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Embargos de Declaração: Município de Cascavel vs. Marinei Biz

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

6ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0024126-93.2024.8.16.0021

Embargos de Declaração Cível n° 0024126-93.2024.8.16.0021 ED


2º Juizado Especial da Fazenda Pública de Cascavel
Embargante(s): MARINEI BIZ
Embargado(s): Município de Cascavel/PR
Relator: Vanessa Villela De Biassio

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OPOSIÇÃO EM FACE DE


ACORDÃO QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO
DO MUNICÍPIO DE CASCAVEL. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO.
IMPLEMENTAÇÃO EXTEMPORÂNEA QUE OBEDECEU A
DISPOSIÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR Nº 173/2020.
ARGUMENTAÇÃO DO EMBARGANTE QUE, EM VERDADE,
PRETENDE REDISCUSSÃO DO JULGADO. AUSÊNCIA DE
VÍCIOS A ENSEJAR O ACOLHIMENTO DOS ACLARATÓRIOS
NO PONTO. ADEMAIS, RECURSO QUE NÃO SE PRESTA
PARA DISCUTIR OS POSICIONAMENTOS DE DIFERENTES
TURMAS RECURSAIS. POSICIONAMENTO NÃO
VINCULANTE. ACÓRDÃO MANTIDO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO CONHECIDOS E NÃO ACOLHIDOS.

RELATÓRIO

Relatório dispensado nos termos do Enunciado 92 do FONAJE.

VOTO

Trata-se de embargos de declaração opostos contra acordão proferido nos autos de Recurso Inominado nº
0026353-90.2023.8.16.0021 RecIno (ref. evento 15.1) em que a parte autora alega omissão (ref. evento
1.1 – ED).

Em sede recursal, o Município de Cascavel pretendeu a reforma da sentença que o condenou ao


pagamento das diferenças remuneratórias referentes para que sejam julgados improcedentes os pedidos
da origem, pois as medidas tomadas pelo gestor municipal em relação a Pandemia do Covid-19
impactaram de forma superveniente as contas públicas, de modo que, ao presente caso, incide a LC nº 173
/2020 e em relação aos demais períodos, a fixação ou alteração da remuneração de servidores públicos
somente é possível através de lei específica, não pode o Poder Judiciário usurpar de suas atribuições, a
fim de aumentar os vencimentos dos servidores públicos com fundamento na isonomia.
A autora, recorrida e, aqui, embargante, aduz que há omissão perante acordão de minha relatoria com
relação à aplicação da data-base correta, ou seja, 1º de maio de cada ano, sendo ilegal a conduta realizada
pela parte embargada de conceder a revisão em data-base extemporânea e de forma parcelada, além da
pertinente necessidade de reparação do dano por meio dos pagamentos exigidos. Passo ao julgamento.

Inicialmente, a disciplina normativa acerca dos embargos de declaração encontra-se inserida nos arts.
1.022 e seguintes do Código de Processo Civil e, quanto ao seu cabimento, aproveita-se para destacar a
lição de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero na obra Curso de Processo
Civil (2017):

“Quanto aos embargos de declaração, são eles cabíveis quando existir na


sentença (ou no acórdão do colegiado) obscuridade, contradição, omissão ou
erro material (art. 1.022 do CPC, aplicável ao rito dos juizados, por força do
art. 48 da Lei 9.099/1995, com a redação que lhe deu o art. 1.064 do CPC).
Os embargos declaratórios são cabíveis no prazo de cinco dias, da ciência da
decisão, por petição escrita ou oralmente. Sua interposição interrompe o
prazo para oferecimento de outros recursos, à semelhança do que ocorre com
os embargos de declaração tradicionais, do CPC (arts. 50 da Lei 9.099/1995,
na redação que lhe deu o art. 1.065 do CPC). Quanto a seu julgamento,
aplicam-se lhes as regras próprias dos embargos declaratórios, existentes no
Código de Processo Civil”.

