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Representação Indígena em Livros Didáticos

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r

A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO


"Toda a História" *

Lúcio Tadeu Mota"


Isabel Cristina Rodrigues'"

Resumo: Até os anos setenta, supunha-se que os índios não


tinham futuro, nem passado; colocava-se a sua irreversível
assimilação à sociedade envolvente, e seu fim diante do avanço
capitalista nas áreas de fronteira. A partir dos anos oitenta a
situação começou a mudar. E as questões relacionadas com as
populações indígenas passaram a ser objetos de estudos. Dentre
elas as representações das populações indígenas existentes nos
livros didáticos. Dessa forma, nossa proposta é de verificar essas
representações num texto específico - Toda a História, de José
[
l Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti - adotado, desde sua
primeira edição, nas vinte e uma escolas públicas de ensino
médio de Maringá, atingindo no ano de 1998, um número de
14.212 alunos.
Palavras-chave: Etna-história, Livros didáticos, Populações
indígenas.
Etno-história indígena e os livros didáticos

Até os anos de 1970, era comum a suposição de que as


populações indígenas não tinham futuro. Admitia-se como
verdade estabelecida a sua irreversível assimilação à sociedade
envolvente e seu fim diante da expansão da economia capitalista.
Também era lugar-comum a idéia de que não tinham passado.
Os historiadores não se interessavam por elas por motivos
metodológicos, pois se perguntavam: como estudar povos sem
escrita? Temiam o campo das tradições orais ou o mergulho na
• Trabalho apresentado no III Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, UFPR,
Curitiba, de 20 a 23 de julho de 1998. O livro analisado é Toda a História de Jobson de
Arruda e Nelson Piletti, editado pela Editora Ática de São Paulo, edição de 1995 .
.. Professor Doutor no Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá e
pesquisador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações, Laboratório de
Arqueologia, Etnologia e Etno-história .
... Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá.

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, ou!. 1999 41


documentação produzida pelos agentes da conquista: os padres,
administradores, viajantes, colonos etc. Pelo lado dos
antropólogos, a abstenção tinha suas justificativas ancoradas em
teorias. Para o evolucionismo, herdado do fim do século passado,
era desnecessário esse esforço, pois, os índios eram o ponto
zero da evolução, portanto, sem passado. Mais recentemente,
os funcionalistas, adeptos da análise sistêmica e sincrônica, não
davam muita atenção aos fenômenos particulares e, tampouco,
permitiam o imponderável.
A situação começou a mudar há pouco tempo, quando
os índios passaram a ter uma atuação política mais visível nos
níveis nacional e internacional, a utilizarem de mecanismos
jurídicos para fazer seus direitos, principalmente os relacionados
com a terra, serem respeitados. Por outro lado, tanto na História
como na Antropologia, as resistências foram cedendo. As
questões metodológicas, até então colocadas como impedimento
para o estudo das sociedades sem escrita, foram resolvidas. Os
historiadores, a partir da década de 70, passaram a estudar
questões relacionadas com a cultura popular e foram obrigados
a lidar com novos tipos de documentos. Os antropólogos,
insatisfeitos com as explicações excessivamente genéricas e
sincrônicas, voltaram-se para a História de tal modo que, hoje
em dia, muitos já não distinguem rigidamente as duas disciplinas. 1
A vitalidade da Etno-história2 , basicamente uma junção
entre problemáticas antropológicas e métodos de investigação
históricos, mostra-se plena na análise do destino das sociedades
indígenas a partir de meados do século XIX. Momento este que

1 Sobre as questões colocadas acima ver Manuela Carneiro da CUNHA. Introdução. Revista
de Antropologia. São Paulo, 30/31/33. História dos índios no Brasil, 1992. Sobre a
questão das fontes na história, CUNHA cita as possibilidades metodológicas expressas
por Peter BURKE, no livro Cultura popular na Idade Moderna, 1989, p. 15-112. Ainda
sobre a aproximação entre a História e a Antropologia, ver Marshall Sahlins, Ilhas de
História, 1994.
2 Com relação a Etno·história estamos utilizando aqui as formulações presentes na revista
Ethnohistory que vem publicando sobre o assunto nos Estados Unidos desde 1954. Para
uma síntese dessa temática, ver Bruce G. TRIGGER. Etnohistoria: problemas y
perspectivas. Traduciones y Comentários, 1:27-55, San Juan, Universidad Nacional de
San Juan, 1987. Robert M. CARMACK. Etnohistoria y teoria antropológica. Cuadernos
dei Seminario de Integración Social Guatemalteca, 26:7-47. Guatemala, Ministério de
Educacion, 1979. Shepard KRECH 111. The state of ethnohistory. Annual Review
Anthropology, 20:345-375,1991.

