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10.

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

A resistência de qualquer material é a maior tensão que o mesmo pode suportar. Se a


tensão aplicada excede a sua resistência, a ruptura acontece. Por exemplo, na engenharia
estrutural, sabe-se que a tensão de escoamento do aço A36 é 248 MPa, dessa forma, deve-se
garantir que a tensão de tração atuando em toda peça de tal aço seja inferior a este valor.
Vários materiais empregados na construção civil resistem bem a tensões de compressão,
porém têm uma capacidade bastante limitada de suportar tensões de tração e de cisalhamento,
como ocorre com o concreto e também com os solos. Na geotecnia, raramente são feitas análises
relativas a tensões de tração, visto que o solo muito pouco resiste a este tipo de tensão.
Por causa da natureza friccional dos solos, pode-se mostrar que a ruptura deles se dá
preferencialmente por cisalhamento, em planos onde a razão entre a tensão cisalhante e a tensão
normal atinge um valor crítico (planos de ruptura) e ocorrem em inclinações que dependem dos
parâmetros de resistência do solo. Embora a geometria da quase totalidade dos problemas
geotécnicos é de tal forma que o solo se encontra em condição de compressão, a ruptura do
solo se dá por cisalhamento, não por compressão. Por isso, em praticamente todos os casos de
resistência dos solos as análises serem feitas apenas em termos de cisalhamento.
As deformações em um maciço de terra são devidas principalmente aos deslocamentos
relativos que ocorrem nos contatos entre as partículas do solo, de modo que, na maioria dos
casos, as deformações que ocorrem dentro das partículas do solo podem ser desprezadas,
considerando-se que a água e as partículas sólidas são incompressíveis. Pode-se dizer também,
que as tensões cisalhantes são a principal causa do movimento relativo entre as partículas do
solo. Por estas razões, quando se refere à resistência dos solos, implicitamente trata-se de sua
resistência ao cisalhamento.
A resistência do solo forma, juntamente com a permeabilidade e a compressibilidade, o
suporte básico para resolução dos problemas práticos da engenharia geotécnica. Trata-se de
uma propriedade de determinação e conhecimento extremamente complexos, pois às suas
próprias dificuldades devem ser somadas às dificuldades pertinentes ao conhecimento da
permeabilidade e da compressibilidade, visto que estas propriedades interferem decisivamente
na resistência do solo.
A Figura 10.1 apresenta alguns problemas usuais em que é necessário conhecer a
resistência do solo.

Estabilidade de Taludes

Barragens

Fundações

Contenção

Figura 10.1 – Principais problemas envolvendo a resistência ao cisalhamento de solos.


Adensamento dos Solos |67

10.1 Atrito interno e Coesão

O mecanismo físico que controla a resistência no solo é muito diferente dos demais
materiais, pois o solo é um material particulado. A resistência ao cisalhamento do solo depende
da interação entre as partículas, e esta interação pode ser dividida em duas categorias: i)
resistência friccional (de atrito) e ii) resistência coesiva (coesão).

Atrito Interno

A resistência friccional, conferida ao solo pelo atrito interno entre as partículas, pode ser
demonstrada de forma simples fazendo uma analogia com o problema de deslizamento de um
corpo rígido sobre uma superfície plana horizontal, conforme mostrado na Figura 10.2.

N
F

Figura 10.2 – Escorregamento de um corpo rígido sobre um plano horizontal

Sendo N a força vertical transmitida pelo corpo, a força horizontal T necessária para
provocar o deslizamento do corpo deverá ser superior a N.μ, em que μ é o coeficiente de atrito
na interface entre os dois materiais. Dessa maneira, verifica-se que há uma proporcionalidade
entre as forças tangencial e normal, que pode ser representada através da seguinte equação:

𝑇=𝑁𝜇
onde, 𝜇 = 𝑡𝑔𝜃 e 𝜃 = ângulo de atrito, o ângulo formado entre a resultante das duas
forças com a normal N. Nos solos, é denominado ângulo de atrito interno.
Experiências realizadas com corpos sólidos têm demonstrado que o coeficiente de atrito
independe da área de contato e da componente normal aplicada. Portanto, a resistência ao
deslizamento é diretamente proporcional à tensão normal, podendo ser representada por uma
linha reta, conforme mostrado na Figura 10.3.