Pois bem.

No que tange a alegada omissão quanto à jurisprudência pacificada deste Tribunal de Justiça, acerca da
alegação de divergência entre julgados da 4ª Turma Recursal e desta 6ª Turma Recursal, esta também não
comporta acolhimento, vez que, consoante o entendimento doutrinário acima exposto, bem como as
diretrizes de cabimento dos Embargos de Declaração, o recurso manejado não cabe na discussão
intentada e, portanto, deve a parte se valer de instrumento processual próprio para a apreciação do aqui
arguido.

Nesse mesmo sentido, inclusive:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO
MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. DOIS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA EMBARGANTE. IMPOSSIBILIDADE
DE CONHECIMENTO DO SEGUNDO RECURSO EM FACE DO
PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE. PRECLUSÃO
CONSUMATIVA. JULGAMENTO APENAS DOS PRIMEIROS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 1.022 DO NCPC. OMISSÃO,
OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL.
INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE REJULGAMENTO DA CAUSA.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROTELATÓRIO. IMPOSIÇÃO DE
MULTA. ART. 1.026, § 2º, DO NCPC. EMBARGOS REJEITADOS, COM
IMPOSIÇÃO DE MULTA. [...]. 3. Inexistentes as hipóteses do art. 1.022 do
NCPC, não merecem acolhimento os embargos de declaração que têm
nítido caráter infringente. 4. Os aclaratórios não se prestam à
manifestação de inconformismo ou à rediscussão do julgado que negou
provimento ao agravo interno. 5. Em razão de os embargos se mostrarem
manifestamente protelatórios na medida em que não houve a demonstração do
adequado enfrentamento do fundamento da decisão agravada no que tange à
aplicação da Súmula nº 5 do STJ, deve ser cominada a multa prevista em seu
art. 1.026, § 2º, no percentual de 2% sobre o valor atualizado da causa. 6.
Embargos de declaração rejeitados, com imposição de multa. (STJ - EDcl no
AgInt no AREsp: 1763058 PR 2020/0245191-9, Relator: Ministro MOURA
RIBEIRO, Data de Julgamento: 16/11/2021, T3 - TERCEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJe 19/11/2021) (grifo nosso)

Tão somente para o fim de embasar o decidido no aresto colegiado atacado, a 4ª Turma Recursal tem
adotado o mesmo posicionamento. In verbis:

RECURSO INOMINADO. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. DIREITO


ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA E CONDENATÓRIA.
SERVIDOR PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE CASCAVEL. REAJUSTE
ANUAL TENDO COMO DATA-BASE 1º DE MAIO DE CADA ANO.
LEI MUNICIPAL N° 2215/1991. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
INSURGÊNCIA RECURSAL DOS AUTORES. LEIS MUNICIPAIS
POSTERIORES Nº 6718/2017, 6853/2018, 7006/2019 E 7.322/2021
PROMULGADAS APÓS A DATA-BASE FIXADA. ADOÇÃO DE DATAS
DIVERSAS PARA A REVISÃO GERAL DA REMUNERAÇÃO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS NOS ANOS DE 2020 E 2021. IMPLANTAÇÃO
EXTEMPORÂNEA DA REVISÃO GERAL ANUAL QUE SEGUE
DETERMINAÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR Nº 173/2020.
POSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO EXARADO NA RECLAMAÇÃO
CÍVEL DO TJPR Nº 0026530-20.2023.8.16.0000. ENTENDIMENTO
PESSOAL DESTE RELATOR SUPERADO PELO POSICIONAMENTO DO
E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ. COERÊNCIA
ARGUMENTATIVA. O DIREITO DEVE SER ESTÁVEL E PREVISÍVEL,
DE SORTE QUE EVENTUAIS DISSONÂNCIAS INTERPRETATIVAS
PESSOAIS DEVEM CEDER PASSO AOS POSICIONAMENTOS
CONSOLIDADOS NO SISTEMA DE PRECEDENTES[1]. INTELIGÊNCIA
DO ARTIGO 926, CAPUT, DO CPC. GARANTIA DA SEGURANÇA
JURÍDICA. REAJUSTES REFERENTES ÀS DATAS-BASE DE MAIO DE
2020 E MAIO DE 2021 QUE DEVEM SEGUIR AS DISPOSIÇÕES DAS
LEIS MUNICIPAIS Nº 7.322/2021 E Nº 7.377/2022. PAGAMENTO
RETROATIVO INDEVIDO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. Inicialmente, este Relator possuía interpretação diversa quanto à