42 Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, OUt. 1999


a construção do Estado Nacional foi levada adiante pela força da
persuasão ou pela força da guerra contra as populações
indígenas. O Estado Nacional foi levado a demarcar novas
fronteiras, incorporando novos territórios indígenas para a
expansão das economias agro-exportadoras e se .fazendo-se
presente nesses territórios. A ocupação de territórios indígenas,
a modernização e as idéias de europeização, são os vetores que
imprimiram de uma forma geral as novas condições das
sociedades nacionais no século XIX.3
Todas as nações americanas partiram do pressuposto
de que os índios deveriam desaparecer. Nenhuma delas
reconheceu a autonomia da nações indígenas existentes. Nos
Estados Unidos a idéia de territórios indígenas foi uma farsa e
só adiou o problema. A mesma coisa ocorreu nos pampas
argentinos com a campanha de extermínio dos índios levada
adiante pelas Forças Armadas Argentinas. No geral os políticos
e administradores sempre visavam a eliminação dos índios.
Simon Bolivar e San Martin, tinham alguma idéia sobre a questão
indígena e chegaram a escrevê-Ia, no entanto elas nunca saíram
do papel. As constituições dos países da América, como Bolívia,
Peru, etc., abolem os índios com decretos transformando todos
em camponeses. No Brasil ocorre o mesmo com a política de
emancipação dos índios. Ora emancipá-los de que? Da sua
condição de índios?4
3 Sobre a discussão do Estado Nacional e as populações indígenas no século passado ver:
Carlos de Araújo MOREIRA NETO. A política indigenista brasileira durante o século
XIX, 1971. Eunice PAIVA & Carmen JUNQUEIRA. O Estado contra o índio. 1985. Manuela
Carneiro da CUNHA, Política indigenista no século XIX, In: História dos índios no Brasil,
1992. Lúcio Tadeu MOTA. O Instituto Histórico e Geografico Brasileiro e as propostas de
integração das comunidades indígenas no estado nacional. Dialógos; Revista do
Departamento de História da UEM. (ISSN 1415-9945). Maringá, v. 2, n. 2, p. 149-175,
1998. Especificamente sobre a atuação do estado provincial paranaense em relação as
populações indígenas no Paraná ver Lúcio Tadeu MaTA. o Aço, a cruz e a terra; índios
e brancos no Paraná província I (1853-1889), 1998. Ainda sobre essa questão no século
XX ver os trabalhos de Antonio Carlos de Souza UMA, principalmente, Um grande cerco
de paz: poder tutelare indianidade no Brasil, 1992, e os de João Pacheco de OLIVEIRA
FILHO com destaque para, O nosso governo: os Ticunas e o regime tutelar, 1988.
Sobre a expansão da sociedade nacional nos territórios indígenas no século XX ver Darcy
RIBEIRO, Os índios e a civilização, 1970.
4 Para maiores detalhes sobre as relações das populações indígenas com os Estados latino­
americanos ver Guilhermo Bonfil BATALLA, EI pensarniento político de los índios en America
Latina. Anuário Antropologico, 1979. Utopia y Revolución, EI pensamiento político
contemporáneo de los indios en America Latina, 1981. José BENGOA, Los indigenas
y el Estado nacional en América Latina. Revista de Antropologia, v. 38, n. 2, p. 151-186,
1995.

