido, a educação tradicional pode ser vista
como desnecessária ou mesmo prejudicial, quando ela perpetua práticas que contrariam os
princípios de igualdade e justiça social.

Integração e modernização social: A educação tradicional, em sua forma pura, pode ser
vista como um obstáculo à modernização e integração social. À medida que Moçambique se
urbaniza e a população migra para áreas urbanas em busca de melhores oportunidades, as
práticas tradicionais podem parecer desatualizadas ou irrelevantes para as realidades urbanas
contemporâneas. A adaptação a novos contextos sociais e econômicos pode exigir uma
reformulação ou até mesmo a substituição de práticas educativas tradicionais por sistemas mais
alinhados às necessidades modernas (Langa, 2014).
14

CAPÍTULO III- CONSIDERAÇÕES FINAIS


3.0. Conclusão
A educação tradicional em Moçambique continua a ser uma componente vital da
identidade cultural e social do país, refletindo séculos de conhecimento e práticas que moldaram
as comunidades. No entanto, a sua relevância no contexto atual deve ser ponderada em função
das exigências do mundo moderno e dos desafios do desenvolvimento socioeconômico. A
conciliação entre a preservação das tradições culturais e a necessidade de uma educação formal
que prepare os jovens para competir globalmente é crucial. Uma abordagem integrada, que
valorize tanto a herança cultural quanto as exigências da modernidade, pode ser o caminho mais
promissor para garantir que a educação em Moçambique seja ao mesmo tempo culturalmente
significativa e eficaz na capacitação dos cidadãos para enfrentar os desafios contemporâneos.
Essa integração pode promover um desenvolvimento mais sustentável, onde as tradições são
respeitadas, mas também evoluem para responder às novas realidades.

A educação tradicional em Moçambique oferece inúmeras vantagens, como a


preservação da cultura, a transmissão de habilidades práticas e valores morais, e a promoção da
integração social. No entanto, ela também enfrenta desafios significativos, incluindo a limitação
ao conhecimento global, rigidez, falta de reconhecimento oficial, e perpetuação de desigualdades
de gênero. Para maximizar os benefícios desta forma de educação, seria necessário um equilíbrio
entre a valorização das práticas tradicionais e a incorporação de elementos da educação formal
que possam preparar melhor os indivíduos para os desafios do mundo moderno.

A questão de saber se a educação tradicional em Moçambique hoje é necessária ou


desnecessária não possui uma resposta definitiva e universal. A resposta depende, em grande
parte, do contexto específico em que se encontra a comunidade, dos valores que essa
comunidade deseja preservar e dos objetivos que pretende alcançar com a educação.É possível
que uma abordagem híbrida, que combine o melhor da educação tradicional com os benefícios
da educação formal, possa ser a mais apropriada. Isso permitiria a preservação cultural e a
preparação para os desafios modernos, criando cidadãos que são, ao mesmo tempo,
culturalmente ancorados e globalmente competitivos.
15

3.1. Referências Bibliográficas


I. Afonso, A. (1992). A longa marcha de uma educação para todos em Moçambique.
Maputo: Imprensa Universitária. (s.d.).

II. Chimbutane, F. (2011). Rethinking Bilingual Education in Postcolonial Contexts.


Multilingual Matters.

III. Dayrell, J. .. (2007)). Escola e diversidade cultural: considerações em torno da formação


humana: http://www.educacaoonline.pro.br/escola_e_diversidade.asp?F_id_artigo=149

IV. Golias, M. (1993). Sistema de Ensino em Moçambique. Maputo: Escolar.

V. Gomez, B. M. (1999). Educação Moçambicana - História de um processo (1962-1984).


Maputo: Livraria Universitária: Edições Afrontamento e Fundo Bibliográfico de Lingua
Portuguesa. Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique.

VI. Langa, P. V. (2014). Educação Tradicional e Desenvolvimento Comunitário em


Moçambique. Cadernos de Estudos Africanos.

VII. Quimuenhe, A. (2018). História da educação moçambicana no seculo XX:. (s.d.).

VIII. Rachide, F. (2015). Manual II de fundamentos de pedagogia. Maputo: Moçambique:


UPMAPUTO.

Você também pode gostar