𝜇
1
N

Figura 10.3 – Curva T x N


Adensamento dos Solos |68

A diferença existente entre o fenômeno do atrito nos solos e o fenômeno do atrito entre
dois corpos sólidos é que, no caso dos solos, o deslocamento envolve um grande número de
grãos (sistema particulado), que deslizam ou rolam uns sobre os outros, acomodando-se nos
vazios que encontram no percurso. A resistência friccional é a parcela de resistência
predominante nos solos ditos “não plásticos” ou granulares, nos quais a drenagem é sempre
favorecida. Os parâmetros de resistência, neste caso, são sempre referidos como drenados ou
efetivos.
Durante o cisalhamento de solos não coesivos, dependendo do seu estado de
compacidade, ele pode se dilatar (aumentar de volume) ou se contrair (diminuir de volume). No
caso dos solos compactos ou muito compactos, ocorre a dilatação, enquanto o contrário
acontece com os solos fofos.

Coesão

A resistência ao cisalhamento dos solos é, por natureza, conferida pelo atrito entre as
partículas sólidas. Todavia, dependendo da mineralogia do solo, a atração química que pode
haver entre essas partículas é capaz de ocasionar uma resistência que independe da tensão
normal atuante no plano de cisalhamento, o que constitui uma coesão verdadeira (ver Figura
10.4). O efeito é análogo à existência de uma cola entre duas superfícies em contato.

Argilo-mineral

moléculas de água

Figura 10.4 – Transmissão de forças entre partículas de solos coesivos

Várias fontes podem dar origem à coesão em um solo. A cimentação entre partículas
proporcionada por carbonatos, sílica, óxidos de ferro, dentre outras substâncias, responde
muitas vezes por altos valores de coesão.
Cabe ressaltar que os agentes cimentantes podem advir do próprio solo, após processos
de intemperização, tal como a silificação de arenitos, em que a sílica é dissolvida pela água que
percola, sendo depositada como cimento.
Excetuando-se o efeito da cimentação, pode-se afirmar serem todas as outras formas de
coesão o resultado de um fenômeno de atrito causado por forças normais, atuantes nos contatos
interpartículas.
Essas tensões inter-partículas, também denominadas de “internas” ou “intrínsecas”, são o
resultado da ação de muitas variáveis no sistema solo-água-ar-eletrólitos, destacando-se as forças
de atração e de repulsão, originadas por fenômenos eletrostáticos e eletromagnéticos e as
propriedades da água adsorvida junto às partículas.

10.2 Critério de Ruptura de MOHR-COULOMB

Antes de ocorrer uma ruptura, o material encontra-se em repouso, portanto no estado


plano de tensão (tração ou compressão em duas direções perpendiculares).
Adensamento dos Solos |69

Considerando que 𝜎1 é a maior tensão normal atuante no elemento do solo destacado na


Figura 10.5 e 𝜎3 é a menor, tem-se que 𝜎𝑣 = 𝜎1 e 𝜎ℎ = 𝜎3 . Nesse caso, valem os seguintes
princípios da mecânica dos sólidos:
• 𝜎1 é a tensão principal maior;
• 𝜎3 é a tensão principal menor;
• O plano onde atual 𝜎1 denomina-se Plano Principal Maior (PPM);
• O plano onde atual 𝜎3 denomina-se Plano Principal Menor (ppm);
• Os planos principais são ortogonais entre si;
• Nos planos principais não atuam tensões tangenciais (𝜏 = 0).

𝜎𝑣 = 𝜎1 𝜎1

𝜎ℎ = 𝜎3
P 𝜎3

Figura 10.5 – Estado plano de tensões

Em quaisquer outros planos, inclinado de um ângulo α, passando pelo ponto P, atuarão


tensões normais e cisalhantes. Os valores dessas tensões podem ser obtidos graficamente pelo
círculo de MOHR ou através das equações 10.1 e 10.2.