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, out. 1999 43

I
Seja como for, o fato é que após 500 anos de tentativas
de abolir as populações indígenas, elas continuam existindo,
recriando práticas ancestrais e reivindicando sua sobrevivência
como sociedades específicas. Assim numa perspectiva etno­
historiográfica nos propomos a analisar como as populações
indígenas aparecem no livros didáticos. Contribuindo, dessa
forma, com o esforço que hoje se desenvolve no sentido de refinar
e detalhar as análises e interpretações relacionadas com a história
indígena, as relações das populações invasoras com as
populações nativas, as questões relativas ao contato interétnico
ocorrido nos séculos de ocupação do continente americano e as
questões relacionadas com as representações das populações
indígenas existentes nos livros didáticos 5 .
Concordamos com a professora Kátia Abud 6 quando ela
afirma que o livro didático é o construtor do conhecimento histórico
daqueles cujo saber não vai além do que lhes foi ensinado pelas
escolas. lodo professor acaba, de uma forma ou de outra, tendo
o livro didático como apoio para o seu trabalho. E este tem sido
um dos canais mais utilizados para a manutenção dos mitos e
estereótipos que povoam a história, o que torna-se preocupante
quando se observa que o mesmo tem assumido a função de
informar inclusive ao professor, o que acaba reforçando as idéias
nele contidas e a visão, por parte dos alunos, do livro como única
fonte digna de confiança.
Por essa perspectiva o livro didático se encaixaria no
âmbito do discu rso competente (CHAU í: 1989) como portador de
um saber acabado, inquestionável pronto para ser absorvido.
Essa postura implica em aversão à reflexão, em acriticismo, o
que vale dizer, transferir a competência desse processo para
outras instâncias da hierarquia do saber. Nessa cadeia o professor
se encaixa corno transmissor de conhecimentos e o aluno corno
receptor passivo. Em última análise significa incutir no aluno
posturas de transferir responsabilidades e buscar sempre a
5 Sobre a questão indígena nos livros didáticos de história poucos são os trabalhos existentes.
Entre eles, encontra-se uma pesquisa de fôlego realizada por Sonia Irene Silva do Carmo
sob o título: Entre a Cruz e a Espada: o índio no discurso do livro didático de história.
Dissertação de Mestrado, FEUSP, 1991.
6 Abud, Kátia. In: SILVA, Marcos A. da. Repensando a história. São Paulo: Marco Zero,
1984.

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orientação de outras instâncias, as competentes, para a sua ação,
ou seja, uma postura de subserviência.
Preocupados com essa constatação que já não se faz
nova, é que nos motivamos a discutir na obra em questão, a
abordagem dada à temática indígena, uma vez que inúmeras
são as discussões a respeito do livro didático, porém a discussão
de conteúdos específicos, a partir de autores específicos também
constitui-se numa necessidade básica, principalmente quando
esses conteúdos têm relação direta com o que se pretende hoje,
nos discursos e propostas educacionais para a área de história:
a reflexão em torno de conteúdos significativos e pertinentes à
realidade do aluno? .
A opção pelo livro TODA A HISTÓRIA de ARRUDA e
PILETTI não é aleatória. Trata-se de um manual didático que
desde sua primeira edição teve ampla penetração nos colégios
de Maringá, sobretudo na rede pública, por contemplar os
conteúdos propostos pelo currículo oficial do Estado do Paraná,
pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais/MEC) e DCEM
(Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (MEC), atendendo
só no ano de 1998, 14.212 alunos, nas vinte e uma escolas de
ensino médio de Maringá.
A escolha, deve-se também à possibilidade que o livro
apresenta de ser utilizado durante os três anos de duração do
curso de ensino médio. Por contemplar a história numa
perspectiva cronológica, desde a pré-história até os dias atuais,

A pari:ir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de história e sobre o
livro didático. Entre os muitos que prestaram relevantes contribuições, sistematizando
preocupações dos profissionais da área, ver: Conceição CABRINI, e outras. O ensino de
história - revisão urgente. São Paulo: Brasiliense, 1984; Marcos A. da SILVA.
Repensando a história. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984; História em quadro negro:
escola, ensino e aprendizagem. Revista Brasileira de História. v.9.n.19. São Paulo: Anpuh/
Marco Zero, set.89/fev.90. Selva Guimarães FONSECA. Caminhos da história ensinada.
3. ed. Campinas: Papirus, 1995. Elza Nadai. O ensino de história no Brasil: trajetória e
perspectivas. Revista Brasileira de História, São Paulo. v13, n. 25/26, set. 92/ago 93. p.
143-162.José Alberto BALDISSERA. O livro didático de história: uma visão crítica.
São Leopoldo: Cultural, 1983; Astor Antonio DIEHL (org.). O livro didático e o currículo
de história em transição. Passo Fundo: Ediupf, 1999. Circe BITIENCOURT (org.). O
saber histórico na sala de aula. São Paulo: Ed. Contexto, 1997; Livro didático e
conhecimento histórico: uma história do saber escolar. Tese de doutorado. São Paulo:
FFCH/USP, 1993. ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de História, 1988 e
1896, São Paulo: FEUSP.

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I
inserindo-se nela a história do Brasil, satisfaz as necessidades
do que está previsto para ser ensinado a essa clientela.