possibilidade de implantação extemporânea da revisão geral anual de
remuneração dos servidores públicos municipais de Cascavel, entendimento
este que, até então, era consolidado nesta Colenda Quarta Turma Recursal.
Todavia, em respeito ao sistema de precedentes e à inteligência do artigo 926,
caput, do Código de Processo Civil, entendo necessário alinhar minha posição
pessoal ao manifestado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
conforme exarado na Reclamação Cível nº 0026530-20.2023.8.16.0000. Esse
ajuste assegura que eventuais dissonâncias interpretativas pessoais não
comprometam a harmonia e a coerência do sistema jurídico, garantindo maior
segurança jurídica aos jurisdicionados..

2. Assim, com base na Lei Complementar nº 173/2020, foram


promulgadas as Leis Municipais nº 7.322/2021 e nº 7.377/2022 para
implementar reajustes extemporâneos relativos às datas-base de 2020 e
2021.

3. A Lei nº 7.322/2021 concedeu revisão geral anual de 2,46%, baseada no


INPC de maio/2019 a abril/2020, a partir de janeiro/2022. A Lei nº 7.377
/2022 estabeleceu reajuste de 7,59% para o período de maio/2020 a abril
/2021.

4. Contudo, consoante decidido na Reclamação, observa-se que o


Município de Cascavel cumpriu as disposições da Lei Complementar nº
173/2020, que proibiu a concessão de qualquer vantagem, aumento,
reajuste ou adequação de remuneração até 31 de dezembro de 2021.

5. Desse modo, considerando que os reajustes salariais das leis municipais


abrangem períodos regidos pela Lei Complementar nº 173/2020, seus efeitos
financeiros são válidos somente após 31 de dezembro de 2021.6. Recurso
conhecido e não provido. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0027562-
65.2021.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS TIAGO GAGLIANO PINTO
ALBERTO - J. 27.07.2024) (grifo nosso)

Ainda, em relação a suposta ilegalidade da conduta realizada pela parte embargada de conceder a revisão
em data-base extemporânea e de forma parcelada, o direito à revisão geral anual dos vencimentos,
insculpido no art. 37, X, da Constituição Federal, é norma que possui eficácia limitada, dependendo de
edição de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo, in casu, do Prefeito Municipal - em atenção ao
princípio da simetria, observado o disposto no art. 61, § 1º do mesmo dispositivo.
Apenas a título de debate, quanto ao tema, é sabido que o art. 169, § 1º, da CF, é claro quanto a não
aplicação imediata dos reajustes salariais de servidores, de modo que apesar de a Lei Municipal nº 2.215
/1991 (Estatuto dos Servidores Públicos Municipais) estabelecer a data-base dos servidores públicos
municipais no art. 254, o reajuste anual mencionado no art. 37, inciso X, da Constituição Federal, exige
uma lei específica, previsão na Lei de Diretrizes Orçamentárias e alocação de recursos na Lei
Orçamentária Anual Municipal.