𝜎1 + 𝜎3
𝐶 = (𝑥0 , 0) = ( , 0)
C 2

r 𝜎1 + 𝜎3
𝑟 =
2

Figura 10.6 – Círculo de MOHR

𝜎1 + 𝜎3 𝜎1 − 𝜎3 𝜎1 − 𝜎3
𝜎 = + cos 2𝛼 Eq. (10.1) 𝜏 = 𝑠𝑒𝑛 2𝛼 Eq. (10.2)
2 2 2

Se os círculos de MOHR podem ser empregados para representar qualquer estado de


tensões, é possível representar também o estado de ruptura. Em Mecânica dos Solos são
utilizados, na maioria dos casos, os critérios de ruptura de Otto Mohr e C. A. Coulomb. O critério
de MOHR considera que a tensão de cisalhamento correspondente à ruptura do material
Adensamento dos Solos |70

depende unicamente da tensão normal sobre o plano ruptura - 𝜏𝑟 = 𝑓(𝜎). Esta equação é
representada pela curva intrínseca de ruptura obtida traçando-se a envoltória dos círculos de
MOHR correspondentes a pares de tensões principais 𝜎1 e 𝜎3 causadoras da ruptura do material
(Figura 10.7).

Região das
𝜏𝑟 = 𝑐 + 𝜎 𝑡𝑔𝜃
tensões de ruptura

Figura 10.7 – Critérios de ruptura de ruptura MOHR-COULOMB

O critério de MOHR-COULOMB é um caso particular do critério de MOHR, admitindo-se


uma variação linear entre 𝜎 e 𝜏 (hipótese perfeitamente válida na gama de tensões tratadas na
engenharia).
De modo aproximado, para os solos grossos, tais como areias, devem a sua resistência ao
corte quase inteiramente ao atrito existente entre as partículas (Figura 10.8a). Já para os solos
argilosos, sob certas condições, comportam-se possuindo apenas coesão (Figura 10.8b). Para os
demais solos, a resistência ao cisalhamento provém de ambas as parcelas (Figura 10.8c).

𝜃 𝜃
𝜃=0

(a) (b) (c)


Figura 10.8 – Envoltórias de rupturas

Exemplo 10.1 - Sejam 1,0 e 3,0 kgf/cm² as tensões normais atuantes em um elemento de
solo como mostrado na figura abaixo:

3,0

1,0
Adensamento dos Solos |71

a) Determinar as tensões que atuam num plano que forma um ângulo de 30º com o plano
principal maior
b) Determinar a máxima tensão de cisalhamento que atua neste elemento

10.3 Tipos de Ensaio de Cisalhamento

A resistência ao cisalhamento de um solo é, usualmente, determinada no laboratório por


um dos seguintes ensaios: cisalhamento direto ou compressão triaxial. As amostras utilizadas
para esse fim ou são indeformadas ou então, se deformadas, deverão reproduzir as condições
que se pretende alcançar na obra.

Ensaio de cisalhamento direto

Consiste em determinar, sob uma tensão normal 𝜎, qual a tensão de cisalhamento 𝜏 = 𝜏𝑟


capaz de provocar a ruptura de uma amostra de solo colocada dentro de uma caixa composta
de duas partes deslocáveis entre si (Fig. 10.9).

Figura 10.9 – Equipamento usado para o ensaio de cisalhamento direto

Duas pedras porosas, uma superior e outra inferior, permitirão a drenagem da amostra,
quando esta for a técnica de ensaio usada. O ensaio pode ser executado sob “tensão controlada”
ou sob “deformação controlada”.
Repetindo-se o ensaio para outras amostras, obtém-se um conjunto de pares de valores
(𝜎, 𝜏), que, marcados em um sistema cartesiano 𝜎 𝑥 𝜏, Figura 10.10, permitem determinar 𝜃 e c.
𝜏

𝜃
c
𝜎
Figura 10.10
Adensamento dos Solos |72

Exemplo 10.2 - Os resultados abaixo foram obtidos em ensaios de cisalhamento direto


em amostras de areia compactada. Determine os parâmetros de resistência e comente se haveria
ruptura em um plano em que atuam σ = 122kPa e τ = 246kPa.

Ensaio τr (kPa) σr (kPa)


1 36 50
2 80 100
3 157 200
4 235 300

Ensaio de compressão triaxial

Este ensaio é teoricamente mais perfeito que o de cisalhamento direto, e, atualmente, o


mais usado. São realizados em aparelhos, como esquematizados na Figura 10.11, constituídos
por uma câmara cilíndrica, de parede transparente, no interior da qual se coloca a amostra,
envolvida por uma membrana de borracha muito delgada. A base superior do cilindro é
atravessada por um pistão, que, por intermédio de uma placa rígida, aplica uma tensão à
amostra. A câmara cilíndrica é cheia com um líquido, geralmente água, que se pode submeter a
uma tensão 𝜎3 , que, evidentemente, atua também sobre a base da amostra.