"Toda a História" e as populações indígenas

No capítulo dois de Toda a História, os autores abordam


questões relativas a origem do homem no continente americano.
Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanização do
continente: as migrações vindas da Ásia através do estreito de
Behring ou através do oceano Pacífico desde a Polinésia. Sobre
a idade do aparecimento do homem na América acompanham a
discussão arqueológica com um mapa sobre os sítios (página
XXX, do Atlas Histórico que acompanha o livro) e as datações
mais recentes sobre os mesmos. Ainda sobre os sítios
arqueológicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral,
os sítios líticos, cerâmicos e rupestres no interior. Em duas
páginas e meia os autores abordam a complexa e rica história
do surgimento do homem na América não se preocupando em
oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas
pelos estudos arqueológicos.
Muitas páginas depois, no capítulo quarenta, voltam a tratar
dos povos pré-colombianos existentes na América. Destacam
nesse capítulo os Maias e os Astecas. No capítulo seguinte os
Incas e no capítulo quarenta e dois apresentam os povos pré­
colombianos existentes no Brasil. Acertam no critério de utilizar
a lingüística para classificar as populações indígenas existentes
no Brasil, mas iniciam uma série de informações desencontradas.
Por exemplo indicam que os especialistas já analisaram mais de
cem línguas faladas no Brasil (ARRUDA & PILETTI, 1995: 125)
quando sabemos que hoje no Brasil são faladas mais de 170
línguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo
de conquista desde 1500. Existe uma grande diferença entre
mais de 100 Iínguas e mais de 170. Em seguida os autores Arruda
e Piletti afirmam existir três troncos principais: Tupi (oito famílias
e vinte e seis línguas); Macro-Jê (cinco famílias e dezesseis
línguas); e Aruake (duas famflias e treze línguas). Greg URBAN
(1992:90) diz existir no Brasil quatro grandes grupos lingüísticos

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com numerosos membros espalhados por vastas áreas: Arawak,
Karib, Tupi e Jê (. ..) Existem ainda vários grupos lingüísticos
menores, com menor número de línguas e distribuição mais
compacta no mapa. (. . .) Além disso, há línguas isoladas,
desligadas de famílias. Ruth M. F. MONTSERRAT (1994:95)
também afirma serem Quatro os grupos maiores de línguas no
Brasil, com distribuição geográfica extensa e com vários
membros: Tupi, Macro-Jê, Aruak e Karib. Há depois famílias
menores (. ..) E finalmente, há as chamadas línguas isoladas,
que não revelam parentesco com nenhuma das outras. Temos,
portanto, por um lado o livro didático afirmando existir três troncos
principais de línguas, Tupi, Macro-Jê e Aruak não fazendo
menção para nenhum grupo lingüístico menor e línguas isoladas,
e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os
principais grupos lingüísticos. Além dos já citados eles
acrescentam o Karib, e discorrem sobre os grupos menores e
as línguas isoladas.

A demografia dos povos indígenas

Com relação às questões demográficas os autores


afirmam que na época da chegada dos portugueses em 1500
havia de 2 a 3 milhões de índios no Brasil. (ARRUDA & PILETTI,
1995:125) Numa estimativa modesta a FUNAI, no seu site de
divulgação, calcula em quatro milhões e meio o número de índios
no Brasil em 1500 8 Essa estimativa é extremamente modesta,
se compararmos com outros cálculos. Pierre Clastres calcula
em um milhão e meio apenas a população Guarani, e as fontes
espanholas do século XVI e jesuíticas do século XVII também
fizeram estimativas de 200 mil a um milhão de Guaranis. 9
O livro Toda a História, na sua terceira edição publicada
em 1995, apresenta uma população de 230 mil índios no Brasil,
dividida por regiões. Utiliza de dados publicados há quinze anos
atrás, pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em 1980,

8 FUNAI. Os índios na descoberta do Brasil. http://www.funaLgov.br/indios6.htm. 1998.


9 Para maiores detalhes sobre essa questão ver John Manuel MONTEIRO. Os Guaranis e
a história do Brasil meridional. In: Manuela C. da CUNHA (Org.) História dos índios no
Brasil. São Paulo, Cia das Letras, 1998.

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quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da
própria FUNAI, publicados no mesmo ano da edição do livro,
onde a agência governamental detalha a população indígena por
estado da federação totalizando 325.652 índios. Quase cem mil
índios a mais que os dados do CIMI de 1980. O apontado acima
revela a superficialidade dos autores na abordagem da questão,
ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais
refinado e cuidadoso com as populações indígenas.
Ainda no capítulo quarenta e dois são referidas onze tribos
indígenas: Tupis, Bororo, Nambiquara, Xoclengue, Tupinambá,
Craô, Carajá e Uaurá, Timbira, Yanomami, Terena. Com exceção
dos Timbiras, localizados entre o sul do Maranhão e norte de
Goiás, todos os outros aparecem sem referência e localização
no texto. Se nos remetermos aos mapas das páginas XIX e XXX,
de Toda a História, veremos que das tribos citadas apenas estão
localizados três tribos: Bororo, no Mato Grosso; Yanomami, em
Roraima e Terena, no Mato Grosso do Sul.
Ora, se o livro didático constitui-se, para a maioria dos
alunos, na única referência que terão sobre o assunto, porque
negar o acesso a maiores e melhores informações que sejam
capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes,
a distribuição delas pelo território nacional e a diversidade cultural
que apresentam?
Com relação a demografia indígena e sua distribuição no
território nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995.