Portanto, imperioso ressaltar que o Município de Cascavel justificou adequadamente a superação das
datas-bases anuais ao cumprir as limitações temporárias impostas pela legislação federal. Ao mesmo
tempo, criou leis de revisão geral anual dos servidores logo após o término da vedação legal,
demonstrando assim um equilíbrio entre o comprometimento em evitar a defasagem salarial do seu
quadro de servidores e o respeito ao princípio da legalidade. Sem prejuízo, em relação ao tema, também
já se posicionou esta Turma Recursal:

RECURSO INOMINADO. FAZENDA PÚBLICA. AÇÃO DE COBRANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE CASCAVEL/PR. REVISÃO
GERAL ANUAL. ART. 37, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA RECURSAL DO
MUNICÍPIO. ACOLHIMENTO PARCIAL. LEI MUNICIPAL N° 2215
/1991 QUE ESTABELECE O DIA 1º DE MAIO DE CADA ANO COMO
DATA-BASE PARA O REVISÃO ANUAL DAS REMUNERAÇÕES.
REVISÃO QUE DEVE OCORRER POR MEIO DE LEI ESPECÍFICA
DE INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
DESCUMPRIMENTO DA DATA-BASE NOS ANOS DE 2019 A 2023.
IMPLEMENTAÇÃO EXTEMPORÂNEA. EXECUTIVO MUNICIPAL
QUE SE PRONUNCIOU FUNDAMENTADAMENTE SOBRE AS
RAZÕES PELAS QUAIS NÃO PROPÔS A REVISÃO NO CONTEXTO
DA PANDEMIA DA COVID-19. VEDAÇÃO CONTIDA NO ART. 8º,
INCISO I, DA LC N. 173/2020 CUJA CONSTITUCIONALIDADE FOI
RECONHECIDA PELO STF NAS ADI’S N. 6450 E 6525. TEMA 1137
DO STF. TEMAS 19 E 624 DO STF. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NO
QUE SE REFERE AOS ANOS DE 2020 E 2021 (LEIS MUNICIPAIS N. 7322
/21 E 7377/2022). PRECEDENTE DO STF NAS RCL 48885/PR E 48.538
/PR. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DA DATA-BASE NOS
DEMAIS PERÍODOS. PERDA SALARIAL. PREJUÍZO EVIDENTE.
DIFERENÇAS SALARIAIS DEVIDAS. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJPR - 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0045067-
98.2023.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LUCIANA FRAIZ ABRAHAO
- J. 12.07.2024) (grifo nosso)
Por fim, destaco quedo que se depreende da ação aqui intentada, é que é pretendido verdadeiro juízo de
retratação, incabível em sede de embargos de declaração. Caso assim não fosse e apenas pelo debate, esta
6ª Turma Recursal, nos termos do acima delineado, já firmou posicionamento no mesmo sentido do
aresto colegiado atacado, motivo pelo qual, nos demais períodos que não incidem a LC nº 173/2020, a
condenação do Município de Cascavel é mantida, consoante o art. 37, X, da CF. No entanto, em que pese
o esforço recursal, há incidência direta da lei complementar nos períodos por ela abrangidos.

Verifica-se claramente que toda a argumentação remanescente da embargante consiste em pedido de


reforma da decisão embargada e os embargos de declaração não se prestam a tal finalidade, de modo que
deve ser mantido o aresto no ponto.

Consoante o acima fundamentado, deve ser mantido o v. acórdão em sua integralidade.

Face ao exposto, voto pelo CONHECIMENTO dos embargos de declaração opostos para, então,
REJEITÁ-LOS, nos termos da fundamentação supra.

Sem custas processuais e honorários advocatícios.

Oportunamente, arquivem-se os autos.

Ante o exposto, esta 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,


por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de MARINEI BIZ, julgar pelo(a) Com Resolução do
Mérito - Não-Acolhimento de Embargos de Declaração nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Haroldo Demarchi Mendes,


com voto, e dele participaram os Juízes Vanessa Villela De Biassio (relator) e Gisele Lara Ribeiro.

18 de outubro de 2024

Vanessa Villela De Biassio

Juíza Relatora

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