Figura 10.11 – Representação do equipamento usado no ensaio triaxial

A tensão causada pela carga axial, diferença entre as tensões principais 𝜎1 e 𝜎3 , é


comumente chamada de tensão desvio (𝜎1 − 𝜎3 ).
Adensamento dos Solos |73

Determinando-se pares de tensões (𝜎1 , 𝜎3 ) correspondentes à ruptura das diversas


amostras ensaiadas, traçam-se os respectivos círculos de Mohr. Em seguida, assimilando-se a
envoltória desses círculos à reta de Coulomb, obtêm-se os valores de ϕ e c (Fig. 10.12).

c
𝜎

Figura 10.12

Exercícios Propostos

1. Sabendo que uma areia apresenta a equação de resistência τ = 𝜎′𝑡𝑔40°, determine o


resultado do ensaio de cisalhamento direto com 𝜎 = 20 𝑘𝑃𝑎.

2. Calcule a resistência ao cisalhamento para um solo submetido a uma tensão confinante total
de 400 kPa, cuja equação da envoltória de MOHR-COULOMB foi informada pelo laboratório
como sendo 𝜏𝑟 = 16 + 0,384 𝜎 kPa.

3. A partir das Figuras A e B, responda:

a) Desenhe o círculo de Mohr do elemento da Figura A.


b) Determinar os valores das tensões principais e as direções das tensões principais.
c) No elemento da Figura A, são mantidos os valores de 𝜎𝑉 e 𝜎𝐻, mas 𝜏 é aumentado em
todas as direções de igual valor até que ocorra a ruptura do elemento, como indicado na
Figura B. Sabendo-se que se trata de uma areia com ângulo de atrito de 30°, determinar
para qual valor de 𝜏 ocorre a ruptura.
Adensamento dos Solos |74

4. Dado o elemento de solo abaixo:

a) Determinar os valores de 𝜎1 e 𝜎3 e suas respectivas direções.


b) Sabendo-se que se trata de uma areia com 𝜑′=30, verificar a situação do elemento com
relação à ruptura.
c) Qual o valor de 𝜎𝑚𝑎𝑥 que se obtém em um ensaio de cisalhamento direto com 𝜏 = 400
𝑘𝑁/𝑚².

5. Para o elemento abaixo foi construído o círculo de Mohr, estando também indicada a posição
do polo.

a) Quais são os valores das tensões 𝜎𝑉, 𝜎𝐻 e 𝜏 indicadas no elemento? As setas estão
indicadas nos sentidos corretos?
b) Sabendo-se que o solo é uma areia e que para o estado de tensões indicado pelo círculo
de Mohr, ocorreu a ruptura, pede:
b.1) Qual o ângulo de atrito dessa areia.
b.2) Indique no elemento em que plano está ocorrendo a ruptura.
Adensamento dos Solos |75

6. Para o elemento de solo ao lado pede-se:

a) Desenhar o círculo de Mohr.


b) Determinar as tensões no plano vertical (𝜏 e σ)
c) Indicar as direções dos planos nos quais atua a
máxima tensão de cisalhamento.
d) Escolha um dos planos do item c e indique no
gráfico o ângulo que ele forma com o plano
principal maior? Qual é o valor desse ângulo?

7. Para o elemento de solo ao lado pede-se:

a) Determinar as tensões principais e suas


respectivas direções.
b) Sabendo-se que se trata de um solo com
coesão nula e ângulo de atrito efetivo de
35°, e que para o estado de tensões
indicado no elemento ocorreu a ruptura,
pede-se qual o valor da pressão neutra
que deve estar atuando no elemento.
Indicar as direções dos planos nos quais
atua a máxima tensão de cisalhamento.
c) Indique no desenho as possíveis
direções do plano de ruptura.

8. Em certo solo, ocorreu a ruptura quando o estado de tensões era o indicado na figura
(elemento inclinado 45º em relação a horizontal). Pede-se:

a) Desenhar o círculo de Mohr.


b) Quais as tensões 𝜎 e 𝜏 no plano
vertical.
c) Sabendo-se que o solo não
apresenta coesão (c = 0),
pergunta-se:
c.1) Qual o valor do ângulo de
atrito do solo?
c.2) Indique no desenho quais as
direções possíveis do plano de
ruptura.

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