Quantos são e onde estão os índios hoje?

Estado Sociedades Indígenas Populaçã

Acre Arára, Asheninka, Huniquim, Kalukina do Acre,


Manitenéri, Maxineri, Poyanáwa, Yaminawá,
Yawanáwa, Makuráp, Apurinã, Katukína, Kulina,
(Venezuela/Colombia) Amawáka (Peru),
Kaxinawá (Peru) 6.610
Alagoas Jerinpancó, Karapotó, Kariri-Xocó, Tingui-Botó,
Wassú, Xucurú-Karirí 4.917
Amapá Galibí Marworno, Karipúna, Palikur, Waiãpi,
Galibí (Guiana Francesa) 5.095
Amazonas Banavá-Jafí, Caixana, Corvana, Dení, Diahói,

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Himanma, Hixkaryana, Isse, Jarawara, Juma,
Kambéba, Kanamatí, Kanamari, Katawixi,
Kokáma, Korubo, Marúbo, Matis, Mayorúna,
Miranha, Múra, Múra-Pirahã, Nukuíni, Parintintín,
Paumarí, Sateré Mawé, Taríana, Tenharín, Tikúna,
Torá, Tshom-Djapá, Tukano, Wamiri, Yamamadí,
Yabaána, Zuruahã, Maku, Warekéna (Venezuela),
Karafawyána Sakiribar, Apurinã, Katukína/ Kulina,
(Venezuela/Colômbia), Makú (Colômbia), Baníwa
(Colômbia/Venezuela), Baré (Venezuela), Katuena,
Mawayana, Munduruku, Xeren, Vitotó (Peru).
Atroarí, Yanomámi, Waiwai, Kaxarari. 89.529
Bahia Aricobé, Gerén, Kaimbé, Kantaruré, Kirirí,
Pankararé, Pankaru, Pataxó, Pataxó ha hã hãe,
Xucurú -Pariri, Pankararú, Tuxá. 8.561
Ceará Calabassa, Jenipapo Kanindé, Karirí, Paiaku,
Pitaguari, Tapeba, Tabajara, Tremenbé. 4.650
Espírito Santo Tupiniquim, Guarani M' Biá. 1.347
Goiás Tapuia, Avá- Canoeiro, Karajá. 142
Maranhão Canela, Guajá, Guajajára, Kokuiregatejê, Kreye,
Krikatí, Urubu -Kaapor, Gavião. 14.271
Mato Grosso Apiaká, Arára do Aripuanã, Arará do Guariba,
Awetí, Bakairí, Bororo, Enawenê-Nawê, Irántxe,
Kalapálo, Kamayurá, Kuikúro, Matipú, Mehináku,
Ofayé, Panará, Paresí, Rikbaktsa, Suyá, Tapirapé,
Tapayuna Trumaí, Txikão, Umutína, Waurá,
• Xavante, Yawalapití, Kadiwéu, Jurúna, Kayabí,
Kaypó, Cinta Larga, Zoró, Itogapúk, Nambikwára,
Suruí, Karajá. 17.329
Mato Grosso Camba, Guató, Kadiwéu, Guarani-Nhandeva,
do Sul Guarani- Kaiwá, Terena.Kaiwá, Terena. 45.259
Minas Gerais Kaxixó, Krenak, Maxakali, Xakriabá. 6.200
Pará Amanayé, Anambé, Apalaí Arára do Pará, Araweté,
Asuriní do Trocará, Asuriní do Koatinemo, Kaxuyána,
Parakanã, Suruí do Pará, Tiryó, Turiwára, Warikyána,
. Wayâna, Xipáya, Zo'é, Tembé, Karafawyána,
Katuena, Mawayana, Munduruku, Xeren, Jurúna,
Kayabí, Kayapó, Gavião, Waiwai, Karajá, Kuruáya. 15.715
Paraíba Potiguára 6.902
Paraná Guarani - Nhandeva, Guarani M' Siá, Kaingáng,
Xetá. 7.921
Pernambuco Atikum, Fulniô, Kambiwá, Kapinawá, Truká,
Xukurú, Pankararú, Tuxá 19.950
Rio de Janeiro Guarani-M 'Biá 271
Rio Grande Kaingáng 13.354
do Sul
Rondônia Aikaná, Ajuru, Akuntsu, Arará, Arikapú, Arikém,

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, out. 1999 49

I
Arua, Awakê, Gavlao, Jabuti, Kanoe, Kanpuna
do Guaporé, Karitiána, Koaia, Mekém, Pakaánova
Paumelenho, Tuparí, Uarí, Urueuwauwau, Urubu,
Urupá, Cinta-Larga, Zoró, Itogapúk, Nambikwára,
Suruí, Sirionó (Bolívia), Kaxarari, Makurap,
Sakiribar. 5.573
Roraima Ingarikó, Makuxí, Mayongóng, Taulipáng,
Wapixána, Atroarí, Yanomámi, Waiwai 37.025
Santa Catarina XOkléng, Guarani-M' Biá, Kaingáng 6.667
São Paulo Guarani- Nhandeva, Guarani M'Biá, Kaingáng,
Terena. 1.774
Sergipe Xocó 230
Tocantins Apinayé, Javaé, Krahô, Xambioá, Xerente,
Avá Canoeiro, Karajá. 6.360
Total 325.652

08S: As sociedades que estão em negrito, também estão presentes nos


países indicados nos parênteses. Dados Populacionais extraídos do censo
realizado pela FUNAI em 1995. '0

Características gerais das populações indígenas

Os autores apresentam algumas características gerais dos


grupos indígenas brasileiros. Mencionam que existem diferenças
entre os grupos mas não avançam no sentido de apontar para
algumas que sejam capazes de remeter o leitor às especificidades
e singularidades dos grupos. Ao contrário, ao tentarem falar dessa
diferença acabam reforçando a idéia apresentada no parágrafo
abaixo.

As primeiras notícias sobre os índios brasileiros


chegaram à Europa no século XVI. Eram histórias de
viajantes, náufragos e missionários que viveram em
aldeias litorâneas, entre grupos tupis. Os relatos
generalizavam os traços culturais e, durante muito tempo,

'0 FUNAI. Quantos são e onde estão os índios hoje. http://www.funai.gov.br/indios8.htm.


1998. Antropólogos e outros pesquisadores das sociedades indígenas no Brasil acreditam
que o número de índios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI, podendo
chegar aos 500 mil índios. Isso porque existem dificuldades na metodologia de realização
dos censos, como por exemplo como contabilizar os grupos ainda não contatados, os
índios que estão em trânsito ou vivem longe das áreas indígenas e mesmo grandes
contingentes de índios que vivem em áreas urbanas misturados com as populações
nacionais.

50 Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, out. 1999


os índios brasileiros foram considerados todos iguais.
Hoje sabemos que não formam um grupo homogêneo;
apesar disso podemos destacar certas características
mais gerais. (ARRUDA &, PILETTI, 1995:125).

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferença


existir, mas não fornecem argumentos novos que faça o texto
diferenciar-se de outros já publicados. Como afirma Grupioni
(In: SILVA, 1995:489) acabam caindo na redundância e
recorrência de informações presentes na maioria dos livros
didáticos que só informam coisas semelhantes e privilegiam os
mesmos aspectos da sociedade tribal.
A maneira como os autores se expressam, nos leva a
concluir que aquela idéia de índio genérico que se tinha na Europa
do século XVI, apontada por eles, ainda é a que deve ser
valorizada, como se a generalização fosse a forma correta de
estudá-los (SILVA, 1995:489) uma vez que os aspectos abordados
referem-se apenas a organização social básica; o modo de
garantir a sobrevivência; a forma de preparar os terrenos para o
plantio; a divisão do trabalho entre os sexos; a forma de garantir
a continuidade da etnia etc.
Quando os autores falam da cultura indígena, podemos
ver a utilização de uma nova terminologia para dizer aquilo que
convencionou-se há muito tempo entender como contribuição
do indígena para a cultura. Eles utilizam o termo conhecimentos
dos indígenas e apontam alguns mais comuns: (.. .) astronomia,
(...) venenos de pesca (. ..), venenos de caça (. ..), tapiragem (. ..),
borracha (.. .) Os índios dispõem ainda de muitos conhecimentos,
boa parte ligada à alimentação (ARRU DA & PI LETTI, 1994: 125­
6). Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia
didática, a idéia de uma história eurocêntrica onde o índio junto
com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA,
1995:481-526) numa história onde o branco é o protagonista.
Um outro aspecto bastante questionado pelos
pesquisadores da temática indígena é que esta sempre aparece
enfocada no passado, em função do colonizador e marcada por
eventos. E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, OUt. 1999 51


existência de diferenças étnicas e sociais na sociedade brasileira
atuai. O livro analisado não foge a esse modelo esquemático,
embora traga um item sobre a situação atual dos índios no Brasil
(ARRUDA & PILETII, 1995:127) no qual menciona a população
indígena em termos numéricos, como já foi dito acima; a
existência de problemas que são enfrentados por essas
populações e as formas de resistências adotadas; e nomes de
alguns indígenas que são conhecidos nacional e
internacionalmente.
Essa é uma questão importante do texto uma vez que
desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questão
criando-se a oportunidade para a investigação da situação dos
índios brasileiros hoje, que dependendo do encaminhamento que
o professor der para a problemática poderá render bons
resultados, embora ele tenha que recorrer a outros referenciais
pois, o livro de Arruda e Piletti não contribui com indicações
bibliográficas e de outros materiais que possam ser utilizados.
No Toda a História que possui quatrocentas e quarenta e
oito páginas somando-se o conteúdo e o suplemento de mapas,
os autores vão voltar a falar dos índios nos capítulos quarenta e
oito a cinqüenta e três, sendo que o capítulo quarenta e oito trata
dos Incas e Astecas.
No capítulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos
portugueses (ARRUDA & PI LETTI, 1995: 145). Para desenvolver
esse conteúdo os autores estabelecem uma relação com o início
da idade moderna explicando as modificações políticas, sociais
e econômicas vividas na Europa, para poder situar o contexto
que possibilitou o processo de ocupação e conquista do território
brasileiro. Nesse capítulo aparece uma única frase que se refere
aos índios: No dia 23, os portugueses fizeram com os nativos, os
primeiros contatos, muito cordiais segundo o escrivão Pero Vaz
de Caminha (ARRUDA & PILETTI, 1995:146).
O próximo capítulo, de número cinqüenta, trata do Brasil:
os primeiros tempos (1500-1530), cuja introdução é a explicação
sobre o mercantilismo. No item 2: índios e brancos: as diferenças
(ARRUDA & PILETTI, 1995: 148) colocadas em 30 linhas de uma
coluna. Nesse trecho os autores referem-se a um diálogo que

52 Hist. Ensino, Londrina, v, 5, p, 41-59, oul. 1999


Jean de Léry teve com um Tupinambá para explicar as diferenças
existentes entre brancos e índios e acabam novamente caindo
nas generalizações. Colocam ainda uma afirmação conclusiva
mas, muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre
o assunto: As diferenças com os brancos estavam em tudo, na
maneira de se vestir, de encarar o trabalho, de pensar e de ver o
mundo (ARRUDA & PILETTI,1995:148).
Na continuidade do capítulo, aparece o relacionamento
entre índio e branco. O índio é apresentado apenas como um
ser dócil que trabalha em troca de quinquilharias, não havendo
referência alguma a qualquer tipo de resistência empreendida
por ele nesses primeiros tempos de ocupação e exploração. Não
há qualquer menção a possíveis dificuldades encontradas nos
primeiros contatos. Ao contrário, o trecho sobre os registros de
Jean de Léry é colocado como se ele tivesse conversando com
um velho conhecido. Não aparece registro no texto sequer sobre
uma possível dificuldade de comunicação entre o índio e o francês
e muito menos apontam as populações indígenas como sujeitos
que estabelecem negociações com os europeus - mesmo que
seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa.
A última informação que os autores dão sobre os índios é
• o nome pelo qual chamavam o pau-brasil: íbirapitanga e arabutã
(ARRUDA& PILETTI, 1995:148). que vai servir como contribuição
cultural.
No capítulo cinqüenta e um Brasil: início da colonização
(1530-1580) aparece o índio no item sobre como colonizar?
apontando as dificuldades para esse empreendimento. Das
alternativas pensadas para se efetivar a exploração, Portugal
decide produzir açúcar e entre os meios para isso aparecem no
r texto: (. ..) índios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura,
e, se não se adaptassem, havia os africanos... (ARRUDA &
PILETTI, 1995:150). Aqui acenam com a possibilidade de
estranhamento entre índios e brancos. Mas a forma como os
autores constróem a idéia deixa transparecer a falta de relevância
que a questão da escravização e da exploração da mão-de-obra
indígena tem, ficando esta em um plano ilustrativo, secundário.
No item seguinte sobre a exploração do açúcar, aparece

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, ou!. 1999 53

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o enfoque sobre as formas de resistência do índio, e esse passa
a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capítulo
anterior. Aqui a idéia lançada é a de que o índio já não se contenta
mais com as quinquilharias em troca dos seus serviços, não tem
disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar
e não possui armas para vencer as batalhas contra os
portugueses, apesar da superioridade numérica (ARRUDA &
PILETTI, 1995:151). Fica evidente uma negação dos traços
culturais da população indígena como significativos (GRUPIONI,
In: SILVA,1995:486). Grupioni e Silva, reúnem na obra citada
material que chama a atenção para esse e muitos outros aspectos
que provocam a redundância, a simplificação e não a
contemporaneidade dos índios. Se a idéia central desse capítulo
de Toda a História, sabemos, não é a de discorrer sobre a
importância que o índio tem na construção da nossa história, por
outro lado, não merece esse tratamento indiferente por parte dos
autores. Eles se omitem no tocante a isso, simplificando por
demais o processo histórico brasileiro (GRUPIONI, In:
SILVA,1995:15-28), ou seja a interpretação dada aos fatos
restringe-se a uma história universal mais ampla de caráter
eurocêntrico, onde a história do Brasil torna-se um apêndice.
Nos capítulos cinqüenta e dois e cinqüenta e três,
respectivamente, Brasil: domínio espanhol e as invasões
estrangeiras (1580-1640) e Brasil: a conquista do território (1640­
1700), há apenas a menção ao indígena enquanto aliado dos
estrangeiros (ARRUDA & PILETTI, 1995:154) no primeiro e, no
segundo, no item As bandeiras (ARRUDA & PILETTI, 1995:158)
descrevem sucintamente a relação de violência das expedições
bandeirantes contra as reduções jesuíticas. Aqui termina a
participação dos índios no livro adotado pelas escolas de públicas
de ensino médio de Maringá.

Atividades propostas para exercitar o conteúdo

Uma última questão a ser comentada é a forma como os


autores constróem as propostas de atividades relacionadas aos
capítulos. Podemos perceber na análise das questões, que essas

54 Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, ou!. 1999


têm um caráter conclusivo e finalista. São questões fechadas,
cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto, sem
que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexão e,
ainda, sem que necessite ser criativo, ou que precise
complementar a resposta a partir de algum outro referencial que
possa ser consultado. Por exemplo: as questões do capítulo
quarenta e dois: O que é tribo?; Descreva alguns dos
conhecimentos indígenas.; quais foram os resultados do contato
dos índios com o branco? (ARRUDA & PILETTI, 1995:127) Essa
proposta de exercício não estimula o aluno para que ele sinta-se
seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em
questão, o que só contribui para reforçar a idéia que é consenso
entre os alunos, de que a história é mesmo algo chato e
desnecessário de ser estudado.

Considerações Finais

Não somos ingênuos a ponto de acreditar que o livro


didático deva corresponder a todos os nossos anseios e
necessidades, dado o fato de que ele materializa o pensamento
e a concepção de história, de mundo, de educação e de ensino
de história dos autores que o conceberam, ou seja, uma leitura
possível.
Nesse sentido, analisar a abordagem dada à questão
indígena no livro de ARRUDA & PILETTI, teve sobretudo o
objetivo de buscar estabelecer um diálogo entre o que se produz
r para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto é
f de fato utilizado.
A análise de Toda a História constitui-se num passo, ao
r nosso ver, importante e capaz de nos aproximar da realidade de
sala de aula através do debate que estamos aqui iniciando. É
com o professor que está no exercício do seu ofício todos os
dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de
desconstrução do texto seja uma etapa que preceda a escolha e
o trabalho de preparação de suas aulas. Isso significa que mais
do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o
texto em questão apresenta, entendemos como necessário a

Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, ou\. 1999 55

I
continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situações
que possam possibilitar o contato do professor com referenciais
que afirmamos que os autores Arruda e Piletti não fornecem no
livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto têm a
oferecer.

Abstract: Until the seventies, it was supposed that the Indians


didn't have future, nor past; its irreversible assimilation was
placed to the involve society, and its end before the capitalist
progress in the border areas. Starting from the eighties the
situation began to move. It is the subjects related with the
indigenous populations they became objects of studies. Inside
them the representations of the existent indigenous
populations in the didactic books. In that way, our proposal is
of verifying those representations in a specific text - Ali the
History, of José Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted
in the twenty one public schools of medium teaching of Maringá
town, reaching a number of 14.212 students.

Key-words: Etno-history, Didactic Books, Indigenous


Populations.

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